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História da Arte

MASP

Prof. Renato Brolezzi

Análise de uma obra de arte

ATHENA PARTHENOS
Carolina Vigna Marú
http://vignamaru.com.br/
O quê

Escultura em mármore de uma mulher vestida, com um elmo, um escudo e


com uma serpente a seus pés (na face interior do escudo). Em sua mão
direita pousa uma figura feminina alada.

Quando

A escultura é uma miniatura romana do original grego em madeira, couro e


marfim, de Fídias, entre 447 e 432 a.C.

A obra original pertence ao período clássico grego. Nota-se uma grande


virtuose, tanto de técnica quanto de anatomia e o equilíbrio dinâmico
característico da época, onde as partes estão em movimento, mas sempre
obedecendo à harmonia grega. Ainda que sutilmente por razão da
vestimenta, podemos perceber a perna estrutural (razão masculina) e a
perna decorativa ligeiramente dobrada (sensibilidade e graça feminina). O
belo composto ainda não denota emoção na fisionomia, característica que só
acontecerá mais tarde no período Helenístico.

Quem

A escultura representa Pallas Athena.

Por quê

O elmo indica se tratar de uma guerreira. Ela segura ainda um daimon, Nike,
que representa a vitória. A presença da serpente, em referência à medicina
de Asclépio, indica a habilidade e esperteza. A figura representada é, sem
sombra de dúvidas, a deusa Pallas Athena, filha de Zeus e Metis.

Onde

A escultura original recebeu seu nome por ter sido parte do complexo
arquitetônico do Partenon. A miniatura romana atualmente encontra-se no
Museu Arqueológico Nacional de Atenas.

O escultor oficial de Atenas, Fídias, usava materiais preciosos (ouro, marfim,


pedras preciosas, etc). Todas as esculturas foram destruídas por
colonizadores, para aproveitar a matéria-prima. Fídias fez também os relevos
dos templos de Zeus, em Olímpia e do Partenon.

O Partenon era inicialmente um prédio público, e comportava o arsenal e a


reserva do tesouro. O que conhecemos é a ruína da reconstrução. O original
foi explodido quando os turcos invadiram e armazenaram pólvora no
Partenon (que foi pelos ares). Gregos e turcos brigam até hoje. Péricles
reconstruiu Atenas, com o saldo da guerra. Depois da reconstrução, o
Partenon passou a homenagear a padroeira da cidade, Pallas Athena
(Minerva).

Ilustração do interior do Partenon mostrando a estátua colossal de Athena, de


Candace Smith, 1990.

Logo na entrada, no interior do Partenon encontrava-se uma colossal estátua


de Pallas Athena, com 11 metros de altura, feita em madeira, coberta com
materiais preciosos (armadura e a roupa em ouro, pele de marfim, olhos –
tanto de Athena quanto da serpente – de pedras preciosas) e cravejada com
todo tipo de riquezas.
Mitologia

Pallas Athena é filha de Zeus com a Titã Metis. Gaia profetizou que Zeus,
assim como seu pai, seria destronado pelo filho. Contou ainda que Metis daria
à luz primeiramente uma filha e depois um filho, o próximo rei dos deuses e
dos homens.

Zeus resolveu então, assim como seu pai Cronos havia feito com os filhos,
engolir Metis grávida. A filha de Metis cresce dentro do corpo do pai até que
Zeus começou a ter dores de cabeça insuportáveis. Ordenou a Hefesto que
abrisse seu cérebro com um machado, de onde saiu (já vestida e equipada) a
sua filha, Athena.

Athena, a filha favorita de Zeus, sempre lhe foi leal. É a deusa da habilidade,
da astúcia, da inteligência, da indústria, da guerra e da justiça.

Elementos iconográficos

Roupa

A figura feminina na cultura Greco-romana pertence ao núcleo privativo e


íntimo e jamais pode ser vista nua em público. O universo público, da pólis,
pertence à política e aos homens.

Por cima de sua roupa podemos ver um aegis que, de acordo com a
mitologia, foi emprestado por Zeus. O aegis é um tipo de armadura que
protege os seios e as costas e é – desde a tradição egípcia – um símbolo de
proteção e/ou patrocínio. É muito mais um signo do que uma proteção efetiva
contra lanças ou golpes. No caso de Athena, o seu aegis mostra a todos que
ela é protegida de Zeus. Athena é sempre representada com o aegis mas a
sua forma pode variar bastante, indo desde uma cobertura relativamente
simples até armaduras ricas em detalhes e símbolos.

Em Athena Parthenos, o aegis repousa abaixo de cachos de cabelo de Athena


e mostra também pequenas serpentes espalhadas em sua superfície.

Serpente

Athena é a deusa da habilidade, da inteligência e é muitas vezes associada a


Asclépio e à medicina.

A serpente é o animal-símbolo de Asclépio, da medicina.

Higéia, outra deusa, filha de Asclépio, é a deusa da saúde, limpeza, higiene e


saneamento. “Higéia” pode ser entendido como um conceito maior,
entretanto, o de auxiliares de saúde (atuais enfermeiras), que trabalhavam
diretamente com Asclépio. Athena Higéia é um dos títulos dados à Athena,
segundo Plutarco: “One of its artificers, the most active and zealous of them
all, lost his footing and fell from a great height, and lay in a sorry plight,
despaired of by the physicians. Pericles was much cast down at this, but the
goddess appeared to him in a dream and prescribed a course of treatment
for him to use, so that he speedily and easily healed the man. It was in
commemoration of this that he set up the bronze statue of Athena Hygieia on
the acropolis near the altar of that goddess, which was there before, as they
say.”1

1
PLUTARCO, Life of Pericles. A wikipédia possui uma tradução razoável deste trecho em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hígia
A imagem de Athena é associada tanto às guerras (e estratégias de guerra)
quanto ao saber e à medicina. Por este motivo é representada com
serpente(s).

É importante lembrar que, para a cultura Greco-romana, a serpente não


transmitia temor ou perigo. Seu veneno era usado como anestesia e era
considerada como um animal útil para deuses e humanos.

Elmo

O elmo é um dos elementos representativos de guerra, indicando a deusa


guerreira.

O elmo possui três (número sagrado dos gregos) sub-elementos, sendo dois
cavalos alados2 (laterais) e uma esfinge (central)3. Todos possuem elmos
individuais, formando o complexo iconográfico do elmo de Athena.

2
Gombrich refere-se aos cavalos alados como grifos mas o corpo claramente é de cavalo,
não de leão. Pensei na possibilidade de um hipogrifo mas não encontrei referências a
respeito.
3
O animal-símbolo de Athena é a coruja e portanto faz sentido que os elementos do elmo
sejam alados.
O mito egípcio da Esfinge foi reinterpretado na tradição grega e era uma
demonstração de poder (leão, asas de águia).
Nike

O daimon da vitória, Nike, pousa sobre sua mão direita, garantindo o sucesso
tanto em guerra quanto em tempos de paz. Sabemos tratar-se de Nike por
causa das asas, da vestimenta feminina e do contexto.

Escudo

O escudo protege não apenas Athena e Nike mas também a serpente. Ou


seja, protege a guerra (e suas conquistas vitoriosas) e o conhecimento (a
medicina). O escudo está apoiado na base, em uma posição de paz, ou seja,
a imagem representa uma vitória, uma guerra passada e vencida. Trata-se de
um momento pós-guerra, portanto4.
4
Acredito que a vitória a que se refere este contexto seja a contra a Pérsia, marcando o
início do Século de Péricles e da democracia grega, mas não encontrei nenhuma referência a
este respeito.
Bibliografia

CHEERS, Gordon. Mitologia – Mitos e lendas de todo o mundo, trad. Maria


Isaura Morais. Lisboa: Lisma, 2006.

GOMBRICH, Ernst Hans. A História da Arte, trad. Álvaro Cabral. Rio de


Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2008.

HAUSER, Arnold. História Social da Literatura e da Arte. São Paulo: Mestre Jou,
1982.

OSTROWER, Fayga. Universos da Arte. Rio de Janeiro: Campus, 1991.

OSTROWER, Fayga. A sensibilidade do intelecto: visões paralelas de espaço e


tempo na arte e na ciência. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

WALDSTEIN5, Charles, Sir. Greek sculpture and modern art, two lectures
delivered to the students of the Royal Academy of London. Londres:
Cambridge University Press, 1914.

WALDSTEIN6, Charles, Sir. Essays on the art of Pheidias. Londres: Cambridge


University Press, 1885.

Web-sites de apoio (acessados em 1º de maio de 2009)

INTERNET ARCHIVE: http://www.archive.org/

PLUTARCO, Life of Pericles, p.45:


http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Plutarch/Lives/Peri
cles*.html

PHEIDIAS, SCULPTOR TO THE GODS, artigo de Colin Delaney:


http://www.perseus.tufts.edu/cl135/Students/Colin_Delaney/fathena.ht
ml

WIKI COMMONS (imagens): http://commons.wikimedia.org/

5
disponível para download na íntegra, em inglês:
http://www.archive.org/details/greeksculpturemo00waldrich
6
disponível para download na íntegra, em inglês:
http://www.archive.org/details/essaysonartofphe00walduoft

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