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MARX E O MÉTODO DIALÉTICO

DIALÉTICA MARXISTA VERSUS PENSAMENTO BURGUÊS

- Existe uma oposição entre as várias


manifestações do pensamento burguês.
- O marxismo não possui uma oposição ao
pensamento burguês e sim um antagonismo.
- O marxismo como crítica do pensamento
burguês.
- O marxismo como modo de pensar
radicalmente antagônico ao modo burguês.

KORSCH, K. Marxismo e Filosofia.


As Origens da Dialética Marxista
• Dialética pré-hegeliana: Heráclito, Aristóteles
e Kant.
• Economia Política Inglesa (Smith e Ricardo).
• Socialismo Utópico: utopia e proletariado.
• Feuerbach e o humanismo abstrato.
• Hegel e a dialética idealista.
• Marx: assimilador.

VIANA, N. A Consciência da História.


A dialética marxista como dialética revolucionária
• Os elementos constitutivos da dialética
marxista (totalidade, historicidade,
radicalidade) e sua base teórica (materialismo
histórico) e seu campo axiomático
(perspectiva do proletariado) a tornam
revolucionária.
• “Semente de dragões”.
• Crítica-revolucionária e o compromisso com a
verdade.

VIANA, N. A Dinâmica das Renovações Hegemônicas.


Dialética e Revolução
• A dialética (marxista) é revolucionária.
• Mas se for isolada de suas bases (o que significa
sua deformação, pois ela é parte indissociável
de uma totalidade de pensamento), torna-se
“ideologia”. E deixa de ser dialética marxista.
• É fundamental, portanto, a compreensão da
totalidade do marxismo (materialismo histórico
e teoria do capitalismo, perspectiva do
proletariado).

VIANA, N. A Dinâmica das Renovações Hegemônicas.


O Método dialético:
Fundamentos teóricos
• Teoria da realidade
• Teoria da consciência
• Materialismo histórico: teoria da história (e da
sociedade) e do capitalismo.
Teoria da Realidade
Concepções reducionistas do real

• O real como matéria (física).


• O real como empírico.
• O real como ideia.
O que é o real?
• A concepção marxista do real:
• O real como concreto.
• A realidade “social”: a sociedade*.
• O concreto é uma totalidade, é histórico, é
determinado (síntese de múltiplas
determinações).

* O problema da relação entre dialética e natureza.

Marx, K. O Método da Economia Política


O real como totalidade
• O real sendo “concreto” é uma totalidade.
• O real é um conceito, que significa o que
existe efetivamente, assim como realidade,
que é o conjunto daquilo que existe
efetivamente.
• O concreto é uma categoria do pensamento,
uma categoria da dialética.
• As várias concepções de totalidade.

VIANA, N. A Consciência da História.


KOSIK, Karel. Dialética do Concreto.
O real como totalidade
“A totalidade concreta não é um método [sic]
para captar e exaurir todos os aspectos,
caracteres, propriedades, relações e processos
da realidade; é a teoria [sic] da realidade como
totalidade concreta” (KOSIK, 1986, p. 36).
• Holismo e totalidade*.
*Atomístico-racionalista (de Descartes até Wittgenstein);
organicista (Schelling, etc.). [Kosik].

• Totalidade fechada e modelos: reducionismo.

VIANA, N. A Consciência da História.


KOSIK, Karel. Dialética do Concreto.
Teoria da consciência
Concepções ideológicas da consciência:

• A percepção do real é mediada pela


consciência e essa é constituída socialmente.
• O real e as representações do real.
• O idealismo
• As ideias determinam a realidade.
• A consciência é sempre verdadeira.

MARX, K. A Ideologia Alemã.


VIANA, N. A Consciência da História.
O que é a consciência?
• A consciência é o “ser consciente”.
• A consciência no interior da totalidade: a constituição
social da consciência.
• Marx e as representações “reais” (verdadeiras) e
“ilusórias” (falsas).
• A base real da consciência: relações sociais.
• As determinações da consciência: relações sociais,
necessidades e interesses derivados dessas relações
sociais.
• A consciência individual como produto do processo
histórico de vida do indivíduo (como ser social).

MARX, K. A Ideologia Alemã.


VIANA, N. A Consciência da História.
Consciência e Realidade
• A realidade não é percebida imediatamente.
• A consciência como mediação entre o indivíduo e
a realidade.
• O real e a aparência.
• A essência e a existência.
• O problema da ideologia: obstáculo para
percepção do real.
• Ideologia, divisão social do trabalho e interesses.
Psicanálise e indivíduo: razoabilização.
• As representações cotidianas ilusórias
(imaginário).
MARX, K. A Ideologia Alemã.
VIANA, N. A Consciência da História.
O Materialismo histórico e a teoria do
capitalismo
• O materialismo histórico é uma teoria da
história que traz em si uma teoria da
sociedade.
• Formas de sociedades e sociedades de classes.
• Modos de produção e classes sociais.
• Capitalismo: modo de produção e sociedade.
O QUE É O MÉTODO DIALÉTICO?

- O método dialético é um recurso heurístico, uma


ferramenta intelectual, utilizada para analisar e explicar a
realidade.
- Esse recurso heurístico é revolucionário, já que se vincula à
perspectiva do proletariado e por isso se coloca como
essencialmente crítico das ideologias e relações sociais
burguesas e possuindo um compromisso com a verdade.
- A dialética é inseparável da perspectiva do proletariado
(interesses, valores, etc.) e de sua produção teórica
(materialismo histórico, teoria do capitalismo), bem como
possui uma relação indissolúvel com a estratégia
revolucionária do movimento operário.
- Por conseguinte, o método dialético não é apenas “mais
um método”, mas um método antagônico a todos os
métodos gerados a partir da episteme burguesa.
KORSCH, K. Marxismo e Filosofia.
VIANA, N. A Consciência da História
A Perspectiva do Proletariado
• A perspectiva do proletariado, então, é a perspectiva de
uma classe social determinada e que expressa como ela
percebe a sociedade a partir de sua relação com ela,
especialmente nos momentos de ruptura revolucionária.
Tal perspectiva, segundo Marx, marcaria a unidade entre
consciência e realidade, expressando uma consciência
correta da realidade, o que significa que se trata de uma
perspectiva do proletariado revolucionário, que é aquele
que rompe com as ilusões em geral (representações
cotidianas, ideologias, etc.) e torna-se classe
autodeterminada. Daí o seu caráter essencialmente crítico-
revolucionário. A perspectiva de Marx busca ser esta
perspectiva de classe, expressão teórica do proletariado
revolucionário, e é neste sentido que se pode compreender
sua obra (VIANA, N. Escritos Metodológicos de Marx).

VIANA, N. Escritos Metodológicos de Marx


O ponto de partida
“O físico observa os processos naturais seja onde
eles aparecem mais nitidamente e menos turvados
por influências perturbadoras, seja fazendo, se
possível, experimentos sob condições que
assegurem o transcurso puro do processo. O que
eu, nesta obra, me proponho a pesquisar é o modo
de produção capitalista e as suas relações
correspondentes de produção e circulação. Até
agora, a sua localização clássica é a Inglaterra. Por
isso ela serve de ilustração principal à minha
explanação teórica” (Marx, 1988a, p. 18).

MARX, K. O Capital. Vol. 01.


ESSÊNCIA, ABSTRAÇÃO E ILUSTRAÇÃO

• A pesquisa deve buscar descobrir a


determinação fundamental (essência), para
depois reconstituir a totalidade, a existência
(as múltiplas determinações).
• A descoberta da determinação fundamental (e
das demais determinações) é realizada via
abstração.
• A ilustração significa o uso de um caso
concreto (Inglaterra), em sua forma mais pura,
para demonstrar a manifestação do fenômeno
pesquisado (modo de produção capitalista).
VIANA, N. Escritos Metodológicos de Marx
O ponto de partida correto
“A partir do momento em que esses fatores
isolados foram mais ou menos fixados e
teoricamente formulados, surgiram sistemas
econômicos que partindo de noções simples tais
como o trabalho, a divisão do trabalho, a
necessidade, o valor de troca, se elevavam até o
Estado, às trocas internacionais e ao mercado
mundial”.
- O ponto de partida é o processo de abstração
(partindo do real e das concepções sobre o real)
que visa descobrir a determinação fundamental e
depois as múltiplas determinações do fenômeno.

MARX, K. O Método da Economia Política


Ponto de Partida:
• O processo de abstração é o ponto de partida do
método dialético.
• O processo de abstração não emerge do nada e
sim do: 1) teoria ou ideologias pré-existentes; 2)
material informativo sobre o fenômeno
pesquisado.
Ilustração: Marx e a análise do modo de produção
capitalista.
- Marx efetivou sua análise a partir da leitura dos
economistas (e outros) e das informações que
tinha sobre a realidade “econômica”. MARX, K. O Capital
Determinação fundamental:
A constituição do fenômeno
“Para Marx, só importa uma coisa: descobrir as leis
[determinações] dos fenômenos de cuja investigação ele
se ocupa. E para ele é importante não só a lei
[determinação fundamental] que os rege, à medida que
eles têm forma definida e estão numa relação que pode
ser observada em determinado período de tempo. Para
ele, o mais importante é sua lei de modificação, de seu
desenvolvimento [dinâmica/contradição da
determinação fundamental], isto é, a transição de uma
forma para outra, de uma ordem de relações para outra.
Uma vez descoberta essa lei [determinação fundamental]
, ele examina detalhadamente as consequências por meio
das quais ela se manifesta na vida social. (...)”.
MARX, K. O Capital
Especificidade Histórica
“Mas, dir-se-á, as leis [determinações] gerais de
desenvolvimento da vida econômica são sempre as
mesmas, sejam elas aplicadas no presente ou no
passado. (...). É exatamente isto que Marx nega.
Segundo ele, essas leis abstratas não existem. (...).
Segundo sua opinião, pelo contrário, cada período
histórico possui suas próprias leis [determinações].
Assim que a vida já esgotou determinado período de
desenvolvimento, tendo passado de determinado
estágio a outro, começa a ser dirigida por outras leis
[determinações]”.
- Cada sociedade, modo de produção, possui
determinações próprias.
- Korsch e a especificidade histórica.
MARX, K. O Capital
Processo de abstração: teoria/ideologia.
• “A partir de um determinado momento histórico, este
processo de abstração passa a ser beneficiado pela teoria
previamente existente e por isso não se recomeça a
pesquisa do nada ou do concreto-dado e sim a partir dos
conceitos desenvolvidos pela teoria (marxista) da
sociedade. Basta lembrarmos a afirmação de Marx,
“A partir do momento em que esses (...) fatores isolados foram
mais ou menos fixados e teoricamente formulados, surgiram
sistemas econômicos que partindo de noções simples tais
como o trabalho, a divisão do trabalho, a necessidade, o valor
de troca, se elevavam até o Estado, às trocas internacionais e
ao mercado mundial. Este (...) método é evidentemente o
método cientificamente correto” (Marx, 1983, p. 219).
MARX, K. O Método da Economia Política.
VIANA, N. Escritos Metodológicos de Marx.
Processo de abstração: informações sobre o fenômeno.
• “Os pressupostos de que partimos não são arbitrários, nem
dogmas. São pressupostos reais de que não se pode fazer
abstração a não ser na imaginação. São os indivíduos reais, sua
ação e suas condições materiais de vida, tanto aquela por eles já
encontradas, como as produzidas por sua própria ação. Estes
pressupostos são, pois, verificáveis por via puramente empírica”
(Marx e Engels, 1991, p. 26-27).
• Aqui, por Marx remeter ao “empírico” e colocar como
“verificável”, pode parecer uma postura empiricista ou positivista,
tal como Althusser (1979) colocou. Porém, isto é um equívoco que
descontextualiza a afirmação e desconsidera que no movimento
do pensamento de Marx ele ainda estava produzindo os conceitos
que depois serão a base de sua teoria. É posteriormente que ele
irá abordar a questão do concreto ao invés do empírico, mas o fato
de usar esta última expressão não significa ter a posição global de
quem a utiliza como parte constitutiva do seu discurso. É um
termo de uso conjuntural em sua obra e não estrutural (sobre
elementos conjunturais e estruturais de um discurso, cf. Viana,
2009).
MARX, K. A Ideologia Alemã.
VIANA, N. Escritos Metodológicos de Marx.
• O objetivo do processo de abstração é descobrir
a essência (determinação fundamental) e sua
manifestação concreta/existência (múltiplas
determinações) e ao realizar isso, reconstitui o
concreto-determinado no pensamento.
• Através da análise/abstração se reconstitui o
fenômeno como concreto-determinado na
mente.
• Ilustração: Marx partiu dos “conceitos” da
economia política e da observação da realidade
para elaborar seus próprios conceitos.

MARX, K. O Capital
• Após o processo de abstração concluído, o
concreto-determinado está reconstituído no
pensamento.
• Duas observações complementares:
1) A gênese do concreto-determinado no
pensamento é diferente da gênese do fenômeno
na realidade. Na realidade, o fenômeno já está
determinado, enquanto que no pensamento é
preciso descobrir suas determinações.
2) O método de análise é o descrito aqui, mas o
método de exposição é distinto. A exposição
começa pela essência (determinação
fundamental), pois ela já foi descoberta (pode
parecer que se sabia do resultado antes da
pesquisa).
MARX, K. O Capital.
MARX, K. O Método da Economia Política.
MAPA MENTAL:
DIALÉTICA MATERIALISTA
As Categorias da Dialética

• As origens hegelianas das categorias da


dialética.
• Marx e a assimilação das categorias
hegelianas.
• O pouco desenvolvimento das categorias
hegelianas por Marx.
• Marx e o “tratado sobre dialética” não
redigido.
• Os marxistas e o pouco desenvolvimento das
categorias da dialética.
VIANA, N. A Dinâmica das Renovações Hegemônicas.
O Ser
• Hegel e a doutrina do ser (Ciência da Lógica).
• Marx e referências ao ser.
• Idioma alemão e o português: gestalt (forma),
Inhalt (conteúdo); Gehalt (forma-conteúdo).
• O ser como Gehalt, forma e conteúdo, a
totalidade.

Hegel, G. W. Ciência da Lógica.


Ser: essência e existência
• O ser é como o concreto, manifesta a
determinação fundamental (essência/conteúdo)
e as demais determinações (forma/existência).
• A categoria “ser” enfatiza a essência e sua
unidade com a existência concreta.
• Ilustração: O ser humano e o ser-de-classe do
proletariado.

Hegel, G. W. Ciência da Lógica.


As categorias da dialética:
• Particularidade/Totalidade
• Concreto/concreção
• Abstrato/abstração
• Determinação/determinação fundamental
• Conceito/Categoria
• Singular/Universal
• Forma/Conteúdo
• Essência/Existência/Aparência
• Ser
• Correspondência/Unidade
• Contradição/Negação/Oposição/Antagonismo
• História/historicidade
• Necessidade/possibilidade/potencialidade/tendência
• Vir-a-ser/Transformação
• Outras
MARX, K. O Método da Economia Política
Outras categorias da dialética:
O Universal e o Singular
• A essência de um ser é universal para esse ser.
• A existência de um ser é a manifestação
singular da essência deste ser.
• A essência humana é universal para todos os
seres humanos.
• A essência proletária é universal para todos os
proletários.

VIANA, N. A Consciência da História.


Conceito e Essência
• O conceito explicita a essência do ser, logo, é
universal para este ser.
• O conceito de Estado expressa sua essência e as
diferentes formas estatais expressam sua
existência/concreticidade.
• Uma dessas formas estatais é o Estado capitalista
e o seu conceito expressa sua essência específica,
sendo que ele também assume formas distintas.
• O estado neoliberal é uma forma do estado
capitalista e o seu conceito expressa sua essência
que se manifesta em todas as suas formas de
existência.

VIANA, N. A Consciência da História.


Abstrato e Concreto
• O abstrato é um elemento/momento do
concreto, existe realmente, mas não
isoladamente.
• O concreto é uma totalidade.
• A abstração é o processo mental no qual se busca
descobrir as determinações e a essência dos
fenômenos.
• A concreção é o processo no qual, após a
descoberta a essência, busca descobrir na
história e conjunto das relações sociais a sua
manifestação concreta, suas múltiplas
determinações.

MARX, K. O Método da Economia Política.


A abstração dialética
• A abstração pode ser compreendida sob
forma em que contribui para a reconstituição
do real no pensamento (abstração dialética),
no qual a totalidade está presente, ou sob
forma em que é ideológica, na qual isola ou
deforma uma parte da realidade, a abstração
metafísica (abstratificação).
• Abstração (dialética) e abstratificação
(metafísica).

VIANA, N. Escritos Metodológicos de Marx.


O Significado da Abstração Dialética
• A abstração é uma ferramenta intelectual
necessária para a reconstituição do real no
pensamento.
• A abstração só ganha esse significado se for
dialética, ou seja, se é materializada a partir do
método dialético e usando as demais categorias da
dialética.
• A abstração não-dialética (metafísica,
abstratificação) é um obstáculo para a
reconstituição do real no pensamento, pois
deforma o real.
• A abstração dialética expressa a perspectiva do
proletariado e a abstratificação expressa uma
perspectiva burguesa ou burocrática.
• A opção pela abstração dialética é uma opção de
classe e que tem caráter crítico-revolucionário
enquanto que a opção pela abstratificação
revela (quando se conhece a dialética) uma
outra opção de classe, conservadora e por isso
acrítica, apologética, pseudocrítica, etc.
• O significado da abstração no método dialético é
que expressa o seu processo analítico, momento
de uso das categorias da dialética para realizar a
análise/descoberta das determinações.
• É o momento em que a dialética marxista se
materializa concretamente.
A importância da abstração dialética
• A importância da abstração dialética reside no
fato de que ela é o meio necessário para a
compreensão teórica da realidade, ou seja,
para uma consciência correta num plano mais
profundo e desenvolvido.
• A abstração no método dialético é
fundamental, sendo sua forma de efetivação.
• A abstração dialética, sendo autêntica, é
crítico-revolucionária, é “semente de
dragões”, permitindo a crítica desapiedada do
existente.

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