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ISSN 1679-1150

Planilha Eletrônica para a Programação da


Irrigação de Culturas Anuais

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1. Introdução
Atualmente, tem-se ampliado o debate sobre o uso da água. No setor
agrícola, a água utilizada na irrigação tem passado a receber um
tratamento especial, haja vista que é responsável por uma grande
parcela do consumo total, pois, somente no Brasil, cerca de 61% de
todo o suprimento de água doce é usado para a agricultura e a
produção de alimentos (Rebouças, 1999).
A irrigação é fundamental para a produção de alimentos, em situação
de deficiências de chuva e para estabilizar a produção agrícola,
principalmente em regiões áridas e semi-áridas. Atualmente, a sexta
parte das terras agrícolas do mundo é irrigada e fornece mais de um
terço da produção global de alimentos.
A necessidade de alimentos de uma população mundial crescente
acarretará obrigatoriamente um aumento da produção agrícola, que virá
em grande escala das áreas irrigadas.
Como a disponibilidade de recursos hídricos para a irrigação está se
Sete Lagoas, MG tornando cada vez mais escassa, a água e o seu custo surgem como
Dezembro, 2001 fatores limitantes à expansão da agricultura irrigada.

Apesar de a água consumida na irrigação representar um elevado


Autores percentual, se for utilizada de forma racional, é devolvida em quase sua
totalidade ao sistema natural numa forma limpa, que é a
Paulo Emílio Pereira de evapotranspiração, diferentemente da água residual dos usos
Albuquerque industriais e domésticos.
Engº. Agríc., D.Sc.,
Embrapa Milho e Sorgo.
C.Postal 151. Entretanto, a eficiência do uso da água na produção agrícola é baixa.
CEP 35701-970,
Sete Lagoas, MG. E-mail:
Somente 40 a 60% da água é efetivamente usada pela cultura (a maior
emilio@cnpms.embrapa.br parcela na forma de transpiração), o restante é perdido no sistema, na
propriedade e no campo, seja através da evaporação, do escoamento
Camilo de Lélis Teixeira
de Andrade superficial ou da percolação. Talvez parte dessas perdas possa ser
Engº. Agríc., Ph.D., reposta, mas custos adicionais serão envolvidos.
Embrapa Milho e Sorgo.
C.Postal 151.
CEP 35701-970, O manejo ou a programação inadequadas da água de irrigação é uma
Sete Lagoas, MG.
E-mail:
das principais razões para a baixa eficiência do uso da água. Há
camilo@cnpms.embrapa.br necessidade de criar, difundir e transferir tecnologias para os
agricultores, de modo que esses passem a assimilar técnicas simples e
fáceis de programar a irrigação das suas culturas.

2. Importância do manejo de irrigação


Uma gama de problemas ambientais advém do uso ineficiente
da água, tais como inundação, lixiviação de agroquímicos e
conseqüente poluição do lençol freático, assim como a sua salinização
e a do solo, resultante de aplicações insuficientes de água.

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2 Planilha Eletrônica para a Programação da Irrigação de Culturas Anuais

O manejo de irrigação é o processo para objetivos principais do presente trabalho são:


decidir quando irrigar as culturas e quanto a) disponibilizar uma planilha
aplicar de água. Esse é o único meio para eletrônica para fazer o manejo de
otimizar a produção agrícola e conservar a
irrigação de algumas culturas
água, além de ser a chave para melhorar o anuais, utilizando a técnica do
desempenho e a sustentabilidade de balanço da água no solo, usando
sistemas de irrigação. como dados de entrada a
Para o manejo de irrigação, é necessário ter evaporação da água do tanque
bons conhecimentos do requerimento de Classe A (ou a evapotranspiração
água das culturas e das características físico- de referência – ETo) e da
hídricas do solo, para determinar quando precipitação pluviométrica diárias;
irrigar e estabelecer com um certo de grau de b) flexibilizar a programação de
exatidão a água a aplicar (Albuquerque e irrigação do usuário, dentro da
Andrade, 2000). capacidade operacional do seu
sistema, tendo em vista que a
O nível de tecnologia do produtor tomada de decisão de irrigar pode
determinará a escolha da estratégia de ser feita em qualquer dia;
manejo de irrigação. Grandes produtores e os entretanto, deve-se enfatizar que
que plantam culturas de alto valor econômico a observação da reserva de água
podem adotar e investir em técnicas mais no solo é importante, para que a
sofisticadas. Por outro lado, mesmo cultura não sofra déficit hídrico;
agricultores que usam nível mais baixo de c) fazer uso dessa mesma planilha
tecnologia podem usufruir de técnicas de para acompanhar o consumo de
manejo de irrigação, como a adoção de um água e observar períodos de
calendário de irrigação baseado em excesso (devido à chuva) e déficit
condições médias de solo/clima/cultura ou de água (nos veranicos) em
um controle operacional simplificado, que cultivos de sequeiro;
pode se basear em intervalos fixos e d) também usar a planilha para
aplicação constante de água. simular a programação de
irrigação (verificar as datas e
Os problemas associados com o manejo de
lâminas prováveis de irrigação)
irrigação são razoavelmente conhecidos. No
com dados climáticos de séries
entanto, o uso de técnicas melhoradas de
históricas.
irrigação e de resultados de pesquisa
fornecem uma grande variedade de meios 4. Metodologia
para efetuar o manejo de irrigação. Apesar
4.1. Balanço da água no solo
disso, a aplicação prática ainda está muito
aquém do esperado (Albuquerque e Andrade, De forma semelhante à apresentada por
2000). Albuquerque e Andrade (2000), a técnica
adotada para o manejo de irrigação é a do
3. Objetivos balanço de água no solo; entretanto a dife-
rença desta versão em relação à primeira está
Com a expansão da informática como uma na flexibilização da tomada de decisão, de
ferramenta útil na tomada de decisão dos modo que, apesar de ser indicada uma data
vários fatores inerentes à agropecuária, está para irrigar, o usuário tem a liberdade de
se tornando cada vez mais fácil também usá- irrigar em qualquer data escolhida, dentro de
la como meio de estabelecer o manejo de sua capacidade operacional, porém, o adia-
irrigação de culturas. Dessa forma, os mento do dia de irrigar implica um aumento

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do fator de risco à cultura, porque esta pode feita a 5 cm de profundidade, o valor de Z


ser submetida a déficit hídrico. Dependendo para efeito de irrigação fica sendo de 10 cm
do grau de exatidão e/ou precisão que se pelo menos. No presente caso, o Z
deseja, estimativas, medições ou inclusões considerado para a irrigação do plantio foi o
de variáveis poderão ser efetuadas. seu valor máximo (Zmáx) na superfície do solo,
Assim, será mostrado que uma opção para se as variáveis que entram (+) e que saem (-)
fazer a programação da irrigação é através do do balanço podem ser a chuva (+P), a
uso de características físico-hídricas do solo, irrigação (+I), o escoamento superficial (± ES)
da medição da evaporação da água do tan- e a evapotranspiração real (-ETc). Abaixo da
que Classe A (ou pela estimativa da superfície do solo, têm-se a ascensão capilar
evapotranspiração de referência - ETo - por (+AC) e a drenagem profunda (-D).
qualquer método) e da precipitação Na condição mais comum da ocorrência de
pluviométrica. um lençol freático mais profundo, o termo
O balanço de água no solo é um método AC é desprezado, pois não há a sua
usado para prever a variação no conteúdo de contribuição para aumentar o conteúdo de
água no solo na região ou no volume de solo água para a zona radicular.
que engloba o sistema radicular da cultura. A lâmina de irrigação (I), calculada sem
Esse método normalmente considera uma excesso e aplicada a uma taxa dentro da
condição de água no solo que não deve velocidade de infiltração básica (VIB) do solo,
causar déficit ou excesso de água ao sistema
não causa drenagem profunda nem
radicular da cultura, contribuindo, portanto, escoamento superficial; portanto, tanto D
para que ela obtenha o mais alto rendimento quanto ES também podem ser desprezados.
técnico. Por isso, o turno e as lâminas de
Entretanto, na ocorrência de precipitação (P)
irrigação assim obtidos podem variar continu- com valores mais elevados, haverá a
amente ao longo do ciclo da cultura. ocorrência de D, assim como pode haver
Desse modo, o balanço se baseia na equação também ES, dependendo da intensidade de
de conservação de massa: P. Para desprezar D e ES, deve-se, portanto,
estimar a chuva efetiva (Pef), ou seja, aquela
∆(CAD × Z) = Água que entra + Água que sai (1)
que realmente contribui para suprir a cultura.
onde ∆ representa variação, CAD é o
Para que não haja efeito sobre o
conteúdo de água disponível e Z a
desenvolvimento normal da cultura, a ETc
profundidade do sistema radicular.
não pode sofrer redução devido à diminuição
O CAD é uma fração da água total disponível da umidade do solo a tal ponto que possa
(ATD) para as plantas, sendo a ATD definida dificultar a extração de água pelas raízes
pelo conteúdo de água no solo que está (Doorenbos e Pruitt, 1977). Uma irrigação
entre a capacidade de campo (CC) e o ponto que não prevê déficit hídrico para a cultura
de murcha permanente (PMP) (Hillel, 1980). deve levar em conta um fator de depleção (p)
É muito importante conhecer o CAD no dia da água no solo. O p define a água
do plantio, através de estimativas ou facilmente disponível (AFD), que é a fração
medições, para se poder fazer o balanço da ATD (0 < p < 1) que não causará efeito
durante o ciclo de desenvolvimento da negativo sobre o desenvolvimento da cultura.
cultura (Itier et al., 1996). Atualmente, tem- Desse modo, AFD = p × ATD. O termo p é
se recomendado irrigar no dia do plantio, de também chamado de fator de disponibilidade
modo que o CAD atinja a ATD numa (f). O valor de p depende, basicamente, da
profundidade de pelo menos o dobro daquela cultura, do seu estádio de desenvolvimento e
da semeadura, ou seja, se a semeadura foi das condições do clima.

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4 Planilha Eletrônica para a Programação da Irrigação de Culturas Anuais

Levando em conta esses diversos aspectos, 4.3. Estimativa da Água Total Disponível
o presente trabalho considera a seguinte (ATD), do fator de depleção (p) e
equação para o balanço de água no solo: da profundidade efetiva do sistema
radicular (Z)
∆(ATD × p × Z) = I + Pef – ETc (2) Como já foi visto, para a obtenção da Água
Total Disponível (ATD) do solo é necessário
em que: ∆ representa variação, ATD é água
que se conheça a umidade do solo na capaci-
total disponível no solo (em mm de água/cm
dade de campo (CC) e no ponto de murcha
de solo), p é o fator de depleção (0 < p <
permanente (PMP). A relação entre a umidade
1), Z é a profundidade efetiva do sistema
do solo (θ) e o potencial matricial da água no
radicular (em cm), I é a lâmina de irrigação
solo (ψ m) gera a chamada curva de retenção
(em mm), Pef a precipitação efetiva (em mm)
ou curva característica (Reichardt, 1996). Na
e ETc a evapotranspiração da cultura (em
prática, considera-se a CC de um solo com o
mm).
seu potencial matricial de água (ψ m) variando
entre –10 e –30 kPa (faixa para solos de
4.2. Definição do turno e da lâmina de
irrigação textura grossa a fina, respectivamente) e o
PMP como –1500 kPa.
O lado esquerdo da equação 2 [∆(ATD × p ×
Para solos de diferentes texturas, Vermeiren
Z)] representa o armazenamento de água que
e Jobling (1997) apresentam faixa de valores
o solo comporta, até um valor mínimo
para algumas de suas características físico-
admissível (p) dentro do volume de controle
hídricas (Tabela 1).
considerado, que, nesse caso, é o volume de
solo que está limitado pela profundidade do A utilização da Tabela 1 requer um certo
sistema radicular. Essa expressão é que vai cuidado, principalmente em solos que têm
definir o turno ou a freqüência de irrigação. características físico-hídricas diferentes da
Isto é, quanto menor o seu valor maior é a regra geral para a textura. Por exemplo, os
freqüência e vice-versa. latossolos encontrados nos Cerrados normal-
mente possuem textura fina, que se compor-
O lado direito da equação 2 vai definir a tam como solos de textura grossa (ATD entre
lâmina de irrigação (I) em função do dia 80 e 120 mm/m), em função da presença de
determinado para irrigar. Desse modo, óxidos de ferro, que favorecem a formação
observando a capacidade do solo em de agregados pequenos, bastante estáveis,
armazenar água, a lâmina líquida de irrigação de comportamento semelhante ao da areia
(I) no dia determinado é dada por: (Resende et al., 1995).
I = ETc – Pef (3) A maioria das culturas produtoras de
grãos (milho, feijão, trigo etc.) pode ter o
Para a estimativa da precipitação efetiva (Pef) valor de p em torno de 0,5-0,6, ou seja, usar
é considerada, no presente caso, que toda 50-60% da água total disponível no solo.
precipitação pluviométrica seja infiltrada no Entretanto, de acordo com as condições
solo e que o excesso de água que ultrapasse climáticas reinantes e com a fase do ciclo
a sua capacidade de retenção de água, a cultural, esse valor pode variar para mais ou
partir da umidade real do solo no dia em para menos. Assim, a Tabela 2 fornece valo-
questão, seja drenada além da zona radicular. res de p para algumas culturas em função da
Então, Pef é estimada apenas pela lâmina sua evapotranspiração máxima. O adiamento
que efetivamente pode contribuir para o ou a antecipação da data de irrigação reco-
consumo de água da cultura. mendada interferirá diretamente no valor de
p, podendo torná-lo maior ou menor, respec-
tivamente, em relação ao valor predefinido.

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Tabela 1. Valores aproximados para algumas


características físico-hídricas dos
solos, segundo a sua classe
textural (Vermeiren e Jobling,
1997).

Figura 1. Estimativa do desenvolvimento do


sistema radicular de culturas anuais
em função das fases do ciclo da
cultura (Zo é a profundidade de
semeadura e Zmax é a profundidade
efetiva do sistema em seu desen-
volvimento máximo).

Segundo Arruda et al. (1987) e Brasil (1986),


citados por Moreira (1993), a Tabela 3 apre- Tabela 2. Coeficiente de depleção (p) da
senta valores para a profundidade efetiva água no solo para algumas cultu-
média do sistema radicular de algumas cultu- ras, de acordo com a
ras. Obviamente, esses valores são conside- evapotranspiração máxima (ETm)
rados na condição da cultura já ter atingido o (Doorenbos e Kassam, 1979).
seu pleno desenvolvimento. Na fase inicial,
esses valores são estimados menores, pois o
sistema radicular ainda está se desenvolven-
do. No presente caso, o valor inicial de Z é
considerado como a profundidade de semea-
dura (Zo) e, a partir daí, é crescente linear-
mente dia-a-dia, até atingir o valor máximo
(Zmax), que ocorrerá no início da fase 3 do Tabela 3. Profundidade efetiva média (Z) do
ciclo vegetativo. O ciclo vegetativo é dividido sistema radicular de algumas
em quatro fases e será discutido posterior- culturas (Arruda et al., 1987 e
mente. Desse modo, o desenvolvimento do Brasil, 1986, citados por Moreira,
sistema radicular é considerado nos cálculos 1993).
da planilha na forma apresentada na Figura 1.

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6 Planilha Eletrônica para a Programação da Irrigação de Culturas Anuais

Na realidade, pode ser que o Z seja mais raso R = raio de bordadura do tanque
ou mais profundo do que se supõe. Então, (m);
devem-se enfatizar os seguintes pontos: a) u = velocidade do vento média (km/
se o Z estiver mais raso, supondo que esteja dia);
mais profundo, isso significa que o solo na UR = umidade relativa do ar média
zona radicular ficará seco por mais tempo, (%).
com irrigações menos freqüentes; b) se o Z
estiver mais profundo, supondo que esteja
mais raso, isso significa que o solo na zona
radicular permanecerá sempre úmido, com
irrigações mais freqüentes.

4.4. Estimativa da evapotranspira-


ção da cultura (ETc) Figura 2. Raio de bordadura (R) do tanque
Classe A em duas condições: em
A estimativa da ETc diária, no presente caso, cultura verde (caso A) e em solo nu
é baseada na evaporação de água do tanque (caso B).
Classe A (ECA), através da seguinte relação: Também para obtenção dos valores
de Kc, há publicações especializadas (como a
ETc = Kc × Kt × ECA (4) de Doorenbos e Pruitt, 1977, e Allen et al.,
1998) que os fornecem, os quais são variá-
veis de acordo com o tipo de cultura, o seu
Os parâmetros adimensionais Kc e Kt são,
estádio de crescimento e condições climáti-
respectivamente, os coeficientes da cultura e cas reinantes. Para as culturas anuais, os
do tanque. O produto Kt × ECA do lado valores de Kc podem variar na forma apresen-
direito da equação representa a tada pela Figura 3, de acordo com o seu
evapotranspiração de referência (ETo). estádio, sendo que os valores mínimos e
Os valores de Kt podem ser obtidos em máximos dependem também das condições
climáticas locais.
publicações especializadas, como Doorenbos
e Pruitt (1977) e Allen et al. (1998), os quais
são função do raio de bordadura do tanque
(R), conforme está especificado na Figura 2,
da umidade relativa do ar (UR) e da velocida-
de do vento (v), obtidos por ocasião da
coleta da evaporação da água do tanque
(ECA). Esses valores estão reproduzidos na
Tabela 4.
Com os dados da Tabela 4, Snyder (1992)
desenvolveu a seguinte equação para permitir
a interpolação dos valores tabelados de Kt,
na condição de tanque exposto, em condição Figura 3. Valores estimados para o
de bordadura de cobertura vegetal (caso A da coeficiente de cultura (Kc),
Figura 2): segundo o manual FAO-24
(Doorenbos e Pruitt, 1977) e FAO-
56 (Allen et al., 1998), para cada
Kt =0,482+ 0,024.ln(R) – 0,000376.u + 0,0045.UR fase do ciclo de crescimento. Para
(5) facilitar a escolha dos valores
em que: dentro da faixa apresentada, deve-
se orientar pelas equações 6, 7 e 8
Kt = coeficiente do tanque;
e Tabelas 5 e 6.

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Tabela 4. Valores do coeficiente do tanque Tabela 5. Valores dos coeficientes “a” e “b”
Classe A (Kt), segundo as condi- da equação 6, que prediz o
ções do seu raio de bordadura (R), coeficiente de cultura na fase 1
velocidade média do vento (v) e
(Kc1) do ciclo fenológico de
umidade relativa média do ar (UR)
de 24 h predominantes no período culturas anuais, segundo a
de leitura da evaporação demanda evaporativa predominante.
(Doorenbos e Pruitt, 1977).

A equação 6 foi gerada através de ajuste


realizado nas curvas apresentadas de Kc ×
ETo × TI, por Doorenbos e Pruitt (1977),
adaptadas à nova metodologia para a obten-
ção do Kc1, segundo Allen et al. (1998), para
qualquer cultura anual na fase 1 do seu ciclo
de desenvolvimento.
Os valores do Kc para a fase 3 (Kc3) foram
obtidos a partir de uma condição padrão
(umidade relativa mínima de 45% e velocida-
de do vento, a 2 m de altura, igual a 2 m/s),
segundo Allen et al. (1998), para as diversas
culturas mostradas na planilha (Tabela 6). As
correções para a classe de demanda
As equações seguintes foram usadas para evaporativa (Tabela 5) foram feitas de acordo
estimar o coeficiente de cultura inicial (Kc ), com a equação:
1
de acordo com a demanda evaporativa (Tabe-
Kc3 = Kc3(tab) + [0,04.(u2 – 2) –
la 5) e com o turno de irrigação variando de 1
a 6 dias (TI): 0,004.(URmin – 45)].(h/3)0,3 (7)
em que:
Kc = a + b.TI (6)
1 Kc3 = valor do coeficiente de cultura
para a fase 3, corrigido segun-
em que: do a demanda evaporativa;
Kc = coeficiente de cultura para a Kc3(tab) = valor do Kc3 para uma
1
Fase 1; condição padrão (Tabela
6);
TI = turno de irrigação na Fase 1 u2 = valor médio da velocidade do
(dias, 1 ≤ TI ≤ 6 dias); vento diário a 2 m de altura
a = coeficiente para a interseção em acima da grama, durante a fase
TI = 0 (Tabela 5); 3 (m/s), sendo 1 ≤ u ≤6 m/s;
2
URmin = valor médio da umidade
b = coeficiente para a declividade da relativa mínima diária durante
reta (Tabela 5). a fase 3 (%), sendo 20 ≤
URmin ≤ 80%;

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8 Planilha Eletrônica para a Programação da Irrigação de Culturas Anuais

5.5. Descrição dos parâmetros


incorporados na planilha
a) Considerações gerais
Utilizou-se a planilha eletrônica Excel, da
Microsoft , para a entrada, processamento e
saída dos dados.
O arquivo (pasta de trabalho) possui três
planilhas, segundo o grupo de cultura:
1) Leguminosas e Oleaginosas;
2) Cereais e Fibras;
3) Hortaliças.
É importante que se faça cópia da planilha
matriz toda vez que se necessite implantar Tabela 6. Valores da faixa de duração total
um novo cultivo a ser irrigado.
do ciclo, do percentual de duração
A planilha é composta de 13 colunas visíveis das fases (conforme Figura 3 ),
(de A a M) e de tantas linhas quantas forem dos coeficientes de cultura na
necessárias, dependendo do número total de fase 3 do ciclo vegetativo (Kc3) e
dias do ciclo da cultura. Por exemplo, para o das alturas (h) das culturas anuais
caso do milho, com o seu ciclo cultural utilizadas na planilha, de acordo
variando de 125 a 180 dias, o número total com uma condição climática
de linhas vai variar de 151 a 206, respectiva- padrão de umidade relativa mínima
mente. No caso das leguminosas e oleagino- (URmin) de 45% e velocidade do
sas e hortaliças, há espaço disponível para vento a 2 m de altura (u2) de 2 m/s
uma cultura com ciclo de até 180 dias, o que (Allen et al., 1998).
corresponde a um total de 206 linhas e, no
caso dos cereais e fibras, há espaço para até
200 dias (226 linhas).
As células possuem sete cores diferentes:
branca, verde-escura, cinza, amarela- clara,
laranja (abóbora), azul-clara e verde-clara.
Além dessas, há quatro cores de tons fortes
(vermelha, amarela, verde e azul) para identi-
ficar as demandas evaporativas (4-muito alta,
3-alta, 2-moderada e 1-baixa, respectivamen-
te).
As seguintes características são observadas,
de acordo com a convenção de cores utiliza-
das na planilha:
À exceção das células amarela-claras e laran-
jas, todas as células estão protegidas, inclu-
sive através de senha, contra qualquer tipo
de alteração. Além disso, algumas têm o
conteúdo oculto.

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Planilha Eletrônica para a Programação da Irrigação de Culturas Anuais 9

As células que possuem um pequeno triân- I) Leguminosas e Oleaginosas: Amen-


gulo vermelho no canto superior direito têm doim, Canola (Colza), Feijão, Feijão Caupi,
uma descrição resumida do que representa a Girassol, Mamona e Soja;
célula em questão. Para tal, deve-se
posicionar o cursor exatamente sobre o II) Cereais e Fibras: Algodão, Aveia,
triângulo. Cevada, Milheto, Milho, Sorgo e Trigo;
A planilha está dividida em duas partes; a
III) Hortaliças: Batata, Cebola, Cenou-
primeira, que corresponde às linhas 4 a 23,
ra, Ervilha, Melancia, Melão e Tomate.
deve ter as suas células amarela-claras e/ou
laranjas preenchidas com os parâmetros
básicos de cultura, de solo e de clima; a Linhas 6 e 7 – Escolha da cultura pelo núme-
segunda, que corresponde às linhas a partir ro, conforme a listagem apresentada.
da linha 25, deve ter as células amarela-
claras preenchidas dia-a-dia, o que vai gerar
nas células azul-claras e verde-claras os
resultados referentes à cultura no dia em
questão e se haverá necessidade de irrigação
ou não, além das lâminas adicional e reco-
mendada líquidas necessárias. A data do plantio deve ser preenchida no
formato dd/mm/aa. A duração total do ciclo
Além disso, há colunas ocultas (N a T) que da cultura deve ser prevista, o que depende
são auxiliares para diversos cálculos. Essas do tipo de cultura, da época e da região do
serão descritas adiante e são preenchidas plantio. A profundidade de semeadura (Zo)
também automaticamente. também deve ser indicada, assim como a
b) Descrição da primeira parte da planilha profundidade máxima efetiva do sistema
(colunas A a M, linhas 4 a 23) radicular (Z), cujos valores mais prováveis
são também apresentados de acordo com o
As células a serem preenchidas são as ama-
tipo de cultura.
rela-claras e/ou laranjas, de acordo com o
que é solicitado nas células cinzas do lado Linhas 9 e 10 – Data do plantio, duração do
esquerdo. Todas as células amarela-claras ciclo, profundidade de semeadura (Zo) e
obrigatoriamente deverão ser preenchidas, profundidade máxima efetiva do sistema
ressalvando-se essa obrigatoriedade apenas radicular (Zmáx).
para as células pontilhadas J20, desde que
todas as células laranjas F21, H21 e J21
sejam preenchidas, e a M20, desde que
apenas a célula laranja F21 seja preenchida.

Linha 4 – Identificação da fazenda, proprietá- As linhas 12 a 16 referem-se a parâmetros do


rio, área, gleba de cultivo etc. solo, os quais são a capacidade de campo
As linhas 6 a 10 referem-se a parâmetros da (CC), o ponto de murcha permanente (PMP),
cultura, quer sejam tipo de cultura, data do a densidade (d), a umidade inicial do solo, o
plantio, duração total do ciclo, profundidade fator de depleção (p) e a capacidade total de
de semeadura e profundidade máxima efetiva água disponível (CTAD). CC e PMP já foram
do sistema radicular. Há três planilhas, se- definidos e devem ter entrada na unidade %
gundo a classe de cultura, de modo que cada peso. A umidade inicial é aquela em que o
classe possui sete tipos de culturas diferen- solo se encontra no dia da semeadura; entre-
tes: tanto, havendo dificuldade na sua determina-

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10 Planilha Eletrônica para a Programação da Irrigação de Culturas Anuais

ção, pode ser considerado como se fosse o referência (ETo) for outro, digita-se o valor
PMP, caso não tenham ocorrido chuvas nos “1” (um). Os outros valores de Kc (células
dias anteriores ao plantio. O p é estimado H22 ou G22, J22 ou l22 e K22) são de preen-
para cada uma das quatro fases do ciclo da chimento automático, segundo a demanda
cultura, sendo que a Tabela 2 pode facilitar a evaporativa e TI inicial. Além disso, há o
escolha desse parâmetro. O CTAD (células Kc(5) (célula K22) para “hortaliças”, cujos
G16 e H16) é calculado automaticamente, de valores variam de acordo com o tipo de
acordo com a CC, o PMP e d. cultura. As declividades da reta entre os
Kc(1) e Kc(3) e Kc(3) e Kc(5) são apresenta-
Linhas 14 a 16 – Umidade do solo na capaci-
das na linha 23.
dade de campo (CC) e no ponto de murcha
permanente (PMP), densidade do solo, umi-
dade inicial do solo (Ui), coeficiente de
depleção ou esgotamento (p) e capacidade
total de água disponível (CTAD).
c) Descrição da segunda parte da
planilha (colunas A a M, linha 25 em
diante)

As linhas 18 a 23 referem-se a parâmetros do


clima: demanda evaporativa do local (4-muito
alta, 3-alta, 2-moderada e 1-baixa), turno de
irrigação (TI) previsto para a fase 1 do ciclo
Como já foi frisado, somente as colunas que
da cultura, os coeficientes de cultura (Kc)
possuem células amarela-claras (F, G e L)
opcionais (linha 21), o coeficiente do tanque
serão preenchidas pelo usuário. As demais
Classe A (Kt) e os coeficientes de cultura
são preenchidas automaticamente, de acordo
(Kc) processados automaticamente. A linha
com os parâmetros de entrada das células
23 fornece automaticamente os valores da
amarela-claras.
declividade da curva do Kc da fase 1 para a
fase 3 e da fase 3 para a fase 4 (veja Figura
Coluna A - representa a data que é preenchi-
3).
da automaticamente, a partir da entrada da
Linhas 19 a 23 – A escolha da demanda data do plantio (célula G9) e duração total do
evaporativa é feita conforme os comentários ciclo (célula I9). Com as datas, há o acompa-
das células E20, F19, G19, H19 e I19 e o nhamento da irrigação da cultura no dia-a-
número referente (de 1 a 4) é colocado na dia. A data se encerra no último dia da dura-
célula J20. O turno de irrigação previsto para ção total do ciclo da cultura.
a fase 1 é posto na célula M20. O preenchi-
mento das células J20 e M20 é desnecessá- Coluna B – representa os dias após a semea-
rio caso sejam preenchidos todos os valores dura (DAS). Também é preenchida em função
de Kc na linha 21 (células laranjas). Se so- da data do plantio e duração total do ciclo. A
mente o valor do Kc(1) (célula F21) for preen- data do plantio é o DAS = 0.
chido, neste caso somente a célula M20 Coluna C - mostra uma das quatro fases do
poderá ficar vazia. O valor do coeficiente do ciclo fenológico na qual a cultura se encon-
tanque Classe A é preenchido na célula F22 tra. A divisão dessas quatro fases é baseada
(ou E22, se for “hortaliças”), porém se o na Figura 3, segundo a duração total do ciclo
método de determinar a evapotranspiração de da cultura.

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Planilha Eletrônica para a Programação da Irrigação de Culturas Anuais 11

Coluna D - apresenta o desenvolvimento do Coluna I - é apresentada a necessidade ou


sistema radicular a partir da profundidade de não de irrigação no dia em questão. É preen-
semeadura (Zo – célula G10) até a profundi- chida automaticamente tão logo se entre
dade máxima efetiva do sistema radicular com o valor de ECA ou ETo na coluna F.
(Zmax - célula I10). A evolução do desenvolvi-
mento é baseada de tal forma que o seu Coluna J – mostra uma fração da lâmina de
desenvolvimento é linear e se completa no irrigação do plantio que não tenha sido
início da Fase 3, conforme está na Figura 1. coberta integralmente no dia do plantio, isto
é, é a lâmina de água adicional necessária
Coluna E - é o coeficiente de cultura (Kc), nas irrigações subseqüentes à irrigação do
que também evolui como está mostrado na plantio, para que o solo na profundidade
Figura 3. Para o Kc da Fase 1, é utilizada a efetiva máxima do sistema radicular (Z) atinja
célula H22 (ou G22, para as hortaliças), da a capacidade de campo (CC). O ideal é que
Fase 3 a célula J22 (ou I22, para hortaliças) e esta lâmina seja coberta o mais rápido possí-
um valor fixo de 0,35 para o Kc de colheita, vel, uma vez que não foi possível aplicá-la
exceto para hortaliças, que é variável de completamente na data do plantio.
acordo com a célula K22.
Coluna K – é a lâmina líquida de irrigação
Coluna F - é a de entrada dos dados referen-
recomendada no dia em questão, é baseada
tes à evaporação da água do tanque Classe
no balanço da região onde existe o sistema
A (ECA), que é preenchida diariamente. Se se
radicular, por isso é menor nos primeiros dias
dispuser de dados da evapotranspiração de
e aumenta gradativamente com o crescimen-
referência (ETo) diretamente, então deve-se
to do sistema radicular. O cálculo é baseado
colocar o valor 1 para o coeficiente de tan-
no balanço da água no solo (coluna auxiliar
que (Kt – célula F22 ou E22, se for hortali-
P), dentro de um fator de depleção (p) esta-
ças).
belecido, segundo a fase da cultura (células
E15, G15, I15 e K15), e da evapotranspiração
Coluna G - para a entrada dos dados referen-
diária da cultura (coluna auxiliar Q). Como
tes à precipitação pluviométrica (chuva)
anteriormente discutido, esse balanço tem
ocorrida diariamente. Para maior coerência
como base as equações 2 e 3. Diariamente é
nos resultados, devem-se preencher as colu-
apresentada uma lâmina, independentemente
nas F e G com os valores do dia das medi-
se há recomendação de irrigação na coluna I.
ções de ECA e chuva, mesmo que a maior
parte represente o dia anterior. Preferencial-
Coluna L – é a lâmina líquida de irrigação que
mente, essas medições devem ser feitas
será digitada pelo usuário, ou seja, é a lâmi-
antes das nove horas da manhã e todos os
na que efetivamente será utilizada ou aplica-
dias no mesmo horário determinado.
da na respectiva data e que, portanto, entra-
Coluna H - mostra a chuva efetiva, que, no rá nos cálculos do balanço. O ideal é que
presente caso, significa toda a chuva esta lâmina seja a soma da lâmina adicional
infiltrada no solo e que reponha ao mesmo a (coluna J) com a lâmina recomendada do dia
sua umidade no máximo até a capacidade de (coluna K). Se houver lâmina recomendada e/
campo (CC) no perfil de solo (Z) do dia ou lâmina adicional e se não for digitado
observado. O que exceder além da CC é nenhum valor, o balanço ficará inalterado.
desprezado e o que ficar aquém é considera-
do. Aqui é levado em consideração que toda Coluna M – significa o percentual da reserva
a chuva é infiltrada no solo. de água no solo do dia anterior (rasda). É a
flutuação do fator de depleção (p) ou da

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12 Planilha Eletrônica para a Programação da Irrigação de Culturas Anuais

reserva de água do solo no dia-a-dia. Deve-se solo até a sua capacidade de campo, ou seja,
ter em mente que valores menores que 10% é recomendada a irrigação no dia em ques-
(< 10%) devem ser evitados e, caso ocorram tão. No cálculo desse balanço, diariamente, a
em dias simultâneos, isso significa que a água é retirada da AFD no solo pelo consumo
cultura está sofrendo severo déficit hídrico, da ETc da cultura.
havendo a necessidade de tomar a decisão
de irrigar com urgência. Coluna Q - representa a ETc diária, que é
calculada segundo a equação 4, pelo produto
d) Descrição das colunas auxiliares da evaporação da água do tanque Classe A
(colunas N a T) (ECA – coluna F), coeficiente do tanque (Kt –
célula F22 ou E22 no caso das hortaliças) e
Para melhor estética da planilha, essas colu-
os coeficientes da cultura diários (Kc –
nas se apresentam ocultas.
coluna E).
Coluna N – nas linhas 8 a 12 está a descri-
Coluna R – balanço realizado paralelo à
ção para os cálculos no lado direito (coluna
coluna J, mas que possui maior dinamismo
O) do percentual (em decimal) da duração
para auxiliar no balanço global na coluna P.
das fases 1 a 4 do ciclo fenológico. Na linha
15 há a descrição para a altura máxima da
Coluna S – balanço realizado paralelo à
cultura e, na linha 17, o coeficiente de cultu-
coluna P, para que auxilie na recomendação
ra (Kc) na fase 3, para uma condição padrão
de irrigar (sim ou não – coluna I).
de umidade relativa mínima de 45% e veloci-
dade de vento (u2) de 2 m/s, segundo Allen
Coluna T – balanço paralelo à coluna H, sem
et al. (1998). Além dessas, há, a partir da
considerar a lâmina adicional necessária
linha 24, a apresentação diária da água total
(coluna J) para auxiliar no balanço global na
disponível (ATD) no solo, que é calculada em
coluna P.
função da CTAD (célula G16) e dos valores
diários de Z constantes na coluna D.
5. Algumas Considerações
Coluna O – nas linhas 8 a 17, são realizados Na elaboração da presente metodologia para
os cálculos conforme as descrições apresen- programar a irrigação das culturas, embora
tadas na coluna N. A partir da linha 24, são tenha sido levado em conta todo o
apresentados os valores diários da água embasamento técnico-científico necessário,
facilmente disponível (AFD) no solo, que é sempre optou-se pela escolha de coeficientes
calculada pelo produto da ATD (coluna N) e o e/ou condições que contemplassem o fator
fator de depleção (p) estipulado para cada segurança, ou seja, minimizar situações de
fase do ciclo cultural (células E15, G15, I15 e risco que pudessem conduzir a cultura a
K15). algum tipo de estresse hídrico. Entretanto,
algumas considerações devem ser feitas,
Coluna P - onde se realiza o balanço da água haja vista que reduções das lâminas líquidas
no solo propriamente dito, o qual é baseado e/ou ampliações dos intervalos entre irriga-
nas equações 2 e 3. A chuva efetiva e a ções podem ser realizadas, desde que estu-
irrigação somadas são consideradas como dos mais detalhados possam ser feitos de tal
parâmetros de entrada e a evapotranspiração forma a elucidar esses aspectos:
da cultura (ETc), como parâmetro de saída do
balanço. Todas as vezes que, no dia anterior, a) as irrigações iniciais, principal-
o balanço se tornar nulo ou for negativo, mente do período que vai da
haverá necessidade de reposição de água no semeadura até a emergência,

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Planilha Eletrônica para a Programação da Irrigação de Culturas Anuais 13

podem ter o intervalo entre elas (CC) é desconsiderado; entretan-


ampliado, pela escolha de um to, dependendo do tempo de
maior coeficiente de depleção (p) redistribuição da água no solo
da água no solo. Isso poderia após a chuva, uma fração da água
favorecer um maior crescimento que fica acima da CC pode ser
radicular, porque, uma vez que absorvida pelas raízes. Devido a
deverá haver umidade no solo em isso, aumentar o valor da chuva
maior profundidade (devido à efetiva no balanço da água no
irrigação com lâmina maior no dia solo (porque é conseqüência de
do plantio), isso possibilitaria a um suposto aumento da reserva
“busca” pela água em camadas de água no solo) significa um
mais profundas do solo. Alguns maior TI após a chuva e menor
estudos (dentre eles, o de volume de água bombeada para
Albuquerque, 1997) comprovam irrigação no cômputo geral. Po-
que plantas submetidas a deter- rém, estudos em diferentes condi-
minado grau de estresse hídrico ções devem ser realizados para
na fase inicial tendem a obter a chuva real efetiva para a
aprofundar mais o sistema cultura após períodos de chuvas
radicular em relação a plantas intensas.
bem supridas de água nesse c) A decisão de irrigar a cultura após
período. Por outro lado, um turno o dia recomendado afetará o valor
de irrigação (TI) maior na fase 1 de p, ficando cada vez maior, dia
do ciclo fenológico conduz a após dia, que o valor previamente
menores perdas por evaporação estabelecido. Isso interfere direta-
de água da superfície do solo, o mente na evapotranspiração da
que é ratificado pelo menor valor cultura (ETc), deixando de ser a
do coeficiente de cultura (Kc) sua condição potencial ou máxi-
quando se aumenta o TI nessa ma (ETm). Como todos os cálcu-
fase. No entanto, a decisão de los na planilha são feitos em
alterar os valores de p ou TI deve
relação à ETm, mesmo que o p
ser tomada com muito cuidado, ultrapasse o seu valor
porque solos que formam preestabelecido, há uma
encrostamento superficial ou têm superestimativa nos valores da
baixa capacidade de retenção de lâmina líquida se a decisão de
água, combinada com condição irrigação passar além do dia
climática de alta demanda recomendado. Haveria necessida-
evaporativa podem submeter as de de se conhecerem coeficientes
plântulas a estresses hídricos e/ de redução sobre a ETm toda vez
ou mecânicos severos, podendo que o p fosse ultrapassado; de
até exterminá-las. qualquer modo, essa situação não
b) A chuva excessiva para as plan- é recomendável, pois a cultura,
tas, ou seja, aquela fração da teoricamente, estaria sofrendo
chuva que não é a efetiva, pode déficit hídrico e, dependendo da
também contribuir com uma magnitude e do número de ocor-
parcela de efetividade, porque, rências, afetará negativamente a
nos cálculos, o que está além da produtividade final e a qualidade
umidade da capacidade de campo do produto.

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14 Planilha Eletrônica para a Programação da Irrigação de Culturas Anuais

5. Agradecimentos HILLEL, D. Applications of soil physics. New


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DOORENBOS, J.; PRUITT, W.O. Crop water
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(FAO.Irrigation and drainage paper, 24).

Circular Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Comitê de Presidente: Ivan Cruz
Técnica, 10 Embrapa Milho e Sorgo publicações Secretário-Executivo : Frederico Ozanan M. Durães
Endereço: Caixa Postal 151 Membros: Antônio Carlos de Oliveira, Arnaldo Ferreira
35701-970 Sete Lagoas, MG da Silva, Carlos Roberto Casela, Fernando Tavares
Fone: (31) 3779-1000 Fernandes e Paulo Afonso Viana
Fax: (31) 3779-1088 Expediente Supervisor editorial: José Heitor Vasconcellos
E-mail: sac@cnpms.embrapa.br Revisão de texto: Dilermando Lúcio de Oliveira
Tratamento das ilustrações: Tânia Mara A. Barbosa
1a edição Editoração eletrônica: Tânia Mara A. Barbosa
1a impressão (2001): 500 exemplares

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