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A Industrializagaéo e a Urbanizacao da Agricultura Brasileira José Graziano da Silva A “industrializagéo da agricultura” brasileira 6 relativamente recente (p6s-65, se quisermos dat4-la) € representa mudanga qualitativa fundamental no longo processo de transformago da sua base técnica - chamado de *modernizagao” - que vinha sendo impul- sionado por incentivos governamentais desde 0 pés- guerra. A formagao dos complexos agroindustriais (CAls) nos anos 70 se deu a partir da integragdo interseto- rial entre trés elementos basicos: as industrias que produzem para a agricultura, a agricultura (moderna) propriamente dita e as agroindustrias processadoras, todas premiadas com fortes incentivos de politicas, governamentais especificos (fundos de financiamento para determinadas atividades agroindustriais, progra- mas de apoio a certos produtos agricolas, crédito para aquisigaode maquinas, equipamentos einsumos moder- nos, ete.) (1). Opentoculminante dessa integracao, todavia, so foi logrado no final dos anos 70 e inicio dos 80, resultando igo uma ered de um rabalhomals ample apreseniado ao rota i GY RAGEYAMIA Ao numa verdadeira “orquestragao de interesses” agrarios, industriais e financeiros. Além de representar uma consolidagéo da integragdo técnica e financeira dos CAls, essa “orquestragao de interesses" impos pro- fundas transformagdes nos planos da concentragao & centralizagao dos capitais aplicados no setor agrope- cuério, bem como na propriedade da terra e no plano das relagées (politicas) com 0 Estado (2). Infelizmente nao € possivel desenvolver todos es- ses aspectos aqui. Serdo apenas analisadas de maneira resumida aquelas implicagSestundamentais dessa"pas- sagem dos complexos rurais aos CAls* para 0 nosso futuro préximo, cujos contornos séo desenhados a seguir: -0 corte setorial agricultura/indistria perde sua forga analitica: nao se pode mais falar num uni- co determinante, nem numa Gnica dindmica, nem num Gnico “setor agropecuério’. A agricultura bra- sileira j4 é hoje - e sera ainda mais até o final do século - uma estrutura complexa, heterogénea © multideterminada. S6 se pode entendé-la a partir de seus varios segmentos constitutivos: os CAls, com suas din&micas especiticas e interligadas aos, setores industrials fornecedores de insumos & processadores de produtos agropecuérios. A idéia de uma “burguesia agréria” como fragéo distinta e (muitas vezos) com interosses opostos a uma “burguesia nacional” perde qualquer senti- dorelevante. Aintegragéo decapitais que emergiu da consolidagao dos CAls levou a uma verdadeira “territorializagao da burguesia” industrial e finan- ceira. Ou seja, os grandes capitais passaramater também uma face agrériaa medida que omercado deterras tornou-se uma aplicagao altemnativa para sua valorizagao. O Estado nao tem maiscomoimporumaregulagao geral a esses distintos segmentos produtivos do campo somente através de politicas macroecond- micas (por exemplo, a cambial ¢ a monetéria), © por isso necessita cada vez mais de politicas especificas para cada complexo agroindustrial (do tipo politica de controle de pregos de insumos, matérias-primas ou produtos finais, cotas de exportagao, etc.) Essasmudangas se refletem na propria composigao do Estado, que passa a ser literalmente apropriado nao apenas pela burguesia enquanto classe proprietaria dos meios de produc&o, mas por grupos de interesses especificos deste ou daquele ramo de atividades, 1S BA SILVA, J. Complnsos agroindustris © outros complexes Reforma Agréa. Campinas. nov ieez. 1981 S80 Paulo em Perspectiva, 7(3):2-10, julho/setembro 1993 forgando uma “balcanizagéo” (ou feudalizagao) do proprio aparelho governmental. O resultado ¢ uma crescente instabilidade - em alguns ramos até mesmo contradigao - das politicas publicas em fungao dessa captura de segmentos especificos do aparelho de Estado por um ou outro grupo oligopélico que demanda condigdes particulares que facilitem sua reproducao. 0 desafio - cada vez maior - sera encontrar politicas especificas que permitam exercer um poder regulador nos varios CAls em um contexto de crise do préprio Estado capitalista moderno. Para comecar a compor o nosso cendrio esperado para o “futuro préximo” - nossa referéncia objetiva é 0 ‘ano 2000 - preciso tecer algumas rdpidas considera- g6es sobre o possivel impacto da consolidac&o dos CAls. Nosso método seré o de resgatar as principals tendéncias apresentadas pela evolugao recente da nossa agricultura no que diz respeito as relagdes so- ciais de produgao, para em seguida destacar algumas mudangas verificadas na(s) ultima(s) década(s). ‘Convémexplicitarque ndoestamosconsiderandona composigao desse cenario os impactos de uma reforma agréria ampla e de massa que transforme a estrutura produtiva do pais. Na nossa opiniao, essa proposta foi politicamente derrotada em 1985 € a atual Constituigo sacramentou o seu “espaco possivel” nos anos $0: uma solugdo tépica de conflitos e um instrumento de contro- le de pressces pela terra em situagdes especificas. A possibilidade de a reforma agraria vir a ser uma de- manda de segmentos urbanos interessados em conter © &xodo rural encontrara sempre um obstaculo politico (hoje intransponivel, a nosso ver) na defesa intransi- gente da propriedade privada da terra por uma forte “purguesia territorializada” em todo o pais. E 0 éxodo tural tende a se reduzir em niveis absolutes nas préximas décadas, assim como o seu impacto relative nas cidades, dado o grande alargamento da base urba- nada nossa populacdo nos anos 70e 80. Nao é demais assinalar todavia que, como a reforma agraria é uma questao eminentemente politica, 0 seu alcance depen- de, em ditima instancia, da correlagao de forgas exis- tente em cada momento na sociedade brasileira. Os impactos esperados sobre a estrutura produtiva eas relagées sociais Em relagdo a estrutura produtiva, a variavel-chave diz respeito & possivel evolugao da concentragao & centralizacao de capitais, em funcdo da esperada con- solidagéo dos CAls nos anos 90. As estimativas hoje disponiveis, embora precérias- porque referem-seada- 3 dos agregados para todo o pais de um suposto *CAl genérico”-e bastante defasadas - porque baseadas nos dados censitdrios de 1975, 1980 © 1985 - indicam que menos de 10% dos estabelecimentos agropecuarios brasileiros estariam integrados @ essa moderna ma- neira de produzir (3). A caracteristica fundamental da chamada “modernizagéo conservadora” da agrope- cuaria em nosso pais é, portanto, o seu cardter exclu- dente, quer se considere o tamanho dos produtores, quer se considere a regido do pais: eles s&o principal- mente 08 médios e grandes, embora também haja pe- quenos produtores em culturas especificas, e estéo localizados predominantemente nas regides Centro- Oeste, Sudeste e Sul (4). Nas regides Nordeste e Norte, bem como em dreas importantes do Sudeste (nordeste de Minas, Espirito Santo e Rio de Janeiro), a predomi- nancia 6 de pequenos produtores nao-integrados aos CAls (5) . Nada indica que essa tendéncia da concentragao produtiva nos CAls venha a se alterar. Pelo contrario, 0s indicadores mais recentes apontam no sentido de uma centralizagao ainda maior da produgao, seja pelo crescimento da escala minima viavel em varios ramos da atividade agropecudria, seja em fungao dos desen- volvimentos tacnolégicos esperados principalmente nos sistemas de colheita, carregamento ¢ transporte. Ha todavia uma outra importante tendéncia de transformagao dos CAls, que 6 a crescente integragao com os segmentos modernos do setor servigos (empre- sas locadoras de equipamentos e prestadoras de as- sisténcia técnica, servigos de informatica e telecomuni- cag6es, etc.) ecom industria fornecedora de insumos, maquinase equipamentos, constituindo-se assim“solda- gens especificas para trés", dando origem aos “CAls completes" (6). Estariam pois nesse grupo, num futuro préximo, as atividades hoje classificadas como “CAls incompletos* (por terem ligagdes especificas apenas & frente, com as agroindistrias processadoras), caso das or porto oo ssa caracorsic bascament inaiedoras oe acorn GRAZIANO DA SILVA, J. A, qual reforma agra? Revi Campinas, 1711, 1987. sons igndae ao sorte ‘tanavieia 29 Campos flo de Janet, os einurous verdes prince as grandes cgador, ste. (© Or Cate complatoe specticas 2am fibras naturais (algoddo, por exemplo), das frutas (laranja para suco) parte dos gréos (arroz comum) das oleaginosas (amendoim) e dos legumes (tomate, ervilha @ outros produtos usados em conservas). 0 mesmo, entretanto, no se pode dizer das “atividades moderni- zadas", aquelas que dependem do fornecimento de méquinas e insumos exira-setoriais, sem, no entanto, estabelecerem soldagens especificas nem para frente, nem para tris, ou seja, sem se constituirem em complexos agroindustriais propriamente ditos. As tendéncias nas relagées socials podem nao pa- recer, & primeira vista, tao claras como as apontadas paraas estruturas produtivas. Issose deve basicamente a cutra especificidade do proceso de modernizagéo da agricultura, que além de desigual, como ja foi destaca- do, é também relativamente lento se comparado ao de- senvolvimento industrial. Ou seja, ele repde (ou redeti- ne, se se preferir) formas aparentemente |d superadas da produgao ao longo do préprio desenvolvimento capi- talista, Mas as tendéncias anteriormente assinaladas quanto & consolidago dos CAls - ou seja, maior concentragao da producao e centralizacao dos capitais conjugados a maior integragao para trés coma industria fornecedora de insumos, mquinas e equipamentos ¢ com segmentos modernos do setor servigos - respon- dem também por um processo crescente de subordi- nagao do trabalho ao capital. Por isso, se de um lado deve-se assinalar um inegavel processo de proletari- zagdo, de outro pode-se apontar também, dentro do espectro de diferenciagao do campesinato, a recriagao de produtores familiares que se tecnificam crescente- mente, sem todavia conseguirem escapar da sina de continuarem a ser pequenos produtores. Essas tendéncias gerals deverao no apenas continuar, mas também se acentuar até o final do sé- culo. Quanto ao processo de proletarizago, espera-se primeiro a continuidade dessa puriticacao das relacdes do trabalho assalariadas (7) através da expropria- aia tanto 9 ent” (groin processadora) coma “pratensis Isinacedora deinumoe, magulngs« eouipamenta). Eo casa da sviculsa, do das earmos. da Sead igs, do mito fibro, 36 ios ue fspundem pense prove ao apenae na Hardest. como em gorl se Pensa). © nove Impul sisagas da conalta iclsive das eur raicas). com’ avo 28 peta as pousiicedce aborts Polo esenvolumento da * Aputiteapae das otagsee aetna, namecida am qu liming oe papsmentce J foiga de trabalho = morada,lonha, aceze0 2 hora pare o iSosebagriclse Ot 40 dos trabalhadores que ainda mantém vinculo produtivo com a terra; e, segundo, um crescimento relativo docontingentede assalariados permanentesem telagao aos temporérios (contrariamente ao verificado nos anos 60), em razéo da crescente demanda de \reinamento e qualiticagéo pelos segmentos mais modernos do campo em relagao a seus operdrios; do crescimento das atividades administrativas e de presta- ¢40 de servigos por parte de profissionais liberais; eda redugdo da sazonalidade do trabalho naquelas ativi- dades que logram maiores indices de mecanizagao na colheita, JA dentro do espectro de diferenciagao do campesi- nato desenha-se uma polarizagéo crescente: de um lado, perda gradativa do papel produtivo dos segmen- tos mais pobres de pequenos produtores, de modo a converter a terra que possuem um mero local de mora- dia ou, quando muito, de produgao para autoconsumo da familia; de outro, tecnificagao crescente dos produ- tores familiares integrados aos complexos agroindus- triais, aliando um patriménio imobilizado cada vez maior a menores niveis de autonomia na organizagao de seu proprio processo produtivo. € fundamental assinalar nessa rapida avaliagéo prospectiva das relag6es sociais no campo para ofinal do século as tendéncias no interior do segmento dos empresérios rurais. Elas se manifestam tanto na jé mencionada elevagao da escala minima do capital necessario @ permanecer em determinadas atividades, especialmente naqueles segmentos ligados aos CAs completos, quanto na crescente integracao intersetorial que envolve particularmente os grandes capitais apli- cados nos distintos ramos que compdem os CAls. Em resumo, hd tondéncia crescente & concentragio de ca- pitais dentro dos ramos de atividades agropecudrias em seu sentido estrito e a centralizagao intersetorial dos grandes capitais oligopélicos. Finalmente, algo precisa ser dito sobreocrescimen- to populacional, e em particular sobre a distribuigao territorial da populag&o e 0 corte urbano/rural. (D WARTINE, 6 ot ali, A Urbanisseso no Brasil retrospective, componertos perspectives brasilian, PNUD.OIT-TPFA, 1987 (2) MARTINE, Ge CARVALHO, J. A.M. Cendrios Dem Xi! Aigumes incieagGes Socials. Camping (00) Emvreaumas a populagio som manos de 6 anos, am lsrmos absaluos, covers Imanterte ov mosina repre ats ane 2000; a populagao ene 6 15 anor tina recurso de mais ce 60% no rime da srescimeno hisses 3s populagse fm dado escolar aié 1870; a popuagdo entre 15 64 anos, que configura Desleamene 8 BEA. dover toaviaerescer auma taxa anual eatvamente betlin, a populaggoda-Tevceiaidade(acinadees nos) aumentaraataxas (11) MARTINE, @. ¢ CARVALHO, J. A.M. Op os para Séeulo a0 Paulo em Perspectiva, 7(3):2-10, julho/setembro 1993, Em relagao ao crescimento populacional, os estu- dos recentes s4o unanimes emapontaruma forte queda na taxa de fecundidade entre 1960 e 1985, projetando para 0 ano 2000 uma populagao total em torno de 170 milhdes @ rural da ordem de 35 milhdes de pessoas, ndmero muito semelnante ao que temos hoje, com uma taxa de crescimento entre 1,3% 6 1,6% a.a.(8). Assim, a0 contrério dos afoitos malthusianos de plantao, a Preocupagao dos nossos demégrafos, na opinido de Martine ¢ Carvalho, écomessa"quedatao generalizada {fol até maior nos estratos de renda mais baixos) em to pouco tempo, que é surpreendente se comparada & experiéncia de paises desenvolvidos, particularmen- te tendo em vista a extensao territorial, o tamanho da Populagao, a heterogeneidade de regides e setores sociais ea auséncia de uma politica demogratica ofi- cial (...). O& dados existentes permitem afirmar, com seguranga, que o declinio da tecundidade no Brasil no esta ligado a um fendmeno conjuntural; trata-se de um processo irreversivel, coerente com uma verdadeira transigao demogratica® (9). 0 resultado dessa transipao domogrdtica, segundo 0s autores citados, ¢ que devemos esperar para o século XXi uma estrutura populacional bem distinta da atual, pelo estreitamento de sua larga base (10). Ou seja, se de um lado poderemos ter um pequeno alivio relative sobre problemas hoje considerados explosivos relacionados a infancia e a populagao em idade escolar (menores carentes, creches, satde, etc.), de outro devemos esperar maior pressdo sobre o ingresso no mercado de trabalho, bem como um crescimento da proporgao de inativos em relagao & Populagao Econo- micamente Ativa (PEA). Note-se que esses Ultimos problemas ja sao hoje tao ou mais graves que os pri- meiros, especialmente porque os elevados niveis de desemprego e subemprego, aliados aos baixos niveis de remuneragao do pais, podem ser arrolados como causa principal de quase todas as demais questées, inclusive da atual faléncia do sistema previdenci tio, que ja no consegue sequer pagar um salario condigno aos aposentados pelo sistema constitucional anterior. Martine e Carvalho (11) assinalam também a con- tinuidade de dois processos aparentemente contradi- t6rios: a multiplicagao de cidades e a concentragao da populagao total e urbana em algumas poucas metrépo- les. Os autores estimam ograude urbanizagéoda popu- lagao brasileira para 0 ano 2000 em 80% @ apontam para uma redugéo absoluta e relativa do fluxo migraté- rio rural-urbano na atual década e na proxima em comparagao.com o verificado nos anos 60.8 70, quando quase 30 milhdes de pessoas - basicamente os ex- cluides pela modernizaco conservadora - foram expul- sas do campo. A principal raz8o estrutural, todavia, deve-se & redugdo absoluta do estoque de populacdo rural, aolado deraz6es conjunturais, como acriseatual que estaria reduzindo o ritmo da modernizagéo das atividades agropecuérias. Os autores séo também céticos quanto as possibilidades de uma redistribuigaéo significativa da populagéo nas préximas décadas que pudesse contrabalangar essa tendéncia crescento do metropolizagao, Em resumo, com a industrializagao da agricultura - especialmente na fase da consolidacdo dos CAls que se delineia a partir de meados dos anos 70 - impoe- se uma crescente urbanizagao da populace rural. Di processos sao ai fundamentais: de um lado, a jé mencionada “perda de atividades do setor agricola” que caracteriza a ruptura do velho complexo rural: as lades absoryem gradativamente atividades que antes 80 encontravam dissolvidas no interior das fazendas, além de criar novos ramos de atividades. De outro, 0 que poderiamos chamar de “urbanizagao do trabalho ural", que se traduz nas também ja mencionadas transformagSes nas relagdes socials de produc&o - par- ticularmente a purificagao das relagdes de trabalho, 0 crescimento relativo dos contingentes de assalariados permanentes (12) associados a maiores niveis de qua- lificagao da torga de trabalho e a tecnificagao crescen- te dos produtores familiares ligados aos CAls -e que 18m se mostrado compativels com uma dissociagao crescente entre 0 local de resid&ncia do trabalhador e © seu local de trabalho. As estatisticas hoje disponi: veis indicam que mais de um tergo da PEA envolvida nas atividades agropecudrias jé tinha domicilio urbano em 1980 em estados como Sao Paulo Como jé dissemos, a tendéncia 6 de aceleragao dessaurbanizagao do mundo ruralatéo final do século. Varios outros fatores, além da jé citada urbanizagaodo local de moradiada PEA agricola, contribuem paraisso, alguns ligados &s proprias expectativas dos trabalha- dores rurais. Primeiro, acidade 6 hoje a nica esperan- a de acesso a beneficios sociais como saneamento, gua encanada, luz elétrica, hospital e escolas, de que ‘omeiorural nao dispe. Ofracassoda tentativadelevar alguns desses beneficios ao campo - como os custosos {o seeulo, sem os Gre oj) ge manos om eu propia eras @ ineficientes programas de eletrificagao rural, ensino agricola, entre outros - indica que somente a cidade continuara a oferecer esses beneficios até o final do século. Segundo, o crescimento das fungées técnicas administrativas nas empresas rurais © agroindustriais cria a demanda de empregos preenchidos tipicamente Por profissionais de origem e vivéncia urbanas. Essas “atividades de escritério” - em contraposigao as ativida- des de campo propriamente ditas - so cada vez mais vitais a0 desempenho econémico-financeiro das empre- sas modernas e tém que ser exercidas no contexto urbano, pois ai é que se encontram os comerciantes (de produtos e insumos), os bancos, os agentes governa- mentais, etc. Assim, o trabalho rural também se urba- niza e reflete a cresconto importancia das atividades exercidas “além da porteira” das fazendas. E, terceiro, acrescente tecnificapao dos produtores familiares, que se constituem hoje nas pequenas em- Presas do campo. Essa tecnificagao liberou a mulher @ 08 filhos menores das lides didrias, tornando assim possivel a sua urbanizagao, ou seja, esse pequeno produtor saiu do campo em busca de escola para os filhos @ dos “confortos” da cidade. Ai a familia di- versificou a origem de sua renda, seja através do tra- baiho assalariado dos filhos, seja através das rendasde aluguéis e cadernetas de poupanca, Gnicas alternati- vas ao seualcanco. Assim, do ponto de vista da familia + especialmente da familia ampliada -, as atividades agricolas vao se convertendo gradativamente em ati vidades parttime, ainda que fundamentais para sua reprodugao. ‘Ao lado desse segmento de empresas familiares bastante tecnificadas, que tende a ser mais estavel e a*imobilizar-se" através dos contratos deintegragéoem distintos ramos de atividades, observa-se também uma continua recriagao/destruigao de pequenos produtores néio-integrados em todos os cantos do pais. Muitos tendem a relacionar esse proceso com um pretenso “ciclo de vida chayanoviano” ou um “desequilibrio no mercado de trabalho” & la Kautsky. Nada mais falso: essa aparente estabilidade da pequena produgao 6 na verdade a face aparente de uma constante recrlagao/ destruigéo de inumeros pequenos produtores. Néo ¢ dificil explicar o aparente paradoxo. De um lado, intmeros ramos das atividades agropecuarias tem ainda hoje barreiras minimas a entrada; algumas delas, S40 na verdade as Unicas alternativas possiveis para alguém se estabelecer “autonomamente” - como nas pequenas cidades do Interior onde o comércio ambulan- te no prospera. De outro lado, também em indmeros ramos que sao ainda chamados de agropecuérios - como aqueles ligados aos CAls - a elovagao da oscala minima para permanecer na atividade obriga o pequeno produtor a uma tecnificagéo continua, como se fosse uma corrida numa esteira rolante: por mais que corra, continua sempre no mesmo lugar. Em nossa opinido, as forgas que controlam essa cortida - ou seja, a adogao das inovagdes tecnoldgicas - tenderdo a acelerar sua transformagao nos proximos anos. Com isso, eliminarao até mesmo parte significa- tiva desses produtores hoje ditos tecnificados, margi- nalizando-os dos CAls. © movimento compensatério de crescimento dos CAls em outras atividades e outras regiées do pais nada mais significard do que um retardo nessa tendéncia, O final do século mostraria assim a nossa agrope- cutiria - que nao sera mais apenas rural, dada a urba- nizagao de inimeros ramos de atividades e do préprio trabalho no campo - segmentada nao mais em grandes ‘oupequenos produtores, mas emprodutores integrados ou nao-integrados aos CAls. Os primeiros, se forem grandes capitals, estarao verticalmente relacionados as atividades agroindustriais; se forem pequenos, busca- ro formas sociais e politicas de aliviar essa luta frené- tica pela sobrevivéncia, essa corrida sem fim, através deorganizag5es cooperativas sindicais onde procurarao melhorar 0 seu poder de barganha frente aqueles grandes capitais verticalmente integrados (13). JA 0s produtores ndo-integrados - possuam eles grandes ou pequenas extensdes de terras - estarao condenados a atividades produtivas marginals, em particular do ponto de vista da reprodugao da classe trabalhadora. Uma minoria poder até mesmo estar envolvida em atividades altamente lucrativas, como aquelas direcionadas a segmentos sociais diferencia- dos com altas rendas (produgao de alimentos frescos sem uso de detensivos, flores, etc.). Mas a sua grande maioria - em particular 0s pequenos localizados nas tegides Norte @ Nordeste - estaré condenada a produ- ¢40 para autoconsumo, ou quando muito para forneci- mento direto as populag6es locals com um nivel (13) Emit wieraszante a proscupssso de grandes amprosas que se bassiam om conraos de integrafaocom aviabilzapae da pequenapropiecag,garantind fio apenas a quantsade 9a qualdadn da madras ce que necosion, ‘como ambéma esiabiidade do sistema alongoprazo. Sto lvsralivoe a esse ‘espelioo Prieta 21” da Sain, qv procurasrlenar or prodviores to sino © mosele de paquana por 1d coms osianie © eno 2000. Vi pare o Norcese S80 Paulo em Perspectiva, 7(3):2-10, julho/setembro 1993, tecnolégice rudimentar (14). E preciso assinalar que o nivel de vida e em particular nivelde renda - cesses sogmentos de pequenos © médios produtores. nao integrados aos CAls dependeré muito das politicas agricolas que serao implementadas no pais. © agravamento da questao social rural nos anos 80 A agropecudria brasileira vem ensaiando nas ilti- mas décadas um novo padréo de crescimento baseado em atividades intensivas (com aumento dos rendi- mentos fisicos) e na diversificagéo da sua pauta de ‘exportagGes. Muito se tem falado e escrito sobre o“no- tvel” desempenho do ponto de vista produtivo da nos- sa agropecuaria nessas décadas passadas, especial- mente na crise dos anos 80. Mas pouco se fala sobre © resultado social desse modelo de crescimento agro- industrial excludente, que aumentou ainda mais a con- contrapao da renda © a proporgaio de pobres no cam- po. E quase nada se tem escrito sobre o que tazercom osexcluidos, os *barrados nobaile”, os “descamisados”, ouos pobres do campo ou qualquer outro nome que se dé a essa populagao marginalizada do ponto de vista das necessidades internas de acumulagao do sistema. Procuraremos mostrar a seguir os contornos gerais dessa “outra cara" do processo de modernizagao conservadora da nossa agropecuaria As andlises propiciadas pelas PNADs a respeito da populagaoocupada na agricultura brasileira nosanos 80 constatam mudangas significativasem relacdoaos anos 70. Sumariamente, destacam-se a seguir os resultados referentes as migragdes @ ao emprego urbano € rural, pela importancia que tém sobre @ renda e a pobreza rural. Migragbes Nos anos 70 ocorreram grandes migragées inter- regionais, especialmente da zona rural de pequenas e médias cidades ¢ do Nordeste para as metrépoles de ‘S40 Paulo, Rio Janeiro e Belo Horizonte. Osanos 80 mostram, aocontrario, forte redugaonas migragSes inter-regionais e crescimento das migragées, intra-regionais - ou seja, dentro das regides. A origem continuou sendo predominantemente rural, mas o destino passou a ser tanto as grandes metrépoles regionais como as pequenas e médias cidades do Interior. Em outras palavras, a populagao rural migrante tende a ser absorvida dentro das suas préprias regides de origem, talvez & espera da téo prometida ‘retomada do crescimento econdmico” do Centro-Sul. Osanos70 foram marcados também por torte éxodo tural, ruto da aceleragao da modernizagac conservado- ra. Nos anos 80, 0 6xodo rural continuou intenso, mas com magnitude menor, tanto pelo “esvaziamento dos campos" ocorrido em algumas regides jé na segunda metade dos anos 70 (caso do Parana), como pela re- dugao do ritmo de modernizag&io da nossa agropecué- fia (18). © saldo dos anos 80 mostra, entrotanto, que a agrioultura continuou reduzindo a sua participagao no emprego, especialmente nas regides Sudeste © Nor- deste, onde a fronteira agricola ja se havia consolida~ do. Assim & que a participacao da populagao brasileira ocupada na agricultura calu de 30% para 23% entre 1981 @ 1989, segundo dados da PNAD, enquanto na regio Nordeste essa proporgao caiu de 48% para 40%, no mesmo periodo, E fundamental observar que no caso do Nordeste os dados que incluem, entre a populagdo ocupada por atividades agricolas, 0 contin- gente empregado nas frentes de trabalho existentes até 1983 (16) mosiram que essa queda ocorreu na segunda metade da década, corroborando o cardter excepcional do crescimento dos pequenos estabeleci- mentos agropecuérios detectados na regiao no perio- do 1980-85 pelos censos agropecuérios. Ou seja, 0 de- sempenho do Nordeste em termos de ocupagao da populago foi melhor (ou menos pior) do que o do pais como um todo, @ a agricultura regional teve papel de destaque nessa performance. Em resumo, na década de 80 houve maior retencao (tanto em relagdo ao resto do pais, como em relagao & década anterior) da populagao rural nordestina na propria regiao. Emprego urbano Notocanteaos ramos urbanos que expandiram suas atividades em termos de pessoas ocupadas as diferen- gas também sao marcantes. Os anos 70 deixaram um saldo positive de 13,2 milhées de novos postos de trabalho, metade dos quais nas indusirias de transfor- E precio alertar que © Conso Agtopscutlo considera as pesscas ocupadas em svi mentee a9ropecutios som qualquer reirgao tempo petesimar pose damia-s02 magao (+4 milhdes) enaconstrugao civil (+1,5 milhao). © perlil desses novos empregos exigia mao-de-obra Pouco qualificada e trabalhos repetitivos para a gran- de industria de base fordista, o que também implicou um crescimento relativo das relagdes formalizadas de Vinculo empregaticio Os anos 80 deixaram um saldo também positivo de 12,7 mithdes de novos postos de trabalho, sendo que 20% apenas na industria de transformagao (+ 2,4 milhdes) € na construgao (+ 0,4 milhao). Entre as atividades em que mais aumentou o nivel de ocupagao estdo 0 “comércio de mercadorias”, “servigos de alo- jamento e alimentagao" e “servicos publicos e sociais’ © perfil desses novos empregos, embora muito mais diferenciado, mostra claramente as exigéncias de uma flexibilidade nao existente nas industrias de base for- dista e um grande crescimento das relagdes informais de trabalho na década de 80. Em resumo, as opor- tunidades de trabalho criadas nos setores urbanos nos anos 80 nao favoreceram os novos migrantes, especial- mente aqueles de origem rural. As perspectivas dos anos 90 séo ainda mais sombrias em fungao da esperada informatizacio de muitos ramos de servigos que se expandiram na década anterior e da pressao crescente para entrada na forca de trabalho de jovens nascidos nos anos 70, uma década ainda de elevadas taxas de natalidade. Emprego rural Em termos de pessoal ocupado nas atividades agropecuérias, 0s dados do Censo Agropecuario de 1985 também registram tendéncias opostas as dos anos 70: crescimento relativo da mao-de-obra familiar, da parceria e do numero de assalariados permanen- tes (17). As razOes principals para isso esta no artetecimento do ritmo de moderizagao ocorrido na primeira metade dos anos 80 em fungao da contengao do crédito rural, na redugao geral do desempenho da produgdo nos anos de crise (1981-89), na menor incor- poragao de novas éreas na fronteira agricola @ no pro- cesso de ‘minifundizagao" dos estabelecimentos com menos de 10ha, em particular na regido Nordeste. Os dados disponiveis sobre emprego rural para a segunda metade dos anos 80 so ainda mais precérios. Deacordocomas PNADs-aiinica onte disponivelcom dados agrogados na década de 80 para o Brasil (exceto regido Norte) -, 0 numero de pessoas ocupadas nas atividades agropecuarias oscilou entre 13,1 milhdes em 1981 a 13,9 em 1990, tendo atingido o seu pico em 1985, com 15,2 milhbes. Grosso modo, podemosatirmar que a expansao das pessoas ocupadas na primeira metade da década se devem a maior retengao da mao- de-obra familiar em fungao da redugao das oportunida- des de emprego nos setores urbanos. Jé na segunda metade dos anos 80 aumentou relativamente oemprego de trabalhadores assalariados (simultaneamente redu- ziu-se a ocupagao da mao-de-obra familiar) em fungao da retomada da expansdo da producao capitalista, que resultou em safras recordes nos anos finais da década. Uma avaliagao cuidadosa da evolugao das pessoas ‘ocupadas (segundo as PNADs) na agricultura brasilei- ra mostra que grande parte do “crescimento” apresen- tado na primeira metade da década de 80 se deveuna verdade & ndo-contabilizagao das pessoas ocupadas nas frentes de trabalho em 1981 (18). Ja no periodo 1985-89 (19) houve forte queda do emprego na agri- cultura em todo 0 pais: das 15,2 miines de pessoas ocupadas em 1985, apenas 13,9 milhdes foram registra- das em 1989. Isso representa uma redug&o de quase 1,4 milhéo de pessoas ocupadas na agricultura em apenas cinco anos, cerca de 10% do estoque total, ou seja, uma taxa geométrica de - 2,3% a.a. Os trabalhadores familiares (ndo-remunerados & por conta prépria), assim como os assalariados, tam- bém diminuiram no periodo 1985-89. E a redugdo, se no foi to drastica como no caso dos trabalhadores volantes, foi também generalizada, atingindo pratica- mente todas as regiées do pais. Todavia, essa redugdo no foi suficiente para ofuscar 0 peso relative do trabalho familiarna composigao da mao-de-obra ocupa- da na agricultura brasileira. Os trabalhadores nao- remunerados representavam, em 1989, 27% das pesso- as ocupadas, ¢ os por conta prépria, 31,1%. Juntos, os trabalhadores familiares somavam 58,2%, representan- do, indiscutivelmente, a maior categoria ocupacional no campo, segundo.a PNAD. Os empregados permanentes vém a seguir em ordem de importancia, representando isoladamente 26,9% das pessoas ocupadas em 1989. Somados aos trabalhadores volantes, que sozinhos representavam apenas 10,5%, 0s trabalhadores assala- riados pertaziam 37,4%, ou seja, mals de um tergo das pessoas ocupadas na agricultura brasileira [18] Segundo ear erat op. cit), 08 ocupados nas re ts sevnardes agresine no Nordest (10) Ge daoe apreseningos a sop tazom parte do: KAGEVAWA, A lal Os impactos da Nova Previddneia Social sobre a ‘eonomia Rural. Campinas, Reltiia de pesquisa do convénio MTB) Feeamp, 1993, mimeo. (20) Cevatores so: 4% pars areas uoanes.02,1% paraasrurais, segundo ados Praale (documento de rabafo n" S64), 1082, mines, 3 Saniago de Chie ‘S80 Paulo em Perspecti a, 7(3):2-10, julholsetembro 1983 0 fato 6 ainda mais preocupante ao constatarmos que 0 decréscimo das pessoas ocupadas na agricultura na segunda metade dos anos 80 ocorreu em todas as regiées analisadas, inclusive nas areas de expans&o recente da fronteira agricola, com taxas mais elevadas de redugao tanto nos estados de agricultura mais moderna do Sul ¢ Sudeste (Sao Paulo, Rio de Janeiro, Parand, Santa Catarina, Rio Grande do Sul) como na- queles onde o estoque absoluto da populagao agricola maior, caso da Bahia e Minas Gerais, A semelhanga dos paises desenvolvidos, grande parte da migragao rural-urbana é constituida de jovens que querem ingressar na forga de trabalho © nao encontram oportunidade nos campos. Um indicador interessante nesse sentido é apresentado pelo Pro- grama Regional de Emprego para América Latina Caribe - Prealc, ao assinalar que a maior brecha entre a desocupagao juvenil em zonas urbanas e rurais de toda a América Latina ocorre no Brasil: a taxa de desemprego entre os menores de 24 anos da PEA que se encontram nas cidades ¢ quatro vezes maior que a verificada nas zonas rurais (20). Ou seja, os jovens da zona tural hoje deixam de ser desempregados nos ‘campos para serem desempregados urbanos Vale a pena ressaltar ainda uma mudanga funda. mental na dinamica da PEA rural segundo os seus ra- mos de atividade. Embora muitos ainda acreditem que quem mora na zona rural esta necessariamente ocupa- do em atividades agropecudrias, isso ha muito deixou deserverdade. SegundoosdadosdoCensoDemogréfico de 1980, quase 20% da PEA rural esta ocupada em atividades ndo-agricolas, assim distribuidas: ativida- des industriais (7,9% da PEA rural), comércio (3,4%) € servigos (6,3%). Nos anos 70, enquanto a PEA rural ocupada nas atividades agropecudrias decresceu taxade 1%a.a.,a ocupada ematividades nao-agricolas cresceu a taxa de 5,2% a.a. Embora nao se disponha de dados para os anos 80 (0 Censo Demogratico de 1991 ainda nao esté disponivel), esse crescimento do ‘emprego rural ndo-agricola deve ter sido ainda maior, a julgar pelos dados disponiveis em outros paises la tino-americanos (21). Renda e pobreza rural Em termos de distribuig&o de renda no campo, também as décadas anteriores mostraram um desem- penho bastante distinto. Nos anos 70 cresceu a de- sigualdade, mas diminuiu a pobreza no campo, ou seja, 08 ricos ficaram mais ricos mas os pobres ficaram me- nos pobres. Isso porque cresceu a renda média dos estratos inferiores da distribuigao, apesar de a renda ter crescido ainda mais nos estratos superiores (usinei- ros, grandes proprietérios rurais, etc). As explicages para esse comportamento passam fundamentalmente pelo fato de que o campo expulsou seus pobres para as cidades, onde foram ser favolados, biscateiros, béias-frias, etc. Os anos 80 mostraram um quadro muito mais Perverso: continuou a crescer a desigualdade na distribuigéoda renda, comoagravante de que ospobres se tornaram ainda mais pobres. Se tomarmos o indi- cador de insuficiéncia de renda (22), resulta que os pobres do campo necessitavam de um aumento de 45% na renda que percebiam em 1981 para deixarem de ser considerados pobres; em 1990, esse aumento tinha que ser de 78% (23). Um recente ostudo sobre apobrezaruralem114paises em desenvolvimentofeito pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agricola (Fida) (24) coloca o Brasil em 6° lugar entre os paises cuja populagao rural tem renda inferior & linha de (22) Trala-se da porceniagom da ronda total que se nacesita para angi na pobreza, clinica como um aalsio mini os (20) Gnaziano DA SILVA, (1990) Op et (24) Este esudo, orominads “0 estado da poorera rural 92 mundo" i tama da (25) tans, ocomingante de pobrescimnui de S9%em 1965para «27am 1888 Indonésa, 47% para 27%; ordi do Wore, 98% para {1% Maissa 2% pare (26) HOFFMANN, GIAWGAGI, F. (org) Bitibuigto Pare Tera, 1991. pp. 145-169, (27) Supiomento especial da PAD do 1990 nostou que 27.7% ds rabatbadores “olormais- oo sla, semvineulo empregatei detindo-estavam oeupadou no praporedo era maior no Noroess, gue muneragas media genie as grandes repbes GAZETAMERCANTIL Sto Pau 4 cinco anos do sou inicio, « qua em male do S0™ ds asset {ealzades somente ram presadoe quato servis (edueagto.assatonia Usnia, crtdiorralevendadainsumes), todos las onsgeradosineicentes © do baka qualidade, Em relagio tc PAPP, chara a songs. pata t Indadequagso Ge sua asitura conceltul » operacione para slcangar ot ‘deuma fadova igande Culabé a Porta Velho consumiu f2% de ecuracn do programa, eque orestantetoiquasetodouilizadoparacebios aston tecnico Surceratces proj ginéooseudestinopropostoiiclalmeste( novos assentamentoa, combate & mala te). Ver FAO - Food and Agieutate Organization. Pe Mocroaronomiens Rem, Eatil pa esai acon Ya (29) taem, idan p 100, Agricolsey Polis 10 pobreza (73%), abaixo apenas da Bolivia (97%), Malawi (90%), Bangladesh (86%), Zambia (80%) e Peru (75%). Eo que é pior: enquanto a grande maioria dos paises, analisados mostrou tendéncia & redugo da pobreza rural (25), no Brasil a populaco pobre vem aumentan- do, tendo pulado de 65% em 1965 para 73% em 1988. Ha poucas evidéncias empiricas sobre quem so esses pobres do campo nos anos 80 (26). Mas néo nos afastamos da realidade ao afirmar que na sua grande maioria séo trabalhadores tempordrios sem vinculo empregaticio (27) e pequenos produtores - em particu- lar os que tém acesso precario a terra, como parcei- ros e arrendatarios, @ que se concentram na regiao Nordeste (28) Um outro estudo recente, da FAO, mostra que as politicas do governo brasileiro de combate & pobreza tural - tanto a politica estrutural como as politicoas compensatérias = ficaram muito aquém dos propésitos e metas estabelecidas (29). Segundo a FAO, ‘estes programas retletem a crise dos modelos de adminis- tragao nascidos basicamente da integracdo de finan- ciamento nacional © estrangeiro, para entrontar com instrumentos estritamente compensatérios a pobreza no meio rural. Tais modelos so insuficientes, uma vez que a pobreza & gerada por uma distribuig&o forte- mente desigual dos fatores de producao, agugada historicamente por uma combinagao de politicas ma- croecondmicas © agricolas que reforgaram a nature- za excludente do modelo de desenvolvimento. A crise @ 0 ajuste macroecondmico condicionaram o desempe- nho dos programas de combate pobreza, mas nao parecem ter sido estes os principals fatores que explicam seus limitados resultados. Haveria que acres- centar também a escassa prioridade real que se cutergou ao problema..."(90). Em outras palavras, falta vontade politica de fato para combater a miséria no pais. Até quando? 5

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