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(Re) Pensando a Pesquisa Jurídica

RESUMO (Cap. I a VI)


GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)Pensando a Pesquisa
Jurídica. 2ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. 252 p.

O conhecimento só se realiza quando se transforma em senso comum, como ciência clara e


transparente. Esse é o objetivo primordial das ciências (p. 13).

Resumo elaborado por Gerivaldo Alves Neiva, Juiz de Direito e aluno do curso de Especialização
em Direito Civil da UFBa.

INTRODUÇÃO
Aprofundando leituras para elaboração de projeto de pesquisa para o curso de especialização em
Direito Civil, da Ufba, o professor Cloves Araújo[1] (UEFS, Ruy Barbosa e outras) me apresentou a
obra das professoras Doutoras Miracy Barbosa de Sousa Gustin e Maria Tereza Fonseca Dias
( (Re)Pensando a Pesquisa Jurídica, Belo Horizonte: Del Rey, 2006), cuja leitura me causou boas
inquietações, principalmente com relação às questões metodológicas, definição do marco teórico da
pesquisa e dos novos paradigmas defendidos pelas autoras.
No presente resumo, compartilho algumas anotações com os colegas.
Logo de início, prefaciando a obra, José Eduardo Faria, Professor Titular do Departamento de
Filosofia e Teoria do Direito da USP, como membro do comitê assessor do CNPq para julgamento
dos projetos de pesquisa, sem piedade, relata que os projetos apreciados são “monocórdios e
recorrentes” e a cada sessão 90% dos pedidos são rejeitados logo de início, por falta de rigor
metodológico, mal formulados em seus objetivos, inconsistentes em termos analíticos e pouco
convincentes em sua fomentação teórica, revelando o grau de desinformação de seus autores.
O objetivo da obra, conseqüentemente, não poderia ser outro: “apresentar um conjunto de
indicações básicas e preliminares para o desenvolvimento de pesquisas no campo das ciências
sociais aplicadas, mais especificamente no campo do Direito”. A primeira parte do texto apresenta
uma versão global sobre a pesquisa acadêmica, destacando o papel da metodologia e às formas de
raciocínio e de argumentação na investigação jurídica, concluindo que existe uma “disjunção” entre
a concepção tradicional e a nova concepção de conteúdo problematizador. A segunda parte
aprofunda a questão metodológica, apresentando as “grandes vertentes“ metodológicas da pesquisa
nas Ciências Sociais Aplicadas e, por fim, a terceira parte apresenta os elementos essenciais da
pesquisa, desde a colocação do tema-problema e da fundamentação teórica até as particularidades
da montagem de um projeto de pesquisa.
CAPÍTULO 2
CONCEITOS E DEFINIÇÕES PRELIMINARES, ORIGEM DAS INVESTIGAÇÕES
CIENTÍFICAS E NOVOS RUMOS NA CONCEPÇÃO DA PESQUISA.
De forma corriqueira, a pesquisa é concebida como uma “simples consulta de determinado tema em
manuais didáticos, enciclopédias, jornais, revistas ou outros textos com maior ou menor
aprofundamento do assunto,” mas que não pode ser visto como uma investigação científica. Da
mesma forma, também é distorcida a idéia de que pesquisa é relacionada com simples
levantamentos de opiniões sobre determinado tema ou assunto.
De forma diversa, uma definição mais simples de pesquisa poderia ser formulada como “a procura
de respostas para perguntas ou problemas propostos que não encontram soluções imediatas na
literatura especializada sobre o assunto”, ou seja, uma indagação sem solução imediata.
Citando Boaventura Sousa Santos (A crítica da Razão Indolente: contra o desperdício da
experiência. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2002), as autoras observam que a “teoria crítica” não reduz a
realidade ao que existe, visto que seus campos de possibilidades devem ser confirmados ou
superados. Assim, a produção do conhecimento deve ser contextualizada e as investigações voltadas
à procura de possibilidades emancipatórias dos grupos sociais e dos indivíduos e pelo conteúdo
moral dessa emancipação. (este assunto será aprofundado no Capítulo III – O Paradigma da Razão
Comunicacional).
Tradicionalmente, valorizavam-se critérios lógicos-formais, experimentações e investigações que
permitissem quantificações e mensurações, sempre de forma fragmentada e unidisciplinar. A
realidade cada vez mais complexa do pós-guerra, no entanto, direcionou o enfoque metodológico
para uma vertente de multidisciplinariedade. Atualmente, depois de transitar pela
interdisciplinariedade, a tendência metodológica que emerge com mais força é a transciplinariedade,
ou seja, a produção de uma teoria única a partir de campos de conhecimentos antes compreendidos
como autônomos.
Para efetivação dessa mudança de rumos, no entanto, “tornam-se imprescindíveis uma linguagem
compreensiva e novos vôos metodológicos e conceituais que façam aflorar um aluno-pesquisador
mais criativo e mais consciente de sua importância no mundo vivo da ciência”.
CAPÍTULO 3
A CIÊNCIA JURÍDICA E SEU OBJETO DE INVESTIGAÇÃO
Até meados do século XX, entendia-se o Direito como um elenco de normas, proibições, obrigações
e instituições. Conseqüentemente, a ciência do direito tinha como objeto a sistematização e
interpretação unidisciplinar desse elenco.
Contemporaneamente, no entanto, a ciência jurídica apela à razoabilidade, ao conhecimento crítico
e à reconceituação do ato justo, deixando de lado a natureza dogmático-tecnológico do saber
jurídico para uma forma de produção discursiva e que busca a validade dos argumentos por sua
relevância prática e sua capacidade de emancipação dos grupos sociais e dos indivíduos.
Alguns modelos teóricos têm sido atribuídos à produção do saber jurídico:
a) Analítico – de caráter formalista e dedicado à sistematização de regras e normas;
b) Hermenêutico – sistema compreensivo das condutas humanas que se constrói por meio da
atividade discursiva-interpretativa;
c) Empírico – investiga normas de convivência, internas e externas ao ordenamento, para facilitar os
procedimentos decisórios formais e não formalizados;
d) Argumentativo – convencimento por meio da atribuição da validade aos argumentos utilizados e
de legitimidade dos procedimentos decisórios e dos próprios argumentos.
Mais uma vez citando Boaventura Sousa Santos, as autoras defendem a interação desses modelos
por meio de um processo dialético, buscando uma síntese de “des-pensar” o Direito fundado em
dicotomias: Nacional x Mundializado; Civil x Político; Público x Privado; Utopia x Pragmatismo.
Para tanto, o conceito de ciência deve ser formulado a partir de quatro teses inter-relacionadas e
complementares:
a) Todo conhecimento científico-natural é científico-social;
b) O conhecimento como local e total (projetos locais dentro da globalidade);
c) Todo conhecimento é auto-conhecimento;
d) Todo conhecimento visa constituir-se em senso comum.
Por fim, a produção do saber está sempre condicionada por um conjunto de referências do sujeito
inserido em um patrimônio comum a determinado grupo, pois o conhecimento só se realiza quando
se transforma em senso comum, como ciência clara e transparente.
O PARADIGMA DA RAZÃO COMUNICACIONAL
De início, as autoras assumem que adotam a posição teórico-metodológico que entende ser objeto
do Direito “o fenômeno jurídico historicamente realizado,” que se positiva no espaço e no tempo e
realiza como experiência efetiva, passada ou atual. Portanto, assim entendendo, não há Ciência
Jurídica sem referência a um campo de experiência social.
O paradigma da razão comunicacional, portanto, parte do princípio que os seres humanos convivem
na permanente tensão: individual e social. Ao mesmo tempo em que mantêm relações com as
esferas locais, as fronteiras nacionais se expandem e passam a viver em um ambiente cosmopolita.
A individualidade torna-se, portanto, local e global, afetando sobremaneira a individualidade,
“tendo em vista a perspectiva de um desabrochar dessa individualidade por meio da superação de
suas necessidades, visando a um ser capaz de recriar sua própria autonomia”.
Portanto, torna-se possível afirmar:
a) Deve-se garantir aos indivíduos e coletividade as oportunidades que lhes permitam adquirir
capacidades de minimizar os danos, privações e sofrimentos e, assim, ampliar a potencialidade da
atividade criativa e interativa, cuja pré-condição é a autonomia;
b) A realização ou não dessas necessidades afetará positiva ou negativa as pessoas ou coletividade
na busca da emancipação e auto-realização;
c) As necessidades concedem os argumentos sobre a justiça e justeza dos fatos, das relações e sobre
os fundamentos de sua legitimidade, que deverá ter conteúdo social e cultural a partir do consenso
discursivo e de uma democracia solidária e emancipada;
d) A autonomia, como princípio primordial, deve ser considerada num sentido interativo e
dialógico, também de natureza social e trans-cultural, superando a concepção restrita e
individualizante do liberalismo e rompendo com a visão tradicional de tensão irremediável das
esferas pública e privada. Vislumbrar um privado que se realiza no público, este último construído a
partir de uma concepção de cidadania ativa e de sociedade civil que se expande além das fronteiras
locais ou nacionais;
e) A crescente autonomia será capaz de transcender a visão e um discurso comunitário tópicos e os
limites de uma linguagem normativa e particular, possibilitando o processo de emancipação do
homem.
É certo, por fim, que a sociedade contemporânea terá de proporcionar a satisfação das ampliadas
necessidades humanas, submetendo a economia e possibilitando o acesso a igual poder e igual
participação, oportunidades justas e a garantindo a todos os direitos fundamentais e humanos. Para
que isto se realize, torna-se indispensável um processo de reanimação e re-conjugação de esforços
dos sistemas jurídicos e políticos para estabelecer um debate nacional sobre as escolhas
fundamentais e os procedimentos a serem utilizados. Além disso, uma sociedade justa deve supor a
existência de políticas e critérios normativos estabelecidos por indivíduos com autonomia, que
possibilitem a distribuição equitativa do produto social e a obtenção de novos patamares de
emancipação social.
Este ser complexo, emancipado e autônomo comunica-se por mais de uma linguagem moral e
princípios diversificados. Uma dessas linguagens é a do Direito, da Ciência do Direito e da Justiça,
“que permite a inclusão desse ser em seu meio social a partir de nova compreensão do mundo e de
si mesmo pelos novos patamares científicos obtidos pelo homem”.
CAPÍTULO IV
OPÇÃO METODOLÓGICA
Três elementos condicionam a escolha:
a) Entender que a realidade jurídica está condicionada às relações econômicas, políticas, éticas e
ideológicas e que o Direito, como fenômeno jurídico, é também social e cultural;
b) Necessidade de questionar os institutos positivados que, em boa parte, reproduzem o status quo e
desconhecem as demandas de transformação da realidade;
c) Adoção de uma postura político-ideológica perante a realidade.
A complexidade social do pós-guerra e a insuficiência da ação pública diante das várias crises
surgidas, fizeram surgir novos formatos estatais que também não foram capazes de debelar a
explosão de litigiosidade e de lidarem como os novos atores coletivos sociais, culminando com o
surgimento da crise de administração da justiça e de identidades e referências políticas.
Tudo isso, por fim, valoriza a necessidade de investigações que se pautem por novas metodologias,
novos temas e objetos que exigem problematizações e teorias explicativas cada vez mais
complexas.
AS GRANDES VERTENTES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA PESQUISA SOCIAL
APLICADA À JURÍDICA.
Superando o formalismo e o positivismo, as três grandes linhas metodológicas são as seguintes:
a) Tecnologia social e científica – voltada para as questões sociais e o pragmatismo;
b) Sentido jurisprudencial – dialética entre sistema e problema enquanto coordenadas
complementares e irredutíveis;
c) Crítico-metodológico – Teoria crítica da realidade e sustenta duas teses:
a. O pensamento jurídico é tópico e não dedutivo;
b. O pensamento é problemático e não sistemático.
Citando Enrique Herrera (Práctica Metodológica de La investigación jurídica. Buenos Aires: Altrea,
1998) e Jorge Witker (Como elaborar una tesis em derecho. Madrid: Civitas, 1985), as autores
apresentam o que seriam as grandes vertentes teóricos-metodológicos:
a) Jurídico-dogmático – considera o direito com auto-suficiência metodológica e trabalha com os
elementos internos ao ordenamento jurídico. Suas investigações: relações normativas no vários
campos do Direito, estruturas internas ao ordenamento jurídico e eficiência das relações entre e nos
institutos jurídicos;
b) Jurídico-sociológico – busca compreender o fenômeno jurídico no ambiente social mais amplo.
O Direito como variável dependente da sociedade, trabalha com as noções de eficiência, eficácia e
efetividade das relações Direito/sociedade;
c) Jurídico-teórico – relaciona-se mais diretamente com a Filosofia do Direito e acentua os aspectos
conceituais, ideológicos e doutrinários.
OS TIPOS DE RACIOCÍNIO
Os raciocínios podem ser dos seguintes tipos: indutivo, dedutivo, indutivo-dedutivo, hipotético-
dedutivo e dialético. Observe-se que raciocínios, ou processos mentais, não são aqui considerados
como métodos.
Indutivo é o raciocínio que parte de dados particulares e localizados em direção à constatações
gerais. Segue três fases: observação dos fatos ou fenômenos, relação entre eles e o processo de
generalização dos achados. Está ligado ao empirismo (Hobbes, Locke, Berkeley e Hume),
colocando o conhecimento na esfera do sensível, do factual e não do abstrato, do dogmático e das
verdades acabadas.
Dedutivo é o processo que faz referência aos dados de nossa experiência ou às normas e regras em
relação a leis e princípios gerais e ao maior número de casos que a eles possam ser referidos.
Relaciona-se em sua origem ao racionalismo cartesiano. ]
Indutivo-Dedutivo é o raciocínio que busca solucionar as insuficiências de cada um deles, em
complemento.
Hipotético-dedutivo é o raciocínio dominado pelas seguintes características: existem expectativas
ou conhecimento prévio; surge o problema de conflitos com as expectativas ou teoria já existentes;
propõem-se soluções a partir de conjecturas e, por fim, o teste de “falseamento”.
Dialético é o raciocínio que tem como pressuposto de que a contradição está na realidade.
Formulando se pensamento na lógica do conflito. Para Marx, tudo se relaciona e se transforma
numa interpenetração constante das contradições e da luta dos contrários. O pensamento e o
universo estão em permanente mudança.
TIPOS GENÉRICOS DE INVESTIGAÇÕES DAS CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS À
CIÊNCIA JURÍDICA
Novamente citando Witker, as autoras exemplificam os seguintes tipos genéricos de investigações
no campo do Direito:
a) Histórico-jurídico – analisam a evolução de determinado instituto jurídico pela compatibilização
de espaço/tempo. Deve-se buscar, no entanto, uma história que incorpore as contradições entre os
fenômenos e os problemas sociais causados pelas várias formas de opressão, deixando de lado a
metodologia tradicional de conhecimento histórico, influenciada pelo positivismo;
b) Jurídico-exploratório – ressalta características, percepções e descrições, sem se preocupar com
suas raízes explicativas. É a abordagem preliminar de um problema jurídico;
c) Jurídico-comparativo – busca a identificação de similitudes e diferenças de normas e instituições
em dois ou mais sistemas jurídicos, ou mesmo dentro do mesmo sistema jurídico;
d) Jurídico-descritivo – parte da decomposição de um problema jurídico em seus diversos aspectos,
relações e níveis;
e) Jurídico-projetivo – busca detectar tendências futuras de determinado instituto jurídico ou de
determinado campo normativo;
f) Jurídico-propositivo – destina-se ao questionamento de uma norma, de um conceito ou instituição
jurídica, com o objetivo de propor mudanças ou reformas legislativas concretas.
CAPÍTULO V
O DESENVOLVIMENTO DAPESQUISA, SEUS ELEMENTOS E FASES ENSSENCIAIS
Uma pesquisa tem início com uma inquietação, um obstáculo, uma indignação do sujeito em
relação ao conhecimento produzido ou às normas morais, sociais ou legisladas, segundo
determinados conteúdos discursivos.
Assim, uma pesquisa está condicionada por três elementos primordiais: o investigador, os meios
materiais de investigação e o objeto da investigação.
Com relação ao investigador, ressalte-se que o “novo” investigador utiliza-se de processos
argumentativos amplos, transdisciplinares; possui uma visão compreensiva do objeto investigado e
estimula a pesquisa em equipe, com autonomia teórico-doutrinária e ideológica.
Os meios também são condicionantes. Uma boa pesquisa precede de plano realista e objeto bem
delimitado.
O objeto não deve ser confundido com o tema. Assim, um tema a ser pesquisado é ainda uma
proposição genérica e o objeto da investigação faz parte desse tema que se deseja analisar.
Com esta compreensão, podemos definir como as fases principais de desenvolvimento de uma
pesquisa: a) definição da situação problema, do marco teórico e planejamento metodológico da ação
(Projeto); b) desenvolvimento do plano (realização da pesquisa); c) divulgação e validação da
metodologia e das conclusões (Relatório final).
O MARCO TEÓRICO
Com efeito, o referencial teórico, que deve ser considerado desde o início da problematização,
constitui-se como elemento de controle não só do problema, mas de toda a pesquisa. Fundamental,
portanto.
O pesquisador, sem dúvida, é pessoa de razoável bagagem teórico-metodológica e que tem definido
seus paradigmas, ou seja, toda a sua forma de olhar e de pensar o mundo, seus ideários ou conjunto
de idéias que têm sobre as coisas.
Não se considera aqui a ideologia no sentido negativo discutido por Marx, ou seja, de que a
burguesia tinha uma ideologia de dominação sobre o proletariado, mas como “um conjunto de
idéias no sentido positivo”.
Da mesma forma, esse conjunto de idéias forma o nosso olhar teórico, mas não é um olhar teórico
científico, mas de senso comum, pois a teoria científica somente será produzida pela metodologia
científica, pesquisas sistemáticas organizadas e controladas metodicamente.
Por conseqüência, o marco teórico também não pode ser confundido com a obra de determinado
autor (Kelsen, Habermas, Ihering...), mas como “uma afirmação específica de determinado teórico”
porque essa teoria é que vai dirigir o olhar do pesquisador, ou seja, o objeto da pesquisa será
analisado e interpretado segundo esse marco previamente definido. Em suma, todo o projeto,
incluindo os procedimentos e metodologia serão constituídos à partir do marco teórico, entendido
como a concepção que fundamenta a obra de determinado autor.
Isto quer dizer que um mesmo problema de pesquisa pode encontrar soluções diferentes se tomado
a partir de enfoques teóricos diversos.
Assim, um projeto com marco teórico Kelseniano ou positivista para investigação sobre divórcio,
por exemplo, deve limitar-se a indagações sobre a norma e suas relações no ordenamento jurídico:
“quais os fatores relacionados com a legislação vigente que poderiam favorecer o divórcio”?
Jamais: “quais os fatores sociais que favoreceriam o divórcio”?
De outro lado, uma pesquisa que tivesse como marco teórico alguma obra de Boaventura Sousa
Santos à cerca da sociologia do direito, poderia perguntar: ”quais os reflexos do divórcio sobre a
sociedade”?
Sem o marco teórico, que também não pode “engessar” a pesquisa, o trabalho pode se tornar
meramente subjetivo, uma opinião sem a fundamentação necessária.
Por fim, não se deve confundir “marco teórico” com “pressupostos conceituais já aceitos”. O
primeiro é o ponto de partida de uma investigação e o segundo são conceitos que não serão objeto
de questionamento pela pesquisa.
O DESENVOLVIMENTO DA INVESTIGAÇÃO
As autoras adotam a classificação de tipos gerais de pesquisa proposta por Pedro Demo
(Metodologia Científica em Ciências Sociais. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1995, 293 p):
a) Teórica – eminentemente conceitual, destina-se a formular ou rever teorias, conceitos, referências
teórico-doutrinária. (Filosofia do Direito, Teoria Geral do Estado ou Direito, etc);
b) Metodológica – dedica-se a discutir novos procedimentos investigativos, inovações e
transformações de metodologias tradicionais, proposição de novas técnicas, etc.;
c) Empírica – formula quadro de observação da realidade, propõe transformação de percurso das
condições da realidade objetiva da investigação e fornece cenários completos da realidade estudada:
social, econômica, jurídica, etc.;
d) Prática – difere da última por estar voltada para intervenções no ambiente sócio-cultural, político,
jurídico, etc.
CAPÍTULO VI
Estrutura do Projeto de Pesquisa
a) Partes pré-textuais: capa, folha de rosto, resumo, sumário – elementos obrigatórios – e
apresentação – elemento opcional. A apresentação é prioritariamente utilizada em relatórios finais
de pesquisa. Em projetos, considerando-se a inserção obrigatória do resumo, ela é dispensável e,
quando inserida, dá um peso desnecessário ao projeto, tornando seu conteúdo repetitivo;
b) Partes Textuais: corpo ou texto do projeto: 1 Tema-problema; 2 Justificativa; 3 Objetivo geral e
objetivos específicos; 4 Revisão da literatura sobre o assunto; 5 Hipótese; 5.1 Variáveis; 5.2
Indicadores; 6 Metodologia; 6.1 Marco Teórico; 6.2 Setores de conhecimento; 6.3 Processos de
Estudo; 6.4 Natureza dos dados; 6.5 Grau de generalização dos resultados; 6.6 Técnicas e
procedimentos metodológicos; 6.7 Controle metodológico.
c) Partes pós-textuais: 7 Fases da pesquisa; 8 Cronograma físico; 9 Bibliografia básica preliminar;
10 Referências bibliográficas – elementos obrigatórios – 11 Detalhamento de custos, cronograma
financeiro e de desembolso, anexos, apêndices e índices - elementos opcionais. Em projetos
acadêmicos que não requerem financiamento, as partes referentes aos custos não são inseridas.

Obs. O capítulo VIII trata do “Relatório da Pesquisa: a Monografia de Final de Curso, a Dissertação
de Mestrado e a Tese de Doutorado”. O capítulo será objeto de leitura posterior.
A obra é composta ainda de vários anexos e apêndices, com diversos modelos, em 252 p.
[1] Mestre em Direito pela Universidade de Brasília, sob orientação do Professor José Geraldo de
Souza Júnior, apresentando a Dissertação “O Judiciário e os Conflitos Agrários no Brasil.”

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