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a dor inunda o peito

procura se agarrar
escorre pelos olhos
e volta pela boca

a dor inunda o peito


a procura de alguma palavra
qualquer coisa que possa tornar o silêncio
poesia

a dor inunda o peito


e se percebe sozinha.
a dor chora a ausência

não há cheiros
não há carícias
não ha nada além de fotografias espalhadas pelo chão.

a dor turva as lembranças


e se afoga em si mesma.
te construirei
pena por pena
tuas asas de cera
para que possas alçar o tão sonhado vôo.

te construirei
galho por galho
tua colcha de retalhos
pra que possas repousar em nosso ninho.

mas tome tento, menino


que nem mesmo passarinho
atravessa o sol.

aquieta o peito!
voa bonito, mas voa baixo,
cá embaixo do meu lençol.
Cansado do fardo de ser homem
nasceram-me, a duras penas,
um par de asas.
Não demorou para que eu estivesse
dentro de uma gaiola,
os olhos furados
para cantar a dor.
Não experimentei nem sequer a liberdade do voo.

Mesmo pássaro,
canto a dor da violência dos homens.
tenho uma bolsa de moedas
e treze bilhetes de apostas.
não me dê as costas!
aceite essa partilha,
economiza nosso amor.
não faça troça!

olha, preciso que escute um segredo mortal


sonhei com teu sorriso perto do ponto final
e com um abrigo no gramado
tudo já montado, pra você me encontrar.

sei que pareço estar um pouco afobado


nem cantou o galo!
mas é que eu preciso
te contar a minha dor.
e espero uma resposta.

cara, acredito que queira me esperar no portão


mas você está partindo meio que na contra-mão
fique com os beijos já roubados
agradeça o Caco
e te espero por lá.
meus olhos choram a madrugada.
as lágrimas escorrem entre os dedos
como areia fina.

houve linguagem,
mas linguagens gastam.
vê as rachaduras nas palavras?

houve silêncio,
mas o silêncio não se entende.
vê quanta dor muda?

vê como a cor muda?


ouve como o silêncio grita?

há ausência!

meus olhos choram a madrugada.


de noite, você me dói
Duo Soldado e Bailarina

Chora menina, por essa história que não terminou.


Canta comigo sobre a lágrima que se precipitou.
Balança teus cabelos, deixa a infância voltar.
Tenha sonhos de criança pra dor não despertar.

Diga menino, se um dia isso vai passar.


Brinca comigo, impeça meus olhos de chorar.
Se torne meu soldado, deixa a infância voltar.
Afague meus cabelos e não me deixe acordar.
vai coração!
abre a cicatriz
deixa a dor entrar
deixa atormentar
deixa o silêncio perturbar.

os nossos beijos
em nós, pequenos
tantos olhares
dores nos lares
tantos segredos

minha pele nua


tua comida crua
tantos olhares
dores nos bares
bogagens tuas

os nossos beijos (minha pele nua)


em nós pequenos (tua comida crua)
tantos olhares (tantos olhares)
dores nos lares (dores nos bares)
tantos segredos (bobagens tuas)

vai coração...
escuta agora a última batida do meu pandeiro
respira e sufoca o pó que sobe
e o bandolim que chora baixinho
meu samba de ir embora

lê, pela última vez, meus versos pra você


reclama o ardor da dor que nasce
sente meu abraço no teu e canta
meu samba de ir embora.

devolve os lábios que me pertenceram


desate nó a nó dos lençóis
atente-se a despedida do violão
é o samba de quem vai embora

escuta agora o último gemido da cuíca


no pé do ouvido do teu Chorinho
e o acorde final do meu samba triste
é o samba de quem vai embora.
malabares no escuro (já musicada)

pra que palavras belas


se já estamos surdas?
pra que levantar as velas
se o barco afundou?
pra que dizer tantos segredos?
pra que trocar nossos travesseiros?
se tua boca não me satisfaz?

pra que cantar o amor


se a platéia está vazia?
pra que curar a dor
se ela já nos matou?

pra que falar sobre nossos medos?


pra que tentar corrigir os erros?
se teu corpo já não me anima mais?

malabares no escuro não encantam ninguém


cantar para surdos não me faz bem
rimar as frases já ficou sem graça
suas palavras já viraram farsa
e o teu colo não me convence mais.

pra que palavras belas


se já estamos surdas?
pra que curar a dor
se ela já nos matou?

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