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Disciplina MEC-0864:

Conformação Plástica dos


Metais

2009

Docente:

Prof. Willy Ank de Morais


Faculdade de Engenharia / Curso de Engenharia Industrial Mecânica – UNISANTA
Grupo de Estudos sobre Fratura dos Materiais / Escola de Minas – UFOP
Analista de Produto / Desenvolvimento de Novos Produtos – COSIPA

a
Autor e Instrutor
Willy Ank de Morais

Técnico em Metalurgia (Escola Técnica Federal de Ouro Preto), Engenheiro Metalurgista


(Escola de Minas de Ouro Preto – UFOP – 1996), Mestre em Engenharia Metalúrgica e de
Materiais (DCMM/PUC-Rio – 1999), Doutorando em Engenharia Metalúrgica (Poli-USP),
membro da ABM e da ASM. Analista de Produto/Desv. novos produtos da Usiminas de
Cubatão, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UNISANTA, Vice Diretor
da Divisão Técnica de Aplicação de Materiais e Instrutor em cursos na ABM.

Páginas:
http://willyank.sites.uol.com.br e
http://cursos.unisanta.br/mecanica/prof/willy.html

E-mails: willyank@unisanta.br e
willymorais@cosipa.com.br

PROFESSOR
Departamento de Engenharia Mecânica (Sala M117)
UNISANTA - Universidade Santa Cecília
Rua Oswaldo Cruz, 226 - Boqueirão
11045-100 - Santos - SP - BR
Fone: +13-3202-7132
Fax: +13-3222-8037

b
FUNDAMENTOS

Capítulo Um:
Tensões e Deformações
1. Introdução
2. Conceito de tensão
3. Representação matemática
4. Representação gráfica: o círculo de Mohr
5. Conceito de deformação
6. Relação entre tensão e deformação no
regime elástico
7. Ensaio de tração
8. Critérios de escoamento
9. Relações entre tensão e deformação: regime
plástico
10. Limite máximo de deformação
11. Bibliografia
12. Lista de exercícios
2
Capítulo Um: Tensões e deformações
Neste capítulo inicial, pretende-se repassar alguns conceitos fundamentais
que serão necessários para a compreensão das metodologias de cálculo e as suas
respectivas aplicações. Trata-se de informações já vistas pelo aluno, em outras
disciplinas, especialmente resistência dos materiais. Antes disso, porém, será
repassado o conceito de conformação mecânica.

1.1 – Introdução
A disciplina “Conformação Plástica dos Metais” ou MEC 0864 trata da
descrição metalúrgico-mecânica (matemática) dos processos de conformação
plástica dos metais. O objetivo primordial desta disciplina é a obtenção da carga de
conformação para uma determinada peça e/ou as condições de aplicação desta
carga por meio da descrição matemática do problema de conformação. Também é
do interesse a prevenção de eventualidades que podem ocorrer no processo de
conformação que degradem a qualidade do material após a conformação (trincas,
rasgos, rugosidades).
Assim, considerando o conceito de conformação plástica dos metais, que
pode ser, por exemplo:

Operação onde se aplicam solicitações mecânicas em metais, que


respondem com uma mudança permanente de dimensões (Helman e
Cetlin, 1983).
Processo de alteração de geometria de uma material (conformação)
mediante aplicação de esforços mecânicos.

Em ambos os casos, existem diversas características do processo


(temperatura, força aplicada, número de operações de conformação, etc.) que são
determinantes na quantidade de energia (força) empregada no processo e também
para as características do produto final.
O processo pode ocorrer com o material a temperaturas relativamente
baixas, normalmente próximas à ambiente (conformação a frio), ou em temperaturas
próximas à temperatura de fusão do metal (conformação a quente) ou ainda em
temperaturas intermediárias (conformação a morno). Nesta disciplina, normalmente
serão consideradas somente a conformação a frio e a quente, já que o principal
interesse na conformação a morno estaria associado com a metalurgia, que foge do
escopo deste curso.
O curso será apresentado basicamente em duas etapas: conceitos
fundamentais e processos de conformação. Na primeira etapa será apresentado
para os alunos os conceitos básicos fundamentais utilizados ao longo do estudo dos
processos de conformação, tais como: descrição das tensões, critérios de
escoamento, encruamento, relações tensão x deformação, efeito da temperatura,
efeito da taxa de deformação, atrito e transferência de calor.
Posteriormente será visto sucintamente cada processo de conformação
plástica, sendo descrito as suas principais características e os modelamentos
matemáticos (equações) aplicáveis em cada caso. Neste contexto, os alunos são

3
convidados a realizarem exercícios de projeto e verificação de casos de
conformação plástica, obtendo-se dados da literatura cruzando-os pelos
equacionamentos para poderem dimensionar um processo de conformação,
prevendo as cargas e as possíveis alterações neste processo devido ao efeito de
diversas variáveis (temperatura, taxa de deformação, grau de redução, etc.).

1.2 – Conceito de tensão


O conceito de tensão é uma grandeza associada à força aplicada, mas que
não depende do tamanho relativo dos materiais envolvidos, sendo muito útil em
situações de aplicação de esforços mecânicos como, por exemplo, em um ensaio de
tração ou em um processo de conformação plástica. Normalmente a tensão é
considerada simplesmente como na definição clássica dada pela equação 1.1:

F
σ= (1.1)
A

Porém esta definição, apesar de clara e concisa, não é suficiente para os


objetivos desta disciplina, pois esta não oferece uma série de informações sobre o
carregamento mecânico, tais como: o estado de tensões atuante, a posição relativa
da tensão, a real capacidade de produção de escoamento, etc. Para tal, deve-se
desenvolver dois conceitos:

1. o conceito de tensor de tensões;


2. o conceito de tensão no ponto (ponto material).

Considere um corpo em equilíbrio estático sobre a ação de forças externas:


P1, P2, P3, P4, ....., Pn, conforme ilustrado pela figura 1.1. Toma-se uma seção reta
(mm) deste corpo passando por um ponto O qualquer neste corpo. Pode-se definir
r
uma tensão σ (vetor) aplicada nas vizinhanças de O (em ∆A) como sendo o limite
da relação entre a força resultante aplicada sobre este ponto e o infinitésimo da sua
área de atuação segundo a equação 1.2.

Figura 1.1 –
Distribuição
de esforços
nas
vizinhanças
de um ponto
“ O” .

4
r
r P
σ = lim
∆A → 0 ∆ A
(1.2)

r r
No caso genérico, a força P (ou a tensão σ ) faz um ângulo qualquer
(oblíquo) com a superfície do material na área ∆A. Esta tensão pode ser subdividida
em um componente de força normal (perpendicular) à superfície ou tangente a esta.
Denomina-se a tensão normal àquela oriunda de uma força perpendicular a esta
superfície e quando a força é tangente, denomina-se tensão cisalhante. A figura 1.2,
abaixo, ilustra este cálculo e as equações 1.3 a 1.5 como fazê-lo.

Figura 1.2 – Decomposição do vetor resultante


sobre a área ∆A, localizada nas vizinhanças do
ponto “O”. O componente paralelo à direção “Z”
é a força normal e os componentes paralelos às
direções “X” e “Y” são os componentes de
cisalhamento.

P
σZ = ⋅ cos θ (1.3)
∆A
P
τ ZY = ⋅ senθ ⋅ cos φ (1.4)
∆A
P
τ ZX = ⋅ senθ ⋅ senφ (1.5)
∆A

Porém esta simples definição não é suficiente para representar


adequadamente a real distribuição de tensões ao redor de um ponto, pois esta
definição vincula a representação a um determinado plano de corte (mm) conforme
demonstrado pela figura 1.1.
Para a completa representação da distribuição de tensões ao redor de um
determinado ponto, ou seu “estado de tensões”, é necessário considerar o mesmo
raciocínio aplicado a um cubo infinitesinal em cujo centro esteja o ponto em
consideração.
Ao invés de se ter apenas um ponto e um sistema de referência XYZ, como o
mostrado na figura 1.2, agora temos um cubo, cujas faces estão orientadas segundo
o sistema de referência XYZ, conforme ilustrado na figura 1.4, sendo que cada uma
das 6 faces é uma superfície de área infinitesinal e sobre cada qual haverá três
componentes de tensão: uma normal e duas cisalhantes (tal como já discutido na
figura 1.2). As seis faces devem ser tomadas duas a duas, pois faces paralelas
apresentam exatamente os mesmos componentes de tensão, vide figura 1.4. Com
cada face apresenta três componentes de tensão cada, teremos um total de 3x3=9
(nove) componentes de tensão neste cubo, ao redor do ponto O.

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Figura 1.3 – Variação do
vetor de tensão com o tipo
de seção reta tomada como
referência para seu cálculo.

Figura 1.4 – Representação completa de


todas as tensões normais e cisalhantes ao
redor de um ponto material.

Apesar da figura 1.4 mostrar três componentes de tensão (σxx, σyy e σzz)
normal e seis componentes de tensão de cisalhamento (τxy, τyx, τxz, τzx, τyz e τzy), por
considerações de equilíbrio pode-se afirmar que somente três componentes de
cisalhamento são independentes, sendo as simétricas iguais (ou então haveria
rotação do corpo): τxy=τyx, τxz=τzx, τyz=τzy.

6
Interessante que o aluno perceba que as tensões e o estado de tensões de
um corpo podem variar ponto-a-ponto, de acordo como as forças são aplicadas.
Realmente, na prática, as tensões não são homogeneamente distribuídas, pelas
seguintes razões principais:

• o ponto de aplicação/transferência de carga não é homogêneo;


• a geometria do material não é homogênea;
• o material apresenta descontinuidades internas;
• as propriedades mecânicas e/ou condições de contorno variam, entre
outros.

A figura 1.5 apresenta uma série de exemplos onde a distribuição de tensões


não é homogênea.

Figura 1.5.a – Distribuição


dos tipos de tensões na
estampagem profunda.

Figura 1.5.b – Figura de franjas de


difração (obtidas por fotoelasticidade)
de um elo de corrente de motocicleta
submetido a um carregamento similar
ao encontrado na sua aplicação
prática (tração por meio de pinos),
DALLY E RILLEY (1991).

Figura 1.5.c – Exemplos de distribuição


heterogênea de tensões em anel sob
compressão, DALLY E RILLEY (1991).

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1.3 – Representação matemática
Já foi visto que um estado de tensões (cuja definição é auxiliada por meio de
um cubo infinitesinal) necessita de 3×3=9 componentes de tensão. Além disso as
condições de equilíbrio fazem que os 6 (seis) componentes de tensão de
cisalhamento devem ser iguais dois-a-dois para que o corpo permaneça em repouso
(sem movimentos de rotação, devido ao torque que seria gerado por componentes
cisalhantes assimétricos). Assim temos:

3 componentes de 3 componentes de tensão de


tensão normal cisalhamento linearmente independentes
σx, σy e σz τxy=τyx, τxz=τzx, τyz=τzy

A representação completa de um estado de tensões no espaço está vinculada


a informação de todos os valores destes 6 componentes de tensão linearmente
independentes. A figura 1.6 ilustra todos os vetores envolvidos na representação do
estado de tensões de um único ponto. Ao lado estão dispostas algumas das
notações mais usuais que são encontradas na bibliografia. Neste curso, será
adotada a primeira notação da esquerda para a direita (σx, σy, σz, τxy, τyz e τxz).

Figura 1.6 – Representação vetorial do estado de tensões na vizinhança de um ponto.

A maneira mais prática de fazer esta representação é na forma de um tensor


de tensões, que é uma matriz de números conforme mostrada abaixo:

Esta notação é muito útil porque permite


a observação mais geral do estado de
tensões do material em uma única
representação matemática.

Esta matriz está vinculada a um conjunto de planos definidos segundo um


sistema de eixos XYZ, que pode ter qualquer orientação, em princípio. Existem
transformações matemáticas que permitem a transformação de um tensor de
tensões obtido por meio de um sistema de referência X1Y1Z1 para um sistema de
referência X2Y2Z2.

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1.3.1 – Tensões principais
Pode-se provar matematicamente que existe uma única orientação destes
eixos que oferecerá uma matriz de tensões, na qual as tensões de cisalhamento são
nulas. Neste caso, as tensões normais são conhecidas como tensões principais do
estado de tensões. As raízes oriundas da resolução da equação 1.6, que é do
terceiro grau, oferece os valores das 3 tensões normais para esta situação:

(1.6)

Esta operação pode ser feita facilmente com o auxílio de computadores ou


com calculadoras adequadas (científicas). O próprio professor oferece uma planilha
eletrônica para a resolução desta equação.
Na prática, para facilitar o estudo das tensões envolvidas nos processos de
fabricação, simplifica-se os tensores de tensão, seja pela conveniente escolha da
direção do sistema de coordenadas, ou seja, pela simplificação (desprezo) dos
valores dos componentes de tensão em uma determinada direção. Normalmente a
orientação do eixo XYZ de referência na direção dos esforços aplicados ou da
simetria do problema resolve esta questão.
Na execução de cálculos matemáticos é comum a ordenação das tensões
principais da forma mostrada pela equação 1.7. Repare que esta definição
independe da direção de orientação dos eixos de coordenada (XYZ), pois tal
definição é aplicada apenas nos cálculos.

σ1 ≥ σ2 ≥ σ3 (1.7)

Assim, é possível que estas tensões (σ1, σ2 e σ3) fiquem em uma das seis
possíveis posições na representação matricial:

⎡σ 1 0 0⎤ ⎡σ 1 0 0 ⎤ ⎡σ 2 0 0 ⎤
⎢0 σ ⎢0 σ 0 ⎥⎥
⎢0 σ
⎢ 2 0 ⎥⎥
⎢ 3 0 ⎥⎥ ⎢ 1

⎢⎣ 0 0 σ 3 ⎥⎦ ⎢⎣ 0 0 σ 2 ⎥⎦ ⎢⎣ 0 0 σ 3 ⎥⎦
⎡σ 2 0 0 ⎤ ⎡σ 3 0 0 ⎤ ⎡σ 3 0 0 ⎤
⎢0 σ 0 ⎥⎥ ⎢0 σ 0 ⎥⎥ ⎢0 σ 0 ⎥⎥
⎢ 3 ⎢ 1 ⎢ 2

⎢⎣ 0 0 σ 1 ⎥⎦ ⎢⎣ 0 0 σ 2 ⎥⎦ ⎢⎣ 0 0 σ 1 ⎥⎦

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1.3.2 – Componente Hidrostático e Desviatório
A matriz (tensor) de tensões pode ser decomposta matematicamente em duas
componentes, segundo mostrado pela equação 1.8 e pela figura 1.7.

⎡σ xx τ yx τ zx ⎤ ⎡σ m 0 0 ⎤ ⎡σ xx − σ m τ yx τ zx ⎤
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢τ xy σ yy τ zy ⎥ = ⎢ 0 σ m 0 ⎥ + ⎢ τ xy σ yy − σ m τ zy ⎥ (1.8)
⎢ τ xz τ yz σ zz ⎥ ⎢⎣ 0 0 σ m ⎥⎦ ⎢⎣ τ xz τ yz σ zz − σ m ⎥⎦
⎣ ⎦
onde σm é a tensão normal média, definida pela equação 1.9:

σ xx + σ yy + σ zz σ1 + σ 2 + σ 3
σm = = (1.9)
3 3

Figura 1.7 –
Decomposição do
estado de tensões em
componente
hidrostático e
desviatório a partir do
tensor de tensões
principais.

Estes componentes recebem o nome de componente hidrostático e


desviatório, respectivamente. Estes representam a capacidade do estado de tensões
em provocar mudança de volume (componente hidrostática) ou variação de forma ou
deformação plástica (componente desviatória), como será visto posteriormente.

1.4 – Círculo de Mohr


Uma forma bastante simples de representar o estado de tensões de um ponto
material é através de um círculo de Mohr. Esta construção geométrica está
associada sempre a um único estado de tensões, não existindo um círculo de Mohr
para dois estados de tensão ou um estado de tensões que possua dois círculos de
Mohr.
A vantagem do círculo de Mohr está em permitir a rápida visualização de
algumas características do estado de tensões, inclusive a sua facilidade relativa em
produzir deformação plástica ou a determinação das tensões principais, para o caso
plano de tensões.
Para o caso plano de tensões (σZ=0 e τxz=τzx=τyz=τzy), situação normalmente
encontrada para o caso de materiais finos (chapas metálicas), estão disponíveis
apenas as tensões σx, σy e τxy (pode-se orientar o plano XY na direção do plano
onde atuam as tensões) o círculo de Mohr pode ser calculado conforme mostrado na
figura 1.8. A forma mais simples de traça-lo é marcando sobre um sistema de
coordenadas σ×τ os pontos correspondentes a σx×τxy e σy×τxy, unir os pontos e
passar um círculo centrado na reta que une estes pontos.

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A intercessão do círculo com o eixo horizontal (de tensões normais) oferece
as duas tensões principais e a altura oferece a máxima tensão de cisalhamento do
estado de tensões. Esta última informação é importante porque representa a
capacidade que o estado de tensões tem de induzir deformação plástica.

Figura 1.8 – Círculo de


Mohr para o caso plano de
tensões.

Para o caso geral (tridimensional) de tensões, a representação do círculo de


Mohr deve ser feita com base nas tensões principais. Portanto um tensor de tensões
somente pode ser representado por um círculo de Mohr quando são calculas as
suas componentes principais de tensão pela equação 1.6, e assim marcados os
valores de σ1 ≥ σ2 ≥ σ3 conforme ilustrado na figura 1.9.

Figura 1.9 – Cálculo de um círculo de


Mohr para estados de tensões
tridimensionais.

O cálculo das tensões principais pode ser feito de várias formas, o próprio
Prof. disponibiliza uma planilha que faz este cálculo. Os resultados obtidos desta
planilha estão mostrados na figura 1.10. Nota-se que na figura 1.9 as tensões
máxima de cisalhamento são: τ1=(σ2-σ3)/2 ; τ2=(σ1-σ3)/2 ; τ3=(σ1-σ2)/2. Nota-se que a
máxima tensão de cisalhamento, neste caso, seria τ2. A figura 1.11 ilustra como
traçar o círculo de Mohr para o caso geral de tensões, empregando-se as tensões
principais em vários exemplos.

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200 50 -30
Tensor de tensões 50 150 20
-30 20 30

Intervalo de localização das


-300 a 250
raízes

Sigma Sigma
1 Sigma 2 3
232,07 129,65 18,28
Tensões principais

Tao 1 Tao 2 Tao 3


55,68 106,90 51,21

Figura 1.10 – A esquerda exemplo de planilha de introdução (fundo amarelo) e resultados calculados
(escrito em vermelho) do estado de tensão representado pelo círculo de lado (Planilha feita pelo Prof.)

Figura 1.11 – Vários exemplos de círculos de Mohr e o respectivo estado de tensões associado
(DIETER 1986).

1.5 – Conceito de deformação


A maneira mais fácil de definir deformação é pela razão entre a diferença das
dimensões finais e iniciais de um material dividido (normalizado) pelo valor inicial
desta dimensão. A figura 1.12 mostra um esquema simples utilizado na definição de
deformação linear ou normal e a equação 1.8 ilustra a definição de deformação
infinitesimal, similarmente à definição de tensão atuante em um ponto, conforme
definido na equação (1.1).

(1.8)

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Figura 1.11 – Definição infinitesimal de
deformação normal.

Da mesma maneira pode-se definir deformação cisalhante como sendo a


relação entre o deslocamento (a) de um material ao longo de um determinado
comprimento (h), conforme definido na figura 1.12, por meio de uma tensão de
cisalhamento. De maneira geral, as deformações podem ser definidas,
infinitesimalmente, conforme mostrado na figura 1.12.

Figura 1.11 – Definição macroscópica de


deformação cisalhante.

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Figura 1.12 – Definição infinitesinal de um tensor de deformações.

De um modo geral, todas os desenvolvimentos de representação por


tensores, cálculos dos componentes principais (ou deformações principais: ε1, ε2 e
ε3), assim com o círculo de Mohr podem ser empregadas para as deformações. Este
tipo de assunto não será tratado neste curso, se o aluno tiver interesse poderá
consultar referências tais como Dieter (1986).
Na definição da figura 1.12 são as deformações são consideradas
infinitesimais. No caso de cisalhamento macroscópico (γ) deve-se tomar cuidado de
considerar as relações das equações 1.9 a 1.11, pois a rigidez do material (G) é
medida sob estas circunstâncias.

∂u ∂v
γ xy = + = exy + eyx (1.9)
∂y ∂x
∂w ∂u
γ xz = + = exz + ezx (1.10)
∂x ∂z
∂w ∂v
γ yz = + = eyz + ezy (1.11)
∂y ∂z

Por outro lado, a definição convencional (ou de Engenharia) da deformação


na forma da clássica relação ∆L/L0 não representa o real estado de deformações de
um corpo. Neste caso, a soma das deformações calculadas em etapas
intermediárias de um processo de deformação contínuo não oferece o valor final de
deformação real, conforme seria esperado.
Supondo um processo contínuo de compressão de um tarugo de material
metálico com 10cm de altura inicial (0) até a altura de 1cm final (F). Em um dado
momento intermediário (I) o material apresentará uma altura de 5cm. A tabela I.1
apresenta as deformações normais experimentadas por este tarugo na direção de
sua altura.

Tabela I.1 – Deformações apresentadas por um tarugo sendo comprimido.

Etapa 0 - Inicial I - Mediana F – Final

Altura (cm) 10 5 1
Deformação
0 (LM – LI)/LI =5/10 = 50% (LF – LM)/LM =4/5 = 80%
(e=∆L/L0)
Deformação
– 0+50 = 50% 0+ 50+80=130%
acumulada
Deformação
– – (LF – LI)/LI =9/10 = 90%
total

Nota-se que a soma das deformações dos processos intermediários (0→M) e


(M→F), que resultou em 130%, não ofereceu o mesmo resultado da deformação

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calculada diretamente do passo inicial para o passo final (0→F), que resultou em
90%.
Neste caso, utiliza-se o conceito de tensão real na definição de valores de
deformação obtidos nos processos de conformação mecânica, principalmente para
maiores deformações. Considerando-se o caso anterior, porém com decréscimos
infinitesimais de deformação “dl” (dl<0), conforme ilustra a tabela I.2, pode-se afirmar
que, ao final de todos os processos infinitesimais de deformação i→(i+1), a
deformação total será oferecida pela equação 1.12.

Tabela I.2 – Deformações apresentadas por um tarugo sendo comprimido


infinitesinalmente.

0-
Etapa 1 2 ... i ... N
Inicial
1 0 +d l o u
Altura (cm) 10 ou L0 L0+2⋅dl ... L0+i⋅dl ... L0+n⋅dl
L0+dl
Deformação dl/[L0+ dl/[L0+
0 d l /L 0 dl/(L0+dl) ... ...
(e=∆L/L0) (i-1)*dl] (n-1)*dl]
Deformação 0+ dl/ L0+ Σ [L0+ Equação
– 0 + d l / L0 ... ...
acumulada dl/(L0+dl) (i-1)*dl] 1 .1 2

lF Lf
n
dl dl dl

i = 0 L0 + i ⋅ dl
=l im ∑ = ∫

L0 l L0 l
dl 0

ou (1.12)
LF
ε = ln
L0

A definição de deformação real, na forma logarítmica baseia-se no somatório


de todos os processos infinitesimais de deformação. Assim o somatório de
deformações em etapas intermediárias da conformação plástica se manterá. Pode-
se aplicar a equação 1.12 no exemplo da tabela I.1 e verificar esta realidade.
Assim sendo, da mesma maneira como se pode definir um estado de tensões
por meio de um tensor de tensões, também pode ser definido um estado de
deformações por meio de um tensor de deformações do tipo:

⎡εX ε XY ε XZ ⎤
⎢ε εY ε YZ ⎥⎥
⎢ YX
⎢⎣ε ZX ε ZY ε Z ⎥⎦

Devido à formulação matemática de ambas as formas de medição de


deformação, a diferença entre estas será tanto maior quanto maior for a diferença
entre as dimensões iniciais e finais do material deformado. Para pequenas
deformações as duas formas de deformação são praticamente iguais. No regime de

15
deformação elástica, como as deformações envolvidas são muito pequenas, pode-se
adotar esta aproximação (e = ε).

1.6 – Relações entre tensão e deformação no regime elástico


A relação entre tensão e deformação mais conhecida é a lei de Hooke,
segundo mostrada pela equação 1.13, abaixo:

σ = E⋅ε (1.13)
onde E é o módulo de elasticidade do material.
Esta relação é válida sob certas circunstâncias simplificadoras (por exemplo:
material isotrópico1 e homogêneo). A lei de Hooke mais geral é muito semelhante a
equação 1.14, porém relacionando o tensor de tensões (σij), mostrado no item 1.3,
com o tensor de deformações, mostrado na página anterior. A expressão geral da lei
de Hooke é:

σij = Cijkl×εkl (i, j, k, l = 1,2 e 3) (1.14)

Os valores das constantes de rigidez (Cijkl) podem ser bastante complexos


quando se trata de materiais não isotrópicos. Em geral, os metais podem ser
considerados suficientemente isotrópicos para valer as simplificações desta lei,
segundo mostrado nas tabelas I.3 e I.4, a seguir.

Tabela I.3 – Relações entre tensão e deformação no regime elástico.

DEFORMAÇÃO EM FUNÇÃO DA TENSÃO TENSÃO EM FUNÇÃO DA DEFORMAÇÃO

Tabela I.4 – Resumo das relações entre tensões e deformações no regime elástico.

1
Quando as propriedades que o material apresenta independem da direção em que as mesmas são
consideradas.

16
Tensão Deformação Deformação Deformação
na direção X na direção Y na direção Z

Os valores dos parâmetros E, G e υ são determinados em convenientes


ensaios mecânicos. A tabela I.4 oferece alguns valores destas variáveis, segundo
citado por Moura Branco (1994).

Tabela 1.5 – Valores dos coeficientes elásticos de alguns metais, Moura Branco
(1994).

1.6.1 – Deformação volumétrica


A variação de volume de um material pode ser definida como sendo:

∆V/V0=ε1+ε2+ε3 ou ∆V/V0=e1+e2+e3 (para peq. deformações) (1.16)

É possível provar que as deformações de cisalhamento produziriam uma


alteração de volume de segunda ordem em relação às deformações normais, sendo
portanto o seu efeito desprezível.
Graças ao valor do coeficiente de Poisson para os metais no regime elástico
(υ < 0,5), a deformação elástica causa variação de volume (pequena) no material. A
variação de volume no regime plástico é nula, conforme será descrito no item 9.

17
1.7 – Ensaio de Tração
Não existe ensaio mecânico que preveja completamente o real desempenho mecânico
de um material, seja na etapa de produção (conformação, usinagem, etc.), seja na etapa de
utilização (como elemento estrutural, peça automobilística, painel, etc.).
No entanto, o ensaio de tração é considerado o teste mecânico que apresenta a melhor
relação entre informações obtidas e custo/complexidade de ensaio. Apesar deste teste possa
ser realizado em condições bem distintas daquelas nas quais o material será requisitado, os
parâmetros obtidos deste ensaio são o ponto de partida para a caracterização e especificação.
Isto pode ser visto, esquematicamente, pelo gráfico contido na figura 1.13.

Figura 1.13 – Representação


esquemática da relação entre a
descrição das propriedades mecânicas
de um componente sob condições reais
de serviço/fabricação e pelo ensaio de
tração em relação ao
custo/complexidade.

O ensaio de tração consiste, basicamente, em se tracionar um corpo de prova (CP) de


seção reta retangular (CP prismático) ou circular (CP cilíndrico) até a sua ruptura. Diversos
parâmetros podem ser medidos. Aqui interessa fazer uma descrição dos parâmetros utilizados
na teoria da conformação plástica dos metais e algumas características destes parâmetros. O
Anexo I contém uma série de informações a respeito do ensaio de tração e parâmetros
mensurados.

1.7.1 – Parâmetros elásticos e de escoamento


São parâmetros de limitada utilidade para o estudo da conformação plástica, mas que
permitem o cálculo e o dimensionamento das cargas necessárias para provocar a deformação
plástica dos materiais. Em geral, nestes casos, pode-se considerar que as deformações reais e
de engenharia são praticamente iguais (e≈ε qdo ε→0), pois os valores de deformação
envolvidos são muito pequenos (da ordem de 0,2%).

1.7.1.1 – Módulo de elasticidade (E): fornece uma indicação da rigidez do material,


sendo inversamente proporcional à temperatura e pouco dependente de pequenas variações na
composição química de elementos cristalinos (como por exemplo nos aços). Segundo a
expressão simplificada da lei de Hooke (equação 1.13), o módulo de elasticidade pode ser
expresso como sendo:

18
σ
E= (1.15)
ε
Onde σ é a tensão na qual se obtém a deformação real ε. Esta deformação deve ser medida
por meio de extensômetros para se evitar que a deformação do sistema de testes altere os
valores do módulo de elasticidade medidos.

1.7.1.2 – Módulo de elasticidade transversal (G): corresponde à rigidez do material


quando submetido a um carregamento de cisalhamento, calculado por uma expressão
semelhante à expressão (1.15):

τ
G= (1.16)
γ
Onde τ e γ são as tensão e a respectiva deformação
cisalhante que sofre o CP.

1.7.1.3 – Coeficiente de Poisson (ν): o coeficiente


de Poisson mede a rigidez do material na direção
perpendicular àquela em que a carga está sendo
aplicada, conforme ilustra a figura 1.14. O valor
deste coeficiente é determinado pela relação entre as
deformações na direção de aplicação de carga (ε1) e
a deformação medida na direção perpendicular (ε2
ou ε3) – equação 1.17.

Figura 1.14 – Deformações de engenharia (ou


convencionais) experimentadas por uma barra prismática
submetida a um carregamento unidirecional (como em
um ensaio de tração), Helman e Cetlin (19).

ε2 ε
ν =− =− 3 (1.17)
ε1 ε1

1.7.1.4 – Limite de escoamento (σys ou LE): pode-se afirmar que é o principal


parâmetro obtido do ensaio de tração, prestando-se para cálculos de projeto estrutural (onde é
necessário que o material não entre em deformação plástica) quanto para conformação
plástica (quando é desejado facilidade de deformação plástica do material). Normalmente
quando um material tem suas propriedades mecânicas fixas por uma norma de qualidade, a
variável mais utilizada é o limite de escoamento.
Em um ensaio de tração, existem dois tipos de comportamento no que diz respeito à
determinação do limite de escoamento, conforme mostrado na figura I.1 (do anexo I):
materiais que apresentam um ponto descontínuo na curva tesão vs. deformação e materiais
que apresentam escoamento contínuo (mudam do comportamento elástico para o plástico
continuamente).

19
No segundo caso, quando é mais difícil determinar o exato limite de escoamento, as
normas de execução dos ensaios sugerem defini-lo como sendo a tensão para uma deformação
entre e=0,2% a até e=0,5% para materiais excessivamente dúcteis. Em ambos os casos, a
deformação elástica do CP é praticamente desprezível e a área real do material é
aproximadamente igual à sua área inicial (Ays ≈ A0), o que leva à definição de limite de
escoamento como sendo igual ao expresso pela equação 1.18.

Fys Fys
σ ys (= LE ) = ≅ (1.18)
Ays A0
onde Fys é a força exercida pelo sistema de testes sobre o CP de área inicial A0.

1.7.2 – Parâmetros plásticos


Os parâmetros plásticos, medidos em um ensaio de tração, permitem avaliar seu
desempenho sob conformação plástica. No caso da utilização destes parâmetros para avaliar a
conformabilidade do material, deve-se levar em consideração as condições de carregamento e
modo de deformação específicos do ensaio de tração.
1.7.2.1 – Tensão e deformação verdadeiros (σ e ε): A partir do escoamento o
coeficiente de Poisson aumenta até se estabilizar em 0,5, conforme mostrado na figura 1.15.
Na prática isto equivale a dizer que o
CP se expande na direção na qual a força é
aplicada na mesma velocidade em que contrai
nas demais direções. Desta forma, o volume
total (vide equação 1.16) se mantém
constante, assim como o somatório das
deformações torna-se nulo (ε1+ε2+ε3=0).

Figura 1.15 – Representação esquemática da


mudança no coeficiente de Poisson à medida que
o regime de deformação muda de elástica para
plástico, Meyers & Chawla, 1984

Neste momento a área da seção reta do CP diminui intensamente e torna-se necessário


fazer as seguintes correções para se determinar a exata tensão atuante sobre o CP e
conseqüentemente o real comportamento plástico do material:

Fi Fi A0 Fi A0 A
σi = = ⋅ = ⋅ = Si ⋅ 0 (1.19)
Ai Ai A0 A0 Ai Ai
onde Fi é a força atual sobre o CP de tração que apresenta uma área instantânea Ai, menor do
que a área inicial A0. Porém da definição de deformação convencional, dada pela equação 1.8:

20
e = ∆L/L0 = (Li-L0)/L0 = (Li/L0)-1
(1.20)
(Li/L0) = 1+e

admitindo-se distribuição homogênea de deformações e ν≈0,5, ou seja, constância de volume,


L0⋅A0 = L1⋅A1 = Li⋅Ai
(1.21)
(Li/L0) = (A0/Ai)

Combinando (1.21) com (1.20) e depois com (1.19), obtêm-se:


e = (Li/L0)-1 = (A0/Ai)-1
(A0/Ai) = 1+e
σ = S(1+e) ou σReal = σConvencional (1+e) (1.22)

Da mesma maneira, pode ser descrita a relação entre a deformação rela e convencional (ou de
engenharia) a partir da equação (1.12):

= ln (1 + e )
Li
ε = ln (1.23)
L0

O aluno deve notar que as duas equações para transformar tensão e deformação de
engenharia (S e e), baseadas nas dimensões iniciais do CP (L0 e A0), para as respectivas
tensões e deformações verdadeiras (σ e ε) somente são válidas quando têm-se distribuição
homogênea de deformações e constância de volume.
Uma curva tensão-deformação verdadeira pode ser construída ponto a ponto a partir
das equações (1.22) e (1.23) até a estricção, a partir deste ponto a determinação da tensão e
deformação verdadeiras deve ser feita experimentalmente. A figura 1.16 mostra a comparação
entre curvas tensão-deformação real e convencional de um aço AISI 4140, laminado a quente.

Figura 1.16 – Curvas tensão-deformação convencional (de engenharia) e real para um aço AISI 1020,
Dowling (1993) e AISI 4140, Boyer (1990).

21
As figuras a seguir mostram a aparência das curvas tesão-deformação de um aço baixo
carbono como obtidas diretamente de um ensaio de tração (figura 1.17), na região onde ocorre
o escoamento do material (figura 1.18) e a respectiva curva real (figura 1.19).
Equações para descrever a curva tensão-deformação real têm sido propostas por vários
autores, sendo, no entanto apenas equações empíricas, apenas para ajuste dos dados obtidos

Figura 1.17
– Curva
tensão-
deformação
convencional
(o u d e
engenharia)
para um aço
baixo
carbono,
Boyer
( 1 9 9 0 ).

Figura 1.18 – Curva tensão-deformação,


obtida pela medição da deformação por
extensômetros, na região de carregamento onde
ocorre o escoamento do CP, Boyer (1990).

22
Figura 1.19 – Curva tensão-deformação real de um aço baixo carbono, Boyer (1990).

1.7.2.2 – Coeficiente de encruamento (n) e constante plástica de resistência (K):


Dentre as equações utilizadas para modelar o formato da curva tensão-deformação no regime
plástico, destacam-se as seguintes:

• equação de Hollomon
σ = Kεn (1.24)
• equação de Swift
σ = K(ε0 + ε)n (1.25)
• equação de Ludwink
σ = σ0 +Kεn (1.26)
• equação de Voce
σ = a + (b-a) [1-exp(-nε)] (1.27)
o aluno deve notar que todas as equações estão relacionando tensões reais (σ) com
deformações reais (ε).

A equação mais utilizada é a equação de Holloman, da qual o parâmetro n é conhecido


como coeficiente de encruamento e é calculado a partir de dois pontos (1 e 2) da curva tensão-
deformação, na região plástica, segundo a equação 1.28.

log σ 1 − log σ 2
n= (1.28)
logε 1− log ε 2
que também pode ser escrita de outra forma, utilizando-se as equações (1.19), (1.20) e (1.23),

23
⎛F l ⎞
log⎜ 2 2 ⎟
⎝ F1 l1 ⎠
n=
⎡ ⎛ l2 ⎞ ⎤
⎢ log⎜ ⎟ ⎥ (1.29)
⎝ l0 ⎠ ⎥
log ⎢
⎢ ⎛l ⎞⎥
⎢ log⎜ 1 ⎟ ⎥
⎢⎣ ⎝ l0 ⎠ ⎥⎦

Também é possível provar matematicamente que o valor do coeficiente de encruamento vale a


deformação real no ponto de início de estricção:

n = εUTS (1.30)

A prova pode ser feita da seguinte forma:


σ=F/A
F = σ⋅A (1.31)
dF = σdA + Adσ

na estricção dF = 0 (a carga se estabiliza), ocorre a tensão máxima de engenharia S=SUTS,


σdA = - Adσ
(1.32)
- (dA / A) = (dσ / σ)

porém, sabe-se pelas definições de deformação real e convencional:


ε = ln (l/l0)
dε = 1/l ⋅ dl = dl/l (1.33)

e = ∆l/l0 = (l- l0) / l0 = (l/l0) – 1


(1.34)
de = dl/l0

admitindo-se constância de volume:


V=cte
l⋅A = l0⋅A0 = cte
Adl + ldA = 0 (1.35)
Adl = -ldA
(dl/l) = -(dA/A)

Substituindo (1.33) em (1.35) e levando o resultado em (1.32), obtêm-se:


(dσ/σ) = dε ∴ dσ/dε = σ (1.35)

Derivando-se a equação de Holloman (σ = Kεn) em relação à deformação real (ε):


dσ/dε = K n ε(n-1) = n (K εn)/ε (1.36)

24
dσ/dε = n σ / ε

Substituindo-se a equação (1.35) na equação (1.36), obtêm-se, finalmente:


σ = n σ/ε ∴ n = εuts (1.37)

O valor de K também pode ser calculado com base em uma fórmula facilmente
deduzível, conforme abaixo:
σ = S⋅(1+e) ;
ε = ln(1+e) ou exp(ε) = (1+e) (1.38)
σ = S ⋅ exp(ε)
Porém:
σ = K εn (1.39)
Substituindo (1.38) em (1.39),
S ⋅ exp(ε) = K εn
(1.40)
K = S ⋅ exp(ε) ⋅ ε-n
no ponto de carregamento máximo no ensaio de tração S=Suts=LR e εuts=n (1.37), assim:

K = Suts [exp(1)/n]n (1.41)

A equação (1.41) permite calcular o valor da constante plástica de resistência (K) a


partir do limite de escoamento convencional do material (LR) e do seu coeficiente de
encruamento (n), que pode ser calculado, equações (1.28) ou (1.29), a partir de uma curva
tensão-deformação de engenharia, obtida em um ensaio de tração “comum”.
Esta é uma informação importante, pois permite fazer a caracterização do real
comportamento plástico do material, através da equação σ = K εn, calculando-se os
parâmetros K e n diretamente de uma curva tensão-deformação de engenharia.

1.7.2.3 – Coeficiente de anisotropia (R): o método de cálculo do coeficiente de


anisotropia está descrito no item I.3.1 do anexo I, sendo que as principais equações estão
listadas abaixo:
w w
ln ln
ε Re al −l arg ura w0 w0
R= = = (1.42)
ε Re al −espessura t L ⋅w
ln ln 0 0
t0 L⋅w

R=
(R0o
+ 2 ⋅ R45 o + R90 o )
, anisotropia normal. (1.43)
4

∆R =
(R 0o
− 2 ⋅ R45 + R90
o o ) , anisotropia planar. (1.44)
, anisotropia planar.
2
Maiores detalhes sobre o ensaio de tração podem ser obtidos no anexo I desta apostila.
Na lista de exercícios (item 1.11) estão dispostas algumas tabelas com valores das variáveis
aqui discutidas para alguns materiais testados em tração.

25
1.8 – Critérios de Escoamento
Visto como se obter o limite de escoamento de um material (σys), segundo o ensaio de
tração, agora será discutido como determinar se um componente ou peça deverá entrar ou não
em escoamento. A idéia é utilizar um critério, que possua fundamentação mecânica e que
possa ser aplicado para o caso simplificado do ensaio de tração de modo a se obter parâmetros
para sua aplicação. Serão vistos os três critérios descritos a seguir.
1. Critério de máxima tensão normal ou de Rankine.
2. Critério de máxima tensão cisalhante ou de Tresca.
3. Critério de máxima energia de distorção ou de von Mises

1.8.1 – Critério de máxima tensão normal


De acordo com este critério simples, deformação plástica deverá ocorrer quando a
maior tensão principal (σ1) alcançar e/ou ultrapassar a tensão de escoamento (σys ou LE)
obtida no ensaio uniaxial de tração, segundo descrito pela equação (1.45).

σ1 ≥ σys (1.45)

A grande falha deste critério é não levar em consideração os diferentes estados de


tensão que pode estar submetido o material, para iguais valores da tensão principal σ1 como,
por exemplo, o estado hidrostático. Obviamente, se este critério fosse válido, muitas
estruturas submetida a condições de pressão hidrostática elevadas não resistiriam e se
deformariam plasticamente, o que não é o caso.

1.8.2 – Critério de máxima tensão cisalhante


Foi comprovado que a deformação plástica está diretamente associada à presença de
componentes de tensão cisalhante. Por isso, criou-se um critério de escoamento que define a
ocorrência de deformação plástica, mesmo em estados complexos de tensão, quando o valor
do componente de tensão de cisalhamento máximo (τ2 – vide figura 1.10) alcance um valor
mínimo, que pode ser obtido diretamente do ensaio de tração.
O valor do componente de tensão de cisalhamento máximo (τ2) é dado pela equação:

σ1 − σ 3
τ 2 = τ máx ≥ (1.46)
2
Onde σ1 é a maior tensão principal e σ3 é a menor.
Observando as condições de escoamento de um ensaio de tração têm-se:
• σ1≠0 (=σys)
• σ2=σ3=0
o que oferece o critério de escoamento, conforme a equação 1.47:
σ ys
τ 2 = τ máx ≥ , ou (1.47)
2
(σ1 - σ3) ≥σ ys ou (σmáx - σmín) ≥ σ ys (1.48)

Este critério não prediz a ocorrência de deformação plástica em um estado de tensões


hidrostático, conforme definido pela equação (1.6) e representado pela figura 1.8.

26
Ponto interessante é que o parâmetro de comparação deste critério é a máxima tensão
de cialhamento, que por acaso define, matematicamente, o valor do raio de um círculo de
Mohr. Assim, quanto maior for o círculo de Mohr, maior a probabilidade de ocorrer
escoameneto.

1.8.3 – Critério da máxima energia de deformação


Antes de entrar neste critério, deve-se fazer referência ao cálculo da energia de
deformação elástica de um material. Esta energia pode ser calculada, para um corpo sob
solicitação uniaxial de tensões, pela clássica equação que relaciona força versus distância,
conforme citada abaixo (1.49):

dU = F⋅dl (1.49)

Sabendo-se que li = l0(1+e1) e σ = F/A, calcula-se, a partir da equação (1.49):

li = l0(1+e1) ∴ dl = l0de1
(1.50)
σ = F/A ∴ F=σ1⋅A0
Neste caso utiliza-se A0, pois a alteração da área da secção reta é muito pequena para
considerar as correções citadas no item 1.7. Agrupando os termos da equação (1.50) e
integrando-a, por unidade de volume, obtêm-se:

εf
lf
U Total = ∫l F ⋅ dl = A0l0 ∫ σ 1de1 (1.51)
0
0

considerando o cálculo da equação (1.51) por unidade de volume (dividi-se por A0⋅l0) e
considera-se válida a lei de Hooke (equação 1.13), faz-se a integração, obtendo-se:

εf
1
U Total = ∫ σ 1de1 = σ 1e f (1.52)
0 2

Somando as respectivas energias nos outros dois eixos, considerando que estas não
causem interferência mútua, pode-se obter:
εf

U Total = ∫ σ 1de1 = σ 1e f = (σ 1e1 ⋅ σ 2 e2 ⋅ σ 3e3 )


1 1
(1.53)
0 2 2

Pode-se demonstrar, matematicamente que a equação acima (1.53) pode ser expressa
como sendo a soma de um termo correlacionado somente com as tensões hidrostáticas e outro
termo correlacionado com as tensões desviatórias (vide figura 1.8).

Neste caso, a expressão fica:


• Energia hidrostática (UoH):
1 − 2ν
U 0D = (σ 1 + σ 2 + σ 3 )2 (1.54)
6E

27
• Energia desviatória (UoD):
U 0D =
1 +ν
6E
[
(σ 1 − σ 2 )2 + (σ 1 − σ 3 )2 + (σ 2 − σ 3 )2 ] (1.55)

O critério elaborado por von Mises, admite que o material inicie deformação plástica
quando a energia elástica de distorção por unidade de volume (UoD – equação 1.55) atinge um
valor limite que é característico do material. Considerando o ensaio de tração e aplicando-se
os valores de tensão de escoamento na equação (1.55), vêm:

1 +ν
U 0D =(σ ys )2 (1.56)
6E
Igualando esta equação à expressão da energia de distorção, obtêm-se a expressão para o
critério de escoamento de von Mises:

1
(σ 1 − σ 2 )2 + (σ 3 − σ 1 )2 + (σ 2 − σ 3 )2 ≥ σ ys (1.57)
2

No estado plano de tensões, quando σ1 = σ2 ou σ2 = σ3, então os critérios de von


Mises e Tresca coincidem. Os dois critérios apresentam uma diferença máxima em um estado
plano de deformação, quando:
σ2 = ½ (σ1 + σ3) (1.58)
neste caso a diferença é de 2/(3) ≈ 1,15. A figura 1.20 apresenta um gráfico demonstrando
0,5

que os dois critérios de tensão coincidem para σ1 = σ2 ou σ2 = σ3 e que divergem no máximo


de 1,15 para deformação plana.

Figura 1.20 – Representação gráfica das


curvas limite de escoamento (fora das
quais existem tensões atuando que
provocam deformação plástica). Nota-se
a combinação de tensões que levam aos
dois critérios estabelecer a mesma
condição de escoamento (σ1 = σ3) e a
condição de máxima diferença (σ1 = 2σ3
ou σ1 = ½σ3), Dieter (1988).

Os reais valores de tensão, onde ocorre o escoamento dos materiais metálicos, situam-
se, em média, entre as regiões definidas pelos critérios de Tresca e de von Mises, de acordo
com o gráfico apresentado por Dowling (figura 1.21) e por Meyers e Chawla (figura 1.22).

28
Figura 1.21.a –
Previsão de
escoamento no
estado plano de
tensão para várias
classes de
materiais
metálicos,
Dowling (1993).

Figura 1.21.b –
Comportamento sob
escoamento de alguns
materiais comparando
com os três critérios de
escoamento deste item,
Meyers & Chawla (1984).

O aluno deve perceber que os critérios de escoamento são todos baseados nos valores
de tensões, conforme conceito de estado de tensões em um ponto apresentado no item 1.2.
Portanto, é possível que um material possua uma distribuição de tensões que causa
escoamento (deformação plástica) somente em algumas regiões ou pontos de seu volume.

29
1.8.4 – Tensão e Deformação efetivas
Dois estados de tensão são mecanicamente equivalentes quando produzem o mesmo
efeito em um material, com relação à deformação ou conformação plástica deste. A maneira
mais simples de comparar dois estados de tensão é pelos critérios de escoamento. Se dois
estados de tensão diferentes, por exemplo àqueles representados pelos respectivos tensores de
tensão (1) e (2) abaixo, são suficientes para iniciar a deformação plástica, segundo um critério
de escoamento, então estes estados são semelhantes. Deve-se notar que é possível que dois
estados produzam o mesmo efeito, no caso início de deformação plástica, mesmo que os
valores de tensões foram todos diferentes entre si (σi1≠σi2 e τij1≠τij2).

(1) (2)

Neste caso, como o efeito de ambos os estados (no caso o limiar de deformação
plástica) é mecanicamente igual, então se diz que estes estados são mecanicamente similares
ou efetivamente iguais. A definição mais usual para a tensões e deformações efetivas é a
fornecida com base nas considerações de energia de distorção oferecida por von Mises e
expressa pelas equações (1.59) e (1.60).

σe =
1
(σ 1 − σ 2 )2 + (σ 3 − σ 1 )2 + (σ 2 − σ 3 )2 (1.59)
2

dε e =
2
(dε1 − dε 2 )2 + (dε 3 − dε1 )2 + (dε 2 − dε 3 )2 (1.60)
3
a equação acima (1.60) pode ser simplificada, admitindo-se que o produto entre deformações
pode ser desprezado, para a seguinte forma:

2
dε e =
3
2
(
dε 1 + dε 2 + dε 3
2 2
) (1.61)

ou em termos de deformação plástica total:

εe =
2 2
3
(
ε1 + ε 2 2 + ε 3 2 ) (1.62)

Os termos de deformação (dεi ou εi) das equações de cálculo da deformação efetiva


(equações 1.60 a 1.62) devem representar a porção plástica da deformação total do material,
ou seja, valores como os mostrados na equação (1.63), abaixo:

ε i Plástico = ε iTotal − ε i Elástica (1.63)


como os termos de deformação elástica são, geralmente, muito pequenos então aproxima-se
os valores de deformação das equações de cálculo da deformação efetiva como sendo a
deformação total do material.

30
1.9 – Relações entre tensão e deformação no regime plástico
As relações entre tensão e deformação no regime plástico são semelhantes àquelas
para o regime elástico, mas com duas grandes distinções:
• as deformações envolvidas sempre devem ser calculadas pela definição de deformação
verdadeira – equação (1.12), feita por meio do logaritmo da diferença entre a
dimensão final e inicial (ε=ln li/l0), no regime plástico não vale a aproximação de que
a deformação real é praticamente igual à deformação convencional (ε≠e);
• a deformação plástica final depende da história do carregamento mecânico a que foi
submetido a peça/componente.

Na plasticidade é necessário, com base nas tensões e deformações efetivas atuantes,


calcular quais são os incrementos de deformação ao longo de todo o ciclo de carregamento e
somar todos estes incrementos (integrá-los) de modo a se obter a deformação plástica final do
material.
Como exemplo, considere-se um pequeno cilindro metálico de 10mm de altura. Este
cilindro sofre o processamento mostrado na figura 1.22, ou seja, é alongado até 11mm e
depois comprimido de volta a sua dimensão original (10mm).

Estado inicial (h0=3,5mm) Estado intermediário (hi=4,5mm) Estado final (hf=3,5mm)

Processo 1 (h0 → hi) Processo 2 (hi → hf)

Figura 1.22 – Exemplificação de um processo de conformação plástica simples (escala 1:1).

Se for considerado somente as dimensões inicial (h0=3,5mm) e final (hf=3,5mm), o


valor de deformação obtido seria:
4,5 3, 5

= 0,2513 + (− 0,2513) = 0
dh dh 4,5 3,5
ε 0→ f = ∫ + ∫ = ln − ln
3, 5
h 4,5
h 3,5 4,5
Porém, considerando todo o processo como um somatório de incrementos e
considerando que a deformação em cada etapa gera um consumo de energia, ou seja,
processos que necessitam de força para ocorrer, então o real valor de deformação a ser
considerado seria 0,5:
4,5 3, 5

= 0,2513 − (− 0,2513) = 0,5026


dh dh 4,5 3,5
ε 0→ f = ∫ + ∫ − = ln − ln
3, 5
h 4,5
h 3,5 4,5

31
As seguintes equações, devidas à Levy-Mises, correlacionam tensões e deformações
plásticas:

A aplicação das equações, como já visto anteriormente, deve se feita considerando


cada etapa da conformação. Para isso, recomenda-se o seguinte procedimento:

1.10 - Limite máximo de deformação


A conformação plástica de um material somente é possível até um determinado limite
que cada material pode suportar. No ensaio de tração, este valor pode ser expresso pelo
alongamento obtido em um ensaio de tração convencional ou de engenharia ou pelo valor de
deformação máxima real (vide figura 1.16). A deformação máxima que um material pode
suportar em conformação plástica depende de três condições listadas a seguir.

1. Estado de tensões: tensões de tração provocam a ruptura antes que tensões de


compressão, assim a capacidade de deformação máxima aumenta quanto
maiores forem as componentes de compressão ou quanto mais compressiva for
a tensão efetiva aplicada ao componente e/ou peça (equação 1.59). Além disso,
em todos os processos de deformação ocorrem perdas devido ao atrito e

32
movimento de internos de defeitos (discordâncias nos metais) que aumenta o
esforço de conformação e, conseqüentemente, a dificuldade de deformação.

2. Temperatura a que se passa a conformação: com o aumento da temperatura,


aumenta-se o limite de deformação máxima, inicialmente pela diminuição do
limite de escoamento e depois pelas mudanças estruturais que ocorrem nos
metais (recristalização). Porém, certos efeitos peculiares, que podem ocorrem
em determinadas temperaturas, podem diminuir a capacidade de conformação
do material (por exemplo envelhecimento pode deformação). No capítulo dois
serão apresentados maiores detalhes sobre a influência da temperatura sobre as
características de conformação plástica dos metais.

3. Velocidade de deformação imposto ao material: com o aumento da


velocidade de deformação ou da taxa de deformação ( ε& ), aumenta-se a
tendência do material a endurecer mais rapidamente e a apresentar fraturas
durante o processo de conformação plástica. Maiores detalhes também serão
apresentados no capítulo dois.

1.11 – Bibliografia
Os livros destacados com um ponto (•) são recomendados como livros-texto deste
capítulo da disciplina.

BOYER, H.; Atlas of stress-strain curves. ASM International, 2nd printing, Materials
Park, 1990.
DALLY, J.W.; RILEY, W.F.; Experimental Stress Analysis. McGraw-Hill,
International Edition, Sigapore, 1991.
• DIETER, G. E.; Mechanical Metallurgy. SI Metric edition. McGraw Hill, Singapore,
1988. (existe uma versão anterior que foi traduzida para o português)
DOWLING, N.E.; Mechanical Behavior of Materials. Prentice-Hall Inc., Englewood
Cliffs, 1993.
HELMAN, H.; CETLIN, P.R.; Fundamentos da Conformação Mecânica dos
Metais. Editora Guanabara Dois, 1983.
MOURA BRANCO, C.A.G; Mecânica dos Materiais. Fundação Caloustre
Gulbenkian, 2a edição, Porto, 1994.
MEYERS, M.A.; CHAWLA, K.K.; Principles of Mechanical Metallurgy. Prentice-
Hall Inc., Englewood Cliffs, 1984.
• SCHAEFFER, L.; Conformação Mecânica. Imprensa Livre Editora, Porto Alegre,
1999.

33
1.11 – Lista de exercícios
Para os exercícios a seguir, podem ser considerados os seguintes gráficos/tabelas a
seguir.

Tabela I.1 – Algumas propriedades mecânicas de metais, ( σ~ = Hε~ n ), Downling (1993).

32
Tabela I.2 – Propriedades mecânicas segundo obtidas em ensaios de tração para alguns
metais, Downling (1993).

33
1. Qual o valor das tensões principais para os tensores de tensão dados, segundo a
simbologia utilizada na disciplina (vide matrizes abaixo) ?

Valores de tensões em MPa


Tensões Genéricas Tensões principais
Estados
σx σy σz τxy τxz τyz σ1 σ2 σ3
A 200 100 -50 30 0 0
B 150 -75 50 0 0 0
C 0 0 0 150 -75 50
D -200 -125 -50 70 0 -50
E 200 -125 -50 70 0 -50

2. A tabela 1.5 apresenta valores de coeficientes elásticos para alguns metais. A tabela
abaixo ilustra coeficientes de dilatação linear para estes mesmos metais. Ambas as tabelas
foram obtidas de referências bibliográficas confiáveis. Qual seria a deformação esperada,
para cada material quando há um aquecimento de 50oC ? Qual a maior deformação
elástica possível de ser obtida ? Qual é a diferença percentual entre uma deformação e
outra ? Com base nestes dados V.Sa. acredita ser possível deformar plasticamente um
metal apenas pela dilatação térmica ?

Tabela de propriedades dos metais listados na tabela 1.5, ASM Metals Reference Book (1993)
∝ σys* ε ε (ε∆T-εelas) Qual a
Material
(µm/(moC)) (MPa) ∆T=50oC Elástica máx /εelas maior ε ?
Alumínio 23,6 100
Latão 20,3 300
Cobre 16,5 200
Ferro fundido 10,5 250
Aço carbono 11,7 300
Aço inox 16,5 500
Titânio 8,41 350
Tungstênio 4,6 600
* Os valores do limite de escoamento variam muito com a composição química, os valores
listados aqui podem ser considerados típicos.

Dilatação de um material submetido a uma variação de temperatura ∆T: Lf = L0(1+∝)∆T


Lei de Hooke (relação tensão-deformação no regime linear elástico): σ = E⋅ε
Definição de deformação real: ε = ln lf/l0

34
3. Extensômetros, posicionados em um dado ponto da superfície de uma chapa de aço
sofrendo estampagem, indicam que as deformações principais (ε1=εxx ; ε2=εyy e ε3=εzz –
vide equações da tabela 1.3) valem 0,4% e 0,1%. Considerar os dados da tabela 1.5
4. Um corpo de prova de tração cilíndrico de
12mm de diâmetro e base de medida de
50mm apresentou, sob teste, uma carga
máxima de 8,1t e fraturou-se a 6,8t. O
diâmetro mínimo da fratura (como a
mostrada ao lado) foi de 8mm. Qual foi o
limite de resistência obtido para o material
e qual seria a máxima tensão de fratura
real do material ? Qual a deformação real
do material neste ensaio ? Qual seria a
relação entre as áreas ?

5. Considere um limite de escoamento de 250 e 500MPa. Qual estado de tensão, daqueles


mostrados no exercício 1 produziria escoamento segundo os critérios de Rankine, Tresca e
von Mises ? Qual o estado que induziria mais facilmente o escoamento em vossa opnião ?
Tente explicar o porquê.
6. Traçar os círculos de Mohr de todos os estados de tensão do exercício 1. A análise destes
círculos condiz com os resultados do exercício 5 ?
7. Qual seria a relação entre a deformação necessária na laminação (ε1=-ε2 e ε3=0) para
produzir o mesmo efeito que uma determinada deformação em um ensaio de tração (ε1=-
(ε2 + ε3)) ? (utilize as equações de tensão e deformação efetivas: equações de 1.59 a 1.62).
8. Retirou-se um corpo de prova (CP),
segundo a norma ASTM E8M, de um fardo
de chapas de aço baixo carbono de 3,00mm
de espessura. O CP possui a geometria
conforme mostrada na figura ao lado. A
carga máxima, registrada no ensaio, foi de
1,3t e a carga de ruptura foi de 1t.
8.a ) Porque a carga de ruptura foi maior do que
a carga máxima durante o ensaio ou o que
ocorreu com o CP após a carga máxima ?
8.b) Qual é a resistência mecânica do material ?
(LR ou σUTS) em MPa ? Esta resistência é a
convencional (de engenharia) ou real ?
8.c) Supondo um limite de escoamento de 265MPa, qual seria a deformação esperada para
metade deste valor de tensão ? E no limite de escoamento ? Se o nível de tensão fosse
aumentado de 10%, em relação ao limite de escoamento, você esperaria qual aumento relativo
na deformação ? Faça uma tabela / gráfico e compare os resultados.

35
9. Em um ensaio de tração, realizado em
uma Universidade, utilizou-se um CP
ASTM E8M de um aço SAE 4340
temperado e revenido com 12mm de
diâmetro da região útil e L0=50mm. A
carga máxima registrada durante o ensaio
foi de 11,2t e a carga durante a ruptura
final foi de aproximadamente 7,1t. A
curva apresentada foi traçada diretamente
dos dados do ensaio. A região de ruptura
final possuía um diâmetro de 9mm.
9.a)Calcule a tensão de máxima de engenharia
e a tensão de ruptura real e compare os
resultados.
9.b)Calcule a tensão de escoamento do
material.
9.c)A deformação mostrada é real ou
convencional ? Estaria sendo levado em
consideração a rigidez da máquina de
ensaios ?
9.d)As tensões calculadas são reais ou
convencionais, porquê ?

10. Considere que V.Sa. Especificação Fornec. C Fornec. U Fornec. N


seja o(a) gerente de uma
estamparia de chapas de LE ≤ 280MPa LE ≤ 320MPa LE ≤ 270MPa LE ≤ 280MPa
aço. Sua empresa está LR ≤ 450MPa LR ≤ 500MPa LR ≤ 450MPa LR ≤ 440MPa
com uma grande Along. (50mm) Along. (50mm) Along. (50mm) Along. (200mm)
encomenda de peças, ≥ 25% ≥ 25% ≥ 22% ≥ 19%
que necessitam da Custo (aço + Custo (aço + Custo (aço +
matéria-prima conforme Espessura de Frete + impostos) Frete + impostos) Frete + impostos)
2,5mm
a especificação de R$ 1450,00/ton R$ 1500,00/ton R$ 1550,00/ton
fabricação mostrada na LE e LR são valores máximos e Along. são valores mínimos de garantia
coluna ao lado. O valor entre parêntesis no alongamento refere-se à base de medida (L0)
Todos os resultados foram obtidos segundo ASTM E8M, vide figura I.9
Existem três fornecedores no mercado, também descritos. Escolha e justifique
tecnicamente o porquê de não ter escolhido o fornecedor/material mais barato.

11. Um arame de bronze (liga ASTM B22 C91100; α=16,5µm/m×oC; σYS=LE=172MPa) de


30m de comprimento e 5mm de diâmetro se alonga 7mm quando uma carga axial de
tração de 50kgf é aplicada sobre este.
11.1) Qual é o módulo de elasticidade do material ?
11.b) Caso a temperatura caia em 20oC o material tenderá a se contrair. Considerando a carga
fixa em 50kgf, ainda persistirá alguma deformação mecânica ? Qual seria o seu valor ?
11.c) Qual seria o máximo alongamento reversível que poderia ser imposto ao arame ?
11.d) Se você fosse provocar uma mudança reversível no volume de um cubo deste material,
qual seria o processo que alteraria mais o volume: carregamento elástico ou dilatação térmica?

36
11.e) Em qual metal é mais fácil de alterar o volume por meio de um carregamento mecânico
(elástico): o aço ou o bronze ? Porquê ?

12. Trace os respectivos círculos de Mohr para as situações abaixo ilustradas, no caso do
corpo de prova à direita (CP de Mecânica de Fratura, segundo norma ASTM E1820-99),
considerar os pontos numerados de 1 a 4 e o carregamento axial nos orifícios, segundo
indicado pelas setas.

13. Qual seria o método que utilizaria o menor valor de σ para conformar uma chapa
metálica?
σ 0 0 σ 0 0 σ 0 0 σ 1 σ 0
2
0 0 0 0 −σ 0 0 −1 σ 0 1 σ −1 σ 0
2 2 3
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
(tração e ½
(tração simples) (torção simples) (tração e cisalhamento)
compressão)
13.a) Monte o círculo de Mohr para cada caso e repare em uma possível correlação entre a
geometria do círculo com a sua resposta anterior.
13.b) Todos os estados de tensões acima não possuem o componente σ3, seria possível a
utilização de um componente de tensão deste tipo para facilitar o processo de
conformação da chapa metálica ? Como deveria ser este valor ?
13.c) Considerando um cilindro de metal dúctil, qual seria o valor prático de σ para se
conformar o metal, no caso de σ1 = σ2 = σ3 ?

14. Qual seria o valor de X, nos estados de tensão a seguir, para provocar escoamento
(deformação plástica) em uma barra de aço SAE 1006 (σYS=LE=165MPa)) laminado a
quente e em uma barra de aço SAE 1020 (σYS=LE=350MPa)) laminada a frio ?
14.a) Qual seria o valor de tensão que influenciaria mais a condição de escoamento do
material: tensão normal ou cisalhante ? Porquê ?
14.b) Seria razoável conceber um processo de conformação de chapas finas cujos estados de
tensão sejam representados pelos tensores acima ? Porquê ?

37
100 X 0 75 0 X 0 0 X 0 0 0
σ ij = X 75 0 σ ij = 0 0 0 σ ij = 0 − 100 0 σ ij = 0 0 X
0 0 50 X 0 − 60 X 0 100 0 X 150
X 100 75 0 75 − 60 0 − 100 0 0 0 0
σ ij = 100 0 50 σ ij = 75 0 0 σ ij = − 100 X 100 σ ij = 0 0 150
75 50 0 − 60 0 X 0 100 0 0 150 X

15. As duas fórmulas ao lado definem ∆L L f − L0 Lf


deformação. e= = ε = ln
L0 L0 L0
15.a) Quais são as características de cada
fórmula?
15.b) Considere um cilindro, de altura
inicial 50mm, que sofreu
compressão até atingir as alturas de
45, 40, 30, 25 e 10mm (como
mostrado ao lado). Calcule as
respectivas deformações por meio
de cada definição e descreva o
resultado em uma tabela.

15.c) O quê V.Sa. poderia descrever a respeito dos valores calculadas para as deformações ?
15.d) Em sua opinião, qual fórmula consegue descrever melhor a deformação de um material?
Porquê ?

16. Qual é a correspondência entre as tensões aplicadas e efetivas para os carregamentos


mecânicos seguintes (considere que não ocorram estricções):
16.a) tração (σ1≠0, σ2=σ3=0);
16.b) torção (σ1=-σ3, σ2=0);
16.c) compressão hidrostática (σ1=σ2=σ3<0) e
16.d) especial (σ1=-2σ2=-2σ3; σ2=σ3).
16.e) Qual deverá ser o processo (ensaio) que produz maiores quantidades de deformação
para um mesmo nível de tensão aplicado ?
16.f) A resposta do item “16.e” está de acordo com o esperado a partir de uma análise por um
critério de escoamento ?

38
FUNDAMENTOS

Capítulo Dois:
Variáveis metalúrgicas
1. Teoria da deformação plástica dos metais:
encruamento
2. Conformabilidade dos metais
3. Taxa de deformação
4. Influência da velocidade de conformação
5. Transferência de Calor
6. Influência da temperatura na conformação
7. Atrito e Lubrificação
8. Bibliografia
9. Lista de exercícios
40
Capítulo Dois: Variáveis metalúrgicas
Na conformação plástica dos metais, não basta somente considerar os efeitos
mecânicos das forças atuantes, os efeitos metalúrgicos dos materiais sendo conformados
também constitui importante condição a ser levada em consideração. Os materiais metálicos
podem responder diferentemente a uma mesma solicitação mecânica (tensor de tensões) de
acordo com:
• o histórico de carregamento mecânico sofrido pelo metal;
• a temperatura onde esta solicitação ocorre;
• a velocidade na qual este carregamento é imposto;
• as condições de contato entre o metal e os moldes ou atuadores de carga;
• a capacidade de dissipação de calor presente no meio.

Neste capítulo serão vistas as influências destas variáveis na conformação plástica dos
metais e apresentados alguns métodos para quantificar os seus efeitos e reduzir suas
conseqüências degradativas.

2.1 – Teoria da deformação plástica dos metais: encruamento


Não é objetivo nesta disciplina descrever os mecanismos de deformação plástica dos
metais e sim as principais implicações práticas dos mecanismos existentes com respeito à
resposta destes materiais aos esforços de conformação plástica. Sabe-se que os metais não são
materiais perfeitos e homogêneos: na estrutura cristalina dos mesmos apresenta diversos
defeitos que dão certas características físicas e mecânicas para os metais. O esquema da figura
2.1 ilustra os tipos de defeitos que podem estar presentes na estrutura cristalina dos metais.

Figura 2.1 – Representação dos possíveis defeitos presentes na estrutura cristalina dos materiais
metálicos, Engel and Klingele, 1981.

41
Os defeitos existentes, representados na figura 2.1, podem ser classificados como
sendo defeitos pontuais (átomos de solução sólida substitucional ou intersticial), planares
(contornos de grão) ou lineares (discordâncias).
As discordâncias são as arestas de
superfícies onde existe um deslocamento
relativo dos planos atômicos do metal,
conforme ilustrado pela figura 2.2 ao
lado. A discordância normalmente é
representada por meio da linha de sua
aresta.
Pode-se provar, por meio de
cálculos matemáticos ou mesmo através
de analogia, que a movimentação das
discordâncias é feita a um nível de
energia muito menor do que àquela
necessária à ruptura dos metais. Além
disso, cada discordância que se move, Figura 2.2 – Representação simples de uma
produz uma pequena deformação discordância, Callister (1997)
irreversível no metal (deformação plástica)
conforme mostrado na figura 2.3. Com a intensa movimentação de discordâncias, maior a
deformação plástica experimentada pelo metal. Assim sendo, a capacidade de um metal se
deformar plasticamente depende diretamente da mobilidade das suas discordâncias.

( a) (b)

Figura 2.3 – (a) Esquema mostrando a origem da deformação plástica através do movimento de uma
discordância sob tensão de cisalhamento, Dieter (1988). (b) Esquema mostrando com o somatório das
pequenas deformações produzidas pela movimentação das discordâncias pode produzir grandes
valores de deformação plástica, Dieter (1988).

42
Metais puros, que apresentam tamanhos de grão grandes e que contenham apenas
algumas discordâncias deverão possuir um limite elástico muito baixo. Nestes casos, as
discordâncias presentes movimentam-se facilmente pelo material, pois não encontram
obstáculos em seu percurso, dotando o material de grande capacidade de deformação plástica.
Nos materiais estruturais, deseja-se que a mobilidade das discordâncias seja
restringida de modo a se evitar a deformação plástica, ou seja, aumentar-se o limite de
escoamento. A tabela 2.1 mostra as propriedades mecânicas de dois aços que apresentam
propriedades mecânicas distintas devido ao projeto feito nos materiais para permitir maior
movimentação de discordâncias (NBR 5906 EPA) e restringir a movimentação destas (NBR
6656 LNE 50).

Tabela 2.1 – Comparação entre as propriedades mecânicas* de um aço para conformabilidade


(NBR 5906 EPA) e outro para resistência mecânica (NBR 6656 LNE 50).

NBR 5655 EPA NBR 6656 LNE 50

Limite de Limite de Limite de Limite de


Along. Along.
escoamento resistência escoamento resistência
proporc. proporc.
(MPa) (MPa) (MPa) (MPa)

280 350 44,1% 438 520 23,9%

* - As curvas tensão vs deformação da tabela estão na mesma escala e devem ser consideradas curvas tensão vs
deformação convencionais, sem levar em consideração a rigidez do sistema de testes (vide I.4.3).

Porém, durante a movimentação das discordâncias no interior de um material


metálico, dois eventos ocorrem de modo a atrapalhar cada vez mais a movimentação das
discordâncias à medida que mais deformação plástica é imposta ao metal:

1. intersecção das discordâncias com obstáculos (outras discordâncias, contornos


de grão, precipitados, etc.);
2. multiplicação do número de discordâncias.

Os mecanismos existentes para a ocorrência destes dois eventos fogem do objetivo


desta disciplina. O importante é que os dois eventos tornam a continuidade da movimentação
das discordâncias cada vez mais difícil. Isto quer dizer que, à medida que a deformação
plástica progride, mais provável que as discordâncias em movimento encontrem obstáculos a
sua movimentação, que será dificultada, e mais endurecido torna-se o metal.
Ao fenômeno do aumento do limite de escoamento do metal, ou o seu endurecimento,
com a deformação plástica imposta dá-se o nome de encruamento.

43
Em termos práticos, o encruamento se dá
por meio de uma severa deformação plástica do
metal a “frio"1. Esta deformação aumenta a
quantidade (densidade) de discordâncias presentes,
desordenando a estrutura cristalina, aumentando a
resistência e diminuindo a ductilidade do metal. A
figura 2.4 ao lado, esquematiza o que ocorre com as
propriedades mecânicas do níquel submetido a
diferentes graus de redução durante uma laminação
a frio.
Importante notar que a variação das
propriedades mecânicas dependerá das tensões e
deformações efetivas submetidas ao mesmo. Neste
caso, diferentes condições de tensão/deformação
efetivas provocarão diferentes graus de
encruamento, que não necessariamente são iguais Figura 2.4 – Alteração nas propriedades
ao encruamento provocado por um ensaio de tração. mecânicas de um metal com a presença de
Os efeitos do encruamento podem ser conformação plástica a frio (encruamento),
parcialmente ou completamente revertidos pelo Callister (199&).
aquecimento do metal a uma temperatura
suficientemente alta.
Neste caso são produzidos novos cristais no metal (no estado sólido), através de um
processo conhecido como recozimento (annealed). A figura 2.5.b ilustra o efeito do
recozimento em determinadas temperaturas na recuperação das propriedades mecânicas do
níquel, anteriormente deformado a frio em 80% por laminação.

( a) (b)

Figura 2.5 – (a) Variação nas propriedades mecânicas, segundo reveladas por um ensaio de tração, do
níquel com quantidades cada vez maiores de deformação por laminação. (b) Recuperação das
propriedades mecânicas de acordo com ciclos de recozimento de 1 hora nas temperaturas indicadas,
Meyers & Chawla (1999).

1
Conforme será visto, uma temperatura “fria” é aquela temperatura, em graus kelvin, cuja razão com o ponto de
fusão do material, em kelvins, é menor que 0,5.

44
2.2 – Conformabilidade dos metais
Os metais possuem grande capacidade de conformação plástica, no entanto seu grau
de conformação tem limites, como já visto no item 1.10. Estes limites são definidos pela
formação de estricções, flambagem ou falha da peça em conformação.
Em um ensaio de tração, o CP2 inevitavelmente apresentará uma estricção em uma
região de menor resistência e conseqüentemente irá fraturar nesta região pela concentração de
tensões que surgirá. Uma maneira de evitar este inconveniente é a utilização de componentes
de tensões compressivas, no tensor de tensões atuante: as tensões de compressão tendem a
regularizar a formação da estricção e impedir a sua ocorrência localizada. O valor destes
componentes de compressão, assim como a sua localização deve ser conveniente para evitar
efetivamente a ocorrência de estricções.

( a)

(b)

Figura 2.6 – (a) Dois corpos de prova de material laminado a frio testados em tração até a ruptura e
um corpo de prova não testado. (b) Dois corpos de prova de material laminado a quente. Um dos CP´s
ainda não havia sido testado. A escala inferior está em cm. Notar a região de estricção do material.

2
Neste caso está sendo considerado material que apresente comportamento dúctil (plástico).

45
A flambagem é uma questão que deve ser considerada quando são conformadas peças
de seção fina (delgadas). Este tipo de deformação impede a correta conformação da peça e
pode provocar inconvenientes na linha de produção. Neste caso, a solução é relativamente
simples: deve-se buscar conformar peças diminuindo-se o comprimento sob compressão ou
aumentando-se a espessura das mesmas.
A ocorrência de falhas é o grande limitante da conformação plástica dos metais. Neste
caso, “falha” é considerada no seu sentido mais geral, não sendo necessária a ocorrência de
uma fratura completa no material, basta o surgimento de defeitos ou irregularidades
superficiais para que a peça seja considerada inapta para seu uso final. Existem vários
exemplos de falhas em conformação, inclusive àquele ilustrado na figura 2.7.

Figura 2.7 – Tentativa frustrada de se conformar uma longarina com aço de alta resistência. O detalhe
à direita ilustra as trincas formadas na superfície da peça. Esta peça não é adequada ao serviço.

A falha durante a conformação pode se originar de duas fontes: do material sob


conformação ou do tipo de conformação que está sendo imposta. Quando a fratura é devida ao
material, este geralmente apresenta propriedades mecânicas ou uma estrutura interna
inadequadas para o tipo de conformação.
No caso da falha oriunda do processo, geralmente os pontos externos do material,
especialmente suas arestas, recebem maiores níveis de carregamento mecânico. Este
carregamento localizado pode, inclusive, vencer o limite de resistência localizado,
provocando a falha.
Neste sentido o coeficiente de encruamento (n) é um importante parâmetro para se
definir a capacidade de deformação plástica do material, já que este valor é igual à
deformação real no ponto de início da estrição (εuts), segundo as equações (1.30) ou (1.37).
Quanto maior o coeficiente de encruamento, maior a deformação real que o material pode
suportar antes da estrição e consequentemente maior a sua capacidade de deformação plástica
sem ocorrer estrição ou mesmo a fratura.
Para a quantificação da capacidade de conformação plástica de um metal, pode-se
utilizar diversos métodos de testes de conformabilidade disponíveis, conforme mostrado na
figura 2.8. Estes testes visam simular condições semelhantes a que estarão submetidas os
materiais analisados.

46
Figura 2.8 – Sistemas de ensaios de conformabilidade (de cima para baixo e da esquerda para a
direita): dobramento simples, dobramento livre, embutimento (copo), embutimento Olsen ou Erichsen,
máquina de embutimento Erichsen e vista em detalhe.

2.3 – Taxa de deformação


A taxa de deformação ou velocidade de deformação (“strain rate”) é definida com
sendo a variação da deformação por unidade de tempo, conforme definido pela equação (2.1)
abaixo:

∂ε
ε& = (2.1)
∂t

Como a deformação não possui unidades, sendo normalmente expressa em


porcentagem ou então em mm/mm, então a taxa de deformação deverá possuir como unidade
s-1. Pode-se relacionar a taxa de deformação com a velocidade do metal (V) durante a sua
conformação da seguinte forma:

47
Pela equação (1.8), sabe-se que:
εx = ∂u/∂x (1.8)

Considerando a aplicação da equação (2.1) na direção x e utilizado a equação (1.8), vem:


∂ε ∂ ∂u ( )
∂x = ∂ ⎛ ∂u ⎞ = ∂V X
ε& X = X = ⎜ ⎟ (2.2)
∂t ∂t ∂x ⎝ ∂t ⎠ ∂x

Da mesma forma para as outras direções e para a taxa de deformação cisalhante:


∂V
ε&Y = Y (2.4)
∂y
∂V Z
ε& Z = (2.5)
∂z
1 ⎛ ∂V X ∂VY ⎞
ε& XY = ⎜ + ⎟
2 ⎜⎝ ∂y ∂x ⎟⎠
(2.6)

Alguns modelos de cálculos aplicados aos processos de conformação, conforme


descritos no capítulo três, calculam as velocidades de deformação do material (VX, VY e VZ)
em qualquer ponto dentro da região sob deformação. Nestes casos, sabendo-se estas
velocidades pode-se calcular a taxa de deformação do material e correlacioná-la com a
resposta mecânica do material.
Da mesma forma como a soma das três deformações principais é igual a zero (vide
item 1.6.1), a soma das três velocidades de deformação também é zero, pela lei da constância
dos volumes:
ε&X + ε&Y + ε&Z = 0 (2.7)

Da mesma forma como a utilização do somatório das deformações ser nula, a


utilização de que o somatório das taxas de deformação ser igual a zero também auxilia nos
cálculos como uma condição de contorno a ser seguida.

2.4 – Influência da velocidade de conformação


A velocidade de deformação influencia no limite de escoamento e, conseqüentemente,
no nível de tensão necessária para provocar uma determinada conformação em um material
metálico. Esta influência será tanto maior quanto maior for a temperatura em que se encontra
o material. A figura 2.9 apresenta alguns gráficos da variação do limite de escoamento com a
taxa de deformação e temperaturas.

Uma fórmula bastante difundida para se quantificar esta influência é:

Y = σ YS 0 ε& m (2.8)

onde: Y –limite de escoamento geral, σYS0 – limite de escoamento referência, m – constante.

48
Figura 2.9 – Variação no
limite de escoamento de
uma liga de alumínio e do
cobre puro com a variação
na taxa de deformação e
temperatura de teste para
uma liga de alumínio,
Dieter (1988), e para o
cobre puro, Dowling
(1 9 9 3 ).

Na equação (2.8), o parâmetro “m” é conhecido como “sensibilidade à taxa de


deformação”. Seu valor pode ser obtido de um gráfico log. tensão versus log. taxa de
deformação, como o diagrama mostrado na figura 2.9: deve-se notar que este parâmetro muda
com a temperatura. Existem tabelas onde são explicitados os valores de “m” e de “σYS0”,
Helman e Cetlin (1983) apresentam uma que foi adaptada para os ábacos da figura 2.10.
Além disso, a sensibilidade à taxa de deformação pode apresentar uma certa
dependência com a deformação, por isso uma forma mais precisa de se medir o valor de m é
pela mudança na tensão de escoamento com uma mudança na taxa de carregamento a uma
deformação e temperatura constantes. Neste caso, considerando-se o equacionamento abaixo:

⎛ ∂ ln σ ⎞ ε& ⎛ ∂σ ⎞ ∆ log σ log σ 2 − log σ 1


m=⎜ ⎟ = ⎜ ⎟ = =
⎝ ∂ ln ε& ⎠ε ,T σ ⎝ ∂ε& ⎠ε ,T ∆ log ε& log ε&2 − log ε&1
σ
log⎛⎜ 2 ⎞⎟
⎝ σ1 ⎠
m= (2.9)
ε&
log⎛⎜ 2 & ⎞⎟
⎝ ε1 ⎠

49
0 200 400 600 800 1000 1200
0,21 0,21
Ferro
Sensibilidade à taxa de deformação (m, adim.)

Cobre
0,18 0,18
Alumínio
0,15 0,15

0,12 0,12

0,09 0,09

0,06 Def 10% 0,06


Def 20%
Def 30%
0,03 0,03
Def 40%
Def 50%
0,00 0,00
0 200 400 600 800 1000 1200
o
Temperatura (T, C) ( a)

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200

550 550
Limite de escoamento referência (σYS0, MPa)

Def10
500 500
Def20
450 Def30 450
Def40
400 400
Def50
350 350

300 300

250 Cobre 250


Ferro
200 200

150 150

100 Alumínio 100

50 50

0 0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200
0
Temperatura (T, C) (b)

Figura 2.10 – Valores dos parâmetros (a) m e (b) σYS0 da equação (2.8) para três
metais obtidos em ensaios de compressão, adaptado de Helman e Cetlin (1983).

50
Pode-se obter o valor de m através da mudança na taxa de deformação, durante um
ensaio mecânico, desde que se registre as variações no limite de escoamento instantâneo para
cada uma das taxas de deformação, tal como mostrado nos gráficos da figura 2.11.

Figura 2.11 – Teste de tração


com mudanças na taxa de
deformação ao longo do ensaio
de modo a permitir aplicar a
equação (2.9) para calcular m,
Meyers & Chawla (1982) e
Dieter (1988).

Para obter os valores do limite de escoamento dos metais deve-se tomar cuidado com a
aplicação dos dados coletados. No caso de se utilizar ensaio de tração, a deformação obtida
nestes ensaios é muito limitada, o que limita a aplicação dos valores encontrados a situações
de pequenas deformações. Como as operações de conformação mecânica normalmente
ocorrem com maiores deformações, deve-se utilizar ensaios mecânicos, como os ensaios de
compressão ou torção, que permitem medir os valores de resistência em largas deformações.
Além disso deve-se tomar cuidado com a aplicação dos resultados obtidos, nos ensaios
mecânicos realizados em altas temperaturas. Normalmente a taxa de carregamento, ou de
deformação, dos ensaios é menor do que a utilizada na prática. Como em altas temperaturas
existe uma maior dependência entre as propriedades mecânicas e a taxa de deformação, os
valores medidos nos ensaios podem subestimar excessivamente os reais valores de resistência
encontrados nas operações de conformação.
Esta tendência ser observada para o cobre, através do gráfico da figura 2.10. Neste
caso, a sensibilidade à taxa de deformação é praticamente nula até a temperatura de 500oC,
acima desta temperatura a resistência do cobre torna-se bastante sensível às variações na taxa
de carregamento. Neste caso, qualquer ensaio mecânico, realizado a baixas taxas de
deformação e em temperaturas acima de 500oC, subestimará a verdadeira resistência do cobre
em operações de conformação a taxas de deformação maiores. A tabela 2.1 demonstra as
taxas de deformação que podem ser obtidas em ensaios mecânicos.

2.5 – Transferência de Calor


Em alguns processos de conformação mecânica, especialmente naqueles em que altas
temperaturas são utilizadas, torna-se necessário levar em consideração as trocas de térmicas
que ocorrem. De acordo com a transferência de calor que possa ocorrer, o material pode se
tornar mais aquecido ou perder a sua temperatura de maneira suficientemente rápida para

51
alterar o seu comportamento mecânico e conseqüentemente influenciar nos cálculos dos
esforços de conformação.
Algumas estimativas simples do efeito das trocas térmicas podem ser feitas com base
em modelos simples utilizando-se algumas propriedades dos materiais e coeficientes de
transferência de calor do meio. As tabelas 2.2 e 2.3 ilustram o valor de alguns destes
parâmetros.

Tabela 2.1 – Faixa de taxas de deformação em diferentes ensaios, Meyers


& Chawla (1984).

Tabela 2.2 – Valores de peso específico, calor específico e condutividade


térmica para alguns metais, Schaeffer (1999).
Temperatura Peso Específico Calor Específico Cond. Térmica
Material
(oC) g/cm3 J/(kg⋅K) W/(m⋅K)
20 7,84 460 39
Aço baixa liga 900 7,57 600 27
1300 7,38 715 32
200 2,7 900 240
Ligas de Al-Si 300 2,6 1000 230
400 2,6 1100 230
20 8,9 360 25 a 400
Ligas de cobre 700 8,6 490 60 a 360
1000 8,4 490 70 a 340

52
A determinação exata dos efeitos das trocas térmicas geralmente é feita por modelos
matemáticos implementados por computadores. Nestes casos a geometria, as condições de
transferência de calor, o material e as temperaturas envolvidas são relacionados por meio
destes modelos e uma solução é obtida de modo a estabelecer as condições do processo.

2.6 – Influência da temperatura na conformação


A conformação plástica dos metais é realizada em temperaturas que variam da
ambiente até temperaturas próximas à fusão do material. A resistência mecânica dos metais
normalmente cai à medida que a temperatura aumenta, conforme descrito no item I.4.1 do
anexo I e como pode ser facilmente percebido nos gráficos das figuras 2.9 e 2.10. Como novo
exemplo, na figura 2.12 são mostradas as variações nas propriedades mecânicas do ferro e do
aço baixo carbono com o aumento da temperatura.
Deve-se notar, no caso do aço baixo carbono, que o material apresenta uma alteração
de comportamento localizada entre a temperatura ambiente e 300o C, caracterizada pela forma
serrilhada da curva tensão versus deformação. Este fenômeno é característico deste material e
é conhecido como envelhecimento por deformação dinâmica, que é uma forma de fragilidade
induzida por deformação em uma certa faixa de temperaturas do aço. Este fenômeno deve ser
evitado durante a conformação de aços.

( a) (b)

Figura 2.12 – Variação nas curvas tensão versus deformação para (a) ferro puro, Callister (1997) e (b)
aço baixo carbono, adap. de Dieter (1988).

Aparentemente, quanto maior for a temperatura de conformação, menor será o limite


de escoamento do material e consequentemente menor deve ser o gasto de energia para
executar o processo de conformação. Entretanto existem alguns fatores que limitam a
utilização de temperaturas elevadas:

• gasto de energia no aquecimento do material;


• dificuldade de manuseio do material aquecido;
• maior desgaste das partes em contato com as partes aquecidas;
• necessidade de se obter encruamento ou textura no material conformado;
• possível surgimento de efeitos secundários nas propriedades mecânicas;
• ocorrência de oxidação.

53
Além disso, já foi visto no item 2.1 que temperaturas suficientemente altas podem
produzir uma recuperação da estrutura do material, quando o material perde o encruamento
induzido pelo processo de conformação mecânica. Admite-se que isto ocorra para
temperaturas maiores do que a metade da temperatura de fusão do material na escala absoluta
ou utilizando-se a “temperatura homóloga” (Th), definida pela equação 2.10:

T
Th = (2.10)
Tf
onde Tf é a temperatura de fusão do material em questão na escala absoluta (Kelvin).

Quando o material é conformado em temperaturas homólogas maiores do que 0,5,


considera-se que a estrutura do material seja recuperada e que o encruamento é perdido.
Nestes casos, defini-se que o processo de conformação é “a quente”. Quando a temperatura
homóloga é menor do que 0,5, considera-se que o processo de deformação é “a frio”.
A deformação plástica resultante de trabalho mecânico a frio provoca encruamento,
cujos efeitos são traduzidos por uma deformação da estrutura cristalina e modificação das
propriedades mecânicas do material, conforme mostrado na figura 2.4. O trabalho a frio
produz uma deformação geral dos grãos que constituem o metal, tornando-os alongados em
direção da deformação mecânica induzida, conforme mostrado na figura 2.13.

Figura 2.13 –
Alteração da
estrutura de grãos
de um material
metálico devido à
conformação
mecânica a frio,
Callister (1997).

A conformação mecânica a quente provoca encruamento do metal conformado, mas


que é imediatamente recuperado devido a temperatura em que o material se encontra. Neste
caso a perda da capacidade de deformação plástica, devido ao processo de conformação
plástica, também é recuperada, tornando-se teoricamente ilimitada a capacidade de
deformação plástica do metal. Na prática as limitações impostas são exatamente as mesmas
apresentadas no final da página anterior. A figura 2.14 apresenta uma conhecida
representação das alterações que podem ocorrer devido à utilização de deformação a frio e a
quente em processos de conformação plástica.
Por outro lado, uma maneira de se obter grandes deformações no material sem
necessitar de processá-lo “a quente” é pela utilização de ciclos alternados de conformação a
frio (quando o material fica encruado e perda a sua capacidade de deformação plástica) e
recozimento de recristalização (quando o material perde o seu encruamento e recupera a sua
capacidade de deformação plástica). A figura 2.15 ilustra o que ocorre quando um material é
submetido a um ciclo deste tipo.

54
Figura 2.14 – Esquema das alterações
microestruturais que podem ocorrer
devido a conformação plástica a frio e a
quente nos processos de laminação e
extrusão, Plaut (1984).

Figura 2.15 –
Evolução do
processo de
recuperação das
propriedades
mecânicas de um
material encruado
sofrendo tratamento
de recozimentode
recristalização,
Callister (1997).

55
2.7 – Atrito e Lubrificação
Atrito é o mecanismo pelo qual se desenvolvem forças de resistência superficiais ao
deslizamento de dois corpos em contato. A causa primordial para o atrito entre materiais
metálicos correlaciona-se com o contato entre pequenas regiões ao longo das superfícies
delizantes, conforme mostrado na figura 2.16. Estas superfícies apresentam irregularidades
microscópicas que podem soldar-se pela intensa deformação plástica localizada.

Figura 2.16 –
Representação
esquemática das
regiões de contato
verdadeiro entre
duas superfícies
deslizantes,
Helman (1988).

Aparentemente, Helman e Cetlin (1983) apontam que as forças de atrito parecem ter
sua origem na resistência ao cisalhamento destas uniões. Estas forças podem também se
originar como resultado de um processo de “arar” o metal mais duro sobre a superfície do
mais macio. A figura 2.17 mostra um esquema deste processo, assim como um exemplo
prático obtido para o caso da trefilação de tubos para a indústria automobilística.

Figura 2.17 – Acima: esquema de arrancamento de


material de uma superfície macia a partir de uma
microsaliência da superfície mais dura, Helman e
Cetlin (1984). Ao lado: região observada no
microscópio eletrônico de varredura mostrando uma
região “arada” em um tubo para a indústria
automobilística.

Considerando que os processos de conformação plástica dos metais envolvem o


contato entre o metal a ser conformado e as matrizes ou ferramentas de conformação, então se

56
concluí que o atrito deverá estar sempre presente, em maior ou menor grau. As principais
características que o atrito causa no processo são as seguintes:
• alteração, geralmente desfavorável, dos estados de tensão presentes durante a
deformação;
• produção de fluxos irregulares (por ex.: limalhas) de metal durante o processo
de conformação;
• criação de tensões residuais no produto;
• influência sobre a qualidade superficial (podendo ser benéfica, inclusive);
• elevação da temperatura a níveis capazes de comprometer-lhe as propriedades
mecânicas;
• aumento do desgaste de ferramentas;·
• facilitar o “agarramento” das ferramentas de conformação com o metal a ser
conformado;
• aumento do consumo de energia necessária à deformação, diminuindo a
eficiência.

As características das forças de atrito se evidenciam através do esquema mostrado na


figura 2.18 e pela equação (2.11) que traduz a relação fixa (µ) que pode ser observada entre a
força de contato (R) e a força de atrito (F).

Figura 2.18 – Esquema das


forças presentes no
deslizamento de um corpo de
peso W por meio de uma força
H, Helman e Cetlin (1984).

F
µ= (2.11)
R
onde µ é o coeficiente de atrito estático, que é um número adimensional.

Observou-se (Helman e Cetlin, 1984) que, uma vez iniciado o deslizamento do corpo,
a força H para manter o corpo em movimento uniforme é menor do que a força necessária
para iniciar este movimento. Em conseqüência pode-se definir uma fórmula semelhante à
(2.11). Em conseqüência a força de atrito F´ será:

F´ = µ´R < F (2.12)


onde µ´ é o coeficiente de atrito dinâmico, que é menor do que o coeficiente de atrito estático.

Pode-se definir um equacionamento para se quantificar o efeito do atrito. Inicialmente,


considera-se a figura 2.19. Esta figura representa uma região de contato e de deformação
plástica efetiva, cuja área vale AS. O deslizamento de uma superfície em relação à outra
exigirá um esforço de cisalhamento suficiente para romper esta ligação:

57
F = k·AS (2.13)
onde k representa a resistência ao cisalhamento das superfícies unidas.
Considerando que o material aumenta a área de contato linearmente (As = P·tag α) até
um limite An, quando ocorre limitação devido ao encruamento. Assim:
As = P·tag α
(2.14)
k tag α = constante = µ

Logo a equação (2.13) reduz-se a lei de Coulomb:


F=µP (2.15)

ou divindo-se pela área nominal An, obtém-se a expressão para a lei de Amontons:

τ=µp (2.16)

Entretanto, nas situações reais não existe uma superfície de contato perfeita onde a
resistência ao cisalhamento vale k, nestes casos admiti-se que esta tensão tenha que ser
multiplicada por um fator m, menor do que 1:
τ=mk (2.17)

Combinando as equações (2.16) e (2.17), obtêm-se:


τ=mk=µp (2.19)

O valor máximo possível para m é 1 (por definição) e o valor mínimo para a tensão p
vale o limite de escoamento geral do material, Y, segundo definido pela equação (2.8).
Substituindo estes valores na equação (2.17), verifica-se que o máximo valor do coeficiente
de atrito para a condição de aderência total é:

k 1
µ máx = = ≈ 0,58 (2.19)
Y 3
onde a relação entre k e Y é calculada com base no critério de von Mises.

As tabelas 2.3 e 2.4 ilustram valores de coeficiente de atrito para alguns materiais e
condições de uso. Devido à complexidade do atrito torna-se muito difícil determinar valores
de coeficiente de atrito para um processo de conformação específico, para um certo material e
condição de conformação.
Um método bastante difundido para a determinação do coeficiente de atrito é o
chamado teste do anel (ver Dieter ou Schaeffer), no qual um anel é forçado a se expandir,
apoiado sobre uma superfície, e os diâmetros inicial e final são medidos e correlacionados
com o coeficiente de atrito presente. Alternativamente podem ser empregados processos de
conformação mecânica, por exemplo a trefilação, nos quais se conheçam e/ou meçam todas as
variáveis de menos o coeficiente de atrito, o qual pode ser obtido facilmente.

58
Tabela 2.3 – Valores do coeficiente de atrito m (equação 2.17) para diferentes processos de
conformação mecânica, Schaeffer (1999).

Tabela 2.4 – Valores do coeficiente de atrito µ (equação 2.16) para


diferentes processos, Helman e Cetlin (1984).

59
2.7.1 – Lubrificantes
O recobrimento das superfícies dos materiais em contato com um terceiro material de
baixa resistência ao cisalhamento irá induzir o atrito a se concentrar neste material, afetando
apenas parcialmente os corpos em contato. A este material que pode ser sólido, líquido ou
gasoso, denomina-se lubrificante. As forças de atrito a serem geradas estão diretamente
vinculadas às características da película lubrificante. A figura 2.19 ilustra o efeito do uso de
lubrificante (óleo) sobre o perfil de deformação obtido em uma experiência de simulação de
extrusão realizado em sala de aula.

Figura 2.19 – Diferentes perfis de deformação com o emprego de uma matriz de extrusão com muito
lubrificante (esquerda), média quantidade (centro) e pouco (direita).

Neste curso não cabe discutir quais são os diferentes tipos de lubrificantes, a tabela 2.3
ilustra as características de um lubrificante ideal, segundo Helman e Cetlin (1984):
1. manter inalteradas as condições de lubrificação hidrodinâmicas ou lubrificação
limite a altas pressões e temperaturas;
2. diminuir o atrito superficial até valores compatíveis com o processo;
3. dissipar eficazmente o calor gerado durante o processo de deformação;
4. impedir a adesão metálica entre a matriz e o metal processado;
5. reduzir a transferência de metal entre a superfície da peça e a ferramenta;
6. eliminar partículas abrasivas da superfície de trabalho;
7. manter condições aceitáveis de acabamento superficial e características
metalúrgicas dos produtos acabados;
8. não deixar resíduos ao ser tratado termicamente o material processado;
9. ser de fácil remoção da superfície do produto nas operações de acabamento;
10. não apresentar características tóxicas;
11. possuir condutividade elétrica aceitável para assegurar o desaparecimento de
cargas elétricas estáticas produzidas pelo atrito;
12. possuir propriedades físico-químicas que permitam sua adesão á superfície do
metal processado e da matriz;
13. ter grande estabilidade química em alta temperatura.
14. possui baixa reatividade e não interagir com outros lubrificantes ou aditivos.

A tabela 2.5 resume os tipos existentes de lubrificantes empregáveis para os processos


de conformação mecânica, a descrição de cada qual segue após a tabela.

Tabela 2.5 – Classes de lubrificantes utilizáveis em processos de conformação plástica dos


metais, Helman e Cetlin (1984).
água Óleos minerais Óleos e ácidos graxos
cer as sabão Sólidos minerais
Sólidos metálicos vidros Plásticos Materiais sintéticos

60
61
2.8 – Bibliografia
Os livros destacados com um ponto (•) são recomendados como livros-texto deste
capítulo da disciplina.

BOYER, H.; Atlas of stress-strain curves. ASM International, 2nd printing, Materials
Park, 1990.
CALLISTER, W.D.; Materials science and engineering: an introduction. John
Wiley & Sons Inc., 4th edition, 1997 (existe uma versão traduzida para o
português).
• DIETER, G. E.; Mechanical Metallurgy. SI Metric edition. McGraw Hill, Singapore,
1988 (existe uma versão anterior que foi traduzida para o português).
DOWLING, N.E.; Mechanical Behavior of Materials. Prentice-Hall Inc., Englewood
Cliffs, 1993.
ENGEL, L.; KLINGELE, H.; An atlas of metal damage. Wolfe Publishing, London,
1981.
• HELMAN, H.; CETLIN, P.R.; Fundamentos da Conformação Mecânica dos
Metais. Editora Guanabara Dois, 1983.
HELMAN, H.; Curso: Fundamentos da Laminação - Produtos Planos, ABM, 1988.
MOURA BRANCO, C.A.G; Mecânica dos Materiais. Fundação Caloustre
Gulbenkian, 2a edição, Porto, 1994.
MEYERS, M.A.; CHAWLA, K.K.; Principles of Mechanical Metallurgy. Prentice-
Hall Inc., Englewood Cliffs, 1984.
PLAUT, R.L.; Laminação dos aços: tópicos avançados. Associação Brasileira de
Metais, São Paulo, 1984.
• SCHAEFFER, L.; Conformação Mecânica. Imprensa Livre Editora, Porto Alegre,
1999.

62
2.9 – Lista de exercícios
1) Um cilindro de metal sofrendo compressão apresenta a seguinte configuração de
deformações, conforme mostrado abaixo:

Figura 2.19 – Configuração de forças,


deformações e tensões atuantes em um
cilindro sobre compressão.

a) porque existem regiões de “fluxo” metálico restringido, para este cilindro, conforme
mostrado acima ?
b) esquematize o mesmo caso de um outro processo de conformação plástica.

2) O que é tensão e deformação efetivas (σe , εe) e o que significam (ver item 1.8.4) ? Como
os valores destas variáveis podem afetar a quantidade de encruamento que é introduzido
em um material devido a um determinado processo de deformação plástica ?
3) Observe a figura ao lado como
referência.
a) Como se manifesta o encruamento em
um curva tensão-deformação obtida, por
exemplo, a partir de um ensaio de
tração ?
b) O encruamento é um fenômeno
reversível ? Como poderia ser revertido
?
c) É possível um processo de conformação
plástica que deforme o material sem
provacar um encruamento prático ?

Figura 2.20 – Variaação do coeficiente de


encruamento (n), Dieter (1988)

4) Na teoria da deformação plástica dos metais, atribui-se às discordâncias a


responsabilidade da deformação plástica dos metais (ductilidade). Porém estes defeitos

63
se locomovem, provocando assim a deformação plástica, por causa de componentes de
tensão cisalhante presente no estado de tensões atuante.
a) Desenhe os respectivos círculos de Mohr para um CP de tração e para um CP de
torção, onde as tensões principais nas superfícies destes CP são (respectivamente):
σ1>0; σ2=σ3=0 e σ1=-σ3>0; σ2=0
b) Quais são as direções onde incidem
as maiores componentes de
cisalhamento nas condições do
ensaio de tração e no de torção ?
c) Quais seriam as direções que
deveriam apresentar uma maior
deformação plástica ?
d) Explique a geometria para a fratura
do CP de tração, produzido a partir
de um metal muito dúctil, mostrado Figura 2.21 – Aspecto de um CP de tração
na figura ao lado. após sua ruptura.

5) A figura ao lado
ilustra um processo
de estampagem. De
maneira semelhante
ao exercício 4, faça
um esboço dos
círculos de Mohr e
defina qual das duas
regiões deveria
escoar mais
facilmente.

Figura 2.22 – Tensões observadas durante uma operação de estampagem.

6) O que é encruamento de um metal ? Qual a influência que este fenômeno pode ter sobre
os cálculos das tensões e deformações na conformação plástica dos metais ?
7) Meça o alongamento em três bases de medidas (cada qual com metade do tamanho da
anterior) para o CP mostrado na figura 2.6.b (espessura de 5,35mm). Todas as bases de
medida devem estar centradas no centro do CP (região de fratura). Existe diferença nos
valores medidos nas bases de medição ? É possível correlacioná-los com a fórmula da
norma a ISO 2566/1 ?
8) Porque, mecanicamente, a fratura da figura 2.7 está localizada na superfície externa da
longarina ?
9) O efeito da taxa de conformação é mais intenso a partir de qual valor do trabalho da taxa
de deformação ? Faça um esboço da variação do limite de escoamento com a temperatura
do cobre comercialmente puro (vide figura 2.9).

64
10) Calcule a sobrecarga originada quando se duplica a velocidade de tratamento (de 1s-1 para
10s-1) para o alumínio e o cobre em uma temperatura de 300oC. Em ambos os casos,
considera-se uma deformação de 25%.
11) Durante um ensaio de tração a quente aumentou-se a taxa de deformação em 50, 100 e
200%. Qual seria o aumento esperado no limite de escoamento do material, considerando
ferro a 1100oC (faixa de 35%).
12) Aumentando-se a temperatura, diminui-se o limite de escoamento e, conseqüentemente,
aumenta-se a conformabildade do material. Esta prática, porém, nem sempre é possível de
ser aplicada ? Dê um motivo prático e outro numérico.
13) Cite três metais que se conformariam a quente somente acima de 500oC, três que se
conformariam a quente somente a 1000oC e três que se conformariam a quente somente a
partir de 1500oC. Existe algum metal que poderia ser conformado a quente na temperatura
ambiente ? Qual (ais).
14) Definir os valores de temperatura para o trabalho a frio ou a quente dos materiais listados
na figura 2.10.
15) O encruamento ocorre com deformação mecânica a frio ou a quente ? O que oorre com as
propriedades mecânicas no encruamento ?
16) A figura ao lado representa
comportamento mecânico, em
deformação plástica, de três
metais sob compressão.
(a) Calcule ou estime os
parâmetros “A” (ou “K”) e
“n” para cada metal.
(b) (b) Com base na curva ao
lado, qual seria o metal com
maior capacidade de
deformação plástica ?

Figura 2.23 – Curvas tensão x


deformação verdadeiras para três
metais: alumínio, cobre e aço (nesta
seqüência), adaptado de Helman e
Cetlin (1983)..

( c) Esta sua análise coincide com os valores de “n” calculados no item “a” deste exercício e
com a interpretação que V.Sa. forneceu no item “a” do exercício anterior;
(d) Aplicando uma tensão uniaxial de 50kgf/mm2, qual seria a máxima deformação
obtenível no metal representado pela curva superior ?
17) (a) Quais são os tipos básicos de lubrificantes ? (b) Quais as principais características,
daquelas listadas na tabela II.1, que deve ter um lubrificante sob o ponto de vista dos
cálculos dos esforços de conformação ?

Tabela 2.7 – Algumas características de um lubrificante, Helman e Cetlin (1984).

65
18) Com base nos dados da tabela 2.5, o que V.Sa. poderia dizer a respeito da influência do
tipo de material sobre o coeficiente de atrito e, conseqüentemente, acabamento superficial
do material ?
19) Uma chapa de aço baixo carbono (vide págs. 20 e 21), com 5mm de espessura foi recebida
e testada em tração obtendo-se um valor de apenas 10% para o alongamento (ln lf/l0) antes
da fratura. Considerando que este metal apresenta, no estado não encruado, o
comportamento ilustrado pelas curvas da página 20 e 21, qual seria uma estimativa para a
deformação efetiva aplicada anteriormente a este metal? Qual tipo de deformação
(engenharia ou real) V.Sa. considerou na sua resposta ? Por quê ?
20) Uma chapa de cobre com 1,5 polegada de espessura apresenta somente 20% de
alongamento (ln lf/l0) antes da fratura. O alongamento percentual apresentado pela chapa
de cobre após a redução na espessura de ∆e (=e0 – ef), a partir de um estado não encruado
e o seu limite de escoamento são dados por:

Along = 70% – (∆e/e0)x100% LE = 15+25x(∆e/e0) em kgf/mm2

(a) Qual seria o valor inicial de espessura deste material, com apenas 20% de
alongamento, antes de ter sido encruado ?
(b) Qual seria o esquema de passes e número de ciclos de recozimento (retirada do
encruamento) mais adequado para obter um material com ¼ de polegada e pelo
menos 20% de alongamento residual ? (considere, para facilitar os cálculos, que a
deformação efetiva seja igual à deformação no processamento)
21) Calcular (estimar) as deformações cisalhantes das regiões de contato matriz-material para
as três diferentes condições de deformação mostradas na figura 2.19. Comparar os
resultados.
22) Citar quatro importantes características dos lubrificantes para os processos de
conformação plástica dos metais.

66

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