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O parecer é o ato por meio do qual os órgãos consultivos da Administração Pública emitem opinião sobre
assuntos jurídicos e técnicos.
Quem melhor desenvolveu a temática da responsabilidade do parecerista foi Oswaldo Aranha Bandeira de
Mello. Conforme seus ensinamentos: o parecer pode ser de três espécies:
“O parecer é facultativo quando fica a critério da Administração solicitá-lo ou não, além de não ser
vinculante para quem o solicitou. Se foi indicado como fundamento da decisão, passará a integrá-la,
por corresponder à própria motivação do ato. O parecer é obrigatório quando a lei o exige como
pressuposto para a prática final do ato. A obrigatoriedade diz respeito à solicitação do parecer (o
que não lhe imprime caráter vinculante). Por exemplo, uma lei que exija parecer jurídico sobre
todos os recursos encaminhados ao Chefe do Executivo; embora haja obrigatoriedade de ser emitido
o parecer sob pena de ilegalidade do ato final, ele não perde seu caráter opinativo. Mas a autoridade
que não o acolhe deverá motivar a sua decisão. O parecer é vinculante quando a Administração é
obrigada a solicitá-lo e a acatar sua conclusão.”
Interpretando essa classificação de Oswaldo Aranha, o STF teve a oportunidade de delimitar os liames da
responsabilidade do procurador pela emissão de parecer técnico-jurídico. O julgado é bem explicativo, razão
pela qual será reproduzido na íntegra.
Assim, de acordo com esse entendimento e, levando em consideração os fundamentos jurídicos expostos nesse
mandado de segurança, há três espécies de parecer:
Parecer facultativo: abarca a maioria dos casos da rotina da Administração Pública. Nesse caso, o administrador não está
obrigado a solicitar a apreciação do órgão jurídico. Caso peça parecer à consultoria jurídica, o administrador não está vinculado
ao parecer, podendo decidir de forma diversa, desde que motivadamente. Nesse contexto, é de fácil conclusão que o
administrador não divide qualquer responsabilidade com o administrador, ainda que sua opinião tenha sido acatada e causado
danos ao Erário. Prevalece o sentido de que o ato administrativo não é o parecer.
Parecer obrigatório: é aquele que a lei exige como necessário para a perfeição do ato/procedimento administrativo. Como
exemplo, temos o parecer da Lei 8666/96, segundo a qual as minutas de editais de licitação devem ser previamente examinadas
e aprovadas por assessoria jurídica. O fato de o parecer ser obrigatório, não o torna vinculante. Nesse ponto, o STJ entende que
é claro o sentido de que o administrador tem liberdade para emitir o ato ainda que com parecer contrário da sua consultoria
jurídica. Em outro norte, não será possível modificar o ato na forma em que foi submetido à apreciação do órgão jurídico, salvo
se solicitar novo parecer, tendo em vista o seu caráter obrigatório. Qualquer alteração no ato, deve ser previamente analisada
pela consultoria jurídica. Nesse caso, é de fácil constatação que o parecerista não divide responsabilidade do ato com o
administrador.
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25/01/2018 parecer « AGU PFN
Parecer vinculante: quando a lei estabelece a obrigação de decidir à luz dele e nos seus termos. A manifestação da consultoria
jurídica integrará o ato, caso ele venha a ser editado pela Administração. Ao administrador só restam duas opções: ou ele decide
nos exatos termos do parecer, ou não decide. A manifestação jurídica, nesses casos, não é meramente opinativa. Ela tem cunho
decisivo e vincula o entendimento do administrador. É de simples percepção o fato de que o parecerista divide com o
administrador a responsabilidade pela edição do ato.
Registre-se, por fim, que a imunidade do procurador no parecer opinativo (dois primeiros casos) não pode ser
vista com viés absoluto. Em havendo conduta culposa ou dolosa do advogado público, nexo causal entre o
parecer exarado e o dano ao erário, é possível responsabiliza-lo, sem prejuízo das sanções penais e
administrativa cabíveis, dada a independência de instâncias.
Ainda sobre esse assunto, sob um outro prisma, cumpre-me salientar que o STJ já entendeu possível que o
parecerista figure no polo passivo de ação de improbidade administrativa. Vejam:
4. Todavia, no caso concreto, a moldura fática fornecida pela instância ordinária é no sentido de que
o recorrido atuou estritamente dentro dos limites da prerrogativa funcional. Segundo o Tribunal de
origem, no presente caso, não há dolo ou culpa grave. (…) (REsp 1183504/DF, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/05/2010, DJe 17/06/2010)
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