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Literatura na escola - 8º ano: conto de Clarice

Lispector
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Mais sobre Literatura


Literatura na escola - 6º ano
• Critérios para a escolha dos livros
• 1 - Contos de Drummond
• 2 - Narrativas de Graciliano Ramos
• 3 - Contos de José J. Veiga
• 4 - Poemas de Paulo Leminski
Literatura na escola - 7º ano
• 1 - Crônicas de Luís Fernando Veríssimo
• 2 - Contos de Edgar Allan Poe
• 3 - Poemas de Manuel Bandeira
• 4 - Romance de José J. Veiga
Literatura na escola - 8º ano
• 1 - Conto de Clarice Lispector
Especial
• TUDO SOBRE LEITURA
Introdução
Esta é a nona de uma série de 16 sequências didáticas que formam um programa de leitura literária
para o Ensino Fundamental II. As sequências são publicadas semanalmente. Veja, ao lado, o
conteúdo disponível para 6º, 7º e 8ºano. Confira, no final desta página, quais serão as demais aulas e
quando serão publicadas.
Objetivos
Estimular o gosto pela leitura;
Desenvolver a competência leitora;
Desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade e o senso crítico;
Estabelecer relações entre o lido, o vivido ou o conhecido (conhecimento de mundo);
Explorar a diferença entre o ponto de vista de um narrador em 3ª pessoa e o ponto de vista das
personagens da trama narrativa;
Perceber a importância da Forma literária.

Conteúdos
Sentido literal e sentido figurado;
Paráfrase, hipótese, análise e interpretação;
Ponto de vista (ou foco) narrativo;
Forma literária.
Tempo estimado
Cinco aulas

Ano
8º ano

Material necessário
Livro Laços de família. Clarice Lispector. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1990.
Se possível, um computador conectado à internet.

Desenvolvimento
1ª aula: sondagem oral

Pergunte aos alunos se eles já ouviram falar da escritora Clarice Lispector e se conhecem alguma
obra por ela publicada. Conte a eles sua interessante biografia.
Clarice Lispector - Biografia
Quando seus pais viajavam para o Brasil, como imigrantes vindos da Ucrânia, Clarice Lispector
nasceu a bordo de um navio. Chegou a Maceió com dois meses de idade, com seus pais e duas
irmãs. Em 1924 a família mudou-se para Recife, e Clarice passou a frequentar o grupo escolar João
Barbalho. Aos oito anos, perdeu a mãe. Três anos depois, transferiu-se com seu pai e suas irmãs
para o Rio de Janeiro.
Em 1939, Clarice Lispector ingressou na faculdade de Direito, formando-se em 1943. Trabalhou
como redatora para a Agência Nacional e como jornalista no jornal "A Noite". Casou-se em 1943
com o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem viveria muitos anos fora do Brasil. O casal teve
dois filhos, Pedro e Paulo, este último afilhado do escritor Érico Veríssimo.
Seu primeiro romance foi publicado em 1944, "Perto do Coração Selvagem". No ano seguinte, a
escritora ganhou o Prêmio Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras. Dois anos depois,
publicou "O Lustre".
Em 1954 saiu a primeira edição francesa de "Perto do Coração Selvagem", com capa ilustrada por
Henri Matisse. Em 1956, Clarice Lispector escreveu o romance "A Maçã no Escuro" e começou a
colaborar com a Revista Senhor, publicando contos.
Separada de seu marido, radicou-se no Rio de Janeiro. Em 1960 publicou seu primeiro livro de
contos, "Laços de Família", seguido de "A Legião Estrangeira" e de "A Paixão Segundo G. H.",
considerado um marco na literatura brasileira.
Em 1967 Clarice Lispector feriu-se gravemente num incêndio em sua casa, provocado por um
cigarro. Sua carreira literária prosseguiu com os contos infantis de "A Mulher que matou os Peixes",
"Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres" e "Felicidade Clandestina".
Nos anos 1970 Clarice Lispector ainda publicou "Água Viva", "A Imitação da Rosa", "Via Crucis
do Corpo" e "Onde Estivestes de Noite?". Reconhecida pelo público e pela crítica, em 1976 recebeu
o prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal, pelo conjunto de sua obra.
No ano seguinte publicou "A Hora da Estrela", seu ultimo romance, que foi adaptado para o cinema,
em 1985.
Clarice Lispector morreu de câncer, na véspera de seu aniversário de 57 anos.
Fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u592.jhtm

2ª aula: leitura compartilhada do conto “Uma galinha”


Leia com a turma o conto “Uma galinha” e em seguida recolha as impressões gerais. Peça aos
alunos que formulem hipóteses: Por que, afinal, a família desistiu de comer a galinha? E por que,
tempos depois, eles decidem comê-la? Em discussão coletiva, escolha com a turma as duas
hipóteses que lhes parecerem mais pertinentes.

ATENÇÃO: Ainda que você, professor, perceba que as hipóteses escolhidas pela turma são frágeis,
não tente direcionar a discussão. As hipóteses, equivocadas ou não, servem como ponto de partida
para uma análise minuciosa. Deixe que o próprio texto confirme ou desminta as hipóteses de seus
alunos, como veremos a seguir.

3ª e 4ª aulas: análise literária

Em aula expositiva dialogada, analise o conto “Uma galinha” seguindo os procedimentos descritos
abaixo.

Análise do conto “Uma galinha”

1) Paráfrase
A paráfrase é a primeira parte da análise. Ela corresponde à questão “o que fala o texto?”. É um
resumo do enredo, um “contar história com as suas próprias palavras”, por isso deve ser curta e
objetiva, deve resumir-se apenas ao essencial. Peça aos seus alunos que contem a história do conto
como se um colega, que não leu, lhes tivesse pedido um resumo.
Exemplo
O conto “Uma galinha” conta a história de uma família que escolhe uma galinha para o almoço de
domingo. Inesperadamente, a galinha foge e tem de ser perseguida pelos telhados da vizinhança.
Depois de capturada, bota um ovo e a família desiste de comê-la. Passado um tempo, a galinha
acaba por virar almoço.
2) Questão norteadora / Hipótese interpretativa
Quando começamos a analisar um texto de ficção, estamos buscando elementos para interpretá-lo.
Ao mesmo tempo, desde o início, temos em mente uma idéia do que o conto significa, uma hipótese
interpretativa ou um elemento que nos deixou intrigados. É importante formular questões para a
obra literária, mas só são pertinentes as perguntas que nos ajudem a entender a obra em sua
totalidade. Quer dizer, perguntar por que o pai colocou um calção de banho para subir no telhado de
pouco serviria para entendermos o conto. As questões norteadoras fundamentais para a
compreensão da narrativa de Clarice Lispector foram lançadas na aula anterior, e devolvidas em
forma de hipóteses interpretativas.
Exemplos de questões norteadoras
Por que, afinal, a família desistiu de comer a galinha? E por que, tempos depois, eles decidem
comê-la?
Exemplo de hipóteses interpretativas: A família desistiu de comer a galinha porque percebeu que ela
era agora necessária para dar vida ao ovo que ela chocava. Depois eles decidem comê-la porque ela
não está mais chocando ovo nenhum.
3) Análise
Agora chegamos ao corpo do trabalho. Você vai analisar o conto. Não sabe nem por onde começar?
Então vamos por partes:
Em primeiro lugar, investigue elementos do conto que sirvam para responder à sua questão
norteadora. A análise constrói argumentos que sustentem a interpretação. Ela conduz o leitor por
meio de seu raciocínio. É como se, lendo a sua questão, o leitor dissesse “também não entendi” ou
“não acho esta questão pertinente”. Sua análise é o caminho para convencê-lo.
Mas não podemos nos esquecer também de que, em arte, forma é conteúdo. Por isso, é preciso
ressaltar a contribuição que alguns aspectos formais possam vir a ter na economia do conto. O que
são “aspectos formais”? São elementos que se referem menos diretamente ao que está sendo dito e
mais ao como está sendo dito. O tipo de narrador, a caracterização de algum personagem, o tempo,
o espaço e o tipo de discurso são alguns dos elementos formais que podem ser fundamentais ao
desvendar o mistério. Se você observar bem o conto escolhido, não é difícil perceber o que, em sua
forma, lhe chama mais atenção. Por exemplo, que a narrativa oscila entre a humanização e a
animalização da galinha. Às vezes ela é uma galinha de domingo, às vezes tem seus anseios; ora ela
é estúpida, ora tímida e livre; é mais uma galinha entre todas as galinhas, mas também é uma jovem
parturiente; é um nada, mas é também um ser.
Releia com a turma os seguintes trechos para que fique clara tal ambivalência:
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém,
ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com
indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga,
pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha
tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas
vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela
para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é
que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como
se fora a mesma.

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho,
esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha.
Existem inúmeros elementos passíveis de análise em um bom conto. Se conseguirmos ter uma boa
questão (que se refere mais ao conteúdo do conto) e ainda um olhar atento no que se refere à forma,
então já é possível traçar um caminho seguro pelo qual nossa análise pode seguir.
Exemplo resumido de análise
O conto começa apresentando a galinha já como almoço: “Era uma galinha de domingo.” Como
animal irracional que era, a galinha passava despercebida pelos habitantes da casa desde sábado.
Mas, no domingo, surpreendentemente ela foge para o telhado, fazendo com que o narrador da
história reconheça nela um anseio pela vida. O dono da casa começa então a persegui-la como quem
persegue o próprio almoço. Com alguma dificuldade, o rapaz a alcança e a despeja no chão da
cozinha.
“Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez
fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe
habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou respirando, abotoando e desabotoando os olhos.”
Diante de tal fato, a menina pede à mãe:
“ – Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! Ela quer o nosso bem!”
Note o uso de citações de trechos do conto. Isso não só é possível como geralmente traz um bom
resultado. Quanto mais a análise der voz ao texto, melhor.Em uma análise assim, tão próxima da
paráfrase, pouco ainda se pode interpretar. É preciso reunir forma e conteúdo, que na verdade foram
separados artificialmente, para podermos responder às questões norteadoras e chegar a uma
interpretação.
4) Interpretação
A interpretação corresponde à questão “do que fala o texto”. Ela é a exposição do sentido profundo
do conto. E é ele que estamos buscando desde o início. Quando analisamos, queremos saber o que
está dito pelos silêncios, nas entrelinhas; o que se origina da relação íntima entre forma e conteúdo.
Se na análise desmontamos o texto em partes, na interpretação temos de reorganizá-lo como um
todo, um todo que reúne forma e conteúdo.
A galinha, até então vista pelos personagens apenas como um almoço, passa a ser personificada, a
ter sentimentos humanos a ela atribuídos. Todos os da casa desistem de comê-la e a galinha passa a
morar junto com a família.
“Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.”
Se observarmos bem o conto, podemos notar que, desde o início, há uma diferença entre o olhar do
narrador e o olhar da família sobre a galinha. Enquanto a última vê o animal apenas como almoço, o
narrador sonda a intimidade da galinha tentando descobrir se há algo nela que lhe confira o estatuto
de ser. Enquanto o narrador percebe nela “um anseio”, o pai vê “o almoço” subir no telhado. Para a
família, a galinha é menos que um bicho, ela é coisa: almoço. Já o narrador procura saber se ela
pode ser mais do que bicho ou coisa, se ela deseja a vida ou a liberdade.
Quando a galinha bota um ovo, o olhar do narrador e o da família confluem: todos personificam o
animal, vendo nela “uma velha mãe habituada”. É a maternidade que confere à galinha o estatuto de
ser. No entanto, que ser é esse? Fora da função reprodutiva, ela volta a ser vazia de sentido,
estúpida; volta a se confundir com os objetos da casa. Enquanto isso, o narrador projeta nela os
dilemas da condição feminina.
“Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena
coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça,
pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o
velho susto de sua espécie já mecanizado.
Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar
à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da
cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora
nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando
deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo
dos séculos.”

Na projeção do narrador (narradora?), a galinha/mãe/mulher gostaria muito de não ter o sentido de


sua vida reduzido à maternidade. Não quer (ou não ousa) cantar como o galo (ou cantar de galo),
mas ficaria feliz em saber que pode.
Finalmente, os membros da família, alheios à personificação da galinha promovida pelo narrador, e
longe de qualquer reflexão igualitária sobre a condição feminina, “mataram-na, comeram-na e
passaram-se anos.”

5ª aula: releituras
Há no site YouTube inúmeras releituras deste conto. Se possível, assista com a turma a animação de
Rafael Aflalo:
http://www.youtube.com/watch?v=OFguEGJ5bww

Avaliação
Depois de lidos os outros contos do livro, peça, como lição de casa, que cada aluno escolha o conto
de sua preferência e formule, para ele, uma questão norteadora e uma hipótese interpretativa.

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