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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

CAMPUS CURITIBA

DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA E DE


MATERIAIS - PPGEM

HENRIQUE STEL DE AZEVEDO

SIMULAÇÃO NUMÉRICA E EXPERIMENTAL DO


ESCOAMENTO TURBULENTO EM TUBOS
CORRUGADOS

CURITIBA
ABRIL – 2010
HENRIQUE STEL DE AZEVEDO

SIMULAÇÃO NUMÉRICA E EXPERIMENTAL DO


ESCOAMENTO TURBULENTO EM TUBOS
CORRUGADOS

Dissertação apresentada como requisito parcial à


obtenção do título de Mestre em Engenharia, do
Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Mecânica e de Materiais, Área de Ciências
Térmicas, do Departamento de Pesquisa e Pós-
Graduação, do Campus de Curitiba, da UTFPR.

Orientador: Prof. Rigoberto E. M. Morales, Dr.

Co-Orientadores: Prof. Admilson T. Franco, Dr.

Prof. Silvio L. M. Junqueira, Dr.

CURITIBA

ABRIL - 2010
TERMO DE APROVAÇÃO

HENRIQUE STEL DE AZEVEDO

SIMULAÇÃO NUMÉRICA E EXPERIMENTAL DO


ESCOAMENTO TURBULENTO EM TUBOS
CORRUGADOS

Esta Dissertação foi julgada para a obtenção do título de mestre em engenharia,


área de ciências Térmicas, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-
graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais.

__________________________________________

Prof. Giuseppe Pintaúde, Dr.

Coordenador do Programa

Banca Examinadora

__________________________

Prof. Rigoberto E. M. Morales, Dr.

PPGEM/UTFPR-Orientador

___________________________ ___________________________

Prof. Aristeu da Silveira Neto, Dr. Prof. Cezar O. R. Negrão, PhD

FEMEC/UFU PPGEM/UTFPR

Curitiba, 05 de Abril de 2010


iii

Aos meus queridos pais, que sempre


tiveram como prioridade incontestável a
educação de seus filhos, por me apoiar de
forma incondicional desde o início.
iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus acima de tudo, o Mestre maior...

Ao meu pai, Urbano, minha mãe, Cleonir, aos meus irmãos e parentes, que
me incentivaram desde o surgimento da idéia de fazer o mestrado, e que me
trouxeram conforto sempre que precisei, mesmo morando em outra cidade.

Aos meus grandes amigos de Umuarama, por serem quem são, me


proporcionando momentos de descontração quando foi necessário e me apoiando
sempre, devo uma parte a eles.

À PETROBRAS, à CAPES, à UTFPR e ao LACIT pela estrutura fornecida,


sem a qual a realização do projeto não seria possível. Ao meu orientador, professor
Rigoberto, que confiou este trabalho a mim e acreditou que pudéssemos alcançar
todos os objetivos traçados, agradeço imensamente pela oportunidade de realizar
este projeto. Aos professores Admilson, Silvio e Raul, sempre presentes e com
sugestões construtivas, e aos demais professores do LACIT.

Aos colegas de trabalho do LACIT/LASAT, em especial ao Willian, parceiro


desde a época de IC no LACIT até o final do mestrado, pela cooperação que com
certeza fortaleceu nossos trabalhos, e ao Reinaldo, pelo imenso apoio nos
experimentos. Sem a colaboração desses, teria sido muito mais difícil.
v

“Não sei o que possa parecer aos olhos do


mundo, mas aos meus pareço apenas ter sido
como um menino brincando na beira do mar,
divertindo-me com o fato de encontrar de vez
em quando um seixo mais liso ou uma concha
mais bonita que o normal, enquanto o grande
oceano da verdade permanece completamente
por descobrir à minha frente.”

Sir Isaac Newton


vi

AZEVEDO, Henrique Stel, Simulação Numérica e Experimental do Escoamento


Turbulento em Tubos Corrugados, 2010. Dissertação (Mestrado em Engenharia) -
Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais, Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 161 p.

RESUMO

Diversos equipamentos em engenharia, como trocadores de calor e linhas


flexíveis de transporte de petróleo no mar, são compostos por dutos de parede
interna corrugada. Superfícies corrugadas influenciam na magnitude de diversas
propriedades do escoamento, e a análise de sua influência em escoamentos
turbulentos em tubos é o objeto de estudo do presente trabalho. Neste cenário, no
presente trabalho são realizados estudos numéricos e experimentais do escoamento
turbulento em tubos corrugados de cavidades retas e helicoidais, para números de
Reynolds variando de 5000 a 100000. A turbulência do escoamento é modelada
utilizando os modelos de turbulência de zero equação LVEL e de duas equações CK
k-ε. As equações governantes são discretizadas utilizando o método numérico de
Volumes Finitos com o arranjo de malhas deslocadas e o esquema hibrido de
interpolação. O sistema de equações algébricas resultante da discretização é
resolvido utilizando o programa computacional PHOENICS CFD. Para validar os
resultados numéricos, são realizados experimentos para a medição do fator de atrito
médio em condições equivalentes às do estudo numérico. Os resultados obtidos
para o fator de atrito mostram boa concordância entre os dados numéricos e as
medidas experimentais. Correlações de engenharia para a determinação do fator de
atrito são propostas a partir dos resultados numéricos. A partir dos resultados
numéricos, é estudada a influência do corrugado no comportamento do fator de
atrito e nos campos de velocidade, pressão, tensão e outras propriedades.

Palavras-chave: Tubos Corrugados, Escoamento Turbulento, Estudo Numérico e


Experimental.
vii

AZEVEDO, Henrique Stel, Simulação Numérica e Experimental do Escoamento


Turbulento em Tubos Corrugados, 2010. Dissertação (Mestrado em Engenharia) -
Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais, Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 161 p.

ABSTRACT

Several engineering devices such as heat exchangers and flexible pipes used
in transport of offshore oil are designed with ducts with corrugated walls. Corrugated
surfaces induce significant influences in the fluid flow pattern, and the present study
aims to investigate the influence of circular corrugated pipes in turbulent flow. In this
work, numerical and experimental studies of turbulent fluid flow in corrugated pipes
with straight and helical grooves are performed, for Reynolds numbers from 5000 to
100000. The turbulent flow is modeled using the algebraic LVEL and the two-
equation CK k-ε turbulence models. Governing equations are discretized using the
Finite Volume Method, with staggered grid and hybrid interpolation scheme. The set
of discretized algebraic equations are solved through the commercial software
PHOENICS CFD. To validate the numerical results, experimental evaluations are
performed to measure the friction factor in conditions similar to the numerical study.
The results obtained for the friction factors show a good agreement of numerical data
and experimental measurements. Correlations are proposed from the numerical data
to calculate the friction factors obtained for the range of geometric configurations and
Reynolds numbers studied. From the numerical results, the influence of the
corrugated pipe walls on the friction factor and on the behaviour of the flow field
pattern, pressure, shear stresses and other properties are studied.

Keywords: Corrugated Pipes, Turbulent Flow, Numerical and Experimental Study.


viii

SUMÁRIO

RESUMO.................................................................................................................... vi

ABSTRACT ............................................................................................................... vii

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. xi

LISTA DE TABELAS ................................................................................................xvii

LISTA DE SÍMBOLOS.............................................................................................. xix

1 Introdução ............................................................................................................1

1.1 Objetivos .......................................................................................................3

1.2 Estrutura do trabalho.....................................................................................5

2 Estudos Anteriores ...............................................................................................8

2.1 Turbulência sobre superfícies rugosas .........................................................8

2.2 Escoamento turbulento sobre tubos com rugosidade discreta....................10

2.2.1 Rugosidade discreta em placas planas e dutos...................................12

2.2.2 Escoamento turbulento em tubos corrugados com cavidades


helicoidais ..........................................................................................................15

3 Modelagem Matemática .....................................................................................21

3.1 Equações Governantes...............................................................................21

3.1.1 Modelo de turbulência a zero equação LVEL ......................................25

3.1.2 Modelo de turbulência a duas equações CK k-ε ..................................29

3.2 Tratamento matemático das condições de contorno e periodicidade .........33

4 Modelagem Numérica ........................................................................................42

4.1 Método dos Volumes Finitos.......................................................................42

4.2 Tratamento numérico das condições de contorno ......................................45

4.2.1 Condições de contorno sobre superfícies sólidas................................46


ix

4.2.2 Condições de contorno na entrada e na saída do domínio..................50

4.3 Implementação do problema no programa PHOENICS CFD .....................56

4.3.1 Criação dos tubos corrugados anelares e helicoidais..........................57

4.3.2 Teste de y+ ...........................................................................................60

4.3.3 Testes de malha ..................................................................................62

4.3.4 Teste do modelo numérico ..................................................................67

5 Abordagem Experimental...................................................................................72

5.1 Bancada de experimentos do LACIT/UTFPR .............................................72

5.1.1 Equipamentos de medição ..................................................................75

5.1.2 Circulação de água no circuito.............................................................79

5.1.3 Construção dos protótipos dos tubos corrugados................................81

5.2 Teste de calibração da bancada de experimentos......................................82

5.3 Incertezas de medição ................................................................................82

6 Resultados e Discussão.....................................................................................86

6.1 Configurações geométricas estudas e definições de parâmetros...............86

6.1.1 Configurações geométricas .................................................................86

6.1.2 Definição de parâmetros importantes ..................................................88

6.2 Validação entre as metodologias numérica e experimental ........................89

6.3 Análise do comportamento do fator de atrito em tubos corrugados ............93

6.3.1 Comparação entre tubos de cavidades anelares e helicoidais ............93

6.3.2 Comportamento do fator de atrito para diferentes configurações


geométricas e números de Reynolds .................................................................94

6.3.3 Correlações para o fator de atrito ........................................................96

6.4 Padrão de escoamento .............................................................................102

6.4.1 Linhas de corrente e campo de velocidade .......................................102

6.4.2 Distribuição de pressão .....................................................................105


x

6.4.3 Componentes radial e tangencial de velocidade................................109

6.4.4 Energia cinética turbulenta e tensor de Reynolds..............................113

7 Conclusões e Sugestões para Futuros Trabalhos ...........................................125

8 Referências Bibliográficas................................................................................128

Apêndice A – Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos


Volumes Finitos e Acoplamento Pressão-Velocidade .............................................133

Apêndice B - Usinagem dos Protótipos de Tubos com Corrugado Helicoidal para as


Simulações Experimentais ......................................................................................148

Apêndice C - Cálculo das Incertezas de Medição nas Simulações Experimentais .150

Apêndice D – Metodologia de Obtenção de Correlações para o Fator de Atrito.....155


xi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – (a) Esquema de extração de petróleo em águas profundas (fonte:


Offshore-Technology, 2009); (b) Estrutura do tubo flexível (fonte: Outo Kumpu,
2009). ...................................................................................................................2

Figura 1.2 – Formas geométricas dos tubos corrugados modelados no presente


trabalho: (a) modelo anelar, (b) modelo helicoidal. ..............................................4

Figura 2.1 - Rugosidades dos tipos " d " (a) e " K " (b), escoamento da esquerda para
a direita (Fonte: Jiménez [2004], p. 181)............................................................11

Figura 2.2 - Visualização do movimento de fluido no interior de uma cavidade do tipo


d através da introdução de um filamento de corante, com iluminação à laser
(Fonte: Djenidi et al. [1994], p. 327). ..................................................................13

Figura 2.3 – Contornos de pressão (a) e de vorticidade (b) em uma cavidade do tipo
d para o escoamento turbulento sobre uma placa plana rugosa (Fonte: Chang
et al. [2006], p. 131). ..........................................................................................14

Figura 2.4 – Tubo helicoidal utilizado por Silberman (1970) e Silberman (1980), com
a representação dos sentidos das flutuações de velocidade nas direções axial,
radial e tangencial (Adaptado de Silberman [1980], p. 700)...............................16

Figura 2.5 - Fator de atrito como função do diâmetro do tubo e do ângulo de hélice,
para altos números de Reynolds. (Fonte: Silberman [1970], p. 2254). ..............17

Figura 2.6 - Intensidades turbulentas para escoamentos rotacionais e não-


rotacionais. (Fonte: Silberman [1980], p. 2254). ................................................19

Figura 3.1 - Comportamento de uma propriedade φ em escoamento turbulento ao


longo do tempo. .................................................................................................21

Figura 3.2 – Comparação entre os perfis de velocidade de escoamento turbulento


em um tubo liso obtidos através da lei de parede de Spalding e os dados
experimentais de Lindgren (1965), juntamente com os perfis logarítmico e linear.
...........................................................................................................................26
xii

Figura 3.3 - Comparação entre os perfis de velocidade de escoamento turbulento em


um tubo liso obtidos usando o modelo CK k-ε e os dados experimentais de
Lindgren (1965), juntamente com os perfis logarítmico e linear.........................32

Figura 3.4 – Representação geométrica dos tubos com corrugado: (a) anelar e (b)
helicoidal. Os módulos individualizados representam a porção da geometria que
se repete na direção z........................................................................................34

Figura 3.5 - Representação dos módulos geométricos resultantes da hipótese de


escoamento periodicamente desenvolvido, com a representação das principais
dimensões, sendo: (a) cavidade anelar e (b) cavidade helicoidal. .....................35

Figura 3.6 - Esquema de um módulo periódico genérico de tubo com cavidade


corrugada com representação das condições de contorno aplicadas na presente
modelagem. .......................................................................................................40

Figura 4.1 - Arranjo de malha deslocada para frente: (a) plano r-z; (b) plano r- θ ; (c)
plano θ -z. ..........................................................................................................43

Figura 4.2 – Ilustração dos volumes de controle vetoriais e do posicionamento das


componentes de velocidade próximo à uma superfície sólida, sendo: (a)
condição para a componente tangencial; (b) condição para a componente radial;
(c) condição para a componente axial. ..............................................................46

Figura 4.3 - Ilustração de um volume de controle escalar e do posicionamento de k e


ε próximo a uma superfície sólida. .....................................................................49

Figura 4.4 – Representação simplificada do posicionamento dos volumes de controle


adjacentes às fronteiras esquerda e direita do módulo numérico periódico.......50

Figura 4.5 – Imagem do domínio numérico utilizado para a simulação do escoamento


em tubos corrugados de cavidade anelar, como implementada no programa
PHOENICS CFD (Escoamento principal na direção z). .....................................57

Figura 4.6 - Representação da parede interna de um tubo corrugado com cavidade


helicoidal: (a) cavidade espiralada com diversas revoluções; (b) cavidade com
uma única revolução completa (domínio periódico). A superfície externa do tubo
que reveste o topo das cavidades foi omitida para possibilitar a visualização. ..58
xiii

Figura 4.7 - Domínio numérico utilizado para a simulação do escoamento em tubos


corrugados com cavidade helicoidal. .................................................................59

Figura 4.8 - Processo de construção da geometria do tubo com cavidade helicoidal


utilizado como domínio numérico. (a) Transformação do domínio em elementos
tetraédricos no ambiente do programa SolidWorks 2007; (b) importação do
domínio transformado no programa PHOENICS-CFD. ......................................60

Figura 4.9 - Perfil adimensional de velocidade para escoamento turbulento próximo a


uma superfície sólida. ........................................................................................62

Figura 4.10 – Representação da malha numérica utilizada nas simulações em tubos


corrugados com cavidade anelar, para os modelos LVEL e CK k-ε...................63

Figura 4.11 - Malha computacional utilizada nas simulações numéricas do


escoamento turbulento em tubos corrugados com cavidade helicoidal. ............65

Figura 4.12 – Perfis de magnitude de velocidade sobre uma cavidade de um tubo


corrugado do tipo d usando a presente modelagem numérica para os modelos
de turbulência LVEL e CK k-ε em comparação com a Simulação de Grandes
Escalas (SGE) de Vijiapurapu & Cui (2007), para ReDo = 100000 .....................68

Figura 4.13 - Perfis de magnitude de velocidade sobre a cavidade de um tubo com


cavidade anelar usando a presente modelagem numérica. Domínios numéricos
com uma, duas e três cavidades corrugadas, para ReD = 100000 ....................69

Figura 4.14 - Perfis de magnitude de velocidade sobre a cavidade do tubo com


cavidade helicoidal usando a presente modelagem numérica. Domínios
numéricos com um, dois e três passos de hélice, para ReD = 100000 ..............70

Figura 5.1 – Esquema do circuito experimental desenvolvido...................................73

Figura 5.2 - Equipamentos de medição da bancada experimental. (a) Medidor de


vazão do tipo turbina; (b) Medidor de vazão do tipo Coriolis; (c) Manômetro de
coluna.................................................................................................................76

Figura 5.3 - Detalhes da tomada de pressão utilizada nos experimentos: (a) furo
passante; (b) caixa desmontada; (c) tomada de pressão instalada no tubo. .....78
xiv

Figura 5.4 – Compartimento de água (capacidade de 580 litros) que compõe o


reservatório. .......................................................................................................79

Figura 5.5 – Bomba (a) e Inversor de Freqüência (b) utilizados para circulação e
controle de vazão de água no circuito experimental. .........................................80

Figura 5.6 - Protótipos em acrílico utilizados na bancada experimental: tubo


corrugado com (a) cavidade anelar (superior) e cavidade helicoidal (inferior); (b)
detalhe do aspecto interno da cavidade.............................................................81

Figura 5.7 - Fatores de atrito experimentais obtidos para o escoamento turbulento


em tubo liso, em comparação com a relação empírica de Blasius, para
calibração da bancada experimental..................................................................83

Figura 6.1 – Esquema das dimensões representativas dos tubos com cavidade (a)
anelar e (b) helicoidal. ........................................................................................87

Figura 6.2 – Validação entre os fatores de atrito numéricos e experimentais obtidos


para o escoamento turbulento em tubos corrugados com cavidade anelar. ......90

Figura 6.3 - Validação entre os fatores de atrito numéricos e experimentais obtidos


para o escoamento turbulento em tubos corrugados com cavidade helicoidal. .91

Figura 6.4 – Comparação dos fatores de atrito numéricos obtidos para o escoamento
turbulento em tubos com corrugado anelar e helicoidal. ....................................93

Figura 6.5 – Comparação entre as correlações para o fator de atrito e os resultados


numéricos obtidos com o modelo LVEL, com: (a) cavidade anelar; (b) cavidade
helicoidal. .........................................................................................................100

Figura 6.6 - Linhas de corrente obtidas das simulações numéricas em corrugado


anelar para dois números de Reynolds e quatro configurações geométricas. .103

Figura 6.7 - Exemplo de campo de velocidade na forma de vetores, dentro da


cavidade, no plano r-z (exemplificado para a configuração G3 e ReD = 100000 ).

.........................................................................................................................104

Figura 6.8 - Exemplo de visualizações tridimensionais do campo de velocidade


dentro de uma cavidade helicoidal, na forma de vetores, para a configuração G3
e ReD = 100000 . ..............................................................................................105
xv

Figura 6.9 – Comparação entre as distribuições do coeficiente de pressão em


cavidades anelares e helicoidais, para três números de Reynolds distintos,
exemplificadas para a configuração geométrica G3. .......................................106

Figura 6.10 - Comparação entre as distribuições do coeficiente de pressão entre


diferentes configurações geométricas de cavidade, exemplificado para
ReD = 100000 em cavidade helicoidal. ............................................................107

Figura 6.11 - Comparação entre as distribuições do coeficiente de pressão obtidas


pelos modelos de turbulência LVEL e CK k-ε, exemplificado para ReD = 25000

em cavidade anelar, geometria G3. .................................................................108

Figura 6.12 - Comparação da componente radial de velocidade próxima à parede em


função de ReD para diferentes configurações geométricas, sendo: (a) cavidade

anelar; (b) cavidade helicoidal, usando o modelo LVEL. O ponto de cálculo de


v / V é indicado na quina da cavidade.............................................................110

Figura 6.13 – Distribuição da componente tangencial de velocidade, u , em uma


cavidade helicoidal de configuração G3, nos plano r-z (esquerda) e θ -z (direita),
para ReD = 100000 , utilizando o modelo LVEL. À esquerda, a linha tracejada

indica o plano de corte representado na figura à direita. .................................112

Figura 6.14 - Contornos de energia cinética turbulenta medidos próximo à uma


cavidade anelar, para as quatro configurações geométricas investigadas,
usando o modelo CK k-ε ( ReD = 100000 ). .......................................................114

Figura 6.15 - Contornos de energia cinética turbulenta medidos próximo à uma


cavidade anelar de configuração G3, para quatro números de Reynolds, usando
o modelo CK k-ε. ..............................................................................................115

Figura 6.16 – Distribuição do tensor de cisalhamento de Reynolds próximo a


cavidades anelares, para as quatro configurações geométricas estudadas,
usando o modelo CK k-ε ( ReD = 100000 ). .......................................................117

Figura 6.17 – Distribuição do tensor de cisalhamento de Reynolds próximo a


cavidades anelares, para quatro números de Reynolds, usando o modelo CK k-ε
(cavidade com configuração G3). ....................................................................118
xvi

Figura 6.18 - Comparação entre as distribuições do tensor cisalhante de Reynolds


obtidas pelos modelos de turbulência LVEL e CK k-ε, exemplificado para
ReD = 100000 em cavidade anelar, geometria G3. .........................................119

Figura 6.19 - Comparação entre as contribuições viscosas e turbulentas na tensão


sobre a parede do tubo corrugado. Exemplificação para configuração G3 e
quatro números de Reynolds. ..........................................................................121

Figura 6.20 - Comparação entre o tensor de cisalhamento de Reynolds sob


cavidades anelares e helicoidais, para quatro números de Reynolds e quatro
configurações geométricas de cavidade. .........................................................123

Figura B.1 - Detalhes da bancada de construção dos tubos com corrugado


helicoidal. .........................................................................................................149
xvii

LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 – Resumo do número de volumes de controle utilizado nas simulações


em tubos corrugados com cavidades anelares e helicoidais. ............................66

Tabela 6.1 – Configurações geométricas estudadas. As dimensões a , b , h , s e D


são ilustradas na Figura 6.1. ..............................................................................87

Tabela 6.2 – Valores de rugosidade equivalente ( e / D )eq obtidos para os resultados

de tubos corrugados com cavidades anelares e helicoidais. .............................99

Tabela C.1 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado anelar, configuração G1. .........................................151

Tabela C.2 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado helicoidal, configuração G1. ....................................151

Tabela C.3 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado anelar, configuração G2. .........................................152

Tabela C.4 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado helicoidal, configuração G2. ....................................152

Tabela C.5 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado anelar, configuração G3. .........................................153

Tabela C.6 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado helicoidal, configuração G3. ....................................153

Tabela C.7 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado anelar, configuração G4. .........................................154

Tabela C.8 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado helicoidal, configuração G4. ....................................154

Tabela D.1 - Medição do desvio relativo médio dos fatores de atrito calculados pela
rugosidade e / D em conjunto com a Eq. (6.2) em relação aos dados numéricos
originais (exemplificação para geometria G1, corrugado anelar). ....................156
xviii

Tabela D.2 – Resumo dos valores de rugosidade equivalente ( e / D )eq obtidos para

os resultados de tubos com corrugado anelar e helicoidal, para todas as


configurações geométricas. .............................................................................157

Tabela D.3 – Cálculo das constantes C1 , C2' e C3 pelo método dos mínimos

quadrados e do fator R 2 entre a relação resultante e os dados numéricos


originais............................................................................................................160
xix

LISTA DE SÍMBOLOS

Descrição Unidade

α Ângulo de hélice [1]

β Gradiente de pressão global do módulo periódico [ kg ⋅ m-2 ⋅ s−2 ]

δ Espessura da camada limite hidrodinâmica [m ]

δw Distância em relação à parede mais próxima [m ]

δΔp Incerteza de medição da diferença de pressão Δp [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]

δρ Incerteza de medição da massa específica ρ [ kg ⋅ m-3 ]

δD Incerteza de medição do diâmetro interno D [m ]

δf Incerteza de medição do fator de atrito f [1]

δl Incerteza de medição do comprimento l [m ]

δQ Incerteza de medição da vazão volumétrica Q [ m3 ⋅ s-1 ]

Δp Diferença de pressão entre dois pontos de referência [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]

ΔVφ Volume do volume de controle relacionado ao ponto de cálculo

da propriedade genérica φ [ m3 ]

ε Componente isotrópica da taxa de dissipação de energia

turbulenta [ m2 ⋅ s−3 ]

εp Propriedade ε sobre o ponto de cálculo P [ m2 ⋅ s−3 ]

φ Propriedade genérica [-]

φ Média temporal de uma propriedade genérica [-]

φp Propriedade genérica φ sobre o ponto de cálculo P [-]


xx

φ' Flutuação temporal de uma propriedade genérica [-]

Γ Coeficiente de difusão genérico [-]

κ Constante de Von Karman [1]

μ Viscosidade dinâmica [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−1 ]

μeff Viscosidade efetiva [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−1 ]

μt Viscosidade turbulenta [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−1 ]

ν Viscosidade cinemática [ m2 ⋅ s-1 ]

ν eff Viscosidade cinemática efetiva [ m2 ⋅ s-1 ]

νt Viscosidade cinemática turbulenta [ m2 ⋅ s-1 ]

θ Direção tangencial [-]

ρ Massa específica [ kg ⋅ m−3 ]

σε Número de Prandtl difusivo para a taxa de dissipação [1]

σk Número de Prandtl difusivo para a energia cinética turbulenta [1]

τ Tensão de cisalhamento [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]

τ ap Tensão de cisalhamento aparente [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]

τv Tensão de cisalhamento viscosa [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]

τs Tensor cisalhante de Reynolds específico [ m2 ⋅ s−1 ]

τt Tensor cisalhante de Reynolds [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]

τw Tensão de cisalhamento sobre a parede [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]

τ w ( lisa ) Tensão de cisalhamento sobre a parede de um tubo liso [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]

τ wθ Tensão de cisalhamento sobre a parede normal à

direção θ [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]


xxi

τ wz Tensão de cisalhamento sobre a parede normal à

direção z [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]

ω Taxa de dissipação de energia por unidade de energia

cinética turbulenta [ s−1 ]

ai , j ,k Coeficientes das equações em volumes finitos calculados

sobre o ponto genérico i , j , k [-]

Atrsv Área da seção transversal do tubo de teste experimental

baseada no diâmetro interno do duto [ m2 ]

Awθ Área sobre a parede normal à direção θ onde atua τ wθ [ m2 ]

Awz Área sobre a parede normal à direção z onde atua τ wz [ m2 ]

b Comprimento da cavidade do corrugado [m ]

C1,C2 ,C2' ,C3 Constantes usadas no método dos mínimos quadrados [-]

Cε 1,Cε 2 ,Cε 3 Constantes de fechamento do modelo de turbulência CK k-ε [1]

Cμ Constante de fechamento associada à viscosidade turbulenta [1]

CO Coeficiente do termo fonte S [1]

Cp Coeficiente de pressão [1]

d Escala de diâmetro do tubo [m ]

d i , j ,k Coeficiente derivado do método SIMPLE sobre o ponto

genérico i , j , k [-]

D Diâmetro interno dos tubos corrugados [m ]

Dε Termo difusivo da equação de transporte de ε [ m2 ⋅ s−4 ]

Di , j ,k Condutância difusiva sobre o ponto genérico i , j , k [-]


xxii

Dk Termo difusivo da equação de transporte de energia cinética

turbulenta, k [ m2 ⋅ s−3 ]

Do Diâmetro externo dos tubos corrugados [m ]

e Rugosidade de uma superfície [m ]

( e / D )eq Rugosidade relativa equivalente de uma superfície [1]

E Ponto de cálculo a leste do ponto P (direção θ ) [-]

E Constante de fechamento do modelo de turbulência LVEL [1]

f Fator de atrito de Darcy [1]

f1, f2 , fμ Funções adimensionais do modelo de turbulência CK k-ε [1]

fA , fB Fatores de atrito usados para a definição de desvio percentual [1]

fnum Fator de atrito calculado através da metodologia numérica [1]

fe / D Fator de atrito calculado através de uma rugosidade equivalente [1]

fsm Fator de atrito de Darcy para tubos lisos [1]

Fi , j ,k Fluxo convectivo sobre o ponto genérico i , j , k [-]

Fwθ Força sobre a parede normal à direção θ [ kg ⋅ m ⋅ s−2 ]

Fwz Força sobre a parede normal à direção z [ kg ⋅ m ⋅ s−2 ]

h Altura da cavidade do corrugado [m ]

H Ponto de cálculo superior ao ponto P (direção z) [-]

IZ Ponto de cálculo na direção z [-]

k Energia cinética turbulenta [ m2 ⋅ s−2 ]

kp Energia cinética turbulenta sobre o ponto de cálculo P [ m2 ⋅ s−2 ]

K Escala de rugosidade de uma superfície [m ]

Ks Escala de rugosidade de grão de areia [m ]


xxiii

l , l1, l 2 Distância entre os pontos de prova para tomada de pressão no

circuito experimental [m ]

L Ponto de cálculo inferior ao ponto P (direção z) [-]

Lref Comprimento de referência [m ]

N Ponto de cálculo ao norte do ponto P (direção r) [-]

NY Número de volumes de controle ou volume de controle final na

direção r [1]

NZ Número de volumes de controle ou volume de controle final na

direção z [1]

p Pressão com aplicação das médias de Reynolds [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]

pref Pressão de referência [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]

P Ponto de cálculo de uma dada equação em Volumes Finitos [1]

Pk Produção de energia cinética turbulenta (k) [ m2 ⋅ s−3 ]

P Pressão periódica com aplicação das médias de Reynolds [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]

P* Estimativa de P (algoritmo SIMPLE) [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]

P' Correção para a estimativa de P (algoritmo SIMPLE) [ kg ⋅ m-1 ⋅ s−2 ]

Q Vazão volumétrica [ m3 ⋅ s−1 ]

r Direção ou posição radial [m ]

Res Resíduo da função Y no método dos mínimos quadrados [-]

ReD Número de Reynolds baseado no diâmetro interno do tubo, D [1]

ReDo Número de Reynolds baseado no diâmetro externo do tubo, Do [1]

Rek Número de Reynolds local, Rek = δ w k 0.5 /ν [1]

ReL Número de Reynolds local, ReL = y + ⋅ w + [1]


xxiv

Ret Número de Reynolds local, Ret = k 2 / ( εν ) [1]

R Raio interno do tubo [m ]

Ro Raio externo do tubo [m ]

R2 Quadrado do coeficiente de correlação [-]

t Tempo [s ]

T Temperatura do fluido [K ]

TP Tipo do termo fonte S [-]

s Passo do corrugado ou comprimento total do módulo periódico [ m ]

S Ponto de cálculo ao sul do ponto P (direção r) [-]

S Termo fonte [-]

SP Termo fonte associado à propriedade calculada no ponto P [-]

Sφ Termo fonte associado à propriedade genérica φ [-]

S' Termo fonte adicional relacionado à condição de periodicidade [-]

u' Flutuação da componente tangencial da velocidade [ m ⋅ s-1 ]

u Componente tangencial da velocidade média de Reynolds [ m ⋅ s-1 ]

u* Estimativa da componente u de velocidade (algoritmo

SIMPLE) [ m ⋅ s-1 ]

u' Correção para a estimativa da componente u de velocidade

(algoritmo SIMPLE) [ m ⋅ s-1 ]

up Componente u da velocidade sobre o ponto de cálculo P [ m ⋅ s-1 ]

U Módulo da componente rotacional do escoamento [ m ⋅ s-1 ]

v' Flutuação da componente radial da velocidade [ m ⋅ s-1 ]

v Componente radial da velocidade média de Reynolds [ m ⋅ s-1 ]


xxv

v* Estimativa da componente v de velocidade

(algoritmo SIMPLE) [ m ⋅ s-1 ]

v' Correção para a estimativa da componente v de velocidade

(algoritmo SIMPLE) [ m ⋅ s-1 ]

vp Componente v da velocidade sobre o ponto de cálculo P [ m ⋅ s-1 ]

V∞ Velocidade da corrente livre [ m ⋅ s-1 ]

VABS Magnitude de velocidade [ m ⋅ s-1 ]

VL Valor do termo fonte S [1]

VLC Magnitude de velocidade sobre a linha de centro do tubo [ m ⋅ s-1 ]

Vref Velocidade de referência [ m ⋅ s-1 ]

V Velocidade média do escoamento [ m ⋅ s-1 ]

V* Velocidade de atrito [ m ⋅ s-1 ]

w' Flutuação da componente axial da velocidade [ m ⋅ s-1 ]

w Componente axial da velocidade média de Reynolds [ m ⋅ s-1 ]

w* Estimativa da componente w da velocidade

(algoritmo SIMPLE) [ m ⋅ s-1 ]

w' Correção para a estimativa de w (algoritmo SIMPLE) [ m ⋅ s-1 ]

w+ Componente w da velocidade adimensional paralela à parede [1]


+
w est Estimativa da componente w + da velocidade para procedimento do

modelo LVEL [1]

wp Componente w da velocidade sobre o ponto de cálculo P [ m ⋅ s-1 ]

W Ponto de cálculo a oeste do ponto P (direção θ ) [-]

X1, X 2 Variáveis independentes da função Y no método dos mínimos


xxvi

quadrados [-]

y Direção transversal ao escoamento ou distância em relação

à parede [m ]

y+ Distância adimensional do primeiro ponto de cálculo relativo

à parede [1]

Y Função a ser determinada no método dos mínimos quadrados [-]

z Direção ou posição axial [m ]

Índices

i , i + 1... Centros dos volumes de controle finitos vetoriais na direção θ

I, I + 1... Centros dos volumes de controle finitos escalares na direção θ

j , j + 1... Centros dos volumes de controle finitos vetoriais na direção r

J, J + 1... Centros dos volumes de controle finitos escalares na direção r

k, k + 1... Centros dos volumes de controle finitos vetoriais na direção z

K , K + 1... Centros dos volumes de controle finitos escalares na direção z

Operadores

∇ Operador nabla

∂ Operador diferencial parcial

∫ Operador integral

Siglas

CAD Computer-Aided Design – Desenho Assistido por Computador

CFD Computational Fluid Dynamics – Dinâmica dos Fluidos Computacional


xxvii

CK k-ε Modelo de turbulência, sendo CK uma alusão às iniciais de Chen e Kim


(Chen e Kim, 1987), e k e ε as variáveis turbulentas resolvidas

GB Gigabyte

GHz Gigahertz

LabVIEW Laboratory Virtual Instrument Engineering Workbench - Laboratório de


Instrumentos Virtuais de Bancadas de Engenharia

LACIT Laboratório de Ciências Térmicas

LVEL Modelo de turbulência, aglutinação de L para comprimento e VEL para


velocidade

PARSOL Partial Solid – Sólido Parcial

PCI/FBUS Peripheral Component Interconnect/Fieldbus – Conexão Componente


Periférica/Fieldbus

RAM Random Access Memory – Memória de Acesso Aleatório

SGE/LES Simulação de Grandes Escalas

SIMPLE Semi-Implict Method for Pressure-Linked Equations Shortened -


Método Semi-Implícito para Equações Acopladas à Pressão

SIMPLEST Semi-Implict Method for Pressure-Linked Equations Shortened -


Método Semi-Implícito para Equações Acopladas à Pressão, Reduzido

TDMA Tridiagonal Matrix Algorithm – Algoritmo para Matrix Tridiagonal

UFU Universidade Federal de Uberlândia

USB Universal Serial Bus – Barramento Serial Universal

UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Capítulo 1 Introdução 1

1 INTRODUÇÃO

Tubos corrugados podem ser descritos como dutos compostos por parede
interna (ou externa) formada por cavidades ou sulcos periodicamente distribuídos.
Esses tubos são utilizados em diversas aplicações, como tubulações flexíveis de
drenagem de águas pluviais e de distribuição de água ou produtos na indústria,
trocadores de calor, entre outros, sendo fabricados de diversos materiais, de acordo
com a aplicação.

Em geral, paredes corrugadas em dutos são utilizadas com objetivo de se


conferir flexibilidade à tubulação. Essa característica estrutural é vantajosa em
diversas situações na indústria, não somente pela maior facilidade de instalação,
acomodação e movimentação de estruturas flexíveis, como também pela garantia de
resistência mecânica em ambientes nos quais os tubos estão sujeitos a vibrações ou
oscilações de maior amplitude.

A utilização de tubos corrugados causa, entretanto, influência no padrão de


escoamento, e altera a magnitude de diversas quantidades. Em alguns casos essa
influência é utilizada favoravelmente; por exemplo, existem aplicações nas quais
tubos corrugados são utilizados em trocadores de calor, uma vez que esses tubos
proporcionam aumento significativo de transferência de calor, são de fácil instalação
e permitem reduções das dimensões do equipamento (Zimparov, 2000). Em
contrapartida, o aumento de outras propriedades do escoamento como, por
exemplo, o fator de atrito, passa a ser uma preocupação de projeto na avaliação da
performance de trocadores de calor que utilizam tubos corrugados (Dong et al.,
2001) ou em outros equipamentos nos quais esses tubos são aplicados com função
estrutural.

Um outro exemplo de utilização de tubos corrugados com função estrutural


são os dutos flexíveis empregados nas linhas de produção de petróleo em águas
profundas. A Figura 1.1-(a) esquematiza de modo simplificado a estrutura de
extração de petróleo no fundo do mar. Após ser extraído do poço (ainda misturado
com água, gás natural e outros sedimentos), o petróleo segue a partir da cabeça do
poço por uma tubulação denominada flowline, sendo elevado à plataforma através
Capítulo 1 Introdução 2

de uma tubulação denominada raiser, e a partir daí deverá sofrer os processos


convencionais de tratamento.

(a) (b)

Figura 1.1 – (a) Esquema de extração de petróleo em águas profundas (fonte:


Offshore-Technology, 2009); (b) Estrutura do tubo flexível (fonte: Outo Kumpu,
2009).

Na grande maioria dos sistemas de produção em águas profundas, os dutos


que compõem as linhas que acompanham o leito marinho (flowline) e os suspensos
em catenária até a plataforma (raiser) são constituídos de tubos flexíveis, cuja
estrutura é mostrada na Figura 1.1-(b). Esses tubos são formados pela união de
diversas camadas, que conferem resistência à tração, torção e compressão à linha
de produção, além de promover a vedação do tubo de modo a proteger a estrutura
interna da ação abrasiva da água marinha.

A estrutura interna do tubo voltada ao escoamento, por sua vez, é composta


por uma parede de aço galvanizado e de uma camada helicoidal de aço de pequena
profundidade. Essa configuração propicia certa flexibilidade ao tubo para que ele
possa ser levado à plataforma enrolado em grandes carretéis, facilitando seu
lançamento no mar no momento da instalação das linhas (Petrobras, 2008).

Devido à presença das camadas helicoidais (Figura 1.1-(b)), a parede interna


do tubo flexível é corrugada, ou seja, a superfície é caracterizada por uma
Capítulo 1 Introdução 3

distribuição regular de regiões lisas e canais com pequena profundidade. A


superfície corrugada, em princípio implementada em função do ganho de
flexibilidade, influencia no padrão de escoamento e altera a magnitude de
propriedades globais, como por exemplo o fator de atrito.

Em projetos de produção e elevação de petróleo, o fator de atrito é um


parâmetro de projeto importante no dimensionamento das condições de operação,
embora a rugosidade recomendada pelo fabricante do tubo para a avaliação do fator
de atrito em tubos flexíveis utilizada atualmente seja aparentemente
superdimensionada. Além disso, como o regime de escoamento encontrado em
tubos flexíveis na produção de petróleo é predominantemente turbulento, o cálculo
de parâmetros de engenharia se torna complexo (Petrobras, 2008).

Sendo assim, o estudo do padrão de escoamento turbulento em tubos


corrugados pode, portanto, propiciar informações importantes a serem consideradas
em projetos de engenharia. Neste cenário, o presente trabalho estuda o
comportamento do fator de atrito e em geral do padrão de escoamento turbulento
em tubos corrugados semelhantes aos tubos flexíveis de transporte de petróleo, de
modo a fornecer um conhecimento detalhado do escoamento, útil não somente para
tubos flexíveis mas também para tubos ou canais corrugados com características
geométricas semelhantes às aqui estudadas.

1.1 Objetivos

O presente trabalho tem por objetivo o estudo do escoamento turbulento em


tubos corrugados similares aos utilizados na produção de petróleo em águas
profundas. É realizada uma análise da influência das cavidades no comportamento
do padrão de escoamento e no fator de atrito.

São estudadas duas configurações de tubos corrugados, que são


esquematizadas na Figura 1.2. Na Figura 1.2-(a), é mostrado um esquema de tubo
de superfície interna com cavidades anelares, ou seja, diversas cavidades
periodicamente distribuídas como “anéis” ao longo da tubulação. Na Figura 1.2-(b), é
Capítulo 1 Introdução 4

mostrado um esquema de superfície interna com cavidade helicoidal. São também


avaliadas, para cada caso, quatro diferentes configurações para variações na altura
e comprimento das cavidades.

r
z
(a) D

r
z
(b) D

Figura 1.2 – Formas geométricas dos tubos corrugados modelados no presente


trabalho: (a) modelo anelar, (b) modelo helicoidal.

Para atingir os objetivos propostos, desenvolve-se uma metodologia


matemática e numérica para o estudo do escoamento turbulento, monofásico,
isotérmico e incompressível, utilizando Dinâmica dos Fluidos Computacional. A
turbulência do escoamento é modelada utilizando os modelos de turbulência de zero
equação LVEL e de duas equações CK k-ε. As equações de conservação são
discretizadas utilizando o método dos Volumes Finitos, e o sistema de equações
algébricas resultante é resolvido com o programa comercial PHOENICS CFD.
Assume-se também escoamento periodicamente desenvolvido com a finalidade de
reduzir o tempo computacional.

Com o objetivo de validar os resultados numéricos obtidos, mede-se a perda


de carga em tubos corrugados para a determinação do fator de atrito, com
Capítulo 1 Introdução 5

configurações geométricas similares às estudadas numericamente, utilizando o


circuito experimental instalado no LACIT/UTFPR.

A partir dos resultados numéricos obtidos, analisa-se a influência da


geometria do corrugado e do número de Reynolds no comportamento do padrão de
escoamento. Avalia-se o comportamento do fator de atrito, do campo de
escoamento, da distribuição de pressão, de tensores de Reynolds, entre outros. São
também propostas correlações de engenharia para calcular o fator de atrito em
função da configuração geométrica do corrugado, válidas para o regime de
escoamento estudado.

1.2 Estrutura do trabalho

O presente capítulo apresenta a introdução ao problema em estudo, além dos


objetivos do trabalho e a própria estruturação da dissertação em questão.

No Capítulo 2, é realizado o levantamento dos estudos anteriores mais


relevantes relacionados ao escoamento turbulento sobre superfícies corrugadas,
sejam essas superfícies placas planas, tubos com cavidades retas ou tubos com
cavidades helicoidais.

Realiza-se, no Capítulo 3, a modelagem matemática do problema. São


apresentadas nesse capítulo as equações governantes do escoamento turbulento
em tubos, a fundamentação matemática dos modelos de turbulência utilizados e o
tratamento matemático do conceito de escoamento periodicamente desenvolvido,
ferramenta muito útil para a solução de problemas em superfícies com distribuição
periódica de elementos sólidos na direção do escoamento (como é o caso de tubos
corrugados), e que ajuda a definir as condições de contorno do problema (também
apresentadas no Capítulo 3).

O Capítulo 4 apresenta a metodologia numérica relacionada à utilização da


Dinâmica dos Fluidos Computacional para a solução do problema proposto. Nesse
capítulo, descreve-se de modo breve a metodologia de Volumes Finitos (Patankar,
1980) utilizada pelo programa PHOENICS CFD (Spalding, 1994) para a
Capítulo 1 Introdução 6

discretização das equações governantes e das condições de contorno periódicas.


Apresenta-se também a metodologia de construção das geometrias dos tubos
corrugados estudados, tanto para a abordagem anelar (Figura 1.2-(a)) quanto para a
abordagem helicoidal (Figura 1.2-(b)). Ainda no Capítulo 4 é discutida a metodologia
de teste de malha nas geometrias propostas e mostrada uma primeira validação da
abordagem numérica.

A abordagem experimental, relacionada ao projeto da bancada de


experimentos, aos equipamentos utilizados, à construção dos protótipos dos tubos
corrugados, à calibração do circuito e à descrição das condições de trabalho e do
cálculo da perda de carga em tubos corrugados é descrita ao longo do Capítulo 5.

No Capítulo 6, os resultados numéricos e experimentais para o fator de atrito


e os resultados numéricos para diversas propriedades do escoamento são
apresentados e discutidos. Em um primeiro momento, definem-se as quatro
configurações geométricas para a cavidade dos tubos corrugados estudadas neste
trabalho, além de parâmetros importantes. Em seguida, os resultados obtidos para o
fator de atrito são apresentados, e a metodologia numérica é validada com os
resultados experimentais. O comportamento do fator de atrito para as diferentes
configurações geométricas de tubos corrugados é também analisado, e são
propostas rugosidades equivalentes e relações matemáticas que descrevam os
resultados obtidos neste trabalho. Na seqüência, diversas propriedades do
escoamento turbulento, medidas numericamente, são mostradas e avaliadas, tanto
para se compreender o comportamento individual dessas propriedades devido à
presença das cavidades corrugadas, quanto para se verificar a influência de tais
propriedades nos resultados observados para o fator de atrito.

O Capítulo 7 apresenta as conclusões do trabalho e sugestões para futuros


estudos, e o Capítulo 8 apresenta as referências bibliográficas citadas ao longo de
todo o trabalho.

O Apêndice A apresenta a descrição do método de Volumes Finitos utilizado


nas simulações numéricas e o algoritmo para o acoplamento pressão-velocidade
correspondente à metodologia de solução das equações discretizadas. O Apêndice
B relata brevemente o processo de usinagem dos protótipos para os tubos com
Capítulo 1 Introdução 7

corrugado helicoidal, que foi realizado pelo próprio autor em bancada construída
especificamente para o projeto. O Apêndice C mostra a metodologia para a
obtenção das incertezas de medição dos resultados experimentais. Por fim, o
Apêndice D apresenta a metodologia utilizada para a obtenção de relações que
descrevem os fatores de atrito obtidos numericamente para as situações estudadas
no presente trabalho.
Capítulo 2 Estudos Anteriores 8

2 ESTUDOS ANTERIORES

O presente capítulo apresenta uma revisão dos principais trabalhos existentes


na literatura relacionados ao escoamento turbulento sobre superfícies rugosas. Em
um primeiro momento, discute-se sobre as primeiras idéias propostas para a
determinação de escalas que definem a rugosidade natural de uma superfície. Em
seguida, são apresentados os principais trabalhos relacionados ao escoamento
turbulento sobre superfícies com rugosidade discreta, ou seja, geometrias onde os
elementos rugosos são macroscópicos e artificialmente inseridos nas superfícies
sobre as quais o escoamento se desenvolve.

2.1 Turbulência sobre superfícies rugosas

Grande parte dos estudos iniciais sobre turbulência era concentrada na


análise de características físicas do escoamento sobre superfícies lisas. No entanto,
diversos equipamentos em engenharia possuem superfícies rugosas expostas ao
escoamento e, nesse sentido, vários estudos surgiram com o objetivo de reavaliar
diversas características físicas e matemáticas dos estudos originais.

Em Mecânica dos Fluidos, a rugosidade de uma superfície é compreendida


como a caracterização de uma escala de comprimento, K , que descreve a
irregularidade de uma determinada superfície e a sua respectiva influência no
escoamento. Nikuradse (1933) foi o responsável por apresentar um dos primeiros
trabalhos acerca da influência da rugosidade no atrito em escoamentos turbulentos,
definindo na ocasião a “rugosidade de grão de areia”, K s , como sendo a rugosidade

equivalente de uma determinada superfície capaz de reproduzir, em termos médios,


os mesmos efeitos de uma superfície coberta por grãos de areia de uma
determinada magnitude.

Nikuradse (1933) não contava com um controle preciso do tamanho dos grãos
de areia utilizados em seus experimentos e a sua distribuição homogênea sobre a
Capítulo 2 Estudos Anteriores 9

superfície interna dos tubos de prova, mas as características físicas gerais


observadas pelo autor representam a sua grande contribuição. Entre outras
observações, o autor constatou a existência de três regimes distintos de
escoamento, diferentes dos tradicionais regimes laminar, de transição e turbulento,
mas que dizem respeito à rugosidade da superfície. Para números de Reynolds
muito baixos, ele observou que o escoamento é “hidraulicamente liso”, ou seja, não
há efeito significativo da rugosidade no atrito. Com o aumento do número de
Reynolds, o fator de atrito aumenta em relação ao observado para uma superfície
lisa, passando a ser função do número de Reynolds e da rugosidade. Para elevados
números de Reynolds, o escoamento se torna “completamente rugoso”, já que o
atrito do escoamento passa a ser função somente da escala de rugosidade da
superfície, e conseqüentemente independente do número de Reynolds.

Desde então, buscou-se observar a influência da rugosidade da superfície


não somente no atrito, mas nas diversas características do escoamento, como perfis
de velocidade e estruturas turbulentas. Muito próximo da parede, a rugosidade
destrói a subcamada viscosa (White, 2002), o que altera significativamente a tensão
de cisalhamento sobre a parede, e quantitativamente redefine a escala de algumas
propriedades turbulentas (Volino et al., 2007), o que, entre outras conseqüências,
desloca o perfil de velocidade em relação à parede (Shockling et al., 2006).

Entretanto, em termos da forma do perfil de velocidade e da similaridade das


estruturas turbulentas, a rugosidade causa pequena influência qualitativa, como
demonstram numerosos estudos na literatura, entre eles Volino et al. (2007),
Shockling et al. (2006), Antonia e Krogstad (2001), Schultz e Flack (2006) e Kunkel
et al. (2007). Essa conclusão é de grande importância ao garantir que as teorias
desenvolvidas para superfícies lisas sejam válidas para escoamentos sobre
superfícies rugosas.

As alterações provocadas pela rugosidade no escoamento passaram então a


ser estudadas em termos de seus prejuízos e benefícios na aplicação de
equipamentos em engenharia. Embora superfícies rugosas em geral tenham a
propriedade de elevar o atrito ao qual o escoamento está submetido, diversos
estudos, como os de Dong et al. (2001), Chang et al. (2005) e Jaurker et al. (2005),
Capítulo 2 Estudos Anteriores 10

entre muitos outros, conduziram diversas análises que comprovam a eficiência de


tubos corrugados para aumentar a capacidade de transferência de calor em tubos.

Em outras situações, como o caso dos tubos flexíveis para o transporte de


petróleo, a aplicação de rugosidade nos equipamentos tem somente função
mecânica, e a alteração das propriedades do escoamento passa a ser uma
conseqüência que se deseja estudar. É fato que, independentemente da aplicação,
a rugosidade imposta ao equipamento em linhas flexíveis ou trocadores de calor não
é a rugosidade natural do material, e sim uma rugosidade artificial, macroscópica e
regularmente distribuída, denominada rugosidade discreta, como é o caso de tubos
corrugados.

O padrão de escoamento e, talvez mais importante, o comportamento das


diversas propriedades do escoamento em superfícies com rugosidade discreta,
passa a ser em geral mais complexo do que o observado sobre superfícies com
rugosidade natural. A seção seguinte apresenta os principais trabalhos relacionados
a superfícies com rugosidades discretas, sejam essas superfícies placas, canais
retangulares ou dutos cilíndricos corrugados.

2.2 Escoamento turbulento sobre tubos com rugosidade discreta

Entende-se por rugosidade discreta a distribuição regular de elementos


macroscópicos na superfície exposta ao escoamento, como aletas, corrugados
anelares e helicoidais, entre outros. A introdução de rugosidades discretas tem
diversos objetivos, como aumento de resistência mecânica, aumento do
desempenho de trocadores de calor, variação de diversas grandezas turbulentas,
etc.

Perry et al. (1969) realizaram um dos primeiros estudos teóricos relativos ao


escoamento turbulento em paredes com rugosidade discreta. Eles propuseram uma
denominação de geometria para os elementos discretos corrugados baseando-se na
escala de comprimento da rugosidade da superfície exposta ao escoamento, como
mostrado na Figura 2.1. Segundo os autores, para cavidades aproximadamente
Capítulo 2 Estudos Anteriores 11

quadradas, Figura 2.1-(a), vórtices estáveis ficam confinados no interior destas


cavidades, isolando o escoamento externo da rugosidade; a escala de rugosidade
adequada para o escoamento nesta configuração torna-se a espessura da camada
limite hidrodinâmica, δ , que tem a ordem de grandeza do diâmetro do tubo, d , para
escoamentos em dutos. Por essa razão, denominam as cavidades aproximadamente
quadradas como "cavidades do tipo d ".

(a)

(b)

Figura 2.1 - Rugosidades dos tipos " d " (a) e " K " (b), escoamento da esquerda para
a direita (Fonte: Jiménez [2004], p. 181).

Inversamente, cavidades com grandes comprimentos em relação à altura,


Figura 2.1-(b), não podem manter vórtices estáveis, e o escoamento externo tende a
alcançar o fundo da cavidade; nesta configuração, o escoamento externo é, então,
exposto aos elementos rugosos, e a espessura da camada limite não é mais uma
escala adequada para definir a rugosidade. Nesse caso, a altura da cavidade, K , é
claramente uma escala de comprimento muito mais representativa para a descrição
da rugosidade. Por esse motivo essas geometrias são denominadas como
"cavidades do tipo K ".

As denominações “tipo d ” e “tipo K ” têm sido desde então amplamente


utilizadas, sejam as superfícies em estudo como placas planas submetidas a
escoamento externo, ou dutos retangulares e circulares submetidos a escoamento
interno, de cavidades anelares ou helicoidais. Entretanto, o efeito de isolamento
entre escoamento externo e cavidade, conforme discutido por Perry et al. (1969)
para superfícies do tipo d , apesar de parecer fisicamente consistente, foi
considerado superficial por outros autores (Jiménez, 2004).
Capítulo 2 Estudos Anteriores 12

Além disso, a distribuição das cavidades discretas ou “corrugados” pode ser


na forma anelar (ou seja, perpendiculares à direção do escoamento) ou, como
acontece em algumas tubulações, na forma helicoidal. A presente seção apresenta
os principais trabalhos relacionados a essas duas formas de distribuição de
corrugados em superfícies.

2.2.1 Rugosidade discreta em placas planas e dutos


Embora o presente trabalho tenha por objetivo a análise do escoamento
turbulento em dutos corrugados circulares, informações importantes podem ser
extraídas de trabalhos relacionados ao escoamento sobre placas planas, dutos
retangulares ou canais diversos nos quais as superfícies são compostas por
cavidades dos tipos d ou K , uma vez que os fenômenos relacionados ao
escoamento sobre essas superfícies aparentam ser equivalentes para as diferentes
geometrias nas quais tais superfícies são empregadas. O objetivo dessa seção é
discutir as conclusões dos principais trabalhos revisados nesse sentido.

Djenidi et al. (1994) estudaram o escoamento turbulento sobre uma placa


plana composta por cavidades do tipo d , utilizando Anemometria Laser-Doppler, e
verificaram que, ao invés de isolar completamente o escoamento externo, cavidades
do tipo d provocam fortes ejeções de fluido da cavidade contra o escoamento
externo, fenômeno que está explicitado na Figura 2.2, na qual as imagens superior e
inferior mostram, respectivamente, a evolução (em um curto passo de tempo) da
recirculação dentro da cavidade e da ejeção de fluido na quina à jusante da
cavidade à esquerda da imagem. Os autores observaram que a taxa e intensidade
com que o fenômeno de ejeção de fluido ocorre são bastante significativos,
provocando aumentos globais sensíveis de intensidades de turbulência,
componentes transversais de velocidades e tensões turbulentas sobre a superfície, o
que representa uma troca de quantidade de movimento devida à existência da
cavidade.
Capítulo 2 Estudos Anteriores 13

Figura 2.2 - Visualização do movimento de fluido no interior de uma cavidade do tipo


d através da introdução de um filamento de corante, com iluminação à laser (Fonte:
Djenidi et al. [1994], p. 327).

Jiménez (2004) também afirma que a hipótese de isolamento completo


atribuída às cavidades do tipo d é bastante generalista, de modo que para uma
superfície com cavidades do tipo d a escala de rugosidade equivalente da superfície
deve ser função ao menos da largura das cavidades e do passo entre as mesmas, e
não somente da espessura da camada limite.

Chang et al. (2006) estudaram numericamente o escoamento turbulento sobre


placas planas com cavidades do tipo d , e observaram que todos os níveis de
tensões turbulentas são amplificados sobre as superfícies rugosas devido à
presença da cavidade. Ainda, os autores afirmam que, de modo equivalente ao
observado por Djenidi et al. (1994), o ponto de maior troca de quantidade de
movimento corresponde à quina à jusante da cavidade, onde flutuações de pressão
e velocidade e trocas de quantidade de movimento ocorrem com maior intensidade.

A Figura 2.3 apresenta contornos de pressão e vorticidade tomados por


Chang et al. (2006) para escoamento turbulento sobre uma placa plana com
rugosidade do tipo d . Pode-se observar a existência de um alto valor de pressão de
Capítulo 2 Estudos Anteriores 14

estagnação à jusante da cavidade (efeito claramente explicitado pelos contornos de


pressão na quina do elemento rugoso) e de uma forte corrente de vorticidade que
passa sobre praticamente toda a interface da cavidade. Ambos indicam que a
existência da cavidade do tipo d provoca influência significativa do escoamento
sobre a superfície, ao invés de isolar o escoamento principal.

(a) (b)
Figura 2.3 – Contornos de pressão (a) e de vorticidade (b) em uma cavidade do tipo
d para o escoamento turbulento sobre uma placa plana rugosa (Fonte: Chang et al.
[2006], p. 131).

A existência de flutuações turbulentas e trocas de quantidade de movimento


provocadas por superfícies corrugadas como descrito acima representam um
mecanismo de perturbação do escoamento, que tendem a provocar um aumento do
atrito global nessas superfícies quando comparadas com superfícies planas. Uma
vez que superfícies corrugadas são aplicadas em várias áreas da engenharia,
diversos trabalhos desenvolvem uma análise do comportamento do atrito em
superfícies corrugadas, sejam de cavidades do tipo d ou do tipo K .

Sutardi e Ching (2003) encontraram experimentalmente aumentos do


coeficiente de atrito sobre superfícies com cavidades do tipo d , além de
amplificações nas intensidades turbulentas sobre a superfície, que segundo os
autores ajudam a explicar o aumento de troca de quantidade de movimento entre
cavidade e escoamento principal e, conseqüentemente, o aumento do atrito. Os
trabalhos numéricos de Eiamsa-ard e Promvonge (2008) e Promvonge e Thianpong
(2008) para escoamento turbulento em canais com cavidades dos tipos d e K
Capítulo 2 Estudos Anteriores 15

também reportam aumentos do fator de atrito em relação a canais com paredes


lisas, mesmo a baixos números de Reynolds (situação na qual o aumento é menos
significativo, mas não desprezível).

Vijiapurapu e Cui (2007) também encontraram, para o escoamento turbulento


em dutos circulares com cavidades dos tipos d , K e uma forma intermediária,
aumentos no fator de atrito quando comparados com dutos circulares lisos. Tal
aumento é mais significativo para tubos com cavidades do tipo K (para o qual a
influência do elemento rugoso é notória, como observada na Figura 2.1), mas
também bastante significativo para tubos com cavidades do tipo d .

Embora a grande maioria dos estudos envolvendo escoamento turbulento


sobre superfícies com cavidades do tipo d apontem aumento de atrito em relação a
superfícies lisas, deve-se ressaltar que outros trabalhos apontam características
controversas. Um exemplo é o estudo de Chen et al. (1986), no qual se indica que
canais compostos por superfícies do tipo d são estruturas redutoras de atrito em
situações específicas. De acordo com os autores, superfícies compostas por
pequenas cavidades de passo reduzido são capazes de conter a propagação de
turbulência ao longo do escoamento, desde que para baixos números de Reynolds,
o que possibilita redução de atrito quando comparada a uma superfície lisa.

2.2.2 Escoamento turbulento em tubos corrugados com cavidades


helicoidais
Os trabalhos observados na literatura não se concentram somente na
investigação da influência da razão de aspecto da cavidade (tipo d ou K ). Existem
estudos relacionados ao escoamento turbulento em superfícies internas de
tubulações compostas por cavidades helicoidais, como é o caso da superfície interna
de alguns trocadores de calor e de tubos flexíveis para transporte de petróleo, como
o mostrado na Figura 1.1-(b). Apesar da geometria helicoidal, esses dutos em muito
se assemelham com os dutos de cavidade reta, porém algumas propriedades
turbulentas apresentam comportamentos peculiares.
Capítulo 2 Estudos Anteriores 16

v'
r
z
R Ro θ
u'

w'
Ro = 163 mm
Ro − R = 11,2 mm
s = 56 mm

Figura 2.4 – Tubo helicoidal utilizado por Silberman (1970) e Silberman (1980), com
a representação dos sentidos das flutuações de velocidade nas direções axial, radial
e tangencial (Adaptado de Silberman [1980], p. 700).

Um dos artigos de destaque relacionados a dutos com corrugado helicoidal é


o trabalho de Silberman (1970), que realizou um estudo experimental para investigar
a influência do ângulo de hélice da cavidade no escoamento turbulento, em um tubo
corrugado espiralado de cavidades arredondadas, mostrado na Figura 2.4. Os raios
interno R e externo RO , o passo entre as cavidades s e o ângulo de hélice α , que

é variado ao longo do experimento, são também mostrados. Também são


apresentados no esquema os sentidos das flutuações instantâneas das
componentes tangencial, radial e axial da velocidade, u' , v' e w' , respectivamente.
Essas componentes serão discutidas posteriormente na Figura 2.6. Note que a
razão entre o passo e a altura das cavidades é λ / ( Ro − Ri ) = 5,0 , o que classifica as

cavidades abaixo como uma rugosidade intermediária dos tipos d e K .

A principal conclusão do trabalho de Silberman (1970) é a constatação de


que, para um determinado diâmetro fixo, o fator de atrito em tubos corrugados
helicoidais diminui com a diminuição do ângulo de hélice. Esse fato é evidenciado
através da Figura 2.5, na qual diversas medições de fator de atrito para diferentes
ângulos de hélice são apresentados em conjunto. Nota-se que, comparativamente, o
fator de atrito para tubos corrugados com ângulo de hélice de 90° (ou seja,
corrugados anelares) é cerca de quatro vezes o valor obtido para ângulo de hélice
de 62°.
Capítulo 2 Estudos Anteriores 17

0.12 Ângulo de Hélice


90
90
0.11 90
66
0.10

Fator de atrito de Darcy, f


62
66
0.09 59
70
0.08 75

0.07
0.06
0.05
0.04
0.03
0.02
0 1 2 3 4 5 6 7
Diâmetro do tubo, pés

Figura 2.5 - Fator de atrito como função do diâmetro do tubo e do ângulo de hélice,
para altos números de Reynolds. (Fonte: Silberman [1970], p. 2254).

Segundo o autor, quanto mais favorável a inclinação da cavidade na direção


do escoamento (ou seja, quanto menor for o ângulo de hélice α ), maior a magnitude
da componente rotacional U do escoamento, com U = VABS ⋅ senα e VABS , a

magnitude de velocidade. Ainda de acordo com o autor, o aumento da magnitude da


componente rotacional com a redução do ângulo de hélice provoca, de alguma
forma, o descolamento da camada limite próxima à parede, fazendo com que o
escoamento externo tenha menor sensibilidade à mesma e conseqüentemente
reduzindo o atrito ao longo da parede.

Silberman (1970) realizou medições da componente rotacional 2UR /(rV ) ,


que é uma adimensionalização da componente U em função da posição local r , do
raio interno R e da velocidade média do escoamento no tubo, V . O autor encontrou
para uma posição r / R = 0,83 valores de 2UR /(rV ) = 0,8 para tubos com α = 62° ,

2UR /(rV ) = 0,69 para α = 70° e 2UR /(rV ) = 0,61 para α = 75° , sendo que os
fatores de atrito para os tubos de α = 62° , 70° e 75° e número de Reynolds 100000
foram respectivamente 0,0275, 0,0372 e 0,0406. Esses resultados demonstram que,
Capítulo 2 Estudos Anteriores 18

para tubos corrugados com cavidades helicoidais de razão de aspecto intermediária,


a diminuição de atrito é favorecida pela diminuição do ângulo de hélice (e
conseqüentemente aumento da componente rotacional perto da parede).

Posteriormente, Silberman (1980) realizou um novo estudo acerca do


escoamento turbulento em tubos corrugados de cavidades helicoidais. Nessa
ocasião, o autor não restringiu o trabalho somente para a avaliação do efeito do
ângulo de hélice no fator de atrito, mas também avaliando nessa ocasião diversas
características turbulentas do escoamento em tubos helicoidais, como perfis de
velocidade, flutuações das componentes de velocidade, intensidades turbulentas,
tensões de Reynolds, além de componentes rotacionais que comprovassem as
hipóteses do comportamento do fator de atrito com a variação do ângulo de hélice
observada por Silberman (1970).

Dentre essas análises, merece destaque a medição das intensidades


turbulentas médias na região próxima à parede, como mostra a Figura 2.6, onde as
flutuações u' , v' e w' (de direções previamente identificadas na Figura 2.4) são
normalizadas em função da velocidade de atrito V * (definida por Silberman [1980]
como V * = ΔpD / 4 ρ Lref , onde Δp é a diferença de pressão medida em uma

distância Lref , D é o diâmetro e ρ é a massa específica) e comparadas às

medições do trabalho de Laufer (1954) para escoamento não-rotacional.

Nota-se que, no centro do tubo, a componente de intensidade turbulenta na


direção axial, w' / V * , é maior, enquanto que as flutuações nas direções tangencial e
radial, u' / V * e v' / V * , são menores, quando comparadas às medidas por Laufer
(1954). Porém, ao se aproximar da parede do tubo, a intensidade turbulenta axial é
reduzida significativamente, enquanto que a componente tangencial passa a ser
maior do que a medida em escoamentos não-rotacionais; paralelamente, a
intensidade turbulenta na direção radial também sofre redução significativa em
relação aos dados de escoamento não-rotacional.

De acordo com Silberman (1980), esses resultados demonstram uma


diminuição no nível geral de intensidade turbulenta em comparação a escoamentos
não-rotacionais. Propriedades que dependam dos níveis de intensidades
turbulentas, como por exemplo o tensor de Reynolds (interpretado como uma tensão
Capítulo 2 Estudos Anteriores 19

turbulenta, e que será apresentado no Capítulo 3), devem sofrer reduções, o que
vem a atenuar as tensões de cisalhamento sobre a parede e, conseqüentemente,
reduzir o fator de atrito.

Laufer (1954) - Escoamento Retilíneo


1.8 Re = 5x105
u'
V*
v'
1.6 V*
w'
V*
1.4
V * V*
v' w'
,
Intensidade turbulenta, V ,

1.2
*
u'

1.0

0.8

0.6
Corrugado Helicoidal
Re = 5,8x105
0.4 u'
V*
v'
V*
0.2 w'
V*
Corrugado
0.0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Distância relativa da parede, y/Ro

Figura 2.6 - Intensidades turbulentas para escoamentos rotacionais e não-


rotacionais. (Fonte: Silberman [1980], p. 2254).

Outros trabalhos, sendo a grande maioria relacionada a trocadores de calor,


avaliam de modo breve a influência do fator de atrito e de propriedades ligadas à
transferência de calor, como o número de Stanton, com o ângulo de hélice e com as
demais dimensões do corrugado, mas pouca ou praticamente nenhuma explicação
física é dada às tendências observadas. Ravigururajan e Bergles (1996) e Webb et
al. (2000), por exemplo, propuseram correlações para o fator de atrito e para o
número de Stanton para certas classes de tubos corrugados com cavidades
helicoidais. Dong et al. (2001) realizaram análises experimentais de atrito e
Capítulo 2 Estudos Anteriores 20

transferência de calor em tubos com cavidades helicoidais do tipo K . Em geral,


todos esses trabalhos mostram que as propriedades medidas tendem a se
intensificar em comparação com tubos lisos.
Capítulo 3 Modelagem Matemática 21

3 MODELAGEM MATEMÁTICA

No presente capítulo, as equações de conservação e de modelagem da


turbulência são descritas de acordo com as condições do problema e das hipóteses
a serem assumidas. A fundamentação matemática do conceito de escoamento
periódico será também tratada, seguida do fechamento matemático das condições
de contorno do problema, que aborda, além das condições de periodicidade,
algumas características adicionais relacionadas às variáveis turbulentas.

3.1 Equações Governantes

Escoamentos turbulentos, sob quaisquer circunstâncias, são intrinsecamente


transientes, e dessa forma as variáveis envolvidas flutuam constantemente no
tempo. A Figura 3.1 apresenta uma representação básica do comportamento de uma
propriedade φ ao longo do tempo em um escoamento turbulento.

φ
φ '(t )
φ

Figura 3.1 - Comportamento de uma propriedade φ em escoamento turbulento ao


longo do tempo.
Capítulo 3 Modelagem Matemática 22

Nota-se que, apesar do comportamento transiente, a propriedade genérica φ

flutua em torno de uma média φ . Tomando-se como base o valor médio da


propriedade, a propriedade φ (t ) pode ser escrita como:

φ (t ) = φ + φ '(t ) , (3.1)

onde φ '(t ) é o valor instantâneo da flutuação da propriedade φ .

Reynolds (1895) observou que, para um período de amostragem


suficientemente grande, como mostrado na Figura 3.1, a propriedade φ tende a se

estabilizar em torno do valor médio, φ . Nota-se também que, apesar de o valor


médio da flutuação φ '(t ) ser nulo (já que a mesma varia acima e abaixo da média
com a mesma intensidade para um período de amostragem suficiente), o valor
absoluto da amplitude de flutuação de φ ' não é nulo.

Em função disso, Reynolds propôs estudar a turbulência em termos médios,


aplicando médias temporais às equações de conservação e empregando a Equação
(3.1) para substituir as propriedades instantâneas em cada equação. Desse modo,
as equações governantes ficam escritas em função de propriedades médias no
tempo e de campos médios de flutuações da propriedade, oriundos da flutuação
instantânea φ '(t ) , que são desconhecidos e precisam ser modelados para o
fechamento do problema. A essa abordagem, dá-se o nome de Modelagem Clássica
da Turbulência (Morales, 2000), que passou a ser assim definida para denotar as
abordagens que utilizam as médias de Reynolds para as propriedades envolvidas.

Em conjunto com as médias de Reynolds, uma das abordagens utilizada pela


Modelagem Clássica assume a hipótese de Boussinesq (Wilcox, 1998) para as
equações de conservação da quantidade de movimento. Essa hipótese propõe que
o campo médio de produtos de flutuações de velocidade resultante da aplicação das

médias de Reynolds, − ρ um' un' , conhecido como tensor de Reynolds, seja

proporcional à taxa de deformação do fluido e a uma viscosidade turbulenta, μt , tal

que:
Capítulo 3 Modelagem Matemática 23

⎛ ∂u ∂u ⎞ 2
− ρ um' un' = μt ⎜ m + n ⎟ + kδ mn , (3.2)
⎝ ∂xn ∂xm ⎠ 3

onde um e un são as componentes médias de velocidade nas direções m e n , e um'

e un' são as componentes instantâneas das flutuações de velocidade nas direções

m e n , k representa a energia cinética turbulenta e δ mn é a função delta de

Kronecker. O termo (2 / 3)kδ mn é comumente incorporado à pressão estática

(Morales, 2000). Como resultado, ao invés de se modelar as diversas componentes


desconhecidas u ' que compõem os produtos de flutuação de velocidade do tensor
de Reynolds, é necessária uma prescrição para a viscosidade turbulenta, μt , para a

modelagem de todo o tensor de Reynolds − ρ um' un' . Apesar de não ser objetivo do
presente estudo discutir sobre a validade dessa hipótese, é interessante ressaltar
que a mesma é válida para diversas situações em engenharia e foi utilizada ao longo
das últimas décadas com sucesso em diversas aplicações (Wilcox, 1998).

Para o presente trabalho, assume-se o escoamento turbulento de fluido


newtoniano em tubos corrugados, o qual é governado pelas equações de
conservação da massa e da quantidade de movimento. Assumem-se as médias de
Reynolds e a hipótese de Boussinesq para a modelagem média da turbulência, e
como hipótese admite-se escoamento incompressível e isotérmico. Tomando-se
essas considerações e adotando o sistema cilíndrico de coordenadas com “r”, “ θ ” e
“z” sendo respectivamente as direções radial, tangencial e axial do tubo, as
equações de conservação podem ser escritas como:

Conservação da massa:

1 ∂u 1 ∂rv ∂w
+ + =0 (3.3)
r ∂θ r ∂r ∂z
Capítulo 3 Modelagem Matemática 24

Conservação da quantidade de movimento na direção r :

1 ∂rvv 1 ∂uv ∂vw uu 1 ∂p 1 ∂ ⎡ ⎛ ∂v ⎞ ⎤


r ∂r
+
r ∂θ
+
∂z

r
=− +
ρ ∂r r ∂r ⎢r (ν + ν t ) ⎜ 2 ∂r ⎟ ⎥ +
⎣ ⎝ ⎠⎦
1 ∂ ⎧ ⎡ ∂ ⎛ u ⎞ 1 ∂v ⎤ ⎫ ∂ ⎡ ∂v ∂w ⎤
+ ⎨(ν + ν t ) ⎢ r ⎜ ⎟ + ⎥ ⎬+ ⎢ (ν + ν t ) ⎛⎜ + ⎞⎟ ⎥ − (3.4)
r ∂θ ⎩ ⎣ ∂r ⎝ r ⎠ r ∂θ ⎦ ⎭ ∂z ⎣ ⎝ ∂z ∂r ⎠ ⎦
2 ⎡ 1 ∂u v ⎤
− (ν + ν t ) ⎢ + ⎥
r ⎣ r ∂θ r ⎦

Conservação da quantidade de movimento na direção θ :

1 ∂ruv 1 ∂uu ∂uw uv 1 ∂p 1 ∂ ⎡ ⎛ ∂ ⎛ u ⎞ 1 ∂v ⎞ ⎤


+ + + =− + ⎢r (ν + ν t ) ⎜ r ⎜ r ⎟ + r ∂θ ⎟ ⎥ +
r ∂r r ∂θ ∂z r ρ r ∂θ r ∂r ⎣ ⎝ ∂r ⎝ ⎠ ⎠⎦
2 ∂ ⎡ 1 ∂u v ⎞ ⎤ ∂ ⎡ ∂u 1 ∂w ⎞ ⎤
+ ⎢ (ν + ν t ) ⎜⎛ + ⎟⎥ + ⎢ (ν + ν t ) ⎜⎛ + ⎟⎥ + (3.5)
r ∂θ ⎣ ⎝ r ∂θ r ⎠ ⎦ ∂z ⎣ ⎝ ∂z r ∂θ ⎠ ⎦
1 ⎡ ∂ ⎛ u ⎞ 1 ∂v ⎤
+ (ν + ν t ) ⎢r ⎜ ⎟ + ⎥
r ⎣ ∂r ⎝ r ⎠ r ∂θ ⎦

Conservação da quantidade de movimento na direção z :

1 ∂rvw 1 ∂uw ∂ww 1 ∂p 1 ∂ ⎡ ⎛ ∂v ∂w ⎞ ⎤


+ + =− + ⎢ r (ν + ν t ) ⎜ + ⎟⎥ +
r ∂r r ∂θ ∂z ρ ∂z r ∂r ⎣ ⎝ ∂z ∂r ⎠ ⎦
(3.6)
1 ∂ ⎡ ∂u 1 ∂w ⎞ ⎤ ∂ ⎡ ∂w ⎤
+ ⎢ (ν + ν t ) ⎛⎜ + ⎟ ⎥ + ⎢ (ν + ν t ) ⎛⎜ 2 ⎞⎟ ⎥
r ∂θ ⎣ ⎝ ∂z r ∂θ ⎠ ⎦ ∂z ⎣ ⎝ ∂z ⎠ ⎦

onde u , v e w são as componentes médias temporais da velocidade (decorrentes


da aplicação das médias de Reynolds) para as direções tangencial, radial e axial,
respectivamente, p é a pressão média no tempo, ρ é a massa específica, ν é a
viscosidade cinemática e ν t é a viscosidade cinemática turbulenta, ν t = μt / ρ . A
Capítulo 3 Modelagem Matemática 25

notação de propriedade média no tempo, φ (seja φ qualquer uma das


componentes de velocidade u , v e w , ou da pressão, p ), é mantida a rigor ao
longo do trabalho, para reforçar a aplicação das médias temporais de Reynolds.

Como a viscosidade cinemática turbulenta, ν t , é também desconhecida, os

modelos de turbulência baseados nas médias de Reynolds e na hipótese de


Boussinesq precisam prescrever um método para o cálculo de ν t . No presente

trabalho, dois modelos de turbulência são utilizados: o modelo algébrico LVEL


(Spalding, 1994), e uma adaptação para baixos números de Reynolds do modelo a
duas equações de Chen e Kim (1987), proposta por Monson et al. (1990). Tais
modelos são referenciados ao longo do trabalho como LVEL e CK k-ε,
respectivamente, e suas modelagens matemáticas são discutidas nas subseções
seguintes.

3.1.1 Modelo de turbulência a zero equação LVEL


O modelo de turbulência algébrico ou a zero equação LVEL, proposto por
Spalding (1994), leva a designação de modelo algébrico por não empregar
equações diferenciais para o cálculo de ν t . Para extrair uma correlação para ν t ,

Spalding (1994) se valeu de uma correlação algébrica para o perfil de velocidade


próximo à parede, conhecida como Lei de Parede de Spalding (Spalding, 1961),
obtida através da interpolação de dados experimentais:

⎡ ( ) − (κ w ) − (κ w ) ⎤
2 3 4
⎛ 1 ⎞ ⎢ κw + κw + + +

y = w + ⎜ ⎟ e − 1− κw −
+ + + ⎥ (3.7)
⎝E ⎠⎢ 2 6 24 ⎥
⎣ ⎦

onde κ é a constante de Von Karman (0,417), E é outra constante (8,6),

y + = yV * /ν é distância adimensional da parede (sendo V * = (τ w / ρ )


0,5
definida como

a velocidade de atrito, onde τ w é a tensão de cisalhamento sobre a parede, e y a


Capítulo 3 Modelagem Matemática 26

distância da parede) e w + = w / V * é a componente adimensional da velocidade


paralela à parede.

A Figura 3.2 apresenta uma comparação entre o perfil de velocidade obtido


através da Eq. (3.7) com os dados experimentais de Lindgren (1965), para
escoamento em um tubo liso a número de Reynolds 10000. São também mostradas
no gráfico a conhecida lei logarítmica para o perfil de velocidade,
w + = (1/ 0,421) ln( y + ) + 5,6 (McKeon et al., 2004) e a relação linear w + = y + , que

descreve razoavelmente o perfil de velocidade até y +  5,0 .

20
Lei de Parede de Spalding
Lindgren (1965)

w+=y+
15
w+

10
w+=(1/0,421)ln(y+)+5,6

0
1 10 100
y+

Figura 3.2 – Comparação entre os perfis de velocidade de escoamento turbulento


em um tubo liso obtidos através da lei de parede de Spalding e os dados
experimentais de Lindgren (1965), juntamente com os perfis logarítmico e linear.

Observa-se uma concordância muito boa entre o perfil calculado com a


Equação (3.7) e os dados experimentais de Lindgren (1965), principalmente até
y +  30,0 . Muito perto da parede, na chamada subcamada viscosa ( 0 < y + < 5,0 ),
onde efeitos predominantemente viscosos ocorrem (Spalding, 1994), a concordância
da Equação (3.7) com o perfil linear também é bastante satisfatória. Na subcamada
amortecedora, região de inflexão do perfil observada entre 5,0 < y + < 30,0 onde
Capítulo 3 Modelagem Matemática 27

tanto os efeitos viscosos quanto turbulentos são importantes, a concordância com os


dados experimentais também é muito boa. Acima de y +  30,0 , na região chamada
subcamada logarítmica (onde efeitos turbulentos começam a predominar), o perfil da
lei de parede de Spalding tende assintoticamente ao dado pela lei logarítmica,
ambos ligeiramente menores que os valores experimentais, mas ainda com
concordância razoável.

Derivando a Equação (3.7) em relação a w + e reconhecendo que a tensão de


cisalhamento para escoamentos turbulentos pode ser dada por τ w = ( μt + μ ) ∂w / ∂y

(assumindo-se que w seja a componente da velocidade na direção principal do


escoamento e y , a direção transversal a essa componente), a viscosidade
cinemática turbulenta, ν t , será dada por:

⎡ ( ) − (κ w ) ⎤
2 3
⎛ κ ⎞ ⎢ κw + κw + +

ν t = ν ⎜ ⎟ e − 1 − κw −
+ ⎥ (3.8)
⎝E ⎠⎢ 2 6 ⎥
⎣ ⎦

que é a relação algébrica proposta por Spalding (1994) para prescrever ν t .

Como podem ocorrer diversas situações nas quais o domínio é composto por
paredes sólidas em diversas orientações (caso do tubo corrugado), o modelo LVEL
(Spalding, 1994) calcula para um dado ponto a distância em relação à parede mais
próxima para a aplicação da Equação (3.8), em função da velocidade local, com
base na Equação (3.7). É por essa metodologia que o modelo recebe o nome LVEL,
sendo “L” relacionado à especificação de um comprimento relativo à parede, e “VEL”
relacionado à descrição de uma velocidade local, sendo essa última a variável
principal a ser conhecida para o cálculo de ν t , como indica a Equação (3.8).

O processo de obtenção da componente local w + , a ser aplicada na Equação


(3.8), precisa ser no entanto iterativo, uma vez que o campo de escoamento que
define w + depende do próprio valor de ν t . Para esse fim, define-se o número de
Capítulo 3 Modelagem Matemática 28

Reynolds local, ReL , tal que ReL = y + ⋅ w + . Usando a Equação (3.7) na definição de

ReL , segue que:

⎧ ⎡ ( ) − (κ w ) − (κ w ) ⎤⎫
2 3 4

+ ⎪ +
κw + + +
⎛ 1 ⎞ ⎢ κw +
ReL = w ⎨w + ⎜ ⎟ e − 1 − κ w −
+ ⎥ ⎪⎬ (3.9)
⎪ ⎝E ⎠⎢ 2 6 24 ⎥⎪
⎩ ⎣ ⎦⎭

Na seqüência, procede-se com um cálculo iterativo para w + através do método de


Newton-Raphson (Spalding, 1994), utilizando o número de Reynolds local ReL e
+
uma estimativa w est :

+
w =w +
+ ⎣ (
⎡ReL* − ReL w est
+

⎦) (3.10)
est +
dReL / dw

Dessa forma, a dependência direta da posição y + é eliminada, e para cada novo

campo de velocidade obtido em uma nova iteração, o valor de w + a ser usado na


Equação (3.8) é justamente o resultado da Equação (3.10).

A escolha do modelo LVEL nas simulações do escoamento turbulento em


tubos corrugados vem, por um lado, da relativa simplicidade de modelagem do
problema, que não necessita nenhuma equação de transporte adicional
possibilitando um tempo computacional menor do que modelos que empregam
novas equações diferenciais, e por outro lado pela boa representação do perfil de
velocidades próximo à parede, como demonstrou a comparação na Figura 3.2, uma
vez que existe a necessidade de se descrever de forma adequada as interações
entre as cavidades corrugadas existentes nas paredes dos tubos em estudo e o
próprio escoamento principal, meta que seria difícil com modelos clássicos como o
modelo k-ε Padrão de Launder e Spalding (1974) ou o modelo k-ω de Wilcox (1998),
Capítulo 3 Modelagem Matemática 29

que justamente desprezam os fenômenos ocorridos nas subcamadas amortecedora


e viscosa (discutidas acima).

3.1.2 Modelo de turbulência a duas equações CK k-ε

O modelo a duas equações CK k-ε, como sua própria designação indica,


aplica duas novas equações diferenciais para o cálculo de ν t . Como a maioria dos

modelos k-ε, o modelo CK k-ε deriva do modelo k-ε Padrão de Launder e Spalding
(1974), que propõe que ν t seja função de duas quantidades turbulentas, k e ε, na

forma:

ν t = C μ fμ k 2 / ε (3.11)

onde k é a energia cinética turbulenta, ε é a componente isotrópica da taxa de


dissipação de energia turbulenta (chamada comumente de “taxa de dissipação de
k”), Cμ é uma constante de fechamento e fμ é uma função amortecedora, cujas

descrições dependem do modelo k-ε considerado. Duas novas equações de


transporte são desenvolvidas para o cálculo de k e ε, respectivamente mostradas
abaixo usando coordenadas cilíndricas:

1 ∂rvk 1 ∂uk ∂wk


+ + = Dk + Pk − ε (3.12)
r ∂r r ∂θ ∂z

1 ∂rv ε 1 ∂u ε ∂w ε ε ε 2 f1Cε 3Pk2


+ + = Dε + f1Cε 1 Pk − f2Cε 2 + , (3.13)
r ∂r r ∂θ ∂z k k k
Capítulo 3 Modelagem Matemática 30

onde o lado esquerdo de cada equação representa o transporte advectivo de cada


quantidade, Dk e Dε são termos difusivos de k e ε, respectivamente, Pk é o termo

de produção de k, Cε 1 , Cε 2 e Cε 3 são coeficientes de fechamento e f1 e f2 são

funções amortecedoras. Os termos Dk , Dε e Pk são dados respectivamente por:

1 ∂ ⎡ ⎛ ν t ⎞ ∂k ⎤ 1 ∂ ⎡⎛ ν t ⎞ 1 ∂k ⎤ ∂ ⎡⎛ ν t ⎞ ∂k ⎤
Dk = ⎢r ⎜ν + ⎟ ⎥+ ⎢⎜ν + ⎟ ⎥+ ⎢⎜ν + ⎟ ⎥ (3.14)
r ∂r ⎣ ⎝ σ k ⎠ ∂r ⎦ r ∂θ ⎣⎝ σ k ⎠ r ∂θ ⎦ ∂z ⎣⎝ σ k ⎠ ∂z ⎦

1 ∂ ⎡ ⎛ ν t ⎞ ∂ε ⎤ 1 ∂ ⎡⎛ ν t ⎞ 1 ∂ε ⎤ ∂ ⎡⎛ ν t ⎞ ∂ε ⎤
Dε = ⎢r ⎜ν + ⎟ ⎥+ ⎢⎜ν + ⎟ ⎥+ ⎢⎜ν + ⎟ ⎥ (3.15)
r ∂r ⎢⎣ ⎝ σ ε ⎠ ∂r ⎥⎦ r ∂θ ⎢⎣⎝ σ ε ⎠ r ∂θ ⎥⎦ ∂z ⎢⎣⎝ σ ε ⎠ ∂z ⎥⎦

⎧⎪ ⎡⎛ ∂v ⎞2 ⎛ 1 ∂u v ⎞2 ⎛ ∂w ⎞2 ⎤ ⎛ ∂u 1 ∂w ⎞2
Pk = ν t ⎨2 ⎢⎜ ⎟ +⎜ + ⎟ +⎜ ⎟ ⎥+⎜ + ⎟ +
⎪⎩ ⎣⎢⎝ ∂r ⎠ ⎝ r ∂θ r ⎠ ⎝ ∂z ⎠ ⎦⎥ ⎝ ∂z r ∂θ ⎠
(3.16)
⎛ ∂v ∂w ⎞ ⎡ ∂ ⎛ u ⎞ 1 ∂v ⎤ ⎫⎪
2 2

+⎜ + ⎟ + ⎢r ⎜ ⎟ + ⎥ ⎬
⎝ ∂z ∂r ⎠ ⎣ ∂r ⎝ r ⎠ r ∂θ ⎦ ⎪⎭

onde σ k e σ ε são os números de Prandtl turbulento para k e ε, respectivamente.

O modelo CK k-ε utilizado no presente trabalho, proposto por Monson et al.


(1990), é uma adaptação para baixos números de Reynolds do modelo k-ε de Chen
e Kim (1987). O modelo original de Chen e Kim (1987) realiza ajustes em relação ao
modelo k-ε Padrão de Launder e Spalding (1974) em algumas das constantes de
fechamento mostradas acima, além de incluir um termo fonte adicional, o último
termo do lado direito da Equação (3.13) (que é nulo no modelo k-ε Padrão), que
corresponde a uma escala de tempo, inserida de acordo com os autores para melhor
descrever o espectro de escalas de tempo do escoamento (Spalding, 1994).

Monson et al. (1990) adequaram então tal modelo para baixos números de
Reynolds através da introdução de relações algébricas específicas para as funções
Capítulo 3 Modelagem Matemática 31

amortecedoras fμ , f1 e f2 . Desse modo, não é necessário aplicar funções de parede

(prática necessária no modelo k-ε Padrão), e as equações são integradas na


subcamada viscosa, até a parede. As funções fμ , f1 e f2 utilizadas no modelo CK k-ε

proposto são as mesmas desenvolvidas por Lam e Bremhorst (1981), descritas


respectivamente pelas Equações (3.17), (3.18) e (3.19) a seguir:

( ) (1 + 20,5 / Re )
2
fμ = 1 − e −0,0165Rek t (3.17)

f1 = 1 + ( 0,05 / fμ )
3
(3.18)

2
f2 = 1 − e − Ret , (3.19)

onde Ret = k 2 / ( εν ) e Rek = δw k 0.5 /ν (sendo δw a distância à parede mais próxima).

Os coeficientes de fechamento adotados pelo modelo CK k-ε são Cμ = 0,09 ,

Cε 1 = 1,15 , Cε 2 = 1,90 e Cε 3 = 0,25 , e os números de Prandtl turbulentos são

σ k = 0,75 e σ ε = 1,30 .

A utilização de funções amortecedoras garante que o modelo seja, de acordo


com os autores, apropriado para quantificar escoamentos turbulentos próximos a
superfícies sólidas e escoamentos a baixos números de Reynolds em geral. Longe
da parede, Rek e Ret assumem valores altos de modo que as funções

amortecedoras tendem a unidade, fazendo com que nesses casos o modelo seja
equivalente ao original proposto por Chen e Kim (1987). Além disso, o modelo CK k-
ε garante uma boa descrição de propriedades como o tensor de Reynolds e a
própria energia cinética turbulenta.

A Figura 3.3 apresenta os perfis de velocidade adimensionais para


escoamento em tubo, de modo semelhante à comparação realizada para o modelo
LVEL na Figura 3.2, utilizando-se o modelo CK k-ε em comparação com os dados
Capítulo 3 Modelagem Matemática 32

experimentais de Lindgren (1965), o perfil linear w + = y + e a lei logarítmica,

w + = (1/ 0,421) ln( y + ) + 5,6 . Observa-se também uma boa concordância próximo à

parede entre o perfil obtido com o modelo CK k-ε e os dados experimentais, além de
se notar uma tendência deste modelo em prever a pequena elevação do perfil em
relação à lei logarítmica, de modo semelhante ao observado para os resultados
experimentais.

20
Modelo CK k-ε
Lindgren (1965)

w+=y+
15
w+

10
w+=(1/0,421)ln(y+)+5,6

0
1 10 100
y+

Figura 3.3 - Comparação entre os perfis de velocidade de escoamento turbulento em


um tubo liso obtidos usando o modelo CK k-ε e os dados experimentais de Lindgren
(1965), juntamente com os perfis logarítmico e linear.

Em todo caso, as Figuras 3.2 e 3.3 mostram que, ao menos em termos dos
perfis de velocidade, ambos os modelos LVEL e CK k-ε proporcionam uma boa
representação do campo de velocidades próximo à parede, recurso que foi levado
em consideração pelo fato de o trabalho ter por objetivo explorar com certo detalhe
os fenômenos que ocorrem perto das cavidades corrugadas em estudo.

Apresentada a fundamentação matemática dos modelos de turbulência a


serem usados na análise numérica do escoamento em tubos corrugados, é
interessante prosseguir com um tratado matemático das condições de contorno do
Capítulo 3 Modelagem Matemática 33

problema, antes de se discutir a abordagem numérica para a solução do problema, a


ser realizada no capítulo 4.

3.2 Tratamento matemático das condições de contorno e periodicidade

Tubos corrugados podem ser entendidos como dutos circulares com


elementos rugosos periodicamente distribuídos na parede. A Figura 3.4 apresenta
um esquema da distribuição dos elementos rugosos na parede de tubos com
corrugado anelar e helicoidal, objetos de estudo do presente trabalho. No primeiro
caso, Figura 3.4-(a), referente ao tubo corrugado de cavidade anelar, a geometria
em estudo pode sem entendida como um tubo cuja parede é composta por uma
sucessão de cavidades retas, na forma de “anéis” (daí o nome anelar aqui utilizado),
que se repetem a cada passo s . No segundo caso, Figura 3.4-(b), referente ao tubo
corrugado de cavidade helicoidal, um único início de hélice na forma de cavidade é
desenvolvido ao longo da parede do tubo, que a cada volta completada na direção
tangencial do tubo desloca-se um passo s na direção axial.

Apesar de geometricamente diferentes, ambos os modelos anelar e helicoidal


são periódicos, ou seja, a cada passo s a geometria do tubo se repete. O tubo
completo poderia ser então entendido como uma justaposição de diversos módulos,
sendo um módulo a porção periódica que se repete na direção axial, individualizada
por linhas tracejadas na Figura 3.4.

Uma vez reconhecido que os elementos rugosos nos tubos corrugados em


estudo são periodicamente distribuídos na direção axial do duto, pode-se assumir,
para uma análise do escoamento turbulento em termos médios temporais, que longe
da entrada do tubo, o campo de velocidade e pressão em um determinado ponto se
torna independente dos efeitos de entrada, sendo somente função do padrão de
escoamento imposto pelo elemento rugoso naquele ponto, assumindo assim uma
condição semelhante à de escoamento completamente desenvolvido. Assim, longe
dos efeitos de entrada, o padrão de escoamento encontrado em um determinado
módulo se repete nos módulos seguintes. Essa condição, comumente denominada
Capítulo 3 Modelagem Matemática 34

de escoamento periodicamente desenvolvido, foi primeiramente descrita por


Patankar et al. (1977).

s
s
A
θ

r
r
z
(a) D

A CORTE A-A
s módulos
B
θ

r
r
z
(b) D

B CORTE B-B
s

Figura 3.4 – Representação geométrica dos tubos com corrugado: (a) anelar e (b)
helicoidal. Os módulos individualizados representam a porção da geometria que se
repete na direção z.

Nesse cenário, o problema fica restrito à solução do escoamento no módulo


(uma vez que não se está interessado nos efeitos de entrada), que representa
matematicamente o que se repete periodicamente em um tubo corrugado com
diversos elementos rugosos. A Figura 3.5 apresenta os módulos geométricos
resultantes da hipótese de escoamento periodicamente desenvolvido nos tubos com
corrugado anelar e helicoidal. Nota-se, comparando-se o módulo da Figura 3.5 com
o tubo de diversos elementos da Figura 3.4, que a repetição do módulo geométrico
reproduz a geometria original. Nas duas situações (corrugado anelar e helicoidal), o
domínio de solução corresponde a um tubo de raio interno R , raio externo Ro ,

diâmetro interno D , comprimento axial total s (que, pela definição de escoamento


Capítulo 3 Modelagem Matemática 35

periodicamente desenvolvido, corresponde ao passo das cavidades), altura da


cavidade corrugada h e comprimento da cavidade b .

A b
CORTE A-A
θ

Ro Direção do r
r R Escoamento R
(a) D Do

A
z
B b
CORTE B-B
θ

Ro Direção do r
r R Escoamento R
(b) D Do

Figura 3.5 - Representação dos módulos geométricos resultantes da hipótese de


escoamento periodicamente desenvolvido, com a representação das principais
dimensões, sendo: (a) cavidade anelar e (b) cavidade helicoidal.

Sendo os domínios periódicos, e relembrando que a análise do escoamento


turbulento em questão é feita em termos médios temporais, o conceito de
escoamento periodicamente desenvolvido proposto por Patankar et al. (1977) pode
ser aplicado aos módulos numéricos esquematizados na Figura 3.5. De acordo com
Patankar et al. (1977), o campo de velocidade em um escoamento periodicamente
desenvolvido, avaliado no ínicio do módulo, z = 0 , será idêntico ao avaliado no
extremo do módulo, z = s (Figura 3.5). Ou seja:
Capítulo 3 Modelagem Matemática 36

u (r ,θ ,0) = u (r ,θ , s ) (3.20)

v (r ,θ ,0) = v (r ,θ , s ) (3.21)

w (r ,θ ,0) = w (r ,θ , s ) (3.22)

Nos casos envolvendo a solução através do modelo de turbulência CK k-ε,


condições de periodicidade também podem ser aplicadas às variáveis escalares k e
ε:

k (r ,θ ,0) = k (r ,θ , s ) (3.23)

ε (r ,θ ,0) = ε (r ,θ , s ) (3.24)

A pressão não pode atender à mesma condição de periodicidade, uma vez


que pressões iguais nos extremos do módulo não produziriam um fluxo de massa
líquido na direção axial. Contudo, a pressão também atende a uma condição
específica de periodicidade, que é a de gradiente de pressão constante para
diferentes módulos periódicos, longe da parede (caso contrário, os perfis de
velocidade não seriam periódicos). Ou seja:

p(r ,θ ,0) − p(r ,θ , s )


= Cte. (3.25)
s
Capítulo 3 Modelagem Matemática 37

É através dessa análise física que Patankar et al. (1977), então, definem um termo
β , constante, que armazena a condição de periodicidade do gradiente de pressão,
sendo:

p(r ,θ ,0) − p(r ,θ , s )


β= (3.26)
s

O campo de pressão total p pode ser, por fim, subdividido em dois termos de
pressão: um relacionado à condição de periodicidade, β , e um relacionado ao

campo de pressão periódico, característico do módulo em análise, P . Essa condição


é escrita como:

p(r ,θ , z ) = − β z + P (r ,θ , z ) (3.27)

Da maneira como Eq. (3.27) está escrita, conclui-se que, sendo β um valor
constante que relaciona o gradiente de pressão total em duas posições separadas
pelo comprimento s , o termo − β z armazena toda a informação referente à variação

de pressão de um módulo a outro. Portanto, o campo de pressão periódico P ,


referente à condição local, atende a uma condição de periodicidade semelhante à
desenvolvida para a velocidade, ou seja:

P (r ,θ ,0) = P (r ,θ , s ) (3.28)

Os termos referentes aos gradientes de pressão nas equações de Conservação da


Quantidade de Movimento, Eqs. (3.4) a (3.6), devem ser reescritos para que as
equaçãos descrevam o problema periódico. Utilizando a Equação (3.27), tem-se
que:
Capítulo 3 Modelagem Matemática 38

∂p ∂ ∂P

∂r
=−
∂r
( )
− β z + P (r ,θ , z ) = −
∂r
(3.29)

∂p ∂ ∂P

∂θ
=−
∂θ
( )
− β z + P (r ,θ , z ) = −
∂θ
(3.30)

∂p ∂ (
∂ ( β z ) ∂ P (r ,θ , z ) ∂P)

∂z
=−
∂z
(
− β z + P (r ,θ , z ) = ) ∂z

∂z
=β−
∂z
(3.31)

Reescrevem-se então as Equações de conservação da quantidade de


movimento (3.4), (3.5) e (3.6) nas direções r , θ e z substituindo-se os gradientes
de pressão pelas expressões obtidas nas Equações (3.29), (3.30) e (3.31):

Conservação da quantidade de movimento na direção r :

1 ∂rvv 1 ∂uv ∂vw uu 1 ∂P 1 ∂ ⎡ ⎛ ∂v ⎞⎤


r ∂r
+
r ∂θ
+
∂z

r
=− +
ρ ∂r r ∂r ⎢ r (ν + ν t ) ⎜ 2 ∂r ⎟⎥ +
⎣ ⎝ ⎠⎦
1 ∂ ⎧ ⎡ ∂ ⎛ u ⎞ 1 ∂v ⎤ ⎫ ∂ ⎡ ∂v ∂w ⎤
+ ⎨(ν + ν t ) ⎢r ⎜ ⎟ + ⎥ ⎬+ ⎢ (ν + ν t ) ⎛⎜ + ⎞⎟ ⎥ − (3.32)
r ∂θ ⎩ ⎣ ∂r ⎝ r ⎠ r ∂θ ⎦ ⎭ ∂z ⎣ ⎝ ∂z ∂r ⎠ ⎦
2 ⎡ 1 ∂u v ⎤
− (ν + ν t ) ⎢ + ⎥
r ⎣ r ∂θ r ⎦

Conservação da quantidade de movimento na direção θ :


Capítulo 3 Modelagem Matemática 39

1 ∂ruv 1 ∂uu ∂uw uv 1 ∂P


+ + + =− +
r ∂r r ∂θ ∂z r ρ r ∂θ

1 ∂ ⎛ ∂ ⎛ u ⎞ 1 ∂v ⎞ ⎤ 2 ∂ ⎡ 1 ∂u v ⎞⎤
+ ⎢r (ν + ν t ) ⎜ r ⎜ ⎟ + ⎟⎥ + ⎢ (ν + ν t ) ⎛⎜ + ⎟⎥ + (3.33)
r ∂r
⎣ ⎝ ∂r ⎝ r ⎠ r ∂θ ⎠ ⎦ r ∂θ ⎣ ⎝ r ∂θ r ⎠⎦
∂ ⎡ ⎛ ∂u 1 ∂w ⎞ ⎤ 1 ⎡ ∂ ⎛ u ⎞ 1 ∂v ⎤
+ ⎢(ν + ν t ) ⎜ + ⎟ ⎥ + (ν + ν t ) ⎢r ⎜ ⎟ + ⎥
∂z ⎣ ⎝ ∂z r ∂θ ⎠ ⎦ r ⎣ ∂r ⎝ r ⎠ r ∂θ ⎦

Conservação da quantidade de movimento na direção z :

1 ∂rvw 1 ∂uw ∂ww β 1 ∂P 1 ∂ ⎡ ⎛ ∂v ∂w ⎞ ⎤


r ∂r
+
r ∂θ
+
∂z
= − +
ρ ρ ∂z r ∂r ⎢r (ν + ν t ) ⎜ ∂z + ∂r ⎟ ⎥ +
⎣ ⎝ ⎠⎦
(3.34)
1 ∂ ⎡ ∂u 1 ∂w ⎞ ⎤ ∂ ⎡ ∂w ⎤
+ ⎢ (ν + ν t ) ⎛⎜ + ⎟ ⎥ + ⎢ (ν + ν t ) ⎛⎜ 2 ⎞⎟ ⎥
r ∂θ ⎣ ⎝ ∂z r ∂θ ⎠ ⎦ ∂z ⎣ ⎝ ∂z ⎠ ⎦

Nota-se que, agora, o termo de pressão a ser resolvido nas equações de


conservação da quantidade de movimento não é a pressão total p , e sim a pressão

periódica P , com a ressalva de que a equação da conservação da quantidade de


movimento na direção z recebe o termo β como um termo fonte, que é justamente
o gradiente de pressão do módulo (e que assume-se ser conhecido, de modo que o
campo de velocidades resulta do gradiente de pressão estipulado).

Além das condições de periodicidade impostas, condições de não-


deslizamento e impermeabilidade ( u = v = w = 0 ) sobre todas as superfícies sólidas
dos módulo numéricos (Figura 3.5) são impostas para as componentes de
velocidade u , v e w . O valor da energia cinética turbulenta k, que por definição é

( )
dada por k = 1/ 2 u '2 + v '2 + w '2 , onde u ' , v ' e w ' são flutuações instantâneas de

velocidade nas direções tangencial, radial e axial, também deve ser nulo sobre todas
as superfícies sólidas, uma vez que pelas condições de não-deslizamento e
impermeabilidade u = v = w = 0 sobre superfícies sólidas em qualquer instante de
tempo, não podendo haver assim flutuações de velocidade sobre as paredes.
Capítulo 3 Modelagem Matemática 40

Para a definição da variável ε sobre as paredes do tubo, entretanto, não


existe uma condição de contorno bem estabelecidas na literatura, e sua definição
depende do modelo k-ε utilizado (Patel, 1984), mas a discussão a fundo sobre esse
impasse não é escopo do trabalho em questão. Adota-se, na presente modelagem,
a condições de contorno para ε propostas por Spalding (1994) para utilização junto
ao modelo CK k-ε, que indica que sobre superfícies sólidas o gradiente da
dissipação de energia cinética turbulenta, ε, é nulo. As condições de contorno
detalhadas e discutidas ao longo desta seção são apresentadas, para um
entendimento mais claro, graficamente na Figura 3.6.

u ,v ,w , k = ∂ε / ∂z = 0

u ,v ,w , k = ∂ε / ∂r = 0
Direção do
Escoamento

r
φ (r ,θ ,0) = φ (r ,θ , s ),
φ = u ,v ,w , P, k , ε

Figura 3.6 - Esquema de um módulo periódico genérico de tubo com cavidade


corrugada com representação das condições de contorno aplicadas na presente
modelagem.
Capítulo 3 Modelagem Matemática 41

As equações resultantes da modelagem do problema, que correspondem às


equações de conservação da massa e quantidade de movimento (Equações (3.3),
(3.32), (3.33) e (3.34)), além das equações de transporte para a energia cinética
turbulenta k e dissipação de energia cinética turbulenta ε para o modelo CK k-ε
(Equações (3.12) e (3.13)), são equação diferenciais parciais de segunda ordem,
não-lineares, e para o problema proposto não podem ser resolvidas analiticamente.
Para a solução do problema, vale-se do método numérico de Volumes Finitos
desenvolvido por Patankar (1980), cujos detalhes são discutidos no capítulo
seguinte.
Capítulo 4 Modelagem Numérica 42

4 MODELAGEM NUMÉRICA

No presente capítulo, apresenta-se a metodologia numérica utilizada para a


solução das equações governantes, baseada no método de Volumes Finitos descrito
por Patankar (1980). Discutem-se também aspectos importantes da modelagem,
como a montagem da geometria dos tubos corrugados no programa de dinâmica dos
fluidos computacional PHOENICS CFD, testes de independência dos resultados em
relação à malha numérica utilizada e considerações necessárias para a performance
dos modelos de turbulência.

4.1 Método dos Volumes Finitos

Como o próprio nome sugere, o Método dos Volumes Finitos descrito por
Patankar (1980) tem como princípio básico a discretização do domínio de solução
em volumes de controle “discretos”, dando atenção especial à conservação do fluxo
das propriedades que atravessam as faces dos volumes finitos. Além disso,
Patankar (1980) descreve um tratamento diferenciado para os pontos de cálculo de
propriedades escalares e vetoriais ao longo dos volumes de controle, conhecido
como arranjo de malha deslocado, que é mostrado na Figura 4.1.

Da notação utilizada na Figura 4.1, os pontos em letras maiúsculas I, J, K


(correspondentes às direções θ , r, e z, respectivamente) e seus vizinhos denotam
os centros dos volumes de controle para o qual a malha é construída no domínio
numérico, ditos volumes de controle escalares. Nos centros dos volumes de
controle, são calculadas as propriedades escalares, que neste trabalho
correspondem à pressão periódica P e as variáveis k e ε.

Já as velocidades médias de Reynolds u , v e w são calculadas nas faces


dos volumes de controle escalares, através de um deslocamento para frente em
cada direção, nos pontos i, j, k e vizinhos. Os volumes de controle deslocados, ou
seja, que contem em seus centros as velocidades, são ditos vetoriais. De acordo
Capítulo 4 Modelagem Numérica 43

com Versteeg e Malalasekera (1995), a utilização do arranjo deslocado evita a


descrição de comportamentos não físicos para a pressão. Além disso, os volumes
de controle ficam sujeitos não ao fluxo das propriedades em seus centros, mas sim
em todas as suas faces, o que tende a garantir a conservação das propriedades.
Entretanto, a discussão sobre as características físicas do arranjo deslocado de
malha não é objetivo do presente trabalho.

VC de v VC de v
z VC de w I-2 i-2 I-1
i-1
j+2 I
J+2

j+1 j+1 i
J+1 θ
j
K,j j I+1
I,j
J j-1 I,J VC de u
K,J k,J
j-1 i,J
r j-2 i+1
r
J-1
I+2
K-2 k-2 K-1 k-1 K k K+1 k+1 K+2 J-2 J-1 J J+1 J+2 J+3

(a) (b)
VC de u
z VC de w

I+2

I+1

I+1

K,i i

I
K,I k,I
i-1
θ
I-1

K-2 k-2 K-1 k-1 K k K+1 k+1 K+2

(c )

Figura 4.1 - Arranjo de malha deslocada para frente: (a) plano r-z; (b) plano r- θ ; (c)
plano θ -z.
Capítulo 4 Modelagem Numérica 44

Para a discretização das equações através do método dos Volumes Finitos


com arranjo deslocado de malha (Patankar, 1980), assume-se a derivação com
diferenças centradas para os termos de origem difusiva e esquema híbrido de
interpolação para os termos de origem convectiva (Spalding, 1972). O processo de
discretização e o conjunto de equações resultante é mostrado, por conveniência de
espaço, detalhadamente no Apêndice A.

Assumindo-se o arranjo deslocado de malha e a metodologia de discretização


proposta para as equações que governam o problema, mostrada no Apêndice A, o
processo resulta em um sistema de equações algébricas para a propriedade
genérica φ (onde φ = u ,v ,w , k, ε ), da forma:

aPφP = aW φW + aEφE + aSφS + aNφN + aLφL + aHφH + Sφ (4.1)

onde a propriedade φ calculada no nó P é função dos valores calculados ao redor


do ponto, posições “norte” (N) e “sul” (S) para a direção radial, “oeste” (W) e “leste”
(E) para a direção tangencial, e “superior” (H) e “inferior” (L) para a direção axial do
tubo. Os termos aW , aE , aN , aS , aH e aL representam a forma condensada dos
termos de origem convectiva e difusiva para as respectivas direções (detalhes são
apresentados no Apêndice A), Sφ representa o conjunto de termos fonte associados

ao problema e o coeficiente aP engloba os demais coeficientes e eventuais termos

fonte que dependam da propriedade φP :

aP = aW + aE + aS + aN + aL + aH + SP , (4.2)

com SP sendo o termo fonte associado à propriedade φP . Para cada uma das
propriedades calculadas, os nós P, N, S, W, E, H e L assumem posições baseadas
no arranjo de malha determinado para cada propriedade (como indicado na Figura
4.1). A forma individual para as equações discretizadas das propriedades
Capítulo 4 Modelagem Numérica 45

calculadas, e os valores dos coeficientes “a” e dos termos fonte Sφ e SP são

mostrados no Apêndice A.

Patankar (1980) também propõe uma metodologia para acoplar a pressão às


equações de conservação (descritas em função das velocidades, já que não existe
uma equação de transporte para a pressão). Essa metodologia, denominada de
algoritmo SIMPLE, é também descrita no Apêndice A.

4.2 Tratamento numérico das condições de contorno

No programa PHOENICS CFD, as condições de contorno são implementadas


através da introdução de termos fonte nas equações escritas para as fronteiras do
domínio. De modo geral, qualquer termo fonte S é linearizado e implementado da
seguinte forma:

S = TPCO (VL − φP ) (4.3)

onde TP é o tipo do termo fonte (geralmente relacionado ao termo resultante da


integração do termo fonte, e exemplos de tipos do termo fonte são áreas e volumes),
CO é o coeficiente (sua especificação varia muito com a característica do termo

fonte) e VL é o valor (tem a mesma unidade da propriedade φP , e tem função

relevante quando se deseja atribuir valor à φP ou à equação de φP ).

O entendimento dessa metodologia é fundamental para que se compreenda


como as condições de contorno apresentadas na seqüência são incorporadas às
equações de fronteira. O tratamento numérico relativo a essas implementações é
debatido a seguir.
Capítulo 4 Modelagem Numérica 46

4.2.1 Condições de contorno sobre superfícies sólidas


A Figura 4.2 ilustra o posicionamento dos volumes de controle vetoriais para
as componentes u , v e w da velocidade adjacentes a uma superfície sólida normal
à direção r (que é a principal condição de contorno relacionada a superfícies sólidas
por ser a parede interna do duto, como fica claro na Figura 3.6).

θ VC de u VC de v VC de w

τWθ vP τ Wz
j = NY
δW uP δW δW wP
r J = NY
r
r j = NY-1

J = NY-1

i-2 I-1 i-1 I i I+1 i+1 K-1 k-1 K k K+1 K-1 k-1 K k K+1
z z

(a) (b) (c)

Figura 4.2 – Ilustração dos volumes de controle vetoriais e do posicionamento das


componentes de velocidade próximo à uma superfície sólida, sendo: (a) condição
para a componente tangencial; (b) condição para a componente radial; (c) condição
para a componente axial.

Nota-se, na Figura 4.2, que a velocidade v associada ao ponto j = NY está


posicionada exatamente sobre a parede, e portanto a equação discretizada para a
velocidade v , Eq. (A.17), precisa ser resolvida somente até o ponto j = NY − 1, já
que pela condição de impermeabilidade a velocidade v j =NY ≡ 0 .

Entretanto, no arranjo deslocado as velocidades nodais de u e w adjacentes


à parede não estão exatamente sobre a superfície, e a condição de não-
deslizamento não pode ser aplicada diretamente.

A alternativa é calcular tensões de cisalhamento τ W θ e τ Wz (ou seja, normais

às direções θ e z, respectivamente) sobre a parede como função das componentes


uP e w P adjacentes à parede, uma vez que se sabe que sobre a parede u ≡ w ≡ 0 .
Capítulo 4 Modelagem Numérica 47

Como os modelos LVEL e CK k-ε não utilizam a lei logarítmica para o cálculo
das velocidades relativas às superfícies sólidas, procura-se manter o primeiro ponto
adjacente à parede na subcamada viscosa de forma que, até esse ponto, o perfil
linear w + = y + (Figuras 3.2 e 3.3) seja válido, possibilitando com que as tensões de
cisalhamento τ W θ e τ Wz sejam calculadas através de condições de contorno de
escoamentos laminares (Spalding, 1994), nas quais o gradiente de velocidade é
aproximado de forma linear, ou seja:

⎛ ∂u ⎞ u −0 u
τ W θ = ( μt + μ ) ⎜ ⎟ = ( μt + μ ) P = ( μt + μ ) P (4.4)
⎝ ∂r ⎠W θ δW δW

⎛ ∂w ⎞ w −0 w
τ Wz = ( μt + μ ) ⎜ ⎟ = ( μt + μ ) P = ( μt + μ ) P (4.5)
⎝ ∂r ⎠Wz δW δW

Com as tensões de cisalhamento avaliadas, pode-se conhecer as forças FW θ

e FWz que agem sobre as componentes u e w , respectivamente, devido à presença


das tensões de cisalhamento:

uP
FW θ = −τ W θ ⋅ AW θ = − ( μt + μ ) AW θ (4.6)
δW

wP
FWz = −τ Wz ⋅ AWz = − ( μt + μ ) AWz (4.7)
δW

onde AW θ e AWz são as áreas nas quais atuam as tensões τ W θ e τ Wz . As Equações


(4.6) e (4.7) geraram, portanto, termos fontes vinculados respectivamente às
componentes u e w no ponto de cálculo relativo à parede, ou seja:
Capítulo 4 Modelagem Numérica 48

uP
SP i ,J ,K = − ( μt + μ ) AW θ (4.8)
δW

wP
SP I ,J ,k = − ( μt + μ ) AWz (4.9)
δW

e dessa forma os termos ai ,J ,K e aI ,J ,k para o ponto J = N − 1 nas Eqs. (A.13) e (A.7)

devem receber as contribuições de −SP i ,J ,K e −SP I ,J ,k , respectivamente.

Respeitando-se a metodologia de implementação de termos fonte descrita na


Eq. (4.3), uma maneira se realizar as operações mostradas nas Eqs. (4.8) e (4.9) é
assumir que o termo fonte “ SP ” para que cada direção tenha tipo TP igual a

( μt + μ ) / δW , coeficientes CO para as direções θ e z dados respectivamente por AW θ

e AWz , e valor VL nulo. Dessa forma, os termos fonte adicionais “ SP ” para cada
direção são dados por:

⎛μ +μ⎞
SPi ,J ,K = TPCO (VL − φP ) = ⎜ t ⎟ AW θ ( 0 − uP ) (4.10)
⎝ δW ⎠

⎛μ +μ⎞
SPI ,J ,k = TPCO (VL − φP ) = ⎜ t ⎟ AWz ( 0 − w P ) , (4.11)
⎝ δW ⎠

que substituídos nas equações gerais de fronteira para u e w , respectivamente,


atendem à condição requerida. Desenvolvimento semelhante é realizado para as
condições de contorno de u , v e w nas paredes laterais da cavidade do corrugado.

As variáveis k e ε, por serem calculadas nos centros dos volumes de controle


escalares, também merecem tratamento na aplicação das condições de contorno
sobre superfícies sólidas, uma vez que os valores nodais adjacentes à parede
Capítulo 4 Modelagem Numérica 49

dessas propriedades não se encontram exatamente sobre a superfície (onde, como


visto na Figura 3.6, as condições de k e ε são conhecidas). A Figura 4.3 ilustra o
posicionamento do volume de controle escalar adjacente à parede no qual são
aplicadas as condições de contorno para k e ε.

Para a energia cinética turbulenta, k , tem-se como condição de contorno de


parede que k ≡ 0 sobre todas as superfícies sólidas, como visto anteriormente na
Figura 3.6. De acordo com Spalding (1994), essa condição é imposta introduzindo-
se, na Eq. (4.1) discretizada para k no ponto J = N (Figura 4.3), um termo fonte S
da forma:

S = aN (0 − kP ) , (4.12)

onde, nesse caso, o coeficiente CO do termo fonte é igual a 1, o valor, VL , é igual a 0

e o tipo, TP , é igual ao termo aN da Eq. (4.1) para a variável k, esse último calculado

em função da distância δW entre o ponto de cálculo e a parede.

VC escalar

j=N
kP , ε P δW
J=N
r
j = N-1

J = N-1

K-1 k-1 K k K+1


z
Figura 4.3 - Ilustração de um volume de controle escalar e do posicionamento de k e
ε próximo a uma superfície sólida.

Para a variável ε, tem-se como condição de contorno, como visto na Figura


3.6, que ∂ε / ∂r ≡ 0 é nulo sobre a parede do tubo, como proposto pelo modelo CK k-
Capítulo 4 Modelagem Numérica 50

ε. De acordo com Spalding (1994), essa condição pode ser atendida fazendo-se
aN = 0 nas Eqs. (4.1) e (4.2) para a variável ε. Procedimento semelhante é adotado
para as condições de contorno das paredes laterais da cavidade do corrugado.

4.2.2 Condições de contorno na entrada e na saída do domínio

As condições de contorno na entrada e na saída do módulo periódico para


todas as propriedades envolvidas também levam tratamento especial, devido
justamente à condição de periodicidade. Nesta subseção, faz-se o tratamento
numérico da implementação das condições de contorno de periodicidade,
considerando-se a metodologia de Volumes Finitos.

z=0 z=s

IZ = NZ IZ = 1 IZ = NZ IZ = 1

Figura 4.4 – Representação simplificada do posicionamento dos volumes de controle


adjacentes às fronteiras esquerda e direita do módulo numérico periódico.

Para facilitar o entendimento, toma-se novamente a equação geral


discretizada para qualquer propriedade φ em termos das posições norte (N), sul (S),
oeste (W), leste (E), “superior” (H) e “inferior” (L) em torno de um nó P, Eq. (4.1).
Considera-se, também, o módulo periódico anteriormente destacado na Figura 3.6,
agora com uma representação simplificada da distribuição dos volumes de controle
Capítulo 4 Modelagem Numérica 51

adjacentes às fronteiras esquerda e direita do módulo numérico, como mostra a


Figura 4.4. Lembrando-se que a geometria assumida consiste em um único módulo
que representa a porção da geometria que se repete periodicamente na direção
axial do tubo, destacou-se em cor cinza volumes e pontos que representam pontos
virtuais pertencentes a módulos periódicos fora do domínio assumido, como uma
continuação da geometria.

Ao se avaliar qualquer propriedade φP na primeira linha de volumes de


controle, denotado por IZ = 1 na Figura 4.4, o programa PHOENICS CFD
internamente cancela os termos de fronteira, que para a direção z no programa
PHOENICS CFD são dados pelos termos de índice “Low” (L) ou “inferior”. Em
termos numéricos isso significa que, para IZ = 1, a Equação (4.1) é reajustada
internamente por:

=0
aPφP = aW φW + aEφE + aSφS + aNφN + aLφL + aHφH + Sφ ⇒

⇒ aPφP = aW φW + aEφE + aSφS + aNφN + aHφH + Sφ (4.13)

Assim como o termo aLφL , o coeficiente aL é cancelado no cálculo de aP na


Equação (4.2):

=0
aP = aW + aE + aS + aN + aH + aL + SP ⇒

⇒ aP = aW + aE + aS + aN + aH + SP (4.14)

O programa PHOENICS CFD realiza automaticamente essa operação na


fronteira porque, numericamente, não existe domínio à esquerda do ponto IZ = 1, e
por isso o programa precisa cancelar os termos “inexistentes”. Observa-se na Figura
Capítulo 4 Modelagem Numérica 52

4.4, porém, que a linha de entrada coincide fisicamente com a linha de saída do
módulo periódico anterior, na geometria original. Dessa forma, pela condição de
periodicidade, vale afirmar que a propriedade à esquerda de φ1 (onde φ1

corresponde ao valor de φ calculada no ponto IZ = 1) coincide justamente com a


propriedade calculada no último nó (virtual) do módulo anterior. Como os módulos
são exatamente iguais (condição fundamental para que haja periodicidade de fato),
resulta então que o valor da propriedade à esquerda de φ1 é igual, na realidade, ao

valor de φ no último nó do próprio módulo em análise, IZ = NZ .

Em termos da nomenclatura de Volumes Finitos, isso significa que φL = φNZ ,

onde φL e φNZ denotam, respectivamente, a propriedade à esquerda do ponto P e a


propriedade calculada no último volume de controle do domínio na direção z,
IZ = NZ . Dessa forma, conclui-se que o termo aLφL , cancelado automaticamente, de

fato existe fisicamente, e é igual a aNZφNZ para as propriedades φ = u ,v , k, ε . Tal


termo precisa então ser introduzido novamente na Equação (4.13) pois, como
discutido, existe um termo à esquerda do ponto P = 1 na fronteira, ou seja:

aPφP = aW φW + aEφE + aSφS + aNφN + aHφH + aNZφNZ + Sφ (4.15)

Uma nova ressalva surge quando se observa a Equação (4.14), na qual o


termo aL foi cancelado. Uma vez que o termo aLφL existe e é igual a aNZφNZ , o termo

aL deve ser identicamente igual a aNZ . Logo, não somente o termo aNZφNZ precisa

ser introduzido novamente na Equação (4.13), mas também o coeficiente aP precisa

receber novamente a contribuição do termo aL , ou nesse caso aNZ :

aP = aW + aE + aS + aN + aH + aNZ + SP (4.16)
Capítulo 4 Modelagem Numérica 53

Relembrando que o programa PHOENICS CFD utiliza a metodologia de


implementação de termos fonte como mostrado na Equação (4.3), as modificações
requeridas pelas Equações (4.15) e (4.16) são obtidas desde que o termo fonte Sφ

receba a seguinte contribuição:

S ' = aNZ (φNZ − φP ) , (4.17)

onde, nesse caso, o produto TP ⋅ CO da Eq. (4.3) corresponde a aNZ , e o valor VL a

φNZ .

Somando S ' a Sφ na Equação (4.13), tem-se que:

aPφP = aW φW + aEφE + aSφS + aNφN + aHφH + aNZ (φNZ − φP ) + Sφ (4.18)

Realizando a multiplicação distributiva do termo aNZ (φNZ − φP ) e passando o

termo em φP para o lado esquerdo da equação, resulta:

( aP + aNZ ) φP = aW φW + aEφE + aSφS + aNφN + aHφH + aNZφNZ + Sφ (4.19)

Dessa forma, foi possível ao mesmo tempo introduzir novamente na equação de


conservação o termo aNZφNZ do lado direito da equação (em substituição ao termo

aLφL cancelado internamente) e reintegrar o termo aNZ ao cálculo de aP (em

substituição ao termo aL cancelado internamente), com um único termo fonte


apropriado.

O procedimento desenvolvido para φ = u ,v , k, ε tem tratamento diferenciado


para a componente de velocidade w porque o programa PHOENICS CFD,
Capítulo 4 Modelagem Numérica 54

baseando-se no arranjo deslocado de malha, não calcula as componentes w NZ , isto


é, as componentes w da velocidade na face direita do ponto IZ = NZ . Dessa forma,
utiliza-se como aproximação que aNZ = aNZ −1 e w NZ = w NZ −1 , de modo que a Equação
(4.19) para a fronteira esquerda do domínio escrita para a componente w fica:

( aP + aNZ −1 ) w P = aW wW + aE w E + aSw S + aNw N + aH w H + aNZ −1w NZ −1 + Sw (4.20)

A implementação da condição de periodicidade para a fronteira direita é muito


semelhante à realizada para a fronteira esquerda. Considera-se novamente o
módulo periódico destacado na Figura 4.4. Analogamente ao caso da fronteira
esquerda, cujos termos aLφL foram automaticamente cancelados, os termos
cancelados para a fronteira direita passam a ser os termos “superiores” ou “High”
(H), já que numericamente não existe um termo à direita do ponto P = NZ.

Sabe-se, porém, que fisicamente existe um ponto à direita de IZ = NZ, e como


indica a própria Figura 4.4 e a condição de periodicidade, o ponto à direita de IZ =
NZ é o ponto IZ = 1 do módulo seguinte. Como os módulos são idênticos devido à
condição de periodicidade, resulta que o termo aHφH cancelado automaticamente na

fronteira direita é igual a a1φ1 , onde a1 e φ1 são o coeficiente e a propriedade de φ


calculadas em IZ = 1.

Assim, em substituição ao termo aHφH que é cancelado da Equação geral

(4.1), introduz-se uma contribuição ao termo fonte Sφ da forma:

S ' = a1 (φ1 − φP ) (4.21)

Substituindo-se então a Equação (4.21) na Equação geral (4.1) em substituição ao


termo aHφH , a Equação para a fronteira direita, isto é, para P = NZ, fica:
Capítulo 4 Modelagem Numérica 55

( aP + a1 ) φP = aW φW + aEφE + aSφS + aNφN + aLφL + a1φ1 + Sφ (4.22)

que para o caso da fronteira direita é válida não só para φ = u ,v , k, ε como também
para w . Entretanto, como o programa não calcula as componentes w da velocidade
na face direita de IZ = NZ para a componente w , o ponto P na Eq. (4.22)
corresponde a NZ -1.

Utilizando-se então as Equações (4.19), (4.20) e (4.22), obteve-se uma


descrição da implementação numérica das condições de contorno de
u , v , w , k e ε nas fronteiras esquerda e direita do domínio, na direção z, que
garantem a condição de escoamento periodicamente desenvolvido, juntamente com
a adição do termo fonte β (gradiente de pressão do módulo periódico), discutido na
seção 3.2, na equação geral de conservação da quantidade de movimento na
direção z, em todos os volumes de controle do domínio, como mostrado na Eq.
(A.10) do Apêndice A.

Resta ainda definir numericamente a implementação da condição de contorno


para a pressão periódica P , que também atende à condição de periodicidade, ou
seja, P (r ,θ ,0) = P (r ,θ , s ) , e que é, como visto na seção 3.2, a pressão resolvida
juntamente com as equações de conservação da quantidade de movimento, após
assumir a hipótese de escoamento periodicamente desenvolvido.

Não é adequado, nesse caso, realizar o mesmo procedimento de


implementação das condições de periodicidade atribuídas às componentes
u , v , w , k e ε , uma vez que, para que um campo de pressão possa ser obtido, uma
pressão de referência precisa ser estabelecida em algum ponto do domínio
numérico. Como o escoamento estudado é incompressível, qualquer valor numérico
para a pressão de referência pode ser estabelecido, embora a especificação de
valores grandes para P seja inadequada, por motivos de convergência.

Nesse caso, como artifício numérico, impõe-se que P = 0 nas fronteiras


esquerda (IZ = 1) e direita (IZ = NZ), condição essa atendida fazendo com que, de
acordo com a metodologia do algoritmo SIMPLE (Apêndice A), as correções de P ,
Capítulo 4 Modelagem Numérica 56

denominadas P ' , sejam canceladas à esquerda do ponto IZ = 1 e à direita do ponto


IZ = NZ, que de acordo com a Eq. (A.40) correspondem respectivamente à PI ,' J ,K −1 e

PI ,' J ,K +1 .

Vale lembrar que, de qualquer forma, essa condição é utilizada somente para
a especificação de uma referência, sendo que a influência do gradiente de pressão
no domínio é, na realidade, garantida pela introdução do gradiente de pressão
periódico, β , às equações de conservação da quantidade de movimento na direção
axial, como mostrado na Eq. (A.10).

4.3 Implementação do problema no programa PHOENICS CFD

A não ser pela implementação dos termos fonte relacionados às condições de


periodicidade (Equações (4.17) e (4.21)) discutidas na seção anterior, o processo de
discretização das equações, da aplicação das interpolações dos termos advectivos,
do algoritmo SIMPLE e da solução da matriz de equações resultante, bem como a
aplicação das condições de contorno sobre superfícies sólidas e funções
turbulentas, é realizado automaticamente pelo programa PHOENICS CFD.

Para o problema em questão, cabe, por parte do usuário, identificar as


fronteiras sólidas do domínio numérico (isto é, construir a geometria do problema na
interface gráfica do programa) e definir os parâmetros de simulação, como
propriedades do fluido em estudo, o modelo de turbulência que será usado, número
de iterações e critério de convergência na solução numérica, entre outros.
Juntamente com a criação da geometria, o programa PHOENICS CFD disponibiliza
a criação de malhas cilíndricas ortogonais, cuja distribuição também cabe ao
programador.

Nas subseções que se seguem, são discutidos a implementação das


geometrias numéricas dos tubos corrugados anelares e helicoidais e a criação da
malha numérica do problema.
Capítulo 4 Modelagem Numérica 57

4.3.1 Criação dos tubos corrugados anelares e helicoidais


Uma vez adotado o sistema de coordenadas cilíndricas, o programa
PHOENICS CFD permite que o usuário ou construa no próprio programa a
geometria desejada, ou importe uma geometria de programas de CAD. De um modo
ou de outro, o papel do programa é reconhecer quais volumes de controle estão
ocupados por superfícies sólidas e, com base nisso, definir a aplicação das
equações de conservação e condições de contorno.

r
z

Figura 4.5 – Imagem do domínio numérico utilizado para a simulação do escoamento


em tubos corrugados de cavidade anelar, como implementada no programa
PHOENICS CFD (Escoamento principal na direção z).

No caso de tubos corrugados de cavidade anelar, que são axissimétricos e de


construção mais simples, utilizou-se a própria interface do programa para a
construção da geometria. A Figura 4.5 apresenta uma imagem do domínio numérico
construído com o aspecto geométrico do tubo com cavidade anelar. As paredes do
tubo são construídas com blocos, que proporcionam condição de não-deslizamento
ao fluido em contato com suas superfícies. Note que, por ser axissimétrica, a
Capítulo 4 Modelagem Numérica 58

geometria do tubo de cavidade anelar é construída como bidimensional (sendo


necessária somente uma “fatia” tangencial), sendo desconsideradas para essa
modelagem todas as derivadas e propriedades referentes à direção tangencial. Essa
abordagem diminui muito o tempo de simulação do problema sem prejuízos à
solução final, uma vez que se utilizam equações médias de Reynolds e o tubo
corrugado de cavidade anelar é perfeitamente axissimétrico.

Geometrias um pouco mais complexas, como a do tubo com corrugado


helicoidal, esbarram na pouca versatilidade do programa PHOENICS CFD na
construção de geometrias, e então a utilização de um programa de CAD se fez
necessária. As Figuras 4.6, 4.7 e 4.8 a seguir apresentam o processo simplificado de
construção da geometria dos tubos com corrugados helicoidais.

Em princípio, busca-se construir o domínio numérico periódico, como debatido


na seção 3.2, lembrando-se que o tubo corrugado com cavidade helicoidal também
é uma geometria periódica. Dessa forma, uma única revolução completa do canal
helicoidal é suficiente para a definição do domínio periódico. A Figura 4.6 apresenta
um esquema de um tubo com cavidade helicoidal de diversas revoluções, e da
correspondente condensação do domínio periódico de comprimento equivalente ao
passo da hélice, s.

(a) (b)
s
s

Figura 4.6 - Representação da parede interna de um tubo corrugado com cavidade


helicoidal: (a) cavidade espiralada com diversas revoluções; (b) cavidade com uma
única revolução completa (domínio periódico). A superfície externa do tubo que
reveste o topo das cavidades foi omitida para possibilitar a visualização.
Capítulo 4 Modelagem Numérica 59

Na seqüência, a Figura 4.7 apresenta o módulo numérico adotado juntamente


com as dimensões representativas, quais sejam: o raio interno do tubo, R , o raio
externo, Ro , o comprimento do domínio numérico, s (que como já explicado

anteriormente corresponde ao próprio passo, s , da hélice), o comprimento da


cavidade, b e a altura da cavidade, h . No esquema em corte à direita da Figura 4.7,
o escoamento ocorre da esquerda para a direita.

A s

Ro
R

r r

h
A b

CORTE A-A

Figura 4.7 - Domínio numérico utilizado para a simulação do escoamento em tubos


corrugados com cavidade helicoidal.

O programa de CAD SolidWorks 2007, utilizado para a confecção dos tubos


com cavidade helicoidal, permite então que a geometria seja exportada em formato
binário, de modo que a mesma seja formada pela união de diversos elementos
tetraédricos, como mostra a Figura 4.8-(a), para serem reconhecidos pelo programa
Capítulo 4 Modelagem Numérica 60

PHOENICS CFD. A disposição da geometria como construída após a importação no


programa PHOENICS-CFD é mostrada na Figura 4.8-(b).

(a) (b)

Figura 4.8 - Processo de construção da geometria do tubo com cavidade helicoidal


utilizado como domínio numérico. (a) Transformação do domínio em elementos
tetraédricos no ambiente do programa SolidWorks 2007; (b) importação do domínio
transformado no programa PHOENICS-CFD.

4.3.2 Teste de y+

Antes de quaisquer simulações numéricas envolvendo os modelos de


turbulência LVEL e CK k-ε, é importante avaliar a distância adimensional do primeiro
ponto de cálculo relativo à parede, ou simplesmente y + , que corresponde à
distância normal do centro do volume de controle adjacente à parede ( δW ),

normalizado pela velocidade de atrito (V * ) e pela viscosidade cinemática (ν ), ou


seja, y + = V *δW /ν .

Na grande maioria dos modelos clássicos de turbulência, o correto


dimensionamento dos volumes de controle adjacentes às superfícies sólidas é
definitivo no desempenho do modelo, pois tal posicionamento demarca o ponto de
aplicação de funções algébricas, como acontece para o modelo LVEL. Em modelos
para baixos números de Reynolds, caso do modelo CK k-ε, a definição não só do
primeiro ponto de cálculo mas também da resolução numérica entre as subcamadas
Capítulo 4 Modelagem Numérica 61

viscosa e amortecedora também é fundamental para o bom funcionamento do


modelo.

Em modelos de turbulência tradicionais, como por exemplo o modelo k-ε


Padrão de Launder e Spalding (1974), busca-se garantir com que o primeiro ponto
de cálculo esteja a uma distância adimensional entre 32 < y + < 40 , que coincide com
o ponto de início da validade do perfil logarítmico de velocidade (discutido nas
seções 3.1.1 e 3.1.2). Para os modelos LVEL e CK k-ε, que buscam uma melhor
descrição do escoamento próximo à parede, valores menores que a faixa utilizada
pelo modelo k-ε Padrão de Launder e Spalding (1974) são necessários, como será
visto a diante.

Para melhor entender a necessidade de uma correta especificação dos


pontos de cálculo relativos à parede, retoma-se novamente a discussão acerca do
perfil de velocidade de escoamentos turbulentos próximo à parede, discutida
previamente na seção 3.1. A Figura 4.9 mostra, com maior detalhe, a extensão das
subcamadas viscosa ( y + < 5 ), amortecedora ( 5 < y + < 30 ) e logarítmica

( 30 < y + < 500 ) para o perfil de velocidades adimensional w + em função da

distância adimensional da parede, y + .

O modelo LVEL, por se basear na Lei de Parede de Spalding, Eq. (3.7), que
interpola o perfil de velocidades desde à superfície, poderia teoricamente ter o
primeiro ponto de cálculo, y + , localizado em qualquer posição. Entretanto, através
de testes em tubos lisos, verificou-se que o melhor desempenho do modelo ocorreu
para valores de y +  5,0 , que corresponde justamente ao ponto limite entre a
subcamada viscosa (de perfil aproximadamente linear, como mostra a Figura 4.9) e
a subcamada amortecedora, e então buscou-se atender a essa condição. Já o
modelo CK k-ε, por ser um modelo apropriado para baixos números de Reynolds e
para a descrição do escoamento muito próximo à parede, exige uma alta resolução
numérica perto da parede, principalmente entre as subcamadas laminar e
amortecedora. Observa-se na Figura 4.9 que a inflexão da subcamada
amortecedora se estende até aproximadamente y +  12,0 , e de acordo com
Capítulo 4 Modelagem Numérica 62

Spalding (1994) é necessário garantir uma boa quantidade de volumes de controle


entre 0 < y + < 12,0 para o bom funcionamento do modelo.

25
Camada
Camada
logarítmica
amortecedora
20 Subcamada
viscosa Camada
w =y + + externa
15

w+
.

10

5
1
w+ = ln( y + ) + 5,6
0,421

0
1 10 100 1000
y+
.

Figura 4.9 - Perfil adimensional de velocidade para escoamento turbulento próximo a


uma superfície sólida.

4.3.3 Testes de malha

Para se garantir que os resultados obtidos nas simulações sejam


independentes da malha numérica utilizada, foram realizadas variações na malha
dos tubos corrugados até que se encontrasse a distribuição adequada para as
simulações sem aumento excessivo de tempo computacional. No caso de
escoamento em tubos com cavidades anelares, o modelo adotado é bidimensional,
e então testes nas direções radial ( r ) e axial ( z ) foram realizados. Já para os tubos
com corrugado helicoidal, a verificação da malha na direção tangencial ( θ ) também
é importante. Em todas as situações, a propriedade calculada como parâmetro para
a verificação da independência dos resultados foi o fator de atrito, f .

A Figura 4.10 apresenta o esquema da distribuição de malha nos tubos com


cavidade anelar, cuja modelagem é bidimensional, e para a qual os dois modelos de
turbulência (LVEL e CK k-ε) foram utilizados. Nota-se em princípio que a malha na
Capítulo 4 Modelagem Numérica 63

direção radial utilizada para o modelo LVEL é mais grosseira que a requerida pelo
modelo CK k-ε, uma vez que o modelo a duas equações exige uma alta resolução
numérica próximo à parede. Destacou-se também, em cada caso, uma idéia
ilustrativa das posições y + = 5,0 para o modelo LVEL e y + = 12,0 para o modelo CK
k-ε.

s s
b b

h h
y + = 5,0
y + = 12,0

r r

z z

Malha LVEL Malha CK k-ε

Figura 4.10 – Representação da malha numérica utilizada nas simulações em tubos


corrugados com cavidade anelar, para os modelos LVEL e CK k-ε.

Observa-se que, para o modelo LVEL, os centros dos volumes de controle


adjacentes à parede se situam em y + = 5,0 , o que exige com que o posicionamento
desses volumes seja ajustado para cada número de Reynolds simulado (no caso da
Figura 4.10, esse ajuste foi propositalmente forçado para um melhor entendimento).
Capítulo 4 Modelagem Numérica 64

Para o modelo CK k-ε, entretanto, uma densa distribuição de malha é observada


tanto entre 0 < y + < 12,0 , quanto de y + = 12,0 até a linha de centro do tubo, como
requerido pelo modelo.

Após se realizarem variações de malha na direção radial para cada caso,


observou-se que a malha total em r que proporciona resultados independentes para
o modelo LVEL é de 25 volumes de controle no raio interno e de 15 volumes de
controle na direção radial dentro da cavidade (cuja distribuição é não-uniforme, com
refinamento maior no topo da cavidade e na interface entre a cavidade e o raio
interno). Para o modelo CK k-ε, observou-se que a malha adequada na direção
radial foi de 20 volumes de controle dentro da cavidade (com distribuição não
uniforme), 30 volumes de controle entre a parede e y + = 12,0 e 30 volumes de

controle entre y + = 12,0 e a linha de centro do tubo.

Para a variação de malha na direção axial dos tubos com cavidade anelar,
dividiu-se a malha em três regiões de modo a garantir um bom refinamento nas
regiões de descontinuidade, ou seja, próximo às quinas das cavidades. Tanto para o
modelo LVEL quanto para o modelo CK k-ε, observou-se que 45 volumes de
controle na direção axial é quantidade suficiente para reproduzir resultados com
diferença menor do que 0,5 % no fator de atrito (em relação a níveis maiores de
malha), sendo que os 45 volumes são distribuídos em 15 entre a entrada do tubo e a
quina a montante da cavidade, 15 dentro da cavidade e 15 entre a quina a jusante
da cavidade e a saída do tubo. A malha total resultante para os tubos com cavidade
anelar foi então de 45 × 40 (axial x radial) para o modelo LVEL e 45 × 80 para o
modelo CK k-ε.

A Figura 4.11 representa a distribuição de malha obtida nos tubos com


corrugado helicoidal, para a qual apenas o modelo de turbulência LVEL foi utilizado.
Observa-se que a malha nas direções tangencial e axial é uniforme, porque a
cavidade espiralada se estende continuamente nessas duas direções, de forma que
nenhuma descontinuidade pode ser apontada (descontinuidade que foi observada
na direção axial dos tubos com cavidade anelar, cuja distribuição de malha foi não-
uniforme, como discutido). Na direção radial, a condição de y +  5,0 também foi
Capítulo 4 Modelagem Numérica 65

mantida para os volumes de controle adjacentes à parede interna do duto, e entre a


interface e o topo da cavidade realizou-se refinamento não uniforme.

s
A

r r

h
A b

CORTE A-A

Figura 4.11 - Malha computacional utilizada nas simulações numéricas do


escoamento turbulento em tubos corrugados com cavidade helicoidal.

Uma observação importante diz respeito à distribuição de malha na direção


axial, que é uniforme e respeita o sistema cilíndrico de coordenadas. Note no
detalhe da Figura 4.11 que, dada a orientação inclinada da cavidade helicoidal, a
introdução de volumes de controle cilíndricos ortogonais faz com que alguns dos
volumes contidos na cavidade sejam atravessados por paredes sólidas. Como o
programa PHOENICS-CFD não fornece a implementação de malha não-estruturada,
julgou-se que a utilização de volumes cilíndricos fosse a escolha mais adequada
para o caso.

Para resolver o problema de preenchimento parcial de sólido em alguns


volumes de controle, utiliza-se a ferramenta PARSOL, sigla em inglês do programa
PHOENICS CFD para “sólido parcial” (Spalding, 1994), definida pela biblioteca do
Capítulo 4 Modelagem Numérica 66

programa como uma prática útil em situações dessa classe. A ferramenta PARSOL
reconhece a fração bloqueada por sólido em cada volume de controle e restringe o
fluxo da propriedade calculada de acordo com tal fração, fornecendo em termos
médios o fluxo equivalente naquele volume. Nota-se também que o ângulo de hélice
dos tubos corrugados em estudo é relativamente alto (maior que 85° em todos os
casos), o que faz com que as frações de volume bloqueadas sejam pequenas,
minimizando eventuais incorreções decorrentes do uso da ferramenta.

Após testar a malha em todas as direções nos tubos com cavidade helicoidal,
observou-se que uma malha de 45 × 40 × 35 (axial x radial x tangencial) é suficiente
para garantir resultados com diferenças menores do que 0,5 % no fator de atrito, em
relação a níveis de malha superiores. Na direção radial, a distribuição é equivalente
à realizada para os tubos com corrugado anelar, sendo 25 volumes entre a linha de
centro do tubo e a parede interna e 15 volumes dentro da cavidade.

A Tabela 4.1 a seguir apresenta um resumo da malha numérica utilizada nas


simulações em tubos corrugados com cavidades anelares e helicoidais.

Tabela 4.1 – Resumo do número de volumes de controle utilizado nas simulações


em tubos corrugados com cavidades anelares e helicoidais.
Volumes de Controle
Direção z Direção r Direção θ Total
Cavidade Anelar - Modelo LVEL 45 40 - 1800
Cavidade Anelar - Modelo CK k-ε 45 80 - 3600
Cavidade Helicoidal - Modelo LVEL 45 40 35 63000

A malha utilizada no caso helicoidal, com 63000 volumes no total, exigiu


simulações de aproximadamente 50 horas, e níveis um pouco superiores de malha
aumentam demasiadamente este tempo. Testou-se, por exemplo, uma malha de
55 × 40 × 60 , que exigiu mais do que 120 horas de simulação, e que proporcionou
resultado no fator de atrito com diferença menor do que 0,1 % em relação à malha
45 × 40 × 35 . Isso indica que simulações com o modelo CK k-ε para tubos com
cavidade helicoidal (que como visto para o caso anelar exigem malha computacional
muito maior na direção radial, além de serem modelos com duas novas equações de
Capítulo 4 Modelagem Numérica 67

transporte a serem resolvidas) estão além da capacidade computacional disponível


do LACIT/UTFPR, que consiste em computadores com quatro processadores de 2,4
GHz de capacidade e 3,24 GB de memória RAM, Microsoft Windows 32 bits. Por
esse motivo, somente o modelo LVEL foi utilizado nas simulações numéricas em
corrugado helicoidal.

4.3.4 Teste do modelo numérico

Para verificar a funcionalidade do modelo numérico proposto neste trabalho e


garantir com que o mesmo reproduza corretamente a periodicidade do escoamento
com a utilização de apenas uma cavidade corrugada, buscou-se realizar um teste
com base no perfil de velocidade medido sobre uma cavidade de um tubo corrugado
do tipo d utilizando a metodologia numérica desenvolvida. Embora fosse desejável
comparar perfis de velocidade em tubos corrugados do tipo d com configurações
geométricas equivalentes a estudadas neste trabalho, não existem outros trabalhos
na literatura que lidam com geometrias equivalentes às aqui estudadas.

Um dos poucos estudos até o presente momento que apresenta medições de


variáveis locais em dutos circulares corrugados com cavidades do tipo d é o
trabalho de Vijiapurapu & Cui (2007), que estuda através da utilização de Simulação
de Grandes Escalas uma única configuração geométrica de tubo corrugado do tipo
d (do tipo anelar axissimétrica), porém diferente das estudadas neste trabalho.
Entretanto, como o objetivo é apenar verificar a funcionalidade da metodologia
numérica, julgou-se que a reprodução da geometria do tipo d de Vijiapurapu & Cui
(2007) fosse interessante neste ponto para a comparação do perfil de velocidade
sobre uma cavidade do tipo d em um tubo.

A Figura 4.12 apresenta os perfis da magnitude de velocidade VABS ,

normalizados pela magnitude de velocidade sobre a linha de centro VLC , medidos


com os modelos de turbulência LVEL e CK k-ε em comparação com a Simulação de
Grandes Escalas de Vijiapurapu & Cui (2007), em um tubo corrugado do tipo d com
configuração b = h = 0,1Ro e s = 2b (de acordo com a nomenclatura da Figura 3.5),

que corresponde à configuração do tipo d estudada por Vijiapurapu & Cui (2007).
Capítulo 4 Modelagem Numérica 68

Como indicado na Figura 4.12, o perfil radial de VABS é tomado sobre a metade da

cavidade, desde um ponto do raio interno do tubo próximo à interface ( r / Ro = 0,8 )

até o topo da cavidade ( r / Ro = 1,0 ), para número de Reynolds 100000 (baseado no

diâmetro externo Do = 2Ro ). Os valores de y + e a malha utilizada foram testados


brevemente para este caso com base na metodologia descrita nas seções 4.3.2 e
4.3.3, de modo a garantir que os resultados sejam independentes da malha utilizada.

1.0
SGE (Vijiapurapu & Cui, 2007)
LVEL (presente trabalho)
0.8 (presente trabalho)

0.6
VABS/VLC

0.05Do
0.4
1.0Ro
0.05Do

0.2 0.9Ro

0.8Ro
0.0
0.8 0.9 1
r/Ro

Figura 4.12 – Perfis de magnitude de velocidade sobre uma cavidade de um tubo


corrugado do tipo d usando a presente modelagem numérica para os modelos de
turbulência LVEL e CK k-ε em comparação com a Simulação de Grandes Escalas
(SGE) de Vijiapurapu & Cui (2007), para ReDo = 100000 .

Observa-se que em geral o padrão encontrado para o perfil da magnitude de


velocidade dentro e fora da cavidade fornecido tanto pelo modelo CK k-ε quanto pelo
modelo LVEL estão em boa concordância com o obtido através da Simulação de
Grandes Escalas. Os dois modelos apresentam uma boa reprodução do perfil dentro
da cavidade, embora fora da cavidade o perfil fornecido pelo modelo LVEL tenha
concordância ainda superior. Embora Vijiapurapu & Cui (2007) não apresentem
valores de VABS muito próximos ao topo da cavidade ( r / Ro = 1,0 ), sabe-se que,
Capítulo 4 Modelagem Numérica 69

sendo o topo da cavidade uma superfície sólida, a condição de não-deslizamento


sugere que, naquele ponto, a magnitude de velocidade seja nula, fato observado na
Figura 4.12 para os dois modelos de turbulência.

1.0 1 Cavidade 3 Cavidades 1º Perfil


2 Cavidades 1º Perfil 3 Cavidades 2º Perfil
2 Cavidades 2º Perfil 3 Cavidades 3º Perfil
0.8

0.6
VABS/VLC

0.08R

0.4 1.06R
0.06R

1.0R
0.2

0.9R
0.0
0.9 0.95 1 1.06
r/R

Figura 4.13 - Perfis de magnitude de velocidade sobre a cavidade de um tubo com


cavidade anelar usando a presente modelagem numérica. Domínios numéricos com
uma, duas e três cavidades corrugadas, para ReD = 100000 .

Para garantir com que o modelo numérico periódico composto por apenas
uma cavidade garanta com que a periodicidade do escoamento esteja bem
representada, apresenta-se na Figura 4.13 o perfil de VABS para modelos numéricos
com uma, duas e três cavidades de corrugado anelar, em uma análise comparativa,
e a Figura 4.14, de forma semelhante, apresenta o perfil de VABS para modelos
numéricos helicoidais com um, dois e três passos de hélice. Assumiu-se nesse caso
uma das configurações geométricas que serão posteriormente apresentadas na
Tabela 6.1 e estudadas no capítulo 6, que nesse caso corresponde à geometria G3
da Tabela 6.1. As dimensões da cavidade do corrugado nesse caso são
identificadas de modo simplificado nas Figura 4.13 e 4.14, com base na Figura 3.5.
As simulações foram realizadas para número de Reynolds 100000 com base no
diâmetro interno D = 2R . Utilizou-se o modelo LVEL para as exemplificações. Nos
Capítulo 4 Modelagem Numérica 70

casos de duas e três cavidades (ou dois e três passos de hélice para o caso
helicoidal), foram tomados dois e três perfis de velocidade respectivamente, para
que também se analise a periodicidade do perfil de velocidade dentro de um mesmo
domínio sobre cavidades consecutivas.

1.0 1 Passo 3 Passos 1º Perfil


2 Passos 1º Perfil 3 Passos 2º Perfil
2 Passos 2º Perfil 3 Passos 3º Perfil
0.8

0.6
VABS/VLC

0.08R

0.4 1.06R
0.06R

1.0R
0.2

0.9R
0.0
0.9 0.95 1 1.06
r/R

Figura 4.14 - Perfis de magnitude de velocidade sobre a cavidade do tubo com


cavidade helicoidal usando a presente modelagem numérica. Domínios numéricos
com um, dois e três passos de hélice, para ReD = 100000 .

Nota-se nas Figuras 4.13 e 4.14 que a concordância dos perfis de velocidade
para modelos numéricos compostos por um, dois e três passos é muito satisfatória,
tanto no caso anelar quanto no caso helicoidal. Nota-se também, para os casos de
dois e três passos, que o perfil se repete com ótima concordância sobre cavidades
dentro do mesmo domínio, o que confirma que a periodicidade do escoamento é
garantida pelo modelo.

Caso fossem estudados fenômenos de natureza transiente, talvez a utilização


de modelos com duas ou mais cavidades fosse necessária para contabilizar a
interação entre as cavidades em um dado instante. Entretanto, para modelagens
médias temporais, a boa concordância observada indica que a caracterização do
escoamento, desde que as condições de contorno de periodicidade estejam
Capítulo 4 Modelagem Numérica 71

adequadamente implementadas, independe do número de cavidades corrugadas


utilizadas na modelagem. Logo, os modelos numéricos a serem utilizado no presente
trabalho serão para uma única cavidade para tubos corrugados anelares e um único
passo de hélice para tubos corrugados helicoidais.
Capítulo 5 Abordagem Experimental 72

5 ABORDAGEM EXPERIMENTAL

Neste capítulo, é apresentada a metodologia desenvolvida para promover as


simulações experimentais do escoamento turbulento em tubos corrugados, para
medição da perda de carga em situações equivalentes às avaliadas numericamente.
Discutem-se aspectos relacionados à montagem da bancada nas instalações do
LACIT/UTFPR, seleção dos equipamentos do circuito, construção dos protótipos dos
tubos corrugados, medição das propriedades da água utilizada nos experimentos,
testes de calibração da bancada, entre outros. Conduz-se também um cálculo de
incerteza de medição dos resultados experimentais medidos, com base em
metodologia encontrada na literatura.

5.1 Bancada de experimentos do LACIT/UTFPR

Paralelamente aos estudos numéricos, buscou-se promover simulações


experimentais do escoamento turbulento de água em tubos corrugados com as
mesmas estruturas geométricas estudadas numericamente, para que uma forma de
validação possa ser obtida, uma vez que não existem na literatura dados para
escoamento turbulento em tubos corrugados com as configurações geométricas
estudadas neste trabalho.

O objetivo dos experimentos não é, entretanto, realizar uma extensa análise


experimental do padrão de escoamento em tubos corrugados, mas unicamente
avaliar a perda de carga nesses tubos para uma determinada faixa de vazões
volumétricas conhecidas, de modo a correlacionar os valores obtidos com o fator de
atrito de Darcy (Fox et al., 2003), fornecendo validação aos resultados numéricos
obtidos para o fator de atrito. Entende-se que, mesmo sendo a análise numérica
realizada em termos de modelagens médias temporais, os resultados obtidos
numericamente para diversas propriedades tendem a ser fisicamente consistentes
desde que ao menos o cálculo do fator de atrito, para as geometrias e números de
Reynolds estudados, concorde em geral com os dados experimentais.
Capítulo 5 Abordagem Experimental 73

Para que os objetivos propostos fossem atingidos em tempo hábil, utilizou-se


a infraestrutura do Laboratório de Ciências Térmicas (LACIT) da Universidade
Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR), que consiste em um espaço próprio
composto por um conjunto de equipamentos dedicados à simulação não só de
escoamentos turbulentos, mas também de medições e visualização de escoamentos
bifásicos e de fluidos não-newtonianos. Uma representação esquemática do circuito
experimental montado na bancada do LACIT/UTFPR é mostrada na Figura 5.1.
Abaixo, será discutida em linhas gerais a metodologia de simulação na bancada de
experimentos mostrada, e nas subseções que se seguem no presente capítulo os
aspectos técnicos são discutidos com maior detalhe.

Medidor de
vazão (iv) l2 = 2 m
Seção de
l1 = 1 m teste (vi)
Q Tubo de desenvolvimento (v)
Tomadas de
100D pressão (vii)
Tubo de
Δp1 Δp2 retorno (x)
Tubo liso (iii)
(D = 19 mm)
Termopar (ix)
Manômetro de
Bomba (i) coluna (viii)

Reservatório (ii)
Inversor de
frequência (xi)

Figura 5.1 – Esquema do circuito experimental desenvolvido.

Água, à temperatura ambiente, é impulsionada pela bomba (i) do reservatório


(ii) para um tubo liso de 19 mm de diâmetro (iii), no qual um medidor de vazão (iv)
está instalado (cujo tipo será discutido mais adiante). Um tubo liso de acrílico (v) de
diâmetro de 26 mm e comprimento de 100 diâmetros é inserido para garantir
escoamento completamente desenvolvido na entrada da seção de teste.

A seção de teste (vi) consiste em um tubo corrugado de acrílico de diâmetro


interno D = 26 mm e comprimento de 92 diâmetros, ao longo do qual quatro tomadas
de pressão (vii) são instaladas. A distância entre o início da seção de teste e a
primeira tomada de pressão é de 250 mm, de tal forma que existam, para as
Capítulo 5 Abordagem Experimental 74

configurações geométricas estudadas, ao menos 65 cavidades (ou 65 passos de


hélice) antes do primeiro ponto de medição, quantidade essa que se mostrou
suficiente, após testes preliminares, para garantir escoamento periodicamente
desenvolvido a partir do primeiro ponto de aquisição de pressão.

Um manômetro de coluna d’água (viii) composto por quatro tubos de vidro é


conectado a cada um dos pontos de prova, para a medição da diferença de pressão
Δp entre os pontos de prova separados pelas distâncias l1 = 1 m e l 2 = 2 m , ao

mesmo instante em que uma placa de aquisição captura a vazão volumétrica Q do


circuito.

O programa LabVIEW 8.6 (National Instruments) é utilizado para processar o


sinal referente à vazão volumétrica Q e o diferencial de pressão Δp (informado
manualmente no programa após a leitura). O período de aquisição de Q tem
duração de 60 segundos.

Através da vazão volumétrica Q , obtém-se diretamente a velocidade média


V na tubulação ( V = Q / Atrsv , onde Atrsv é a área da seção transversal do tubo de

teste baseada no diâmetro interno D do duto, Atrsv = π D 2 / 4 ), e tomando-se a

diferença de pressão Δp entre dois pontos de prova separados pela distância l , o


fator de atrito da tubulação é calculado através da seguinte relação (Fox et al.,
2003):

f =
( Δp / l ) D (5.1)
1
ρV 2
2

onde ρ é a massa específica do fluido. A velocidade média V é também usada para

calcular o número de Reynolds, ReD = VD /ν (ou seja, baseado no diâmetro interno

D ) para o qual o fator de atrito f foi calculado, sendo ν a viscosidade cinemática do


fluido. O gradiente de pressão Δp / l , na equação (5.1), é tomado como a média
Capítulo 5 Abordagem Experimental 75

entre os gradientes de pressão medidos entre as tomadas de pressão de 1 metro e


2 metros de distância ( Δp1 e Δp2 ).

Como não se utiliza um trocador de calor no circuito experimental para fixar a


temperatura da água, um termopar (ix) é utilizado para medir a temperatura T da
água a cada período de aquisição, e o valor correspondente de viscosidade
cinemática é ajustado através de uma tabela para água pura (Fox et al., 2003),
implementada no programa LabVIEW através do ajuste polinomial mostrado a seguir

ν = 7,599 × 10 −14T 4 − 1,389 × 10 −11T 3 + 1,121× 10 −9T 2 −


(5.2)
−5,481× 10 −8T + 1,749 × 10−6 ,

que reproduz os dados de Fox et al. (2003) com erro menor do que 0,5 %. Uma
tubulação de retorno (x) direciona o escoamento de volta ao reservatório.

Para a regulagem da vazão desejada, um inversor de freqüência (xi) é ligado


à bomba, permitindo o ajuste da rotação da mesma de modo que a vazão Q
reproduza aproximadamente o número de Reynolds ReD requerido, processo esse

realizado em conjunto com o próprio programa LabVIEW.

Nas subseções que se seguem, os detalhes referentes aos sensores de


vazão e pressão e aos demais acessórios da bancada são discutidos com maior
detalhe.

5.1.1 Equipamentos de medição


A Figura 5.2 abaixo apresenta imagens dos sensores de vazão e do medidor
de pressão utilizados nos experimentos. Na Figura 5.2-(a), é mostrado o medidor de
vazão do tipo turbina, utilizado na primeira etapa de simulações experimentais,
referente ao escoamento turbulento em tubos com cavidade anelar. O medidor de
vazão do tipo turbina fornece como saída um sinal analógico que varia entre 4 a 20
miliampéres, que é capturado por uma placa National Instruments USB-6008 e
processado pelo programa LabVIEW. A faixa de vazões volumétricas de trabalho do
Capítulo 5 Abordagem Experimental 76

medidor do tipo turbina é de 10 a 100 litros por minuto, o que para uma tubulação de
teste de diâmetro interno 26 mm permite a obtenção de números de Reynolds entre
aproximadamente ReD = 7500 e 75000. Entretanto, para se evitar os limites de

escala do medidor, foram promovidos experimentos entre ReD = 10000 e 50000

para o caso de cavidade anelar.

(a) (b)

(c)

Figura 5.2 - Equipamentos de medição da bancada experimental. (a) Medidor de


vazão do tipo turbina; (b) Medidor de vazão do tipo Coriolis; (c) Manômetro de
coluna.

Na Figura 5.2-(b), é mostrada uma imagem do medidor de vazão do tipo


Coriolis, que esteve disponível nas instalações do LACIT/UTFPR apenas para a
segunda etapa de simulações experimentais, referente ao escoamento turbulento
em tubos com cavidade helicoidal. O medidor do tipo Coriolis fornece um sinal de
saída digital, que é capturado por uma placa Fieldbus National Instruments
PCI/FBUS/2 (National Instruments), e tem capacidade de medição de vazões
mássicas entre 266 a 34500 quilogramas por hora, que para a seção de testes de
Capítulo 5 Abordagem Experimental 77

diâmetro interno de 26 mm permite a obtenção de números de Reynolds entre


aproximadamente ReD = 4000 e ReD = 500000 . Evitando-se o limite de escala

inferior do medidor e assumindo-se medições para ReD no máximo 100000 , o

medidor foi então utilizado para simulações experimentais entre ReD = 5000 e

ReD = 100000 .

É importante lembrar que, embora a faixa de números de Reynolds avaliada


para cavidade anelar (10000 < ReD < 50000 ) seja menor que a avaliada para

cavidade helicoidal ( 5000 < ReD < 100000 ), esse fato de nenhuma forma

descaracteriza o objetivo das simulações experimentais, que é fornecer validação


aos resultados numéricos, somente. Podia-se simplesmente utilizar o medidor do
tipo turbina para os dois casos para a obtenção de dados somente entre
ReD = 10000 e 50000, porém decidiu-se por cobrir uma maior faixa de dados para o

escoamento em tubos com cavidade helicoidal, por um lado por ter surgido a
possibilidade de se dispor de um melhor medidor na ocasião da segunda etapa de
experimentos, e também por garantir uma melhor resolução experimental para a
geometria com cavidade helicoidal, que é mais complexa que a de corrugado anelar
e, portanto mais carente de validação para os resultados numéricos.

A Figura 5.2-(c) mostra uma imagem da montagem do manômetro de coluna


utilizado para a medição dos diferenciais de pressão na seção de teste. O
manômetro é composto por quatro tubos de vidro, formando dois pares para as
medições dos diferenciais de pressão Δp1 e Δp2 na seção de teste (respectivamente

1 m e 2 m de distância na seção de teste, como discutido na Figura 5.1). O fluido


das colunas do manômetro é a própria água do circuito experimental, coletada das
tomadas de pressão instaladas na seção de testes e conectadas diretamente nos
acoplamentos de borracha instaladas nas extremidades inferiores dos tubos de
vidro, como mostra a Figura 5.2.

As tomadas de pressão, por sua vez, consistem de furos confeccionados nas


paredes dos tubos vedados por uma pequena caixa amortecedora, como
esquematiza a Figura 5.3. A Figura 5.3-(a) apresenta um exemplo de furo realizado
em um dos protótipos, que consiste em um furo passante reto de diâmetro de 1,5
Capítulo 5 Abordagem Experimental 78

mm. Na Figura 5.3-(b), é mostrada a tomada de pressão utilizada ainda desmontada,


constituída de uma parede de plástico, um anel para garantir a vedação do furo para
o ambiente externo e uma câmara, muito maior que o diâmetro do furo, de acordo
com a norma indicada por Delmée (2003) para tomadas de pressão. Na Figura 5.3-
(c), é apresentada a tomada de pressão já montada e travada, com a borracha de
vedação posicionada em torno do furo.

(a) (b)
Anel de vedação
Encaixes

Furo passante

(c)

Trava

Câmara
amortecedora
Bico (conexão com
manômetro)

Figura 5.3 - Detalhes da tomada de pressão utilizada nos experimentos: (a) furo
passante; (b) caixa desmontada; (c) tomada de pressão instalada no tubo.

Note que, na extremidade da tomada de pressão, acopla-se um bico


emborrachado, a partir do qual, através de uma mangueira, se estabelece a conexão
entre a tomada de pressão e a extremidade inferior do manômetro de coluna (Figura
5.2-(c)).
Capítulo 5 Abordagem Experimental 79

5.1.2 Circulação de água no circuito


Utiliza-se água à temperatura ambiente como fluido de trabalho nos
experimentos, sendo sua viscosidade cinemática calculada usando a Equação (5.2)
e a temperatura medida para a água, que é controlada continuamente por um
termopar. A massa específica, que tem variação desprezível com a temperatura, foi
medida a uma temperatura de 19 °C como sendo 994,5 ± 0,5 kg/m3.

Mesmo havendo controle contínuo da temperatura da água, são indesejáveis


variações muito grandes de temperatura ao longo de uma determinada série de
experimentos. Para amenizar esse problema, utilizou-se um reservatório de grande
capacidade, que consiste em dois compartimentos comunicantes com capacidade
de 580 litros cada. Um dos compartimentos é mostrado na Figura 5.4.

Figura 5.4 – Compartimento de água (capacidade de 580 litros) que compõe o


reservatório.

Com a utilização de um grande reservatório, o circuito fica sujeito a uma


grande massa de água, o que ameniza variações de temperatura devido, por
exemplo, ao aquecimento da bomba ou do medidor de vazão. Além disso, a
utilização de um reservatório com grande quantidade de água também tem a
vantagem adicional de proporcionar um grande volume de sucção para a bomba, o
Capítulo 5 Abordagem Experimental 80

que diminui flutuações na altura útil de sucção e, conseqüentemente, na vazão de


água do circuito.

Acoplada a um dos reservatórios, uma bomba de 3 cavalos de potência


impulsiona a água para o circuito. A vazão de água desejada é controlada através
da rotação da bomba, processo realizado por um inversor de freqüência ligado à
mesma, que alterna a freqüência de rotação entre 3 e 60 Hertz. A Figura 5.5 mostra
imagens da bomba, do inversor de freqüência utilizados.

(a) (b)

Figura 5.5 – Bomba (a) e Inversor de Freqüência (b) utilizados para circulação e
controle de vazão de água no circuito experimental.

Para o gerenciamento das medições de vazão e números de Reynolds das


diversas situações estudadas, utilizou-se o programa LabVIEW (National
Instruments). Através do sinal adquirido pelo medidor de vazão referente à vazão
volumétrica Q em um determinado instante, o programa LabVIEW relaciona o valor
de Q com a área da seção transversal do tubo (calculada em função do diâmetro
interno D ) para fornecer a velocidade média V do escoamento. Juntamente com a
viscosidade cinemática ν calculada através da Eq. (5.2), os valores da velocidade
média V medida e do diâmetro interno D são utilizados para calcular o número de
Reynolds, ReD = VD / ν , para o qual o escoamento está sujeito, cujo valor
instantâneo é mostrado em tempo real. Para uma determinada aquisição, entretanto,
que leva 60 segundos de duração, o valor médio de ReD ao longo do período é
Capítulo 5 Abordagem Experimental 81

considerado, para minimizar erros decorrentes de pequenas flutuações do valor de


Q , que podem surgir por ruídos na rede elétrica e pequenas variações na altura útil
de sucção da bomba.

5.1.3 Construção dos protótipos dos tubos corrugados

Parte do processo de desenvolvimento da bancada experimental consistiu na


confecção dos protótipos dos tubos corrugados de cavidades anelares e helicoidais.
Como relatado na seção de Introdução, para cada estrutura (cavidade anelar ou
helicoidal) foram idealizadas quatro configurações geométricas distintas, variando-se
o comprimento da cavidade na direção do escoamento e a altura da cavidade.
Portanto, para a validação dos resultados numéricos tais geometrias foram
construídas respeitando as mesmas escalas geométricas impostas numericamente,
que serão definidas na seção 6.1.1.

Figura 5.6 - Protótipos em acrílico utilizados na bancada experimental: tubo


corrugado com (a) cavidade anelar (superior) e cavidade helicoidal (inferior); (b)
detalhe do aspecto interno da cavidade.

A Figura 5.6-(a) apresenta exemplos dos protótipos produzidos para tubo


corrugado com cavidade anelar (superior), e helicoidal (inferior). A Figura 5.6-(b)
mostra um detalhe do aspecto geométrico da cavidade vista pelo interior do tubo.
Para a construção dos tubos do primeiro caso (cavidade anelar), foram utilizados
Capítulo 5 Abordagem Experimental 82

quatro tubos de acrílico (um para cada configuração geométrica) com diâmetro
interno de 26 mm. Cada tubo foi dividido em 12 partes, para possibilitar a construção
das cavidades corrugadas em tornos convencionais, processo que foi realizado em
uma empresa especializada. No segundo caso (cavidade helicoidal), o processo de
construção foi realizado nas instalações do LACIT/UTFPR, através de uma bancada
de usinagem construída unicamente para esse fim, que é mostrada no Apêndice B.

5.2 Teste de calibração da bancada de experimentos

Antes de se realizarem as simulações experimentais em tubos corrugados, foi


conduzida uma análise de calibração da bancada de experimentos. Avaliou-se o
fator de atrito experimentalmente para o escoamento em um tubo liso de acrílico,
para o qual existe uma solução empírica bem estabelecida na literatura, que é a
relação de Blasius para o fator de atrito em tubos lisos, fsm = 0,316ReD −0,25

(despreza-se a rugosidade própria da superfície do acrílico, por ser muito pequena).


Foram calculadas as perdas de carga em tubo liso para diversos números de
Reynolds compreendidos entre 5000 e 100000.

A Figura 5.7 apresenta os fatores de atrito experimentais obtidos para o


escoamento em tubo liso, em comparação com o fator de atrito para tubo liso
calculado através da relação de Blasius. Note que a concordância entre os
resultados é bastante satisfatória, com desvio máximo de 5 % (observado para
ReD  18000 ). Como será visto na seção seguinte, a incerteza de medição

aproximada dos experimentos fica entre 1,4 % para altos números de Reynolds e 7,2
% para números de Reynolds mais baixos, enquanto que o desvio médio percentual
entre os valores analíticos e os dados experimentais para tubo liso, para toda a faixa
analisada foi de 2,6 %. Em virtude dessa boa concordância, pode-se assegurar que
a bancada fornece dados confiáveis e fisicamente consistentes.

5.3 Incertezas de medição


Capítulo 5 Abordagem Experimental 83

Uma análise de incerteza de medição dos resultados experimentais obtidos


no presente trabalho foi conduzida com base na metodologia de Kline e McClintock
(1953). De acordo com os autores, o erro de uma medida individual é resultado da
incerteza de medição dos equipamentos utilizados para se calcular cada uma das
variáveis envolvidas.

Experimental
0.04 Tubo Liso (Blasius)

0.03
f

0.02

0.01
5000 20000 35000 50000 65000 80000 95000 110000
ReD

Figura 5.7 - Fatores de atrito experimentais obtidos para o escoamento turbulento


em tubo liso, em comparação com a relação empírica de Blasius, para calibração da
bancada experimental.

Retomando-se à Equação (5.1), vemos que o fator de atrito f é função do


diâmetro interno D do tubo, do gradiente de pressão Δp , do comprimento l para o
qual o gradiente de pressão é medido, da massa específica do fluido ρ e da

velocidade média do escoamento, V . Lembrando que a vazão volumétrica Q é


dada por Q = V π D 2 / 4 , pode-se reescrever a Equação (5.1) como:

π 2 ( Δp / l ) D 5
f = (5.3)
8 ρQ 2
Capítulo 5 Abordagem Experimental 84

De acordo com a metodologia de Kline e McClintock (1953), a incerteza


individual de uma determinada medição no fator de atrito, δ f , é dada por:

⎛ ∂f ⎞ ⎛ ∂f ⎞ ⎛ ∂f ⎞ ⎛ ∂f ⎞ ⎛ ∂f ⎞
δf = ⎜ δD⎟ + ⎜ δΔp ⎟ + ⎜ δ l ⎟ + ⎜ δρ ⎟ + ⎜ δQ ⎟ (5.4)
⎝ ∂D ⎠ ⎝ ∂Δp ⎠ ⎝ ∂l ⎠ ⎝ ∂ρ ⎠ ⎝ ∂Q ⎠

onde δ D , δΔp , δ l , δρ e δ Q são as incertezas de medição do diâmetro interno do


tubo, do gradiente de pressão, do comprimento l , da massa específica e da vazão
volumétrica do escoamento, respectivamente. Substituindo-se a Equação (5.3) na
Equação (5.4), a expressão para δ f assume a forma:

δf = 5
π 2 ( Δp / l ) D 4
δ D +
π 2D 5 / l
δΔp + −
π 2
( Δp / l ) D
2 5

δl +
8 ρQ 2
8 ρQ 2
8 ρQ 2
(5.5)
+−
π 2
( Δp / l ) D 5

δρ + −2
π 2
( Δp / l ) D 5

δQ
8ρ Q2 2
8 ρQ 3

O diâmetro interno dos protótipos, medido como sendo de D = 0,026 m , foi


calculado com incerteza de δ D = ± 0,00014 m. O gradiente de pressão é medido
através de um manômetro de coluna d’água com escala graduada em 0,0005 m,
sendo a incerteza portanto de δΔp = ± 0,00025 m de coluna d’água. Considerando-

se o valor medido de ρ = 994,5 kg/m3 para a massa específica e aceleração


gravitacional de 9,81 m/s2, tem-se uma incerteza de medição de aproximadamente
δΔp = ± 2,44 Pa (neste caso, desconsiderando-se a incerteza da massa específica
na medição de Δp , por ser de valor muito baixo, como será visto logo adiante). O
gradiente de pressão medido é, para todos os casos, uma média entre tomadas de 1
m e 2 m na seção de teste; portanto assume-se que o valor médio de l é de 1,5 m,
cuja incerteza é de δ l = ± 0,0005 m, por ter sido projetado com escala graduada em
0,001 m. O valor utilizado para a massa específica é de 994,5 ± 0,5 kg/m3 medido a
19 °C.
Capítulo 5 Abordagem Experimental 85

A incerteza de medição dos medidores de vazão do tipo turbina e do tipo


Coriolis são da ordem de 0,5 %. Nota-se que a incerteza de f é calculada
individualmente para cada ponto medido, pois é uma função de Δp e Q , que
logicamente dependem do número de Reynolds e da geometria do tubo corrugado
medidos para uma determinada ocasião. O Apêndice C apresenta a medição das
incertezas de medição de todos os pontos experimentais avaliados no presente
trabalho, usando-se a Equação (5.5) e as incertezas individuais dos parâmetros,
acima descritas.

Constatou-se, como se pode observar no Apêndice C, que a menor incerteza


de medição foi de 1,4 %, obtida para número de Reynolds 100000, e a maior
incerteza foi de 7,2 %, obtida para número de Reynolds 5000. A maior incerteza para
baixos números de Reynolds reside no fato de que a incerteza do gradiente de
pressão Δp é, em termos percentuais, a maior entre todas as outras variáveis, uma
vez que para baixos números de Reynolds foram obtidos valores de altura de coluna
d’água próximos à própria incerteza de medição.
Capítulo 6 Resultados e Discussão 86

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo, apresenta-se a análise dos resultados obtidos numérica e


experimentalmente para o escoamento turbulento em tubos corrugados de
cavidades anelares e helicoidais.

Na primeira parte, as configurações geométricas assumidas para o estudo da


influência das dimensões das cavidades são apresentadas, sendo também
mostradas definições de parâmetros para os cálculos realizados. Em seguida,
analisa-se a concordância entre os resultados numéricos obtidos com os dois
modelos de turbulência e os dados experimentais para o fator de atrito, como forma
de validação das metodologias numérica e experimental. Na seqüência, uma análise
em separado do comportamento do fator de atrito com o número de Reynolds e com
as variações geométricas é realizada, levando à proposição de correlações de
engenharia para a representação da base de dados obtida. Realiza-se também uma
análise numérica do comportamento do padrão de escoamento em tubos
corrugados, como linhas de corrente, campos de pressão e tensores de Reynolds.

6.1 Configurações geométricas estudas e definições de parâmetros

6.1.1 Configurações geométricas


A Figura 6.1 e a Tabela 6.1 apresentam as configurações geométricas
assumidas para os tubos corrugados estudados neste trabalho, onde D é o
diâmetro interno dos tubos, R é o raio interno, a é a distância entre duas cavidades
consecutivas, b é o comprimento da cavidade na direção axial, h é a altura da
cavidade e s é o passo do corrugado.

A caracterização das diferentes configurações se baseia principalmente no


dimensionamento da cavidade do corrugado, sendo que o diâmetro D é igual para
todas as geometrias e foi fixado em 26 mm para as simulações experimentais e 100
mm nas simulações numéricas. A distância entre duas cavidades consecutivas, a ,
Capítulo 6 Resultados e Discussão 87

também é mantida fixa em todos os casos. A geometria G1 tem configuração muito


semelhante à encontrada em tubos flexíveis de quatro polegadas utilizados no
transporte de petróleo em águas profundas (Petrobras, 2008).

s a b
A
θ h
r
r R z
(a) D

A CORTE A-A
s a b
B
θ h
r
r R z
(b) D

B CORTE B-B

Figura 6.1 – Esquema das dimensões representativas dos tubos com cavidade (a)
anelar e (b) helicoidal.

Tabela 6.1 – Configurações geométricas estudadas. As dimensões a , b , h , s e D


são ilustradas na Figura 6.1.
Geometria a/D b/D h/D s /D
G1 0,110 0,015 0,030 0,125
G2 0,110 0,030 0,030 0,140
G3 0,110 0,040 0,030 0,150
G4 0,110 0,040 0,040 0,150

Como mostrado na Tabela 6.1, entre as geometrias G1 e G3 são realizadas


duas variações no comprimento b da cavidade, mantendo-se a altura h fixa. Entre
as geometrias G3 e G4, o comprimento da cavidade é mantido fixo em b = 0,04D ,
sendo variada a altura da cavidade. Todas as configurações se enquadram na
caracterização de tubos corrugados com cavidades do tipo d (Perry et al., 1969),
Capítulo 6 Resultados e Discussão 88

como discutido na seção 2.2. Com essas quatro geometrias, estuda-se a influência
do comprimento da cavidade, b , e de sua altura, h , no padrão de escoamento, para
uma faixa de números de Reynolds que varia entre 5000 e 100000.

6.1.2 Definição de parâmetros importantes


É importante, de início, definir alguns parâmetros para um entendimento mais
claro dos resultados e das discussões realizadas ao longo desde capítulo.

O fator de atrito de Darcy medido corresponde ao fator de atrito médio do tubo


corrugado, calculado de forma análoga nas simulações numéricas e experimentais,
como discutido para a Eq. (5.1), repetida a seguir por conveniência:

f =
( Δp / l ) D (5.1)
1
ρV 2
2

onde ρ é a massa específica do fluido, V é a velocidade média e Δp / l é o


gradiente de pressão no tubo, que no caso das simulações numéricas corresponde
ao valor de β , definido na Eq. (3.26), que corresponde ao gradiente de pressão ao
qual o tubo está submetido. Para uma determinada medição, calcula-se o número de
Reynolds com base no diâmetro interno, ReD = VD /ν , onde ν é a viscosidade

cinemática do fluido.

Além disso, em diversas ocasiões refere-se ao desvio percentual entre


valores do fator de atrito medido através de duas metodologias. Assume-se de
maneira genérica o desvio percentual de um fator de atrito fA em relação a outro

fator de atrito fB como sendo:

fA − fB
Desvio (%) = 100 ⋅ (6.1)
fB
Capítulo 6 Resultados e Discussão 89

Após essas definições, é apresentada na seqüência a validação entre as


metodologias numérica e experimental realizada em função do cálculo do fator de
atrito para as duas abordagens.

6.2 Validação entre as metodologias numérica e experimental

O objetivo desta seção é analisar a concordância entre os fatores de atrito


numéricos e experimentais para o escoamento turbulento em tubos com cavidade
anelar e helicoidal, como forma de verificar a consistência entre os dois modelos de
turbulência utilizados e fornecer, através da comprovação experimental, validação às
metodologias numéricas.

A Figura 6.2 apresenta uma comparação entre os fatores de atrito numéricos


e experimentais obtidos para tubos com cavidade anelar, para as quatro
configurações geométricas em estudo e toda a faixa de números de Reynolds
avaliada. As barras verticais sobre os dados experimentais indicam as incertezas de
medição sobre cada ponto.

Em geral, para ambos os modelos de turbulência obteve-se boa concordância


com os resultados experimentais. O maior desvio percentual (Eq. (6.1)) entre os
fatores de atrito obtidos com o modelo LVEL e os dados experimentais foram
observados quando ReD = 10000 , para a configuração G1 (≈ 7,0 %), enquanto que o

maior desvio entre os dados do modelo CK k-ε e os valores experimentais foi


observado quando ReD = 50000 , para a configuração G4 (≈ 6,0 %). Considerando

uma média aritmética dos desvios individuais entre os dados numéricos e


experimentais para toda a série de números de Reynolds e geometrias investigadas,
desvios médios próximos de 2,0 % são encontrados para ambos os modelos de
turbulência.

De modo similar, o desvio médio entre os dois modelos de turbulência foi de


2,4 %, sendo o desvio mais acentuado entre os dois modelos observado para
Capítulo 6 Resultados e Discussão 90

ReD = 100000 e configuração G4, porém não maior do que 8,0 %. A boa
concordância dos dois modelos com os resultados experimentais (e,
conseqüentemente, dos dois modelos de turbulência entre si) mostram que, ao
menos para quantidades médias como o fator de atrito, mesmo uma formulação
algébrica (modelo LVEL) é capaz de produzir resultados satisfatórios.

Anelar Modelo LVEL


0.04 Anelar Modelo CK k-ε
Anelar Experimental

0.03
f

0.02
0.015D 0.03D
G1 G2
0.03D 0.03D

0.01

0.04

0.03
f

0.02
0.04D
0.04D
G3 G4
0.03D 0.04D

0.01
5000 30000 55000 80000 105000 5000 30000 55000 80000 105000
ReD ReD

Figura 6.2 – Validação entre os fatores de atrito numéricos e experimentais obtidos


para o escoamento turbulento em tubos corrugados com cavidade anelar.

A Figura 6.3 apresenta, de modo similar à comparação realizada para


escoamento em tubos com cavidade anelar, uma comparação entre os fatores de
atrito numéricos e experimentais para escoamento em tubos com cavidade
helicoidal, para as quatro configurações geométricas de cavidade em estudo e toda
Capítulo 6 Resultados e Discussão 91

a faixa de número de Reynolds estudada. Como discutido no Capítulo 4, somente o


modelo de turbulência LVEL foi utilizado nas simulações numéricas nesse caso.

Helicoidal Modelo LVEL


0.04 Helicoidal Experimental

0.03
f

0.02
0.015D 0.03D
G1 G2
0.03D 0.03D

0.01

0.04

0.03
f

0.02
0.04D
0.04D
G3 G4
0.03D 0.04D

0.01
5000 30000 55000 80000 105000 5000 30000 55000 80000 105000
ReD ReD

Figura 6.3 - Validação entre os fatores de atrito numéricos e experimentais obtidos


para o escoamento turbulento em tubos corrugados com cavidade helicoidal.

Também para a comparação envolvendo tubos com corrugado helicoidal foi


obtida uma boa concordância geral entre os fatores de atrito numéricos e
experimentais; o maior desvio percentual individual entre os fatores de atrito obtidos
e os dados experimentais foi menor que 9 %, observado para a configuração G1 e
ReD  30000 . A validação referente à configuração G1 foi a que apresentou maior

desvio médio. Tomando-se a média aritmética dos desvios percentuais entre os


fatores de atrito numéricos e os experimentais a cada número de Reynolds
simulado, foi observado um desvio médio de 6,1 % para a configuração G1.
Capítulo 6 Resultados e Discussão 92

Tomando o mesmo desvio médio para as demais configurações, obteve-se um


desvio médio de 3,4 % para a geometria G2, 2,1 % para a configuração G3 e 3,2 %
para a configuração G4. Considerando-se a média aritmética de todos os pontos
medidos, a diferença média total entre os dados numéricos e experimentais foi de
3,7 %.

Acredita-se que o desvio médio observado para a geometria G1 foi maior que
os demais porque, no processo de usinagem dos protótipos em acrílico para a
bancada experimental, o comprimento da cavidade necessário para essa geometria
foi de 0,4 milímetros, que se mostrou de difícil obtenção usando a bancada de
construção (Apêndice B), devido a pequenas folgas no mancal do fuso, que resultou
em uma cavidade ligeiramente maior, resultando em valores sistematicamente
maiores aos obtidos numericamente. Entretanto, entende-se que, mesmo
reconhecendo esse entrave, o desvio de 6,1 % é ainda satisfatório para se
compreender o comportamento geral do fator de atrito.

A faixa de melhor concordância dos resultados para tubos com cavidade


helicoidal foi observada em geral para 15000 < ReD < 100000 , faixa de números de

Reynolds na qual os resultados experimentais ficam menos vulneráveis aos limites


de escala dos equipamentos. Considerando-se apenas os valores para
15000 < ReD < 100000 , os desvios médios são de 7 % para a configuração G1,

porém de cerca de 1,5 % para as configurações G2, G3 e G4, o que representa uma
ótima concordância, e que ressalta a utilidade de modelos de turbulência algébricos,
como o modelo LVEL, na predição de propriedades médias como o fator de atrito.

Devido à boa concordância entre os dados numéricos e experimentais no


cálculo do fator de atrito médio, considera-se a metodologia numérica consistente
para posteriores análises do escoamento em dutos corrugado. Sendo assim, nas
próximas seções serão realizadas, a partir dos resultados numéricos, análises do
comportamento do fator de atrito e do padrão de escoamento para as geometrias do
corrugado estudadas.
Capítulo 6 Resultados e Discussão 93

6.3 Análise do comportamento do fator de atrito em tubos corrugados

6.3.1 Comparação entre tubos de cavidades anelares e helicoidais


A Figura 6.4 apresenta os fatores de atrito numéricos para todas as
configurações geométricas de cavidade e toda a faixa de números de Reynolds
avaliada, com a finalidade de analisar o comportamento do fator de atrito em relação
à diferença entre tubos corrugados de cavidades anelares e helicoidais. Como
somente o modelo de turbulência LVEL foi utilizado para a simulação das duas
situações, somente os dados deste modelo são mostrados nesta comparação. Os
fatores de atrito numéricos são adimensionalizados pela relação de Blasius para o
fator de atrito em tubos lisos, fsm = 0,316ReD −0,25 , para facilitar as comparações.

1.50
Anelar Modelo LVEL
Helicoidal Modelo LVEL
1.40

1.30
f/fsm

1.20

1.10

1.00 0.015D G1 0.03D G2


0.03D 0.03D

0.90

1.50

1.40

1.30
f/fsm

1.20

1.10
0.04D
1.00 0.04D G3 G4
0.04D
0.03D

0.90
5000 30000 55000 80000 105000 5000 30000 55000 80000 105000
ReD ReD

Figura 6.4 – Comparação dos fatores de atrito numéricos obtidos para o escoamento
turbulento em tubos com corrugado anelar e helicoidal.
Capítulo 6 Resultados e Discussão 94

A tendência geral que se observa é que os fatores de atrito para tubos de


cavidades helicoidais são ligeiramente menores que os calculados para tubos de
cavidades anelares até números de Reynolds entre 15000 e 20000, quando então
os valores para cavidades helicoidais passam a ser um pouco maiores dos que os
valores para cavidades anelares. Observou-se que, para a geometria G4, os fatores
de atrito para tubos de cavidade helicoidal e ReD = 5000 são quase 8 % menores do

que para cavidade anelar, se tornando 6 % maiores para ReD = 100000 . Para as

demais geometrias, embora a tendência seja a mesma, as variações são menores;


para a geometria G1, por exemplo, observa-se que para baixos números de
Reynolds os fatores de atrito para cavidade helicoidal são da ordem de 4 % menores
que para cavidade anelar, e 2 % maiores para números de Reynolds mais altos.

Observou-se também, para cavidades helicoidais, que para baixos números


de Reynolds o fator de atrito calculado é menor que para um tubo liso, embora essa
redução seja de no máximo 3,5 %. Como essa redução é pequena, seriam
necessários estudos para cavidades helicoidais de ângulos de hélice diferentes das
aqui estudadas com a finalidade de investigar essa tendência. Entretanto, a análise
desse fenômeno não foi aprofundada neste trabalho.

De qualquer forma, a faixa de números de Reynolds em que se observam reduções


do fator de atrito para cavidade helicoidal em relação a tubos lisos é estreita (em
geral, para ReD < 10000 ), não sendo possível apontar uma tendência bem

estabelecida nessa faixa. Além disso, os fatores de atrito para cavidade helicoidal
são maiores que para cavidade anelar para a maior parte da faixa de ReD estudada,

e tende a manter essa tendência para ReD > 100000 .

6.3.2 Comportamento do fator de atrito para diferentes configurações


geométricas e números de Reynolds

Apesar de algumas diferenças entre os fatores de atrito calculados para o


escoamento em tubos corrugados com cavidade anelar e helicoidal, o
Capítulo 6 Resultados e Discussão 95

comportamento do fator de atrito em relação às diferentes configurações


geométricas e ao número de Reynolds é semelhante nas duas situações.

Comparando-se as diferentes geometrias através da Figura 6.4, pode-se


observar que, em geral, o fator de atrito tende a aumentar proporcionalmente com o
aumento do comprimento da cavidade. Tomando-se como exemplo os dados para
cavidade anelar e ReD = 50000 , observa-se que os fatores de atrito numéricos

obtidos mostram um aumento de cerca de 5 % em relação a tubos lisos para a


configuração G1, 12 % para a configuração G2 e 20 % para as configurações G3 e
G4. Para cavidades helicoidais, as diferenças entre os fatores de atrito para as
distintas configurações geométricas ficam ainda mais claras. Tomando-se também
como exemplo os valores para ReD = 50000 , os valores do fator de atrito para o

corrugado helicoidal aumentam em relação ao do tubo liso em 5 % para G1, 18 %


para G2 e da ordem de 28 % para G3 e G4. Em geral, se percebe que essa
tendência ocorre para toda a faixa de número de Reynolds analisada, seja para
cavidade anelar ou helicoidal.

Entretanto, o aumento da altura da cavidade para um comprimento fixo


(comparação entre G3 e G4) somente provoca uma ligeira variação no fator de atrito
para cavidade helicoidal, com variações menores do que 2 %. Para cavidades de
pequeno comprimento como as estudadas neste trabalho, o papel da cavidade no
fator de atrito da superfície do tubo aparenta estar apenas relacionado à interface
entre a cavidade e o escoamento principal. O aumento do comprimento da cavidade,
como será visto mais adiante, aparentemente facilita com que o escoamento
principal atravesse ligeiramente a interface para dentro da cavidade, provocando
altos valores de pressão de estagnação na quina à jusante da cavidade (como
também será mostrado nas seções seguintes).

Além disso, o deslizamento parcial, que o escoamento principal está


submetido ao se desenvolver sobre uma cavidade, aparentemente é influenciado por
flutuações de velocidade típicas de escoamentos turbulentos, que se traduzem em
tensões adicionais, e que se intensificam com o aumento do comprimento da
cavidade. Também será mostrado mais adiante que, de fato, as tensões turbulentas
próximas às cavidades são intensificadas com o aumento do comprimento da
Capítulo 6 Resultados e Discussão 96

cavidade, em concordância com os efeitos observados para o fator de atrito. O


aumento da altura da cavidade, porém, não causa praticamente nenhuma influência
no padrão de escoamento em se tratando de cavidades anelares, e muito pouca
influência para cavidades helicoidais, de modo que a maior influência geométrica
aparenta ser o comprimento da cavidade na direção axial.

Em relação ao número de Reynolds, observa-se que o valor de f / fsm tem

comportamento ascendente com o aumento ReD , apesar de pequenas exceções

para baixos números de Reynolds. Em todo caso, os fatores de atrito para baixos
números de Reynolds são relativamente próximos aos calculados para tubos lisos,
independentemente da configuração geométrica. Com o aumento do número de
Reynolds, entretanto, desvios mais significativos são encontrados: para a
configuração G1, por exemplo, valores de f / fsm  1,0 são encontrados para

ReD = 20000 , enquanto que para ReD = 100000 o valor de f / fsm passa de 1,08.

O comportamento do fator de atrito com o número de Reynolds também


aparenta estar relacionado à interação do fluido aprisionado na cavidade do
corrugado e o escoamento principal. Quanto maior o número de Reynolds, maior
tende a ser a circulação do fluido dentro da cavidade, e maior tendem a ser as
tensões turbulentas em decorrência do aumento da circulação e das trocas de
quantidade de movimento. Tais aumentos se traduzem em tensões adicionais na
interface da cavidade, que culminam em aumentos globais no fator de atrito. O
entendimento do padrão de escoamento sobre as superfícies corrugadas, da
interação entre o escoamento principal e o fluido que fica confinado nas cavidades
corrugadas, e como as alterações de propriedades turbulentas estão relacionadas
com o comportamento do fator de atrito são objetos de estudo da seção 6.4.

6.3.3 Correlações para o fator de atrito


Como o fator de atrito apresentou um comportamento coerente para as
diferentes configurações geométricas de cavidade e números de Reynolds
simulados, é possível estabelecer correlações que representem os resultados
obtidos para cavidades anelares e helicoidais que sejam baseadas apenas no
Capítulo 6 Resultados e Discussão 97

comprimento da cavidade e do número de Reynolds (que, como se percebeu na


seção anterior, são as principais entidades que influenciam no fator de atrito).

A correlação de engenharia mais conhecida para expressar o fator de atrito


de escoamento turbulento em tubos rugosos é a correlação de Colebrook (1939),
que combinou relações empíricas válidas para escoamentos hidraulicamente lisos e
completamente rugosos em uma única fórmula (White, 2002):

1 ⎛e/D 2,51 ⎞
1/ 2
= −2,0log ⎜ + 1/ 2 ⎟
(6.2)
f ⎝ 3,7 ReD f ⎠

onde “ e ” representa a rugosidade da superfície do tubo, e o termo e / D a


rugosidade relativa do tubo de diâmetro D . Assim, o fator de atrito para virtualmente
qualquer número de Reynolds em escoamento turbulento é obtido para um dado
material cuja rugosidade é conhecida, desde que tal rugosidade seja a irregularidade
natural (geralmente microscópica) da superfície.

Não é possível obter de forma direta, entretanto, a rugosidade relativa dos


tubos corrugados em estudo, sendo que as cavidades corrugadas são
macroscópicas e não servem como parâmetro de rugosidade para a utilização na
Eq. (6.2). Para que uma correlação equivalente à dada pela Eq. (6.2) seja utilizada
para representar os fatores de atrito obtidos no presente trabalho, duas soluções são
plausíveis.

A primeira solução consiste em obter uma rugosidade equivalente ( e / D )eq

para os tubos corrugados estudados, calculando-se o valor de e / D que, com uso da


Eq. (6.2) e com os mesmos valores de ReD simuladas numericamente, reproduza

com o menor desvio médio possível os fatores de atrito obtidos numericamente,


processo esse realizado individualmente para cada uma das configurações
geométricas estudadas.

A segunda opção consiste em propor uma nova relação de f , função dos


parâmetros conhecidos b / D (comprimento da cavidade normalizado pelo diâmetro
Capítulo 6 Resultados e Discussão 98

interno do tubo corrugado) e ReD que influenciam no fator de atrito, nos moldes da
Eq. (6.2) (vale lembrar que a influência da altura da cavidade é insignificante e,
portanto, pode ser desprezada na relação para f ). Como o comportamento de f
para tubos corrugados deve ser apenas ligeiramente diferente do observado para
tubos com rugosidade natural, a forma logarítmica da Eq. (6.2) aparentemente é
válida, sendo necessários apenas reajustes nas constantes. Desse modo, uma
proposta para o fator de atrito em tubos corrugados poderia ser dada pela relação:

1 ⎛ b/D C3 ⎞
1/ 2
= −C1 log ⎜ + ⎟ (6.3)
f ⎝ C2 ReD f 1/ 2 ⎠

onde as constantes C1 , C2 e C3 são determinadas através dos dados calculados, de

maneira que a Eq. (6.3) melhor descreva os valores de f obtidos.

A primeira proposta é claramente a mais simples de se realizar, e proporciona


uma vantagem prática, pois o conhecimento de rugosidades equivalentes para cada
uma das geometrias possibilita avaliar f não somente através da correlação de
Colebrook (1939), mas também através de cartas de f , como o diagrama de Moody
(White, 2002).

Já a segunda proposta envolve uma metodologia para a avaliação das


constantes C1 , C2 e C3 que minimizem o desvio da relação (6.3) em relação aos

dados calculados numericamente, como por exemplo, a metodologia de mínimos


quadrados (Coleman e Steele, 1998). Uma vez que a forma logarítmica assumida
aparentemente é a mais adequada, a determinação das constantes deve gerar,
entretanto, uma relação de melhor concordância com os resultados numéricos do
que a primeira situação, além do fato de utilizar o valor b / D , conhecido, ao invés de
uma rugosidade equivalente média.

Decidiu-se por realizar as duas metodologias de modo a se comparar a


precisão das correlações em cada caso. Os valores de fator de atrito interpolados
utilizados foram os dados numéricos obtidos com o modelo de turbulência LVEL
somente, pois é apenas para esse modelo que o fator de atrito foi calculado para
Capítulo 6 Resultados e Discussão 99

todas as configurações geométricas e números de Reynolds avaliados. O Apêndice


D descreve as metodologias desenvolvidas para a primeira e segunda propostas de
correlações para o fator de atrito. A metodologia utilizada para a obtenção das
constantes C1 , C2 e C3 descritas na segunda proposta foi a de mínimos quadrados

(Coleman e Steele, 1998).

A Tabela 6.2 resume os valores de rugosidade equivalente ( e / D )eq


calculados para todas as configurações geométricas de tubos corrugados
estudados, usando a primeira metodologia proposta, sendo b / D o comprimento da
cavidade do tubo corrugado dividido pelo diâmetro D . Nota-se que, com o aumento
do comprimento da cavidade, naturalmente aumenta a rugosidade equivalente do
tubo, sendo os valores de ( e / D )eq para tubos com cavidade helicoidal ligeiramente

maiores que para cavidade anelar para as geometrias G2, G3 e G4. O valor de
( e / D )eq tem uma diferença mínima para G3 e G4, geometrias para as quais ocorre

a variação da altura da cavidade.

Tabela 6.2 – Valores de rugosidade equivalente ( e / D )eq obtidos para os resultados

de tubos corrugados com cavidades anelares e helicoidais.

( e / D )eq
b/D Anelar Helicoidal
G1 0,015 0,0003 0,0003
G2 0,03 0,0009 0,0012
G3 0,04 0,0014 0,0017
G4 0,04 0,0014 0,0018

Para a segunda metodologia, foram desenvolvidas duas equações diferentes,


uma para tubos de cavidade anelar e outra para cavidade helicoidal, que são válidas
para as condições estudadas, ou seja, 5000 ≤ ReD ≤ 100000 e

0,015 ≤ ( b / D ) ≤ 0,04 , mostradas, respectivamente, nas Eqs. (6.4) e (6.5).


Capítulo 6 Resultados e Discussão 100

1 ⎛ b/D 4,23 ⎞
1/ 2
= −2,2log ⎜ + 1/ 2 ⎟
(6.4)
f ⎝ 51,5 ReD f ⎠

1 ⎛ b/D 2,3 ⎞
1/ 2
= −2,05log ⎜ + 1/ 2 ⎟
(6.5)
f ⎝ 61,9 ReD f ⎠

A Figura 6.5 apresenta os resultados numéricos obtidos com o modelo de


turbulência LVEL para tubos de cavidade anelar (a) e helicoidal (b) para toda a faixa
de números de Reynolds analisada e para as configurações geométricas G1, G2 e
G3, em conjunto com as propostas de correlações desenvolvidas. Exclui-se da
comparação os dados para a geometria G4, uma vez que a influência da altura no
fator de atrito é muito pouco significante comparado aos demais parâmetros. Na
Figura 6.5-(a), a equação proposta diz respeito à Eq. (6.4) para cavidade anelar, e
na Figura 6.5-(b) a equação proposta é a Eq. (6.5). Os dados mostrados por linhas
tracejadas correspondem à utilização da Equação de Colebrook (1939), Eq. (6.2),
com as rugosidades equivalentes obtidas na Tabela 6.2.

0.040
Numérico (LVEL) (a) (b)
Eq. proposta
0.035 Eq. Colebrook (e/Deq)
G1, G2, G3

0.030
f

0.025

0.020

0.015
5000 30000 55000 80000 105000 5000 30000 55000 80000 105000
ReD ReD

Figura 6.5 – Comparação entre as correlações para o fator de atrito e os resultados


numéricos obtidos com o modelo LVEL, com: (a) cavidade anelar; (b) cavidade
helicoidal.
Capítulo 6 Resultados e Discussão 101

Da Figura 6.5-(a), para cavidade anelar, observa-se uma boa concordância


entre as duas propostas, e também uma boa concordância entre as relações usadas
e os dados numéricos originais. Calculou-se o quadrado do coeficiente de
correlação, R 2 , para a comparação das metodologias e a série de dados numéricos.
Para cavidades anelares os valores de R 2 foram de 0,9945 para a metodologia de
rugosidade equivalente e 0,9942 para a correlação proposta, Eq. (6.4). Tomando-se
a média aritmética dos desvios relativos entre as propostas e os dados numéricos
para cavidades anelares, encontra-se desvio médio de apenas 1,08 % para a
proposta de rugosidade equivalente e somente 1,17 % para a correlação proposta.

Quando se analisa as propostas para tubos corrugados de cavidade


helicoidal, no entanto, discrepâncias maiores são observadas, como mostra a Figura
6.5-(b). Em princípio, se observa que a relação proposta tende a acompanhar melhor
os dados numéricos desde os números de Reynolds mais baixos até os mais altos,
enquanto que a curva tracejada que representa a proposta de uma rugosidade
equivalente média proporciona um pequeno superdimensionamento para baixos
números de Reynolds e, em contrapartida, um ligeiro subdimensionamento para os
números de Reynolds mais altos.

Entretanto, as duas propostas proporcionam uma boa interpolação média dos


dados. O valor de R 2 entre os dados numéricos e a proposta de rugosidade
equivalente para cavidade helicoidal foi de 0,9867 (considerando também a
geometria G4), e a média aritmética dos desvio relativos aponta desvio médio de 2,4
%, considerando todas as geometrias. A relação proposta para tubos de cavidade
helicoidal, dada pela Eq. (6.5), se mostrou também precisa, onde o valor de R 2
entre os dados numéricos e os obtidos pela relação proposta, para corrugado
helicoidal, foi de 0,9888, enquanto que o desvio médio de toda a comparação foi de
apenas 1,3 %, sendo os maiores desvios individuais menores que 3 %.

De maneira geral, as correlações propostas tem uma boa concordância


quando comparadas com os calculados a partir dos resultados numéricos, que
sugere a sua utilização desde que sejam respeitadas as condições para as quais
foram obtidas.
Capítulo 6 Resultados e Discussão 102

6.4 Padrão de escoamento

Para entender o padrão de escoamento em tubos corrugados de cavidades


anelares e helicoidais como proposto neste trabalho, é necessário observar o
comportamento de linhas de corrente e campos de velocidade próximos à parede do
tubo e no interior das cavidades corrugadas, e analisar o comportamento do padrão
observado através de campos de pressão e tensões de origem viscosa e turbulenta
sobre a interface, para as diferentes configurações geométricas de cavidade e
diferentes números de Reynolds estudados. Essas análises são realizadas nesta
seção.

6.4.1 Linhas de corrente e campo de velocidade


A Figura 6.6 representa esquematicamente as linhas de corrente próximo às
cavidades do tubo corrugado. Utilizou-se os dados das simulações numéricas do
modelo CK k-ε para cavidade anelar, uma vez que sua resolução numérica próximo
à parede é maior, e o padrão de escoamento mostrado é equivalente para cavidades
anelares e helicoidais. Além disso, a característica geral obtida para o padrão de
escoamento é muito semelhante entre os dois modelos de turbulência.

Pode-se observar que o padrão geral de escoamento em cavidades do “tipo


d”, como as aqui estudadas (que possuem comprimento não muito maior que a
altura da cavidade), é caracterizado por um vórtice maior (de sentido anti-horário)
que ocupa quase toda a cavidade, e vórtices secundários menores (de sentido
horário) que ficam confinados nos cantos superiores da cavidade. Uma exceção é
observada para a configuração G1, onde o vórtice anti-horário (inferior) não é capaz
de se estender até o topo devido ao fato de o comprimento da cavidade ser
pequeno, e um grande (e único) vórtice no sentido horário fica “preso” entre o topo
da cavidade e o vórtice inferior.

Nota-se que, para o número de Reynolds mais baixo, os vórtices tendem a


ser bem centralizados na cavidade, e para o número de Reynolds mais alto os
centros dos vórtices se deslocam ligeiramente para frente (na direção do
Capítulo 6 Resultados e Discussão 103

escoamento principal). Além disso, para ReD = 100000 , os vórtices próximos às


quinas superiores crescem consideravelmente. Apesar de as linhas de corrente
mostradas representarem exemplos para números de Reynolds 5000 e 100000, as
linhas de corrente para os números de Reynolds intermediários a essa faixa se
mostraram dentro desta tendência.

ReD = 5000 ReD = 100000


G1:

G2:

G3:

G4:
r

z
Direção do Escoamento

Figura 6.6 - Linhas de corrente obtidas das simulações numéricas em corrugado


anelar para dois números de Reynolds e quatro configurações geométricas.

Outra observação interessante é a pequena curvatura das linhas de corrente


do escoamento principal externo à cavidade, muito próximo à interface. Apesar
dessa curvatura parecer insignificante, esse efeito reflete uma tendência do
escoamento principal em pressionar o fluido aprisionado na cavidade, fazendo com
que parte do escoamento principal se choque na quina à jusante. Entende-se melhor
esse efeito através da Figura 6.7, na qual é mostrado o campo de velocidade
Capítulo 6 Resultados e Discussão 104

através de vetores dentro da cavidade, exemplificado aqui para a configuração G3 e


ReD = 100000 . Em decorrência do impacto do fluido na quina da cavidade, parte do

fluido é forçado a entrar na cavidade e recircular, e outra parte é forçada a contornar


a quina, cruzando a interface e deixando a cavidade contra o escoamento externo.

z : 0.1V
: 0.2V

Figura 6.7 - Exemplo de campo de velocidade na forma de vetores, dentro da


cavidade, no plano r-z (exemplificado para a configuração G3 e ReD = 100000 ).

Apesar de a Figura 6.7 mostrar uma descrição do aspecto geral do campo de


velocidades no plano r-z tanto para cavidades anelares como helicoidais, é
interessante observar também o aspecto tridimensional do campo de velocidade no
caso de cavidades helicoidais, exemplificado na Figura 6.8 para a configuração G3 e
ReD = 100000 , através de três vistas em perspectivas diferentes.

Nota-se que, além do padrão de recirculação que se mantém no plano r-z, o


fluido apresenta uma componente de velocidade tangencial, que representa o
escoamento do fluido ao longo do helicoide. Encontrou-se, por exemplo, para a
geometria G3 que a magnitude da máxima componente tangencial do escoamento
é, para baixos números de Reynolds, de cerca de 1 % da velocidade média do
escoamento, atingindo aproximadamente 2,3 % para ReD = 100000 .

A medição mais detalhada dos níveis de velocidade radial que deixa a


cavidade (como observado na Figura 6.7) e de velocidade tangencial que escoa ao
longo de cavidades helicoidais (Figura 6.8), além do cálculo de outras propriedades
Capítulo 6 Resultados e Discussão 105

do escoamento que estão relacionadas ao padrão dos campos de velocidade


observados nesta seção, são apresentadas nas seções de 6.4.2 a 6.4.4.

r
r

z
θ
θ
z

: 0,02V

Figura 6.8 - Exemplo de visualizações tridimensionais do campo de velocidade


dentro de uma cavidade helicoidal, na forma de vetores, para a configuração G3 e
ReD = 100000 .

6.4.2 Distribuição de pressão

O impacto do fluido à jusante da cavidade, comentado na seção anterior e


observado em detalhe na Figura 6.7, provoca altos valores de pressão de
estagnação naquele ponto. O objetivo desta seção é discutir comparativamente a
distribuição de pressão resultante dentro das cavidades anelares e helicoidais, para
diferentes números de Reynolds e configurações geométricas.

A Figura 6.9 apresenta uma comparação entre os contornos de pressão


obtidos para tubos de cavidades anelares e helicoidais, para números de Reynolds
25000, 50000 e 100000. No mesmo sentido, a Figura 6.10 apresenta uma
comparação, para ReD = 100000 , da distribuição de pressão nas quatro
Capítulo 6 Resultados e Discussão 106

configurações geométricas de cavidade. Os dados numéricos do modelo LVEL


foram utilizados nas comparações. Na Figura 6.11, é realizada, ainda, uma
comparação para ReD = 25000 e geometria G3 entre as distribuições de pressão

obtidas com os modelos LVEL e CK k-ε. A pressão de referência, pref , é adotada

como o valor calculado na entrada do domínio numérico, e as legendas são


referenciadas em termos do coeficiente de pressão, Cp = ( p − pref ) / 0,5 ρV 2 . ( )

Anelar Helicoidal

ReD = 25000

Cp
0.080
0.072
0.063
0.055
0.047
0.039
ReD = 50000 0.030
0.022
0.014
0.005
-0.003
-0.011
-0.020

ReD = 100000
r

z Direção do Escoamento

Figura 6.9 – Comparação entre as distribuições do coeficiente de pressão em


cavidades anelares e helicoidais, para três números de Reynolds distintos,
exemplificadas para a configuração geométrica G3.

O padrão geral de distribuição de pressão observado nas Figuras 6.9, 6.10 e


6.11 é caracterizado por baixos valores de pressão no centro da cavidade, sendo
esses valores negativos em alguns pontos, que correspondem às zonas de
recirculação do fluido. Na quina à jusante da cavidade, um alto valor pontual de Cp é
Capítulo 6 Resultados e Discussão 107

encontrado, que corresponde à pressão de estagnação do fluido naquele ponto, em


concordância com o impacto de fluido observado no detalhe da Figura 6.7.

G1: G2:

Cp
0.053
0.047
0.041
0.035
G3: G4:
0.029
0.023
0.017
0.011
0.005
-0.001
-0.007
-0.014
r -0.020

z
Direção do Escoamento

Figura 6.10 - Comparação entre as distribuições do coeficiente de pressão entre


diferentes configurações geométricas de cavidade, exemplificado para
ReD = 100000 em cavidade helicoidal.

Analisando individualmente a Figura 6.9, pode-se observar que os valores de


Cp nas quinas da cavidade para o caso anelar tem magnitude significativamente

maiores do que os observados para cavidade helicoidal, quando se comparam os


dois corrugados para um mesmo ReD . Uma vez que a parede lateral da cavidade do

corrugado anelar é normal ao sentido do escoamento, sua oposição em reter as


partículas de fluido que se impactam na cavidade tende a ser a máxima possível.
Como a parede lateral da cavidade helicoidal não é normal à direção axial, o valor
de Cp tem menor magnitude, como observado, o que inclusive direciona uma

pequena parcela de fluido a escoar no sentido do helicoide. O mesmo


Capítulo 6 Resultados e Discussão 108

comportamento é reportado por Liu e Jensen (2001) para tubos com paredes
compostas por aletas helicoidais. A diferença entre as pressões nas paredes laterais
da cavidade compõem, como afirmam Vijiapurapu e Cui (2007), parte do arrasto total
proporcionado por uma superfície corrugada, que é composto tanto pelo atrito
viscoso nas superfícies sólidas quando pelo arrasto por pressão entre as paredes
laterais das cavidades. Assim, o arrasto por pressão é, em geral, maior em
corrugados anelares que em helicoidais, mesmo para baixos números de Reynolds.

LVEL CK k-ε

Cp
0.050
0.044
0.038
0.033
r 0.027
0.021
0.015
0.009
0.004
-0.002
z -0.008
-0.014
Direção do Escoamento
-0.020

Figura 6.11 - Comparação entre as distribuições do coeficiente de pressão obtidas


pelos modelos de turbulência LVEL e CK k-ε, exemplificado para ReD = 25000 em

cavidade anelar, geometria G3.

Ainda da Figura 6.9, nota-se que a distribuição de pressão na cavidade


também varia com ReD . Comparando-se os quatro números de Reynolds, nota-se

que o valor de Cp cresce significativamente na quina da cavidade, desde

ReD = 25000 até 100000, e os valores de coeficiente de pressão negativos, que

correspondem ao centro do vórtice, também crescem significativamente em módulo


com o número de Reynolds, o que indica uma circulação muito maior do fluido
aprisionado na cavidade e que, conseqüentemente, favorece o impacto na quina à
jusante.

Analisando-se agora a Figura 6.10, observa-se que, com o aumento do


comprimento da cavidade, os valores de Cp se tornam mais intensos e se estendem
Capítulo 6 Resultados e Discussão 109

por uma área maior em comparação com as cavidades menores. Essa tendência
ocorre provavelmente porque, quando o comprimento da cavidade aumenta, facilita-
se com que maior quantidade de fluido atravesse a interface para dentro da
cavidade. Assim, mais fortes tendem a ser os impactos na quinta à jusante.
Observa-se também que, comparando as geometrias G3 e G4, o aumento da altura
da cavidade praticamente não influencia no padrão observado.

Por fim, a Figura 6.11 mostra que a diferença entre as distribuições de


pressão obtidas com os modelos LVEL e CK k-ε é pequena, embora o padrão médio
observado seja semelhante. Nota-se, por exemplo, que o contorno de pressão ao
redor da quina da cavidade é mais bem delineado pelo modelo CK k-ε, já que nesse
ponto sua resolução de malha é muito maior, porém o valor máximo de Cp nesse

ponto é praticamente o mesmo para os dois modelos. A distribuição geral de Cp em

toda a cavidade também é muito semelhante para os dois modelos, concordância


que também foi observada para as demais geometrias e números de Reynolds.

6.4.3 Componentes radial e tangencial de velocidade

O fenômeno de impacto do escoamento principal na quina da cavidade,


discutido na subseção 6.4.1, tem como conseqüência não somente o aumento do
arrasto por pressão, mas a formação de uma componente radial de velocidade
próximo à quina da cavidade, de grande magnitude em alguns casos. Essa
componente, transversal ao escoamento principal, ocorre porque, após o impacto do
fluido na quina da cavidade, parte do fluido é forçada a contornar a quina e deixar a
cavidade, como já observado na Figura 6.7.

Para quantificar a magnitude da componente de velocidade transversal ao


escoamento principal próximo à quina da cavidade, a Figura 6.12 a seguir apresenta
os valores obtidos para a componente radial de velocidade, v , normalizada pela
velocidade média do escoamento, V , para as diferentes configurações geométricas
e para toda a faixa de números de Reynolds avaliada. Os valores de v / V são
calculados no ponto indicado em vermelho no gráfico, que se situa sobre a interface
entre a cavidade e o escoamento principal, em um ponto adjacente à quina da
Capítulo 6 Resultados e Discussão 110

cavidade, pois é a região onde o valor de v / V tem seus valores mais


representativos (como se pode inferir com base no detalhe da Figura 6.7).

(a) (b)
0.00

-0.05
v/ V

-0.10 G1 (b/D=0,015, h/D=0,03)


G2 (b/D=0,03, h/D=0,03) b

G3 (b/D=0,04, h/D=0,03)
h
G4 (b/D=0,04, h/D=0,04)
-0.15
5000 30000 55000 80000 105000 5000 30000 55000 80000 105000
ReD ReD

Figura 6.12 - Comparação da componente radial de velocidade próxima à parede em


função de ReD para diferentes configurações geométricas, sendo: (a) cavidade

anelar; (b) cavidade helicoidal, usando o modelo LVEL. O ponto de cálculo de v / V


é indicado na quina da cavidade.

Observa-se que a componente v de velocidade é em geral negativa no ponto


medido, indicando que, uma vez que a direção r aponta da interface em direção ao
topo da cavidade, o fluido naquele ponto deixa a cavidade em direção ao
escoamento externo.

O valor negativo de v / V tende a se tornar mais intenso quanto maior o


comprimento da cavidade e quanto maior ReD . Para cavidades anelares, observou-

se que, até ReD = 20000 , os valores de v / V são menores que 0,01 para qualquer

configuração geométrica. Para ReD = 100000 , entretanto, os valores de v / V são de

0,025 para a geometria G1, atingindo cerca de 0,09 para as geometrias G3 e G4.

Quando se compara as geometrias G3 e G4 na Figura 6.12, entretanto, nota-


se que altura tem influência muito menor na magnitude de v / V . Para cavidade
anelar, as magnitudes são muito semelhantes. Para cavidade helicoidal, entretanto,
os valores (em módulo) para a geometria G4 são ligeiramente maiores que para a
Capítulo 6 Resultados e Discussão 111

geometria G3, embora as diferenças sejam menores que 1 % entre essas duas
geometrias, de forma que nenhuma conclusão concreta possa ser extraída em
relação à influência da variação da altura da cavidade.

Comparando-se agora, na Figura 6.12, os resultados para cavidades anelares


e helicoidais, nota-se uma atenuação significativa de v / V em corrugados
helicoidais para altos números de Reynolds, chegando no máximo a 0,05, o que
deve estar relacionado, como se comentará mais adiante nesta seção, à formação
da componente tangencial de velocidade, que escoa ao longo da cavidade.
Observou-se na Figura 6.9, que os níveis de Cp na quina da cavidade foram

menores para o caso helicoidal que para anelar, e que de acordo com essa
observação a atenuação de v / V para o caso helicoidal se mostra coerente.

A medição da componente tangencial de velocidade, u , para as simulações


em tubos com cavidade helicoidal, é mais complexa, uma vez que as magnitudes
dessa componente são muito mais baixas do que as de v , ficando difícil assim a
identificação de padrões bem estabelecidos de u com o número de Reynolds e com
diferentes configurações geométricas. A Figura 6.13 representa esquematicamente a
distribuição de u em uma cavidade corrugada, exemplificada aqui para a geometria
G3 e ReD = 100000 . Na figura à esquerda, é mostrada a distribuição do campo de u

no plano r-z. A linha tracejada divide a cavidade à metade de sua altura, e o plano
resultante é mostrado à direita (plano θ -z). Os valores dos contornos são
normalizados pela velocidade média do escoamento, V .

Observa-se na Figura 6.13 que o valor máximo de u é aproximadamente 2,3


% da velocidade média do escoamento. Apesar de parecer um valor de baixa
magnitude, entende-se que u / V = 0,023 é um valor significativo, já que o ângulo de
hélice é muito alto (  85° ). Como não foram testados vários ângulos de hélice, não
foi estudada a evolução de u para ângulos mais agudos, ou seja, mais inclinados na
direção do escoamento, o que provavelmente deve gerar maiores valores de u / V .

Observando-se a figura à esquerda, contornos não-nulos de u / V são


também vistos fora da cavidade, ou seja, dentro do raio interno do tubo, ao redor da
quina à jusante, o que indica que a cavidade helicoidal força com que o escoamento
Capítulo 6 Resultados e Discussão 112

principal não seja completamente axial nas proximidades da parede. Embora os


valores de u / V nesses pontos sejam relativamente baixos (  0,006 ), a comparação
de u com a componente axial naquele ponto, w , aponta valores de u / w = 0,015 , o
que indica que a existência da cavidade helicoidal tem, ainda que baixa, influência
também no escoamento principal, e que provavelmente seria ainda maior para
hélices mais inclinadas, como sugerido por Ravigururajan e Bergles (1996) para
cavidades do tipo K.

u /V
0.023
0.021
0.019
0.017
0.015
r θ ,u 0.013
0.012
0.010
0.008
0.006
0.004
0.002
0.000
θ ,u z r z

Figura 6.13 – Distribuição da componente tangencial de velocidade, u , em uma


cavidade helicoidal de configuração G3, nos plano r-z (esquerda) e θ -z (direita),
para ReD = 100000 , utilizando o modelo LVEL. À esquerda, a linha tracejada indica

o plano de corte representado na figura à direita.

Para ReD = 100000 , por exemplo, observou-se que u / V tem valor máximo

de 0,007 para a configuração G1, 0,016 para G2, 0,023 para G3 e 0,022 para a G4.
Nota-se assim uma pequena tendência de a velocidade u ser maior quanto maior o
comprimento da cavidade, sem influência da altura da mesma. Em termos
geométricos, as dimensões da cavidade nesse caso são as entidades menos
influentes na magnitude de u , devendo a maior influência estar de fato na inclinação
da cavidade helicoidal.

Observou-se também que u / V tem uma ligeira tendência em crescer com o


aumento do número de Reynolds; o valor máximo de u / V é menor do que 0,01
Capítulo 6 Resultados e Discussão 113

para ReD entre 5000 e 50000, subindo a 0,012 para ReD = 60000 e chegando a

0,023 para ReD = 100000 .

6.4.4 Energia cinética turbulenta e tensor de Reynolds


A visualização do padrão de escoamento na cavidade corrugada, estudado
na seção 6.4, poderia dar a ideia de que, sobre a interface da cavidade, o fluido de
fora da cavidade desliza de modo suave sobre a recirculação (como se poderia
imaginar analisando as linhas de corrente fora da cavidade). Entretanto, deve-se
lembrar que a presente análise é realizada em termos médios no tempo, e a própria
característica essencialmente transiente de escoamentos turbulentos aparentemente
faz com que as interações entre o escoamento principal e o vórtice confinado na
cavidade estejam longe de um padrão estável.

Mesmo sendo de natureza transiente, entretanto, os níveis médios de


flutuações de velocidade na interface da cavidade podem ilustrar o comportamento
médio dessas interações turbulentas. Uma propriedade útil nesse sentido é a

( )
energia cinética turbulenta, definida como k = 1/ 2 u '2 + v '2 + w '2 , onde u ' , v ' e w '

são as componentes de flutuação temporal de velocidade nas direções tangencial,


radial e axial, respectivamente. No presente trabalho, foi possível a avaliação da
energia cinética turbulenta através das simulações com o modelo CK k-ε, que
calcula uma equação de transporte própria para k.

As Figuras 6.14 e 6.15 apresentam distribuições dos contornos de energia


cinética turbulenta nas cavidades corrugadas para o escoamento em tubos com
cavidade anelar, já que o modelo CK k-ε não foi utilizado nas simulações do caso
helicoidal. A Figura 6.14 representa uma análise comparativa de k para as quatro
configurações geométricas de cavidade (exemplificado para ReD = 100000 ), e a

Figura 6.15 uma comparação entre quatro números de Reynolds (exemplificado para
a configuração G3). Os valores de k são adimensionalizados pelo quadrado da
velocidade de atrito média do tubo corrugado, V *2 , que é calculada através da

correlação proposta por Silberman (1980), em que V * = ( Δp / s ) D / 4 ρ , onde Δp / s


Capítulo 6 Resultados e Discussão 114

é o gradiente de pressão medido no domínio numérico de comprimento s , D é o


diâmetro interno e ρ é a massa específica.

G1: G2:

k / V *2
5.627
5.116
4.604
4.093
G3: G4: 3.581
3.070
2.558
2.046
1.535
1.023
0.512
0.000
r

z
Direção do Escoamento

Figura 6.14 - Contornos de energia cinética turbulenta medidos próximo à uma


cavidade anelar, para as quatro configurações geométricas investigadas, usando o
modelo CK k-ε ( ReD = 100000 ).

Em princípio, observa-se das Figuras 6.14 e 6.15 que a energia cinética


turbulenta tem uma variação muito significativa com a geometria da cavidade e com
o número de Reynolds. Nota-se que, com o aumento do comprimento da cavidade,
os valores dos contornos de k aumentam significativamente na parede, com valores
máximos situados próximos à quina à jusante da cavidade. Na realidade, pode-se
observar que, para uma dada geometria, as zonas de alta concentração de energia
cinética turbulenta se estendem por mais da metade do comprimento da cavidade,
além de se desenvolver adiante da quina à jusante, elevando os valores de k não
somente sobre a interface mas também na parede interna do tubo. Uma vez que k,
por definição, é igual a soma das intensidades turbulentas nas três direções, pode-
Capítulo 6 Resultados e Discussão 115

se concluir que a interação entre o vórtice confinado na cavidade e o fluido do


escoamento principal que desliza sobre esse vórtice gera altos níveis de turbulência
sobre as paredes corrugadas.

ReD = 5000 ReD = 25000

k / V *2
5.627
5.116
4.604
4.093
ReD = 50000 ReD = 100000 3.581
3.070
2.558
2.046
1.535
1.023
0.512
r 0.000

z
Direção do Escoamento

Figura 6.15 - Contornos de energia cinética turbulenta medidos próximo à uma


cavidade anelar de configuração G3, para quatro números de Reynolds, usando o
modelo CK k-ε.

Além disso, com o aumento do comprimento da cavidade, pode-se observar


que regiões com formas de “onda” se espalham até mesmo para zonas no interior da
cavidade. No topo da cavidade, entretanto, o nível de energia cinética turbulenta
tende a zero em todos os casos, concordando com a hipótese de que o fenômeno
de interação entre o vórtice da cavidade e o escoamento externo está relacionado
apenas com o comprimento da interface. Como se pode observar comparando-se,
por exemplo, as configurações G1 e G3 na Figura 6.14, o aumento de k é bastante
significativo, enquanto que a comparação de G3 e G4 (cavidades com diferentes
Capítulo 6 Resultados e Discussão 116

alturas) mostra que a distribuição de k e os valores dos contornos nos dois casos
são muito próximos.

Analisando-se agora a Figura 6.15, observa-se que o número de Reynolds


também tem alta influência nos valores de k nas cavidades corrugadas. Nota-se que
os contornos de k se intensificam muito com o aumento de ReD , efeito que está

provavelmente relacionado à maior circulação de fluido no interior da cavidade com


o aumento de ReD , que tende a aumentar as flutuações de velocidade na interface e

fazer com que o fluido aprisionado responda de modo intenso contra o escoamento
externo à cavidade, aumentando os níveis de turbulência. Observa-se também que
os níveis de k ao redor da quina da cavidade crescem significativamente, zona essa
na qual se observou um significativo fluxo de quantidade de movimento entre o
escoamento na cavidade e o escoamento externo (Figura 6.7).

O aumento da intensidade de turbulência indica que propriedades que


dependam das flutuações de velocidade também devam ser amplificadas sobre a
parede do tubo corrugado. Uma quantidade de grande importância nesse sentido é o
tensor de cisalhamento de Reynolds específico, τ s = −v ' w ' , que corresponde a um
dos componentes do tensor de Reynolds, resultado da aplicação das médias
temporais às equações de conservação.

Na presente análise, o tensor de cisalhamento de Reynolds específico é


modelado como τ s = ν t ( ∂w / ∂r + ∂v / ∂z ) , e sua avaliação ajuda a entender tanto o

comportamento das flutuações de velocidade ao longo da interface entre a cavidade


e o escoamento principal quanto a contribuição turbulenta ao nível de tensões sobre
a superfície corrugada. A Figura 6.16 exemplifica, para escoamento a
ReD = 100000 , a distribuição do campo de τ s para diferentes configurações

geométricas de cavidade, e a Figura 6.17 exemplifica para a geometria G3 o


comportamento de τ s para diferentes números de Reynolds. Os dados mostrados

nas Figuras 6.16 e 6.17 foram obtidos com o modelo CK k-ε em tubos de cavidades
anelares, e foram normalizados pelo quadrado da velocidade de atrito, V *2 . A Figura
6.18 mostra ainda uma comparação entre os valores de τ s obtidos com os modelos

CK k-ε e LVEL.
Capítulo 6 Resultados e Discussão 117

G1: G2:

τ s / V *2
2.000
1.818
1.636
1.455
G3: G4: 1.273
1.091
0.909
0.727
0.545
0.364
0.182
0.000
r

z
Direção do Escoamento

Figura 6.16 – Distribuição do tensor de cisalhamento de Reynolds próximo a


cavidades anelares, para as quatro configurações geométricas estudadas, usando o
modelo CK k-ε ( ReD = 100000 ).

A distribuição do tensor de cisalhamento de Reynolds sobre a superfície é


caracterizada por valores nulos sobre as superfícies sólidas, onde as flutuações de
velocidade são sempre nulas pela condição de não-deslizamento, com um
crescimento súbito muito próximo à parede. Sobre a interface da cavidade,
entretanto, os valores de τ s não são sempre nulos, alcançando valores significativos

para altos números de Reynolds e se estendendo por quase toda a interface.

Analisando-se a Figura 6.16, observa-se que, de modo semelhante à energia


cinética turbulenta, o tensor de cisalhamento de Reynolds aumenta
significativamente com o comprimento da cavidade do corrugado. Não somente os
valores de pico de τ s crescem em magnitude, como tendem a se estender para

dentro da cavidade. Também como observado anteriormente para diversas


Capítulo 6 Resultados e Discussão 118

quantidades, o aumento da altura da cavidade não provoca alterações significativas


em τ s .

ReD = 5000 ReD = 25000

τ s / V *2
2.000
1.818
1.636
1.455
ReD = 50000 ReD = 100000 1.273
1.091
0.909
0.727
0.545
0.364
0.182
r 0.000

z
Direção do Escoamento

Figura 6.17 – Distribuição do tensor de cisalhamento de Reynolds próximo a


cavidades anelares, para quatro números de Reynolds, usando o modelo CK k-ε
(cavidade com configuração G3).

Em relação ao número de Reynolds, Figura 6.17, nota-se que o aumento de


ReD também provoca uma intensificação considerável de τ s sobre a cavidade.

Nota-se também que o valor de pico de τ s se encontra longe da parede para baixos

números de Reynolds, se aproximando da parede com o aumento de ReD . As zonas

com altos valores de τ s também passam a ocupar uma maior área ao longo da

interface, e na direção axial os valores de pico de τ s recuam desde

aproximadamente a metade da interface para baixos números de Reynolds até muito


próximo à quina à montante para ReD = 100000 .
Capítulo 6 Resultados e Discussão 119

A explicação para as amplificações de τ s com o aumento da cavidade e do


número de Reynolds é muito semelhante à realizada para a energia cinética
turbulenta. O aumento da cavidade corrugada, como foi visto em termos das linhas
de corrente e do cálculo da velocidade normal próxima à parede, facilita com que o
escoamento externo comprima a recirculação dentro da cavidade, o que deve gerar
sobre a interface uma zona de troca de quantidade de movimento intensificada.
Além disso, a maior circulação do fluido aprisionado na cavidade, incitada pelo
aumento de ReD , tende a amplificar o nível de intensidades turbulentas na interface,

e conseqüentemente, as tensões turbulentas próximas à parede.

LVEL CK k-ε
τ s / V *2
2.500
2.273
2.045
1.818
1.591
r 1.364
1.136
0.909
0.682
0.455
0.227
z 0.000
Direção do Escoamento

Figura 6.18 - Comparação entre as distribuições do tensor cisalhante de Reynolds


obtidas pelos modelos de turbulência LVEL e CK k-ε, exemplificado para
ReD = 100000 em cavidade anelar, geometria G3.

A rigor, a natureza das trocas turbulentas é transiente, mas de certa forma


deve estar mais ligada à característica geométrica da cavidade e, portanto, a
abordagem de média temporal utilizada para a turbulência do escoamento é capaz
de capturar as tendências observadas. Como não se observa variação sensível do
tensor de Reynolds com o aumento da altura cavidade, conclui-se que tais trocas
turbulentas devam estar restritas à interface da cavidade, e não à sua altura.

Através da Figura 6.18, observa-se que, diferentemente dos dados obtidos


para o fator de atrito, distribuição de pressão e padrão de escoamento, a delineação
dos contornos de τ s tem uma maior discrepância quando se comparam os dados
Capítulo 6 Resultados e Discussão 120

obtidos pelos modelos LVEL e CK k-ε. Como o modelo LVEL tem menor resolução
de malha perto da parede, já era esperado que apresentasse maiores discrepâncias
no cálculo de propriedades turbulentas locais como τ s . Note que os valores de pico

obtidos com o modelo LVEL são da ordem de 2,5, enquanto que, para o modelo CK
k-ε, os valores máximos são da ordem de 2,0.

Apesar de, exatamente sobre a interface, a distribuição de τ s obtida com os

dois modelos ser semelhante, as zonas de altos valores de τ s se encontram

concentradas na metade da cavidade para o modelo LVEL, enquanto que, para o


modelo CK k-ε, as zonas de pico de τ s ficam próximas à quina à montante. Na

ausência de resultados para condições semelhantes na literatura, não se pode


afirmar de modo absoluto qual dos modelos melhor representa o campo de τ s ,

embora se acredite que o modelo CK k-ε apresente resultados mais consistentes,


por sua alta resolução de malha e pela sua própria formulação ajustada para a
descrição do escoamento próximo à superfícies sólidas.

Mesmo ciente das diferenças entre os dois modelos de turbulência, entende-


se que em termos comparativos os resultados para cavidades anelares e helicoidais
usando o modelo LVEL (já que o modelo CK k-ε não foi utilizado para o caso
helicoidal) possam indicar a tendência de um corrugado ou outro em produzir
maiores níveis de τ s sobre a superfície corrugada. Em escoamentos turbulentos, o

tensor de cisalhamento de Reynolds, τ t = ρτ s = − ρ v ' w ' = μt ( ∂w / ∂r + ∂v / ∂z ) , é

interpretado como uma tensão turbulenta adicional, que se agrega à tensão viscosa,
τ v = μ ( ∂w / ∂r + ∂v / ∂z ) . Diz-se então que a tensão total ou aparente, τ ap , é uma
composição das tensões de cisalhamento de origem viscosa e turbulenta, ou seja,
τ ap = ( μ + μt )( ∂w / ∂r + ∂v / ∂z ) .

Assumindo-se a parede do tubo corrugado como uma superfície que se


alterna entre uma parede sólida e uma interface líquida, é possível calcular a
contribuição da tensão turbulenta à tensão aparente sobre toda a parede do
corrugado. A Figura 6.19 apresenta um balanço entre as tensões viscosas τ v e

turbulentas τ t na composição de uma tensão equivalente sobre a parede do


Capítulo 6 Resultados e Discussão 121

corrugado. Utilizou-se como exemplo tubos corrugados de cavidades anelares e


helicoidais com geometria G3, para quatro números de Reynolds. São mostrados
nos gráficos as tensões: viscosa, τ v (linhas de cor vermelha); turbulenta, τ t (cor

verde); e aparente, τ ap (preto). Todos os valores são adimensionalizados pela

(
tensão viscosa sobre a parede de um tubo liso, τ w ( lisa ) = ( fsm / 8 ) / ρV 2 , onde fsm é o )
já referido fator de atrito para tubos lisos calculado pela relação de Blasius.

2.5
Anelar ReD = 5000 ReD = 25000
Helicoidal
2 τ v / τ w ( lisa )
τ t / τ w ( lisa )
1.5
τ ap / τ w ( lisa )
τ / τw ( lisa )1

0.5

0
2.5
ReD = 50000 ReD = 100000

1.5

τ / τw ( lisa )1

0.5

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
z/s z/s

r
z z

s s

Figura 6.19 - Comparação entre as contribuições viscosas e turbulentas na tensão


sobre a parede do tubo corrugado. Exemplificação para configuração G3 e quatro
números de Reynolds.
Capítulo 6 Resultados e Discussão 122

Nota-se em princípio que, para todos os números de Reynolds, a tensão


turbulenta é nula sobre as superfícies sólidas, resultado esperado pois próximo à
parede as tensões do escoamento são predominantemente de origem viscosa.
Sobre a superfície líquida da interface, entretanto, a tensão turbulenta cresce
significativamente com o número de Reynolds. Embora seja insignificante para
ReD = 5000 , o valor de τ t / τ w ( lisa ) chega, para o caso helicoidal, a 2,5 para

ReD = 100000 .

A tensão viscosa, por sua vez, tem valores próximos à tensão τw ( lisa ) sobre as

superfícies sólidas, mas decai rapidamente sobre a interface, uma vez que nessa
região o gradiente de velocidade é muito menor do que o gradiente encontrado
sobre a superfície sólida. Na quina à jusante da cavidade, o valor de τv / τw ( lisa )

chega a praticamente 1,5, resultado dos fortes gradientes de velocidade sobre essa
região (como já observado, esse ponto está sujeito à componentes de velocidades
normais à interface). Nota-se também que, nas regiões intermediárias da interface,
os valores de τv / τw ( lisa ) tendem a diminuir com o aumento de ReD , concluindo-se

assim que os gradientes ∂w / ∂r diminuem com ReD sobre a interface, embora nas

extremidades da interface o efeito seja oposto.

A redução de ∂w / ∂r e, conseqüentemente, da tensão viscosa com o


aumento de ReD na região intermediária da interface indica um maior deslizamento

do escoamento principal sobre a interface da cavidade, embora a tensão aparente


seja elevada significativamente com ReD , como se pode observar na Figura 6.19. Ao

se analisar o comportamento da tensão aparente, nota-se que a redução da tensão


viscosa proporcionada pela interface líquida é, para números de Reynolds mais
altos, desbalanceada pelo aumento da tensão turbulenta. Assim, o deslizamento de
fluido sobre a interface e a conseqüente redução viscosa é em geral atrapalhado
pela presença de interações turbulentas sobre a interface, como observado pela
análise das tensões.

Para melhor analisar o comportamento do tensor de cisalhamento de


Reynolds sobre a interface da cavidade, a Figura 6.20 apresenta valores de
Capítulo 6 Resultados e Discussão 123

τ s = −v ' w ' para quatro geometrias de cavidade estudadas, em uma comparação


entre os dados para tubos com cavidades anelares e helicoidais e quatro números
de Reynolds. Os valores são calculados ao longo da interface da cavidade, desde a
quina à montante até a quina à jusante, como esquematizado na Figura 6.20.

2
Anelar ReD = 5000 ReD = 25000
Helicoidal
1.5 G1
G2
G3
vw/V *2
-v’w’/V

1 G4

b
0.5
0.0 0.5 1.0
z/b
0
2
ReD = 50000 ReD = 100000

1.5
vw/V *2
-v’w’/V

0.5

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
z/b z/b

Figura 6.20 - Comparação entre o tensor de cisalhamento de Reynolds sob


cavidades anelares e helicoidais, para quatro números de Reynolds e quatro
configurações geométricas de cavidade.

Embora se observe na Figura 6.20 que, para ReD = 5000 , o tensor de

Reynolds específico sobre a interface seja praticamente nulo para todas as


geometrias, os valores de τ s crescem significativamente com o aumento de ReD .

Quando se comparam os valores para G1, G2 e G3, conclui-se que o valor do tensor
de Reynolds também aumenta significativamente sobre a interface com o aumento
Capítulo 6 Resultados e Discussão 124

do comprimento da cavidade. Quando se comparam os valores para as geometrias


G3 e G4, entretanto, observa-se que a variação da altura causa pouca influência no
valor de τ s . Todas essas observações concordam, como esperado, com as

conclusões discutidas para as de Figuras 6.14 a 6.17.

Observa-se, na comparação, que os valores de τ s para cavidades helicoidais

tendem a ser ligeiramente maiores que para cavidades anelares sobre a interface
para todas as configurações geométricas e toda a faixa de ReD . Embora, a priori,

essa tendência vá contra os resultados obtidos por Silberman (1980) discutidos para
a Figura 2.6, esse autor utilizou um tubo corrugado com cavidade intermediária entre
os tipos d e K, para o qual as componentes tangenciais de velocidade que se
formam na cavidade são de magnitude muito maior que para um tipo d, não sendo
possível uma comparação rigorosa entre os resultados mostrados na Figura 6.20 e
as conclusões de Silberman.

Acredita-se que, para as geometrias estudadas no presente trabalho, que tem


ângulos de hélice muito altos (aproximadamente 85° ), o movimento do fluido no
sentido do helicóide possa ser o responsável por elevar os valores médios de τ s

sobre a interface da cavidade para o caso helicoidal, devido ao surgimento de


tensões tridimensionais.

Nota-se na Figura 6.20, entretanto, que para ReD = 5000 os valores de τ s

são praticamente nulos, embora tenha sido discutido para a Figura 6.9 que o arrasto
por pressão médio provocado pela cavidade é sempre menor em cavidades
helicoidais que em cavidades anelares, e essa é a provável conclusão para a
redução do fator de atrito para corrugados helicoidais em relação a anelares
observada na Figura 6.4 para baixos números de Reynolds. Porém, com o aumento
de ReD , o aumento das tensões turbulentas sobre a interface passa a ser mais

significativo que o efeito de arrasto por pressão, e o fator de atrito para corrugado
helicoidal se torna maior que para corrugado anelar.

Entretanto, estudos com menores ângulos de hélice, ou seja, mais inclinados


na direção axial, poderiam trazer maiores informações sobre esse feito, não sendo
esses casos estudados no presente trabalho.
Capítulo 7 Conclusões e Sugestões para Futuros Trabalhos 125

7 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS

Neste trabalho foi realizado um estudo numérico e experimental do


escoamento turbulento, newtoniano, incompressível e monofásico em dutos
corrugados de seção circular. Os estudos foram desenvolvidos para quatro
configurações geométricas das cavidades de corrugados do “tipo d”, anelares e
helicoidais, e para números de Reynolds variando de 5000 até 100000.

Foi desenvolvida uma metodologia numérica para a solução do escoamento


turbulento em tubos corrugados, com a utilização dos modelos de turbulência LVEL
e CK k-ε. Utilizou-se o método de Volumes Finitos para a discretização das
equações governantes, e o problema foi resolvido com o auxílio do programa
computacional PHOENICS CFD.

Através da utilização da bancada de experimentos do LACIT/UTFPR,


realizou-se também uma abordagem experimental para a avaliação da perda de
carga em tubos corrugados, em condições equivalentes às estudadas
numericamente, para a validação da metodologia numérica através da comparação
dos fatores de atrito obtido para as duas metodologias.

Observou-se uma boa concordância tanto entre os dois modelos de


turbulência utilizados para as simulações em tubos corrugados de cavidades
anelares, quanto na comparação entre os dados numéricos e experimentais. No
caso de cavidade anelar, a discrepância média entre os fatores de atrito obtidos com
os modelos LVEL e CK k-ε foi de 2,4 %, sendo os maiores desvios observados para
números de Reynolds mais altos. A diferença média entre os valores numéricos e
experimentais para o caso de cavidade anelar foi de aproximadamente 2,0 %, e para
cavidade helicoidal, de 3,7 %. Em geral, as maiores diferenças entre os valores
numéricos e experimentais ocorrem para números de Reynolds mais baixos, para os
quais as incertezas de medição são maiores.

Foram também propostas correlações para a representação dos fatores de


atrito. Essas correlações apresentaram boa precisão, tanto para cavidades anelares
quanto para helicoidais. A especificação de rugosidades equivalentes para os tubos
Capítulo 7 Conclusões e Sugestões para Futuros Trabalhos 126

corrugados também proporcionou boas aproximações para os resultados numéricos


obtidos. Em geral, através das duas metodologias utilizadas para a representação
dos valores numéricos, os desvios médios entre as correlações e os dados originais
foram em todos os casos menores que 2,5 %, sendo os maiores desvios individuais
menores que 3 %.

Quando se compara o fator de atrito em tubos corrugados em função das


características geométricas da cavidade, observa-se que o mesmo aumenta com o
aumento do comprimento da cavidade, enquanto que a altura do corrugado tem
influência pequena. Em relação ao número de Reynolds, observou-se de modo geral
que, em relação a tubos lisos, o fator de atrito aumenta com ReD . A comparação

entre os fatores de atrito para tubos com cavidades anelares e helicoidais revelou
uma ligeira redução do fator de atrito para cavidades helicoidais em relação a
anelares para números de Reynolds até 20000, sendo essa redução em alguns
casos próxima a 8 %. Acima de ReD = 20000 , os valores para o caso helicoidal se

tornam maiores do que os calculados para cavidades anelares, porém não maiores
que 6 %.

De acordo com o padrão de escoamento observado, o comportamento do


fator de atrito está ligado, por um lado, ao arrasto por pressão promovido pela
cavidade e, por outro, às trocas de quantidade de movimento que ocorrem na
interface da cavidade, devido a interações de origem turbulenta. Observou-se que
parte do escoamento principal atravessa a interface da cavidade, comprime o vórtice
lá aprisionado e se impacta na quina à jusante, gerando estagnação de fluido e
componentes radiais de velocidade nessa região. Além disso, o aumento do
comprimento da cavidade e de ReD , em conjunto, favorece a intensificação da

circulação do vórtice na cavidade, o aumento dos níveis de pressão de estagnação


na quina à jusante e a amplificação dos níveis de intensidade de turbulência e
tensões turbulentas sobre a interface.

Observou-se também que o impacto do fluido e do surgimento de


componentes radias de velocidade próximo à quina à jusante da cavidade é mais
intenso em cavidades anelares que helicoidais, pois no primeiro caso a parede da
cavidade é normal ao escoamento, e no segundo caso a inclinação da cavidade
Capítulo 7 Conclusões e Sugestões para Futuros Trabalhos 127

helicoidal alivia o impacto do fluido, direcionando parte do fluxo a escoar no sentido


do helicóide e diminuindo, por exemplo, o valor da pressão de estagnação e as
magnitudes das componentes radias de velocidade sobre a interface.

Observou-se também, que o arrasto por pressão da cavidade, que compõe


parte do arrasto total do tubo, é diminuído em tubos com cavidade helicoidal, efeito
esse mais significativo para baixos números de Reynolds. Entretanto, acredita-se
que a existência de tensões no sentido tangencial possa fazer com que o nível de
tensões turbulentas sobre a interface seja maior para o caso helicoidal que para o
caso anelar, fato pelo qual o fator de atrito para tubos corrugados com cavidade
helicoidal é maior que para o caso anelar para números de Reynolds mais altos.

Em função dos resultados alcançados no presente trabalho, sugere-se para


trabalhos futuros:

• Investigar o padrão de escoamento e do comportamento do fator de atrito


em cavidades do tipo d para maior quantidade de configurações
geométricas, envolvendo variações de altura, comprimento e passo das
cavidades, tubos corrugados com cavidades helicoidais com vários ângulos
de hélice e cavidades de formas geométricas variadas (circulares,
triangulares, trapezoidais, entre outras).

• Estudos utilizando modelos de turbulência avançados, como por exemplo a


simulação de grandes escalas (LES), para o estudo das interações
transientes que ocorrem sobre a interface das cavidades.

• Estudo da transferência de calor sobre as superfícies de tubos corrugados,


embora numerosas na literatura, são carentes de explicações físicas
detalhadas para os fenômenos encontrados. Estudos nesse sentido seriam
de grande valia.

• Avaliar a influencia dos corrugados no escoamento bifásico líquido-gás em


tubulações.
Capítulo 8 Referências Bibliográficas 128

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 133
Acoplamento Pressão-Velocidade

APÊNDICE A – DISCRETIZAÇÃO DAS EQUAÇÕES DE

CONSERVAÇÃO PELO MÉTODO DOS VOLUMES FINITOS E


ACOPLAMENTO PRESSÃO-VELOCIDADE

O programa PHOENICS CFD (Spalding, 1994) utilizado para a solução do


problema aplica a metodologia dos Volumes Finitos proposta por Patankar (1980),
que consiste na discretização do domínio de solução em volumes de controle
“discretos” ou “finitos”, com utilização de arranjo deslocado de malha, como discutido
brevemente no Capítulo 4.

VC de v VC de v
z VC de w I-2 i-2 I-1
i-1
j+2 I
J+2

j+1 j+1 i
J+1 θ
j
K,j j I+1
I,j
J j-1 I,J VC de u
K,J k,J
j-1 i,J
r j-2 i+1
r
J-1
I+2
K-2 k-2 K-1 k-1 K k K+1 k+1 K+2 J-2 J-1 J J+1 J+2 J+3

(a) (b)
VC de u
z VC de w

I+2

I+1

I+1

K,i i

I
K,I k,I
i-1
θ
I-1

K-2 k-2 K-1 k-1 K k K+1 k+1 K+2

(c )

Figura 4.1 - Arranjo de malha deslocada para frente: (a) plano r-z; (b) plano r- θ ; (c)
plano θ -z.
Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 134
Acoplamento Pressão-Velocidade

Repete-se aqui o esquema de arranjo deslocado de malha mostrado na


Figura 4.1, cujos pontos em letras maiúsculas I, J, K (direções θ , r, e z,
respectivamente) correspondem aos centros dos volumes de controle para o qual a
malha é construída no domínio numérico, ditos volumes de controle escalares, e os
pontos i, j, k e vizinhos correspondem às faces dos volumes de controle escalares,
demarcando novos volumes de controle ditos vetoriais.

Nos centros dos volumes de controle escalares são calculadas as


propriedades escalares, que neste trabalho correspondem à pressão periódica P e
as variáveis turbulentas k e ε. No centro dos volumes de controle vetoriais, calculam-
se as componentes médias de Reynolds u , v e w da velocidade.

Partindo-se do arranjo de malha deslocado, a proposta descrita por Patankar


(1980) é integrar as equações de conservação para o domínio discretizado,
aplicando-se diferenças finitas às derivadas e interpolações aos termos advectivos.
Para tal, o programa PHOENICS CFD utiliza as equações na forma conservativa,
que corresponde ao rearranjo das equações para o agrupamento dos termos de
advecção e difusão.

Após a realização de um desenvolvimento algébrico sobre as equações de


conservação da quantidade de movimento que governam o problema, Eqs. (3.32),
(3.33) e (3.34), utilizando-se a hipótese de escoamento incompressível, obtém-se as
equações correspondentes na forma conservativa:

Conservação da quantidade de movimento na direção r :

1⎡ ∂ ⎛ ∂v ⎞ ∂ ⎛ μeff ∂v ⎞ ∂ ⎛ ∂v ⎞ ⎤
r ⎜ ρvv − μeff + ⎜ ρ uv − r ∂θ ⎟ + ∂z r ⎜ ρvw − μeff ∂z ⎟ ⎥ =
r ⎢⎣ ∂r ⎝ ∂r ⎟⎠ ∂θ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎦
(A.1)
∂P ⎡ u 2 μeff ⎛ ∂u ⎞⎤
− + ⎢ρ − 2 ⎜ 2 ∂θ + v ⎟ ⎥
∂r ⎣ r r ⎝ ⎠⎦

Conservação da quantidade de movimento na direção θ :


Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 135
Acoplamento Pressão-Velocidade

1⎡ ∂ ⎛ ∂u ⎞ ∂ ⎛ μeff ∂u ⎞ ∂ ⎛ ∂u ⎞ ⎤
r ⎜ ρuv − μeff + ⎜ ρuu − r ∂θ ⎟ + ∂z r ⎜ ρ uw − μeff ∂z ⎟ ⎥ =
r ⎣⎢ ∂r ⎝ ∂r ⎠⎟ ∂θ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎦
(A.2)
1 ∂P ⎡ uv μeff ⎛ ∂v ⎞⎤
− + −ρ + 2 ⎜ 2 ∂θ − u ⎟ ⎥
r ∂θ ⎢⎣ r r ⎝ ⎠⎦

Conservação da quantidade de movimento na direção z :

1⎡ ∂ ⎛ ∂w ⎞ ∂ ⎛ μeff ∂w ⎞ ∂ ⎛ ∂w ⎞ ⎤
r ⎜ ρvw − μeff + ⎜ ρuw − r ∂θ ⎟ + ∂z r ⎜ ρww − μeff ∂z ⎟ ⎥ =
r ⎢⎣ ∂r ⎝ ∂r ⎟⎠ ∂θ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎦
(A.3)
∂P
− +β
∂z

onde o lado esquerdo das equações representam os balanços entre os termos


advectivos e difusivos, o primeiro termo do lado direito das equações correspondem
aos gradientes de pressão e os últimos termos entre colchetes são termos fonte
correspondentes a acelerações centrífugas e de Coriolis (que, como se observa, não
aparecem na equação para a direção z ). O termo β na Eq. (A.3) representa o
gradiente de pressão periódico, e μeff é a viscosidade cinemática efetiva, sendo

μeff = μ + μt . Neste ponto, nenhuma providência é tomada com a equação de


conservação da massa, Eq. (3.3), pois sua solução está condicionada ao algoritmo
de solução.

Deve-se então integrar as equações de conservação de quantidade de


movimento nas direções r, θ e z utilizando-se, respectivamente, os volumes de
controle vetoriais de v , u e w indicados na Figura 4.1. A seguir, tal procedimento é
exemplificado para o volume de controle vetorial de w , para a discretização da
equação de conservação da quantidade de movimento na direção z .

Aplicando-se as integrais à Eq. (A.3) ao longo do volume de controle vetorial


de w indicado na Figura 4.1, tem-se:
Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 136
Acoplamento Pressão-Velocidade

i K +1 j
1⎡ ∂ ⎛ ∂w ⎞ ⎤
∫ ∫ ∫ r ⎢⎣ ∂r r ⎜⎝ ρvw − μ
i −1 K j −1
eff ⎟ rdrdzdθ +
∂r ⎠ ⎥⎦
j K +1 i
1⎡ ∂ ⎛ μeff ∂w ⎞ ⎤
+∫ ∫ ∫ r ⎢⎣ ∂θ ⎜⎝ ρuw − rdθ dzdr +
j −1 K i −1
r ∂θ ⎟⎠ ⎥⎦
i j K +1
(A.4)
1⎡ ∂ ⎛ ∂w ⎞ ⎤
+∫ ∫ ∫ ⎢ r ⎜ ρww − μeff ⎟ rdzdrdθ =
i −1 j −1 K
r ⎣ ∂z ⎝ ∂z ⎠ ⎥⎦
j K +1 i j K +1
i
⎛ ∂P ⎞ β
= ∫∫ ∫
i −1 j −1 K
⎜− ⎟rdzdrdθ + ∫ ∫ ∫ rdzdrdθ
⎝ ∂z ⎠ i −1 j −1 K
ρ

Cada termo da Eq. (A.4) é então integrado ao longo dos limites de integração
indicados, que correspondem aos limites do volume de controle de w . Nas faces do
volume de controle de w , as derivadas são calculadas através de diferenças
centradas, fazendo com que os termos difusivos sejam função das componentes w
da velocidade em pontos conhecidos.

As velocidades nas faces do volume de controle de w que surgem nos


termos advectivos, entretanto, não são conhecidas. Utiliza-se para tal o esquema
híbrido discutido por Versteeg e Malalasekera (1995) para a interpolação dos termos
advectivos nas faces do volume de controle. Após a integração da Eq. (A.4), da
utilização de diferenças centradas e do esquema híbrido de interpolação, o sistema
de equações resultantes é dado por:

aI ,J ,k w I ,J ,k = aI −1,J ,k w I −1,J ,k + aI +1,J ,k w I +1,J ,k + aI ,J −1,k w I ,J −1,k +


(A.5)
+aI ,J +1,k w I ,J +1,k + aI ,J ,k −1w I ,J ,k −1 + aI ,J ,k +1w I ,J ,k +1 + Sw

onde as componentes w do lado direito da equação representam os valores dos


pontos vizinhos à velocidade do centro do volume de controle, w I ,J ,k , e os

coeficientes “ a ” guardam as contribuições convectivas e difusivas dos pontos


vizinhos:
Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 137
Acoplamento Pressão-Velocidade

⎡ F ⎤ ⎡ F ⎤ ⎫
aI −1,J ,k = máx ⎢Fi −1,J ,k , Di −1,J ,k + i −1,J ,k ,0 ⎥ , aI +1,J ,k = máx ⎢ −Fi ,J ,k , Di ,J ,k − i ,J ,k ,0 ⎥ ⎪
⎣ 2 ⎦ ⎣ 2 ⎦ ⎪
⎡ F ⎤ ⎡ F ⎤ ⎪⎪
aI ,J −1,k = máx ⎢FI , j −1,k , DI , j −1,k + I , j −1,k ,0 ⎥ , aI ,J +1,k = máx ⎢ −FI , j ,k , DI , j ,k − I , j ,k ,0 ⎥ ⎬ (A.6)
⎣ 2 ⎦ ⎣ 2 ⎦ ⎪
⎡ FI ,J ,K ⎤ ⎡ FI ,J ,K +1 ⎤ ⎪
aI ,J ,k −1 = máx ⎢FI ,J ,K , DI ,J ,K + ,0 ⎥ , aI ,J ,k +1 = máx ⎢ −FI ,J ,K +1, DI ,J ,K +1 − ,0 ⎥ ⎪
⎣ 2 ⎦ ⎣ 2 ⎦ ⎪⎭

e o coeficiente aI ,J ,k leva a contribuição de todos os vizinhos:

aI ,J ,k = aI −1,J ,k + aI +1,J ,k + aI ,J −1,k + aI ,J +1,k + aI ,J ,k −1 + aI ,J ,k +1 +


(A.7)
+Fi ,J ,k − Fi −1,J ,k + FI , j ,k − FI , j −1,k + FI ,J ,K +1 − FI ,J ,K

Os termos “D” e “F”, por sua vez, são dados por:

ui −1,J ,K + ui −1,J ,K +1 ui ,J ,K + ui ,J ,K +1 ⎫
Fi −1,J ,k = ρ A wθ , Fi ,J ,k = ρ A wθ ⎪
2 2 ⎪
v I , j −1,K + v I , j −1,K +1 v I , j ,K + v I , j ,K +1 ⎪
FI , j −1,k = ρ A wr(j -1) , FI , j ,k = ρ A wr(j ) ⎬ (A.8)
2 2 ⎪
w I ,J ,k −1 + w I ,J ,k w I ,J ,k + w I ,J ,k +1 ⎪
FI ,J ,K = ρ A wz , FI ,J ,K +1 = ρ A wz ⎪
2 2 ⎭
Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 138
Acoplamento Pressão-Velocidade

μeff I ,J ,K + μeff I ,J ,K +1 + μeff I −1,J ,K + μeff I −1,J ,K +1 ⎫


Di −1,J ,k = A wθ , ⎪
4ri −1(θI − θI −1 ) ⎪
μeff I +1,J ,K + μeff I +1,J ,K +1 + μeff I ,J ,K + μeff I ,J ,K +1 ⎪
Di ,J ,k = A wθ , ⎪
4ri (θI +1 − θI ) ⎪
μeff I ,J ,K + μeff I ,J ,K +1 + μeff I ,J −1,K + μeff I ,J −1,K +1 ⎪
DI , j −1,k = A wr(j -1) , ⎪
4(rJ − rJ −1 ) ⎪
⎬ (A.9)
μeff I ,J +1,K + μeff I ,J +1,K +1 + μeff I ,J ,K + μeff I ,J ,K +1 ⎪
DI , j ,k = A wr(j ) ,
4(rJ +1 − rJ ) ⎪

μeff I ,J ,K ⎪
DI ,J ,K = ρ A wz , ⎪
( zk − zk −1 )

μeff I ,J ,K +1 ⎪
DI ,J ,K +1 = ρ A wz ⎪
( zk +1 − zk ) ⎭

onde A wθ , A wr e A wz são as áreas das faces do volume de controle w com centro

em I, J, k nas direções θ , r e z, respectivamente. Note que, como o volume de


controle é cilíndrico, a única variação de área dentro de um mesmo volume ocorre
na direção r, para a qual a área aumenta com o raio ( A wr(j ) > A wr(j −1) ). O termo fonte

Sw na Eq. (A.5) contem o gradiente de pressão de P e o termo fonte β :

Sw = −(PK +1 − PK )Awz + β ( ΔVw ) , (A.10)

onde ΔVw é o volume do volume de controle w com centro em I, J , k .

Procedimento equivalente é realizado para as equações de conservação de


quantidade de movimento nas direções θ e r. Para a direção θ , a equação
discretizada resultante é da forma:

ai ,J ,K ui ,J ,K = ai −1,J ,K ui −1,J ,K + ai +1,J ,K ui +1,J ,K + ai ,J −1,K ui ,J −1,K +


(A.11)
+ai ,J +1,K ui ,J +1,K + ai ,J ,K −1ui ,J ,K −1 + ai ,J ,K +1ui ,J ,K +1 + Su
Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 139
Acoplamento Pressão-Velocidade

onde:

⎡ F ⎤ ⎡ F ⎤⎫
ai −1,J ,K = máx ⎢FI ,J ,K , DI ,J ,K + I ,J ,K ,0 ⎥ , ai +1,J ,K = máx ⎢ −FI +1,J ,K , DI +1,J ,K − I +1,J ,K ,0 ⎥ ⎪
⎣ 2 ⎦ ⎣ 2 ⎦⎪
⎡ F ⎤ ⎡ F ⎤ ⎪⎪
ai ,J −1,K = máx ⎢Fi , j −1,K , Di , j −1,K + i , j −1,K ,0 ⎥ , ai ,J +1,K = máx ⎢ −Fi , j ,K , Di , j ,K − i , j ,K ,0 ⎥ ⎬ (A.12)
⎣ 2 ⎦ ⎣ 2 ⎦ ⎪
⎡ F ⎤ ⎡ F ⎤ ⎪
ai ,J ,K −1 = máx ⎢Fi ,J ,k −1, Di ,J ,k −1 + i ,J ,k −1 ,0 ⎥ , ai ,J ,K +1 = máx ⎢ −Fi ,J ,k , Di ,J ,k − i ,J ,k ,0 ⎥ ⎪
⎣ 2 ⎦ ⎣ 2 ⎦ ⎪⎭

O coeficiente ai ,J ,K do lado esquerdo da equação leva, além da contribuição dos

vizinhos, parte dos termos centrífugo e da aceleração de Coriolis associados à


componente u no ponto i , J , K (últimos termos da Eq. (A.2)):

ai ,J ,K = ai −1,J ,K + ai +1,J ,K + ai ,J −1,K + ai ,J +1,K + ai ,J ,K −1 + ai ,J ,K +1 +


+FI +1,J ,K − FI ,J ,K + Fi , j ,K − Fi , j −1,K + Fi ,J ,k − Fi ,J ,k −1 + (A.13)
+ ρv i*,J ,K / rJ + μ * effi ,J ,K / rJ 2

onde v i*,J ,K e μ * effi ,J ,K são interpolações para v e μeff no ponto i , J , K , provenientes

da iteração anterior. Os termos “D” e “F” para a equação de u são dados por:

ui −1,J ,K + ui ,J ,K ui ,J ,K + ui +1,J ,K ⎫
FI ,J ,K = ρ A uθ , FI +1,J ,K = ρ A uθ ⎪
2 2 ⎪
v I , j −1,K + v I +1, j −1,K v I , j ,K + v I +1, j ,K ⎪
Fi , j −1,K = ρ A ur(j −1) , Fi , j ,K = ρ A ur(j ) ⎬ (A.14)
2 2 ⎪
w I ,J ,k −1 + w I +1,J ,k −1 w I ,J ,k + w I +1,J ,k ⎪
Fi ,J ,k −1 = ρ A uz , Fi ,J ,k = ρ A uz ⎪
2 2 ⎭
Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 140
Acoplamento Pressão-Velocidade

μeff I ,J ,K ⎫
DI ,J ,K = A uθ , ⎪
rI (θ i − θ i −1 ) ⎪
μeff I +1,J ,K ⎪
DI +1,J ,K = A uθ , ⎪
rI +1(θ i +1 − θ i ) ⎪
μeff I ,J ,K + μeff I +1,J ,K + μeff I ,J −1,K + μeff I +1,J −1,K ⎪
Di , j −1,K = A ur(j −1) , ⎪
4(rJ − rJ −1 ) ⎪
⎬ (A.15)
μeff I ,J +1,K + μeff I +1,J +1,K + μeff I ,J ,K + μeff I +1,J ,K ⎪
Di , j ,K = A ur(j ) ,
4(rJ +1 − rJ ) ⎪

μeff I ,J ,K + μeff I +1,J ,K + μeff I ,J ,K −1 + μeff I +1,J ,K −1 ⎪
Di ,J ,k −1 = ρ A uz , ⎪
4( zk − zk −1 )

μeff I ,J ,K +1 + μeff I +1,J ,K +1 + μeff I ,J ,K + μeff I +1,J ,K ⎪
Di ,J ,k = ρ A uz ⎪
4( zk +1 − zk ) ⎭

sendo A uθ , A ur e A uz são as áreas das faces do volume de controle u com centro

em i , J , K nas direções θ , r e z, respectivamente. O termo fonte Su na Eq. (A.11)

contem o gradiente de pressão de P e o termo fonte referente à aceleração de


Coriolis não associado à velocidade u no ponto i , J , K :

Su = −(PI +1 − PI )Auθ +
⎛v* − v I*, j ,K v I*+1, j −1,K − v I*, j −1,K ⎞ (A.16)
+ΔVu μ * effi ,J ,K / rJ2 ⎜ I +1, j ,K + ⎟⎟ ,
⎜ r (θ − θ ) r j −1 (θI +1 − θI )
⎝ j I +1 I ⎠

sendo o último termo entre parênteses a discretização da derivada ∂v / ∂θ surgida


do lado direito da Eq. (A.2), em termos das componentes v * das iterações
anteriores. O termo ΔVu é o volume do volume de controle u com centro em i , J , K .

Para a direção r, a equação discretizada resultante é da forma:

aI , j ,K v I , j ,K = aI −1, j ,K v I −1, j ,K + aI +1, j ,K v I +1, j ,K + aI , j −1,K v I , j −1,K +


(A.17)
+aI , j +1,K v I , j +1,K + aI , j ,K −1v I , j ,K −1 + aI , j ,K +1v I , j ,K +1 + Sv
Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 141
Acoplamento Pressão-Velocidade

onde:

⎡ F ⎤ ⎡ F ⎤ ⎫
aI −1, j ,K = máx ⎢Fi −1, j ,K , Di −1, j ,K + i −1, j ,K ,0 ⎥ , aI +1, j ,K = máx ⎢ −Fi , j ,K , Di , j ,K − i , j ,K ,0 ⎥ ⎪
⎣ 2 ⎦ ⎣ 2 ⎦ ⎪
⎡ F ⎤ ⎡ F ⎤ ⎪⎪
aI , j −1,K = máx ⎢FI ,J ,K , DI ,J ,K + I ,J ,K ,0 ⎥ , aI , j +1,K = máx ⎢ −FI ,J +1,K , DI ,J +1,K − I ,J +1,K ,0 ⎥ ⎬ (A.18)
⎣ 2 ⎦ ⎣ 2 ⎦⎪
⎡ FI , j ,k −1 ⎤ ⎡ FI , j ,k ⎤ ⎪
aI , j ,K −1 = máx ⎢FI , j ,k −1, DI , j ,k −1 + ,0 ⎥ , aI , j ,K +1 = máx ⎢ −FI , j ,k , DI , j ,k − ,0 ⎥ ⎪
⎣ 2 ⎦ ⎣ 2 ⎦ ⎪⎭

e o coeficiente aI , j ,K do lado esquerdo da equação fica:

aI , j ,K = aI −1, j ,K + aI +1, j ,K + aI , j −1,K + aI , j +1,K + aI , j ,K −1 + aI , j ,K +1 +


+Fi , j ,K − Fi −1, j ,K + FI ,J +1,K − FI ,J ,K + FI , j ,k − FI , j ,k −1 − (A.19)
− ρ u I*, j ,K / r j + μ * effI , j ,K / r j 2

onde u I*, j ,K e μ * effI , j ,K são interpolações para u e μeff no ponto I, j , K , provenientes da

iteração anterior. Os termos “D” e “F” para a equação de v são dados por:

ui −1,J ,K + ui −1,J +1,K ui ,J ,K + ui ,J +1,K ⎫


Fi −1, j ,K = ρ A vθ , Fi , j ,K = ρ A vθ ⎪
2 2 ⎪
v I , j −1,K + v I , j ,K v I , j ,K + v I , j +1,K ⎪
FI ,J ,K = ρ A vr(J ) , FI ,J +1,K = ρ A vr(J +1) ⎬ (A.20)
2 2 ⎪
w I ,J ,k −1 + w I ,J +1,k −1 w I ,J ,k + w I ,J +1,k ⎪
FI , j ,k −1 = ρ A vz , FI , j ,k = ρ A vz ⎪
2 2 ⎭
Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 142
Acoplamento Pressão-Velocidade

μeff I ,J ,K + μeff I ,J +1,K + μeff I −1,J ,K + μeff I −1,J +1,K ⎫


Di −1, j ,K = A vθ , ⎪
4r j (θI − θI −1 ) ⎪
μeff I +1,J ,K + μeff I +1,J +1,K + μeff I ,J ,K + μeff I ,J +1,K ⎪
Di , j ,K = A vθ , ⎪
4r j (θI +1 − θI ) ⎪

μeff I ,J ,K ⎪
DI ,J ,K = A vr(J ) ,
(r j − r j −1 ) ⎪⎪
⎬ (A.21)
μeff I ,J +1,K ⎪
DI ,J +1,K = A vr(J +1) , ⎪
(r j +1 − r j )

μeff I ,J ,K + μeff I ,J +1,K + μeff I ,J ,K −1 + μeff I ,J +1,K −1 ⎪
DI , j ,k −1 = ρ A vz , ⎪
4( zk − zk −1 ) ⎪
μeff I ,J ,K +1 + μeff I ,J +1,K +1 + μeff I ,J ,K + μeff I ,J +1,K ⎪
DI , j ,k = ρ A vz ⎪
4( zk +1 − zk ) ⎪⎭

sendo A vθ , A vr e A vz são as áreas das faces do volume de controle de v com

centro em I, j , K nas direções θ , r e z, respectivamente. O termo fonte Sv na Eq.

(A.17), por sua vez, é dado por:

Sv = −(PJ +1 − PJ )Avr ( j ) −
⎛u* − u i*−1,J +1,K u i*,J ,K − u i*−1,J ,K ⎞ (A.22)
−ΔVv μ * effI , j ,K / r j2 ⎜ i ,J +1,K + ⎟⎟ ,
⎜ r (θ − θ ) rJ (θ i − θ i −1 )
⎝ J +1 i i −1 ⎠

sendo o último termo entre parênteses a discretização da derivada ∂u / ∂θ surgida


do lado direito da Eq. (A.1), em termos das componentes u * das iterações
anteriores. O termo ΔVv é o volume do volume de controle v com centro em I, j , K .

Somente com a obtenção dos campos de u , v e w que se segue com o


cálculo das equações de transporte das quantidades turbulentas k e ε, quando da
utilização do modelo de turbulência CK k-ε, cujas discretizações têm
desenvolvimento muito semelhante ao mostrado para as equações de conservação
da quantidade de movimento, não sendo mostradas aqui.
Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 143
Acoplamento Pressão-Velocidade

Entretanto, a solução do sistema de equações de conservação da quantidade


de movimento, Eqs. (A.5), (A.11) e (A.17), só pode ser obtida se o campo de
pressão do escoamento é conhecido, ou ao menos estimado. Como não existe uma
equação de transporte própria para a pressão, algum tratamento específico precisa
ser realizado para acoplar, de alguma forma, o campo de pressão ao campo de
velocidade, garantindo com que a equação de continuidade seja satisfeita. Para tal,
utiliza-se a metodologia descrita por Patankar (1980) e também por Versteeg e
Malalasekera (1995), conhecida como algoritmo SIMPLE (sigla em inglês para
Método Semi-Implícito para Equações Acopladas à Pressão), que será discutido na
seqüência.

Em princípio, reescrevem-se as Eqs. (A.11), (A.17) e (A.5) ( u , v e w ,


respectivamente) condensando-se os termos vizinhos ao ponto de cálculo de cada
equação, para facilitar o desenvolvimento:

ai ,J ,K ui ,J ,K = ∑ anbunb − (PI +1 − PI )Auθ + Su' (A.23)

aI , j ,K v I , j ,K = ∑ anbv nb − (PJ +1 − PJ )Avr + Sv' (A.24)

aI ,J ,k w I ,J ,k = ∑ anbw nb − (PK +1 − PK )Awz + Sw' (A.25)

onde os índices “ nb ” ( de “neighbors”) indicam a condensação dos pontos vizinhos e


os termos fonte Su' , Sv' e Sw' representam os termos fonte originais das Eqs. (A.11),

(A.17) e (A.5) porém descontados dos respectivos termos de pressão, que foram
propositalmente explicitados nas equações acima.

Assumindo-se um campo de pressão estimado, P * , pode-se obter a solução


de um campo estimado (e ainda incorreto) para as componentes da velocidade, u * ,
v * e w * , descrito pelo sistema:
Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 144
Acoplamento Pressão-Velocidade

ai ,J ,K ui*,J ,K = ∑ anbunb
*
− (PI *+1 − PI * )Auθ + Su' (A.26)

aI , j ,K v I*, j ,K = ∑ anbv nb
*
− (PJ*+1 − PJ* )Avr + Sv' (A.27)

aI ,J ,k w I*,J ,k = ∑ anbw nb
*
− (PK* +1 − PK* )Awz + Sw' (A.28)

O objetivo do método SIMPLE (Patankar, 1980) é, a partir das estimativas (*),


promover uma evolução eficiente das estimativas de P * ao longo do processo
iterativo. Para isso, propõe-se que as estimativas de pressão e velocidade estejam
relacionadas com seus campos corretos da seguinte maneira:

P = P* + P' (A.29)

u = u* + u' (A.30)

v =v* +v' (A.31)

w = w* + w' (A.32)

onde P ' , u ' , v ' e w ' são as correções que, somadas às estimativas P * , u * , v * e
w * , reproduzem os campos exatos de P , u , v e w . Subtraindo as equações
corretas (Eqs. (A.11), (A.17) e (A.5)) pelas equações estimadas (Eqs. (A.26), (A.27)
e (A.28)) e usando as correções acima, obtém-se:
Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 145
Acoplamento Pressão-Velocidade

ai ,J ,K ui',J ,K = ∑ anbunb
'
− (PI '+1 − PI ' )Auθ (A.33)

aI , j ,K v I', j ,K = ∑ anbv nb
'
− (PJ' +1 − PJ' )Avr (A.34)

aI ,J ,k w I',J ,k = ∑ anbw nb
'
− (PK' +1 − PK' )Awz (A.35)

Patankar (1980) discute que, no processo iterativo, não há grande prejuízo


em se desprezar, nesse ponto, os termos ∑a nb
'
unb , ∑a v '
nb nb e ∑a
nb
'
w nb , de modo

que as equações acima passam a ser escritas na forma:

ui ,J ,K = ui*,J ,K − (PI '+1 − PI ' )d i ,J ,K (A.36)

v I , j ,K = v I*, j ,K − (PJ' +1 − PJ' )dI , j ,K (A.37)

w I , j ,K = w I*, j ,K − (PK' +1 − PK' )dI , j ,K (A.38)

onde d i ,J ,K = Auθ / ai ,J ,K , dI , j ,K = Avr ( j ) / aI , j ,K e dI ,J ,k = Awz / aI ,J ,k . Obteve-se, assim,

expressões para as componentes corretas u , v e w em termos de suas


estimativas e das correções de pressão.

Aplicando-se um balanço entre as vazões mássicas que entram e saem do


volume de controle escalar da Figura 4.1 (ou seja, com centro em I, J , K ), tem-se:

( ρuA )i ,J ,K − ( ρuA )i −1,J ,K + ( ρvA )I , j ,K − ( ρvA )I , j −1,K + ( ρwA )I ,J ,k − ( ρwA )I ,J ,k −1 = 0 (A.39)


Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 146
Acoplamento Pressão-Velocidade

Note que, por se assumir o arranjo de malha deslocado, as componentes da


velocidade que atravessam as faces do volume de controle escalar, que compõem
os balanços da Eq. (A.39), não precisam de interpolação, já que são calculadas
sobre os pontos deslocados em cada direção. Assim, pode-se substituir cada
velocidade da Eq. (A.39) pelas relações (A.36), (A.37) e (A.38), procedimento que,
após manipulação algébrica, gera uma equação para as correções de pressão, na
forma:

aI ,J ,K PI ,' J ,K = aI −1,J ,K PI '−1,J ,K + aI +1,J ,K PI '+1,J ,K + aI ,J −1,K PI ,' J −1,K +


(A.40)
+aI ,J +1,K PI ,' J +1,K + aI ,J ,K −1PI ,' J ,K −1 + aI ,J ,K +1PI ,' J ,K +1 + SP ,

onde:

aI −1,J ,K = ( ρ dA )i −1,J ,K , aI +1,J ,K = ( ρ dA )i ,J ,K ⎫


⎪⎪
aI ,J −1,K = ( ρ dA )I , j −1,K , aI ,J +1,K = ( ρ dA )I , j ,K ⎬ (A.41)

aI ,J ,K −1 = ( ρ dA )I ,J ,k −1 , aI ,J ,K +1 = ( ρ dA )I ,J ,k ⎪⎭

aI ,J ,K = aI −1,J ,K + aI +1,J ,K + aI ,J −1,K + aI ,J +1,K + aI ,J ,K −1 + aI ,J ,K +1 (A.42)

SP = − ρu * A ( ) i ,J ,K
(
+ ρu * A ) i −1,J ,K
(
− ρv * A ) I , j ,K
+
(A.43)
(
+ ρv * A ) I , j −1,K
(
− ρw * A )
I ,J ,k
(
+ ρw * A )
I ,J ,k −1

Dessa forma, manipulou-se a equação de conservação da massa para a


obtenção de uma equação para as correções de pressão, Eq. (A.40). Sua solução
gera o campo de P ' que, aplicado às Eqs. (A.36), (A.37) e (A.38), corrige os campos
das componentes u , v e w . O próprio campo de pressão P é corrigido pelo campo
resolvido de P ' usando a Eq. (A.29). Somente após as correções, calculam-se os
Apêndice A Discretização das Equações de Conservação pelo Método dos Volumes Finitos e 147
Acoplamento Pressão-Velocidade

novos campos de viscosidade turbulenta μt a serem usados na próxima iteração e,


quando da utilização do modelo de turbulência CK k-ε, as equações das variáveis k
e ε.

Os novos valores de u , v e w são então utilizados como aproximações para


a nova iteração, e o processo segue até que o critério de convergência adotado seja
atingido. No presente trabalho, assumiu-se como critério de convergência a
manutenção dos resíduos de todas as equações, com erro menor do que 0,1 % de
uma iteração a outra. O método de cálculo de tais resíduos não é mostrado neste
trabalho, sendo descrito por Spalding (1994). As matrizes correspondentes aos
sistemas de equações resultantes são resolvidas através do método TDMA (sigla em
inglês para Algoritmo para Matriz Tridiagonal), discutido por Versteeg e Malalasekera
(1995).

O algoritmo descrito neste apêndice diz respeito ao método SIMPLE


apresentado por Patankar (1980). O algoritmo utilizado pelo programa PHOENICS
CFD é uma adaptação denominada SIMPLEST (Spalding, 1994), que corresponde a
uma sigla em inglês para Método Semi-Implícito para Equações Acopladas à
Pressão, Reduzido. A biblioteca do programa, entretanto, não fornece a formulação
dessa adaptação, sendo a rotina computacional completamente fechada aos
usuários.
Apêndice B Usinagem dos Protótipos de Tubos com Corrugado Helicoidal para as Simulações Experimentais 148

APÊNDICE B - USINAGEM DOS PROTÓTIPOS DE TUBOS COM


CORRUGADO HELICOIDAL PARA AS SIMULAÇÕES
EXPERIMENTAIS

A bancada de usinagem de tubos com corrugado helicoidal consiste em um


suporte perfeitamente ajustável para o tubo de acrílico (Figura B.1-(a)), por dentro do
qual se introduz um fuso (com o passo de hélice desejado), Figura B.1-(b), com uma
ferramenta fixada em um suporte, na ponta do fuso, que se ajusta perfeitamente ao
diâmetro interno do tubo, Figura B.1-(c).

Ao se girar a manivela (Figura B.1-(b)), o fuso é retraído, e a ferramenta na


ponta do dispositivo conseqüentemente se retrai em movimento espiralado,
usinando a cavidade na forma helicoidal. Com esse dispositivo, não foi necessário
dividir o tubo em 12 partes como fora necessário para o corrugado anelar, mas em
apenas 3 partes, diminuindo assim a dificuldade de montagem posterior.

As diferentes configurações geométricas foram desenvolvidas variando-se a


espessura da ferramenta de usinagem (que corresponde ao próprio comprimento da
cavidade) e, conseqüentemente, o passo do fuso utilizado. A altura da cavidade é
designada aumentando-se a profundidade de corte da ferramenta em seu suporte
(Figura B.1-(c)). Uma imagem do momento de usinagem de um dos protótipos pode
ser visualizada na Figura B.1-(d).
Apêndice B Usinagem dos Protótipos de Tubos com Corrugado Helicoidal para as Simulações Experimentais 149

Figura B.1 - Detalhes da bancada de construção dos tubos com corrugado


helicoidal.
Apêndice C Cálculo das Incertezas de Medição nas Simulações Experimentais 150

APÊNDICE C - CÁLCULO DAS INCERTEZAS DE MEDIÇÃO NAS


SIMULAÇÕES EXPERIMENTAIS

As Tabelas de C.1 a C.8 abaixo apresentam os resultados obtidos para as


incertezas de medição calculadas para os fatores de atrito medidos
experimentalmente, com base na metodologia descrita na seção 5.3. Nas tabelas, Q
representa a vazão volumétrica (em [m3 / s ] ) de cada simulação, ReD o número de

Reynolds correspondente, Δp / l o gradiente de pressão, f o fator de atrito medido


para cada caso e δ f a incerteza de medição no fator de atrito. A última coluna de
cada tabela mostra a relação percentual entre a incerteza de medição no fator de
atrito δ f com o valor medido, f .

Observa-se em geral que as maiores incertezas de medição são de cerca de


7 %, observadas para ReD = 5000 . O grande responsável pela maior incerteza de

medição para baixos números de Reynolds é o manômetro de coluna, pois nessas


situações a perda de carga do escoamento é muito baixa, e conseqüentemente
valores de coluna de água muito pequenos são medidos (o que aproxima a medição
da sua faixa de incerteza).

Para altos números de Reynolds, casos em que a coluna de água na medição


de Δp é substancialmente grande, incertezas da ordem de 1,5 % são observadas.
Tomando-se uma média aritmética de todos os valores percentuais obtidos para as
incertezas de medição, obtém-se uma incerteza média de 2,3 %.
Apêndice C Cálculo das Incertezas de Medição nas Simulações Experimentais 151

Tabela C.1 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado anelar, configuração G1.
Q [m3 / s ] ReD Δp / l [Pa/m] f δf δ f (%)
2,14E-04 10443 92,8 0,029294 9,44E-04 3,2
4,12E-04 20043 304,9 0,026116 5,18E-04 2,0
6,21E-04 30253 630,5 0,023769 4,05E-04 1,7
8,26E-04 40328 1079,1 0,022954 3,66E-04 1,6
1,03E-03 50338 1626,7 0,022212 3,43E-04 1,5

Tabela C.2 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado helicoidal, configuração G1.
Q [m3 / s ] ReD Δp / l [Pa/m] f δf δ f (%)
1,13E-04 5185 31,1 0,036144 2,41E-03 6,7
1,65E-04 7603 62,3 0,033556 1,36E-03 4,0
2,19E-04 10072 105,0 0,032342 9,62E-04 3,0
2,71E-04 12480 155,1 0,031098 7,69E-04 2,5
3,19E-04 14716 209,5 0,030199 6,64E-04 2,2
3,82E-04 17619 287,6 0,029076 5,78E-04 2,0
4,36E-04 20136 365,2 0,028261 5,28E-04 1,9
5,43E-04 25095 549,6 0,027384 4,71E-04 1,7
6,44E-04 29724 747,5 0,026541 4,35E-04 1,6
8,68E-04 40099 1262,9 0,024642 3,82E-04 1,6
1,09E-03 50495 1894,3 0,023372 3,53E-04 1,5
1,31E-03 60406 2658,9 0,022865 3,39E-04 1,5
1,74E-03 80482 4586,2 0,022219 3,24E-04 1,5
2,22E-03 102505 6937,2 0,020719 3,00E-04 1,4
Apêndice C Cálculo das Incertezas de Medição nas Simulações Experimentais 152

Tabela C.3 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado anelar, configuração G2.
Q [m3 / s ] ReD Δp / l [Pa/m] f δf δ f (%)
1,98E-04 10657 84,0 0,031037 1,07E-03 3,4
3,82E-04 20610 270,8 0,026903 5,52E-04 2,1
5,63E-04 30251 548,6 0,025147 4,38E-04 1,7
7,48E-04 40242 925,3 0,024026 3,89E-04 1,6
9,39E-04 50539 1416,8 0,023323 3,63E-04 1,6

Tabela C.4 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado helicoidal, configuração G2.
Q [m3 / s ] ReD Δp / l [Pa/m] f δf δ f (%)
1,06E-04 4918 28,1 0,036808 2,66E-03 7,2
1,63E-04 7546 61,7 0,034318 1,40E-03 4,1
2,18E-04 10129 104,4 0,032247 9,62E-04 3,0
2,70E-04 12534 152,7 0,030791 7,67E-04 2,5
3,27E-04 15166 215,0 0,029616 6,46E-04 2,2
3,88E-04 18008 291,9 0,028597 5,66E-04 2,0
4,39E-04 20403 367,0 0,028007 5,23E-04 1,9
5,43E-04 25238 542,3 0,027056 4,66E-04 1,7
6,47E-04 30045 769,4 0,027017 4,41E-04 1,6
8,57E-04 39782 1312,9 0,026296 4,07E-04 1,5
1,07E-03 49733 1999,3 0,025621 3,85E-04 1,5
1,29E-03 60046 2879,9 0,025318 3,74E-04 1,5
1,73E-03 80451 5027,1 0,024678 3,59E-04 1,5
2,17E-03 100766 7692,0 0,024010 3,47E-04 1,4
Apêndice C Cálculo das Incertezas de Medição nas Simulações Experimentais 153

Tabela C.5 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado anelar, configuração G3.
Q [m3 / s ] ReD Δp / l [Pa/m] f δf δ f (%)
1,99E-04 10414 87,9 0,032170 1,07E-03 3,3
3,91E-04 20499 302,9 0,028727 5,71E-04 2,0
5,74E-04 30189 609,0 0,026819 4,59E-04 1,7
7,73E-04 40691 1055,2 0,025647 4,10E-04 1,6
9,60E-04 50545 1618,7 0,025505 3,94E-04 1,5

Tabela C.6 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado helicoidal, configuração G3.
Q [m3 / s ] ReD Δp / l [Pa/m] f δf δ f (%)
1,09E-04 5024 31,1 0,038209 2,56E-03 6,7
1,63E-04 7487 62,9 0,034865 1,40E-03 4,0
2,18E-04 10025 105,0 0,032465 9,65E-04 3,0
2,75E-04 12631 159,4 0,031016 7,59E-04 2,4
3,24E-04 14882 216,2 0,030395 6,61E-04 2,2
3,79E-04 17431 287,6 0,029473 5,86E-04 2,0
4,29E-04 19939 364,6 0,029139 5,45E-04 1,9
5,47E-04 25171 566,7 0,027859 4,76E-04 1,7
6,51E-04 29962 787,8 0,027332 4,45E-04 1,6
8,67E-04 39879 1350,8 0,026452 4,08E-04 1,5
1,09E-03 50118 2056,7 0,025504 3,83E-04 1,5
1,30E-03 59897 2941,0 0,025530 3,77E-04 1,5
1,74E-03 80187 5095,5 0,024680 3,59E-04 1,5
2,18E-03 100293 7766,5 0,024109 3,48E-04 1,4
Apêndice C Cálculo das Incertezas de Medição nas Simulações Experimentais 154

Tabela C.7 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado anelar, configuração G4.
Q [m3 / s ] ReD Δp / l [Pa/m] f δf δ f (%)
1,98E-04 10373 85,5 0,031569 1,07E-03 3,4
3,90E-04 20430 298,0 0,028468 5,68E-04 2,0
5,83E-04 30497 622,9 0,026637 4,55E-04 1,7
7,75E-04 40483 1057,7 0,025558 4,08E-04 1,6
9,71E-04 50721 1624,4 0,025009 3,86E-04 1,5

Tabela C.8 - Cálculo das incertezas de medição para as simulações experimentais


em tubos com corrugado helicoidal, configuração G4.
Q [m3 / s ] ReD Δp / l [Pa/m] f δf δ f (%)
1,09E-04 4890 29,9 0,037796 2,62E-03 6,9
1,62E-04 7317 62,9 0,035808 1,41E-03 3,9
2,25E-04 10131 112,4 0,033378 9,41E-04 2,8
2,77E-04 12507 165,5 0,032262 7,62E-04 2,4
3,32E-04 14984 226,6 0,030850 6,48E-04 2,1
3,88E-04 17509 302,9 0,030205 5,81E-04 1,9
4,45E-04 20106 389,6 0,029466 5,32E-04 1,8
5,58E-04 25166 586,2 0,028295 4,72E-04 1,7
6,62E-04 29879 818,3 0,028022 4,46E-04 1,6
8,88E-04 40078 1414,3 0,026916 4,06E-04 1,5
1,12E-03 50416 2152,0 0,025880 3,80E-04 1,5
1,34E-03 60274 3053,4 0,025694 3,72E-04 1,4
1,79E-03 80851 5310,4 0,024773 3,53E-04 1,4
2,24E-03 100941 7941,2 0,023766 3,36E-04 1,4
Apêndice D Metodologia de Obtenção de Correlações para o Fator de Atrito 155

APÊNDICE D – METODOLOGIA DE OBTENÇÃO DE

CORRELAÇÕES PARA O FATOR DE ATRITO

O presente apêndice descreve as metodologias utilizadas para a obtenção de


correlações para o fator de atrito, processo discutido na seção 6.3.3, que venham a
fornecer métodos práticos para o cálculo do fator de atrito em tubos corrugados para
a faixa de números de Reynolds e geometrias de cavidade estudadas. Duas
propostas foram enunciadas: a de a obtenção de rugosidades equivalentes para os
tubos corrugados, que possibilitariam a utilização da equação de Colebrook (1939)
para tubos com rugosidade natural, e a de desenvolvimento de relações próprias
para o fator de atrito, através do reajuste das constantes utilizadas por Colebrook
(1939).

O desenvolvimento da primeira proposta parte da idéia de que, imaginando-se


que o comportamento do fator de atrito em tubos corrugados seja equivalente ao de
um tubo rugoso, é possível aproximar a rugosidade média do tubo corrugado como
uma rugosidade natural. Como a equação de Colebrook (1939) é desenvolvida para
materiais com rugosidade natural, a avaliação de uma rugosidade equivalente para
os tubos corrugados possibilita a utilização da relação, dada pela equação a seguir:

1 ⎛e/D 2,51 ⎞
1/ 2
= −2,0log ⎜ + 1/ 2 ⎟
(6.2)
f ⎝ 3,7 ReD f ⎠

onde “ e ” representa a rugosidade da superfície do tubo, e o termo e / D a


rugosidade relativa do tubo de diâmetro D . Desse modo, o objetivo é descobrir qual
o valor de e / D equivalente a uma das configurações do tubo corrugado, aqui
denominada rugosidade relativa equivalente, ( e / D )eq .

A metodologia proposta neste trabalho sugere que, usando-se os próprios


valores de ReD para os quais as simulações numéricas foram realizadas, é possível

calcular, para um dado valor de e / D , um valor correspondente de f , usando a Eq.


Apêndice D Metodologia de Obtenção de Correlações para o Fator de Atrito 156

(6.2), e compará-lo com o valor obtido numericamente para f . Como as simulações


numéricas compreendem uma série de combinações de ( ReD , f ) para diferentes

geometrias, calcula-se, para cada geometria, o desvio médio para toda a série de
( ReD , f ) em função de vários valores de e / D , de tal forma que se possa encontrar o

valor de e / D que proporciona o menor desvio médio possível de ser obtido, sendo
essa a rugosidade equivalente assumida para uma dada geometria.

A Tabela D.1 a seguir exemplifica o processo para a geometria G1 de


corrugado anelar, na qual são mostrados os desvios médios obtidos entre os fatores
de atrito numéricos e os calculados usando a Eq. (6.2) e a rugosidade relativa e / D
mostrada na primeira coluna. O desvio médio mostrado compreende a média
aritmética entre todos os fatores de atrito medidos para a geometria G1 em toda a
faixa de números de Reynolds simulada. Cada desvio individual calculado como
100 ⋅ ( fe / D − fnum ) / fnum , onde fe / D é o fator de atrito obtido para uma dada rugosidade

equivalente e / D e fnum é o fator de atrito obtido numericamente para o mesmo

número de Reynolds.

Tabela D.1 - Medição do desvio relativo médio dos fatores de atrito calculados pela
rugosidade e / D em conjunto com a Eq. (6.2) em relação aos dados numéricos
originais (exemplificação para geometria G1, corrugado anelar).
e / D Desvio (%)
0,0001 1,75
0,0002 1,19
0,0003 1,16
0,0004 1,59
0,0005 2,85

Nota-se, na Tabela D.1, que o menor desvio médio, assumindo-se precisão


de quatro casas decimais, ocorre para uma rugosidade equivalente de e / D = 0,0003
(1,16 % de desvio médio). Valores de e / D menores ou maiores do que 0,0003
proporcionam, logicamente, desvios médios cada vez maiores na interpolação dos
resultados. Logo, sugere-se que a rugosidade equivalente que descreve o atrito de
Apêndice D Metodologia de Obtenção de Correlações para o Fator de Atrito 157

um tubo com corrugado anelar com configuração geométrica de cavidade do tipo G1


seja ( e / D )eq = 0,0003 .

A Tabela D.2 resume os valores de rugosidade equivalente ( e / D )eq


calculados para todas as configurações geométricas deste trabalho, para corrugados
anelar e helicoidal, usando a mesma metodologia descrita para a Tabela D.1, sendo
b / D o comprimento da cavidade de cada geometria normalizado pelo diâmetro
interno.

Tabela D.2 – Resumo dos valores de rugosidade equivalente ( e / D )eq obtidos para

os resultados de tubos com corrugado anelar e helicoidal, para todas as


configurações geométricas.

( e / D )eq
b/D Anelar Helicoidal
G1 0,015 0,0003 0,0003
G2 0,03 0,0009 0,0012
G3 0,04 0,0014 0,0017
G4 0,04 0,0014 0,0018

A segunda proposta de aproximação dos dados numéricos compreende a


determinação de novas constantes para uma relação com a mesma forma da
equação de Colebrook (1939), em que o fator de atrito seja função do número de
Reynolds ReD e do próprio comprimento relativo da cavidade, b / D , isentando assim

a solução de uma rugosidade equivalente. Assumindo-se que a forma logarítmica da


equação de Colebrook (1939) seja adequada, a proposta de solução é da forma:

1 ⎛ b/D C3 ⎞
= C1 log ⎜ + ⎟ (6.3)
f 1/ 2 ⎝ C2 ReD f 1/ 2 ⎠
Apêndice D Metodologia de Obtenção de Correlações para o Fator de Atrito 158

Através dos pares ( ReD , f ) obtidos nas simulações numéricas para todas as

configurações geométricas, é possível se determinar os valores das constantes C1 ,

C2 e C3 que proporcionam a melhor interpolação dos resultados numéricos, de

acordo com um determinado critério. Para tal, assumiu-se neste trabalho o método
dos mínimos quadrados (Coleman e Steele, 1998), cujo desenvolvimento é mostrado
a seguir.

Primeiramente, é conveniente reescrever a Eq. (6.3), de modo à deixar o lado


direito da equação livre do termo logarítmico:

f −1/ 2
⎛ 1 ⎞
10 C1
= C2' ( b / D ) + C3 ⎜ 1/ 2 ⎟
(D.1)
⎝ ReD f ⎠

onde C2' = 1/ C2 . Embora o objetivo seja obter uma relação de f em função de b / D

e ReD , a própria forma implícita da equação faz com que as variáveis a serem

calculadas em função dos resultados numéricos sejam convenientemente alteradas.


Da Eq. (D.1), por exemplo, pode-se escrever que:

Y = C2' X1 + C3 X 2 (D.2)

f −1/ 2

onde, logicamente, Y = 10 C1
( )
, X1 = b / D e X 2 = 1/ ReD f 1/ 2 . Não há prejuízo algum

na forma final de Y , X1 e X 2 , pois os valores de f , b / D e ReD são conhecidos no

processo (ou seja, correspondem à base de dados, vindos das simulações


numéricas).

Com a forma da Eq. (D.1), conseguiu-se, como se observa na Eq. (D.2),


linearizar o problema, o que em muito facilita o método. Note, porém, que a
constante C1 , que precisa ser determinada, foi agregada ao termo Y . Portanto, uma
Apêndice D Metodologia de Obtenção de Correlações para o Fator de Atrito 159

solução iterativa deverá ser usada, encontrando-se diversas soluções para C2' e C3

em função da escolha de um valor estimado de C1 , até que o conjunto C1,C2' ,C3 ( )


atenda ao critério de minimização do erro da relação proposta.

O método dos mínimos quadrados consiste em minimizar o quadrado do


resíduo “ Res ” da Eq. (D.2), que é dado por:

Res 2 = ∑ ⎡⎣Yi − (C2' X1i + C3 X 2i ) ⎤⎦


2
(D.3)

onde Yi , X1i e X 2i correspondem aos valores de Y , X1 e X 2 para todas as

combinações de ( ReD , f ) obtidas numericamente. O processo está ligado, portanto,

à determinação das constantes C2' e C3 que minimizam o valor da Eq. (D.3).

Tomando-se as derivadas parciais de “ Res ” em relação à cada uma das


constantes e igualando-se o resultado à zero, encontram-se expressões para os
pontos de mínimo de “ Res ” em função das constantes C2' e C3 :

∂Res
∂C2
' ( )
= 2∑ ⎡⎣Yi − C2' X1i + C3 X 2 i ⎤⎦ [ − X1i ] = 0 ⇒

⇒ ∑Yi X1i = ∑ X12i C2' + ∑ X1i X 2i C3 (D.4)

∂Res
∂C3
( )
= 2∑ ⎡⎣Yi − C2' X1i + C3 X 2i ⎤⎦ [ − X 2 i ] = 0 ⇒

⇒ ∑Yi X 2 i = ∑ X1i X 2i C2' + ∑ X 22i C3 (D.5)


Apêndice D Metodologia de Obtenção de Correlações para o Fator de Atrito 160

Obteve-se, assim, um sistema formado por duas equações, (D.4) e (D.5),


para a determinação das duas constantes, C2' e C3 . O valor de Yi é calculado

utilizando-se uma aproximação para C1 , e os valores de X1i e X 2i obtidos dos

dados de b / D , f e ReD , com base nas definições da Eq. (D.2). A solução do

sistema formado pelas Eqs. (D.4) e (D.5) gera os valores de C2' e C3 ótimos para um

dado valor de C1 assumido.

A Tabela D.3 apresenta de modo simplificado o processo de busca pela


solução ótima para C1 , C2' e C3 , para corrugados anelar e helicoidal. Para cada

( )
conjunto solução C1,C2' ,C3 , obtém-se uma solução particular para a Eq. (6.3). Sua

eficiência em relação aos dados numéricos originais é avaliada em termos do


quadrado do coeficiente de correlação (fator R 2 ) entre a relação e os dados
numéricos originais, sendo os valores de R 2 também mostrados na Tabela D.3.

Nota-se que, para cada caso (anelar ou helicoidal), o fator R 2 atinge um valor
máximo para uma dada solução ( C ,C , C ) .
1
'
2 3 Observou-se que, para corrugado

anelar, o máximo ocorre entre −2,3 ≤ C1 ≤ −2,1, e para corrugado helicoidal entre

−2,1 ≤ C1 ≤ −2,0 .

Tabela D.3 – Cálculo das constantes C1 , C2' e C3 pelo método dos mínimos

quadrados e do fator R 2 entre a relação resultante e os dados numéricos originais.


Anelar Helicoidal
'
C1 C2
C3 R 2 C1 C2' C3 R2
-1,8 0,003 1,32 0,983 -1,80 0,005 1,04 0,984
-1,9 0,005 1,85 0,988 -1,90 0,009 1,46 0,987
-2,0 0,008 2,50 0,992 -2,00 0,013 1,99 0,989
-2,1 0,013 3,30 0,994 -2,10 0,019 2,63 0,989
-2,2 0,019 4,23 0,994 -2,20 0,027 3,39 0,987
-2,3 0,027 5,30 0,994 -2,30 0,037 4,27 0,985
-2,4 0,038 6,52 0,992 -2,40 0,050 5,27 0,983
Apêndice D Metodologia de Obtenção de Correlações para o Fator de Atrito 161

Através de um maior refinamento, encontrou-se que os valores ótimos C1

foram de -2,20 (cujos valores correspondentes de C2' e C3 são 0,019 e 4,23,

respectivamente) para corrugado anelar e -2,05 para helicoidal


( C2' = 0,016 , C3 = 2,3 ). Lembrando-se que C2 = 1/ C2' , as relações finais para

corrugado anelar e helicoidal são então dadas respectivamente por:

1 ⎛ b/D 4,23 ⎞
1/ 2
= −2,2log ⎜ + 1/ 2 ⎟
(6.4)
f ⎝ 51,5 ReD f ⎠

1 ⎛ b/D 2,3 ⎞
1/ 2
= −2,05log ⎜ + 1/ 2 ⎟
, (6.5)
f ⎝ 61,9 ReD f ⎠

válidas para 5000 ≤ ReD ≤ 100000 e 0,015 ≤ b / D ≤ 0,04 , que são justamente as

faixas de números de Reynolds e comprimentos de cavidade estudadas


numericamente. Observa-se que as constantes são razoavelmente distintas para
corrugado anelar e helicoidal, evidenciando a influência do corrugado helicoidal no
fator de atrito.

As discussões acerca da precisão das Eqs. (6.4) e (6.5) na representação dos


dados numéricos obtidos, e também da utilização das rugosidades equivalentes da
Tabela D.2 com a equação de Colebrook (1939), são convenientemente realizadas
na seção 6.3.3.

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