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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/FAL PROCESSO Nº 25.280/10


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
ACÓRDÃO

N/M “ZEN HUA 27”. Embargos de Declaração ao Acórdão de fls. 1.409 a 1.439.
Embargante: Shang Wei, Comandante do N/M “ZEN HUA 27”. Embargada:
DERSA – Desenvolvimento Rodoviário S.A. Conhecer dos Embargos de
Declaração apresentados para lhe negar provimento, por não haver a contradição
alegada, mantendo na íntegra o Acórdão atacado.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


Trata-se de analisar o recurso de Embargos de Declaração, fls. 1.445 a 1.448,
entrado no Tribunal Marítimo em 25/05/2017, interposto por Shang Wei, Comandante do N/M
“ZEN HUA 27”, nos autos do Processo nº 25.280/10, contra o Acórdão de fls. 1.409 a 1.439,
alegando aparente “contradição”.
Tal ponto a ser “aclarado” está na afirmativa neste Acórdão em um de seus últimos
parágrafos: “Na aplicação das penas, entendo ser pertinente considerar que ambos não têm
condenação neste E. Tribunal; que com seus depoimentos ajudaram a esclarecer os fatos; da
maior responsabilidade do Prático, responsável direto pela manobra do navio, pelo fato de o
Representado de Parte, Comandante, ser estrangeiro, em primeira viagem ao porto de Santos,
não se podendo exigir deste o mesmo nível de conhecimento das características do porto,
principalmente em área de praticagem obrigatória, mas a sua ação foi tardia e a navegação
evidentemente errada, pois contrariava as Normas Internacionais, permitindo que seu navio
prosseguisse muito próximo da margem esquerda (a seu bombordo) desde a desatracação, com
resultado previsível, principalmente considerando maré de vazante e primeira curva para
boreste”.
Alegou que, apesar de considerar “da maior responsabilidade do Prático”, ao
arbitrar as penalidades, foi estabelecido “condenar ambos às penas de multa de R$ 1.000,00 (mil
reais), cumulativamente com a pena de repreensão”, o que entendeu ser contraditório reconhecer
maior culpa de um e estabelecer sanções idênticas para ambos.
Finalizou requerendo sejam intimadas as demais partes para que se manifestem
acerca dos presentes Embargos de Declaração, nos termos do art. 1.023, § 2º, da Lei nº
13.105/2015 (Código de Processo Civil), com aplicação subsidiária ao Processo nesta E. Corte
Marítima, que sejam conhecidos e providos os presentes Embargos de Declaração e sanada a
contradição, atribuindo efeito infringente para revisar a penalidade do Segundo Representado,
fixando a devida porcentagem a cada um, ajustando proporcionalmente a condenação.
“Código de Processo Civil: Art. 1.023. Os embargos serão opostos, no prazo de 5
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(Continuação do Acórdão referente aos Embargos de Declaração no Processo nº 25.280/10.........)
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(cinco) dias, em petição dirigida ao juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição ou
omissão, e não se sujeitam a preparo. § 1º Aplica-se aos embargos de declaração o art. 229. § 2º
O juiz intimará o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sobre os
embargos opostos, caso seu eventual acolhimento implique a modificação da decisão
embargada”.
Acolhendo, em parte, o requerido, foi aberto às demais partes para conhecerem e se
manifestarem acerca dos pedidos do ora recorrente. “Despacho. Processo 25.280/10. Às Partes
para, querendo, com fulcro no § 2º, do art. 1.023, da Lei 13.105/2015 (Código de Processo
Civil), com aplicação subsidiária ao Processo nesta E. Corte Marítima, com a permissão do art.
155, da Lei nº 2.180/54, c/c o art. 171, do RIPTM, se manifestarem acerca dos pedidos
apresentados no recurso de Embargos de Declaração, fls. 1.445 a 1.448, interposto por Shang
Wei, Comandante do N/M “ZEN HUA 27”, nos autos do Processo nº 25.280/10, contra o
Acórdão de fls. 1.409 a 1.439, alegando “contradição” ao considerar “da maior responsabilidade
do Prático” e arbitrar as mesmas penalidades para ambos (Comandante e Prático), nos seguintes
termos: “condenar ambos às penas de multa de R$ 1.000,00 (mil reais), cumulativamente com a
pena de repreensão”. Prazo de cinco dias. PUBLIQUE-SE e notifique-se a PEM. Em 05/06/2017.
Fernando Alves Ladeiras. Juiz Prolator (publicado no e-DTM nº 74, de 13/06/201).
A DERSA – Desenvolvimento Rodoviário S.A, fls. 1.455 a 1.457, apresentou suas
considerações, em síntese, alegando se tratar de recurso meramente protelatório, posto que já
alertou que não se contentará com a oposição dos presentes Embargos de Declaração, declarando
expressamente que “ressalvando-se ao direito de apresentar Embargos Infringentes”, além de
pleito, por via inadequada, de limitação da reparação civil, em decorrência dos danos causados
pelo navio à ora Representante de Parte em decorrência do acidente em análise, o que alegou
fugir do escopo da atuação deste E. Tribunal, requerendo a rejeição dos presentes Embargos de
Declaração, mas, na remota hipótese de que se entenda por lhe dar provimento, deveria ser o
mesmo acolhido “única e exclusivamente para se determinar novo valor de multa, sem que este
E. Tribunal Marítimo adentre na análise da limitação de reparação civil intentada pelo
Embargante”.
A PEM, fls. 1.461 a 1.463, em síntese, apresentou suas considerações, requerendo o
reconhecimento do pedido do Embargante, com juízo positivo de admissibilidade e o
consequente provimento, com efeitos infringentes, tendo em vista a aplicação da dosimetria da
pena, como previsto no art. 127, inciso I, da LOTM, atendendo, dentre outros fatores “à
intensidade do dolo ou ao grau de culpa, determinar a pena aplicável dentre as cominadas
alternativamente”.
É o Relatório.
Decide-se:

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(Continuação do Acórdão referente aos Embargos de Declaração no Processo nº 25.280/10.........)
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O presente Recurso é tempestivo e cumpre o previsto nos artigos 113 e 114,
devendo ser conhecido.
Cabe razão à Embargante ao usar o recurso de Embargos de Declaração para ver
solucionada qualquer dúvida que lhe pareça conveniente, como previsto na LOTM, Lei nº
2.180/54, não devendo, a priori, ser taxada de procrastinação ou de via ilegal.
No presente caso, entretanto, não assiste razão quando a Embargante alega
“contradição”, requerendo a alteração das penas aplicadas “porque o entendimento da maioria
dos Juízes foi no sentido de que houve maior grau de culpa do Prático pelo acidente em pauta”,
pois há outros elementos a serem considerados na aplicação das penalidades, sendo o “grau de
culpa” um deles, mas não o único.
O ora Embargante transcreveu apenas um dos parágrafos do Acórdão, o que poderia
induzir a interpretação errada e dar a idéia de que a pena está restrita a esta ponderação, como,
aliás, a PEM também se manifestou ao transcrever apenas em parte o art. 127, da Lei nº
2.180/54, “cabe ao Tribunal, atendendo, dentre outros fatores, à intensidade do dolo ou ao grau
da culpa, determinar a pena aplicável”, mas é fundamental a ponderação destes “dentre outros
fatores”, como expressamente consta no citado art. 127, em especial “das circunstâncias e
consequências da infração”.
LOTM - “Art. 127. Cabe ao Tribunal, atendendo aos antecedentes e à personalidade
do responsável, à intensidade do dolo ou ao grau da culpa, às circunstâncias e consequências da
infração: I - determinar a pena aplicável dentre as cominadas alternativamente;”.
No Acórdão, no parágrafo seguinte ao que o Embargante trouxe em seu Recurso
para alegar a “aparente contradição” consta: “A manobra do Prático, guinando para bombordo
(20º) e aumentado a rotação (para toda força adiante), desfazendo em parte a guinada para
boreste, foi correta e afastou a popa do navio o que diminuiu sensivelmente os danos ao navio e
ao “FB-24”, mas não o suficiente para evitar o acidente, porém, acabou contribuindo para mais
adiante abalroar as duas lanchas fundeadas na margem esquerda”.
No Acórdão, no parágrafo anterior ao trazido no Recurso temos: “Todos os fatos
pontuados acima se encontram no Laudo de Exame Pericial do IAFN e nos Pareceres Técnicos
juntados ao Processo, o que leva a concluir que o navio erradamente navegou todo o trecho até o
primeiro acidente muito próximo da margem esquerda (a que ficava a bombordo do navio) e ao
guinar para boreste, com maré vazando forte, aconteceu o previsível, ou seja, a popa do navio foi
de encontro ao “FB-24” que estava atracado na margem esquerda, evidenciando um erro de
planejamento que levou ao erro de navegação cometido pelo Prático e não questionado pelo
Comandante, que só o fez quando já estava muito próximo do local do acidente, o que demonstra
a imperícia do Prático e a imprudência do Comandante, devendo ser acolhidos os termos das
Representações e responsabilizar a ambos os Representados, pelos acidentes da navegação

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tipificados no art. 14, letra “a” (abalroamento, colisão e naufrágio), da Lei nº 2.180/54.
Sintetizando o que está fundamentado nas conclusões do Acórdão, no dispositivo do
voto consta “considerando as circunstâncias, as consequências e as atenuantes, com fulcro nos
artigos 121, incisos I e VII, 124, incisos I e IX, 127 e 139, inciso IV, letras “a” e “d”, todos os
artigos da lei nº 2.180/54, condenar a ambos às penas de multa de R$ 1.000,00 (mil reais),
cumulativamente com a pena de repreensão. Custas divididas”.
A pena máxima aplicável ao caso concreto, pelo art. 124, da LOTM, em tese, seria a
de suspensão por até doze meses (§ 1º, do art. 121, LOTM), cumulativamente com a pena de
multa. A pena de suspensão que incorrer à tripulação de embarcação estrangeira seria aplicada
somente em relação ao exercício de suas funções em águas sob jurisdição nacional (art. 129,
LOTM).
No Acórdão, na fundamentação, foram ponderadas as circunstâncias e
consequências dos acidentes e, além dos artigos 121, 124 e 127, que dão suporte à condenação,
constam as atenuantes previstas no art. 139: “Serão sempre circunstâncias atenuantes da pena: IV
- ter o agente: a) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o acidente
ou fato da navegação, minorar-lhe as consequências”, o que está destacado no Acórdão, no
parágrafo seguinte ao trazido pelo Embargante no seu Recurso, que expressamente socorreu o
Prático.
A outra atenuante, prevista no art. 139, inciso IV, letra “d” confessado,
espontaneamente, a autoria do fato.”, socorreu o Prático e o Comandante, haja vista que ambos,
com seus depoimentos e demais provas trazidas aos autos, ajudaram a esclarecer os acidentes, o
que também foi ponderado nas “circunstâncias” para aplicação das penas.
Por todo o exposto, tendo em vista que ambos os Representados, Comandante e
Prático, ajudaram a esclarecer os acidentes (atenuante prevista no inciso IV, letra “d”, da
LOTM), que o Prático foi considerado com maior culpa, mas também foi aquele que teve a ação
no sentido de corrigir e diminuir as consequências dos acidentes em pauta (atenuante prevista no
inciso IV, letra “a”, do art. 139, da LOTM), pelas circunstâncias e consequências, por não haver
agravantes e considerando as citadas atenuantes, eles tiveram suas penas dosadas no mesmo
nível, havendo a correta ponderação na aplicação das penas, devendo ser conhecido o presente
Recurso para lhe negar provimento, mantendo na íntegra o Acórdão ora atacado.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por maioria, nos termos do voto do
Exmo. Sr. Juiz Relator: a) quanto à natureza e extensão do acidente/fato da navegação: x x x; b)
quanto à causa determinante: x x x; c) decisão: conhecer dos Embargos de Declaração
apresentados por Shang Wei, Comandante do N/M “ZEN HUA 27”, nos autos do Processo nº
25.280/10, contra o Acórdão de fls. 1.409 a 1.439, para lhe negar provimento, por não haver a

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(Continuação do Acórdão referente aos Embargos de Declaração no Processo nº 25.280/10.........)
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contradição alegada, mantendo na íntegra o Acórdão atacado, sendo acompanhado pelos Exmos.
Srs. Juízes Geraldo de Almeida Padilha, Sergio Bezerra de Matos, Marcelo David Gonçalves e
Maria Cristina de Oliveira Padilha. O Exmo. Sr. Juiz Nelson Cavalcante e Silva Filho, em voto
próprio, dava provimento aos Embargos de Declaração no sentido de determinar o retorno dos
autos ao Exmo. Sr. Juiz Relator para que esclareça ambiguidade e contradição do Acórdão, que
aplicou pena igual aos representados, mas afirmou haver diferença na culpa, esclarecendo que
mantém seu entendimento no sentido de que ambos representados devem ser exculpados das
acusações contra as quais se defenderam, sendo vencido.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 15 de agosto de 2017.

FERNANDO ALVES LADEIRAS


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 10 de novembro de 2017.

MARCOS NUNES DE MIRANDA


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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COMANDO DA MARINHA
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2018.02.06 10:23:56 -02'00'

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