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VAGNER DE SOUZA
Tijucas
2009
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VAGNER DE SOUZA
Tijucas
2009
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VAGNER DE SOUZA
Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e
aprovada pelo Curso de Direito do Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, campus de Tijucas.
Agradeço primeiramente a Jesus Cristo, nosso senhor e salvador, por me dar saúde,
inteligência e muita força de vontade pra realizar este trabalho e por colocar tantas pessoas
maravilhosas no meu caminho, durante esses cinco anos que frequentei a universidade.
Aos meus amigos Juliano, Luiz, Ednei, Cristiano e Felipe, pelo companheirismo e
amizade, durante esses cinco anos que passamos juntos na faculdade, pessoas essas que
ficarão para sempre guardadas em meu coração.
Aos advogados Dr. André Luiz Dadam e o Dr. Rodrigo dos Santos César, pelo apoio e
sugestões que me deram para a realização deste trabalho e ainda pelos ensinamentos jurídicos,
sendo que são excelentes profissionais do Direito.
Albert Einstein
7
Declaro para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí -
UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda
e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Vagner de Souza
Graduando
8
RESUMO
O objetivo deste trabalho é o estudo do Direito Eleitoral brasileiro, conhecendo sua evolução
histórica e a demanda pela criação do instrumento da Ação de Investigação Judicial Eleitoral
capaz de garantir um processo eleitoral idôneo e democrático. A importância desse tema se
justifica no fato de que o Direito Eleitoral é um processo de permanente construção, tendo
iniciado em nosso país com o desafio de vencer diversos obstáculos que impediam a
preponderância da liberdade política, em seu caráter mais amplo e democrático. Ao longo das
décadas, a nação passou por inúmeras lutas populares em favor da liberdade política,
igualdade de condições de disputa e garantia da idoneidade do processo eleitoral, até chegar
ao estágio em que nos encontramos, quando o sistema eleitoral brasileiro é considerado um
dos mais modernos do planeta. Para se chegar nesse estágio foi preciso aprimorar a legislação
eleitoral e criar mecanismos como a Ação de Investigação Judicial Eleitoral, visando ampliar
a segurança jurídica do processo eleitoral e garantir a supremacia da vontade popular
manifesta pelo voto.
RESUMEN
Lista de categorias1 que o autor considera estratégicas à compreensão do seu trabalho, com
seus respectivos conceitos operacionais2.
Direito Eleitoral
O Direito Eleitoral é o ramo do Direito Publico que disciplina a criação dos partidos, o
ingresso do cidadão no corpo eleitoral para fruição dos direitos políticos, o registro das
candidaturas, a propaganda eleitoral, o processo eleitoral e a investidura no mandato eletivo4.
Voto
É a manifestação da vontade, ou a opinião manifestada, pelo membro de uma corporação, ou
de uma assembléia, acerca de certos fatos e mediante sistema ou forma, preestabelecida5.
Elegibilidade
Refere-se ao Direito de ser eleito para cargo político, desde que reunidas as condições de
elegibilidade e ausentes as causas de inelegibilidade6.
Inelegibilidades
1
Denomina-se “categoria” a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia. Cf.
PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito. 8. ed.
Florianópolis: OAB Editora, 2003, p. 31.
2
Denomina-se “Conceito Operacional” a definição ou sentindo estabelecido para uma palavra ou expressão, com
o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas ao longo do presente trabalho. Cf.
PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito, p. 43.
3
VELOSO, Valtier de Barros. Ação de Investigação Judicial Eleitoral. Curitiba: Revista Paraná Eleitoral n.
70. Publicado em janeiro de 2009. p. 11.
4
PINTO, Djalma. Direito Eleitoral: improbidade administrativa e responsabilidade fiscal – noções gerais. São
Paulo: Atlas, 2003. p. 29.
5
SILVA. De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 26. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 1.496.
6
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito Eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum , 2006. p. 65.
12
Sistema Eleitoral
Assim entendido como o conjunto de normas jurídico-eleitorais que regulam o processo de
realização do exercício do sufrágio, vale dizer, o processo de escolha, dos representantes nas
eleições majoritárias e proporcionais, na esfera da União, dos Estados ou do Distrito Federal e
Municípios, contempla classificação que leve em conta o aspecto cronológico e a
normatização aplicável8.
Democracia
Conjunto de regras por meio dos quais a vontade popular participa e intervêm direta ou
indiretamente na formação do Estado, na determinação de suas finalidades, na amplitude da
distribuição das funções públicas, na escolha dos agentes e na criação e aplicação do direito
positivo9.
Crimes Eleitorais
São infrações tipificadas como tal no Código Eleitoral e em leis extravagantes, punidas com
multa, detenção ou reclusão, objetivando a preservação da lisura na formação do corpo
eleitoral, a normalidade do processo eletivo e a regularidade da indicação dos representantes
do povo para o exercício do mandato10.
7
SOBREIRO NETO, Armando Antônio. Direito Eleitoral: teoria e prática. 3. ed. Curitiba: Juruá, 2006. p. 79.
8
SOBREIRO NETO, Armando Antônio. Direito Eleitoral: teoria e prática. p. 95.
9
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à Teoria das Inelegibilidades. São Paulo: Malheiros, 1994. p. 17.
10
PINTO, Djalma. Direito Eleitoral: improbidade administrativa e responsabilidade fiscal – noções gerais. p.
288.
13
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................................. 08
RESUMEN .............................................................................................................................. 09
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................... 10
LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS ............................ 11
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14
2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SISTEMA ELEITORAL BRASILEIRO ............... 18
2.1 A DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA: AURORA POLÍTICA DA NAÇÃO ......... 18
2.2 AS PRIMEIRAS LEIS ELEITORAIS ............................................................................... 22
2.3 A PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA E O NOVO DIREITO ELEITORAL
.................................................................................................................................................. 26
2.4 A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E O DIREITO ELEITORAL NA ATUALIDADE .......... 41
3 O DIREITO ELEITORAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO ................................... 44
3.1 A DEMOCRACIA POPULISTA ....................................................................................... 44
3.2 O GOLPE DE 1964 E O GOVERNO DITATORIAL ....................................................... 45
3.3 A REABERTURA DEMOCRÁTICA E A NOVA CONFIGURAÇÃO POLÍTICO-
ELEITORAL DO PAÍS ............................................................................................................ 48
3.4 O DIREITO ELEITORAL BRASILEIRO – CONCEITO ................................................ 51
3.5 AS FONTES DO DIREITO ELEITORAL ........................................................................ 55
3.6 A ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA ELEITORAL ............................................................ 58
4 A AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL ........................................... 64
4.1 CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE E CAUSAS DE INELEGIBILIDADES ............... 64
4.2 CABIMENTO E OBJETIVO DA AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL
ELEITORAL ............................................................................................................................ 73
4.3 NATUREZA JURÍDICA ................................................................................................... 77
4.4 LEGITIMIDADE ............................................................................................................... 79
4.5 DO CABIMENTO DE MEDIDA LIMINAR .................................................................... 80
4.6 OS EFEITOS DA AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ........................................... 81
4.7 DO RECURSO ................................................................................................................... 84
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 87
14
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objeto11 o estudo do Direito Eleitoral brasileiro, sua
evolução histórica e a criação do instrumento da Ação de Investigação Judicial Eleitoral.
11
Nesta Introdução cumpre-se o previsto em PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e
ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 170-181.
15
Não é o propósito deste trabalho encerrar as discussões sobre o tema, chagando a uma
conclusão permanente. Por certo não se estabelecerá um ponto final em referida discussão.
Pretende-se, tão-somente, aclarar o pensamento existente sobre o tema, circunscrevendo-o
como um dos instrumentos do atual Sistema Eleitoral.
a) Qual a importância histórica para a criação de mecanismos que garantam uma maior
segurança jurídica ao sistema eleitoral brasileiro como processo de implantação da
Democracia?
16
12
PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do direito, p.
88.
17
13
“[...] é um conjunto diferenciado de informações reunidas e acionadas em forma instrumental para realizar
operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma ou mais bases lógicas investigatórias”. Cf. PASOLD,
Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito. p. 88.
14
“[...] a explicitação prévia do(s) motivo(s) do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance
temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa”. Cf. PASOLD, Cesar
Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito. p. 62.
15
“[...] a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia”. Cf. PASOLD, Cesar
Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito. p. 31.
16
“Quando nos estabelecemos ou propomos uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que
tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos, estamos fixando um Conceito Operacional [...]”.
Cf. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito. p.
45.
17
“[...] atividade investigatória, conduzida conforme padrões metodológicos, buscando a obtenção de
informações que permita a ampliação da cultura geral ou específica de uma determinada área [...]”. Cf.
PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito. p. 77.
18
Não cabe neste trabalho avaliar os sucessos ou insucessos das administrações políticas
dos entes públicos, pois para isso seria necessária uma coleção de teses doutorandas. Antes, o
objetivo neste primeiro capítulo é traçar uma linha histórica da evolução do processo eleitoral
brasileiro, com todas as suas metamorfoses, desde a proclamação da Independência até os dias
atuais. Para que se possa situar a evolução histórica do processo eleitoral brasileiro é
necessário que se faça um paralelo com a própria história do Brasil.
Com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, em 1808, houve uma tentativa
de acomodar os ânimos mais exaltados da Colônia, elevando o Brasil à condição de Reino
Unido a Portugal.
19
Do ponto de vista econômico, essa medida pôde ser vista como um primeiro “grito de
independência” onde a colônia brasileira não mais estaria atrelada ao monopólio comercial
imposto pelo antigo pacto colonial. Com tal medida, os grandes produtores agrícolas e
comerciantes nacionais puderam avolumar os seus negócios e viver um tempo de
prosperidade material nunca antes experimentado em toda história colonial. A liberdade já era
sentida no bolso de nossas elites18.
18
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. São Paulo:
CERED, 2000. p. 90.
19
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 90.
20
No aspecto eleitoral, antes da edição da primeira lei eleitoral brasileira, no período que
antecedeu a declaração da Independência, o país adotava as regras da lei eleitoral da
Constituição espanhola. Nesse período, três eleições gerais foram convocadas no Brasil,
sendo uma delas para escolha dos deputados que representariam o Brasil nas Cortes de
Lisboa, outra para escolha das juntas governativas das províncias e uma terceira para eleição
dos procuradores das províncias22.
No final de 1821, quando as pressões das Cortes atingiram sua força máxima, os
defensores da independência organizaram um grande abaixo-assinado requerendo a
permanência e Dom Pedro no Brasil. A demonstração de apoio dada foi retribuída quando, em
9 de janeiro de 1822, Dom Pedro I reafirmou sua permanência no conhecido Dia do Fico23.
A partir desse ato público, o príncipe regente assinalou qual era seu posicionamento
político. Logo em seguida, Dom Pedro I incorporou figuras políticas pró-independência aos
quadros administrativos de seu governo. Entre eles estavam José Bonifácio, grande
conselheiro político de Dom Pedro e defensor de um processo de independência conservador
guiado pelas mãos de um regime monárquico24.
Além disso, Dom Pedro I firmou uma resolução onde dizia que nenhuma ordem vinda
de Portugal poderia ser adotada sem sua autorização prévia. Essa última medida de Dom
Pedro I tornou sua relação política com as Cortes praticamente insustentável.
20
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 91.
21
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. Brasília: Senado Federal,
Conselho Editorial, 2001. p. 116.
22
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 116.
23
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 116.
24
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 116.
21
No dia 14 de agosto de 1822, tendo por objetivo pacificar a província de com a sua
presença, como já havia feito em relação à província de Minas Gerais em abril, D. Pedro
partiu para São Paulo, que estava enfrentando diversos distúrbios internos, afetando,
inclusive, o prestígio de José Bonifácio, o homem forte do governo26.
25
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 91.
26
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 116.
27
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 91.
28
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 117.
22
Em 19 de junho de 1822 foi editada pelo Império, aquela que foi considerada a
primeira lei eleitoral elaborada especialmente para presidir as eleições do Brasil.
As leis anteriores eram basicamente cópias de normas de outros países. Nesse sentido
Ferreira assevera que:
[...] somente podiam ser eleitores os assalariados das mais altas categorias e
os proprietários de terras ou de outros bens que lhes descem renda. Também
29
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 121.
30
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 122.
23
Essas regras pouco diferiam da Lei anterior e ratificavam ainda mais a participação da
Igreja Católica no processo, através das paróquias. As eleições, nas cidades e vilas, eram
realizadas em dia a ser designado pelas respectivas câmaras, e ‘nas freguesias do termo, no
primeiro domingo que a elas chegarem os presidentes nomeados para assistirem este ato’ (art.
8.º)34.
O art. 2.º dizia: “Em cada freguesia deste Império se fará uma assembléia eleitoral, a
qual será presidida pelo juiz de fora, ou ordinário, ou quem suas vezes fizer, da cidade ou vila,
a que a freguesia pertence, com assistência do pároco, ou de seu legítimo substituto” 35.
Do art. 5.º “Os párocos farão afixar nas portas das suas igrejas editais por onde conste
o número de fogos das suas freguesias, e ficam responsáveis pela exatidão”. Os párocos
ficavam encarregados do censo na sua freguesia36.
O povo, isto é, aqueles do povo que tinham o direito de votar, escolheriam os eleitores
de paróquia, cujo número era fácil de calcular: “Toda a Paróquia dará tantos eleitores quantas
vezes contiver o número de cem fogos na sua população (art. 4º)” 37.
31
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 122.
32
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 143.
33
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 39.
34
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 39.
35
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 39.
36
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 39.
24
Não havia alistamento ou registro prévio dos eleitores, a não ser as relações que os
párocos faziam na Dominga Septuagésima, dos seus fregueses (art. 6.º). A novidade, nesta lei,
era a eleição ser realizada dentro da própria igreja, ao contrário das anteriores, que eram
realizadas nos passos dos conselhos38.
Cada cidadão que votava escrevia numa folha de papel (cédula), os nomes das pessoas
que escolhia para eleitores de 2.º Grau. Tantos os nomes, com as respectivas ocupações,
quanto os eleitores (2.º Grau) a eleger. Como não havia partidos políticos sem registro prévio
de candidatos, o cidadão votava nas pessoas que bem entendia40.
Essa lei trazia algumas inovações que a diferiam significativamente da lei anterior.
Uma das principais inovações foi a instituição da possibilidade do eleitor que não soubesse
escrever ditar o seu Voto ao secretário da mesa. Além disso, o Voto não se constituía apenas
num direito como também um dever legal. Os eleitores com direito ao Voto não poderiam
deixar de comparecer ao pleito ou enviar um procurador que o representasse, em caso de
ausência com motivo justificado41.
Assim, essa lei diferia substancialmente da anterior, que permitia ao cidadão que não
soubesse escrever ditar ao secretário o nome das pessoas em que votava, e fazer uma cruz,
sinal que seria identificado pelo secretário. O art. 8.º dizia: ‘Nenhum cidadão que tem direito
de votar nestas eleições poderá isentar-se de apresentar a lista de sua nomeação.
Tendo legítimo impedimento, comparecerá por seu procurador enviando a sua lista
assinada e reconhecida por tabelião nas cidades ou vilas, e no termo por pessoa reconhecida e
de confiança’. Esta lei eleitoral instituía, assim, o Voto por procuração. Terminada a eleição, o
37
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 39.
38
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 39.
39
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 39.
40
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 144.
41
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 144.
25
secretário organizava a relação dos mais votados, que seriam eleitos ou nomeados, como dizia
a lei: ‘Esta nomeação será regulada pela pluralidade relativa de votos’42.
A partir de 1828 o processo eleitoral passou a ser regido por duas leis eleitorais
distintas. Uma delas, sancionada em 26 de março de 1824, regulava as eleições gerais de
senadores e deputados, a outra, sancionada em 1º de outubro de 1828, regulamentava as
eleições para vereadores.
Mas, ao mesmo tempo, determinou que, numa mesma província, as eleições primeiras
(1.º grau) deveriam ser realizadas, em todas as freguesias, num mesmo dia. Identicamente, as
eleições secundárias (de 2.º grau). Estabelecia também aquele decreto que os eleitores das
eleições primárias que faltassem sem causa justificada seriam multados numa quantia variável
42
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
43
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 151.
44
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
45
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 151.
26
de 30 a 60 mil réis. As deficiências das Instruções de 26 de março de 1824 aos poucos iam
sendo eliminados.
A Lei eleitoral de 26 de março de 1824 trazia uma instrução polêmica. No art. 7.º do
Capítulo II determinava que o eleitor deveria ser homem probo e honrado, e que não pesasse
sobre ele qualquer suspeita de que fosse inimigo da “causa brasileira”.
Essa exigência deve ter dado origem a muitos abusos, pois bastaria que a mesa, no
momento de o cidadão votar, considerasse sem qualquer uma daquelas qualidades, para privá-
lo do Voto. E não havia recurso. No entanto, a avaliação daquelas qualidades era algo
subjetivo, não exibindo padrão que pudesse servir de comparação de medida.
46
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 152.
47
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
48
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 152.
27
primeira regulamentação sobre essa matéria, ficava estabelecido que as Câmaras de todas as
cidades deveriam ser compostas de nove membros e, as Câmaras das Vilas deveriam ser
compostas por sete membros e um secretário. As eleições deveriam ser realizadas a cada
quatro anos. Uma inovação dessa nova lei foi a instituição da necessidade de cadastramento
prévio dos eleitores49.
Mas esta Lei de 1.º de outubro de 1828 determinava que quinze dias antes da eleição,
o “juiz de paz da paróquia fará publicar e afixar nas portas da igreja matriz, e das capelas
filiais dela, a lista geral de todas as pessoas da mesma paróquia, que têm direito de votar [...]”.
(Art. 5º)50.
Essa lei eleitoral, para presidir as eleições municipais, foi a primeira no Brasil a exigir
a inscrição prévia dos eleitores, verdadeiro processo de alistamento compulsório, ex officio. O
art. 6º resolvia que o cidadão que quisesse poderia fazer queixa do fato de ter sido
indevidamente colocado ou excluído da inscrição de eleitores. Se não tivesse razão, pagaria
uma multa de trezentos mil réis51.
Havia também outra multa de dez mil réis para o eleitoral que faltasse à eleição sem
motivo justificado. Essa lei que estamos tratando permitia que o eleitor fosse analfabeto, mas
o sinal (uma cruz), que ele poderia fazer, é substituído pela assinatura de uma pessoa que
assinasse a seu rogo.
O eleitor entregava ao presidente da mesa duas cédulas: uma, com os nomes dos
cidadãos em quem se votava para vereadores; e a outra, com dois nomes, um para juiz de paz
e outro para suplente. Ambas as cédulas eram, no verso, assinadas pelo eleitor ou por outra
pessoa a seu rogo. Os eleitores que não pudessem comparecer, por impedimento grave,
mandariam seus votos, em carta fechada, ao presidente da Assembléia, “declarando o motivo
por que não compareceram” (art. 8º)52.
49
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 152.
50
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009..
51
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 160-161.
52
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
28
aspirações, com pessoas de todos os pensamentos desejando ter o controle de parte do poder
do jovem país. As principais modificações no processo eleitoral nesses primeiros anos foram
em decorrência de lutas políticas53.
A partir de 1831 começam a surgir os primeiros partidos políticos oficiais, pelos quais
os principais segmentos passaram a lutar por posições no governo54.
Até 1831, não havia partido político. A luta estabelecia-se entre governo e oposição, e
essas facções recebiam nomes pitorescos. Em 1831, aparecem, na cena política, os primeiros
partidos: Restaurador, Republicano e Liberal. O primeiro pugnava pela volta de D. Pedro I; o
segundo, pela abolição da monarquia; o terceiro, pela reforma da Constituição de 1824, mas
conservada a forma monárquica.
O surgimento desses partidos fez surgir também um furor ainda mais acirrado que
norteavam as disputas eleitorais. As discussões, antes das eleições, basicamente se restringiam
ao campo do Poder Legislativo em todas as suas instâncias56.
Todavia, quando as eleições se aproximavam, vinham com ela todas as paixões dos
militantes partidários. Como a legislação eleitoral era frágil para garantir a ordem e lisura do
processo. Vigoravam espaços para toda sorte de fraudes, corrupções e armações57.
53
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 160-161.
54
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
55
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 168.
56
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
57
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 168.
29
No ano de 1842, é sancionada uma nova lei, as Instruções de 4 de maio de 1842, que
estabelecia regras para as eleições gerais e provinciais. A nova legislação foi considerada um
avanço importante no processo de construção das leis eleitorais brasileiras58.
Este novo Sistema Eleitoral constitui um marco importante na história da evolução das
leis eleitorais brasileiras. O Capítulo I tratava do alistamento dos cidadãos ativos e dos Fogos.
A Lei eleitoral de 1.º de outubro de 1828, para eleição de vereadores, já cuidava de uma
relação prévia de eleitores, a ser organizada pela primeira vez no Brasil, dispunha, em
capítulo especial, sobre o alistamento de eleitores59.
Segundo o art. 1.º, em cada paróquia seria formada uma junta de alistamento, sendo
presidente o juiz de paz do Distrito; outro membro seria o subdelegado, na qualidade de fiscal
da junta; e o terceiro membro da junta seria o pároco. Entretanto essa junta nasceu sob
grandes apreensões, pois, por uma lei anterior, de 3 de dezembro de 1841, que reformava o
Código do Processo Criminal, as autoridades agora investidas no cargo de membros da junta
pareciam oferecer um aspecto de intervenção do governo60.
Em 1846 foi sancionada aquela que seria considerada como uma das leis eleitorais
mais importantes do período monárquico do Brasil. Foi a primeira vez que uma proposta de
lei eleitoral foi apresentada por um parlamentar. Antes dessa lei, todas as normas anteriores
eram concebidas pelo Poder Executivo61.
Enviada ao imperador, a nova lei eleitoral foi por ele assinada em 19 de agosto de
1846. Ficavam, e conseqüência, revogadas todas as leis e disposições anteriores, em matéria
eleitoral. Essa Lei eleitoral de 19 de agosto de 1846 é um marco importante na história da
evolução dos regimes eleitorais brasileiros. Procurava ser a mais perfeita e completa para a
época. E provavelmente o era62.
58
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 168.
59
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
60
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 173.
61
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
62
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 181-182.
30
do segundo grau, que por sua vez iriam eleger os senadores, deputados e membros das
assembléias legislativas provinciais. Esta Lei de 19 de agosto de 1846, além da eleição desses
representantes, também dava instrução sobre a eleição das autoridades municipais. Isto é,
juízes de paz e câmaras municipais63.
Apesar de sua chegada festejada, a Lei eleitoral de 19 de agosto de 1846 foi objeto de
protestos por parte de alguns segmentos políticos da época. O próprio Governo reconhecia sua
dificuldade em colocá-la em prática64.
No ano de 1849, com a edição de instruções que visavam sanar as dificuldades da Lei
eleitoral de 19 de agosto de 1846, o Governo tenta manter a sua vigência sem a necessidade
de uma reforma. No entanto as instruções não foram suficientes para resolver os problemas
existentes.
Um dos pontos importantes da nova lei eleitoral, que seria discutida e votada, era o da
representação das minorias. Dizia a comissão que era essencial distinguir nos sistemas da
representação das minorias ou da representação proporcional os diversos processos sugeridos.
63
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 181-182.
64
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
65
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 225-226.
66
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 225-226.
31
Era o Partido Liberal o que mais agitava esses problemas. No entanto, todos os
partidos procuravam pôr o próprio regime monárquico acima das disputas políticas. Foi o
Partido Republicano que, aproveitando-se das circunstâncias e num hábil sofisma político,
levou à conta do próprio regime monárquico todas as agitações políticas. Na Assembléia
Geral, cuidou-se da reforma da legislação eleitoral68.
67
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 226.
68
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
69
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 226.
32
respectiva paróquia. As juntas eram compostas pelos próprios eleitores, em eleição interna
realizada três dias antes do início dos trabalhos de qualificação dos eleitores70.
É importante destacar que essa Lei eleitoral de 20 de outubro de 1875 foi a primeira
norma brasileira que incumbiu à Justiça o papel de dirimir dúvidas em relação ao processo
eleitoral. Não se tratava ainda da criação de uma Justiça Eleitoral, mas apenas a designação à
Justiça comum de importantes atribuições71.
Desde 1973, quando o governo enviou à Câmara um novo projeto de Lei Eleitoral,
existia uma grande polêmica quanto à garantia da representatividade das minorias. Como a
representação proporcional era um sistema novo, havia ainda muito receio na sua aplicação73.
70
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29set. 2009.
71
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
72
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 226.
73
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
74
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 248.
75
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
33
mantida no plenário. Assim, maioria era um conceito que se relacionava mais com uma
vitória eleitoral do que propriamente com uma organização de governo76.
O primeiro título de eleitor do Brasil foi instituído, também, em 1875, pelo Decreto n.
2.675. Antes dele, desde a proclamação da independência, os eleitores eram apenas
identificados no momento da eleição e de acordo com as regras pré-estabelecidas. Existia uma
qualificação do eleitor no momento do pleito77.
Ao sancionar uma nova lei eleitoral, no dia 9 de janeiro de 1881, pelo Decreto n.
3.029, o imperador revogava todas as normas anteriores. Diversas inovações foram trazidas
pelo Decreto de 1881, também chamada de Lei do Censo ou Lei Saraiva. Destaque ao fato de
que os senadores, deputados da Assembléia Geral e membros da Assembléia Legislativa
ficavam proibidos durante o exercício de seus mandatos e até seis meses após o término, de
ocuparem comissões ou empregos remunerados no governo geral ou provincial79.
76
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
77
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 248.
78
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 251-252.
79
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
34
A Lei Saraiva foi considerada uma das normas eleitorais de maior significado para a
vida política brasileira. Suas inovações foram responsáveis por profundas mudanças nas
configurações políticas do país80.
Em 14 de outubro de 1887, foi sancionada pela princesa regente Isabel aquela que
seria a última lei do Império. Basicamente, essa nova norma teve como objetivo modificar as
eleições dos vereadores das câmaras municipais e dos membros das Assembléias Legislativas
provinciais. Era mantida quase a totalidade das regras implantadas pela Lei Saraiva. Ao se
aproximar o fim do período imperial, o Brasil possuía uma legislação eleitoral considerada
por muitos, como completa.
E ao iniciar-se dessa maneira, a República daria o mau exemplo que seria seguido
durante quase meio século, origem dos nossos males políticos durante todo esse interregno: as
leis eleitorais feitas para ganhar eleições84.
80
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 251-252
81
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
82
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 252.
83
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
84
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 284-285.
35
85
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
86
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 285.
87
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 289.
36
Esse Decreto n. 200-A de fevereiro de 1990, o qual fora organizado pelo ministro do
Interior, Aristides Lobo, versava basicamente sobre a qualificação dos eleitores. Em 23 de
junho de 1890, pelo Decreto n. 511, organizado pelo novo ministro do Interior, José Cesário
de Faria Alvim, foi apresentada uma nova norma eleitoral, também chamada de Regulamento
Alvim.
Pelo Capítulo I, art. 1.º, era exigência para o cidadão ser elegível: 1.º estar na
posse dos direitos do eleitor; 2.º para a Câmara, ter mai de sete anos como
cidadão brasileiro, e mais de nove para o Senado. Pelo artigo 2.º eram
inelegíveis: 1.º os clérigos e religiosos regulares e seculares de qualquer
88
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 289-290.
89
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 295-296.
37
Esta primeira Constituição do Período Republicano previu eleições por sufrágio direto
da nação e maioria absoluta de votos para Presidente e Vice-Presidente da República. Exigia
maioria absoluta entre os votados; isso não ocorrendo, o Congresso elegia um entre os dois
mais votados, por maioria dos votos presentes. Previu, também, inelegibilidades para os
cargos de presidente e vice-presidente da República, deixando para a lei ordinária regular o
processo de eleição e de apuração92.
90
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 301-302.
91
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. Bauru: Edipro, 1996. p. 21.
92
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. p. 21.
93
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. p. 21.
94
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. p. 21.
38
O alistamento dos eleitores seria preparado, em cada município, por uma comissão
especial. Os coletores (exatores) extrairiam dos livros de lançamento de impostos uma lista
dos maiores contribuintes do município, assim classificados: 15 do imposto predial e 15 dos
impostos sobre propriedade rural ou de indústrias e profissões.
Essas listas seriam tornadas públicas. Quatro meses após, o juiz de Direito da comarca
convocaria aqueles contribuintes e os membros do governo municipal para se reunirem dali a
dez dias. Seria, então, constituída a comissão de alistamento de eleitores: o juiz de Direito,
dos maiores contribuintes de imposto predial, mais dois dos impostos sobre propriedade rural
e, finalmente, mais três cidadãos eleitos pelos membros do governo municipal96.
95
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 315-316.
96
MOREIRA, Ricardo. Sistema eleitoral brasileiro: evolução histórica. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468>. Acesso em: 29 set. 2009.
39
Faz-se necessário observar, portanto, que na época do império o processo eleitoral era
arbitrário e discricionário, permanecendo assim, por mais de meio século. Nem mesmo a
Proclamação da República que ocorreu em 15 de novembro de 1889, foi capaz de interferir ou
modificar as regras eleitorais da época.
A legislação eleitoral que surgiu no Brasil após a Revolução de 1930 e até os dias de
hoje caracteriza um dos mais importantes períodos da vida política brasileira:
97
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 341-342.
98
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro.
99
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. p. 25-26.
100
FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. p. 356.
40
A Justiça Eleitoral foi recepcionada pela Constituição de 1934, a qual tratou pela
primeira vez na historia do Brasil, da jurisdição eleitoral.
Esta carta teve um grande mérito de criar, no seio da constituição porquanto já havia
sido criada pelo Código Eleitoral (Decreto n 21.076, de 24.02.32) – a Justiça Eleitoral como
órgão do Poder Judiciário (art.63, d).
Atribuiu jurisdição eleitoral plena aos juízes vitalícios, na forma da lei (art.82,
Parágrafo 7º).
101
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. p. 22.
102
ANGELO, Vitor Amorim de. Contexto histórico e político. UOL educação. Disponível em:
<http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/constituicao-1988.jhtm>. Acesso em 25 jul. 2009.
103
CÂNDIDO, Joel José. Direito Eleitoral brasileiro. p. 23-24.
41
Apenas cinco anos após sua criação, a Justiça Eleitoral é extinta em 1937 pela
Constituição do Estado Novo. Em 28 de fevereiro de 1945, a Lei Constitucional n. 9, ensejou
a edição do Decreto n. 7.586, de 28 de maio de 1945, que recriou a Justiça Eleitoral105A
Justiça Eleitoral foi mantida pela Constituição de 1946, que fixou suas competências, casos de
Inelegibilidades e direitos políticos. A partir desta Constituição, a União passou a ter
competência privativa para legislar sobre Direito Eleitoral106.
O Brasil vivia sob o jugo de um regime autoritário de uma ditadura militar desde 1964.
A Constituição de 1967 foi imposta pelo governo de exceção. Além disso, principalmente a
década de sessenta foi marcada pela edição dos chamados Atos Institucionais.
104
ANGELO, Vitor Amorim de. Contexto histórico e político. UOL educação. Disponível em:
<http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/constituicao-1988.jhtm>. Acesso em 25 jul. 2009.
105
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. p. 23-24.
106
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. p. 23-24.
107
ANGELO, Vitor Amorim de. Contexto histórico e político. UOL educação. Disponível em:
<http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/constituicao-1988.jhtm>. Acesso em 25 jul. 2009.
42
A abertura política, iniciada por volta de 1979 foi finalizada em 1985 com a eleição,
ainda pelo Colégio Eleitoral, de Tancredo Neves para assumir como primeiro presidente da
República civil, depois de mais de 20 anos de ditadura. Em 21 de abril do mesmo ano, o
presidente eleito, morre mesmo antes de ter sido empossado. Em razão do falecimento de
Tancredo, assume a presidência, seu vice, José Sarney (hoje presidente do Senado Federal)108.
Essa saída do regime ditatorial fazia crescer um anseio popular por uma nova Carta
Magna, capaz de defender valores da Democracia e criar mecanismos legais e de impedir no
futuro, que o país repetisse sua história recente de autoritarismo e desrespeito aos direitos
individuais109.
108
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. p. 23-24.
109
ANGELO, Vitor Amorim de. Contexto histórico e político. UOL educação. Disponível em:
<http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/constituicao-1988.jhtm>. Acesso em 25 jul. 2009.
110
ANGELO, Vitor Amorim de. Contexto histórico e político. UOL educação. Disponível em:
<http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/constituicao-1988.jhtm>. Acesso em 25 jul. 2009.
43
Não cabe aqui nenhuma conclusão precipitada, senão apenas a percepção preliminar
de que a história do Direito Eleitoral, embora muitas conquistas, não é um processo acabado,
mas apenas uma metamorfose permanente, em busca da implantação de uma sociedade
democrática e com justiça social.
111
ANGELO, Vitor Amorim de. Contexto histórico e político. UOL educação. Disponível em:
<http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/constituicao-1988.jhtm>. Acesso em 25 jul. 2009.
112
CÂNDIDO, Joel José. Direito eleitoral brasileiro. p. 21-22.
113
ANGELO, Vitor Amorim de. Contexto histórico e político. UOL educação. Disponível em:
<http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/constituicao-1988.jhtm>. Acesso em 25 jul. 2009.
44
114
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 89.
115
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 89.
116
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 89.
45
suas aspirações não podiam ser ignoradas, passaram a ser manipuladas por políticos e pelo
próprio Estado, dando origem ao populismo117.
A República Populista, iniciada com o fim do Estado Novo (1945) e encerrada com o
golpe militar de 1964, teve suas características moldadas a partir dessas transformações, mas
também sofreu influência dos acontecimentos internacionais que marcaram o pós-guerra.
Após a II Guerra Mundial, dois blocos disputaram a liderança política, econômica, militar e
ideológica do Mundo Contemporâneo: o Bloco Oriental, socialista, dirigido pela União
Soviética. Sendo o Brasil integrante do Bloco Ocidental, as manifestações populares ocorridas
no País passaram a ser encaradas como agitações comunistas118.
Em 1960 foi eleito Jânio da Silva Quadros, ex-governador de São Paulo, acompanhado
na Vice-Presidência por João Goulart. Jânio venceu com 5.604.000 votos (48%), apoiado pela
UDN, enquanto seu principal concorrente, o Marechal Lott, obteve 3.810.000 votos (28%),
pelo PTB. Sua posse, a primeira em Brasília, deu-se em 31 de janeiro de 1961120.
O polêmico político, que chegou à presidência da República com a maior votação que
um homem público jamais havia alcançado no Brasil até então, surpreendeu toda a nação, no
dia 25 de agosto de 1961, após quase 7 meses de governo, com a sua renúncia ao cargo de
presidente. Este gesto nunca foi totalmente esclarecido. Na ausência do vice-presidente, João
117
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual prático de direito eleitoral: jurisprudência, legislação, doutrina e
prática. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1989. p. 54.
118
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual prático de direito eleitoral: Jurisprudência, Legislação, Doutrina e
Prática. p. 54.
119
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual prático de direito eleitoral: Jurisprudência, Legislação, Doutrina e
Prática. p. 54.
120
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual prático de direito eleitoral: Jurisprudência, Legislação, Doutrina e
Prática. p. 54.
46
Diante da grave situação interna e visando contornar o veto dos ministros militares à
posse do vice-presidente como chefe de um regime presidencialista, o Congresso aprovou a
Emenda Constitucional n.º 4 à Carta de 1946, que instaurava o regime parlamentarista no
Brasil.
João Goulart era o herdeiro político de Getúlio e também alvo dos adversários de
Vargas. Era o líder de uma grande partido, o PTB. Rico estancieiro do Rio Grande do Sul,
Jango carecia de visão política a longo prazo e não tinha a popularidade de um grande
político. Seu primeiro período de governo, enfraquecido pelo regime parlamentarista e
tumultuado pelas sucessivas tentativas de se formar um gabinete, representou uma época de
manobras políticas para recuperar a plenitude dos poderes presidenciais123.
121
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 94.
122
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual prático de direito eleitoral: jurisprudência, legislação, doutrina e
prática. p. 54.
123
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 94..
124
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual prático de direito eleitoral: Jurisprudência, Legislação, Doutrina e
Prática. p. 54.
47
Com a cooperação dos governadores dos estados de Minas Gerais, São Paulo,
Guanabara e Rio Grande do Sul, as Forças Armadas depuseram o presidente Goulart, aos 31
de março de 1964.
O golpe militar de 1964 foi desfechado para evitar a suposta ameaça comunista, e em
defesa de uma pseudo-democracia e pseudo-liberdade. Com ele, iniciavam-se os vinte e um
anos do chamado regime militar, marcado pelas restrições aos direitos e garantias individuais,
pela extinção dos antigos partidos políticos e pela violência, típica dos regimes ditatoriais126.
De outro lado, o regime autoritário buscou sua legitimação através de uma legislação
de exceção, ou seja, através dos atos institucionais (que estão acima da Carta Magna) e da
Constituição de 1967, mais tarde modificada pela Emenda Constitucional de 1969.
125
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual prático de direito eleitoral: Jurisprudência, Legislação, Doutrina e
Prática. p. 54.
126
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual prático de direito eleitoral: Jurisprudência, Legislação, Doutrina e
Prática. p. 54.
48
Segundo essa doutrina, que substituía o conceito de defesa nacional pelo de segurança
nacional, era preciso combater os comunistas e outras forças “subversivas” que se infiltravam
em todos os setores da comunidade brasileira, visando desestabilizar o governo, as
autoridades e as instituições nacionais128.
Para isso deu-se início à planificação global do País, visando à superação dos
problemas de natureza social, política e econômica, instrumentalizados pelas forças do
comunismo. Foram criadas novas políticas, abrangendo todas as atividades nacionais,
destacando-se, entre elas, a política econômica, cujo objetivo maior era o desenvolvimento
econômico e a integração nacional centralizada, associadas ao capital estrangeiro129.
Militar do presidente Geisel, tendo ainda sido chefe do Gabinete Militar do presidente Médici
e chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI)132.
O novo presidente aproveitou ex-ministros dos quatro governos pós-64, atraiu técnicos
e aceitou algumas indicações políticas. A seu Ministro do planejamento, Antônio Delfim
Neto, coube pôr em prática um programa de governo que previa a contenção das despesas, a
descentralização administrativa, a diminuição da inflação, a privatização de empresas e
serviços estatais e a concessão de prioridade à agricultura e às exportações133.
132
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual prático de direito eleitoral: Jurisprudência, Legislação, Doutrina e
Prática. p. 54.
133
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual prático de direito eleitoral: Jurisprudência, Legislação, Doutrina e
Prática. p. 54.
134
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 98.
135
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 98.
50
A partir de 1983, a sociedade civil participou ativamente do movimento das Diretas Já.
No ano seguinte, a Emenda Dante de Oliveira, que propunha o restabelecimento das eleições
diretas para presidente da República, foi derrotada no Congresso Nacional136.
Nesse mesmo ano, as oposições decidiram enfrentar o regime militar nas eleições do
Colégio Militar, valendo-se da cisão dentro do PDS que deu origem ao PFL (Partido da Frente
Liberal). A aliança do PMDB e PFL resultou na Aliança Democrática, que lançou a chapa
Tancredo Neves – José Sarney137.
A partir de 1985 o Brasil passa a viver um momento da sua História conhecido como
Nova República. Com a redemocratização, as liberdades, direitos e garantias individuais
foram restabelecidas, e uma nova Constituição assegurou várias conquistas sociais.
136
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual prático de direito eleitoral: Jurisprudência, Legislação, Doutrina e
Prática. p. 54.
137
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual prático de direito eleitoral: Jurisprudência, Legislação, Doutrina e
Prática. p. 54.
138
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 98.
139
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual prático de direito eleitoral: Jurisprudência, Legislação, Doutrina e
Prática. p. 54.
140
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 98.
51
Fez-se necessária essa introdução histórica para falarmos sobre o tema objeto deste
capítulo, o Direito Eleitoral contemporâneo brasileiro. Não existe democracia plena se não
existir um processo eleitoral legítimo e justo, capaz de regular o “jogo” político de maneira a
proporcionar a escolha transparente o mais ilibada possível dos agentes públicos que terão por
atribuição administrar a coisa pública141.
141
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 98.
142
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 135.
143
NOGUEIRA, José da Cunha. Manual prático de direito eleitoral: Jurisprudência, Legislação, Doutrina e
Prática. p. 56.
144
SILVA, Francisco Alves da; COSTA, Hernani Maia. História integrada: Brasil e América I. p. 98.
52
[...] num conjunto de regras por meio das quais a vontade popular participa e
intervém direta ou indiretamente na formação do Estado, na determinação de
suas finalidades, na amplitude da distribuição das funções públicas, na
escolha dos agentes e na criação e aplicação do direito positivo145.
Numa democracia verdadeira, todos os cidadãos, no pleno gozo dos seus direitos
políticos, podem ser atores do processo eleitoral, respeitados os critérios de elegibilidade.
Quem definirá as regras do processo eleitoral é, originalmente, o Poder Legislativo, com a
criação de normas específicas que terão por afã organizar e regulamentar o processo de
escolha dos representantes do povo147.
Dentre os vários autores que apresentam cada qual a sua própria definição, destaca-se
a de Fávila Ribeiro ao ensinar que o Direito Eleitoral:
Igualmente relevante é a lição de Elcias da Costa que explica ser o Direito Eleitoral:
145
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 16-17.
146
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 16-17.
147
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 16-17.
148
RIBEIRO, Fávila. Direito eleitoral. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1992. p. 12.
53
Pinto Ferreira, de sua vez, conceitua o Direito Eleitoral como “um conjunto
sistemático de normas de direito público regulando no regime representativo moderno a
participação do povo na formação do governo constitucional150”
Sem desprezar o que já se resgatou dos diversos autores citados, pode-se definir o
Direito Eleitoral como o ramo do Direito Público interno (pois trata de interesses de ordem
coletiva) que regula os direitos e os deveres do cidadão no tocante aos institutos da
representação política e o processo eleitoral pelo qual se constrói o governo constitucional151.
149
COSTA, Elcias Ferreira da. Direito eleitoral. Rio de Janeiro: Forense, 1992. p. 1.
150
FERREIRA, Pinto. Comentários à lei orgânica dos partidos políticos. São Paulo: Saraiva, 1992. p. 36-37.
151
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 27-28.
152
PINTO, Djalma. Direito eleitoral. São Paulo: Atlas, 2006. p. 16.
54
Além disso, a Constituição de 1988 teve como um de seus principais objetivos impedir
a volta a um novo período de autoritarismo, do qual o Brasil tinha, a duras penas, se libertado
em 1985156.
Assim, e, sobretudo por esse histórico recente e traumático, havia uma preocupação
elevada em conceber um Direito Eleitoral que garantisse plenamente a participação popular.
153
PINTO, Djalma. Direito eleitoral. p. 16.
154
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 28.
155
PINTO, Djalma. Direito eleitoral. p. 17.
156
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 29.
157
PINTO, Djalma. Direito eleitoral. p. 18.
55
que o Brasil, ao adotar sistema constitucional rígido, traz na Carta Magna diretrizes de um
perfil ideológico e pragmático do modelo democrático a ser seguido.
Desse modo, se pode entender que o Direito Eleitoral é o ramo da ciência jurídica que
estuda o conjunto de normas que regem o processo eleitoral de um país. Esse estudo leva em
consideração as características ideológicas do povo onde as normas estão sendo aplicadas.
Essa sintonia com os princípios ideológicos do povo é fundamental para garantir o pleno
exercício da própria Democracia. Quando o contrário existe, e sobressaem as vontades de um
grupo minoritário, então temos o lado perverso do poder estatal, pela imposição dos interesses
de uns em detrimento da maioria.
Embora o Direito Eleitoral tenha como fontes as mesmas de outros ramos do direito,
tem também uma grande variedade além dessas. Outra característica fundamental é o fato de
se interligarem com outros ramos do direito.
Existe ainda uma subdivisão entre as fontes, podendo ser consideradas como
principais ou diretas e as secundárias ou indiretas.
158
SOBREIRO NETO, Armando Antônio. Direito eleitoral: teoria e prática. p. 21.
159
SOBREIRO NETO, Armando Antônio. Direito eleitoral: teoria e prática. p. 21.
56
160
SOBREIRO NETO, Armando Antônio. Direito eleitoral: teoria e prática. p. 21.
161
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 36-37.
162
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 36-37.
57
prática que pode ser considerada nova, com regras ainda em acelerado processo de
construção163.
Por outro lado, em nenhum outro ramo do Direito brasileiro, como lembra o jurista
Aroldo Mota, a jurisprudência se mostra tão relevante como no Eleitoral. Não é exagero
afirmar-se que nele prevalece o sistema Common Law, em que o precedente vincula o
julgador como se fora norma para caso concreto. Embora sem regra formal expressa, sem
norma que o determine, na prática, o efeito vinculante das decisões do TSE é uma realidade
no âmbito da Justiça Eleitoral.
A lei se pode dizer sem exagero, é produzida no TSE, onde são elaborados os leading
164
cases seguidos pacificamente por juízes e pelos Tribunais Regionais Eleitorais. É frequente
ouvir-se de integrante dos Tribunais Eleitorais a ponderação de que, embora convencido da
posição defendida em determinado voto, é inútil mantê-la diante da certeza da reforma da
decisão pela Corte Superior e do desconforto gerado na mídia pela notícia da retificação165.
163
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 36-37.
164
Denomina-se Leading Case “uma decisão que tenha constituído em regra importante , em torno da qual outras
gravitam” que “cria o procedente, com força obrigatória para casos futuros. SOARES, Guido Fernandes Silva.
Common law: introdução ao direito do EUA. 1° ed. Revista dos Tribunais, RT, 199, p. 40-42. Disponível em
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5363. Acesso em 17 de agosto de 2009.
165
PINTO, Djalma. Direito eleitoral. p. 20.
166
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 36-37.
58
O art. 92, inc. V, da Constituição Federal define como órgãos do Poder Judiciário,
apenas e tão-só os Tribunais e Juízes Eleitorais. No entanto, a ordem constitucional não
ensejou Magistratura Eleitoral de carreira, razão pela qual não se deve confundir Órgãos do
Poder Judiciário com Órgãos da Justiça Eleitoral169.
167
CÂMARA, Leal. Direito das coisas: da prescrição e da decadência. Rio de Janeiro: Forense, 1982. p. 117
168
CÂMARA, Leal. Direito das coisas: da prescrição e da decadência. p. 117.
169
CÂMARA, Leal. Direito das coisas: da prescrição e da decadência. p. 117.
59
170
CÂMARA, Leal. Direito das coisas: da prescrição e da decadência. p. 117.
171
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em 20 jul. 2009.
60
O caput do art. 121 da Constituição de 1988 declara que: “Lei complementar disporá
sobre a organização e competência dos Tribunais, dos juízes de direito e das juntas
eleitorais173”.
Conforme visto, embora não tenha sido elaborada e Lei Complementar prevista pelo
art. 121 da Constituição, o Código Eleitoral acabou sendo recepcionado com status de Lei
Complementar.
172
MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito eleitoral. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 47.
173
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em 20 jul. 2009.
174
MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito eleitoral. p. 47.
175
MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito eleitoral. p. 47.
61
Cândido, também discorre sobre o fato de que a Justiça Eleitoral, no concernente à sua
estrutura e organização continua a mesma desde 1946:
É importante ressaltar que o fato de a Justiça Eleitoral não possuir quadro próprio de
magistratura, não diminui em nada a eficácia de seu trabalho. Essa configuração cria uma
blindagem contra as paixões que a política provoca nos homens180.
As verdadeiras guerras travadas entre os partidos políticos, não raras vezes, acabam
por atingir os magistrados que, porventura, precisam tomar decisões contrárias aos interesses
de um ou de outro grupo.
176
NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Constituição Federal comentada. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2006. p. 327.
177
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. Bauru: Edipro, 2003. p. 39.
178
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. p. 39.
179
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. p. 39.
180
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. p. 39.
181
MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito eleitoral. p. 48.
62
As Juntas Eleitorais funcionam presididas por um juiz de direito e mais dois ou quatro
membros leigos, dentre os eleitores das Zonas, designados pelo TRE de cada Estado,
mediante indicação dos respectivos juízes de direito (arts. 36 a 41 do Código Eleitoral).
Assim, conforme se observou, essas funções são executadas por juízes de direito que
são designados para exercer o mandato de modo periódico. Não há vinculação por parte do
magistrado à Justiça Eleitoral, na qual se integra com prazo de duração pré-determinado.
182
MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito eleitoral. p. 48.
183
MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito eleitoral. p. 48.
184
MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito eleitoral. p. 48-49.
63
Justiça Eleitoral, integrando-a sempre por prazo determinado, portanto, com maior amplitude
do que na Justiça Militar e na Justiça do Trabalho, onde a renovação era parcial, aplicada
apenas aos vogais, sendo excluídos os magistrados togados185.
Aliás, muito se tem propagado para que seja a Justiça Eleitoral dotada de seus próprios
juízes. Contudo, não é esse o entendimento majoritário, tendo em vista que a rotatividade dos
membros da Justiça Eleitoral é recomendada como eficiente esquematização institucional e
deve ser ela conservada, como medida de sabedoria política186.
185
MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito eleitoral. p. 48.
186
MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito eleitoral. p. 48
187
SOBREIRO NETO, Armando Antônio. Direito eleitoral: teoria e prática. p. 46-55.
188
SOBREIRO NETO, Armando Antônio. Direito eleitoral: teoria e prática. p. 58.
64
189
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 101.
190
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 101.
191
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 101.
192
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 101.
65
Todavia, não poderá criar outras hipóteses além daquelas constantes de preceitos
constitucionais e sequer restringi-los excessivamente, negando-lhes o conteúdo normativo193.
Para que uma pessoa possa se candidatar a um mandato eletivo, exercendo sua
capacidade eleitoral passiva, não basta que ela esteja no pleno gozo de seus direitos políticos,
ou usufruindo o direito de ser votado (ius honorum).
É preciso que ela implemente uma série de outros requisitos, indicados pela lei, e que
são uniformes para todos os candidatos. Mais do que isso, é preciso que o cabal atendimento a
esses requisitos se dê dentro dos prazos fixados também pela lei, ou por resoluções do
Tribunal Superior Eleitoral. A esse conjunto de exigências a serem satisfeitas pelos candidatos
denominamos “condições de elegibilidade196”.
A capacidade eleitoral ativa (ius suffragii) pertence ao eleitor que estiver devidamente
cadastrado na Justiça Eleitoral e também no gozo dos direitos políticos. As condições de
Elegibilidade estão previstas na Constituição Federal (art. 14, Parágrafo 3º, CF)197.
193
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 101.
194
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 102.
195
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 102.
196
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 102.
197
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 102.
66
Ainda nos ensinamentos de Cândido199, uma vez que não são preenchidos os requisitos
de Elegibilidade o pedido de registro de candidatura deve ser indeferido, impossibilitando que
o pretenso candidato concorra naquele pleito.
Portanto, se considera que para as eleições em que foi indeferido o pedido de registro
de candidatura, o candidato está inelegível. Todavia, se nas eleições seguintes, o mesmo
candidato preencher todas as condições de elegibilidade, poderá concorrer normalmente.
O significado literal de Inelegibilidade pode ser tomado pelo seu antônimo que é a
Elegibilidade. Esta é a aptidão de ser eleito por reunir as condições jurídicas exigidas.
Portanto, Inelegibilidade é a inaptidão de ser eleito, isto é, não possuir as condições de
Elegibilidade. Entretanto, a interpretação literal implica equívocos conceituais que
desnaturam esse instituto jurídico.
A rigor, inelegibilidade não traduz a ausência do “ius honorum”. Não se encarta, pois,
no campo do reconhecimento pela ordem jurídica do direito público subjetivo de ser votado.
A conseqüência material é idêntica: a impossibilidade de da apresentação da candidatura ao
eleitorado201.
198
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. p. 83-84.
199
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. p. 84.
200
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. p. 84.
201
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. p. 84.
67
Esta assegura o correto exercício do mandato eletivo e aquela proíbe pressão indébita
contra o eleitorado. São conceitos de relação entre normas e situações jurídicas e dependem,
para sua adequada compreensão, dos pressupostos e das conseqüências decorrentes da
“injuridicidade”. Nesse sentido, a Inelegibilidade traduz hipótese de impedimento do
exercício do “ius honorum” e a incompatibilidade o pressuposto de perda do mandato
eletivo203.
Adiante, será estudado mais a fundo a Ação de Investigação Judicial Eleitoral, que é
um desses instrumentos utilizados para proteger a lisura e legitimidade das eleições.
A evocação da Inelegibilidade pode ser feita por meio de impugnação, de ofício pelo
Juiz Eleitoral, ou a pedido de um dos legitimados.
202
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. p. 84.
203
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 108-109.
204
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 108-109
68
205
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 108-109
206
MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. p. 109.
207
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. p. 85-86.
69
art. 14, Parágrafo 3º. “São legais as inelegibilidades ou condições de elegibilidade que estão
previstas no texto da lei complementar de regência208”.
É relevante ressaltar que não deve existir confusão entre as condições de Elegibilidade
e as condições para que o candidato seja diplomado e nem as condições para a posse. As
primeiras são requisitos que precisam necessariamente ser preenchidos previamente, de modo
a possibilitar que o registro da candidatura seja aceito209.
Já a diplomação, poderá ser concedida ao candidato que for eleito com a votação
necessária para tal, segundo as regras estabelecidas pela norma eleitoral vigente. Poderão
tomar posso aqueles candidatos que tenham recebido diplomação válida e que tenham sido
respeitadas as regras do art. 54 da Constituição Federal210.
O Parágrafo 3º, do art. 14 da Constituição Federal, traz um rol de fatos, cuja presença
é necessária para que alguém possa ser candidato a mandato eletivo.
208
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em 20 jul. 2009.
209
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. p. 86.
210
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. p. 86.
211
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. p. 86.
70
Por fim, algo ainda haverá de ser dito especificamente sobre os membros do Poder
Judiciário e do Ministério Público. Tudo isso será desenvolvido adiante, na análise específica
de cada uma das condições de Elegibilidade, e bem assim nas observações acerca das causas
de Inelegibilidade, previstas atualmente na Lei Complementar n. 64, de 18 de maio de 1990,
editada em obediência ao disposto no Parágrafo 9º, do mesmo artigo da Constituição213.
Desse modo, as condições de Elegibilidade são requisitos que devem ser preenchidos
pelo candidato, tornando legalmente possível o registro de sua candidatura. Sem o
preenchimento dessas condições, não há como levar adiante a candidatura que esbarra em
limitações normativas214.
212
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. p. 86.
213
DECOMAIN, Pedro Roberto. Elegibilidade e inelegibilidade. São Paulo: Dialética, 2004. p. 12.
214
DECOMAIN, Pedro Roberto. Elegibilidade e inelegibilidade. p. 12.
215
ROLLO, Alberto. Elegibilidade e inelegibilidade. Caxias do Sul: Plenum, 2008. p. 43-44.
71
Se por um lado, existem regras para definir quem são as pessoas que estarão aptas para
escolher os representantes da sociedade no exercício de gestão da coisa pública, por outro é
necessário, também, a existência de regras que definam aqueles que poderão concorrer a um
cargo público eletivo.
216
ROLLO, Alberto. Elegibilidade e inelegibilidade. p. 43-44.
217
SILVA, José Afonso. apud ROLLO, Alberto. Elegibilidade e inelegibilidade. p. 44.
218
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em 20 jul. 2009.
72
São fatos positivos, isto é, sua presença é necessária, para que a pessoa possa revestir a
condição de candidato. Paralelamente, outras circunstâncias existem que, estando presentes,
impedem a candidatura. São fatos, cuja ocorrência representa obstáculo para que alguém
possa ser candidato a mandato eletivo. Esses fatos são denominados de causas de
Inelegibilidade.
Em presença de algum desses fatos, aquele que nele estiver envolvido, não poderá ser
candidato. Tais fatos funcionam, portanto, ao inverso das circunstâncias de Elegibilidade:
aquelas devem estar presentes, para que a pessoa possa candidatar-se. Estas, ao inverso,
devem estar ausentes219.
219
DECOMAIN, Pedro Roberto. Elegibilidade e inelegibilidade. p. 09-10.
220
COSTA, Adriano Soares. Teoria da inelegibilidade e o direito processual eleitoral. Belo Horizonte: Del
Rey, 1998. p. 145.
73
221
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em 20 jul. 2009.
74
Isso, contudo, não afasta por completo a incidência do art. 41-A da Lei n. 9.504/1997,
introduzido por força da Lei n. 9.840, de 28.9.1999, por se tratar de lei ordinária, uma vez que
o referido art. 41-A não contempla nova hipótese de inelegibilidade, o que somente poderia se
dar através de Lei Complementar.
Redação dada pela ECR 4/94 1º. O texto revogado era o seguinte:
A AIJE é ação própria para apuração das transgressões pertinentes a origem de valores
pecuniários, abuso do poder econômico ou político, em detrimento da liberdade de Voto (art.
19 da LC 64/90), cominando, em caso de procedência, na Inelegibilidade do representado e de
quantos hajam contribuído para a prática do ato para as eleições a se realizarem nos 03 (três)
anos subsequentes à eleição em que se verificou na cassação do registro do candidato
diretamente beneficiado e na remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral - MPE, para
eventuais providências (art. 22, inc. XIV, LC 64/90).
223
NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Constituição Federal comentada. p. 191.
76
caput e inc. XIV, LC 64/90), justamente no intuito de proteger a lisura do pleito e punir
qualquer um que atentar contra tal bem224.
Segundo alguns autores, existe uma certa tendência dos juízes eleitorais apurarem com
mais rigor os casos ensejadores da proposição de Ação de Investigação Judicial Eleitoral. A
AIJE não prevê diretamente uma sanção penal, como os crimes previstos no Código Eleitoral.
Todavia, a averiguação da existência de fatos que culminem na condenação ao final da
instrução da AIJE, acaba se direcionando para aplicação de uma punição, ou seja, a cassação
do registro da candidatura, com a consequente Inelegibilidade por certo lapso temporal, ou
ainda, a impugnação do mandato.
Não há nessa fase propriamente uma pena no sentido claro do Código Penal, mas a
cassação do registro, a inelegibilidade por certo tempo, a impugnação de mandato. Mediante
procedimento sumaríssimo de investigação judicial, a reclamação ou representação é
encaminhada diretamente ao Corregedor (ou ao juiz eleitoral se for o caso de eleição
municipal) onde ali se relatam fatos e se indicam provas ou indícios para a abertura da
investigação225.
Assim, não resta dúvida que apesar de se constituir num processo investigatório, a
Ação de Investigação Judicial Eleitoral pode culminar numa sentença condenatória, com
aplicação de pena. Ainda que não seja uma pena, no sentido criminal da palavra, é uma
punição no âmbito eleitoral, com efeitos, muitas vezes, tão significativos quanto aqueles
previstos pelo Código Penal ou pelo Código Eleitoral.
224
VELOSO, Valtier de Barros. Ação de Investigação Judicial Eleitoral. Curitiba: Revista Paraná Eleitoral n.
70. Publicado em janeiro de 2009. p. 11.
225
D’ALMEIDA, Noely Manfredini; SANTOS, Fernando José dos; RANCIARO JÚNIOR, Antônio. Crimes
Eleitorais e Outras Infringências. Curitiba: Juruá, 1994. p. 311.
77
A Ação de Investigação Judicial Eleitoral tem sua previsão legal do art. 22 ao art. 24
da Lei Complementar n. 64, de 18 de maio de 1990, conforme transcrito a seguir:
Art. 23. O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos
públicos e notórios, dos indícios e presunções e prova produzida, atentando
para circunstâncias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados pelas
partes, mas que preservem o interesse público de lisura eleitoral.
Art. 24. Nas eleições municipais, o Juiz Eleitoral será competente para
conhecer e processar a representação prevista nesta lei complementar,
exercendo todas as funções atribuídas ao Corregedor-Geral ou Regional,
constantes dos incisos I a XV do art. 22 desta lei complementar, cabendo ao
representante do Ministério Público Eleitoral em função da Zona Eleitoral as
atribuições deferidas ao Procurador-Geral e Regional Eleitoral, observadas
as normas do procedimento previstas nesta lei complementar226.
Sendo um processo administrativo, assim como nos processos judiciais, são garantidos
às partes os princípios do contraditório e da ampla defesa, como prevê o Art. 5º, inciso LV da
Constituição da República de 1988, “Aos litigantes em processo judicial ou administrativo, e
aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa a ela inerentes227”.
226
BRASIL. Lei Complementar n. 64, de 18 de maio de 1990. Estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da
Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina outras providências. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp64.htm>. Acesso em 20 jul. 2009.
227
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em 20 jul. 2009.
79
4.4 LEGITIMIDADE
228
ROLLO, Alberto. Elegibilidade e inelegibilidade. p. 199.
80
Não obstante ter sido admitido como marco final até as eleições, nos termos do art. 22,
inciso XV, da Lei Complementar n. 64/90, ainda assim o Tribunal Superior Eleitoral tem
alongado esse termo final até a sessão de diplomação230.
No parecer de Cândido, são dois os requisitos para que o juiz possa suspender
liminarmente o ato impugnado na Representação:
Assim, ressalte-se que a tutela antecipada incide sobre o ato condenável, sobre a
prática de abuso do poder econômico e/ou político e não sobre a candidatura. Casos comuns
ensejadores de tutela antecipada é o uso indevido de veículos ou de meios de comunicação.
229
COSTA, Adriano Soares. Teoria da inelegibilidade e o Direito Processual Eleitoral. p. 125.
230
CERELLO, Anselmo. Ação de Investigação Judicial. Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina.
Disponível em: <http://www.tre-sc.gov.br/site/fileadmin/arquivos/biblioteca/doutrinas/anselmo3.htm>. Acesso
em: 20 ago. 2009.
231
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no Direito Brasileiro. p. 358.
81
Assim, busca-se evitar a desigualdade no processo eleitoral, primando pela eleição livre, onde
prevaleça unicamente a vontade do eleitor.
Esse fato recebeu uma nova complicação por força da Súmula 19232 do TSE que
atribuiu efeito ex tunc à sentença, ou seja, retroagindo os efeitos à data da posse do autor do
ato ilícito, se tiver sido eleito.
Existem alguns juristas que defendem a aplicação da sentença com efeito ex nunc, ou
seja, com duração da vigência do período de Inelegibilidade contada a partir da decretação da
sentença. Desse modo, se teria uma garantia maior de que a punição, de fato, seria sentida
pelo sentenciado233.
A Inelegibilidade por prática de abuso do poder incide por três anos. A contagem
desse prazo trienal começa no dia seguinte ao término do mandato ou do período do exercício
232
BRASIL. Súmula nº 19 - Publicada no DJ de 21, 22 e 23/8/2000. O prazo de inelegibilidade de três anos,
por abuso de poder econômico ou político, é contado a partir da data da eleição em que se verificou (art. 22,
XIV, da LC 64, de 18/5/90). Disponível em: <http://www.tre-
mg.gov.br/portal/website/jurisprudencia/publicacao_sumulas/sumula_19.pdf >. Acesso em 20 jul. 2009.
233
CERELLO, Anselmo. Ação de Investigação Judicial. Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina.
Disponível em: <http://www.tre-sc.gov.br/site/fileadmin/arquivos/biblioteca/doutrinas/anselmo3.htm>. Acesso
em: 20 ago. 2009.
82
da função pública. Assim, por exemplo, o detentor de cargo na administração pública que o
deixa em 4 de junho de 2010, permanecerá inelegível até 4 de junho de 2013. Aspecto
interessante acerca da Inelegibilidade em questão, é que sua incidência fica condicionada a
evento futuro (término do período de permanência no cargo).
Por ocasião da próxima eleição para disputa ao mesmo cargo para o qual o agente
pretendia ser eleito (ou foi eleito), cuja prática resultou na sua Inelegibilidade, o indivíduo
estará livre da pena, podendo concorrer novamente:
234
ROLLO, Alberto. Elegibilidade e inelegibilidade. p. 200.
235
CÂNDIDO, Joel José. Inelegibilidades no direito brasileiro. p. 200.
83
de Investigação Judicial Eleitoral possa conviver com a capacidade eleitoral ativa do cidadão,
ou seja, sua capacidade de votar:
236
PINTO, Djalma. Direito eleitoral. p. 157.
237
PINTO, Djalma. Direito eleitoral. p. 157.
238
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luiz Fabio. Direito eleitoral: para compreender a dinâmica do
poder político. p. 211.
84
4.7 DO RECURSO
Art. 265. Dos atos, resoluções ou despachos dos juízes ou juntas eleitorais
caberá recurso para o Tribunal Regional.
239
BRASIL. Lei n. 4.737, de 15 de julho de 1965. Institui o Código Eleitoral. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4737.htm.>. Acesso em: 04 set. 2009.
240
CERELLO, Anselmo. Ação de Investigação Judicial. Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina.
Disponível em: <http://www.tre-sc.gov.br/site/fileadmin/arquivos/biblioteca/doutrinas/anselmo3.htm>. Acesso
em: 20 ago. 2009.
85
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do estudo realizado, embora ainda não seja possível conceber nenhuma
conclusão definitiva sobre o tema abordado, visto ser o Direito Eleitoral uma ciência dinâmica
e em permanente construção, ainda assim é possível traçar algumas considerações pertinentes.
O objeto central da Ação de Investigação Judicial Eleitoral é coibir o uso indevido dos
meios de comunicação e de outras práticas classificadas como de abuso do poder econômico
ou político.
A Ação de Investigação Judicial Eleitoral deverá ser proposta perante o TSE no caso
das eleições presidenciais, perante os TREs no caso das eleições para governador, deputados e
senadores e perante os Juízes Eleitorais, no caso das eleições municipais.
Todavia, esse “silêncio” inicial está longe de ser sinônimo de passividade por parte do
povo. A história brasileira é marcada por lutas populares pela consolidação de uma
Democracia plena. Cumpre ressaltar que não há Democracia verdadeira se não houver um
processo eleitoral capaz de garantir a idoneidade, transparência e equidade dos pleitos
destinados a escolha de nossos representantes políticos.
Embora nem todos os fantasmas tenham sido vencidos, pode-se dizer que o pais está
no caminho certo. O Brasil, hoje, é um país respeitado, reconhecido internacionalmente por
muitas qualidades, incluindo seu processo eleitoral moderno e altamente seguro.
É verdade que toda a evolução promovida em nosso sistema eleitoral não garante um
sistema perfeito, eternamente livre das práticas desonestas que teimam em macular o processo
eleitoral, buscando beneficiar candidatos inescrupulosos. Como em todas as áreas da vida, no
Direito Eleitoral a luta contra as práticas criadas por indivíduos que buscam burlar o sistema
para se beneficiarem é um processo permanente, construído por muitas batalhas, cuja vitória
pertence à democracia e ao povo brasileiro.
87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANGELO, Vitor Amorim de. Contexto histórico e político. UOL educação. Disponível em:
<http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/constituicao-1988.jhtm>. Acesso em 25 jul. 2009.
______. Lei Complementar n. 64, de 18 de maio de 1990. Estabelece, de acordo com o art.
14, § 9º da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina
outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp64.htm>. Acesso em 20 jul. 2009.
_______ Lei n. 4.737, de 15 de julho de 1965. Institui o Código Eleitoral. Disponível em:
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1982
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1992.
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1994.
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dinâmica do poder político. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum , 2006.
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