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ISSN 0102-0110
Dezembro, 2012 342
Manual de Curadores de
Germoplasma – Animal:
Conservação e Uso de
Animais Silvestres
Foto: Max S. Pinheiro
ISSN 0102-0110
Dezembro, 2012
Documentos 342
Manual de Curadores de
Germoplasma – Animal:
Conservação e Uso de
Animais Silvestres
José Roberto Moreira
1ª edição (online)
636.08 – CDD 21
© Embrapa 2012
Autores
Na década de 1970, a Food and Agriculture Organization (FAO), órgão das Nações Unidas,
estimulou o estabelecimento de uma rede mundial de centros para a conservação de
recursos genéticos situados em regiões consideradas de alta variabilidade genética. Em
1974, o Consultative Group for International Agricultural Research (CGIAR) criou o
International Board for Plant Genetic Resources (IBPGR), hoje transformado no Bioversity
International. No mesmo ano, a Embrapa reconheceu a importância estratégica dos
recursos genéticos com a criação do Centro Nacional de Recursos Genéticos (CENARGEN),
que mais recentemente adotou a assinatura-síntese Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia.
Mauro Carneiro
Chefe Geral
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Sumário
Introdução 08
Manejo sustentável 09
Manejo de população-problema 11
Limitações da legislação 13
Conservação in situ 15
Conservação ex situ 15
Referências 19
Conservação e Uso de
Animais Silvestres
José Roberto Moreira
Introdução
A fauna sempre foi um importante recurso para as populações rurais, como também para
os centros urbanos. Antes da colonização portuguesa, os índios brasileiros utilizavam a
fauna local de maneira extrativa. Apenas um animal de nossa fauna – o pato (Cairina
moschata) – foi domesticado pelos indígenas. Apesar de seu potencial de uso, a fauna
neotropical continua sendo muito pouco utilizada ou, ainda, aproveitada de uma maneira
marginal pelas populações rurais ou de baixa renda.
Figura 1. Pato-selvagem (Cairina moschata), única espécie de animal silvestre domesticada no Brasil.
Manejo sustentável
Manejo sustentável refere-se a sistemas de manejo que podem existir indefinidamente sem
depauperar os recursos do ambiente. Pode-se resumir os objetivos de manejo de
populações de animais silvestres em três diferentes alvos: a) aumento de uma população
em declínio e/ou que esteja ameaçada de extinção; b) exploração de uma população para
obtenção de uma produção sustentável; e c) redução da densidade de uma população-
problema cujo tamanho encontra-se acima do desejável.
A técnica mais simples para se alcançar o manejo sustentável de uma espécie é a remoção
de parte da população no mesmo percentual de sua taxa de crescimento. Isso significa que
quanto maior for a taxa de crescimento de uma população, maior será o percentual desta
que se pode explorar. Uma população pode ser estimulada a crescer, caso se aumente o
volume de recursos essenciais disponíveis para os animais. A forma mais fácil de aumentar
a disponibilidade de recursos para cada indivíduo é por meio da remoção de uma parcela
dessa população. Cada indivíduo que permanece na população passa a ter mais recursos a
seu dispor, e a consequência disso é o aumento da fertilidade e a redução da mortalidade,
especialmente de indivíduos jovens dessa população.
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Figura 2. Tracajá (Podocnemis unifilis), espécie de quelônio que tem potencial para ser manejada de maneira
sustentável.
Pode-se dizer, também, que quanto menor for o tamanho populacional, maior será o
volume de recursos disponíveis para cada indivíduo e maior será a taxa de crescimento
populacional; portanto, maior será a taxa de exploração sustentável possível de submeter
essa população. Assim, uma população pequena pode crescer muito e ser submetida a
uma taxa alta de exploração. O inverso também é verdadeiro. Entretanto, não é
interessante explorar muito uma população pequena, nem explorar pouco uma população
grande. A produção máxima sustentável (PMS) de uma população encontra-se em um
ponto intermediário entre esses dois extremos. Também é importante perceber que, para
se obter uma determinada produção sustentável (dada em número de animais abatidos),
existem dois possíveis tamanhos de população (fora a PMS).
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Taxa de Abate
Produção
Taxa de Abate
Máxima
Produç ão Sustentável
Produção
Manejo de população-problema
Em diversas regiões do país, é cada dia mais comum o conflito por espaço entre a vida
silvestre e o homem. Nesses casos, a expansão agrícola faz com que animais silvestres
compitam com espécies domésticas no campo ou destruam plantações comerciais. Nas
cidades, a expansão imobiliária faz com que espécies silvestres passem a invadir as casas,
comer plantas ornamentais em jardins, morrer afogadas em piscinas, causar acidentes
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Figura 4. Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), espécie silvestre que tem sido considerada problema em
diversos locais das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.
Diversos questionamentos devem ser feitos antes de se iniciar qualquer ação de controle
de uma população. O primeiro deles está relacionado à real necessidade de controle. Qual
seria o nível de dano caso nenhum controle fosse realizado? A questão seguinte está
relacionada ao custo/benefício do controle. Qual é o limite econômico ou estético para que
a ação de controle seja necessária? Outra questão está relacionada às consequências do
controle, seja para o meio ambiente, seja para espécies que não são alvo da ação.
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Finalmente, a última questão está relacionada às causas do dano. Seria a espécie escolhida
como espécie-alvo a principal causadora do dano?
Limitações da legislação
Com raras exceções, a fauna brasileira apresenta baixa taxa de crescimento corporal e
pouca prolificidade. Criá-la em cativeiro é um processo caro e ineficiente. A produção de
carne de animais silvestres em cativeiro é maior do que na natureza, mas a sua
economicidade é questionável para a maioria das espécies. É fantasia acreditar que sua
produção pode competir com as espécies domésticas melhoradas nos últimos 5.000 anos,
e que sua produção seja econômica, mesmo que o preço de sua carne seja mais elevado.
A apresentação da imagem de que a fauna brasileira tem alto potencial produtivo é, na
maioria dos casos, charlatanismo.
Muitas espécies da fauna silvestre brasileira são utilizadas como animais de estimação, de
uso canoro ou de laboratório; outras têm alguns de seus produtos utilizados na indústria
farmacêutica ou até na decoração. Nesses casos, devido ao alto preço alcançado por
esses produtos, a criação em cativeiro em sistema intensivo pode ser economicamente
viável. Por exemplo, a arara azul (Anodorhynchus hyacinthinus) pode ser vendida por mais
de U$ 7,000 nos Estados Unidos, o que permite sua criação em sistema intensivo. As
espécies nativas brasileiras que se prestam para a criação em cativeiro ou para o manejo
sustentável estão listadas na Tabela 1.
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Figura 6. Papagaio-verdadeiro (Amazonia aestiva), espécie de psitacídeo muito utilizada como animal de
estimação, que tem potencial para ser criada em cativeiro.
Conservação in situ
O melhor e mais eficiente meio de conservação da fauna nativa é por meio da conservação
in situ. Espécies silvestres ameaçadas de extinção não devem ser recomendadas para o
uso comercial. Elas devem ser conservadas em unidades de conservação. Por outro lado,
espécies de uso comercial são geralmente espécies de maior prolificidade, generalistas e
que não se encontram vulneráveis em seu estado de conservação. São, na maioria das
vezes, espécies abundantes em seu estado natural. Assim, sua conservação em unidades
de conservação presta-se à manutenção de uma diversidade genética do recurso que pode
estar sendo reduzida pela destruição de habitat e pela pressão antrópica fora das unidades
de conservação. O manejo sustentável de animais silvestres na natureza (fora de unidades
de conservação) permite a manutenção da diversidade genética da população em questão
e pode ser utilizado como mais uma ferramenta para a conservação de espécies e de
habitats nativos.
Conservação ex situ
Portanto, é de pouco uso para espécies comerciais que não se encontram vulneráveis. É de
grande utilidade, entretanto, para espécies ameaçadas de extinção.
Bancos de tecido e de DNA são de grande utilidade nos estudos de identificação de genes
de importância econômica ou em estudos ecológicos e filogenéticos. A Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia mantém um Banco de Tecidos e de DNA de animais silvestres.
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Referências