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SUMÁRIO
Capítulo Página
I - Conceito de Política - Noção de TGE - Política e Direito Constitucional 02
II – A origem do Estado 04
III – Constituição e Poder Constituinte 11
IV – Estado e Direito 15
V – Estado: povo, território e soberania 20
VI – Estado Moderno e democracia 28
VII – A separação de poderes 38
VIII - Formas e sistemas de governo 41
Bibliografia 47
CAPÍTULO I
CONCEITO DE POLÍTICA - NOÇÃO DE TGE - POLÍTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL
I - POLÍTICA
NOÇÃO:
“É uma disciplina de síntese, que sistematiza conhecimentos jurídicos,
filosóficos, sociológicos, políticos, históricos, antropológicos, econômicos,
psicológicos, valendo-se de tais conhecimentos para buscar o
aperfeiçoamento do Estado, concebendo-o, ao mesmo tempo como um fato
social e uma ordem, que procura atingir os seus fins com eficácia e justiça”.1
OBJETO:
“Estudo do Estado em geral, do Estado como fato social, que se repete
uniformemente, quanto à natureza intrínseca, no tempo e no espaço; é a
ciência que investiga e expõe os princípios fundamentais da sociedade política
denominada Estado, sua origem, estrutura, formas e finalidade.”2
1
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1979, p. 02.
2
AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. 23. ed. Rio de Janeiro: 1984, p. 10.
3
DALLARI, op. cit., p. 04.
2
Estuda o Estado em Geral, seus Estuda a organização de um Estado
elementos permanentes, sua origem e determinado. Ex: Dir. Constitucional
finalidade. Brasileiro.
Descreve a estrutura e funcionamento Descreve a analisa a constituição política
dos órgãos do Estado. de um Estado.
Analisa a formação política dos Estados, Analisa a estrutura, organização das
observando os fatos históricos, sociais e instituições e órgãos de um Estado.
políticos.
Estuda as formas, tipos e características Analisa o modo de aquisição e limitação
gerais dos Estados. dos poderes estatais.
A TGE, por ser geral, é anterior ao Direito Analisa a previsão de direitos e garantias
Constitucional, que acaba por se fundamentais expressos em um texto
fundamentar na TGE. constitucional.
3
CAPÍTULO II
A ORIGEM DO ESTADO
I - A ORIGEM DA SOCIEDADE
1. Sociedade natural
O primeiro a afirmar que a sociedade surge da própria natureza humana foi
Aristóteles, ao dizer que o homem é um animal político, ou seja, precisa viver
em sociedade para desenvolver sua plenitude. Por outro lado, aqueles que
vivem à margem da sociedade são os de natureza vil.
Posteriormente, no século I a.C., Cícero afirma que o homem para bem viver
procura o apoio comum, pois isto é da sua natureza.
São Tomás de Aquino compactua da mesma ideia, afirmando ser o homem um
animal naturalmente político, que só vive à margem da sociedade quando
extremamente superior aos demais homens, quando tiver anomalia mental,
ou quando houver um acidente que o distancie (exemplo: náufrago).
Na atualidade, Ranelleti afirma que o homem, em qualquer época ou estado
de civilização, sempre é encontrado vivendo socialmente, portanto, é da sua
natureza o agrupamento. A associação de humanos é condição essencial da
vida do homem, pois somente assim pode suprir suas necessidades, preservar
melhor a si mesmo e conseguir atingir os fins de sua existência.
O que diferencia as associações humanas das dos demais animais? Para
Aristóteles, somente o homem sabe discernir o certo do errado, tem conceitos
de justiça e portanto somente o homem é capaz de criar o Estado. Os demais
animais reúnem-se por instinto, o homem porque é de sua natureza
(necessidade) e vontade (raciocínio).
2. Contratutalismo
- A sociedade surge de um contrato hipotético entre os homens.
4
In MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 2. ed. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000, p. 55-56.
4
- Muitos autores adotam o contratualismo. Vejamos duas correntes:
1 - Thomas Hobbes (1588/1679), descrita em “O Leviatã”:
O homem vive inicialmente em estado de natureza: não há repressão às
ações, todos são livres, inclusive para usar a força. No confronto de duas
liberdades pode surgir o conflito.
Sem uma autoridade para reprimir o uso da força, todos estão ameaçados
pela violência. Esse estado ameaça a existência humana, pois não há ordem.
Para Hobbes, os homens em estado de natureza são egoístas, luxuriosos e
inclinados à agressão aos outros, para alcançar poder e protegerem-se dos
demais. É a chamada guerra de todos contra todos: o homem é o lobo do
homem.
Com a interferência da razão humana, celebra-se o contrato social em direção
ao estado civil (autoridade governamental controlando o uso da força). A vida
fica protegida pelo Estado que exerce o poder soberano. O Estado é uma
necessidade para o homem.
Assim são formuladas duas leis fundamentais: a) cada homem deve esforçar-
se pela paz, se não for possível por bem que seja então pela guerra; b) a
liberdade de todos os homens deve ser cerceada de forma homogênea, para
que haja respeito idêntico entre todos.
O contrato então é a irrestrita transferência de direitos dos cidadãos que são
conferidos ao Estado. Por uma vontade humana os homens restringem sua
liberdade em benefício da paz. Os cidadãos submetem-se a um terceiro (o
soberano) que está acima das partes para que então alcancem o estado civil.
Para Hobbes, os poderes conferidos ao governo devem ser absolutos, pois
melhor um governo ruim do que o estado de natureza. Assim, obedecer às leis
do governo deve ser considerado sempre correto por parte do cidadão. O
soberano somente poderá ser desrespeitado caso não esteja oferecendo à
sociedade paz e segurança.
Hobbes entende que as leis civis servem ao Estado. Por ser o soberano quem
faz as leis, ele não precisa se submeter a elas, pois pode fazê-las e revogá-las
conforme entender melhor.
Hobbes prefere ainda o Estado monárquico, pois assim não há desagregação
no poder, com disputas entre diferentes dirigentes.
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natureza, já que “se o homem nasceu livre, então por que se encontra, e se
submete a encontrar-se sob ferros?”.
Todavia, se a volta à uma situação sem o Estado é inconcebível, deve então a
lei pautar-se no direito natural (direitos humanos, por exemplo).
Observação: Segundo José Cretella Júnior e José Cretella Neto (in 1.000 Perguntas e
respostas sobre Teoria Geral do Estado. Rio de Janeiro: Forense, 2000), atualmente,
predomina uma corrente de pensamento mista, que reúne elementos do naturalismo
e também do contratualismo; ao mesmo tempo em que se entende existir uma
necessidade natural do homem de associar-se, reconhece-se a importância de sua
consciência e manifestação da vontade para moldar a forma de organização. O ser
humano é considerado, portanto, como um homem social.
3 – O poder social
IV - O ESTADO
1. Primeiras noções:
“Todas as sociedades políticas que, com autoridade superior, fixaram as
regras de convivência de seus membros” (Dallari, p. 46).
“Sociedade política dotada de certas características bem definidas.” (Dallari,
p. 45)
a) Estado Antigo
Também conhecido como Estado Oriental ou Teocrático.
Questões de família, religião, organização econômica, moral e filosofia se
confundiam na organização do Estado.
Natureza unitária: o Estado não comportava subdivisões, o poder único era do
monarca.
Religiosidade: o elemento teocrático do Estado. O monarca tinha legitimidade
divina para exercer o poder, bem como criava as normas como fruto da
vontade divina.
b) Estado Grego
Cada cidade (polis) tinha autonomia, independência e características próprias.
Por causa disto, e pela busca da autossuficiência, as polis formavam as
cidades-Estados.
Mesmo com conquistas militares de uma polis sobre outra região, a
característica de autossuficiência permanecia, ou seja, a nova região não era
incorporada ao Estado dominador.
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Na decisões políticas, a Grécia se destaca pela participação popular, havendo
o surgimento da democracia.
c) Estado Romano
Em princípio Roma teve características básicas de cidade-Estado. No entanto,
com a expansão das conquistas territoriais, superou-se a cidade-Estado e
tornou-se um império, com poder centralizado na Cidade de Roma, e com
unidades de poder espalhadas pelos territórios conquistados.
Roma surgiu da união de famílias, portanto as famílias mais importantes
dispunham de privilégios diversos.
d) Estado Medieval
- O cristianismo
Pretende-se a afirmação da igualdade entre os cristãos. Contudo, os não
cristãos são preteridos.
Ocorre a unificação da igreja católica. Com isso, surge a ideia de que todos
devem ser cristãos e submetidos à mesma ordem política. Daí advém o Estado
Universal, ou seja, o Império da Cristandade, capacitador de uma ordem
estatal única.
Com este intuito a Igreja confere à Carlos Magno o título de imperador, no ano
de 800. Entretanto, pelo fato da Igreja querer mandar demais e por causa da
desobediência dos reinos espalhados pela Europa, o império nunca se
constituiu com supremacia.
A briga entre o Papa e os Imperadores que se seguiram marcou os últimos
séculos da Idade Média, terminando apenas com o surgimento do Estado
Moderno, que confere supremacia de poderes ao monarca na ordem temporal
(não religiosa).
- As invasões bárbaras (século III ao VI)
Com as conquistas dos germanos, eslavos, godos, etc, no território europeu,
novos costumes se difundiram, bem como houve estímulo para que tais
regiões conquistassem autonomia, surgindo novos Estados. Isto abalou
profundamente o Império.
- O feudalismo
Com as constantes guerras e invasões, o comércio foi profundamente
prejudicado. Assim, a terra passa a ser o principal meio de subsistência, de
onde ricos e pobres tirarão a sobrevivência.
Surgem dois institutos que pulverizam ainda mais a concentração de poder,
ou seja, os senhores feudais aumentam seu poder próprio:
o A vassalagem: o proprietário menos poderoso de terras servia ao
senhor feudal, dando-lhe ainda uma contribuição pecuniária em troca
de proteção.
o O benefício: um pai de família, sem terras, recebia uma faixa de solo
para plantar, dividindo a produção com o senhor feudal. O senhor
feudal tinha total poder sobre o servo e sua família, podendo
determinar até mesmo a morte destes.
e) O Estado Moderno
Com a pulverização do poder, determinada pelos caracteres do Estado
Medieval, a busca pela unificação do controle político se intensificou.
Com a Paz de Westfália, surgem as principais características do Estado
Moderno:
1. soberania
2. território
3. povo
4. finalidade
f) O Estado Contemporâneo
Principalmente após o fim da II Guerra Mundial, a ordem política e econômica
mundial passa por alterações profundas.
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Atualmente o conceito de soberania sofre alterações, podendo ser
compartilhada.
Com a criação das comunidades de Estados, a noção de povo tem
acrescentada a ideia de cidadania da comunidade.
Surgem os blocos políticos, militares, comerciais e econômicos entre nações.
Surge a união entre países, com caráter econômico, social e político.
Há união entre Estados para preservação da paz e de interesses econômicos,
através da criação de organizações (ONU, OTAN, G7, etc).
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CAPÍTULO III
CONSTITUIÇÃO E PODER CONSTITUINTE
I - DIREITO CONSTITUCIONAL
II - CONSTITUIÇÃO
- Noções gerais:
A teoria do poder constituinte foi desenvolvida no século XVIII, período em que as
ideias do racionalismo prevaleciam. Tais ideias eram decorrentes de uma
profunda mudança de mentalidade dos séculos anteriores. O final da Idade Média
e a passagem para a Idade Moderna é marcada pelo fim do teocentrismo, assim,
todas as teorias políticas adotaram um posicionamento
racionalista/antropocentrista.
Com o Iluminismo e o próprio constitucionalismo, surge a ideia de origem popular
do poder. Nessa época o abade Emanuel Sieyès desenvolve a teoria do poder
constituinte, publicada no livro “O que é o Terceiro Estado”, às vésperas da
Revolução Francesa. O 3º Estado era o Povo (clero, nobreza e povo). Sieyès
questionava o que era o povo e o que tem sido o povo. Ele sustentava que
existiria um poder de origem popular, o poder constituinte, que teria a força de
elaborar a Constituição, que teria então uma característica de superioridade.
Seria superior até mesmo sobre os poderes constituídos, que seriam fruto do
poder constituinte.
A ideia de poder constituinte materializa-se com as primeiras constituições
escritas (EUA em 1787 e França em 1791). Não se tratam das primeiras
constituições, mas iniciam o constitucionalismo moderno. A Magna Carta na
Inglaterra, que no ano de 1215 limita os poderes do rei João Sem Terra, também
não é a primeira Constituição, mas nela encontramos, pela primeira vez, os
elementos essenciais do constitucionalismo moderno: limitação do poder do
Estado e declaração de direitos da pessoa.
1 - Titularidade
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- O titular do poder constituinte é o povo, pois a existência do Estado decorre da
soberania popular.
- A vontade da constituinte é a vontade do povo, que é expressa por meio de seus
representantes.
- Distingue-se titularidade (povo) de exercício (representantes do povo).
- Segundo o Prof. Dalmo Dallari, da própria noção de Constituição resulta que o
titular do poder constituinte é sempre o povo. Porém, como aponta o Prof. Celso
Bastos, titular também do poder constituinte pode ser uma minoria, quando o Estado
terá então a forma de aristocracia ou oligarquia. Por essa razão, alguns autores
fazem uma distinção entre titularidade e exercício do poder constituinte. Segundo
essa concepção, o titular seria sempre o povo, mas o seu exercício poderia ser
atribuído somente a uma parcela dele.
Dentro de uma concepção democrática, o titular do poder constituinte deveria ser
sempre o povo, que elaboraria uma nova Constituição por intermédio de
representantes legitimamente eleitos. Infelizmente, dentro de uma visão mais
realista, titulares são as forças que em um determinado momento histórico detêm os
fatores reais de poder.
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- Por causa disso, possui limitações constitucionais expressas e implícitas. Assim, é
passível de controle de constitucionalidade.
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ocorra em plena normalidade democrática, sem qualquer restrição a direitos
individuais ou à liberdade de informação, para que as consequências de eventuais
modificações do Texto Fundamental sejam amplamente discutidas antes de qualquer
deliberação. Exemplos: a) a Constituição brasileira de 1988 não admite emendas na
vigência de intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio: b) a
Constituição francesa não permite modificações com a presença de forças
estrangeiras de ocupação em território francês.
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CAPÍTULO IV
ESTADO E DIREITO
- A origem da concepção de Estado como pessoa jurídica pode ser atribuída aos
contratualistas, através da ideia de coletividade ou povo como unidade, dotada de
interesses diversos dos de cada um de seus componentes, bem como de uma
vontade própria, também diversa da vontade dos membros isoladamente
considerados.
- É certo que uma pessoa, física ou jurídica, deve ser dotada de vontade própria. No
caso da pessoa jurídica, a sua vontade deve ser diferenciada da vontade de seus
membros. Numa sociedade empresarial, por exemplo, deve prevalecer a vontade da
maioria dos sócios ou acionistas, ou seja, da coletividade.
- No entanto, no que tange aos Estados, a supremacia do interesse coletivo sobre os
interesses particulares da nobreza e classes no poder, demorou a acontecer. Durante
muitos séculos existiram governos autoritários e totalitários, que utilizavam o Estado
para realizar interesses particulares.
- Para tais teóricos a personalidade do Estado não está desligada da realidade, pois o
Estado torna-se uma pessoa de grande porte, precisando de tratamento próprio.
- Para Gierke, o Estado tem vontade própria, sendo um organismo, que por meio de
órgãos próprios atua sua vontade.
- Laband acentua que o Estado é uma unidade organizada com vontade própria,
sendo sujeito de direitos próprios. Assim, as relações jurídicas do Estado são
diferentes das relações jurídicas individuais de seus cidadãos.
- Por fim, Georg Jellinek explica que sujeito, em sentido jurídico, não é uma essência,
uma substância, algo material, e sim uma capacidade criada mediante a vontade da
ordem jurídica. Desse modo, a qualidade de sujeito pode ser conferida não apenas
aos indivíduos, mas também ao Estado. Para Jellinek, o Estado é uma unidade
coletiva, advinda da necessidade e da consciência de indivíduos, que formam as
instituições.
- O Estado se estabelece sobre bases jurídicas, no entanto, para que ele seja
realizável é imprescindível observarmos que ele tem também conteúdo político. Sua
atividade é dinâmica e está ligada a objetivos e justificativas, que acabam por
estabelecer os meios para atingir-se suas finalidades. Para melhor gerir os interesses
dos governados, o Estado precisa definir seus modos de atuação, esta definição
então é política (sistema de regras respeitantes à direção dos negócios públicos –
arte de bem governar o povo).
- Assim, a ordem jurídica estabelece para o Estado as regras para sua atuação. Por
sua vez, a ordem política auxilia na definição dos meios para realização da finalidade
do Estado, ou seja, seus fins políticos.
- A ordem política então depende do estabelecido na ordem jurídica, pois de outra
forma será ilegítima e ilegal. Para definição da organização política mais eficaz na
busca da realização dos interesses coletivos, deve a ordem política sempre respeitar
o regramento jurídico. Apesar de tal preocupação, a ordem não deixa de ser
substancialmente política.
1. O Poder Político
1 – Estado absolutista
- O Estado absolutista, existente principalmente após o término da Idade Média,
início da Idade Moderna, tem como principal ponto a concentração de poderes nas
mãos do monarca. Dessa forma, o rei pode legislar, julgar e administrar.
- Essa espécie de sistema é capaz de gerar governos autoritário e ditatoriais, exato
que não há como cobrar o governante por seus mandos e desmandos.
2 – Estado liberal
- O liberalismo inicia-se nos séculos XVI e XVII, época em que os Estados Nacionais
estavam em formação. A princípio, enquadrava-se como uma luta pela liberdade
religiosa, que deveria ser uma opção do cidadão e não uma imposição do Estado.
Tornou-se uma doutrina política, quando começou a pregar uma limitação do poder
do Estado e a defender as liberdades individuais na sociedade. Como teoria
econômica começa a perder forças com as mudanças políticas e sociais acontecidas
após a Primeira Guerra Mundial.
- O Estado liberal contrapõe-se diretamente ao absolutismo, de modo a aumentar as
liberdades civis, através da diminuição dos poderes do Estado. Traz como
características o declínio das monarquias, as declarações de Direitos, a separação de
Poderes e o Estado de Direito. De forma resumida, a ideia principal é de que o
governante também deve estar submetido às leis, pois assim são garantidos aos
indivíduos os seus direitos fundamentais.
- Já o neoliberalismo é uma doutrina político-econômica que faz a adaptação dos
princípios do liberalismo à economia. Baseada na retirada das normas que regulam o
mercado de trabalho, os bens e serviços, a teoria neoliberal agride propositalmente o
Estado, questionando suas intervenções na economia, buscando privatizações,
abrindo os mercados à concorrência internacional e ao capital estrangeiro. Os
primeiros impactos da teoria neoliberal na organização dos Estados começam a ser
sentidos na década de 1970, quando surgem os primeiros Estados organizados como
neoliberais.
3 – Estado social
- Na linha cronológica, é o modelo que sucede o Estado liberal.
- O Estado social, ou de bem-estar social (Welfare State), tem como principal
característica monopolizar todas as atividades que sejam de interesse da população,
deixando assim de agir apenas como ente político, passando a acumular funções
econômicas e privadas.
- O Estado social atua diretamente na prestação de serviços públicos de caráter
universal (saúde, educação, habitação, previdência social, etc.) e na regulação da
economia.
4 – Estado totalitário
- No regime político totalitário, existe uma corrente ideológica única, imposta certas
vezes por partido de massa (ex: Partido Comunista soviético), também único, de
forma que o poder político é exercido de forma concentrada e centralizada, por um
grupo dominante, que se perpetua no governo, somente podendo ser dele afastado
por meio de processos de ruptura, frequentemente com emprego de violência, como
revolução, golpe de estado, guerra civil, ou guerrilha.
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- O Estado e seus governantes encontram-se submetidos às leis, todavia, tais regras
são mudadas conforme a vontade dos dirigentes.
IV – NAÇÃO
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Alguns caracteres da ideologia:
- Universalização: é a criação de uma justificativa coerente de imagens e de representações que
explicam a realidade vivida. Os valores da classe dominante são aceitos como universais e verdadeiros.
- Lacuna ou ocultação: A ideologia é ilusória, pois oculta como a realidade é de fato. Seu conteúdo é
convincente, parece estar correto, mas possui partes silenciadas, ocultadas dos olhos da população.
- Abstração: A ideologia apresenta uma realidade sem contradições. Analisa a realidade pela aparência
social, sem levar em conta a organização cultural e social. As diferenças reais das condições de vida são
tratadas como pequenas diversidades. Assim, por exemplo, o pobre é pobre por culpa dele, não do
sistema.
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- Conceito de nação: Agrupamento humano, mais ou menos numeroso, cujos
membros, fixados num território, são ligados por laços históricos, culturais,
econômicos e/ou linguísticos.
- ESTADO E NAÇÃO
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CAPÍTULO V
ESTADO: POVO, TERRITÓRIO E SOBERANIA
I – POVO
II - TERRITÓRIO
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- Outros teorizaram, Jellinek por exemplo, que o Estado tem império quanto ao
território, ou seja, é o poder que o Estado possui sobre os que se encontram no seu
território. Assim, o direito estatal sobre o território é um reflexo da dominação sobre
as pessoas proprietárias das áreas que compõem o território.
2 - Limites do território
A - Quanto ao subsolo
- Por questões técnicas de difícil exploração das profundezas do subsolo, nunca
houve problemas que tivessem tornado necessária a criação de limites de
profundidade dos territórios para problemas que pudessem surgir entre Estados.
- Contudo, é pacífico que a exploração do subsolo é exclusiva do governo no Brasil. O
inciso IX, do artigo 20 da CF, determina que pertencem à União os minerais e o
subsolo do território brasileiro.
B - Quanto ao mar
- Há muito tempo atrás, o que importava para a delimitação de uma faixa marítima
territorial eram as questões de segurança. Assim, o primeiro critério para fixação de
mar territorial foi o alcance de uma bala de canhão no século XVII.
- Somente no século XX é que, com o imenso potencial das armas, deixou-se de lado
essa limitação definida pelo alcance de um equipamento de guerra.
- Diante disso, estabeleceu-se por um tratado internacional o mar territorial como a
faixa de três milhas marítimas.
- Também no século XX, houve interesse em exploração comercial de faixa exclusiva
do mar, como se território único do país fosse. Assim, a quantidade de milhas
marítimas precisou ser ampliada para que se evitassem conflitos entre nações. As
questões de segurança ficaram em segundo plano, prevalecendo as situações
econômicas e até mesmo de preservação ambiental.
- Chegou-se a conclusão, consagrada em tratados internacionais, que o mar
territorial é de duzentas milhas marítimas (370,6 km).
- No Brasil, a situação foi regrada pela Lei Federal 8.617/1993, que dispõe sobre o
mar territorial, a zona contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma
continental brasileiros, e dá outras providências.
Art. 1º O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de doze milhas marítimas
de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular, tal
como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no
Brasil.
Art. 2º A soberania do Brasil estende-se ao mar territorial, ao espaço aéreo
sobrejacente, bem como ao seu leito e subsolo.
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Art. 4º A zona contígua brasileira compreende uma faixa que se estende das doze às
vinte e quatro milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem
para medir a largura do mar territorial.
Art. 5º Na zona contígua, o Brasil poderá tomar as medidas de fiscalização
necessárias para:
I - evitar as infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou
sanitários, no seu territórios, ou no seu mar territorial;
II - reprimir as infrações às leis e aos regulamentos, no seu território ou no seu mar
territorial.
Art. 6º A zona econômica exclusiva brasileira compreende uma faixa que se estende
das doze às duzentas milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que
servem para medir a largura do mar territorial.
III - SOBERANIA
1 - Noção histórica
- O conceito de soberania é uma das bases do Estado Moderno.
- Para que se pense no conceito de soberania, segundo Jellinek, necessário se faz que
outros poderes afrontem o poder dos Estados. Na Antiguidade o confronto do Estado
com a ordem privada era reduzido, pois sua função era apenas de prover segurança.
A situação de confronto entre Estado e ordem privada surge com maior ênfase na
Idade Média, aí então se inicia a conceituação e a necessidade de definição de
soberania. Começam a surgir maiores problemas com as disputas entre reis e
senhores feudais: uma soberania real outra feudal (século XII). A partir do século XIII
o monarca amplia seus poderes e sua esfera de competência, coordenando a justiça,
a polícia e o poder legislativo. Com esse domínio geral, o poder do rei passa a ser
supremo, ensejando uma soberania absoluta. Assim, no final da Idade Média, os
monarcas possuem poder supremo, sem grandes confrontos com a ordem privada ou
mesmo da Igreja, ou seja, todos respeitam o poder soberano do rei.
- Jean Bodin, por volta de 1576, esclarece que a soberania é o poder absoluto e
perpétuo de uma República. A palavra república é sinônima, neste caso, do conceito
moderno de Estado.
- Para Bodin, a soberania como poder absoluto significava que nenhum poder a
limitava. Assim, nenhuma lei humana, nem mesmo proferida pelo próprio rei, poderia
limitar o poder soberano do Estado. Contudo, Bodin entendia que se o monarca
desafiasse as leis divinas e da natureza, estaria aceitando declarar guerra a Deus.
- A característica de perpetuidade da soberania advém da ideia de que esta não pode
ser usufruída por tempo determinado.
- Além dessas características, outros autores apontaram a inalienabilidade da
soberania. Entre eles Rousseau em 1762, que adverte que a soberania não pode ser
transferida ou concedida a outro monarca ou Estado, isto porque é exercício da
vontade geral do povo.
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- Rousseau também aponta a indivisibilidade da soberania, já que somente será
vontade soberana quando for a vontade geral, com a participação do todo. A vontade
não é soberana quando há identificação de um desejo particular.
- Para Rousseau, o poder soberano então se limita pelo próprio bem estar do povo,
uma vez que o monarca não pode exigir excessivamente do povo, já que deve tratar
todos com igualdade.
- Com a Revolução Francesa, que combateu os Estados absolutistas, a ideia de
soberania popular ganha força, gerando ainda o conceito de soberania nacional.
2 - Concepções de Soberania
a) Concepção política: poder incontrastável de querer coercitivamente e de
fixar as competências. É a supremacia do poder do mais forte, ou seja, do
Estado sem contestações.
b) Concepção jurídica: poder de decidir em última instância sobre a
atributividade das normas, ou seja, a eficácia do direito. Poder soberano é
aquele que decide se a ordem jurídica deve ou não ser aplicada e deve ou
não ser modificada.
c) Concepção política de Miguel Reale: é o poder que tem uma nação de
organizar-se juridicamente e de fazer valer dentro de seu território a
universalidade de suas decisões nos limites dos fins éticos de convivência.
Dentro dos fins éticos de convivência o Estado tem possibilidade de impor
sua vontade. Tal concepção parte do pressuposto de que o Estado envolve
questões sociais, jurídicas e políticas.
3 – Características da soberania
a) Una: não se admite num mesmo Estado a convivência de duas soberanias.
b) Indivisível: não há partes separadas dentro da mesma soberania, ela representa a
vontade geral do povo. A teoria da divisão de poderes não afronta a soberania, pois
se divide funções de um mesmo poder.
c) Inalienável: não há Estado sem poder, então a soberania não pode ser alienada
(transferida a outro), pois faria desaparecer a noção de Estado.
d) Imprescritível: não pode existir prazo para a duração do Estado. A ideia é que o
poder soberano deve aspirar existência permanente.
e) Originária: nasce com a própria criação do Estado.
f) Incondicionado: só há limites postos pelo próprio Estado.
g) Coativo: o Estado além de ordenar tem como coagir ao cumprimento de suas
ordens.
4 – ESTADO E SOBERANIA
- Para a existência de um Estado, nos moldes modernos, imprescindível a presença
de no mínimo três elementos de identificação: território, população e governo. O
governo necessita de atributos fundamentais, que caracterizam sua ordem jurídica: a
soberania, a autonomia e o poder de autodeterminação.
- A soberania é atributo da ordem jurídica que se manifesta como poder a ser
exercido pelo governo, possuindo dois aspectos principais: no plano interno do país,
ao se apresentar como qualidade jurídica do poder de império do Estado (summa
potestas)6 e, como predicado de todos os Estados, garantido e determinando
igualdade entre todas as nações.
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Para Jean Bodin, o primeiro a trabalhar o conceito de soberania em 1576, o poder do Estado tem caráter
absoluto, consagrando assim a soberania como poder absoluto e perpétuo de uma república. Cabe observar, no
entanto, o contexto histórico de tal afirmação, que apresentava um cenário de redução de poderes dos senhores
feudais para concentração nas mãos do monarca.
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- Assim, o governo pode possuir o atributo da soberania interna e, ao possuir
capacidade de manter relações com outros Estados porque estes o reconhecem
como governo soberano, possuir o atributo da soberania externa. A soberania
externa confere ao Estado condição homóloga aos demais países, tornando suas
relações, ao menos no campo teórico, horizontais. Desta maneira, é possível afirmar
que não há entidades de poder superior aos países soberanos7, mas a existência de
uma ordem jurídica internacional imprime certos e necessários limites aos Estados.
4.3 - Integração
- Atualmente a grande demanda por acordos entre nações advém das necessidades
econômicas mundiais. O regionalismo aparenta ser uma possível solução para a
sustentabilidade ou progresso comercial das nações frente ao fenômeno da
globalização.
- O aprofundamento da cooperação, na forma regional, pode levar a um Direito da
Integração. Emerge o Direito da Integração quando os laços entre as nações
extrapolam a simples cooperação econômica, ao objetivarem além do envolvimento
econômico outras aspirações mais profundas, quais sejam, uma unidade política,
7
Expressa tal entendimento o artigo 12 da Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA): “Os direitos
fundamentais dos Estados não podem ser restringidos de maneira alguma.”
24
social, cultural e uma harmonização jurídica para posterior uniformização, que pode
levar a um Direito Comunitário.
- Objetivos da integração: a ampliação das potencialidades dos Estados-Membros
envolvidos, a manutenção da paz e a conclusão de um objetivo maior, como por
exemplo o mercado comum.
- A integração, via de regra, ocorre com a efetivação de acordos regionais entre
nações fisicamente próximas, não necessariamente limítrofes, mas com interesses
políticos semelhantes.
4.4 - Supranacionalidade
- É possível explicar o conceito de nação como o grupo de indivíduos com interesses
comuns, origens comuns, e principalmente, ideais comuns, apresentando uma
unidade homogênea. O prefixo “supra” pode significar aquilo que ultrapassa,
transcende. Assim, a supranacionalidade tem como base a noção de ser aquilo que
transcende o nacional.
- Para que haja ordem em um país, fundamental é a presença de um sistema de
organização legal, consubstanciado em normas. Estas normas são, em sua maioria,
emanadas do poder legislativo nacional, para aplicação no âmbito interno do Estado-
nação.
- Geralmente a organização de uma nação fundamenta-se em sua Constituição. Esta
Carta apresenta a forma de organização social, política, legislativa e judiciária. No
Brasil, por exemplo, a autoridade para criação de normas tem fundamento na
Constituição Federal, que é quem confere competências e poderes governamentais.
- Como sobredito, é certo que pode o Estado, através de dispositivo constitucional
interno, prever a supranacionalidade de tratados internacionais, no que tange a ele
próprio. Com isto é possível vislumbrar que a supranacionalidade tem caráter
voluntário que deve surgir de ato interno de cada Estado, por meio de transferência
de competência.
- A ideia de transferência de competência advém da noção de que os tratados
internacionais possuem a mesma função das normas emanadas do Poder Legislativo
de cada país: regular pelo Direito. Quando um Estado confere a um tratado
internacional o caráter de supranacionalidade, transfere voluntariamente parte de
sua competência legislativa.
25
- Para consecução do plano foi criada a Organização para Cooperação Econômica
Europeia (OCEE) pelo Programa de Reconstrução, constituída por dezessete nações.
- A união entre países também teve, na mesma época, exemplos militaristas com o
Tratado do Atlântico Norte (OTAN), surgido em 1949, para proteger os países
capitalistas integrantes do bloco e o Pacto de Varsóvia, engendrado em 1955 como
resposta dos soviéticos e demais aliados militares.
- Parece claro que com o sofrimento das guerras com perda de vidas humanas, com
a destruição da economia dos países envolvidos e com o sentimento de impotência
contra as nações dominantes do cenário mundial (EUA e URSS) os europeus
aprendem que a união entre países é a saída para a perpetuação da paz e a
superação das crises.
- Com tal intuito, os europeus dão ousado passo em busca da integração entre
nações, quando em 1957, assinam o Tratado de Roma, instituindo a Comunidade
Econômica Europeia. A grande novidade estava no fato de que, além da integração
econômica, buscava-se um mercado comum, com livre circulação de mercadorias,
serviços, capitais e pessoas.
- Concomitantemente à mudanças políticas e sociais acontecidas após a Primeira
Guerra Mundial, o liberalismo econômico entra em declínio, tornando os Estados os
principais determinadores das economias nacionais, intervindo e ditando regras para
funcionamento das atividades financeiras. Com o fim da Segunda Guerra, a política
do Welfare State (bem-estar social) passa a ganhar força, dadas as péssimas
condições da população europeia com a devastação causada pelos conflitos. A
política do Welfare State possibilitou crescimento econômico sem precedentes,
viabilizando com relativa eficácia a concretização dos direitos econômicos e sociais
para os segmentos subalternos, integrando-os à sociedade, através de políticas
econômicas visando o pleno emprego e permitindo intervenção dos Estados nas
atividades econômicas.
- Além das intervenções econômicas realizadas pelos Estados, a criação do Banco
Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), ou Banco Mundial, em
1944, e do Fundo Monetário Internacional (FMI), órgão das Nações Unidas, criado em
1946, implementa maiores intervenções criadoras de regras e diretrizes econômicas
na política econômica mundial, principalmente para os países subdesenvolvidos.
- As caríssimas políticas sociais implantadas no continente europeu (parte ocidental e
capitalista) provocam nas finanças estatais graves crises, aprofundadas com as
crises do petróleo de 1973 e 1979, que levou os países desenvolvidos a uma
preocupação extremamente individualista, tirando de circulação a ajuda financeira
que existia para os países de Terceiro Mundo (denominados de países
subdesenvolvidos e atualmente de países em desenvolvimento).
- Em consequência disto, na década de 1970, no momento em que os Estados
subdesenvolvidos, simples produtores de matéria-prima, pretendiam financiar ainda
mais suas políticas através do poderio econômico dos países do hemisfério norte,
encontraram as portas fechadas às suas reivindicações financeiras, aprofundando
suas crises econômicas, políticas e sociais. Nesse cenário, na década de 1970, o
Estado de Bem-Estar Social precisou dar lugar a uma política exigida pela classe
dominante, representada por corporações multinacionais, que pretendia debilitar e
disciplinar as instituições das classes trabalhadoras, desde os sindicatos até o
desmonte das instituições políticas de rendas pró-salários.
- Com intuito de promoção de um Estado mínimo, almejando liberdade econômica,
surge o neoliberalismo. A justificativa está na ideia de que é o mercado quem
proporciona bem-estar social e não o governo. Com isso tudo, o próprio mercado
deve regular sua atuação, passando a operar num clima de profunda liberdade, sem
interferência estatal.
- Soma-se a tudo isso a crise econômica nos países socialistas, principalmente na
União Soviética, que chega ao ápice e tem seu momento marcante com a queda do
Muro de Berlim8.
8
O Muro dividia a Alemanha em Oriental e Ocidental, veio abaixo no dia 9 de novembro de 1989.
Originalmente construído para conter o êxodo de intelectuais e trabalhadores alemães-orientais para o lado
ocidental, controlar a entrada de dinheiro e mercadorias do Ocidente, fatores que poderiam causar instabilidade
na economia socialista e evitar a entrada de espiões ocidentais, a barreira caiu tornando-se símbolo do fim do
bloco europeu socialista.
26
- Com o fim da bipolarização do mundo, com a abertura de mercados e a propagação
instantânea de informações, a globalização apresenta-se como um processo de
integração econômica e social que ocorre no mundo todo.
- As consequências são seriamente sentidas pelos Estados. Segundo Octavio Ianni,
“juntamente com a expansão das empresas, corporações e conglomerados
transnacionais, articulada com a nova divisão transnacional do trabalho e a
emergência das cidades globais, verifica-se o declínio do estado-nação. Parece
reduzir-se o significado da soberania nacional, já que o estado-nação começa a ser
obrigado a compartilhar ou aceitar decisões e diretrizes provenientes de centros de
poder regionais e mundiais”.
- Assim, a lei dos mercados (Lex Mercatoria), de cunho puramente econômico, passa
a definir as regras nas relações internacionais comerciais, influenciando,
consequentemente, as orientações do direito internacional e dos direitos nacionais.
- Essa nova ordem da economia global não pode ser repelida. Diante disso, para
proteção de mercados internos, dada a agressiva concorrência, para a criação de
possibilidades de progresso e manutenção da cultura nacional, surge uma forte
tendência da união dos países em blocos regionais. Os blocos, ao negociarem e
organizarem-se em conjunto têm mais chances de sobrevivência no atual cenário
econômico mundial.
27
CAPÍTULO VI
ESTADO MODERNO E DEMOCRACIA
1 - Democracia Direta
- Conceito: o povo vota nas decisões governamentais
- Atualmente é encontrada em alguns Cantões suíços (Appenzell, Unterwald Alto,
Unterwald Baixo, Glaris e Uri). Não é muito eficaz. Em Uri, em 1911, várias sessões
de votação foram dedicadas à questão de permitir dançar aos domingos, e em uma
única sessão aprovou-se um código civil completo.
- Características do sistema dos Cantões suíços:
a) Só para Cantões pouco populosos.
b) O trabalho das assembleias se limita a aprovar ou desaprovar o que foi
preparado pelo Conselho cantonal, que é formado por cidadãos eleitos.
c) A assembleia não possui aptidão para discutir problemas técnicos ou jurídicos
complexos .
2 – Democracia semidireta
- Conceito: possui as linhas gerais do regime representativo, porque o povo não
governa diretamente, mas tem, em certas oportunidades, o poder de intervir
diretamente por meio de referendos e plebiscitos.
- Não há possibilidade para todos discutirem a questão, são apenas consultados.
b) Plebiscito
a. Consulta prévia à opinião popular, para tomada de uma atitude
legislativa.
b. No Brasil, no ano de 1993, houve um plebiscito para decidir-se qual
sistema de governo iríamos adotar: presidencialismo, parlamentarismo
ou monarquia (Artigo 2º do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias).
29
c. No Brasil: artigo 49, XV; artigo 18, §§ 3º e 4º, todos da CF.
d. Em 11 de dezembro de 2011 houve importante plebiscito no Estado do
Pará, tendo como proposta a divisão do estado em três: Pará, Carajás e
Tapajós.
c) Iniciativa
a. Confere a certo número de eleitores o direito de propor uma emenda
constitucional ou um projeto de lei.
b. No Brasil: artigo 61, § 2º, da CF.
c. A Constituição do Estado de São Paulo expressa sobre a iniciativa
popular para leis estaduais:
i. Artigo 22, IV - A Constituição poderá ser emendada mediante
proposta de cidadãos, mediante iniciativa popular assinada, no
mínimo, por um por cento dos eleitores.
ii. Art. 24, § 3º - O exercício direto da soberania popular realizar-se-
á: (1) pela apresentação de projeto de lei subscrito por, no
mínimo, cinco décimos de unidade por cento do eleitorado do
Estado, assegurada a defesa do projeto por representante dos
respectivos responsáveis, perante as Comissões pelas quais
tramitar. (2) um por cento do eleitorado do Estado poderá
requerer à Assembléia Legislativa a realização de referendo
sobre lei; (3) as questões relevantes aos destinos do Estado
poderão ser submetidas a plebiscito, quando pelo menos um por
cento do eleitorado o requerer ao Tribunal Regional Eleitoral,
ouvida a Assembléia Legislativa; (4) o eleitorado referido nos
itens anteriores deverá estar distribuído em, pelo menos, cinco
dentre os quinze maiores Municípios com não menos que dois
décimos de unidade por cento de eleitores em cada um deles;
(5) não serão suscetíveis de iniciativa popular matérias de
iniciativa exclusiva, definidas nesta Constituição.
d. A Lei Orgânica do Município de Araraquara, em seu artigo 51, dispõe
que a “iniciativa popular será exercida pela apresentação à Câmara, de
projetos de lei subscrito por, no mínimo cinco por cento dos eleitores
inscritos no Município”.
d) Veto popular
a. Os eleitores, após aprovado um projeto de lei pelo legislativo, têm a
possibilidade, num prazo determinado, de requerer a aprovação
popular da lei. A lei então ficará suspensa até a próxima eleição,
quando os eleitores lhe darão vigor ou não.
e) Recall
a. Figura existente nos EUA que se aplica em duas hipóteses:
i. para revogar a eleição de um legislador ou funcionário eletivo.
Neste caso exige-se que certo número de eleitores requeira a
realização da votação.
ii. para reformar decisão judicial sobre constitucionalidade de lei.
3 – Democracia representativa
- Surge das dificuldades práticas dos sistemas direto e semidireto.
- Conceito: o povo concede um mandato a alguns cidadãos, para, na condição de
representantes, externarem a vontade popular e tomarem decisões em seu nome,
como se o próprio povo estivesse governando.
- Segundo Carvalho de Mendonça, mandato é “o contrato pelo qual alguém constitui
a outrem seu representante, investindo-o de poderes para executar um ou mais de
um ato jurídico.” Contudo, este conceito é do direito privado, sendo necessário que
se façam as seguintes ressalvas para os mandatos públicos:
a. O mandatário apesar de eleito por uma parcela do povo deve representar a
vontade do povo todo.
b. Apesar de eleito por parcelas do povo não está sujeito à vontade daqueles que
o escolheram, tendo autonomia para tomar suas decisões políticas.
30
c. O mandato é de caráter geral, servindo para todos os atos do cargo para o qual
foi escolhido.
d. Em geral, o mandato é irrevogável, não podendo o povo desconstituir o
mandatário.
1 – Noções
- A ideia de liberdade para os antigos (Grécia Antiga) era vista sob o prisma político,
ou seja, ter liberdade para os antigos era poder expressar suas opiniões e participar
da vida política. A liberdade para os antigos é a liberdade de exercício político
(exercício coletivo e direto dos direitos políticos). Segundo Benjamin Constant (in Da
liberdade dos antigos comparada à dos modernos, em Filosofia política, n. 2, Porto
Alegre, LP&M, 1985, p. 11):
“(A liberdade dos antigos) consistia em exercer coletiva, mas diretamente, várias
partes da soberania inteira, em deliberar na praça pública sobre a guerra e a paz, e
concluir com os estrangeiros tratados de aliança, em votar as leis, em pronunciar
julgamentos, em examinar as contas, os atos, a gestão dos magistrados; em fazê-los
comparecer diante de todo um povo, em acusá-los de delitos, em condená-los ou em
absolvê-los; mas, ao mesmo tempo que consistia nisso o que os antigos chamavam
liberdade, eles admitiam, como compatível com ela, a submissão completa do
indivíduo à autoridade do todo. Não encontrareis entre eles quase nenhum dos
privilégios que vemos fazer parte da liberdade entre os modernos. Todas as ações
privadas estão sujeitas a severa vigilância. Nada é concedido à independência
individual.”
- De toda forma, cumpre salientar que somente os cidadãos (excluídas as mulheres e
escravos) tinham liberdade. Aos políticos (cidadãos homens) é conferida a igualdade
(sustentáculo da liberdade) para a participação. Dessa maneira todos os políticos
têm direitos iguais. Os demais (mulheres, crianças e escravos), não têm os mesmos
direitos porque são “diferentes”, portanto não possuem liberdade.
– Todavia, o conceito de liberdade sofreu modificações na Idade Moderna. A
liberdade para os modernos passou a ser interpretada como o direito de somente ter
restrição de direitos na conformidade da lei. Direito de poder usufruir de todos os
direitos (liberdade de expressão, de comércio, de trabalho, de negociar, etc) e
somente ser cerceado por disposições legais limitativas.
- A diferença básica entre a liberdade antiga e a moderna é que os antigos se
preocupavam com a polis, os modernos com o poder usufruir do capital. Por causa
desse distanciamento do homem moderno com a vida política, cria-se o sistema
político representativo. A liberdade moderna procura permitir ao homem o
aproveitamento da vida privada (base individualista).
2 - Os Partidos Políticos
- Os partidos políticos surgem com os sistemas eleitorais e a necessidade de
representação que se moldou no século XIX. Historicamente os partidos políticos
surgem em função do aumento da participação política advindo da Revolução
Francesa de 1789 e estadunidense de 1776, bem como do incremento das relações
sociais com o aumento da vida urbana. Surgem no momento em que o absolutismo
está em decadência e, em contrapartida, aumenta a participação popular. A
burguesia necessitava de um sistema que garantisse seus anseios, sem obrigar a
participação direta e diária.
- A democracia evoluiu muito com os partidos políticos, uma vez que estes disputam
entre si, invocando cada um seus ideais, possibilitando assim aos eleitores escolher
conforme a doutrina que mais se assemelha aos seus anseios. Nesse sentido, os
partidos representam interesses de grupos. Todavia, a representação de interesses
não é necessariamente democrática, sendo certo que já existiram e existem partidos
que garantem a transmissão de ideologias de dominação: Partido Nazista, Partido
Facista, Partido Comunista em países comunistas, etc.
- Um partido político pode ser visto como “qualquer grupo de pessoas unidas por um
mesmo interesse e que tem como objetivo final conseguir exercer o poder político.”
(Reinaldo Dias, p. 177).
31
- Para Paulo Bonavides (apud Dias, p. 179), o partido político “é uma organização de
pessoas que inspiradas por ideias ou movidas por interesses, buscam tomar o poder,
normalmente pelo emprego de meios legais, e nele conservar-se para realização dos
fins propugnados”. Interessante salientar que, quando o partido político não alcança
o poder, faz parte de sua natureza também agir como oposição.
- Já para Max Weber os partidos são relações associativas baseadas em recrutamento
de cidadãos para garantir aos seus membros oportunidades, que podem ser ideais ou
materiais, de realizar fins objetivos e/ou a obtenção de vantagens pessoais. Weber
ainda ressalta que os partidos tem dois principais objetivos: (1) organização para
concessão de cargos políticos ou estatais aos seus membros, (2) concretização de
ideais políticos.
32
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
- A CF/88 assegura ainda aos “partidos políticos autonomia para definir sua estrutura
interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o
regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus
estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.” (art. 17, § 1º).
- Os partidos políticos possuem personalidade jurídica, que depende de registro de
seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.
- Como forma de apoiar e garantir o pluripartidarismo, a CF garante que os partidos
políticos terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à
televisão, na forma da lei.
- Importante ressaltar também, que a Constituição veda expressamente partidos
políticos ou associações de caráter paramilitar (CF, art. 17, § 4°). Organizações
paramilitares são órgãos particulares que se estruturam de forma análoga às Forças
Armadas. Isso porque, o uso do poder de coerção deve ser restrito ao Estado, não se
facultando a organismos particulares a estruturação em forma bélica, em razão dos
evidentes riscos à ordem social e democrática.
- Já o artigo 150, VI, c, estabelece que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios instituir impostos sobreo patrimônio, renda ou serviços dos
partidos políticos.
IV – SUFRÁGIO
- Uma vez que o povo não pode governar diretamente, foi criado o sistema de
representação. O sufrágio, ou voto, é a melhor forma de colocar em funcionamento o
sistema de representação.
- Dada a seriedade e importância do voto, bem como os erros perpetrados pelo povo
nas votações, criaram-se dois sistemas de sufrágio: universal e restrito.
- Consagrado pela Revolução Francesa, o sufrágio universal afirma que o voto é de
todos. Contudo, a expressão não tem caráter absoluto, havendo restrições ao direito
de votar.
- A própria Revolução Francesa foi contraditória: buscava a igualdade para todos,
mas descreveu um sistema em que os governantes deveriam ser escolhidos entre os
“melhores”. Assim sendo, o termo universal acabou por dar direito aos que não eram
nobres de votar, contudo, somente aqueles que tinham capacidade econômica e
intelectual, podiam votar. Além disso, as mulheres não poderiam votar de forma
alguma. Esse duplo critério demonstra que o sufrágio universal francês da época
tratava-se de sufrágio restrito, no entanto, apresentou amplo avanço nos sistemas
até então existentes.
- O sufrágio universal, atualmente, garante a cidadania ativa, possuindo alguns
sistemas certas restrições. Destacam-se as seguintes:
a) Por motivo de idade: requer-se assim a maturidade do eleitor. No Brasil, por
exemplo, o maior de 16 anos pode votar.
b) Por motivo de ordem econômica: este critério partia de pressupostos como os
mais ricos são os que votam melhor, pois querem o progresso do país, além
de quererem proteção aos seus bens e terem maior acesso à instrução e
pagarem os impostos mais altos. O critério econômico foi perdendo,
paulatinamente, sua importância, deixando de ser usado em diversos países,
entre eles o Brasil.
c) Por motivo de sexo: inicialmente as mulheres não votavam. A conquista de tal
direito inicia-se no século XIX nos EUA e até hoje vem ganhando espaço.
d) Por deficiência de instrução: a situação vem sendo abrandada. Inicialmente
exigia-se comprovação de instrução média, depois comprovação de
alfabetização. Atualmente, países com o Brasil, aceitam que analfabetos
também votem, desde que se alistem.
e) Por deficiência física ou mental: por ser o voto secreto e pessoal, não poderia
haver alguém auxiliando no voto do deficiente. Atualmente no Brasil, os
deficientes físicos que conseguem exprimir sua vontade, podem
tranquilamente votar. Os deficientes mentais, desde que relativamente
33
capazes, também têm direito ao voto, nos mesmos termos dos maiores de 16
anos.
f) Por condenação criminal: reflete em cassação de direitos políticos enquanto
durarem os efeitos da sentença criminal (art. 15, III, CF/88).
g) Por engajamento no serviço militar: os conscritos (alistados) não podem ser
eleitores durante o período de serviço militar obrigatório (art. 14, § 2º, CF/88).
V – SISTEMAS ELEITORAIS
34
Parágrafo único. Os lugares não preenchidos em razão da exigência de votação
nominal mínima a que se refere o caput serão distribuídos de acordo com as
regras do art. 109.
Art. 109. Os lugares não preenchidos com a aplicação dos quocientes partidários
e em razão da exigência de votação nominal mínima a que se refere o art. 108
serão distribuídos de acordo com as seguintes regras:
I - dividir-se-á o número de votos válidos atribuídos a cada partido ou coligação
pelo número de lugares definido para o partido pelo cálculo do quociente
partidário do art. 107, mais um, cabendo ao partido ou coligação que apresentar
a maior média um dos lugares a preencher, desde que tenha candidato que
atenda à exigência de votação nominal mínima;
II - repetir-se-á a operação para cada um dos lugares a preencher;
III - quando não houver mais partidos ou coligações com candidatos que atendam
às duas exigências do inciso I, as cadeiras serão distribuídas aos partidos que
apresentem as maiores médias.
§ 1º O preenchimento dos lugares com que cada partido ou coligação for
contemplado far-se-á segundo a ordem de votação recebida por seus candidatos.
§ 2º Somente poderão concorrer à distribuição dos lugares os partidos ou as
coligações que tiverem obtido quociente eleitoral.
Art. 110. Em caso de empate, haver-se-á por eleito o candidato mais idoso.
Art. 111. Se nenhum Partido ou coligação alcançar o quociente eleitoral, considerar-
se-ão eleitos, até serem preenchidos todos os lugares, os candidatos mais votados.
Art.112. Considerar-se-ão suplentes da representação partidária:
I - os mais votados sob a mesma legenda e não eleitos efetivos das listas dos
respectivos partidos;
II - em caso de empate na votação, na ordem decrescente da idade.
Parágrafo único. Na definição dos suplentes da representação partidária, não há
exigência de votação nominal mínima prevista pelo art. 108.
Art. 113. Na ocorrência de vaga, não havendo suplente para preenchê-la, far-se-á
eleição, salvo se faltarem menos de nove meses para findar o período de
mandato.
Resumo:
- As cadeiras no legislativo serão definidas pelo quociente partidário.
- Quociente partidário = quociente eleitoral : nº de votos válidos p/ mesma legenda.
- Quociente eleitoral = nº de votos válidos : nº de cadeiras
- Votos válidos = nº votos – nulos e em branco.
- Cada partido elege o número de candidatos que o quociente partidário indicar.
- Dentro do partido são escolhidos os candidatos com maior nº de votos nominais.
- Em caso de empate o candidato mais idoso é escolhido.
- Em 2015 foi criada nova regra: o candidato tem que atingir, em votos nominais, no
mínimo 10% do quociente eleitoral.
Exemplo:
Num colégio eleitoral de 1.000 votos válidos, para preenchimento de 10 cadeiras.
Partido A B C D E
Votos 150 200 350 50 250
Quociente eleitoral = 1000 : 10 (cada 100 votos = 1 cadeira)
Partido A B C D E
Cadeiras 01 02 03 Zero 02
Atribuição das cadeiras faltantes => votos válidos do partido : (nº cadeiras
conquistadas + 1)
Ex: Partido C => 350 votos : (03 + 01) = 87,5
Partido E => 250 votos : (02 + 01) = 83,33 Este resultado atribui as cadeiras
Partido B => 200 votos : (02 + 01) = 66,66
35
Partido A B C D E
Cadeiras 01 02 04 zero 03
Contexto histórico:
- Em 15 de novembro de 1889 acontece o fim da monarquia, destituindo-se o
Imperador, uma vez que é proclamada a República Federativa (Estados Unidos do
Brasil).
37
- A proclamação da república foi um movimento de pouca participação social, tendo
acontecido dentro dos quartéis militares.
- O Brasil era, à época, a única monarquia do continente.
- Houve profunda influência norte-americana, que propunha o sistema republicano
presidencialista.
- As províncias passaram a Estados autônomos e também poderiam editar suas
Constituições.
- O principal participante da Assembleia Constituinte foi Rui Barbosa. Alguns autores,
como Wilson Accioli, dizem que Barbosa redigiu a Carta Federal sozinho.
38
CAPÍTULO VII
A SEPARAÇÃO DE PODERES
I – INTRODUÇÃO
9
Época em que se buscava um liberalismo (redução do intervencionismo estatal nas atividades particulares).
39
Estado cabe fazer as leis e depois só intervir para punir quem não as
cumprisse, ou seja, o autor diminui as possibilidades de intervenção estatal.
Este raciocínio leva a conclusão de que o que Montesquieu buscava não era a
eficiência do Estado, e sim a garantia das liberdades individuais.
e) Assim, no século XVIII, os países que buscavam deixar ou evitar o absolutismo,
numa corrente geral de liberalismo (não intervenção estatal), começam a
adotar a divisão tripartida de poderes em suas Cartas Constitucionais.
IV - O SISTEMA NO BRASIL
41
CAPÍTULO VIII
FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO
1 - Preliminarmente
- Para maior parte dos autores os termos formas de governo e regime político são
sinônimos.
- Em sentido estrito a expressão formas de governo é aplicada ao estudo dos órgãos
de governo, através de sua estrutura fundamental e de como estão relacionados.
- Assim sendo, cabe apenas um estudo de características gerais sobre as formas de
governo, pois cada Estado tem suas peculiaridades. Estudam-se, portanto, as
características básicas encontradas em grande número de Estados: são as chamadas
formas clássicas de governo (monarquia e república).
- Importa salientar ainda, que não serão estudados os governos formados pela força,
ou seja, as tiranias, ditaduras totalitárias, pois essas não seguem regras políticas
naturais, são simplesmente impostos pela força.
2 – Classificações
2.1 - Aristóteles
- A classificação mais antiga é a de Aristóteles, que se baseia no número de
governantes e é válida até os dias de hoje:
a. Realeza – quando é um só indivíduo que governa;
a. A realeza, quando o governante deixa de agir pelo interesse geral e
atua segundo interesses próprios e individuais, degenera-se em tirania.
b. Aristocracia – governo exercido por um grupo relativamente reduzido em
relação ao todo;
a. Pode degenerar-se em oligarquia.
c. Democracia ou República – governo exercido pelo próprio povo.
a. Pode degenerar-se em demagogia.
2.2 – Maquiavel
- O ponto de partida é um Estado anárquico, que teria caracterizado o início da vida
humana em sociedade. Para melhor organizar a sociedade, os homens teriam
escolhido o mais forte entre eles para ser o chefe, obedecendo-o desde então.
Posteriormente, percebendo que aquela escolha não era a melhor a ser feita,
passaram a eleger o mais justo e sensato como chefe. Isso tudo deu origem à
monarquia, que de eletiva passou a hereditária. A monarquia degenerou-se e criou-
se a tirania. Por causa dessa tirania, a nobreza, por meio de conspirações, toma o
poder do rei e funda a aristocracia, orientada para o bem comum. Com o tempo, os
descendentes dos aristocratas, que não conheceram a tirania e não estavam
preocupados com o bem comum, degeneram a aristocracia em oligarquia. O povo,
não suportando mais as injustiças, destitui pela revolução o governo, criando a
democracia ou governo popular. Quando os representantes do povo começam a agir
em proveito próprio, degenera-se o poder e alcança-se a anarquia novamente.
- Esses fatos sempre se sucederam na história dos povos segundo Maquiavel. Para
evitar esses ciclos, faz-se necessária a conjugação da monarquia, da aristocracia e
da democracia em um só governo.
- Maquiavel prevê então, em “O Príncipe”, que desde que respeitados o interesse
comum, deve se estabelecer a forma de governo por meio da monarquia ou da
república.
2.3 – Montesquieu
- O autor, que tanta influência prática teve e tem, apontou três formas de governo:
a. República – o povo como um todo, ou uma parcela deste povo, detém o poder
soberano;
b. Monarquia – um só governa, mas de acordo com leis fixas e estabelecidas;
c. Despotismo – uma só pessoa governa, sem seguir leis fixas e estabelecidas,
agindo conforme seus caprichos e desejos particulares.
42
3 – Monarquia e República
- Percebe-se assim, que as formas fundamentais de governos são monarquia e
república.
3.1 – Monarquia
- Forma de governo adotada há vários séculos, sendo que já foi usada por quase
todos os Estados.
- Após um período em que se enfraquece, começa a ganhar força novamente com o
surgimento do Estado Moderno, que vem da necessidade de governos fortes, não
sujeitos à limitações da ordem jurídica, surgindo a monarquia absoluta.
- Com o aumento da resistência ao absolutismo, por interesse principalmente da
burguesia, já a partir do século XVIII, surgem as monarquias constitucionais. O rei
governa, mas sujeito às regras constitucionais.
- Posteriormente o poder do rei sofre novo decréscimo, surge a monarquia
parlamentarista. O monarca não mais governa, atua apenas como Chefe de Estado,
tendo praticamente somente atribuições de representação.
- A favor da monarquia:
Sendo poder vitalício e hereditário, o monarca está acima das disputas
políticas, podendo sempre intervir com autoridade mesmo durante crises
políticas.
O monarca promove união no Estado, já que todos veem nele o único governo
possível, eliminando assim disputas entre correntes inimigas, o que gera
estabilidade política.
O monarca é alguém que, desde o nascimento, recebe uma educação
especial, preparando-se para governar.
- Contra a monarquia:
Se o monarca não governa (quem o faz atualmente é o parlamento), torna-se
uma inutilidade muito dispendiosa, que sacrifica o povo a sustentá-lo e a toda
sua família.
Se for o monarca quem governa, mesmo que com toda sua preparação
educacional, torna-se perigoso colocar o destino de todo um povo nas mãos
de alguém que não tem responsabilidade política e pode gerir os interesses do
Estado conforme os desejos de sua família.
A unidade do Estado e a estabilidade das instituições não podem depender de
um fator pessoal e sim da ordem jurídica, fator objetivo e muito mais eficaz.
A monarquia é totalmente antidemocrática, uma vez que o povo não elege
seu maior representante.
3.2 – República
- Opõe-se à monarquia, contemplando o ideal de democracia.
- A ideia republicana surge das lutas contra as monarquias absolutistas, buscando a
afirmação da soberania popular (século XVIII).
- A república surge para representar a expressão democrática de governo, a
limitação do poder dos governantes, a responsabilidade política, a troca periódica de
governantes e a garantia de liberdade individual.
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- A república surge nos EUA no século XVIII. As monarquias do século XIX passam a
aceitar a ordem constitucional, por medida de sobrevivência do regime, no entanto
começam a decair. No século XX a liquidação das monarquias inicia-se com a I
Guerra Mundial e se acelera com a II Guerra.
- Atualmente, a implantação de sistemas monárquicos é algo retrógrado e negativo.
A - O PARLAMENTARISMO
1 - Surgimento:
- Duas versões:
1ª => Em 1213, na Inglaterra, o Rei João Sem Terra convidava nobres para
discutir questões essenciais ao Estado. Em 1295, tais reuniões foram oficializadas
pelo Rei Eduardo I, que consolidou assim o Parlamento.
2ª => No mesmo século XIII, uma rebelião de barões e do clero contra o Rei
Henrique III, engendrou reuniões periódicas que deram forma ao Parlamento.
- Com o passar do tempo e com o surgimento dos governos absolutistas, o
Parlamento perdeu força. Em 1714, é colocado no trono da Inglaterra, por questões
de hereditariedade, o Rei Jorge, um príncipe alemão. Nem ele, nem seu sucessor
(Jorge II), falavam inglês ou tinham interesses na política inglesa, pois nem mesmo
residiam na Inglaterra. Quando se dirigiam ao Parlamento, faziam-no em latim, o
que dificultava a comunicação e solução dos problemas de governo. Assim sendo, o
Parlamento continuou a se reunir sem a presença do rei e passou a tomar as
decisões políticas. Um dos ministros se destacou dos demais, pois exercia liderança
prática, foi apelidado assim de Primeiro Ministro. Criou-se dessa maneira a distinção
entre Chefe de Governo (o primeiro ministro) e Chefe de Estado (o monarca).
10
Margaret Thatcher, por exemplo, foi Primeira Ministra da Inglaterra de maio 1979 até novembro de 1990.
44
o Há dois fatores que determinam a demissão do Primeiro Ministro e,
consequentemente, de seu Gabinete: (i) perda da maioria parlamentar
ou (ii) o voto de desconfiança.
i. Perda da maioria parlamentar: quando o Primeiro Ministro perde
sua base política, ou seja, perde a maioria de votos a seu favor,
deve demitir-se.
1. Sistema bipartidário: se o primeiro ministro consegue
maioria no Parlamento, se mantém no cargo. Por outro
lado, se o partido contrário obtém maioria das cadeiras na
eleição, o Primeiro Ministro deve ser escolhido entre seus
membros.
2. Sistema pluripartidário: é a coligação entre partidos e o
número de cadeiras que tal coligação detém que
determina maioria parlamentar.
ii. Voto de desconfiança: se um parlamentar desaprova a conduta
do Primeiro Ministro, pode requerer a aprovação pelo Parlamento
do chamado voto de desconfiança. Se o voto de desconfiança for
aprovado pelo Parlamento, fica claro que o Primeiro Ministro
perdeu a confiança da maioria, devendo/podendo então demitir-
se. Contudo, pode o Primeiro Ministro permanecer no cargo,
entendendo que aquele voto é algo passageiro. As próximas
votações, favoráveis ou não à sua condução política do governo,
determinarão sua permanência no cargo.
c. Possibilidade de dissolução do Parlamento
o Com a dissolução os parlamentares perdem seu mandato antes do
prazo previsto.
o Pode ocorrer quando o Primeiro Ministro estiver com minoria
parlamentar.
o É necessário que se entenda que o Parlamento não está atuando de
forma coerente com os interesses do Estado, ou seja, do povo.
o Nesse caso o Primeiro Ministro, com fundamento na ideia de que com a
dissolução do Parlamento e convocação de novas eleições ele retomará
a maioria e a vontade do povo será então protegida, requer ao Chefe
de Estado a convocação de novas eleições.
o O resultado dessas eleições determinará se o Primeiro Ministro tem ou
não maioria parlamentar, ocasionando, consequentemente, sua
demissão ou permanência no cargo.
B - O PRESIDENCIALISMO
1 – Surgimento
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- O presidencialismo foi uma criação norte-americana do século XVIII, como resultado
da aplicação das ideias democráticas, concentradas na liberdade e igualdade, e da
lembrança da negativa atuação do monarca inglês, durante o período colonial.
Assim, com profundo embasamento em Montesquieu11, criou-se um sistema que
consagra a soberania da vontade popular e ao mesmo tempo pouca concentração de
poder nas mãos de um só. O sistema presidencial criado adotou separação de
poderes com imensa base no princípio dos freios e contrapesos, evitando assim, ao
máximo, um novo absolutismo.
11
Os EUA adotam plenamente Montesquieu em sua Constituição, exceto no que se refere ao detentor do poder
executivo: para os norte-americanos o presidente, para Montesquieu o monarca. Contudo, permanece a ideia de
um órgão unipessoal, representando pelo presidente ao invés do rei.
12
Percebe-se facilmente, principalmente no Brasil, que as negociações com o Parlamento são inevitáveis na
prática.
46
c. O presidente, por ter o poder executivo concentrado e, consequentemente,
responsabilidade política individual, faz de tudo para tornar eficiente sua
política e conduzir o Estado de forma competente.
d. Para evitar que o presidente se torne um ditador com prazo fixo de mandato,
criou-se a figura do impeachment. O afastamento do presidente pode ocorrer
por iniciativa do Congresso, quando o Chefe do Executivo, agindo contra os
interesses do Estado e no exercício de suas funções, comete crimes13.
13
No Brasil a figura do impeachment é prevista nos artigos 85 e 86 da CF, sendo possível para os crimes de
responsabilidade.
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BIBLIOGRAFIA
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