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Ricardo da Costa
(...)
Os muçulmanos golpearam os seus inimigos e atravessaram o rio Garonne,
assolando o país e levando inúmeros cativos. Aquele exército passou por todos os
lugares como uma tempestade devastadora. A prosperidade tornou esses
guerreiros insaciáveis.
Ao cruzarem o rio, Abderrahman arruinou o condado. O conde refugiou-se em
sua fortaleza, mas os muçulmanos avançaram contra ele e, entrando à força no
castelo, mataram o conde. Para tudo cediam suas cimitarras, que eram ladrões de
vidas.
Todas as regiões do reino dos francos temiam aquele exército terrível, assim, os
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francos recorreram a seu rei Caldus [Carlos Martel] e lhes contaram sobre a
destruição feita pelos cavaleiros muçulmanos, e como subjugaram, ao
atravessarem, toda a terra de Narbonne, Toulouse e Bordeaux. Eles também
relataram a morte do conde. Então o rei alegrou-os, declarando que iria ajudá-
los...
O rei montou em seu cavalo, e levou um exército que não pode ser contado, e
dirigiu-se contra os muçulmanos. Ele os encontrou na grande cidade de Tours.
Abderrahman e outros cavaleiros prudentes viram a desordem das tropas
muçulmanas, que estavam pesadas devido aos espólios de guerra; mas eles não se
aventuraram a desagradar os soldados ordenando que eles abandonassem tudo,
com exceção de suas armas e cavalos de guerra. Abderrahman confiou no valor
dos seus soldados e na boa sorte que estava lhe acompanhando. Mas a falta de
disciplina é sempre fatal aos exércitos.
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Assim, Abderrahman e suas hostes atacaram Tours para ainda adquirir mais
espólio. Eles lutaram contra esta cidade tão ferozmente que a fúria e a crueldade
dos muçulmanos para com os seus habitantes da cidade eram como a fúria e
crueldade de tigres raivosos. Eles assaltaram a cidade quase diante dos olhos do
exército que veio salvá-la. Era manifesto que Deus iria castigar tais excessos; e a
sorte logo virou-se contra os muçulmanos.
Próximo ao rio Owar [Loire], os dois grandes exércitos, de duas línguas e de dois
credos, estavam em ordem, um frente ao outro. Os corações de Abderrahman, de
seus capitães e de seus homens estavam cheios de ira e orgulho, e eles foram os
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que primeiro começaram a lutar. Os cavaleiros muçulmanos dirigiram-se com
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16/01/2018 A Batalha de Poitiers (732) por um cronista árabe anônimo | Idade Média - Prof. Dr. Ricardo da Costa
Notas
1. Carlos Martel (686-741) foi mordomo do Palácio da Austrásia (715-741)
2. Abu Said Abd ar-Rahman ibn Abd Allah al-Gafiqi, Wali (governador) de al-Andaluz
3. Aqui o cronista anônimo faz um grande elogio aos seus, pois a iniciativa do combate
era um ato muito considerado em batalha na Idade Média, tanto por muçulmanos
quanto por cristãos.
4. Traduzido e adaptado de CREASY, Edward. Fifteen Decisive Battles of the World. New
York, E. P. Dutton & Co., s/d, p. 168-169.
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