METROLOGIA-2003 – Metrologia para a Vida
Sociedade Brasileira de Metrologia (SBM)
Setembro 01−05, 2003, Recife, Pernambuco - BRASIL
MÉTODO DE MEDIÇÃO DE ABSORÇÃO SONORA PARA CONTROLE DE
PRODUÇÃO DE MATERIAIS ABSORVENTES
Paulo Medeiros Massarani
Laboratório de Ensaios Acústicos - Inmetro, Duque de Caxias - RJ, Brasil
Resumo: Este trabalho propõe a utilização de um método in
situ de medição de absorção sonora de superfícies planas
para controle da produção de materiais utilizados em
projetos de controle de ruído e tratamento acústico. Técnicas
modernas de processamento de sinais permitem que as
medições sejam realizados em ambientes comuns e
dispensando a necessidade de preparação especial das
amostras. Os ensaios podem ser realizados em um curto
período de tempo, possibilitando que 100 % do material
produzido possa ser verificado próximo a própria linha de
produção. Apresenta-se o princípio do método de medição,
identificando-se as fontes de erros, e a sua atual aplicação
em norma técnica, bem como as modificações necessárias
para medições de amostras pequenas, ou de tamanho típico
das produzidas. A viabilidade da aplicação é fundamentada
em resultados experimentais obtidos no Inmetro,
demostrando uma boa concordância quando comparados
com o tradicional método de tubo de impedância.
Palavras chave: método de medição in situ de absorção
sonora, materiais acusticamente absorventes, controle de
produção.
1. INTRODUÇÃO
Para o controle de ruído no meio ambiente e tratamento
acústico de recintos fechados é fundamental dispor de
elementos que absorvam energia sonora. A energia sonora
emitida por uma fonte para um ambiente incide sobre um
elemento absorverdor e reflete ao ambiente com uma
intensidade de energia diminuída. O restante da energia é de
alguma forma transformada pelo elemento em energia
térmica, ou calor.
Os materiais que considerados bons absorvedores acústicos
são leves e possuem fibras ou poros, ou melhor estruturas de
espaços vazios, ou microcavidades, que se comunicam entre
si. A energia sonora se dissipa em calor por causa das perdas
de escoamento viscoso dentro do material e também pelas
perdas por atrito interno do movimento das fibras. Na
manufatura dos materiais controla-se a absorção pela
seleção de espessura, densidade, posidade, resistência ao
fluxo de ar e orientação das fibras. Os materiais mais
utilizados são fibras vegetais, minerais e cerâmicas ou
espumas elastômeras. Com os materiais podem ser
produzidas unidades pré-fabricadas, como painéis ou placas
prontas para a instalação em superfícies dos ambientes.
Alternativamente certos materiais podem ser borrifados ou
espalhados diretamente sobre as superfícies. Alguns fatores
não acústicos são ocasionalmente considerados nos projetos
visando itens como segurança, saúde, e estética. Nesses
casos são adicionados elementos que alteram as suas
características acústicas, por exemplo aditivos anti-chama,
revestimentos de filme plástico ou tecidos, pinturas
decorativas e placas metálicas perfuradas entre outros. Toda
a diversidade dos materiais produzidos requer um controle
nas sua produção e instalação para assegurar as propriedades
adequadas utilizadas nos projetos.
Nos projetos considera-se a dependência do fenômeno
acústico em função da freqüência na geração, na
propagação, na audição humana e naturalmente assim deve
ser na absorção. De fato, os materiais apresentam
características diferentes de acordo com a freqüência da
onda sonora que incide.
A propriedade que descreve a absorção sonora dos materiais
para os especialistas é o coeficiente de absorção sonora α,
cuja dependência na freqüência (em bandas de oitava ou
terços de oitava) é chamada curva de absorção sonora do
material. Sua definição é a relação entre as energias sonoras
absorvida e incidente, por exemplo um absorvedor ideal tem
α = 1. O coeficiente de absorção sonora depende também do
ângulo de incidência da onda.
Para aplicação de materiais em ambientes fechados utilizam-
se as curvas de absorção sonora para campo sonoro difuso,
cujos valores são por alguns autores chamados de αSabine.
Um campo sonoro difuso é uma idealização na qual uma
área no seu interior recebe energia sonora de todas as
direções simultaneamente com igual probabilidade. Para
medir-se o coeficiente de absorção sonora em campo difuso
utiliza-se um ambiente especial de laboratório chamado
câmara reverberante. O método é bastante conhecido e está
incluído na norma ISO 354 [1]. Segundo a norma ISO, são
necessárias amostras de área entre 10 a 12 m2 para as
medições. Outro método para medir a curva de absorção é o
método do tubo de impedância, nos quais obtêm-se
resultados de absorção para incidência de ondas planas
somente em direção perpendicular às amostras. As normas
ISO [2] e [3] tratam dos procedimentos de ensaio nos tubos
de impedância. Os resultados obtidos são utilizados mais
para desenvolvimento de materiais, em amostras recortadas
apropriadamente do elemento original para serem ajustadas
nas seções transversais dos tubos (na ordem de 100 mm de da freqüência (transformada de Fourier) obtendo-se Pi (f) e o
diâmetro). refletido Pr (f). A curva de absorção, α(f), é obtida da relação
(4).
Existe ainda na literatura um terceiro método para a medição
P (f)
das curvas de absorção dos materiais, designado por alguns 2
1
autores por método da reflexão. As amostras são submetidas α( f ) = 1 − r (4)
à incidência de ondas em campo livre a um determinado Pi ( f ) K r2
ângulo desejado. Para incidência perpendicular, os
resultados são diretamente comparados aos obtidos nos Onde Kr é um fator de correção para propagação. Supondo
tubos de impedância. O método da reflexão evoluiu com o ondas esféricas se propagando, a amplitude da pressão
desenvolvimento dos sistemas eletrônicos tornando viável sonora é atenuada pelo inverso da distância da fonte. Assim
medições fora do laboratório, ou in situ. A curva de tem-se de acordo com a fig. 1: Kr = (d s -d m )/(d s +d m ).
absorção sonora é medida por intermédio de um dispositivo Alto-falante
portátil que é levado ao objeto a ser ensaiado. Recentemente
foi publicada a norma ISO 13472-1 [4] que descreve a
aplicação do método in situ para medição de absorção de
superfícies de rodagem rodoviárias. x1
ds
Nesse trabalho é proposto a aplicação do método in situ no Mic.
controle da produção dos materiais acusticamente
x2
absorventes. São fornecidos indicativos para uma possível dm
instalação do dispositivo de ensaio próximo a produção para Amostra
medição das curvas de absorção em até 100 % do produzido,
obviamente mantendo a integridade do produto. ra

2. MÉTODO IN SITU Fig. 1. Elementos do método in situ para incidência normal à

amostra.
O método in situ é executado configurando-se uma fonte
sonora transiente direcionada para a superfície a ser ensaiada Incidente
pelo ângulo de incidência desejado, com um microfone entre |p i|2 (dB)
as duas para registro da forma de onda sonora. A fig. 1 Comprimento da
janela T < τx
mostra um esquema do método para incidência
perpendicular à superfície da amostra, onde d s é a distância
entre a fonte e o microfone, d m é a distância entre o τd t
microfone e a amostra. O comportamento transiente da fonte
no método se justifica por duas razões: 1) os transientes Refletido
abrangem uma ampla faixa de freqüências; 2) é possível |pr |2 (dB)
Reflexão parasita
separar as partes de interesse para a medição da grandeza
por operações simples no domínio do tempo. Na fig. 2 são
mostrados os registros no tempo dos componentes a serem τr τx t
separados, ou sejam: o incidente p i (t) e o refletido p r (t).
Cada componente, por causa da sua natureza transiente, é
muito bem localizado no registro temporal nos tempos de Fig. 2. Registro temporal dos componentes.
chegada calculados segundo as equações (1) e (2) da Tabela
1, onde τi é o tempo de chegada da onda incidente, τr é o 2.1. Estado da arte do método
tempo de chegada da onda refletida e c0 é a velocidade do
som no ar. Deve-se considerar também o próximo Apesar da concepção utilizada no método in situ ser antiga,
componente refletido a ser excluído, ou componente a confiabilidade dos resultados obtidos tornou-se aceitável
parasita. No caso ilustrado nas figs. 1 e 2 o principal mais recentemente com os aprimoramentos de
componente parasita é a difração na borda de uma amostra instrumentação baseados em técnicas digitais de
de raio ra , cujo tempo de chegada é dado por τx, equação (3). processamento de sinais.
O comportamento transiente doravante determinado por
Tabela 1. Tempos de chegada dos componentes.
fontes sonoras impulsivas instáveis, de baixa repetitividade,
Incidente Refletido Parasita é no estágio atual obtido por técnicas de identificação de
(d s − d m ) (d s + d m ) (x1 + x2 ) respostas impulsivas com alto-falantes eletromagnéticos.
τd = (1) τr = (2) τx = (3) Em 1993 Garai [5] introduz o uso de respostas impulsivas
c0 c0 c0 estimadas pela técnica do MLS, um sinal determinístico de
banda larga com deconvolução rápida no método da
reflexão. As respostas impulsivas assim obtidas apresentam
Uma única função janela multiplicada ao sinal extraí os dois uma boa imunidade à ruídos de fundo, com boa
componentes que são então transformados para o domínio repetitividade.
Esta última característica motivou Mommertz [6] a
descrever a denominada técnica de subtração aplicada ao
método. Nela são obtidas duas respostas impulsivas
subsequentes, uma com o dispositivo longe de qualquer
superfície e outra com o microfone do dispositivo próximo
da superfície a ser ensaiada. É preciso preservar ao máximo
a disposição física entre a fonte e o microfone entre as duas
realizações. O primeiro registro temporal contém a onda
sonora incidente e o segundo uma sobreposição das ondas
incidente e refletida. Ao subtrair-se as duas respostas obtém-
se uma terceira resposta impulsiva só com a onda refletida.
As separações com a função janela sobre as duas respostas
impulsivas é desta forma otimizada. Com o microfone
bastante próximo da amostra elimina-se a correção Kr da
equação (4), que pode ser uma fonte de erro.
Mommertz [6] também introduz uma etapa de
processamento de sinais para aumentar a eficiência do
método. Inicialmente obtém-se um filtro de compensação da
resposta do alto-falante utilizado no dispositivo, a partir da
estimativa de p i (t). A aplicação do filtro de compensação
condensa em uma duração de tempo mais estreita ambas as
respostas com p i e p r , minimizando os erros de operação
com as janelas temporais.
2.2.Dispositivo de ensaio
Para a realização dos ensaio in situ aplicando a técnica da
subtração é necessário dispor de um dispositivo composto
de um alto-falante em uma caixa acústica, um microfone e
um meio de fixação entre os dois. O alto-falante pode ser
um pequeno “woffer”, instalado em uma caixa acústica para
reforçar a sua resposta nas freqüências graves. A recepção
dos componentes incidente e refletido é realizada pelo
microfone. Como a curva de absorção é uma medida
relativa, a resposta do microfone não precisa ser calibrada, e
o microfone pode ser de baixo custo como os de eletreto. O
meio de fixação deve manter o alinhamento e a posição
relativa entre o alto-falante e o microfone entre as duas
medidas de respostas impulsivas necessárias à técnica da
subtração.
Amplificador
Saída Entrada
Alto-falante
Conversor
Meio de fixação AD e DA
Microfone Micro-computador
Fig. 3. Dispositivo de medição do método in situ.
O processamento de sinais, ou estimativa das respostas
impulsivas, é realizado digitalmente. Assim, dispõem-se de
um computador com conversores analógico / digital e digital
/ analógico e um amplificador para entrada e saída dos
sinais. A fig. 3 ilustra esquematicamente o dispositivo
completo de ensaio. Atualmente existe uma grande oferta de
sistemas de aquisição de sinais digitais baseadas em
conversores rápidos e de boa resolução, até 96 kHz de
freqüência de amostragem e conversão em 24 bits, para
sistemas de gravação de áudio.
Para realizar os processamentos envolvidos na estimativa da
absorção é necessário dispor de um programa de
computador. A primeira etapa a ser cumprida é de medir
respostas impulsivas por métodos indiretos tais como MLS
(Maximum Length Sequence) ou varreduras de senos. Outra
vez nesse caso, já existe uma ampla oferta de
comercialização de programas para medições acústicas que
dispõem das funções apropriadas. Nelas geralmente estão
incluídos rotinas de FFT (Fast Fourier Transform), janelas e
operações com espectros em freqüência complexos.
2.3. Fontes de erro
A seguir são descritas sucintamente algumas fontes de erros
nas medições das curvas de absorção pelo método in situ.
Uma fonte de erro é a relação sinal ruído nas respostas
impulsivas estimadas. Uma boa medida dessa relação pode
ser obtida de uma representação do nível em dB das
respostas impulsivas, 20log10 [p(t)]. A diferença entre os
valores de pico, associados aos tempos de chegada dos
componentes, e o patamar do ruído até a sua ocorrência
fornece um indicativo da relação.
Na fig. 4 são mostradas na primeira coluna duas medições
de p i (t), ou da resposta impulsiva do alto-falante, de um
mesmo dispositivo de medição em condições diferentes. Na
resposta da primeira linha a relação sinal / ruído foi tal que a
distância entre o máximo e o patamar de ruído era de 35 dB.
No lado direito das respostas estão os respectivos espectros
após a aplicação de diferentes janelas para seleção do
componente incidente. A influência da janela é notável no
primeiro caso abaixo de 600 Hz, faixa a qual a resposta do
alto-falante utilizado é deficiente. No caso da segunda linha
a relação sinal ruído obtida foi de 55 dB, suficiente para
tornar a influência das diferentes janelas imperceptíveis.
Fig. 4. Influência da janela para diferentes relações sinal / ruído.
Os métodos de medição indireta de respostas impulsivas
dependem de uma série de fatores que influenciam a relação
sinal / ruído. Um método que tem demostrado grande
eficiência utiliza como sinal de excitação varreduras de
senos especiais [7]. Com tal técnica é possível minimizar a
influência de distorções da instrumentação e variações de
linearidade do sistema acústico durante a medição.
Outro fator de erro no processamento do método aplicando-
se a técnica da subtração é causado pela eliminação
incompleta de p i em p r . Mudanças nas condições ambientais
ou no posicionamento de fonte e o microfone entre as duas
medições podem alterar os tempos de chegadas dos
componentes. Em algumas situações é possível realizar
pequenos deslocamentos de um dos registros digitais das
respostas para acertar a ocorrência de p i . Os resíduos de
subtração incompleta são maiores quanto mais alta for a
freqüência, como já demostrado em [6]. Nos espectros do
componente refletido, Pr (f), os resíduos são identificados
por flutuações em um período inverso da diferença τr - τd .
Na fig. 5 apresenta-se a amplitude Pr para diferentes níveis
de resíduo da subtração, demostrando as flutuações
periódicas em altas freqüências.
Fig. 5. Influência das resíduos da subtração.
Ambos os erros sistemáticos da aplicação de janelas e da
presença de resíduos da subtração são propagados no cálculo
do módulo do fator de reflexão R(f) = Pr (f)/Pi (f) a ser usado
na equação (4) para a determinação da curva de absorção.
Na fig. 6 é mostrado um resultado obtido em uma superfície
supostamente rígida, R ≈ 1 (α ≈ 0). A linha grossa tracejada
é o valor teórico do refletor ideal considerando as perdas por
propagação esférica, ou Kr = 0,71, de acordo com as
dis tâncias d m e d s utilizadas. A linha contínua mais fina
sobreposta ao valor teórico apresenta os resultados medidos
para a superfície, indicando as flutuações decorrentes dos
erros acima identificados. A Tabela 2 mostra os resultados
obtidos na superfície rígida da fig. 6 e os resultados teóricos.
O valor médio do fator de reflexão medido na faixa de
freqüência considerada (100 a 8.000 Hz) desviou 0,02 do
valor teórico com apenas perda na propagação esférica. Os
valores máximo e mínimo associados às oscilações
periódicas também são apresentados na tabela. Após a
aplicação da correção 1/Kr o desvio entre a média do valor
medido e o teórico foi para 0,03. A média da curva de
absorção calculada pela equação (4) a partir dos valores
medidos foi negativa e 0,06 distante do teórico. Valores
negativos de absorção são fisicamente impossíveis.
Fig. 6. Propagação de erro na correção da distância de propagação.
Na norma ISO 13472-1 [4] recomenda-se, como alternativa
para a aplicação de Kr , utilizar resultados obtidos em uma
superfície rígida como referência corrigindo os valores
individuais por freqüência. Por exemplo toda a curva obtida
na fig. 6 (sem aplicação da correção) substituiria um único
valor de Kr em ensaios realizados em outras superfícies.
Tabela 2. Exe mplo de propagação de erro em superfície rígida.
Grandeza Refletor Superfície ensaiada
ideal Média Máximo Mínimo
|Pr (f)/Pi (f)| 0,71 (Kr ) 0,73 0,79 0,69
[|Pr (f)/Pi (f)|]/Kr 1 1,03 1,11 0,97
α(f) eq. (4) 0 -0,06 0,06 -0,23
2.4. Ensaios em amostras pequenas
A validade do método in situ é indicada na literatura, [4] e
[6], para amostras com áreas acima de 3 m2 , em uma faixa
de freqüência de 250 a 4.000 Hz. Para medir áreas menores,
tais como as das placas normalmente produzidas em torno
de 1 m2 , é necessário proceder etapas adicionais como
indicado em [8] e [9]. A faixa de freqüência útil dos
resultados também pode ser estendida baseando-se na
análise de erros das seções anteriores.
A estratégia a ser adotada já é indicada no artigo de
Mommertz [6]. O parâmetro principal é a distância do
microfone à amostra, d m , que deve ser a menor possível.
Com isso, o fator de correção de distância tende a ser
próximo da unidade e a aplicação de Kr pode ser eliminada.
A energia refletida não sofre a atenuação na propagação
esférica e portanto fica menos influenciada pelos resíduos da
subtração. Em outro aspecto relativo à influência dos
resíduos, a periodicidade de oscilação na amplitude espetral
de Pr (f) é maior quanto menor for o intervalo de tempo entre
os picos dos componentes direto e refletido. Na concepção
original do método in situ com aplicação da técnica da
subtração [6] indica-se a aplicação de filtros para compensar
a resposta impulsiva do alto-falante do dispositivo. Tais
filtros são essenciais para garantir bons resultados nas placas quadradas de 1 m2 e espessura de 100 mm de espuma
amostras pequenas em baixas freqüências. de poliuretano. Maiores detalhes podem ser encontrados nas
referência [8] e [9]. Na Tabela 3 os parâmetros de
As figuras 1 e 2 ilustram a configuração física a ser
configuração de dispositivos de ensaio recomendados pela
considerada no caso das amostras pequenas. O primeiro
norma ISO são comparados com os de um dispositivo
componente parasita a ser retirado pelas janelas é a parcela
construído no LAENA para os ensaios.
refratada na borda da amostra, percorrendo a trajetória de
propagação x = x1 + x2 . O tempo de chegada é dado pela
equação (5).

x1 + x2 d s2 + ra2 + d m2 + ra2
τx = = (5)
c0 c0

Na fig. 6 apresenta-se as combinações das distâncias dos

dispositivos de ensaio para manter o fator de correção em 5,
10 e 15 %. Quando menor for a distância mantida entre o
alto-falante e o microfone menor será a correção para uma
dada distância do microfone a amostra.

Fig. 7. Intervalo de tempo de chegada τx , equações (2) e (5), em

função da distância entre fonte / microfone para d m = 0,02, 0,1 e
0,25 m e ra = 0,5 m.
Tabela 3.Comparação de parâmetros dos dispositivos LAENA e
ISO 13472-1 para ensaios em amostras de raio 0,5 m.

Distância dos
dispositivos
τx τx - τr Kr 1/Kr
1/(τx - τr)
(m) (ms) (ms) (Hz)
ISO 13472-1
d s = 1,25 m 4,0 1,2 0,67 1,50 667
d m = 0,25 m
Fig. 6. Correções da propagação esférica 1/ K r = 1,05, 1,1 e 1,15 em
função da configuração do dispositivo de ensaio. LAENA
d s = 0,72 m 5,6 1,9 0,94 1,06 10.000
O intervalo de tempo entre as chegadas dos componentes d m = 0,02 m
refletido e refratado deve ser o suficiente para abranger a
duração de p r (t). A dependência deste intervalo em função A fig. 8 apresenta o componente refletido obtido da amostra
da configuração do dispositivo para amostras com ra = 0,5 de espuma de poliuretano, após à aplicação do filtro de
m, utilizando as equações (2) e (5), é apresentada na fig. 7. compensação da resposta do alto-falante e da subtração do
Outra vez os maiores intervalos são obtidos para menores componente incidente. É possível identificar um pico
distâncias entre fonte / microfone e microfone / amostra. O referente à reflexão especular na superfície da amostra,
componente refletido é uma combinação entre a resposta outro pico após penetrar e sair no material refletido na
impulsiva do alto-falante e a resposta de reflexão do superfície na qual a superfície estava depositada e o pico
material a ser ensaiado. Sua duração no tempo será sempre referente à difração na borda da amostra. Aproveitando-se a
superior a da resposta do alto-falante, ou no máximo igual se mesma placa ensaiada foram retiradas amostras para
for um refletor ideal. Os alto-falantes normalmente medição em tubo de impedância. A comparação dos
utilizados têm duração de resposta na ordem de 3 ms, resultados, mostrada na fig. 9, demostra uma equivalência
estendendo-se mais nas freqüências mais baixas. Os filtros entre os dois métodos.
de compensação descritos em [6] são projetados à partir do
inverso da resposta em freqüência do componente incidente,
1/Pi (f). Depois é aplicado em ambos os componentes 3. CARACTERIZAÇÃO DE ABSORÇÃO SONORA
incidente e refletido antes da subtração. A sua eficiência em NA PRODUÇÃO
compensar a resposta do alto-falante no refletido é maior Nessa seção será avaliada a utilidade do método in situ na
quanto menor for a distância do microfone à amostra. avaliação das curvas de absorção de materiais para controle
Para demostrar a viabilidade dos ensaios em amostras de produção. O potencial da aplicação pode ser avaliada
pequenas apresenta-se a seguir alguns resultados obtidos no comparando-se o método de medição com os outros dois
Laboratório de Ensaios Acústicos (LAENA) do Inmetro em
conhecidos, ou sejam de campo difuso e de tubo de
impedância.
Fig. 8. Refletido na amostra depois do filtro de compensação do
alto-falante e da subtração do incidente.
Fig. 9. Comparação das curvas de absorção obtidas pelo método in
situ e em tubo de impedância.
Como já mencionado na introdução, o método de campo
difuso fornece resultados mais coerentes à aplicação da
teoria de acústica de salas. Os fornecedores de materiais
acusticamente absorventes podem apresentar as curvas de
absorção como especificação técnica dos seus produtos.
A recomendação de utilização do método no controle de
produção envolve alguns aspectos. A principal limitação é
devido aos altos custos: é necessário dispor de uma
instalação de laboratório sofisticada, ou seja uma câmara
reverberante com volume entre 200 a 300 m3 que deve ser
qualificada pela instalação de elementos difusores. A
instrumentação requerida pela norma internacional ISO 354
inclui microfones de medição calibrados para campo difuso,
fontes sonoras omnidirecionais e analisadores em bandas de
freqüência também calibrados. As curvas de absorção são
determinadas indiretamente de medidas de tempos de
reverberação, comparando-se os da câmara vazia com os da
câmara com 10 a 12 m2 de amostras dispostas
controladamente no piso. Cada condição da câmara, vazia
ou com amostra, é representada por médias espaciais dos
tempos de reverberação, de por exemplo 2 posições da fonte
e 3 posições de microfones. O tempo total de medição
requerido é alto, incluindo transporte de material ao
laboratório.
A outra opção tradicional é o uso dos métodos em tubo de
impedância. Normalmente esse método faz parte de um
conjunto de instrumentação utilizado nos setores de
desenvolvimento de produto, nos quais também são medidos
densidade, resistência ao fluxo de ar e porosidade por outros
dispositivos. Além da curva de absorção os usuários dos
tubos podem obter outras grandezas úteis na definição do
material, principalmente as curvas de impedância acústica
com suas naturezas complexas. A parte real da impedância
acústica é relacionada às propriedades resistivas, ou de
dissipação de energia, e a parte imaginária às propriedades
reativas, relacionadas a mudanças de fase das ondas sonoras
refletidas. Os resultados obtidos são mais precisos e de
maior reproducibilidade que os de campo difuso, porém são
restritos a incidência normal de ondas planas. Os tubos são
dispositivos de ensaio mais simples que as câmaras
reverberantes.
A maior desvantagem dos métodos em tubo de impedância
está na preparação dos corpos de prova. O tamanho das
amostras é limitado à dimensão da seção transversal dos
tubos. A seção transversal de um tubo limita a freqüência
mais alta do ensaio, por exemplo um tubo de 10 cm de seção
é capaz de medir até 1600 Hz. É comum a utilização de dois
tubos, um de maior diâmetro para uma faixa de freqüência
mais baixa e outro de menor diâmetro para complementar as
altas freqüências. Em alguns casos a preparação dos corpos
de prova pode descaracterizar o material, seja pela perca da
agregação do material, pela restrição da forma às pequenas
seções ou pelo ajuste ao tubo sem folgas nem compressão
excessiva. No propósito de controle da produção é
necessário retirar algumas placas estatisticamente
representativas para serem transformadas nas amostras e
obviamente inutilizadas.
O método in situ apresenta a melhor alternativa para o
propósito de controle de produção. Sua execução pode ser
realizada em um sala comum próximo a saída da linha de
produção. O dispositivo de ensaio tem uma construção mais
simples que a do tubo de impedância, envolvendo custos
mais baixos. Os resultados obtidos tem a mesma
fundamentação dos relativos aos tubos de impedância,
inclusive com a possibilidade de fornecer a impedância
acústica. Não há a necessidade de preparação de corpos de
prova, possibilitando a medição de até 100 % da produção
sem destruição do produto.
A desvantagem do método in situ em relação aos outros dois
considerados acima está na complexidade do
processamento. Mais do que a complexidade, talvez seria a
novidade da técnica de medição e da instrumentação
necessária. Entretanto, outros ensaios baseados em
estimativa indireta de respostas impulsivas para medição de
grandezas acústicos têm sido apresentados surgindo como
um nova tendência em expansão. A instrumentação também
está cada mais acessível com o aumento da oferta de placas
de som, com conversores digitais precisos, para
computadores pessoais.
O controle da produção poderia ser realizado configurando-
se o dispositivo de medição para ensaiar o produto no piso
de um ambiente. No trabalho descrito na referência [8] dois
conjuntos de materiais foram ensaiados dentro de um
laboratório do Inmetro, através de um procedimento que
pode ser uma indicação a ser aplicada no controle de
produção. O dispositivo, conjunto alto-falante / microfone,
foi instalado diretamente alinhado ao piso rígido do
ambiente, como mostra a fig. 10. A posição pré-determinada
das amostras foi delimitada no piso. No passo seguinte, o
conjunto foi girado em relação ao suporte e apontado para a
direção do teto, para obter a medição da energia incidente.
Depois foi reposicionado para o piso e as amostras foram
sendo ensaiadas em seqüência, substituindo-as sobre a
marcação. As curvas de absorção de 15 placas de espuma de
poliuretano são apresentado na fig. 11. O tempo de execução Fig. 11. Curvas de absorção obtidas pelo método in situ de 15
placas de espuma de poliuretano.
no total foi de 20 minutos. Observa-se que dentre as placas 3
delas, curvas em cinza na fig. 11, apresentaram um
comportamento diferente. Posteriormente as placas foram O método em questão já é assunto de norma ISO [4] para
pesadas e as mesmas três apresentaram uma densidade em ensaio de superfícies de rodagem. As recomendações da
torno de 35 Kg/m3 , enquanto que as demais tinham entre 33 norma ISO não são ideais para a aplicação planejada no
e 34 Kg/m3 . trabalho. Quando se pensa em amostras pequenas e banda
larga em freqüência para a validação dos resultados
demonstrou-se ser necessário a aplicação de etapas
4. CONCLUSÕES adicionais.
O próximo passo para a implementação do método no
Nesse trabalho sugeriu-se a aplicação do método in situ para
controle de produção é fazer um estudo dos parâmetros de
ensaios de absorção sonora na produção de materiais
ensaio. Nele seriam incluídos análises da influência dos
absorventes acústicos. Especificamente, demonstrou-se a
ambientes típicos da produção, isto é as possíveis relações
viabilidade do objetivo através de procedimentos para
ensaios de superfícies planas e incidência normal. Após com ruído de fundo e variações ambientais. Será importante
também verificar a implementação de procedimentos menos
análises das fontes de erro do método e das influências das
sofisticados, porém estabelecendo os limites de validade dos
distâncias e tamanho das amostras, demonstrou-se a
possibilidade em medir amostras pequenas. resultados. No caso de verificação da produção poderia ser
suficiente um resultado de ensaio limitado a uma faixa
menos extensa de freqüência. Os erros devidos à pequenas
áreas das superfícies das amostras podem ser diminuídos
complementando-se maiores áreas com outras amostras. Por
exemplo, a placa individual teria o centro da superfície
diretamente posicionado abaixo do microfone, porém com
as outras placas dispostas ao seu redor para completar áreas
maiores.

AGRADECIMENTOS
Ou autor agradece ao colega D.Sc. Marco Antonio Nabuco
de Araujo pela sugestão do tema apresentado.

Fig. 10. Configuração de ensaio em amostras no piso.
Deve-se reconhecer que o método in situ faz uso de uma
série de processamento digital de sinais ainda pouco
difundida na área de metrologia acústica, principalmente no
Brasil. Entretanto, os resultados apresentados no transcorrer
do texto foram obtidos com um dispositivo construído no
Inmetro a custos muito reduzidos. O investimento nos
sistemas eletrônicos de medição para o processamento
necessário é justificável diante da simplificação do
dispositivo de ensaio.
REFERÊNCIAS
[1] ISO 354, “Acoustics - Measurement of Sound Absorption in
Reverberation Rooms.”, 1985.
[2] ISO 10534-1, “Acoustics - Determination of sound
absorption coefficient and impedance in impedance tubes -
Part 1: Method using standing wave ratio”,
[3] ISO/FDIS 10534-2, “Acoustics - Determination of sound
absorption coefficient and impedance in impedance tubes -
art 2: Transfer-function method.”, 1996.
[4] ISO 13472-1, "Acoustic – Measurement of Sound
Absorption Properties of Road Surfaces in situ – Part 1:
Extended Surface Method.", 2002.
[5] Garai, M., "Measurement of the Sound-Absorption
Coefficient In Situ: The Reflection Method Using Periodic
Pseudo-randon Sequences of Maximum Length.", Applied
Acoustics, Vol 39, pp. 119-139, 1993
[6] Mommertz, E., “Angle -Dependence In -situ Measurements of
Reflection Coefficients Using a Subtraction Technique.”,
Applied Acoustics, Vol 46, pp.251-263, 1995.
[7] Müller S., Massarani P.M., “Transfer-Function Measurement
with Sweeps.”, Journal of the AES, Vol 49, No 6, pp.443-
471, 2001.
[8] Massarani, P.M., Araujo, M.A.N., “Medição de Absorção
Sonora pelo Método In Situ em Ambiente Reverberante.”,
Anais do II SIBRAMA e XX SOBRAC, Rio de Janeiro, 2002.
[9] Massarani, P.M., “Sample Size in Sound Absorption
Measurement by The Reflection Method.”, Proceeding of
the 5th European Conference on Noise Control -
EURONOISE 2003, Nápoles, 2003.
Autor: D.Sc. Paulo Medeiros Massarani, Laboratório de Ensaios
Acústicos (LAENA) – DIMCI / Inmetro, Av. Nossa Senhora das
Graças 50, CEP 25250-020 - Duque de Caxias - RJ – Brasil, Tel.
(21)26799190, Fax (21)26791296, pmmassarani@inmetro.gov.br.