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Fé e Razão – Implicações Éticas em torno do pensamento do

pensador cristão Francis Schaeffer


«Na verdade que já os fundamentos se transtornam: que poderá fazer o justo?»
Salmos 11:3

«E dos filhos de Issacar, destros na ciência dos tempos, para saberem o que Israel devia
fazer…» I Crónicas 12:32

Em 30/01/1912 nasce Francis August Schaeffer, na Pennsylvania, EUA (pais de origem


alemã, provenientes da Inglaterra). Aos 17 anos familiariza-se com a literatura (e
filosofia) grega clássica à força de ensinar inglês a um russo que lhe pedira para o fazer
desse modo. Ao mesmo tempo, sabendo que a cultura americana na qual nasceu e vivia
era baseada no pensamento cristão, começou a estudar a Bíblia. Em 1930 dá-se a sua
conversão a Jesus Cristo (e ao cristianismo evangélico, enquanto sistema de crença,
baseado na veracidade e exclusividade da Bíblia). Nessa altura vivia-se o grande conflito
teológico entre o “modernismo” e o “fundamentalismo”. Entre 1930 e 1935 estuda
teologia, doutorando-se Magna Cum Laude. Enquanto estudante fora presidente da
Associação Estudantil Cristã. Foi casado com Edith Seville e tiveram quatro filhos:
Priscilla, Susan, Debby e Franky. Em 1938 é ordenado ministro da Covenant
Presbyterian Church em Grove City. Cinco anos depois muda-se para St Louis –
Missouri. Funda o ministério de “crianças para Cristo”. Este é um período de grande luta
contra as ideias protestantes liberais que Schaeffer combate ao lado e na senda de pessoas
como Gresham Machen, bem como – de visita à Europa- Martyn Lloyd-Jones e O.
Hallesby, fundador do GBU da Noruega. Foi também por essa altura que Lloyd Jones,
com outros, fundou a IFES – International Fellowship of Evangelical Students (“GBU
internacional”), separando-se, deste modo, do Movimento Estudantil Voluntário que se
havia afastado em demasia do Cristianismo Bíblico. Em 1948 Schaeffer e sua família
emigram para a Europa, mas para uma vida “nómada”, de muitas mudanças, enviados
pela Junta das Igrejas Presbiterianas Bíblicas. Acabam finalmente por se estabelecer na
Suíça. Em 1950/51 Schaeffer passa por um período de crise espiritual (choque com a
“realidade”): - como conseguir ter desacordo teológico e, ao mesmo tempo, ter um
espírito de genuíno amor cristão? Schaffer não podia deixar de notar que os que, como
ele, eram fiéis aos fundamentos (nesse sentido – e só nesse! eram “fundamentalistas”),
mostravam tão pouco amor cristão e que a sua própria vida tornara-se seca e sem alegria.
Resolveu dedicar-se à oração e também a questionar tudo, voltando até à hipótese
agnóstica de onde partira. Edith temia muito e só orava. Finalmente Schaeffer saiu da
crise fortalecido na sua fé. Mas veio com uma grande convicção de que a crença certa
devia estar de mãos dadas com o amor observável: «A igreja ou o grupo cristão deviam
estar certos, mas também ser belos». Eles deviam ser o exemplo do sobrenatural, da cura
substancial (expressão e conceito de Schaeffer que se diferencia da cura total a alcançar
com a consumação dos tempos, na volta de Cristo) nos relacionamentos. Quantas igrejas
locais são ortodoxas, bíblicas na doutrina, mas com tão poucos sinais de amor. Schaeffer
ficou também mais convicto da necessidade de dependência do Espírito Santo, através da
“ oração da fé”, mesmo e sobretudo no campo da batalha das ideias. Em 1954 ele e sua

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esposa iniciam o trabalho de L’Abri (“O Abrigo”), na Aldeia de Huemoz, nos Alpes
Suíços, onde recebiam sobretudo estudantes que os visitavam com perguntas intelectuais
e existenciais e onde o casal procurava dar “respostas honestas a perguntas honestas”,
servindo com hospitalidade, demonstrado o amor relacional do “DeusTriuno” (aqui se vê
como a teologia em Schaeffer não era só intelectualismo. A doutrina da Trindade inspirou
os Schaeffer a uma vida comunitária de serviço (Hoje há várias casas L’Abri e outras
inspiradas no mesmo. Em Portugal surgiu recentemente a “Comunidade Cascatas”, perto
de Caldas da Rainha, que tem a mesma orientação e a mesma base fundacional).
Curiosamente, as igrejas não entenderam esta visão dos Schaeffer (do “amor observável”
e de uma maior escuta - incluindo a observação da arte secular, do cinema, da cultura
hippie, da filosofia, etc.) da sociedade envolvente para melhor comunicar o evangelho), o
que conduziu a que eles tivessem que avançar sozinhos durante vários anos. Nos anos
sessenta começam a surgir os seus primeiros livros; cassetes das suas palestras e
“conversas à mesa” começam a proliferar um pouco pela Europa e EUA, onde se
abordam vários tópicos de actualidade, à luz da Bíblia e onde, sobretudo, se desafia a
arrogância do racionalismo triunfalista, bem como se oferecem alternativas ao nihilismo
resultante das propostas existencialistas. Os Schaeffers mostraram uma capacidade
extraordinária de “ler os tempos”, de identificar as grandes questões da sua época e em
particular as preocupações e estilo de vida dos estudantes das gerações de 60 e 70.
Denunciaram o materialismo pós-guerra insistindo que a maioria dos americanos não
tinha uma filosofia de vida mais ambiciosoa do que tão somente «paz pessoal e
afluência», dizendo que, no fundo, acabavam por ser tão “materialistas” como os
comunistas. Pregou contra o abuso da natureza (criação- leia-se o seu livro “ A poluição e
a morte do homem”) e contra o racismo. Denunciou a acomodação da maioria das igrejas
e mostrou-se contra a identificação da “lealdade patriótica” com o cristianismo.
Denunciou o excessivo individualismo do evangelicalismo prevalecente, desafiando a
igreja a oferecer-se como alternativa, como sinal profético, como “sal” e “luz”. Em 1974,
por sugestão e persuasão do filho, Franky , começa a ser produzido o primeiro filme
sobre o pensamento de Francis Schaffer, que veio a ter como título How Shall We Then
Live?, que era uma crítica à cultura ocidental, especialmente norte americana. Em finais
dos anos 70 os Schaeffer empreendem uma longa viagem pelos EUA, participando em
palestras e debates, muitas vezes em torno dos seus filmes e livros. Nessa altura
envolvem-se numa grande frente “pró-vida” e contra a prática do aborto, chegando a
propôr que, perante tais atentados contra a dignidade humana os cristãos evangélicos
deveriam unir-se estrategicamente (aquilo que ele denominou de cobelligerance) a todos
os que defendessem o valor da vida, contra o aborto. Esse debate esteve na base de outro
filme entretanto produzido: Whatever Happened to the Human Race? Finalmente,
Schaffer escreve o Manifesto Cristão onde critica duramente as politicas que promovem
o aborto a tal ponto mesmo de encorajar a desobediência civil: « If there is no final
place for civil disobedience, then the government has been made autonomous, and as
such, it has been put in the place of the living God». Em 15/05/1984 Francis Schaeffer
vem a sucumbir a uma cancro que o vinha perseguindo. A sua esposa ainda continua viva
e a servir, na medida das forças que lhe restam. Deixa um legado extraordinário,
porventura ainda desconhecido da maioria das pessoas, incluindo cristãos evangélicos
que inclui: uma capacidade única (!) de oferecer um sistema de pensamento que partindo
unicamente da revelação bíblica é capaz de entrar em diálogo com a cultura a tal ponto de

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conseguir manter juntas a “Fé” e a “Razão”, o que segundo sei, ninguém na história da
igreja e do pensamento ocidental (e, obviamente, oriental) conseguiu. Na verdade, apesar
de tentativas de pensadores como Justino – Sec. II a.C. («toda a verdade é verdade de
Deus») e Tomás de Aquino, na alta idade média, ou, nas suas pegadas, os neo-tomistas
do século XX ( como Jacques Maritain ), não se tem conseguido a “unidade do
pensamento”, pois ou se acaba numa fé sem razão ou numa razão sem fé, ou, na melhor
(?) das hipóteses acaba-se numa tentativa de “comunhão de facto”, mas em que se supera
uma e outra e se termina num “silêncio místico”, onde o estético (a contemplação – a
doutrina católica-romana da «visão beatifica») se sobrepõe ao ético. Pelo contrário,
Schaeffer opõe-se a qualquer separação entre “Fé” e “Razão”, “natureza” e “graça”,
“natural” e “sobrenatural”. Para ele Cristo é Senhor sobre toda a criação e sobre toda a
vida (espiritual e também intelectual). É caso para se dizer que «o que Deus ajuntou, não
o separe o homem».

Nem a razão racionalista, nem qualquer fideísmo fazem jus à Revelação Bíblica. E só a
Razão que crê (na Revelação) e a Fé que pensa (a partir da e com a Revelação) permitem
ao homem não só recuperar a sua dignidade, como fornecer a base sólida de que a nossa
civilização (em termos amplos) está tão carente, numa época em que «os fundamentos
ruíram». Para Schaeffer só a Revelação Bíblica permite um fundamento seguro e
“inteligente” à vida humana, individual e social, o que é dizer, à ética. A revelação
Bíblica é a única que explica e justifica: a “pessoalidade” do homem, o amor e a
comunicação (Deus é pessoal e triuno); é a única que explica e justifica a liberdade e a
responsabilidade humana; a doutrina do “pecado” é essencial para um optimismo realista
na educação e transformação da sociedade. O homem, para utilizar a linguagem de
Pascal, é “grande” e “miserável”, ao mesmo tempo, e a história tem demonstrado que a fé
no poder da “razão autónoma” e todas as tentativas de afirmação da “bondade intrínseca
do homem” e de edificar sob esse pressuposto – falamos dos projectos humanistas - tem
sido um logro. A proposta humanista/racionalista acaba por destruir todo o fundamento
na medida em que não pode haver sentido para a vida, base para o conhecimento nem
alicerce para a ética quando a origem da vida e a história não são mais do que impessoal
+ acaso+ tempo. Os sonhos babélicos da razão racionalista desembocam
necessariamente na confusão do desespero pós-babel, que é o que se vive hoje na
sociedade actual, amiúde chamada de pós-moderna. Hoje a sociedade carece, acima de
tudo de um centro, de metanarrativas, de explicações abrangentes que tragam sentido,
que unifiquem a diversidade fragmentada da vida actual, sem destruir essa diversidade.
Daí a tendência actual de regresso à “unidade cosmológica” da Grécia antiga ou a
migração para filosofias de cariz panteísta, na busca de unidade e de sentido. Só que estas
últimas soluções desembocam na perda do sentido do indivíduo (não falo de
individualismo, mas de individuação) e na impessoalidade, uma vez que no universo
panteísta a “pessoa” não faz sentido, pois “tudo” é impessoal, além de minar
completamente as bases ética da responsabilidade que são a liberdade e o amor,
deduzindo tudo ao determinismo de um “universo fechado” (ainda que “em expansão”).
A crise na moral e no direito que hoje vivemos é, sobretudo, uma crise de fundamentos.
Hoje desconfia-se e luta-se mesmo contra qualquer explicação abrangente; ou então
busca-se (a maioria ainda o faz), mas a tarefa está longe de ser bem-sucedida, apesar do
mérito de muitas das propostas actuais. Em termos da Ética passa-se algo curioso:

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enquanto que num acordo geralmente se acerta o essencial e depois se passa para os
pormenores, hoje em ética o acordo é nas questões secundárias, de pormenor pois não é
possível o acordo no essencial. O conceito de Dignidade da Pessoa Humana, ainda hoje
predominante nas democracias ocidentais, é uma “bandeira sem sentido” . A noção de
“pessoa” e de “indivíduo” é hoje substituída por “sujeito de direitos” um “ser abstrato”,
uma tentativa de transcendência sem substância, um “homo juridicus” que se substitui ao
“homem – imagem e semelhança de Deus”, que esteve na origem da descoberta do valor
intrínseco de cada pessoa, da democracia e do estado de direito. Esse sujeito abstracto
encontra o seu significado dependente das “verdades sociológicas” ou “verdades
estatísticas” (hoje de motivação hedonista e utilitarista). O debate sobre o aborto -
impropriamente designado na versão politicamente correcta de interrupção voluntária da
gravidez está intimamente relacionado com o significado de pessoa. Nesta fragmentação
da vida, neste movimento centrífugo do pensamento e da vida, nesta falta de alicerces,
afirmam-se “os direitos” (e não também as obrigações) mas não se consegue fundamentar
o Direito. E hoje assiste-se ao fenómeno de serem os cientistas naturais a fazer “juízos de
valor” sobre factos (v.g. dizendo quando é que surge a “pessoa”), mostrando a demissão
de juristas, moralistas e outros em assumir o seu papel de pensar criticamente os nossos
quadros de referência axiológica. E como adverte Fritz Heineman, «de acordo com a
espécie de homem que se é, assim se escolhe a ética». Sir Fred Caterwood, ex -Vice
Presidente do Parlamento Europeu e da Aliança Evangélica Europeia, gostava de
comparar o ocidente actual a uma “flor cortada”, ainda bonita, mas só aparentemente
viva, pois já não tens raízes.

Nesta crise dos fundamentos existem, obviamente, vários esforços meritórios de


encontrar esses centros. Numa nova tentativa de refundar a «vaga mas poderosa ideia da
dignidade humana», na expressão de Dworkin, e os direitos humanos – essa gramática de
vizinhança generalizada – temos os neo-kantianos, de que me permito citar os exemplos
de Rawls (recorrendo à ficção neo-contratualista do “acordo originário”) e Habermas (a
sua ética discursiva/comunicativa, dialógica, a partir da ficção da situação ideal de
diálogo). Temos a proposta que nos fica de Annah Arendt, que a partir de um juízo
reflexivo sobre a sua condição de vivêncvia de expreriência de situações limite, pela
perseguição nazi, encontra como centro dessa dignidade a politeia, a cidadania, ou
melhor, o direito de cidadania que é o «direito a ter direitos», como se o sentido último
do indivíduo estivesse dependente de ser publicamente reconhecido como cidadão de
plenos direitos. A outra corrente hoje bem na moda e que tenta um esforço centrípeto que
reunifique, que traga sentido à acção humana, é a dos “filósofos da alteridade”, de linha
fenomenológica, cuja ontologia (influenciada por Heidegger e por Husserl) por ser
demasiado imanente não chega a encontrar um fundamento bem sólido e coerente para
essa alteridade (fundamento que encontramos na doutrina cristã da trindade). Falo de
autores como Merlleau- Ponty, Levinas, Martin Bubber, etc. Do outro lado encontramos
posições extremas, de “corajoso desespero” como o Filósofo do direito pós-modernista
Edouard Delruelle, que considera os direitos humanos e o humanismo de «incertos e
inúteis».

Se a razão racionalista não é “razão de esperança” nem é alicerce sólido para a “ética”, a
atitude oposta, fideísta, acaba por ser também contrária à revelação Bíblica e por ser

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desastrosa nas suas consequências. Ela desemboca numa atitude de existencialismo
cristão escapista e irresponsável (relativamente à relação com a cultura). E é infelizmente
esta a tendência de grande parte do cristianismo de tradição evangélica., que tem, por
outro lado, uma tradição antiga que remonta a Tertuliano e Ireneu e que contrapõe
“Jerusalém a Atenas”, desprezando todo o saber “secular”. Deveríamos saber associar o
zelo na “proclamação do Kerigma” com uma participação critica na cultura, um
envolvimento na acção transformadora da cultura a partir dos valores do Evangelho;
deveríamos poder amar o Senhor com toda a nossa mente também. Falo de assumir o
trabalho, os estudos, a cidadania, o debate nas questões de Ética Aplicada (ambiente,
aborto, biotecnologia, etc.), a participação solidária e co-beligerante em actos de criação e
apoio de propostas de cariz social e humanitário, etc. A nossa esperança escatológica da
manifestação final do Reino de Deus não nos deveria fazer viver em “acomodada
espera”, cuidando apenas “da alma”, pois isso não é senão uma atitude profundamente
gnóstica e não cristã. Assumamos, pois, sem arrogância, no espírito da Carta Magna da
Ética Cristã que é o “sermão do monte”, a nossa vocação de sermos “sal” e “luz” na
nossa geração. Enquanto aguardamos o “dia” da consumação da nossa esperança não só
anunciamos, mas demonstramos a boa nova, pois, como Francis Schaeffer nos alerta, a
“apologética final” é a beleza dos relacionamentos transformados, pois, mais do que o
“amor à sabedoria” é necessária “a sabedoria do amor”

Termino dando um testemunho e fazendo uma advertência.

O testemunho: nos meus anos de universidade, tinha os meus 22 anos; já era cristão e
pertencia ao Grupo Bíblico Universitário, experimentei, no contacto com o pensamento
secular e também com as teologias liberais, uma grande crise de fé. Tornei-me
existencialista cristão (apenas estava convicto de que o que eu experimentava – a filiação
divina, em Cristo) era real. Mas todas as minhas bases doutrinárias ruíram. O assessor do
GBU de então – Oivind Benestad – recomendou-me a leitura dos livros de Francis
Schaeffer. As obras “o Deus que Intervém”, “ A morte da Razão”, “ Deus- Nem
Silencioso nem Ausente” e “ A Verdadeira Espiritualidade” foram o que me trouxe de
volta (e mais fortalecido do que antes) ao “fundamento da minha fé” – O Cristo
incarnado e a Sua Palavra. E ainda hoje, no GBU e no meio do direito, bem como na
minha vizinhança e na vida em geral, esse ensino tem sido uma grande ferramenta que
me permite fazer uma leitura cristã coerente da vida e encontrar o “motivo” correcto para
a minha acção.

A advertência: A vida e o pensamento de Francis Schaeffer são muito importantes como


exemplo e ensino, mas isso não significa que a sua vida e o seu pensamento sejam
infalíveis. Em alguns aspectos do seu pensamento eu (e muitos outros) não me revejo.
Por exemplo acho que ele foi excessivamente crítico com os existencialistas em geral.
Não me revejo sobretudo na forma dura como critica Kierkegaard e Barth (embora
concorde com a maioria das suas razões); penso também que a ênfase na verdade
proposicional e confessional acabou, contra a sua vontade, por quase fazer esquecer o
lugar central que a comunidade, os relacionamentos e o próprio Cristo como Revelação
última e perfeita, tiveram na sua vida a ministério. E, no final da sua vida, a sua justa
indignação perante práticas como o aborto levaram a que o seu conceito de co-

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beligerância não devidamente acautelado o levasse a uma associação pública a líderes
radicais da nova direita americana, como Jerry Fawell e Pat Robertson (perdoe-me quem
não concorde com a minha designação de “radicais”, mas essa é a minha perspectiva
deles). Finalmente, parece-me que Schaeffer não deu o devido valor à dimensão
existencial, estética e até a uma certa componente mística (no sentido de inexaurível pela
razão) da nossa Fé, que não sendo “um salto no escuro”, toca em todos os aspectos e
dimensões do existir, e não apenas em verdades proposicionais. Mas tem o mérito de
demonstrar que a Palavra escrita e o Verbo incarnado são um e são o alicerce da nossa fé
e prática, o único fundamento da Igreja. Devo a Schaeffer em grande medida o ter-me
trazido de volta à Bíblia e a um Evangelho total para o homem total e a existência total.
Como ele, sabemos que só Cristo e a sua Palavra são o alicerce indestrutível mediante o
qual vivemos e continuamente nos devemos renovar e reformar. Por outro lado, o nosso
envolvimento na cultura e, mesmo a nossa acção “evangelística” não nos deve fazer
esquecer de que toda a soberania pertence a Deus! Pensamos e agimos. Sim! Mas oramos
e descansamos, pois não é o nosso activismo, muitas vezes obsessivo, irreflectido e
carregado de ressentimento, que produz os frutos “dignos do Reino”. Cito, a terminar e
em consonância com o que acabo de dizer, uma mulher que na sua época soube ser
genuína e transparente na sua perplexidade e busca:

«Seria preciso escrever coisas eternas, para termos a certeza de que tenham
actualidade» (Simone Weil , 1909-1943, Carta aos pais, de 1/2/1943).

E ainda:

«Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna».


(Pedro, o discípulo e apóstolo de Jesus, 1º Século, Evangelho S. Mateus 6:68)

Joaquim Rogério

19/09/05

ALGUMA INDICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

De F. Schaefer:

o Francis A. Schaeffer Trilogy, IVP, England 1994 (versão brasileira de cada livro –
“O Deus que Intervém” e a “Morte da Razão” disponíveis através da Editora
ABU, Brasil SP)
o Poluição e a Morte do Homem- Uma perspectiva Cristã da Ecologia, JUERP,
1976 (creio que já não é editado)
o Death in The City, IVP, Illinois 1973 (não sei se há nova edição)
o 2 Contens, 2 Realities, IVP, Illinois 1974 (não sei se há nova edição)
o Whatever Happened to the Human Race? – Exposing our rapid yet subtle loss of
human rights, Ed. Fleming H. Revell Company 1979

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Outros autores:

o Fides et Ratio, Encíclica de João Paulo II, 1998


o “Teologia e Filosofia Em Contexto Pós-Moderno”, Duque J., em Fé e Razão:
Caminhos de Diálogo, Didaskalia, Lisboa, 2000
o Por um Humanismo Cristão, Maritain J., Paulus
o “Ética”, em A Filosofia no Século XX, Fundação Calouste Gulbenkian, 3ª Ed.
o Ética a Nicómaco, Aristóteles, Quetzal Editores, Lisboa 2004
o O Justo ou a Essência da Justiça, Paul Ricoeur, Instituto Piaget, Lisboa 1995
o Ética e Direito, Perelman C., Martins Fontes, SP 2000
o A Condição Humana, Arendt H., Relógio D´Água, Lisboa 2001
o Os Fundamentos da Moralidade, Frankl G., Bizâncio, Lisboa 2003
o Deus na Filosofia do Século XX, Obra Colectiva, Ed. Loyola, 2ª Ed. Brasil SP
2000
o Taking Rights Seriously, Dworkin R., Harvard University Press, 1978
o Creation & The History of Science, Kaiser C., Marshall Pickering, London 1991
o L´Humanism, inutile et incertain? – une critique des droits de l’homme, Delruelle
E., Labor, Bruxelles 1999
o O Pensamento Jurídico Europeu, Arnaud André-Jean, E.I., Lisboa 1995
o Filosofia da Comunicação,Ferry Jean-Marc, Fenda, Lisboa 2000
o Uma Teoria da Justiça, Rawls J., Presença, Lisboa 1993
o A Lei dos Povos, Rawls J., Quarteto, Coimbra 2000

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