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As raízes filosóficas da destruição do mundo Corrupção: quem o Judiciário protege


POR GEORGE MONBIOT
– ON 10/02/2018
CATEGORIAS: CAPA, COMPORTAMENTO, MEIO AMBIENTE, MUNDO, SOCIEDADE

Reforma Tributária, chave para outro


projeto de país | ABERTURA

Outras Palavras 2018: por que queremos


As corporações globais destroem o planeta. Mas apoiam-se numa seu apoio
ideia nasce em Platão, cresce em Santo Agostinho e reverbera em Outras Mídias
Uma frente
Descartes: a de que a Alma, ou a Razão, devem vencer a Natureza e anticapitalista,
uma civilização
nossos sentidos ecossocialista
Michael Löwy
defende que
esquerda
Por George Monbiot | Tradução: Inês Castilho | Imagem: Sandro integre-se aos
novos movimentos e lute por uma
Boticelli, Agostinho de Hippo civilização além “da produção ao
infinito de […]
Stiglitz e a
Sabemos/ para onde estamos indo. Há muitos anos os cientistas depressão
pós-Davos Nossa livraria online
avisam que estamos explodindo os limites ecológicos da Terra. No grande
encontro anual
Sabemos bem que estamos no meio de uma ruptura climática e da elite
financeira, os
colapso ecológico. Apesar disso, parecemos fisicamente incapazes de executivos
norte-americanos aderiram à
agir a partir desse conhecimento. agenda regressiva de seu
presidente. Por isso, as […]
Porões da Lava
Os Estados Unidos elegeram para presidi-los um homem que Jato revelam
enredo sombrio
prometeu desencadear um gigantesco ataque ecológico, e Delações
forçadas,
infelizmente cumpriu a promessa. O governo do Reino Unido falsificação e

produziu 150 páginas de greenwash que chama de Plano Ambiental


desaparecimento de provas,
de 25 Anos: a mesma tagarelice que governos covardes vêm negociações clandestinas,
perseguição política contra Lula e o
publicando nos últimos 25 anos. Como sempre, ele foi descrito em PT, relações escusas com
jornalistas, […]
determinados círculos como “um bom começo”. Nenhuma política,
Blog da Redação
em lugar nenhum, é proporcional à escala do desafio que temos Corrupção: quem o Judiciário
protege
diante de nós. Temer, Serra, Aécio, Rodrigo
Maia… Um ano depois da Lista da
Odebrecht, nenhuma investigação
O que nos impede de responder à ameaça? Durante anos suspeitei contra políticos conservadores
avançou. Casos começam […]
que a causa fosse ainda mais profunda que o poder das grandes Quatro hipóteses sobre o novo
Datafolha
corporações e a obsessão oficial pelo crescimento econômico, apesar Lula cresce: intocado em meio ao
bombardeio, encarnou o anti-golpe.
de serem forças tão poderosas. Agora, graças ao livro mais profundo Vem aí uma nova disputa pelo

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“centro”; Huck pode voltar. […]


e de amplo alcance que jamais li, sinto que começo a entender o que rio com cidade ao fundo Alckmin
ataca santuário ecológico de São
pode ser. Paulo
Transposição das águas do rio
Itapanhaú, em Bertioga, representa
The Patterning Instinct (O Instinto de Modelagem, em tradução a luta entre dois modelos de
desenvolvimento e relação com o
livre), de Jeremy Lent, foi publicado há alguns meses mas demorei […]

um tempo para processá-lo, já que quase cada página me fez repensar


o que considerava verdadeiro. Unindo história cultural e
neurociência, Lent desenvolve uma nova disciplina que denomina
história cognitiva.

Desde a infância, nossas mentes são modeladas pela cultura em que


crescemos – o que produz trilhas que aprendemos a seguir, como se
fossem caminhos através de um campo de grama alta. Ajudam a
construir esses padrões de significado poderosas metáforas de raiz
encravadas em nossa linguagem. Sem conhecimento consciente, elas
guiam as escolhas que fazemos.

Lent argumenta que o caráter peculiar ao pensamento religioso e


científico do Ocidente, que dominou o resto do mundo, empurrou a
civilização humana e todo o mundo vivo para a beira do colapso. Mas
mostra também como, compreendendo suas metáforas e padrões,
podemos sair de nosso caminho e desenvolver novas trilhas através
do campo de grama, o que nos afastaria da beira do precipício.

Há muitas questões pelas quais poderíamos começar, mas talvez uma


das mais cruciais seja entender a influência do pensamento de Platão
no início da teologia cristã. Ele propôs um mundo ideal percebido
pela alma, existente numa esfera apartada do mundo material vivido
pelo corpo. Para alcançar o conhecimento puro que existe acima do
mundo material, a alma precisa separar-se dos sentidos e dos desejos
do corpo. Platão ajudou a firmar uma profunda moldura no
entendimento ocidental, associando capacidade de pensamento
abstrato com alma, alma com verdade, verdade com imortalidade.

Alguns dos primeiros pensadores cristãos, em particular Santo


Agostinho, levaram mais longe essas metáforas, até um ponto em que
não apenas o corpo humano, mas todo o mundo natural passou a ser
visto como anátema, que distrai e corrompe a alma. Deveríamos
odiar nossa vida neste mundo para assegurar a vida no próximo.

O cristianismo, por sua vez, exerceu influência poderosa sobre o


conhecimento científico moderno. Longe de romper com padrões de
pensamento anteriores, a famosa crença de René Descartes – de que
este consistia em “uma substância cuja essência ou natureza inteira é
pensar e cujo ser não requer lugar e não depende de coisas materiais”
– foi uma extensão das cosmologias platônicas e cristãs, com uma
diferença crucial: substituiu a alma pela mente.

Se nossa identidade está estabelecida somente na mente, então, como


insistiam os cristãos, nosso corpo e o resto da natureza, sendo
incapazes de ter razão, não têm valor intrínseco. Descartes foi
explícito sobre isso: ele insistiu que não há diferença “entre as
máquinas feitas por artesãos e os vários corpos criados pela própria
natureza”. A mente ou alma era sagrada, enquanto o mundo natural
não possuía nem valor inerente nem significado. Existia para ser
dissecado e explorado sem remorso.

Essa visão de mundo sustentou a revolução científica, que nos trouxe


espantosas maravilhas e benefícios que transformaram nossas vidas.

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Mas também incorporou em nossas mentes metáforas de raiz


catastróficas, que ajudam a explicar nossa atual relação com o mundo
vivo. Entre elas estão as noções do humano desconectado da
natureza, do nosso domínio sobre a natureza, da natureza como
máquina e, mais recentemente, da mente como software e o corpo
como hardware.

Essas metáforas de raiz continuam a informar o discurso público. O


biólogo britânico Richard Dawkins, por exemplo, argumentou que
“um morcego é uma máquina, cuja eletrônica interna está tão ligada
que os músculos de sua asa miram automaticamente os insetos”. Se
uma máquina com a complexidade, auto-organização e
autoperpetuação de um morcego foi desenvolvida, o professor
Dawkins deveria nos dizer onde encontrá-la.

Num mundo em que falta supostamente valor inerente, mas no qual


muitos de nós perderam a crença na alma imortal ou na santidade da
razão pura, estamos diante de um vazio de significado. Buscamos
preenchê-lo com um consumismo desenfreado. Para mudar nosso
comportamento, afirma Lent, é preciso mudar nossas metáforas de
raiz.

Isso não significa que deveríamos abandonar a ciência: longe disso.


O estudo de sistemas complexos revela a natureza como uma série de
sistemas auto-organizados, auto-regenerativos, cujos componentes
estão conectados uns aos outros de maneiras até há pouco
inimagináveis. Isso mostra que, como propôs o grande
conservacionista John Muir, “Quando tentamos selecionar uma coisa
por si só, descobrimos que está atrelada a tudo o mais no universo.”
Longe de estarmos afastados da natureza ou poder dominá-la,
estamos incorporados nela, intimamente conectados a processos que
nunca podemos controlar completamente. Potencialmente, isso nos
possibilita ver o próprio universo como uma teia de significados: uma
poderosa nova metáfora de raiz que poderia, talvez, mudar a maneira
como vivemos.

Há muito trabalho a fazer até traduzir esses insights em políticas


práticas. Mas me parece que Lent explicou por que, a despeito de
nosso conhecimento ou mesmo de nossas intenções, continuamos a
seguir o caminho do precipício. Para resolver um problema,
precisamos primeiro entendê-lo: “um bom começo” é assim. Não
podemos mudar o destino até que mudemos o trajeto.

Sobre o mesmo tema:

21/08/2017 19/12/2017 30/09/2015 05/10/2014


Rumo ao fim da Natal pós-capital? Guerras climáticas, “Progresso para
vida selvagem? a nova ameaça todos, ou para
(1) ninguém”
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George Monbiot
Jornalista, escritor, acadêmico e ambientalista do
Reino Unido. Escreve uma coluna semanal no
jornal The Guardian.

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TAGS:Cristianismo, desastre ecologico, greenwash,


história cognitiva, história cultural, meio ambiente,
mudanças climáticas, neurociência, Platão, René Descartes

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