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A utilização do CAV para aplicação e exploração de

filmes

O Ciclo de Aprendizagem Vivencial- CAV - tem sua origem nas


pesquisas de David KOLB (1990), psicólogo americano. Para o autor, a
noção de criação e transferência de conhecimento é muito mais do que
uma mera reprodução. É um processo que passa pela reflexão, crítica e
internalização do que é vivido.

Uma pessoa passa por uma experiência concreta, depois reflete


sobre a situação e disso abstrai ou internaliza algum significado. Essa
"bagagem" que passa a fazer parte dos conhecimentos, valores ou
crenças dessa pessoa, pode então ser utilizada em outras situações,
muitas vezes bastante diferentes da primeira. O ciclo é iniciado
novamente.

O CAV ocorre quando uma pessoa se envolve numa atividade,


analisa-a criticamente, extrai algum insight útil dessa análise e aplica
seus resultados. Este processo é vivenciado espontaneamente no dia a
dia, mas também pode ser criado, em situações controladas, visando
alcançar focos de aprendizagem específicos.
Existem recursos de apoio à aprendizagem, tais como Dinâmicas
de Grupos, Jogos Empresariais e Filmes, que possuem seus efeitos
potencializados se associados ao CAV. Comprovadamente, a melhor
forma de aprendizagem é a vivencial, sendo que o ciclo de
aprendizagem só se completa quando passamos por cinco fases:
⇒ Vivência: Realização da atividade;
⇒ Relato: Expressão e compartilhamento das reações e
sentimentos;
⇒ Processamento: Análise do desempenho, discussão dos
padrões;
⇒ Generalizações: Comparação e inferências com situações
reais;
⇒ Aplicação: Compromisso pessoal com as mudanças,
planejamento de comportamentos mais eficazes, e da utilização dos
novos conceitos no dia- a- dia de sua atividade profissional.
Já há muito tempo o CAV é utilizado para exploração de Dinâmicas
de Grupo e Jogos Empresariais, com excelentes resultados, uma vez que
ele sistematiza o que acabou de acontecer na experiência vivenciada, e
que poderia escapar de olhos e ouvidos desavisados.
Ao começar o meu trabalho com utilização de filmes do circuito
comercial como recurso para o ensino-aprendizagem, percebi que o que
se aplica a Dinâmicas de Grupo é igualmente aplicável à experiência de
assistir a um filme visando promover ações de Treinamento e
Desenvolvimento. Os efeitos que ambos provocam são bastante
semelhantes, uma vez que permitem não só trabalharem os conceitos,
ou seja, o hemisfério esquerdo do cérebro, mas também as experiências
e o afeto das pessoas envolvidas, de forma a promover verdadeiras
mudanças de comportamentos.

Aplicando o CAV na utilização de filmes:

Assistir a um filme sem realizar uma boa exploração posterior


pode fazer com que vários resultados desejados não sejam alcançados,
perdendo boa parte dos efeitos que se pretendia provocar.
As discussões grupais após um filme, se bem conduzidas,
costumam ser riquíssimas, permitindo aos participantes se darem conta
de detalhes, que sozinhos não alcançariam, pois o compartilhamento de
percepções é sempre mais rico do que a observação e reflexão
individuais.
Como, então, aplicar o CAV na exploração do filme? Na verdade é
muito simples:
 Vivência: é o filme em si, que deve ser utilizado pelo moderador
de grupo, observando os cuidados necessários com a fase de
planejamento e execução (ver artigo: “A Vida Ensina e a Arte Encena” –
Márcia Luz);
 Relato: é o momento de checar com o grupo o que acharam do
filme, que sentimentos provocou. Algumas pessoas tendem a já
exteriorizarem suas impressões racionais, técnicas, até para escapar da
emoção, que pode ter sido gerada com o filme. Gentilmente, ouça-o e
procure checar: “e você gostou?”. Esta pergunta permite que o
participante faça contato com o que sentiu e não apenas com o que
entendeu.
 Processamento: neste momento é hora de fazer perguntas sobre o
filme, cenas que chamaram a atenção do grupo, frases, passagens, que
provocaram impacto emocional e estímulo intelectual. Procure elencar
as perguntas previamente, de tal forma que elas forneçam um
encadeamento lógico ao grupo, mas isto é para ser uma trilha e não um
trilho, ou seja, não cristalize em seu script; se a linha de raciocínio do
grupo tomar outros rumos, apenas acompanhe, buscando resgatar
através de novas perguntas, aspectos que tenham escapado do debate,
e que sejam importantes para o enfoque que você pretende dar.
 Generalizações: é a hora de começar a traçar paralelos entre o
enredo do filme e a vida real, fazendo com que o grupo perceba as
semelhanças e/ ou diferenças entre o que ocorreu nas telas e o que
ocorre diariamente nas Organizações. Que lições é possível retirar dos
personagens para a sua vida, para a sua empresa? De que forma esta
mesma história se repete em seu dia a dia? Como é possível construir/
adaptar esta realidade a sua volta?
 Aplicação: neste momento você conduz o grupo e traçar um plano
de ação, individual ou coletivo, a fim de implementar novos conceitos
adquiridos a partir do filme, sedimentando “insights” que obtiveram a
partir da reflexão crítica da experiência vivenciada.
É importante que você tenha em mente, porém, que as etapas do
CAV estão bem separadas aqui apenas para fins didáticos e para melhor
conduzir sua linha de raciocínio, mas você não deve engessar a
condução durante o debate, sob pena de perder a riqueza da discussão.
Deixe que o grupo exponha suas idéias e percepções livremente, e
através de perguntas vá direcionando o foco da aprendizagem para os
conceitos que se pretende abordar.
Lembre-se, acima de tudo, que a experiência de aprender precisa
ser livre de amarras, saborosa, divertida e enriquecedora para todos,
principalmente para você!
Um abraço:
Márcia Luz
Email: plenitude@marcialuz.com.br
Site: www.marcialuz.com.br

Referências Bibliográficas:

- GRAMIGNA, M.R.M. Jogos de empresa e técnicas vivenciais. São Paulo:


Makron Books, 1995.

- KOLB, D. Psicologia Organizacional.Atlas. 1990.

- MOSCOVICI, F. Equipes dão certo: a multiplicação do talento humano.


2. ed. Rio de janeiro: José Olympio., 1995.

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