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A tradição de estudos sobre o sentido formou base sólida por sobre a noção de referência estendida à função
referencial da linguagem e expressa por intermédio de proposições linguísticas. A tradição linguística, que no
nascedouro foi comparativista, amadureceu valorizando a referência no sentido proposicional.
Na história dos estudos da metonímia consta, antes de tudo, a visão de que a linguagem corresponde a uma relação
direta entre os objetos e as coisas. Visão que está presente nas abordagens tradicionais acerca da metonímia e dos
processos figurativos, em geral. A substituição de um nome por outro, por exemplo, enquadra-se nas considerações que
defendem a linguagem enquanto um espelho da realidade, como se a significação fosse restrita a uma troca de palavras.
Entretanto, constatou-se que temos um sistema conceptual metafórico e metonímico complexo que está subjacente ao
nosso modo de categorização e que perpassa pelas nossas experiências corpóreas, pela nossa racionalidade imaginativa.
A metonímia afasta-se, portanto, do referencialismo da linguagem para se aproximar do modo como se pensa o
mundo, tendo como base a própria experiência humana. Admite-se, assim, que a metonímia tem base referencial, mas
ela é, sobretudo, de natureza inferencial. Ao se mudar a concepção, muda-se a consideração sobre o objeto: a
linguagem é considerada um processo, e a metonímia, base de pensamento.
Consequentemente, o foco sai da função referencial da linguagem e recai na possibilidade inferencial, demonstrando
que a metonímia é um fato de compreensão/entendimento da linguagem/ cognição humana em seu aspecto
inferencial. Sendo assim, a função referencial da linguagem é suficiente para explicar a metonímia
considerada sob os moldes tradicionais cuja abordagem se limita à relação entre termos
produzindo um quadro taxonômico de tais realizações. No entanto, a relação entre linguagem e referência é insuficiente
para as nuances do processo metonímico em sua rica abrangência.
O que fica bastante firmado, dentro das abordagens mais recentes, é que a
são altamente dependentes de fatores histórico-culturais. Desse ponto de vista, não pode
analisá-las somente a partir de uma relação de contiguidade entre palavras, já que são
dos contextos de que participam. Ao mesmo tempo, a substituição que provocam, no nível
do significante, não são casuais. Para muitos autores, trata-se de uma relação prototípica,
de outro, como o teto, no caso da casa, ou o chão, no caso da propriedade rural. Mas
nem sempre esses esquemas prototípicos são obedecidos e nem por isso a significação
infinita de se encontrar um termo que englobe outros dois torna o processo metonímico
o imediato. A metonímia seleciona o específico como modo de olhar e isso quase nunca
passa por escolhas pessoais e sim culturais, sociais. Nesses momentos em que o homem
referencialidade.
consciente, mas que estrutura olhares e sujeitos, a partir da linguagem que os instauram
tempo que estruturam realidades, são por elas estruturados. Assim, as metonímias não
nela e por ela, eles não são autônomos em relação aos processos de significação, pois
estes estão inseridos dentro da cultura. Portanto, tal como outros processos de
específicas.
das possibilidades previstas pelo código, mas cabíveis dentro da história e conforme às
por provocar determinados efeitos de sentido pouco previstos ou inusitados, ainda que
Johnson (1980) sobre metáfora conceptual, estudo que teve um grande impacto na
linguística cognitiva, tem tornado-se cada vez mais aparente a importância do processo
metonímico como fenômeno cognitivo que subjaz nosso pensamento ordinário e que é
considerado por muitos autores como sendo mais básico que o processo metafórico.
metáfora ainda encontra-se no centro dos estudos voltados à produção de sentido. Como
De acordo com Al-Sharafi (2004) a falta de interesse, por parte dos filósofos e
eles estavam voltados para o uso poético da linguagem, consideravam a metáfora como
passou a ser colocada no centro dos estudos, deixando a metonímia à margem. Por outro
lado, de acordo com o autor, quando havia alguma discussão sobre a metonímia essa era
fragmentada e limitada.
A metonímia foi tratada dessa forma até 1950, quando Jakobson promoveu um
estudo no qual metáfora e metonímia são abordadas como duas figuras distintas,