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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS – UFPEL

Centro de Desenvolvimento Tecnológico – CDTec

Curso de Graduação em Engenharia Hídrica

PREDIÇÃO DA PERDA DE SOLO POR EROSÃO HÍDRICA EM DUAS BACIAS


HIDROGRÁFICAS DE SANTA CATARINA UTILIZANDO OS MODELOS
USLE E MUSLE

Alan Viegas
Anderson Noschang
Aryane Rodrigues
Carlos Dias
Laura Kerstner
Mayla Costa
Tiago Pohren Reis
Pelotas, 2017

Sumário
1.................................................................................................................... Introdução.3

2................................................................................................................. Metodologia.Error!
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3........................................................................................... Resultados e discussão.4

4....................................................................................... Referências bibliográficas.4


1. Introdução.

Muitos autores, como Tundisi em seu artigo “Novas perspectivas para a gestão dos
recursos hídricos”, têm evidenciado a necessidade de um gerenciamento dos recursos
hídricos preditivo, que trabalhe no âmbito de ecossistema (bacia hidrográfica) e de forma a
integrar os diversos usos e interações da água e seus decorrentes desafios ambientais.
Segundo Schertz (1983), a estimativa das perdas de solo por erosão é uma informação
básica para qualquer tomada de decisão em termos de uso e de manejo das terras,
possibilitando a formulação de propostas de ações corretivas. O mesmo se aplica aos
recursos hídricos, tendo em vista o impacto causado pelo aporte de sedimentos em sua
qualidade e quantidade.

Os principais componentes do ciclo hidrológico associados a erosão hídrica são o


escoamento superficial, direto e de deflúvio, responsáveis pelo transporte das partículas de
solo desagregadas. Sendo assim, muitas práticas de controle da erosão são, na verdade,
práticas de controle da velocidade e do volume de escoamento superficial (Pruski et al.,
2001).

A melhor unidade para se estudar o ciclo hidrológico e, de acordo com Jenkins et al.
(1994), os impactos antrópicos no ambiente é a bacia hidrográfica. Isso considerando que
suas características influenciam diretamente as respostas aos eventos de precipitação e
em decorrência, influenciando os índices de perda de solo por erosão hídrica. Dentre estas
características destacando-se, segundo Goldenfum (2001) e Righetto (1998), as suas
unidades pedológicas, cobertura vegetal, características geomorfológicas (declividade,
formato, área e rede de drenagem) e, também, características geológicas (Resende et al.,
2007).

Neste contexto, Williams (1975), desenvolveu o modelo MUSLE (Equação Universal


de Perdas de Solo Modificada) para prever a produção de sedimentos em pequenas e
médias bacias hidrográficas, por meio das análises de chuvas individuais. Entretanto,
como os modelos (para estimativa de perda de solo por erosão hídrica) frequentemente
são desenvolvidos em condições climáticas e hidrológicas distintas daquelas onde eles são
aplicados, sua utilização nos trópicos requer cautela (Chaves, 1996).
Sendo um modelo empírico, a MUSLE requer a estimativa adequada de suas
variáveis, bem como a calibração de seus parâmetros para as condições locais (Sadeghi et
al., 2007). Quando bem aplicado, este método aponta o aporte de sedimento no exutório
de uma determinada bacia em um dado evento, e é dado pela seguinte equação (Williams,
1975):

𝑏
𝑃𝑆 = 𝑎 ∗ (𝑃𝑒 ∗ 𝑄𝑝 ) ∗ 𝐿𝑆 ∗ 𝐾 ∗ 𝐶 ∗ 𝑃 (1)

A MUSLE apresenta um grande potencial de aplicação no Brasil em virtude da


simplicidade de sua estrutura, ao número relativamente baixo de parâmetros empregados
e à facilidade de calibração e aplicação (Chaves, 1991). Considerando o exposto, o
objetivo deste trabalho é estimar a perda de solo anual na Bacia Hidrográfica do Rio do
Peixe por meio da equação (1).

2. Metodologia

Caracterização da Bacia Hidrográfica


Este estudo foi conduzido na Bacia Hidrográfica do Rio das Pedras, localizada no
estado de Santa Catarina. Esta, por sua vez, é uma sub-bacia da Bacia Hidrográfica do Rio
do Peixe (Figura 1). Tem seu exutório localizado na cidade de Videira-SC (-51,150503;-
27,000488), contemplando uma área de aproximadamente 196,3 km2.

Foi conduzida a caracterização de uma sub-bacia de até 500 km2. As informações


de relevo e pedologia foram extraídas da Mapoteca Topográfica Digital de Santa Catarina -
Epagri/IBGE 2004.

Sua altitude varia de 1139 a 695 metros, e sua declividade média é de


aproximadamente 18,4% (Figura 2 e 3).

Além disso, foram derivadas algumas características da bacia hidrográfica como


Área (Km2), Perímetro (m), Comprimento do curso d’água principal (m), declividade média
do curso d’água principal (m/m), entre outras, que serão utilizadas na determinação de
alguns dos parâmetros da MUSLE.
Figura 1 – Bacia Hidrográfica do Rio das Pedras e ex utório em Videira.

Figura 2 – Modelo Digital de Elevação da BHRPD.


Figura 3 – Mapa de declividade da BHRPD.

O Modelo MUSLE
Este modelo permite estimar a erosão ocasionada por um evento de chuva isolado e
considera de forma mais consistente os aspectos hidrológicos relacionados ao transporte
de sedimentos.

O modelo é definido pela seguinte equação:

𝑏
𝑃𝑆 = 𝑎 ∗ (𝑃𝑒 ∗ 𝑄𝑝 ) ∗ 𝐿𝑆 ∗ 𝐾 ∗ 𝐶 ∗ 𝑃 (2)

Onde:

PS: Perda solo (t)

a e b: Coeficientes de ajuste;

Pe: Precipitação efetiva ou deflúvio (m3);

Qp: Vazão de pico (m3/s);

LS: fator topográfico (adimensional);


K: Erodibilidade do Solo (t.h/MJ.mm)

C: fator de uso e manejo do solo (adimensional);

P: fator de práticas conservacionistas (adimensional).

Seus parâmetros são semelhantes aos da USLE, entretanto:

- Os Fatores K, C e P são ponderados pela área correspondente ao tipo de solo,


cobertura vegetal, e declividade média da bacia ou manejo do cultivo no solo,
respectivamente;

- O fator R assume características do escoamento superficial direto (ESD);

- Modificação no cálculo do fator LS.

Fator R
O fator R na MUSLE é expresso da seguinte forma:

𝑏
𝑅 = 𝑎 ∗ (𝑃𝑒 ∗ 𝑄𝑝 ) (3)

Para determinação da Precipitação Efetiva (Pe) é necessário conhecer a


intensidade do evento de chuva a ser analisado. Assim, foi utilizada uma série de chuva do
posto pluviométrico VIDEIRA (RSVCS) da Agência Nacional de Águas, com um total de 39
anos de dados. Foi constituída uma série de Precipitação máxima diária anual para o
ajuste da Equação de Chuvas Intensas (IDF), com base no Método da Desagregação de
Chuvas, conforme a equação 3:

602,662∗𝑇𝑅0,1749
𝐼(𝑚𝑚) = (9,195+𝑡𝑑)0,7062
(4)

Com esta equação, foi possível determinar os valores de intensidade para tempos
duração entre 5 e 1440 minutos e tempos de retorno de 2 a 100 anos.

Foi adotado o método do Bureau of Reclamation para a determinação do


hietograma de projeto. A precipitação efetiva foi estimada à partir do Método Numero da
Curva (SCS, 1986), que leva em consideração o CN médio da bacia, o armazenamento
máximo de água no solo e a precipitação. Para o CN foram escolhidos os valores
associados às condições normais de umidade do solo (CNII).

(𝑃−0,2∗𝑆)2
𝑃𝑒 = (5)
(𝑃+0,8∗𝑆)
25400
𝑆= − 254 (6)
𝐶𝑁

O tempo de concentração da BHRPD foi determinado à partir da equação de Dodge:

𝑡𝑐 = 21,88 ∗ 𝐴0,41 𝑆𝑜−0,17 (7)

Para a determinação do Hidrograma de Projeto, de onde será extraída a Qp, foi


𝑞
adotado o Hidrograma Unitário adimensional para determinação da , e realizada a
𝑞𝑝

convolução de matrizes, considerando o mesmo intervalo de tempo do hietograma de


projeto. Abaixo são apresentadas as equações utilizadas para este modelo de HU:

𝑆 0,70
2.6 ∗ 𝐿0.8 ∗ ( +1)
25.4
𝑡𝑙𝑎𝑔 = (9)
1900∗𝑋 0.5

𝐷
𝑡𝑝 = 𝑡𝑙𝑎𝑔 + ( 2 ) (10)

𝑡 𝑋
𝑞 𝑡 (1− )
= ∗𝑒 𝑡𝑝 (11)
𝑞𝑝 𝑡𝑝

𝑥 = 0,8679 ∗ exp(0,00353 ∗ 𝐹𝑃) − 1 (12)

Onde:

L é o comprimento do curso d’água principal;

S é a capacidade máxima de armazenamento de água no solo;

X é a declividade média da bacia hidrográfica;

tlag é o tempo de retardo da vazão de pico;

tp é o tempo de ascensão da hidrógrafa;

D é a duração do intervalo de simulação;

q/qp é a relação vazão versus vazão de pico;

t/tp é a relação duração do intervalo de simulação versus tempo de pico;

X é a função gama precisa.

Com relação aos coeficientes a e b de ajuste foram utilizados os propostos por


Johnson et al., (1985) e de Avanzi (2005) os a fim de comparar os resultados.
Fator LS
O Fator LS foi determinado a partir do método de Wischmeir & Smith (1978),
equacionado da seguinte forma:

𝐿𝑒 𝑚
𝐿𝑆 = (22,1) ∗ (0,065 + 0,0454 ∗ 𝑆𝑑 + 0,0065 ∗ 𝑆𝑑 2 ) (13)

Onde:

Le: comprimento da encosta (m);

m: parâmetro de ajuste que varia em função da declividade (adimensional);

Sd: declividade da encosta (%).

Para determinação da declividade da encosta, utilizou-se a equação de Williams &


Berndt (1977):

0,25∗𝑍∗(𝐿𝐶25 +𝐿𝐶50 +𝐿𝐶75


𝑆𝑑 = ( ) ∗ 100 (14)
𝐴

Onde:

Z: Desnível entre o exutório e o ponto mais elevado da bacia hidrográfica (m);

LC: comprimento das curvas de nível a 25, 50 e 75 por cento de Z (m);

A: Área da bacia (m).

Já o fator Le foi calculado utilizando o método de Paiva et at., (1995):

𝑙𝑒
𝐿𝑒 = (15)
4

Sendo que:

𝐾𝑐 ∗√𝐴 1,128 2
𝑙𝑒 = ∗ (1 − √1 − ( ) ) (16)
1,12 𝐾𝑐

Onde:

le: largura do retângulo equivalente (m);

Le: percurso médio do ESD corresponde à quarta parte da largura deste retângulo
(m);

Kc: coeficiente de compacidade da bacia;


Foram geradas curvas de nível espaçadas de 30 metros e posteriormente foi feita a
soma dos valores à 25, 50 e 75 por cento do desnível entre o exutório e a cabeceira da
bacia.

Fator K, C e P

Para os fatores K e C foram utilizados os mesmos valores determinados na


aplicação da USLE, entretanto, neste estudo foram ponderados pela área de drenagem.

Figura X – Mapa de Solos (Fator K) e de Uso e Cobertura do solo (Fator C) para a


BHRPD.

Para o fator P, devido a impossibilidade de identificar as práticas conservacionistas


visualmente devido à resolução espacial do MDE, foi adotado um valor de P em função da
declividade média da bacia (18%), proposto por Freire & Vizeu (1985):
3. Resultados e discussão

Precipitação Efetiva
Abaixo são apresentados os Hietogramas de Projeto e de Precipitação Efetiva.

Hietograma de Projeto
60.000

50.000

40.000
P (mm)

30.000

20.000

10.000

0.000

Duração (min)

Hietograma de Pe
30.000

25.000

20.000
Pe (mm)

15.000

10.000

5.000

0.000

Duração (min)
O tempo de concentração da BHRPD é igual a aproximadamente 437 minutos.
Assim, optou-se por discretizar a duração em 13 intervalos iguais.

Observa-se que o maior valor de precipitação (53,2 mm) ocorre no 4 intervalo de


tempo, 135 minutos após o início do evento.

Com o método Número da Curva, obteve-se um valor de capacidade máxima de


retenção de água pelo solo igual a 84,67 mm, sendo considerados 20% como abstração
inicial, o que resultou em 16,93 mm.

Este método preconiza que somente existirá escoamento quando a chuva for
superior às abstrações iniciais. Isto pode ser observado no Hietograma de Precipitação
Efetiva, onde apenas ocorrem valores a partir do terceiro intervalo de duração (100
minutos).

A precipitação efetiva total foi igual a 66,4 mm. Este valor pode ser identificado
como um valor alto, entretanto deve-se considerar o tempo de retorno utilizado para a
determinação da intensidade máxima de precipitação (TR = 100 anos), além do CN médio
da bacia ser elevado.

Hidrograma Unitário Adimensional


Abaixo são mostrados os resultados alguns parâmetros do Hidrograma Unitário
𝑞
Adimensional, utilizado para obtenção da matriz
𝑞𝑝

Tlag (h) tp (h) D (h)


2,837 3,11 0,56

Abaixo pode ser observado o Hidrograma Unitário Adimensional.


Hidrograma de Projeto
180
160
140
120
Q (m3/s)

100
80
60
40
20
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
-20
Tempo (h)

HUA
5
4.5
4
3.5
3
q/qp

2.5
2
1.5
1
0.5
0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
t/tp

Foi realizada a convolução de matrizes entre as precipitações efetivas e a relação


vazão versus vazão de pico.

Abaixo é mostrado o Hidrograma de Projeto de onde foi extraída a vazão máxima


(Qp).

Finalmente, foi convertido o valor de Pe total em volume de ESD (m 3) além da


identificação da Qp, igual a 155,8 m3/s.

Assim, aplicando a equação 2, foi possível determinar o valor do parâmetro R:


Pe Qp
Johnson et al., (1985) Avanzi (2005)
(m3) (m3/s)
a b a b
89,6 0,56 13032 155,7 14,96 0,59
14606 490,89 9 46387
R R
708 74,83

Fator LS
Abaixo são mostrados os comprimentos das curvas de nível (m) a X% de Z:

25% (810 m) 50% (930 m) 75% (1020 m)


52824,73 134796,6 125628,4

O coeficiente de compacidade (Kc) da BHRDP é igual a 1,59, sendo que este


valor indica uma bacia com menor propensão a enchentes. Já o fator Sd é igual a
17,71%.
Assim, utilizando a equação proposta, o fator LS tem um valor de 23,69.

FATOR K, C E P

Os fatores K e C foram ponderados com relação a área e correspondem a 0,00022


e 0,311 respectivamente.
Já o fator P foi adotado como 0,8 em função da declividade média da bacia
hidrográfica.
Com a obtenção de todos os parâmetros da MUSLE, foi possível determinar a perda
de solo (PS) para a BHRDP, sendo que foram determinados para os dois valores de
coeficientes a e b propostos na literatura:
Coeficientes a e b de ajuste do fator R
Johnson et al., (1986) – Condições Norte- Avanzi (2005) –
Autor
americanas Condições Litorâneas
Perda
18948,71 6017,70
de Solo (t)
É possível observar os altos valores de perda de solo gerados a partir de um evento
de precipitação com tempo de retorno igual a 100 anos na BHRDP. Além disso, é notável
que os coeficientes a e b modificam completamente o resultado da predição, sendo um
indicativo de que deve-se tomar cuidado ao utilizar estes coeficientes previamente
calibrados ao invés de empregar esforços em determinar para a região em estudo.

CONCLUSÕES

Foi possível determinar a perda de solo (t) para a Bacia Hidrográfica do Rio das
Pedras à partir da Equação Universal de Perda de Solo Modificada (MUSLE);
A perda de solo mínima predita pelo modelo (variando os coeficientes a e b) é de
aproximadamente 6018 toneladas, e a máxima aproximadamente 18950 toneladas;
Além disso, deve-se atentar para o uso de coeficientes calibrados para outras
condições pedológicas, de cobertura vegetal e hidrológicas diferentes da bacia em estudo,
podendo causar um aumento ou diminuição significativo nos valores da predição, podendo
resultar, por exemplo, no sub ou superdimensionamento de obras.
Apesar destas dificuldades, se contatou a viabilidade de se utilizar a MUSLE em
bacias brasileiras com dados consistentes, como indicou Chaves, em 1991. Corroborando
para o incentivo de investimentos em estudos hidrográficos, com este trabalho constatou-
se a importância do conhecimento acerca da erosão hídrica para a boa gestão das bacias
hidrográficas.
4. Referências Bibliográficas
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1. Conclusão
2. Referências Bibliográficas

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