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A Arte de Contar Histórias - Curso Livre - UNIGRAN / 2015

Módulo
Pequenos Contos
Grandes Histórias

Caros(as) alunos(as),

No nosso último módulo de nosso curso veremos fragmentos de textos,


contos e poesias . Vamos praticar um pouco?

• Pequenos textos, grandes histórias

Esperamos que através do curso vocês tenham assimilado um pouco mais


sobre a Literatura Infantil e a forma de trabalhá-la por meio da Contação
de Histórias.
Qualquer dúvida, contatem-nos através do quadro de avisos, ok?

Olá cursistas!
Em nossa última aula, procuraremos trabalhar a prática da Contação
de Histórias!
Passaremos a apresentar fragmentos de textos de Literatura Infantil
e, posteriormente, propor alguns questionamentos e atividades que poderão
ser trabalhados por vocês. As atividades servirão para você entender como
poderá explorar o texto para posteriormente poder ou Contar a História ou
trabalhar a mesma em sala de aula.
Passemos à leitura então?
Bom trabalho a todos!!!!

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A Arte de Contar Histórias - Curso Livre - UNIGRAN / 2015

Alguns Textos

CONVERSA DE ORELHÃO

Num espetáculo do circo, Maria vê seus pais morrerem ao fazer


um número de trapézio sem rede. Ela fica, então, com a extraordinária
Barbuda. Mas é obrigada a ir viver com a avó mulher rica autoritária e
convencional, que quer fazer Maria esquecer a vida do circo. Barbuda vai
viajar para o sul e despede-se de Maria, por telefone. A conversa já está
demorada demais ...
- Você começou com a professora particular?
- Comecei. Dei aula na quarta, na quinta e na sexta.
- Aí mesmo?
- Não, na casa da professora. É aqui perto. Mas fiquei numa aflição
danada.
- Por quê?
- É que... é que ...
- O quê, Maria?
- Bom, ela cobra um dinheirão. Eu então pedi pra minha avó
comprar uns livros pra ver se eu aprendia sozinha. A minha avó disse que
não. Disse que eu tenho que passar no teste que vão fazer. Disse que eu
já perdi muito tempo no circo. Disse que eu não posso perder mais tempo.
Disse que faz questão de me ver na quarta série, que nem o neto de uma
amiga dela que tem dez anos também. Mas é que... mas é que ...
- Que é, filhinha? Quando a tua fala tranca assim não é bom sinal.
Que que é?
- Barbuda.
- Fala, meu bem.
- já pensou se eu não aprendo nem múltiplo, nem cálculo do
perímetro, nem aquele troço todo?
- Claro que você vai aprender!
- É complicado.
- Você tem cabeça jóia.
- A professora já explicou tudo e eu não entendi nada.
- Você acaba entendendo. Não fica se preocupando muito com
isso, filhinha. Deixa pra lá.
- Mas como é que eu deixo pra lá se todo dia tem aula?
- Bom ...
- E o pior você não sabe.

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Uma mulher fez fila atrás do homem que estava atrás das mocinhas
que estavam atrás do homem que estava danado da vida com aquele
batepapo de Barbuda que não acabava nunca mais. E estava mesmo tão
danado, que não resistiu e cutucou Barbuda com força. Ela se zangou
também:
- Pera aí, Maria, pera aí, tem um fulano aqui criando caso comigo.
Virou pro homem:
- O senhor quer fazer o favor de me deixar falar em paz nesse
telefone?!
O homem acabou de perder um restinho de paciência que tinha
guardado:
- Mas será que a senhora pensa que é só a senhora que quer falar?
Olha a fila, olha a fila! Barbuda apontou o telefone:
- A menina tá com um problema.
- Não é só ela, não: eu tô assim de problema.
- Ela é uma menina fechada, conheço ela desde que nasceu, é
uma menina que fala pouco e ...
- Imagina se falasse muito.
- E agora ela tá desabafando. Isso é raro. O senhor não vai querer
que eu desligue no meio do desabafo, não é?
- O que eu vou querer é que a senhora acabe com essa conversa
de uma vez!
- Acabar como se o senhor não me deixa falar descansada?
- Olha, se a senhora bota outra ficha nessa orelha ...
Mas Barbuda já tinha se virado de novo pro telefone:
- Maria? Fala, filhinha, que pior é esse que eu não sei?
- É que ela dá aula com o pé em cima do cachorro.
- Em cima de quê? Fala mais alto.
- Do cachorro.
- Do quê?
- Dum CACHORRO que vai pra baixo da mesa quando ela começa
a dar aula. Ela diz que ele gosta.
- Gosta de quê?
- Dela botar o pé em cima dele.
- Sei. Mas e daí?
- É que a mesa é pequena. E o cachorro é enorme. E se esparrama
todo. E acaba sempre sobrando um pedaço dele debaixo da minha
cadeira. Eu não posso mexer o pé que, pronto: já esbarro nele. E é só um
esbarrãozinho de nada que ele já levanta num pulo e começa a latir com

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uma voz grossa toda a vida. Eu morro de susto.


- Mas só porque ele late, filhinha?
- Ele late assim indo pra frente, com jeito de que vai morder.
- E a professora não faz nada?
- Só faz psiu. E eu fico o tempo todo pensando onde é que eu vou
botar meu pé.
Barbuda ficou aflita: como é que a menina ia entender a lição se
não tinha onde botar o pé descansada.!
- Escuta, Maria, você já falou com a sua avó?
- Falei, sim. Falei que tinha medo do cachorro.
- E ela?
- Disse que era bobagem.
- Então fala com o Seu Pedro.
- Ele chega tarde, não dá pra conversar. Que que eu faço, Barbuda?
- Pera aí, deixa eu pensar um bocadinho.
O homem da paciência perdida virou pra uma das mocinhas e
apontou pra Barbuda:
- Eu não posso mais falar com ela. Agora se eu falar é pra brigar.
E vou brigar de igual pra igual: ela não usa barba? Fala você.
Mostra o tamanho da fila.
A mocinha era meio tímida, mas como estava também com pressa,
chegou junto de Barbuda, pediu com licença, explicou que tinha uma porção
de gente querendo falar, e todo o mundo com muita pressa. Barbuda ainda
ficou mais aflita:
- Eu sei, moça, mas o que é que eu posso fazer? Tô indo pro sul,
não vou mais ter chance de falar com a Maria de novo, e ela tá com um
problema sério, sabe? Precisa aprender uma porção de coisas complicadas
e não tem onde botar o pé. Segurou o braço da moça. - Aguenta a mão
mais um bocadinho, sim? Por favor. Virou pro telefone. - Escuta, Maria,
você me conhece, não é? Eu acho que é sempre melhor a gente ser franca.
Diz assim pra professora: olha, professora, ou a senhora me dá lugar pra
eu botar o pé descansada, ou eu não dou mais aula. Virou pra moça: - Você
não acha que é isso que ela tem que dizer pra professora?
A moça fez cara de quem não sabe e tirou o braço com jeitinho.
Voltou pra fila e anunciou:
- Acho que a conversa vai longe: a coisa tá meio complicada: é uma
menina que não tem onde botar o pé.
NUNES, Lygia Bojunga. Corda bamba. Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira, 1969. p. 29-37

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Questionário

1) Procure, com elementos do texto, caracterizar as seguintes


personagens:
a) a avó da Maria;
b) o homem da fila;
c) a mocinha da fila;
d) Maria;
e) Barbuda.
2) O texto possivelmente lhe parecerá ao mesmo tempo engraçado
e comovente. Por quê.? Aponte trechos que exemplifiquem as duas
situações.
3) O diálogo do texto é extremamente vivo. O uso da realização
oral da língua é fundamental. Aponte os recursos de expressividade típicos
da língua oral usados no texto.

AS FABULOSAS MEMÓRIAS DA EMÍLIA

Sítio do Picapau Amarelo, onde vivem as personagens criadas


por Monteiro Lobato, Emília, a bonequinha mais extraordinária do mundo,
resolve escrever as suas memórias. Para isso, espera contar com a ajuda
do Visconde de Sabugosa, um sabugo de milho que conversa e tem muita
ciência.
- Escreva bem no alto do papel: Memórias da Marquesa de Rabicó.
Em letras bem graúdas.
O Visconde escreveu: MEMÓRIAS DA MARQUESA DE RABICÓ
- Agora escreva: Capítulo Primeiro.
O Visconde escreveu e ficou à espera do resto.
Emília, de testinha franzida, não sabia como começar.
Emília pensou, pensou, pensou, e por fim disse:
- Bote um ponto de interrogação; ou, antes, vários pontos de
interrogação. Bote seis ... O Visconde abriu a boca.
- Vamos, Visconde. Bote aí seis pontos de interrogação - insistiu a
boneca. Não vê que estou indecisa interrogando-me a mim mesma?
E foi assim que as “Memórias da Marquesa de Rabicó” principiaram
dum modo absolutamente imprevisto.
Capítulo primeiro
????????
Emília contou os pontos e achou sete. - Corte um - ordenou.

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O Visconde deu um suspiro e riscou o último ponto, deixando só


os seis encomendados.
- Bem - disse Emília. Agora ponha um... um... um ... O Visconde
escreveu três uns) assim: 1, 1, 1.
Emília danou.
- Pedacinho de asno! Não mandei escrever nada. Eu ainda estava
pensando. Eu ia dizer que escrevesse um ponto final depois dos seis pontos
de interrogação.
O Visconde começou a assoprar e abanar-se. Por fim disse:
- Sabe que mais, Emília? O melhor é você ficar sozinha aqui
até resolver definitivamente o que quer que eu escreva. Quando estiver
assentado, então me chame. Do contrário a coisa não vai.
- É que o começo é difícil, Visconde. Há tantos caminhos que não
sei qual escolher. Posso começar de mil modos. Sua ideia qual é?
- Minha ideia - disse o Visconde - é que comece como quase todos
os livros de memória começam - contando quem está escrevendo, quando
este alguém nasceu, em que cidade etc. As aventuras de Robinson Crusoé,
por exemplo, começam assim: “Nasci no ano de 1632, na cidade de Iorque,
filho de gente arranjada” etc.
- Ótimo! exclamou Emília. Serve. Escreva: Nasci no ano de ... (três
estrelinhas), na cidade de ... (três estrelinhas), filha de gente desarranjada...
- Por que tanta estrelinha? Será que quer ocultar idade?
- Não. Isso é apenas para atrapalhar os futuros historiadores, gente
muito mexeriqueira. Continue escrevendo: E nasci duma saia velha de tia
Nastácia. E nasci vazia. Só depois de nascida é que ela me encheu de
pétalas duma cheirosa flor cor de ouro que dá nos campos e serve para
estufar travesseiros.
- Diga logo macela que todos entendem.
- Bem, nasci, fui enchida de macela que todos entendem e fiquei no
mundo feito uma boba, de olhos parados, como qualquer boneca. E feia.
Dizem que fui feia que nem uma bruxa. Meus olhos tia Nastácia os fez de
linha preta. Meus pés eram abertos para fora como pés de caixeirinho de
venda.
Eu era assim. Depois fui melhorando. Hoje piso para dentro.
Também fui melhorando no resto. Tia Nastácia foi me consertando, e
Narizinho também. Mas nasci muda como os peixes. Um dia aprendi a
falar.
LOBATO, J. B. Monteiro. Memórias da Emília. 11. ed. São Paulo,
Brasiliense, 1962. p. 10-3.

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Questionário

1. Que características de Emília a fazem querida pelas crianças?


Baseie-se no texto, para responder.
2. Indique todas as passagens cômicas do texto.
3. Estude a movimentação da passagem.
4. Procure as comparações do texto e indique as expressões que
ligam os elementos comparados. Qual a diferença de emprego
delas?
5. Que tipo de linguagem (literária, oral) predomina no texto?
Procure exemplos significativos dela.

O REI E O POVO

O rei, a rainha e a princesa estão assustadíssimos: pela primeira


vez viram o escuro da noite.
Acham que um ladrão acabou de roubar o dia. O rei conversa com
seu Primeiro-ministro sobre o assunto.
- Como é que eu não soube disso? Está bem, você já explicou.
Eu e minha família nunca vamos lá fora a essa hora, e não vemos.
Mas alguém podia ter-me contado, não?
- Ninguém quis aborrecer nem preocupar Vossa Majestade, só isso.
Se nós fôssemos trazer a vossos reais ouvidos todos os problemas do povo,
como é que Vossa Majestade ia poder continuar a ser feliz para sempre?
Aqui dentro é protegido, claro, tranquilo ... Para que Vossa Majestade quer
saber de problemas e se arriscar a ter uma real dor de cabeça?
O Rei estava espantadíssimo:
- Ah, então isso é problema do povo? O povo sabe do
desaparecimento do dia?
- Sabe, Majestade.
- Então chame o povo que eu quero conversar com ele. Quero que
ele me conte essa história direitinho, tintim por tintim ... - Majestade, a esta
hora o povo está dormindo.
- Acorde, ué. .. Dê uma cutucadinha no ombro dele e diga que o Rei
está chamando.
O Primeiro-ministro tinha muita paciência:
- Majestade, o povo não é uma pessoa que a gente possa acordar
assim.
- Então grita no ouvido dele, liga um despertador, joga água, faz

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qualquer coisa. Mas diga ao povo para acordar, pular da cama, calçar os
sapatos e vir correndo para cá falar comigo. Estou com tanta pressa que
ele nem precisa escovar os dentes ...
Eu não disse que o Primeiro-ministro tinha paciência? Ele explicou
com muita calma:
- Majestade, o povo não é uma pessoa, porque são muitas.
- Como assim?
- O senhor sabe o que é exército, não sabe? Não é uma pessoa.
São todos os soldados juntos. Ninguém pode dar uma cutucada no ombro
do exército, não é mesmo? Nem do povo ...
Aí o Rei entendeu. Mas insistiu:
- É, mas se eu quiser falar com o exército, chamo meus generais e
chefes guerreiros e dá no mesmo. Agora, quero falar com o povo.
O Primeiro-ministro pensou um pouco e teve uma ideia:
- Temos algumas pessoas do povo aqui no castelo. Os soldados,
por exemplo. Os cozinheiros, as arrumadeiras, os mensageiros, os arautos,
os jardineiros, todo o pessoal das cavalariças, enfim, a criadagem inteira.
Vou mandar que eles se reúnam no pátio.
E assim foi feito.
MACHADO, Ana Maria. História meio ao contrário. 2. ed. São
Paulo, Ática, 1969. p. 16-7.

Questionário

1) Indique passagens do texto que caracterizem o rei como:


a) ignorante;
b) autoritário,
c) meio ridículo,
d) indiferente aos problemas de seus súditos.

2)Você acha que isso caracteriza só o governante da época dos


contos de fadas?

3) Há no texto uma alusão ao final dos contos de fadas.


a) Qual é?
b) No texto, a situação é a mesma?

4) No texto, aparece várias vezes o termo real (e flexão).


a) Qual é sua função no texto?

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b) Muitas vezes ela é ambígua. Procure exemplos disso.

5) Há um momento em que o narrador se dirige explicitamente ao


leitor.
a) por que se torna cômico?
b) E comum o uso da 1ª. pessoa, nesses casos?

A FILHA MAIS AMADA QUE QUALQUER OUTRA

Era uma vez um rei que tinha uma filha. Não tinha duas, tinha uma,
e como só tinha essa gostava dela mais do que de qualquer outra.
A princesa também gostava muito do pai mais do que de qualquer
outro, até o dia em que chegou o príncipe. Aí ela gostou do príncipe mais
do que de qualquer outro.
O pai, que não tinha outra para gostar, achou logo que o príncipe
não servia. Mandou investigar e descobriu que o rapaz não tinha acabado
os estudos, não tinha posição, e o reino dele era pobre. Era bonzinho,
disseram, mas enfim, não era nenhum marido ideal para uma filha de quem
o pai gosta mais do que de qualquer outra.
O rei então chamou a fada, madrinha da princesa. Pensaram,
pensaram, e chegaram à conclusão de que o jeito melhor era botar a moça
para dormir. Quem sabe, no sono, sonhava com outro e se esquecia dele.
Dito e feito, deram uma bebida mágica para a jovem, que adormeceu
na hora sem nem dizer boa-noite.
COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. Rio de Janeiro, Nórdica,
1979. p. 53-4.

Questionário

1) O que há de humorístico na apresentação do amor do rei pela


filha?

2) Você possivelmente relacionou esse texto com o conto de fadas


A Bela Adormecida. Mas as histórias se opõem em alguns pontos:
a) O motivo do sono é o mesmo?
b) Em A Bela Adormecida, quem adormece a princesa?
c) A função da madrinha é a mesma?
d) Quem salvaria a princesa?

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3) Analise as atitudes do pai:


a) Seus argumentos são válidos (só) para aquela época?
b) Elas caracterizam o pai da época dos contos de fadas?
c) Misturando o atual e o medieval, o que sugere a autora?

4) O estilo do texto apresenta várias construções da língua coloquial


moderna. Dê exemplos disso.

MISTÉRIOS DO PASSADO

Quando Cabral o descobriu,


será que o Brasil sentiu frio?
Diz a História que os índios comeram o bispo Sardinha. Mas como
foi que eles conseguiram abrir a latinha?
Qual o mais velho, diga num segundo:
D. Pedro I ou D. Pedro II?
De que cor era mesmo (eu nunca decoro) o cavalo branco do
Marechal Deodoro?
PAES, José Paulo. É isso ali. Rio de Janeiro, Salamandra, 1984.

Questionário

1) Com relação ao título:


a) Explique por que o termo “mistério” se torna humorístico.
b) Que estrutura, usada nos quatro dísticos, sugere o mistério?

2) O humor do poema se baseia fundamentalmente na polissemia


de algumas palavras. Quais são elas?

3) O poema aproveita a brincadeira popular da pergunta “de


atenção “.
a) Onde isso ocorre?
b) O que há de interessante nessa brincadeira?

CLASSIFICADOS POÉTICOS

Troca-se um homem-aranha de mentira por uma aranha de verdade.


Uma aranha competente
que teça belas teias transparentes, que pegue moscas, mosquitos

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e não entenda nada de bandidos. Uma aranha que seja


uma aranha simplesmente.
MURRAY, Roseana. Classificados poéticos. 3. ed. Belo Horizonte,
Miguilim, 1985. p.17.

Questionário

1) Pelo título da obra (Classificados poéticos), podemos imaginar


que a autora aproveita a linguagem dos anúncios classificados do jornal.
Nesse poema, que expressão indica tal procedimento?

2) A arte costuma ser associada à fantasia, à “mentira “. Que


inversão ocorre nesse poema?

3) Que oposições você faz entre o homem-aranha e a aranha?


(Relacione os elementos explícitos ou não que, no poema, se referem a
um e a outra.)

4) A “troca” proposta parece absurda.


a) Que crítica se percebe no poema?
b) Os valores em jogo na troca são do mesmo tipo.?

A BRUXINHA QUE ERA BOA

Ângela, a bruxinha loura que não sabe fazer maldades, faz um


exame com o Bruxo, o pior feiticeiro do mundo, que se considera o dono de
tudo e não admite ser contrariado. Só passando neste exame poderá ser
considerada bruxinha de verdade.
Bruxo - Por que os cabelos desta bruxa são tão esquisitos,?
Bruxa-Chefe - Ela nasceu assim, sua Ruindade.
Bruxo - Muito estranho isto. É preciso pintá-lo com suco de asas de
urubu cansado.
Bruxa-Chefe (tomando nota) - Sim, sua Ruindade.
Bruxo - Tire o ponto. (Mesmo cerimonial para tirar o ponto.)
Bruxa-Chefe - Cavalgada em vassoura: 2.0 ponto.
Bruxinha Ângela - Que bom! Que bom! Que bom!
Bruxo - Por que ela está tão alegre?
Bruxa-Chefe - A única coisa que ela gosta de fazer é cavalgar em
vassoura. (Bruxinha Ângela, montadinha em sua vassoura, passa pela

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cena dando gritinhos de prazer.)


Bruxo (levantando-se) - Isto são maneiras de uma bruxa se
comportar em cima de uma vassoura? Mostre a ela como se faz, Bruxa-
Instrutora. (Bruxa Chefe faz uma demonstração com gritos muito feios.)
Bruxo - Muito bem, Bruxa-Instrutora. Você ainda está em forma,
heim, minha velha? (O Bruxo dá tapinhas nas costas da Bruxa-Chefe.)
Bruxo (para bruxinha Ângela) - Venha aqui, bruxinha, deixa eu examinar
você de perto. (O Bruxo desce do trono e acompanhado do vice, que lhe
segura a cauda, rodeia a bruxinha, que continua imóvel.) Bruxo - Muito
estranho! Muito estranho este caso ... Esta bruxinha é esquisitíssima ...
Faça como eu, anda! (O Bruxo faz alguns movimentos, a bruxinha Ângela
tenta imitá-la mas sem nenhum sucesso.)
Bruxo - Horrível! Vamos então às perguntas. Talvez ela possa se
salvar pelas perguntas. Quem descobriu o Brasil?
Bruxinha Ângela - Foi Pedro Álvares Cabral. Todas - Oh!
Bruxo (muito ofendido) - Então você não sabe que antes de este
português desembarcar aqui, EU, o bruxo Belzebu, o Ruim, já morava
nestas florestas?
Bruxinha Ângela - Ah ... E mesmo ... E que eu pensava que ...
Bruxo (interrompendo-a) – Qual melhor coisa do mundo? Bruxinha Ângela
- Deve ser andar de vassoura a jato, lá por cima, no céu perto das árvores
maiores! ... (As outras bruxinhas aflitas fazem que sabem com os dedos.)
Todas – Oh!!!
Bruxo - Você sabe qual é o prêmio para quem não passar nos
exames,?
Bruxinha Ângela - Sei sim!!
Bruxo - Qual é?
Bruxinha Ângela - Ficar presa na Torre de Piche e nunca poder
voar na vassoura a jato.
Bruxo - Pelo menos deu uma resposta certa. E agora a última
pergunta.
Como é que se prepara bruxaria de fazer dormir caçadores e
lenhadores?
Bruxinha Ângela (procurando recordar) - Põem-se num caldeirão 3
folhas de cactos, 2 litros de água de rosas, ..
Todas - Água de rosas?!
Bruxinha Ângela - De rosas não, de maracujá dormido, depois uma
pitada de pimenta-do-reino, meia dúzia de mata-cavalo e um pouco de
suco de violetas...

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Bruxo - Suco de violetas! Tu és a pior aluna que já tive. Hoje à noite


terás a última oportunidade. Se não fizeres nada, serás presa dentro da
Torre de Piche. E nunca mais sairás. Todas as bruxas terão que fazer suas
primeiras maldades esta noite. (Todas batem palmas, menos bruxinha
Ângela.)
Bruxa-Chefe - Com licença, sua Ruindade, mas faltam algumas
para o exame.
Bruxo - As outras examinarei amanhã. Fiquei de mau humor. Agora
tenho que ir jantar na casa de um ogre meu amigo. .. Tratem de ser bem
ruins se querem ganhar a vassoura a jato, E você, bruxinha Ângela, se até
a meia-noite não fizer uma maldade será encerrada para sempre na Torre
de Piche. .. e não é suco de violetas não, está ouvindo, é suco de cravo de
defuntos...
MACHADO, Maria Clara, A bruxinha que era boa. In: - et alii, Teatro
Infantil. Rio de Janeiro, 1959, p, 13-7.

Esperamos que vocês tenham aproveitado o curso! Agora é só


treinar escolher um bom livro e sair contando suas histórias! Abraços a
todos e boas leituras!!!!

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