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bodo n. m. 1. distribuição de alimentos, dinheiro e vestuário aos pobres, em dias festivos; 2. comida; iguaria. Do
latim votu-, “voto; promessa”.
AA.VV. (2010). Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora, p. 245.
[…] Ricardo Reis alcançou o meio da rua, está defronte da entrada do grande prédio do jornal O Século,
o de maior expansão e circulação, a multidão alarga-se, mais folgada, pela meia-laranja que com ele en-
testa, respira-se melhor, só agora Ricardo Reis deu por que vinha a reter a respiração para não sentir o mau
cheiro […]. À entrada estão dois polícias, aqui perto outros dois que disciplinam o acesso, a um deles vai
5 Ricardo Reis perguntar, Que ajuntamento é este, senhor guarda, e o agente de autoridade responde com
deferência, vê-se logo que o perguntador está aqui por um acaso, É o bodo do Século, Mas é uma multidão,
Saiba vossa senhoria que se calculam em mais de mil os contemplados, Tudo gente pobre, Sim senhor,
tudo gente pobre, dos pátios e barracas, Tantos, E não estão aqui todos, Claro, mas assim todos juntos,
ao bodo, faz impressão, A mim não, já estou habituado, E o que é que recebem, A cada pobre calha dez
10 escudos, Dez escudos, É verdade, dez escudos, e os garotos levam agasalhos, e brinquedos, e livros de lei-
tura, Por causa da instrução, Sim senhor, por causa da instrução, Dez escudos não dá para muito, Sempre é
melhor que nada, Lá isso é verdade, Há quem esteja o ano inteiro à espera do bodo, deste e dos outros, olhe
que não falta quem passe o tempo a correr de bodo para bodo, à colheita, o pior é
quando aparecem em sítios onde não são conhecidos, outros bairros, outras paró-
15 quias, outras beneficências, os pobres de lá nem os deixam chegar-se, cada pobre é
fiscal doutro pobre, Caso triste, Triste será, mas é bem feito, para aprenderem a não
ser aproveitadores, Muito obrigado pelas suas informações, senhor guarda, Às or-
dens de vossa senhoria, passe vossa senhoria por aqui, e, tendo dito, o polícia
avançou três passos, de braços abertos, como quem enxota galinhas para a ca-
20 poeira, Vamos lá, quietos, não queiram que trabalhe o sabre, com estas persuasi-
vas palavras a multidão acomodou-se, as mulheres murmurando como é costume
seu, os homens fazendo de contas que não tinham ouvido, os garotos a pensar no
brinquedo, será carrinho, será ciclista, será boneco de celuloide, por estes
dariam camisola e livro de leitura.
3. Relê as frases onde aparecem as seguintes palavras, associando a cada uma o respetivo significado.
Coluna A Coluna B
a. “meia-laranja” (l. 2) 1. distribuição de alimentos, dinheiro e vestuário aos pobres, em dias
b. “disciplinam” (l. 4) festivos.
c. “deferência” (l. 6) 2. instituições de caridade.
d. “agasalhos” (l. 10) 3. espada curta.
e. “bodo” (l. 6) 4. material plástico.
f. “escudos” (l. 10) 5. moeda portuguesa em circulação entre 1910 e 2002.
g. “instrução” (l. 11) 6. atenção respeitosa; acatamento.
h. “beneficências” (l. 15) 7. roupas; vestuário quente.
i. “sabre” (l. 20) 8. espaço em forma de semicírculo.
j. “celuloide” (l. 23) 9. ensino; formação.
10. fazem cumprir as regras.
a. b. c. d. e. f. g. h. i. . j. .
SOLUÇÕES
1.1. Atualmente ainda existem bodos como, por exemplo, o Bodo do Leite na ilha Terceira, Açores.
4. a. “a multidão alarga-se, mais folgada, pela meia-laranja que com ele entesta, respira-se melhor, só agora
Ricardo Reis deu por que vinha a reter a respiração para não sentir o mau cheiro” (ll. 2-4). b. “Tudo gente pobre,
Sim senhor, tudo gente pobre, dos pátios e barracas, Tantos, E não estão aqui todos, Claro, mas assim todos
juntos, ao bodo, faz impressão, A mim não, já estou habituado […]” (ll. 7-9). c. “Às ordens de vossa senhoria,
passe vossa senhoria por aqui” (ll. 17-18). d. “A cada pobre calha dez escudos, Dez escudos, É verdade, dez
escudos, e os garotos levam agasalhos, e brinquedos, e livros de leitura, Por causa da instrução, Sim senhor,
por causa da instrução, Dez escudos não dá para muito, Sempre é melhor que nada, Lá isso é verdade,” (ll. 9-
12). e. “Há quem esteja o ano inteiro à espera do bodo, deste e dos outros, olhe que não falta quem passe o
tempo a correr de bodo para bodo, à colheita […]” (ll. 12-13). f. “os garotos a pensar no brinquedo, será carrinho,
será ciclista, será boneco de celuloide, por estes dariam camisola e livro de leitura.” (ll. 22-24).