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Universidade de Santiago

Departamento de Ciências da Saúde, Ambiente e Tecnologia


Curso Licenciatura em Enfermagem

Trabalho de Conclusão de Curso

IMPACTO DA DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITO NO


TRATAMENTO E RECUPERAÇÃO DOS PORTADORES DO
VIH/SIDA

Esandra Sandrine Dias Fernandes

Assomada

Setembro de 2013
Esandra Sandrine Dias Fernandes

IMPACTO DA DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITO NO


TRATAMENTO E RECUPERAÇÃO DOS PORTADORES DO
VIH/SIDA

Monografia apresentada a Universidade de Santiago


para obtenção do grau de licenciada em Enfermagem
- sob orientação da Mestre Cesaltina Ribeiro e Co-
orientação do Mestrando Herlânder Rodrigues.

Assomada

Setembro de 2013
Universidade de Santiago
Departamento de Ciências da Saúde, Ambiente e Tecnologia
Curso Licenciatura em Enfermagem

Trabalho de Conclusão de Curso

IMPACTO DA DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITO NO


TRATAMENTO E RECUPERAÇÃO DOS PORTADORES DO
VIH/SIDA

Autor (a): Esandra Sandrine Dias Fernandes

Banca Avaliadora

______________________________________________________________________

(Presidente)

______________________________________________________________________

(Arguente)

_____________________________________________________________________

(Orientador)
A voz do vento

Na voz do vento

Eu ouvi, o sofrimento, a tua dor

Suponho ver o riso dos teus choros

Vento trazendo plantas e eclipses

Vida trazendo, sonhos interrompidos.

Na voz do vento

O silêncio intervém em momentos súbitos,

Reflectindo a vida na sua caminhada.

Por um momento o teu coração chorou

O tempo parou no tempo, por um momento.

Na voz do vento

Enxerguei o desespero das pessoas

Afogadas, querendo viver e não poder.

Vi sentimentos, amizades, famílias e laços,

Negando, ausentando-se da realidade.

Esandra Fernandes
AGRADECIMENTOS

Agora, em fase final de conclusão do curso, reporto – me as diversas etapas do meu percurso
e, inevitavelmente, recordo-me das pessoas que colaboraram para o meu desenvolvimento
pessoal.

Agradeço a Deus e a Nossa Senhora Mãe de todos os Jovens, pela graça e privilégio que me
deram de trabalhar este tema e pelas pessoas que colocaram no meu caminho durante toda a
caminhada. Senda que não foi fácil, mas que sem eles não se cumpriria.

A primeira paciente seropositiva, que despertou em mim essa inquietação de investigar no


concelho de Santa Cruz. Agradeço-te, pois foste tu o azeite que faltava nas minhas lâmpadas.

A professora Cesaltina Ribeiro, minha orientadora, muito obrigada, por me ter acolhido como
sua orientanda. Lembro me ser última da turma a ter uma orientadora, cheguei cheia de
anseios e completamente “perdida” e a sua firmeza e sapiência me guiaram em direcção as
minhas metas. Agradeço pela vontade de contribuir nesta etapa da realização do presente
investigação e pelo socorro que tem-me dado durante esse período.

Sinto-me particularmente grata ao professor Herlânder Rodrigues, o meu co-orientador, com


quem tive o prazer de conviver mais de perto durante todos esses quatro anos lectivos, com
quem eu tive a oportunidade única de discutir ideias, partilhar pontos de vista e obter soluções
nos momentos mais difíceis, tudo num ambiente de extrema habilidade humana, que lhe é
particular, mas também de grande frontalidade e rigor científico, beneficiando de grande
disponibilidade, encorajamento e confiança, condições que um ensino exige. Agradeço pela
participação na “construção” da minha individualidade enquanto profissional de saúde
(enfermeira). Sinto – me honrada em tê-lo como meu educador, no sentido mais amplo da
palavra.

O senhor Daniel Delgado, presidente da Associação Esperança em Santa Cruz, pelo apoio que
me tem dado durante toda pesquisa. Muito obrigada, sobretudo por aceitar o convite, pela
disponibilidade que tem demonstrado e na inspiração que tem-me dado na elaboração da
pesquisa.
Aos meus amigos e amigas da caminhada, a voluntários da Universidade Santiago (VUS), os
participantes no estudo e não só, a aqueles que tivemos apenas uma semana de convivência e
revelaram-se em grandes amigos. Muito obrigada pela paciência que tiveram comigo.

Agradeço a Universidade de Santiago, pela oportunidade que tem-me dado, nessa minha
caminhada e principalmente a possibilidade de realizar este estudo de investigação científica,
o que contribui muito para o meu desenvolvimento a nível pessoal e profissional.

Por fim, mas não o menos importante aqueles que estiveram presente desde da minha
concepção, meus familiares, principalmente a minha mãe a quem dedico esse trabalho. Muito
obrigada pelo incentivo confiança e apoio. O vosso amor me guiou nos dias de solidão e
“trovoadas”, dando-me a certeza que tenho pessoas admiráveis ao meu lado.

Muito obrigada a todos que contribuíram directa e indirectamente na construção da minha


caminhada universitária.
Abreviatura/sigla

AIDS· Acquired Immunodeficiency Syndrome (SIDA em português)


ARV Antiretroviral (Plural: ARVs – Antiretrovirais)
APIS Aids Prevention Indicators Survey
CCS-SIDA Comité de Coordenação do Combate à SIDA
CDC Centers for Disease Control (Centro de Controlo de Doenças)
ADN Acido – desoxiribonucleico
DST Doença Sexualmente Transmissível
EUA Estados Unidos de América
GAPA Grupo de Apoio e Prevenção à AIDS
HIV Human Immunodeficiency Virus
IDSR Inquérito Nacional de seroprevalência
MS Ministério de Saúde
ODM Objectivos para o Desenvolvimento de Milénio
ONG Organizações não governamentais
ONU Organizações da Nações Unidas
ONUSIDA Programa Conjunto das Nações Unidas para HIV/SIDA
PDIT Preconceito Discriminação e Influência no Tratamento
PNUD Programa das Nações Unidas para a Desenvolvimento
SPSS Statistical Package for Social Sciences
PVVIH Pessoas Vivendo com o HIV
SIDA Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
TARV Terapia anti-retroviral (Tratamento Antiretroviral)
TS Trabalhadores de Sexo
UNAIDS Joint United Nations Programme on HIV/AIDS
UNGASS Sessão extraordinária das Nações Unidas sobre VIH/SIDA
UD/UDI Usuários de Droga/ Usuários de Droga Injectável
VIH Vírus da Imunodeficiência Humana
Resumo
A sociedade, desde as suas origens, sempre viveu rodeada pelo preconceito e a discriminação,
que intensificou-se com o surgimento do VIH/SIDA.O presente estudo teve como objectivo
conhecer a existência do preconceito e da discriminação e a sua relação com o tratamento e
recuperação dos portadores do VIH/SIDA no concelho de Santa Cruz. Trata-se de um estudo
do tipo discritivo-correlacional, com abordagem quantitativa. Foram selecionadas duas
amostras, os residentes no concelho (amostra I) e os portadores do VIH/SIDA da Associação
Esperança (amostra II). Para ambas amostras foram usadas as técnicas da amostragem não
probabilística convencional e intencional e para a colheita de dados foi usada um questionário
semi-estruturado. Os dados foram analisados através do programa SPSS versão 20.0 e Excel
2007. Dos inqueridos deste estudo (N=70), 24,3% (n=17) são pessoas portadoras do VIH,
pertencentes à Associação Esperança (Santa Cruz) e os restantes 75,7% (n=53) são residentes
no concelho. Não houve diferenças significativas em relação a proporção de pessoas do sexo
masculino inquiridas em comparação aos do sexo feminino (χ2=0,36; p>0,05), a maioria dos
inqueridos são jovens (idade compreendida entre os 15 a 24 anos), mais de 90% (n=65) são
solteiros e quase metade (41,4%; n=29) possui ensino secundário. Cerca de 70% (n=37)
afirmam a existência do preconceito e quase 68% (n=36) dos inquiridos admitem haver
discriminação dos portadores do VIH/SIDA. Observa-se uma relação muito forte (0,942)
entre os portadores do VIH que estão afastados da sua comunidade devido ao seu estado
serológico em relação aos portadores que já foram abandonados pelos amigos, pelo facto de
serem portadores do VIH e uma relação forte entre os portadores do VIH/SIDA que já foram
vítimas de discriminação e os que interromperam o seu tratamento.

Palavra-chave: VIH/SIDA; Preconceito; Discriminação;


Abstract
The society, from its origin, has always lived surrounded by prejudice and discrimination
that has intensified with the emergence of HIV / AIDS. The present study aims at knowing
the existence of prejudice and discrimination and its relation to the treatment and recovery
against HIV / AIDS target (bearers) in the municipality of Santa Cruz. This is a descriptive-
correlational study that uses quantitative approach. Two samples were selected, residents in
the municipality of Santa Cruz (sample I) and those HIV / AIDS target who belong to Hope
Association (sample II). For both samples the techniques of non-probability sampling and
conventional or intentional data were used, for data collection a semi-structured questionnaire
was used. The data were analyzed through SPSS version 20.0 and Excel 2007. Among the
research participants (N = 70), 24.3% (n=17) are HIV target belonging to the Association
Hope (Santa Cruz) and the remaining 75.7% (n = 53) are resident in the same municipality.
There were no significant differences in the proportion of males surveyed compared to
females (χ2 = 0.36, p> 0.05), most of the participants are young people (aged between 15-24
years) more than 90% (n = 65) were single and almost half (41.4%, n = 29) have secondary
education. About 70% (n = 37) confirmed the existence of prejudice and almost 68% (n = 36)
of respondents admitted that they witnessed discrimination among HIV / AIDS target
(victims). There is a very strong relationship (0.942) among HIV target (victims) who are
away from their community due to their status in relation to people who have been abandoned
by friends, only because they are HIV target and a strong relationship between the HIV /
AIDS target who have been victims of discrimination and those who quit their treatment.

Keyword: HIV / AIDS; Prejudice, Discrimination;


Índice
1.CAPITULO I- INTRODUÇÃO……………………………………………13
2.CAPITULO II- REFERENCIAL TEÓRICO……………………………..16
2.1. SIDA .......................................................................................................................................... 16
2.2. Considerações históricas sobre VIH/SIDA ................................................................................ 16
2.2.1. Características gerais do VIH .............................................................................................. 19
2.2.2. Vias de transmissão do vírus ............................................................................................... 20
2.3.CABO VERDE e o VIH/SIDA ................................................................................................... 21
2.4.Seropositividade e doente de SIDA............................................................................................. 23
2.5.Preconceito e VIH/SIDA ............................................................................................................. 24
2.6.Discriminação e VIH/SIDA ........................................................................................................ 25
2.7.Discriminação, preconceito e VIH/SIDA .................................................................................... 26
2.8.Tratamento e recuperação nos portadores de VIH ...................................................................... 27

2.9. Objectivos do Estudo……………………………………………………..29


2.9.1. Objectivo Geral........................................................................................................................ 29
2.9.2. Objectivos Especificos ............................................................................................................. 29

3.Capitulo III - MÉTODO……………………………………………………30


3.1.Tipo de estudo ............................................................................................................................. 30
3.2.Amostra - Participantes ............................................................................................................... 30
3.3.Instrumentos ................................................................................................................................ 31
3.4.Pré – teste .................................................................................................................................... 32
3.5.Procedimento............................................................................................................................... 33
3.6.Aspectos éticos ............................................................................................................................ 33
3.7.Procedimentos de análise de dados ............................................................................................. 34

4.CAPITULO IV- RESULTADOS E ANÁLISE……………………………35


4.1Características sócio-demográfica da amostra ............................................................................. 35
4.2 Análise e discussão das perguntas abertas .................................................................................. 45
4.2.1 Motivo de descriminação (amostra I) ................................................................................... 45
4.2.2 Existência de preconceito (amostra I) .................................................................................. 47
4.2.3 Abandono de tratamento anti-rectroviral (amostra II) .......................................................... 48

5.CAPÍTULO V- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS……………………...52


6.CAPITULO VI- CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………58
6.1.Limitações do estudo................................................................................................................... 59
6.2.Sugestões do estudo .................................................................................................................... 60

7. CAPÍTULO VII- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……………….61


8.Apêndice I………………………………………………………………..….69
9.Apêndice II………………………………………………………………….70
10.Anexo I…………………………………………………………….………71
11.Anexo II……………………………………………………………………75
Índice de tabela

Tabela 1 - Distribuição dos dados com quem obteve as primeiras informações sobre
VIH/SIDA....................................................................................................................... 36
Tabela 2 - Distribuição de dados de acordo com as vias de transmissão do VIH/SIDA 37
Tabela 3 - Distribuição de dados de acordo com a diferença entre seropositivo e doente de
SIDA ............................................................................................................................... 38
Tabela 4 - Distribuição dos dados de acordo com a convivência ................................... 39
Tabela 5 - Distribuição dos dados de acordo com o uso do medicamento anti-retroviral42
Tabela 6 - Apresentação da Correlação entre as variáveis em estudo da amostra II ...... 44
Tabela 7 - Síntese das categorias e das subcategorias .................................................... 45
Lista de gráficos

Gráfico 1- Distribuição de dados de acordo com género, idade, estado civil e nível de escolaridade .. 35
Gráfico 2- Distribuição de dados de acordo com o motivo da preocupação ......................................... 37
Gráfico 3- Distribuição dos dados da amostra I que admitiram haver discriminação (a) e preconceito
(b) para com os portadores do VIH ....................................................................................................... 39
Gráfico 4- Distribuição dos dados de acordo com a influência da discriminação e do preconceito no
tratamento e recuperação ....................................................................................................................... 40
Gráfico 5- Distribuição dos dados de acordo com o tratamento anti-retroviral .................................... 40
Gráfico 6- Distribuição dos dados de acordo com a interrupção do tratamento anti-retroviral ............ 41
Gráfico 7- Distribuição dos dados de acordo com vítimas do preconceito e da discriminação ............ 42
Gráfico 8- Distribuição dos dados de acordo com o afastamento e o seu motivo ................................. 43
Gráfico 9- Percentual do abandono por parte dos amigos ..................................................................... 43
Gráfico 10- Distribuição dos dados de acordo com a influência........................................................... 44
1.CAPITULO I- INTRODUÇÃO

As doenças sexualmente transmissíveis (DST), são frequentes em todo mundo e o aumento da


incidência, tem-se tornado um grande problema de saúde pública preocupando a comunidade
científica e os Governos, com ênfase para o Human Immunodeficiency Virus (HIV), (Vargens
e Silva 2009).

O Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) representa um dos sérios problemas de


saúde pública, caracterizando-se como pandemia global, com rápida disseminação e
agravamento. Desde que se identificaram os primeiros casos de SIDA em 1981 nos Estados
Unidos da América (EUA), surgiram novos casos em outros continentes. Mundialmente o
número de pessoas que vivem com HIV aumentou consideravelmente. Inicialmente as
primeiras vítimas foram os homossexuais, posteriormente as prostitutas, usuários de drogas,
moradores de rua, ou qualquer outra pessoa que adoptasse comportamento inadequado
perante os modelos da sociedade. Actualmente é a pandemia com maior impacto social em
todo o mundo, que tem indiscriminadamente acometido pessoas de diferentes classes sociais,
deferentes faixas etárias e pessoas com diversas opções sexuais (Cláudio, 1992; Tross &
Hirsch, 1988, apud Grilo, 2001).

Oliveira (2005) afirma que o surgimento e a evolução do SIDA, fez com que o medo e o
preconceito intensificassem em todas as sociedades e consequentemente no mundo todo. Isto
porque esta patologia desde muito cedo foi associada à fatalidade e à morte.

Actualmente, não se pode dizer que o caminho esteja completo. Se na Idade Média a peste
bubónica e a sífilis, que dizimaram grande parte da população Europeia, foram consideradas,
por muitos, como castigo divino, culpando Judeus e “marginais”, hoje continua a existir uma
representação social estigmatizada, sobre quem está infectada com VIH (Loureiro & Miranda,
2010).

SIDA encontra-se disseminada por todos os cantos do planeta, no entanto existem países que
são mais afectados do que outros. Presentemente de acordo com o relatório de dados
epidemiológicos de SIDA 2009, das Nações Unidas, estimou-se que em 2008, 33.4 milhões
(31.1-35.8 milhões) de pessoas estavam infectadas pelo VIH, dos quais, 2.1milhões (1.2-2.9

13
milhões) eram crianças com menos de 15 anos de idade. Estimou-se ainda que no mesmo ano
houve uma incidência de 2.7 milhões (2.4-3.0 milhões), sendo que 430 000 (240000-610000)
eram crianças com menos de 15 anos de idade (Ribeiro, 2010).

Em Cabo Verde, o SIDA representa um dos maiores desafios do governo e da sociedade. A


sua construção social é marcada pelas tradições patriarcais, baseada na ideia da “morte” e da
promiscuidade. Segundo o Comité de Coordenação do Combate à SIDA (CCS-SIDA) o
primeiro caso de SIDA foi detectado em 1986. Desde 1986 a 2004, segundo os dados
estatístico o número acumulado de casos de VIH/SIDA notificados continuou crescente, mais
de metade dos casos (52%) estava já na fase de SIDA, (momento em que surgem as doenças
oportunistas que assumem uma determinada evolução devido à extrema debilidade do sistema
imunológico) o que indica uma despistagem tardia da infeção, desde o início da epidemia no
ano 1986.

Sá, (2005, apud Ribeiro 2009), afirma que devido à inexistência de uma cura, ao aumento
trágico do número de pessoas infectadas de diferentes grupos socioculturais, étnicos e etários,
esta doença tem sido a que mais preocupa a comunidade científica.

Esta doença não exige apenas cuidados relacionados a, medicamentos, controle de infeções
oportunistas, entre outros, mas também é social, pois está relacionada a questões que
envolvem, a vida, a infância, a juventude das pessoas, a discriminação, o preconceito, a
revelação do diagnóstico a família e á comunidade, o medo do enfrentamento público, entre
outros (Dos Anjos, 2012).

Autores como Simbayi et al., (2007 apud Massei e Yoshida, 2009) abordaram a questão da
rejeição construída socialmente, afirmando que quando assimilada e internalizada pelo
indivíduo, pode causar diversas reações comportamentais e emocionais como a não procura
de tratamento e serviços de cuidado, práticas de sexo não seguros, isolamento e doenças
emocionais.

Neste sentido pretendemos conhecer a existência do preconceito e da discriminação e a sua


relação com o tratamento e recuperação dos portadores do VIH/SIDA no concelho de Santa
Cruz. Para isso levantou-se a seguinte questão de partida: Os portadores do VIH/SIDA do
concelho de Santa Cruz, sofrem de discriminação e preconceito? Para responder a questão de

14
partida foi proposto os seguintes objectivos. Descrever a existência da discriminação e do
preconceito no conselho de Santa Cruz; descrever o comportamento das pessoas do concelho
para com os portadores do VIH/SIDA; compreender e analisar a discriminação e o
preconceito para com os portadores do VIH/SIDA e por último demonstrar de que forma a
discriminação e o preconceito afectam o tratamento e a recuperação do portador do
VIH/SIDA.

Este trabalho encontra-se estruturado em sete capítulos, sendo que o primeiro corresponde a
introdução, em que se faz uma breve discrição da problemática e se define os objectivos do
estudo e a questão de partida. É apresentado resumidamente o tema que será desenvolvido, e
de que forma será apresentada ao longo do trabalho. O segundo é dedicado ao enquadramento
teórico, onde é apresentado os principais conceitos do SIDA, a consideração histórica sobre o
VIH/SIDA, o VIH/SIDA em Cabo Verde, a seropositividade e o doente de SIDA, o
preconceito, a discriminação, a discriminação versos preconceito, o tratamento e a
recuperação, mostrando como a literatura aborda a questão. No terceiro capítulo apresenta-se
os resultados da investigação empírica, o método utilizado para a concretização da
investigação, descrevendo as amostras em estudo, os critérios da inclusão, instrumento da
recolha de dados, procedimento da recolha e análise dos dados e aspectos éticos. No quarto
capítulo encontra-se a análise dos dados, que estão expostos por tabelas, gráficos e análise de
conteúdo. No quinto capítulo encontra-se a discussão dos principais resultados onde se faz
uma breve comparação com estudos já descritos na literatura. No sexto capítulo encontra-se
as considerações finais, onde é dado realce aos resultados que consideramos mais relevantes,
procurando identificar as suas implicações no dia-a-dia. Conclui-se o último capítulo com
referências bibliográficas usadas para a elaboração do estudo.

15
2.CAPITULO II- REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. SIDA

Em 1981 emergiu uma nova doença, que se designou de Síndrome de Imunodeficiência


Adquirida (SIDA) ou também denominada Acquired Immunodeficiency Syndrome (AIDS) na
terminologia Brasileira e Inglesa (Vinhas, 2005).

SIDA é um síndrome, isto é um conjunto de sinais e sintomas cuja coexistência é variável,


segundo o estado da evolução. É provocada por um vírus que ataca directamente a defesa
imunológica. Ela cria uma destruição desta defesa matando ou neutralizando os linfocitos,
cujo papel é justamente eliminar vírus (Blouin; et al., 1987).

Para Cláudio e Mateus (2000 apud Vinhas, 2008) SIDA é um síndrome infecioso, provocado
por um vírus da família dos retrovirus capaz de parasitar o sistema imunológico do homem.

De acordo com Guerra (1994) SIDA é uma doença viral, infeciosa e fatal, identificada pela
primeira vez nos Estados Unidos em 1981.É fatal, por não ter cura, ela caracteriza-se por
diversas manifestações clínicas subjacentes à penetração no organismo do vírus VIH que
atacando o sistema imunológico do indivíduo, torna-o susceptível a todo o tipo de infeções.

De acordo com Manual Merck (2000 apud Salles 2011) a infeção pelo VIH se caracteriza por
uma replicação viral intensa e contínua, gerando severa destruição de linfocitos TCD4,
(células responsáveis pela defesa do organismo), tal infeção pode manifestar sintomas clínicos
que vão desde a fase aguda (assintomática ou manifestando-se pela síndrome retroviral aguda)
até a fase avançada da doença, caracterizando por manifestações que definem o quadro de
SIDA.

2.2. Considerações históricas sobre VIH/SIDA

Devido a complexidade patogénica que caracteriza esta doença, foi difícil definir o início da
sua manifestação, alguns casos de imunodepressão, em tudo semelhante à actual SIDA,
segundo alguns autores parecem existir seguramente a partir de 1962, não sendo de excluir

16
anteriores ocorrências. Antes da década de 70, esta síndrome, embora existindo, não assumiu
o lugar de uma patologia comum. Nenhuma ocasião epidémica antecedeu a actual,
referenciada nos EUA e na Europa por volta do ano 1978, avançando-se com um conjunto de
hipóteses explicativas de natureza biológica e social (Nossa, 2001).

Para Bayés (1995,apud Da Maia, 2006), Gallo (1987;1988 apud De Sá, 2005) os dados
epidemiológicos demonstram que o VIH encontrava presente na África Central, desde 1959 e
que a propagação massiva ocorreu nos anos de 1970 e início dos anos 1980.

Segundo Nossa (2001), no início dos anos 80 é que se testemunhou o aparecimento de uma
nova e estranha doença cuja patologia infeciosa ocupava os modelos clássicos. Manifestava-
se em indivíduos na sua maioria jovens, através de um ou mais infeções concomitantes de
inusitada severidade e persistência, aparentando a falência do sistema imunitário.

De acordo com Miller (1988 apud Guerra 1994), foi no ano de 1981 e nas cidades norte-
americanas de S. Francisco e de Nova Iorque, que foram identificados os primeiros pacientes
com sintamos compatível a do Sida. No contexto histórico, esta doença surgiu nos
homossexuais, e descoberto a primeira via de transmissão através da traça de secreções
orgânicas contaminadas.

Para Grmek (1990 apud Nossa, 2001) do ponto de vista social, a oclusão desta síndrome foi
acompanhado por um ambiente de quase histeria, sinalizando o pânico sob forma de severa
discriminação e estigmatização, originando interpretações abusivas conectando a letalidade da
doença com actos de punição que se abateriam sob comportamentos ou preferências sexuais
liberais. Estava-se, na presença de qualquer patogénise selectiva, um mal que parecia não
abater sobre “pessoas honestas”.

Apesar da verdadeira etiologia da doença permanecer desconhecida, o contágio através de


contactos íntimos parecia evidente, tanto mais que ainda não haviam registados quaisquer
casos fora da comunidade homossexual, embora alguns doentes confirmassem a utilização
endovenosa de drogas, constituindo uma potencial porta de infeção através da reutilização de
materiais não esterilizados (Nossa, 2001).

Segundo Nossa (2001) até a conquista de explicações etiológicas convincentes,


comportamento da homossexualidade, desempenha nos primeiros estádios da epidemia um

17
papel importante, levando à suspeita de estar-se perante uma DST, típica de determinado
grupo, facto por demais evidente em algumas das designações inicias propostas para
identificar esta síndrome: Pneumonia e cancro gay.

Vários casos foram relatados por outros países, incluindo as mulheres Africanas residentes em
Cabo Verde, e em Zairense emigrados em França e na República Federal da Alemanha. Numa
fase casuística remetia-se para um vasto conjunto de histórias individuais cujo percurso
geográfico e o modo de contágio evidenciava impressionantes sobreposições de
características comuns. Por esse motivo Leibowitch (1983), e mais tarde Grmek (1990),
afirmaram com segurança a presença e sobreposição de dois focos infeciosos distintos no
continente Europeu. Um deles, talvez o mais antigo, seria originário de África, afectando
indistintamente indivíduos dos dois sexos, na sua maioria heterossexuais. Um outro oriundo
dos EUA que num estádio inicial parece decalcar o percurso de homossexualidade organizada
com ramificações Europeias, estendendo-se posteriormente a indivíduos com orientações
heterossexuais através da partilha de seringas ou relações com bissexuais.

De acordo com Nossa (2001), existem algumas hipóteses sobre o aparecimento da doença,
mas até hoje nenhuma delas foram comprovadas:

- Existe um vírus semelhante numa espécie de macacos denominado SIV- Virus da


Imunodeficiência Simia (Simiam Imune Defiency Virus). A contaminação para os seres
humanos poderia ter ocorrido através de brincadeira como mordidas, devido a criação desses
animais em cativeiro ou pelo hábito de consumir a carne destes animais praticamente crua.

- A acção indiscriminada do homem sobre o planeta em que vivemos facilita a propagação de


agentes etiológicos que estão em equilíbrio ecológico na região a que pertencem.

- O vírus teria sido criado em laboratório. Há autores como Grmerk, (1990), diz que o vírus da
SIDA, no nosso actual estado de conhecimento, só poderia ter sido construído por
manipulação de engenheira genética. Pois, a primeira aparição do SIDA coincide exactamente
com a abertura do laboratório PIV de Fort Detrick (1977) no Maryland, tendo em conta o
período de incubação, também pelo facto da disseminação do SIDA no mundo ter partido de
Nova Iorque, cidade vizinha de Fort Detrick.

18
De acordo com Nossa (2001), esta hipótese já não é tão considerada porque muitos institutos
de pesquisa armazenam, durante anos, amostras derivados de sangue para fins de pesquisa.
Foi encontrada a presença do VIH em amostras da década de 50. Nessa época não havia
tecnologia, e engenheira genética não era tão evoluída para produzir um agente etiológico.

Constata-se que não há um consenso sobre a data exacta da existência do SIDA, nem da sua
verdadeira origem, pois sabe-se que foi identificada pela primeira vez em New York, com
certeza, depois da existência de um laboratório (Nossa 2001).

Em Janeiro de 2000 a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece o SIDA como sendo
uma ameaça à segurança mundial, expressando a premente necessidade de se criar estratégias
que travassem a expansão da pandemia (Ribeiro 2010).

A epidemia do SIDA parece ter estabilizado na maioria das regiões a nível mundial, embora a
prevalência continua a aumentar na Europa Oriental, Ásia Central e outras partes da Ásia,
devido a uma alta taxa de incidência do VIH. A África Subsaariana foi a região mais
infectada, com cerca de 72% de todas as novas infeções pelo VIH em 2008 (The Millennium
Development Goals Report 2010). De acordo com Sessão extraordinária das Nações Unidas
sobre VIH/SIDA (UNGASS), no ano 2012, África Subsaariana continua a ser a região mais
afectada com o VIH representando 70% das novas infecções ocorridas no mundo e 67% do
número total de infectados vivem nesta região. Em relação aos outros países, Moçambique
tem mais de 1.5 milhões de pessoas vivendo com VIH/ SIDA destas, a maioria são mulheres,
e estima-se que ocorrem mais de 90 mil mortes por ano devido a esta doença. Em 2008,
aproximadamente 463.000 crianças perderam o pai, a mãe ou ambos devido ao SIDA. No mês
de Dezembro de 2009, cerca de 373.020 adultos e 72.652 crianças nos estágios avançados do
SIDA necessitavam do TARV (UNAIDS, 2010).

2.2.1. Características gerais do VIH

Nos dias de hoje é absolutamente consensual entre a comunidade científica a inclusão do VIH
no grupo dos denominados vírus lentos, sendo SIDA, uma doença que caracteriza pela
existência de um longo período durante o qual o indivíduo infectado não evidencia sinais
clínicos próprios da doença (Sonigo 1985; Anderson e May, 1988 apud Nossa 2001).

19
De acordo com Do Prado et al., 1999; Wainberg, (2004 apud Rossi 2010), VIH é da família
Retroviridae, género Lentivirus. Existem dois tipos do VIH, (o VIH 1 e 2), tanto um como o
outro, se reproduzem nos humanos. VIH-1 é de distribuição universal e o VIH-2 que é restrito
a África ocidental; tem como genoma ácido ribonucleico (RNA) que precisa ser transformado
em ácido desoxirribonucleico (DNA) complementar e posteriormente integrado ao DNA da
célula hospedeira para poder multiplicar-se. Esta transformação do RNA viral em DNA viral
acontece com o trabalho da enzima transcriptase reversa, a integração do DNA viral ao DNA
da célula hospedeira acontece com auxilio da enzima integrasse, e a montagem final da
partícula viral acontece por meio da enzima prateasse. Para poder entrar numa célula e
multiplicar-se, o VIH usa receptor (CD4) e co-receptores (CCR5, CXCR4) presentes na
superfície de células de defesa do organismo humano, os linfocitos T CD4 (CD4), que tem a
função de organizar a imunidade mediada por células do ser humano. Após a infeção o vírus
multiplica-se rapidamente elevando os números das células infectadas sem que por parte do
organismo se registem reações imunitárias mensuráveis, denominados por autor Grmeck
(1990) como “período de incubação” cujo tempo máximo é de 10 meses. Há casos de
replicação intensa que pode durar cerca de quatro a oito semanas, aquilo que designamos por
infeção aguda, em que origina algumas manifestações clínicas visíveis como, febre ligeira,
fadiga, síndrome gripal, erupção cutânea, podendo passar despercebidas (Nossa, 2001).

O diagnóstico da infeção pelo VIH pode ser realizado por meio de exames laborais como teste
de ELISA, Imunofluorescência Indirecta, Imunoblot, Western Blot, e testes de sorologia
rápida (Fernandes, 2010).

2.2.2. Vias de transmissão do vírus

De acordo com Harvard Medical School (2005; apud Costa 2006), qualquer indivíduo
seropositivo ou com SIDA, declarada pode transmitir o vírus a outros sujeitos através das
seguintes vias de transmissão: relação sexual desprotegida, contacto com sangue infectado ou
produtos de sangue através da transfusão, transplante de órgãos, partilha de agulhas, ou
acidente com agulhas infectadas, transmissão vertical que dá-se durante os períodos intra-
uterino, intra-parto, pós – parto e durante o período de amamentação.

20
A via sexual foi uma das primeiras vias de transmissão do VIH a ser descoberta. Desde o
início da epidemia o comportamento sexual de risco parece citado em vários trabalhos
científicos quando se trata do VIH/SIDA. Segundo Góis (2000 apud Galvão 2009), desde
bem cedo SIDA, foi associada a liberdade sexual. Costa (2008, apud Ribeiro, 2009), desde os
anos de 1978 nos EUA os comportamentos de risco abrangem desde actividade sexual anal, a
utilização de drogas injectáveis com troca de seringas não esterilizadas, relações sexuais anais
ou vaginais homossexuais ou heterossexuais desprotegidas, passando por, relações sexuais
casuais frequentes, e relações com trabalhadores comerciais de sexo. Segundo Nogueira,
Saavedra & Costa (2008, apud Ribeiro 2009), alguns grupos de adolescentes e jovens
apresentam maior vulnerabilidade para os comportamentos de riscos, nomeadamente os
jovens oriundos de grupos étnico - culturais minoritários, pela peculiaridade das pressões a
que estão sujeitos como por exemplo, aculturação, discriminação, racismo, desenraizamento,
intolerância, preconceito, entre outros.

2.3.CABO VERDE e o VIH/SIDA

Segundo os dados do comité de coordenação do combate à SIDA (CCS-SIDA), o primeiro


caso do SIDA, foi descoberto em 1986 num paciente originário da ilha do Fogo.

Actualmente, o vírus do Sida, encontra-se disseminado em todas as ilhas habitadas do


arquipélago, verificando-se uma presença maior na ilha de Santiago. Durante todos esses anos
o país tem uma taxa de prevalência, na população geral, abaixo de 1% (CCS-SIDA, 2006).

O primeiro inquérito nacional de seroprevalência (IDSR I), realizada em 1989, indica uma
prevalência nacional de 0,46% (15-55 anos). O segundo inquérito que foi realizado em 2005,
indica uma prevalência à volta de 0,8%. A taxa de prevalência por sexo foi de 0,4% para as
mulheres e de 1,1% para os homens. O meio urbano apresenta uma taxa de prevalência de
0,9% e o meio rural de 0,6%. Segundo os dados em 2005 a infeção por VIH afectou
principalmente as pessoas da faixa etária mais activa e economicamente rentável, 20 a 34
anos, o que representa 62,8% dos seropositivos e 51% dos casos de SIDA. Nesse mesmo ano
foi implementada a estratégia de prevenção a transmissão vertical (CCS- SIDA, 2006).

21
Em 2004 foi realizada o lançamento oficial do tratamento com anti-retroviral (TARV) em
Cabo verde. Desde então, 1.323 indivíduos foram avaliados (73,5% de cobertura), sendo 283
(59%) em 2008 e 294 (73,5%) em 2009. Em 2007, foi criado a Lei nº 19/II/2007 que regula os
aspectos ligados à prevenção, tratamento e controlo do VIH/SIDA, no ano seguinte 2008,
alargou-se a rede de aconselhamento e despistagem de VIH. Em 2009 foi realizada o inquérito
aos indicadores de prevenção do VIH (APIS-2009).

De 1987 a 2009, os serviços de saúde notificaram um total cumulativo de infeção VIH/SIDA,


de 2888 pessoas, das quais 1314 do sexo masculino, 1470 do sexo feminino e 57 sem
especificação de sexo. Desses números, 45% desenvolveram a doença, ou seja, 688 homens,
595 mulheres e 5 não especificados. O total de óbito por VIH/SIDA, até final de Dezembro,
era de 727. A taxa de mortalidade em pacientes com tratamento ARV diminuiu, mas há ainda
uma faixa importante de doentes que chegam aos serviços de saúde num estado muito
avançado, o que influencia significativamente a sua morbilidade (CCS-SIDA, 2011).

Em Cabo Verde, a principal via de transmissão continua a ser a sexual, e de entre os


principais factores impulsionadores da epidemia destacam-se os comportamentos de riscos,
tais como, relações sexuais com múltiplos parceiros, a alta mobilidade e a migração
(imigração e êxodo rural), as vulnerabilidades sociais diversas, as desigualdades de género,
entre outros (CCS-SIDA, 2011).

Apesar de baixa prevalência do VIH/SIDA, em Cabo Verde, o seu impacto tem sido visível na
sociedade em geral, no serviço nacional de saúde, nas famílias afectadas e nos indivíduos
afectados. Individualmente a pessoa infectada sofre com o preconceito em relação a sua
condição, o que resulta na necessidade das pessoas vivendo com o VIH (PVVIH),
enfrentarem situações de discriminação ou de estigma, tanto no seio da família como na
comunidade, espaço laboral e na sociedade em geral. Por ser uma doença sem cura, a
participação das instituições e Organização Não Governamental (ONG), famílias e da
comunidade no combate ao VIH-SIDA, tem sido uma fonte importante de apoio no
tratamento dos seropositivos. O suporte psicossocial tem sido igualmente, decisivo na
melhoria e bem-estar não só dos portadores como as respectivas famílias e nas comunidades
onde vivem (CCS-SIDA, 2011). De acordo com Hays & col., 1993; Ickovics & Robin, 1992;
Kelly & St. Lawrence, 1988; Segerstrom & col., (1996 apud Grilo, 1999) são conhecidos os

22
efeitos positivos do apoio social na adaptação à seropositividade e na recuperação da doença
física.

2.4.Seropositividade e doente de SIDA

Descobrir ser portador do vírus HIV é, sem duvida, expor – se, de alguma maneira à
possibilidade do preconceito e da própria morte (Graciano, 1998).

Segundo Nossa (2001) a difusão do VIH/SIDA foi facilitado e ampliada pelo longo período
de latência do vírus, durante o qual o portador permanecia assintomático. Este, era por
definição, um indivíduo, que, embora colocasse os outros em perigo com a sua capacidade de
transmitir a doença, ele permanecia saudável.

Para, Chastel & Ford (1992 apud Vinhas 2008); Loureiro e Miranda (2010), uma pessoa é
considerado seropositivo quando não apresenta nenhuma doença reveladora do SIDA, mesmo
tendo VIH no seu organismo, poderá, aparentemente estar saudável, mas poderá ocorrer a
transmissão do vírus a outra pessoa. A pessoa infectada pode ter em média 15 a 20 anos sem
sintomas. O Ford defende ainda que o seropositivo não é considerado um doente, porque ele
pode viver durante muito tempo sem que seja alvo de infeções graves.

As pessoas seropositivas também são chamadas de portadoras do VIH, ou simplesmente


portador. O seropositivo não apresenta nenhum sintoma do SIDA (Peres, et al.,2004).

De acordo com Guerra (1998 apud Vinhas, 2008), o VIH entrando no organismo humano
desenvolve-se após o período de incubação (intervalo que medeia entre o contacto com o VIH
e o desenvolvimento dos primeiros sinais e sintomas), em três etapas diferentes ao longo do
tempo:

a) Portador assintomático ou seropositivo, é uma pessoa que já teve em contacto com o vírus,
mas permanece assintomático durante vários anos;

b) Doente com complexo relacionamento com o SIDA nesta fase a pessoa já seropositiva,
apresenta sintomas como adenopatias generalizadas, inflamação dos gânglios, candidíase

23
bucal, fadiga, faringites, diarreia crónicas, emagrecimento e febre. Muitas vezes não acontece,
pois o seropositivo pode transitar directamente para a fase de SIDA;

c) Doentes com SIDA, nessa fase emergem as doenças oportunistas, devido à extrema
debilidade do sistema imunológico. As doenças mais comummente encontradas nesta fase são
pulmonares, toxoplasmose e o sarcoma karposi (manifestação tumoral mais frequente) depois
da manifestação do SIDA, a longevidade média do sujeito é cerca de dois anos.

Berry e Hunt (2005) consideram que os sintomas na fase do SIDA, variam de pessoas para
pessoas, sendo que a maioria apresenta fadiga, perda de peso, problemas de pele e pneumonia.
Há medida que a carga infeciosa aumenta o nível dos globos brancos diminui, os sintomas
vão se tornando, progressivamente, mais intensos, podendo estender se a febres prolongadas,
suores nocturnos, diarreia, dores de cabeça, dificuldades respiratórias, dificuldades na
deglutição, na concentração e perturbação na memória a curto prazo e problemas de visão.

2.5.Preconceito e VIH/SIDA

Barbosa (1999) afirma que a construção social e científica do SIDA proporcionou margem a
interpretações preconceituosas e equivocadas, que muito dificultaram e dificultam as
estratégias de enfrentamento da mesma.

De acordo com Napolitano e Cardoso (2007 apud Da Cruz e Carvalho, 2010)


etimologicamente o preconceito consiste na constituição de uma opinião pré-concebida, sem
imensas informações de determinado grupo ou fenómeno em questão.

Segundo Allport (1954/1962 apud Galvão 2009) existe diferença entre pré-conceito e
preconceito, o primeiro é uma generalização natural de crenças, que necessariamente não se
fundamenta em factos e é influenciado por afectos. A segunda é tão natural quanto a primeira,
mas impregnada de atitudes hostis.

Os sociobiólogos verbalizam a probabilidade de o preconceito estar ligado a mecanismos de


sobrevivência, intrínseco à história da humanidade e com uma função protectora do grupo a
que pertencemos, eles acreditam que a aprendizagem pode ser responsabilizada em grande
parte por este fenómeno, ainda que a facilidade com que o adquirimos levante suspeito sobre

24
a existência de uma predisposição inata. Para eles o preconceito parece estar tão estranha no
circuito das relações humanas que torna difícil distinguir suas origens (Rodrigues et al.,
2009).

Conforme Bandeira e Batista (2002 apud Da Cruz e Carvalho, 2010), atitude é um conjunto
de normas, relativamente estáveis, formado de organizações, experiências e comportamentos
relacionados com um dado elemento ou acontecimento particular. Portanto, o preconceito
seria uma manifestação de uma atitude negativa que uma pessoa se predispõe a sentir ou
direccionar em relação a um determinado indivíduo ou grupo.

Muitas vezes o preconceito está relacionado com a falta de informação, pois pensam que
conhecem, mas na realidade desconhecem, para a psicóloga Lizete Henriques, a
discriminação dos seropositivos prende-se sobretudo com a falta de informação e tabus
(Lopes, 1998 e Peres et al., 2004).

2.6.Discriminação e VIH/SIDA

Para Siegel, Lekas (2002, apud Kourrouski, 2008) desde o inicio da epidemia do SIDA, com
a descoberta da infeção, existem relatos sobre discriminação e isolamento social.

Desde o princípio da epidemia do SIDA, o estigma e a discriminação fomentaram a


transmissão do VIH e aumentaram consideravelmente o impacto negativo associado à
epidemia. Em todos os países e regiões do mundo, o estigma e a discriminação associados ao
VIH continuam a manifestar-se, criando barreiras importantes à prevenção de novas infeções,
à atenuação do impacto e ao fornecimento de cuidados adequados, apoio e tratamento (Peter
Aggleton, 2005).

O sentido dicionarizado de “discriminação” refere-se ao tratamento inferior ou


injusto direccionado a alguém devido as suas características pessoais; sendo
associada à intolerância e ao preconceito. O estigma e a discriminação são processos
de desvalorização dos sujeitos que produzem iniquidades civis e reforçam aquelas já
existentes (Garbin, et al., 2009).

25
Segundo Castilho (2002, apud Kourrouski, 2008) a discriminação é um dos maiores
obstáculos para as medidas de prevenção e cuidado do VIH, impedindo, muitas vezes que as
pessoas busquem por tratamento, aliados ao medo de que o seu diagnóstico torne se publico.
Podem ser rejeitados tanto pelos familiares, vizinhos, amigos e colegas, terem sua entrada
proibida em alguns locais, além de sofrerem a rejeição de alguns planos de saúde, entre
outros.

2.7.Discriminação, preconceito e VIH/SIDA

Segundo Lima e Vale (2004 apud Galvão, 2009) o conceito de preconceito está no campo das
ideias ou atitudes. É um pré disposição para lidar com um sujeito ou grupo em determinada
situação. A discriminação é a concretização desta ideia, é a acção do sujeito de acordo com o
preconceito. Portanto, pode-se observar que, apesar de serem frequentemente confundidos,
preconceito e discriminação são conceitos distintos, posto que um decorre do exercício do
outro. Por conseguinte, deve-se enfatizar que discriminação e preconceito não se referem
exactamente aos mesmos fenómenos, ou seja, não se confundem, mas, por vezes, a
discriminação origina-se directamente do preconceito. Entre as diferenças fundamentais
destes dois conceitos temos que o preconceito é a não-aceitação, a discriminação o não
permitir as diferenças com acções desrespeitosas e/ou excludentes.

Em relação a essa doença (SIDA) observa-se uma forte depreciação das pessoas infectadas,
que são responsabilizadas por sua própria infeção. Acrescenta-se a isso o fato de o VIH ser
transmissível, o que intensifica no imaginário social uma responsabilidade maior para o
portador, o que pode contribuir para que essas pessoas sejam percebidas como ameaças à
sociedade. Berlinguer estabelece uma correspondência com o medo que as pessoas têm das
doenças, ou seja, o medo suscita reações irracionais e actos discriminatórios (Araújo et al.,
2011). Vale salientar, como destaca Soares (2002 apud Da Cruz e Carvalho, 2010) o
preconceito e a discriminação contra os portadores do VIH/SIDA constituem como um dos
obstáculos no combate à epidemia, tanto inviabilizando um tratamento adequado, como
dificultando a assistência e a busca pelo diagnóstico. Entre as razões que contribuem para a

26
existência do estigma estão à falta de conhecimento sobre as formas de contágio, o próprio
preconceito e o medo da doença.

Importa porém ter presente que, o preconceito e a discriminação podem constituir sérias
barreiras à implementação de um programa de intervenção, e a mudança positiva muitas vezes
só ocorre depois de um trabalho de campo paciente e partilhado, de preferência e sempre que
o indivíduo o permita, no próprio meio em que vive e se move (Ribeiro, 2010).

2.8.Tratamento e recuperação nos portadores de VIH

Não existe, ainda, tratamento definitivo para a cura da AIDS, mas a terapêutica anti-
retroviral foi um progresso realizado desde o surgimento da doença, que permitiu
prolongar a vida do doente e qualificar o viver dos portadores e de suas famílias. As
colocações de Cezar Vaz (2001) reforçam essa questão quando acentua que a
tecnologia existente hoje é disponível para o tratamento das pessoas portadoras do
HIV/AIDS aumenta o tempo de vida e melhora a qualidade (Sousa et al. 2004).

O tratamento inclui a alimentação, os exames de controlo da carga viral e das células CD4+, o
comparecimento às consultas médicas e a ingestão dos medicamentos de forma adequada.
(Leite, 1998; Jordan, Lopes, Okazaki, Komatsu e Nemes, 2000; Figueiredo, Sinkoc,
Tomazim, Gallani e Colombrini, 2001; Leite, Drachler, Centeno, Pinheiro e Silveira, 2002;
Guidelines, 2002, apud Torres, 2006).

Do ponto de vista clínico, o início do TARV pode ocorrer em dois contextos diferentes, na
ausência de sintomas e na presença dos sintomas. Na ausência dos sintomas, o TARV retarda
o desenvolvimento da doença, por meio da supressão viral e restauração do sistema
imunológico. Na presença dos sinais e sintomas característicos (perda de peso, febre, diarreia,
fadiga), com ocorrência ou não de infecções oportunistas e indicação laboratorial para a
TARV (contagem de linfocitos T CD4+ e carga viral). O início do TARV para pacientes
sintomáticos pode estar revestido de esperança e de expectativas positivas quanto ao alívio de
sintomas, melhora do estado geral, ganho de peso, eliminação de fadiga e retorno às
actividades quotidianas (Brasil, 2008).

27
Segundo Rossi (2010) em 2001 o consenso de Terapia anti-retroviral (TARV) do MS
recomendava iniciar o tratamento usando TARV tríplice dos pacientes com CD4 entre 200 e
350 céls/ml, tratar os pacientes com sintomas definidores do SIDA e os que estivessem com o
CD4 abaixo de 200 céls/ml, devido à eficácia comprovada deste esquema terapêutico para
diminuir a carga viral e permitir a reconstituição da imunidade.

Autores como o Reis; Santos; Cruz, 2007; Dore et al., 2002 e Schnarczat al., (2006, apud
Rossi 2010) em trabalhos realizados na Austrália, Centro de controlo das doenças (CDC),
(2003) em 16 locais dos EUA, e um outro estudo realizado no Brasil, mostrou a queda da taxa
da mortalidade a partir do momento que se fez a introdução da TARV eficaz, mas constatou-
se que há necessidade de diagnóstico mais precoce e acesso facilitado à assistência. De acordo
com o Camargo Júnior (1999, apud Rossi, 2010) observou se uma melhoria notáveis no
TARV e no diagnóstico precoce das infeções oportunistas aumentaram, a esperança e a
sobrevida das pessoas que vivem com VIH e SIDA, mas ao mesmo tempo o preconceito e a
discriminação ainda seguem fazendo vítimas.

Em Cabo verde segundo os dados estatísticos, verificou-se que a mortalidade no universo dos
doentes em TARV, vem diminuindo, anualmente, passou de 21%, em 2005, para 7%, em
2009, resultados que testam a eficácia do TARV, mas ainda há dificuldades na adesão ao
TARV (cerca de 12% de pacientes não aderem ao TARV 12 meses após o seu inicio), (CSS-
SIDA, 2011).

A maneira como cada pessoa reage ao diagnóstico da infeção pelo VIH depende da sua
personalidade e seu contexto existencial. Essa reação tem decisiva influência sobre duas
importantes questões, a recuperação clínica e social do infectado, e o enfrentamento colectivo
da pandemia do SIDA. Portanto, essa infeção não pode ser vista como um evento biológico
isolado. Ela transcende valores socioculturais, ideológicos e individuais, cuja compreensão é
indispensável para que a abordagem do portador do HIV e da comunidade envolvida com a
questão da SIDA seja minimamente adequada (Souto, 2008).

28
2.9. Objectivos do Estudo

2.9.1. Objectivo Geral

Este estudo tem como objectivo primordial conhecer a existência do preconceito e da


discriminação e a sua relação com o tratamento e recuperação dos portadores do VIH/SIDA
no concelho de Santa Cruz.

2.9.2. Objectivos Específicos

Em termos específicos, estipula se os seguintes objectivos a serem concretizados no âmbito


deste estudo académico:

 Descrever a existência do preconceito e da discriminação no conselho de Santa Cruz;

 Descrever o comportamento das pessoas do concelho para com os portadores do


VIH/SIDA;

 Compreender e analisar a discriminação e o preconceito para com os portadores do


VIH/SIDA;

 Demonstrar de que forma a discriminação e o preconceito afectam o tratamento e a


recuperação do portador do VIH/SIDA.

29
3.Capitulo III - MÉTODO
3.1.Tipo de estudo

Trata-se de um estudo discritivo-correlacional com abordagem quantitativa, que buscou


investigar o impacto da discriminação e preconceito no tratamento e recuperação dos
portadores do VIH/SIDA no concelho de Santa Cruz.

A pesquisa quantitativa centra na objectividade, tendo como objectivo estabelecer factos, pôr
em evidência relações entre as variáveis por meio da verificação das hipóteses, predizer
resultados de causa e efeito ou verificar teorias ou proposições teóricas. Trata-se geralmente
de obter resultados susceptíveis de serem utilizados no plano prático e de fornecerem
melhorias em situações particulares. O estudo discritivo-correlacional tem por objecto
explorar relações entre variáveis e descreve-las, sendo que o estabelecimento de relações entre
variáveis permite circunscrever o fenómeno estudado (Fortin, 2009).

Segundo Cervo (1996), a pesquisa descritiva observa, regista, analisa e correlaciona fatos ou
fenómenos sem manipulá-los. Busca conhecer as diversas situações e relações que ocorrem na
vida social, política, económica e demais aspectos do comportamento humano, tanto do
indivíduo tomado isoladamente como de grupos e comunidades mais complexas.

3.2.Amostra - Participantes

O presente estudo é constituída por duas amostras (amostra I e II). Dos participantes deste
estudo (N=70), 24,3% (n=17) são pessoas portadoras do VIH/SIDA, pertencentes à
Associação Esperança (Anexo II), representando a amostra II e os restantes 75,7% (n=53) são
residentes no concelho de Santa Cruz (Anexo II), representando a amostra I. Ambas foram
selecionadas através da técnica de amostragem não Probabilística (Convencional e
intencional). Segundo Fortin (2009) esta técnica é constituída por indivíduos facilmente
acessíveis e que respondem a critérios de inclusão precisos. Embora a amostra não
probabilístico não dá a todos os elemento da população a mesma possibilidade de ser
escolhida para formar amostra. Assim, se constitui a amostra à medida que os indivíduos se
apresentam no local até que o número desejado seja atingido.

30
Os critérios de inclusão para a amostra I, inclui todos os residentes no concelho, que têm
capacidade de responder o questionário aplicado e aceitar participar no estudo.

O critério de inclusão para a amostra II, inclui todos os portadores do VIH/SIDA,


pertencentes a Associação Esperança no concelho de Santa Cruz, com a capacidade de
responder o questionário e capaz de aceitar participar no estudo.

Todos os inqueridos foram informados acerca dos objectivos do estudo, da confidencialidade


dos dados e facultaram o seu consentimento informado previamente à aplicação do
questionário.

3.3.Instrumentos

A natureza do estudo influenciou a escolha do questionário como instrumento de colheita de


dados. Para Fortin (1999), trata-se de “um instrumento de medida que traduz os objectivos de
um estudo com variáveis mensuráveis. Ajuda a organizar, a normalizar e a controlar os dados,
de tal forma que as informações procuradas possam ser colhidas de uma maneira rigorosa”.
Entre as principais vantagens, destacam-se o facto de ser menos dispendioso, a sua
aplicabilidade a grandes grupos de participantes, a sua natureza impessoal garantindo o
anonimato e a autenticidade nas respostas, a equidade de directrizes para todos os
participantes uniformizando a avaliação do instrumento. Segundo fortim (2009), é um
instrumento de colheita de dados que exige do participante respostas escritas a um conjunto
de questões.

No suceder das diversas consultas bibliográficas, não foi encontrado nenhum instrumento que
fornecesse a totalidade da informação pretendida. Por este motivo, procedeu-se à elaboração
de um instrumento de raiz, baseado no enquadramento conceptual realizado e inspirado
noutros instrumentos, de modo a construir um instrumento que serviria ou avaliasse o impacto
do fenómeno em estudo. Na elaboração deste instrumento foram salvaguardadas regras de
apresentação, assim como a elaboração de perguntas de fácil resposta, claras e reunidas em
grupos de forma lógica.
O questionário semi-estruturado, encontra-se organizado em duas partes: a primeira com
informações gerais do estudo e questões direcionadas às pessoas do concelho de Santa Cruz, e

31
a segunda, direcionada aos portadores do VIH da Associação Esperança, contém duas
perguntas abertas, duas para amostra I e uma para amostra II. O seu preenchimento foi
realizado pela investigadora, e salvo em situações particulares, pelo presidente da Associação
Esperança, retratadas no subcapítulo relativo à recolha de dados. Seguidamente, abordar-se-ão
mais detalhadamente as duas partes de questões constantes do instrumento.

Na primeira parte do questionário fez-se questões direcionadas às pessoas residentes no


concelho, procurando avaliar o conhecimento da população em relação ao fenómeno em
estudo, ou seja, as suas relações com as pessoas portadoras do VIH/SIDA, também o
comportamento das mesmas em relação aos portadores do VIH/SIDA, saber se para eles o
preconceito e a discriminação existe no concelho, como ela se manifestada, entre outros.

Na segunda parte, fez-se questões direcionadas aos portadores do VIH/SIDA da Associação


Esperança, procurando saber se são vítimas de preconceito, se são discriminados pelas
pessoas do concelho e se isso influência ou não no seu tratamento e recuperação.

De referir que todos os restantes itens não inspirados em instrumentos, foram construídos a
partir dos contributos da literatura sobre a temática em questão.

3.4.Pré – teste

Após a elaboração do questionário e da primeira revisão, efectuou-se o pré-teste da primeira


amostra a um pequeno grupo de 4 sujeitos com as características da população - alvo, tanto
para a população de santa Cruz, como para os portadores do VIH da Associação Esperança do
concelho.

Segundo Fortin (2009), “o pré-teste é a prova que consiste em verificar a eficácia e o valor do
questionário junto de uma amostra reduzida da população alvo”. Esta etapa é indispensável,
visto que permite reconhecer, e descobrir os defeitos do questionário e fazer as possíveis
correções para o sucesso da mesma.

Depois da análise das dificuldades, foram eliminadas 2 questões, reformularam-se 5 questões,


também optou-se pela criação de um questionário com duas partes, uma direcionada á
população e uma outra aos portadores do VIH da associação. O grupo de questões que sofreu

32
mais alterações, após o pré-teste, foi o que se reportava diferença entre seropositivo e doente
de SIDA, e formas de transmissão, por também ser o mais extenso.

3.5.Procedimento

A recolha dos dados decorreu, na sua totalidade no concelho de Santa Cruz de Santiago.
Sempre que possível em casa das pessoas e na Associação Esperança dispensado para o
efeito, salvaguardando, em todas as circunstâncias, a privacidade dos participantes.

As pessoas cujas características correspondiam aos critérios de inclusão, eram convidadas a


participar no estudo. A aplicação do questionário para a amostra de pessoas residentes no
concelho foi feita pela investigadora na sua totalidade. Para amostra dos portadores do
VIH/SIDA da Associação Esperança, estes foram chamadas na associação e foi aplicada pela
investigadora, no caso dos que não apareceram, a investigadora dirigiu-se para as suas casas
juntamente com o presidente da associação e fez a aplicação do questionário, e em situações
particulares por presidente da associação que já sabia aplicar o questionário. A sua duração
era variável demorando, geralmente, cerca de 10 a 15 minutos a completar.

3.6.Aspectos éticos

Fortin (2009), define ética como um conjunto de permissões e interdições que têm um enorme
valor na vida dos indivíduos e em que estes se inspiram para guiar a sua conduta, Torna-se
assim necessário adoptar medidas que salvaguardem os direitos e a liberdade das pessoas
envolvidas neste estudo.

Após o esclarecimento sobre o tema, o objectivo e o método de pesquisa, clarificado que não
haveria respostas certas ou erradas, interessando a opinião pessoal, sendo garantida a
confidencialidade dos mesmos, todos os participantes assinaram o termo do consentimento
livre e esclarecido. Para Associação Esperança foi enviado uma carta de pedido, que foi
assinado e carimbado pelo presidente.

33
3.7.Procedimentos de análise de dados

Os dados foram colectados na folha do questionário, depois foram submetidos a tratamento


manual e informático, com recurso ao programa informático Statistical Package for Social
Sciences (SPSS), versão 20 e Excel 2007. Foram usados métodos de estatística descritiva,
média, desvio padrão, Qui-Quadrado, o teste de correlação de Person.

Para análise dos dados inicialmente criou-se uma base de dados comum para as duas
amostras, depois estes foram separado para melhor interpretação dos dados.

Para as perguntas abertas foram utilizadas uma outra forma de análise de conteúdo, feita a
categorização por frequência. Para a amostra I fez-se a categorização de duas perguntas:
Porquê que achas que os seropositivos são discriminados? E porquê que achas que existe
preconceito para com os seropositivos do concelho? Por último uma direcionadas a amostra
II, porquê que interromperam o tratamento?

34
4.CAPITULO IV- RESULTADOS E ANÁLISE

4.1Características sócio-demográfica da amostra

Dos participantes deste estudo (N=70), 24,3% (n=17) são pessoas portadoras do VIH
pertencentes à Associação Esperança (Santa Cruz) e os restantes 75,7% (n=53) são pessoas
que foram inquiridas no sentido de avaliar as suas relações com as pessoas portadoras do
VIH/SIDA. Não houve diferenças significativas em relação a proporção de pessoas do sexo
masculino em comparação aos do sexo feminino (χ2=0,36; p>0,05), a maioria dos
participantes são jovens (idade entre os 15 e 24 anos), com uma média de 30,63 e desvio
padrão de 11,83, mais de 90% (n=65) são solteiros e quase a metade (41,4%; n=29) possui
habilitação literária referente ao ensino secundário.

Gráfico 1- Distribuição de dados de acordo com género, idade, estado civil e nível de escolaridade

35
Conforme o quadro que se segue, pode-se verificar que a maior parte 39,6%; (n=21) das
pessoas da comunidade (amostra I) admitem ter recebido as primeiras informações sobre o
VIH/SIDA nas escolas com os professores. Mais de 25% (n=14) recebeu essas mesmas
informações através de amigos, 17% (n=9) com vizinhos, 11,3% (n=6) através de TV/revistas
e finalmente 1,9% (n=1) admitem ter recebido essas informações através de mãe, tio/tia e
irmãos respectivamente. Um aspecto que chama atenção no presente estudo é que nenhum dos
inqueridos admitiu ter recebido as primeiras informações sobre o VIH/SIDA nos livros.

Com quem obteve as primeiras informações sobre HIV/SIDA


N %

Mãe 1 1,9
Irmão/a 1 1,9
Tio/a 1 1,9
Professor/a 21 39,6
Amigos 14 26,4
Vizinhos 9 17,0
TV/ Revistas 6 11,3
Total 53 100,0

Tabela 1 - Distribuição dos dados com quem obteve as primeiras informações sobre VIH/SIDA

Mais de 98% (n=52) dessas pessoas admitem estar preocupadas com a possibilidade de
contraírem o VIH. De entre os motivos dessa preocupação, forma ressaltadas a morbilidade da
doença (56,6%; n=30), o medo de contrair e transmitir a outras pessoas (26,4%; n=14), o
medo de preconceito e discriminação social (15,1%; n=8).

36
Gráfico 2- Distribuição de dados de acordo com o motivo da preocupação

Relativamente aos modos de transmissão, 50,9% (n=27) dos participantes da amostra I


responderam que o VIH é transmitido através da relação sexual sem proteção, partilha de
seringas e objectos cortantes contaminados e durante a gravidez para o filho; 43,4% (n=23)
responderam ser unicamente através da relação sexual e 5,7% (n=3) responderam que o VIH é
transmitido através da picada de mosquitos e dormir junto no mesmo quarto com pessoas
portadores. Nenhum dos inquiridos respondeu que o VIH pode ser transmitido através de
beijos, abraços e partilha da mesma cozinha.

Vias de transmissão do VIH/SIDA

N %
Relação sexual 23 43,4

Relação sexual sem protecção, partilha 27 50,9


de seringas e objectos cortantes
contaminados e durante a gravidez para
o filho

Picada de mosquito, dormir junto no 3 5,7


mesmo quarto

Total 53 100,0

Tabela 2 - Distribuição de dados de acordo com as vias de transmissão do VIH/SIDA

37
Quando foram-lhes perguntados a diferença entre ser seropositivo e ser doente de SIDA, o
quadro que se segue ilustra que 32,1% (n=17) dos inquiridos respondeu que ser seropositivo é
ter o vírus e transmitir a doença sendo que não há presença de doenças oportunistas no
portador do vírus no entanto o doente de SIDA possui doenças oportunistas; 28,3% (n=15)
responderam que ser seropositivo e ser doente de SIDA é a mesma coisa; 13,2% (n=2)
responderam que ser seropositivo é ser doente de SIDA; 1,9% (n=1) responderam que doente
de SIDA possuiu perturbações como a perda de peso e outros problemas de saúde que sem
tratamento podem levar a morte; e finalmente 24,5% (n=13) desconhecem a diferença entre
esses dois grupos.

Diferença entre seropositivo e doente de SIDA

N %
São iguais 15 28,3
Não Sei 13 24,5
Seropositivo é ter vírus e transmitir a doença,
mas não há presença de doenças oportunistas 17 32,1
e nos doentes de SIDA há.
Seropositivo é ser doente de SIDA. 7 13,2
Doente de SIDA tem perturbações como perda
de peso, e outros problemas de saúde que sem 1 1,9
tratamento podem levar a morte
Total
53 100,0
Tabela 3 - Distribuição de dados de acordo com a diferença entre seropositivo e doente de SIDA

Outros sim, pode-se constatar que, quase 68% (n=36) dos inquiridos admitiram haver
discriminação dos portadores do VIH/SIDA entanto os restantes responderam não haver
discriminação. Em relação ao preconceito, também cerca de 70% (n=37) afirmam haver
preconceito e por último cerca de 30% (n=16) responderam não haver nenhum preconceito no
concelho de Santa Cruz.

38
Gráfico 3- Distribuição dos dados da amostra I que admitiram haver discriminação (a) e preconceito (b)
para com os portadores do VIH

No que concerne às suas capacidades de convivência com pessoas portadoras do VIH, foram-
lhes perguntados se seriam capazes de conviver, partilhar o mesmo quarto e a mesma cozinha
que um portador do VIH e 54,7% (n=29) responderam serem capazes. Mais de 26,4% (n=14)
responderam que não se sentem seguros com essa convivência; 15,1% (n=8) admitiram que
não conviveriam e nem partilhavam o mesmo quarto e cozinha que um portador do VIH;
3,8% (n=2) responderam que não seriam capazes de levar em frente essa convivência com os
portadores do VIH.

Serias capaz de conviver, partilhar o mesmo quarto, a mesma cozinha que um


seropositivo

N %
Não 8 15,1
Sim 29 54,7
Não sentiria seguro 14 26,4
Não consigo 2 3,8
Total 53 100,0

Tabela 4 - Distribuição dos dados de acordo com a convivência

Relativamente à questão da influência do preconceito e da discriminação no tratamento e


recuperação dos portadores do VIH/SIDA, 77,4% (n=41) responderam que ambos afectam o

39
tratamento e a recuperação dos portadores do VIH/SIDA; 13,2% (n=7) acham que talvez não
influenciaria o tratamento e a recuperação dos portadores do VIH/SIDA 9,4% (n=5)
responderam não haver nenhuma influência da descriminação e do preconceito no
tratamento/recuperação dos portadores do VIH/SIDA.

Gráfico 4- Distribuição dos dados de acordo com a influência da discriminação e do preconceito no


tratamento e recuperação

Amostra II

A maioria dos inquiridos da Associação Esperança 76,5% (n=13), efectuam o tratamento com
anti-retroviral e 23,5% (n=4), não efectuam o tratamento com anti-retroviral.

Gráfico 5- Distribuição dos dados de acordo com o tratamento anti-retroviral

40
Dos portadores de VIH/SIDA, que estão tomando anti-retroviral, 58,8% (n=10), declararam
interromper o tratamento em algumas circunstâncias, 17,6% (n=3), responderam que não
interromperam o tratamento em nenhum momento e 23,5% (n=4), não aplicam o tratamento
no momento.

Gráfico 6- Distribuição dos dados de acordo com a interrupção do tratamento anti-retroviral

Verifica-se que dos portadores do VIH, que estão tomando anti-retroviral, 35,3% (n=6),
tomam quase correctamente, pois as vezes deixam de tomar ou atrasam o horário dos
medicamentos, 29,4 (n=5) tomam correctamente como foi orientado pelo médico, 11,8%
(n=2), não tomam correctamente, pois muitas vezes deixam de tomar ou atrasam o horário dos
medicamentos e os restantes 23,5% (n=4), não estão tomando no momento.

Situação que expressa a melhor maneira do uso o medicamento, no


momento actual.

Variável N %
Tomo correctamente como
5 29,4
foi orientado pelo médico
Tomo quase correctamente,
pois as vezes deixo de
6 35,3
tomar ou atraso o horário
dos medicamentos

41
Não estou tomando
correctamente, pois muitas
vezes deixo de tomar ou 2 11,8
atraso o horário dos
medicamentos
Não aplica 4 23,5
Total 17 100,0

Tabela 5 - Distribuição dos dados de acordo com o uso do medicamento anti-retroviral

De entre os portadores de VIH/SIDA pertencentes a associação, 88,2% (n=15), revelaram que


já foram vítimas de discriminação e preconceito por parte das pessoas do concelho e os
restantes 11,8% (n = 2), responderam que não foram vítimas de discriminação e do
preconceito por parte destes.

Gráfico 7- Distribuição dos dados de acordo com vítimas do preconceito e da discriminação

Quase 59% (n=10), dos portadores de VIH/SIDA declaram ter afastado da comunidade
devido ao seu estado serológico, e os restantes 41,2% (n=7) responderam não ter afastado da
comunidade devido ao seu estado serológico. Dos inquiridos que afirmaram ter afastado da
comunidade 52,9% (n=9) responderam que deve-se a discriminação existente na comunidade
e 5,9% (n=1) responderam que deve-se a medo que saibam da sua patologia.

42
Gráfico 8- Distribuição dos dados de acordo com o afastamento e o seu motivo

Verifica-se que dos portadores de VIH/SIDA, 76,5% (n=13), já foram deixados pelos amigos
só pelo facto de serem portadores do VIH, apenas 23,5 (n=4), responderam que não foram
abandonados por um amigo só pelo facto de serem portadores do VIH.

Gráfico 9- Percentual do abandono por parte dos amigos

Outros sim, pode-se constatar que 82,4% (n=14), dos portadores do VIH/SIDA, acham que a
discriminação e o preconceito podem influenciar o tratamento e a sua recuperação, e os
demais 17,6% (n=3), acham que discriminação e o preconceito não influenciam o tratamento
e a sua recuperação.

43
Gráfico 10- Distribuição dos dados de acordo com a influência

A correlação de person mede a força e a direção do relacionamento entre duas ou mais


variáveis. Constata-se que os cinco indicadores estão positivamente correlacionados entre si,
sendo as correlações estatisticamente significativa (p<0,01). Observa-se uma relação muito
forte (0,942) entre os seropositivos que já se afastaram da sua comunidade devido ao seu
estado serológico e os portadores que já foram abandonados pelos amigos, pelo facto de
serem seropositivos, e a relação é ligeiramente mais baixa entre os seropositivos que já foram
vítimas de discriminação e os que já interromperam o seu tratamento.

Correlação entre as variáveis no estudo da Amostra II

1 2 3 4 5

1- P. D.I.T - .900 .935 .921 .901

2- Vítima de discriminação - .887 .896 .886

3- Afastamento devido ao seu estado serológico - .942 .899

4- Abandonado por um amigo pelo facto de ser um seropositivo - .933

5-Interrompimento do tratamento anti-retroviral -

**Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).

Tabela 6 - Apresentação da Correlação entre as variáveis em estudo da amostra II

44
4.2 Análise e discussão das perguntas abertas

Para as questões abertas colocadas no questionário aplicadas às duas amostras (I, II) com vista
a responder os objectivos propostos, a sua análise e discussão será feita através da técnica de
análise de conteúdo proposto por Bardin. Para sintetizar os dados recolhidos das questões
abertas, na tabela 7 serão apresentadas as categorias e as subcategorias que emergiram.

Categoria Subcategoria
Motivo da descriminação Falta de conhecimento em relação as
formas de contaminação da doença

Medo da doença do estranho e


desconhecido

Doença sem cura e estigmatizada

Existência de preconceito Medo de contrair a infeção


Falta de informação/conhecimento
Desconfiança do diagnóstico.

Abandono ao tratamento anti-retroviral Efeitos colaterais dos medicamentos;

Falta de esperança e perspectivas

Medo que as pessoas saibam do


diagnóstico.

Tabela 7 - Síntese das categorias e das subcategorias

4.2.1 Motivo de descriminação (amostra I)

De acordo com os participantes (amostra I) quando perguntados se acham que existe ou não
descriminação no concelho e qual o motivo desta descriminação, a opinião é unânime em
afirmar que existe, e são manifestadas através de:

45
P. 23- “ …. Fazem piadas, porque essa doença não têm cura”

A noção do significado do SIDA foi construída socialmente baseada no medo, na


discriminação, no estigma e no preconceito, Peres et al., (2004) e Lopes (1998) SIDA é
considerada na literatura como uma doença crónica, pois ainda não se dispõe de recursos
científicos que provam a cura do paciente. Na perspectiva de Torres (2006) SIDA para os
seropositivos foi representada como uma doença crónica comparável ao câncer.

Quando questionado sobre os motivos da descriminação nota-se que a falta de conhecimento


em relação às formas de contaminação da doença aparece com alguma frequência.

P.17- “Devido a falta de conhecimento em relação a doença.”

P.12- “Pessoas falam sem terem informação sobre o estado da pessoa e sem pensar e não
justificam porque é que dizem.”

O desconhecimento para Venturi, costuma ser um dos determinantes básicos do medo, em


qualquer das suas manifestações (Paiva 1992).

O medo da doença também foi referido muitas vezes entre a amostra da população em estudo
constituindo-se também como um dos motivos de descriminação, dado ser uma doença ainda
desconhecida entre algumas pessoas.

P.31-“ Porque as pessoas sentem medo de contaminar”

P.6- “A população não quer estar perto deles, devido ao medo da transmissão da doença.”

Num estudo realizada em Moçambique, afirmaram que as pessoas discriminam devido à falta
de conhecimento acerca da doença e ao receio de contraírem a infeção, parentes e irmãos
tendem a demarcar as áreas e os objectos pertencentes à pessoa infectada. Faz-se isto a fim de
não se partilhar talheres, lençóis e toalhas porque acreditam que o vírus pode ser transmitido
através dos objectos (Taela, 2004).

46
4.2.2 Existência de preconceito (amostra I)

Em relação a segunda questão (porquê que achas que existe preconceito para com os
seropositivos do concelho), emergiram 3 subcategorias: medo de contrair a infeção, a falta de
informação/conhecimento e desconfiança do diagnóstico. Notou-se que em relação a questão
da existência do preconceito sete (7) pessoas não conseguiram responder ou explicar, o que
pode estar ligado ao uso pouco habitual do termo preconceito entre a população em estudo.

O medo de contrair a infeção foi referido várias vezes pelos participantes quando
questionados da forma de existência de preconceito.

P7-“ Não chegam perto dos seropositivos devido ao medo de contrair a doença”

P6-“ As pessoas não sentem seguros ao estarem juntos dos seropositivos”

De acordo com Herek, (1990 apud Grilo2009) SIDA tem sido identificada como uma doença
mortal. Por ser uma doença incurável, progressiva e transmissível, as pessoas com SIDA são
muitas vezes encaradas como sendo um risco para os outros, apesar da grande maioria das
pessoas saberem que esta doença apenas se transmite por contacto sexual e sanguíneo.

Em relação a falta de informação/conhecimento pode-se notar que por ser uma população
com um nível de formação baixa, em relação ao conhecimento sobre a doença o que denota
alguns “tabus” o que os leva a ter determinado comportamento pouco correcto.

P.26 –“ O início da magreza, ou seja perda de peso de uma pessoa da comunidade muitas
vezes é relacionado a SIDA”.

P.32 –“ As pessoas ainda não estão mentalizadas para conviverem com as pessoas infectadas
pelo HIV”.

Os autores ilustram que o conhecimento envolve além da informação, compreensão e


assimilação dessas informações pela percepção dos sujeitos Ferreira, Gepsaids, (2008 apud
Galvão 2009). A falta de conhecimento contribui para o aumento do preconceito (Saild,
Ribeiro e Galinkin, 2010 apud Silva et al., 2012).

47
Em relação a subcategoria desconfiança do diagnóstico pode-se notar de forma evidente que
a variável informação e conhecimento influência na forma como as pessoas lidam com os
doentes.

P20- “Essas pessoas são motivos de preocupação para a comunidade, não são bem-vindos
na comunidade”.

P25. “A comunidade pensa que só o facto de ir muito ao hospital a pessoa é infectado pelo
HIV”.

Para Gomes (2011), as pessoas portadoras do VIH/SIDA, apresentam como estratégias de


sobrevivência social, a ocultação da doença. As pessoas tentam esconder que são portadores
do VIH, pois eles têm vergonha, não dizem aos familiares, aos amigos, não falam à nenhuma
pessoa. Pois, assim elas não sofrem preconceito, uma vez que as pessoas não sabem do seu
diagnóstico. Ainda o mesmo autor observou que esses indivíduos encontram dificuldades para
se sentirem socialmente aceites, portanto a omissão da seropositividade é justificada pelo
medo de falta de informação, originando desconforto e angústia nas pessoas seropositivas que
são alvos menosprezados socialmente, pois as pessoas se afastam, e evitam o contacto visual e
físico. Semelhante ao Caseas, (2007) quando explica que SIDA é associada a grupos de risco
e a exclusão social, por esse motivo após a descoberta da doença muitas pessoas escondem o
diagnóstico por medo do preconceito, culpa, julgamento social e perda dos amigos.

4.2.3 Abandono de tratamento anti-rectroviral (amostra II)

Em relação a pergunta do motivo de abandono do tratamento anti-rectroviral as três


subcategorias que emergiram foram: efeitos colaterais dos medicamentos; Falta de esperança
e perspectivas e medo que as pessoas saibam do diagnóstico. Segundo Matsushita et al.,
(2007), uma das principais questões actuais em relação à epidemia de SIDA diz respeito à
possibilidade dos pacientes seguirem o tratamento de forma como foi prescrito. Os efeitos
colaterais como motivo abandono do tratamento vêm sendo descritos na literatura e muitas
vezes estão associados ao carácter crónico da doença, os próprios efeitos dos medicamentos
que por vezes superam a clínica da doença.

P2-“ Devido a febre, dores de cabeça”

48
P4- “Porque causa efeitos colaterais”

São vários os autores que afirmam que os portadores do VIH/SIDA, deixam de tomar a
medicação devido ao efeito colateral do medicamento. Melchior (2000); Leite e Vasconcelos
(2003), confirma que outros factores que dificultam a adesão ao tratamento, por parte dos
portadores do VIH/SIDA, além dos problemas de atendimento, do esquecimento, como por
exemplo, sentir-se bem e em consequência disso, se abandona o tratamento, mas o inverso
também acontece, ou seja, a interrupção devido ao incómodo causado pelos efeitos colaterais
dos medicamentos. Vera (2007) refere no seu estudo que existem mulheres que por medo dos
efeitos dos medicamentos não fizeram o pré-natal, mesmo cientes de sua condição.

Para Berry & col., 1997; Filipe, Paiva & Santos (2000 apud Grilo, 2001), alguns dos
medicamentos têm efeitos secundários nefastos e implicam alterações no estilo de vida. Estes
factores, assim como a escassa informação que é dada ao doente sobre a medicação e a
dificuldade em discutir a prescrição terapêutica com o médico, podem conduzir à não adesão
das recomendações terapêuticas na fase assintomática da infeção por VIH. Da Cunha (2004) e
Gomes (2011), no seu estudo confirma que a maioria das queixas se refere aos efeitos
colaterais e ao tamanho dos comprimidos, que são difíceis de engolir. Os efeitos colaterais
provocados pelas medicações constituem um aspecto penoso no cumprimento do esquema
terapêutico. Se por um lado, a medicação não deixa o VIH se manifestar mantém a aparência
saudável, gorda, forte (em contraponto, à representação social ligada ao VIH/SIDA, de
pessoas muito magras ou abatidas), por outro, é algo que prejudica o organismo, em razão dos
efeitos colaterais já sentidos ou potenciais. Poder-se-ia dizer que os efeitos colaterais
constituem, à primeira vista, a maior dificuldade no início do tratamento.

Em relação a falta de esperança e perspectivas observou-se que está muitas vezes


relacionada com o carácter de ser uma doença sem cura levando os doentes quando sem apoio
e suporte familiar adequado perder a esperança em traçar qualquer projeto futuro.

P9-“… eu queria tirar a minha própria vida”.

P3- “Devido ao desespero”

49
Acções oriundas do preconceito e da discriminação às pessoas com VIH e SIDA fomentaram
a vivência de emoções singulares permeadas de sofrimento dentro de um contexto repleto de
significados, entre os quais, o medo do abandono, de ser julgado e de revelar sua identidade
social, a culpa pelo adoecimento, a impotência, a fuga, a clandestinidade, a omissão, a
exclusão e o suicídio, originados e construídos pelo autêntico convívio com o social que
reforça os hábitos e as expectativas e que estão profundamente enraizados numa sociedade
preconceituosa (Araújo et al., 2011).

Conforme Almeida e Lambronici (2007 apud Kourrouski, 2008), viver e conviver com
VIH/SIDA origina sofrimento humano, advindo do estigma, preconceito e discriminação
impostas pela doença e essas questões fazem com que as pessoas se isolem, obrigando-as,
muitas vezes a ocultarem a sua condição serológica, por medo de se exporem e sofrerem. De
acordo com De Brito et al., (2008) VIH/SIDA marca profundamente a pessoa acometida, uma
vez que afecta o seu bem-estar físico, mental e social envolvendo sentimentos negativos como
depressão, angústia e medo da morte, interferindo em sua identidade e auto-estima. SIDA
destrói os laços e as relações do indivíduo com o seu meio, isolando-o de outros indivíduos e
da família, fragilizando sua inserção e seu suporte social.

Embora cada pessoa viva a presença do vírus no seu organismo de forma singular, muitos dos
conflitos manifestos nos relatos evidenciam questões em comum, principalmente no que se
refere à confrontação com o tema da morte e aos sentimentos descritos pela vivência de ter o
vírus do SIDA, muito frequentemente relacionados a características de estados melancólicos,
tristeza profunda, sentimentos de vazio, baixa auto-estima e relatos ligados à ambivalência em
relação ao desejo de continuar a viver (Veras, 2007).

Em relação ao medo que as pessoas saibam do diagnóstico ficou evidente como factor para
abandonar o tratamento, dado que a assunção da doença requer visita constante aos serviços
de saúde que levantaria suspeitas para a população.

P7-“Tenho medo de ir buscar”

P8-“… medo que possam descobrir.”

50
Para Da Silva et al., (2009), o diagnóstico em segredo é um dos factores que dificultam a
adesão, pois por medo de ser descoberto, o portador deixa de seguir o tratamento (ir ao
médico, toma de medicamentos, busca de medicamentos, entre outros).

Torre (2006) afirma que os portadores do VIH, têm medo de serem rejeitados, de que as
pessoas se distanciem e de serem vítimas de preconceito pela sociedade, preferindo não
revelar a seropositividade, buscando meios de esconder das outras pessoas. O medo, o
sentimento de derrota que se vivencia no contexto do VIH não é causado apenas por se ser
portador do vírus, mas pelas consequências sociais de se ser portador do VIH/SIDA. Existe
um consenso entre autores, Caldeira (1995) e Gomes (2011), de que os indivíduos ocultam a
identidade seropositiva, pelo facto do VIH ser um vírus em que uma das características mais
marcantes, além dos aspectos clínicos da doença infecto-transmissível, é a diversidade e
intensidade de respostas sociais produzidas pela epidemia (Zucchi, et al., 2010 e Bernardo,
2013).

51
5.CAPÍTULO V- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Depois de obtidos e analisados os dados tal como relata Fortin (1999) refere que a etapa
seguinte consiste em apresentar os resultados e interpretá-los à luz das questões de
investigação. Nesse momento da discussão, serão discutidos os principais resultados
encontrados no presente estudo.

Os resultados do estudo apontam que a maior parte dos inqueridos são jovens (faixa etária de
15-24 anos de idade), solteiros e com ensino secundário. Para Dayrell e Reis, (2007 apud Dos
Anjos, 2012) a juventude é uma categoria dinâmica, que transforma de acordo com as
mutações sociais que vem sucedendo ao longo da história. Resultados semelhantes foram
encontrados no estudo realizado pela CCS-SIDA (2009), no âmbito do APIS em que a
população entrevistada é jovem, mais de 50% dos inqueridos é solteiro e a maioria possui o
ensino secundário. Neste estudo chegaram a conclusão que a faixa etária dos 15-24 anos de
idade, rejeita as principais ideias erróneas relativas á transmissão do vírus, também é uma
faixa etária que expressa atitudes de aceitação em relação a pessoas que vivem com o VIH.

Relativamente a primeira questão, em que foi perguntado aos inqueridos onde ou com quem
obtiveram as primeiras informações no concernente ao VIH/SIDA, os resultados desse estudo
apontam que a maioria dos participantes referentes a amostra I, referiram ter recebido essas
informações nas escolas com os professores. Entende-se pelo facto do ministério da educação
ser um sector chave, pelo contributo que vem dando na informação sobre adopção de
comportamentos sexuais de menor risco. Os currículos escolares integram, de uma forma
geral, a temática do VIH/SIDA tanto no ensino básico como no secundário (CCS-SIDA,
2011). Algumas investigações têm referenciado a escola como um espaço privilegiado para a
construção da saúde na luta contra a discriminação dos infectados pelo VIH/SIDA (UNAIDS,
2002; Ramirez, Gosset, Ginsburg, Taylor & Slap, 2000; Smith, Kippax, & Aggleton, 2000;
Matos, Battistuta, Carvallhosa, Simões, Dias & Gonsalves, 2004 apud Faustino et al., 2003).

Relativamente à preocupação dos participantes em contrair o VIH/SIDA, resultados indicam


que uma percentagem considerável dos participantes da amostra I, apontam o medo como
sendo as suas principais preocupações. Para Meneghin (1996), o medo de contrair o
VIH/SIDA está associada a falta de conhecimento sobre as formas de transmissão da doença,

52
que é provocado pelo receio de contaminação pela simples proximidade a portadores do vírus
ou seus familiares. Autores como Moreira et al., (2012) no seu estudo referem que a
contaminação não representa uma sentença de morte absoluta, e que a morte atravessa a
condição humana e traz com ela o medo de morrer e a incerteza diante do que pode acontecer
após a morte. A possibilidade iminente da morte configura-se muitas vezes como a causa do
sofrimento da morte. Complementando esse pensar, Oliveira (2005) relata que ao contrair o
VIH, a morte é associada ao portador de modo que a sua cidadania começa a desaparecer.

Deparamos que uma parte significativa dos inqueridos do concelho (amostra I) afirmam
conseguir conviver, partilhar o mesmo espaço físico com um portador do HIV e
consequentemente não se afastarem destas pessoas pelo facto de serem portadores desse vírus.
Semelhante resultados foram encontrados no estudo efectuado por Faustino et al., (2003)
numa investigação realizada em Cabo Verde, quando constataram-se que 72,1% dos
inqueridos não deixavam de ser amigos de uma pessoa infectada e 62% acham que os
seropositivos não devem viver isolados do resto da população.

No que concerne à forma de transmissão do VIH, constata-se que existe uma diferença pouco
significativa entre os que estão informados dos que não estão. Do mesmo modo, num estudo
levado a cabo por Gomes et al., (2011) concluiu-se que os inqueridos conheciam quase todas
as formas cientificamente comprovadas sobre os meios da transmissão do HIV. Reforçando
esta afirmação, Faustino et al., (2003) revela que a maioria dos inqueridos apresenta
conhecimento razoável sobre as formas de transmissão do VIH em Cabo Verde.

Outrossim, pode-se constatar que uma parte significativa dos inqueridos, não têm
informações sobre a diferença entre ser seropositivo e ser doente de SIDA. Peres, et al.,
(2004), veio confirmar no seu estudo que muitas pessoas ainda desconhecem a diferença entre
ser seropositivo e ser doente de SIDA. Considera-se que uma pessoa está infectada quando
apresenta algum problema de saúde que surgem devido a falta de defesa do organismo,
quando o seu CD4 está abaixo de 200. É seropositiva quando não apresenta as doenças
oportunistas ou seja, não apresenta problemas de saúde, ela não tem SIDA. Ela é uma pessoa
seropositiva, tal entendimento reporta-nos ao estudo de Guerra, (1998 apud Vinhas, 2008) ao
afirmar que uma pessoa é seropositiva ela já teve contacto com o vírus, tem a capacidade de
transmitir a doença, mas ela permanece assintomática durante vários anos, enquanto, doente

53
de SIDA apesar de ter a capacidade de transmitir a doença apresenta doenças oportunistas.
Berry e Hunt (2005) afirmam que a partir do momento que é diagnosticado SIDA, a pessoa
manterá o mesmo diagnóstico mesmo sem presença de sintomas.

De acordo com os inqueridos no estudo existe preconceito para com os portadores do


VIH/SIDA do concelho. Semelhante ao resultado da Veras (2007), o preconceito social ainda
sobrevive, aumentando o sofrimento de quem, além de ser acometido por um vírus que destrói
o que mantém a vida em nossos corpos, os portadores do VIH/SIDA, sofrem e sentem-se
humilhados por serem considerados promíscuos, sujos e descuidados.

No tocante à existência da discriminação no concelho, a uma parte considerável dos


inqueridos responderam que os portadores do VIH/SIDA do concelho de Santa Cruz são
discriminados. Este resultado vai ao encontro com o estudo de Taela (2004), quando
pronuncia que as PVHIV são frequentemente discriminadas. Na mesma direção aponta-nos o
caso de Moçambique em que essas pessoas seropositivas são vistas pelas pessoas da
comunidade como sendo diferentes e, na maioria dos casos, são tratadas como se já
estivessem mortas, uma vez que a doença é associada à morte. A discriminação que existe em
torno da doença, faz com que os indivíduos que incorrem o risco de contrair a infeção, e
alguns dos que por ela são afectados, continuem a ter relações sexuais sem segurança por
temerem que, se comportassem de maneira diferente, levantariam suspeitas acerca da sua
condição serológica.

Relativamente aos portadores do VIH/SIDA constata-se que uma grande maioria faz
tratamento anti-retroviral. De entre eles, uma percentagem significativa afirma já ter
interrompido o tratamento em algum momento. Conforme o Manual de Adesão ao
Tratamento (2008), (seguimento de recomendações clínicas e terapêuticas pelo paciente) para
as pessoas infectadas com VIH/SIDA, o início da terapia anti-retroviral pode ser um dos
momentos mais difíceis para os infectados com VIH, pois os medicamentos podem fazê-los
lembrar a cada momento da própria seropositividade. Assim, aceitar a medicação, depende de
como o diagnóstico está sendo vivenciado; das concepções de saúde e doença; da relação dos
pacientes com o médico e com os demais profissionais de saúde; das relações afectivas e
sociais mantidas e estabelecidas a partir do momento que o VIH passa a fazer parte de suas
vidas, entre outros, (Knauth 1995 apud Da Cunha, 2004).

54
Da Silva et al., (2009) demonstra no seu estudo que de entre os que fazem o tratamento,
alguns não o fazem de forma adequada. Do mesmo modo, aponta um elevado índice da não
adesão, em torno de 30%, sendo que nos casos de uso dos anti-retrovirais a taxa de aderência
exigida é de 100%, pois não inclui simplesmente o uso, mas o uso regular e se isto não
ocorrer pode haver falência no tratamento. Observou-se que apesar dos serviços de saúde
incluírem o estabelecimento do plano terapêutico juntamente com o portador e a família, estes
não parecem ter sido suficientemente sensibilizados sobre a importância da regularidade do
horário, e por esta razão adoptam estratégias que associam a ingestão dos ARVs a outras
actividades já pertencentes à sua rotina de vida, como por exemplo dormir, acordar, fazer as
refeições, entre outras, as quais por sua natureza não têm como ponto central a regularidade
no horário. No mesmo estudo observou-se que a problemática da não adesão é exacerbada
quando, além dos sintomas, a pessoa tem medo da possibilidade de outros virem a saber do
diagnóstico em decorrência de sofrer alguns efeitos colaterais.

Na revisão de literatura realizada por Bonolo et al., (2007), indica que a não adesão ocorre
universalmente e suas taxas são passíveis de comparação entre os países desenvolvidos e em
desenvolvimento. De acordo com alguns estudos apresentados, as prevalências variam entre
19,0, 25,0, 26,0, 31,0 e 36,9%, segundo a definição da “toma” do anti-retroviral prescrito, de
90, 95 e 100%. Em relação aos factores associados com a não adesão, verificou-se que são
múltiplos, principalmente as características sócio-demográfica, factores psicossociais, acesso
e uso de serviços de saúde, tratamento propriamente dito, percepção da doença e gravidade da
doença no processo de adesão (apresentação ou não de sintomas da SIDA na presença de
alterações laboratoriais).

As pessoas portadoras do VIH/SIDA, no estudo demonstraram que foram vítimas de


preconceito e da discriminação no concelho. Para Caldeira (1995, apud Bernardo 2013) os
efeitos dos estigmas são mais contagiantes do que o próprio vírus. Outrossim, um estudo
realizado no Brasil por Garbin et al., (2008) com 69 pessoas, constatou-se que 49,3% dos
pacientes relataram que sofreram algum tipo de discriminação. Um outro estudo semelhante
realizado no mesmo país, verificou-se que as pessoas têm preconceito e discriminam os
portadores do VIH/SIDA, onde 22,5% disseram que não comprariam legumes num local onde
trabalha um seropositivo, e 13% afirmaram que uma professora infectada não pode dar aula
nas escolas (Andrade, 2008 apud Dos Anjos, 2012).

55
Em relação ao abandono, o estudo mostra que a maioria dos portadores do VIH/SIDA,
afirmou ter sido abandonado pelos amigos só pelo facto de ser portador do VIH/SIDA
também referiu-se ter afastado da comunidade devido ao seu estado serológico, por causa da
discriminação e preconceito existente no concelho e medo que as pessoas soubessem do seu
diagnóstico. Estes resultados encontrados no estudo não vão ao encontro com os resultados
encontrados por Faustino et al., (2003) numa investigação realizada em Cabo Verde, onde
observou que 72,1% dos inqueridos no seu estudo responderam que não deixariam de ser
amigo de uma pessoa infectada e 62% acharam que os seropositivos não devem viver isolados
do resto da população. Estas diferenças devem-se em nosso entender ao nosso tamanho
reduzido da amostra e pelo estudo ter sido feito num concelho pequeno da ilha de Santiago.

Uma percentagem considerável dos portadores do VIH/SIDA no presente estudo,


confirmaram que o preconceito e a discriminação podem influenciar o tratamento e a sua
recuperação, embora SIDA seja uma doença incurável, segundo a literatura, existem hoje,
tratamentos que aumentam a expectativa e a qualidade de vida das pessoas portadoras da
doença. Um dos motivos encontrados no estudo é que muitas das vezes as pessoas abandonam
o tratamento, devido a falta de perspectiva e o medo que as pessoas saibam do seu
diagnóstico. Dos Anjos (2012), no seu estudo afirma que muitos dos portadores do VIH/SIDA
sofrem com a discriminação e o preconceito, muitos tem medo de procurar ajuda e vão-se
afastando aos poucos dos programas sociais criados para esse fim, pois preferem ficar com
dúvidas e ignoram o facto de ter o vírus a que ter que enfrentar o preconceito e a
discriminação relacionados à doença. Estes tipos de atitudes quando adoptados pelo portador
do VIH/SIDA prejudicam o seu tratamento e a sua recuperação (Oliveira, 2005).

A relação que existe entre o preconceito e a discriminação no tratamento e recuperação dos


portadores do VIH/SIDA no estudo é uma relação forte. Estudo realizado pelo ministério de
saúde do Brasil (2008), aponta que o preconceito e a discriminação existente em relação a
doença podem afectar de forma crucial a vida do portador do VIH/SIDA. O mesmo estudo
refere que os portadores do VIH/SIDA, ao serem vítimas do preconceito e da discriminação,
eles criam o seu próprio mundo interior, permanecendo encerrado nos limites, escondendo em
segredo a sua doença, exercendo um poder permanente de controlo sobre o seu corpo, as suas
atitudes e sobre o seu comportamento para que nada revele a sua condição de seropositivo,
assim evitando ser condenado socialmente. Neste sentido Oliveira (2005) afirma que quando a

56
cidadania do portador começa a desaparecer, com o abandono dos amigos e da família, a
omissão no atendimento médico, a demissão do emprego, o portador do VIH/SIDA passa a
ser algo descartável e dispensável para a sociedade. Estas atitudes quando adoptadas contra
um portador do VIH prejudicam o seu tratamento e a sua recuperação.

57
6.CAPITULO VI- CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tempo longo cristalizou o preconceito e a discriminação, mas o tempo curto pode


desconstruir ou ressignificar tais sentidos, possibilitando a construção de outros, em
que o estender da mão, o ser solidário sejam a marca maior (Dos Anjos, 2012).

SIDA surgiu numa época em que a tecnologia ainda encontrava-se “adormecida”, desde
muito cedo foi associado a doença de pessoas que possuíam comportamentos inadequados
perante os modelos da sociedade. Trouxe ao mundo não somente mais uma doença
considerada sem cura, que ainda causa medo e pânico na população, mas também trouxe
consigo preconceito, discriminação, dúvidas e incertezas. Com o avançar da nova tecnologia
vieram a ser descobertas várias vias de transmissão da doença, descobriu-se também que
qualquer pessoa pode ser afectada, desde que tenha comportamento de risco.

Hoje estudos realizados afirmam que o preconceito e a discriminação que cercava a doença
diminuíram desde o início da epidemia, mas que não podemos dizer que eles tenham
desaparecidos. Ainda hoje, segundo vários autores, uma das maiores lutas é contra a
discriminação e preconceito.

Neste estudo procurou-se investigar o impacto da discriminação e preconceito no tratamento e


recuperação dos portadores do VIH/SIDA no concelho de Santa Cruz. Não se pretendeu
esgotar a problemática em questão, mas sim perceber como é vivenciado o problema no
concelho de Santa Cruz.

Os resultados estatísticos encontrados no estudo parecem anunciar a existência da


discriminação e do preconceito no concelho de Santa Cruz e sua influência no tratamento e na
recuperação dos portadores do VIH/SIDA, uma vez que ambas amostras afirmaram a
existência, destes em relação aos portadores do VIH/SIDA. Por outro lado o presente estudo
contribuiu para alargar a compreensão sobre os motivos do preconceito e da discriminação em
relação as pessoas infectadas com VIH/SIDA.

Não podemos deixar de reconhecer que, nesse estudo impacto da discriminação e preconceito
no tratamento e recuperação dos portadores do VIH/SIDA, a avaliação dos inqueridos mostra
que a discriminação e preconceito afectam o tratamento e a recuperação dos portadores do
VIH/SIDA, isto é quando estes são abandonados pelos amigos pelo facto de serem portadores

58
do VIH, quando afastam da sua comunidade, quando sofrem do preconceito e da
discriminação e por último quando abandonam ou interrompem o seu tratamento.

6.1.Limitações do estudo

As limitações deste estudo abrem espaços para outros estudos que poderão ser discutidos e
abordados em contextos diferentes, como por exemplo em concelhos maiores e com uma
outra técnica de amostragem mais representativa. Contudo não foi tarefa fácil, pelo facto de
ter-se caminhado pelo mundo dos sentidos que atravessa o preconceito e a discriminação e
sua influência no tratamento e recuperação das pessoas portadoras do VIH/SIDA. Pois essas
pessoas vivem numa sociedade em que o sentido sobre a epidemia, mesmo com o passar dos
anos, ainda encontra-se perseverado.

Por ser uma amostra pequena (70 pessoas, composto por 17 portadores do VIH e 53 pessoas
residentes no concelho), utilizada a amostragem não probabilística, por conveniência ou
intencional, não permite a generalização dos resultados para a população total. Além disso, é
preciso que se leve em conta a inexperiência da investigadora em relação à investigação
científica. Convém frisar ainda que, por se tratar de uma doença cujo estigma permanece
vigente na sociedade, a revelação do diagnóstico do VIH/SIDA e o convívio com a doença,
independentemente da idade do portador, fez com que a realização do presente trabalho
demorasse mais tempo do que o previsto.

A não existência de estudos que retratam as variáveis intervenientes que influenciam no


tratamento e recuperação dos portadores do VIH/SIDA dificultou, e muito, a construção do
instrumento de colheita de dados e a própria discussão dos resultados.

Espero que este estudo, ainda que limitado, venha a contribuir para o conhecimento destas
variáveis.

59
6.2.Sugestões do estudo

A sociedade precisa voltar-se à compressão da solidariedade, e ter uma mente mais aberta
para perceber e compreender a vida de um portador do VIH/SIDA. É necessário parar de
pensar no SIDA, como a doença do outro, distante e inacessível, é necessário ultrapassar essa
postura imprópria existente na sociedade para com as pessoas que vivem com o VIH/SIDA,
sobretudo no concelho de Santa Cruz. A sociedade precisa entender que SIDA é apenas uma
doença e que o portador pode viver por muitos anos e pode conviver socialmente sem
prejudicar a vida de terceiros.

Os jovens precisam ter o espírito investigante, ler e aprofundar os seus conhecimentos sobre a
doença, pois que o livro traz consigo conhecimentos, dinamiza o raciocínio e a interpretação.
É preciso trabalhar a mentalidade das crianças e dos adolescentes desde bem cedo em relação
a doença SIDA e mudar assim o comportamento e a atitude em relação a pessoas infectadas
com a doença.

Como profissional de saúde, é preciso que assumamos o papel educativo junto as


comunidades, considerando a troca de conhecimentos para a partir da compreensão dos
significados que esta população desenvolveu frente à disseminação de saberes equivocados a
cerca do VIH/SIDA, possamos integrar conhecimentos a fim de mobilizar estes significados à
superação e à conquista da solidariedades na luta contra o preconceito e da discriminação em
relação ao VIH/SIDA. Todos nós devemos de forma cuidada trabalhar juntamente com as
instituições governamentais e não-governamentais, para que esse fenómeno seja banido da
nossa sociedade.

Sugerimos que as atitudes e os programas relacionados ao VIH/SIDA sejam mais


estruturados e concentrados no agir e pensar para que o preconceito e a discriminação sejam
definitivamente erradicados do nosso país.

60
7. CAPÍTULO VII- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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soropositivos com adesão ao tratamento (119p). Dissertação de mestre em psicologia.
Universidade Federal de Santa Catarina.

Vargens, O.M. Da Costa; SILVA, C.M. (2013). A percepção de mulheres quanto à


vulnerabilidade feminina para contrair DST/HIV. Revista Esc. Enfermagem, São
Paulo, v.43,n.2,p.401-406,2009. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?
pid=S0080-62342009000200020; Acesso em: 21 de Fev.2013.

Veras, F.J. (2007). Adoecimento Psíquico em Mulheres Portadoras do Vírus HIV: Um


Desafio para a Clínica Contemporânea. Psicologia ciência e profissão. Rio Grande do
sul. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-
98932007000200008&script; Acesso em: 2 de Maio de 2013.

Vinhas, A.R.S. (2008). Expressão da Ansiedade e da Depressão em pacientes com VIH/SIDA.


(91p). Tese de doutorado em Psicologia. Universidade Fernando Pessoa, porto.

WHO/UNAIDS, (2010). Epidemia de VIH nos países de língua oficial portuguesa: Situação
actual e perspectivas futuras rumo ao acesso universal à prevenção, tratamento e
cuidados.

Fontes Bibliográficas On-line/ Links Adicionais

1 - Www.ccssida.com

2- Www.roche.pt/sida};

3-Www.infopedia.pt/termos-medicos/seropositividade;

4- Www.unaids.org.br;

5 - Www.jaids.com;

6- Www.aidsmap.com;

7- Pt.wikipedia.org/wiki/santa cruz;

8- www.INE.com

68
8.Apêndice 8.1. Carta de pedido

Esandra Fernandes

Ex. Sr. Presidente da Associação


Esperança

Assomada, 20 de Abril de 2013

Assunto: Pedido de autorização para aplicação de questionário de pesquisa

EX. Senhor

Eu Esandra Sandrine Dias Fernandes, de 21 anos de idade, residente no concelho de Santa


Catarina de Santiago, aluna do 4º ano do curso de licenciatura em Enfermagem, na
Universidade de Santiago, encontrando-me na fase de trabalho de campo do tema, (Impacto
da discriminação e preconceito no tratamento e recuperação dos portadores do
VIH/SIDA) exigido pela mesma instituição para obtenção do grau de licenciada em
Enfermagem.

Respeitando os procedimentos éticos, venho por este meio pedir a sua excelência a
autorização para a aplicação do questionário aos seropositivos referenciados pela Associação.

Agradeço antecipadamente a atenção de V. Ex., apresento os meus melhores cumprimentos.

Aluna

_________________________________________________________

Declaro que aceito as condições proposta pela pesquisadora

Presidente da Associação Esperança

______________________________________________________________

69
9.Apêndice II 9.1Consentimento Informado

Universidade de Santiago

Departamento de Ciências da Saúde, Ambiente e Tecnologia

1º Curso Licenciatura em Enfermagem

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Chamo-me Esandra Sandrine Dias Fernandes, estudante do 4º ano do curso de Licenciatura em


Enfermagem, estou a desenvolver um estudo intitulada “Impacto da descriminação e preconceito no
tratamento e recuperação dos portadores do VIH/SIDA”, tem por objectivo conhecer a existência da
discriminação e do preconceito e a sua relação com o tratamento e a recuperação dos portadores do
VIH/SIDA no concelho de Santa Cruz.

Sua participação não é obrigatória e, a qualquer momento, poderá desistir de participar e retirar seu
consentimento, sem que isso acarrete qualquer penalidade.

Os procedimentos da pesquisa envolvem perguntas sobre discriminação e preconceito no concelho de


Santa Cruz.

As informações obtidas por meio dessa pesquisa serão confidenciais e assegurando o sigilo sobre sua
participação e anonimato das informações. A participação no estudo não acarretará custos para você e não
haverá nenhuma compensação financeira adicional. Não existem riscos, pois a pesquisa envolve apenas a
aplicação de questionário.

Eu (abaixo assinado), __________________________________________, declaro compreender a


explicação que foi fornecida contidas neste documento, fui devidamente informado(a) dos objectivos e
procedimentos da pesquisa de maneira clara e detalhada e esclareci minhas duvidas. Concordo em
participar voluntariamente nesse estudo sendo que poderei retirar o meu consentimento a qualquer
momento, sem penalidades ou prejuízos ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no
meu atendimento neste serviço.

Concelho de Santa Cruz, _____ de _________________ de 2013.

Assinatura Impressão digital

70
10.AnexoI 10.1Questionário

Questionário

O presente questionário composto por 25 questões tem por objectivo, tem por objectivo
conhecer a existência da discriminação e do preconceito e a sua relação com o tratamento e a
recuperação dos portadores do VIH/SIDA no concelho de Santa Cruz, enquadrado numa
pesquisa de investigação para elaboração do trabalho de fim do curso, cujo título é impacto da
discriminação e preconceito no tratamento e recuperação dos portadores do VIH/SIDA no
conselho de santa cruz.

Será desenvolvida pela Esandra Sandrine D. Fernandes, estudante do 4 ano do curso de


licenciatura em enfermagem na US. Neste sentido pedimos a sua participação no presente
estudo, informando que a mesma é anónima.

Pedimos também que seja sincero/a, que responda todas as afirmações e que não existem
respostas certas ou erradas.

Residência :__________

1. Género: 1 Mac. ______ 2 Fem. _____;

2. Idade: 1. (15 -25)_____ ; 2. (25-35)_____;3. (35- 45)____;4. (45- 55)_______

3. Nível de escolaridade:

1.Básico 2.secundário 3.superior 4.Alfabetização

5. Não estudou

4.Estado civil:

1.Solteiro 2.Casado 3. Divorciado 4. Viúva/viúvo

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5. Com quem obteve as primeiras informações sobre HIV/SIDA?
1 Pai 2.Mãe 3. irmãos/irmãs 4. tio/tia 5.professor/a
6. amigos 7 vizinhos 8. livros
9 TV/ revistas

6. Como pode ser transmitido o HIV/SIDA? 1 Relações sexuais 2. Relações sexuais


sem proteção, partilha de seringas e objectos cortantes contaminados, de mãe para o filho
durante a gravidez 3 .Partilhando mesma cozinha 4.Beijo e abraço
5. Picada de mosquitos, dormir junto no mesmo quarto

7. Qual a diferença entre ser seropositivo e doente de SIDA?

1 São iguais 2 não sei 3.Seropositivo é ter vírus e transmitir a doença, mas
não há presença de doenças oportunistas e nos doentes de SIDA há. 4.seropositivo é
ser doente de HIV 5. Doente de SIDA é quando a pessoa tem a presença de varias
doenças oportunista 6. Doente de SIDA tem perturbações como perda de peso, e
outros problemas de saúde que, sem tratamento, podem levar à morte

8. Achas que os portadores do VIH/SIDA do concelho de santa Cruz são descriminados?

1Sim 2.Não
Porque?_____________________________________________________________

9. Achas que existe preconceito para com os portadores do VIH/SIDA do conselho de Santa
cruz?1.Sim 2.Não

Porque?_________________________________________________________

72
10. Serias capaz de conviver, partilhar o mesmo quarto, mesma cozinha que um portador do
VIH? 1. Não 2.sim 3. Não sentiria segura 4.Não consigo
5. Mudo de casa

11. Achas que discriminação e preconceito afectam o tratamento e recuperação do portador do


VIH/SIDA? 1.Sim 2. Não 3.Talvez não

12. Pessoas do concelho fazem piadas aos portadores do VIH? 1.sim 2. Não

13. Serias capaz de afastar-se de uma pessoa por saber que ele é um portador do VIH/SIDA?
1. sim 2. Não

Parte II

14. Diagnóstico e tempo: ___________________

15Tratamento com os anti- retrovirais? 1.sim 2. Não

16.Pertences a associação esperança dos seropositivos? 1. Sim 2. Não

17.Já fostes vítima de descriminação pelas pessoas do concelho ? 1 . Não 2. Sim

18. Já revelou o seu estado serológico? 1.Sim 2.Não


porquê?_______________________________________________________________

19. Se sim a quantas pessoas revelou? 1- 1 a 5 pessoas 2 - 6 a 15 pessoas


3 - 6 a 30 pessoas 4 - Mais de 30 pessoas

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20. Já alguma vez afastou-se da comunidade devido ao seu estado serológico? 1. Sim
2.Não
21. Se sim, porquê ? 1. Discriminação existente na comunidade 2. Preconceito
existente na comunidade 3. Medo que saibam da minha doença

22. Já foste abandonado por amigos só pelo facto de ser um seropositivo? 1. Sim
2.Não

23. Se esta tomando anti-retrovirais, em algum momento já interrompeu o seu tratamento?


1.Sim 2. Não 3. Não aplica
Porque? ________________________________________________________

24. Se esta tomando anti-retrovirais, assinale a situação que expressa melhor a


maneira como usas os medicamentos anti-retrovirais, no momento actual ?
1.Tomo correctamente como foi orientado pelo médico 2.Tomo quase
correctamente, pois as vezes deixo de tomar ou atraso o horário dos remédios.
3.Não estou tomando correctamente, pois muitas vezes deixo de tomar ou atraso o horário
dos remédios 4. Não estou tomando correctamente, pois frequentemente deixo de
tomar ou atraso o horário dos remédios 5. Não aplica

25. Achas que a discriminação e o preconceito podem influenciar o seu tratamento e a sua
recuperação? 1.Sim 2.Não

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11.Anexo II 11.1.Local de estudo

Local de estudo

O estudo foi realizada no concelho de Santa Cruz, da ilha de Santiago, fica no grupo de
Sotavento, em Cabo Verde. Actualmente o concelho conta com 32.965 habitantes, 60% dos
quais com menos de 20 anos de idade. Cerca de 1/3 da população activa de Santa Cruz
dedica-se à agricultura, à criação de animais e à silvicultura. O comércio, a construção civil e
a administração pública têm uma importância secundária. A precariedade da ocupação é uma
realidade para cerca de 47% da população. No entanto, as duras condições de vida têm levado
grande parte da população de Santa Cruz a migrar principalmente para a cidade da Praia, mas
também para as ilhas do Sal e da Boa Vista, em busca de trabalho e de melhores condições de
vida. É um concelho gravemente afectado pelo desemprego e pelo analfabetismo, embora a
situação tenha vindo a ser melhorada ( pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Cruz).

Associação esperança

A segunda amostra do estudo pertence a associação esperança, localizada no Concelho de


Santa Cruz, Pedra badejo, foi fundada no dia 26 de Janeiro de 2008. Segundo Daniel Delgado,
presidente da Rede Nacional de pessoas com VIH/SIDA e líder da Associação esperança. A
associação iniciou com seis PVVIH e cinco voluntários, nesse momento conta com cerca de
22 PVVIH e dez voluntários. Os voluntários são pessoas do concelho e não só que
disponibilizam o seu tempo para ajudar analisar projetos de intervenção comunitário. A
associação esperança trabalha também na capacitação tanto dos seropositivos como dos
jovens no sentido de promover mudança de comportamento das pessoas. Uma das finalidades
da associação é reforçar a qualidade de vida das PVVIH na ilha de Santiago, zona norte,
contribuir no trabalho de prevenção e combate ao VIH/SIDA. A nível de financiamento, a
Associação “Esperança” é financiada via o Comité de Coordenação de Combate à SIDA,
CCS-SIDA, com fundos do Programa das Nações Unidas para a Desenvolvimento, (PNUD).

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