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EXCELENTISSIMO DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA Xº VARA

CÍVEL DA COMARCA DE NATAL, CAPITAL DO ESTADO DO


RIO GRANDE DO NORTE, A QUEM ESTA COUBE POR
DEPENDENCIA LEGAL.

Distribuição por dependência ref.


PROCESSO Nº XXXX
Autora: X
Réu: BANCO DO BRASIL S.A.

XXX, brasileira, servidora pública,


solteira, portadora do RG XXX SSP/RN e inscrita no CPF sob nº
xx, residente e domiciliada na rua X, 2, aptº x, Candelária,
Natal/RN, Cep. ccc-050, vem, com muito respeito, a presença de
Vossa Excelência, propor AÇÃO ORDINÁRIA COM PEDIDO DE
TUTELA ANTECIPADA contra BANCO DO BRASIL SA, pessoa
jurídica de direito privado, com sede na av. Eng. Roberto Freire,
nº2700, Capim Macio, Natal/RN, Cep. 59.080-400, requerendo,
desde já, os benefícios da Justiça Gratuita, o que se faz com
as seguintes razões:
I– DA PRELIMINAR

Preliminarmente, a autora pleiteia os


benefícios da Justiça Gratuita por não poder, neste momento,
arcar com as custas e despesas processuais, sem que isso
comprometa seu sustento.
Destarte, será comprovado que o banco
réu não cumpriu integralmente a decisão judicial liminar
concedida na ação cautelar e continua realizando descontos nos
vencimentos da requerente, o que repercute significativamente
na situação de miserabilidade e desespero. Seu direito está
garantido na Constituição Federal, Legislação Federal e vasta
jurisprudência.

II – DOS FATOS

Em razão de divergências quanto aos


aspectos contratuais, também por razões pessoais e ainda
devido a atual política de juros imposta pelo Governo Federal, a
população, em geral, vê-se impossibilitada de saldar ou mesmo
negociar com as instituições junto a ela contraídas. Este é o caso
da Sra. X.
Assim sendo, a autora firmou diversos
contratos de empréstimo bancário com o réu, em sua maioria,
por débito na conta corrente, sendo que se tratava de
imposição do banco como forma desenfreada de quitação do
negócio jurídico anterior (pelo sucessor), numa verdadeira “bola
de neve”, característica de um capitalismo selvagem.
Buscando uma reestruturação financeira,
em maior de 2013, a autora transformou sua conta bancária em
conta salário, com a portabilidade de seus vencimentos direto
para outra conta, desta feita, na Caixa Econômica Federal. O
banco requerido comprometeu-se a não realizar qualquer
retenção na conta salário uma vez que optou pela modalidade de
boleto bancário, o que seria enviado à residência da
consumidora.
Porém, para desespero da consumidora,
100% DOS VENCIMENTOS DO MÊS DE JULHO DE 2013
FORAM RETIDOS E NÃO REPASSADOS A CONTA DA CAIXA
ECONOMICA FEDERAL!
O MAIS GRAVE É QUE O VALOR CORRETO
DA PRESTAÇÃO MENSAL É DE R$1615,31 (SOMANDO TODOS OS
EMPRÉSTIMOS) E A RETENÇÃO FOI DE R$4007,37. REPITA-SE
100% DO SALÁRIO DEPOSITADO NA “CONTA SALÁRIO DO
BANCO DO BRASIL” E AINDA COLOCOU O NOME DA AUTORA NO
SERASA.
A situação da autora é desesperadora,
que está sobrevivendo com ajuda de familiares!!! Por orientação
do Procon, a autora suplicou auxilio de perito contador, que após
análise do débito, objeto dos contratos (abaixo listados),
percebeu que a metodologia aplicada pelo Banco no momento de
determinar o valor da prestação acabou caracterizar uma prática
ilegal de anatocismo.
O Dr. Aracildo Cesar de Morais, bacharel
em Ciências Contábeis, regularmente inscrito no CRC/RN1653,
Expert reconhecido nacionalmente, debruçou-se nos contratos de
empréstimos bancários e diagnosticou a cobrança de juros sobre
juros.
Para identificação da ilegalidade, o Perito
utilizou método linear ponderado ou Gauss com utilização da
tabela de juros simples (apropriação/amortização) que elimina o
anatocismo (todos os documentos foram juntados na ação
cautelar tombada sob nº0138416-59.2013.8.20.0001).
Assim sendo, o perito contábil percebeu
que:
1. O desconto de R$4.007,37 do salário de
julho não abateu nenhum saldo devedor.
2. O contrato (749932630) assinado no dia
23.12.2009 no valor de R$37.407,06, houve pagamento a maior
(e indevido) de R$8.759,10.
3. O contrato (771383827) assinado no dia
16.02.2011 no valor de R$23869,75, houve pagamento a maior
(e indevido) de R$8.256,01.
4. O contrato (775241688) assinado no dia
04.05.2011 no valor de R$2.668,50, houve pagamento a maior
(e indevido) de R$1028,50.
5. O contrato (790494077) assinado no dia
27.02.2012 no valor de R$8.034,12, houve pagamento a maior
(e indevido) de R$1.405,08.
6. O contrato (793885456) assinado no dia
30.04.2012 no valor de R$1649,15, houve pagamento a maior (e
indevido) de R$224,14.
7. O contrato (793884492) assinado no dia
30.04.2012 no valor de R$5304,81, houve pagamento a maior (e
indevido) de R$440,44

É importante ressaltar que, sobre esses


valores pagos a maior, não foram ainda calculados juros legais
até a presente data. Em adição, sendo aplicado o Código de
Defesa do Consumidor, o montante (1+2+3+4+5+6+7) deve
ser restituído em dobro, sempre acrescido com correção
monetária e juros legais RETROATIVOS data do evento danoso.

Deve ser destacado ainda, que não se


está discutindo nesta demanda o índice de juros aplicado
pelo banco, e sim a metodologia por este aposta no
calculo das prestações, o que ocasiona a prática de
cobrança de juros sobre juros; o que é ilegal.

Ao analisar com cautela, verifica-se que o


consumidor encontra-se na situação narrada em maio de 2012
pelo Excelentíssimo Senhor Doutor Desembargador Relator
ADERSON SILVINO, senão vejamos (Inteiro Teor de Acórdão
juntado na ação cautelar tombada sob nº0138416-
59.2013.8.20.0001):

VOTO
Antes de mais nada, cumpre enfatizar que ao ser publicada a Súmula nº
297 o STJ pacificou o entendimento acerca da aplicação do Código de
Defesa do Consumidor às relações de consumo que envolva entidades
financeiras, in verbis:
"O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições
financeiras".
Assim, em sendo aplicável o CDC às atividades financeiras, é possível a
revisão das cláusulas dos contratos, com a consequente declaração de
nulidade, se abusivas ou se colocarem o consumidor em situação
amplamente desfavorável, de acordo com o art. 51, IV do respectivo
estatuto.
Denota-se, ainda, que a mencionada revisão não implica em violação do
princípio pacta sunt servanda, uma vez que o mesmo cede à incidência da
norma prevista no art. 6º, V do pré-falado estatuto, segundo o qual é
plenamente viável "a modificação das cláusulas contratuais que
estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas".
A prática do anatocismo se caracteriza quando ocorre a capitalização de
juros (cobrança de juros sobre juros – capitalização composta) de forma
diversa às permitidas pela legislação.
O art. 4º do Dec. 22.626/33 proíbe, expressamente, o chamado
“anatocismo”, dispondo que:
“É proibido contar juros dos juros; esta proibição não compreende a
acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de
ano a ano”.
O Supremo Tribunal Federal, através da Súmula 121, tem determinado
que: “É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente
convencionada”.
O Superior Tribunal de Justiça após período inicial de divergência adotou
entendimento permissivo da capitalização mensal dos juros, mas isso em
existindo expresso dispositivo de lei que a admita, como para os créditos
rurais o art. 5º do Decreto Lei 167/67; para os créditos industriais o art. 5º
do Decreto Lei 413/69, e para os créditos comerciais o art. 5º da Lei
6.840/80.
Desta forma, somente é admitida no ordenamento jurídico brasileiro a
prática da capitalização de juros para os créditos rurais, os créditos
industriais e os créditos comerciais, conforme já mencionados no parágrafo
anterior.
No presente caso, o correto seria a utilização da capitalização simples,
que se poderia explicitar como aquela em que a taxa de juros incide somente
sobre o capital inicial; não incide, pois, sobre os juros acumulados.
Cumpre esclarecer ainda que o entendimento atual desta Corte de Justiça
é no sentido da inconstitucionalidade do art. 5º da Medida Provisória nº
2.170-36/01, vejamos:
"EMENTA: INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 5º
DA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.170, DE 23 DE AGOSTO DE 2001.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. IMPOSSIBILIDADE.
OBRIGATORIEDADE DE LEI COMPLEMENTAR PARA
REGULAMENTAR O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. ARTIGOS
192 E 62, § 1º, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO DISPOSITIVO.
PROCEDÊNCIA DO INCIDENTE". (TJ/RN, Argüição de
Inconstitucionalidade em Apelação Cível n° 2008.004025-9/0002.00,
Rel. Des. Amaury Moura Sobrinho, 3ª Câmara Cível, julg.08.10.2008)
"EMENTA: DIREITO BANCÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO
REVISIONAL DE CONTRATO. CRÉDITO DIRETO AO
CONSUMIDOR. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA.
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. CONTRATO POSTERIOR À
MP 1.963-17/2000, DE 31 DE MARÇO DE 2000 (ATUALMENTE
REEDITADA SOB O Nº 2.170-36/2001). INCONSTITUCIONALIDADE
DO ARTIGO 5º DA REFERIDA MEDIDA PROVISÓRIA DECLARADA,
INCIDENTER TANTUM, PELO PLENO DESTE TRIBUNAL NA
ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE NA APELAÇÃO CÍVEL
Nº 2008.004025-9. APLICAÇÃO OBRIGATÓRIA PELAS CÂMARAS, A
TEOR DO ART. 243 DO NOVO REGIMENTO INTERNO. COMISSÃO
DE PERMANÊNCIA. LEGALIDADE DA COBRANÇA, DESDE QUE
NÃO CUMULADA COM OS ENCARGOS MORATÓRIOS.
IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE REPETIÇÃO DO INDÉBITO,
ANTE A INEXISTÊNCIA DE EXCESSO DE COBRANÇA.
PRECEDENTES DO STJ. CONHECIMENTO E PROVIMENTO
PARCIAL DO RECURSO." (Apelação Cível nº 2008.007386-3, 2ª
Câmara Cível, Relator Juiz Convocado Nilson Cavalcanti, j. em
14.10.2008)
Nesse passo, o TJRN declarou que não poderá mais ser admitida a
capitalização mensal de juros prevista no art. 5º da MP nº 2.170/01, decisão
esta com força vinculante a todas as demais demandas envolvendo o tema
por ela tratado.
Seguindo raciocínio de idêntica linha, Nelson Nery Jr. e Teresa Arruda
Alvim Wambier lecionam que:
“Manda agora a lei que em todos esses casos, quando deparar com uma
questão constitucional no julgamento de recurso, devolução oficial ou
causa de sua competência originária, o órgão fracionário aplique pura e
simplesmente o que a propósito houver previamente decidido o plenário
ou órgão especial.”
Desta feita, amparado em decisão do Plenário desta Corte, que declarou
inconstitucional o art. 5º, da MP nº 2170/01, não se pode mais admitir, no
âmbito desta justiça estadual, a capitalização mensal de juros.
No que tange a cumulação da Comissão de Permanência com os juros de
mora e a multa contratual, vejo que a mesma configura-se por ilegal ante a
incompatibilidade da cobrança conjunta de tais encargos, conforme dispõe o
próprio STJ, que rotineiramente aduz: "A Seção, ao julgar o agravo
regimental remetido pela Terceira Turma, confirmou a jurisprudência deste
Superior Tribunal que impede a cobrança da comissão de permanência
juntamente com os juros moratórios e a multa contratual. Ressaltou-se,
também, a vedação de sua cumulação com a correção monetária e juros
remuneratórios, entendimento já consolidado nas Súmulas ns. 30, 294 e 296
do STJ". (AgRg no REsp 712.801-RS, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes
Direito, julgado em 27/4/2005)".
Esta prática, ainda é igualmente abusiva e rechaçada pelos nossos
tribunais, tendo inclusive o Egrégio Superior Tribunal de Justiça editado a
Súmula nº 30, a qual dispõe que:“a comissão de permanência e a correção
monetária são inacumuláveis”.
Sendo assim, outro não pode ser o entendimento acerca da nulidade do
ajuste que estipula a cobrança destes valores em conjunto, devendo ser
mantida a cláusula que cause o menor ônus para o devedor.
Corroborando com esse entendimento sumulado pelo STJ, esta Corte de
Justiça assim se posicionou.
“TJRN: APELAÇÃO CÍVEL. APLICAÇÃO DO SISTEMA PROTETIVO
DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (CDC). JUROS
REMUNERATÓRIOS. ONEROSIDADE EXCESSIVA
CARACTERIZADA. NULIDADE DE PLENO DIREITO DE
CLÁUSULAS CONTRATUAIS ABUSIVAS. MULTA DE MORA. LIMITE
DE 2%. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. NÃO CABIMENTO DE
CORREÇÃO MONETÁRIA. NOTA PROMISSÓRIA.
IMPOSSIBILIDADE DE EXIGÊNCIA.(...) 4. A comissão de
Permanência não deve ser cumulada com correção monetária (súmula
30/STJ) e nem com juros remuneratórios, sendo calculada pela taxa
média dos juros de mercado, apurada pelo Banco Central do Brasil e
tendo como limite máximo a taxa do contrato. (...)” (Apelação Cível nº
2001.001350-4, 1a Câmara Cível, Relator Desembargador Armando da
Costa Ferreira, j. em 22.12.2003.).
A esse entendimento soma-se o posicionamento do STJ:
“STJ - É admitida a incidência da comissão de permanência após o
vencimento da dívida, desde que não cumulada com juros
remuneratórios, juros moratórios, correção monetária e/ou multa
contratual.” (EDcl no AgRg nos EDcl no RESP 684.654/RS, 3º Turma,
Relatora Ministra Nancy Andrighi j. em 19.05.2005).
Por oportuno, diante do reconhecimento da inviabilidade da prática do
anatocismo e da comissão de permanência, reputo ser consequência lógica a
condenação do Banco em arcar com a repetição do indébito, dos
pagamentos feitos a maior.
Ora, se foi declarada a abusividade em relação ao cálculo realizado entre
a taxa cobrada pelo recorrido e a taxa que deveria ter sido aplicada e sendo
seu valor menor do que o determinado no contrato firmado entre as partes
litigantes, se extrai o entendimento de que o numerário pago pela parte
autora foi maior do que o devido, devendo, portanto, ser restituído em
dobro, consoante determinação do art. 42, parágrafo único, do Código de
Defesa do Consumidor, verbis:
“Art. 42. (...) Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia
indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do
que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais,
salvo hipótese de engano justificável.”
Este Tribunal já se manifestou acerca da questão:
"TJRN: DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
NULIDADE DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS C/C REPETIÇÃO DE
INDÉBITO. CONTRATO BANCÁRIO. SENTENÇA QUE
DETERMINOU A DIMINUIÇÃO DOS JUROS PRATICADOS NA
REMUNERAÇÃO DO CONTRATO. ANATOCISMO. PROIBIÇÃO.
JUROS REDUZIDOS. CAPITALIZAÇÃO INDEVIDA. REPETIÇÃO DE
INDÉBITO APLICADA. JUROS FIXADOS EM PATAMAR ABUSIVO.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. GARANTIA AO
EQUILÍBRIO CONTRATUAL. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA DE 1º
GRAU. RESTITUIÇÃO EM DOBRO DO VALOR PAGO
INDEVIDAMENTE. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
CONHECIMENTO E DESPROVIMENTO DO APELO". (Apelação Cível
nº 2007.007163-9 – 2ª Câmara Cível – Rel. Juiz Saraiva Sobrinho
(convocado) – julgamento publicado em 15.01.2008);
"TJRN: DIREITO DO CONSUMIDOR. CONTRATO BANCÁRIO.
SENTENÇA QUE DETERMINOU A DIMINUIÇÃO DOS JUROS
PRATICADOS NA REMUNERAÇÃO DO CONTRATO. ANATOCISMO.
PROIBIÇÃO. DETERMINAÇÃO PARA QUE OS JUROS APLICADOS
NO CONTRATO SEJAM REDUZIDOS PARA A MONTANTE
DECORRENTE DA VARIAÇÃO DA TAXA SELIC. REPETIÇÃO DE
INDÉBITO APLICADA. APELAÇÃO CÍVEL. PUGNAÇÃO PELA
REFORMA DA SENTENÇA, PARA PERMITIR A PACTUAÇÃO DE
JUROS NOS TERMOS DO CONTRATO FIRMADO ENTRE AS
PARTES. IMPOSSIBILIDADE. JUROS FIXADOS EM PATAMAR
ABUSIVO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DA TAXA SELIC. EQUILÍBRIO
CONTRATUAL. RESTITUIÇÃO EM DOBRO DO VALOR PAGO
INDEVIDAMENTE. POSSIBILIDADE. CONHECIMENTO E
IMPROVIMENTO DO APELO. 1. Em contratos de financiamento
bancário, o mutuário é o destinatário final dos serviços que são
disponibilizados pela instituição financeira, aplicando-se a tais avenças
as disposições do Código de Defesa do Consumidor; 2. O princípio do
“pacta sunt servanda” é relativizado com a vigência do Código de
Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90); 3. A Súmula 121 do STF veda
a prática de anatocismo; 4. Sendo observada a abusividade na fixação
dos juros remuneratórios, é pertinente e razoável a determinação de taxa
distinta da acordada entre as partes; 5. A taxa SELIC, no momento
atual, mostra-se hábil a possibilitar o fim compensatório dos juros,
buscado pela instituição bancária; com menor onerosidade para o
consumidor, atingindo o equilíbrio necessário à relação contratual
pactuada. Precedentes desta Corte de Justiça; 6. O consumidor cobrado
em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual
ao dobro do que pagou em excesso; 7. Conhecimento e improvimento do
recurso". (Apelação Cível nº 2006.001648-9 – 3ª Câmara Cível – Rel.
Des. Osvaldo Cruz – julgado em 28.09.2006)
Assim, deve a sentença ser reformada, condenando-se, por conseguinte,
unicamente o banco apelado ao pagamento integral das custas e dos
honorários advocatícios, em razão da sucumbência mínima da recorrente
MARIA OZIRENE SOBRINHO, eis que tais honorários foram previstos no
Código de Processo Civil – art. 20 e seguintes.
Nesta senda, entendo ser importante observar o conceito de "vencido",
notadamente o descrito por NELSON NERY JÚNIOR e ROSA MARIA DE
ANDRADE NERY:
"Conceito de vencido. Os honorários de advogado e as despesas do
processo deverão ser pagas, a final, pelo perdedor da demanda. Vencido
é o que deixou de obter do processo tudo o que poderia ter conseguido.
(...)".
Diante do exposto, conheço do recurso interposto por MARIA
OZIRENE SOBRINHO e lhe dou provimento para determinar a aplicação
da capitalização simples, bem como para reconhecer a repetição de indébito,
devendo os valores pagos indevidamente serem restituídos em dobro em
favor da Recorrente MARIA OZIRENE SOBRINHO condenando-se, por
conseguinte, unicamente o Banco Recorrido ao pagamento de custas e
honorários advocatícios, estes arbitrados em 15% (quinze por cento) sobre o
valor da condenação à ser apurada em sede de liquidação de sentença.
Quanto ao recurso interposto pela B. V. Financeira S.A, conheço e lhe nego
provimento. É como voto.
Natal, 22 de maio de 2012.
Desembargador ADERSON SILVINO
Presidente/Relator
Destarte, sendo comprovada a ilegalidade
das práticas do banco réu, e ainda não tendo sido quitado todos
os contratos, o Expert identificou o valor correto das prestações
e apresentou o seguinte cenário:

É importante ressaltar que nesse cenário,


sobre esses valores pagos a maior, AINDA não foram ainda
calculados juros legais até a presente data; que deverão ser
pagos ao consumidor com a condenação em danos materiais e
morais após o trânsito em julgado da ação principal.

Em adição, sendo aplicado o Código de


Defesa do Consumidor, o montante (1+2+3+4+5+6) deve ser
restituídos em dobro, sempre acrescidos com correção monetária
e juros legais RETROATIVOS data do evento danoso.

Para solucionar parcialmente o


problema, a autora propôs ação cautelar inominada
(tombada sob nº0138416-59.2013.8.20.0001) e realizou
os seguintes pleitos a título de antecipação de tutela:

A. Determinar que o réu se abstenha de


realizar qualquer desconto na conta salário da autora e repassar a totalidade
dos depósitos lá realizados para conta da Caixa Econômica Federal;
B. Determinar que o réu, no prazo de
24 horas, restitua, em dobro, o valor de R$4.007,37 (100% do salário
retido) acrescido de juros e correção monetária, por meio de deposito
judicial;
C. Autorizar que, após a restituição do
salário, a autora deposite em juízo o valor das parcelas de todos os
contratos, nos termos do cenário pelo perito contábil, atualmente NO
TOTAL, DE R$1615,31;
D. Determinar a exclusão do nome da
autora do SERASA.

Desses pedidos, apenas o ultimo não foi


acatado, senão vejamos:

“(...)
Assim sendo, defiro, em parte, a antecipação de tutela para determinar:
a) que o réu se abstenha de realizar qualquer desconto na conta salário
da parte autora, repassando a totalidade dos depósitos lá realizados para a
conta da caixa econômica federal;
b) que o réu no prazo de 24 horas restitua o valor de R$ 4.007,37,
(100% do salário retido) sem ser em dobro, em razão de existência de
débito legítimo, acrescido de juros e correção monetária por meio de
depósito judicial;
c) autorizar que após a restituição do salário a autora deposite em juízo
o valor das parcelas de todos os contratos, nos termos do cenário pelo
perito contábil, atualmente no total de R$ 1.615,31.
No que pertine à exclusão do nome da autora da SERASA, considerando
o reconhecimento da parte autora de débito junto ao Banco do Brasil,
abstenho-me de tal determinação, vez que há a necessidade de pagamento
do mencionado débito através de boleto, conforme informado pela referida
parte. (...)”.
Foi expedido o Mandado de Intimação,
cujo cumprimento se deu em 22/11/2013. A partir desta data,
o banco deveria ter feito o depósito judicial da importância de
R$4.007,37 (corrigidos) no prazo de 24 horas e deixado de
realizar qualquer retenção.
Ocorre que o banco MANTEVE-SE
SILENTE, NÃO CONTESTOU (certidão constante na ação cautelar
tombada sob nº0138416-59.2013.8.20.0001), NÃO RECORREU,
NÃO COMPROVOU NOS AUTOS O CUMPRIMENTO VOLUNTÁRIO
DA DECISÃO.
PARA PIORAR A SITUAÇÃO DE
MISERABILIDADE, e ainda em desrespeito ao consumidor e
afronta Poder Judiciário, o BANCO RÉU, além de não depositar o
valor determinado, PERPETUOU RETENDO 100% DOS
VENCIMENTOS.
CABE OBSERVAR QUE A CIENCIA DA
DECISÃO LIMINAR OCORREU EM 22/11/13 E O ULTIMO VALOR
“ABOCANHADO” (100% DOS VENCIMENTOS) OCORREU
DEPOIS DESSA DATA!
Após a provocação da autora, o juízo
reiterou a ordem para cumprimento da decisão, desta
feita, com aplicação de multa de R$10.000,00, caso o Banco
Réu mantivesse tal descumprimento, o que ACONTECEU, TENDO
SIDO OUTRA VEZ DESRESPEITADO O COMANDO JUDICIAL POR
PARTE DO RÉU.
Observe Excelência, que o segundo
mandado foi cumprido em 09/12/13 e o banco MANTEVE-SE,
MAIS UMA VEZ, SILENTE E EM FRANCA POSTURA DE
DESRESPEITO A ORDEM JUDICIAL QUE RECEBEU. NÃO
CONTESTOU (PRAZO EXPIRADO), NÃO RECORREU, NÃO
COMPROVOU NOS AUTOS O CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES
QUE LHE FORAM IMPOSTAS POR ESTE JUÍZO.
Mais recentemente, o banco reteve,
“mais uma vez, novamente, de novo,...” o alimento da
autora, desta vez a gratificação natalina no valor líquido
de R$3.329,98. O suprassumo do desespero aconteceu com
os vencimentos de dezembro/2014 (geralmente pagos até
05/01/2014) e neste período ocorreu o recesso judiciário,
completando um período de quase 4 meses sem gozar dos seus
alimentos!
NO MÊS DE DEZEMBRO/2014, o banco
procedeu a descontos DE DIVERSAS TARIFAS BANCÁRIAS (QUE
SÃO TOTALMENTE INDEVIDAS POR TRATAR-SE DE CONTA
SALÁRIO) E CULMINOU COM RETENÇÃO de mais R$206,05
DIRETAMENTE NA FONTE, MAIS, em 27/12/2013, DO
VALOR DE R$4007,39 DIRETAMENTE NA CONTA
BANCÁRIA.
ATÉ MOMENTO, após a ciência da
decisão, JÁ SOMAM R$ 19.592,50 de salários QUE FORAM
ILEGALMENTE RETIDOS, DEVENDO SER DETERMINADA SUA
IMEDIATA RESTITUIÇÃO COM O ACRÉSCIMO DE JUROS E
CORREÇÃO, ALÉM DAS TARIFAS BANCÁRIAS (a liquidar) e DA
MULTA DE R$10.000,00, em razão do descumprimento da
decisão retro. A situação da autora é desesperadora, que está
sobrevivendo com ajuda de familiares!!!
A autora procedeu a reclamação da
postura descabida do réu junto ao Banco Central (documento em
anexo), porém, quando a ouvidoria do BB tomou ciência, limitou-
se a enviar e-mail informando que está sendo discutido em juízo
(ação cautelar) e não tomou nenhuma postura conciliatória para
solução do pedido.

III – DO PEDIDO DE LIMINAR

É imperativa tecer esclarecimentos sobre


o pleito de liminar nesta ação principal. Inicialmente, é
importante perceber que não se trata de pedido idêntico,
substitutivo e/ou contraditório com o realizado na ação cautelar,
mas sim complementar em face da ineficácia da decisão
existente nesta ultima, uma vez que o banco réu não a cumpriu
integralmente e buscou alternativas para manter a violação do
direito da consumidora.
Nesse contexto, muito embora tenha
juntado comprovante de depósito judicial na primeira ação, ele
NÃO ESCLARECEU QUE RETIROU EM 27/12/2013,
NOVAMENTE, O REFERIDO VALOR, DIRETAMENTE DA
CONTA BANCÁRIA DA AUTORA.
Informou que suspendeu a exigibilidade
dos empréstimos, porém enviou ao Estado do Rio Grande do
Norte documento para consignação de empréstimos na fonte. E
já houve a referida retenção (documento em anexo) no
valor de R$206,05 em favor do Banco do Brasil.
Assim sendo, é necessário que se estirpe
qualquer tipo de “brecha” que permita o réu burlar a decisão já
existente. Uma das maneiras de fazer isso é concedendo nova
medida liminar – SEM TORNAR A DECISAO ANTERIOR SEM
EFEITO – para oficiar a fonte pagadora (Estado do RN) dos
vencimentos da autora para que se abstenha de realizar
qualquer retenção de numerário/empréstimo em favor do
banco réu, BEM COMO que realize o depósito dos
vencimentos da Autora diretamente na conta bancária da
Caixa Econômica Federal e, não mais no Banco do Brasil.
Outra maneira de “estacar o
sangramento” da consumidora é a restituição imediata dos
salários indevidamente retidos (inclusive os posteriores a
decisão liminar da cautelar e anteriores a ciência desta pelo
banco réu), além da multa por descumprimento.
Não menos importante é a retirada do
nome da autora do SERASA. Perceba que ela age de boa fé
quando reconhece o empréstimo, PORÉM NÃO RECONHECE A
MORA uma vez que a pericia realizada (documento anexado na
ação cautelar) comprova que até o ajuizamento da ação já havia
pago a maior a importância de R$20.113,27.
Num ultimo esclarecimento, ressalta que
a ainda não começou a depositar o valor de R$1.615,31 porque
ainda não sacou o deposito judicial, momento (conforme a
decisão liminar da ação cautelar) que se inicia sua obrigação.
Neste especifico, é imperativo a liberação imediata da
importância depositada.
A limpidez e certeza do direito do autor
de TER A PARCELA DOS FINANCIAMENTOS REDUZIDOS E DE ser
restituído dos pagamentos indevidos (SEMPRE COM APLICAÇÃO
DE CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA RETROATIVOS A
DATA DO EVENTO DANOSO) e indenização por danos morais foi
objeto de Súmulas do Superior Tribunal de Justiça:
Súmula nº 43 - 14/05/1992 – Correção Monetária - Ato Ilícito - Incide
correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo
prejuízo.

Súmula 479 – 29/06/2012 - Responsabilidade das instituições financeiras


por fraudes em operações bancárias – As instituições financeiras
respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo
a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias

Assim sendo, frustradas as tentativas


suasórias de composição amigável da lide e, demonstrados
pressupostos fatídico-jurídicas do mérito, passa, a empresa, a
requerer o que lhe é de direito.

IV – DO PEDIDO

Diante do exposto, requer que Vossa


Excelência se digne de:

 Conceder os benefícios da Justiça


Gratuita;
 Apensar aos autos da ação
cautelar inominada tombada sob nº0138416-59.2013.8.20.0001
e utilizá-la como prova emprestada;
 Antecipar os efeitos da tutela
pretendida (sem tornar a decisão liminar da ação cautelar sem
efeito, mas sim complementando-a) no sentido de:
 Determinar que o Estado do
Rio Grande do Norte deposite todos os vencimentos da Autora,
de agora em diante, diretamente na conta bancária de sua
titularidade junto a Caixa Econômica Federal (Ag. 1585 Op. 001
Cc. 00024041-1) e que se abstenha de reter qualquer valor de
empréstimo bancário em favor do Banco do Brasil;
 Determinar o bloqueio nas
contas do Banco Réu, pelo sistema BACENJUD, do valor de
R$29.592,50 (100% do salário retido + Multa por
descumprimento da ordem judicial) e, posteriormente, liberar tal
valor em favor da Autora;
 Autorizar que, após a
restituição do salário, a autora deposite em juízo o valor indicado
como devido para correto pagamento das parcelas de todos os
contratos, nos termos do cenário pelo perito contábil, atualmente
NO TOTAL, DE R$1.615,31;
 Liberar, por alvará judicial, a
importância á depositada nos autos da Ação Cautelar de nº
138416-59.2013.8.20.0001;
 Determinar a exclusão do
nome da autora do SERASA;
 Inverter o ônus da prova por ser,
o autor, hipossuficiente na relação de consumo;
 Citar o réu para apresentar
resposta aos termos do presente pedido, sob a pena de confissão
e revelia;
 Julgar Procedente os pedidos no
sentido de:
 Manter as providências solicitadas
em sede de liminar;
 Condenar o réu a restituir a
autora, em dobro, do valor pago a maior ou/e indevidamente nos
contratos de empréstimos (Taxas de Abertura de Crédito, de
Análise de Risco,...), acrescidos de correção monetária e juros
legais retroativos a data do evento danoso (liquidação de
sentença);
 Condenar o réu a restituir, em
dobro, os valores retidos indevidamente (vencidos e vincendos)
da remuneração da autora, inclusive os posteriores ao
ajuizamento da ação (a ser liquidado);
 Condenar o réu em indenização
por danos morais arbitrados por Vossa Excelência, tendo como
parâmetro a condição hiperssuficiente da empresa, seu capital
social e valor bruto arrecadado mensalmente com tais violações
aos direitos constitucionais difusos do consumidor;
 Condenar o réu a pagar custas e
despesas processuais e honorários sucumbenciais na ordem de
20% do valor apurado da condenação;
Protesta provar o alegado por todas as
formas em direito admitido, por ser da mais limpa e salutar
JUSTIÇA.
Atribui-se, a causa, o valor de R$
R$29.592,50.

Nestes termos, espera deferimento.

Natal, 28 de fevereiro de 2014.

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