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Quero viver o sonho de ser uma agente transformadora da sociedade, pois acredito nas
diferentes potencialidades das pessoas, independente de idade, sexo, gênero, classe social,
condição física e/ou mental, religião ou ideologias políticas. Acredito, também, que através de
nossa comunhão mudaremos o mundo que nos cerca, pois a partir da soma de nossas
diversidades culturais multiplicaremos os bons exemplos com respeito, amorosidade,
humanização, fé nos homens, esperança, criticidade e sensibilidade, e obteremos como resultado
a formação de cidadãos autônomos, dialógicos, democráticos e humanos.
Mas como alcançarei meus objetivos?
Esta pergunta me persegue já há algum tempo, desde quando eu era criança pequena lá
em Araçatuba, interior do Estado de São Paulo. Desde então, minha percepção crítica do mundo
só aumenta: por que devo fazer o que o outro me diz? Qual a lógica disso? A verdade é minha ou
de quem me fala? Assim, por muito tempo eu me sentia alienada nesta sociedade consumista,
meritocrata, arrogante, hipócrita e desumana. Mas agora eu consigo ler a realidade. Estamos
vivendo na era das informações, onde a mídia nos bombardeia com as transformações
econômicas acerca da globalização com inovações tecnológicas, produtivas e competitivas e a
consequente marginalização social, que corroboram com a segregação de classes, a submissão
ao sistema capitalista e a perda dos valores e princípios do SER humano. Hoje, a educação está
programada para formar objetos, para (re)produzi-los e para despejá-los no mercado de trabalho.
Enfim, a educação é para o cidadão TER. Por exemplo, colecionamos certificados, pois nossas
habilidades não garantem em si mesmas, e nem mesmo com os diplomas, uma vaga de emprego.
Vemos profissionais altamente capacitados (com especializações nacionais e/ou internacionais do
tipo: mestrado, doutorado, pós-doc, com diversas capacitações particulares e cursos para
formações complementares) em sua maioria desempregados! Destes, alguns tem oportunidades
em áreas não relativas à sua formação, ganhando menos que suas expectativas, para a sua
manutenção. Chegamos a tal ponto, onde empregadores não contratam profissionais qualificados
devido aos altivos encargos salariais, restringindo-se, quando muito, a cidadãos diplomados. É o
contrassenso da meritocracia neoliberal: tanta formação para TER, mas o que realmente nos
oferecem?
No senso comum eu valho pelo o que eu tenho. Mas, e o que eu sou?
Com base do pensamento de Paulo Freire (1921 - 1997), eu sou um sujeito capaz de
despertar essa real alienação social, porque eu acredito, assim como ele e tantos outros filósofos,
que é por meio de uma educação cidadã que ocorrerá a formação de pessoas capazes de
desvendar, de forma autoral, o mundo em que vivem para inspirar e transformar a sociedade,
utilizando as mais diferentes formas linguísticas para expressar suas convicções e sentimentos,
bem como suas mãos e mentes para a realização de atividades concretas, cheias de
cumplicidade, ternura e criatividade, para que efetivamente possamos transcender as
contingências histórico-sociais. Isto porque nos dias atuais é preciso saber extrair conhecimentos
relevantes das informações que nos rodeia, aprendendo e ensinando de maneira colaborativa,
não nos subordinando aos determinismos do sistema, e desenvolvendo, sobretudo, novas
habilidades para superarmos essa forma de ensino inventada por uma sociedade autoritária,
déspota, desigual e desumana. Assim, a filosofia freireana é caracterizada pela boniteza do
ensino problematizado do cotidiano como sendo aquele saber estratégico para a emancipação do
cidadão, pois este domínio possibilitará aos diferentes segmentos sociais instrumentalizar-se,
melhorando suas condições na luta pela superação do modo de produção capitalista. Na minha
leitura ainda, Freire nos diz que só alcançaremos nossa utopia se começarmos a praticar o que
pensamos, queremos e sentimos. Desta forma, se eu gosto ou não de alguma coisa que
aconteceu, eu digo! Se eu tenho uma ideia contra ou a favor de determinado assunto, eu digo! Se
eu tenho uma manifestação de sentimentos em mim, eu digo! Isso tudo de forma amorosa,
coerente, justa, pois estou conversando (dialogando) com meu semelhante. O mau dos séculos é
que ninguém conversa, não trocam elogios, nem bom dia, só guardam rancor, amarguras e
brigam por questões ridículas! Devemos nos desapegar dos materiais e agarrar nossos parceiros
e aliados, onde os direitos e os deveres da cidadania sejam respeitados e vivenciados para
sermos humanos e comunharmos em uma grande família.