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Francisco Galeno 9º ano

Literatura _____/ _____/ 2018

Naturalismo O Naturalismo não é considerado,


O Naturalismo foi um movimento sob o ponto de vista de alguns estudiosos,
literário que teve início na Europa com a como um objeto verdadeiramente artístico. Os
publicação do livro Germinal, de Émile Zola. escritores que aderiram ao movimento tinham
Chegou ao Brasil no final do século XIX. Foi como principal intenção dissecar o
nessa época que, influenciados por escritores comportamento humano e social, em um
europeus, nossos escritores passaram a trabalho que se aproximava das frias e
enxergar na literatura um instrumento de impessoais experiências de laboratório,
denúncia social, e não apenas um distante da concepção artística de literatura
entretenimento para a classe média e para a até então vigente.
elite brasileira.  Características
O principal representante do  Determinismo: Teoria filosófica que
Naturalismo no Brasil foi o maranhense afirma que as escolhas e ações humanas
Aluísio Azevedo. Em sua obra, O Cortiço, acontecem por relações de causalidade, e
Aluísio condensou todos os ideais naturalistas não em virtude do livre-arbítrio. Os seres
ao mostrar como a influência do meio e a não possuem vontades, são apenas
força dos instintos determinam o fantoches nas mãos do destino:
comportamento das personagens. Em outras “ — É esta! Disse aos soldados que, com um gesto,
obras do autor, como O mulato e Casa de intimaram a desgraçada a segui-los. — Prendam-na! É
escrava minha!
pensão, é possível observar como o fatalismo A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe,
das forças sociais e naturais atua sobre o com uma das mãos espalmada no chão e com a outra
homem. segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles,
Influenciada pelas leis científicas, a sem pestanejar.
literatura naturalista construiu sua ficção ao Os policiais, vendo que ela se não despachava,
desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-
tratar o homem como um objeto a ser se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e,
cientificamente estudado, abandonando assim antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só
qualquer resquício da literatura romântica. golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.
Não há espaço para metáforas ou E depois embarcou para a frente, rugindo e
subjetividade: a realidade é retratada tal qual esfocinhando moribunda numa lameira de sangue [...]”.
é, e a linguagem aproxima-se da simplicidade O cortiço – Aluísio Azevedo
do coloquialismo para que o leitor tente captar  Preferência por temas de patologia
com exatidão as descrições feitas pelo social: De acordo com a concepção
narrador. naturalista, o homem é apenas um animal
O romancista assume uma posição cujo destino é determinado pelo meio
de não envolvimento, de impessoalidade, ambiente e pela hereditariedade. Outros
introduzindo na literatura assuntos ligados ao aspectos, como a educação e o nível
homem, inclusive aqueles tidos como cultural, também são tidos como
repulsivos, jamais abordados na história da responsáveis pela formação do caráter do
literatura brasileira. O Naturalismo costuma homem:
ser associado ao Realismo, por tentar “[...]. Não era a inteligência nem a razão o que lhe
apontava o perigo, mas o instinto, o faro sutil e
comprovar por meio da ficção a validade de desconfiado de toda fêmea pelas outras, quando sente
teses científicas deterministas, seu ninho exposto (...)”.
O cortiço – Aluísio Azevedo

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 Objetivismo científico e impessoalidade: Pompeia (O Ateneu) e Adherbal de Carvalho
Entre as características da linguagem (A Noiva).
naturalista estão a impessoalidade e a  Outras características
objetividade com que as situações são  Impessoalidade: O autor naturalista
descritas. Apenas são considerados os procurava não se envolver diretamente em
fatos, sendo eles descritos minuciosamente suas obras, apenas descreve como
por meio de uma linguagem simples e observador. Isto causava o uso de narrador
direta, tal qual um documento científico: em terceira pessoa.
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de  Linguagem simples: O naturalismo ainda
uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca foram tão
trazia um enfrentamento ao romantismo, a
bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha,
reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, linguagem simples e objetiva é fruto disso.
desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas  Engajamento: A literatura naturalista já
selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída abordava problemas sociais da época e
do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir também tentava trazer um pouco deste
as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela
orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em
engajamento ao leitor.
segredo a sua alma extravagante de maluca.  Darwinismo Social: Inspiradas nos
O cortiço – Aluísio Azevedo estudos de Charles Darwin, a
Além de Aluísio Azevedo, outros hereditariedade era um fator ao
escritores brasileiros também aderiram ao comportamento humano.
Naturalismo, entre eles nomes como Adolfo  Cientificismo: O naturalismo tinha o
Caminha (Bom Crioulo), Inglês de Souza objetivo de ser tratado como ciência, por
(Contos Amazônicos e O Missionário), Raul isso as obras são descritivas e assemelham-
se a um texto cientifico.

Atividade
Leia os textos abaixo e responda as questões propostas

TEXTO I
Por pouco Etienne não fora esmagado. Seus olhos habituavam-se, já podia ver no ar a
corrida dos cabos, mais de trinta metros de fita de aço que subiam velozes à torre, onde passavam
em roldanas para, em seguida, descer a pique ao poço e prenderem-se nos elevadores de extração.
Só uma coisa ele compreendia perfeitamente: que o poço engolia magotes de vinte e de
trinta homens, e com tal facilidade que nem parecia senti-los passar pela goela. Desde as quatro
horas os operários começavam a descer; vinham da barraca, descalços, lâmpada na mão, e
esperavam em grupos pequenos até formarem número suficiente. Sem ruído, com um pulo macio de
animal noturno, o elevador de ferro subia do escuro, enganchava-se nas aldravas, com seus quatro
andares, cada um contendo dois vagonetes cheios de carvão. Nos diferentes patamares, os
carregadores retiravam as vagonetes, substituindo-os por outros vazios ou carregados
antecipadamente com madeira em toros. E era nesses carros vazios que se empilhavam os operários,
cinco a cinco, até quarenta de uma vez, quando ocupavam todos os Compartimentos. Uma ordem
partia do megafone, um tartamudear grosso e indistinto, enquanto a corda, para dar o sinal embaixo,
era puxada quatro vezes, convenção que queria dizer “aí vai carne” e que avisava da descida desse
carregamento de carne humana. A seguir, depois de um ligeiro solavanco, o elevador afundava
silencioso, caía como uma pedra, deixando atrás de si apenas a fuga vibrante do cabo.
— É muito fundo? — Perguntou Etienne a um mineiro com ar sonolento que esperava
perto dele.
— Quinhentos e cinquenta e quatro metros — respondeu o homem. [...]
Émile Zola. Germinal
TEXTO II
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua
infinidade de portas e janelas alinhadas.

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Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como
que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite
antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido
em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto
acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos
azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.
Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos,
fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a
tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para
janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a
pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que
ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que
altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De
alguns quartos saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os
louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do
dia.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de
machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que
escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as
saias entre as coxas para não as molhar; via-se lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que
elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se
preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e
esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As
portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem
tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças
não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da
estalagem ou no recanto das hortas.
Aluísio de Azevedo – O cortiço

1. Um procedimento característico da prosa naturalista é apresentar o ambiente físico e social


detalhadamente, como se o narrador estivesse munido de uma máquina fotográfica com lentes do
tipo zum, que lhe permitisse compor e decompor os detalhes de cada cena. Compare os dois textos:
a) Que grupo social é retratado em cada uma das obras? O que os dois grupos têm em comum?

b) Que elementos dos dois textos comprovam que as personagens levam uma vida difícil e
miserável?

2. A linguagem da prosa naturalista caracteriza-se pela adoção de uma postura analítica e científica
diante da realidade. Por isso, faz uso frequente da narração impessoal e de descrições minuciosas,
com muitas sugestões visuais, olfativas, táteis e auditivas. Por conta desse detalhamento, a narrativa
às vezes torna-se lenta.
a) Por que o foco narrativo em 3º pessoa é o mais apropriado para esse fim?

b) Identifique em Germinal, um exemplo de sugestão visual.

c) Identifique em O cortiço exemplos de sensações olfativas, auditivas, táteis e visuais.

d) Identifique em O cortiço um exemplo de narrativa lenta.

3. No Naturalismo, os homens são vistos por uma perspectiva biológica, em que se destaca seu lado
físico, instintivo, animal, por vezes até degradante.

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a) Identifique no texto II um trecho que comprove a animalização das personagens do cortiço.
b) Há no texto II situações de degradação humana? Se sim, identifique-as.

c) Releia esta descrição abaixo das mulheres:


“As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se lhes a tostada
nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco”
 Em que essa descrição difere da descrição da mulher romântica?

d) Um dos sentidos da palavra cortiço é “caixa cilíndrica, de cortiça, na qual as abelhas se criam e
fabricam o mel e a cera”. Relacione esse sentido da palavra ao trecho “Daí a pouco, em volta das
bicas era um zum-zum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas”.

4. Releia estes fragmentos de Germinal:


“[...] o poço engolia magotes de vinte e de trinta homens, e com tal facilidade que nem parecia
senti-los passar pela goela. “
“[...] a corda, para dar o sinal embaixo, era puxada quatro vezes, convenção que queria dizer “aí vai
carne” e que avisava da descida desse carregamento de carne humana”.

 Nesses fragmentos, também notamos o fenômeno da animalização naturalista, mas com


diferenças em relação a O cortiço. A mina de carvão, em Germinal, é que é vista como um
grande animal, um monstro devorador.

a) De que se alimenta esse animal?

b) Pode-se dizer que a obra, ao fazer uso de expressões como “carregamento de carne humana’,
mostra-se engajada, isto é, comprometida em fazer uma denúncia social? Por que?

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