You are on page 1of 124

Laboratório Nacional de Computação Científica

Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional

Modelagem Multiescala de Reservatórios Não


Convencionais de Gás Contendo Redes de
Fraturas Naturais e Hidráulicas

Aline Cristina da Rocha

Petrópolis, RJ - Brasil
Abril de 2017
Aline Cristina da Rocha

Modelagem Multiescala de Reservatórios Não


Convencionais de Gás Contendo Redes de Fraturas
Naturais e Hidráulicas

Tese submetida ao corpo docente do Labo-


ratório Nacional de Computação Científica
como parte dos requisitos necessários para a
obtenção do grau de Doutor em Ciências em
Modelagem Computacional.

Laboratório Nacional de Computação Científica


Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional

Orientador: Marcio Arab Murad


Coorientadores: Eduardo Lúcio Mendes Garcia e Adolfo Puime Pires

Petrópolis, RJ - Brasil
Abril de 2017
Rocha, Aline Cristina da
Modelagem Multiescala de Reservatórios Não Convencionais de Gás Contendo
Redes de Fraturas Naturais e Hidráulicas / Aline Cristina da Rocha. – Petrópolis, RJ
R672m - Brasil: Laboratório Nacional de Computação Científica, Abril de 2017.
123 p. : il. ; 29cm.

Orientador: Marcio Arab Murad, Coorientadores: Eduardo Lúcio Mendes Garcia e


Adolfo Puime Pires

Tese (D.Sc.) – Laboratório Nacional de Computação Científica


Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional, Abril de 2017.
1. Reservatórios de gás. 2. Modelagem multiescala. 2. Termodinâmica de gases
confinados. I. Murad, Marcio Arab. II. Garcia, Eduardo Lúcio Mendes. III. Pires, Adolfo
Puime. IV. MCTIC/LNCC. V. Título

CDD: 627.86
Aline Cristina da Rocha

Modelagem Multiescala de Reservatórios Não


Convencionais de Gás Contendo Redes de Fraturas
Naturais e Hidráulicas

Tese submetida ao corpo docente do Labo-


ratório Nacional de Computação Científica
como parte dos requisitos necessários para a
obtenção do grau de Doutor em Ciências em
Modelagem Computacional.

Aprovada por:

Prof. Marcio Arab Murad, Ph.D.


(Presidente)

Prof. Álvaro Marcello M. Peres, Ph.D.

Prof. Claude Boutin, D.Sc.

Prof. Frédéric G. C. Valentin, Ph.D

Prof. João Nisan C. Guerreiro, D.Sc.

Petrópolis, RJ - Brasil
Abril de 2017
Dedicatória
Para meu querido tio,
Marcos Rogério da Silva.
Agradecimentos

Durante o período de desenvolvimento deste trabalho de tese de doutorado tive o


privilégio de poder contar com a ajuda de pessoas essenciais para a conclusão do mesmo.
Gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos ao meu orientador, Márcio,
pelo conhecimento transmitido, paciência e motivação. Admiro muito sua generosidade,
dedicação e total comprometimento com a pesquisa que desenvolvemos. Fico extremamente
motivada quando vejo seus olhos brilharem de entusiamo diante de novos desafios a serem
alcançados.
Agradeço também meus coorientadores, Eduardo e Adolfo, pela disponibilidade e
oportunidade de trabalharmos juntos. O conhecimento adquirido com vocês foi de extrema
importância tanto para a minha formação quanto para o desenvolvimento da tese.
Ao longo do meu doutorado tive a oportunidade de compartilhar com meus colegas
do LNCC momentos bons, momentos de descontração, momentos em que trocamos
conhecimento e também momentos de angústia. Por todos estes gostaria de expressar
minha gratidão às minhas amigas Renatha B. dos Santos, Jaqueline S. Ângelo e Patrícia
de A. Pereira. Meu agradecimento também ao povo do café pelos momentos prazerosos e
descontraídos.
Deixo registrado ainda meus agradecimentos aos meus pais, Expedito e Izabel,
e meu irmão, Bruno. Vocês três formam meu porto seguro. Obrigada pelo total apoio,
palavras de motivação e pelos momentos maravilhosos que compartilhamos juntos!
Por fim, mas não menos importante, sou grata aos professores do LNCC que
contribuíram na minha formação, às secretárias Ana Neri e Roberta, que brilhantemente
nos ajudam no dia a dia como alunos, e ao CNPq pelo suporte financeiro.
“O otimista é um tolo.
O pessimista, um chato.
Bom mesmo é ser um realista esperançoso.”
(Ariano Suassuna)

“Nothing in life is to be feared,


it is only to be understood.
Now is the time to understand more,
so that we may fear less.”
(Marie Curie)
Resumo
Neste trabalho propomos um novo modelo computacional multiescala para descrever o
transporte de gases em reservatórios não convencionais (shale gas) com distintos níveis de
fraturas (naturais e hidráulicas). Tais reservatórios apresentam características bastante
peculiares que tornam a descrição acurada dos fenômenos físicos envolvidos uma tarefa
árdua. Dentre estas características podemos ressaltar a baixíssima permeabilidade (da
ordem de nanodarcys) e os múltiplos níveis de porosidade associados às múltiplas escalas
envolvidas. No presente trabalho a modelagem multiescala do transporte do gás metano
é construída fazendo uso do processo formal de homogeneização. O modelo considera o
reservatório descrito por quatro escalas espaciais distintas. A escala mais fina, nanoscópica,
é associada aos nanoporos na matéria orgânica (querogênio) onde o gás encontra-se
adsorvido. Para descrever precisamente a adsorção do gás no querogênio fazemos uso da
Termodinâmica de Gases Confinados. Mais precisamente, as isotermas de adsorção do
gás nos nanoporos são construídas fazendo uso da Density Functional Theory (DFT).
Através do processo de homogeneização é realizado o upscaling para a escala intermediária
(microscópica). A janela observacional associada a esta escala consiste dos agregados de
querogênio juntamente com a matéria inorgânica (considerada impermeável) e rede de
microporos que podem exibir tamanhos entre 10−4 a 10−9 metros. Consideramos estes,
por sua vez, parcialmente saturados preenchidos por uma fase gás livre em equilíbrio
termodinâmico local com o gás dissolvido na fase aquosa. O modelo considera a água
estagnada com a equação de difusão fickiana do gás dissolvido acoplada ao escoamento
do gás livre. Na mesoescala a matriz do folhelho (na qual microporos, agregados de
querogênio e matéria inorgânica são tratados como um meio contínuo homogeneizado) é
permeada por uma rede de fraturas naturais que exibem caminhos preferenciais para o
movimento do gás. O processo do upscaling deste sistema acoplado de equações diferenciais
parciais dá origem a um modelo macroscópico de porosidade dupla no sentido de Arbogast e
colaboradores (ARBOGAST; DOUGLAS JR.; HORNUNG, 1990). Neste contexto, a matriz
atua como uma fonte de massa distribuída microestruturalmente no balanço de massa que
descreve o movimento do gás na rede de fraturas naturais. Finalmente estabelecemos o
acoplamento entre as hidrodinâmicas nas redes de fraturas naturais e hidráulicas, onde
ocorre o escoamento monofásico do gás livre. Tal acoplamento é realizado via técnica de
redução de dimensão onde as fraturas hidráulicas são tratadas como objetos geológicos de
dimensão reduzida (n − 1), n = 2, 3. O modelo resultante é composto por três equações
diferenciais parciais não lineares acopladas que governam a hidrodinâmica do gás na
matriz e redes de fraturas naturais e hidráulicas. Com o intuito de desacoplar o sistema
procedemos no contexto proposto por Arbogast (ARBOGAST, 1997) que consiste em
utilizar uma decomposição das variáveis resultando em subsistemas independentes a serem
resolvidos numericamente. Esta escolha permite que o sistema supracitado seja resolvido
de forma sequencial evitando a necessidade de iterações adicionais entre os subsistemas.
Na discretização espacial adotamos o método de elementos finitos com a introdução de
submalhas para tratar o transporte do gás na matriz e assim efetuar de forma precisa o
cálculo do termo de fonte na equação da pressão do gás na rede de fraturas naturais. O
modelo discreto é utilizado para o cômputo da produção de gás bem como para simular
testes transientes de pressão em poços. Resultados numéricos promissores são obtidos os
quais podem ser empregados para aprimorar a descrição dos fenômenos envolvidos e dar
origem a novas curvas de diagnóstico para caracterização de propriedades de reservatórios
não convencionais.

Palavras-chave: gás de xisto, modelagem multiescala, homogeneização, porosidade dupla,


fraturas naturais e hidráulicas, modelagem discreta de fraturas, termodinâmica de gases
confinados, decomposição de operadores, elementos finitos.
Abstract
In this work we construct a new multiscale computational model to describe the flow of
gases in unconventional reservoirs (shale gas) containing distinct levels of fractures (natural
and hydraulic). Such reservoirs exhibit peculiar characteristics that make an accurate
description of the physical phenomenon involved a hard task. Among the characteristics
we can highlight the low permeability (order of nanodarcys) and the multiple levels
of porosity related to the multiple scales involved. In the present work the multiscale
modeling of the gas flow is built with the formal homogenization procedure. The geological
formation is characterized by four distinct length scales. The finest one, the nanoscopic,
is related to the nanopores in the organic matter (kerogen) where gas is adsorbed. In
order to accurately describe the gas adsorption in kerogen we pursue in the context of the
Thermodynamics of Inhomogeneous Fluids. More precisely, the isotherms that describe the
gas adsorption in nanopores are built based on the Density Functional Theory (DFT). The
upscaling to the microscale is reached through the homogenization procedure. The window
of observation related to this scale is composed of kerogen aggregates and inorganic matter
(clay, quartz, calcite). Such phases are separated by the network of interparticle pores
exibting characteristic length between 10−4 and 10−9 meters. The micropores are partially-
saturated, filled with a free gas phase in thermodynamic equilibrium with the dissolved
gas in the aqueous phase. The model considers immobile water phase with the equation of
fickian diffusion of the dissolved gas coupled to the Darcyan flow of the free gas. At the
mesoscale the shale matrix (where interparticle pores, kerogen aggregates and inorganic
matter are envisioned as an homogenized media) is intertwined by the network of natural
fractures exhibiting preferred paths for the flow of gas. The upscaling of this coupled
system of partial differential equations gives rise to a macroscopic model of double porosity
in the sense of Arbogast and coworkers (ARBOGAST; DOUGLAS JR.; HORNUNG, 1990).
Within this context the shale matrix behaves as a microstructural distributed mass source
term in the mass balance equation that describes the gas movement in the homogenized
network of natural fractures. Finally we establish the coupling between the hydrodynamics
in the networks of natural and hydraulic fractures, where single phase gas flow takes place.
Such coupling is accomplished by reduced dimension techniques where induced fractures are
treated as (n − 1), (n = 2, 3) lower dimensional geological objects. The resulting model is
composed of three partial differential nonlinear equations governing the gas hydrodynamics
in the shale matrix and networks of natural and hydraulic fractures. In order to decouple
the system we proceed within the context proposed by Arbogast (ARBOGAST, 1997)
which adopts a variable decomposition leading to the numerical solution of independent
subsystems. This strategy allows the solution of the system mentioned above to be made
in a sequential form avoiding additional iterations between the subsystems. The resultant
governing equations are discretized by the finite element method with the introduction of
submeshes to threat the gas transport in shale matrix and compute the source term in
the pressure equation of the natural fractures network. The discretized model is used to
simulate gas production as well as transient well tests. Promising numerical results are
obtained which can be used to improve the description of the involved phenomena giving
rise to new diagnostic curves to the characterization of unconventional reservoirs.

Keywords: shale gas, multiscale modeling, homogenization, double porosity, natural and
hydraulic fractures, discrete fracture modeling, thermodynamics of inhomogeneous fluids,
operator decomposition, finite element method.
Lista de figuras

Figura 1 – Ilustração de uma seção geológica dos reservatórios ditos convencionais e


não convencionais. Adaptado de U.S Energy Information Administration. 22
Figura 2 – Faixa dos valores de permeabilidade características de reservatórios
convencionais e não convencionais (KING, 2012). . . . . . . . . . . . . 22
Figura 3 – Rede de fraturas naturais na superfície de uma amostra do afloramento
de gás de folhelho na formação Longmaxi, China. Adaptado de (ZHANG;
LI; HE, 2016). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 4 – Representação dos diferentes domínios presentes em reservatórios de
gases em folhelhos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 5 – Esboço das diferentes escalas abordadas no modelo proposto. . . . . . . 30
Figura 6 – Células representativas dos domínios micro (à esquerda) e mesoscópico. 31
Figura 7 – Ilustração da adsorção em multicamada e monocamada para poros com
geometria de placas planas paralelas.(a) Multicamada; (b) monocamada
(Langmuir). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Figura 8 – Ilustração de diferentes tipos de escoamento por difusão em poros: (a)
molecular; (b) Knudsen e (c) superfície (ZIARANI; AGUILERA, 2012). 37
Figura 9 – Representação da célula mesoscópica (ε = 1) e reconstrução do domínio
macroscópico no limite assintótico ε → 0. . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 10 – Representação do domínio macroscópico com uma geometria estratifi-
cada para a célula mesoscópica. A matriz intacta (ΩS ) representa o meio
mesoscópico homogeneizado e tem mesoestrutura associada à matriz do
folhelho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Figura 11 – Redução de dimensão da fratura hidráulica no caso particular em que a
mesma é bidimensional. (a) fratura 2D; (b) fratura tratada como uma
interface após o processo de média. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Figura 12 – Ilustração dos acoplamentos entre os subsistemas do modelo multiescala. 48
Figura 13 – Fator de compressibilidade do gás metano parametrizado pela tempera-
tura obtido com a equação de estado de Van der Waals. . . . . . . . . 51
Figura 14 – Coeficiente de fugacidade do gás metano parametrizado pela temperatura. 52
Figura 15 – Comparação entre os comportamentos do gás na Termodinâmica Clás-
sica e na Termodinâmica de Gases Confinados em nanoporos. . . . . . 53
Figura 16 – Representação do equilíbrio local governado pela igualdade entre os
potenciais químicos do gás confinado e do gás bulk. . . . . . . . . . . . 54
Figura 17 – Potenciais de Lennard-Jones em unidade de temperatura. (a) Detalhe
do potencial φ(r) sinalizando os parâmetros σf f e εf f ; (b) comparação
entre os potenciais φ(r) e V (r). Perfis computados com os parâmetros
da Tabela 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Figura 18 – Perfis da densidade do gás entre duas placas planas paralelas de quero-
gênio, ρb ∗ d3 = 0.5. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Figura 19 – Isotermas de adsorção do gás parametrizadas pela distância entre as
partículas de querogênio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Figura 20 – Coeficiente de partição parametrizado pela distância entre as partículas
de querogênio H para temperatura T = 323. . . . . . . . . . . . . . . . 59
Figura 21 – Dependência do coeficiente de retardamento com a pressão parame-
trizado por (a) TOC; (b) porosidade nanoscópica; (c) saturação da
água. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Figura 22 – Representação da microestrutura da matriz utilizada na aproximação
auto-coerente. Meio granular formado por esferas concêntricas represen-
tando as fases sólidas e fluida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Figura 23 – Condutividade hidráulica efetiva da matriz mesoscópica parametrizado
por (a) tamanho característico dos poros; (b) saturação da água. . . . . 62
Figura 24 – Representação da célula mesoscópica no caso particular de geometria
estratificada. As fraturas naturais têm abertura wf e a matriz wb . . . . 62
Figura 25 – Dependência da permeabilidade hidráulica efetiva da rede de fraturas
naturais com a abertura wf parametrizada pela largura do bloco e
kf = 1 × 10−15 m2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Figura 26 – Fluxograma comparando os algoritmos de desacoplamento (a) implícito
e (b) sequencial. Ambos com iterações de Picard para tratar das não
linearidades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Figura 27 – Fluxograma com a descrição das etapas do algoritmo evolutivo adotado. 68
Figura 28 – Representação dos domínios e suas interfaces. . . . . . . . . . . . . . . 72
Figura 29 – Esboço do reservatório de gás em folhelho idealizado para um arranjo
particular de rede de fraturas naturais e fratura hidráulica. . . . . . . . 73
Figura 30 – Ilustração da área de contato entre a fratura hidráulica e o poço para o
cálculo da produção de gás no reservatório. . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Figura 31 – Evolução da curva da pressão na fratura hidráulica parametrizada pela
fração de volume das fraturas naturais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Figura 32 – Perfis da pressão na rede de fraturas naturais no instante de tempo
t = 1 mês. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Figura 33 – Evolução no tempo do fator de recuperação parametrizado pela fração
de volume das fraturas naturais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Figura 34 – Evolução da curva da pressão na fratura hidráulica parametrizada pela
permeabilidade intrínseca das fraturas naturais. . . . . . . . . . . . . . 79
Figura 35 – Perfis da pressão na rede de fraturas naturais (Pf ) parametrizados pela
permeabilidade intrínseca das fraturas naturais. Resultados computados
nos instantes de tempo (a) t = 1 mês e (b) t = 1 ano para kf = 1 × 10−17
m2 e (c) t = 1 mês e (d) t = 1 ano para kf = 1 × 10−14 m2 . . . . . . . . 80
Figura 36 – Perfis das pressões Pb para alguns blocos da matriz do folhelho em
três faixas paralelas ao poço computadas no instante de tempo t = 1
mês para dois valores de permeabilidade das fraturas naturais: (a)
kf = 1 × 10−17 m2 ; (b) kf = 1 × 10−14 m2 . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Figura 37 – Evolução da curva do fator de recuperação parametrizado pela permea-
bilidade intrínseca das fraturas naturais. . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Figura 38 – Evolução da curva do fator de recuperação parametrizado pelo TOC. . 82
Figura 39 – Evolução da curva do fator de recuperação parametrizado por wb . . . . 82
Figura 40 – Esboço do reservatório idealizado para o modelo reduzido (ausência da
rede de fraturas naturais). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Figura 41 – Evolução da pressão na fratura hidráulica ao longo do tempo computada
com os dois modelos. (a) Modelo proposto e (b) reduzido (ausência de
fraturas naturais). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Figura 42 – Perfis da componente normal do fluxo para as fraturas hidráulicas no
instante de tempo t = 1 mês. (a) Modelo proposto (J f ); (b) modelo
reduzido (J b ). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Figura 43 – Perfis da componente normal do fluxo para as fraturas hidráulicas no
instante de tempo t = 1 ano. (a) Modelo proposto (J f ); (b) modelo
reduzido (J b ). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Figura 44 – Evolução da curva do fator de recuperação computada pelos modelos
reduzido (sem fraturas naturais) e proposto. . . . . . . . . . . . . . . . 85
Figura 45 – Representação do domínio idealizado no caso de poço horizontal. . . . 86
Figura 46 – Seções transversais dos planos (a) x-y e (b) y-z para o reservatório com
poço horizontal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Figura 47 – Fratura hidráulica bidimensional. (a) Pressão ao longo da fratura hi-
dráulica computado no instante de tempo t = 10 anos; (b) detalhe da
malha de elementos finitos na interface da fratura hidráulica com o poço. 87
Figura 48 – Evolução da curva do fator de recuperação computada pelos modelos
com fratura hidráulica 1D e 2D. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Figura 49 – Ilustração do teste de fluxo no qual o reservatório inicialmente em
repouso é colocado para produzir a uma vazão constante enquanto a
variação da pressão no fundo do poço é registrada ao longo do tempo. . 88
Figura 50 – Regimes de fluxo para um poço vertical produzindo a vazão constante.
(a) Regime linear na fratura hidráulica; (b) regime bilinear: linear na
fratura hidráulica e na matriz. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Figura 51 – Gráficos comumente utilizados na interpretação dos testes de poço.
(a) Usado para identificar um determinado regime de fluxo (∆p =
p(t) − p(t0 )); (b) usado para computar a inclinação da reta ajustada
que é então usada para estimar parâmetros do reservatório. . . . . . . 90
Figura 52 – Esboço do reservatório de gás em folhelho idealizado para um arranjo
particular de rede de fraturas naturais e fratura hidráulica. . . . . . . . 92
Figura 53 – Evolução dos perfis de mwD e dmwD /dlntD ao longo do tempo. (a)
Comparação soluções analítica e numérica; (b) inclinações da curva da
derivada referentes aos regimes linear (1/2), bilinear (1/4) e pseudo-
permanente (1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Figura 54 – Evolução dos perfis de mwD e dmwD /dlntD ao longo do tempo. (a) Com-
paração entre os perfis obtidos com o modelo proposto (com dois níveis
de fratura) e o modelo reduzido (matriz homogênea); (b) Caracterização
dos regimes de fluxo exibidos pelo modelo proposto. . . . . . . . . . . 96
Figura 55 – Evolução dos perfis de mwD e dmwD /dlntD ao longo do tempo parame-
trizada pela fração de volume das fraturas naturais ϕf . . . . . . . . . . 97
Figura 56 – Evolução dos perfis de mwD e dmwD /dlntD ao longo do tempo pa-
rametrizadas pela permeabilidade intrínseca das fraturas naturais kf .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
Figura 57 – Ilustração da divisão de tarefas entre os numProc processos. . . . . . . 122
Figura 58 – Ilustração da divisão de tarefas para cada processo entre os threads. . . 123
Figura 59 – Gráficos dos tempos de execução variando com o número de threads do
algoritmo paralelizado parametrizado pelo número de processos. . . . . 123
Lista de tabelas

Tabela 1 – Regimes de escoamento classificados de acordo com o número de Kndsen


(ZIARANI; AGUILERA, 2012). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Tabela 2 – Valores dos parâmetros utilizados nas simulações da DFT. . . . . . . . 57
Tabela 3 – Valores dos parâmetros utilizados nas simulações de reconstrução nu-
mérica do coeficiente de retardamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Tabela 4 – Valores dos parâmetros utilizados nas simulações de produção de gás. . 76
Tabela 5 – Valores de Lf computados para conjuntos de dados diferentes dos
listados na Tabela 4. Os parâmetros alterados e seus respectivos valores
utilizados no cálculo do novo Lf são mostrados na primeira coluna. . . 76
Tabela 6 – Valores dos parâmetros utilizados nas simulações de teste de poço. . . 93
Lista de símbolos

ΩM Domínio macroscópico
ΓM Contorno do domínio ΩM
ΩF Domínio ocupado pelo sistema de fraturas hidráulicas (ΩF ⊂ ΩM )
ΩS Domínio macroscópico ocupado pelo meio matriz/rede de fraturas natu-
rais homogeneizado (ΩS ⊂ ΩM )
γ Interseção das fronteiras ∂ΩS e ∂ΩF
Ωs Domínio ocupado pela matriz na escala mesoscópica
Ωf Domínio ocupado pela rede de fraturas naturais (escala mesoscópica)
Γsf Interface fratura natural/matriz
Γw Interface fratura hidráulica/poço de produção
nsf Vetor normal unitário exterior à Ωf
nF Vetor normal unitário exterior à ΩF
Yε Domínio ocupado pela célula mesoscópica
Ysε Subdomínio ocupado pela matriz em Y ε
Yfε Subdomínio ocupado pela rede de fraturas naturais em Y ε
Y Célula mesoscópica de referência
Ys Subdomínio ocupado pela matriz em Y
Yf Subdomínio ocupado pela rede de fraturas naturais em Y
∂Ysf Interface fratura natural/matriz na célula de referência
dF Abertura da fratura hidráulica
λ Caminho médio percorrido por uma molécula de gás entre colisões
Dl (Sw ) Coeficiente de difusão médio do gás dissolvido na água
D ef f Coeficiente de difusão efetivo da matriz
D Coeficiente de difusão da mistura água e metano
γ(Pb ) Coeficiente de fugacidade
G Coeficiente de partição
α Coeficiente de rarefação
R(Pb ) Coeficiente de retardamento
J F,n Componente normal do fluxo mássico
J F,τ Componente tangencial do fluxo mássico
kF,τ Componente tangencial da permeabilidade da fratura hidráulica
l Comprimento característico da escala mesoscópica
L Comprimento característico da escala macroscópica
Λ Comprimento de onda de De Broglie
Lf Comprimento da fratura natural
wb Comprimento do bloco ocupado pela matriz do folhelho
Rg Constante universal dos gases
m Conteúdo de massa do gás na escala mesoscópica
Cd Concentração de gás dissolvido na água
Kf Condutividade hidráulica das fraturas naturais
bef f (K b )
K ef Condutividade hidráulica efetiva da matriz
f

Kf Condutividade hidráulica efetiva do domínio ΩS


kB Constante de Boltzmann
H∗ Constante de Henry
x Coordenada espacial na escala macroscópica
y Coordenada espacial na escala mesoscópica
ρL Densidade da água
ρb Densidade do gás livre
ρf Densidade do gás nas fraturas naturais
ρF Densidade do gás no sistema de fraturas hidráulicas
ρa Densidade microscópica do gás adsorvido
ρI Densidade da matéria inorgânica
ρK Densidade das partículas de querogênio
∇x Derivada tomada com respeito a variável macroscópica x
∇y Derivada tomada com respeito a variável mesoscópica y
d Diâmetro da molécula de metano
∆m Diferença entre o conteúdo de inicial e final no reservatório
H Distância entre duas partículas sólidas de querogênio
F [ρ] Energia livre de Helmholtz
F ex [ρ] Energia livre de excesso
Z(P ) Fator de compressibilidade
fc Fator de correção de Knudsen
Jf Fluxo mássico de gás nas fraturas naturais
Jd Fluxo mássico de gás dissolvido
Jb Fluxo mássico de gás na matriz
JF Fluxo mássico de gás no sistema de fraturas hidráulicas
JMF,τ Fluxo mássico médio na direção tangente à fratura hidráulica
χ Fração mássica do metano na fase aquosa
ϕf Fração de volume das fraturas naturais
ϕI Fração de volume da matéria inorgânica
ϕK Fração de volume dos agregados de querogênio
ϕP Fração de volume da rede de microporos
fb Fugacidade do gás livre
fd Fugacidade do gás dissolvido
H(Pb ) Função de Henry
h(y) Função característica
ΓL Massa de gás adsorvido por unidade de área da fase sólida
MCH4 Massa do metano dissolvido na fase aquosa
MT Massa molar da mistura água e metano
Mm Massa molar do metano
MK Massa dos agregados de querogênio
MI Massa da matéria inorgânica
h Metade da espessura da fratura hidráulica
xF Metade do comprimento da fratura hidráulica
NA Número de Avogadro
Kn Número de Knusen
Γmax Número de sítios disponíveis para adsorção
h·iα Operador de média intrínseca sobre a célula mesoscópica
h·i Operador média sobre a célula mesoscópica
h·in Operador média na direção normal à fratura hidráulica
∇n Operador divergente na direção tangencial à fratura hidráulica
ε Parâmetro de perturbação no método de homogeneização
∆t Passo de tempo
kf Permeabilidade absoluta das fraturas naturais
kF Permeabilidade absoluta da fratura hidráulica
kb Permeabilidade aparente da matriz
k∞ Permeabilidade intrínseca da matriz
kr (Sw ) Permeabilidade relativa da fase gás
φN Porosidade dos nanoporos nos agregados de querogênio
φf Porosidade das fraturas naturais
φ∗f Porosidade macroscópica do domínio ΩS
φF Porosidade das fraturas hidráulicas
φ(r) Potencial de iteração atrativo fluido-fluido
V (r) Potencial exterior
Ω[ρ] Potencial grand canônico
Pb0 Pressão inicial na matriz
Pf 0 Pressão inicial na rede de fraturas naturais
PF 0 Pressão inicial no sistema de fraturas hidráulicas
PL Pressão de Langmuir
PS Pressão de saturação da água
Pb Pressão do gás livre
Pf Pressão nas fraturas naturais
PF Pressão no sistema de fraturas hidráulicas
Pw Pressão no poço de produção
∆M Quantidade total de gás recuperável
rw Raio do poço horizontal
lp Tamanho característico dos microporos
T Temperatura
I Tensor identidade de segunda ordem
TOC Total organic carbon
T (ϕP ) Tortuosidade da rede de microporos
Tw Tortuosidade dos poros na água
V df Velocidade de Darcy nas fraturas naturais
V d,τ Velocidade de Darcy bidimensional na fratura hidráulica
µg Viscosidade do gás
v∞ Volume parcial molar de metano na fase líquida
VL Volume ocupado pela água nos microporos
|Yα | Volume ocupado pela fase α na célula de referência
|YT | Volume total da célula de referência
Sw Saturação da água
Sw∗ Saturação limite da água na definição de fc
Se Saturação efetiva
Swr Saturação residual da água
Sgr Saturação residual do gás
Sumário

1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2 Modelo Multiescala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.1 Hidrodinânmica na Matriz do Folhelho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.2 Acoplamento Hidrodinâmico Matriz/Fraturas Naturais . . . . . . . . . . . 38
2.2.1 Homogeneização para a Escala Macroscópica . . . . . . . . . . . . . 39
2.3 Acoplamento Entre o Modelo Homogeneizado e a Hidrodinâmica na Rede
de Fraturas Hidráulicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.3.1 Hidrodinâmica nas Fraturas Hidráulicas . . . . . . . . . . . . . . . 46
2.4 Resumo do Modelo Multiescala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.5 Modelo Reduzido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3 Reconstrução Numérica dos Coeficientes Efetivos . . . . . . . . . . . . . . 51
3.1 Parâmetros Efetivos da Rocha Intacta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.1.1 Termodinâmica dos Gases Confinados . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.1.2 Coeficiente de Retardamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
3.1.3 Condutividade Efetiva da Matriz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.2 Parâmetros Efetivos da Rede de Fraturas Naturais . . . . . . . . . . . . . . 61
4 Algoritmo de Evolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
5 Discretização do Modelo Multiescala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.1 Cômputo das Funções Características na Matriz do Folhelho . . . . . . . . 69
5.2 Hidrodinâmica na Rede de Fraturas Naturais . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.3 Hidrodinâmica na Rede de Fraturas Hidráulicas . . . . . . . . . . . . . . . 71
6 Simulações Numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
6.1 Sensibilidade do Modelo Multiescala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
6.2 Influência da Rede de Fraturas Naturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
6.3 Poço Horizontal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
7 Testes de Pressão em Poços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
7.1 Simulações Numéricas do Modelo Reduzido . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
7.2 Caracterização dos Regimes de Fluxo Derivados a Partir do Modelo Proposto 95
7.3 Sensibilidade da Pseudo-Pressão com Parâmetros do Modelo . . . . . . . . 95
8 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
Apêndices 107
APÊNDICE A Density Fuctional Theory . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
A.1 Isoterma de Langmuir . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
APÊNDICE B Reescrevendo R(Pb ) em Função do TOC . . . . . . . . . . . . 112
APÊNDICE C Solução Analítica Para o Modelo Reduzido . . . . . . . . . . . 114
C.1 Equação na Matriz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
C.2 Equação na Fratura Hidráulica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
APÊNDICE D Algoritmo Paralelizado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
D.1 Algoritmo Sequencial Discreto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
D.2 Paralelização do Algoritmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
D.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
21

1 Introdução

A demanda contínua por energia e a dependência energética externa de alguns países


são uns dos principais fatores responsáveis pelo arranjo econômico global. Nos últimos 10
anos o despertar para a exploração de gases em reservatórios ditos não convencionais vem
causando mudanças significativas no cenário geopolítico mundial. Até então a exploração
destes gases não era atrativa e rentável. Entretanto, com o aumento da demanda e
com o desenvolvimento de técnicas mais sofisticadas de produção a extração do gás em
formações não convencionais tem tornado a exploração de hidrocarbonetos nesta classe de
formações geológicas uma alternativa energética economicamente viável. Reservas de gases
em folhelhos (shale-gas) são encontradas em abundância em diversos países tais como
Estados Unidos e Canadá, onde já existe a produção do gás em escala comercial, China,
Argentina, África do Sul, Polônia, França, Paquistão, Austrália, entre outros. No Brasil
também encontramos reservas consideráveis nas bacias sedimentares do Paraná, Amazonas
e Parnaíba.
O gás encontrado nos reservatórios não convencionais é física e quimicamente o
mesmo gás extraído dos reservatórios convencionais e tem a mesma origem dos hidrocar-
bonetos sendo formado em rochas sedimentares chamadas de rochas geradoras (REZAEE,
2015). Tais formações são ricas em matéria orgânica, também conhecida como querogênio.
Com o passar de anos geológicos (milhões ou bilhões de anos) esta camada de matéria
orgânica foi sendo encoberta por outras camadas e sob o efeito combinado de pressão e
temperatura os sedimentos se transformaram em rochas com estrutura compacta e foliar
enquanto que a matéria orgânica nelas contida se transformou em hidrocarbonetos devido
ao processo de diagêneses. Sendo a rocha geradora permeável, o gás e os outros hidrocar-
bonetos migraram da rocha, através dos poros e fissuras, em direção à superfície, uma
vez que os hidrocarbonetos são menos densos do que a água, frequentemente encontrada
no subsolo. Alguns chegaram a atingir a superfície, porém outros permaneceram retidos
em barreiras impermeáveis durante a migração. Com o tempo ocorreu um acúmulo de
hidrocarbonetos na vizinhança de tais barreiras impermeáveis, dando origem aos reservató-
rios convencionais de petróleo e/ou gás. Desta forma, para que tais reservatórios existam
é necessário que a rocha geradora seja suficientemente permeável de modo a permitir
que o petróleo seja expulso. Por outro lado, se a rocha geradora apresenta baixíssima
permeabilidade, da ordem de nanodarcys, o gás permanece aprisionado nos poros da mesma
ou adsorvido na matéria orgânica. Assim, a rocha geradora torna-se rica em gás, mas sua
baixa permeabilidade impede que o mesmo seja extraído pelas técnicas convencionais. Tal
peculiaridade geológica dá origem à terminologia de reservatório de gases em folhelhos não
convencionais. A diferença entre reservatórios convencionais e não convencionais em uma
Capítulo 1. Introdução 22

seção geológica é ilustrada na Figura 1 bem como outras formações geológicas também
ditas não convencionais tais como os reservatórios de gases confinados (tight gas) e os
reservatórios de metano em camadas de carvão (coalbed methane). A Figura 2 apresenta as
faixas de permeabilidade características dos reservatórios convencionais, de gás confinado e
não convencionais. A exploração de gás natural a partir de reservatórios não convencionais,
tais como reservatórios de gases em folhelhos, tight gas e coalbed methane representa um
grande desafio científico e tecnológico para obtenção de fontes alternativas de energia e
por isso tem despertado interesse significativo.

Figura 1 – Ilustração de uma seção geológica dos reservatórios ditos convencionais e não
convencionais. Adaptado de U.S Energy Information Administration.

necessidade do fraturamento hidráulico para produzir


gás
de
folhelho argila concreto tijolo

1 nanodarcy 1 microdarcy 1 milidarcy 1 darcy

permeabilidade

Figura 2 – Faixa dos valores de permeabilidade características de reservatórios convencio-


nais e não convencionais (KING, 2012).

O objeto de estudo do presente trabalho são os reservatórios de gases em folhelhos.


Inseridos na classe de geomateriais tais reservatórios são de grande importância e exibem
resposta macroscópica fortemente correlacionada com a microestrutura de natureza alta-
mente complexa, tendo como características sua baixíssima permeabilidade e múltiplos
níveis de porosidade. A matriz do folhelho é formada por inclusões de agregados orgânicos
Capítulo 1. Introdução 23

e matéria inorgânica (argila, quartzo) (AKKUTLU; EFENDIEV; SAVATOROVA, 2015).


Por sua vez, cada inclusão de agregado orgânico é também porosa com poros de tamanho
característico da ordem de nanômetros. As fases sólidas são interceptadas por uma rede de
microporos de tamanho variável que fornece o caminho para o escoamento microscópico do
gás (CLARKSON et al., 2012). Além disso, a matriz do folhelho é geralmente permeada
por uma rede conectada de fraturas criadas por processos naturais tais como deformação
ou diagênese. Nos casos em que as fraturas preexistentes são conectadas estas passam
a desempenhar um papel importante no escoamento do fluido em direção ao poço de
produção dando origem à terminologia de reservatórios naturalmente fraturados (NELSON,
2001). A Figura 3 mostra uma rede de fraturas naturais em um afloramento de gás em
folhelho na China. O sistema de fraturas preexistentes nos folhelhos desempenha papel
de caminhos preferenciais para o escoamento de gases em reservatórios com matriz com
baixa permeabilidade (GALE; REED; HOLDER, 2007; GALE et al., 2014). Segundo
(CURTIS, 2002), a produção comercial em reservatórios não estimulados hidraulicamente
só foi possível em uma pequena porcentagem de reservatórios de gases em folhelhos (< 10
%), caracterizados pela presença da rede de fraturas naturais. Assim, para que o sistema
de fraturas preexistentes contribua para o aumento da permeabilidade do meio é necessário
que tais fraturas exibam alta permeabilidade e estejam conectadas com o sistema de
fraturas hidráulicas (KING, 2010). Neste sentido, o processo de fraturamento hidráulico,
que consiste na injeção de uma mistura de água com componentes químicos na formação
a alta pressão induzindo fraturas com permeabilidade mais elevada, reativa as fraturas
naturais criando a conexão entre os dois sistemas (GALE; REED; HOLDER, 2007). A
Figura 4 ilustra a matriz do folhelho com suas respectivas fases bem como as redes de
fraturas naturais e hidráulicas. Descrever fisicamente a interação entre as redes de fraturas
naturais e induzidas é crucial na avaliação e predição da produção do reservatório. Um
modelo computacional com capacidade de descrever precisamente o escoamento do gás
na matriz e nas redes de fraturas naturais e hidráulicas é fundamental para avaliar o
comportamento do mesmo. Neste cenário, o movimento do gás no meio com diferentes
níveis de porosidade dá origem a um problema genuinamente multiescala, onde a influência
das escalas mais finas, associadas aos nano e microporos, sobre o comportamento na escala
de campo deve ser modelado de forma precisa.
Os modelos desenvolvidos na literatura para tratar reservatórios fraturados contendo
fluidos levemente compressíveis foram introduzidos por (BARENBLATT; ZHELTOV;
KOCHINA, 1960; WARREN; ROOT, 1963) e são conhecidos na literatura como modelos
de porosidade dupla exibindo uma porosidade associada à matriz e outra à rede de fraturas
naturais. A matriz possui alta capacidade de armazenamento de gás e desempenha um
papel irrelevante no transporte, ao contrário das fraturas naturais que armazenam pouco
gás mas exibem alta condutividade devido à sua maior permeabilidade. Para modelar este
tipo de reservatório são então necessários dois conjuntos de equações, um para o sistema
Capítulo 1. Introdução 24

Figura 3 – Rede de fraturas naturais na superfície de uma amostra do afloramento de gás


de folhelho na formação Longmaxi, China. Adaptado de (ZHANG; LI; HE,
2016).
matéria
matriz inorgânica

poço gás adsorvido


horizontal nos nanoporos

fratura agregados
natural de
fraturas querogênio
hidráulicas

Figura 4 – Representação dos diferentes domínios presentes em reservatórios de gases em


folhelhos.

de fraturas e outro para a matriz. O desafio reside em representar de forma acurada a


troca de massa entre os dois sistemas levando em conta a diferença entre as pressões na
matriz e fraturas, a geometria e o histórico do escoamento.
No modelo de Warren e Root (1963) o reservatório naturalmente fraturado idealizado
é constituído por uma geometria regular com um sistema interconectado de fraturas naturais
dividindo a matriz do folhelho em uma coleção de blocos da matriz. Além disso, a troca
de massa entre matriz e fraturas é modelada através de termos de fonte representadas de
maneira simplificada sendo proporcionais à diferença entre as pressões na matriz e rede de
fraturas. Esta abordagem caracteriza a troca de massa entre os dois subsistemas através de
uma resistência interfacial desconsiderando a natureza dos perfis da pressão no interior da
matriz (EHSAN; HASSAN, 2011). A condição da quasi-estacionaridade é posteriormente
relaxada nos trabalhos (KAZEMI, 1969) e (SWAAN, 1976) que consideram a troca de
massa matriz/fratura de natureza transiente.
Capítulo 1. Introdução 25

Uma maneira de tratar de forma precisa a troca de massa matriz/fratura incor-


porando os perfis da pressão no interior dos blocos geológicos é através do processo de
homogeneização de estruturas periódicas (SANCHEZ-PALENCIA, 1980; AURIAULT;
BOUTIN; GEINDREAU, 2010). Neste contexto postulamos as equações que governam o
balanço de massa da fase gás nos dois domínios da escala mesoscópica, matriz e rede de
fraturas naturais. Como não conhecemos a distribuição espacial local das fraturas naturais
não podemos especificar de forma adequada as interfaces entre matriz/fratura tornando a
solução do modelo detalhado inviável a medida que o grau de heterogeneidades aumenta.
Desta forma, a ideia clássica para modelar um meio heterogêneo é realizar um procedi-
mento de mudança de escalas definindo um meio homogêneo equivalente. Neste sentido,
o processo de homogeneização conduz a uma equação no domínio macroscópico onde as
informações acerca do comportamento da microestrutura são incorporadas através de leis
constitutivas para os parâmetros efetivos. Inseridos neste contexto, modelos mais gerais
para reservatórios de fluidos levemente compressíveis que levam em conta a geometria e o
histórico do escoamento da matriz na troca de massa entre os sistemas, derivados através
do uso de técnicas de upscaling, foram introduzidos por (ARBOGAST; DOUGLAS JR.;
HORNUNG, 1990; ARBOGAST; DOUGLAS JR.; HORNUNG, 1991). A aplicabilidade
de tais modelos está atrelada a alta densidade das fraturas naturais e permitem simular
o escoamento acuradamente além de tratar a troca de massa entre matriz e fratura de
forma rigorosa.
Ao contrário da rede de fraturas naturais, que exibe alta densidade podendo ser
tratada por modelos contínuos distribuídos em todo o domínio, a rede de fraturas induzidas
é caracterizada por distribuição esparsa não sendo acuradamente descrita por modelos
contínuos. Neste contexto, modelos discretos onde cada fratura é representada individual-
mente com propriedades físicas e geométricas (tamanho e orientação), atribuídas com base
em dados reais ou distribuições estatísticas, mostram-se mais adequados (KARIMI-FARD;
DURLOFSKY; AZIZ, 2004). Entretanto, do ponto de vista numérico um cuidado adicional
deve ser tomado nas malhas de elementos finitos na vizinhança da interface matriz/fratura,
as quais devem ser mais refinadas nesta região para capturar de maneira adequada a
troca de massa entre os dois meios. Para contornar estas barreiras, inseridos na classe de
modelos discretos o Discrete Fracture Model (DFM) trata as fraturas hidráulicas fazendo
uso de técnica de redução de dimensão que consiste em explorar o aspecto relevante das
fraturas hidráulicas, relativo à baixa razão entre abertura e comprimento das mesmas.
Através de um processo de média tomada sobre a abertura de cada fratura estas passam
a ser tratadas como objetos de dimensão reduzida (n − 1), n = 2, 3 imersos no domínio
macroscópico de dimensão n (ALBOIN et al., 2001; MARTIN; JAFFRÉ; ROBERTS, 2005;
JAFFRÉ; MNEJJA; ROBERTS, 2011).
Dentre os trabalhos que utilizam os modelos clássicos de dupla porosidade no
contexto de reservatórios de gases em folhelhos podemos destacar (CIPOLLA et al., 2010;
Capítulo 1. Introdução 26

NOVLESKY; KUMAR; MERKLE, 2011; YU; SEPEHRNOORI, 2014). Nestes trabalhos


as fraturas hidráulicas são tratadas de forma discreta imersas na matriz utilizando a meto-
dologia LS-LR-DK (logarithmically spaced, locally refined, dual permeability) que adota um
refinamento local na malha na vizinhança das fraturas hidráulicas. Dentre outros modelos
que consideram os três sistemas (matriz, fraturas naturais e hidráulicas), podemos citar
(BELLO; WATTENBARGER, 2010), (AL-AHMADI; ALMAZOOQ; WATENBARGEN,
2010; OZKAN et al., 2011) que propuseram modelos trilineares (escoamento linear na
matriz, fraturas naturais e hidráulicas) para reservatórios de gases em folhelhos para
analisar a produção de poços horizontais hidraulicamente fraturados.
Um outro fenômeno físico característico dos reservatórios de gases em folhelhos é
a adsorção do gás nos nanoporos da matéria orgânica, que exibem diâmetro da ordem
de nanômetros (AKKUTLU; EFENDIEV; SAVATOROVA, 2015), dando origem a um
aumento da capacitância e armazenamento de gás na matriz. Quando incorporada aos
modelos hidrodinâmicos, a adsorção do gás é geralmente modelada fazendo uso da isoterma
de Langmuir (LANGMUIR, 1918; WANG, 2014; GUO; ZHANG; ZHU, 2015), a qual
considera que a adsorção se dá em monocamadas, onde moléculas de gás são adsorvidas
apenas em uma camada adjacente à superfície sólida. Entretanto, para ultra nanoporos
(com comprimento característico < 2nm) tais aproximações são imprecisas exigindo
teorias mais sofisticadas para descrever de forma adequada a adsorção. No trabalho de
Le et al. (2015) a adsorção do gás no querogênio é descrita precisamente através da
termodinâmica de gases confinados utilizando a metodologia conhecida na literatura como
Density Functional Theory (DFT) (EVANS, 1979; HANSEN; MCDONALD, 2006). Ao
contrário da Termodinâmica Clássica, onde a energia livre é uma função da densidade
uniforme do gás bulk, na Termodinâmica de Gases Confinados em pequenos poros a energia
livre é dada por uma relação funcional do perfil da densidade do gás nos nanoporos. Neste
sentido o perfil da densidade no equilíbrio é o que minimiza o funcional da energia e
a obtenção das propriedades termodinâmicas do sistema está atrelada a resolver uma
equação variacional. Tal aproximação é usada para tratar de forma rigorosa a adsorção
em pequenos poros sendo capaz de reproduz as isotermas de Langmuir a medida que o
tamanho do poro aumenta. Além disso, o modelo de Le et al. (2015) incorpora a natureza
multimodal da matriz porosa com o acoplamento entre os fenômenos nas diferentes escalas
espaciais envolvidas construído via método de homogeneização. A formulação dá origem
à um sistema de equações para o escoamento na matriz e rede de fraturas hidráulicas
acopladas através de termo de fonte e condições de interface. Entretanto, o trabalho citado
considera a matriz homogênea não levando em conta a existência da rede de fraturas
naturais de forma que a matriz interage diretamente com a rede de fraturas hidráulicas,
tratadas de forma discreta via técnica de redução de dimensão (ALBOIN et al., 2000;
FRIH; ROBERTS; SAADA, 2008).
Tendo em vista a importância mencionada acima em descrever de maneira adequada
Capítulo 1. Introdução 27

a interação entre matriz/fraturas naturais e hidráulicas nos reservatórios naturalmente


fraturados, o primeiro objetivo do presente trabalho é generalizar o modelo multiescala
desenvolvido em (LE et al., 2016; LE et al., 2015) incorporando na macroscopização
do problema um nível adicional de escala associado à rede de fraturas naturais via
modelo de porosidade dupla no sentido de (ARBOGAST; DOUGLAS JR.; HORNUNG,
1990) e desenvolver uma estratégia computacional eficiente para tratar numericamente
as complexidades do acoplamento entre as equações nas diferentes escalas espaciais. A
formulação proposta considera o escoamento de um gás em um meio exibindo quatro escalas
espaciais e níveis de porosidade díspares (Figura 5). A escala mais fina (nanoscópica) exibe
comprimento característico O(10−9 m) sendo associada à adsorção do gás nos nanoporos
da matéria orgânica. Na escala microscópica (de comprimento característico O(10−6 m)-
O(10−4 m)) o meio exibe três fases: os agregados de querogênio, a matéria inorgânica e a
rede dos microporos contendo gás livre e parcialmente saturada pela fases aquosa, com
gás dissolvido. Além disso, na escala mesoscópica (O(10−1 m)) o meio apresenta duas
fases: a matriz do folhelho e o sistema de fraturas naturais. O modelo considera a fase
aquosa estagnada nos microporos devido às forças capilares aderindo à fase inorgânica
predominantemente constituída por argila. Nas fraturas naturais ocorre o escoamento
monofásico do gás livre. Finalmente, na escala macroscópica, o sistema composto por
fraturas naturais/matriz é tratado como um meio contínuo adjacente às fraturas hidráulicas,
as quais, no contexto do DFM, são tratadas como objetos de dimensão reduzida (n−1), n =
2, 3 imersas no contínuo formado pela rede de fraturas naturais/matriz homogeneizado.
No presente trabalho o acoplamento entre as hidrodinâmicas nas escalas meso
e macro é construído via método de homogeneização. Além disso, a termodinâmica
de fluidos confinados em nanoporos baseada na DFT é utilizada para reconstruir as
isotermas de adsorção do gás e o coeficiente de partição. A aplicação combinada destas
metodologias dá origem a um novo modelo multiescala que consiste de um sistema de
equações parabólicas não lineares postas nas redes de fraturas naturais e hidráulicas
juntamente com a matriz do folhelho. Seguindo as ideias propostas por (ARBOGAST,
1997) desenvolvemos um procedimento de discretização alternativo para o sistema de
equações diferenciais parciais acopladas. Após a discretização temporal das equações via
método de Euler implícito, aplicamos o método de Picard para linearizar o sistema e
em seguida exploramos o argumento de superposição para tratar a interação entre as
equações acopladas. A vantagem de tal metodologia reside no fato que a mesma evita
a necessidade de efetuar iterações adicionais entre os subsistemas demandando apenas
iterações associadas à não linearidade intrínseca do sistema parabólico. As equações
resultantes são discretizadas pelo método de Galerkin. Simulações numéricas ilustram o
papel desempenhado pela rede de fraturas naturais no fator de recuperação de reservatórios
de gases em folhelhos.
Os modelos computacionais construídos para reservatórios de petróleo e gás po-
Capítulo 1. Introdução 28

dem ser ainda explorados em outro aspecto relativo à caracterização de propriedades


do reservatório por meio da interpretação de testes de poço, que consistem em medir a
resposta da pressão com o tempo à medida que transientes hidrodinâmicos são induzidos
no poço (HORNE, 1995). Esta abordagem tem sido usada amplamente na caracterização
de reservatórios fornecendo embasamento na tomada de decisões sobre investimentos e
descoberta de novos campos (CINCO-LEY; SAMANIEGO-V., 1981). Além disso, infor-
mações obtidas com testes de poço quando combinadas com dados oriundos da geofísica
e petrofísica permitem a construção de um modelo para a predição do comportamento
do reservatório em diferentes cenários. Neste sentido diferentes tipos de testes podem ser
realizados, citando por exemplo o teste de fluxo (drawdown), de crescimento da pressão
(buildup), injeção, falloff, entre outros (BOURDET, 2002). No presente trabalho aplicamos
o modelo construído em testes de pressão em poços, que consistem em medir a evolução
temporal da resposta da pressão na interface da fratura com o poço criada quando o
mesmo é induzido a produzir a uma vazão constante. A reconstrução da evolução temporal
da pressão permite estimar parâmetros tais como permeabilidade, detectar heterogenei-
dades no reservatório (fraturas naturais, camadas com mudança nas características), etc
(EARLOUGHER, 1977; GRINGARTEN, 1987). Em vista disso, o segundo objetivo desta
tese é utilizar a formulação multiescala proposta para simular testes transientes de pressão
em poços. Resultados numéricos promissores são obtidos os quais podem ser empregados
para aprimorar a descrição dos fenômenos envolvidos e dar origem à novas curvas de
diagnóstico para caracterização de propriedades de reservatório.
29

2 Modelo Multiescala

Iniciamos apresentando o modelo para descrever o escoamento monofásico de um


gás em um reservatório não convencional de folhelho caracterizado por quatro níveis de
porosidade e escalas espaciais díspares, tal como ilustrado na Figura 5. Na escala de campo
(macroscópica) a formação é composta pelo sistema de fraturas naturais que se comunica
hidraulicamente com a rede de fraturas induzidas que, por sua vez, fornece os caminhos
de alta permeabilidade para o movimento do gás em direção ao poço de produção. Na
escala mesoscópica, de tamanho característico O(10−3 m), a matriz do folhelho é permeada
pela rede de fraturas naturais, caracterizando um meio totalmente fraturado no sentido de
Arbogast e colaboradores (DOUGLAS JR.; ARBOGAST, 1990; ARBOGAST; DOUGLAS
JR.; HORNUNG, 1991). Aumentando a resolução da janela observacional na matriz para
um tamanho característico O(10−6 m)-O(10−4 m) temos a fase sólida (matriz) composta
por matéria inorgânica composta por argila, quartzo ou calcita (tratada aqui como um
meio impermeável) bem como inclusões desconexas de matéria orgânica (agregados de
querogênio) separados pela rede de microporos. Estes, por sua vez, são parcialmente
preenchidos por uma fase aquosa, contendo gás dissolvido, e a fase gás livre. Finalmente,
no interior dos agregados de querogênio o gás encontra-se adsorvido nos nanoporos, que
exibem comprimento característico O(10−9 m).
As isotermas e o coeficiente de partição que governam a adsorção do gás nos
agregados de querogênio podem ser reconstruídos fazendo uso da DFT (EVANS, 1979;
HANSEN; MCDONALD, 2006). O coeficiente de partição, que quantifica a adsorção na
escala macroscópica, surge naturalmente no modelo hidrodinâmico para o escoamento
do gás na matriz governado por uma equação parabólica não linear para a pressão, na
qual a condutividade hidráulica incorpora os efeitos de Knudsen (FREEMAN; MORIDIS;
BLASINGAME, 2011; ZIARANI; AGUILERA, 2012). Além do escoamento Darciano
da fase gás livre, o movimento do gás dissolvido é governado pela difusão Fickiana.
Assumimos que a fase água permanece estagnada nos microporos devido a magnitude das
forças capilares em pequenos poros de forma que a hidrodinâmica é predominantemente
governada pelo escoamento monofásico do gás livre na rede de fraturas naturais. Tal
rede separa a matriz do folhelho em blocos desconexos e a troca de massa entre os meios
caracterizados pelas rede de fraturas naturais e matriz deve ser tratada no contexto dos
modelos de porosidade dupla. Neste contexto, seguindo (DOUGLAS JR.; ARBOGAST,
1990; ARBOGAST; DOUGLAS JR.; HORNUNG, 1991) o processo de média na escala
mesoscópica dá origem ao modelo de porosidade dupla onde o escoamento macroscópico
ocorre na rede de fraturas naturais suplementada por uma função adicional de fonte
que representa a transferência de massa advinda do fluxo de gás na matriz do folhelho.
Capítulo 2. Modelo Multiescala 30

Finalmente, para construir o acoplamento com a hidrodinâmica nas fraturas hidráulicas


procedemos no contexto do DFM (JAFFRÉ; MNEJJA; ROBERTS, 2011), no qual o
escoamento macroscópico na rede de fraturas naturais homogeneizadas atua também como
uma fonte para a rede de fraturas hidráulicas, as quais são tratadas como objetos discretos
de dimensão reduzida (n − 1), (n = 2, 3) imersos no meio macroscópico.

Macroescala
fraturas
hidráulicas
(dimensão reduzida)
Poço
rede de fraturas naturais
e matrix mesoscópica
homogeneizados

Mesoescala

fraturas
naturais
microescala
homogenizada

Microescala
matéria
inorgânica rede de microporos:
gás livre + gás dissolvido
na água

agregados
de
querogênio

Nanoescala
nanoporos
contendo
gás adsorvido

Figura 5 – Esboço das diferentes escalas abordadas no modelo proposto.

2.1 Hidrodinânmica na Matriz do Folhelho


No que segue damos início apresentando a hidrodinâmica que governa o escoamento
do gás na matriz do folhelho (PEREIRA, 2015; LE et al., 2016; LE et al., 2015). O
movimento do gás é governado por uma equação da pressão posta no domínio ocupado
pela matriz homogeneizada, formada pela fase inorgânica, agregados de querogênio e rede
de microporos. Os microporos são parcialmente saturados pelas fases gás livre e aquosa,
que contém gás dissolvido. A adsorção do gás nos nanoporos dos agregados orgânicos é
incorporada fazendo uso do coeficiente de partição calculado através de um procedimento
de downscaling para a nanoescala fazendo uso da técnica DFT.
Capítulo 2. Modelo Multiescala 31

Assim, seja Ωs o domínio mesoscópico ocupado pela matriz do folhelho homoge-


neizada, tal como ilustrado na Figura 6. A conservação da massa para o gás bulk nos
microporos é dada por:
∂m
+ ∇ · J b = 0 em Ωs
∂t
onde J b denota o fluxo mássico e m o conteúdo de massa do gás (mass content) definido

matriz

fraturas
naturais

escala escala
microscópica mesoscópica
Figura 6 – Células representativas dos domínios micro (à esquerda) e mesoscópico.

pela razão entre a massa de gás e o volume total da célula representativa na escala
microscópica. A lei constitutiva para m é dada por m = R(Pb )Pb onde Pb denota a pressão
do gás livre e R(Pb ) o coeficiente de retardamento que quantifica a capacidade total de
armazenamento de gás incluindo as componentes de gás livre, dissolvido e adsorvido (LE
et al., 2016). Assim, temos

(R(Pb ) Pb ) + ∇ · J b = 0 em Ωs (2.1)
∂t
A seguir desenvolvemos a lei constitutiva para o coeficiente de retardamento R(Pb ). Para
este fim adotamos a decomposição (LE et al., 2016):

m = md + mb + ma = (Rd + Rb + Ra )Pb (2.2)

onde os subscritos d, b e a se referem às componentes de gás dissolvido, livre e adsorvido,


respectivamente. Nosso objetivo agora é caracterizar constitutivamente cada componente.
Sejam Mi , i = {d, b, a} as massas associadas aos respectivos componentes do gás e VT , VP
e VL o volume total da célula representativa e volumes ocupados pela rede de microporos
e pela água na rede dos microporos, respectivamente.
Para a componente md , fazendo uso das definições acima, temos
Md VP Md VP VL Md
md = = =
VT VT VP VT VP VL
Sejam ainda ϕP = VP /VT a fração de volume da rede de microporos, Cd a concentração
de gás dissolvido na fase aquosa e Sw a saturação da água, considerada constante devido
Capítulo 2. Modelo Multiescala 32

a hipótese de que a mesma encontra-se estagnada nos microporos. O conteúdo de gás


dissolvido é dado por md = ϕP Sw Cd . Nosso objetivo agora é representar a equação (2.1)
em termos da pressão, de forma que necessitamos de uma relação entre Cd e Pb . Tal relação
é construída postulando a hipótese de equilíbrio termodinâmico local entre as fases gás
dissolvido e gás livre onde a troca de massa entre as duas fases em questão ocorre em
uma escala de tempo muito mais rápida do que a do transporte. Denotando fb e fd as
fugacidades das fases gás livre e aquosa, respectivamente, o equilíbrio é caracterizado pela
igualdade entre estas grandezas (PRAUSNITZ; LICHTENTHALER; AZEVEDO, 1998).
Assim, temos
fd = fb (2.3)
Para o gás livre, fb é dada em termos do coeficiente de fugacidade, representado por γ(Pb ),
e da pressão na fase gás (MCQUARRIE; SIMON, 1999)

Z(P 0 ) − 1 0
Z Pb !
fb = γ(Pb ) Pb , γ(Pb ) = exp dP (2.4)
0 P0

onde Z(P ) denota o fator de compressibilidade do gás (Z(P ) = 1 para um gás ideal).
Note que para um gás ideal γ(Pb ) = 1 e fb = Pb . Para o gás dissolvido na fase aquosa
consideramos a lei modificada de Henry (KING, 1969) que postula a proporcionalidade
entre a fugacidade e a fração mássica do metano na água, denotada por χ. Desta forma,
temos
fd = χ H(Pb ) (2.5)
onde H é o fator de proporcionalidade de Henry dado por:

Pb − P S
" !#
H(Pb ) = H exp v
∗ ∞
(2.6)
Rg T

com H∗ a constante de Henry, v ∞ o volume molar parcial de CH4 na fase líquida, P S


a pressão de saturação da água, Rg a constante universal dos gases e T a temperatura.
Desta forma, temos (PRAUSNITZ; LICHTENTHALER; AZEVEDO, 1998)

fd = χH(Pb ), fb = γ(Pb )Pb

A fração mássica de metano na fase aquosa pode ser representada em função da concentração
de gás dissolvido Cd da forma
Md Md VL Cd
χ= = = (2.7)
MT MT VL ρL
onde MT denota a massa molar da mistura de água e metano e ρL a densidade da água
(assumida constante devido a incompressibilidade da água). Inserindo (2.7) em (2.5) e
fazendo uso da condição de equilíbrio (2.3) vem que
γ(Pb )ρL
Cd = Pb (2.8)
H(Pb )
Capítulo 2. Modelo Multiescala 33

Combinado a expressão acima com (2.8) e (2.2) obtemos a componente do coeficiente de


retardamento associada ao gás dissolvido

md ϕP Sw Cd γ(Pb ) ρL
Rd = = = ϕP Sw (2.9)
Pb Pb H(Pb )

Passamos agora para a representação da componente mb do gás livre. Para caracterizá-la


postulamos uma equação de estado para a densidade do gás livre ρb da forma (MCQUAR-
RIE; SIMON, 1999):
Mm Pb
ρb = (2.10)
Rg T Z(Pb )
onde Mm designa a massa molar de metano. O conteúdo de gás livre é dado por
Mb VP Mb VP Vb Mb
mb = = = = ϕP (1 − Sw )ρb
VT VT VP VT VP Vb
o que leva a
ϕP (1 − Sw )ρb ϕP (1 − Sw )
Rb = = (2.11)
Pb Z(P b)
e

com Z(P
e
b ) = Rg T Z(Pb )/Mm . Finalmente, a quantidade de gás adsorvido no querogênio é

dada por
Ma VK Ma V p VK Ma
ma = = = K = φN ϕK ρa
VT VT VK VK VT VKp
onde ϕK = VK /VT , φN = VKp /VK e ρa denotam a fração de volume dos agregados de
querogênio, a porosidade dos nanoporos e a densidade microscópica de gás adsorvido no
querogênio em que VK e VKp denotam os volumes ocupados pelos agregados de querogênio
e pelos nanoporos nos agregados de querogênio. Deste modo, o coeficiente de retardamento
associado ao gás adsorvido é dado por:
ma φN ϕK ρa
Ra = =
Pb Pb
Sob hipótese de equilíbrio local entre o gás adsorvido e o gás bulk nos microporos, ρa é
definida fazendo uso da sua relação com a densidade do gás livre através do coeficiente de
partição G definido da forma (LEO; HANSCH; ELKINS, 1971):

G := ρa /ρb (2.12)

o que fornece
φN ϕK Gρb φN ϕK G
Ra = = e (2.13)
Pb Z(Pb )
O coeficiente de partição G mede a quantidade de gás adsorvido relativa a densidade do
gás livre. Os fatores principais que regulam a magnitude da adsorção são as características
físicas e químicas do fluido e da superfície sólida, a geometria do poro, além da temperatura
e pressão. Uma forma de descrever a adsorção instantânea comumente adotada na literatura
Capítulo 2. Modelo Multiescala 34

é pela isoterma de Langmuir (LANGMUIR, 1918). Denotando ΓL a quantidade de massa


de gás adsorvido por unidade de área da fase sólida, temos
Pb
ΓL = Γ∗max
Pb + PL
onde Γ∗max = Γmax /NA , com Γmax o número de sítios disponíveis para adsorção, NA o
número de Avogadro e PL a pressão de Langmuir, cujo valor denota a pressão necessária
para que a metade dos sítios seja preenchida por gás adsorvido. A isoterma de Langmuir
considera que a adsorção ocorre em monocamadas, ou seja, moléculas são adsorvidas
apenas em uma vizinhança da superfície do sólido preservando o comportamento bulk no
interior dos nanoporos, tal como ilustrado na Figura 7b (LANGMUIR, 1918).

querogênio querogênio
gás gás
adsorvido adsorvido

gás gás
livre livre

(a) (b)

Figura 7 – Ilustração da adsorção em multicamada e monocamada para poros com geome-


tria de placas planas paralelas.(a) Multicamada; (b) monocamada (Langmuir).

Considerando os nanoporos no querogênio com geometria de placas planas paralelas


separadas pela distância H (slit pores) o coeficiente de partição é dado por (ver apêndice
A e (PEREIRA, 2015) para detalhes):

1 Γ∗max Z(P b) H − 2d
!
e
G= +
H Pb + PL H
A hipótese de que a adsorção se dá em monocamadas deixa de ser válida a medida
que o tamanho característico dos nanoporos diminui consideravelmente. Para poros com
tamanho menor que 2nm, da ordem do diâmetro da molécula de metano, tal aproximação
é imprecisa (LE et al., 2015). No presente trabalho o coeficiente de partição é computado
através de um procedimento de downscaling para a nanoescala baseado na DFT. Tal
abordagem termodinâmica permite calcular precisamente o perfil da densidade local
do gás nos nanoporos e descrever de forma adequada as isotermas de adsorção do gás.
O desenvolvimento da lei constitutiva para G fazendo uso da DFT será apresentado
posteriormente na seção 3.1.1.
Nosso último passo para construir o coeficiente de retardamento consiste em
reescrever Ra em (2.13) em termos do TOC (Total Organic Carbon), um parâmetro de
extrema importância que quantifica a fração de matéria orgânica na fase sólida, definido
da forma TOC = MK /(MK + MI ) (AKKUTLU; FATHI, 2012) onde MK e MI denotam
as massas de querogênio e matéria inorgânica, respectivamente. Denotando por ϕI =
Capítulo 2. Modelo Multiescala 35

1 − ϕK − ϕP a fração de volume da matéria inorgânica, ρK e ρI as densidades das partículas


de querogênio e matéria inorgânica, uma simples manipulação algébrica permite substituir
ϕK pelo TOC na forma (ver apêndice B):
(1 − ϕP )
ϕK = 1 − ϕP − ϕI =
ρK (1 − T OC)(1 − φN )
1+
ρI T OC
a qual quando inserida em (2.13) fornece
(1 − ϕP ) GφN
Ra = (2.14)
ρk (1 − T OC)(1 − φN ) Z(P b)
1+
e
ρI T OC
Finalmente, inserindo (2.9), (2.11) e o resultado acima em (2.2) obtemos a representação
final para o coeficiente de retardamento parametrizado por {ϕP , φN , TOC, Sw }

γ(Pb ) ρL (1 − Sw ) (1 − ϕP )
" #
GφN
R(Pb ) = ϕP Sw + e +
H(Pb ) Z(Pb ) ρk (1 − T OC)(1 − φN ) Z(Pb ) (2.15)
1+
e
ρI T OC
O resultado acima fornece precisamente a lei constitutiva para o coeficiente de retardamento
incorporando as peculiaridades citadas anteriormente.
Nosso último passo para fechar a construção da equação da pressão na matriz é
postular uma forma para o fluxo mássico de gás nos microporos, J b . Negligenciando efeitos
gravitacionais, postulamos a lei de Darcy da forma:

J b = −K ef f
b ∇Pb (2.16)

com K efb
f
a condutividade hidráulica efetiva. Tal tensor exibe duas contribuições: uma
advinda do gás livre, denotada por kefb
f
e outra do gás dissolvido D ef f . Fazendo uso da
forma estendida da lei de Darcy para meios não saturados a componente advinda do gás
livre é dada por:
kb kr (Sw )
kef
b
f
= ρb ϕP T (ϕP )
µg
onde kb denota a permeabilidade aparente que inclui efeitos de Knudsen (CIVAN; RAI;
SONDERGELD, 2011; ZIARANI; AGUILERA, 2012; FREEMAN; MORIDIS; BLASIN-
GAME, 2011), kr (Sw ) a permeabilidade relativa da fase gás, µg a viscosidade do gás e
T (ϕP ) a função de tortuosidade dos microporos.
A lei de Darcy, empregada aqui para modelar o escoamento do gás em poros com
tamanho característico O(10−6 m), assume que a velocidade das moléculas de gás na parede
da fase sólida é nula, ou seja, postula o não deslizamento das moléculas junto à parede.
Entretanto, a medida que o tamanho característico dos poros se aproxima do percurso
médio percorrido entre colisões de duas moléculas de gás, as mesmas colidem mais umas
com as outras com intensidade similar a das colisões com a parede sólida de forma que
Capítulo 2. Modelo Multiescala 36

a velocidade na interface sólido-fluido assume um valor não nulo. O deslizamento das


moléculas de gás na interface com a fase sólida contribui para aumentar a permeabilidade
dando origem a um fluxo adicional conhecido na literatura como slip flow ou efeito de
Klinkenberg (ZIARANI; AGUILERA, 2012). Tal fenômeno é comumente incorporado nos
modelos através de uma correção na permeabilidade do meio (JAVADPOUR; FISHER;
UNSWORTH, 2007). A acurácia da hipótese de não deslizamento é quantificada pelo
número de Knudsen, parâmetro adimensional definido por (HAMDAN; BARRON, 1990):
λ
Kn = (2.17)
lp
onde λ denota o caminho médio percorrido por uma molécula de gás entre uma colisão
com outra molécula dado por (SWAMI; CLARKSON; SETTARI, 2012):
Z(P )µg
s
πRg T
λ=
P 2Mm
onde lp é o comprimento característico dos microporos e α o coeficiente de rarefação dado
por (CIVAN; RAI; SONDERGELD, 2011):
α0
α= , α0 = 1.358, A = 0.1780, B = 0.4348
1 + KAB
n

A Figura 8 ilustra os diferentes tipos de difusão. A difusão molecular predomina quando


lp >> λ, enquanto que a de Knudsen (lp ≈ λ) e a difusão superficial ocorrem quando
moléculas colidem com a mesma intensidade na superfície do poro. A Tabela 1 ilustra os
diferentes regimes de escoamento parametrizados pela magnitude do número de Knudsen.

Tipo de escoamento número de Knudsen modelo utilizado


viscoso Kn < 0.01 eq. de Darcy
deslizamento 0.01 < Kn < 0.1 eq. de Darcy com correção
na permeabilidade
transição 0.1 < Kn < 10 eq. de Darcy com correção
na permeabilidade ou eq. de
difusão de Knudsen
Knudsen Kn > 10 eq. de difusão de Knudsen
ou Monte Carlo

Tabela 1 – Regimes de escoamento classificados de acordo com o número de Kndsen


(ZIARANI; AGUILERA, 2012).

De acordo com (FREEMAN; MORIDIS; BLASINGAME, 2011) os regimes de


transição e deslizamento ocorrem tipicamente em folhelhos. Baseado em resultados ex-
perimentais para incorporar a correção na permeabilidade com validade em todos os
regimes (ZIARANI; AGUILERA, 2012; HADJICONSTANTINOU, 2005; CIVAN; RAI;
SONDERGELD, 2011; FREEMAN; MORIDIS; BLASINGAME, 2011) propuseram uma
representação para a permeabilidade aparente da forma:

kb = k∞ fc (Kn )
Capítulo 2. Modelo Multiescala 37

Figura 8 – Ilustração de diferentes tipos de escoamento por difusão em poros: (a) molecular;
(b) Knudsen e (c) superfície (ZIARANI; AGUILERA, 2012).

onde k∞ denota a permeabilidade intrínseca do meio e fc (Kn ) o fator de correção dado


por:
4Kn
 
fc (Kn (P )) = (1 + α(Kn )Kn ) 1 +
1 + Kn
A relação acima é válida para o escoamento monofásico de gás. Para incorporar a depen-
dência com a saturação da água os autores Rose (1948), Fulton (1951), Estes e Fulton
(1956), Rushing, Newsham e Fraassen (2003) relataram redução dos efeitos de deslizamento
com o aumento da saturação da água através de experimentos usando amostras de arenito
e tight gas. Já Li e Horne (2001), Li e Horne (2004) observaram efeitos de deslizamento
mais pronunciados com aumento da saturação da água. Assim, devido à falta de dados
assumimos dependência de fc com a saturação da água através de uma função escada
(PEREIRA, 2015):

4Kn
  
[1 + α(Kn )Kn ] 1 + , se Sw ≤ Sw∗


fc (Kn (P ), Sw ) =  1 + Kn
 1, se Sw > Sw∗

Após a caracterização da componente do fluxo de gás livre na matriz passamos


agora a descrição da contribuição referente ao gás dissolvido. Denotando por Dl (Sw ) o
coeficiente de difusão médio do gás dissolvido na água, a componente do fluxo de massa
Capítulo 2. Modelo Multiescala 38

advinda da difusão Fickiana (J d ) é dada por (BEAR; BACHMAT, 1990):

J d = −ϕP Dl (Sw ) T (ϕP )∇Cd

Fazendo uso de (2.8) segue pela regra da cadeia que


dCd
J d = −ϕP Dl (Sw ) T (ϕP ) ge(Pb )∇Pb , ge(Pb ) =
dPb
o que leva a seguinte representação para o coeficiente de difusão:

D ef f = ϕP Dl (Sw ) T (ϕP ) ge(Pb )

Finalmente, a condutividade efetiva total é dada por


!
k∞ fc kr
K ef
b
f
= kef
b
f
+D ef f
= ϕP ρb + ge(Pb )Dl (Sw )I T (ϕP ) (2.18)
µg
com I o tensor identidade de segunda ordem. Assim, a equação não linear da pressão que
governa a hidrodinâmica do gás na matriz do folhelho é dada por:

(2.19)
 
(R(Pb )Pb ) − ∇ · K ef
b
f
∇P b =0 em Ωs
∂t
com o coeficiente de retardamento R e condutividade hidráulica K efb
f
dados por (2.15) e
(2.18), respectivamente. Para fechar a equação necessitamos postular uma lei constitutiva
para o coeficiente de partição G = G(Pb ) em (2.15) a qual será reconstruída no contexto
da DFT.

2.2 Acoplamento Hidrodinâmico Matriz/Fraturas Naturais


Consideramos aqui a estrutura mesoscópica do folhelho naturalmente fraturado
formada pela matriz (Ωs ) permeada pela rede de fraturas naturais (Ωf ) com interface entre
elas denotada por Γsf , tal como ilustrado na Figura 6. Procedemos postulando as equações
que governam a hidrodinâmica posta no domínio Ωf . O modelo em questão considera
fraturas preexistentes com porosidade φf saturadas pela fase gás livre. Negligenciando
efeitos gravitacionais, a equação de conservação da massa para a fase gás é dada por:



 (φf ρf ) + ∇ · J f = 0
∂t



J f = ρf V df

em Ωf (2.20)
kf


V df = − ∇Pf




µg
onde o subscrito f denota as mesmas grandezas da seção anterior associadas agora às
fraturas naturais. De forma análoga ao desenvolvimento da seção 2.1, utilizamos uma
equação de estado para caracterizar a dependência entre Pf e ρf da forma

Rg T Z(Pf ) Z(P
e
f)
Pf = ρf = ρf (2.21)
Mm Mm
Capítulo 2. Modelo Multiescala 39

Substituindo (2.21) em (2.20), a equação da pressão nas fraturas naturais é dada por:
 !
φf Pf

+ ∇ · Jf = 0



Z(Pf )


∂t
em Ωf (2.22)
e
Pf kf
 Jf = − e ∇Pf



Z(Pf ) µg

Revisitando a Figura 6, a equação acima é posta em Ωf e acoplada à equação na matriz


do folhelho (Ωs ) derivada anteriormente em (2.19) onde por simplicidade removemos o
sobrescrito ”eff ”: 
 ∂ (R(P ) P ) + ∇ · J = 0

b b b
∂t em Ωs (2.23)
 J = −K ∇P

b b b

Na interface fratura natural/matriz postulamos a continuidade dos fluxos e das pressões:



 J f · nsf = J b · nsf
sobre Γsf (2.24)
 P =P
f b

onde nsf denota a normal unitária exterior à Ωf .

2.2.1 Homogeneização para a Escala Macroscópica


Nesta seção realizamos o upscaling do modelo mesoscópico para a macroescala onde
fraturas naturais e a matriz mesoscópica são tratados como um meio contínuo homogenei-
zado formando com propriedades efetivas determinadas a partir da microestrutura. Para
alcançar este objetivo fazemos uso do método formal de homogeneização de estruturas
periódicas sob a hipótese de separação de escalas (AURIAULT; BOUTIN; GEINDREAU,
2010; SANCHEZ-PALENCIA, 1980) dando origem aos modelos conhecidos na literatura
como modelos de porosidade dupla no sentido de Arbogast e colaboradores (DOUGLAS
JR.; ARBOGAST, 1990; ARBOGAST; DOUGLAS JR.; HORNUNG, 1991).
No contexto do método formal de homogeneização baseado em expansões assin-
tóticas o domínio mesoscópico é idealizado com uma estrutura periódica. Sejam l e L os
comprimentos característicos associados às escalas meso e macro e defina o parâmetro de
perturbação pelo quociente: ε = l/L. O domínio perturbado Ωε = Ωεs ∪ Ωεf é composto pela
união de células adjacente e disjuntas Y ε que por sua vez também são formados pela união
de subdomínios Ysε e Yfε ocupados pela matriz e fraturas naturais, respectivamente. Cada
célula é congruente a uma célula de referência Y composta por dois subdomínios, Ys e Yf ,
com interface ∂Ysf entre os mesmos. Para ε = 1 observamos o fenômeno na escala mesos-
cópica. O problema básico consiste em investigar o comportamento assintótico quando
ε → 0 e obter o limite das equações homogeneizadas quando a escala das heterogeneidades
tende a zero (ver Figura 9).
Seguindo o procedimento formal de homogeneização baseado na expansão assintótica
introduzimos duas variáveis espaciais: uma associada a escala macro (x) e outra a escala
Capítulo 2. Modelo Multiescala 40

Figura 9 – Representação da célula mesoscópica (ε = 1) e reconstrução do domínio ma-


croscópico no limite assintótico ε → 0.

mesoscópica (y), relacionadas por y = ε−1 x. A dependência de cada incógnita do problema


em cada uma das variáveis é dada na forma f (x, y). Usando a regra da cadeia, temos

∇f ε = ∇x f + ε−1 ∇y f
∇ · f ε = ∇x · f + ε−1 ∇y · f

onde os subscritos x e y no operador ∇ indicam derivadas tomadas com respeito a


variável espacial correspondente. No contexto da teoria de perturbação cada incógnita é
representada por intermédio de uma expansão assintótica em termos do parâmetro ε:

f ε (x, y) = εi f i (x, y)
X

i=0

com cada f i (x, y) y-periódica.


O próximo passo no processo de homogeneização consiste em estimar os parâmetros
do modelo em termos de potências de ε. Uma das características dos reservatórios não
convencionais é a baixa permeabilidade da matriz comparada com a das fraturas naturais
(SAKHAEE-POUR; BRYANT, 2011). Tal característica deve ser levada em conta na
estimativa da função de transferência de massa entre matriz e rede de fraturas naturais.
Além disso, o processo de transferência de massa matriz/fraturas deve ser preservado
quando o tamanho característico da célula periódica tende a zero (ε → 0). Neste contexto,
seguindo (DOUGLAS JR.; ARBOGAST, 1990; ARBOGAST; DOUGLAS JR.; HORNUNG,
1991) adotamos o seguinte escalonamento comumente utilizados na derivação dos modelos
de porosidade dupla sob a hipótese de disparidade entre as magnitudes das permeabilidades
dos dois sistemas:
K b = O(ε2 K f ) (2.25)
Capítulo 2. Modelo Multiescala 41

A condutividade hidráulica das fraturas naturais em (2.22) é dada por:

Pf kf
Kf = e (2.26)
Z(Pf ) µg

Assim, adotando o escalonamento o modelo ε-perturbado é dado da forma:


  
 ∂  φf Pfε 
+ ∇ · J εf = 0 em Ωεf



e ε)
∂ t Z(P

f (2.27)
 ∂
(R (Pb ) Pbε ) + ∇ · J εb = 0 em Ωεs



 ε ε
∂t
com os fluxos dados por:
Pfε kf

J εf =−e ε ∇Pfε



Z(Pf ) µg (2.28)
J εb = −ε K εb ∇Pbε


 2

e condições na interface:

 J εf · nsf = J εb · nsf
 Pε = Pε
sobre Γεsf (2.29)
f b

O próximo passo no desenvolvimento do modelo macroscópico consiste em inserir o


anzatz no modelo ε-perturbado (2.27), (2.28) e (2.29) e coletar os diferentes problemas
nas diferentes potencias de ε. As não linearidades nas funções dependentes da pressão
F (P ) são tratadas por uma expansão em série de Taylor em torno de P 0 :

1 dF

F (P ) = F (P + εP + ...) ≈ F (P ) + εP
ε 0 1 0
+ ...


dP
P =P 0

Fraturas Naturais
As equações nas sucessivas ordens advindas da conservação da massa nas fraturas
naturais em (2.27)(a) postas no domínio Yf são dadas por:
 
kf Pf0
O(ε−2 ) : ∇y ·  e 0) y f
∇ P 0 = 0
µg Z(P f
 
0 1
k f P f
  kf P f
O(ε−1 ) : ∇y · − e 0)
∇x Pf0 + ∇y Pf1 − ∇ P 0 +
e 0) y f
µg Z(P f
µ g Z(P f
 
0
kf Pf
∇x · − e 0) y f
∇ P 0 = 0
µg Z(P f
   
∂  φf Pf0  kf Pf0   kf Pf1
O(ε0 ) : e 0)
+ ∇x · −
e 0)
∇x Pf + ∇y Pf −
0 1
e 0) y f
∇ P 0 +
∂t Z(P f
µ g Z(P f
µ g Z(P f
 
0 1
kf P f
  k f P f
 
∇y · − e 0)
∇x Pf + ∇y Pf −
1 2
e 0)
∇x Pf + ∇y Pf  = 0
0 1
µg Z(P f
µ g Z(P f
(2.30)
Capítulo 2. Modelo Multiescala 42

Já para o fluxo mássico J εf em (2.28)(a), temos


kf Pf0
O(ε−1 ) : J −1
f = − e 0) y f
∇ P0
µg Z(P f
0
k f P f
  kf Pf1
O(ε0 ) : J 0f = − e 0)
∇ P
x f
0
+ ∇ 1
y f −
P e 0)
∇y Pf0 (2.31)
µg Z(P f
µg Z(P f
kf Pf0   kf Pf1  
O(ε1 ) : J 1f = − e 0)
∇ x P 0
f + ∇ y P 1
f − e 0)
∇x Pf0 + ∇y Pf1
µg Z(P f
µg Z(P f

Matriz
Usando a equação da pressão (2.27)(b) na ordem ordem ε0 obtemos:
∂ 
(2.32)

O(ε0 ) : R(Pb0 )Pb + ∇y · (∇y Pb0 ) = 0 em Ys
∂t
Os fluxos em (2.28)(b) por sua vez são dados por:
O(ε0 ) : J 0b = 0
(2.33)
O(ε1 ) : J 1b = −K 0b ∇y Pb0
Observamos aqui que o fluxo J 0b é nulo devido ao escalonamento por ε2 em (2.25) adotado
em consequência da baixa permeabilidade da matriz comparada com a das fraturas
naturais.

Condições na Interface
Finalmente, as condições postas sobre a interface Γεsf advindas de (2.29) são dadas
por:
 
kf Pf0
O(ε−1 ) : − ∇ P 0  · nsf = 0
e 0) y f
µg Z(P f
 
0 1
kf P f
  kf P f
O(ε0 ) : − ∇x Pf0 + ∇y Pf1 − ∇y Pf0  · nsf = 0
e 0)
µg Z(P f
µ g Z(Pf )
e 0 (2.34)
 
0 1
kf Pf   kf Pf  
O(ε1 ) : − e 0)
∇ x P 0
f + ∇ y P 1
f − ∇x Pf0 + ∇y Pf1  · nsf =
g Z(Pf )
µg Z(P µ e 0
f h i
−K 0b ∇y Pb0 · nsf

Variáveis Lentas
Nosso próximo passo consiste em derivar os problemas para as variáveis não
oscilatórias, ou seja, independentes da coordenada rápida y. Fazendo uso de (2.30)a em
O(ε−2 ) juntamente com a condição de contorno (2.34)a em ordem O(ε−1 ) obtemos o
problema de Neumann homogêneo para Pf0 :
  
 kf Pf0
∇ P 0 = 0 em Yf

∇y · 

e 0) y f

µg Z(P f

 ∇ P0 · n = 0 sobre ∂Ysf


y f sf
Capítulo 2. Modelo Multiescala 43

que admite a solução não oscilatória:

Pf0 (x, y, t) = Pf0 (x, t) (2.35)

Problemas Locais de Fechamento Para as Flutuações


Para obtermos a representação para a flutuação Pf1 (x, y, t), substituindo (2.35) em
(2.30)b e (2.31)b e fazendo uso da condição de interface advinda de (2.34)a, temos



 ∇y · J 0f = 0 em Yf
kf Pf0 


 
J 0f = − e 0)
∇ P
x f
0
+ ∇ P
y f
1
(2.36)


 µg Z(P f
J 0f · nsf = 0 sobre ∂Ysf


Substituindo (2.35) em (2.36) obtemos para a flutuação Pf1 :



∆yy Pf1 = 0 em Yf
  (2.37)
 ∇ P0 + ∇ P1 · n = 0 sobre ∂Ysf
x f y f sf

A linearidade do problema acima juntamente com a periodicidade na fronteira da célula


unitária e o princípio da superposição permitem escrever a solução da forma:

Pf1 (x, y, t) = h(y) · ∇x Pf0 + P


f (x, t)
f (2.38)

onde P
f (x, t) é uma função arbitrária e h(y) é y-periódica solução do problema de célula:
f

 ∆yy h = 0 em Yf
(2.39)
 (∇y h + I) · nsf = 0 sobre ∂Ysf

Problema Local
De (2.32) em O(ε0 ), (2.33) em O(ε1 ) e (2.34)b em O(ε0 ), o problema local para
Pb0 na matriz mesoscópica é dado por:

∂  
R(Pb0 ) Pb0 + ∇y · J 1b = 0 em Ys



∂t


J 1b = −K 0b ∇y Pb0 (2.40)


Pb0 = Pf0 sobre ∂Ysf


Equação Efetiva da Pressão na Rede de Fraturas Naturais


Nosso objetivo agora é derivar a equação da pressão efetiva para o escoamento nas
fraturas preexistentes. Iniciamos invocando (2.30)a em O(ε0 ) juntamente com a condição
na interface, advinda de (2.34)a em O(ε), o que fornece a equação para Pf0 na célula Yf :
  
 ∂  φf Pf0 
+ ∇x · J 0f + ∇y · J 1f = 0 em Yf




e 0)
∂ t Z(P f (2.41)
J 1f · nsf = J 1b sobre ∂Ysf

· nsf


Capítulo 2. Modelo Multiescala 44

A fim de obtermos a equação efetiva para Pf0 aplicamos o processo de média. Para tanto,
sejam h·i e h·iY os operadores média e média intrínseca sobre a célula periódica definidos
por
1 Z 1 Z
h·i = · dY , h·iα = · dY, α = {s, f } (2.42)
|YT | Yα |Yα | Yα
onde |Yα |, |YT | representam os volumes da fase α e da célula, respectivamente. Introduzimos
também a fração volumétrica das fraturas naturais ϕf = |Yf |/|YT |. De posse destas
definições, tomando a média em (2.41) e usando a independência de Pf0 em relação a y,
temos  
∂  ϕf φf Pf0  1 Z
e 0)
+ ∇x · hJ f i = −
0
∇y · J 1f dY (2.43)
∂ t Z(P f
|Y T | Y f

Aplicando o teorema da divergência juntamente com a condição de contorno (2.41)b (com


nf s = −nsf ) e usando (2.40) obtemos:
Z Z Z
∇y · J 1f dY = J 1f · nsf d∂Y = J b · nsf d∂Y
Yf ∂Ysf ∂Ysf
Z Z Z

=− J b · nf s d∂Y = − ∇y · J b dY = (R(Pb ) Pb ) dY
∂Ysf Ys Ys ∂t
Substituindo o resultado acima em (2.43) obtemos
 
∂  ϕf φf Pf0  1 Z ∂
e 0)
+ ∇x · hJ f i = −
0
(R(Pb ) Pb ) dY
∂ t Z(P f
|YT | Ys ∂t (2.44)

= − hR(Pb ) Pb i
∂t
Introduzimos agora o fluxo efetivo J ef
f
f
governado pela lei de Darcy macroscópica nas
fraturas naturais. Para tanto substituímos (2.38) em (2.36)b o que fornece

J ef
f
f
:= hJ 0f i = −K ef
f
f
∇x Pf0

com K ef
f
f
a condutividade hidráulica efetiva dada por:

kf ϕf Pf0  
K ef
f
f
:= e 0)
h∇y hi f
+ I
µg Z(P f

onde a função (vetorial) característica h(y) é solução do problema de célula (2.39). É


importante observar que K ef
f
f
reflete a geometria das fraturas naturais através da função
h(y), cujo gradiente representa a tortuosidade do meio.
Finalmente, denotando ΩS o domínio macroscópico ocupado pela rocha intacta
com fraturas naturais homogeneizadas (ver Figura 10) e introduzindo a porosidade efetiva
do meio associada às fraturas naturais φ∗f = ϕf φf o problema macroscópico é governado
pelo sistema:   
∗ 0
 ∂ φ P
 f f  + ∇x · J ef f = Q



f

e 0)
∂t Z(P f em ΩS (2.45)
J ef f
= −K ef f
∇x Pf0



f f
Capítulo 2. Modelo Multiescala 45

onde

Q := −(hR(Pb ) Pb i)
∂t
denota o termo de fonte distribuída computado a partir da hidrodinâmica mesoscópica na
matriz, governada pela equação da pressão local:

∂  
R(Pb0 ) Pb0 + ∇y · J 1b = 0 em Ys



∂t


 J 1b = −K 0b ∇y Pb0 (2.46)

Pb0 = Pf0 sobre ∂Ysf


célula

Figura 10 – Representação do domínio macroscópico com uma geometria estratificada para


a célula mesoscópica. A matriz intacta (ΩS ) representa o meio mesoscópico
homogeneizado e tem mesoestrutura associada à matriz do folhelho.

Observamos que o acoplamento entre (2.45) e (2.46) é manifestado através da


condição de contorno (2.46)c para Pb0 juntamente com o termo de fonte Q para Pf0 . Devido
ao escalonamento ε2 adotado, após a homogeneização a hidrodinâmica na matriz fica
restrita a mesoescala e sua influência macroscópica na hidrodinâmica na rede de fraturas
naturais é incorporada através do termo de fonte distribuída Q. Além disso, a forma da
equação da matriz na célula periódica (eq. (2.46)) é preservada, resultando em um modelo
de porosidade dupla no limite assintótico ε → 0.

2.3 Acoplamento Entre o Modelo Homogeneizado e a Hidrodinâ-


mica na Rede de Fraturas Hidráulicas
Nosso objetivo agora é construir o acoplamento entre o modelo macroscópico deri-
vado anteriormente para a matriz intacta com a hidrodinâmica do gás na rede esparsa de
fraturas hidráulicas. Para simplificar a notação a partir deste ponto omitimos os sobrescri-
tos ”eff ”, ”0 ” e ”1 ” associados ao processo de homogeneização. Devido à esparsidade da
sua distribuição seguindo (ALBOIN et al., 2001; MARTIN; JAFFRÉ; ROBERTS, 2005;
JAFFRÉ; MNEJJA; ROBERTS, 2011), explorando a baixa razão entre abertura e com-
primento das fraturas tratamos as mesmas como interfaces de dimensão (n − 1), n = 2, 3
Capítulo 2. Modelo Multiescala 46

imersas no sistema de fraturas naturais. A equação que governa a hidrodinâmica nas


fraturas hidráulicas é obtida através do processo de média tomado sobre a abertura das
fraturas. A Figura 11 ilustra a aplicação do modelo de redução de dimensão no caso
simplificado em que as fraturas hidráulicas são verticais e paralelas, separadas pela rede
de fraturas naturais. Após o processo de média a fratura bidimensional é substituída por
uma interface unidimensional γ , tal como ilustrado na Figura 11b.

(a) (b)

Figura 11 – Redução de dimensão da fratura hidráulica no caso particular em que a mesma


é bidimensional. (a) fratura 2D; (b) fratura tratada como uma interface após
o processo de média.

2.3.1 Hidrodinâmica nas Fraturas Hidráulicas


Iniciamos apresentando a notação para o domínio macroscópico. Seja ΩM ⊂ Rn , n =
2, 3 o domínio macroscópico com fronteira suave ΓM e ΩF ⊂ ΩM o subdomínio ocupado
pela rede de fraturas hidráulicas com fronteira ∂ΩF . Usamos a notação ΓiM , i = {F, S}
para a parte da fronteira de Ωi que pertence a ΓM :

ΓiM = ∂Ωi ∩ ΓM i = {F, S} (2.47)

e denotamos por γ a parte da fronteira de ΩS que intercepta ∂ΩF

γ = ∂ΩF ∩ ∂ΩS

Por simplicidade o modelo em questão considera fraturas completamente abertas e ausência


de material de preenchimento. De forma semelhante ao apresentado na seção anterior,
desconsiderando de efeitos gravitacionais a hidrodinâmica do gás na rede de fraturas
hidráulicas é governada pelo sistema:
 !
∂ φF PF
+ ∇ · JF = 0



F)


∂tZ(P em ΩF (2.48)
e
k F PF
 JF = − µ e ∇PF



g Z(PF )

Capítulo 2. Modelo Multiescala 47

em que as variáveis correspondentes são denotadas pelo subscrito F. O sistema acima é


suplementado por condições de contorno representando a continuidade das pressões e dos
fluxos sobre γ : 
 P =P
f F
 J ·n =J ·n
sobre γ (2.49)
F F f F

com nF o vetor normal unitário exterior à ΩF . A fim de obtermos a equação que governa
o escoamento no domínio das fraturas induzidas com dimensão reduzida (n − 1), n = 2, 3,
seguindo (MARTIN; JAFFRÉ; ROBERTS, 2005; JAFFRÉ; MNEJJA; ROBERTS, 2011)
decompomos o fluxo mássico em suas componentes na direção normal e plano tangencial:

J F = J F,n + J F,τ

Denotando por (∇n ) e (∇τ ) os operadores divergente nas direções normal e do plano
tangencial da fratura hidráulica e considerando a decomposição

∇ · J F = ∇n · J F,n + ∇τ · J F,τ

a equação (2.48) pode ser reescrita na forma


!
∂ φF PF
+ ∇n · J F,n + ∇τ · J F,τ = 0 em ΩF (2.50)
∂t Z(P F)
e

Seja agora o operador média na direção normal à fratura hidráulica definido por:

1 Z dF /2
h·in := · dn
dF −dF /2

onde dF denota a abertura da fratura. Aplicando a média em (2.50) vem que

1 Z dF /2
* !+
∂ φF PF
+ ∇τ · hJ F,τ in = − h∇n · J F,n in = − ∇n · J F,n dn (2.51)
∂t Z(P F) dF −dF /2
e
n

Invocando o teorema da divergência e a condição de contorno (2.49)b no termo do lado


direito, obtemos

1 Z dF /2 1 h i
− ∇n · J F,n dnF = − J F,n · nF |dF /2 − J F,n · nF |−dF /2
dF −dF /2 dF
1 h i
=− J f · nF |dF /2 − J f · nF |−dF /2
dF
a qual quando combinada com (2.51) fornece:

1 h
* !+
∂ φF PF i
φF + ∇τ · hJ F,τ in = − J f · nF |dF /2 − J f · nF |−dF /2
∂t Z(P F) dF
e
n

Como a permeabilidade da fratura hidráulica é maior do que a da rede de fraturas naturais


podemos negligenciar a variação de PF na direção normal à fratura. Assim, a equação
Capítulo 2. Modelo Multiescala 48

que governa a hidrodinâmica das fraturas hidráulicas no domínio de dimensão reduzida γ


(γ ⊂ R(n−1) , n = 2, 3) imerso no domínio ΩS é dada por:
!
∂ PF JJ f K
hφF in + ∇τ · J M
F,τ = − em γ (2.52)
∂t Z(PF )
e dF

onde J·K denota o salto do fluxo sobre γ e J M


F,τ é o fluxo médio no plano tangencial:

F,τ := hJ F,τ in = ρF V d,τ




 JM
kF,τ
 V d,τ := −
 ∇τ PF
µg

com V d,τ a velocidade de Darcy macroscópica bidimensional e kF,τ a componente tangencial


da permeabilidade da fratura hidráulica.
É importante observar que o termo de fonte no lado direito da equação (2.52)
advém naturalmente do salto do fluxo normal do gás nas fraturas naturais, satisfazendo
(2.45). Por outro lado, a influência hidrodinâmica das fraturas hidráulicas sobre as naturais
é quantificada pela condição de contorno (2.49)a.

2.4 Resumo do Modelo Multiescala


Nesta seção resumimos as equações resultantes obtidas no contexto da modelagem
multiescala proposta. Ressaltamos aqui a hipótese de que a matriz mesoscópica não se
comunica diretamente com o sistema de fraturas hidráulicas de modo que as fraturas
preexistentes desempenham o papel de conexão hidráulica entre estes dois sistemas. Além
disso, a rede de fraturas naturais não possui ligação hidráulica com o poço de produção
de tal forma que o gás advindo das fraturas naturais escoa em direção à rede de fraturas
induzidas que por sua vez se comunica com o poço. A Figura 12 ilustra os diversos
acoplamentos entre os subsistemas.

condição
de
fonte contorno

condição
de
contorno fonte

matriz

Figura 12 – Ilustração dos acoplamentos entre os subsistemas do modelo multiescala.


Capítulo 2. Modelo Multiescala 49

n o
Hidrodinâmica nas Fraturas Hidráulicas - Dados dF , φF , Z(P
e
F ), kF,τ , µg , encon-
n o
trar o par PF , J M
F,τ satisfazendo:
 !
∂ PF JJ f K
+ M
=

hφF in ∇ · J −

τ

F,τ
F)




 ∂t Z(P
e dF
 J F,τ = −K F ∇τ PF
M em γ (2.53)
kF,τ PF


KF =



µg Z(P F)

 e

acoplado através de condição uma de contorno de Dirichlet com o poço de produção. A


fim de computar o salto do fluxo J f do lado direito necessitamos resolver a hidrodinâmica
no sistema de fraturas naturais homogeneizado:
n o
Hidrodinâmica na Rede de Fraturas Naturais - Dados φ∗f , ϕf , Z(Pe
f ), kf , µg e a

função característica h(y) solução do problema de célula (2.39), encontrar o par {Pf , J f }
satisfazendo:
φ∗f Pf
 !

+ ∇ · Jf = Q



f)




 ∂t Z(P e
 J = −K ∇P em ΩS


f f f
(2.54)
ϕ P
f f kf
 
= h∇ f
+


 K f y hi I
f ) µg




 Z(P
e
 P =P sobre γ


f F

com a função de transferência de massa Q dada por:



Q=− hR(Pb ) Pb i (2.55)
∂t
O cômputo do termo de fonte requer um downscaling para a mesoescala onde o problema
de célula local na matriz (sem as fraturas naturais) deve ser resolvido:
Hidrodinâmica na Matriz Mesoscópica - Dados o coeficiente de retardamento R(Pb )
e condutividade hidráulica K b , encontrar o par {Pb , J b } tal que:


(R(Pb ) Pb ) + ∇y · J b = 0 em Ys



∂t


J b = −K b ∇y Pb (2.56)


P b = Pf sobre ∂Ysf


onde as leis constitutivas para o coeficiente de retardamento e a condutividade hidráulica


efetiva são dados por:
γ(Pb ) ρL (1 − Sw ) (1 − ϕP )
" #
GφN
R(Pb ) = ϕP Sw + e +
H(Pb ) Z(Pb ) ρk (1 − T OC)(1 − φN ) Z(Pb )
1+
e
ρ!
I T OC (2.57)
k∞ fc kr
K b = kef
b
f
+ D ef f = ϕP ρb + ge(Pb )Dl (Sw )I T (ϕP )
µg
O coeficiente de partição G será calculado pela média dos perfis locais da densidade
construídos no próximo capítulo.
Capítulo 2. Modelo Multiescala 50

Finalmente, o sistema (2.53), (2.54) e (2.56) é suplementado por condições iniciais

Pb (t = 0) = Pb0 , Pf (t = 0) = Pf 0 , PF (t = 0) = PF 0 (2.58)

2.5 Modelo Reduzido


A fim de avaliarmos o papel das fraturas naturais no modelo proposto, para efeito de
comparação consideramos um caso simplificado derivado em (LE et al., 2015) que descreve
o acoplamento entre a matriz e o sistema de fraturas hidráulicas, que pode ser reproduzido
a partir da formulação geral apresentada acima removendo a rede intermediária de fraturas
naturais. Neste caso reduzido para a hidrodinâmica nas fraturas hidráulicas de dimensão
(n − 1) temos:  !
∂ φF PF JJ b K
+ ∇τ · J MF,τ = − sobre γ



 ∂t Z(PF )



 e dF
 F,τ = −K F ∇τ PF
JM (2.59)
kF,τ PF


 KF = µ e



g Z(PF )

a qual surge agora acoplada diretamente com a equação da pressão na matriz:




(R(Pb ) Pb ) + ∇ · J b = 0 em ΩS



∂t


 J b = −K b ∇Pb (2.60)

P b = PF sobre γ


suplementado por condições iniciais

Pb (t = 0) = Pb0 , PF (t = 0) = PF 0 (2.61)

Neste capítulo apresentamos a construção do modelo multiescala para o escoamento


monofásico de um gás em um reservatório de folhelho contendo redes de fraturas naturais
e induzidas. Para fechar o modelo necessitamos postular uma lei constitutiva para o
coeficiente de partição G em (2.57)a, a qual será apresentada no próximo capítulo no
contexto da Termodinâmica dos Gases Confinados.
51

3 Reconstrução Numérica dos Coeficientes


Efetivos

No presente capítulo apresentamos a reconstrução numérica das respostas consti-


tutivas dos coeficientes de partição G, de retardamento R(Pb ) em (2.15) bem como das
condutividades hidráulicas efetivas da matriz (2.19) e das fraturas naturais (2.54). Para
este fim necessitamos postular uma lei constitutiva para o fator de compressibilidade
Z(P ) e coeficiente de fugacidade γ(P ) que quantificam o desvio do comportamento de
um gás real em relação à idealidade. No presente trabalho a dependência do fator de
compressibilidade Z(P ) com a pressão do gás é incorporada invocando a equação de estado
de Van der Waals dada por (PRAUSNITZ; LICHTENTHALER; AZEVEDO, 1998):
!
a  
P+ 2 V − b = Rg T
V

onde V denota o volume molar e a e b as constantes de Van der Waals cujos valores
dependem do gás em questão. Para o metano a = 2.2725 dm6 atm mol2 e b = 0.043067
dm3 mol−1 (MCQUARRIE; SIMON, 1999). A Figura 13 ilustra a dependência de Z com a
pressão parametrizada pela temperatura para o gás metano. Observamos que para pressões
baixas Z < 1, uma vez que neste regime as forças atrativas de Van der Waals predominam
em relação às repulsivas de esferas duras. A partir de um certo valor da pressão, Z > 1 e
a componente repulsiva de esferas duras prevalece sobre a atrativa, aumentando o fator de
compressibilidade.

1.3
T = 323
1.2 T = 363
1.1
Z ( P)

1.0
0.9
0.8
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5
P (Pa) 1e7

Figura 13 – Fator de compressibilidade do gás metano parametrizado pela temperatura


obtido com a equação de estado de Van der Waals.
Capítulo 3. Reconstrução Numérica dos Coeficientes Efetivos 52

A Figura 14 mostra a dependência do coeficiente de fugacidade γ(P ) dado em (2.4)


com a pressão. Analogamente ao fator de compressibilidade Z(P ), γ(P ) → 1 para pressões
baixas tendendo a diminuir com o aumento da pressão se distanciando do comportamento
ideal. Além disso, a correção devido a não idealidade tende a ser mais intensa para valores
menores de temperatura.

1.00
0.95 T = 323
T = 363
0.90
γ( P)

0.85
0.80
0.75
0.70
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5
P (Pa) 1e7

Figura 14 – Coeficiente de fugacidade do gás metano parametrizado pela temperatura.

3.1 Parâmetros Efetivos da Rocha Intacta


Iniciamos apresentando os coeficientes efetivos na escala mesoscópica associada ao
gás de folhelho na ausência de fraturas naturais. Tal como mencionado anteriormente, na
reconstrução do coeficiente de partição adotamos o procedimento de downscaling para a
nanoescala para computar o perfil da densidade do gás adsorvido nos nanoporos orgânicos
explorando as técnicas baseadas na DFT.

3.1.1 Termodinâmica dos Gases Confinados


A lei constitutiva para o parâmetro R(Pb ) em (2.15) contém a componente relativa
ao gás adsorvido governada pelo coeficiente de partição G. Na microescala, sob a hipótese de
equilíbrio termodinâmico local com o gás bulk, tal coeficiente satisfaz (BEAR; BACHMAT,
1990):
ρa = G ρb (3.1)

onde ρa é a densidade média do gás adsorvido. A fim de reconstruir numericamente a


lei constitutiva para G necessitamos computar os perfis da densidade local do gás nos
nanoporos dos agregados orgânicos e em seguida as isotermas de adsorção.
Capítulo 3. Reconstrução Numérica dos Coeficientes Efetivos 53

A teoria comumente utilizada para descrever a concentração de um componente


adsorvido em uma superfície sólida é baseada na isoterma de Langmuir (ZHANG et al.,
2012). Entretanto, tal aproximação considera que a adsorção se dá em monocamadas
levando a resultados imprecisos para poros com tamanho característico menor que 2nm (LE
et al., 2015). Para obtermos uma descrição acurada da adsorção do gás nos agregados de
querogênio, que também seja válida para ultra nanoporos, fazemos uso da Termodinâmica
de Gases Confinados baseada na metodologia conhecida na literatura como Density
Functional Theory (DFT) (EVANS, 1979; HANSEN; MCDONALD, 2006). Diferentemente
do comportamento de um gás bulk, onde a densidade não é perturbada pela proximidade da
fase sólida, para gases confinados em nanoporos o perfil da densidade varia abruptamente
com a distância da partícula sólida. Mais especificamente as grandezas termodinâmicas
deixam de ser funções da densidade constante ρ apresentando dependência funcional com
o perfil local de ρ(r) da forma:
Z
F [ρ] = f (r, ρ(r), ∇ρ(r))dr

onde a notação F [ρ] denota uma relação funcional com perfil de ρ e sua derivada. A
derivada funcional é dada por (HANSEN; MCDONALD, 2006):
Z
δF
δF = F (ρ + δρ) − F (ρ) = δρ(r)dr
δρ(r)
A Figura 15 compara os cenários descritos pela Termodinâmica Clássica de um fluido bulk
e um gás confinado em nanoporos. No contexto da DFT procedemos com a construção
do potencial termodinâmico para fluidos não homogêneos caracterizados por relações
funcionais para obtemos o perfil da densidade do gás na vizinhança da partícula de
querogênio através de um processo de minimização de um funcional.

gás gás
bulk confinado

Figura 15 – Comparação entre os comportamentos do gás na Termodinâmica Clássica e


na Termodinâmica de Gases Confinados em nanoporos.

Considere o gás na vizinhança de uma superfície sólida em equilíbrio com o gás


bulk com o mesmo potencial químico. O ponto de partida para descrever propriedades de
gases confinados em pequenos poros é o potencial grand canônico do fluido heterogêneo
denotado por Ω[ρ]. Para um sistema de coordenadas apropriado (r) temos (ROTH, 2010):
Z
Ω[ρ] = F [ρ] + ρ(r)[V (r) − µ] dr (3.2)
Capítulo 3. Reconstrução Numérica dos Coeficientes Efetivos 54

onde ρ(r) denota o perfil da densidade do gás nos nanoporos, F [ρ] a energia livre de
Helmholtz, V (r) o potencial exterior originado pela presença da partícula sólida e µ o
potencial químico. Sob a hipótese de equilíbrio termodinâmico local o potencial químico é
uniforme e admite a representação (HANSEN; MCDONALD, 2006):

µ = µb = µid
b + µb = kB T ln(ρb Λ ) + µb
ex 3 ex
(3.3)

com kB a constante de Boltzmann, T a temperatura e Λ o comprimento de onda de De


Broglie. A Figura 16 ilustra o equilíbrio termodinâmico local entre o gás confinado e o gás
bulk. O perfil da densidade no equilíbrio minimiza o funcional Ω[ρ] (EVANS, 1979):
!
δΩ
=0 (3.4)
δρ(r) T,µ

onde δf /δρ denota a derivada funcional. A energia livre de Helmholtz é decomposta em


uma soma de uma componente de gás ideal e outra de excesso:

F [ρ] = F id [ρ] + F ex [ρ] (3.5)

A componente ideal exibe representação analítica com derivada dada por (HANSEN;

querogênio

gás
bulk
gás adsorvido

Figura 16 – Representação do equilíbrio local governado pela igualdade entre os potenciais


químicos do gás confinado e do gás bulk.

MCDONALD, 2006):
δF id [ρ]
= kB T ln(Λ3 ρ(r)) (3.6)
δρ(r)
A componente de excesso, a qual incorpora os efeitos das interações intermoleculares entre
as partículas, é calculada via uma lei constitutiva. Assim, substituindo (3.6) e (3.3) em
(3.4) obtemos a equação que governa a densidade do gás nos nanoporos ρ(r):

δF ex [ρ]
" !#
ρ(r) = ρb exp β µex
b − − V (r) (3.7)
δρ(r)

com β = 1/kB T . A equação acima fornece a distribuição do gás nos nanoporos para
uma dada geometria dos mesmos. O fechamento para o resultado acima está atrelado a
uma representação apropriada tanto para a energia livre de excesso F ex [ρ] quanto para o
Capítulo 3. Reconstrução Numérica dos Coeficientes Efetivos 55

potencial exterior induzido pela parede sólida V (r). Para a representação aproximada da
energia livre de excesso procedemos no contexto da teoria de perturbação, onde o funcional
é decomposto em uma componente de referência puramente repulsiva, de esferas duras,
ex
FHS , e outra atrativa de interações intermoleculares de longo alcance de Van der Waals
(HANSEN; MCDONALD, 2006; KIERLIK; ROSINBERG, 1991):
1Z Z
F [ρ] =
ex ex
FHS + ρ(r)ρ(r 0 )φ(r, r 0 ) dr dr 0 (3.8)
2
onde φ(r) denota o potencial de interação atrativo fluido-fluido com φ = 0 para |r − r 0 | < d
onde d é o diâmetro de uma molécula de gás. No presente trabalho φ(r) é tomado como o
potencial de Lennard-Jones 12-6:
" 12 6 #
σf f σf f

φ(r) = 4 εf f − (3.9)
r r

com a coordenada r denotando a distância entre duas moléculas, σf f o diâmetro de colisão,


que quantifica a distância entre as partículas na qual φ(r) = 0, e εf f a profundidade do
poço de potencial (ver Figura 17a). A representação para FHS ex
é obtida fazendo uso da
Teoria Fundamental da Medida (ROSENFELD, 1989). Os detalhes da construção desta
componente são apresentados no Apêndice A. Finalmente, necessitamos postular uma forma
para o potencial exterior V (r) que incorpora as interações sólido-fluido. Considerando
poros do tipo slit, nos quais o gás encontra-se confinado entre duas paredes idênticas
paralelas separadas pela distância H, o potencial exterior varia com a coordenada ortogonal
à superfície sólida, denotada aqui por z. Procedendo de forma semelhante a (KIERLIK;
ROSINBERG, 1991), V (z) representado na forma de Lennard-Jones 10-4-3:

2 σsf 4
" 10 4 #

σsf

σsf
V (z) = 2π 2
ρs εsf σsf ∆ − − (3.10)
5 z z 3∆(0.61∆ + z)3

onde ρs e ∆ denotam parâmetros associados à superfície sólida (composta de grafite) e


εsf , σsf com o potencial sólido-fluido calculados via lei de Lorentz-Berthelot. A Figura 17b
ilustra os perfis dos dois potenciais, φ(r) e V (r), em função da distância r.
Em suma, postulada uma geometria para os nanoporos, a aproximação da DFT
consiste em resolver o conjunto de equações integrais não lineares dado por (ver Apêndice
Capítulo 3. Reconstrução Numérica dos Coeficientes Efetivos 56

400
300 φ(r)/kB

Potencial [K]
200
100
0
εff
100
200 σff
3 4 5 6 7
r/Å
(a)

400
200
0
Potencial [K]

200
400
600
800
1000 φ(r)/kB
1200 V(r)/kB
1400
3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 5.5 6.0 6.5 7.0
r/Å
(b)

Figura 17 – Potenciais de Lennard-Jones em unidade de temperatura. (a) Detalhe do


potencial φ(r) sinalizando os parâmetros σf f e εf f ; (b) comparação entre os
potenciais φ(r) e V (r). Perfis computados com os parâmetros da Tabela 2.

A para detalhes):

δF ex [ρ]
 " !#
ρ(r) = ρb exp β µex − − V (r)


b

δρ(r)



1

 Z Z

F ex [ρ(r)] = FHS
ex
[ρ(r)] + ρ(r)ρ(r 0 )φ(r, r 0 ) dr dr 0


2



 Z Z

ex
[ρ(r)] = Φ[{nα (r)}] dr, nα (r) = ρ(r 0 ) wα (r − r 0 ) dr 0

β FHS





δF ex

 X Z ∂Φ
β HS = (r 00 )wα (r 00 − r) dr 00


 δρ(r) α ∂nα
Φ = φ0 (n3")n0 + φ2 (n3 ) n1 n2 +#φ3 (n3 )n1 · n2 + φ4 (n3 )n32 + φ5 (n3 )n2 n2 · n2






σf f 12 σf f 6

    
φ(r) = 4 εf f





r "  r 




2 σsf 10 4
#
σsf 4 σsf

  
V (z) = 2π ρs εsf σsf ∆

2
− −


5 z 3∆(0.61∆ + z)3

z

No presente trabalho o sistema de equações integrais supracitado é linearizado pelo método


de Picard. Denotando s o índice das iterações de Picard, dada uma estimativa para ρs (r),
Capítulo 3. Reconstrução Numérica dos Coeficientes Efetivos 57

Parâmetro - Unidade
Rg 8.314 Pa m3 /(mol K)
T 320 K
d 0.38 × 10−9 m
σf f 0.3400 × 10−9 m
εf f /kB 120 K
ρs 97.0260 × 1027 m−3
∆ 0.3393 × 10−9 m
σsf 0.3809 × 10−9 m
εsf /kB 64 K

Tabela 2 – Valores dos parâmetros utilizados nas simulações da DFT.

computamos a nova aproximação para a solução da forma:


δF ex [ρs ]
" !#
ρ(r) s+1
= ρb exp β µex − − V (r)
b
δρs (r)
Para contornar problemas de convergência a solução na iteração (s + 1) é computada
fazendo uso de uma relaxação:

ρs+1 = εr ρs+1 + (1 − εr )ρs

onde 0 ≤ εr ≤ 1. A discretização espacial da equação linearizada é realizada pelo método


da colocação usando aproximações constantes por partes.
Os valores dos parâmetros de entrada utilizados nas simulações são mostrados
na Tabela 2. A Figura 18 ilustra os perfis da densidade como função da coordenada
adimensional z/d (onde d denota o diâmetro da molécula de metano) parametrizado por
H para ρb ∗ d3 = 0.5. Podemos observar que a densidade se anula na vizinhança da parede
sólida devido às interações repulsivas de esferas duras. Além disso, ρ(z) assume valores
maiores na vizinhança da parede devido a adsorção. A medida que o espaçamento entre as
superfícies sólidas aumenta a densidade no centro do nanoporo (z/d = 0) flutua ao redor
da densidade no bulk uma vez que para distâncias maiores, no regime tipico de Langmuir,
o comportamento das moléculas de gás não é afetado pela presença das placas sólidas.
Uma vez conhecida a densidade do gás confinado nos nanoporos podemos calcular
a densidade média de gás adsorvido no querogênio para a geometria de placas paralelas
1 Z
ρa = ρ(z) dz (3.11)
H
e consequentemente reconstruir as isotermas de adsorção ρa = ρa (ρb ) e computar o
coeficiente de partição G = ρa /ρb . A influência da temperatura nas curvas do gás adsorvido
como função da concentração do gás bulk é ilustrada na Figura 19 para dois valores
diferentes da distância entre as paredes sólidas H. Os resultados numéricos mostram a
quantidade de gás adsorvida diminuindo com o espaçamento entre as placas e com a
temperatura.
Capítulo 3. Reconstrução Numérica dos Coeficientes Efetivos 58

4.50 3.50
4.00 3.00
3.50
2.50
3.00
2.00
ρ ∗ d3

ρ ∗ d3
2.50
2.00 1.50
1.50
1.00
1.00
0.50 0.50
0.00 0.00
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 -5 -3.75 -2.5 -1.25 0 1.25 2.5 3.75 5
z/d z/d
(a) H = 3d (b) H = 10d

Figura 18 – Perfis da densidade do gás entre duas placas planas paralelas de querogênio,
ρb ∗ d3 = 0.5.

14 14
12 12
Adsorção Média

Adsorção Média
10 10
8 8
6 H = 3d 6 H = 3d
H = 5d H = 5d
4 H = 7d 4 H = 7d
2 H = 9d 2 H = 9d
0 0
0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10
ρb ( M ) ρb ( M )
(a) T = 320K (b) T = 400K

Figura 19 – Isotermas de adsorção do gás parametrizadas pela distância entre as partículas


de querogênio.

A partir das isotermas de gás adsorvido podemos computar o coeficiente de partição


G usando (3.1). A Figura 20 mostra a dependência de G com a densidade do gás bulk
parametrizado por H. Podemos observar que G diminuí com ρb exibindo comportamento
inverso ao de ρa . Além disso, observamos variação de G mais significativa para densidades
mais baixas e a maior influência do tamanho do poro sobre G ocorre no regime de
densidades mais baixas.

3.1.2 Coeficiente de Retardamento


Tendo efetuado o cômputo de G podemos finalmente reconstruir numericamente o
coeficiente de retardamento R(Pb ) em (2.57)a. Salvo quando mencionado explicitamente
no texto os valores dos parâmetros utilizados são apresentados na Tabela 3. Na Figura 21
mostramos a influência do TOC, saturação da água (Sw ) e porosidade nanoscópica (φN )
na dependência de R com a pressão do gás livre Pb . Podemos observar na Figura 21a que
R aumenta com o TOC, uma vez que uma quantidade maior de matéria orgânica tende a
aumentar a quantidade de gás adsorvido. O mesmo comportamento de R é observado com o
Capítulo 3. Reconstrução Numérica dos Coeficientes Efetivos 59

12
10 H = 5d
H = 7d
8
6

G
4
2
0
0 2 4 6 8 10 12
ρb (M)
Figura 20 – Coeficiente de partição parametrizado pela distância entre as partículas de
querogênio H para temperatura T = 323.

aumento no valor da porosidade, uma vez que a quantidade de gás adsorvido cresce com φN
(Figura. 21b). Por outro lado, na Figura 21c observamos que o coeficiente de retardamento
diminui com a saturação da água devido à menor capacidade de armazenamento do gás
dissolvido comparada com a do gás livre.

Parâmetro Valor Unidade Parâmetro Valor Unidade


Rg 8.314 Pa m3 /(mol K) ρI 2.7 g/cm3
T 323 K ρK 1.2 g/cm3
Mm 16.042 × 10−3 kg/mol Sw 0.3 -
ρL 5.556 × 104 mol/m3 Swr 0.2 -
H∗ 5 × 109 Pa Sgr 0.2 -
PS 7 × 105 Pa Sw∗ 1 0.3 -
v∞ 3.4501 × 10−5 m /mol
3
ϕP 0.1 -
D 2.4 × 10−9 m2 /s φN 0.05 -
k∞ 1 × 10−18 m2 T OC 0.05 -
lp 1.0 × 10−6 m µg 1.2 × 10−5 Pa s

Tabela 3 – Valores dos parâmetros utilizados nas simulações de reconstrução numérica do


coeficiente de retardamento.

3.1.3 Condutividade Efetiva da Matriz


Tendo reconstruído a lei constitutiva para R, para completar a equação da pressão
(2.56) consideramos agora o cálculo da condutividade efetiva da matriz K b . Para efetuarmos
o cômputo da função de tortuosidade T (ϕP ) por simplicidade consideramos microestrutura
isotrópica de esferas concêntricas com os domínios interno e intermediário ocupados pela
matéria inorgânica e orgânica, respectivamente (com a última formada por poros com
1 ∗
O valor Sw usado foi 0.3 com base nos trabalhos de (BESKOK; KARNIADAKIS, 1999; FLORENCE
et al., 2007; LE et al., 2015).
Capítulo 3. Reconstrução Numérica dos Coeficientes Efetivos 60

1.4e-06 TOC = 5 %

R(Pb ) (kg/(Pa m 3 ))
1.2e-06
TOC = 10 %
TOC = 15 %
1.0e-06
8.0e-07
6.0e-07
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Pb (MPa) 1e7
(a)

3.0e-06
R(Pb ) (kg/(Pa m 3 ))

φN = 0. 05
2.5e-06 φN = 0. 15
2.0e-06 φN = 0. 25
1.5e-06
1.0e-06
5.0e-07
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Pb (MPa) 1e7
(b)

1.0e-06
R(Pb ) (kg/(Pa m 3 ))

9.0e-07 Sw = 0. 3
8.0e-07 Sw = 0. 5
7.0e-07 Sw = 0. 7
6.0e-07
5.0e-07
4.0e-07
3.0e-07
2.0e-07
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Pb (MPa) 1e7
(c)

Figura 21 – Dependência do coeficiente de retardamento com a pressão parametrizado por


(a) TOC; (b) porosidade nanoscópica; (c) saturação da água.

geometria de placas planas) enquanto a esfera externa é identificada como os microporos


(Figura 22). Neste arranjo a tortuosidade pode ser calculada invocando a homogeneização
auto-coerente no qual a condutividade isotrópica admite a representação (AURIAULT;
BOUTIN; GEINDREAU, 2010):
2ϕP
!
k∞ fc kr
K b = Kb I = ρ b + ge(Pb )Dl (Sw ) I (3.12)
µg 3 − ϕP
Na dependência da permeabilidade relativa com a saturação da água adotamos o modelo
clássico de Brooks e Corey (BROOKS; COREY, 1964):

kr = (1 − Se2 )(1 − Se )2 (3.13)


Capítulo 3. Reconstrução Numérica dos Coeficientes Efetivos 61

microporos

fases orgânica
e inorgânica

Figura 22 – Representação da microestrutura da matriz utilizada na aproximação auto-


coerente. Meio granular formado por esferas concêntricas representando as
fases sólidas e fluida.

onde a saturação efetiva é dada por Se = (Sw − Swr )/(1 − Swr − Sgr ) com Swr e Sgr as
saturações residuais da água e do gás. O parâmetro microscópico Dl (Sw ) em (3.12) é
dado pela média do coeficiente de difusão da mistura água e metano D multiplicado pela
tortuosidade dos poros na água Tw (LE et al., 2015):

Dl = D Sw Tw (3.14)

A função tortuosidade Tw representa obstáculos para a difusão do gás dissolvido na água


originados pela fase gás livre. Para efetuarmos o cômputo de Tw prosseguimos no contexto
de (COLLIN; RASMUSON, 1988) que propõe a relação:

Tw = Sw 2y+1

onde o expoente y satisfaz

Sw 2y + (1 − Sw )y = 1

A Figura 23 ilustra a condutividade efetiva como função da pressão do gás livre


parametrizada por Sw e pelo comprimento característico dos microporos (lp ) considerando
a aproximação auto-coerente. Podemos observar que a correção de Knudsen é mais
pronunciada para tamanhos de poros e pressões menores. A Figura 23b mostra o decréscimo
da condutividade efetiva com a saturação da água, ilustrando a predominância do fluxo de
gás livre comparado com o dissolvido.

3.2 Parâmetros Efetivos da Rede de Fraturas Naturais


Para completarmos o modelo posto na matriz do folhelho apresentamos a represen-
tação da condutividade hidráulica efetiva das fraturas naturais. Para tanto necessitamos
resolver o problema característico (2.39), onde a tortuosidade incorpora ao modelo in-
formações da geometria da célula mesoscópica. Por simplicidade, no presente trabalho
consideramos geometria estratificada com as fraturas naturais paralelas entre si, exibindo
Capítulo 3. Reconstrução Numérica dos Coeficientes Efetivos 62

10 -10

Kbeff (kg/(Pa m s))


10 -11

Sem correção
10 -12
lp = 1 × 10 −6 m
lp = 1 × 10 −8 m
10 -13 5
10 10 6 10 7 10 8
Pb (Pa)
(a)

10 -10
Kbeff (kg/(Pa m s))

10 -11

10 -12
Sw = 0. 1
10 -13 Sw = 0. 3
Sw = 0. 5
10 -14 5
10 10 6 10 7 10 8
Pb (Pa)
(b)

Figura 23 – Condutividade hidráulica efetiva da matriz mesoscópica parametrizado por


(a) tamanho característico dos poros; (b) saturação da água.
matriz

fraturas
naturais

Figura 24 – Representação da célula mesoscópica no caso particular de geometria estratifi-


cada. As fraturas naturais têm abertura wf e a matriz wb .

abertura denotada por wf e separadas por blocos retangulares ocupados pela matriz com
largura wb , tal como ilustrado na Figura 24.
Neste caso particular de geometria estratificada a função vetorial h(y) é represen-
tada da forma:
h(y1 , y2 ) = [0, h2 (y2 ), 0]T
Capítulo 3. Reconstrução Numérica dos Coeficientes Efetivos 63

onde a componente h2 (y2 ) satisfaz:

∂ 2 h2

=0 em 0 ≤ y2 ≤ wf



∂y22




∂h2
+1=0 sobre y2 = 0 e y2 = wf (3.15)
∂y




h2 (y2 = 0) = h2 (y2 = wf + wb )


De (3.15)a segue que h2 (y2 ) é linear e para satisfazer periodicidade devemos ter h2 (y2 ) ≡ cte.
Usando este resultado em (2.54), temos K f dada por:

K f = Kf e ⊗ e (3.16)

onde e é o vetor unitário alinhado com y1 . Assim, a componente axial da condutividade


hidráulica Kf e a fração de volume associadas às fraturas naturais são dadas por:

ϕf Pf kf wf
Kf = e , ϕf =
Z(Pf ) µg wf + wb

A Figura 25 ilustra a relação entre a permeabilidade efetiva kfef f = ϕf kf com wf


parametrizada pela largura da matriz a qual mostra a dependência inversa de kfef f com
wb .

1.0 1e 16
0.8 wb = 0. 01
wb = 0. 1
0.6 wb = 1. 0
kfeff (m 2 )

0.4
0.2
0.0
0.2 -5
10 10 -4 10 -3
wf (m)
Figura 25 – Dependência da permeabilidade hidráulica efetiva da rede de fraturas naturais
com a abertura wf parametrizada pela largura do bloco e kf = 1 × 10−15 m2 .
64

4 Algoritmo de Evolução

O modelo acoplado apresentado na seção 2.4 consiste de um sistema de equações


diferenciais parciais de natureza parabólica que descreve a hidrodinâmica em três domínios
distintos: matriz mesoscópica e redes de fraturas naturais e hidráulicas. Tal sistema
apresenta duas fontes de não linearidades: uma intrínseca advinda da dependência dos
parâmetros com a pressão e outra do acoplamento entre as equações nas diferentes escalas.
O tratamento das não linearidades demandam um processo iterativo juntamente com
um método apropriado de evolução temporal para que o modelo discreto seja construído
adequadamente. A formulação totalmente implícita tem um custo computacional elevado
e pode não apresentar convergência global. A maneira mais imediata de tratar a não
linearidade entre os sistemas seria então adotar um algoritmo de Picard, de forma que
cada equação é resolvida sequencialmente. Denotando s o índice de iterações de Picard em
cada instante de tempo resolvemos a equação (2.56) para Pbs+1 com a condição de contorno
atrasada no índice s, Pfs . Após o cômputo de Pbs+1 calculamos Pfs+1 (eq. (2.54)) atrasando
o termo da condição de contorno advinda da fratura hidráulica PFs . Como última etapa
do processo iterativo, resolvemos a equação (2.53) para PFs+1 usando o valor calculado
Pfs+1 para determinar a fonte. O processo se repete até que um critério de convergência
seja atingido para uma tolerância prescrita. É importante ressaltar que nesta abordagem
cada equação parabólica para Pbs+1 , Pfs+1 e PFs+1 é genuinamente não linear, exigindo
iterações internas resultando em tempos de simulações elevados. Além disso, experimentos
realizados numericamente ilustram que esta abordagem pode não convergir para certos
valores dos parâmetros de entrada e estimativa inicial, limitando a robustez do algoritmo
(ARBOGAST; DOUGLAS JR.; HORNUNG, 1990). A Figura 26 ilustra a comparação entre
os algoritmos implícito (26a) e sequencial (26b). A seguir apresentamos uma estratégia para
contornar as barreiras mencionadas acima adotando ideias propostas por (ARBOGAST,
1997). Tal metodologia consiste em utilizar uma decomposição das variáveis resultando
em subsistemas que podem ser resolvidos sequencialmente não necessitando de iterações
adicionais na resolução de cada equação parabólica.
Passamos agora à apresentação da estratégia de desacoplamento entre as equações.
No contexto dos métodos de evolução temporal denotamos {t1 , t2 , ..., tn } uma partição
do domínio temporal e ∆t = tn − tn−1 o passo de tempo, considerado constante por
simplicidade. O método clássico de Euler implícito adota a aproximação de primeira ordem
onde ∂P/∂t ≈ (P n+1 − P n )/∆t o que conduz ao seguinte sistema para (PFn+1 , Pfn+1 , Pbn+1 ):
n o
Para cada tn = n ∆t, n = 1, 2, ..., encontrar a tripla PFn+1 , Pfn+1 , Pbn+1 satisfa-
Capítulo 4. Algoritmo de Evolução 65

Pb0 , Pf 0 , PF 0 Para cada n = 1, ...

Pbn+1,s , Pfn+1,s , PFn+1,s Para cada s = 1, ...

Para cada k = 1, ...

n o
Resolva o sistema para Pbn+1,s+1,k+1

Convergiu
em
k := k+1
Picard Não
(k)?

Sim Pbn+1,s+1
Para cada k = 1, ...

n o
Resolva o sistema para Pfn+1,s+1,k+1

Convergiu
em
k := k+1
Picard Não
Pb0 , Pf 0 , PF 0 Para cada n = 1, ... (k)?

Sim Pfn+1,s+1
Para cada s = 1, ... Pbn+1,s , Pfn+1,s , PFn+1,s
Para cada k = 1, ...

n o
Resolva o sistema para PFn+1,s+1,k+1
Resolva o sistema para:
 n o 
Pbn+1,s+1
 n o 
n+1,s+1
 Pf
 
 Convergiu
 n
n+1,s+1
o  em
PF k := k+1
Picard Não
(k)?

Sim
Convergiu
s := s + 1 em n := n+1 Convergiu
Não Sim
Picard? n := n+1 em Picard s := s + 1
Sim (s)? Não

Pbn+1 , Pfn+1 , PFn+1

(a) (b)

Figura 26 – Fluxograma comparando os algoritmos de desacoplamento (a) implícito e (b)


sequencial. Ambos com iterações de Picard para tratar das não linearidades.

zendo:
P n+1 P n ∆t
 !
 
hφF in eF − eF − ∆t∇τ · K n+1 ∇ n+1
= − JJ f (K n+1 , Pfn+1 )K em γ



F P
τ F f
d



 Z n+1 Z n F
n+1 n
 !
P P

   D E
φ∗f ef − ef − ∆t∇x · K n+1 n+1
= n+1 n+1 n n
em ΩS

∇ P − R P − R P


 f x f b b
Z n+1 Z n
Pfn+1 = PFn+1 sobre γ




  
Rn+1 Pbn+1 − ∆t∇y · K n+1 ∇y Pbn+1 = Rn Pbn em Ys





 b
Pbn+1 = Pfn+1 sobre ∂Ysf



(4.1)
Capítulo 4. Algoritmo de Evolução 66

onde f n = f (P n ) denota uma função dependente da pressão avaliada no tempo t = tn . No


que segue linearizamos o sistema em (4.1) aplicando o algoritmo de ponto fixo de Picard.
Recapitulando a notação s para o inteiro associado ao processo iterativo, o problema
linearizado associado à (4.1) consiste em:
n
Para cada tn = n ∆t, n = 1, 2, ... e s = 1, 2, ..., encontrar a tripla PFn+1,s+1 , Pfn+1,s+1 ,
o
Pbn+1,s+1 satisfazendo:

PFn+1,s+1 PFn
 !
 
hφF in − e − ∆t∇τ · K n+1,s ∇τ PFn+1,s+1


F

Ze n+1,s Zn



∆t



= − JJ f (K fn+1,s , Pfn+1,s+1 )K em γ






   dF
n+1,s+1

P Pn

  
φ∗f  f − ef  − ∆t∇x · K n+1,s ∇x Pfn+1,s+1



f
 Ze n+1,s Zn
D E
= − Rn+1,s Pbn+1,s+1 − Rn Pbn em ΩS







Pfn+1,s+1 = PFn+1,s+1 sobre ΓF





  
Rn+1,s Pbn+1,s+1 − ∆t∇y · K bn+1,s ∇y Pbn+1,s+1 =R n
Pbn em Ys






Pbn+1,s+1 = Pfn+1,s+1 sobre ∂Ysf

(4.2)
Para cada par {n, s} podemos explorar a linearidade nos problemas elípticos acima
para tratar as não linearidades advindas do acoplamento entre os subsistemas e evitar
iterações de ponto fixo adicionais. É importante ressaltar que o papel de Pfn+1,s+1 no
subsistema da matriz mesoscópica (4.2)d-e é somente o de um parâmetro, uma vez que tal
variável não depende da coordenada espacial rápida y, sendo constante em cada célula
mesoscópica. Assim, para {n, s} fixo, o subsistema (4.2)d-e é linear em Pfn+1,s+1 de modo
que podemos escrever Pbn+1,s+1 em termos de um operador afim de Pfn+1,s+1 . Para tanto,
definimos a função característica χn+1,s+1
b como solução do problema de célula induzido
apenas por uma condição de Dirichlet unitária:
  
 Rn+1,s χn+1,s+1 − ∆t∇y · K n+1,s ∇y χn+1,s+1 =0 em Ys
b b b
(4.3)
 χn+1,s+1
b =1 sobre ∂Ysf
n+1,s+1
introduzimos ainda a função transiente P b satisfazendo o problema de célula com
condição de Dirichlet homogênea sobre ∂Ysf :

n+1,s+1 n+1,s+1
 
 Rn+1,s P b − ∆t∇y · K n+1,s ∇y P b = Rn Pbn em Ys
n+1,s+1
b
(4.4)
 Pb =0 sobre ∂Ysf
Explorando a linearidade na condição de contorno (4.2)e e as duas definições acima, para
cada par {n, s} a pressão Pbn+1,s+1 admite a decomposição:
n+1,s+1
Pbn+1,s+1 = Pfn+1,s+1 χn+1,s+1
b + Pb (4.5)

A inserção da representação acima no termo de fonte do lado direito de (4.2)b permite


n+1,s+1
n o
reescrever o problema para Pfn+1,s+1 . Assim, para cada {n, s}, dados χn+1,s+1
b , P b ,
Capítulo 4. Algoritmo de Evolução 67

soluções de (4.3) e (4.4), e PFn+1,s+1 , temos que encontrar Pfn+1,s+1 satisfazendo:


φ∗f
 !
D E  
+ Rn+1,s χn+1,s+1 Pfn+1,s+1 − ∆t∇x · K n+1,s ∇x Pfn+1,s+1


b f

Ze n+1,s




φ∗f Pfn D n+1,s+1
E
 = − Rn+1,s P b − Rn Pbn em ΩS
Ze n



Pfn+1,s+1 = PFn+1,s+1 sobre γ


A decomposição adotada acima remove a dependência de Pfn+1,s+1 com o presente valor


de Pbn+1,s+1 . De forma análoga, para o acoplamento entre fraturas naturais e hidráulicas
fazemos uso da seguinte decomposição para Pfn+1,s+1 :
n+1,s+1
Pfn+1,s+1 = PFn+1,s+1 χn+1,s+1
f + Pf (4.6)
n+1,s+1
com as funções χn+1,s+1
f e Pf soluções de:
φ∗f
 !
D E  
+ Rn+1,s χn+1,s+1 χn+1,s+1 − ∆t∇x · K fn+1,s ∇x χn+1,s+1 =0 em ΩS



b f f
Ze n+1,s
χn+1,s+1 =1 sobre γ



f
(4.7)
e
φ∗f
 !
n+1,s+1 n+1,s+1
D E  
+ Rn+1,s χn+1,s+1 Pf − ∆t∇x · K fn+1,s ∇x P f


b

Ze n+1,s




φ∗f Pfn D n+1,s+1
E
 = − Rn+1,s P b − Rn Pbn em ΩS
Ze n



n+1,s+1
=0 sobre γ


 Pf
(4.8)
Inserindo (4.6) em (4.2)a obtemos a equação resultante para PF n+1,s+1
no sistema de
fraturas hidráulicas. Para manter a notação concisa denotamos a função Qf da forma:

JJ f K J−K n+1,s
f ∇x P n+1,s+1 K
Qf (P n+1,s+1 ) := =
dF dF
Assim, após a decomposição a nova formulação para a hidrodinâmica nas fraturas hidráu-
licas consiste em: Para cada par {n, s}, encontrar PFn+1,s+1 tal que
 " #
hφF in    
+ ∆t Qf χn+1,s+1 PFn+1,s+1 − ∆t∇τ · K n+1,s ∇τ PFn+1,s+1


f F

 e n+1,s
Z
hφF in PFn  n+1,s+1 
= ∆t em γ

− Q Pf


 f
Ze n
(4.9)
Uma vez computados os coeficientes e na iteração anterior e
Ze n+1,s K n+1,s
F Qf (χn+1,s+1
f ),
n+1,s+1
Qf (P f ) o problema acima pode ser resolvido para PFn+1,s+1 .
Tal como mencionado anteriormente a estratégia apresentada permite desacoplar
o sistema (2.53)-(2.54)-(2.56) que agora pode ser resolvido sequencialmente explorando
os problemas auxiliares, evitando iterações adicionais entre os subsistemas. A Figura 27
apresenta o algoritmo final proposto.
Capítulo 4. Algoritmo de Evolução 68

Pb0 , Pf 0 , PF 0 Para cada n = 1, ...

Pbn+1,s , Pfn+1,s , PFn+1,s Para cada s = 1, ...

n o n n+1,s+1 o
Resolva os sistemas para χn+1,s+1
b , Pb
eqs. (4.3)-(4.4)

n o n n+1,s+1 o
Resolva os sistemas para χn+1,s+1
f , Pf
eqs. (4.7)-(4.8)

n o
Resolva o sistema para PFn+1,s+1
eq. (4.9)

Atualize Pbn+1,s+1 e PFn+1,s+1


eqs. (4.5)-(4.6)

Convergiu
s := s + 1 em n := n+1
Não Sim
Picard?
Pbn+1 , Pfn+1 , PFn+1

Figura 27 – Fluxograma com a descrição das etapas do algoritmo evolutivo adotado.

A estratégia descrita acima torna a paralelização do algoritmo apresentado na


Figura (27) imediata, uma vez que os problemas para as funções características, tanto da
rede de fraturas naturais quanto da matriz, são independestes entre si. A fim de explorar
tal característica propomos uma paralelização híbrida fazendo uso do Message Passing
Interface (MPI) e Open Multi-Processing (OMP). Os detalhes da paralelização são descritos
no Apêndice D.
69

5 Discretização do Modelo Multiescala

No presente capítulo apresentamos a discretização espacial do modelo multiescala


pelo método de Galerkin. Para este fim, iniciamos apresentamos as formulações variacionais
para cada subsistema e as subsequentes aproximações.
Seja L2 (Ξ) o espaço usual de Sobolev das funções de quadrado integrável defini-
das no domínio Ξ (que no contexto do presente trabalho representa um dos domínios
{Ys , ΩS , γ }) munido do produto interno:
Z
(f, g)Ξ = f g dY ∀f, g ∈ Ξ
Ξ

e H 1 (Ξ) o subespaço de Sobolev de L2 (Ξ) gerado por funções com derivada no sentido
das distribuições satisfazendo ∂f ∈ L2 (Ξ). Definimos por ThΞ uma partição do domínio
Ξ= K em elementos de diâmetros limitado por h e Pk (K) o conjunto de polinômios
[

K∈ThΞ
de grau menor ou igual a k em cada coordenada definidos no elemento K. Introduzimos
ainda Qkh o conjunto gerado por polinômios em Pk (Ξ):
n o
Qkh = ϕh ∈ C 0 (Ξ)| ϕh |K ∈ Pk (Ξ) ∀K ∈ ThΞ (5.1)

onde C 0 (Ξ) denota o espaço das funções contínuas em Ξ.

5.1 Cômputo das Funções Características na Matriz do Folhelho


Consideramos agora a discretização das equações (4.3) e (4.4) que governam as
funções características χb e P b . Definimos o conjunto de funções admissíveis, U 1 , juntamente
com o espaço das funções testes, U 0 :
n o n o
U 1 = v ∈ H 1 (Ys ); v|∂Ysf = 1 , U 0 = v ∈ H 1 (Ys ); v|∂Ysf = 0

Multiplicando a equação (4.3) por v ∈ U 0 , integrando por partes em Ys e explorando a


condição de que as funções testes se anulam na fronteira ∂Ysf , o problema variacional para
χn+1,s+1
b é dado por:
Para cada tn = n ∆t, n = 1, 2, ... e s = 1, ..., encontrar χn+1,s+1
b ∈ U 1 tal que:
   
Rn+1,s χn+1,s+1
b ,v + ∆t K n+1,s
b ∇y χbn+1,s+1 , ∇y v = 0 ∀v ∈ U 0 (5.2)
Y Y
n+1,s+1
Procedendo de forma análoga, o problema variacional para P b em (4.4) é dado por:
n+1,s+1
Para cada tn = n ∆t n = 1, 2, ... e s = 1, ..., encontrar P b ∈ U 0 tal que:
n+1,s+1 n+1,s+1
     
Rn+1,s P b ,v + ∆t K n+1,s
b ∇y P b , ∇y v = Rn−1 Pbn−1 , v ∀v ∈ U 0
Y Y Y
(5.3)
Capítulo 5. Discretização do Modelo Multiescala 70

Sejam Uh1 e Uh0 subespaços de dimensão finita de U 1 e U 0 tais que

Uh1 = U 1 ∩ Qkh , Uh0 = U 0 ∩ Qkh

As formulações de Galerkin para os problemas (5.2)-(5.3) são dadas respectivamente por:


Para cada tn = n ∆t, n = 1, 2, ..., e s = 1, .2, ..., encontrar χn+1,s+1
b,h ∈ Uh1 tal que:
   
Rhn+1,s χb,h
n+1,s+1
, vh + ∆t K n+1,s n+1,s+1
b,h ∇y χb,h , ∇y vh = 0 ∀vh ∈ Uh0 (5.4)
Y Y

n+1,s+1
Para cada tn = n ∆t, n = 1, 2, ..., e s = 1, 2, ..., encontrar P b,h ∈ Uh0 tal que:
n+1,s+1 n+1,s+1
     
Rhn+1,s P b,h , vh + ∆t K n+1,s
b,h ∇y P b,h , ∇y vh = Rhn−1 Pb,h
n−1
, vh ∀vh ∈ Uh0
Y Y Y
(5.5)
A atualização para a aproximação Pb,h
n+1,s+1
é dada por:
n+1,s+1
n+1,s+1
Pb,h = Pf,h
n+1,s+1 n+1,s+1
χb,h + P b,h

5.2 Hidrodinâmica na Rede de Fraturas Naturais


Apresentamos agora as formulações variacionais relativas aos problemas (4.7) e
(4.8). Sejam V 1 o conjunto e V 0 espaço das funções testes dados por:
n o n o
V 1 = v ∈ H 1 (ΩS ); v|γ = 1 , V 0 = v ∈ H 1 (ΩS ); v|γ = 0

A formulação variacional de (4.7) para a função característica χn+1,s+1


f consiste em:
Para cada tn = n ∆t, n = 1, 2, ... e s = 1, 2, ..., encontrar χfn+1,s+1 ∈ V 1 tal que:
 
φ∗f χn+1,s+1
f
D E 
 , v + Rn+1,s χn+1,s+1
b χn+1,s+1
f ,v +
Ze n+1,s+1 ΩS
ΩS
(5.6)
 
∆t K n+1,s
f ∇x χn+1,s+1
f , ∇x v = 0 ∀v ∈ V 0
ΩS

Analogamente, para (4.8) temos:


n+1,s+1
Para cada tn = n ∆t, n = 1, 2, ... e s = 1, 2, ..., encontrar P f ∈ V 0 tal que:
n+1,s+1
 
φ∗f P f D E n+1,s+1

 , v + Rn+1,s χn+1,s+1
b Pf ,v
Ze n+1,s+1 ΩS
ΩS

n+1,s+1
(5.7)
 
+∆t K n+1,s
f ∇x P f , ∇x v =
ΩS
φ∗f Pfn
!
n+1,s+1
D E 
,v − Rn+1,s P b − Rn Pbn , v ∀v ∈ V 0
Ze n ΩS
ΩS

Sejam Vh1 e Vh0 subespaços de dimensão finita de V 1 e V 0 tais que

Vh1 = V 1 ∩ Qkh , Vh0 = V 0 ∩ Qkh (5.8)


Capítulo 5. Discretização do Modelo Multiescala 71

As formulações de Galerkin correspondentes aos problemas (5.6) e (5.7) são:


Para cada tn = n ∆t, n = 1, 2, ... e s = 1, 2, ..., encontrar χn+1,s+1
f,h ∈ Vh1 tal que:
 
φ∗f χn+1,s+1
f,h
D E 
 , vh  + Rn+1,s χn+1,s+1
b,h χn+1,s+1
f,h , vh +
Ze n+1,s+1 ΩS
ΩS
(5.9)
 
∆t K n+1,s
f ∇x χn+1,s+1
f,h , ∇x vh = 0 ∀vh ∈ Vh0
ΩS

n+1,s+1
Para cada tn = n ∆t, n = 1, 2, ... e s = 1, 2, ..., encontrar P f,h ∈ Vh0 tal que:
n+1,s+1
 
φ∗f P f,h D E n+1,s+1

 , vh  + Rn+1,s χn+1,s+1
b,h P f,h , vh +
Ze n+1,s+1 ΩS
ΩS

n+1,s+1
(5.10)
 
∆t K n+1,s
f ∇x P f,h , ∇x vh =
ΩS
φ∗f Pf,h
n
!
n+1,s+1
D E 
, vh − Rn+1,s P b,h − Rn Pbn , vh ∀vh ∈ Vh0
Ze n ΩS
ΩS

A atualização para a aproximação Pf,h


n+1,s+1
é dada por:
n+1,s+1
n+1,s+1
Pf,h = PF,h
n+1,s+1 n+1,s+1
χf,h + P f,h

5.3 Hidrodinâmica na Rede de Fraturas Hidráulicas


Para que possamos apresentar a formulação variacional de (4.9) necessitamos
postular condições de contorno nas interfaces entre as fraturas hidráulicas e o poço de
produção e a região não estimulada. Lembrando da notação em (2.47), sejam ΓD F e ΓF
N

os contornos de γ tais que ΓF = ΓDF ∪ ΓF e ΓF ∩ ΓF = ∅ (ver Figura 28). Sem perda de


N D N

generalidade postulamos pressão prescrita na interface ΓD


F e a condição de fluxo nulo sobre
ΓF :
N

 P =P sobre ΓD
F w F
(5.11)
 J M · n = 0 sobre ΓN
F,τ F

onde Pw é a pressão prescrita. Introduzimos agora W 1 o conjunto das funções admissíveis


e W 0 o espaço das funções testes dados respectivamente por:
n o n o
W 1 = v ∈ H 1 (γ ); v|ΓDF = Pw , W 0 = v ∈ H 1 (γ ); v|ΓDF = 0

De posse das definições necessárias podemos apresentar a formulação variacional de (4.9):


Para cada tn = n ∆t, n = 1, 2, ... e s = 1, 2, ..., encontrar PFn+1,s+1 ∈ W 1 tal que:

φF PFn+1,s+1 ∆t   n+1,s+1  n+1,s+1 


!
 
, v + Q f χ P , v − ∆t K n+1,s
∇τ P n+1,s+1
, ∇ τ v
Ze n+1,s γ dF
f F γ F F γ
φF PFn ∆t   n+1,s+1  
!
= , v − Qf P f ,v ∀v ∈ W 0
Ze n γ d F γ
(5.12)
Capítulo 5. Discretização do Modelo Multiescala 72

fraturas naturais fratura


e matriz hidráulica
homogeneizados

interface
fratura/poço
matriz

Figura 28 – Representação dos domínios e suas interfaces.

Finalmente, definindo Wh1 e Wh0 como subespaços de dimensão finita de W 1 e W 0 tais que

Wh1 = W 1 ∩ Qkh , Wh0 = W 0 ∩ Qkh

a formulação de Galerkin para (5.12) consiste em:


Para cada tn = n ∆t, n = 1, 2, ... e s = 1, 2, ..., encontrar PF,h
n+1,s+1
∈ Wh1 tal que:
 
n+1,s+1
φF PF,h ∆t   n+1,s+1  n+1,s+1 
, vh  + Qf χf PF,h , vh −
γ

Ze n+1,s dF
γ
(5.13)
 
∆t K Fn+1,s ∇τ PF,h
γ=
n+1,s+1
, ∇τ vh
φF PFn ∆t   n+1,s+1 
!

, vh − Qf P , vh ∀vh ∈ Wh0
Ze n γ dF
f γ

Neste capítulo apresentamos a discretização espacial das equações que compõem


o modelo multiescala proposto via método de Galerkin. O próximo passo consiste em
apresentar resultados numéricos obtidos com tal modelo, conteúdo dos próximos capítulos.
73

6 Simulações Numéricas

A fim de ilustrar o potencial do modelo multiescala proposto iniciamos aqui


apresentando simulações computacionais da produção de gás em uma região estimulada de
um reservatório de gás de folhelho. A Figura 29 ilustra o reservatório idealizado para um
arranjo no qual o domínio de dimensão reduzida γ (γ ⊂ R) representa uma única fratura
vertical, ortogonal a um poço produtivo, e a rocha intacta ocupando um domínio retangular
(ΩS ⊂ R2 ). Consideramos os elementos da rede de fraturas naturais dispostos em estrutura
estratificada, paralelos entre si e separados pelos blocos da matriz do folhelho (tal como
ilustrado na Figura 24). O domínio ΩS ocupado pelo sistema fraturas naturais/matriz
homogeneizado é interceptado pela fratura hidráulica (Figura 29). Nesta configuração
simplificada as equações se reduzem a problemas unidimensionais correspondentes nas
direções do escoamento. Para as simulações via método de Galerkin adotamos polinômios
de grau k = 1 para a aproximação das incógnitas (espaço Q1h em (5.1)).

fratura
natural
fratura
hidráulica
matriz

interface
fratura/poço

Figura 29 – Esboço do reservatório de gás em folhelho idealizado para um arranjo particular


de rede de fraturas naturais e fratura hidráulica.

Computacionalmente, para o termo fonte nas fraturas naturais advindo da matriz,


para cada nó da malha de elementos finitos adotada na partição do domínio macroscópico
ΩS atribuímos um bloco Ys topologicamente suspenso no qual uma submalha é gerada para
discretização do subsistema local (2.56) (DOUGLAS JR.; ARBOGAST, 1990; ARBOGAST;
DOUGLAS JR.; HORNUNG, 1991).
Capítulo 6. Simulações Numéricas 74

No reservatório idealizado a metade da altura da fratura hidráulica é denotada


por xF . A interface desta com o poço é localizada em y = 0 e a origem do eixo x para
a hidrodinâmica nas fraturas naturais também é escolhida na interface com o poço. Os
comprimentos da rede de fraturas naturais e dos blocos mesoscópicos são designados por
Lf e wb , respectivamente.
A condição inicial para o modelo é dada por (2.58). Para avaliarmos a produção do
reservatório prescrevemos uma condição de Dirichlet para PF na interface com o poço, tal
como em (5.11)a. Além da condição de Dirichlet para (4.9), postulamos fluxo normal nulo
na fronteira da zona estimulada. Explorando a simetria do domínio retangular ocupado
pela rede de fraturas naturais postulamos condição de Neumann homogênea para o fluxo
normal. Desta forma, temos





PF = Pw sobre y = 0
F,τ · nF = 0
JM sobre y = xF (6.1)

 J ·n =0 sobre x = Lf /2


f f

onde nf denota um vetor unitário normal à linha de simetria em x = Lf /2.


Para realizarmos o cômputo da produção e do fator de recuperação do reservatório,
obtido pela razão entre o gás produzido e o gás residente na formação (gas-in-place),
necessitamos estabelecer uma área de contato entre a fratura hidráulica e o poço, que no
modelo numérico descrito acima consiste de um único segmento (y = 0). Por simplicidade,
consideramos que o escoamento da fratura na direção z é uniforme de modo que podemos
tratá-lo como unidimensional. Assim, denotando a espessura da fratura hidráulica por
2h, a área de contato entre a fratura e o poço é dada por 2h × dF , tal como ilustrado na
Figura 30.

interface h
fratura/poço

Figura 30 – Ilustração da área de contato entre a fratura hidráulica e o poço para o cálculo
da produção de gás no reservatório.

Levando em conta o arranjo estratificado adotado para a microestrutura da rede de


fraturas naturais a condutividade efetiva destas é dada por (3.16). Para a condutividade
Capítulo 6. Simulações Numéricas 75

efetiva da matriz usamos a aproximação obtida com o método auto coerente apresentado
no Capítulo 3 que resulta em (3.12). A permeabilidade da fratura hidráulica é representada
por um escalar kF,τ = kF,τ e2 ⊗ e2 com e2 o vetor unitário na direção y. Quando não
mencionados explicitamente no texto os parâmetros usados nas simulações são apresentados
na Tabela 4.
Nosso principal objetivo aqui é ilustrar o papel da rede de fraturas naturais na
produção de gás. As análises são feitas para uma quantidade fixa de gás no reservatório
(gas-in-place). Denotando por ∆m a diferença entre a quantidade de gás inicial e final
advinda da rocha intacta temos a seguinte representação para a quantidade total de gás
recuperável ∆M :
Z
∆M := ∆mdΩ
"ΩS ! #
Pf 0 Pw Lf
= − e φf ϕf + (R(Pb0 )Pb0 − R(Pw )Pw ) (1 − ϕf ) xF
Z(Pf 0 ) Z(Pw )
e 2

Para efeitos de comparações entre os diferentes cenários as simulações são efetuadas com o
mesmo ∆M . Adotamos como referência para ∆M o valor computado com os parâmetros
descritos na Tabela 4. Quando um conjunto de simulações for realizado com variação em
algum dos dados de entrada que alterem ∆M , tais com ϕf , TOC, etc, fixamos a metade
da altura da fratura hidráulica (xF ) e calculamos o comprimento Lf de forma a manter
o mesmo ∆M . A Tabela 5 exibe na primeira coluna o parâmetro alterado em relação
aos valores da Tabela 4 em cada conjunto de simulações apresentadas no decorrer deste
capítulo, juntamente com o respectivo valor de Lf /2 e o número de elementos usado na
discretização do domínio [0, Lf /2]. É importante ressaltar que um único parâmetro é
alterado por vez.
Para não deteriorar a precisão no cálculo dos fluxos numéricos, que dependendo
dos parâmetros adotados apresentam comportamento não suave perto das interfaces,
optamos por malhas mais refinadas perto das interfaces fratura hidráulica/poço e fraturas
naturais/fratura hidráulica. Adotamos 400 elementos lineares na partição do domínio
[0, xF ] e 20 elementos lineares na partição de [0, wb ]. Os valores de Lf /2 para os parâmetros
de referência da Tabela 4 e para diferentes cenários de dados de entrada são apresentados
na Tabela 5 bem como o número de elementos lineares para discretizar o domínio [0, Lf /2].
O tamanho do passo de tempo adotado foi ∆t = 1 mês.

6.1 Sensibilidade do Modelo Multiescala


Neste primeiro conjunto de resultados avaliamos a sensibilidade do modelo proposto
em relação a alguns parâmetros. Iniciamos exibindo os resultados para avaliar a influência
2 ∗
O valor Sw usado foi 0.3 com base nos trabalhos de (BESKOK; KARNIADAKIS, 1999; FLORENCE
et al., 2007; LE et al., 2015).
Capítulo 6. Simulações Numéricas 76

Parâmetro Valor Unidade Parâmetro Valor Unidade


Rg 8.314 Pa m3 /(mol K) k∞ 1 × 10−18 m2
T 323 K µg 1.2 × 10−5 Pa s
ρL 5.556 × 104 mol/m3 kf 1.0 × 10−15 m2
H∗ 5 × 109 Pa ϕf 4.97 × 10−3 -
PS 7 × 105 Pa kF,τ 1.0 × 10−13 m2
v∞ 3.4501 × 10−5 m /mol
3
H 5d m
D 2.4 × 10−9 m2 /s d 0.38 × 10−9 m
ρI 2.7 g/cm3 dF 2 mm
ρK 1.2 g/cm3 PF,0 17.8 × 106 Pa
Sw 0.3 - Pf,0 17.8 × 106 Pa
Swr 0.2 - Pb,0 17.8 × 106 Pa
Sgr 0.2 - xF 40 m
Sw∗ 2 0.3 - Lf /2 20 m
ϕM 0.1 - wb 0.1 m
ϕN 0.05 - h 1.0 m
T OC 0.05 - Pw 1.0 × 106 Pa

Tabela 4 – Valores dos parâmetros utilizados nas simulações de produção de gás.

Lf /2 nº de elementos em [0, Lf ]
Parâmetros da Tabela 4 20.0000m 500
ϕf = 0.1000 9.5852m 240
TOC= 0.20 17.1509m 428
TOC= 0.50 14.5255m 363
wb = 0.01 13.4440m 336
modelo reduzido 21.2065m 530

Tabela 5 – Valores de Lf computados para conjuntos de dados diferentes dos listados


na Tabela 4. Os parâmetros alterados e seus respectivos valores utilizados no
cálculo do novo Lf são mostrados na primeira coluna.

da fração de volume das fraturas naturais na produção de gás. Realizamos experimentos


com ϕf de referência (Tabela 4) e ϕf = 0.1. A Tabela 5 apresenta os valores de Lf /2
para cada ϕf bem como o número de elementos utilizados na discretização do domínio
ocupado pela rede de fraturas naturais. A Figura 31 mostra os perfis da pressão na fratura
hidráulica em alguns passos de tempo para dois valores de ϕf . Podemos observar que o
aumento em ϕf tende a elevar o fluxo na rede de fraturas naturais, o que leva a produzir
uma fonte de maior magnitude nas fraturas hidráulicas, consequentemente retardando a
dissipação da pressão, particularmente para tempos curtos. Quando comparadas as curvas
da pressão no domínio ocupado pela rede de fraturas naturais, Figura 32, podemos notar
que um aumento em ϕf tende a elevar a permeabilidade do domínio macroscópico levando
a uma dissipação da pressão (Pf ) mais acentuada no tempo. Na Figura 33 mostramos que
a magnitude de ϕf tem influência moderada sobre o fator de recuperação. Particularmente
Capítulo 6. Simulações Numéricas 77

a produção de gás é mais acentuada para tempos menores, uma vez que o fluxo nas fraturas
naturais é intensificado.

1.6e+07
1 mês 1.6e+07
1 mês
1 ano 1 ano
1.4e+07 3 anos 1.4e+07 3 anos
5 anos 5 anos
1.2e+07 10 anos 1.2e+07 10 anos
Pressão (Pa)

Pressão (Pa)
1.0e+07 1.0e+07
8.0e+06 8.0e+06
6.0e+06 6.0e+06
4.0e+06 4.0e+06
2.0e+06 2.0e+06
0 5 10 15 20 25 30 35 40 0 5 10 15 20 25 30 35 40
y (m) y (m)
(a) ϕf = 4.97 × 10−3 (b) ϕf = 0.10

Figura 31 – Evolução da curva da pressão na fratura hidráulica parametrizada pela fração


de volume das fraturas naturais.
1e7

1.6 1e7
1.4 1.6
Pressão (Pa)

1.4
1.2 1.2
1.0 1.0
0.8 0.8
0.6 0.6
0.4 0.4
0.2 0.2
0.020 0.0
Fratu 15
ras N 10 5 30 35 40
atura 5 10 15 20 25
is (m 0 0 Fratura Hidráulica
(m)
)
(a) ϕf = 4.97 × 10−3
1e7

1.6 1e7
1.4 1.6
Pressão (Pa)

1.4
1.2 1.2
1.0 1.0
0.8 0.8
0.6 0.6
0.4 0.4
0.2 0.2
0.010 0.0
Fratu 8
ras N 6 4 2 30 35 40
atura 5 10 15 20 25
is (m 0 0 Fratura Hidráulica
(m)
)
(b) ϕf = 0.10

Figura 32 – Perfis da pressão na rede de fraturas naturais no instante de tempo t = 1 mês.

Nosso objetivo agora é avaliar a sensibilidade dos resultados em relação a permeabi-


lidade intrínseca das fraturas naturais. Como ∆M não depende de kf os resultados foram
Capítulo 6. Simulações Numéricas 78

1.0

Fator de Recuperação
0.8
0.6
0.4
ϕf = 4. 97 × 10 −3
0.2 ϕf = 0. 1
0.0
0 1 2 3 4 5
Tempo (anos)
Figura 33 – Evolução no tempo do fator de recuperação parametrizado pela fração de
volume das fraturas naturais.

obtidos com o valor de referência Lf /2 = 20m. Na Figura 34 observamos que a dissipação


de PF ocorre mais rápido para o valor menor de kf (Figura 34a) uma vez que a fonte de
gás advinda das fraturas naturais neste caso é menor quando comparada com a mesma
computada com o valor maior de kf . A Figura 35 ilustra a pressão na rede de fraturas
naturais computada nos instantes de tempo t = 1 mês e t = 1 ano para os dois valores de
kf . Podemos notar que a permeabilidade desempenha um papel de grande relevância uma
vez que o acoplamento entre as redes de fraturas influenciam fortemente a dissipação de
Pf no tempo. Como PF dissipa quase de maneira uniforme ao longo da fratura hidráulica
para o valor menor de kf , a condição de contorno para Pf na interface γ conduz a um
perfil da pressão ao longo do eixo x com uma queda abrupta próximo a γ , particularmente
em tempos curtos (Figura 35a), que tende a suavizar no tempo. Já para o valor maior
de kf (Figuras 35c e 35d) a dissipação de PF não ocorre de maneira homogênea ao longo
da fratura hidráulica. Como consequência o perfil de Pf segue o mesmo da dissipação da
pressão na fratura hidráulica, sendo praticamente constante ao longo das fraturas naturais
(eixo x na Figura 35d).
Analisamos agora a resposta da pressão Pb na matriz com perturbações em kf . As
Figuras 36a e 36b apresentam a dependência das pressões para alguns blocos da matriz do
folhelho (tratadas como faixas paralelas ao poço no caso estratificado) com a coordenada
x para três cortes, y = 0, y = xF /2 e y = xF , e dois valores de kf no instante de tempo
t = 1 mês. É importante ressaltar a forte influência de Pf na condição de contorno (2.56)c
nos perfis da pressão na matriz. Note que para kf = 1 × 10−17 m2 a dissipação na matriz
ocorre inicialmente próximo à fratura hidráulica, seguindo o perfil de dissipação de Pf
(Figura 34a), tal como mostrado na Figura 36a. Já para kf = 1 × 10−14 m2 os perfis de Pf
conduzem inicialmente a uma dissipação quase uniforme ao longo do eixo x, levado pelo
perfil do fluxo de gás nas fraturas naturais. Finalmente, na Figura 37 plotamos os perfis
das curvas do fator de recuperação parametrizado por kf . Podemos observar a influência
do parâmetro em questão na evolução da curva de produção ao longo do tempo, a qual, tal
como esperado, tende a ser mais lenta para o menor valor de kf . Notamos também que a
Capítulo 6. Simulações Numéricas 79

partir de certo valor da permeabilidade das fraturas preexistentes esta passa a influenciar
a recuperação de gás de maneira menos pronunciada, particularmente para valores de kf
próximos a kF,τ , uma vez que o fluxo saindo das fraturas naturais deve escoar pela fratura
hidráulica.

1.6e+07
1 mês 1.6e+07
1 mês
1 ano 1 ano
1.4e+07 3 anos 1.4e+07 3 anos
5 anos 5 anos
1.2e+07 10 anos 1.2e+07 10 anos
Pressão (Pa)

Pressão (Pa)
1.0e+07 1.0e+07
8.0e+06 8.0e+06
6.0e+06 6.0e+06
4.0e+06 4.0e+06
2.0e+06 2.0e+06
0 5 10 15 20 25 30 35 40 0 5 10 15 20 25 30 35 40
y (m) y (m)
(a) kf = 1 × 10−17 m2 (b) kf = 1 × 10−14 m2

Figura 34 – Evolução da curva da pressão na fratura hidráulica parametrizada pela per-


meabilidade intrínseca das fraturas naturais.

No próximo conjunto de resultados objetivamos quantificar a influência do TOC e


do tamanho dos blocos da matriz (wb ) sobre as curvas de produção. Os valores de Lf para
cada T OC e wb são mostrados na Tabela 5. A Figura 38 mostra a evolução no tempo da
curva do fator de recuperação parametrizada pelo TOC. Notamos que tal parâmetro tem
influência moderada no fator de recuperação sendo mais acentuada no período inicial de
produção. Como a quantidade de gás no reservatório é fixa, a curva do fator de recuperação
decresce com o TOC uma vez que o gás adsorvido é produzido mais tardiamente comparado
ao gás bulk. Por este mesmo motivo podemos constatar pela análise das curvas do fator de
recuperação parametrizado por wb (Figura 39) que o aumento no tamanho do bloco tende
a retardar o processo de extração para uma quantidade de gás total fixa.

6.2 Influência da Rede de Fraturas Naturais


No próximo conjunto de resultados queremos avaliar o papel das fraturas naturais
no modelo multiescala. Para alcançarmos este objetivo comparamos os resultados do
presente modelo com os computados através do modelo reduzido apresentado na seção
2.5. A Figura 40 ilustra o reservatório idealizado na ausência da rede de fraturas naturais.
Note que neste cenário a matriz interage diretamente com a fratura hidráulica. O valor de
Lf deste caso simplificado é apresentado na Tabela 5 e a condição inicial adotada é dada
por (2.61). Já para as condições de contorno da matriz, além de (2.60)c postulamos fluxo
Capítulo 6. Simulações Numéricas 80

1e7

1e7
1e7 1.8 1e7
1.6 1.6 1.6 1.6
Pressão (Pa)

Pressão (Pa)
1.4 1.4 1.4 1.4
1.2 1.2 1.2 1.2
1.0 1.0 1.0 1.0
0.8 0.8 0.8 0.8
0.6 0.6 0.6 0.6
0.4 0.4 0.4 0.4
0.2 0.2 0.2 0.2
0.0 0.0 0.0 0.0
x-Fra 20 15 x-Fra 20 15
turas 10 30 35 40 turas 10 30 35 40
Natu 5 0 0 5 10 15 20 25 Natu 5 0 0 5 10 15 20 25
rais (
m) y-Fratura Hidráu
lica (m) rais (
m) y-Fratura Hidráu
lica (m)
(a) 1 mês, kf = 1 × 10−17 m2 (b) 1 ano, kf = 1 × 10−17 m2
1e7

1e7
1e7 1.8 1e7
1.6 1.6 1.6 1.6
Pressão (Pa)

Pressão (Pa)
1.4 1.4 1.4 1.4
1.2 1.2 1.2 1.2
1.0 1.0 1.0 1.0
0.8 0.8 0.8 0.8
0.6 0.6 0.6 0.6
0.4 0.4 0.4 0.4
0.2 0.2 0.2 0.2
0.0 0.0 x 0.020 15 0.0
x-Fra 20 15 -Frat
turas 10 25 30 35 40 uras 10 30 35 40
Natu 5 0 0 5 10 15 20 Natu 5 0 0 5 10 15 20 25
rais (
m) y-Fratura Hidráu
lica (m) rais (
m) y-Fratura Hidráu
lica (m)
(c) 1 mês, kf = 1 × 10−14 m2 (d) 1 ano, kf = 1 × 10−14 m2

Figura 35 – Perfis da pressão na rede de fraturas naturais (Pf ) parametrizados pela


permeabilidade intrínseca das fraturas naturais. Resultados computados nos
instantes de tempo (a) t = 1 mês e (b) t = 1 ano para kf = 1 × 10−17 m2 e (c)
t = 1 mês e (d) t = 1 ano para kf = 1 × 10−14 m2 .

nulo na linha de simetria da matriz:

J b · nb = 0 sobre Lf /2 (6.2)

A evolução no tempo dos perfis da pressão na fratura hidráulica são apresentados


na Figura 41. Nos primeiros três anos de simulação o escoamento no modelo reduzido
é mais rápido. Cabe ressaltar aqui que como neste caso a fratura hidráulica interage
com a matriz, que tem permeabilidade bem mais baixa comparada com a das fraturas
naturais, a magnitude da fonte nas fraturas hidráulicas advinda da matriz é menor, por
isso a dissipação inicial mais rápida. Entretanto a duração do período transiente do
modelo reduzido é maior, uma vez que no modelo proposto as fraturas naturais atuam
como caminhos de maior permeabilidade para o escoamento do gás. Nas Figuras 42 e
43 apresentamos os fluxos na rede de fraturas naturais (modelo proposto) e na matriz
(modelo reduzido) em ambos os lados da interface com a fratura hidráulica para dois
instantes de tempo. É importante salientar que no modelo reduzido exite um contraste
Capítulo 6. Simulações Numéricas 81

1.8 1e7

1.6

1.4

1.2

Pressão (Pa) 1.0

0.8

0.6

0.4 1 mês, y = 0
1 mês, y = xF /2
0.2 1 mês, y = xF
x=0 x = Lf /2
−17 2
(a) kf = 1 × 10 m

1.8 1e7

1.6

1.4

1.2
Pressão (Pa)

1.0

0.8

0.6

0.4 1 mês, y = 0
1 mês, y = xF /2
0.2 1 mês, y = xF
x=0 x = Lf /2
(b) kf = 1 × 10−14 m2

Figura 36 – Perfis das pressões Pb para alguns blocos da matriz do folhelho em três faixas
paralelas ao poço computadas no instante de tempo t = 1 mês para dois
valores de permeabilidade das fraturas naturais: (a) kf = 1 × 10−17 m2 ; (b)
kf = 1 × 10−14 m2 .

maior entre as permeabilidades da fratura hidráulica e matriz. Assim, para curtos períodos
de tempo observamos um crescimento abrupto do fluxo perto da interface (Figura 42b) que
tende a ser suavizado com a evolução temporal (Figura 43b). Tal comportamento abrupto
não é observado no modelo proposto (Figura 42a), pois a fratura hidráulica se comunica
diretamente com a rede de fraturas naturais e o contraste entre as permeabilidades destes
dois meios é menor.
Finalmente, a evolução temporal das curvas de produção acumulada parametrizadas
pelos modelos é ilustrada na Figura 44. Podemos observar um aumento na duração do
período transiente do modelo reduzido comparado com o proposto mostrando que, tal
Capítulo 6. Simulações Numéricas 82

1.0

Fator de Recuperação
0.8

0.6

0.4 kf = 1 × 10 −17 m 2
kf = 1 × 10 −16 m 2
0.2 kf = 1 × 10 −15 m 2
kf = 1 × 10 −14 m 2
0.0
0 2 4 6 8 10
Tempo (anos)
Figura 37 – Evolução da curva do fator de recuperação parametrizado pela permeabilidade
intrínseca das fraturas naturais.

1.0
Fator de Recuperação

0.8

0.6

0.4
TOC = 0. 05
0.2 TOC = 0. 20
TOC = 0. 50
0.0
0 2 4 6 8 10
Tempo (anos)
Figura 38 – Evolução da curva do fator de recuperação parametrizado pelo TOC.

1.0
Fator de Recuperação

0.8

0.6

0.4

0.2 wb = 0. 01
wb = 0. 10
0.0
0 2 4 6 8 10
Tempo (anos)
Figura 39 – Evolução da curva do fator de recuperação parametrizado por wb .

como esperado, a presença da rede de fraturas naturais tende a diminuir o tempo de


produção do reservatório.
Capítulo 6. Simulações Numéricas 83

matriz

interface
fratura/poço

Figura 40 – Esboço do reservatório idealizado para o modelo reduzido (ausência da rede


de fraturas naturais).

1.6e+07
1 mês 1.6e+07
1 mês
1 ano 1 ano
1.4e+07 3 anos 1.4e+07 3 anos
5 anos 5 anos
1.2e+07 10 anos 1.2e+07 5 anos
Pressão (Pa)

Pressão (Pa)

1.0e+07 1.0e+07
8.0e+06 8.0e+06
6.0e+06 6.0e+06
4.0e+06 4.0e+06
2.0e+06 2.0e+06
0 5 10 15 20 25 30 35 40 0 5 10 15 20 25 30 35 40
y (m) y (m)
(a) (b)

Figura 41 – Evolução da pressão na fratura hidráulica ao longo do tempo computada com


os dois modelos. (a) Modelo proposto e (b) reduzido (ausência de fraturas
naturais).

6.3 Poço Horizontal


Tal como mencionado anteriormente os resultados mostrados até aqui consideram
que a interface da fratura hidráulica com o poço se estende em toda a espessura da fratura
hidráulica (ver Figura 30). Com o intuito de avaliar o efeito desta abordagem, que trata o
poço como vertical, realizamos simulações com o modelo reduzido (ausência de fraturas
naturais) para um reservatório com um poço cilíndrico horizontal. Neste cenário o domínio
ocupado pela rocha intacta é representado por um paralelepípedo (ΩS ⊂ R3 ) e, após o
uso do processo de redução de dimensão, o domínio tridimensional da fratura hidráulica
se reduz a um retângulo γ ⊂ R2 , tal como ilustrado na Figura 45. As Figuras 46a e 46b
mostram seções transversais do reservatório nos planos x-y e z-y, respectivamente. As
Capítulo 6. Simulações Numéricas 84

2.4
1.8
2 1.2

Fluxo (kg/m2 dia)


0.6
1 0.0
0.6
0 1.2
1.8
1 2.4
2
20 10 40
x-Fratu 0 30
ras Naturais 10 10
20
)
(m) 200
y-Fratura H
idráulica (m
(a) Modelo proposto.

0.4
0.3
0.4 0.2
0.3 0.1
Fluxo (kg/m2 day)

0.2 0.0
0.1
0.1 0.2
0.0 0.3
0.1 0.4
0.2
0.3 40
0.4 30 (m)
30
20 10 0 10 i
20
dr áulica
y-Matriz (m)
10 20 300 -Fratura H
x
(b) Modelo reduzido.

Figura 42 – Perfis da componente normal do fluxo para as fraturas hidráulicas no instante


de tempo t = 1 mês. (a) Modelo proposto (J f ); (b) modelo reduzido (J b ).

simulações foram realizadas com os parâmetros descritos na Tabela 4. Consideramos o


poço com raio rw = 0.1m. O domínio γ foi discretizado com uma malha de 248 elementos
triangulares lineares.
A Figura 47a mostra o perfil de PF no instante de tempo t = 10 anos. A interface da
fratura com o poço é mostrado na Figura 47b. A comparação entre as curvas de produção
computadas da maneira descrita na seção anterior e na presente seção é apresentada
na Figura 48 ilustrando que tal como esperado a abordagem anteriormente utilizada
superestima a produção uma vez que amplifica a área de contato fratura/poço.
No presente capítulo apresentamos resultados numéricos obtidos com o modelo
multiescala proposto. Os experimentos mostram a importância em incorporar a rede de
fraturas naturais pois esta desempenha o papel de acelerar o processo de produção de gás
no reservatório uma vez que é um caminho intermediário de mais alta permeabilidade
para o gás escoar da matriz até a fratura hidráulica. Nosso próximo passo consiste em
avaliar a resposta do modelo em simulações de teste de pressão em poços, tema abordado
no próximo capítulo.
Capítulo 6. Simulações Numéricas 85

0.20
0.15
0.20 0.10
0.15 0.05

Fluxo (kg/m2 dia)


0.00
0.10 0.05
0.05 0.10
0.00 0.15
0.20
-0.05

)
-0.10

a (m
40
-0.15 30

áulic
20
-0.20 20 10

Hidr
10 0 10 200
x-Fraturas Naturais (m)

a
atur
y-Fr
(a) Modelo proposto.

0.060
0.045
0.06 0.030
0.015
Fluxo (kg/m2 day)

0.04
0.000
0.02 0.015
0.030
0.00 0.045
0.02 0.060

0.04
40
0.0630 30 (m)
20 10 0 10
20
idr áulica
y-Matriz (m)
10 20 300 -Fratura H
x
(b) Modelo reduzido.

Figura 43 – Perfis da componente normal do fluxo para as fraturas hidráulicas no instante


de tempo t = 1 ano. (a) Modelo proposto (J f ); (b) modelo reduzido (J b ).

1.0
Fator de Recuperação

0.8
0.6
0.4
0.2 SEM fraturas naturais
COM fraturas naturais
0.0
0 2 4 6 8 10
Tempo (anos)
Figura 44 – Evolução da curva do fator de recuperação computada pelos modelos reduzido
(sem fraturas naturais) e proposto.
Capítulo 6. Simulações Numéricas 86

matriz

fratura
hidráulica

poço

Figura 45 – Representação do domínio idealizado no caso de poço horizontal.

matriz fratura
hidráulica

h
poço
horizontal
(a) (b)

Figura 46 – Seções transversais dos planos (a) x-y e (b) y-z para o reservatório com poço
horizontal.
Capítulo 6. Simulações Numéricas 87

(a) Perfil de PF no plano z-y. (b) Detalhe da interface fratura/poço.

Figura 47 – Fratura hidráulica bidimensional. (a) Pressão ao longo da fratura hidráulica


computado no instante de tempo t = 10 anos; (b) detalhe da malha de
elementos finitos na interface da fratura hidráulica com o poço.

1.0
Fator de Recuperação

0.8
0.6
0.4
0.2 Poço vertical
Poço horizontal
0.0
0 20 40 60 80 100
Tempo (anos)
Figura 48 – Evolução da curva do fator de recuperação computada pelos modelos com
fratura hidráulica 1D e 2D.
88

7 Testes de Pressão em Poços

Com o objetivo de ilustrar o potencial da formulação proposta em outras aplicações


exploramos aqui o modelo computacional resultante para simular um teste de pressão
em um poço vertical fraturado hidraulicamente. O propósito do teste de pressão é obter
informações e estimar parâmetros do reservatório (EARLOUGHER, 1977).
Diferentes tipos de testes de pressão têm sido empregados na caracterização de
formações tais como teste de fluxo (drawdown), de crescimento da pressão (buildup),
injeção, entre outros (HORNE, 1995). A escolha do tipo de teste depende dos objetivos do
mesmo bem como dos recursos disponíveis.
Neste trabalho focamos na simulação do teste de fluxo no qual o reservatório
inicialmente em repouso é induzido a produzir a uma vazão constante gerando variações
na pressão no fundo do poço, tal como ilustrado na Figura 49. Tal resposta da pressão é
registrada durante um período de tempo, que pode variar de dias a meses dependendo do
objetivo do teste.
vazão

tempo

pressão

tempo

Figura 49 – Ilustração do teste de fluxo no qual o reservatório inicialmente em repouso é


colocado para produzir a uma vazão constante enquanto a variação da pressão
no fundo do poço é registrada ao longo do tempo.

A evolução temporal da pressão depende fortemente das características do reser-


vatório e sua interpretação adequada fornece estimativas robustas na reconstrução de
propriedades do mesmo. Inseridos neste contexto os métodos de interpretação de testes de
poço são caracterizados como problemas inversos (GRINGARTEN et al., 1979): consistem
em encontrar um modelo de reservatório (incógnita) capaz de relacionar o histórico de
vazões (entrada) com a resposta da pressão monitorada no poço (saída), estabelecendo
Capítulo 7. Testes de Pressão em Poços 89

estimativas para os parâmetros de entrada do modelo os quais se ajustam ao histórico da


pressão. Tais modelos matemáticos podem ser analíticos ou numéricos e são construídos
baseados na teoria de escoamento em meios porosos.
Uma das ferramentas utilizada na interpretação do teste de poço é o gráfico
diagnóstico (BOURDET et al., 1983), o qual mostra a evolução da queda da pressão no
poço com o tempo na escala log-log, bem como a derivada da queda da pressão em relação
ao logaritmo do tempo (∂p/∂lnt = t∂p/∂t). O uso da derivada foi introduzido por Bourdet
et al. (1983), Bourdet, Ayoub e Pirard (1989) que observaram que a derivada logarítmica é
altamente sensível a mudanças no perfil da curva de queda de pressão. Este fato pode ser
explorado na detecção de complexidades geológicas difíceis de ser capturadas no gráfico
da curva da queda de pressão.
A análise dos gráficos diagnóstico permite identificar diferentes regimes de fluxo.
Neste sentido, a teoria para classificar tais regimes é baseada na solução analítica de modelos
simplificados (KAZEMI, 1969; SWAAN, 1976; SERRA; REYNOLDS; RAGHAVAN, 1983).
No caso de líquidos, representações analíticas para soluções de modelos lineares com
coeficientes constantes da equação da difusividade são usualmente construídas. Os diferentes
regimes são caracterizados pela inclinação da reta da pressão contra o tempo. De acordo
com Cinco-Ley e Samaniego-V. (1981), para um poço verticalmente fraturado produzindo
a uma vazão constante, o regime de fluxo linear numa fratura hidráulica de condutividade
finita, por exemplo, ocorre em tempos bem curtos sendo caracterizado por uma reta
com inclinação 1/2 no gráfico diagnóstico. Neste regime de fluxo a maior parte do fluido
produzido advém da fratura hidráulica, tal como ilustra a Figura 50a. Um outro regime
que pode se desenvolver, dependendo das características do reservatório, é o bilinear, onde
o regime de fluxo linear ocorre simultaneamente na fratura hidráulica e na matriz tal como
mostrado na Figura 50b. Tal regime é identificado por uma reta com inclinação 1/4 no
gráfico diagnóstico e ocorre quando a produção é dominada pela matriz num período de
tempo no qual os efeitos de fronteira da fratura ainda não se manifestaram. Nos casos em
que o reservatório é finito, um terceiro regime é observável quando as fronteiras de fluxo
nulo são alcançadas caracterizando o regime de fluxo pseudo-permanente. Durante este
período, a pressão em todo o reservatório decresce a uma taxa constante caracterizando
este regime por uma linha reta com inclinação 1 no gráfico diagnóstico.
Após o diagnóstico dos regimes de fluxo, a estimativa dos parâmetros de interesse
é realizada através de um gráfico especializado. Este exibe o gráfico da pressão contra

uma função do tempo f (t), onde f (t) depende de cada regime de fluxo (f (t) = t para o

regime linear, t para o bilinear, etc (GRINGARTEN, 2008)). A partir da inclinação da
4

reta ajustada nesses pontos é possível estimar propriedades do reservatório. A Figura 51


apresenta um exemplo de um gráfico diagnóstico (Figura 51a) e de um gráfico especializado
(Figura 51b).
Capítulo 7. Testes de Pressão em Poços 90

poço vertical

fratura hidráulica

matriz matriz

(a) (b)

Figura 50 – Regimes de fluxo para um poço vertical produzindo a vazão constante. (a)
Regime linear na fratura hidráulica; (b) regime bilinear: linear na fratura
hidráulica e na matriz.

(a) Gráfico diagnóstico. (b) Gráfico especializado.

Figura 51 – Gráficos comumente utilizados na interpretação dos testes de poço. (a) Usado
para identificar um determinado regime de fluxo (∆p = p(t) − p(t0 )); (b) usado
para computar a inclinação da reta ajustada que é então usada para estimar
parâmetros do reservatório.

Tal como mencionado anteriormente, no contexto dos modelos de reservatórios


de gás, os coeficientes nas equações parabólicas da difusividade (equações (2.53), (2.54)
e (2.56)) dependem fortemente da pressão dando origem a não linearidades. A fim de
construir as soluções analíticas para fluidos compressíveis Al-Hussainy e Ramey (1966),
Al-Hussainy, Ramey e Crawford (1966) introduziram uma mudança de variáveis que
lineariza parcialmente a equação da difusividade em relação à viscosidade e fator de
compressibilidade através da função pseudo-pressão, definida por:
Z P
P0
mi (P ) = 2 dP 0 , i = {b, f, F } (7.1)
Pref µg (P 0 )Z(P 0 )
onde Pref denota uma pressão de referência dada. As soluções analíticas são descritas em
termos da pseudo-pressão e a caracterização dos regimes pode ser derivada de forma análoga
Capítulo 7. Testes de Pressão em Poços 91

ao caso dos líquidos sendo que funções dependentes da pressão, como a compressibilidade
do fluido, por exemplo, são avaliadas na pressão inicial ou na pressão média do reservatório.
Entretanto, tal como visto anteriormente, os reservatórios de gases em folhelhos exibem
fontes adicionais de não linearidades tais como os efeitos de Knudsen e adsorção nos
nanoporos da matéria orgânica. Neste sentido, curvas diagnósticos construídas através de
modelos numéricos, os quais não requerem a linearização das equações, tornam-se mais
adequados. Desta forma, o modelo multiescala proposto é aqui explorado para computar
numericamente a evolução temporal da pressão na interface fratura hidráulica/poço para
uma vazão constante prescrita no poço.
Iniciamos agora a apresentação dos resultados das simulações numéricas do teste
transiente de pressão. O reservatório é idealizado da mesma forma apresentada no capítulo
anterior para poço vertical (fratura hidráulica unidimensional). Neste contexto o poço
produz a uma vazão constante e, tal como mencionado anteriormente, sua interface com
a formação se dá apenas através da fratura hidráulica (Figura 30). Os parâmetros de
entrada utilizados são apresentados na Tabela 6. Pelo mesmo motivo citado no capítulo
anterior, utilizamos malhas mais refinadas perto das interfaces fratura hidráulica/poço
e fraturas naturais/fratura hidráulica. Adotamos 239 elementos lineares na partição do
domínio [0, xF ], 80 para [0, Lf /2] e 10 na partição de [0, wb ]. Como condição inicial para o
sistema adotamos (2.58) para o modelo proposto e (2.61) para o modelo reduzido. Já as
condições de interface para a pressão na fratura hidráulica PF (eq. (4.9)a) consistem do
fluxo prescrito na interface fratura hidráulica/poço juntamente com a condição de fluxo
nulo na extremidade superior da fratura:

JMF,τ · n = J dado · n sobre y=0

(7.2)
F,τ · n = 0 sobre y = xF
 J

onde J dado denota o fluxo prescrito no poço. Devido à simetria do problema impomos
também a condição fluxo nulo sobre x = Lf /2 (equação (7.2)c para o modelo proposto e
(6.2) para o modelo reduzido). A Figura 52 ilustra o reservatório idealizado bem como as
condições de contorno.
Por conveniência, os resultados são apresentados em termos de parâmetros adi-
mensionais. As definições da pseudo-pressão e tempo adimensionais utilizados são (GUO;
ZHANG; ZHU, 2015):
πkD Tsc

miD = (mi (Pi,inicial ) − m(Pi )), i = {b, f, F }



Psc qsc T



kD

tD = (7.3)
(φc)t µg x2F




(φc)t := φF ctF + ϕP ctb + ϕK ϕN ctG G


onde Psc , Tsc e qsc denotam a pressão, temperatura e vazão em condições padrão e ctF , ctb
e ctG as compressibilidades definidas em (C.10) e (C.23). Já kD designa a componente de
Capítulo 7. Testes de Pressão em Poços 92

fratura
natural
fratura
hidráulica
matriz

interface
fratura/poço

Figura 52 – Esboço do reservatório de gás em folhelho idealizado para um arranjo particular


de rede de fraturas naturais e fratura hidráulica.

Kb em (3.12) considerando, por simplicidade, ausência de água e negligenciando a correção


devido aos efeitos de Knudsen (fc = 1),
k∞ 2ϕP
kD = (7.4)
µg 3 − ϕP
A pseudo-pressão adimensional na interface fratura hidráulica/poço (y = 0) é denotada
por mwD (mwD := mF D (y = 0)). No contexto usual da literatura de testes em poços, na
terminologia adotada a seguir, a derivada da pseudo-pressão designa a derivada em relação
ao logaritmo do tempo (BOURDET et al., 1983). Além disso, ao contrário do capítulo
anterior onde simulações foram realizadas para uma quantidade fixa de gás no reservatório,
no presente capítulo as mesmas são efetuadas para uma mesma quantidade inicial de gás,
Minicial , uma vez que não prescrevemos mais a pressão na interface fratura/poço. Assim,
temos:
" ! #
Z
Pf 0 Lf
Minicial := minicial dΩ = φf ϕf + R(P b0 )P b0 (1 − ϕ f ) x F
ΩS Z(P
e
f 0) 2
O valor de Minicial é computado com os parâmetros dados na Tabela 6.

7.1 Simulações Numéricas do Modelo Reduzido


Iniciamos apresentando simulações realizadas com o modelo reduzido, ou seja,
que considera ausência da rede de fraturas naturais ((2.59)-(2.60) com o reservatório
Capítulo 7. Testes de Pressão em Poços 93

Parâmetro Valor Unidade Parâmetro Valor Unidade


Rg 8.314 Pa m3 /(mol K) µg 1.2 × 10−5 Pa s
T 320 K kf 1.0 × 10−15 m2
ρL 5.556 × 104 mol/m3 ϕf 4.97 × 10−3 -
H∗ 5 × 109 Pa kF,τ 1.0 × 10−13 m2
PS 7 × 105 Pa H 5d m
v∞ 3.4501 × 10−5 m /mol
3
d 0.38 × 10−9 m
D 2.4 × 10−9 m2 /s dF 2 mm
ρI 2.7 g/cm3 PF,0 8.0 × 106 Pa
ρK 1.2 g/cm3 Pf,0 8.0 × 106 Pa
Sw 0.3 - Pb,0 8.0 × 106 Pa
Swr 0.2 - xF 80 m
Sgr 0.2 - Lf /2 10 m
Sw∗ 0.3 - wb 0.1 m
ϕM 0.1 - h 1.0 m
ϕN 0.05 - Psc 101.325 × 103 Pa
T OC 0.05 - Tsc 288.15 K
k∞ 1 × 10−18 m2 qsc 0.001 m3 /h

Tabela 6 – Valores dos parâmetros utilizados nas simulações de teste de poço.

idealizado ilustrado na Figura 40). Inicialmente comparamos a solução numérica com a


solução analítica. Na obtenção da solução analítica as equações para a matriz (2.60) e
fratura hidráulica (2.59) são reescritas em termos das variáveis adimensionais (7.3) e as
propriedades do gás são consideradas constantes e avaliadas na pressão inicial, linearizando
assim as equações. Por simplicidade consideramos também ausência de água na rede de
microporos (Sw = 0). No domínio de Laplace, a pseudo-pressão adimensional na interface
da fratura hidráulica com o poço é dada por (ver detalhes no Apêndice C):

2π q 
mwD (s) = q coth s g (s) (7.5)
sCF D s g (s)

onde CF D denota a condutividade adimensional da fratura hidráulica definida em (C.30).


A equação acima pode ser invertida para o domínio do tempo (mwD (t)) por meio do
algoritmo de Stehfest (STEHFEST, 1970).
A Figura 53a mostra a evolução da pseudo-pressão computada numérica e anali-
ticamente na interface fratura hidráulica/poço e suas derivadas ao longo do tempo. Na
ausência da rede de fraturas naturais podemos identificar por inspeção visual os três regi-
mes mencionados anteriormente: linear na fratura hidráulica, caracterizado pela inclinação
1/2 na Figura 53b, seguido do bilinear, o qual designa escoamento linear simultâneo na
matriz e na fratura sendo identificado por uma reta com inclinação 1/4, e finalmente o
pseudo-permanente, caracterizado pela inclinação 1. Durante os regimes linear e bilinear a
Capítulo 7. Testes de Pressão em Poços 94

distância entre mwD e sua derivada é preservada, no entanto estas curvas tendem para
o mesmo valor no regime pseudo-permanente. Tal como podemos observar, o modelo
numérico é capaz de reproduzir a solução analítica e representar acuradamente os regimes
de fluxo esperados.

10 1
mwD Sol. Numérica
dmwD /dlntD
10 0 mwD Sol. Analítica
dmwD /dlntD
mwD , dmwD /dlntD

10 -1

10 -2

10 -3

10 -4 -13 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1


10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10
tD
(a)

10 2
mwD
10 1 dmwD /dlntD
1/2
1/4
10 0 1
mwD , dmwD /dlntD

10 -1

10 -2

10 -3

10 -4

10 -5 -13 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1


10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10
tD
(b)

Figura 53 – Evolução dos perfis de mwD e dmwD /dlntD ao longo do tempo. (a) Comparação
soluções analítica e numérica; (b) inclinações da curva da derivada referentes
aos regimes linear (1/2), bilinear (1/4) e pseudo-permanente (1).
Capítulo 7. Testes de Pressão em Poços 95

7.2 Caracterização dos Regimes de Fluxo Derivados a Partir do


Modelo Proposto
Nosso objetivo agora consiste em quantificar numericamente a influência da rede de
fraturas naturais na evolução temporal da curva da pseudo-pressão. A Figura 54a apresenta
o gráfico diagnóstico comparando os resultados obtidos com os modelos reduzido (ausência
de fraturas naturais) e multiescala proposto. Podemos observar que nos instantes iniciais
de simulação as duas curvas (modelo proposto e reduzido) são idênticas. Em seguida,
devido à fonte adicional de gás advinda da presença da rede de fraturas naturais, nos
tempos intermediários a curva da pseudo-pressão fica abaixo da mesma calculada com o
modelo reduzido (sem fraturas naturais). Além disso, cabe ressaltar que o desenvolvimento
do regime pseudo-permanente ocorre antecipadamente ao do modelo reduzido, uma vez
que a rede de fraturas possui baixa capacidade de armazenamento e o gás que ali reside
escoa rapidamente abrindo caminhos de maior permeabilidade para o transporte do gás
advindo da matriz. Consequentemente os efeitos de bordo do reservatório se manifestam
para tempos menores quando comparados com o caso reduzido.
Na evolução das curvas obtidas com o modelo proposto, mostrada na Figura 54b,
observamos os seguintes possíveis regimes de fluxo:

1. Regime I - escoamento linear na fratura hidráulica caracterizado por inclinação 1/2


nos instantes iniciais do gráfico diagnóstico. O gráfico da derivada da pseudo-pressão
adimensional é paralelo ao da pseudo-pressão;

2. Regime II - o gás armazenado nas fraturas naturais escoa rumo à fratura hidráulica.
A curva da derivada da pseudo-pressão é caracterizada por um perfil côncavo devido
a resposta da transferência de gás entre as fraturas naturais e hidráulica;

3. Regime III - escoamento bilinear caracterizado pelo regime linear simultâneo na rede
de fratura naturais e hidráulica. A curva de dmwD /dlntD é paralela à curva de mwD
com inclinação 1/4;

4. Regime IV - regime de transição entre os regimes bilinear e pseudo-permanente;

5. Regime V - regime pseudo-permanente advindo dos efeitos da fronteira impermeável


ao fluxo (condição de contorno de Neumann homogênea). As curvas da pseudo-pressão
e sua derivada convergem para uma linha com inclinação unitária.

7.3 Sensibilidade da Pseudo-Pressão com Parâmetros do Modelo


A seguir avaliamos a resposta das curvas diagnóstico devido a perturbações induzi-
das em alguns dos parâmetros de entrada. Inicialmente avaliamos a influência da fração
Capítulo 7. Testes de Pressão em Poços 96

10 1
mwD Matriz Homogênea
dmwD /dlntD
10 0 mwD Matriz com Fraturas Naturais
dmwD /dlntD
10 -1
mwD , dmwD /dlntD

10 -2

10 -3

10 -4

10 -5 -13 -12 -11 -10


10 10 10 10 10 -9 10 -8 10 -7 10 -6 10 -5 10 -4 10 -3 10 -2
tD
(a)

10 1
mwD
dmwD /dlntD
10 0

10 -1 Regime V
mwD , dmwD /dlntD

10 -2 Regime IV

10 -3 Regime III
Regime II
10 -4
Regime I
10 -5 -13 -12 -11 -10 -9
10 10 10 10 10 10 -8 10 -7 10 -6 10 -5 10 -4 10 -3 10 -2
tD
(b)

Figura 54 – Evolução dos perfis de mwD e dmwD /dlntD ao longo do tempo. (a) Comparação
entre os perfis obtidos com o modelo proposto (com dois níveis de fratura) e
o modelo reduzido (matriz homogênea); (b) Caracterização dos regimes de
fluxo exibidos pelo modelo proposto.

de volume das fraturas naturais (ϕf ). A Figura 55 compara os perfis da pseudo-pressão e


sua derivada para dois valores discrepantes de ϕf (computados com Lf /2 = 3.7399 para
ϕf = 0.1666). Observamos ausência do regime linear dominado pela hidrodinâmica na
Capítulo 7. Testes de Pressão em Poços 97

fratura hidráulica para o valor maior de ϕf , uma vez que neste caso a fonte advinda da rede
de fraturas naturais para a hidráulica é intensa já nos tempos iniciais. Notamos entretanto
a predominância do regime bilinear nos instantes iniciais da simulação caracterizado pela
inclinação 1/4. Na sequência constatamos um regime de transição seguido pelo o regime
pseudo-permanente.

10 1
mwD ϕf = 4. 9751 × 10 −3
dmwD /dlntD
10 0 mwD ϕf = 0. 1666
dmwD /dlntD
10 -1
mwD , dmwD /dlntD

10 -2

10 -3

10 -4
regime bilinear
10 -5 -13 -12 -11 -10
10 10 10 10 10 -9 10 -8 10 -7 10 -6 10 -5 10 -4 10 -3 10 -2
tD
Figura 55 – Evolução dos perfis de mwD e dmwD /dlntD ao longo do tempo parametrizada
pela fração de volume das fraturas naturais ϕf .

Apresentamos agora a variação na curva da pseudo-pressão para uma perturbação


na permeabilidade intrínseca das fraturas naturais. A Figura 56 ilustra as curvas de mwD
bem como suas derivadas para dois valores de kf . Comparando a curva transiente dos
regimes de fluxo obtidos com o menor valor de kf notamos o prolongamento do regime
linear na fratura hidráulica comparado com o computado com o maior valor do mesmo
parâmetro, pois neste caso o fluxo de gás das fraturas naturais para a hidráulica é de
menor magnitude. Além disso, a curva de mwD fica acima da mesma computada com o
valor maior de kf refletindo o atraso na dissipação da pseudo-pressão na rede de fraturas
naturais. Consequentemente, o regime de fluxo pseudo-permanente também se desenvolve
para tempos posteriores.
Capítulo 7. Testes de Pressão em Poços 98

10 1
mwD kf = 10 −15 m 2
dmwD /dlntD
10 0
mwD kf = 10 −16 m 2
dmwD /dlntD
10 -1
mwD , dmwD /dlntD

10 -2

10 -3

10 -4

10 -5 -13 -12 -11 -10


10 10 10 10 10 -9 10 -8 10 -7 10 -6 10 -5 10 -4 10 -3 10 -2
tD
Figura 56 – Evolução dos perfis de mwD e dmwD /dlntD ao longo do tempo parametrizadas
pela permeabilidade intrínseca das fraturas naturais kf .
99

8 Conclusão

Neste trabalho propusemos um novo modelo multiescala para modelar a hidrodinâ-


mica de gases em reservatórios não convencionais compostos por três subsistemas: matriz,
redes de fraturas naturais e hidráulicas. O modelo considera o fenômeno de desorção
do gás nos nanoporos descrito acuradamente pela Termodinâmica de Gases Confinados
que possibilita calcular de forma precisa o coeficiente de partição a partir dos perfis da
densidade local do gás nos nanoporos. Na escala microscópica o meio é composto pelos
agregados orgânicos e pela rede de microporos onde o transporte do gás dissolvido é
governado pela difusão Fickiana e o do gás livre pela lei de Darcy. O processo de homoge-
neização é empregado no upscaling para a mesoescala resultando em uma equação não
linear que governa a pressão na matriz do folhelho. Tal equação incorpora as informações
da microescala através do coeficiente de retardamento e da condutividade hidráulica efetiva.
Na mesoescala a matriz é interceptada por uma rede de fraturas naturais e a hidrodinâmica
na matriz é acoplada com a das fraturas naturais, onde ocorre o escoamento Darcyano do
gás livre. Seguindo com o processo de homogeneização de estruturas periódicas fazemos o
upscaling para a escala macroscópica. Esta etapa dá origem a um modelo de porosidade
dupla no qual a influência da matriz é tratada por um termo de fonte na equação efetiva
para a pressão na rede de fraturas naturais. Tal modelo intermediário é então acoplado com
o escoamento do gás no sistema de fraturas hidráulicas, cuja hidrodinâmica é descrita por
técnicas de redução de dimensão gerando modelos reduzidos. Neste contexto, a baixa razão
entre abertura e comprimento da fratura é explorada através de um processo de média
tomada na direção normal à fratura resultando em uma equação efetiva para a pressão nas
fraturas hidráulicas. Esta equação, por sua vez, exibe um termo de fonte que é solução
da hidrodinâmica na rede de fraturas naturais. O modelo resultante é composto por três
equações diferenciais parciais não lineares acopladas que governam a hidrodinâmica do
gás na matriz, redes de fraturas naturais e hidráulicas. Com o intuito de desacoplar o
sistema procedemos no contexto proposto por Arbogast, que consiste em utilizar uma
decomposição das variáveis resultando em subsistemas independentes a serem resolvidos
numericamente. Esta escolha permite que o sistema supracitado seja resolvido de forma
sequencial sem a necessidade de iterações adicionais entre os subsistemas. Na discretização
espacial adotamos o método de elementos finitos com a introdução de submalhas para
tratar o transporte do gás na matriz e assim efetuar de forma precisa o cálculo do termo
de fonte na equação da pressão do gás na rede de fraturas naturais. O modelo discretizado
é então aplicado para simular numericamente cenários de prospecção de gás e testes
transientes de pressão em poços mostrando o papel desempenhado pela rede de fraturas
naturais nas curvas de produção e diagnóstico.
100

Referências

AKKUTLU, I. Y.; EFENDIEV, Y.; SAVATOROVA, V. Multi-scale asymptotic analysis of


gas transport in shale matrix. Transport in Porous Media, v. 107(1), p. 235–260, 2015.
Citado 2 vezes nas páginas 23 e 26.

AKKUTLU, I. Y.; FATHI, E. Multiscale gas transport in shales with local kerogen
heterogeneities. Society of Petroleum Engineers, v. 17(4), p. 1002–1011, 2012. Citado na
página 34.

AL-AHMADI, H. A.; ALMAZOOQ, A. M.; WATENBARGEN, R. A. Application of linear


flow analysis to shale gas wells-field cases. Paper SPE-130370-MS presented at the SPE
Unconventional Gas Conference, 23-25 February, Pittsburgh, 2010. Citado na página 26.

AL-HUSSAINY, R.; RAMEY, H. J. Application of real gas theory to well testing and
deliverability forecasting. Journal Petroleum Technology, v. 18 (5), p. 637–642, 1966.
Citado na página 90.

AL-HUSSAINY, R.; RAMEY, H. J.; CRAWFORD, P. B. The flow of real gases through
porous media. Journal Petroleum Technology, v. 18 (5), p. 624–636, 1966. Citado na
página 90.

ALBOIN, C.; JAFFRÉ, J.; ROBERTS, J. E.; WANG, X.; SERRES, C. Domain
decomposition for some transmission problems in flow in porous media. Lecture Notes in
Physics, v. 552, p. 22–34, 2000. Citado na página 26.

ALBOIN, C.; JAFFRÉ, J.; ROBERTS, J. E.; SERRES, C. Modeling fractures as


interfaces for flow and transport in porous media. In: Fluid Flow and Transport In Porous
Media: Mathematical and Numerical Treatment. Massachusetts: American Mathematical
Society, 2001. (Contemporary Mathematics, v. 295), p. 13–24. Citado 2 vezes nas páginas
25 e 45.

ARBOGAST, T. Computational aspects of dual-porosity models. In: HORNUNG, U.


(Ed.). Homogenization and Porous Media. New York: Springer, 1997, (Interdisciplinary
Applied Mathematics, v. 6). p. 203–223. Citado 4 vezes nas páginas 7, 9, 27 e 64.

ARBOGAST, T.; DOUGLAS JR., J.; HORNUNG, U. Derivation of the double porosity
model of single phase flow via homogenization theory. SIAM Journal of Mathematical
Analysis, v. 21, p. 823–836, 1990. Citado 5 vezes nas páginas 7, 9, 25, 27 e 64.

ARBOGAST, T.; DOUGLAS JR., J.; HORNUNG, U. Modeling of naturally fractured


reservoirs by formal homogezation techniques. In: DAUTRAY, R. (Ed.). Amsterdam:
Elsevier, 1991, (Frontiers in Pure and Applied Mathematics). p. 1–19. Citado 5 vezes nas
páginas 25, 29, 39, 40 e 73.

AURIAULT, J.-L.; BOUTIN, C.; GEINDREAU, C. Homogenization of coupled phenomena


in heterogenous media. United States: John Wiley & Sons, 2010. Citado 3 vezes nas
páginas 25, 39 e 60.
Referências 101

BARENBLATT, G.; ZHELTOV, I.; KOCHINA, I. Basic concepts in the theory of seepage
of homegenous liquids in fissured rocks [strata]. Journal of Applied Mathematics and
Mechanics, v. 24, p. 852–864, 1960. Citado na página 23.

BEAR, J.; BACHMAT, Y. Introduction to Modeling of Transport Phenomena in Porous


Media. 1. ed. Netherlands: Springer, 1990. Citado 2 vezes nas páginas 38 e 52.

BELLO, R. O.; WATTENBARGER, R. A. Multi-stage hydraulically fractured horizontal


shale gas well rate transient analysis. Paper SPE-126754-MS presented at the North
Africa Technical Conference and Exhibition, 14-17 February, Cairo, Egypt, 2010. Citado
na página 26.

BESKOK, A.; KARNIADAKIS, G. E. Report: A model for flows in channels, pipes, and
ducts at micro and nano scales. Microscale Thermophysical Engineering, v. 3(1), p. 43–77,
1999. Citado 2 vezes nas páginas 59 e 75.

BOURDET, D. Well Test Analysis: The Use of Advanced Interpretation Methods.


Amsterdam: Elsevier, 2002. (Handbook of Petroleum Exploration and Production, v. 3).
Citado na página 28.

BOURDET, D.; AYOUB, J. A.; PIRARD, Y. M. Use of pressure derivative in well-test


interpretation. Society of Petroleum Engineers, v. 4(2), p. 293–302, 1989. Citado na
página 89.

BOURDET, D.; WHITTLE, T. M.; DOUGLAS, A. A.; PIRARD, Y. M. A new set of


type curves simplifies well test analysis. World Oil, v. 196, p. 95–106, 1983. Citado 2
vezes nas páginas 89 e 92.

BROOKS, R. H.; COREY, A. T. Hydraulic Properties of Porous Media. Colorado State


University, Fort Collins, Colorado: [s.n.], 1964. v. 3. Citado na página 60.

CINCO-LEY, H.; SAMANIEGO-V., F. Transient pressure analysis for fractured wells.


Journal of Petroleum Technology, v. 33(9), p. 1749–1766, 1981. Citado 2 vezes nas
páginas 28 e 89.

CIPOLLA, C.; LOLON, E.; ERDLE, J.; RUBIN, B. Reservoir modeling in shale gas
reservoirs. Society of Petroleum Engineers, v. 13(4), p. 638–653, 2010. Citado 2 vezes nas
páginas 25 e 26.

CIVAN, F.; RAI, C. S.; SONDERGELD, C. H. Shale-gas permeability and diffusivity


inferred by improved formulation of relevant retention and transport mechanisms.
Transport in Porous Media, v. 86(3), p. 925–944, 2011. Citado 2 vezes nas páginas 35 e 36.

CLARKSON, C. R.; NOBAKHT, M.; KAVIANI, D.; ERTEKIN, T. Production analysis


of tight-gas and shale-gas reservoirs using the dynamic-slippage concept. Society of
Petroleum Engineers, v. 17(1), p. 230–242, 2012. Citado na página 23.

COLLIN, M.; RASMUSON, A. A comparison of gas diffusivity models for unsaturated


porous media. Soil Science Society of America Journal, v. 52(6), p. 1559–1565, 1988.
Citado na página 61.

CURTIS, J. B. Fractured shale-gas systems. American Association of Petroleum Geologists,


v. 86(11), p. 1921–1938, 2002. Citado na página 23.
Referências 102

DOUGLAS JR., J.; ARBOGAST, T. Dual porosity models for flow in naturally fractured
reservoirs. In: CUSHMAN, J. H. (Ed.). Dynamics of Fluids in Hierarchical Porous Media.
London: Academic Press, 1990. p. 177–221. Citado 4 vezes nas páginas 29, 39, 40 e 73.

EARLOUGHER, J. R. C. Advances in well test analysis. In: DOHERTY, H. L. (Ed.).


New York, Dallas: Society of Petroleum Engineers of AIME, 1977, (Monograph, v. 5).
Citado 2 vezes nas páginas 28 e 88.

EHSAN, R.; HASSAN, H. Matrix-fracture transfer shape factor for modeling flow of a
compressible fluid in dual-porosity media. Advances in Water Resources, v. 34, p. 627–639,
2011. Citado na página 24.

ESTES, R. K.; FULTON, P. F. Gas slippage and permeability measurement. Transactions


of The American Institute of Mining and metalurgical Engeineers, v. 207(12), p. 338–342,
1956. Citado na página 37.

EVANS, R. The nature of the liquid-vapour interface and other topics in the statistical
mechanics of non-uniform, classical fluids. Advances in Physics, v. 28(2), p. 143–200, 1979.
Citado 4 vezes nas páginas 26, 29, 53 e 54.

FLORENCE, F. A.; RUSHING, J.; NEWSHAM, K. E.; BLASINGAME, T. A. Improved


permeability prediction relations for low permeability sands. Paper SPE-107954-MS
presented at the Rocky Mountain Oil & Gas Technology Symposium, 16-18 April, Denver,
Colorado, U.S.A., 2007. Citado 2 vezes nas páginas 59 e 75.

FREEMAN, C. M.; MORIDIS, G. J.; BLASINGAME, T. A. A numerical study of


microscale flow behavior in tight gas and shale gas reservoir systems. Transport Porous
Media, v. 90 (1), p. 253–268, 2011. Citado 3 vezes nas páginas 29, 35 e 36.

FRIH, N.; ROBERTS, J. E.; SAADA, A. Modeling fractures as interfaces: a model for
forchheimer fractures. Computational Geosciences, v. 12, p. 91–104, 2008. Citado na
página 26.

FULTON, P. F. The effects of gas slippage ion relative permeability measurements.


Computational Geosciences, v. 15(12), 1951. Citado na página 37.

GALE, J. F. W.; LAUBACH, S. E.; OLSON, J. E.; EICHHUBL, P.; FALL, A. Natural
fractures in shale: A review and new observations. The American Association of Petroleum
Geologists, v. 98(11), p. 2165–2216, 2014. Citado na página 23.

GALE, J. F. W.; REED, R. M.; HOLDER, J. Natural fractures in the barnett shale and
their importance for hydraulic fracture treatments. American Association of Petroleum
Geologists, v. 91(4), p. 603–622, 2007. Citado na página 23.

GRINGARTEN, A. C. How to recognize ”double-porosity” systems from well tests.


Journal of Petroleum Technology, Society of Petroleum Engineers, v. 39(6), p. 631–633,
1987. Citado na página 28.

GRINGARTEN, A. C. From straight lines to deconvolution: The evolution of the state of


the art in well test analysis. Society of Petroleum Engineers, v. 11(1), p. 41–62, 2008.
Citado na página 89.
Referências 103

GRINGARTEN, A. C.; BOURDET, D. P.; LANDEL, P. A.; KNIAZEFF, V. J. A


comparison between different skin and wellbore storage type-curves for early-time transient
analysis. Paper SPE-8205-MS presented at the SPE Annual Technical Conference and
Exhibition, 23-26 September, Las Vegas, Nevada, 1979. Citado na página 88.

GUO, J.; ZHANG, L.; ZHU, Q. A quadruple-porosity model for transient production
analysis of multiple-fractured horizontal wells in shale gas reservoirs. Environmental Earth
Sciences, v. 73(10), p. 5917–5931, 2015. Citado 2 vezes nas páginas 26 e 91.

HADJICONSTANTINOU, N. G. Validation of a second-order slip model for dilute gas


flows. Microscale Thermophysical Engineering, v. 9(2), p. 137–153, 2005. Citado na
página 36.

HAMDAN, M. H.; BARRON, R. M. A dusty gas flow model in porous media. Journal of
Computational and Applied Mathematics, v. 30(1), p. 21–37, 1990. Citado na página 36.

HANSEN, J. P.; MCDONALD, I. R. Theory of Simple Liquids. Third edition. Amsterdam:


Elsevier, 2006. Citado 6 vezes nas páginas 26, 29, 53, 54, 55 e 108.

HORNE, R. N. Modern well test analysis: A computer-aided approach. Second edition.


Palo Alto: Petroway, 1995. Citado 2 vezes nas páginas 28 e 88.

JAFFRÉ, J.; MNEJJA, M.; ROBERTS, J. E. A discrete fracture model for two-phase
flow with matrix-fracture interaction. Procedia Computer Science, v. 4, p. 967–973, 2011.
Citado 4 vezes nas páginas 25, 30, 45 e 47.

JAVADPOUR, F.; FISHER, D.; UNSWORTH, M. Nanoscale gas flow in shale gas
sediments. Journal of Canadian Petroleum Technology, v. 46(10), p. 55–61, 2007. Citado
na página 36.

KARIMI-FARD, M.; DURLOFSKY, L. J.; AZIZ, K. An efficient discrete-fracture model


applicable for general-purpose reservoir simulators. Society of Petroleum Engineers,
v. 9(2), p. 227–236, 2004. Citado na página 25.

KAZEMI, H. Pressure transient analysis of naturally fractured reservoirs with uniform


fracture distribution. Society of Petroleum Engineers Journal, v. 9(4), p. 451–462, 1969.
Citado 2 vezes nas páginas 24 e 89.

KIERLIK, E.; ROSINBERG, M. L. Density-functional theory for inhomogeneous fluids:


Adsorption of binary mixtures. Physical review. A, v. 44, p. 5025–5037, 1991. Citado 3
vezes nas páginas 55, 108 e 109.

KING, G. E. Thirty years of gas shale fracturing: What have we learned? Society of
Petroleum Engineers, v. 62(11), p. 88–90, 2010. Citado na página 23.

KING, G. E. Hydraulic fracturing 101: What every representative, environmentalist,


regulator, reporter, investor, university researcher, neighbor and engineer should know
about estimating frac risk and improving frac performance in unconventional gas and
oil wells. Society of Petroleum Engineers, v. 64(4), p. 34–42, 2012. Citado 2 vezes nas
páginas 11 e 22.

KING, M. B. In: Phase Equilibrium in Mixtures. Oxford: Pergamon, 1969, (International


Series of Monographs in Chemical Engineering, v. 9). Citado na página 32.
Referências 104

LANGMUIR, I. The adsorption of gases on plane surfaces of glass, mica and platinum.
Journal of The American Chemical Society, v. 40(9), p. 1361–1403, 1918. Citado 2 vezes
nas páginas 26 e 34.
LE, T. D.; MURAD, M. A.; PEREIRA, P. A.; BOUTIN, C.; GARCIA, E. L.; LIMA, S.
A new multi-scale computational model for flow and transport in shale gas reservoirs
rigorously derived by reiterated homogenization. Paper SPE-173240-MS presented at
the SPE Reservoir Simulation Symposium, 23-25 February, Houston, Texas, USA, 2015.
Citado 9 vezes nas páginas 26, 27, 30, 34, 50, 53, 59, 61 e 75.
LE, T. D.; MURAD, M. A.; PEREIRA, P. A.; BOUTIN, C. Bridging between macroscopic
behavior of shale gas reservoirs and confined fluids in nanopores. Computational
Geosciences, v. 20(3), p. 751–771, 2016. Citado 3 vezes nas páginas 27, 30 e 31.
LEO, A.; HANSCH, C.; ELKINS, D. Partition coefficients and their uses. Chemical
Reviews, v. 71(6), p. 525–616, 1971. Citado na página 33.
LI, K.; HORNE, R. N. Gas slippage in two-phase flow and the effect of temperature.
Paper SPE-68778-MS presented at the SPE Western Regional Meeting, 26-30 March,
Bakersfield, California, 2001. Citado na página 37.
LI, K.; HORNE, R. N. Experimental study of gas slippage in two-phase flow. Society of
Petroleum Engineers, v. 7(6), p. 409–415, 2004. Citado na página 37.
MARTIN, V.; JAFFRÉ, J.; ROBERTS, J. E. Modeling fractures and barriers as interfaces
for flow in porous media. SIAM Journal on Scientific Computing, v. 26(5), p. 1667–1691,
2005. Citado 3 vezes nas páginas 25, 45 e 47.
MCQUARRIE, D. A.; SIMON, J. D. Molecular Thermodynamics. Mill Valley, California:
University Science Books, 1999. Citado 3 vezes nas páginas 32, 33 e 51.
NELSON, R. A. Geologic Analysis of Naturally Fractured Reservoirs. Second edition.
Woburn: Gulf Professional Publishing, 2001. Citado na página 23.
NOVLESKY, A.; KUMAR, A.; MERKLE, S. Shale gas modeling workflow: from
microseismic to simulation - a Horn River case sudy. Paper SPE-148710-MS presented at
the Canadian Unconventional Resources Conference, 15-17 November, Calgary, Alberta,
Canada, 2011. Citado 2 vezes nas páginas 25 e 26.
OZKAN, E.; BROWN, M. L.; RAGHAVAN, R.; KAZEMI, H. Comparison of
fractured-horizontal-well performance in tight sand and shale reservoirs. Society of
Petroleum Engineers, v. 14(2), p. 248–259, 2011. Citado na página 26.
PEREIRA, P. de A. Modelagem Computacional Multiescala de Reservatórios
não Convencionais de Gás em Folhelhos. 104 p. Tese (Doutorado em Modelagem
Computacional) — Laboratório Nacional de Computação Científica, Petrópolis, RJ, 2015.
Citado 3 vezes nas páginas 30, 34 e 37.
PRAUSNITZ, J. M.; LICHTENTHALER, R. N.; AZEVEDO, E. G. de. Molecular
Thermodynamics of Fluid-Phase Equilibria. Third edition. New Jersey: Prentice Hall,
1998. Citado 2 vezes nas páginas 32 e 51.
REZAEE, R. Fundamentals of gas shale reservoirs. Hoboken, New Jersey: John Wiley
and Sons, 2015. Citado na página 21.
Referências 105

ROSE, W. D. Permeability and gas-slippage phenomea. Drilling and Production Practice,


v. 209(17), 1948. Citado na página 37.

ROSENFELD, Y. Free-energy model for the inhomogeneous hard-sphere fluid mixture


and density-functional theory of freezing. Physical Review Letters, v. 63(9), p. 980–983,
1989. Citado 3 vezes nas páginas 55, 108 e 109.

ROTH, R. Fundamental measure theory of hard-sphere mixtures: a review. Journal of


Physics: Condensed Matter, v. 22, p. 1–18, 2010. Citado 2 vezes nas páginas 53 e 109.

RUSHING, J. A.; NEWSHAM, K. E.; FRAASSEN, K. C. V. Measurement of the


two-phase gas slippage phenomenon and its effect on gas relative permeability in tight gas
sands. Paper SPE-84297-MS presented at the SPE Annual Technical Conference and
Exhibition, 5-8 October, Denver, Colorado, 2003. Citado na página 37.

SAKHAEE-POUR, A.; BRYANT, S. Gas permeability of shale. Paper SPE-146944-MS


presented at the SPE Annual Technical Conference and Exhibition, 30 October-2
November, Denver, Colorado, USA, v. 15(04), p. 401–409, 2011. Citado na página 40.

SANCHEZ-PALENCIA, E. Non-homogeneous media and Vibration Theory. Berlin:


Springer, 1980. (Lecture Notes in Physics, v. 127). Citado 2 vezes nas páginas 25 e 39.

SERRA, K.; REYNOLDS, A. C.; RAGHAVAN, R. New pressure transient analysis


methods for naturally fractured reservoirs. Journal of Petroleum Technology, v. 35(12),
1983. Citado na página 89.

STEHFEST, H. Algorithm 368: Numerical inversion of Laplace transforms.


Communications of the Association for Computing Machinery, v. 13 (1), p. 47–49, 1970.
Citado na página 93.

SWAAN, A. O. de. Analytic solutions for determining naturally fractured reservoir


properties by well testing. Society of Petroleum Engineers, v. 16(3), p. 117–122, 1976.
Citado 2 vezes nas páginas 24 e 89.

SWAMI, V.; CLARKSON, C. R.; SETTARI, A. Non-darcy flow in shale nanopores:


Do we have a final answer? Paper SPE-162665-MS presented at the SPE Canadian
Unconventional Resources Conference, 30 October-1 November, Calgary, Alberta, Canada,
2012. Citado na página 36.

WANG, H. T. Performance of multiple fractured horizontal wells in shale gas reservoirs


with consideration of multiple mechanisms. Journal of Hydrology, v. 510, p. 299 – 312,
2014. Citado na página 26.

WARREN, J.; ROOT, P. The behavior of naturally fractured reservoirs. Society of


Petroleum Engineers, v. 3, p. 242–255, 1963. Citado 2 vezes nas páginas 23 e 24.

YU, W.; SEPEHRNOORI, K. Simulation of gas desorption and geomechanics effects for
unconventional gas reservoirs. Fuel, v. 116, p. 455–464, 2014. Citado 2 vezes nas páginas
25 e 26.

ZHANG, T.; ELLIS, G. S.; RUPPEL, S.; K., L.; R., Y. Effect of organic-matter type and
thermal maturity on methane adsorption in shale-gas systems. Organic Geochemestry,
v. 47, p. 120–131, 2012. Citado na página 53.
Referências 106

ZHANG, Z.; LI, X.; HE, J. Numerical study on the permeability of the hydraulic-stimulated
fracture network in naturally-fractured shale gas reservoirs. Water, v. 8(9), 2016. Citado
2 vezes nas páginas 11 e 24.

ZIARANI, A. S.; AGUILERA, R. Knudsen’s permeability correction for tight porous


media. Transport Porous Media, v. 91(1), p. 239–260, 2012. Citado 6 vezes nas páginas
11, 15, 29, 35, 36 e 37.
Apêndices
108

APÊNDICE A – Density Fuctional Theory

Neste apêndice deduzimos o sistema de equações integrais final para o cômputo


dos perfis da densidade local nos nanoporos derivado no contexto da DFT. Postuladas
formas para a energia livre de excesso F ex [ρ] e potencial exterior V (r), a equação (3.7)
fornece a distribuição do gás nos nanoporos. No âmbito dos métodos de perturbação, o
funcional de excesso é decomposto em um termo de referência de esferas duras, puramente
repulsivo, FHS
ex
, e em um termo atrativo, devido à interações moleculares de longo alcance
(HANSEN; MCDONALD, 2006; KIERLIK; ROSINBERG, 1991):
1Z Z
F [ρ] =
ex ex
FHS [ρ] + ρ(r)ρ(r 0 )φ(r, r 0 ) dr dr 0 (A.1)
2
onde φ(r) denota o potencial de interação fluido-fluido com φ = 0 para |r − r 0 | < d sendo
d o diâmetro da molécula de gás. No presente trabalho, dadas os parâmetros εf f e σf f ,
φ(r) é dado pelo potencial Lennard-Jones 12-6 (HANSEN; MCDONALD, 2006):
" 12 6 #
σf f σf f

φ(r) = 4 εf f − (A.2)
r r

onde r denota a distância entre duas moléculas.


Nosso próximo passo é na construção da expressão para o potencial de referência
ex
FHS [ρ]. A fim de alcançar tal objetivo seguimos o trabalho de Rosenfeld (1989) que
introduziu a Teoria Fundamental da Medida (Fundamental Measure Theory (FMT)). Esta
aproximação consiste em postular que o funcional pode ser escrito como uma função das
variáveis nα (r) da forma: Z
ex
β FHS = Φ[{nα (r)}] dr (A.3)

com β = 1/kB T e as densidades ponderadas (escalar e vetoriais) dadas por:


Z
nα (r) = ρ(r 0 ) wα (r − r 0 ) dr 0
Z (A.4)
nα (r) = ρ(r 0 ) wα (r − r 0 ) dr 0

As funções peso wα (r), α = 0, 3 (escalares) e wα (r), α = 1, 2 (vetoriais) são definidas por:

w3 (r) = H(R − r), w2 (r) = δ(R − r)


w2 (r) w2 (r)
w1 (r) = , w0 (r) =
4πR 4πR2
r w1 (r)
w2 (r) = δ(R − r), w1 (r) =
r 4πR
onde H(r) denota a função de Heaviside, δ(r) a distribuição de Dirac e R o raio da esfera.
APÊNDICE A. Density Fuctional Theory 109

Rosenfeld (1989) postulou a dependência de Φ com as funções nα (r) na forma de


um ansatz com base na análise dimensional das equações:

Φ = φ0 (n3 )n0 + φ1 (n3 ) n1 n2 + φ2 (n3 )n32 + φ3 (n3 )n1 · n2 + φ4 (n3 )n2 n2 · n2 (A.5)

Tais funções são determinadas com base na Scaled Particle Theory (SPT) a qual permite
que a equação de estado de um fluido seja escrita em termos das medidas fundamentais
da esfera. Seguindo Roth (2010), as funções φi , i = 1, ..., 4 são dadas por:
1
φ0 (n3 ) = − ln(1 − n3 ), φ1 (n3 ) =
1 − n3
n3 + (1 − n3 )2 ln(1 − n3 ) −1
φ2 (n3 ) = , φ3 (n3 ) =
" 36πn3 (1 − n3 ) 1 − n3
2 2

n3 + (1 − n3 )2 ln(1 − n3 )
#
φ4 (n3 ) = −3
36πn23 (1 − n3 )2

No bulk, as densidades ponderadas vetoriais se anulam, enquanto as escalares reduzem


para as variáveis conhecidas como variáveis SPT:
4
n3 → ξ3 = ρb πR3
3
n2 → ξ2 = ρb 4πR2
n1 → ξ1 = ρb R
n0 → ξ0 = ρb

Da equação (A.4) para as densidades ponderadas e (A.3) para F ex [ρ], temos:

δnα (r 00 )
= wα (r 00 − r)
δρ(r)
δF ex X Z ∂Φ δnα (r 00 ) 00 X Z ∂Φ 00 (A.6)
β HS = (r 00 ) dr = (r )wα (r 00 − r) dr 00
δρ(r) α ∂n α δρ(r) α ∂n α

Introduzindo o resultado acima em (3.7) conduz a equação não linear para a densidade do
gás ρ(r):
" !#
XZ ∂Φ 00
ρ(r) = ρb exp β µex
b − (r )wα (r 00 − r) dr 00 − V (r) (A.7)
α ∂nα

A fim de fechar o modelo necessitamos postular uma forma para o potencial exterior V (r)
que no caso de fluidos confinados descreve as interações sólido-fluido. Seguindo (KIERLIK;
ROSINBERG, 1991), admitimos que V (r) é dado pelo potencial Lennard-Jones 10-4-3:

2 σsf 4
" 10 4 #
 
σsf σsf
V (z) = 2π ρs εsf σsf
2
∆ − − (A.8)
5 z z 3∆(0.61∆ + z)3

onde z denota a coordenada espacial ortogonal à partícula sólida, ρs e ∆ são parâmetros


relacionados à superfície sólida e εsf , σsf ao potencial sólido-fluido.
APÊNDICE A. Density Fuctional Theory 110

Em suma, dada uma representação geométrica para o nanoporo a aproximação no


contexto da DFT consiste em resolver o sistema de equações integrais dado por:

δF ex [ρ]
 " !#
= ρb exp β µex− − V (r)


 ρ(r) b
δρ(r)



1

 Z Z

F ex [ρ] = FHS
ex
[ρ] + ρ(r)ρ(r 0 )φ(r, r 0 ) dr dr 0



2



 Z
[ρ] = Φ[{nα (r)}] dr

ex
β FHS





ex


 δF X Z ∂Φ
β HS = (r 00 )wα (r 00 − r) dr 00



δρ(r) ∂n

α α



 Φ =φ (n
Z0 3 0
)n + φ2 (n3 ) n1 n2 + φ3 (n3 )n1 · n2 + φ4 (n3 )n32 + φ5 (n3 )n2 n2 · n2

nα (r) = ρ(r 0 ) wα (r − r 0 ) dr 0






 "  #
σf f 12 σf f 6

  
φ(r) = 4 εf f







 r "  r 
2 σsf 10

4
#
σsf 4 σsf

  
V (z) = 2π ρs εsf σsf ∆
2

− −


5 z 3∆(0.61∆ + z)3


z

No presetnte trabalho os nanoporos são tratados como placas planas paralelas


(slit pores) separadas pela distância H. Neste cenário a densidade do gás varia com a
coordenada espacial ortogonal às partícula sólida z. Dados a densidade do gás no bulk e a
distância H o perfil de ρ(z) na vizinhança das duas partículas sólidas é obtido fazendo
uso do método de Picard.

A.1 Isoterma de Langmuir


Nesta seção para fins de comparação derivamos o coeficiente de partição no contexto
de Langmuir. Para este fim consideramos a adsorção em monocamadas decompondo a
densidade do gás em duas partes: uma relacionada com o gás adsorvido na superfície, ρnL ,
e outra associada ao gás livre nos nanoporos, ρnb . Em particular, para poros com geometria
de placas planas, temos
 
ρb

se d < z < H/2 ρ L

se d/2 < z < d
ρnb (z) = ρnL (z) = (A.9)
0

caso contrário 0

caso contrário

No resultado acima
ΓL Γ∗ Pb
ρL = = max (A.10)
d d Pb + PL

A densidade média dos agregados de querogênio, dada por (3.11), pode ser calculada
na forma:
1 1
Z d Z H/2 !  
ρa = ρL (z)dz +
n
ρb (z)dz =
n
ρL d + ρb (H − 2d) (A.11)
H/2 d/2 d H
APÊNDICE A. Density Fuctional Theory 111

Substituindo (A.10) em (A.11), obtemos

1 Γ∗max Pb
" #
ρa = + ρb (H − 2d) (A.12)
H Pb + PL

Dividindo o resultado acima por ρb e invocando a equação de estado (Pb = ρb Z(P


e
b )),

obtemos o coeficiente de partição G para a isoterma de Langmuir:

1 Γ∗max Z(P b) H − 2d
!
e
G= + (A.13)
H Pb + PL H
112

APÊNDICE B – Reescrevendo R(Pb) em


Função do TOC

Neste apêndice reescrevemos o coeficiente de retardamento R(Pb ) em termos de


grandezas mensuráveis com dados experimentais. Mais precisamente, iremos escrevê-lo
como função da porosidade dos microporos ϕP , da porosidade nos nanoporos φN , e do
TOC (Total organic content) definido por:
Mk
TOC = (B.1)
Mk + MI
onde Mk , MI denotam as massas de querogênio e matéria inorgânica, respectivamente.
Nosso ponto de partida é a equação (2.2) juntamente com (2.9), (2.11) e (2.13) que
fornecem:
γ(Pb ) ρL ϕP (1 − Sw ) φN ϕK G
R(Pb ) = Rd (Pb ) + Rb (Pb ) + Ra (Pb ) = ϕP Sw + + e (B.2)
H(Pb ) Z(P
e
b) Z(Pb )
Seja ϕI = 1 − ϕK − ϕP a fração volumétrica da fase inorgânica. Através manipulações
algébricas, temos que
VI VI VI + VK VI VI + VK
1 − ϕI = 1 − =1− =1−
VT VT VI + VK VI + VK VT
VI VI + VK − VK
 
= 1− (1 − ϕP ) = 1 − (1 − ϕP )
VI + VK VI + VK
VI + VK VK
 
= 1− − (1 − ϕP )
VI + VK VI + VK
= 1 − (1 − φsK )(1 − ϕP ) = ϕP + φsK (1 − ϕP )

o qual implica na relação:

1 − ϕI − ϕP = φsK (1 − ϕP ) (B.3)

onde introduzimos φsK que representa a porosidade orgânica da fase sólida definida por:
VK 1 1 1
φsK = = = VI = (B.4)
VI + VK VI +VK
VK
1 + VK V Vs
1 + VKI VKs
K

com VKs o volume de sólido dentro da matéria orgânica. A porosidade nanoscópica é dada
por:
VKp VK − VKs
φN = =
VK VK
de onde segue que
Vs
1 − φN = K (B.5)
VK
APÊNDICE B. Reescrevendo R(Pb ) em Função do TOC 113

Inserindo (B.5) em (B.4) vem a representação para φsK :


1
φsK = (B.6)
1+ s (1
VI
VK
− φN )

Usando as definições das densidades das fases orgânica e inorgânica:


Mk MI
ρk = , ρI =
VKs VI

podemos escrever a seguinte igualdade:


VI MI ρk
s
=
VK ρI Mk

Além disso, a razão entre as massas MI e Mk pode ser escrita em função do TOC:

MI
MI
1− Mk
1 − TOC
= Mk +MI
= Mk +MI
=
Mk Mk
Mk +MI
Mk
Mk +MI
TOC

de onde segue que


VI ρk 1 − TOC
=
s
VK ρI TOC
Desta maneira, φsK em (B.6) também é dado em função do TOC:
1
φsK =
1 + ρk (1−ρTOC )(1−φN )
I TOC

Utilizando o resultado obtido em (B.3), chegamos a seguinte igualdade:

(1 − ϕP )
ϕK = 1 − ϕI − ϕP = φsK (1 − ϕP ) = (B.7)
1 + ρk (1−ρTOC )(1−φN )
I TOC

que quando introduzida em (2.15) fornece a expressão resultante para R = R(Pb ) parame-
trizado pelos coeficientes {ϕP , φN , TOC, Sw }:

γ(Pb ) ρL (1 − Sw ) (1 − ϕP )
" #
GφN
R(Pb ) = ϕP Sw + e +
H(Pb ) Z(Pb ) ρk (1 − T OC)(1 − φN ) Z(P b)
1+
e
ρI T OC
114

APÊNDICE C – Solução Analítica Para o


Modelo Reduzido

Neste apêndice derivamos a solução analítica para o modelo reduzido (ausência


da rede de fraturas naturais) composto por (2.59) e (2.60). As equações são obtidas no
cenário do reservatório idealizado descrito na seção 6.2 no qual os problemas para matriz
e fratura hidráulica se reduzem a problemas unidimensionais (ver Figura 40).

C.1 Equação na Matriz


Iniciamos apresentando a solução para a equação que governa a hidrodinâmica na
matriz. Por simplicidade consideramos Sw = 0. Substituindo as equações para R (Pb ) (eq.
(2.15)) e fluxo mássico Jb (eq. (2.16)) em (2.60), a equação da continuidade para o sistema
homogeneizado pode ser reescrita da forma:
 
∂ ∂ ρb ∂Pb
(ϕP ρb + ϕK φN Gρb ) −  kbef f  =0 (C.1)
∂t ∂x µg ∂x

onde kbef f no contexto da aproximação auto-coerente é dado por (ver (3.12)):


2ϕP
kbef f = k∞ fc
3 − ϕP
Derivando o primeiro termo da equação (C.1), temos

∂ (ϕK φN G)
   
∂ρb ∂ϕP ∂ρb ∂ ρb ∂Pb
ϕP + ρb + ϕK φN G + ρb −  ef f
kb  =0 (C.2)
∂t ∂t ∂t ∂t ∂x µg ∂x

Levando em conta o fato de que tanto ϕP quanto ρb dependem da pressão, a equação (C.2)
pode ser reescrita na forma:

∂ (ϕK φN G) ∂Pb
   
∂ ρb ∂Pb
ϕP ρb cgb + ϕP ρb crP + ϕK φN Gρb cgb + ρb  −  ef f
kb  = 0 (C.3)
∂Pb ∂t ∂x µg ∂x

onde as compressibilidades do gás (cgb ) e da matriz (crP ) são dadas por:

1 ∂ρb 1 ∂ϕP
cgb := , crP := (C.4)
ρb ∂Pb ϕP ∂Pb
Introduzindo ainda as compressibilidades dos nanoporos e da matéria orgânica dadas por:

1 ∂φN 1 ∂ϕK
crN := , crK := (C.5)
φN ∂Pb ϕK ∂Pb
APÊNDICE C. Solução Analítica Para o Modelo Reduzido 115

a derivada com respeito à pressão do produto ϕK φN G na equação (C.3) pode ser escrita
da forma:
∂ (ϕK φN G) 1 ∂G
 

= ϕK φN crN + crK + G (C.6)


∂Pb G ∂Pb
Usando a definição do coeficiente de partição em (2.12), temos

1 ∂G 1 ∂ρa 1 ∂ρb
 

= −  = cga − cgb
G ∂Pb ρa ∂Pb ρb ∂Pb

Substituindo a equação (C.6) em (C.3) resulta em:


 
∂Pb ∂ ρb ∂Pb
(ϕP ρb cgb + ϕP ρb crP + ϕK φN Gρb cgb + ρb ϕK φN GctK ) −  ef f
kb  = 0 (C.7)
∂t ∂x µg ∂x

onde a compressibilidade orgânica total é dada por:

ctK := crN + crK + cga − cgb (C.8)

A equação (C.7) pode então ser reescrita na forma:


 
∂Pb ∂ ρb ∂Pb
(ctb ϕP + ϕK φN GctG ) ρb −  ef f
kb  =0 (C.9)
∂t ∂x µg ∂x

com as compressibilidades totais dadas por:

ctb := cgb + crP , ctG := crN + crK + cga (C.10)

Considerando kbef f constante e substituindo a equação de estado (2.10) em (C.9), obtemos


   
ϕP µg ctb ϕK φN µg GctG Pb ∂Pb ∂ Pb ∂Pb
+ − =0 (C.11)
µg Z(Pb ) ∂t ∂x µg Z(Pb ) ∂x
   
kbef f kbef f

As condições iniciais e de contorno para (C.11) são:



∂Pb (x, t)
Pb (x, t)|t=0 = Pb,0 , Pb (x, t)|x=Lf /2 = PF , =0 (C.12)
∂x

x=0

Note que aqui, diferentemente de em (6.2), postulamos fluxo nulo em x = 0. Tal escolha é
arbitrária e foi adotada aqui por simplicidade na obtenção da solução analítica. O problema
(C.11)-(C.12) pode ser parcialmente linearizado adotando a mudança de variáveis com
a pseudo-pressão para mb , definida pela equação (7.1). Em termos de mb o problema
(C.11)-(C.12) é dado por:
  
 ϕP µg ctb ϕK φN µg GctG ∂mb ∂ 2 mb
+ =0


 
ef f
 −
kbef f ∂x2


 kb ∂t
(C.13)
 ∂mb (x, t)
mb (x, t)|t=0 = mb0 , mb (x, t)|x=Lf /2 = mF , =0




∂x



x=0
APÊNDICE C. Solução Analítica Para o Modelo Reduzido 116

No contexto de testes de poço as soluções analíticas são geralmente definidas em ter-


mos de variáveis adimensionais. Neste sentido, adotamos a adimensionalização em (7.3).
Substituindo as variáveis adimensionais em (C.13), resulta em:

 ∂mbD ∂ 2 mbD
(ωb + GωK ) χ =0




∂x2D

∂tD


(C.14)
∂mbD
mbD (xD , t)|t=0 = 0, mbD |xD =1 = mF D , =0




∂xD



xD =0

onde ωb , ωK denotam os coeficientes de armazenamento dos microporos e matéria orgânica,


respectivamente dados, juntamente com χ e a coordenada adimensional xD , por:
 2
ϕP ctb ϕK φN ctG Lf x
ωb = , ωK = , χ = 2 , xD = (C.15)
(φc)t (φc)t

xF Lf /2

Aplicando a transformada de Laplace no tempo em (C.14) conduz a:



 ∂ 2 mbD
− σb s mbD = 0



∂x2D



(C.16)
∂mbD
mbD |xD =1 = mF D , =0




∂xD



xD =0

onde miD (xD , s) denota a pseudo-pressão adimensional no domínio de Laplace e σb =


(ωb + GωK ) χ. A solução de (C.16) é dada por:
√ √
mbD (xD , s) = A1 cosh ( sσb xD ) + B1 sinh ( sσb xD ) (C.17)

com A1 e B1 constantes definidas pelas condições de contorno. Aplicando (C.16)b em


(C.17) chegamos ao sistema linear:
 A cosh (√sσ ) + B sinh (√sσ ) = m

1 b 1 b FD
 A sinh (0) + B cosh (0) = 0
1 1

cuja solução fornece


mF D
A1 = √ , B1 = 0
cosh sσb
Desta forma, a pseudo-pressão na matriz no domínio de Laplace é dada por:
h√ i
cosh sσb xD
mbD (xD , s) = mF D √  (C.18)
cosh sσb

C.2 Equação na Fratura Hidráulica


A equação da continuidade para a fratura hidráulica é dada por:

∂ (φF ρF ) M
∂JF,τ Jb
+ = (C.19)
∂t ∂y dF x=Lf /2
APÊNDICE C. Solução Analítica Para o Modelo Reduzido 117

Substituindo JF,τ
M
e Jb em (C.19) e fazendo a derivada do produto φF ρF com respeito ao
tempo, temos

kbef f
   
∂ρF ∂PF ∂φF ∂PF ∂ ρF ∂PF ρb ∂Pb
φF + ρF − kF,τ   =−   (C.20)
∂PF ∂t ∂PF ∂t ∂y µg ∂y dF µg ∂x
x=Lf /2

Introduzindo as compressibilidades do gás e da rocha da forma:

1 ∂ρF 1 ∂φF
cgF := , crF := (C.21)
ρF ∂PF φF ∂PF
e fazendo uso da equação de estado em (2.21), a equação (C.20) pode ser reescrita como:

kbef f
   
PF ∂PF ∂ PF ∂PF Pb ∂Pb
φF µg ctF − kF,τ =− (C.22)
µg Z(PF ) ∂t µg Z(PF ) ∂y
   
∂y dF µg Z ∂x
x=Lf /2

onde introduzimos a compressibilidade total da fratura:

ctF := cgF + crF (C.23)

As condições inicias e de contorno para (C.22) são:



∂PF (y, t)
PF (y, t) |t=0 = PF,0 , M
JF,τ |y=0 = Jdado , =0 (C.24)
∂y

y=xF

Na condição de contorno acima para o fluxo JF,τ


M
em y = 0, escrevemos o fluxo prescrito
Jdado como:
Jdado = ρsc qsc /AwF (C.25)

onde ρsc denota a densidade e qsc a vazão em condição standard e AwF a área de contato
entre a fratura hidráulica e o poço que no presente trabalho admite duas expressões:

h dF poço vertical
AwF = 
2πrw /4 poço horizontal

Fazendo uso da equação de estado (2.21), segue que:


Psc qsc
Jdado = − (C.26)
Rg Tsc Zsc AwF

com Psc e Tsc a pressão e a temperatura em condição standard e Zsc = (Psc ). Assim, temos

kF,τ PF ∂PF Psc qsc



M
JF,τ =− = Jdado = − (C.27)
µg Rg T Z(PF ) ∂y y=0

Rg Tsc Zsc AwF
de onde segue que (considerando Zsc = 1):
PF ∂PF Psc T qsc

= (C.28)
µg Z(PF ) ∂y y=0 Tsc kF,τ AwF

APÊNDICE C. Solução Analítica Para o Modelo Reduzido 118

Considerando a pseudo-pressão, introduzindo as variáveis adimensionais (7.3), o


problema (C.22)-(C.24)-(C.28) é dado por:

 ∂mF D ∂ 2 mF D 1 ∂mbD
=−

ηF D − √



2
∂tD ∂yD CF D χ ∂xD



xD =1 (C.29)
 ∂mF D 2π ∂mF D
mF D (yD , t) |t=0 = 0, =− =0

,



∂yD CF D ∂yD



yD=0 yD =1

com as variáveis adimensionais dadas por:



 kF,τ dF
poço vertical

φF ctF kbef f y

 ,
kbef f xF


ηF D = , yD = , CF D =  (C.30)
(φc)t kF,τ xF πkF,τ rw
, poço horizontal
 


kbef f xF

Aplicando a transformada de Laplace em (C.29), resulta em:



 ∂ 2 mF D 1 ∂mbD
=−

ηF D s mF D − √



2
∂yD CF D χ ∂xD



xD =1
(C.31)
 ∂mF D 2π ∂mF D
=− =0

,



∂yD sCF D ∂yD



yD =0 yD =1

Além disso, segue de (C.18) que:



∂mbD √ √
= mF D sσb tanh ( sσb ) (C.32)
∂xD
xD =0

Substituindo a equação (C.32) em (C.31), obtemos

∂ 2 mF D
− sg(s)mF D = 0 (C.33)
∂x2D
com  √ 
χsσb √
g (s) = ηF D + tanh ( sσb ) (C.34)
sCF D
Finalmente, a solução do problema (C.33)-(C.31)b é dada por:
q  q 
mF D (yD , s) = A2 cosh sg(s)yD + B2 sinh sg(s)yD (C.35)

onde A2 e B2 são constantes calculadas a partir das condições de contorno. Aplicando


(C.31)b em equação (C.35) chegamos ao sistema de equações:

 q q 2π
A2 sg (s) sinh (0) + B2 sg (s) cosh (0) = −



q  q  sCF D (C.36)
A2 sinh sg (s) + B2 cosh sg (u) = 0




APÊNDICE C. Solução Analítica Para o Modelo Reduzido 119

cuja solução é dada por:


q
2π cosh( sg(s)) 2π
A2 = q q , B2 = − q
sCF D sg(s) sinh( sg(s)) sCF D sg(s)

Assim, chegamos à solução do sistema (2.59) e (2.60) no domínio de Laplace:


q
2π cosh( sg(s))
 
q  q 
mF D (yD , s) = q cosh sg(s)yD q − sinh sg(s)yD 
sCF D sg(s) sinh( sg(s))

A solução na interface da fratura hidráulica com o poço é obtida tomando yD = 0:

2π q 
mwD = q coth sg(s) (C.37)
sCF D sg(s)
120

APÊNDICE D – Algoritmo Paralelizado

Neste apêndice descrevemos a paralelização do algoritmo final proposto na Figura


27. Ressaltamos aqui que nosso objetivo não é fazer uma revisão sobre paralelização
nem criar uma metodologia complexa e ótima. Nosso propósito é apenas apresentar as
estratégias que foram usadas com o intuito de reduzir o tempo computacional de execução
do algoritmo sequencial.

D.1 Algoritmo Sequencial Discreto


Iniciamos apresentando a versão discreta do algoritmo mostrado na Figura 27. Por
simplicidade, propomos a estratégia para o reservatório idealizado mostrado na Figura
29 no qual o domínio ocupado pela fratura hidráulica consiste do segmento γ = [0, xF ]
alinhado com o eixo y e o domínio da rede de fraturas naturais [0, Lf /2] alinhado com o
eixo x. A generalização para geometrias mais gerais é direta.
No contexto do método de elementos finitos suponha que os domínios [0, xF ] e
[0, Lf /2] são discretizados por malhas com (y1 , ..., ynpF ) e (x1 , ..., xnpf ) nós, respectivamente.
Note que para cada par (yj , xi ), j = 1, ..., npF , i = 1, ..., npf devemos resolver os problemas
n+1,s+1
para as funções características (χn+1,s+1
b,h (yj , xi ), P b,h (yj , xi )) e realizar o cálculo dos
temos de fonte para as equações das funções características da rede de fraturas naturais.
Assim, introduzimos fb (yj , xi ) e f b (yj , xi ) definidas por:
n+1,s+1
fb (yj , xi ) := hRn+1,s χn+1,s+1
b i, f b (yj , xi ) := hRn+1,s P b − Rn Pbn i (D.1)

A versão discreta do algoritmo sequencial apresentado na Figura 27 é mostrada no


Algoritmo 1. A chamada ”resolva a equação” se refere a solução de uma equação diferencial
parcial linear. Note que os problemas para cada χn+1,s+1 b,h (yj , xi ) na linha 7 do Algoritmo
n+1,s+1
1 são independentes entre si (o mesmo para P b,h (yj , xi ) na linha 9). Além disso, o
n+1,s+1
cômputo de χf,h n+1,s+1
(yj , xi ) só depende de fb,h (yj , xi ) (o de P f (yj , xi ) só depende
de f b,h (yj , xi )). Tal independência entre os problemas torna a paralelização do algoritmo
imediata.

D.2 Paralelização do Algoritmo


A fim de explorar a independência nas etapas do algoritmo sequencial apresentado
na seção anterior discutimos aqui a paralelização do mesmo. Dentre os diferentes tipos
de paralelização adotamos uma estratégia híbrida que combina memória compartilhada
APÊNDICE D. Algoritmo Paralelizado 121

Algoritmo 1 Algoritmo sequencial para solução do sistema de EDP’s discretizado.


1: Inicializar as variáveis com a condição inicial;
2: para n=1,2,... faça
3: s = 1;
4: enquanto não convergir faça . Iterações da não linearidade (Picard)
5: para j = 1, npF faça
6: para i = 1, npf faça
7: resolva a equação para χn+1,s+1 b,h (yj , xi );
8: faça o cômputo da fonte fb,h (yj , xi );
n+1,s+1
9: resolva a equação para P b,h (yj , xi );
10: faça o cômputo da fonte f b,h (yj , xi );
11: fim para
12: dado fb,h (yj , xi ) resolva a equação para χf,h n+1,s+1
(yj , xi );
13: faça o cômputo da fonte Qf,h (χf,h n+1,s+1
);
n+1,s+1
14: dado f b,h (yj , xi ) resolva a equação para P f (yj , xi );
n+1,s+1
15: faça o cômputo da fonte Qf,h (P f,h );
16: fim para
n+1,s+1
17: dados Qf,h (χn+1,s+1
f,h ) e Qf,h (P f,h ) resolva a equação para PF,h n+1,s+1
;
18: verifique a convergência;
19: s := s + 1;
20: fim enquanto
21: fim para

(multithreading) e memória distribuída (multiprocessing). Neste sentido, abusamos dos


jargões threads para designar sequências que são executadas em uma única área de memória
e processos para sequências executadas independentemente, em áreas de memória privadas.
As linhas 6 à 15 do Algoritmo 1 são realizadas npF vezes. Assim, podemos dividir
as npF execuções de tais linhas entre diferentes processos: cada processo tem associado a
si os índices início e f im, tal como ilustrado na Figura 57, e resolve (f im − início + 1)
problemas associados às funções características da rede de fraturas naturais. Tal algoritmo
é descrito no Algoritmo 2.
As tarefas realizadas por cada processo p = 1, 2, ..., numP roc são descritas no
Algoritmo 3. Procedendo na mesma linha de raciocínio do parágrafo anterior, as linhas 3 à
12 do Algoritmo 3 são executadas (f im − início + 1) vezes. No contexto da paralelização
híbrida adotada as (f im − início + 1) execuções são divididas entre threads, tal como
ilustrado na Figura 58.

D.3 Resultados
Nesta seção apresentamos os ganhos em termos de tempo computacional computa-
dos com a estratégia descrita acima. Os resultados foram obtidos no cluster Altix-XE 340.
Os parâmetros de entrada do modelo proposto utilizados nas simulações são descritos na
APÊNDICE D. Algoritmo Paralelizado 122

início 0

processo 0

fim 0

...
início numProc

processo numProc

fim numProc

Figura 57 – Ilustração da divisão de tarefas entre os numProc processos.

Algoritmo 2 Algoritmo paralelo para solução do sistema de EDP’s discretizado.


1: Inicializar as variáveis com a condição inicial;
2: Definir o número de processos: numProc;
3: para n=1,2,... faça
4: s = 1;
5: enquanto não convergir faça . Iterações da não linearidade (Picard)
n+1,s+1
6: processo 1: calcule sua parcela das fontes Qf,h (χn+1,s+1
f,h ) e Qf,h (P f,h )
n+1,s+1
7: processo 2: calcule sua parcela das fontes Qf,h (χf,h
n+1,s+1
) e Qf,h (P f,h )
..
8: .
n+1,s+1
9: processo numProc: calcule sua parcela das fontes Qf,h (χn+1,s+1
f,h ) e Qf,h (P f,h )
10: cada processo: envie sua parcela das fontes computadas para os demais
n+1,s+1
11: dados Qf,h (χn+1,s+1
f,h ) e Qf,h (P f,h ) resolva a equação para PF,h
n+1,s+1
;
12: verifique a convergência;
13: s := s + 1;
14: fim enquanto
15: fim para

Algoritmo 3 Tarefa do processo p.


1: Dados início e f im do processo p
2: para j = início, f im faça
3: para i = 1, npf faça
4: resolva a equação para χn+1,s+1b,h (yj , xi );
5: faça o cômputo da fonte fb,h (yj , xi );
n+1,s+1
6: resolva a equação para P b,h (yj , xi );
7: faça o cômputo da fonte f b,h (yj , xi );
8: fim para
9: dado fb,h (yj , xi ) resolva a equação para χn+1,s+1f,h (yj , xi );
10: faça o cômputo da fonte Qf,h (χf,h n+1,s+1
);
n+1,s+1
11: dado f b,h (yj , xi ) resolva a equação para P f (yj , xi );
n+1,s+1
12: faça o cômputo da fonte Qf,h (P f,h );
13: fim para
APÊNDICE D. Algoritmo Paralelizado 123

processo p threads

Figura 58 – Ilustração da divisão de tarefas para cada processo entre os threads.

1200
1 processo
2 processos
1000 4 processos
Tempo de execução (segundos)

8 processos
16 processos
800

600

400

200

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Número de Threads
Figura 59 – Gráficos dos tempos de execução variando com o número de threads do
algoritmo paralelizado parametrizado pelo número de processos.

Tabela 6.
A Figura 59 mostra o gráfico do (tempo de execução) x (número de threads)
parametrizado pelo número de processos. Notamos um ganho significativo a medida que o
número de processos aumenta, tal como esperado. Entretanto, fixado o número de processos
o aumento no número de threads é atrativo apenas até 4. Observamos ainda uma exceção
a tal comportamento para 16 processos, no qual 4 threads resultou na pior performance.
Em vista disso, escolhemos realizar as simulações com 16 processos e 2 threads.

You might also like