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Construção Sustentável, Materiais,

Tecnologias e Legislação

Brasília-DF.
Elaboração

Luiza Junqueira

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I

INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS................................................. 9

CAPÍTULO 1

BREVE INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.............................. 9

CAPÍTULO 2

IMPACTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL......................................................................................... 24

CAPÍTULO 3

CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL.................................................................................................... 28

CAPÍTULO 4

CONCEITOS E PREMISSAS DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL...................................................... 34

CAPÍTULO 5

O MERCADO DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL NO BRASIL........................................................ 54

CAPÍTULO 6

TENDÊNCIAS GLOBAIS DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL 2016................................................... 58

CAPÍTULO 7

BENEFÍCIOS DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL........................................................................... 66

UNIDADE II

MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS............................................................................................. 71

CAPÍTULO 1

AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA.............................................................................................. 71

CAPÍTULO 2

PRODUTOS E MATERIAIS SUSTENTÁVEIS...................................................................................... 82

CAPÍTULO 3

RÓTULOS, SELOS E CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS.................................................................... 89


UNIDADE III
POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO...................................................................................................... 99

CAPÍTULO 1
A IMPORTÂNCIA DO ENGAJAMENTO GOVERNAMENTAL E BARREIRAS ENCONTRADAS NA
PROMOÇÃO DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL......................................................................... 99

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 109
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

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Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
O presente Caderno de Estudos foi desenvolvido com o objetivo de apresentar os
conceitos de construção sustentável, os aspectos relacionados à cadeia produtiva da
construção civil e seus impactos socioambientais, bem como os benefícios da construção
sustentável no meio ambiente, na sociedade e na economia.

Introduzir o conceito de avaliação de ciclo de vida, produtos ambientalmente preferíveis


e sistemas de certificação de produtos utilizados no Brasil e no mundo.

Também versar sobre a importância do engajamento do Governo no movimento da


construção sustentável como sendo um agente primordial no que tange à definição de
diretrizes e velocidade de transformação por meio da implantação de políticas públicas,
campanhas de conscientização, aprovação de leis mandatórias e definição de incentivos
de cunho financeiros, tributários e administrativos, além de apresentar legislação
mandatória, ou de incentivos fiscais, financeiros e administrativos.

Objetivos
»» Apresentar os conceitos e histórico de sustentabilidade.

»» Apresentar os conceitos de construção sustentável e de produtos


sustentáveis.

»» Apresentar a legislação atual relacionada à construção sustentável.

»» Fomentar o pensamento crítico e aprofundar competências na área


específica.

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INTRODUÇÃO À
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL UNIDADE I
– IMPACTOS E BENEFÍCIOS

CAPÍTULO 1
Breve introdução aos conceitos de
desenvolvimento sustentável

A sociedade está chegando à conclusão de que, embora tenha trazido o maior


desenvolvimento tecnológico que a humanidade já experimentou, o século XX também
registrou a gênese daquele que vem sendo considerado o maior desastre ecológico do
planeta. Quando acompanhamos os índices de poluição do ar, água ou solo, o consumo
de recursos naturais e a capacidade do planeta de repor essas necessidades, temos
realmente que nos preocupar.

O novo contexto global exige, cada vez mais, por parte das empresas, dos governantes
e da sociedade, a capacidade de levar em consideração fatores sociais, ambientais e
econômicos de uma forma equilibrada em suas tomadas de decisões.

Portanto, o desafio mundial para este século é conciliar o desenvolvimento tecnológico


com a preservação dos recursos naturais, garantindo a aplicação de práticas sustentáveis
por parte dos atores desse processo.

Há muitos anos que a sociedade vem estudando os impactos que causamos ao Planeta,
como podemos observar neste breve resumo da Jornada do Pensamento Sustentável no
mundo, conforme ilustra a Quadro 1:

9
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

Quadro 1.

2010 Copenhagen - Dinamarca, Aquecimento Global


2002 Rio +10 Johanesburgo, África do Sul. Protocolo de Kyoto
1992 Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – RIO 92
1987 Relatório de Brundtland
1983 Criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
1972 Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano em Estocolmo
1968 Clube de Roma
Fonte: <http://cebds.org/linha-do-tempo-da-sustentabilidade/>.

Em 1972, em Estocolmo, foi realizada a primeira Conferência Mundial sobre Meio


Ambiente Humano da Nações Unidas, que sucedeu uma série de conferências
mundiais importantes, sendo a última a Rio+20, e com o tempo passou a ser conhecida,
primeiro, como Conferência Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e, por fim, como
Conferência de Desenvolvimento Sustentável.

Entretanto, foi durante a Conferencial Mundial da ONU, em Brundtland, em 1987, que,


pela primeira vez, se definiu o conceito de “Desenvolvimento Sustentável” marcado
pela célebre frase: “desenvolvimento sustentável é aquele que “satisfaz as necessidades
do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas
próprias necessidades”. (COMISSÃO BRUNDTLAND, 1987)

Esse conceito, hoje, faz parte da nossa “Carta Magna”, ou seja, nossa Constituição
Federal que no caput do seu art. 225 define que: “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL, 1988).

Triple Bottom Line


O tripé da sustentabilidade, ou o Triple Bottom Line, é um termo originalmente cunhado
pelo autor Inglês John Elkington, em 1994, que significa pessoas, planeta e lucro
(people, planet, profit em inglês). Basicamente significa dizer que sustentabilidade só
existe na prática se todos os três pilares estiverem presentes.

»» People – refere-se ao tratamento do capital humano de uma empresa ou


sociedade.

»» Planet – refere-se ao capital natural de uma empresa ou sociedade.

»» Profit – trata-se do lucro. É o resultado econômico positivo de uma


empresa.
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INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

Figura 1.

Fonte: Role of NGO’s in Sustainable Development (Sustainability in 21st Century) <http://pt.slideshare.net/gauravwadhwa37/role-


of-ngos-in-sustainable-development>

São apresentados nos relatórios corporativos das empresas comprometidas com o


desenvolvimento sustentável. Por enquanto, são medições de caráter voluntário, mas
empresas que apresentaram essa conta tripla de resultados perceberam, antes de outras,
que, no futuro, o consumidor tornar-se-á cada vez mais responsável e exigirá saber qual
é o impacto econômico, ambiental e social que gera os produtos que compõem a sua
compra.

Um pouco sobre mudanças climáticas

Em 1988 for criado o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla
em inglês) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Programa Ambiental
das Nações Unidas (UNEP). Entre setembro de 2013 e novembro de 2014, o IPCC lançou
seu quinto Relatório de Avaliação (AR5) sobre Mudanças Climáticas, que fornece uma
visão clara sobre a mudança climática. O sexto Relatório de Avaliação está previsto para
ser concluído em 2022, a tempo de o Acordo Mundial de Paris, estabelecido em 2015 e
assinado em 2016, entrar em vigor.

De acordo com o 5o Relatório do IPCC, se não houver ação imediata das nações para
limitar o aquecimento global em 2°C, em pouco tempo, não haverá muito o que fazer.
“Se as taxas de emissão de gases de efeito estufa continuarem aumentando, os meios de
adaptação não serão suficientes”, aponta o documento.

Entre 2000 e 2010, a produção de energia por meio da queima de combustíveis


fósseis foi responsável por 47% da emissão global de gases de efeito estufa. A indústria
respondeu por 30%, o transporte por 11%, e as construções por 3%.

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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

Em dezembro de 2015, durante a COP21, foi assinado o Acordo de Paris, que é


destinado a substituir o Protocolo de Kioto, em 2020, e o primeiro pacto universal
para tentar combater a mudança climática. Sua obrigatoriedade passa a vigorar a partir
de 4/11/2016 e tem como objetivo manter o aumento da temperatura média mundial
“muito abaixo de 2°C”, mas “reúne esforços para limitar o aumento de temperatura a
1,5°C”, em relação aos níveis pré-industriais.

Um total de 92 países já ratificou (aprovaram internamente) o Acordo de Paris. O limite


mínimo de 55 países que representam 55% das emissões mundiais de gases do efeito
estufa, necessário para que o acordo entrasse em vigor, foi atingido antes do que os
especialistas esperavam.

Entre os principais países emissores, a Rússia ainda não indicou quando ratificará
o acordo. Na Austrália e no Japão, o processo já está em andamento e, na Europa,
Polônia, Bélgica, Itália e Espanha ainda devem ratificá-lo em nível nacional.

Na América Latina, Argentina, Brasil, México, Peru, Costa Rica, Bolívia, Honduras e
Uruguai também ratificaram o acordo.

Entretanto, o texto ainda deve ficar mais claro e entre os temas que devem avançar estão
a definição das regras de transparência (verificação dos compromissos nacionais), o
aumento da ajuda financeira aos países em desenvolvimento, a assistência técnica para
a criação de políticas de desenvolvimento “limpo” (energias renováveis, transportes e
residências que consomem menos energia, novas práticas agrícolas etc.) e a apresentação
de metas nacionais para 2050.

O conjunto dos compromissos atuais coloca o planeta em uma trajetória de +3°C, um


limiar que implica consequências mais graves que o aumento de 2ºC (meta prevista no
acordo), já em si causador de fenômenos climáticos extremos, como ondas de calor,
secas, inundações e elevação do nível do mar.

O acordo deverá ser revisto a cada 5 anos.

Já em 4/11/2016 entrou oficialmente em vigor o Acordo de Paris. Cada país signatário


apresentou um plano sobre como abordará as fontes de emissões de gases de efeito
estufa e o que poderá ser feito em nível nacional para ajudar a manter o aumento da
temperatura global, neste século, abaixo dos 2 oC.

O Brasil assumiu como objetivo cortar as emissões de gases de efeito estufa em 37% até
2025, com o indicativo de redução de 43% até 2030 – ambos em comparação aos níveis
de 2005.

12
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

Entre as políticas para alcançar essas metas, o país terá, por exemplo, que aumentar a
participação de fontes renováveis na matriz energética e recuperar e reflorestar áreas
desmatadas. O país ainda se comprometeu a zerar o desmatamento da Amazônia Legal
e a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030.

Dados alarmantes

O relatório “The Truth About Climate Change” (A verdade sobre a mudança climática),
divulgado no dia 29 de setembro de 2016, coordenado por Robert Watson, ex-presidente
do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das
Nações Unidas (ONU), afirma que não podemos ficar confortáveis somente com os
compromissos assumidos no Acordo de Paris.

O relatório aponta que mesmo se todas as metas para 2030 forem cumpridas, isso não
será suficiente para evitar o aquecimento acima de 2 °C. E parte dos compromissos
assumidos pelos países depende de condições externas, como financiamento. Além
disso, o relatório alerta sobre os muitos mal-entendidos e desinformações acerca do
tema, o que leva um grande número de pessoas a entender as mudanças climáticas
como algo abstrato, distante e controverso.

O documento reconhece que o Acordo de Paris foi bem-sucedido e representa um passo


decisivo para que sejam tomadas medidas coletivas relacionadas ao clima global. Mas,
somente em 2015, a temperatura média do planeta já superou a marca de 1 °C acima
dos níveis registrados na época pré-industrial. Para não extrapolar o limite proposto
para o fim do século, seria necessário reduzir em 22% a emissão de gases de efeito
estufa até 2030.

Desta forma, no melhor dos cenários, se todas as metas propostas pelos 195 países forem
totalmente cumpridas, as emissões devem se manter nos níveis atuais: 54 gigatoneladas
de dióxido de carbono equivalente (ou CO2eq, medida usada para comparar as emissões
de diversos gases de efeito estufa baseada na quantidade de CO2 que teria o mesmo
potencial de causar aquecimento global) por ano.

Se apenas forem cumpridos os compromissos assumidos de forma incondicional pelos


países, ou seja, aqueles que não dependem de financiamento externo, transferência de
tecnologia ou capacitação, as emissões devem crescer 6% até 2030. Já sem o Acordo de
Paris poderia ser ainda pior, aumentando em 30%.

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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS

Em setembro de 2015, foi estabelecida a Agenda 2030, intitulada de “Transformando


Nosso Mundo”, que estabelece dezessete objetivos de desenvolvimento sustentável
(ODS), em substituição aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM),
estabelecidos em 2000 e vencidos em 2015.

Os dezessete objetivos compreendem 169 especificações, e seu processo de elaboração


aticulou, durante dois anos, não somente instâncias governamentais como instituições
da sociedade civil e especialistas em diversas áreas do mundo todo.

Os 17 objetivos são:

Figura 2.

Fonte: <https://nacoesunidas.org>.

Espera-se que essa seja uma conspiração ética para que as futuras gerações mereçam
tanta atenção quanto as atuais!

Não obstante, o planeta alcança, todos os anos, sua conta no cheque especial mais cedo,
ou seja, a cada ano que passa, a quantidade de recursos naturais consumidos no mundo
chega mais cedo em seu limite. Desde que começou a ser monitorada, no ano 2000, a
Terra acabou com seus recursos pela primeira vez em 5 de outubro. No ano de 2016, a
conta chegou mais cedo, no dia 8 de agosto. A partir dessa data, os recursos extraídos
já batem o limite da subsistência da vida na Terra. Desta forma, seria necessário 1,5
planeta por ano para regenerar os recursos naturais que consumimos em apenas 1 ano.
E, de acordo com estudos publicados pelo WWF, se continuarmos assim, até 2050,
precisaremos do equivalente a 2,9 planetas para atender nossas demandas anuais.

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INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

Figura 3.

Fonte: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/pegada_ecologica/overshootday/>.

De acordo, ainda, com o 5o relatório do IPCC, “para frear as mudanças climáticas e


gerenciar seus riscos, é preciso que as nações promovam ações combinadas de mitigação
e adaptação. “Reduções substanciais nas emissões de gases de efeito estufa nas próximas
décadas podem diminuir os riscos das mudanças climáticas e melhorar a possibilidade
de adaptação efetiva às condições existentes”.

Com todas essas situações alarmantes e de domínio público, o mundo passa cada
vez mais a ficar atento às preocupações relacionadas às mudanças climáticas globais
e seus inúmeros impactos, tais como elevação do nível dos oceanos, que impactará
diretamente muitas cidades litorâneas. Uma das ações recentes que chamou atenção
do planeta quanto à preocupação das mudanças climáticas globais foi na abertura dos
Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro, em agosto de 2016.

Figura 4.

Fonte: <http://atriaeenergy.com.br/midia/brasil-lanca-um-forte-apelo-ambiental-na-abertura-da-olimpiada/>.

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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

Apesar disso, os jogos acabaram e os resultados quantificados de emissão de CO2 ainda


são altos, conforme demonstra a Figura 5.

Figura 5,

Fonte: Fundação Espaço Eco. <https://www.facebook.com/fundacaoespacoeco/photos/a.750779808293827.1073741827.75


0766444961830/1134974983207639/?type=3&theater>.

Por isso, megaeventos como as Olimpíadas devem mapear seus impactos desde as
etapas mais preliminares de planejamento, para que seja possível estabelecer metas
reais de compensação de emissões, evitando assim grandes impactos.

De acordo com o Plano de Sustentabilidade dos jogos, será necessário o plantio de 34


milhões de árvores para compensar a emissão dos gases efeito estufa (GEE).

Essas reduções demandarão, entretanto, mudanças tecnológicas, econômicas, sociais e


institucionais consideráveis e, neste caso, a construção não fugirá à regra.

Nova agenda urbana

A criação de uma nova “Agenda Urbana” deve ir além de pensar soluções para conflitos
que atingem as cidades, como a pobreza, a desigualdade e os efeitos das mudanças
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INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

climáticas. Para a ONU, a urbanização deve ser, ela própria, uma ferramenta de
desenvolvimento.

O documento contou com contribuições dos países e de organizações da sociedade civil


do mundo todo, e trouxe um diagnóstico do desenvolvimento das cidades desde 1996,
data do Habitat II, conferência do programa para assentamentos urbanos da ONU.
No Habitat III, ocorrido entre 17 e 20 de outubro de 2016, em Quito, no Equador, a
Organização aprovou um novo texto.

O texto propõe soluções para os problemas que não foram solucionados nas últimas duas
décadas e para os que podem surgir em um mundo em transformação com o acirramento
da urbanização e das mudanças climáticas. Para a ONU, é preciso redirecionar o eixo de
desenvolvimento urbano, com vista à redução da desigualdade.

O relatório lista 5 princípios ou diretrizes que guiam essa mudança para a formulação
de políticas urbanas:

»» A urbanização deve proteger e promover os direitos humanos e o princípio


da legalidade.

»» Garantir a equidade do desenvolvimento urbano.

»» Empoderar a sociedade civil, expandindo a democracia.

»» Promover sustentabilidade ambiental.

»» Promover inovação que facilita o aprendizado e a aquisição de


conhecimento.

Os cinco princípios da nova “Agenda Urbana” proposta pela ONU se desdobram em


quatro “componentes”, que são ações mais propositivas desenhadas pela entidade para
orientar os países na formulação de políticas públicas:

»» a adoção e implementação de políticas urbanas nacionais;

»» leis e regulação: fortalecer as legislações urbanas e sistemas de


governance;

»» revigorar o planejamento territorial e urbano;

»» finanças municipais: aproveitar a economia urbana e criar oportunidades


de emprego.

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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

As três grandes iniciativas globais apresentadas – Acordo de Paris, ODS e Agenda


Urbana – trabalham em conjunto para criar um mundo mais sustentável e equitativo.

Embora as três iniciativas globais descritas possam parecer diferentes, elas se


complementam de maneiras significativas. O Acordo de Paris, a maior das três iniciativas,
mas também o mais voltado para as mudanças climáticas, é apoiado pela Nova Agenda
Urbana e pelos ODSs.

As cidades serão uma força importante para ajudar as nações a cumprir seus
compromissos sob o Acordo de Paris, já que geram mais de 80% do PIB mundial,
consomem aproximadamente dois terços da energia mundial e respondem por mais
de 70% das emissões de gases de efeito estufa. Cidades fortes traduzem nações fortes.
A Nova Agenda Urbana estabelece o caminho para o desenvolvimento sustentável nas
cidades e nos espaços urbanos.

Os ODSS complementam o Acordo de Paris e a Nova Agenda Urbana, definindo os


elementos mais cruciais para um futuro mundo próspero e sustentável. Grande parte
do trabalho que as nações e as cidades fariam, ao mesmo tempo em que visaria às
emissões de gases de efeito estufa, também se concentraria principalmente na inclusão
e na equidade para garantir que cada cidadão se beneficie dessas melhorias.

Pegadas ecológica, hídrica e de carbono

Vale compreender qual o impacto que cada um de nós deixa no planeta. Para isso
existem diversas métricas e metodologias de avaliação. As três principais métricas são:
pegada ecológica, pegada de carbono e pegada hídrica.

A pegada ecológica é uma metodologia de contabilidade ambiental que avalia a pressão


do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais. Expressada em
hectares globais (gha), permite comparar diferentes padrões de consumo e verificar
se estão dentro da capacidade ecológica do planeta. Um hectare global significa um
hectare de produtividade média mundial para terras e águas produtivas em um ano.

Já a biocapacidade representa a capacidade dos ecossistemas em produzir recursos


úteis e absorver os resíduos gerados pelo ser humano.

Sendo assim, a pegada ecológica contabiliza os recursos naturais biológicos renováveis


(grãos e vegetais, carne, peixes, madeira e fibras, energia renovável etc.), segmentados
em agricultura, pastagens, florestas, pesca, área construída e energia e absorção de
dióxido de carbono (CO2).

18
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

A pegada ecológica brasileira é de 2,9 hectares globais por habitante, indicando que o
consumo médio de recursos ecológicos pelo brasileiro é bem próximo da média mundial
da pegada ecológica por habitante, equivalente a 2,7 hectares globais.

Em sua série histórica, a pegada ecológica brasileira mostrou uma tendência de aumento
pouco acentuada até 2005, o que indica estabilidade nos padrões de consumo nesse
período.

Por outro lado, a biocapacidade brasileira vem sofrendo um forte declínio ao longo dos
anos devido ao empobrecimento dos serviços ecológicos e degradação dos ecossistemas.

Ainda assim, o Brasil encontra-se em uma importante posição no cenário mundial, como
um dos maiores credores ecológicos do planeta, situando-se em um favorável cenário
na nova economia verde. Para se manter nessa posição de credor ecológico, o Brasil
precisa reverter esse quadro de declínio de sua biocapacidade com ações de conservação
e de produção ecoeficientes, buscando diminuir a pegada ecológica de sua população
por meio do consumo consciente e da manutenção da estabilidade populacional.

Gráfico 1.

Fonte: <http://assets.panda.org/downloads/living_planet_report.pdf>.

Gráfico 2.

Fonte: <http://assets.panda.org/downloads/living_planet_report.pdf>.

19
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

Gráfico 3.

Fonte: <http://assets.panda.org/downloads/living_planet_report.pdf>.

Entretanto a Pegada Ecológica não está sozinha e, juntamente com a Pegada de Carbono
e Pegada Hídrica, forma o que se chama de família de pegadas.

Os três indicadores são complementares e permitem analisar os múltiplos aspectos das


consequências das atividades humanas sobre o capital natural. Entenda melhor:

»» Pegada ecológica – mede os impactos da ação humana sobre a natureza,


analisando a quantidade de área bioprodutiva necessária para suprir a
demanda das pessoas por recursos naturais e para a absorção do carbono.

»» Pegada de carbono – mede os impactos da humanidade sobre a biosfera,


quantificando os efeitos da utilização de recursos sobre o clima.

»» Pegada hídrica – mede os impactos que as atividades humanas causam


na hidrosfera, monitorando os fluxos de água reais e ocultos.

Todas as pegadas tentam capturar de diferentes formas as pressões do consumo humano


sobre os recursos naturais e revelam a distribuição desigual do uso de recursos entre
habitantes de diferentes regiões do mundo. Com base nesses dados, é possível subsidiar
políticas de desenvolvimento e endossar conceitos como contração e convergência,
justiça ambiental e partilha justa.

Com uma natureza rica em recursos naturais, o Brasil é campeão em


desperdício, do total da água produzida no País: Aproximadamente 5,8

20
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

bilhões de m3 por ano, ou 46% da água produzida se perdem por vários


ralos, sendo este na sua maioria durante a distribuição da água tratada
ou pelo mal uso dos usuários. 


O desperdício de energia elétrica corresponde a 15% do total consumido


no País, o equivalente à produção de Angra 2 (OMS).

Contudo, o maior desafio deste século será o equilíbrio entre a sustentabilidade e a


igualdade social, pois os países com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) têm
grandes pegadas ecológicas enquanto os países com baixo IDH têm uma baixa pegada
ecológica. Entretanto, com o crescimento vertiginoso dos países em desenvolvimento,
que também têm direito a maior conforto e qualidade de vida, vai acelerar ainda mais
essa curva de crescimento da pegada ecológica, o que sugere, então, uma equação de
difícil resolução.

Um fator de aceleração desse problema é a concentração das pessoas nas cidades;


recentemente o planeta atingiu mais de 50% da população mundial vivendo em cidades
e semanalmente mais de 1 milhão de pessoas migram das áreas rurais para as áreas
urbanas, no Brasil, esse número já ultrapassa os 80%.

Figura 6.

Fonte: <http://geocartografiadigital.blogspot.com.br/2016/01/brasil-cartografia-da-populacao-com-o.html>.

21
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

O impacto dos problemas ambientais cresce


exponencialmente, em ritmos acelerados!

Figura 7.

82% da população brasileira vive


hoje nas áreas urbanas

Em 1950 São Paulo tinha 2,4


milhões de habitantes, hoje já são
17,8

75% da produção mundial de CO2 é gerada nas


cidades, e é responsável por 60% do
aquecimento global

As cidades são como parasitas das zonas rurais,


extraindo recursos vitais, como alimentos, água e
energia

Apesar de haver muito o que ser feito no sentido de reverter os danos ambientais
causados pelo homem no planeta, é necessário enxergar a sustentabilidade como uma
oportunidade de repensarmos os negócios, e mudar a mentalidade business as usual.
A partir do momento que o homem começar a perceber que o planeta é de todos – ele
recebeu das gerações passadas e vai deixar para as gerações futuras – e que não há
classe social, credo, gênero ou raça que tenha privilégios perante a mãe natureza, ele vai
entender que é necessário mudar. Pensamentos mesquinhos e egoístas, como “pensar
no aqui e agora” ou lucrar “não importa como”, devem ser repudiados!

Por sorte, uma pesquisa realizada pelo Conselho Empresarial Brasileiro de


Desenvolvimento Sustentável, com grandes corporações no Brasil, aponta que 71%
das empresas consideram a pressão de compliance regulatório e gestão de risco
ambiental como um dos fatores mais influentes na mudança de contexto de negócios

22
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

e consequentemente mais presentes na agenda executiva da organização. Além disso,


82% delas continuarão a aumentar os investimentos em inovação nos próximos 2
anos em virtude dos resultados tangíveis como redução de custos operacionais, e da
perspectiva de novas oportunidades de inovação e crescimento.

Há no mercado brasileiro um potencial de R$ 150 bilhões de oportunidade de negócios


sustentáveis para o setor empresarial. Ou seja, as oportunidades são reais e estão
disponíveis. Cabe a cada um de nós, enquanto indivíduos, incutir o pensamento de
sustentabilidade em nossos lares e em nossas empresas e fazer desse potencial não
somente uma oportunidade de ganharmos mais dinheiro, mas de melhorarmos o
planeta em que vivemos!

Bibliografia recomendada:

»» Primavera Silenciosa, Rachel Carson

»» Colapso – Como as Sociedades Escolhem o Fracasso ou o Sucesso, Jared


Diamond

»» Canibais de Garfo e Faca, John Elkington

»» Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI, José Eli da Veiga

Documentários:

»» Home

»» There’s no Tomorrow (Não Existe Amanhã)

»» Uma Verdade Inconveniente

»» Before the Flood (Antes da Enchente)

23
CAPÍTULO 2
Impactos da construção civil

De acordo com o World Economc Forum, a indústria da construção, no mundo, é a


numero 1 em extração de recursos naturais, responsável por 50% da geração de resíduos
sólidos e 30% dos gases de efeito estufa.

Impactos da construção no mundo:

»» Água doce – a construção consome 16,6% da água doce do planeta. As


principais fontes de água doce disponíveis no planeta estão nas geleiras
(77,39%), nas águas subterrâneas (22,03%), nos lagos e rios (0,37%).

»» Energia elétrica – a construção consome 40% dos combustíveis fósseis


destinados à geração de energia por ano. As fontes primárias de energia
derivadas de combustíveis fósseis vêm do petróleo (36,0%), do carvão
mineral (27,4%) e do gás natural (23,0%).

»» Florestas – a construção consome 25% de toda extração madeireira feita


por ano. As áreas de florestas do mundo têm 4 bilhões de hectares, 50%
estão localizadas em 5 países: Rússia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e
China.

No Brasil, os dados são igualmente alarmantes. Segundo o Conselho Brasileiro de


Construção Sustentável (CBCS), a operação de edifícios no Brasil é responsável por 18%
do consumo total de energia do país e por cerca de 50% do consumo de energia elétrica.
A operação das edificações consome quantidade significativa da água, sendo grande parte
desperdiçada. A construção e a manutenção da infraestrutura são responsáveis pelo
consumo de até 75% dos recursos naturais extraídos. A construção civil no Brasil, entre
novas construções e reformas, é responsável por 400Kg de entulho por habitante/ano.

Outros dados alarmantes:

»» 50% de consumo de energia elétrica

»» 16% da água potável

»» 30% Extração de materiais1

»» 50% dos resíduos sólidos2


1 GBC Brasil
2 Disponível em: <http://revistageracaosustentavel.blogspot.com.br/2011/09/construcao-civil-precisa-rever-geracao.html>.

24
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

»» 12% de ocupação de terras3

»» 220 milhões de toneladas de agregados naturais por ano

»» A indústria cimenteira gera 5% do total de CO2

»» 1m2 de construção utiliza, grosseiramente, uma tonelada de materiais4

Embora muitos impactos ambientais estejam associados aos edifícios, a mudança


climática merece uma consideração especial porque os edifícios e o uso da 
terra são
responsáveis por uma grande proporção das emissões de gases do efeito estufa. O
ambiente construído, incluindo edifícios e sistemas de transporte, respondem por mais
de dois terços de todas as emissões de gases do efeito estufa. As emissões são provenientes
de muitos componentes do ambiente construído, incluindo sistemas de construção e
uso de energia, transporte, uso de água e tratamento, mudança da cobertura do solo,
materiais e construção. Ao melhorar a eficiência dos edifícios e das comunidades, é
possível reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa.

Com relação ao uso de madeira, os dados são igualmente alarmantes. De acordo com o
FSC, a construção civil é o maior usuário de madeira nativa: nas obras, é utilizada como
escora e andaimes e também no acabamento como pisos, rodapés, portas, janelas etc. A
maior parte da produção Amazônica é consumida nos grandes centros urbanos, como
São Paulo. Por isso, cada vez mais, os hábitos de consumo nas metrópoles, incluindo o
poder de compra dos governos e das empresas, influenciam o que acontece na floresta.

Uma pesquisa do Ministério do Meio Ambiente e do IBAMA mostra que 86% da extração
de madeira no Brasil ainda ocorre de maneira irregular, e que mais de 90% da madeira
comercializada degrada, de alguma maneira, o ambiente.

Segundo o Ministério das Minas e Energia (2009), a indústria da Construção consome


33% do aço produzido no país, além de ser um dos principais consumidores do calcário
e rochas ornamentais, bem como de produtos escassos como zinco e cobre. Além disso,
as jazidas de argila e areia próximas aos grandes centros urbanos já estão se exaurindo,
o que provoca não só a exploração de novas jazidas, mas compromete o custo dos
materiais, cada vez mais situados distantes dos canteiros de obras.

Com relação aos impactos sociais negativos, outro dado alarmante refere-se à segurança
do trabalho, uma vez que, no ano de 2011, foram registrados 59.800 acidentes de
trabalho, o que não contabiliza os acidentes não registrados ou que ocorreram com

3 Levantamento do estado da arte: Consumo de Materiais (documento 2.5) - Tecnologias para construção habitacional mais
sustentável – Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, Dr. Davidson Figueiredo Deana.
4 (BATELLE, 2002).

25
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

trabalhadores in- formais. A construção foi responsável, ainda, pelo triste quadro de
17% dos óbitos registrados por acidentes em 2011.

Sem deixar de lembrar da alta informalidade em toda cadeia, da expansão horizontal.


O impacto direto na deterioração dos ecossistemas, contribuição para a erosão,
sedimentação e impermeabilização dos solos, poluição em todos os meios (solo, água e
ar) e as emissões associadas ao transporte de materiais e resíduos.

Gráfico 4 – Informalidade na Cadeia Produtiva da Construção Brasileira, FGV Projetos 2006.

Fonte: <http://www.cbcs.org.br/website/aspectos-construcao-sustentavel/show.asp?ppgCode=31E2524C-905E-4FC0-B784-
118693813AC4>.

Ainda, na operação e manutenção, as construções, até o final de suas vidas úteis,


são responsáveis por consumo de água e energia, produção de esgoto e resíduos,
interferência em mobilidade urbana e na saúde e qualidade dos ocupantes.

Portanto não há como se falar em construções sustentáveis sem conhecer os impactos


associados a esta atividade. Além disso, apesar de o tema “construções” estar diretamente
ligado ao ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis, não se pode deixar de pensar
de forma holística e se preocupar com os outros objetivos, como por exemplo:

»» Saúde e bem-estar – já que as pessoas passam em média 90% do tempo


em ambientes fechados, esses ambientes exercem grande influência
sobre a saúde humana.

26
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

»» Água limpa e saneamento – água limpa necessária para abastecer as


edificações e saneamento adequado para tratar as emissões geradas por
elas.

»» Energia acessível e limpa – cada vez mais cresce a necessidade por


novas alternativas de geração e distribuição de energia que alimentem as
edificações e residências, proporcionando energia limpa a locais remotos
e barateando seu custo de implantação.

»» Emprego digno e crescimento econômico – contribuindo diretamente


para o combate à informalidade do setor.

»» Indústria, inovação e infraestrutura – sem inovação e investimento em


pesquisa e desenvolvimento, não há oferta de novas tecnologias mais
baratas, acessíveis e que contribuam para o desenvolvimento do setor de
forma cada vez mais sustentável.

»» Combate às alterações climáticas – já que o setor de construção é um dos


que mais impactam nas emissões globais de CO2, é seu dever trabalhar
alinhado com matrizes energéticas limpas, adotando tecnologias de
sequestro de carbono.

»» Parcerias em prol das metas – fundamental que novos modelos de negócio,


cada vez mais colaborativos, incentivem economias de compartilhamento,
reduzindo a demanda por extração de recursos e emissões de gases EE.

27
CAPÍTULO 3
Construção sustentável

Construção ecológica ou sustentável?


O termo ecologia, cunhado pelo biólogo alemão Ernest Haeckel, em 1866, significa:
“relação dos seres vivos com o habitat ou meio ambiente natural”. Num ambiente
urbano, criado e modificado pelo ser humano com o uso de maquinários e alta
tecnologia, houve uma perda significativa dessa relação direta com a natureza. Não é
convencional, portanto, utilizar o termo “construção ecológica” nesse ambiente, sendo o
mais adequado a utilização do termo “construção sustentável”, que entre seus objetivos
está também o de resgatar a conexão entre o homem urbano e ambientes construídos
com a natureza.

Figura 8.

Fonte: idHea – instituto para o desenvolvimento de construção ecológica

Fonte: GBC Brasil - <http://www.gbcbrasil.org.br/>.

Construções sustentáveis fundamentalmente consistem em um processo de


melhoria contínua. Trata-se de um processo pelo qual as “melhores práticas” de
hoje se tornam as práticas padrão de amanhã, uma base de crescimento para níveis
de desempenho cada vez mais elevados. A construção sustentável pode nos ajudar
a criar comunidades mais vitais, espaços interiores e exteriores mais saudáveis e
conexões mais fortes com a natureza. Torna-se cada vez mais importante efetuar uma
mudança permanente no projeto, planejamento, construção e práticas operacionais
atuais, resultando em ambientes construídos de menor impacto, mais sustentáveis
e, no fim, regenerativos.

28
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

De forma geral, é possível afirmar que edifícios sustentáveis comparados a edifícios


tradicionais duram mais tempo, são mais eficientes, custam menos para operar e
contribuem para uma vida mais saudável para seus ocupantes, proporcionando
ambientes de trabalho adequados e melhorando a produtividade, além de minimizarem
os impactos nos recursos naturais.

Estudo de caso – Empire State Building, New York – EUA. Certificado LEED para
Edifícios Existentes, Operação e Manutenção, nível Ouro

Talvez seja um dos estudos de caso mais relevantes e conhecidos no mundo sobre o
poder de transformação de edifícios históricos e muito antigos em edifícios modernos
e eficientes. O Empire State Building adotou como questão central em sua operação
práticas sustentáveis, por meio de um programa desenvolvido internamente, chamado
de Empire State ReBuilding. Procedimentos de baixo impacto ambiental nas operações
foram postos em prática, além da implementação de um programa de modernização de
eficiência energética.

Além da eficiência energética, as atividades que ajudaram a obter a certificação LEED


Gold incluem:

»» Instalação de equipamentos de ultrabaixo fluxo nos banheiros.

»» Uso de produtos de limpeza verdes e produtos de controle de pragas.

»» Reciclagem dos resíduos de inquilinos.

»» Uso de produtos de papel reciclado.

»» Uso de carpetes com conteúdo reciclado, revestimentos de paredes, tintas


e adesivos com baixo teor de gaseificação (COVs).

»» Um programa de engajamento de inquilinos, incluindo a submedição de


energia, tornou-se requisito obrigatório nos contratos de locação.

29
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

Figura 9.

Fonte: <http://sustentarqui.com.br>.

Já com relação às “bioconstruções” ou “ecoconstruções”, estas são pautadas em conceitos


de permacultura. São mais utilizadas e tecnicamente mais adequadas a locais afastados
dos grandes centros urbanos, geralmente com grande conexão com a natureza, pouca
ou nenhuma infraestrutura de energia, saneamento e água, em que o baixo impacto e
a mínima interferência ao meio se fazem necessários, e com muita oferta de recursos
naturais para utilização.

Entretanto, quando se fala em construções com materiais naturais como barro, bambu
madeira, palha, areia e outros, muitos pensam que a estrutura não dura muito tempo
por aparentar fragilidade, mas não é verdade, essas são técnicas utilizadas há milênios,
e muitas das construções baseadas nessas técnicas resistem até hoje, como o caso da
muralha da China. O principal objetivo aqui é gerar a menor interferência possível
no contexto em que a construção está inserida, permitindo maior conexão entre as
pessoas e o meio ambiente, utilizando-se das “tecnologias” naturais disponíveis, sem
a necessidade de incorporar equipamentos modernos, de última geração, como o caso
das construções sustentáveis dos centros urbanos.

30
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

Figura 10. Casa na aldeia em Itacaré, Bahia.

Fonte: <http://static-namu.s3.amazonaws.com/materias/interior_casa_madeira_barro.jpg>.

Em resumo, uma construção sustentável, seja “bioconstrução” ou uma construção


moderna, tem diversos benefícios.

Ambientais:

»» uso racional dos recursos naturais, com redução do consumo de materiais,


água e energia;

»» gestão adequada dos resíduos durante a construção e operação;

»» redução dos impactos na vizinhança e no meio ambiente durante a


construção e operação;

»» redução do impacto em relação à emissão de CO2 na atmosfera,


minimizando o efeito estufa.

Sociais:

»» capacitação e instrução dos trabalhadores para educação ambiental


durante a construção;

»» diminuição da informalidade na cadeia da construção civil;

»» priorização da saúde e do bem-estar dos trabalhadores e ocupantes;

»» criação de um ambiente propício à geração de conhecimento para


sustentabilidade.

31
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

Econômicos:

»» gestão eficiente de todos os recursos (por exemplo, energéticos, hídricos


etc.) com redução de custos operacionais e de operação;

»» diminuição dos riscos regulatórios;

»» estímulo a novos investimentos;

»» aumento da produtividade dos ocupantes;

»» valorização e aumento do valor de venda do imóvel;

»» aumento do retorno no investimento;

»» reputação e imagem;

»» projetos de lei como IPTU Verde já é realidade em 55 municípios


brasileiros, onde edifícios que possuam qualidades ambientais têm
desconto no IPTU.

Qualidade de vida, conforto e saúde:

»» não utiliza materiais e produtos que prejudiquem a saúde dos usuários


(COV, metais pesados, amianto, ureia-formaldeído etc.);

»» melhoria do conforto térmico, lumínico e acústico;

»» aumento da satisfação e bem-estar dos usuários;

»» redução do absenteísmo, turnover e ações trabalhistas.

A construção civil começa a demonstrar que está se adaptando mais aos conceitos de
sustentabilidade impostos a todos pela sociedade e por demandas econômicas, e que a
cada dia esses conceitos também passam a ser uma exigência, principalmente, da nova
geração.

Os mais jovens estão começando a exigir de seus fornecedores uma postura correta em
relação ao meio ambiente, desenvolvendo um dos maiores desafios corporativos deste
milênio: o consumo consciente.

Grandes empreendedores, incorporadoras e construtoras, fornecedores de materiais,


insumos e tecnologias estão, aos poucos, desenvolvendo expertise nessa área, em um
movimento que ganhou força nos últimos anos e que hoje já começa a criar uma nova
demanda no mercado da construção civil no Brasil.

32
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

Além das certificações ambientais que, com certeza, têm um peso importante nessa
transformação (mas, por si só, não serão capazes de resolver todos os problemas), é
muito importante o desenvolvimento de iniciativas educacionais para disseminar
informações sobre as melhores práticas e tecnologias sustentáveis, a fim de capacitar
os envolvidos na concepção, construção, operação e manutenção das edificações e nos
espaços construídos.

Toda essa nova visão começa a demandar mais especialistas nas diversas áreas da
arquitetura e engenharia, capazes de equacionar os desafios e demandas da construção
sustentável.

33
CAPÍTULO 4
Conceitos e premissas da construção
sustentável

Uma construção deve levar em conta uma série de premissas integradas para ser
considerada “sustentável”. Ou seja, atribuir o título de construção sustentável a uma
edificação que tenha adotado uma ou poucas estratégias de sustentabilidade como, por
exemplo, um telhado verde ou a captação de água de chuva, não deveria ser correto,
uma vez que para ser classificada como sustentável, ela deve olhar para o ciclo de vida
completo da construção, desde a concepção de projeto até o final de seu uso.

A seguir é apresentada uma série de conceitos básicos que deve ser adotada em projetos
sustentáveis, não deixando de levar em consideração a seleção adequada dos materiais,
que será melhor detalhada na unidade II deste caderno.

Ciclo de vida da edificação


As construções sustentáveis devem ser pensadas de forma integrada e integral, desde
a seleção do terreno, desenvolvimento dos projetos, passando por todas as fases até o
final de sua vida útil de operação. Esse pensamento pode ser chamado de ciclo de vida
da construção.

Figura 11.

Fonte: Própria autora.

34
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

A ACV é uma ferramenta emergente que promete auxiliar o processo de decisão


arquitetônica, por meio da análise do impacto ambiental dos edifícios, contribuindo
para reduzi-lo. Os resultados de um estudo de ACV podem incluir aspectos tais como o
uso de energia, potencial de aquecimento global, destruição do habitat, esgotamento de
recursos e emissões de CO2.

Projeto integrado

E para construir com um pensamento integral e holístico, que englobe todas as


etapas da construção e envolva todos os seus atores, é necessário mudar a forma
tradicional de projetar, a qual estamos habituados, e adotar a metodologia de
projeto integrado.

Figura 12.

Fonte: Própria autora.

Um projeto que adota a metodologia de projeto integrado:

»» integra pessoas, sistemas, estruturas de negócios;

»» explora colaborativamente os talentos e insights de cada participante;

35
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

»» busca melhorar os resultados do projeto;

»» aumenta o valor para o proprietário;

»» reduz o desperdício e maximiza a eficiência durante todas as fases do


projeto e construção.

Um projeto integrado deve sempre considerar no mínimo os seguintes pontos:

»» avaliação do entorno, terreno e orientação solar adequada;

»» técnicas passivas, arquitetura bioclimática;

»» técnicas ativas;

»» tecnologias;

»» materiais;

»» vegetação;

»» água;

»» energia (geração, alimentação);

»» qualidade de vida.

Ferramentas e softwares como o BIM (building information modeling) são grandes


facilitadores desse processo.

De acordo com o Guia de Projeto Integrado do Instituto Americano de Arquitetos


(American Institute of Architects – Integrated Project Delivery Guide):

O processo de Projeto Integrativo aumenta o nível de esforço durante as


fases iniciais, resultando em uma redução de tempo de documentação
e aumento do controle de custos e gerenciamento do orçamento, todos
os quais aumentam a probabilidade do projeto atingir seus objetivos,
incluindo atender o cronograma, os custos do ciclo de vida, qualidade e
sustentabilidade (tradução nossa).

Principal diferença, de forma ilustrativa, entre um projeto integrado e um projeto


tradicional:

36
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

Figura 13.

Fonte: <http://www.gbcbrasil.org.br/>.

A metodologia de projeto integrado compreende 3 etapas principais:

1. Pré-projeto: fase mais importante do projeto integrado. Envolve coleta


de informações, reconhecimento das necessidades dos stakeholders,
estabelecimento das metas do projeto e seleção do terreno. Precisa ser
realizada antes de se “colocar o lápis no papel...”

É improvável que as metas ambientais de um projeto sejam alcançadas


de forma rentável, se esta fase não for rigorosamente aplicada como uma
fase do processo de projeto integrado.

2. Concepção e construção (execução): assemelha-se à prática convencional


em sua estrutura, mas integra todo o trabalho e compreensão coletiva das
interações do sistema alcançadas durante a fase de pré-projeto.

3. Ocupação, operações e feedback de desempenho: esta terceira fase


centra-se na implementação de medição de desempenho e criação de
mecanismos de feedback. O feedback é essencial para informar aos
operadores se as metas de desempenho estabelecidas foram cumpridas,
se podem ser avaliadas e se devem ser adotadas medidas corretivas.

Como observado, a fase 1 é a mais importante, ela é a principal responsável pela mudança
a ser adotada nos padrões atuais de projeto. Usualmente clientes se preocupam com o
quanto um determinado empreendimento custará ou o quanto ele irá “gastar”. Junto

37
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

a isso, vem o pensamento de economizar os honorários dos profissionais projetistas,


reduzindo o tempo de horas trabalhadas (pois há uma má interpretação de que
custam caro) e usando esse valor “economizado” em honorários profissionais para ser
empregado na construção. Desta forma, acaba-se gastando pouco tempo para projetar
e muito mais tempo para construir. Agindo assim, o projeto acaba tendo uma série
de revisões, atrasos em cronograma, gerada pela falta de planejamento, aumentando
consequentemente o custo da obra. A famosa “economia burra”, pois no final é o barato
que sai caro!

Na metodologia de projeto integrado, o valor está justamente no profissional. É ele


que equacionará os possíveis problemas de projeto. Com isso, deve-se despender
muito mais tempo na elaboração dos projetos, para que quando as obras se iniciem, o
tempo de execução seja enxuto e dentro do planejado, quase que eliminando também
os famosos projetos as built.

Outra preocupação importante do projeto integrado é sempre contar com o proprietário,


um responsável pela equipe de projetos (que geralmente é o arquiteto) e um engenheiro
com visão de custos no centro de todas as reuniões e principais definições de projeto.
Entretanto, sempre que possível, é importante dar voz a todos os profissionais envolvidos
e explorar as ideias de cada um deles, de forma colaborativa.

Figura 14.

Adaptado de gráfico de Bill Reed - <http://www.gbcbrasil.org.br/>.

Custo do ciclo de vida

Os custos do ciclo de vida analisam os custos de compra e operacionais, bem como


as economias relativas durante a vida de um edifício ou produto. Eles calculam os

38
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

períodos de retorno do investimento para custos iniciais, fornecendo um contexto para


tomar decisões sobre investimentos iniciais. Por exemplo, sistemas mecânicos mais
eficientes geralmente custam mais do que equipamentos ineficientes, mas analisando
não só o preço de compra e calculando toda a energia, manutenção, substituição e os
outros custos durante o ciclo de vida do equipamento, é possível compreender melhor
os custos reais do equipamento – ao ambiente e ao proprietário do edifício.

Figura 15.

Conceptual framework for Environmental LCC. Rebitzer and Hunkeler, 2003. <http://link.springer.com/article/10.1007/s11367-
011-0287-5>.

Escolha adequada do local e terreno

Figura 16.

Fonte: <psiusa.com/wp-content/uploads/2014/08/site_selection_new-e14146363391031.jpg>.

A localização é um elemento crucial de um edifício: ela pode definir estratégias


apropriadas, contudo também pode limitar o quão sustentável um projeto pode
realmente ser. Dependendo dos problemas ambientais mais importantes em uma
determinada área, o local pode influenciar as prioridades da equipe de projeto. A
localização inclui fatores como:

39
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

»» Contexto natural: clima, sol, vento, orientação, solos, precipitação, flora


e fauna locais.

»» Contexto infraestrutura: recursos, materiais, habilidades e conexões


disponíveis a serviços públicos, ruas e trânsito.

»» Contexto social: conexões à comunidade e outros destinos, prioridades


locais, história e tradições culturais, regulamentos locais e incentivos.

Edifícios bem localizados tiram proveito da infraestrutura pública existente, tais como
redes de saneamento e abastecimento de água e energia. Escolher locais previamente
desenvolvidos ou com infraestrutura municipal existente podem reduzir o impacto
sobre o meio ambiente em função do espalhamento urbano (urban sprawling) e
consequentemente os custos de implantação de novas infraestruturas.

Além disso, as comunidades compactas incentivam a caminhada, o uso de bicicleta e o


transporte público.

A Terra depende da diversidade biológica como florestas, pântanos, recifes de corais


e outros ecossistemas conhecidos como “capital natural”, pois fornecem serviços
regenerativos. Um estudo das Nações Unidas indica que 60% desses serviços atualmente
são degradados ou usados de forma insustentável.

Por isso a escolha do terreno tem grande impacto no desempenho de um edifício ao


longo de sua vida útil e como o edifício coexiste com o ecossistema local e com os
serviços ecossistêmicos. O projeto deve contribuir para restaurar elementos do terreno,
integrando-os com os ecossistemas locais e regionais e preservando a biodiversidade na
qual os sistemas naturais se apoiam.

Transportes

Figura 17.

Fonte: <www.factum.at/content/news-reader/items/reducing-car-trips-by-promoting-alternative-modes-of-transportation-154.
html>.

40
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

O uso do transporte alternativo como uma opção conveniente e viável deve ser
promovido por meio da escolha do local, do projeto e de incentivos quem beneficiam
os ocupantes e comunidade do entorno do edifício. O ideal é dar preferência àqueles
locais com fácil acesso a transportes públicos, sejam ônibus, metrôs, trens, entre outros.
Já no projeto, é possível reduzir os efeitos do transporte garantindo acesso a meios
alternativos, estimulando caminhadas e andar de bicicleta, fornecendo bicicletários,
vestiários, instalações de abastecimento para veículos elétricos e vagas preferenciais
para veículos menos poluentes e para aqueles que praticam caronas.

Eficiência hídrica

Figura 18.

Fonte: <http://kopi-mega.inforce.dk/>.

Com a demanda cada vez maior e a oferta cada vez menor, nossas fontes de água
estão mais do que sobrecarregadas, ameaçando a saúde e a sobrevivência humana e
do meio ambiente. A demanda atual por água nas grandes cidades é completamente
insustentável.

Além disso, apenas 3% do total de água disponível na Terra é de água doce e, desse
total, mais de 2/3 estão presos nas geleiras.

Conforme o desenvolvimento residencial, comercial, industrial e outros se expandem,


a demanda por água potável nesses locais aumenta. A maioria dos edifícios utiliza
fontes municipais de água potável para atender as suas necessidades – da descarga de
vasos sanitários à lavagem de louça e irrigação do paisagismo. A alta demanda força o
abastecimento e, em condições extremas, é necessário o racionamento de água. Além
disso, grandes quantidades de água residuária podem sobrecarregar as instalações de
tratamento, e o transbordamento não tratado pode contaminar rios, lagos e lençóis
freáticos com bactérias, nitrogênio, metais tóxicos e outros poluentes.

41
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

Uma construção sustentável incentiva estratégias de economia de água inovadoras


que, por sua vez, incentivam o uso da água de forma inteligente. O processo de projeto
integrado ajuda a avaliar os recursos hídricos existentes, oportunidades para reduzir a
demanda por água e o abastecimento alternativo. Por exemplo, grande parte da água
que deixa o terreno como água residuária, ou o escoamento de águas pluviais, pode
realmente ser usada para fins não potáveis.

Uma forma fácil de organizar o conhecimento sobre eficiência hídrica é ordenando-o


em três esferas:

»» Água externa – água usada fora do edifício para manutenção e paisagismo.

»» Água interna – água usada dentro do edifício para descarga de vasos


sanitários, lavar as mãos, beber, cozinhar etc.

»» Água de processo – água usada nos sistemas do edifício para aquecer e


resfriar o ar e manter as temperaturas do edifício. Também inclui a água
usada em máquinas de lavar roupas e louças e máquinas de gelo.

O valor de qualquer medida particular para esforços de conservação de água depende


das utilizações finais no projeto. Por exemplo, edifícios de escritórios normalmente
não apresentam instalações de lavanderia e cozinha grandes; a água é utilizada para
sistemas HVAC, banheiros e paisagismo. Em contraste, as pias de cozinha e lava-louças
dominam o uso final dos restaurantes. Um perfil do uso final da água pode ajudar as
equipes de projeto a identificar os maiores usuários de água e avaliar o custo-benefício
de estratégias específicas de conservação de água, sejam eles dispositivos de baixa
vazão, tecnologia de irrigação ou sistemas eficientes de torre de resfriamento. Outra
preocupação com relação à demanda também se refere ao contexto climático em que o
projeto esta inserido, ou seja, não adianta instalar sistemas de aproveitamento de água
pluvial se o projeto estiver inserido em locais que não possuem índices pluviométricos
adequados a essa necessidade.

Uma das melhores estratégias para reduzir o consumo de água nos edifícios é a instalação
de dispositivos economizadores que consomem muito menos água do que aqueles
metais e válvulas tradicionais. Hoje já existem no mercado válvulas economizadoras
que consomem até 6l por acionamento, ou aquelas com botões de duplo acionamento
(cuja função de menor fluxo chega a consumir somente 3l), chuveiros e torneiras com
redutores de vazão, mictórios sem água, e uma série de outras tecnologias. Sem duvidas,
um projeto que vise reduzir o consumo de água deve definir como premissa básica a
especificação de válvulas e metais economizadores.

42
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

Além das estratégias para eficiência, combinadas com sistemas que monitoram o
consumo de água e identificam problemas conforme eles surgem, podem melhorar
drasticamente a conservação de água em comparação ao uso de água de um edifício
convencional. A simples instalação de medidores, e se possível subdivididos por
prumadas com usos diferentes, permite que a operação tenha maior gestão sobre os
consumos de água, identificando aqueles usos que consomem mais ou até facilitando a
identificação de eventuais vazamentos.

Por último, e tão importante quanto as estratégias acima, está a conscientização


dos usuários. Não basta somente as construções adotarem as melhores tecnologias
disponíveis no mercado, se os usuários não sabem que ocupam um edifício sustentável,
muito menos como operá-lo, sua importância e benefícios!

Eficiência energética

Figura 19.

Fonte: <http://www.eneergia.com.br/>.

O fornecimento insustentável de energia e o aumento cada vez maior da demanda


têm implicações sérias, desde orçamentos residenciais a relações internacionais. Os
edifícios estão na linha de frente dessa questão por causa do seu elevado consumo de
energia, chegando a representar 40% do total da energia consumida no mundo segundo
a UNEP.

Antes de se iniciar qualquer novo projeto arquitetônico, é fundamental estudar o clima


em que o projeto estará inserido; radiação solar, temperaturas, ventos, precipitação
e umidade. Leve em consideração também a quantidade de ocupantes e atividades
a serem desempenhadas. Com essas informações, é possível estabelecer metas de
eficiência energética e conforto térmico, dimensionar as aberturas, tipo de vedações,
coberturas e assim por diante.

A lógica de um projeto arquitetônico eficiente parte, em primeiro lugar, da adoção de


todas as possíveis estratégias de arquitetura bioclimática e técnicas passivas no desenho
do projeto.
43
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

O site <http://projeteee.ufsc.br/> da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)


ajuda arquitetos a desenvolverem projetos mais eficientes para diversas regiões do Brasil,
levando em consideração as variações climáticas de cada uma delas e apresentando as
melhores técnicas de ventilação, iluminação, conforto e escolha correta dos materiais
de envoltória.

Em seguida, devem ser consideradas as energias ativas, que são os sistemas eficientes
e de baixo consumo, tais como iluminação, ar condicionado (quando necessário),
automação, entre outros. E, por fim, considerar o tipo de energia que alimentará o
projeto, dando preferência para energias renováveis geradas no próprio terreno ou
adquiridas em concessionárias que produzam esse tipo de energia, tais como solar,
eólica, biomassa, geotérmica e hidrelétricas (somente as que aproveitam o fio d`água e
não geram alagamentos).

Figura 20.

PASSIVAS

Orientação solar adequada


Uso de massa térmica e ATIVAS
isolamento adequado
Materiais refletivos
Iluminação interna
Iluminação natural
Iluminação externa
Ventilação natural
Sistemas de ar condicionado
Aquecimento solar passivo
Aquecimento de água Energias eólica,
Sombreamento passivo
Motores e bombas fotovoltaica,
Distribuição de tomadas geotérmica
Automação etc. Coletores de ar
Aquecimento de água
etc.

Por último, outros dois pontos fundamentais, assim como a eficiência hídrica, são a
manutenção adequada e a educação dos ocupantes e funcionários. Manter o correto
funcionamento de sistemas elétricos garante que não haja desperdícios. Tanto a
manutenção preventiva quanto corretiva são importantes para evitar possíveis falhas
ou corrigi-las no menor tempo possível. O comportamento das pessoas também é parte
fundamental na eficiência energética. Muitas vezes os equipamentos são eficientes, mas
o mau uso pode implicar desperdícios.

44
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

Gestão de resíduos

Figura 21.

Fonte: Acervo pessoal.

A construção de edifícios gera grandes quantidades de resíduos sólidos, e os resíduos


são gerados durante o ciclo de vida do edifício, conforme novos produtos chegam e
materiais usados são descartados. Esses resíduos podem ser transportados para aterros
sanitários, incinerados, reciclados ou transformados em adubo. O descarte de resíduos
sólidos contribui diretamente com emissões de gases de efeito estufa, por meio do
transporte, e talvez ainda mais significativamente com a produção de metano – um gás
de efeito estufa poderoso – nos aterros sanitários. A incineração de resíduos produz
dióxido de carbono como subproduto. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental
Americana (EPA – Environmental Protection Agency), nos Estados Unidos, as emissões
estimadas de gases de efeito estufa dos fluxos de resíduos de edifícios que reciclam
aproximadamente 32% de seus resíduos sólidos, equivalem, em dióxido de carbono,
à remoção de quase 40 milhões de carros das ruas. Melhorar as taxas de reciclagem
para apenas 35% poderia resultar em economias equivalentes a mais de 5 milhões de
toneladas métricas de dióxido de carbono.

Ainda de acordo com o EPA, existe uma hierarquia na classificação dos resíduos,
também conhecida como “3 Rs”.

1. Redução da fonte é a forma mais eficiente de reduzir a quantidade e a


toxicidade dos resíduos gerados, porque tem início no projeto do produto.
Associa-se às compras que dão preferência ao meio ambiente e significa

45
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

comprar “produtos ou serviços com menor impacto à saúde humana e ao


meio ambiente, em comparação com produtos e serviços semelhantes.”

A comparação desses produtos se aplica às matérias-primas,


manufaturados, embalagens, distribuição, uso, reutilização, manutenção
e descarte.

Figura 22.

Fonte: <https://www.epa.gov/homeland-security-waste/waste-management-hierarchy-and-homeland-security-incidents>.

2. A reutilização contribui para minimizar a fonte de geração de resíduo,


uma vez que atrasa ou impede a entrada de determinado item no lixo ou
no sistema de coleta.

3. A reciclagem converte o material que se tornaria lixo em uma valiosa


fonte de recurso.

Por ultimo, se não for possível enquadrar em nenhum dos Rs anteriores, verificar a
possibilidade de utilizar o resíduo como fonte de energia.

Curiosidade: estudo de caso – Suécia

No país escandinavo, apenas 1% do lixo produzido pelos suecos vai para lixões, o
restante é reciclado, reutilizado ou transformado em energia renovável.

A eficiência do sistema é tão grande, que o país é obrigado a importar lixo de outras
nações para garantir a sua produção de energia. O pais conta hoje com 32 usinas
especializadas no aproveitamento da biomassa para a produção de eletricidade,
implementadas por meio de um projeto de mudanças de políticas publicas desde
1970, contando com leis de logística reversa e reciclagem. Um dos principais fatores
de sucesso é a forma como o país encara o resíduo, pois é visto não como um problema,
mas como um negócio.

46
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

<http://www.symbiocity.org/en/>.

Portanto, em construções sustentáveis, durante as fases de construção ou reforma, a


geração dos resíduos deve ser evitada ou reduzida ao máximo. Em seguida, os materiais
devem ser reciclados ou reutilizados sempre que possível. Durante as operações
diárias do edifício, a reciclagem, reutilização e programas de redução podem limitar a
quantidade de material destinada a aterros sanitários locais.

Qualidade interna do ambiente

Figura 23.

Fonte: <www.scu.org/leed/indoor-environmental-quality/>.

Qualidade do ar, iluminação, condições térmicas, ergonomia possuem influências diretas


nos ocupantes ou residentes das edificações. As estratégias para tratar da qualidade
interna do ambiente incluem aquelas que protegem a saúde humana, melhoram a
qualidade de vida e reduzem o estresse e ferimentos em potencial.

Em muitos países, e em algumas cidades do Brasil, a média de permanência das pessoas


dentro de ambientes fechados chega a 90% de nossos tempos, seja dentro de nossas
residências, trabalhos, escolas etc. Além disso, de acordo com uma pesquisa publicada
na década de 1990 e ainda válida nos dias de hoje, em edifícios comerciais, os valores
com as pessoas, entre salários e benefícios, chegam a 92% do valor total da propriedade,
sendo somente 2% referentes aos custos de projeto e construção, e 6% para operação e
manutenção do edifício.

47
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

Figura 24.

Fonte: Osso, Annette. Sustainable Building Technical Manual. [Online] 1994. Public Technology, Inc. <http://smartenergy.illinois.
edu/pdf/Archive/SustainableBuildingTechManual.pdf. >.

A melhor qualidade do ambiente interno também contribui para evitar a chama


Síndrome do Edifício Doente (sick building syndrome – SBS); situação na qual os
usuários experimentam situações agudas, no que diz respeito à saúde e ao conforto,
que parecem estar relacionadas ao período de permanência na edificação. As queixas
podem estar relacionadas a toda a edificação ou a áreas específicas. São causas comuns
dessa síndrome: ventilação inadequada, contaminantes químicos provenientes de
fontes internas, contaminantes químicos de fontes externas e contaminantes biológicos.

Por esses motivos, uma melhor qualidade do ambiente interno pode melhorar as
vidas dos ocupantes do edifício, aumentar o valor de revenda do edifício e reduzir a
responsabilidade para proprietários do edifício. Além disso, como os custos com
salários e benefícios de funcionários normalmente ultrapassam os custos de operação
de um edifício de escritórios, estratégias que melhorem a saúde e produtividade dos
funcionários em longo prazo podem ter um grande retorno sobre o investimento,
evitando despesas com problemas jurídicos, absenteísmo dos funcionários e taxas altas
de turn-overs. Pensar em estratégias que garantam a boa qualidade do ambiente interno
resulta em ambientes estimulantes e confortáveis para ocupantes e a minimização do
risco de problemas de saúde relacionados ao edifício.

De acordo com o World Green Building Council, existem oito fatores “chave” que podem
ser adotados para melhorar a qualidade dos ambientes internos, principalmente em
escritórios que geram retorno visível no investimento:

48
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

1. Melhor qualidade do ar interior e ventilação – um escritório bem ventilado


pode dobrar a capacidade cognitiva dos ocupantes.

2. Conforto térmico – o desempenho pode cair 6% em escritórios muito


quentes e 4% em escritórios muito frios.

3. Iluminação natural e artificial – um estudo constatou que os trabalhadores


em escritórios com janelas têm 46 minutos a mais de sono por noite do
que os trabalhadores sem janelas.

4. Ruídos e acústica – distrações em função de ruídos leva à queda de 66%


no desempenho e concentração.

5. Layout interior e projeto ativo – espaços de trabalho com postos flexíveis


ajudam os funcionários a sentirem-se mais no controle da carga de
trabalho e incentivam a confiança entre as equipes.

6. Biofilia e vistas – um estudo de caso demonstrou que o tempo de


processamento em um call center melhora em 7-12% quando as equipes
possuem vistas para elementos naturais e áreas externas com natureza.

7. Olhar e sentir – o apelo visual é o fator principal na satisfação do local de


trabalho.

8. Localização e acesso a amenidades – em um programa holandês, a jornada


de trabalho chegou a economizar 27 milhões de euros em absenteísmo.

Segundo Beth Ambrose, diretora da equipe de Serviços de Sustentabilidade da JLL e


presidente do Grupo de Trabalho dos Escritórios do WorldGBC:

Os estudos de caso para edifícios saudáveis estão sendo comprovados.


Em todo o mundo, as empresas, grandes e pequenas, estão redesenhando
seus escritórios, mudando as práticas de trabalho e testando novas
tecnologias, para melhorar o bem-estar de seus funcionários, inquilinos
e clientes.

Canteiro de obras sustentável

Antes da construção, é necessário ter um plano que descreva todas as atividades da


construção e previna os possíveis impactos associadas a elas em cada uma das fases,
tais como a erosão e sedimentação do solo, contaminação de corpos d’água, poeira em
suspensão, impactos sonoros e na vizinhança, entre outros. Junto com os impactos,

49
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

deve vir sempre uma lista de ações preventivas, como limitar a área de intervenção de
obra, estabilizar as áreas de solo expostas, controlar o fluxo da água no terreno, instalar
lava-rodas, utilização adequada de EPIs e kits de mitigação, entre várias outras. Essas
medidas podem ser muito mais baratas do que ter que corrigir problemas que possam
vir a ocorrer.

Como sugestão para um canteiro sustentável:

1. planejamento prévio e adequação aos cronogramas;

2. levantamento dos impactos causados pela obra no terreno e vizinhança e


redução do impacto direto da paisagem original;

3. redução das perdas de materiais pelo uso correto de novos recursos


ferramentais e tecnológicos;

4. minimização do uso de água e energia;

5. gestão de resíduos;

6. redução das emissões de CO2 totais com transporte de insumos e


produtos;

7. planos de gestão – controle de sedimentação e erosão, qualidade do ar e


resíduos:

›› mudanças no processo de gestão – com maior ênfase à fase de projeto

›› metodologias de industrialização em canteiro

›› novos materiais e tecnologias

›› qualificação da mão de obra – investimento em treinamentos e


capacitação

O uso de inovações tecnológicas é fundamental para o alcance de obras mais sustentáveis,


sem esquecer que a organização e o planejamento adequados geram redução de
despesas!

De acordo com a cartilha Senado Verde, a etapa de obras e o gerenciamento do canteiro


correspondem a uma importante parcela do custo final e do impacto ambiental que
interfere diretamente no ciclo de vida da edificação.

50
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

A adequação do canteiro de obras a uma agenda de trabalho voltada para a


sustentabilidade envolve uma série de ações apresentadas abaixo:

Figura 25.

Ref. Cartilha Senado Verde

Fonte: <https://www12.senado.leg.br/institucional/programas/senado-verde/pdf/Cartilhaedificios_publicos_sustentaveis_
Visualizar.pdf>.

1. Planejamento adequado.

2. Vedação adequada da obra.

3. Aproveitamento de terra local.

4. Uso de materiais certificados.

5. Uso de fontes de energia renováveis.

6. Componentes pré-fabricados.

7. Tratamento de esgoto.

8. Uso de EPIs.

9. Correto acondicionamento dos materiais.

10. Proteção contra erosões e assoreamento.

11. Sistema de lava-rodas.

12. Coleta seletiva e acondicionamento adequado.

51
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

13. Transparência das informações da obra à população.

14. Proteção da vegetação existente.

Estratégias de sucesso para um projeto sustentável:

»» começar cedo;


»» encontrar a equipe e o processo corretos;


»» compreender os sistemas através do espaço e tempo;


»» desenvolver metas claras e mensuráveis;


»» seguir um processo integrado para garantir a realização das metas;

»» comprometer-se com a melhoria contínua.

Operação e manutenção

Figura 26.

Fonte: <http://sunworksusa.com/>.

A gestão, operação e manutenção de edifícios sustentáveis ou de edifícios que buscam


tornar suas operações sustentáveis são caracterizadas pela adoção de critérios de
operação de baixo impacto financeiro e ambiental. Inclui o uso eficiente da energia,

52
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

consumo racional da água, aquisição de produtos e suprimentos com compromisso


ambiental documentado, descarte correto de resíduos, qualidade do ar interior,
qualidade ambiental do edifício, além de utilização de produtos de limpeza e de
procedimentos para a conservação predial não nocivos ao meio ambiente. As edificações
que visam tal eficiência podem apresentar reduções significativas (anuais) com energia
e manutenção.

Entre diversos fatores levados em consideração em uma edificação que busca


uma gestão sustentável, figuram como alguns dos mais importantes a educação e a
conscientização. Por isso, periodicamente, devem ser promovidos treinamentos quanto
aos procedimentos adotados pelo empreendimento visando ao desempenho otimizado
dos sistemas e ao uso eficiente de recursos naturais. A melhor maneira de fazer com que
isso ocorra, e as informações não se percam com as pessoas que entram e saem para
trabalhar no edifício, é garantir que todas as informações permaneçam nele, por meio
de registros, atas de reuniões e outros documentos impressos que informem o histórico
do projeto.

Além disso, a divulgação das estratégias deve ser permanente, podendo ser explorados
os meios de comunicação interna como folhetos periódicos destinados aos usuários
e publicação de campanhas em meios eletrônicos, tais como intranet e monitores
instalados em elevadores.

É necessário também prover treinamento dos funcionários e usuários que ocupam a


edificação, de modo a sensibilizá-los quanto às boas práticas para a conservação de
água, uso racional da energia, entre outros. Determine ainda planos formais e rotinas
para a manutenção preventiva e corretiva de equipamentos e sistemas. Vale também
apresentar as diretrizes para a gestão sustentável da propriedade e documentação
das ações nos manuais de contratação de terceiros. Os funcionários e os fornecedores
terceirizados devem receber treinamentos de atualização periódicos.

Bibliografia Recomendada:

Tornando Nossa Ambiente Construido Mais Sustentavel – Custos, Benefícios e


Estratégias, Greg Kats

Projeto Integrado e Construções Sustentáveis, Jerry Yudelson

AIA Guide to Building Life Cycle Assessment in Practice, disponível em: <www.aia.
org>.

53
CAPÍTULO 5
O mercado de construção sustentável
no Brasil

No Brasil, o mercado de sustentabilidade na construção civil evoluiu, impulsionado,


principalmente, pelos edifícios comerciais e corporativos, que foram os primeiros a
buscar as certificações ambientais. A adaptação das edificações existentes às questões
ambientais também tem ganhado força, auxiliando a valorização de edificações que
perderam competitividade frente às novas exigências do mercado imobiliário.

No ano de 2009, as obras sustentáveis no Brasil representavam 1% de todo m2 útil de


construção, já em 2014, esse percentual atingiu o patamar de 7,3%, representando uma
evolução de 780% ao longo dos últimos anos5.

Nos últimos anos, ainda, mais de 300 empreendimentos foram certificados por
meio de sistemas de certificações ambientais conhecidos no Brasil. Essa crescente
busca pela sustentabilidade foi fundamental para o desenvolvimento do mercado
brasileiro, ampliando a disseminação das tecnologias, aumentando a escala e
reduzindo os custos.

Embora o investimento inicial das construções sustentáveis seja em torno de 1% a 5%


maior, a economia com os insumos podem compensar ao longo do tempo, podendo
chegar a 50% no consumo de água e 40% no consumo de energia elétrica, tornando a
taxa de condomínio 25% mais barata.

O órgão público de Administração de Serviços Gerais dos Estados Unidos reportou, em


2009, que, além de os edifícios sustentáveis custarem menos para serem operados e
terem excelente performance energética, os ocupantes desses edifícios costumam estar
mais satisfeitos com o desempenho geral do prédio do que aqueles que ocupam edifícios
sem tecnologias sustentáveis6.

5 Fonte: Sustentabilidade. Tendências na Construção Civil Brasileira 2015


6 Fonte: GSA Public Buildings Service: Assessing Green Building Performance, 2009

54
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

Perfil dos Edifícios Sustentáveis no Brasil:

Figura 27.

Fonte: Sustentabilidade. Tendências na Construção Civil Brasileira 2015.

Das tipologias apresentadas acima, é importante destacar que no setor residencial há


somente edifícios e, em infraestrutura, somente arenas esportivas.

Quadro 2.

COMERCIAL

Edifício corporativo 63%


Outros 22%
Edifício comercial (saletas) 10%
Shopping 5%
Total 100%
Fonte: Adaptado de Sustentabilidade. Tendências na Construção Civil Brasileira 2015.

Quadro 3.

INDUSTRIAL

Galpão 79%
Data center/CPD 9%
Centro de distribuição 4%
Frigorífico 4%
Indústria 4%
Total 100%
Fonte: Adaptado de Sustentabilidade. Tendências na Construção Civil Brasileira 2015.

55
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

Figura 28.

Fonte: Sustentabilidade. Tendências na Construção Civil Brasileira 2015.

Figura 29.

A: Sudeste – 78%
B: Sul – 10%
C: Nordeste – 6%
D: Centro-Oeste – 4%
E: Norte – 2%
Fonte: Adaptado de Sustentabilidade. Tendências na Construção Civil Brasileira 2015.

56
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

Gráfico 5.

Fonte: Green Building Council Brasil. Disponível em: <http://www.gbcbrasil.org.br/>.

Em relação à certificação LEED, o Brasil fechou o ano de 2015 com 1.109


empreendimentos registrados para buscar a Certificação e 348 empreendimentos
efetivamente certificados, números que colocam o Brasil em quarto lugar no ranking
mundial de países com certificação LEED.

57
CAPÍTULO 6
Tendências globais de construção
sustentável 2016

Em 2015, a Dodge Data & Analytics conduziu uma pesquisa, em 69 países, intitulada
“Tendências Globais de Construção Sustentável 2016”. Os dados apresentados a seguir
foram retirados dessa publicação e representam os números mais recentes sobre
esse mercado. O estudo dá ênfase em treze países que se destacam como líderes em
construção sustentável, por região e, entre eles, o Brasil destaca-se como o maior
mercado na América do Sul e Caribe.

O estudo mostra que as construções sustentáveis já são adotadas globalmente, com forte
crescimento na maioria dos países, mas, sobretudo, nos países em desenvolvimento.

Os resultados revelam que as construções sustentáveis são tendência global, com ênfase
quase universal na importância da eficiência e conservação energética. No entanto, como
observado pelo mesmo estudo, realizado em 2012, as prioridades e os obstáculos para
seu desenvolvimento devem ser compreendidos país por país a fim de que realmente
alcance sucesso como um negócio sustentável frente ao mercado global.

Média da parcela de mercado dos projetos sustentáveis Vs. construções convencionais


no Brasil, Colômbia e outros 11 países na América do Sul e Caribe:

Figura 30.

Fonte: World Green Building Trends 2016: Developing Markets Accelerate Global Green Growth. Disponível em: <http://fidic.org/
sites/default/files/World%20Green%20Building%20Trends%202016%20SmartMarket%20Report%20FINAL.pdf>.

58
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

O mercado de construção civil brasileiro ainda é emergente, com um marketing


share médio de 29%. Apesar de ser o país com maior representação de construções
sustentáveis na América do Sul e Caribe, o Brasil também espera um crescimento mais
significativo nos próximos três anos, podendo chegar a 36% os que esperam construir
mais do que 60% de seus projetos, adotando práticas sustentáveis.

Fatores de influência para a atividade futura de construção sustentável – Gatilhos:

No Brasil, as regulamentações ambientais são o principal gatilho para a atividade de


construção sustentável. Isto é nitidamente contrastante com os resultados de 2012,
quando a demanda de mercado era o principal gatilho, que, na época, representou o
dobro do valor para qualquer outro fator. No estudo atual, ele caiu para apenas 12% que
a consideram importante, com outros gatilhos impulsionando o mercado.

Outros gatilhos importantes que impulsionam o mercado no Brasil incluem:

»» Demandas dos clientes: com 29%, a demanda dos clientes está em


segunda colocação em termos de importância no Brasil. No entanto, 29%
ainda é um valor bem abaixo da média global de 40%.

»» Aumento do ROI: gatilho particularmente importante no Brasil, também


selecionado por 29%. Esta percentagem não só ultrapassa os outros
países da América do Sul, como também a média global de 11%.

»» Fazer a coisa certa: empata em segundo lugar em nível de importância


no Brasil. Entretanto este número, apesar de estar dentro da média
global, fica bem aquém da média dos países da América do Sul e Caribe.
O Brasil ainda fica atrás da Colômbia e Caribe em termos de importância
de fatores de mercado, como as exigências do mercado e compromissos
corporativos internos, sugerindo que uma chamada consistente para a
sustentabilidade com base em benefícios para o negócio não é tão evidente
no Brasil como no resto da região.

Há dois desafios considerados importantes por um grande percentual em toda a região:

»» Falta de consciência pública: 41% dos entrevistados no Brasil e outros


11 países acreditam que esta é uma das três principais barreiras para a
construção sustentável. Alinhado ainda com países como Arábia Saudita,
Índia, China, Polônia e México, o que sugere que este é um problema
comum para mercados emergentes de sustentabilidade.

»» Falta de apoio político ou de incentivos: este obstáculo é notável no Brasil,


com 39%, excedendo a média global de 30%.

59
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

Principais gatilhos para o futuro das construções sustentáveis no Brasil, Colômbia e em


outros 11 países na América do Sul e Caribe:

Figura 31.

Fonte: World Green Building Trends 2016: Developing Markets Accelerate Global Green Growth.Disponível em: <http://fidic.org/
sites/default/files/World%20Green%20Building%20Trends%202016%20SmartMarket%20Report%20FINAL.pdf>.

Uma pesquisa publicada pelo Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), em


2015, mostra que os profissionais da construção carecem de informações e capacitação
em relação às principais áreas da construção sustentável – energia, materiais e água.
Os dados que mais chamam atenção referem-se à falta de conhecimento técnico e gente
capacitada, bem como desconhecimento do potencial das tecnologias.

Em todas as três áreas estudadas, a falta de conhecimento público e técnico sobre o


assunto, bem como a baixa oferta de profissionais capacitados, é relevante.

60
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

Quadro 4.

Treinamento e capacitação de projetistas e construtoras 39%


Barreira de marcado: desconhecimento do potencial econômico 45%
Desconhecimento do potencial e das tecnologias 53%
Barreira técnica: falta de conhecimento dos responsáveis de operação e manutenção 55%

Compreensão de ganhos financeiros 43%


Conhecimento técnico da equipe 56%
Falta de informação e gente capacitada 66%

Treinamento e capacitação de projetistas e construtoras 33%


Falta de conhecimento técnico da equipe de projeto 36%
Falta de conhecimento dos responsáveis de operação e manutenção das edificações 39%
Desconhecimento do potencial econômico 41%
Campanha de mídia e conscientização 45%
Falta de capacitação técnica por parte dos gestores do empreendimento 46%
Desconhecimento do potencial e da tecnologia de uso de águas alternativas 50%
Fonte: Aspectos da Construção Sustentável no Brasil e Promoção de Políticas Públicas.

Outros fatores que chamam atenção dizem respeito à legislação, à regulamentação e às


certificações ambientais. Ou seja, além de praticamente inexistir qualquer legislação,
benefícios fiscais, regulamentações, incentivos e linhas de financiamento, essas
informações são muito pouco difundidas.

Quadro 5.

Obrigação de utilizar geração renovável em novos empreendimentos 19%


Falta de regulamentação e normas técnicas de desempenho 33%
Etiquetagem energética obrigatória para mostrar a eficiência energética de novas construções 49%
Regulamentação do desempenho mínimo permitido em novas construções 51%

Demolição controlada com plano de RCD explicando como serão tratados antes da demolição 13%
Obrigação de realizar e publicar análises de energia embutida e emissão de CO2 das construções 20%
Legislação para incentivar a manutenção para garantir o desempenho das edificações a longo prazo 29%

Limites de vazão e pressão em projeto e equipamentos 11%


Leis de transparência, obrigando grandes consumidores a publicar o seu consumo 12%
Legislação e ferramentas para implantação de fontes de água não potável 22%
Falta de regulamentação e normas mínimas de desempenho 3%
Etiquetagem obrigatória para mostrar a eficiência de novas construções 40%
Regulamentação do desempenho mínimo permitido em novas construções 47%

Água
Energia
Materiais
Fonte: Aspectos da Construção Sustentável no Brasil e Promoção de Políticas Públicas.

61
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

Os dados dos quadros apresentados anteriormente estão completamente alinhados


com a pesquisa do World Green Building Trends, que aponta que os dois principais
obstáculos para o desenvolvimento da construção sustentável no Brasil são a falta de
conhecimento público sobre o assunto (41%), seguido da falta de incentivos públicos
(39%). E, ainda, com 37% de representatividade, aparecem, como um dos principais
gatilhos para alavancar o setor no Brasil, as políticas ambientais que exijam e sejam
punitivas. Ou seja, enquanto as construções sustentáveis não se tornarem obrigatórias
e exigirem medidas punitivas legais, uma parcela representativa do mercado não irá
adotá-las como prática padrão de construção.

Razões sociais e ambientais para preocupações

Há um consenso geral, na maioria dos países da América do Sul e do Caribe, no que


tange às razões sociais. O principal fator para todos é incentivar práticas de negócios
sustentáveis, selecionado por 53% dos entrevistados no Brasil, 65% na Colômbia e 61%
em outros países. Essas percentagens colocam o Brasil ligeiramente abaixo da média
global de 58%.

O aumento na produtividade do trabalhador devido à construção sustentável é outro


fator importante no Brasil (34%) e Colômbia (38%), sem dúvida, devido, em parte, ao
foco de mercado em edifícios comerciais e retrofits de construção existentes.

Preocupações ambientais

A redução do consumo de energia é a principal razão ambiental para a construção


sustentável no Brasil (51%), Colômbia (58%) e em outros países da região (72%). Esta
constatação corresponde às prioridades globais em torno da energia refletida nos
resultados globais do estudo.

Mais notável é a importância de proteger os recursos naturais, tanto no Brasil (47%)


como na Colômbia (51%), semelhantes em percentual a energia. Também é notável a
preocupação com o consumo de água no Brasil (47%).

Benefícios para os negócios

O Brasil é mais conservador em relação à diminuição esperada nos custos operacionais


dentro de um ano, porém mais otimista quanto a reduções esperadas dentro de 5 anos,
se comparado a outros países da América do Sul e Caribe. No entanto, períodos de
retorno de investimentos sustentáveis no Brasil são bastante curtos, o que pode vir a ser
um importante motor da construção sustentável no futuro.

62
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

Benefícios das construções sustentáveis esperados


para a América do Sul e Caribe

Tabela 1.

Construções Sustentáveis Novas Construções Sustentáveis Retrofits


Brasil Colômbia Outros 11 países Brasil Colômbia Outros 11 países
Queda dos custos 8% 12% 12% 6% 12% 12%
operacionais em 1 ano
Queda dos custos 20% 9% 12% 13% 13% 12%
operacionais em 5 anos
Tempo de retorno nos 4 5 8 4 4 8
investimentos verdes
(anos)
Fonte: Adaptado de World Green Building Trends 2016: Developing Markets Accelerate Global Green Growth

Confira a seguir outros dados relevantes da construção sustentável no Brasil e no mundo.

Figura 32. Principais obstáculos para o desenvolvimento da construção sustentável (por pais).

Fonte: World Green Building Trends 2016: Developing Markets Accelerate Global Green Growth. Disponível em: <http://fidic.org/
sites/default/files/World%20Green%20Building%20Trends%202016%20SmartMarket%20Report%20FINAL.pdf>.

63
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

Figura 33.

Fonte: World Green Building Trends 2016: Developing Markets Accelerate Global Green Growth. Disponível em: <http://fidic.org/
sites/default/files/World%20Green%20Building%20Trends%202016%20SmartMarket%20Report%20FINAL.pdf>.

De longe, o benefício mais amplamente noticiado é reduzir os custos operacionais. Isto


corresponde às conclusões do estudo de 2012. No entanto, como os dados dos países
demonstra, existem variações significativas por mercado em termos da importância
desse benefício. Uma percentagem particularmente elevada considera importante nas
Américas, incluindo os EUA (81%), Colômbia (79%), México (73%) e Brasil (65%).
Entrevistados de China (38%) e Arábia Saudita (29%), por outro lado, consideram
outros benefícios mais importantes, incluindo valorização nos ativos futuros (66% e
38%, respectivamente) e um valor mais elevado de venda (47% e 31%, respectivamente),
ambos podem ter implicações financeiras mais fortes do que os custos operacionais.

Globalmente, 30% a 31% consideram três benefícios adicionais importantes em seus


mercados:

»» garantia da qualidade da documentação e certificação;

»» educação sobre sustentabilidade dos ocupantes;

»» aumento do valor no ponto de venda.

64
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

A produtividade é também uma questão fundamental para alguns países em


desenvolvimento, com um peso especial para México (38%) e Índia (37%), mas com
pouca ênfase para Austrália (12%), Alemanha (9%) ou no Reino Unido (13%). México e
Índia são também os dois países com o maior percentual de entrevistados que esperam
fazer projetos sustentáveis comerciais nos próximos três anos, o que talvez influencie a
importância da produtividade como um benefício verde nestes mercados.

Figura 34. Benefícios mais importantes das construções sustentáveis.

Fonte: World Green Building Trends 2016: Developing Markets Accelerate Global Green Growth. Disponível em: <http://fidic.org/
sites/default/files/World%20Green%20Building%20Trends%202016%20SmartMarket%20Report%20FINAL.pdf>.

65
CAPÍTULO 7
Benefícios da construção sustentável

O futuro da construção civil já tem um caminho traçado, e a sustentabilidade não será


apenas um modismo. As boas práticas do mercado devem ser disseminadas, assim como
o maior número de informações possível sobre as soluções implantadas, experiências
de sucesso e iniciativas em prol da sustentabilidade.

A construção sustentável veio para ficar, talvez um pouco tarde, mas com o engajamento
de toda a sociedade, revendo nossas ações e atitudes, certamente alavancará a formação
de uma nova cultura baseada na visão sistêmica preconizada pela sustentabilidade.

São números de benchmarking e edifícios sustentáveis:

Figura 35.

** Kats. G. (2003). The Costs and Financial Benefits of Green building: A Report to California’s Sustainable Building Task
Force

*** GSA Public Buildings Service (2008). Assessing green building performance: A post occupancy evaluation of 12 GSA
buildings

Fonte: *Turner. C. & Frankel. M. (2008). Energy performance of LEED for New Construction buildings: Final report.

Embora o investimento inicial das construções sustentáveis seja em torno de 1% a


5% maior, a economia com os insumos pode compensar em longo do tempo. Seguem

66
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

elencados alguns benefícios de custos visíveis dos edifícios sustentáveis de acordo com
os proprietários7:

»» os custos operacionais diminuem 13,6% em novas construções e 8,5%


para edifícios existentes, tendo uma redução média de 30 a 40% em
consumos como água e energia;


»» taxas condominiais 25% mais baratas;

»» o valor do edifício aumenta 10,9% em novas construções e 6,8% para


edifícios existentes; 


»» o retorno de investimento médio de 4 anos, e aumento de 9,9% em novas


construções e de 19,2% para edifícios existentes;


»» locações mais rápidas com aumento da ocupação em 6,4% em novas


construções e 2,5% para edifícios existentes;

»» aumento do valor do aluguel pode chegar em 10% em novas construções


e 1% para edifícios existentes;

»» para cada U$1 de economia em operação e manutenção, há aumento de


U$10 no valor da propriedade;

»» redução dos riscos;

»» 35% menos absenteísmo;

»» redução de turnover;

»» 2 – 10% aumento de produtividade;

»» evita problemas associados à síndrome do edifício doente.

Embora ainda não haja, no Brasil, tantas pesquisas relativas a custos x benefícios e
poucos dados disponíveis mapeados pelo setor, muitos dos números apresentados
acima já se referem a nossa realidade local, tais como o retorno no investimento em 4
anos, o aumento do valor do edifício, taxas condominiais mais baratas e o aumento do
valor do aluguel.

Para o setor residencial, menos explorado ainda, o diretor do Secovi-SP, Hamilton


Leite, conduziu uma pesquisa que mostra que 61% dos incorporadores consideram

7 
Fonte: McGraw Hill Construction (2010). Green Outlook 2011: Green Trends Driving Growth/USGBC/Sustentabilidade.
Tendências na Construção Civil Brasileira 2015

67
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

a transformação de mercado uma das principais razões para o desenvolvimento de


empreendimentos sustentáveis.

Figura 36.

Fonte: tornando nosso ambiente construído mais sustentável – Greg Katspdf.pdf. Disponível em: <http://gbcbrasil.org.br/
sistema/docsMembros/121114111145000000683.pdf>.

Valor de Locação (R$/m2/mês)


São Paulo
Região LEED Conv.
Alphaville 66.23 54.05
Berrini 104.97 98.18 +40%up
Faria Lima 167.11 119.12
Jardins 110.00 120.00
Marginal 81.66 68.40
Vila Olímpia 107.12 107.39
(Média SP) 104.52 94.62 +10%up

Valor de Locação (R$/m2/mês)


Rio de Janeiro
Região LEED Conv.
Barra 11000 85.30
Centro 109.80 104.06
Orla 207.73 115.75
Zona Sul 170.00 165.83
(Média Rio) 146.63 117.74 +24%up
Fonte: GeoImóvel para Revista GBC Brasil. Disponível em: <https://issuu.com/vidaimobiliaria-brasil/docs/gbc_ed_08_web_
completo>.

68
INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS │ UNIDADE I

Benefícios informados por proprietários de projetos sustentáveis: 


»» Melhoras do retorno de investimento: 19,2% em média para projetos


sustentáveis de retrofit em comparação com uma média de 9,9% para
novos projetos.

Em um estudo realizado com uma amostra de 170 edifícios sustentáveis certificados,


nos Estados Unidos, foi realizada uma comparação monetária quantitativa em função
da potencial redução da emissão de CO2, levando em consideração dois cenários num
horizonte de 20 anos: os negócios usuais atuais e um modelo de desenvolvimento dos
negócios com construções sustentáveis. O resultado da avaliação é que, em comparação
com o modelo atual, o cenário sustentável criaria US$ 650 bilhões a mais em benefícios
financeiros líquidos8.

Com relação ao impacto na empregabilidade, um estudo também realizado nos


Estado Unidos demonstrou que para cada US$1 milhão gasto em contas de serviços
públicos, os serviços relacionados à energia criam três a quatro empregos-ano, direta
e indiretamente. A aplicação do mesmo US$1 milhão em edifícios sustentáveis cria
aproximadamente 8 a 12 empregos-ano, direta e indiretamente.

A Tabela 2, retirada do livro Tornando Nosso Ambiente Construído Mais Sustentável,


de Greg Kats, ilustra como a economia pode se beneficiar de um investimento de US$1
milhão em construções sustentáveis: mostrando a mudança de despesas em 20 anos,
multiplicada pela intensidade de mão de obra por setor. Concluindo que investir na
construção sustentável resulta em:

»» Mais dinheiro investido em construção;

»» Menos dinheiro gasto com tarifas de energia.

A tabela também mostra que o US$1 milhão de investimento geraria um ganho líquido
de 16,4 empregos-ano devido ao aumento de investimento e ao uso mais produtivo da
energia e da água. Resultando em um aumento anual médio de aproximadamente 0,8
empregos a cada ano durante 20 anos.

Impacto econômico líquido Em 20 anos resultante de um investimento
de US$1 milhão


em melhorias de edifícios sustentáveis: Exemplos Ilustrativos.

8 Fonte: Tornando Nosso Ambiente Construído Mais Sustentável, Greg Kats

69
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – IMPACTOS E BENEFÍCIOS

Tabela 2 .

Categoria de Impacto Montante (milhões) Multiplicador de Impacto ao


gastos emprego emprego
(empregos-ano)
Construção O acréscimo de custo da construção US$ 1,0 12 12,00
sustentável aumenta os gastos com
a construção
Gastos de consumo Devido ao acréscimo de custo US$ 0,6 11 -6,60
da construção sustentável, os
consumidores gastam menos no
curto prazo
Economias de consumo Devido a economias de energia, US$ 1,0 11 11,00
os consumidores gastam mais no
longo prazo
Perda de receitas de As receitas de empresas de serviços US$ 0,8 3 -2,40
empresas de serviços publicos diminuem devido a
publicos economias de anergia
Juros de empréstimos Juros pagos a bancos sobre US$ 0,3 8 2,40
empréstimos de construção
Empregos líquidos-ano 16,40
Fonte: adaptado de Tornando Nosso Ambiente Construido Mais Sustentavel, Greg Kats.

70
MATERIAIS E
TECNOLOGIAS UNIDADE II
SUSTENTÁVEIS

CAPÍTULO 1
Avaliação do ciclo de vida

Não há como se falar em materiais e tecnologias sustentáveis sem entender o conceito de


Avaliação do Ciclo de Vida ou Análise do Ciclo de Vida, como alguns preferem chamar.

A ACV avalia o impacto ambiental de determinado bem (incluindo edificações completas)


ou serviço ao longo de todo o seu ciclo de vida: desde a extração das matérias-primas
(nascimento), passando por todos os elos da cadeira industrial, distribuição, uso e
disposição final (morte), analisando todos os meios: ar, água e solo, e todas as categorias
de impacto (que são as classes de preocupação ambiental nas quais os resultados de um
inventário de ciclo de vida devem estar relacionados), por isso a ACV é considerada
uma ferramenta de caráter sistêmico.

Figura 37.

Fonte: Jan Paul Lindner, Universtat Stuttgart, LBP-GaBi. Disponível em: <http://www.dgnb-system.de/en/>.

71
UNIDADE II │ MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

A primeira referência conhecida de uma análise do ciclo de vida realizada para um


determinado produto ocorreu em 1965 pela Coca-Cola. A empresa realizou um estudo
por meio do Midwest Research Institute (MRI), que objetivava comparar diferentes
embalagens de refrigerante e medir os respectivos consumos de materiais, energia e
emissões. O processo de quantificação dos recursos naturais e das emissões resultantes
desse estudo se tornou conhecido como REPA (Resources and Environmental Profile
Analysis). Mais tarde, em 1974, o modelo foi aprimorado pelo próprio MRI, a pedido da
EPA, e se tornou um marco para o que hoje se conhece como Análise do Ciclo de Vida
(ACV) (Life Cycle Assesment).

Na década de 1980, os estudos tiveram enfoque nas embalagens dos produtos,


principalmente dos alimentos, incentivados pelo Green Movement, na Europa, pois
havia, então, uma geração muito grande de lixo doméstico, e o objetivo dos estudos
era dar enfoque à gestão ambiental e à reciclagem. Muitos estudos foram realizados,
mas por não haver metodologia que os regulamentasse, os resultados eram muito
divergentes, o que trouxe a necessidade de impor a padronização da técnica de ACV.

Na década de 1990, começam a se estabelecer as primeiras normas ISO, parte da


família 14.000, para padronização da metodologia da análise de ciclo de vida. Desta
forma, as empresas começam a enxergar e, consequentemente, a investir na ACV pelo
seu benefício como ferramenta de gestão.

A ACV é uma ferramenta de tomada de decisão, seja dentro de uma indústria, por
processos produtivos mais eficientes; seja pelo governo, pela troca de bens e serviços que
cumpram com regulamentações ou pela imposição de regulamentações e/ou isenções
ou políticas de tarifação ligadas à produção mais limpa, rotulagem ambiental; seja por
consumidores e/ou sociedade civil com conscientização crítica a respeito de escolhas
mais conscientes. A ACV permite a comparação do desempenho ambiental entre bens ou
serviços que cumpram uma mesma função, ou dentro de um único processo produtivo;
permite focar a análise ambiental sobre a forma como é produzida e, de forma mais
ampla, entender quais as interações da organização com o meio externo, ajudando a
implementar melhorias no processo com o objetivo de torná-lo ambientalmente mais
eficiente, resultando até na revisão das políticas ambientais da empresa. Desta forma,
para uso interno, por ser uma ferramenta de gestão, a ACV pode contribuir para que o
planejamento estratégico incorpore estratégias ambientais, identifique oportunidade de
melhorias e otimização nos processos e minimização dos rejeitos na tomada de decisão,
na avaliação de performance ambiental e facilite auditorias internas e externas. E para
uso externo, pode ser usada como ferramenta de marketing verde, de transparência de
informação, como auxílio na especificação de compras, diferencial de mercado e como
um processo que antecede uma certificação ou uma Declaração Ambiental do Produto.

72
MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS │ UNIDADE II

Figura 38.

Fonte: ABNT NBR 14.040.

A estrutura da ACV pode ser dividida em 4 fases:

Objetivo de definição do escopo

Nesta fase, define-se o objetivo do estudo, a função do produto e sua unidade funcional
(por exemplo, para uma tinta, quantos m2 ela é capaz de pintar), as razões para a
realização do estudo bem como o público-alvo. Deve-se, ainda, definir o fluxograma do
sistema do produto bem como as fronteiras.

No caso da Figura Xi, a fronteira pode ser definida como qualquer uma das linhas
pontilhadas, mas foi estudado o ciclo completo da produção de óleo de dendê.

73
UNIDADE II │ MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

Figura 39. Ciclo de vida de biodiesel do dendê.

Fonte: <http://www.canalciencia.ibict.br/>.

Ciclo de vida da produção de biodiesel de dendê:

1. após pré-germinação na Costa Rica, as mudas são transportadas de avião


para São Paulo e de São Paulo para Belém. Em seguida, são transportadas,
de caminhão, de Belém para a região de plantio;

2. etapa do cultivo do dendezeiro;

3. etapa de extração de óleo.

Análise de inventário

Fase da avaliação do ciclo de vida envolvendo a compilação e a quantificação das


entradas e saídas de um sistema de produto ao longo do seu ciclo de vida (NBR ISO
14044:2009).

74
MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS │ UNIDADE II

»» ENTRADA: material que entra em um processo elementar.

»» SAÍDA: material ou energia que sai de um processo elementar.

Deve ser feita de acordo com a definição do objetivo e atendendo a requisitos da definição
de escopo. É a fase que requer o maior esforço.

Tabela 3. Adaptado – Inventário do ciclo de vida para produção de 1 tonelada de óleo de dendê durante a fase

de cultivo.

Entrada Saída
Processos Quantidades Quantidades
Recepção Cacho de frutos frescos 5000 Kg Óleo de dendê 1000 Kg
Esterilização Diesel 2,96 Kg Óleo de palmiste 75 Kg
Debulhamento Eletricidade 7,5 MJ Dióxido de Carbono (inorgânico) 24,72 Kg
Digestão Dióxido de Carbono (biótico) 801,37 Kg
Prensagem Metano 0,04 Kg
Óxido Nitroso 1,36 Kg
Fonte: <http://www.canalciencia.ibict.br/>.

Tabela 4. Adaptado – Inventário do ciclo de vida para produção de 1 tonelada de óleo de dendê durante a fase

de extração de óleo.

Entrada Saída
Processos Quantidades Quantidades
Produção de mudas Sementes 40 unidades Cacho de frutos frescos 5000 Kg
Preparo do solo Fertilizantes 82,15 Kg Dióxido de Carbono (inorgânico) 9,01 Kg
Plantio Pesticidas 0,69 Kg Dióxido de Carbono (biótico) 595,15 Kg
Cuidados com a plantação Diesel 0,84 Kg Metano 0,02 Kg
Colheita Polietileno 0,37 Kg Polietileno 0,37 Kg
Dióxido de Carbono 1647,5 Kg Óxido Nitroso
Água 2,23 Kg
Fonte: <http://www.canalciencia.ibict.br/>.

Avaliação de impacto

Fase da ACV que visa ao entendimento e à avaliação da magnitude e significância dos


impactos ambientais potenciais de um sistema de produto ao longo do ciclo de vida do
produto. (NBR ISO 14044).

“Descreve” as consequências ambientais (impactos ambientais) das cargas ambientais


(aspectos ambientais) quantificadas no ICV.

75
UNIDADE II │ MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

Interpretação
Interpretação é a fase em que os resultados da análise de inventário e avaliação de
impacto são considerados em conjunto ou apenas na análise de inventário. A fase de
interpretação deve fornecer resultados que são consistentes com o objetivo definido no
escopo e chegar a conclusões, explicar limitações e fornecer recomendações (traduzido
da ISO 14044).

Qual a importância da ACV?


No exemplo do estudo de Biodiesel de dendê, “a pesquisa avaliou a emissão e a absorção
de gases que contribuem para o efeito estufa durante o ciclo de produção do biodiesel de
dendê. O dendezeiro absorve uma grande quantidade de CO2 durante o seu crescimento.
Essa quantidade chega a ser 10% maior do que a quantidade de CO2 liberada durante
o ciclo de vida dos dendezeiros (30 anos) e ao longo das etapas de produção do óleo. O
resultado dessa conta faz com que o dendezeiro possa ser considerado um “sorvedouro
de carbono”. A absorção de CO2 durante o ciclo de produção de mudas, preparo do solo,
plantio, cuidados com a plantação (tratos culturais) compensa as emissões desse gás e
de outros gases de efeito estufa (GEEs) nas outras etapas do ciclo produtivo.

A pesquisa também mostrou que a substituição de fertilizante químico por orgânico,


nas plantações de dendezeiro, reduz a emissão de gases, já que o processo de produção
de fertilizantes químicos emite gases de efeito estufa como o metano”.

Desta forma, é possível notar a importância da ACV como ferramenta de gestão, pois
possibilita fazer substituições ou adoções de novas tecnologias com base em resultados,
como o caso da substituição de fertilizantes químicos por orgânicos. Além disso, favorece
uma visão sistêmica, identificando os impactos dos produtos e serviços ao longo de
toda a sua cadeia e não somente no momento de extração das matérias-primas ou de
produção.

Características da ACV:

»» ferramenta de apoio a tomadas de decisões;

»» gera informações;


»» não resolve problemas; 


»» avalia impactos associados à função do produto; 


»» única que compara desempenho ambiental de produto;

»» nova, portanto busca consolidação da metodologia.

76
MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS │ UNIDADE II

Limitações:

»» falta de metodologia consolidada;

»» critérios subjetivos para tomadas de decisões;

»» falta de modelos para avaliação de impactos;

»» grande número de dados a serem coletados.


Normalização

A diversidade dos resultados apresentados pelos estudos de ACV evidenciou a


necessidade de uma padronização de metodologia e do estabelecimento de critérios
rígidos que disciplinassem a forma como esses estudos eram conduzidos e levados a
público.

Em 1993, a ISO criou o Comitê Técnico TC 207 para elaborar normas de sistemas de
gestão ambiental e suas ferramentas. Esse Comitê é o responsável por umas das mais
importantes séries de normas internacionais, a série ISO 14.000, que inclui as normas
de avaliação de ciclo de vida.

Fazem parte da série ISO 14.000 as seguintes normas:

»» ISO14.040 Environmental management – Life Cycle Assessment –


Principles and Framework (1997). Estabelece os princípios básicos e
requisitos para a realização e divulgação dos resultados de estudos de
ACV. 


»» ISO14.041 Environmental management – Life Cycle Assessment-Goal


scope definition and invetory analysis (1998). Detalha os requisitos para
o estabelecimento do objetivo e escopo de um estudo de ACV. 


»» ISO 14.042 Environmental management – Life Cycle Assessment – Life


cycle impact assessment (2000). Apresenta os princípios gerais para a
realização da avaliação de impactos, a seleção das categorias de impacto;
descreve as etapas de classificação e de caracterização.


»» ISO 14.043 Environmental management – Life Cycle Assessment – Life


cycle interpretation (2000). Apresenta os requisitos e recomendações
para a interpretação dos resultados de uma análise de inventário ou
avaliação de impacto.

77
UNIDADE II │ MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

Apesar de ser um estudo de complexa realização, a lógica da ACV é muito simples.


É importante compreender o objetivo por trás de um estudo de ACV para começarmos
a fazer escolhas mais conscientes sobre aquisição de bens e serviços. A lógica da ACV
deve estar presente em nossas vidas, e devemos fazer o exercício de compreender
de onde vem e para onde vai cada produto novo que compramos. Será que esses
produtos são realmente necessários? Quais impactos eles causaram na extração de
sua matéria-prima, na produção na indústria, no transporte até a loja, no uso que dei
a eles e no descarte final?

Expandindo esse pensamento para o dia a dia, conseguimos adotá-lo também em nossos
trabalhos e, enquanto arquitetos e engenheiros, repensarmos as escolhas de materiais
para os nossos projetos.

Segundo o arquiteto e pesquisador colombiano Javier Barona (ano), especialista em


construções sustentáveis, “o estudo da Análise de Ciclo de Vida (ACV) tem sido aceito
por toda a comunidade internacional como a única base legítima sobre a qual comparar
materiais, tecnologias, componentes e serviços utilizados ou prestados”.

Vídeo sugerido: <https://www.youtube.com/watch?v=z5bNocDSyfg>.

Estudo de Caso – Performance das janelas de PVC e alumínio ao longo do ciclo de vida

A Fundação Espaço Eco realizou um estudo comparativo, com base na metodologia da


ACV, para identificar qual o tipo de janela mais eficiente ao longo de seu ciclo de vida.

O resultado apresentado por esse estudo, demonstrou que as janelas de PVC


apresentavam maior eficiência.

Como visto anteriormente, o objetivo de uma ACV é sempre realizar comparações de


produtos ou serviços que cumpram a mesma função. No caso do presente estudo, foram
comparadas duas janelas (PVC e Vidro), do tipo veneziana de correr, na cor branca,
constituídas de três folhas: uma folha veneziana móvel, uma folha de vidro móvel
com espessura de cinco milímetros e uma folha cega fixa. Para realizar a comparação,
detalhou-se todo o ciclo de vida dos produtos, desde a extração das matérias-primas
até a destinação final, com a medição dos impactos causados em cada estágio do ciclo
de vida, a saber:

»» produção das esquadrias;

»» utilidades;

78
MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS │ UNIDADE II

»» montagem;

»» instalação;

»» manutenção das janelas;

»» consumo de eletricidade para funcionamento do ar condicionado;

»» destinação final das janelas;

»» transportes envolvidos nessas operações.

Considerou-se a mesma vida útil para as duas janelas, o preço de mercado e o custo
da utilização do ar condicionado ao longo do dia (para o horário comercial, foram
consideradas 10 horas; para o residencial, 14 horas).

Foram levados em conta ainda os aspectos ambientais e econômicos, ao longo de 40


anos, mantendo o ambiente a uma temperatura de 24°C na Região Metropolitana de
São Paulo e avaliados os impactos em relação:

»» consumo de energia;

»» emissões;

»» uso da terra;

»» potencial de toxicidade;

»» potencial de risco;

»» consumo de recursos materiais.

O resultado mostrou que a janela de PVC possui melhor desempenho em 10 das 11


categorias ambientais analisadas. Em especial, a categoria “consumo de energia” se
destacou como a de maior relevância no estudo (31%), pois, no processo de produção,
a janela de PVC apresenta consumo de energia 2,3 vezes menor em relação à produção
da janela de alumínio. Na montagem, foi observada vantagem da alternativa em PVC
por não precisar de pintura, uma vez que é naturalmente branca, ao contrário da de
alumínio, que precisa ser pintada com pintura eletrostática, que consome muita
energia elétrica. Além disso, a janela de PVC apresenta maior capacidade de isolamento
térmico e também melhoria em seu desempenho econômico, graças ao menor consumo
de energia elétrica com o ar condicionado quando a temperatura externa se afasta da
temperatura definida como conforto térmico (24°C).

79
UNIDADE II │ MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

As categorias que apresentaram um melhor resultado foram:

»» consumo de energia;

»» consumo de recursos;

»» potencial de toxicidade;

»» resíduos sólidos;

»» efluentes líquidos;

»» uso da terra e potencial de aquecimento global;

»» acidificação e formação fotoquímica de ozônio.

Dentre as categorias ambientais, o alumínio só possui melhor desempenho no Potencial


de Deformação da Camada de Ozônio.

Embora o resultado do estudo mencionado tenha demonstrado que as esquadrias


de PVC são mais ecoeficientes do que as de alumínio, vale reforçar que o estudo é
sempre comparativo para dois objetos que cumprem a mesma função dentro de um
mesmo cenário. Ou seja, a avaliação foi feita com base no comportamento de ambas as
esquadrias para a cidade de São Paulo e levou em consideração todos os impactos ao
longo do ciclo de vida para as diversas categorias, com base em indústrias localizadas
no interior de São Paulo e na extração de matérias-primas em diferentes locais o Brasil.
Desta forma, se as indústrias estivessem em outras localidades do país ou se o estudo
fosse realizado para uma cidade ou até mesmo um pais diferente, o resultado seria
outro.

Por isso, apesar de a ACV ser importantíssima para auxiliar os profissionais na escolha
correta de produtos e serviços, com base em seus impactos ambientais, ela deve ser
sempre observada com critério e utilizada para o contexto em que foi estudada.

É difícil, por exemplo, dizer se um mesmo carro é mais eficiente no Brasil do que na
China, pois os impactos em relação à extração dos recursos é diferente em cada um desses
países, além de a matriz energética também ser diferente, sem levar em consideração os
impactos associados ao transporte.

Há alguns anos, os jornais noticiaram que churrasco era mais poluidor do que carros,
mas isso é tão absurdo quanto comparar bananas com maçãs. Ou seja, leve sempre em
consideração o contexto e as funções!

80
MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS │ UNIDADE II

A Fundação Espaço Eco publica uma série de estudos como esses. Vale a pena conferir
outros, tais como “Secar as mãos com papel ou com secadores”, ou “Aquecimento solar
ou chuveiro elétrico”, demonstrado na imagem abaixo.

<http://www.espacoeco.org.br/resultados>.

Figura 40.

Fonte: Fundação Espaço Eco. Disponível em: <http://www.espacoeco.org.br/resultados/casos-de-sucesso/estudo-de-


ecoefici%C3%AAncia-do-banho-quente.aspx>.

81
CAPÍTULO 2
Produtos e materiais sustentáveis

Sem dúvidas, a construção de edifícios requer o uso de muitos materiais. De fato, 40%
da extração de pedra bruta, cascalho e areia, e 25% de toda a madeira virgem são usados
para a construção de edifícios.

»» Meio ambiente: devido à enorme quantidade de recursos utilizada


em edifícios, é fácil enxergar as consequências ambientais de seu uso,
incluindo poluição do ar e da água, destruição de habitats nativos e
esgotamento de recursos naturais.

»» Economia: muitos dos materiais disponíveis usados na indústria de


construção são extraídos ou fabricados de uma forma que, historicamente,
buscou exclusivamente o lucro econômico. Nesse modelo, o meio
ambiente e as pessoas são deixados completamente de lado.

»» Comunidade: a extração, fabricação, aplicação e descarte de muitos dos


materiais usados atualmente representam graves riscos à população
humana, muitos dos quais não são compreendidos claramente.

Os materiais e os recursos são a base dos edifícios em que vivemos e trabalhamos, assim
como as coisas com o que os enchemos, a infraestrutura que leva as pessoas de e para
esses edifícios e as atividades que ocorrem dentro deles. Como observado no capítulo
anterior “Avaliação do Ciclo de Vida”, a natureza onipresente dos materiais e recursos
faz com que seja fácil negligenciar a história e os custos associados com a produção,
o transporte, o consumo e o descarte. O “Story Of Stuff” – como esse processo ficou
conhecido no vídeo popular do YouTube e no livro subsequente com o mesmo nome –
começa frequentemente como matérias-primas de todo o mundo. Elas são transportadas,
refinadas, fabricadas e embaladas para venda. Em um sistema convencional, o material
é comprado, consumido e descartado, geralmente em um aterro sanitário. Mas, na
realidade, não há nada “ausente”, e cada etapa desse processo de produção, consumo e
de descarte tem consequências ambientais, sociais e econômicas significativas.

A escolha correta dos materiais e recursos de uma construção deve, portanto, levar em
consideração a minimização da energia incorporada e outros impactos ambientais e
sociais associados à extração, processamento, transporte, manutenção e descarte dos
materiais de construção, sempre olhando sob a ótica do ciclo de vida que melhora o
desempenho e promove a eficiência dos recursos.

82
MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS │ UNIDADE II

Há muitas pessoas envolvidas no projeto e construção de um edifício, mas nem todas


elas necessariamente compreendem os conceitos de sustentabilidade e seus objetivos.
É importante reunir todos esses objetivos em uma política de compras de construção
para que não haja dúvidas sobre quais produtos devem, de fato, ser selecionados para o
projeto. A política de compras pode ser uma simples lista de verificação que documenta
os tipos de produtos que se deseja aplicar no projeto.

A seguir estão listadas as premissas que os materiais selecionados para uma construção
sustentável devem seguir:

»» fomentar a economia local e respeitar os valores culturais e comunitários,


optando sempre que possível por materiais extraídos, processados e
manufaturados em região próxima ao local da construção;

»» manejo de fontes sustentáveis e matérias-primas naturais (“virgens”) que


protejam os ecossistemas e melhorem o uso da terra por meio de extração
responsável e com ciclos de rápida regeneração. Além disso, materiais
com menos etapas de processo industrial e processamento muitas vezes
representam menores riscos ambientais e de saúde;

»» no caso da madeira, optar sempre por aquelas que tenham sua origem
legal comprovada e que sejam preferencialmente certificadas (FSC ou
Cerflor);

»» duráveis e reutilizáveis;

»» possuir conteúdo reciclado;

»» recicláveis e com possibilidades de “fim de vida” que evitem aterros;

»» baixo ou nenhum uso de substâncias tóxicas - livre de toxinas, a base


água;

»» certificados por organizações de terceira parte;

»» produzido em indústrias que priorizem a saúde, o bem-estar humano e


os direitos trabalhistas;

»» baixa energia e água embutidas no processo produtivo;

»» eficientes em consumo de energia e água ao longo do uso;

»» embalagem reduzida ou proveniente de indústria que trabalhe a logística


reversa.

83
UNIDADE II │ MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

É importante observar as sinergias na escolha dos materiais. Muitos dos materiais usados
para construir um edifício têm influência direta no desempenho energético do edifício,
incluindo tipos diferentes de conjuntos de paredes, isolamento, materiais de telhado
e vidraças. Os materiais instalados em um edifício podem também ter um impacto na
qualidade do ambiente interno do espaço, dependendo dos tipos de revestimentos,
adesivos e seladores exigidos. Dependendo do conteúdo do material, eles podem ter
mais ou menos químicos incorporados, e esses químicos podem conter substâncias
tóxicas, que fazem mal para o meio ambiente e também para a saúde humana.

A transparência nas informações torna-se, portanto, cada vez mais importante na escolha
correta dos materiais. Por transparência entendemos o fornecimento de informações,
por parte dos fabricantes, quanto ao impacto ou as preocupações ambientais e sociais
relacionadas a toda a sua cadeia produtiva (levando em consideração as premissas
da avaliação do ciclo de vida), à presença ou ausência de componentes tóxicos, às
informações quanto a trabalhos escravos ou infantis e assim por diante, sem abrir,
obviamente, segredos industriais que possam comprometer as indústrias.

Existem uma série de programas de certificações que atesta à indústria credibilidade


com relação as suas políticas socioambientais, e é importante priorizar sempre a escolha
de fornecedores que sejam signatários de programas como estes:

»» Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (GRI).

»» Certificação ISO 26.000.

»» Pacto Global da ONU.

»» OEDC.

»» Just.

»» Certificação B (B corp).

Entenda melhor os conceitos por trás das premissas relacionadas aos materiais:

»» Conteúdo reciclado: porcentagem de material em um produto que


é reciclada a partir do fluxo de resíduos de fabricação (resíduos
pré-consumo) ou do fluxo de resíduos de consumo (resíduos
pós-consumo) e usada para fabricar novos materiais.

»» Conteúdo reciclado pós-consumo: porcentagem de material em um


produto que foi resíduo de consumo. O material reciclado foi gerado
por usuários finais residenciais, comerciais, industriais ou institucionais

84
MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS │ UNIDADE II

e não pode mais ser utilizado para sua finalidade original. Isso inclui
devoluções de materiais da cadeia de distribuição. Exemplos incluem
entulho de construção e demolição, materiais coletados por meio de
programas de reciclagem, produtos descartados (como móveis, armários
e decks de madeira) e resíduos de paisagismo (como folhas, palha do
corte de grama e restos de podas).

»» Conteúdo reciclado pré-consumo: porcentagem de material em


um produto que foi reciclada a partir de resíduos de fabricação. O
conteúdo pré-consumo era conhecido anteriormente como “conteúdo
pós-industrial”. Exemplos incluem restos de aplainamento, serragem,
bagaço, cascas, refugo, aparas de materiais, publicações com tiragem
excessiva e inventários obsoletos. Não estão incluídos materiais
retrabalhados, retificados ou sucateados que poderiam ser recuperados
no mesmo processo que os gerou. Ou seja, eles devem sempre ter sido
gerados dentro do processo produtivo, mas nunca reaproveitados
no mesmo processo. Para entender a lógica, pense sempre que uma
indústria adquire restos de produção de outra para gerar o seu produto
final.

»» Materiais e produtos de rápida renovação e manejo sustentável: produtos


agrícolas (fibra ou animal) que crescem ou são cultivados rapidamente
(ciclo regenerativo máximo de 10 anos) e colhidos de maneira sustentável.
Por meio de gestão de recursos de longo prazo, mantendo a biodiversidade
das paisagens, restaurando, melhorando e sustentando todo um espectro
de valores, incluindo considerações econômicas, sociais e ecológicas.

»» Materiais de reuso ou recuperados: materiais que retornam ao uso


ativo (com a mesma capacidade que em seu uso original, ou em uma
capacidade relativa). São Itens de construção recuperados de edifícios
ou locais de construção existentes e reusados. Os materiais recuperados
são incorporados ao novo edifício, ampliando, assim, a vida útil de
materiais que, de outro modo, seriam descartados. Os materiais podem
ser incorporados de novas e criativas maneiras na paisagem. Ao reutilizar
materiais muitas vezes é importante deixar o próprio material inspirar o
projeto.

»» Madeira legal e certificada: a madeira nativa legal é aquela extraída da


floresta mediante um plano de manejo aprovado pelo órgão ambiental.
No transporte até o comprador, o produto precisa ter a documentação

85
UNIDADE II │ MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

emitida pelo sistema de controle do governo. Já a madeira certificada


é obtida a partir de critérios ambientais, sociais e econômicos que são
mais rígidos e abrangentes do que exige a lei e passa por auditorias
independentes periódicas. Cumprir a legislação é item básico para ter
o selo. Compradores optam pela certificação também como garantia de
legalidade, porque nem sempre a madeira vendida como “legal” teve sua
exploração autorizada. Muitas vezes é extraída de maneira predatória de
áreas proibidas, como terras indígenas e reservas ecológicas. O produto
irregular chega ao mercado porque o sistema de controle do governo que
emite a documentação para o transporte é sujeito a fraudes.

»» Materiais com baixo ou nenhum uso de substâncias tóxicas: muitas vezes,


nem mesmo os arquitetos e engenheiros possuem informações suficientes
sobre os materiais de construção especificados para seus projetos, dado
que a divulgação das informações são difíceis de adquirir. Nos Estados
Unidos, por exemplo, apesar das salvaguardas regulamentares para
alguns produtos químicos tóxicos, 96% dos cerca de 85.000 produtos
químicos disponíveis no mercado nunca foram rastreados para verificação
de possíveis efeitos à saúde. Bioacumulativos persistentes (PBT),
substâncias químicas tóxicas e poluentes orgânicos persistentes (POPs)
são frequentemente encontrados em produtos de construção e materiais.
Os PBTs permanecem no ambiente, se acumulam nos organismos
do topo da cadeia alimentar (incluindo os humanos) e podem causar
danos, mesmo em doses muito pequenas. PBTs liberados durante a
fabricação, utilização ou descarte de um produto podem ameaçar a saúde
das plantas e animais a muitos quilômetros de distância. Pouco se sabe
sobre quais produtos químicos são potenciais cancerígenos, mutagênicos
neurotoxicantes ou desenvolvem tóxicos, por isso é fundamental
incentivar a transparência das informações na indústria e fazer com que
os consumidores finais estejam cada vez mais bem informados sobre os
produtos que adquirem. Para auxiliar na identificação de quais produtos
possuem ou não materiais tóxicos na composição, existem uma série de
estratégias e programas, tais como o banco de dados de produtos químicos
do “CAS” (com mais de 66 milhões de sequências químicas mapeadas), a
diretiva europeia chamada REACH, o programa de produção mais limpa
chamada Green Screen e até mesmo a chamada RED LIST da Agência
de Proteção Ambiental America (EPA), que lista uma série de produtos
considerados preocupantes, entre eles o PVC, os COVs, metais pesados,
ureia formaldeído, amianto, entre outros.

86
MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS │ UNIDADE II

Alguns exemplos de materiais disponíveis no mercado:

»» areia reciclada produzida a partir de entulho: pode ser utilizada em


argamassa, revestimento ou reboco;

»» cimento CP III: tem menor impacto ambiental, substituindo o clínquer


por escórias de alto forno, com o mesmo desempenho do cimento
convencional;

»» formas para moldagem de estrutura de concreto armado utilizando


madeira certificada, plástico reciclado ou aço;

»» instalações elétricas: também são beneficiadas com cabos elétricos


fabricados sem metais pesados e conduítes de material reciclado;

»» instalações hidrossanitárias e de tratamento individuais utilizando PEad,


PP e PVC;

»» cerâmicas e azulejos com conteúdo reciclado e pastilhas de fibras naturais


(coco e bambu);

»» pisos emborrachados produzidos a partir de pneus;

»» vernizes e tintas à base de água, com baixo conteúdo de compostos


orgânicos voláteis;

»» couro “ecológico”, produzido a partir de abacaxi e até mesmo de cogumelo.

Embora os materiais de construção devam levar em consideração os critérios


apresentados neste capítulo, eles ainda sofrem algumas desvantagens em relação aos
produtos convencionais, a saber:

»» ainda não são encontrados com facilidades em todas as regiões do país;

»» dependendo do tipo de material, ainda existem poucos ou nenhum


fornecedor nacional;

»» baixa escalabilidade;


»» em alguns casos, não existe matéria-prima suficiente para a demanda;


»» são produtos novos no mercado, nem todos testados em larga escala;


»» geralmente por não terem ainda a demanda de produtos convencionais,


acabam sendo mais caros, aumentando o custo de implantação no
empreendimento. 


87
UNIDADE II │ MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

Desta forma, cabe aos profissionais da construção civil buscar maiores informações
com relação aos produtos e materiais que são especificados em seus projetos e exigir,
cada vez mais, a transparência e divulgação das informações em relação às práticas
de produção das indústrias. O processo de explorar e selecionar materiais, produtos
e tecnologias deve ser repetido constantemente, como um ciclo vicioso, à medida que
mais informações se tornem disponíveis. Com isso, seremos responsáveis em ajudar a
melhorar o mercado no caminho da adoção de técnicas mais sustentáveis, que priorizem
sempre o pilar da sustentabilidade!

<http://storyofstuff.org>.

<http://sustentarqui.com.br/produtos-e-materiais-sustentaveis/>.

<https://www.oecd.org/brazil/>.

<http://justorganizations.com/>.

<https://www.bcorporation.net/>.

<https://www.globalreporting.org>.

<http://www.inmetro.gov.br/qualidade/responsabilidade_social/iso26000.
asp>.

<http://www.pactoglobal.org.br/>.

<http://www.greenscreenchemicals.org/>.

<https://www.cas.org/>.

<https://echa.europa.eu/pt/regulations/reach>.

Bibliografia recomendada:

Cradle to Cradle, Michael Braungart, William McDonough

The Upcycle: Beyond Sustainability--Designing for Abundance, William McDonough

88
CAPÍTULO 3
Rótulos, selos e certificação de
produtos

A partir da década de 1980, começa a surgir na Europa os selos verdes, que no Brasil
eram chamados de rótulos ambientais, baseados em análises de ciclo de vida, levando
as indústrias a criarem uma massa crítica e compreenderem melhor seus processos
produtivos e a gestão do ciclo de vida de seus produtos.

Nesse sentido, a comunicação é a chave para a mudança de comportamento na


sociedade moderna em direção ao desenvolvimento sustentável. Um exemplo é a
rotulagem ambiental de produtos que se consolidou em diversos países por meio das
autodeclarações, muitas já ajustadas aos padrões internacionais da ISO.

Atenta à necessidade de normatizar a relação entre produtos e consumidores ou


relações B2B (Business to Business), a ISO criou a série de normas 14020. Segundo
a ISO 14020, de 1998, o rótulo (selos verdes) ou declarações ambientais consistem
em afirmação que indica os aspectos ambientais de determinado produto ou serviço,
que pode ser um selo – espécie de certificação ambiental, estampado em embalagens
dos produtos, propagandas etc. Entretanto, a norma, em seu princípio 5, estabelece
que o desenvolvimento de declaração ambiental ou certificação deve levar em conta
os princípios da ACV, que consistem em analisar os aspectos ambientais relevantes do
ciclo de vida do produto em questão.

A ISO define três tipos de rotulagens ambientais: tipo I, II e III, e dentre essas três
rotulagens, o nível de aprofundamento com o qual o conceito de ciclo de vida deve ser
levado em consideração varia. Os tipos I e III necessitam de uma auditora de terceira
parte para atestar ou definir os critérios do processo de rotulagem, já o tipo II é uma
autodeclaração.

»» Rótulo do tipo I (NBR ISO 14.024), chamado de “Programas de Selo


Verde”, estabelece princípios e procedimentos para o desenvolvimento de
programas de rotulagem ambiental, que incluem a seleção de categorias
de produtos, critérios ambientais dos produtos e características funcionais
dos produtos para avaliar e demonstrar sua conformidade, estabelecendo
também os procedimentos de certificação para a concessão do rótulo.

»» Rótulo tipo II (NBR ISO 14.021), especifica os requisitos para as


autodeclarações ambientais, incluindo textos, símbolos e gráficos, no

89
UNIDADE II │ MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

que se refere aos produtos e descreve os termos selecionados usados


comumente em declarações ambientais, fornecendo qualificações para
seu uso. Também descreve uma metodologia de avaliação e verificação
geral para autodeclarações ambientais e métodos específicos de avaliação
e verificação para as declarações selecionadas desta.

»» Rótulo Tipo III (NBR ISO 14.025), declarações ambientais do produto


são constituídas de dados ambientais quantificados para um produto
e posterior discussão e interpretação. Os dados ambientais podem ser
tanto aspectos ambientais quanto indicadores de impacto ambiental e
precisam necessariamente provir de um inventário ou análise de ciclo de
vida de produtos.

»» Na mesma linha do Rótulo Tipo III, a norma ISO 21.930 também estabelece
critérios para as declarações ambientais, mas focados especificamente
nos materiais da indústria de construção civil.

Programas de selo verde são importantes, mas é necessário entender o que está por trás
do selo, quem o outorga e se há uma verificação por terceira parte. Em vários países,
incluindo o Brasil, muitos programas não tiveram o êxito esperado, principalmente em
virtude dos seguintes fatores:

1. Impossibilidade de se estabelecer critérios objetivos e cientificamente


defensáveis que identifiquem produtos “melhores do ponto de vista
ambiental” em uma dada categoria – nem sempre há um método
científico que permita a integração dos variados e complexos aspectos
das questões ambientais para a totalidade de uma categoria de produtos
ou que reconcilie os julgamentos muitas vezes conflitantes das partes
interessadas no estabelecimento dos critérios. Em consequência, as
entidades certificadoras não podem avaliar de forma objetiva os aspectos
ambientais dos diferentes produtos. Por exemplo, um produto pode ter
um baixo consumo de energia, mas uma emissão de resíduos sólidos
relativamente grande. Outro pode gerar pouco resíduo sólido, mas causar
uma maior poluição da água e assim por diante.

2. Em alguns casos, os selos verdes podem ser uma barreira à inovação,


tanto com relação ao meio ambiente como com relação ao melhor
desempenho dos produtos – os critérios somente podem ser calcados no
conhecimento existente, quer dos produtos, quer das tecnologias e das
questões ambientais. Os programas codificam a sabedoria convencional

90
MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS │ UNIDADE II

e estabelecem fronteiras que desencorajam os fabricantes a explorar


oportunidades não contempladas pelos critérios do selo.


Conheça algumas certificações ambientais de Tipo I:

Figura 41.

Fonte: <br.fsc.org>.

Para produtos florestais: fundado em 1993, o FSC (Forest Stewardship Council) é


uma organização não governamental independente e sem fins lucrativos. O selo é um
instrumento voluntário de mercado que diferencia produtos da floresta obtidos a partir
de princípios ambientais, sociais e econômicos aceitos mundialmente. O sistema tem
governança transparente e participativa.

Figura 42.

Fonte: <eletrobras.com>.

O selo Procel de economia de energia, ou simplesmente selo Procel, foi instituído em


dezembro de 1993. É um produto desenvolvido e concedido pelo Programa 
Nacional
de Conservação de Energia Elétrica (Procel), coordenado pelo Ministério de Minas

91
UNIDADE II │ MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

e Energia. Tem por objetivo orientar o consumidor no ato da compra, indicando os


produtos que apresentam os melhores níveis de eficiência energética, proporcionando,
assim, economia na conta de energia elétrica. Também estimula a fabricação e a
comercialização de produtos mais eficientes, contribuindo para o desenvolvimento
tecnológico e a preservação do meio ambiente.

Figura 43.

Fonte: <vanzolini.org.br/rgmat>.

O RGMAT é uma certificação cujo objetivo é proporcionar informações relevantes,


verificadas e comparáveis sobre os aspectos ambientais, de conforto e de saúde dos
produtos e materiais da construção.

Figura 44.

Fonte: <abnt.org.br/>.

O Programa ABNT de rotulagem ambiental é uma certificação voluntária de produtos


e serviços. Visa estimular a procura e a oferta de produtos e serviços ambientalmente
responsáveis, garantindo ao consumidor a confiabilidade nas informações.

Figura 45.

Fonte: <ifbauer.org.br/sustentabilidade>.

92
MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS │ UNIDADE II

O selo ecológico Falcão Bauer é uma certificação voluntária de produto, acreditada pelo
INMETRO e destinada a demonstrar o diferencial ecológico do produto determinado
pelo fabricante ou solicitante da certificação.

Já o Rótulo Tipo III define critérios para os EPDs (Environmental Product Declaration).

Em português, conhecida como Declarações Ambientais de Produto (DAPs), EPD é um


programa de terceira parte, cujo produto final é documento com informações públicas,
de uso mais comum em comércio B-to-B (business to business), mas também pode ser
utilizado em B-to-C (business to consumer). O EPD serve como uma ferramenta de
avaliação de desempenho setorial, cujo escopo é o mais próximo da avaliação do ciclo
de vida, mas que também pode conter informações ambientais relevantes ao produto
que vão além do escopo da ACV.

As EPD’s são baseadas em princípios inerentes às normas ISO 14025 e ISO 21930,
garantindo ampla aceitação internacional.

Além disso, os programas de declaração ambiental Tipo III não possuem a intenção de
comparar e hierarquizar produtos dentro de uma mesma categoria de funcionalidade,
porém os consumidores podem fazer uso dessas declarações e definir programas de
compras verdes. Se esses consumidores atingirem nível internacional, tais declarações
podem (supostamente) ser utilizadas como critérios para barreiras comerciais não
tarifárias.

De acordo com o Referencial GBC Brasil Casa (2014), o processo de EPD acontece da
seguinte maneira:

1. O fabricante deve procurar por regras de categorias de produtos existentes


para a sua categoria de produto (também conhecido como o tipo de
produto). Se o PCR não existir, os fabricantes devem trabalhar com um
operador de programa para reunir um grupo e desenvolver regras de
categoria de produtos para o determinado tipo de produto. Esse processo
inclui proposta, plano de criação, consulta pública, painel de revisão,
aprovação e publicação das regras de categoria para o produto.

2. O fabricante realiza uma avaliação do ciclo de vida com base em metas do


produto e unidade funcional, potencial de aquecimento global, demanda
de energia primária, contribuição para a acidificação e eutrofização, e
outros indicadores ambientais.

93
UNIDADE II │ MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

3. O fabricante cria a EPD utilizando essas informações e inicia a verificação


por uma terceira parte, que determina se a ACV seguiu corretamente as
normas ISO e se a EPD foi criada de acordo com o PCR.

4. O fabricante registra a declaração com um operador de programa, que


verifica a EP de acordo com os padrões da ISO. Exemplos de operadores
de programas incluem UL Environmental, ICC-ES, ASTM, NSF, FP
Innovations, Institute for Environmental Research and Education, entre
outros.

Figura 46.
Comissionamento
(individual ou em grupo)

Implementação

Coleta de dados do Regras de


Verificação PCR
Invetário do Ciclo categoria de
(terceira parte)
de Vida poduto

Análise do
Ciclo de Vida

EPD
(operador do Programa)

ou
Verificação EPD Verificação DAP
(Operador Programa) (terceira Parte)

Publicação
(Operador do Programa)

Fonte: Referencial GBC Brasil Casa, ed. 2014.

94
MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS │ UNIDADE II

Veja a seguir como é o resultado final de uma EPD.

Figura 47.

Fonte: interface.com - <http://interfaceinc.scene7.com/is/content/InterfaceInc/Interface/Americas/WebsiteContentAssets/


Documents/Technical/EPDTransparencySummaries/NexStepNylon66/wc_epdtransnexstepnylon66jan2015-2.pdf>.

95
UNIDADE II │ MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

A EPD deve informar:

»» Identificação do produto e empresa.

»» Quem é o responsável por operar o programa (no Brasil cabe ao Inmetro).

»» Regra de categoria do produto que foi pautado o estudo.

»» Data de verificação e validade.

»» Módulos de informação utilizados.

»» Informações de ACV.

»» Referência de onde buscar informações adicionais.

Indicação de que foi verificada por organismo


de terceira parte
Informações de competitividade, propriedades intelectuais e outras restrições
geralmente são mantidas sob sigilo.

Comparação EPD x Certificação Ambiental de Produto


Declaração Ambiental do Produto EPD Certificação de Produto Sustentável
Dados com foco ambiental Foco no tripé da sustentabilidade
Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) requerido Multiatributo baseado em ciclo de vida (ACV opcional)

PRC fornece as regras de criação e relato do ACV e EPD Normas definem os critérios, métricas e níveis de sustentabilidade

Sumariza os impactos ambientais Ranqueia produtos com critérios de sustentabilidade

Relatório técnico verificado de forma independente Certificação independente de produto geralmente classificada em
ranking

Fonte: Própria autora.

Portanto, o mais recomendado é buscar selos ambientais que sejam auditados por
terceira parte (rótulo tipo I), mas acima de tudo que se de preferência aos programas
de declaração ambiental do produto (EPDs).

Greenwashing

Desde que começamos a comprar produtos em supermercados, as embalagens


se tornaram o principal meio de comunicação. Sem a presença do vendedor para
comunicar todos os benefícios e história do produto, a embalagem é essencial para que

96
MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS │ UNIDADE II

essas informações sejam passadas de forma correta na hora da venda e possibilite a


escolha do produto.

Hoje, com os consumidores cada vez mais conscientes, essa comunicação deve ser
feita de forma sincera e responsável, caso contrário o produto vai passar a imagem de
mentiroso e as vendas poderão cair.

Cabe aos consumidores também ficarem mais atentos com relação ao greenwashing.
Por outro lado, muito fabricantes praticam o greenwashing por má-fé, mas há uma
grande parcela que pratica por falta de conhecimento e instrução adequada sobre como
comunicar os atributos do produto.

Greenwashing significa o ato de induzir o consumidor ao erro quanto às práticas


ambientais de uma empresa ou aos benefícios ambientais de um produto ou serviço. A
tradução literal seria uma “lavagem verde”.

Os sete pecados do greenwashing:

1. Custo ambiental camuflado 


Ação econômica que visa à resolução de um problema, mas acarreta outro, obrigando
uma escolha. Ocorre quando uma questão ambiental é enfatizada em detrimento de
preocupações mais sérias. Por exemplo, o papel não é necessariamente preferível do
ponto de vista ambiental apenas porque sua origem é de floresta de manejo sustentável.


2. Falta de provas 


Acontece quando as afirmações ambientais não são apoiadas por elementos de prova
ou de certificação. Um exemplo comum são as embalagens que trazem informações
sobre as percentagens de conteúdo reciclado, sem fornecer qualquer detalhe. 


3. Incerteza 


Ocorre quando a chamada do produto é tão carente de particularidades como sem


sentido. “Natural” é um exemplo desse pecado. Arsênio, urânio, mercúrio e formaldeído
são todos naturais e venenosos. “Natural” não é necessariamente “verde”. 


4. Culto a falsos rótulos 


Quando a empresa cria uma falsa sugestão ou uma imagem parecida com certificação
para induzir os consumidores a pensarem que um produto passou por um processo de
certificação de produto verde. 


97
UNIDADE II │ MATERIAIS E TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

5. Irrelevância

Este pecado surge quando um problema ambiental não relacionado ao produto é


enfatizado. Um exemplo é a alegação de que um produto é “isento de CFC,” uma vez
que o uso dos CFCs é proibido por lei.

6. O “menos pior”

Ocorre quando a chamada do produto afirma ser “verde” sobre uma categoria de produto
que não tem benefícios ambientais. Cigarros orgânicos é um exemplo desse pecado.

7. Mentira

Quando as alegações ambientais são falsas. Um exemplo comum é afirmar falsamente


serem produtos com certificação de economia de energia.

No Brasil não há um órgão específico que regule a rotulagem ambiental, mas a Associação
Brasileira de Embalagem (ABRE) lançou uma cartilha com diretrizes baseadas na
norma ISO 14021 que visa padronizar a rotulagem ambiental aplicada às embalagens.

Duas reportagens exibidas pelo programa Cidades e Soluções:

<http://g1.globo.com/globo-news/cidades-e-solucoes/videos/v/cidades-e-
solucoes-confira-o-segundo-programa-sobre-a-maquiagem-verde/4884544/>.

<http://g1.globo.com/globo-news/cidades-e-solucoes/videos/v/cidades-
e-solucoes-conheca-produtos-que-utilizam-a-maquiagem-verde-no-
brasil/4867432/>.

98
POLÍTICAS
PÚBLICAS E UNIDADE III
LEGISLAÇÃO

CAPÍTULO 1
A importância do engajamento
governamental e barreiras encontradas
na promoção da construção
sustentável

O engajamento do governo é fundamental em qualquer processo de transformação,


seja pelos incentivos e abatimentos fiscais, políticas públicas e bons exemplos. Por meio
da promulgação de leis de cunho mandatório, leis de incentivos fiscais, administrativos
e financeiros, o governo pode direcionar o mercado para padrões mais elevados.

O governo, seja ele federal, estadual ou municipal, detém e administra um grande


percentual das edificações construídas. Além disso, é um poderoso contratante de
reformas e novas construções, podendo praticar esses conceitos em suas construções e
impulsionar a transformação do mercado.

Um dos exemplos que evidencia o governo como um dos principais contratantes da


construção civil nos últimos 10 anos são os projetos públicos em andamento, nos quais
o governo aportou grandes investimentos em infraestrutura, por exemplo, o Programa
de Aceleração do Crescimento e Programa Minha Casa Minha Vida.

O governo também possui fortes meios para promover políticas e campanhas de


conscientização mediante os diversos veículos de mídia.

Embora grandes obras, tais como Copa do Mundo e Olimpíadas, apontadas como
potenciais alavancadoras da economia (construção, turismo, infraestrutura, entre
outras) tenham sido, em sua maioria, construídas seguindo uma série de práticas
sustentáveis, às vezes até buscando Certificações ambientais, hoje se sabe que a gestão
da verba púublica não foi feita da forma correta.

99
UNIDADE III │ POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO

Embora o Governo seja fundamental para dar bons exemplos, a corrupção desmotiva a
população e reduz o nível de confiança, diminuindo os investimentos no país.

A construção sustentável é um meio bastante eficaz para gerar dinheiro em caixa para
o governo. É relativamente fácil e rápido economizar energia e água nas edificações,
sendo que é muito mais barato investir em economia de energia do que investir em
aumento de produção energética. Considerando ainda que 42% da energia produzida
no Brasil é consumida pelos edifícios de uma forma muito ineficiente, vislumbra-se
um setor de alto potencial para investimentos promissores em eficiência energética
com taxas de retornos no investimento médio de 4 anos, além de benefícios diretos e
indiretos.

A cada US$1Milhão gastos em retrofit são gerados 5 empregos diretos e 5 empregos


indiretos (Fonte: NRDC Center for Market Innovation).

Barreiras
As duas principais barreiras para o desenvolvimento da construção sustentável no Brasil
são a falta de conhecimento público sobre o assunto e a falta de pressão regulatória.

A falta de informação ou a disseminação de informações erradas acerca dos benefícios


da construção sustentável, dos seus custos e dos dados de impactos ambientais, além
da falta de conhecimento sobre a aplicabilidade de novas tecnologias e fazer com que
as tecnologias sejam difundidas são a principal barreira. Um estudo realizado pelo
Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (capítulo 6,
Unidade I) aponta que os profissionais da construção civil desconhecem os verdadeiros
custos envolvidos em construções sustentáveis. Muitos acreditam que o acréscimo na
fase de construção é de 30%, enquanto na realidade varia de 1 a 5%. Em termos de
emissões de CO2, acreditam que são responsáveis por 19% das emissões do planeta,
enquanto que a ONU considera 40%.

Já a falta de pressão regulatória está praticamente ligada à questão de falta de informação


e é apontada como o principal gatilho para fazer com que o mercado se alavanque. Os
seja, fica clara aqui a cultura brasileira de que as coisas só acontecem quando passam a
ser obrigatórias, sob pena de multas.

Desta forma, a falta de informação aliada à pressão regulatória – somadas a outros


fatores como a visão de curto prazo e a falta de políticas publicas – são a combinação
perfeita para a formação de barreiras ao desenvolvimento da construção sustentável no
Brasil.

100
POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO │ UNIDADE III

Para vencer essas barreiras, são necessários treinamento e capacitação dos profissionais
do setor, introduzindo informações acerca dos verdadeiros dados de impacto ambiental
e social, retornos econômicos, sociais e ambientais da construção sustentável, práticas,
conceitos, materiais, tecnologias e metodologias de construção sustentável.

É fundamental que a informação chegue aos profissionais desde o momento da


graduação, contribuindo para formação de senso crítico e capacitação. O ideal seria
que a sustentabilidade não fosse somente mais uma matéria na formação dos novos
profissionais, mas, sim, que fosse horizontal a toda grade curricular, ou seja, não deveria
existir, e propor e executar novos projetos se não fossem levando adotando práticas de
sustentabilidade.

Em termos de conscientização e convencimento de que a visão de curto prazo é


extremamente danosa e obsoleta ao governo, estudos acerca da redução dos custos
operacionais, estudos de pay back e avaliação do ciclo do custo também devem ser
considerados.

Outra barreira não tão importante quanto as demais, mas que cabe ser levantada,
é a falta de comunicação entre os profissionais envolvidos na concepção de um
empreendimento, uma vez que essa falta de comunicação por vezes inibe a implantação
de práticas de maior eficiência. Neste caso, o processo de certificação de edificações
consegue auxiliar com muita facilidade, uma vez que obriga a comunicação entre todos
os envolvidos. Manuais e guias sobre construção sustentável também são um fator que
auxilia nesse processo.

Conceitos e definições:

»» Política pública: trata-se de um conjunto de ações, metas e planos que


visam ao atendimento do bem comum. Tendo em vista as diversas
forças que integram um Estado, as políticas públicas devem ser
definidas incluindo a discussão com organizações não governamentais,
associações de classes, setor acadêmico e iniciativa privada. Tendo em
vista a multiplicidade de interesses que encontramos na sociedade,
nem sempre uma política pública será de interesse unânime, podendo
encontrar divergências da maioria ou minoria. 


»» As políticas públicas são bases para a elaboração de legislação nas três


esferas de governo que abordam temas destacados por uma política
pública ou visam tornar práticas, exequíveis e cogentes as disposições
definidas pela política e sancionada pelo governo. 


101
UNIDADE III │ POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO

»» Leis mandatórias: aquelas que obrigam a observância de certa prática


ou comportamento, não deixando qualquer faculdade ao indivíduo. A
aplicação e o respeito são obrigatórios. Importante ressaltar que o teor
de sua sanção definirá sua força e respeitabilidade. 


»» Leis de incentivo: são aquelas que oferecem uma vantagem àqueles que
passarem a observar determinado comportamento. Antes da determinação
de um incentivo, o legislador vislumbra ações ou práticas que merecem
ser estimuladas, tendo em vista o grande benefício que resultam para
a sociedade. Em matéria de sustentabilidade, 
 inúmeras são as áreas
e disposições federais que elencam e permitem o estabelecimento de
incentivos com foco em diminuição de impactos ambientais, tratamento
de resíduos, eficiência energética etc. Os incentivos podem assumir um
caráter administrativo, tributário ou financeiro.

»» Regulamentação técnica: estabelece requisitos técnicos, seja por


referência, seja por incorporação de conteúdo técnico ou especificação
técnica. Há a determinação de meios para a obtenção de padrões técnicos
mínimos, julgados satisfatórios para obter uma conformidade. Os
benefícios das normas técnicas são economia, aumento da confiabilidade
das relações comerciais e de serviços, proteção à vida humana e à saúde,
proteção ao consumidor e eliminação de barreiras técnicas e comerciais.

Exemplos de iniciativas e políticas públicas

Como vimos, a construção sustentável, no Brasil, além de ser considerada um assunto


relativamente novo (embora seja amplamente aplicada desde 2007), também não possui
regulamentações e são poucas ainda as iniciativas públicas e políticas que incentivem
que as mencionem. Praticamente todos os países da Europa ocidental possuem políticas
públicas relacionadas ao tema. Somente nos Estados Unidos já são mais de 100 políticas
públicas federais, estaduais ou municipais que mencionam a Certificação LEED.

O governo de Nova Iorque foi o primeiro a promover práticas ambientais de edifícios


por meio de um pacote de incentivos fiscais. O crédito permite aos construtores que
alcançam objetivos energéticos e utilizam materiais sustentáveis reaverem até US
$3.75 por metro quadrado das áreas interiores e US$7.50 por metro quadrado das
áreas exteriores sobre a sua situação fiscal estadual. Com a compensação desses custos
iniciais, o crédito fiscal colabora para tornar mais acessível o investimento de empresas,
proprietários e inquilinos para a construção de um futuro mais limpo e saudável. 


102
POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO │ UNIDADE III

No Brasil, o Senado Federal criou uma cartilha sobre edifícios públicos sustentáveis
que aborda temas específicos como a questão das compras sustentáveis e a importância
de o gestor público conhecer o conceito das construções verdes. A publicação também
mostra como os investimentos em sustentabilidade podem se reverter em economia
para o órgão público.

São alguns exemplos de políticas públicas no Brasil:

»» Política Nacional de Mudanças Climáticas, Lei Federal no 12.187/2009.

»» Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei Federal no 12.305/2010.

»» Política Municipal de Mudanças Climáticas, Lei no 14.933/2009, do


município de São Paulo. Tem o objetivo de garantir o comprometimento
da cidade de São Paulo com as metas definidas pela Convenção Mundial
sobre o Clima das Nações Unidas, pretende criar um cenário de controle
das emissões de CO2 na atmosfera em níveis que não alterem ou interfiram
no clima. A política versa sobre diversas áreas da cidade em matéria de
construção. O município elenca macrotemas da construção sustentável
como eficiência energética, qualidade e eficiência de materiais e qualidade
ambiental interna. Também enfatiza a importância de forçar a adaptação
de conceitos de eficiência às edificações existentes.

»» Em relação a leis de cunho mandatório que obriga o respeito a certo


comportamento, sob pena de sanções, destaca-se o ordenamento
do município de Curitiba, pioneiro em obrigar que as construtoras
apresentem um plano de mitigação e correta destinação dos resíduos
sólidos durante a construção sob pena de não conseguir adquirir o alvará
para ocupação e comercialização do empreendimento. Hoje referida
questão tornou-se mandatória em nível nacional com disposição no art.
20 da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que diz: “Estão sujeitos
à elaboração de plano de gerenciamento de resíduos sólidos: III – As
empresas de construção civil”.

»» Em São Paulo, o Decreto Municipal no 49.148/2008 regulamenta a Lei no


14.459/2007, sobre a necessidade de instalação de painéis solares para
aquecimento da água em novas edificações com mais de 4 banheiros por
apartamento.

»» Também em São Paulo, a Lei no 14.018/2005 institui o Programa


Municipal de Conservação e Uso Racional de Água em Edificações,

103
UNIDADE III │ POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO

estabelecendo que os bens imóveis do município bem como os locados


deverão se adaptar no prazo de 10 anos.

»» Em Recife, a Lei Municipal no 18.112/2015 prevê o plantio de gramas,


hortaliças, arbustos e árvores de pequeno porte nas lajes dos edifícios.
O objetivo do projeto é aumentar as áreas verdes e diminuir os efeitos
do calor. Além disso, prevê a construção de reservatórios para captação
de água da chuva, em novos imóveis residenciais e comerciais, com área
de solo acima de 500 metros quadrados e que tenha 25% do terreno
impermeabilizado. A água da chuva obtida por meio do reservatório de
acúmulo pode ser utilizada para regar as plantas ou lavar calçadas, por
exemplo. O reservatório de retardo ajuda a drenagem da cidade a fim de
diminuir alagamentos nas ruas. A prefeitura também sancionou a Lei no
18.111/2015, para ampliar as áreas verdes ao redor de parques e praças.
Os novos empreendimentos para terrenos, ao redor de 340 praças e
parques de Recife, terão que manter um recuo de dois metros na parte da
frente dos edifícios para arborização.

»» No Piauí foi sancionada a Lei no 6.888, que obriga a adoção de medidas


sustentáveis na construção civil. De acordo com o texto da lei, o objetivo
é assegurar a proteção do meio ambiente mediante a determinação do
emprego de técnicas sustentáveis nas obras construídas pelo poder
público estadual. Entre as medidas estão economia e reutilização da água,
eficiência energética, gestão dos resíduos sólidos, permeabilidade do solo,
uso de energia solar por placas fotovoltaicas, coberturas verdes quando
o ambiente permitir, além de dar preferência a materiais compostos de
substâncias não tóxicas e não utilizar insumos que possam poluir o meio
ambiente ou cuja produção seja ecologicamente imprópria.

»» Em nível federal, destaca-se a Instrução Normativa no 1/2010, do Ministério


do Planejamento, que passa a regular critérios de sustentabilidade para a
compra de produtos e serviços e contratação de obras nas edificações da
administração pública federal.

»» Resolução Normativa ANEEL no 482/2012: permite produção de energia


elétrica a partir de pequenas centrais com fontes renováveis (hidráulica,
solar, eólica, biomassa ou cogeração), conectadas à rede de distribuição
por meio de instalações de unidades consumidoras. O consumidor paga
somente a diferença entre a energia consumida da rede e a que foi gerada

104
POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO │ UNIDADE III

por ela, mais incidência de impostos (PIS, COFINS e ICMS) sobre toda a
energia consumida.

»» Atualmente, a autoridade pública competente pela elaboração do


caderno de encargos para a licitação de uma obra pública em edificações
da administração federal está obrigado a considerar o uso de ventilação
natural, uso mecânico de refrigeração somente nos lugares onde a
ventilação natural não atingiu desempenho mínimo de conforto,
automação do sistema de iluminação (projeto de iluminação, sensores
de presença, monitoramento etc.), uso exclusivo de lâmpadas eficientes
ou fluorescentes, uso de painéis solares para aquecimento da água,
medidores individuais de água, tratamento e reuso de água, captação de
água de chuva, uso de materiais reciclados, recicláveis ou biodegradáveis;
uso de madeira legal ou certificada; sempre que possível, uso de materiais,
tecnologias e mão de obra local; projeto de gerenciamento de resíduos,
quando existente; todos os projetos relativos à edificação devem respeitar
as normas do INMETRO e o construtor tem de comprovar que sua
empresa adota práticas de reuso e reciclagem de resíduos da construção.

»» O Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEE), que foi instituído


pelo Ministério de Minas e Energia e contém uma série de metas para
a economia de energia no país até 2030. Entre elas, encontra-se a
compulsoriedade aplicada às edificações públicas até 2020, comerciais e
de serviços até 2025 e residenciais até 2030. Para as edificações públicas
federais, a compulsoriedade já é obrigatória para novas construções e
reformas por meio da Instrução Normativa no 2/2014 do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG).

»» Portaria INMETRO no 100 07.04.16 – Sistema Brasileiro de Avaliação da


Conformidade (SBAC): o “Programa Voluntário de Rotulagem Ambiental
Tipo III – Declaração Ambiental de Produto (DAP)”.

Incentivos fiscais e outras iniciativas

Além de entender as oportunidades em termos de vantagens à construção sustentável,


os incentivos demonstram uma forte tendência de qual será a diretriz dada ao mercado
pelo governo.

Atualmente, a construção sustentável no setor de edificação comercial de alto padrão


está de certa forma consolidada, certo que deixa de ser diferencial e torna-se demanda

105
UNIDADE III │ POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO

de mercado. Praticamente todos os novos empreendimentos comerciais de alto padrão


nas principais capitais do país já consideram as práticas de construção sustentável como
valor estratégico importantíssimo de seus empreendimentos. Todavia, em se tratando
de edificações residenciais, ainda temos muito que evoluir. Nesse caso, incentivos
fiscais, como o IPTU Verde, conseguirão alavancar a conscientização nesse setor até
mesmo por viabilizar economicamente soluções dentro do curto prazo. Vejamos:

O projeto de instalação de ótimos equipamentos para a captação de água de chuva,


quando orçado para um prédio comercial ou galpão industrial, varia de R$50.000,00
a R$60.000,00, sendo que o pay back é de 2 anos ou menos. Já para residências, o
referido projeto custa em média R$6.000,00, mas por conta da superfície menor de
captação e baixo consumo, comparado a um empreendimento comercial, o pay back
gira em torno de 5 anos. Com incentivos fiscais ou financeiros, conseguimos diminuir
sobremaneira esse estudo de viabilidade meramente econômica de modo a apresentar
resultados no curto prazo.

Um dos exemplos mais louváveis de incentivo fiscal à construção sustentável é o


chamado IPTU Verde, uma solução adotada mundialmente em locais como Berlim,
Dublin, Helsinque, Medellín e Bogotá. No Brasil, já foi adotado em 55 municípios como
Guarulhos, Salvador, Manaus, Maringá e Sorocaba.

Em cada município o texto legal difere, porém a ideia central é a concessão de um


desconto significativo no valor do IPTU quando o proprietário do imóvel passa a adotar
práticas de construção sustentável.

Em São Paulo existe um projeto de lei que propõe conceder até 12% de abatimento no
IPTU. A iniciativa tem o objetivo de estabelecer medidas de recuperação e preservação
do meio ambiente, por meio da concessão de benefício tributário ao contribuinte, de
acordo com o grau de certificação do empreendimento, e prevê três faixas de desconto:
4%, 8% e 12%.

De acordo com o projeto, o incentivo deverá ser concedido durante oito anos, valendo
para novos empreendimentos comerciais, residenciais e mistos, imóveis que passarão
por obra de reforma/retrofit ou ampliação da edificação. A estimativa, de acordo com a
Secretaria Municipal de Finanças, é que, quando sancionada, a lei beneficie entre 500 e
1.000 empreendimentos por ano.

Ainda, o Plano Diretor Municipal prevê diretrizes para política ambiental e, em seu
artigo 195, estimula as construções sustentáveis. Destinado a apoiar a adoção de técnicas
construtivas, o plano estabelece medidas como racionalização do uso de energia e água,

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POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO │ UNIDADE III

gestão sustentável de resíduos sólidos, aumento da permeabilidade do solo, entre


outras práticas.

Um novo projeto de lei, PLS no 252/2015, proposto pelo Senado e já aprovado pela
Comissão do Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA),
segue para o plenário. De acordo com a propostas, as novas edificações de propriedade da
União devem adotar medidas que reduzam impactos ao meio ambiente e sejam viáveis
nos quesitos técnicos e financeiros. O texto, apresentado pela Comissão de Direitos
Humanos e Legislação Participativa (CDH), além de determinar a utilização de práticas
sustentáveis na construção, propõe a divulgação dessas práticas à população. Ele
poderá ser incluído como diretriz na política urbana prevista no Estatuto das Cidades.
Dentre as propostas do texto original está a utilização de telhados verdes e sistemas
de reaproveitamento da água da chuva. Segundo as idealizadoras do projeto, a adoção
de padrões sustentáveis nas construções contribuirá para a redução de problemas
decorrentes de mudanças climáticas.

Depois de aprovar a obrigatoriedade de telhados verdes para novas construções, Recife


discute a adoção de um selo verde para certificar construções sustentáveis que adotarem
medidas para consumir menos água, energia e aumentarem a cobertura vegetal, entre
outras coisas. A proposta da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SMAS)
é calcada em quatro pontos: eficiência energética, cobertura vegetal, reuso de água e
suportes à mobilidade urbana (bicicletário, banheiros com chuveiros na área comum
de prédios etc.). Como referência, o Recife se espelhará no modelo de Belo Horizonte
(MG), implantado em 2012, para empreendimentos públicos e privados, chamado de
BH Sustentável.

O Conselho Municipal do Meio Ambiente (COMAM) do município de Belo Horizonte,


por meio da DN 66 e da Portaria SMMA no 6/2012, instituiu o Programa de Certificação
em Sustentabilidade Ambiental, destinado aos empreendimentos públicos e privados
no município de Belo Horizonte. Esse Programa tem por finalidade estimular a
prática de processos mais sustentáveis no que diz respeito aos efluentes gerados
– sejam sólidos, líquidos ou gasosos – ao tratamento e/ou reuso desses efluentes, à
eficientização do consumo de água e energia e aos materiais de construção utilizados nos
empreendimentos. Os empreendimentos certificados receberão os selos Bronze, Prata,
Ouro, de acordo com o número de dimensões certificadas. Haverá ainda um certificado
de boas práticas ambientais para aqueles empreendimentos que implementarem
medidas de sustentabilidade, mas não alcançarem os índices mínimos estabelecidos
para a certificação em cada área temática.

107
UNIDADE III │ POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO

A prefeitura do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU),


desenvolveu a certificação das construções sustentáveis por meio do Qualiverde,
criado pelo Decreto no 35745, de 6 de junho de 2012, com o objetivo de incentivar
empreendimentos que contemplem ações e práticas destinadas a reduzir os impactos
ambientais. O programa será completo com um conjunto de leis que inclui benefícios
fiscais e edilícios para os empreendimentos qualificados, mas que ainda não foram
aprovados.

A qualificação é opcional e aplicável aos projetos de edificações novas e existentes, de


uso residencial, comercial, misto ou institucional. O certificado será concedido aos
empreendimentos seguindo critérios de pontuação. Aquele que atingir no mínimo 70
pontos será classificado como Qualiverde, e o que atingir 100 pontos receberá o selo
Qualiverde Total.

Métrica comum de quantificação da redução de


carbono

Em nível internacional, uma das ações que promete grandes avanços ao mercado da
construção sustentável global é a iniciativa da UNEP, braço ambiental da ONU, que
criou um programa chamado Sustainable Building Construction Initiative <www.
unep.org/sbci>. Uma das metas do programa é aprovar uma métrica comum que
consiga quantificar a redução de emissões de CO2 em uma edificação classificada como
sustentável. Com a aprovação dessa métrica, será possível pleitear o crédito de carbono
em um green building.

Para alcançar essa métrica comum, o SBCI tenta realizar um estudo comparativo com
diversos sistemas de certificações, além de viabilizar uma ferramenta global de análise
de ciclo de vida de materiais. Os desafios são grandes, mas havendo êxito nas tratativas,
a contrapartida financeira para o pleito do crédito de carbono em projetos de construção
sustentável alavancará exponencialmente este setor ao nível mundial.

Links Úteis:

<www.cbcs.org.br>.

<www.gbcbrasil.org.br>.

<www.planalto.gov.br>.

108
Referências

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BIDERMAN, R; MACEDO L. S. V; MONZONI, M.; MAZON, R. Guia de compras


públicas sustentáveis. Rio de Janeiro: FGV, 2006.

BRENNAN, Andrew. Thinking about nature: an investigation of nature, value, and


ecology. University of Georgia Press, 1988.

BALLARD BELL, Victoria; RAND, Patrick. Materials for design. New York,
Princeton: data.

BROWNELL, Blaine. Transmaterial 2: a catalog of materials that redefine our


physical environment. Local: editora, ano.

BUCHANAN, Peter. Ten shades of green architecture and the natural world.
New York, The Architectural League of New York, 2005.

BURSZTYN, M. (Org.). Para pensar o desenvolvimento sustentável. São Paulo:


Brasiliense, 1993.

CAPRA, F. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996.

COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS. 18 a 21 de novembro de 1997, Canela. Editor Miguel


Sattler,

DINIZ, M. H. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1999.


MASCARÓ, Juan Luís. Consumo de energia e construção de edifícios. São


Paulo: SECOVI, 1981.

McDONNOUGH, William; BRAUMGART, Michael. Cradle to cradle. New York:


North Point Press, 2002.

New home construction, green building guidelines. Disponível em: <www.co.contra-


costa.ca.us>, 2005

PAPANECK, V. The green imperative – ecology and ethics in design and architecture.
London: Thames and Hudson, 1995.

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REFERÊNCIAS

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industriais. São Paulo: Edusp, 2001. 254 p.

Sites
<http://www.anggulo.com.br/madeira2015/downloads/pub_pdf_Cenario_de_
madeira_FSC_Brasil.pdf>.

<http://sindimasp.org.br/conteudo/download/cartilha_eletronica.pdf>.

<http://vanzolini.org.br/rgmat/rg-mat/>.

<http://www.abntonline.com.br/sustentabilidade/Rotulo/Default>.

<http://www.ifbauer.org.br/sustentabilidade/selo-ecologico-falcao-bauer-1>.

<http://www.greenseal.org/GreenGovernmentsandNonprofits/
EnvironmentallyPreferablePurchasing/Anecolabelabove.aspx>.

<http://www.cbcs.org.br/_5dotSystem/userFiles/MMA-Pnuma/Aspectos%20
da%20Construcao%20Sustentavel%20no%20Brasil%20e%20Promocao%20de%20
Politicas%20Publicas.pdf>.

<https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ve
d=0ahUKEwixifuRrMbOAhUEDpAKHRvzBp4QFggeMAA&url=http%3A%2F%2
Fwww.procelinfo.com.br%2Fservices%2FDocumentManagement%2FFileDownlo
ad.EZTSvc.asp%3FDocumentID%3D%257B2D48CBEC-8B4C-453D-9194-84EE
E808665D%257D%26ServiceInstUID%3D%257B46764F02-4164-4748-9A41-
C8E7309F80E1%257D&usg=AFQjCNGhDF7nscPYF-EEXg-bdH3CXjIkkw>.

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