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Filosofia 2016

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Filosofia II

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Filosofia 2016
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Universidade Federal de Santa Maria

Pró-Reitoria de Extensão

FILOSOFIA II
Pré-Universitário Popular
Alternativa

Autoria:
Jéssica Coimbra Padilha
Lúrian Possebon
Symon Salles

Santa Maria

2016

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SUMÁRIO

UNIDADE I - O que é o ser humano? O que somos? ... PÁGINA 5

UNIDADE II - Sobre o que estamos falando quando o assunto é ética?.... PAGINA 22

UNIDADE III - Filosofia e Religião. É possível associar Deus e a Filosofia?...


PAGINA 46

UNIDADE IV - O que é política? O que é o poder?... PAGINA 55

UNIDADE V – Por que Arte? O que é belo? ... PAGINA 79

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Unidade I
O que é o ser humano? Quem Somos?
Em algum momento na vida, praticamente todo o ser humano perguntou-se:
“Quem sou eu”? ou “O que é o ser humano”? A partir do século XIX, um ramo da ciência
preocupou- se em responder a essa questão, bem como a filosofia. É sabido, que somos
seres vivos pertencentes ao reino animal e de forma mais específica, somos da espécie
Homo sapiens. Contudo, o que mais somos? O que nos diferencia das outras espécies?

A parte da filosofia que ocupa-se com essas questões é a antropologia filosófica, ou


seja, é a area da filosofia que investiga o ser humano, bem como as atividades humanas,
caracterizando e diferenciando-nos dos demais seres. Para adentrarmos, no entanto, ao
nosso propósito, reflita sobre a seguinte fábula, retirada da introdução do livro “Mentes
perigosas”, de Ana Beatriz Barbosa Silva. E pense: O que é natureza humana?
O escorpião aproximou-se do sapo que estava à beira do rio. Como não sabia
nadar, pediu uma carona para chegar à outra margem. Desconfiado, o sapo respondeu:
Ora, escorpião só se eu fosse tolo demais! “Você é traiçoeiro, vai me picar, soltar o seu
veneno e eu vou morrer.”
Mesmo assim o escorpião insistiu, com o argumento lógico de que se picasse o sapo
ambos morreriam. Com promessas de que poderia ficar tranquilo, o sapo cedeu, acomodou
o escorpião em suas costas e começou a nadar. Ao fim da travessia, o escorpião cravou o
seu ferrão mortal no sapo e saltou ileso em terra firme.
Atingido pelo veneno e já começando a afundar, o sapo desesperado quis saber o
porquê de tamanha crueldade. E o escorpião respondeu friamente:
- Porque essa é a minha natureza!

O que é Natureza Humana?


Todos os dias, escutamos frases como estas: “Homem não chora, isso faz parte da
natureza deles”, “mulheres são do sexo frágil”, “é da natureza humana” ter medo do que
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não se conhece, ou ainda, “homens são fortes e racionais e por isso servem para o
comando”. Frases como essas, e muitas outras, pressupõe uma natureza humana já
estabelecida, que é a mesma em todos os lugares e regiões, de forma universal. A
pergunta, então a se fazer é a seguinte: Existe uma “natureza humana” universal que seja
igual para todos os seres humanos? Dizer que algo ou alguma coisa é natural ou por
natureza significa dizer que isso existe necessariamente, ou seja, não pode deixar de existir
e nem ser diferente do que é, significa também dizer, portanto, que tal coisa por ser natural
não depende da ação e intenção dos seres humanos e sim, das operações realizadas pela
natureza.

LEMBRE-SE:
Lembre-se

Leis universais e necessárias: Uma lei é universal porque é a mesma em todos


os tempos e lugares para todos os seres; uma lei natural é necessária porque
não pode ser mudada – se mudasse, deixaria de ser uma lei natural. Assim, por
exemplo, a lei da gravitação dos corpos, descoberta por Newton, é uma lei
natural porque é universal e necessária.
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à filosofia. Ed São Paulo, 2010. p. 225.

Natureza e Cultura: Qual a relação?


Falamos até agora da natureza. Mas o que queremos dizer exatamente quando
usamos a palavra cultura?
Analisemos primeiramente a esses aspectos:
1- Os biólogos, por exemplo, referem-se à criação de certos animais como cultura:
cultura de micro-organismos, cultura de peixes, carpas e assim consequentemente.
2- Na linguagem cotidiana. Dizemos que uma pessoa tem cultura quando
frequentou boas escolas ou leu bons livros, dominando diversos assuntos e adquirindo
muitos conhecimentos, sejam esses: científicos, humanísticos e artísticos.
3- Na Grécia antiga, o termo cultura adquiriu uma significação toda especial, ligada
à formação individual do cidadão. Isso correspondia à chamada paideia, processo pelo
qual o ser humano realizava o que os gregos consideravam sua verdadeira natureza, isto e
desenvolver a filosofia (conhecimento de si e do mundo) e a consciência da vida em
comunidade.
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Apesar dessas diferentes acepções, podemos perceber em todas as três concepções


básicas: desenvolvimento, formação e realização. Essas ideias também estão presentes no
uso que damos a palavra cultura. Dessa forma, definido pelos antropólogos e sociólogos,
cultura designa o conjunto dos modos de vida criados e transmitidos de uma geração
a outra, entre os membros de uma sociedade. Abrange conhecimentos, crenças, artes,
normas, costumes e outros elementos desenvolvidos pela coletividade humana. A cultura
pode ser considerada um amplo conjunto de conceitos, símbolos e valores, cada cultura
tem seu próprio valor e suas próprias “verdades”.
Vários estudiosos concordam com esses aspectos com relação a cultura:
1- Adquirida pela aprendizagem, e não herdada pelos instintos;
2- Transmitida de geração a geração, por meio da linguagem, nos diferentes
sociedades;
3- Criação exclusiva dos seres humanos, incluindo a produção material e não
material;
4- Múltipla e variável, no tempo e no espaço, de sociedade para sociedade.

Corpo e sexualidade: entre o biológico e o Cultural

O Corpo
Meu corpo tem cinquenta braços
E ninguém vê porque só usa dois olhos
Meu corpo é um grande grito
E ninguém ouve porque não dá ouvidos
Meu corpo sabe que não é dele
Tudo aquilo que não pode tocar
Mas meu corpo quer ser igual àquele
Que por sua vez também já está cansado de não mudar
Meu corpo vai quebrar as formas
Se libertar dos muros da prisão
Meu corpo vai queimar as normas

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E flutuar no espaço sem razão


Meu corpo vive e depois morre
E tudo isso é culpa de um coração
Mas meu corpo não pode mais ser assim
Do jeito que ficou após sua educação

MOSKA, Paulinho. O corpo. In: Pensar é fazer música. Rio de Janeiro, 1995.

Um dos desdobramentos da corporeidade é a sexualidade; o corpo é sexuado. Em


uma visão mecanicista do corpo, o sexo é visto como algo puramente biológico. Alguns
são do sexo masculino, outros do sexo feminino. Mas nada é assim tão simples. Como
compreender que existam homens que durante o dia trabalham em seus escritórios,
fábri-cas, empresas, e à noite se vestem como mulheres e se divertem nas festas? eles não
deixam de ser homens; mas sentem prazer em se vestir como mulheres. Se analisarmos o
corpo e o sexo de forma mecânica e estritamente biológica, uma pergunta como essa é
equivocada, pois de-vemos considerar essa nossa análise uma dimensão simbólica, que
diz respeito a como representamos e como vivemos a corporeidade e que se coloca para
além do biológico. Como vimos anteriormente, essa dimensão simbólica é o universo da
cultura.
Para entender a complexidade dessa questão, precisamos recorrer a uma visão não
mecanicista do corpo. Se o corpo não é apenas matéria, pois existe em uma dada cultura,
a sexualidade está relacionada à dinâmica da vida humana. não é um mero traço físico ou
biológico. O sexo é biológico, mas as maneiras de vivê-lo são culturais, por isso se
modificam de pessoa para pessoa, de cultura para cultura, de uma época para outra. na
obra História da sexualidade: a vontade de saber (1976), Foucault investigou como as
sociedades viveram a sexualidade ao longo do tempo e notou um paradoxo. nas
sociedades dos séculos XVI e XVII, embora se acreditasse que o sexo era reprimido,
ele foi valorizado como o segredo por excelência; em decorrência disso, falava-se muito
sobre sexo, na mesma medida em que ele era reprimido. Procurando estabelecer “a
verdade” do sexo, as civilizações encontraram basicamente dois caminhos. Por um lado,
criaram uma espécie de “arte erótica”, como uma forma de prescrever as melhores e mais
corretas ma-neiras de viver o sexo. Isso se verificou principalmente nas sociedades
orientais. Provavelmente, o exemplo mais conhecido é o clássico hindu Kama Sutra. Por
outro lado, as sociedades ocidentais produziram um conhecimento científico sobre o
sexo, como uma forma lícita de procurar sua “verdade. Essas duas vertentes deram
origem a duas linhas no conhecimento sobre o sexo no Ocidente. De um lado, surgiu um
saber científico legíti-mo, sobre o qual se pode falar livremente e até ensinar nas escolas,
na forma de uma educação sexual admitida como necessária. De outro lado, ganhou

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força uma visão moral do sexo, que reprime certas práticas e legitima outras, criando-se
uma série de hábitos sociais relacionados à sexualidade. nessa moral sexual, predominou
a perspectiva heterossexual, que afirma a distinção absoluta entre homem e mulher,
cen-trada numa visão biológica. A vivência da sexualidade envolve, por-tanto, uma
conjunção dos fatores biológico e cultural. nela também interfere um tema que adquiriu
grande interesse no século XXI: os papéis dos homens e das mulheres na socie-dade –
ou, como costuma ser denominada, a questão do gênero. Uma coisa é o sexo de cada
pessoa visto sob o ponto de vista biológico. Alguns indivíduos nascem com um corpo
dotado de um aparato sexual masculino; outros, com um aparelho sexual feminino.
Mas será que isso é suficiente para afirmar que uns são homens e outros são
mulheres? Os gêneros masculino e feminino são puramente biológicos? Sabemos que
não. A questão do gênero também está profundamente ligada à vivência das pessoas em
determinada época e lugar. )Retirado de: GALLO, Silvio. Filosofia experiência do
pensamento, 2014. p.101-102)

Com essas questões acerca do papel da natureza, da cultura e do corpo na vida


humana, passemos à leitura de um fragmento do livro O Segundo Sexo, da filósofa
francesa Simone de Beauvoir (1908-1986).
NINGUÉM nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico,
econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o
conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o
castrado que qualificam de feminino. Somente a mediação de outrem pode constituir um
indivíduo como um outro. Enquanto existe para si, a criança não pode apreender-se como
sexualmente diferençada. Entre meninas e meninos, o corpo é, primeiramente, a
irradiação de uma subjetividade, o instrumento que efetua a compreensão do mundo: é
através dos olhos, das mãos e não das partes sexuais que apreendem o universo. O drama
do nascimento, o da desmama desenvolvem-se da mesma maneira para as crianças dos
dois sexos; têm elas os mesmos interesses, os mesmos prazeres; a sucção é, inicialmente,
a fonte de suas sensações mais agradáveis; passam depois por uma fase anal em que
tiram, das funções excretórias que lhe são comuns, as maiores satisfações; seu
desenvolvimento genital é análogo; exploram o corpo com a mesma curiosidade e a
mesma indiferença; do clitóris e do pênis tiram o mesmo prazer incerto; na medida em
que já se objetiva sua sensibilidade, voltam-se para a mãe: é a carne feminina, suave, lisa,
elástica que suscita desejos sexuais e esses desejos são apreensivos; é de uma maneira
agressiva que a menina, como o menino, beija a mãe, acaricia-a, apalpa-a; têm o mesmo
ciúme se nasce outra criança; manifestam-no da mesma maneira: cólera, emburramento,
distúrbios urinários;

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recorrem aos mesmos ardis para captar o amor dos adultos. Até os doze anos a menina é
tão robusta quanto os irmãos e manifesta as mesmas capacidades intelectuais; não há
terreno em que lhe seja proibido rivalizar com eles. Se, bem antes da puberdade e, às
vezes, mesmo desde a primeira infância, ela já se apresenta como sexualmente
especificada, não é porque misteriosos instintos a destinem imediatamente à passividade,
ao coquetismo, à maternidade: é porque a intervenção de outrem na vida da criança é
quase original e desde seus primeiros anos
sua vocação lhe é imperiosamente
insuflada. (...)
Assim, a passividade que
caracterizará essencialmente a mulher
"feminina" é um traço que se desenvolve
nela desde os primeiros anos. Mas é um
erro pretender que se trata de um dado
biológico: na verdade, é um destino que
lhe é imposto por seus educadores e pela
sociedade. A imensa possibilidade do
menino está em que sua maneira de existir para outrem encoraja-o a pôr-se para si. Ele
faz o aprendizado de sua existência como livre movimento para o mundo; rivaliza- se em
rudeza e em independência com os outros meninos, despreza as meninas. Subindo nas
árvores, brigando com colegas, enfrentando-os em jogos violentos, ele apreende seu
corpo com um meio de dominar a natureza e um instrumento de luta; orgulha-se de seus
músculos como de seu sexo; através de jogos, esportes, lutas, desafios, provas, encontra
um emprego equilibrado para suas forças; ao mesmo tempo conhece as lições severas da
violência; aprende a receber pancada, a desdenhar a dor, a recusar as lágrimas da primeira
infância. Empreende, inventa, ousa. Sem dúvida, experimenta-se também como "para
outrem", põe em questão sua virilidade, do que decorrem, em relação aos adultos e a
outros colegas, muitos problemas. Porém, o mais
importante é que não há oposição fundamental entre
a preocupação dessa figura objetiva, que é sua, e sua
vontade de se afirmar em projetos concretos. É
fazendo que ele se faz ser, num só movimento. Ao
contrário, na mulher há, no início, um conflito entre
sua existência autônoma e seu "ser- outro";
ensinam-lhe que para agradar é preciso procurar
agradar, fazer-se objeto; ela deve, portanto,
renunciar à sua autonomia. Tratam-na como uma
boneca viva e recusam-lhe a liberdade; fecha-se
assim um círculo vicioso, pois quanto menos exercer
sua liberdade para compreender, apreender e
descobrir o mundo que a cerca, menos encontrará
nele recursos, menos ousará afirmar-se como

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sujeito; se a encorajassem a isso, ela poderia manifestar a mesma exuberância viva, a
mesma curiosidade, o mesmo espírito de iniciativa, a mesma ousadia que um menino. É o
que acontece, por vezes, quando lhe dão uma formação viril; muitos problemas então lhe
são poupados 1. É interessante observar que é um gênero de educação que o pai de bom
grado dá à filha; as mulheres educadas por um homem escapam, em grande parte, às
taras, da feminilidade. Mas os costumes opõem-se a que as meninas sejam tratadas
exatamente como meninos. Conheci numa aldeia meninas de 3 a 4 anos que o pai
obrigava a usar calças; todas as crianças perseguiam-nas: "São meninas ou meninos?" e
procuravam verificá-lo; a tal ponto que elas suplicavam que as vestissem como meninas.
A não ser que levem uma vida muito solitária, mesmo quando os pais autorizam maneiras
masculinas, os que cercam a menina, suas amigas, seus professores sentem-se chocados.
Haverá sempre tias, avós, primas para contrabalançar a influência do pai. Normalmente,
o papel deste em relação às filhas é secundário. Uma das maldições que pesam sobre a
mulher — Michelet assinalou-a justamente — está em que, em sua infância, ela é
abandonada às mãos das mulheres. O menino também é, a princípio, educado pela mãe;
mas ela respeita a virilidade dele e ele lhe escapa desde logo; ao passo que ela almeja
integrar a filha no mundo feminino.

Ver-se-á adiante quanto são complexas as relações entre mãe e filha; a filha é para
a mãe ao mesmo tempo um duplo e uma outra, ao mesmo tempo a mãe adora-a
imperiosamente e lhe é hostil; impõe à criança seu próprio destino: é uma maneira de
reivindicar orgulhosamente sua própria feminilidade e também uma maneira de se vingar
desta. Encontra-se o mesmo processo entre os pederastas, os jogadores, os viciados em
entorpecentes, entre todos os que jactam de pertencer a uma determinada confraria e com
isso se sentem humilhados: tentam conquistar adeptos com ardente proselitismo. Do
mesmo modo, as mulheres, quando se lhes confia uma menina, buscam, com um zelo em
que a arrogância se mistura ao rancor, transformá-la em uma mulher semelhante a si
próprias. E até uma mãe generosa que deseja sinceramente o bem da criança pensará em
geral que é mais prudente fazer dela uma "mulher de verdade", porquanto assim é que a
sociedade acolherá mais facilmente. Dão-lhe por amigas outras meninas, entregam-na a
professoras, ela vive entre matronas como no tempo do gineceu, escolhem para ela livros
e jogos que a iniciem em seu destino, insuflam-lhe tesouros de sabedoria feminina,
propõem-lhe virtudes femininas, ensinam-lhe a cozinhar, a costurar, a cuidar da casa ao
mesmo tempo que da toilette, da arte de seduzir, do pudor; vestem-na com roupas
incômodas e preciosas de que precisa tratar, penteiam-na de maneira
complicada, impõem-lhe regras de comportamento: "Endireita o corpo, não andes como
uma pata". Para ser graciosa, ela deverá reprimir seus movimentos espontâneos; pedem-
lhe que não tome atitudes de menino, proíbem-lhe exercícios violentos, brigas: em suma,
incitam-na a tornar-se, como as mais velhas, uma serva e um ídolo. Hoje, graças às
conquistas do feminismo, torna-se dia a dia mais normal encorajá-la a estudar, a praticar
esporte; mas perdoam-lhe mais do que ao menino o fato de malograr; tornam- Ihe mais
difícil o êxito, exigindo dela outro tipo de realização: querem, pelo menos, que ela seja
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também uma mulher, que não perca sua feminilidade.


Fonte: BEAUVOIR, S. O segundo sexo II: A experiência vivida. Tradução de
Sérgio Milliet. Difusão Européia do Livro

Condição humana
Na busca, talvez, pelo sentido humano, uma pergunta sempre é feita: O que há, em
nós, seres humanos, que nos fazem distintos e singulares com relação aos outros seres?
Dito de outro modo: qual é a natureza humana? Se aceitarmos essa ideia teremos de
aceitar, que exista algo com uma essência humana que nos distingue, seja dos animais,
vegetais ou minerais, etc. Tendo em vista, Aristóteles, cujo conceito de natureza humana é
que seres humanos são seres dotados de razão, parece haver algo que já nasça conosco, e
que, portanto, é o que nos diferencia. Ainda sobre essa perspectiva, o que fazemos dessa
forma, é transformar em ato certas potencialidades que “ganhamos” desde o nosso
nascimento.
Alguns filósofos observando as pessoas procuraram evidências para caracterizar a
realização dessas potencialidades. Para alguns deles, portanto, o ser é a razão (homo
sapiens); para outros, a natureza humana reside nas relações econômicas (homo
economicus); existem ainda quem afirme que apenas o humano pode criar, trabalhar,
produzir, fabricar (homo laborans), ou nenhum desses exemplos em particular, mas o
conjunto de todos eles.
Mesmo assim, alguns filósofos, porém não aceitaram essas definições de natureza
humana, dizendo que o ser humano não pode ser definido por uma característica
universal, isto é, que esteja presente em todos os seres humanos em qualquer lugar ou
época, sem exceção, mas sim, por aquilo que cada um escolhe fazer de si mesmo, em suas
atividades diárias, nas realizações humanas. Esses filósofos, então, mudaram o foco da
essência humana e colocaram na existência. E assim, nessa perspectiva, não há nada que
defina o ser humano, nada universal, porque só podemos compreendê-lo observando as
sua relação com outros seres humanos, com se relacionam com as coisas e objetos do
mundo. Para esses filósofos para saber o que nos torna homens e mulheres e não outro ser
é preciso refletir e pensar sobre o que é “condição humana”. Não é através de uma
suposta natureza humana que encontraremos uma definição do que somos.
Essa “condição humana” refere-se a fatores sociais em que o ser humano vive e,

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sobretudo, com relação a suas atitudes ações que exerce sobre sua própria condição
transformando-a. Nessa perspectiva de condição ao invés de natureza humana, não há uma
noção limitada o ser humano, mas pelo contrário, uma abertura de sua compreensão, que
está de acordo com a diversidade de suas ações. Esses filósofos que pensam sobre
condição humana colocam, portanto, ênfase na existência, pois acreditam que é aí que
podemos conhecer-nos de forma mais profunda e não artificial.
Como exemplo desses filósofos, temos Hannah Arendt, uma gloriosa filósofa
contemporânea (1906 – 1975) e Karl Marx, filósofo alemão (1818 – 1883).

A condição humana como atividade


“Para evitar erros de interpretação: a condição humana não é o mesmo que natureza
humana, e a soma total das atividades e capacidades humanas que correspondem à
condição humana não constitui algo que se assemelhe à natureza humana. Pois nem
mesmo aquelas que discutimos nesse livro nem as que deixamos de mencionar, como o
pensamento e a razão, nem mesmo a mais meticulosa enumeração de todas elas,
constituem características essenciais da existência humana no sentido de que, sem
elas, essa existência deixaria de ser humana”.
ARENDT, Hannah. A condição humana. 11. Ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2010. p. 11-12.

Para Arendt, a condição humana é compreendida como “vida ativa”, sendo que
essa se desdobra em três atividades fundamentais humanas, a saber: o trabalho, a obra e
a ação. O trabalho corresponde à atividade do corpo humano em seu aspecto
biológico. A obra corresponde à parte existencial do ser humano que consiste,
portanto, na parte de transformar a natureza, modificar e agir na cultura e por fim, a
ação que corresponde a toda e qualquer atividade política que os indivíduos realizam
entre si em contato com a sociedade e com outros seres humanos.
Para a autora referida e sobre essa perspectiva que somos humanos de fato, pois é a
condição humana que permite isso. Contudo, Hannah não diz com isso que isso explica ou
limita o que somos, mas nos demostra que somos condicionados e é por esse caminho que
devemos construir nossas vidas, não nos tornando determinados de um modo universal. A
condição humana nos indica um caminho por onde podemos criar e reconstruir.

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Karl Marx: Ser humano é responsável por sua


produção, mas também pela sua perda
Para Marx, filósofo alemão do século XIX, a natureza humana é entendida como
aquilo que é propriamente humano, ou seja, aspectos biológicos, fisiológicos, psicológicos
e afirma-se que com isso, expressa-se um aspecto material da vida do nosso dia-a-dia. Para
nosso autor, o ser humano muda ao longo da história e, contudo, permanece o mesmo.
Como pode ser isso? Isso ocorre porque Marx considera que o ser humano constrói-se a si
mesmo através do trabalho e da mesa forma que se constrói, modifica-se.
Essa construção é realizada e feita a partir da matéria-prima que é o próprio ser
humano; e isso é invariável. Em outras palavras, portanto, os seres humanos produzem-se
a si mesmos através do trabalho, o trabalho e da mesma forma considerado fonte de
humanização. Percebemos, portanto, que para Marx a condição humana diz respeito à
situação concreta de vivência das pessoas, assim como características que assumimos no
decorrer da história. Para nosso autor no século em que viveu a condição humana era a
alienação, ou trabalho alienado. Lembre-se, no entanto, que alienação diz respeito aquele
trabalho que envolve no capitalismo industrial, ou seja, devido às divisões de trabalho, o
trabalhador não conhece, de fato, o processo geral do trabalho. Esse não tem condições de
compreender como a atividade que ele realiza se encaixa na produção com relação ao
capitalismo. Assim, o trabalhador vai perdendo seu aspecto de “humanidade”, uma vez
que da tudo de si no seu trabalho, mas tudo que e produzido não pertence a ele. Marx
ainda afirma, que nesse contexto ele mesmo, isto e, o trabalhador, transforma-se em uma
“coisa”, um objeto.
O que nos importa ou tem relevância com relação ao nosso assunto, nesse
momento, é que com tudo isso, conclui-se que se a própria humanidade produz a
desumanizante condição humana do capitalismo, nos próprios, seres humanos, devemos
transformar essa terrível condição superando o trabalho alienado por meio dos meios de
produção. Somente dessa forma, será possível recuperar o aspecto humano de cada
indivíduo, ou melhor, de autoconstrução disso que entendemos por “humano”.
Logo acima, antes de falarmos sobre condição humana, dissemos que alguns
filósofos pararam de tentar entender o que somos através de uma definição de uma
essência, mas mudaram o foco para a existência humana. O que significa, no entanto,
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“existir”? Adentremos, então no existencialismo, uma corrente filosófica que teve início
no século XX, sobretudo, com Kierkegaard, Jean – Paul Sartre, mas teve a contribuição de
Nietzsche, que alguns autores o consideram o precursor dessa corrente, pois para ele todo
ser humano é um estranho para si mesmo, cabe a cada um construir seus sentidos,
conforme vivemos, porque não existe um sentido definido.

O drama e o peso da Existência: o Existencialismo

Pintura de Edward Hopper, o pintor da solidão, 1952.

Você já refletiu sobre o que significa “existir”? Se refletirmos sobre o tema,


perceberemos que “existir” implica a relação do ser vivente consigo mesmo, com outros
seres, assim como com os objetos e com a natureza. São, assim, relações múltiplas,
diversas e dinâmicas. Os existencialistas, portanto, refletiram sobre essas relações, cujo
denominador comum é de certa forma uma visão dramática da condição humana. Para esse
primeiro momento, pensemos leitor a uma primeira reflexão: Será que as nossas vidas
tornam-se o peso de nossas decisões e escolhas? Será a nossa vida desprovida de sentido?
Para aquecermos os “motores” de nossa discussão, leia com atenção um trecho do livro “A
insustentável leveza do ser”, de Milan Kundera.

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“O eterno retorno é uma ideia misteriosa, e Nietzsche, com essa ideia, colocou muitos
filósofos em dificuldade: pensar que um dia tudo vai se repetir tal como foi vivido e que
essa repetição ainda vai se repetir indefinidamente! O que significa esse mito
insensato? O Mito do eterno retorno nos diz, por negação, que a vida que vai
desaparecer de uma vez por todas, e não mais voltará, é semelhante a uma sombra, que
ela é sem peso, que esta morta desde hoje, e que, por mais atroz, mais bela, mais
esplêndida que seja, essa beleza, esse horror, esse esplendor, não tem o menor sentido
(...) Se cada segundo de nossa vida deve se repetir um número infinito de vezes,
estamos pregados na eternidade como cristo na cruz. Que ideia atroz! No mundo do
eterno retorno, cada gesto carrega o peso de uma insustentável leveza. Isso é o que
fazia com que Nietzsche dissesse que a ideia do eterno retorno é o mais pesado dos
fardos. Se o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, nossas vidas, sobre esse pano de
fundo, podem aparecer em toda a sua esplêndida leveza. Mas, na verdade, será atroz o
peso e bela a leveza? O mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sob ele, nos
esmaga contra o chão.(...) O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem
da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra
está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira. Por outro lado, a ausência total de fardo
faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe, se distancie
da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semireal, que seu movimentos sejam
tão livres quanto insignificantes”. (KUNDERA, Milan. A insustentável leveza do ser.
Ed: Rio Gráfica Ltda. Rio de Janeiro, 1986. p. 9-11.)

E, então, o que escolher? O peso ou a leveza? Os existencialistas, em especial Jean-


Paul Sartre que talvez seja o maior expoente dessa corrente acreditava que somos
responsáveis por nossas decisões e escolhas. Nesse contexto nega-se o que possa ser
chamado de essência ou natureza humana. O ser humano primeiro existe e define-se
conforme suas ações. Nesse contexto, ele escreve “A existência precede a essência” em O
ser e o nada, publicado em 1943. O ser humano, portanto, não tem uma essência ao
nascer, vai construindo aquilo que é ao longo de sua existência, isto é, primeiro existimos,
somos lançados no mundo, sem identidade para que depois passemos a ser alguma coisa. É
por isso que Sartre abandona a ideia de natureza humana, que se refere a uma essência
comum a todos os humanos, para falar em condição humana.

“Na vida o homem se engaja, desenha seu próprio retrato e não há mais
nada se não esse retrato.”
Jean Paul- Sartre. O existencialismo é um Humanismo.

Uma existência autêntica, segundo Sartre, é a recusa da má-fé e está fundada na


afirmação da liberdade, que nada mais é do que a capacidade de fazer escolhas. O ser

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humano, portanto está “condenado a ser livre”, pois a única escolha que ele não pode fazer
é a de não ser livre. O ser humano é livre, porque sua existência e gratuita, contingente,
não tem uma finalidade definida. Na medida em que é nada, o humano pode ser tudo, pode
ser o que ele quiser, qualquer coisa. A liberdade se traduz no ato da escolha, cada situação
que vivemos nos coloca algumas possibilidades, e temos sempre que escolher entre essas
possibilidades. Se você está na aula, por exemplo, pode decidir sair ou ficar. Contudo, toda
escolha tem suas consequências, das quais somos responsáveis. Assim, liberdade gera em
nós uma angústia: a angústia de ter de decidir sempre, a angústia de se faze responsável
pela escolha e por suas consequências.
A escolha gera responsabilidade por toda humanidade, pois alguém escolhe sempre
para si mesmo e pelos outros. Se escolho por exemplo, ser corrupto, estou afirmando que
esse é o melhor caminho a seguir e não apenas para mim, pois isso vai repercutir para os
outros também e isso torna-me responsável. A vida, portanto, e sempre uma construção, e
o ser da liberdade, da escolha, do projeto.

Vejam algumas concepções características do existencialismo:

Ser Humano – é entendido como uma realidade imperfeita, aberta e inacabada,


que foi “lançada” ao mundo e viva sobre riscos e ameaças.
Liberdade Humana - não é plena, mas condicionada às circunstâncias
históricas da existência. Com relação a isso, querer não se identifica como poder.
Vida Humana – não é um caminho seguro em direção ao progresso, ao êxito e ao
crescimento. Pelo contrário, é marcada pelo sofrimento, como doenças, dor, injustiças,
fracassos, velhice e morte. Dessa forma, não é possível ignorar o sofrimento humano, a
angústia interior, é preciso, portanto, encarar esses aspectos da vida.

Um importante conceito para a antropologia


filosófica: o conceito de PESSOA
“O que é uma pessoa?”, por Peter Singer
É possível dar à expressão "ser humano" um significado preciso. Podemos usá-la
como equivalente a "membro da espécie Homo sapiens". A questão de saber se um ser
pertence a determinada espécie pode ser cientificamente determinada por meio de um

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estudo da natureza dos cromossomas das células dos organismos vivos. Neste sentido,
não há dúvida que, desde os primeiros momentos da sua existência, um embrião
concebido a partir de esperma e óvulo humanos é um ser humano; e o mesmo é verdade
do ser humano com a mais profunda e irreparável deficiência mental — até mesmo de
um bebê anencefálico (literalmente sem cérebro).
Há outra definição do termo "humano", proposta por Joseph Fletcher, teólogo
protestante e autor prolífico de escritos sobre temas éticos. Fletcher compilou uma lista
daquilo a que chamou "indicadores de humanidade", que inclui o seguinte:
 Autoconsciência
 Autodomínio
 Sentido do futuro
 Sentido do passado
 Capacidade de se relacionar com outros
 Preocupação pelos outros
 Comunicação
 Curiosidade

É este o sentido do termo que temos em mente quando elogiamos alguém dizendo
que "é muito humano" ou que tem "qualidades verdadeiramente humanas". Quando
dizemos tal coisa não estamos, é claro, a referir-nos ao fato de a pessoa pertencer à
espécie Homo sapiens que, como fato biológico, raramente é posto em dúvida; estamos
a querer dizer que os seres humanos possuem tipicamente certas qualidades e que a
pessoa em causa as possui em elevado grau.
Estes dois sentidos de "ser humano" sobrepõem-se mas não coincidem. O
embrião, o feto subsequente, a criança gravemente deficiente mental e até mesmo o
recém-nascido, todos são indiscutivelmente membros da espécie Homo sapiens, mas
nenhum deles é autoconsciente nem tem um sentido do futuro ou a capacidade de se
relacionar com os outros. Logo, a escolha entre os dois sentidos pode ter implicações
importantes para a forma como respondemos a perguntas como "Será que o feto é um
ser humano?"
Quando escolhemos as palavras que usamos em situações como esta, devemos
empregar os termos que permitam exprimir o que queremos dizer com clareza e que não
introduzam antecipadamente juízos sobre a resposta a questões substanciais. Estipular
que usamos o termo "ser humano", digamos, no primeiro sentido e que, portanto, o feto
é um ser humano e o aborto é imoral não ajudaria em nada. Tão-pouco seria melhor
escolher o segundo sentido e defender nesta base que o aborto é aceitável. A moral do
aborto é uma questão substancial, cuja resposta não pode depender do sentido que
estipularmos para as palavras que usamos. Para evitar fazer petições de princípio e para
tornar o meu sentido claro, porei de lado, por agora, o ambíguo termo "ser humano" e
substitui-lo-ei por dois termos diferentes, correspondentes aos dois sentidos diferentes
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de "ser humano". Para o primeiro sentido, o biológico, usarei simplesmente a expressão


extensa mas precisa "membro da espécie Homo sapiens", enquanto para o segundo
sentido usarei o termo "pessoa".
Este uso da palavra "pessoa" é, ele mesmo, infeliz, susceptível de criar confusões,
dado que a palavra "pessoa" é muitas vezes usada como sinônimo de "ser humano". No
entanto, os termos não são equivalentes; poderia haver uma pessoa que não fosse
membro da nossa espécie. Também poderia haver membros da nossa espécie que não
fossem pessoas. A palavra "pessoa" tem a sua origem no termo latino para uma máscara
usada por um ator no teatro clássico. Ao porem máscaras, os atores pretendiam mostrar
que desempenhavam uma personagem. Mais tarde "pessoa" passou a designar aquele que
desempenha um papel na vida, que é um agente. De acordo com o Oxford Dictionary, um
dos sentidos atuais do termo é "ser autoconsciente ou racional". Este sentido tem
precedentes filosóficos irrepreensíveis. John Locke define uma pessoa como "um ser
inteligente e pensante dotado de razão e reflexão e que pode considerar- se a si mesmo
como aquilo que é, a mesma coisa pensante, em diferentes momentos e lugares."
Esta definição aproxima a "pessoa" do sentido que Fletcher deu a "ser humano",
com a diferença que escolhe duas características cruciais — a racionalidade e a
autoconsciência — para cerne do conceito. É muito possível que Fletcher concordasse
que estas duas características são centrais e que as restantes decorrem mais ou menos
delas. Em todo o caso, proponho-me usar o termo "pessoa" no sentido de um ser racional
e autoconsciente, para captar os elementos do sentido popular de "ser humano" que não
são abrangidos pelo termo "membro da espécie Homo sapiens".
Tradução de Álvaro Augusto Fernandes. Texto retirado de Ética Prática, de Peter Singer
(Lisboa: Gradiva, 2000).

Referências bibliográficas:
ARENDT, Hannah. A condição humana. 11. Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2010.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos de filosofia. Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à filosofia. Ed. São Paulo, 2010.
GALLO, Silvio. Filosofia experiência do pensamento, 2014.
KUNDERA, Milan. A insustentável leveza do ser. Ed: Rio Gráfica Ltda. Rio de Janeiro,
1986.
NIETZSCHE, F. On the Genealogy of Morals, 1887.
NIETZSCHE, F. A gaia ciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
SARTRE, Jean- Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo : Abril Cultural,
1978.
Silva, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro, 2010.

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Silva, Kariane Marques da; Santos, Susie Kovalczyk. Pré-Universitário Popular
Alternativa: Apostila II. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, Pró Reitoria
de Extensão, 2015.

Exercícios de Antropologia

05. Escreveu Sartre: “No século XVIII, para o ateísmo dos filósofos, suprime-se a noção
de Deus, mas não a ideia de que a essência precede a existência. Tal ideia encontramo-la
nós um pouco em todo o lado: encontramo-la em Diderot, em Voltaire e, até mesmo, em
Kant. O homem possui uma natureza humana; esta natureza, que é o conceito humano,
encontra-se em todos os homens, o que significa que cada homem é exemplo particular de
um conceito universal – o homem; para Kant, resulta de tal universalidade que o homem
da selva, o homem primitivo, como o burguês, estão adstritos à mesma definição e
possuem as mesmas qualidades de base. Assim, pois, ainda aí, a essência do homem
precede essa existência histórica que encontramos na natureza.” (SARTRE, Jean Paul. O
existencialismo é um humanismo).
A respeito da condição humana, Sartre afirma neste texto que
I. o homem primeiro existe, sendo responsável por aquilo que é.
II. o homem possui uma natureza humana, que existe em todos os homens.
III. a natureza humana é prática, sendo definida, por exemplo, a partir da prática do
trabalho.
IV. o homem em primeiro é essência, depois existência.
V. o homem brasileiro é essencialmente cultural, alegre e trabalhador.
Estão CORRETAS:
A) apenas I, II, III e IV.
B) apenas I, IV e V.
C) apenas II e V.
D) I, II, III, IV e V.
E) apenas I e III.

55. Segundo Hanna Arendt, "a condição humana não é o mesmo que a natureza humana".
(A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2001, p. 17)
Segundo a autora, o que se poderia deduzir dessa distinção essencial? Assinale a
alternativa INCORRETA:
(A) A própria soma das capacidades humanas que correspondem à condição humana não
constitui algo que se assemelhe à natureza humana.
(B) As condições da existência humana jamais podem explicar o que somos pela simples
razão de que jamais nos condicionam de modo absoluto.
(C) As tentativas de definir a natureza humana levam sempre à construção de alguma
deidade, a uma ideia platônica da humanidade.
(D) Hoje podemos quase dizer que, embora vivamos agora sob condições terrenas, não
somos criaturas terrenas.
(E) Tudo aquilo com o qual os homens entram em contato torna-se imediatamente parte da
natureza humana.

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42. Hanna Arendt abre A condição humana com a seguinte declaração: Em 1957, um
objeto terrestre, feito pela mão do homem, foi lançado ao universo, onde durante algumas
semanas girou em torno da Terra segundo as mesmas leis de gravitação que governam o
movimento dos corpos celestes - o Sol, a Lua e as estrelas. É verdade que o satélite
artificial não era nem lua nem estrela; não era um corpo celeste que pudesse prosseguir em
sua órbita circular por um período de tempo que para nós, mortais limitados ao tempo da
Terra, durasse uma eternidade. Ainda assim, pôde permanecer nos céus durante algum
tempo; e lá ficou, movendo-se no convívio dos astros como se estes o houvessem
provisoriamente admitido em sua sublime companhia.
(ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p. 9)
Assinale a alternativa abaixo que NÃO fornece uma explicação desse fato, de acordo com
as ideias da autora:
(A) Segundo Hanna Arendt, o homem, por meio de uma de suas condições mais
essenciais, o trabalho, seria capaz de rivalizar artificialmente com as leis eternas da
natureza.
(B) O objeto lançado ao espaço pela primeira vez demonstra não apenas a capacidade do
homem de rivalizar com as leis da natureza, mas também a de separar-se de sua condição
natural.
(C) A autora se utiliza do fato em questão para refletir, no livro citado, sobre as ações
humanas no mundo.
(D) O fato relatado aponta para a produção do homem futuro, motivado por uma rebelião
contra a existência humana tal como nos foi dada.
(E) O fato em questão, segundo a autora, aponta para a única saída possível para o homem
depois da destruição da Terra, a saber, a possibilidade de encontrar um novo planeta para
morar.

4- O conceito antropológico de cultura define o termo como:


a) um elemento que aproxima os homens dos animais;
b) uma função orgânica do homem;
c) um elemento que garante a homogeneidade entre os povos;
d) um traço distintivo do homem, mas que não é homogêneo;
e) as capacidades e os hábitos esquecidos pelo homem;

6- (UFUB) O fato de o homem ver o mundo através de sua cultura tem como conseqüência
a propensão para considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural.
Essa tendência se denomina:
a) egocentrismo
b) heliocentrismo
c) heterocentrismo
d)etnocentrismo

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Unidade II
Sobre o que estamos falando quando o assunto é ética?

“A propósito das coisas mais triviais, como das mais graves, as pessoas fazem constantemente
perguntas do tipo: Que devo fazer? Que devia ter feito? Quais são os limites de minhas ações?
Até onde posso ir? Não teria eu feito melhor, se…? É difícil conceber uma deliberação, uma
reflexão, uma decisão e até mesmo um julgamento, por pouco que tenham relação, mesmo
afastada, com a ação humana, que não sejam guiados por esse gênero de questionamento.

Quando agimos, quando deliberamos sobre nossas ações, quando tomamos decisões, estamos
em busca de justificações e procuramos mostrar que essa era a melhor coisa a ser feita, ou em
todo caso a menos má. Tais justificações tomam evidentemente em conta os fins dessas ações
(o que queremos fazer, o que lhes dá valor) e os meios apropriados para esses fins, os
caminhos que poderíamos utilizar para atingi-los.

Quando as finalidades de nossas ações, bem como os meios que temos para realizá-las,
tornam-se objetos desse questionamento, quando a deliberação supõe a capacidade
psicológica de tomar certa distância em relação à situação em que nos encontramos, de adotar
um recuo crítico em face das necessidades e desejos mais imediatos, esse questionamento
torna-se moral. Por exemplo: será esse realmente o fim desejável, será que os meios são
legítimos, quais são as consequências, será que cumpro com a obrigação particular que tenho
em face dessa pessoa, será que os sentimentos não são feridos?

Essas questões adquirem sentido com relação à existência presumida de regras comuns. Essas
regras podem não ser explícitas nem universais. Elas podem permanecer como não
formuladas, simplesmente gerais, corresponder ao que se passa com mais frequência, mas elas
também podem ser plurais. Mesmo assim, sua presença estrutura o espaço das ações
possíveis, pois tais regras permitem discriminar entre o que é ou não legítimo, justificado ou
moral, entre o que é mais ou menos legítimo.” (Canto-Sperber, Monique; Ogien, Ruwen. Que
devo fazer? A filosofia moral. São Leopoldo: Editora UNISINOS, 2004)

Moral, ética e lei: afinal, qual é a diferença?

Muitas vezes essas palavras são usadas como sinônimos, mas há importantes diferenças de
significado entre elas:
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 moral: situa-se no âmbito de uma determinada comunidade ou cultura, e orienta seus
membros através de certos valores, de acordo com aquilo que é bom ou mau, justo ou
injusto, e que características e valores são importantes de se preservar. A moral,
portanto, pode variar não apenas de cultura para cultura, mas também dentro de uma
mesma cultura com o passar do tempo. Assim, apesar das questões morais – tais como
“o que devo fazer para ser justo?”, “quais valores devo escolher para guiar minha
vida” e “que tipo de atitudes devo praticar como pessoa e cidadão?” – manterem-se
semelhantes através do tempo e em diferentes culturas, as respostas que damos a elas
costumam variar de acordo com aquilo que é socialmente aceito ou não. Há ainda
instituições que moldam nossas crenças e condutas morais: a família, a classe ou
grupo social ao qual pertencemos, a religião, a escola, o trabalho, a política, etc., e por
isso parece que certos valores e costumes estão em nossa natureza.
 imoralidade e amoralidade: sabendo o que significa a moral, fica mais fácil
compreender os conceitos de imoralidade e amoralidade. Ser imoral é não seguir a
moral vigente em nossa comunidade. Isso não significa necessariamente agir de forma
errada, mas é visto assim pela comunidade. As punições para pessoas que agem de
modo imoral variam, mas podemos citar como exemplos a humilhação, a indiferença
ou o ódio públicos. Além de nossa consciência, em geral também pensamos nessas
consequências sociais ao agir de acordo com os valores morais de nossa comunidade.
A amoralidade, por sua vez, é a incapacidade de julgar e decidir. Podemos citar como
exemplo as crianças, que não compreendem o peso de suas atitudes e não têm
condições de tomar decisões refletidas. O amoral, portanto, é aquele que se encontra
fora do espectro da moralidade, não podendo agir nem moral nem imoralmente.
Para refletir: podemos pensar em como os valores morais mudaram dos
anos 50 até hoje refletindo sobre o papel reservado às mulheres: seu valor
estava atrelado ao recato, ao cuidado da casa e à criação dos filhos e do
marido. Era imoral que a mulher tivesse ambições que não tivessem a ver
com o lar e à vida privada, não era bem visto que saíssem desacompanhadas
ou que mostrassem certas partes do corpo. Comparando com os dias de hoje,
vemos que houve uma maior liberdade para a mulher desempenhar papéis e
possuir características antes só admitidos aos homens, e em geral ela não é
julgada tão severamente quanto no passado. Isto reflete a mudança do código
moral de nossa sociedade, isto é, do conjunto de valores que guiam a maior
parte de nossas condutas sociais.

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 ética: busca compreender a fundamentação das normas, proibições e valores dos
sistemas morais, explicitando suas origens, consequências e avaliando-os criticamente.
Em outras palavras, podemos dizer que a ética é uma disciplina filosófica com a tarefa
de investigar nossas crenças e códigos morais; na ética, usamos a teoria para refletir
sobre as práticas morais. As teóricas e teóricos da ética buscam também criar sistemas
que abarquem aquilo que consideram mais fundamental na moralidade, muitas vezes
organizando em sistemas de regras e condutas o modo como deveríamos agir. É
importante deixar claro que essas teorias morais não têm como base apenas as
posições pessoais daqueles que a formulam: “a ética formula-se a partir de princípios
universais, de regras comuns, de referenciais compartilhados que formam a base sólida
e coletiva das avaliações e julgamentos.” (CANTO-SPERBER, 2004, p.16) Os
Direitos Humanos, por exemplo, são princípios norteadores da ética. Diferentemente
do que ocorre com a moralidade, que é mais particular, a ética quer ser universal: isto
não quer dizer que ela seja, e sim que ela trabalha para ser aceita por todos.
 lei: é preciso ter cuidado para não confundir moral e leis, afinal, mesmo que seja
possível termos leis que estejam em conformidade com os valores morais, nem sempre
ambas coincidem, e cada uma delas possui especificidades que precisamos
compreender: as leis, ao contrário das normas morais, precisam ser cumpridas por
todos os cidadãos. Quando isto não acontece, o Estado pune os indivíduos de acordo
com aquilo que está previsto na legislação. Apesar disto, tanto os valores morais
quanto as leis são determinados e modificados de acordo com os valores culturais de
uma sociedade e de suas mudanças com o passar do tempo, e são seguidas com a
intenção de proporcionar a melhor convivência possível entre os indivíduos.

MORALIDADE ÉTICA LEIS


~ São valores culturais ou ~ É a reflexão crítica e ~ Conjunto de normas de
comunitários; filosófica da moral e de seus conduta de uma sociedade;
valores;
~ É parte da prática humana; ~ Transmitem as tradições e
~ É uma disciplina teórica que valores de uma sociedade;
~ Seus valores não são tem como tema a prática
obrigatórios; humana (a moral); ~ Modificam-se de acordo
com as transformações
~ As pessoas costumam agir ~ Procura estabelecer através histórico-sociais da
de acordo com certos valores de argumentos princípios sociedade;
morais porque eles fazem parte segundo os quais devemos agir

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da tradição; ou ainda que tipo de valores
devemos seguir. ~ As leis jurídicas precisam
~ Os valores morais ser cumpridas por todos, isto
modificam-se lentamente, ~ Busca a fundamentação de é, são obrigatórias, sob pena
conforme as pessoas de normas e proibições dos de punição do Estado;
determinada comunidade sistemas morais, trazendo à
sintam que eles não as tona pressupostos que os ~ São apresentadas sob a
representam mais e busquem sustentem, a fim de promover forma de um código formal;
outros valores que as uma reflexão crítica sobre sua
contemplem. validade. ~ Estão vinculadas ao Estado;

Para refletir: Na África do Sul, o regime do apartheid durou 42 anos (de 1948 a 1990), separando
pessoas negras de pessoas brancas em várias situações sociais, visivelmente privilegiando as pessoas
de pele branca. Os negros eram impedidos de participar da vida política do país, não tinham acesso à
propriedade da terra, eram obrigados a viver em zonas residenciais determinadas. O casamento inter-
racial era proibido e uma espécie de passaporte controlava a circulação dos negros pelo país.

Durante todos esses anos, a discriminação com base na cor da pele era parte das leis da África do Sul,
e lutar contra o apartheid era perigoso – Nelson Mandela, ícone dessa luta e ganhador do prêmio
Nobel da paz, foi condenado à prisão perpétua, ficando de fato preso por 27 anos.

Podemos refletir filosoficamente sobre esse acontecimento histórico nos perguntando sobre a relação
entre as leis e a moral: os cidadãos que agiam em conformidade com as leis do apartheid estavam
legalmente corretos, mas será que não há nada de moralmente errado em obedecer e apoiar leis como
essa?

Ética: questionamentos e divisões

O estudo da ética apresenta uma série de questões sobre razões, motivações e consequências
de nossas ações. É possível subdividir esses desafios em três campos distintos, mas
relacionados: o primeiro é o campo da possibilidade, onde se pergunta se podemos ou não
agir de tal maneira. O segundo é o campo da motivação, em que as questões giram em torno
das razões, causas e motivos que nos fazem querer agir de determinadas maneiras. O
terceiro é o campo do dever, onde procuramos questionar e estabelecer as obrigações e
responsabilidades. Alguns dos questionamentos abarcados por esses campos são: “Eu quero

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fazer isso?”, “Eu posso fazer isso?”, “Em que medida eu devo fazer isso?”, “Existem
obrigações a respeito das minhas atitudes?”, e “Se eu quero e posso, significa que eu devo
fazer?”

Sendo o âmbito da ética tão amplo, também ela se subdivide em três áreas principais de
estudo:

 Ética Normativa: a investigação racional ou teoria dos padrões do correto e do


incorreto, do mal e do bem, a respeito do carácter e da conduta, que uma classe de
indivíduos deve aceitar.

Essa classe pode ser a humanidade em geral, mas também podemos pensar na ética
médica, ética empresarial, etc., como um conjunto de padrões que os profissionais em
questão devem aceitar e observar.

Este tipo de investigação e a teoria que dele resulta (exemplos conhecidos são a ética
kantiana e a ética utilitarista) não descrevem o modo como as pessoas pensam ou se
comportam, mas prescreve como devem pensar ou comportar-se.

 Ética Aplicada: é o estudo de como se deve aplicar as normas e os padrões gerais a


situações problemáticas reais. São exemplos de assuntos abordados pela ética aplicada
a discussão sobre aborto, eutanásia, vegetarianismo, legalização das drogas, etc.
 Metaética: Tem essa designação porque toma os conceitos éticos, proposições e
sistema de crenças como objetos da investigação filosófica. Analisa os conceitos de
correto e incorreto, de bem e mal, a respeito do caráter e da conduta, e conceitos
relacionados como, por exemplo, a responsabilidade moral, a virtude, os direitos, etc.
A metaética também inclui a epistemologia moral: o modo pelo qual as verdades
éticas podem ser conhecidas (se é que o podem), e a ontologia moral: saber se há uma
realidade moral que corresponde às crenças morais, etc. As questões sobre se a
moralidade é subjetiva ou objetiva, relativa ou absoluta, e em que sentido, inserem-se
nesta área temática.

(MAUTNER, Thomas. Dicionário de filosofia. Lisboa: Edições 70, 2010, adaptado)

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Liberdade x Determinismo

Nossas ações são livres ou determinadas? Temos um destino traçado desde que nascemos ou
somos nós mesmos os responsáveis pelas escolhas que fazemos e caminhos que traçamos? Se
não temos liberdade, isto é, se somos determinados, então como podemos punir ou fomentar
comportamentos e ações? Se acreditamos em nossa liberdade, então é importante que
tomemos total responsabilidade por nossas atitudes, sem atribuir culpa por algo de ruim que
nós fizemos a algum outro motivo.

A questão da liberdade e do determinismo é tratada principalmente pela disciplina de


Metafísica, porém é essencial que também a pensemos no âmbito da ética: afinal, só podemos
atribuir responsabilidades a quem é livre em suas escolhas. Se somos determinados, então não
poderíamos ter agido de um jeito em vez de outro, e então não podemos falar em ética e
moral, as coisas apenas são como devem ser.

Existem três respostas que podem nos ajudar a compreender as diferentes posições filosóficas
sobre o assunto:

 A ênfase no determinismo: a liberdade não existe, pois os seres humanos são sempre
determinados, seja por sua natureza biológica (necessidade e instintos), seja por sua
natureza histórico-social (leis, normas, costumes). Ou seja, as ações individuais
seriam causadas e determinadas por fatores naturais ou constrangimentos sociais, e a
liberdade seria apenas uma ilusão. Essa concepção encontra-se presente no
pensamento de filósofos materialistas do século XVIII, tais como os franceses
Helvetius (1715-1771) e Holbach (1723-1789).
 A ênfase na liberdade: os seres humanos são sempre livres. Embora os defensores
dessa posição admitam a existência das determinações de origem externa, sociais, e
as de origem interna, tais como desejos, impulsos, etc., sustentam a tese de que o
indivíduo possui uma liberdade moral que está acima dessas determinações. Ou
seja, apesar de todos os fatores sociais e subjetivos que atuam sobre cada indivíduo,
ele sempre possui uma possibilidade de escolha e pode agir livremente a partir de sua
autodeterminação. A maior expressão dessa concepção filosófica acerca da liberdade
é encontrada no pensamento de Jean-Paul Sartre, que afirmou que “o homem está
condenado a ser livre”.

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 A dialética entre liberdade e determinismo – compatibilismo: os seres humanos
são determinados e livres ao mesmo tempo. Determinismo e liberdade não se
excluem, mas se complementam. Nessa perspectiva não faz sentido pensar em uma
liberdade absoluta nem em uma negação absoluta da liberdade. A liberdade é sempre
uma liberdade concreta, situada no interior de um conjunto de condições objetivas de
vida. Embora a nossa liberdade seja restringida por fatores objetivos que cercam a
nossa existência concreta, podemos sempre atuar no sentido de alargar as
possibilidades dessa liberdade, e isso será tanto mais eficiente quanto maior for a
nossa consciência a respeito desses fatores. Essa concepção é encontrada nos
pensamentos de Espinosa, Hegel e Marx. Embora haja muitas diferenças entre eles, o
ponto em comum é a ideia de que a liberdade é a compreensão da necessidade (dos
determinismos).

(COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia. São Paulo: Saraiva, 2016, adaptado)

A ÉTICA E SUAS MUDANÇAS AO LONGO DA HISTÓRIA

Agora que já estamos a par de algumas questões fundamentais da filosofia moral, vamos
estudar as principais concepções morais e teorias éticas da filosofia, agrupando-as conforme
os temas e abordagens que predominaram em cada época.

Política, razão, felicidade e bem-viver: a ética grega

Antes de passar às posições morais defendidas por cada filósofo, é importante destacar alguns
elementos que caracterizaram as propostas da época clássica grega: primeiramente, os gregos
não tinham uma divisão clara daquilo que era parte do indivíduo e do que cabia ao bem
público; portanto, os elementos que compõem a proposta socrática, platônica e aristotélica são

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pensadas como instâncias da política: enquanto a filosofia moral trata do bem-estar individual,
a política trata do bem coletivo, e ambas se complementam. Ética e política são inseparáveis.

Além disso, fica evidente o papel da razão para esses filósofos, em conformidade com o que
aprendemos sobre as próprias condições de surgimento da filosofia, na medida em que as
explicações míticas da realidade já não satisfaziam e era preciso buscar melhores
fundamentações para o conhecimento. Nesse sentido, não é por acaso que a racionalidade
interpreta um papel tão essencial no mundo grego: é através dela que temos acesso a
explicações da realidade e é também com ela que controlamos impulsos e paixões
animalescas e assim podemos encontrar o caminho da felicidade. A ética grega é racionalista.

A felicidade, aliás, é também um conceito importante para os gregos, que em geral a


consideram o fim de todos os seres humanos, isto é, o motivo de nossa existência. É com o
propósito de alcançar a felicidade que os filósofos propõem uma atitude moral ou outra. A
ética grega tem como fim a felicidade.

Principais contribuições éticas no período clássico grego:

 Sócrates: é considerado o criador da Ética. Através do seu método dialógico,


indagava as pessoas sobre vários assuntos, dentre eles muitos valores como o bem, a
justiça, a virtude e o vício. Para ele, o vício é a ignorância – aquele que não sabe que
não sabe.

Assim como outros temas filosóficos, para Sócrates as normas e costumes morais
precisam ter a razão como base – afinal de contas, é ela que nos caracteriza como
humanos. Já que todos os seres humanos possuem uma essência racional, então é nela
que podemos fundar uma moral universal, isto é, que valha para todos. Portanto, agir
virtuosamente é agir conforme a razão; por isso, Sócrates é considerado um
racionalista.

 Aristóteles (384 – 322 A.C.): Para Aristóteles, há dois tipos de saber: o teorético –
que fala daquilo que faz parte da natureza, isto é, de conhecimentos fixos, onde não há
escolha – e o prático – isto é, aquele que diz respeito às nossas escolhas e ações –, e a
ética se encaixa no segundo tipo. O saber prático, por sua vez, divide-se em técnica e
práxis: em ambas há uma agente, uma ação e uma finalidade, mas na técnica esses

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elementos podem ser separados enquanto na práxis eles estão intimamente ligados.
Podemos pensar nessa diferença associando a técnica à atividade de um ourives: as
joias que ele cria não refletem quem ele é, mostram apenas que ele domina uma
técnica de fazer um tipo de objeto; contrariamente, na práxis nossas ações são livres e
refletem quem nós somos. A ética é claramente um saber prático pertencente à práxis,
afinal está associada conosco, com nossas escolhas e vontades.

Para Aristóteles, é necessário que usemos a razão para direcionar nossas vontades,
orientando nossas decisões para a prudência, único caminho possível para chegar à
finalidade da ética, a felicidade (eudaimonia).

Os dois conceitos centrais da ética aristotélica são a felicidade (ou eudaimonia) e a


virtude. A felicidade é aquilo que todos nós buscamos em nossas ações, direta ou
indiretamente, e é para sermos felizes que serve a ética. Só seremos capazes de
alcançar a felicidade, porém, agindo virtuosamente.

Mas o que é a virtude, afinal? “A virtude moral é um meio termo entre dois vícios, um
dos quais envolve o excesso e outro deficiência, e isso porque sua natureza é visar à
mediania nas paixões e nos atos” (Ética a Nicômaco, livro II). Isto quer dizer que ser
virtuoso é agir sempre no meio termo entre dois extremos: em vez de agir
covardemente ou de maneira ousada – o primeiro um vício por falta e o segundo por
excesso –, a maneira prudente e, consequentemente, virtuosa, é a ação pela coragem.
E assim é com todas as ações virtuosas, afinal é apenas desse modo que trazemos
equilíbrio para nossas vidas através da razão; se nos deixássemos dominar por nossas
vontades, cairíamos nos extremos, que podem nos trazer um prazer momentâneo, mas
nunca a felicidade.

 Hedonismo e estoicismo: O hedonismo (do grego hedone, “prazer”) é comumente


associado ao pensamento do filósofo grego Epicuro (341 – 270 a.C.). Atualmente,
quando dizemos que alguém é hedonista, queremos dizer que esta pessoa identifica a
felicidade com a satisfação imediata dos prazeres, seja pelo acúmulo de riquezas, pela
variedade de experiências sexuais, ou ainda alguém que não suporta qualquer
desconforto, desde uma dor de cabeça até doenças e o enfrentamento da morte.
Também Epicuro acreditava que meta da vida humana devia ser a maximização do
prazer. Contudo, diferentemente do sentido atual do termo, a busca pelo prazer no
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hedonismo epicurista deveria ser conduzida de maneira racional. O excesso de gozo
ou satisfação acaba por diluir o prazer, e somente por meio do autocontrole sobre
nossas paixões é que o prazer pode ser mantido e prolongado, levando-nos, em última
instância, a ataraxia ou imperturbabilidade.

O estoicismo, doutrina filosófica criada por Zenão (336 – 264 a.C.) na mesma época
do epicurismo, era bem diferente deste em relação à ética. Os estoicos desprezavam os
prazeres e as emoções em geral por considerá-las incompatíveis com o autodomínio
racional. Os estoicos eram fatalistas, ou seja, acreditavam que os acontecimentos do
mundo e da vida humana estão determinados. Diante disso, cabe ao ser humano aceitar
impassivelmente seu destino. Sendo assim, a felicidade consiste na liberdade interior
de exercitar a insensibilidade diante da dor e do sofrimento.

O papel da religião na reflexão moral: a ética na Idade Média

Quando passamos do período antigo grego para a Idade Média, podemos observar mudanças
drásticas no enfoque de problemas e objetivos a que a ética deveria se prestar, e isto pode ser
melhor esclarecido se compreendermos algumas características político-culturais da época: a
sociedade medieval era estratificada e fragmentada – no mundo feudal as posições sociais
eram hierarquicamente determinadas e não havia unidade politica, econômica ou geográfica.
De certa forma, a Igreja representava a unificação social, uma vez que centralizava o poder
político e econômico, além de intelectual e religioso. Assim, todos os aspectos da vida
medieval estavam impregnados pelo cristianismo.

Podemos dizer que a Filosofia Medieval começa quando os pensadores passam a articular as
questões filosóficas com as doutrinas cristãs. Temas como a imortalidade da alma e o bem
eram bastante familiares à tradição grega, entretanto preceitos cristãos como a fé, a salvação e
a providência divina precisavam ser “ajustados”, e os filósofos medievais assim o fizeram.
Assim, filosofias clássicas como a de Platão e a de Aristóteles foram reformuladas à luz da
doutrina cristã.

O que caracteriza a ética cristã – assim como a filosofia cristã em geral – é que ela parte de
um conjunto de verdades reveladas a respeito de Deus, das relações do ser humano com o seu
criador e do modo de vida prático que o ser humano deve seguir para obter a salvação no

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outro mundo. A ética é para esses filósofos parte da relação pessoal que temos com nosso
criador, retirando o peso político de nossas ações morais, algo impensável para os gregos.

Principais contribuições de filósofos cristãos à ética:

 Santo Agostinho (354 – 430): Profundamente influenciado por Platão, Agostinho


adapta as noções de imortalidade da alma para a perspectiva cristã. Sua maior
contribuição para a ética, porém, diz respeito à questão do livre-arbítrio: “Ao tentar
explicar como pode existir o mal se tudo vem de Deus – e Deus é bondade infinita –,
Santo Agostinho introduziu a ideia de livre-arbítrio, isto é, a noção de que cada
indivíduo pode escolher livremente entre aproximar-se de Deus ou afastar-se Dele. O
afastamento de Deus é que seria o mal, de acordo com Agostinho.” (COTRIM, 2006,
p. 252)

Todo o mal do mundo existe porque há pessoas que usam de seu livre-arbítrio para
afastar-se de Deus, portanto.

Além de inaugurar a ideia de livre-arbítrio, Agostinho é responsável por uma mudança


de perspectiva na ética, afinal a subjetividade não costumava ter importância nos
rumos do mundo, e de repente a escolha pessoal passa a ter um peso enorme: o
indivíduo deve obedecer à vontade de Deus se quiser ser bom.

 São Tomás de Aquino (1225 – 1274): influenciado por Aristóteles, resgatou a noção
de felicidade como finalidade dos seres humanos. Para ele, a religião e a filosofia
falam das mesmas coisas, mas partem de diferentes pontos: o objeto das virtudes
morais e intelectuais – isto é, aquilo de que se ocupa a filosofia – é acessível à razão
humana em geral, enquanto os religiosos partem de pressupostos que só podem ser
aceitos a partir da fé. Mas é precisamente a fé a única que pode proporcionar a
verdadeira felicidade.

Autonomia, razão e liberdade – A ética moderna

A ética produzida no período moderno propõe questões diferentes e apresenta um novo modo
de abordagem dos problemas filosóficos. Para melhor compreendê-los, é importante falar um
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pouco sobre as transformações que levaram ao fim do período medieval e sobre o que foi o
Renascimento eu Iluminismo.

Fatores como o fim do feudalismo, dando lugar ao capitalismo e formação da burguesia; a


formação de Estados nacionais, fazendo surgir discussões sobre a melhor forma de
organização política; o crescimento econômico desses Estados, possibilitando as navegações,
o encontro de novos territórios e sua posterior colonização; a Reforma Protestante,
movimento que reconheceu no âmbito religioso a razão humana como extensão do poder
divino, entre outras propostas que divergiam do aceito pela Igreja Católica na época e que
possibilitaram o livre pensamento e a confiança na razão; tudo isso gerou uma revolução no
modo de viver e pensar europeu, tendo consequências enormes para a filosofia e para a ética.

Junto com essas mudanças, surge o movimento cultural renascentista: intelectuais, artistas e
cientistas uniam-se em torno na exaltação do ser humano e das características que o tornam
único, isto é, a razão e a liberdade. Diferentemente do período medieval, portanto, em que
Deus é o soberano e todos os temas filosóficos têm que ser relacionados a ele, temos na idade
moderna o ser humano como centro de todas os estudos, isto é, o antropocentrismo.

Junto com o movimento renascentista, havia o Iluminismo: um conjunto de ideais em defesa


da democracia, da liberdade – e isso inclui uma libertação da vida sob as severas normas
católicas – e do liberalismo.

Todos esses elementos influenciaram enormemente as reflexões éticas do período moderno,


conforme veremos a seguir:

 David Hume (1711 – 1776): o filósofo e historiador escocês apresentou, em seu


Tratado da Natureza Humana, uma teoria moral centrada nos sentimentos e no
princípio de simpatia. Segundo ele, há uma natureza humana que nos diferencia
enquanto espécie, tendo como uma das características fundamentais a posse de
sentimentos benevolentes, e da capacidade de nos solidarizarmos com os sentimentos
alheios. Essa capacidade é chamada por Hume de princípio de simpatia (que a
literatura atual costuma nomear de “empatia”), graças ao qual podemos nos colocar no
lugar de outras pessoas e, de certa maneira, sentir o que elas sentem.

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O princípio da simpatia é fundamental para nossas ações e juízos morais, pois é gracas
a ele que as emoções alheias são significativas para nós. A razão, para Hume, é uma
faculdade instrumental que nos permite encontrar os melhores meios para alcançar os
fins, estes estabelecidos pelas emoções.

Como vimos, teses compatibilistas em ética são aquelas que conciliam liberdade e
determinismo: nesses casos, a aceitação de determinismos à nossa ação não traria
prejuízos para a responsabilidade moral. Hume é um compatibilista, na medida em que
diz que somos livres quando agimos conforme nossa vontade e não se apresentam
impedimentos a ela. Porém, diz ele, a própria vontade é determinada. Ainda que
consideremos agir gratuitamente porque tomamos atitudes de acordo com a nossa
vontade, pode ser que, para um eventual observador externo, nossas ações estejam
determinadas pelo nosso caráter, por exemplo.

O bem e o mal morais certamente se distinguem por nossos sentimentos, não pela
razão; mas esses sentimentos podem surgir, seja do simples aspecto e aparência de
um caráter ou paixão, seja da reflexão sobre sua tendência a trazer o bem da
humanidade e dos indivíduos. Minha opinião é que essas duas causas se entrelaçam
em nossos juízos morais, do mesmo modo como se entrelaçam em nossas decisões
acerca de quase todos os tipos de beleza exterior.

(HUME, D. Tratado da Natureza Humana, 2009, p. 629, grifo nosso)

 Immanuel Kant (1724 – 1804): Para Kant, a ética não deve ser fundamentada pela
experiência, pelos costumes ou pela nossa natureza. A ética é movida pelo dever, e
para agirmos de acordo com ele é necessário esquecer nossas inclinações naturais e
vontades, afinal elas são determinações, e para agir moralmente é preciso, antes de
tudo, agir livremente. Então, se a nossa natureza nos determina, a única coisa que
pode nos libertar é a razão.

A razão é, para Kant, o fundamento da ética. Ações realizadas por qualquer motivação
que não o sentido do dever ditado pela razão não possuem valor moral. As ações
morais, portanto, são realizadas tão somente por dever.

A ética kantiana é uma ética da autonomia, isto é, os deveres por ela prescritos são
imposições que o próprio indivíduo se coloca, deliberadamente. Ao contrário do que
acontece com éticas heterônomas, em que os deveres possuem uma origem externa ao

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sujeito (como Deus ou a natureza, por exemplo), o próprio indivíduo, através da razão,
é capaz de elaborar princípios universais de conduta. Somos capazes de formular leis
morais universais precisamente porque todos os seres humanos são racionais.

Outro conceito importante no pensamento de Kant, ligado à autonomia, é a liberdade:


segundo ele, a liberdade não é a ausência de regras, mas sim o sujeitar-se somente às
regras da razão. A razão, consequentemente, sempre indicará para a ação conforme o
dever; isto quer dizer, então, que agir livremente é agir conforme o dever.

À primeira vista isso pode parecer estranho, mas se levarmos em conta o conjunto das
ideias de Kant, veremos que faz sentido: para ele, nossa natureza, nossas vontades e
emoções, são elementos que nos aprisionam e dominam; é preciso, portanto, encontrar
um caminho para fugir do determinismo de nossa natureza, e esse caminho só pode ser
o da razão; a razão, por sua vez, nos leva ao dever.

Em forma de argumento:

1. todos os seres humanos possuem razão – isso é exatamente o que nos


define como seres humanos;

2. a razão, por sua vez, é a única capaz de nos fornecer princípios e leis
morais;

3. portanto, todos os indivíduos que consultarem sua razão encontrarão os


mesmos princípios, afinal, a razão é uma só e todos temos acesso a ela.

Mas afinal, que deveres são esses?

Como vimos, a razão é capaz de nos fornecer princípios e leis morais, isto é, guiar
nosso pensamento para que ajamos conforme o dever. Segundo Kant, todo o ser
racional chegará ao imperativo categórico, isto é, a lei moral que deve valer para todas
as pessoas, não importando a situação em que se encontrem. O imperativo categórico
não é uma receita de como agir em cada situação moral; é, antes, uma forma geral pela
qual orientamos nossas ações, e exige que pensemos nossas ações através de três
máximas universais:

1. Agir como se sua ação pudesse se tornar lei universal da Natureza.

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2. A humanidade (em você e no outro) é um fim em si mesma, e não um meio.

3. Agir como se sua ação pudesse se tornar uma lei universal para todos os seres
racionais.

Por último, é importante que saibamos que o modelo de ética defendido por Kant é
deontológico, isto é: defende que o valor de uma ação está na intenção do sujeito ao
empreendê-la; não importam as consequências advindas de nossas ações, se nós
agimos de acordo com a razão, isto é, por dever, então nossa ação é boa. A proposta
kantiana também é chamada de formalista, na medida em que não fornece o conteúdo
de deveres éticos particulares, e sim um meio – o imperativo categórico – para se
determinar, independente de qualquer situação concreta considerada, o que é ético
fazer ou não.

 Utilitarismo: Tendo como principais expoentes Jeremy Bentham e John Stuart Mill, o
utilitarismo é uma proposta que define a moralidade de nossas ações de acordo com
suas consequências. Nossa ação será moralmente boa, portanto, quando trouxer o
máximo de felicidade possível como consequência, não apenas para nós, os agentes,
como para quaisquer outros que serão afetados por ela. Esse tipo de concepção moral é
chamado de consequencialista ou teleológico, porque define a moralidade a partir das
consequências ou dos fins (telos) da ação.

Ainda há a questão de quais são as consequências que devem ser maximizadas a fim
de gerar maior felicidade: para alguns autores dessa tradição é o prazer, para outros o
bem-estar e para terceiros ainda se dá por via negativa, isto é, a ausência de dor, de
sofrimento, etc. Em todo caso, é importante termos em mente que o valor de uma ação
depende de sua contribuição para a felicidade em geral.
Princípio fundamental: “o credo que aceita a utilidade, ou o Princípio da Maior
Felicidade, como fundamento da moralidade, defende que as ações estão certas na
medida em que tendem a promover a felicidade, erradas na medida em que tendem a
produzir o reverso da felicidade. Por felicidade, entende-se o prazer e a ausência de
dor; por infelicidade, a dor e a privação de prazer.”

J. S. Mill, Utilitarismo, 1871, Trad. de Pedro Galvão, p. 48

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Questões contemporâneas da ética

A reflexão ética na Idade Contemporânea (séculos XIX e XX) se desdobrou em uma série de
concepções distintas acerca do que seja a moral e sua fundamentação. Seu ponto comum é a
recusa de uma fundamentação exterior, transcendental para a moralidade, centrando no ser
humano concreto a origem dos valores e das normas morais.

Um dos primeiros passos da formulação de uma ética do ser humano concreto foi dado por
Hegel, em sua crítica ao formalismo de Kant.

Cotrim, Gilberto. Fundamentos da filosofia. São Paulo: Saraiva, 2006, adaptado

 Friedrich Hegel (1770 – 1831): Segundo Hegel, todos nós somos seres históricos e
culturais. Com esta afirmação, ele pretende colocar em pauta, na ética, o ser humano
concreto. Ao contrário de Kant, que está preocupado com o dever, Hegel procura
lançar as bases sob as quais nós, como seres humanos, desenvolvemos nossa moral:
essa base é cultural. Isso significa que a moral é culturalmente determinada, e não
basta que estabeleçamos princípios formais para determinar como devemos agir –
como faz Kant –, porque a moralidade é muito maior do que nossa escolha individual
de agir de uma ou outra maneira. Para Hegel, a moral depende de nossas escolhas
individuais, mas estas estão inevitavelmente conectadas com o conjunto de valores
sociais.

A ética, para Hegel, está portanto vinculada à história e à sociedade, na medida em


que nossas ações individuais partem de uma vontade subjetiva, isto é, aquilo que nos
move de modo individual, particular; por outro lado, há a vontade objetiva, que seria
aquela que nos é imposta pela cultura, por instituições como a igreja, a escola, a
família. Esses valores são impessoais e públicos, visando um alcance universal. Ao
longo de nossas vidas nós interiorizamos esses valores e práticas promovidos pelas
instituições e pela cultura em geral.

Mas como agir de maneira ética, então? A solução, para Hegel, é um equilíbrio entre
vontade subjetiva individual e vontade objetiva cultural. Porém, isso só pode
acontecer quando ambos estão em sintonia, e sabemos que muitas vezes não é isso que
acontece; nessas situações, em que temos um conflito, os valores culturais já não

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representam os anseios individuais de seus membros. Através desta crise, é necessário,
para que possamos agir moralmente de novo, causemos uma mudança nesses valores
defasados, reinventando-os para que eles reflitam o modo de ver o mundo dos
indivíduos, reestabelecendo o equilíbrio.

Assim, para Hegel, só há ética quando podemos agir de forma espontânea, livre. Isso
só acontece quando nos sentimos representados pelos valores morais da cultura na
qual estamos inseridos, afinal, caso os valores contrariem nossa vontade subjetiva,
agimos obrigados, isto é, de forma não espontânea. É muito importante, então, que os
valores culturais sejam reflexo dos anseios individuais dos cidadãos e cidadãs, e é
nosso dever mudá-los para que possamos agir eticamente.

Referências bibliográficas:
Canto-Sperber; Ogien, Ruwen. O que devo fazer? A filosofia moral. São Leopoldo: Unisinos,
2004
Cotrim, Gilberto. Fundamentos da filosofia. São Paulo: Saraiva, 2006
Silva, Kariane Marques da; Santos, Susie Kovalczyk. Pré-Universitário Popular Alternativa:
Apostila II. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, Pró Reitoria de Extensão,
2015
Plataforma Geekie Games, MEC. https://geekiegames.geekie.com.br/

EXERCÍCIOS:

1. (ENEM 2009) Na década de 30 do século XIX, Tocqueville escreveu as seguintes linhas a


respeito da moralidade nos EUA: “A opinião pública norte-americana é particularmente dura
com a falta de moral, pois esta desvia a atenção frente a busca do bem-estar e prejudica a
harmonia doméstica, que é tão essencial ao sucesso dos negócios. Nesse sentido, pode-se
dizer que ser casto é uma questão de honra”.

TOCQUEVILLE, A. Democracy in America. Chicago: Encyclopædia Britannica, Inc., Great Books 44, 1990
(adaptado).

Do trecho, infere-se que, para Tocqueville, os norte-americanos do seu tempo

A) buscavam o êxito, descurando as virtudes cívicas.

B) tinham na vida moral uma garantia de enriquecimento rápido.

C) valorizavam um conceito de honra dissociado do comportamento ético.


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D) relacionavam a conduta moral dos indivíduos com o progresso econômico.

E) acreditavam que o comportamento casto perturbava a harmonia doméstica.

2. (ENEM 2009) Segundo Aristóteles, “na cidade com o melhor conjunto de normas e
naquela dotada de homens absolutamente justos, os cidadãos não devem viver uma vida de
trabalho trivial ou de negócios — esses tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis com as
qualidades morais —, tampouco devem ser agricultores os aspirantes a cidadania, pois o lazer

é indispensável ao desenvolvimento das qualidades morais e a prática das atividades


políticas”.

VAN ACKER, T. Grécia. A vida cotidiana na cidade-Estado. São Paulo: Atual, 1994.

O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, permite compreender que a cidadania

A) possui uma dimensão histórica que deve ser criticada, pois é condenável que os políticos
de qualquer época fiquem entregues à ociosidade, enquanto o resto dos cidadãos tem de
trabalhar.

B) era entendida como uma dignidade própria dos grupos sociais superiores, fruto de uma
concepção política profundamente hierarquizada da sociedade.

C) estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma percepção política democrática, que levava
todos os habitantes da pólis a participarem da vida cívica.

D) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela qual o tempo livre dos cidadãos deveria
ser dedicado às atividades vinculadas aos tribunais.

E) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita aqueles que se dedicavam à politica e que
tinham tempo para resolver os problemas da cidade.

3. (ENEM 2010) A ética precisa ser compreendida como um empreendimento coletivo a ser
constantemente retomado e rediscutido, porque é produto da relação interpessoal e social. A
ética supõe ainda que cada grupo social se organize sentindo-se responsável por todos e que
crie condições para o exercício de um pensar e agir autônomos. A relação entre ética e política
é também uma questão de educação e luta pela soberania dos povos. É necessária uma ética
renovada, que se construa a partir da natureza dos valores sociais para organizar também uma
nova prática política.

CORDI et al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2007 (adaptado).

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O Século XX teve de repensar a ética para enfrentar novos problemas oriundos de diferentes
crises sociais, conflitos ideológicos e contradições da realidade. Sob esse enfoque e a partir do
texto, a ética pode ser compreendida como

A) instrumento de garantia da cidadania, porque através dela os cidadãos passam a pensar e


agir de acordo com valores coletivos.

B) mecanismo de criação de direitos humanos, porque é da natureza do homem ser ético e


virtuoso.

C) meio para resolver os conflitos sociais no cenário da globalização, pois a partir do


entendimento do que é efetivamente a ética, a política internacional se realiza.

D) parâmetro para assegurar o exercício político primando pelos interesses e ação privada dos
cidadãos.

E) aceitação de valores universais implícitos numa sociedade que busca dimensionar sua
vinculação a outras sociedades.

4. (ENEM 2010) Na ética contemporânea, o sujeito não é mais um sujeito substancial,


soberano e absolutamente livre, nem um sujeito empírico puramente natural. Ele é
simultaneamente os dois, na medida em que é um sujeito histórico-social. Assim, a ética
adquire um dimensionamento político, uma vez que a ação do sujeito não pode mais ser vista
e avaliada fora da relação social coletiva. Desse modo, a ética se entrelaça, necessariamente,
com a política, entendida esta como a área de avaliação dos valores que atravessam as
relações sociais e que interliga os indivíduos entre si.

SEVERINO, A. J. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1992 (adaptado).

O texto, ao evocar a dimensão histórica do processo de formação da ética na sociedade


contemporânea, ressalta

A) os conteúdos éticos decorrentes das ideologias político-partidárias.

B) o valor da ação humana derivada de preceitos metafísicos.

C) a sistematização de valores desassociados da cultura.

D) o sentido coletivo e político das ações humanas individuais.

E) o julgamento da ação ética pelos políticos eleitos democraticamente.

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5. (ENEM 2010) A ética exige um governo que amplie a igualdade entre os cidadãos. Essa é
a base da pátria. Sem ela, muitos indivíduos não se sentem "em casa", experimentam-se como
estrangeiros em seu próprio lugar de nascimento.

SILVA, R. R. Ética, defesa nacional, cooperação dos povos. OLIVEIRA, E. R. (Org.) Segurança & Defesa
Nacional: da competição à cooperação regional. São Paulo: Fundação Memorial da América Latina, 2007
(adaptado).

Os pressupostos éticos são essenciais para a estruturação política e integração de indivíduos


em uma sociedade. De acordo com o texto, a ética corresponde a

A) valores e costumes partilhados pela maioria da sociedade

B) preceitos normativos impostos pela coação das leis jurídicas

C) normas determinadas pelo governo, diferentes das leis estrangeiras

D) transferência dos valores praticados em casa para a esfera social

E) proibição da interferência de estrangeiros em nossa pátria

6. (ENEM 2010) Quando Édipo nasceu, seus pais, Laio e Jocasta, os reis de Tebas, foram
informados de uma profecia na qual o filho mataria o pai e se casaria com a mãe. Para evita-
la, ordenaram a um criado que matasse o menino. Porém, penalizado com a sorte de Édipo,
ele o entregou a um casal de camponeses que morava longe de Tebas para que o criasse.
Édipo soube da profecia quando se tornou adulto. Saiu então da casa de seus pais para evitar a
tragédia. Eis que, perambulando pelos caminhos da Grécia, encontrou-se com Laio e seu
séquito, que, insolentemente, ordenou que saísse da estrada. Édipo reagiu e matou todos os
integrantes do grupo, sem saber que entre eles estava seu verdadeiro pai. Continuou a viagem
até chegar a Tebas, dominada por uma Esfinge. Ele decifrou o enigma da Esfinge, tornou-se
rei de Tebas e casou-se com a rainha, Jocasta, a mãe que desconhecia.

Disponível em: http://www.culturabrasil.org. Acesso em 28 ago. 2010 (adaptado).

No mito Édipo Rei, são dignos de destaque os temas do destino e do determinismo. Ambos
são características do mito grego e abordam a relação entre liberdade humana e providência
divina. A expressão filosófica que toma como pressuposta a tese do determinismo é:

A) "Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo." Jean Paul Sartre

B) "Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser." Santo
Agostinho
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C) "Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte." Arthur Schopenhauer

D) "Não me pergunte quem sou eu e não me diga para permanecer o mesmo." Michel
Foucault

E) "O homem, em seu orgulho, criou a Deus a sua imagem e semelhança." Friedrich
Nietzsche

7. (ENEM 2011) O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éticos e morais
adequados, mas vive sob o espectro da corrupção, revela pesquisa. Se o país fosse resultado
dos padrões morais que as pessoas dizem aprovar, pareceria mais com a Escandinávia do que
com Bruzundanga (corrompida nação fictícia de Lima Barreto).

FRAGA, P. Ninguém é inocente. Folha de S. Paulo. 4 out. 2009 (adaptado).

O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” efetivamente o que é moral constitui uma


ambiguidade inerente ao humano, porque as normas morais são

A) decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas.

B) parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de obrigação.

C) amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir cumpri-las integralmente.

D) criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve se submeter.

E) cumpridas por aqueles que se dedicam inteiramente a observar as normas jurídicas.

8. (ENEM 2011) A felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do
mundo, e esses atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delfos
“das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que
amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes atividades, e entre essas a
melhor, nós a identificamos como felicidade.

ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. Das Letras, 2010.

Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atributos, Aristóteles a identifica


como

A) busca por bens materiais e títulos de nobreza.

B) plenitude espiritual e ascese pessoal.


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C) finalidade das ações e condutas humanas.

D) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.

E) expressão do sucesso individual e reconhecimento público.

9. (UNICISAL – AL) A Ética e a Moral são diferentes, porém intrinsecamente interligadas.


As reflexões éticas exercem significativa influência sobre as práticas morais, assim como
estas servem de matéria às reflexões éticas. A prática moral é relativa, mas as reflexões éticas
tendem a ser universais.

Com relação à Ética e à Moral, assinale a opção correta.

a) Sem a ética, a moral ficaria obsoleta, caduca, ultrapassada.

b) Sendo universais, os princípios éticos perdem o sentido à medida que se relacionam com os
valores propagados pelas diferentes culturas.

c) Os princípios éticos, em qualquer situação, são expressões do individualismo e do


relativismo.

d) A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um exemplo de práticas morais.

e) Independentemente do momento histórico, a Moral é única, absoluta e imutável.

10. (UEL – PR) O cauim é uma bebida produzida a partir da mastigação da mandioca ou do
milho por mulheres cuja saliva contribui para o seu fabrico. A preparação dessa bebida
consiste em três estágios básicos: fermentação, amadurecimento e azedamento. Assim, em
todos os rituais de passagem, em determinadas tribos indígenas, a presença do cauim é
imprescindível.

SZTUTMAN, R. Cauinagem, uma comunicação embriagada – apontamentos sobre uma festa tipicamente
ameríndia. Disponível em: www.antropologia.com.br/tribo. Acesso em: 17 jul. 2008. Adaptado.

Nos rituais indígenas, a ingestão do cauim evoca a busca de um estado de prazer e de


felicidade. Na tradição filosófica, a ideia de felicidade foi abordada por Aristóteles, na obra
Ética a Nicômaco. Considerando o pensamento ético de Aristóteles, assinale a alternativa
correta.

a) O interesse pessoal constitui o bem supremo a que visam todas as ações humanas, acima
das escolhas racionais.

b) A felicidade é o bem supremo a que aspira todo indivíduo pela experiência do prazer que se
busca por ele mesmo.

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c) Todos os seres humanos aspiram ao bem e a felicidade, que só podem ser alcançados pela
conduta virtuosa, aliada à vontade e à escolha racional.

d) Fim último da existência humana, a felicidade refere-se à vida solitária do indivíduo,


desvinculada do social na pólis.

e) A felicidade do indivíduo não pode ser alcançada pelo discernimento racional, mas tão
somente pelo exercício da sensibilidade.

11. (GEEKIE – MEC) O cristianismo introduz algo novo na ética dos gregos antigos, que
podemos identificar na seguinte afirmação:

a) A nossa virtude se define por nossa relação com deus, e nossas escolhas livres (livre-
arbítrio), nossos impulsos iniciais sempre se dirigem para o mal, por conta de nossas
fraquezas.

b) A nossa virtude se define por nossa relação com a pólis, e somos seres racionais e livres
(livre-arbítrio) e, portanto, capazes de discernimento quanto ao bem e ao mal.

c) A nossa virtude é combater o mal interior, o pecado original, e nossa ligação com deus se
dá por meio dos rituais públicos conduzidos pelo Estado.

d) A virtude de um homem se constrói na medida que ele constrói sua relação com deus por
meio dos ensinamentos filosóficos.

e) A nossa virtude não se define por nossa relação com deus, e nossas escolhas livres são
sempre em direção ao pecado original, sendo trabalho da filosofia cristã orientar o homem no
mundo.

12. (UENP – PR) Leia o fragmento:

Tudo na natureza age segundo leis. Só um ser racional tem a capacidade de agir segundo a
representação das leis, isto é, segundo princípios, ou: só ele tem uma vontade. Como para
derivar as ações das leis é necessária a razão, a vontade não é outra coisa senão razão prática.
Se a razão determina infalivelmente a vontade, as ações de um tal ser, que são conhecidas
como objetivamente necessárias, são também subjetivamente necessárias, isto é, a vontade é a
faculdade de escolher só aquilo que a razão, independentemente da inclinação, reconhece
como praticamente necessário, quer dizer bom.

KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1995.

Assinale a alternativa correta.

a) A ética kantiana tem os mesmo princípios da ética aristotélica e, por isso, e por isso pode
ser considerada eudemonista e utilitarista.

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b) Kant afirmava que o princípio de ação moral era o imperativo categórico, que poderia ser
reduzido à seguinte assertiva: “[…] age de tal forma que a máxima de sua ação possa ser
universal.”

c) Kant desenvolve uma ética do dever, baseada na impulsividade das ações humanas,
sobretudo em situações de conflito.

d) No pensamento kantiano, não existe qualquer distinção entre a lei ética, a lei física, a lei
moral e a lei jurídica, porque todas possuem o mesmo princípio elementar de fundamento.

e) O sistema proposto por Kant servirá de crítica para os teóricos posteriores que procuram
defender a ideia de “ética mínima”.

14. Há um modelo ético que parte do princípio de que o ser humano tem como finalidade
alcançar o bem e a felicidade mediante a conduta virtuosa, e outro que entende que devemos
agir em conformidade com máximas que devem servir de leis universais para todos os seres
racionais. Esses dois modelos caracterizam, respectivamente, as éticas:

I. Teleológicas e finalistas.

II. Deontológicas e do dever.

III. Teleológicas e deontológicas.

Esta(ao) correta(s) a(s) alternativa(s)

a) I apenas.

b) II apenas.

c) III apenas.

d) I e II apenas.

e) I, II e III.

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Unidade III
Filosofia e Religião

No primeiro polígrafo que estudamos você deparou-se com mitologia. Vimos, então
que de uma forma caridosa, mitologia tem certa proximidade com religião. Mas, se
aceitarmos isso a pergunta então a se fazer e a seguinte: Qual a diferença entre religião e
mitologia? Basicamente, pode-se dizer e afirmar que religião é um conjunto de crenças, que
em geral tem um certo amparo de textos, compreendidos, portanto, como uma revelação de
Deus, e por isso, não são contestados. De certa forma, quando permanecemos em uma
religião, é porque de certa forma, concordamos com os dogmas e crenças que são
estabelecidas. Dizemos por isso, que as religiões são dogmáticas, isto é fundamentam-se em
dogmas, que não são nada mais do que verdades absolutas que não são contestadas.
Outra característica importante da religião é a existência de certos ritos que relacionam
os seres humanos com as crenças, ou com as divindades. Os ritos são normas e
comportamentos organizados pelos sacerdotes, pessoas que fazem uma mediação ou são
intermediárias na relação das pessoas com as divindades. De modo, geral pode –se dizer que
religiões tornam-se instituições, isto é, certas organizações que controlam o funcionamento do
grupo religioso.
Em suma, esse conhecimento do tipo religioso caracteriza-se por:
1- Um conjunto de ideias expressas em um texto ou livro de certo modo sagrado, compondo
o dogma da religião, embora ainda existam religiões em uma tradição oral, que não possuem
um livro sagrado como, por exemplo, a Umbanda;
2- Por possuir uma definição de rituais na forma de viver esse conhecimento;
3- Por possuem certa organização institucional (com exceção da umbanda).
É importante saber que assim como os mitos, a religião também é uma forma de
pensamento, um modo de explicar as coisas e a natureza, assim como o sentido da vida.
Assim, todas as culturas possuem um tipo de religião desde a antiguidade. E por isso, muito
se encontra na história, muito sofrimento e guerra por falta de tolerância religiosa. A
tolerância religiosa e importante para que se mantenha certa convivência entre as pessoas,
para que elas possam viver de forma pacífica. Contudo, ocorre que muitas vezes por
interesses políticos, os líderes religiosos acabam por manipular a fé das pessoas para
alcançarem seus objetivos. Como exemplo dessa violência pode-se citar as cruzadas, ou
ainda, o conflito entre muçulmanos e judeus.
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Religião

A Religião é um vínculo. Quais as partes vinculadas? O mundo profano e o mundo sagrado,


isto é, a natureza das divindades que habitam a natureza. A palavra “religião”, vinda do
latim, é formada pelo prefixo re (outra vez, de novo) e o verbo ligare (ligar, vincular).
CHAUI, Marilena.. Iniciação à filosofia. p. 232

O sagrado
O sagrado é a experiência da presença de uma potência sobrenatural que habita
algum ser – planta, animal, humano, coisas, ventos, águas, fogo. (...) O sagrado é a
experiência simbólica da diferença entre os seres, da superioridade de alguns sobre outros,
do poderio de alguns sobre outros – superioridade e poder sentidos como espantosos,
misteriosos, desejados e temidos.
CHAUI, Marilena.. Iniciação à filosofia. p. 231

As variedades da experiência religiosa de William James


William James aborda o religioso desde uma perspectiva pragmática psicológica, a
onde a religião é vista como uma vivência antes do que uma crença, concebendo como
experiência religiosa como aquilo que faz parte da natureza humana, ou seja, todas as
pessoas possuem ou um dia terão, segundo a sua perspectiva, algum tipo de experiência
religiosa. A religião, dessa forma, possui um caráter subjetivo e psicológico, no qual não
pode ser testada ou colocada a prova e não significa nesse contexto, nenhum princípio ou
essência singular, mas corresponde, sobretudo, a um nome coletivo. Todavia, James define a
experiência religiosa como um estado alterado de consciência, bem como os
“sentimentos, atos e experiências de indivíduos em sua solidão, na medida em que se
sintam relacionados com o que quer possam considerar o divino” (JAMES, p. 32) Sobre
o estado de consciência, ele declara que a experiência religiosa pessoal tem suas raízes em
estados místicos de consciência.

A Estrutura do Campo do Sagrado a partir de Eliade


A proposta de Eliade aborda principalmente em que consiste o sagrado e o profano
partindo da oposição fundamental desses conceitos. Desenvolve assim de forma profunda esse
tema e revela a problemática religiosa perpassando, principalmente pela história da
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humanidade. Segundo esse autor, o conhecimento do que é denominado sagrado, se faz pelas
manifestações pelo do que ele denomina hierofania. Isso significa dar a compreender e
conhecer através das realidades sagradas, que por sua vez, não fazem parte do mundo
homogêneo cotidiano, e assim se revelam como manifestações da vida do homem religioso.
Ao abordar as dimensões específicas da experiência religiosa, apontando diferenças
em relação a experiência profana, Eliade tende a mostrar que o comportamento humano tanto
o religioso quanto o não religioso estão intrinsecamente conectados a humanidade e a
aspectos específicos do desenvolvimento histórico. Com isso, constatamos que Eliade analisa
a essência da religião, mas sem deixar de perceber um outro viés, a saber, que concentra-se no
contexto histórico do fenômeno religioso.
O que interessa-nos aqui é que o sagrado é aquilo que é oposto ao profano, sendo
que o primeiro se manifesta através daquilo que Eliade denomina de hierofanias. As
denominadas hierofanias são atos de manifestação do sagrado no mundo profano. Para o
autor, os homens modernos ocidentais passam por um certo mal estar por não conseguir ou ser
capaz de compreender como os objetos naturais/materiais revelam o sagrado, algo óbvio para
os homens religiosos. Dessa forma, o homem moderno, ao viver em um mundo de
sacralizado, de manifestações sagradas, pode permanecer com problemas desconfortantes com
relação a sua existência. Sua existência é uma de caráter profano. Essas posições existenciais
citadas, a atitude sagrada e a atitude profana, foram e continuam sendo assumidas pelos
homens, mesmo que em sociedades arcaicas ou primitivas os homens viviam e organizam sua
vida em função do espaço e tempo sagrado, donde imperava a atitude sagrada.

É possível associar Deus e a Filosofia?

Associar a filosofia ao ateísmo é quase uma obviedade, entretanto, há na filosofia um


árduo esforço para se provar a existência de Deus. Seria isso viável?
É importante saber que ao pensarmos no conceito de Deus, deve-se excluir todas
considerações que dizem respeito ao Politeísmo¹, tendo em vista que, a filosofia acompanha o
conceito Judaíco-Cristão de Deus como sendo perfeito e completo, infinito e admitir a
possibilidade de outros deuses excluiria por definição este ser perfeito, completo e infinito.

Algumas considerações filosóficas a respeito da Existência de Deus

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1) Platão (Timeu)

Encontro com Deus é muito improvável, pois esta alma imperfeita teria de fazer muitas
abstrações para eliminar as perfeiçoes particulares a ponto de atingir a perfeição das
perfeiçoes, isto é, aquele ser que é o último resultado de nossas investigações e, justamente
por ser o último, deve estar completamente afastado das imperfeições de nossas percepções
sensoriais. Se há em Platão, se há a possibilidade de encontro (conhecimento) de Deus, este
encontro deva se dar somente quando a alma não estiver acompanhada de um corpo – Antes
do nascimento ou depois da morte.
Semelhança com a narrativa bíblica:
Demiurgo Platônico (Ser superior e E viu Deus tudo quanto tinha feito, e
criador) cria o mundo e vê que ele é bom. eis que era muito bom; e foi a tarde e a
manhã, o dia sexto
Gênesis 1:31.

No Timeu, tudo o que é criado foi criado com bondade e racionalidade, entretanto,
diferentemente da narrativa bíblica, o demiurgo não criara as coisas a partir do não ser, isto é,
já havia a existência de algo, entretanto, este algo estava em completa desordem e ao acaso da
natureza.
Este discurso Cosmológico² nos apresenta grande familiaridade com o discurso religioso, na
qual ambos os discursos metafísicos possuem a pretensão de conceber e/ou explicar nossa
existência. No Timeu, Platão nos aponta o nascimento do céu (cópia de um céu mais perfeito),
das almas, dos planetas, o nascimento das almas neste mundo sensível, aludindo até mesmo
para uma concepção Espírita- Religiosa, haja vista que, o demiurgo criaria a alma do ser
humano dando a elas ao nascer as mesmas paixões³. Aos homens que as dominassem
viveriam na justiça, aos que não dominassem, viveriam na injustiça. Caso vivessem bem
regressariam ao céu podendo usufruir da vida como um deus, caso contrario, reencarnariam
com forma feminina e se ainda persistissem no erro, regressariam novamente como animais.

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Implicações Filosóficas acerca do diálogo: Correlacionando o discurso filosófico com o
religioso

1. Necessidade de um princípio do mundo. — O intuito de Platão, em sua cosmologia,


era formular a ideia de que o mundo não existe por si mesmo, dependendo de um
principio criador que, em certa medida, deve existir em si mesmo. Apesar de esta ser
um mundo eterno, no que diz respeito à alma ( Após a morte regressa a terra ou vivera
no céu como um deus) e à matéria (esta já existia de certa forma, o demiurgo apenas
as organizou cosmologicamente) mesmo assim existe essa dependência de um último
princípio, como exatamente se pode ver muito bem em Aristóteles.

2. O Espírito vivo. — Teleologia é o segundo conceito que podemos abstrair deste mito.
Em sua perspectiva, o demiurgo cria o mundo fitando as Ideias eternas. Desta forma,
este espírito vivo criado ordena o todo, fazendo dele um cosmos (Tim.30b5-c1).

Em suma, para que haja um mundo ordenado, deva haver certas conexões, mas como
as haveria se não houvesse um Ser que as tenha determinado anteriormente? Haveria certa
ordem sem que tivesse sido previamente ordenada? Pensando a respeito, Platão opina que esta
ordem deve necessariamente pressupor um ordenador, um Espírito vivo. Se este espírito vivo,
alma do mundo, criador, Demiurgo pode ser identificado com o Deus Judaíco-Cristão é
amplamente discutido, entretanto, em ambos os casos permanecem o pensamento de que o
nous³ pressupõe um princípio vivo, na qual, não caberia, mediante esta perspectiva criticar o
discurso religioso em detrimento ao Filosófico.

Concluindo:

A origem do universo e do homem é um "mito verossímil", nos diz Platão (cf. 29d), e
fica evidente no decorrer de toda a obra que, para Sócrates, sobre tal assunto só podemos
alcançar o que é provável, conciliando necessidade com probabilidade (cf. 53d).

Deus Aristotélico- Cristão

Aristóteles é considerado o primeiro filósofo a falar de um universo todo ordenado que


nos apresenta com certas finalidades, isto é, as coisas singulares cumprem sua finalidade para

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que o todo funcione bem. Em ultima instância, as finalidades das coisas são causas das cosias
serem como elas são.
Exemplo: Tamanduás -> comem formigas, logo, a causa da sua língua comprida é comer
formigas.
Deus é visto como adequação maravilhosa entre os seres e sua finalidade. O divino é
no mundo, isto é, Deus é imanente ao universo. Ele é o universo porque o universo é
organizado, cósmico, lógico, compreensível, discernível. Deus é a ponte entre a ordem
universal e a razão. Tudo é divino porque cumpre maravilhosamente sua finalidade, portanto,
a excelência da atividade com vista a finalidade é divino.

O Pensamento Estoico acerca de Deus versus o Pensamento Cristão:

Quando Cristo se pronunciou, o pensamento dominante na época era o pensamento


estoico. Para os Cristãos, Deus não era imanente e sim transcendente ao homem e ao
universo, sendo ele um Criador que sempre esteve, isto é, um pensamento puro que criou a
partir da ideia tudo o que é. Conforme a bíblia: “no princípio era Logos (pensamento puro) e o
verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1:14) . Já para os Estoicos, “O mundo é um
organismo em que as partes interagem para o bom funcionamento do todo”[4]. Assim, tudo é
divino (panteísmo), inclusive a natureza.

Deus Estoico Deus Cristão


Imanente ao Universo Transcendente ao Universo
Razão absoluta Pensamento Puro
Panteístas Monoteístas
Não cria mas ordena o mundo Cria o mundo de fora para dentro

Durkheim (aspecto sociológico)


Religião para este pensador é uma produção do homem, sendo classificado por ele
como um trabalho social de classificação entre sagrados e profanos e consecutivamente
merece estudo científico. Mas como definir o que é sagrado ou profano? As definições do
termo de questão são postas através do que a sociedade as define como sendo sagradas e o
profano seria tudo aquilo em oposição a elas.
Assim, Sagrado x Profano, é entendido como Norte X Sul, isto é, é incorreto distinguir um
sem o outro.

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Bordieur
A definição do que é ou não sagrado é obra de especialistas que divergem entre si,
havendo portando, uma luta pela definição do que pode ser definido como sagrado e profano.
Para Bordieur há um campo Religioso que pode ser considerado como um espaço abstrato de
campus e relações onde agentes específicos atuam buscando troféus, obedecendo a regras
válidas praquele determinado campo. È um espaço onde pessoas estão socialmente
legitimadas para falar desta relação entre profano e sagrado.
4 Dicionário de filosofia de Cambridge. Dirigido por Robert Audi; (tradução João Paixão
Netto; Edwino Aloysius Royer et al.). São Paulo: Paulus, 2006. (Coleção dicionários) p. 293

Demonstrações ontológicas e Cosmológicas da Existência de Deus


As demonstrações ontológicas são formas a priori para demonstrar sua existência a partir
de inferências dedutivas lógicas. Podemos citar como Três grandes referências a este tipo de
demonstração:
1) Santo Anselmo (Post Logium), partindo suas considerações a partir de uma Ideia de
Grandeza;
2) Descartes (Meditações Metafísicas), partindo de uma ideia de perfeição;
3) Leibniz (Discurso de Metafísica), a partir da ideia de infinito.

Filósofos que desenvolveram argumentos ontológicos para a existência de Deus


Santo Anselmo de Canterbury (c. 1033–
Alvin Plantinga (1932 - )
1109)
Avicenna da Persia (Ibn Sina, falecido em
Kurt Gödel (1906 – 1978).
1037);
São Tomás de Aquino(1225 – 1274) Gaunilo de Marmoutiers (?)
Descartes (1596 – 1650) David Hume (1711 – 1776)
Spinoza (1632 – 1677), Kant (1724 – 1804)
Leibniz (1646 – 1716). Norman Malcolm (1911 – 1990)
Norman Malcolm (1911 – 1990), Kurt Gödel (1906 – 1978).
Charles Hartshorne (1897 – 2000) Charles Hartshorne (1897 – 2000)
Bertrand Russell (1872 – 1970)

Já as demonstrações cosmológicas, são formas a posterior para demonstrar a existência de

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Deus. Como exemplos temos:
1) Tomaz de Aquino -> O mundo é perfeito demais para ter nascido do nada;
2) Voltaire e -> O universo é um relógio. Deus é o relojoeiro deste relógio universal.

Filósofos que desenvolveram argumentos cosmológicos para a existência de Deus


Platão Alexander Pruss
Aristóteles Timothy O'Connor
Tomás de Aquino Stephen Davis
William Lane Craig Robert Koons

Richard Swinburne

Conclusão:

Defender a existência de Deus é complexa demais e talvez impossível, entretanto, isto


não é de forma alguma condição SINE QUA NON para não acreditar em sua existência. A
prova disto é que temos como visto, diversos filósofos que no decorrer da história da
humanidade buscaram compreender e defender a existência de Deus. Assim, as considerações
desarrolhadas neste capítulo nos permitem assegurar que é preciso antes de tudo respeitar a
subjetividade alheia, haja vista que, cada um de nós temos nossos valores, crenças, fé e
desejos. Desta forma, parece-nos possível afirmar que a Filosofia nunca mais se preocupará
em provar a existência de Deus nos moldes antigos, tendo em vista que, tais modos se nos
apresentaram como insuficientes, entretanto, parece-nos possível ainda afirmar que ela
(filosofia) jamais deixará de mencionar teus valores historicamente construídos, portanto,
Filosofia e Religião permanecerão unidas à reflexão por longa data.

Bibliografia

1) A.E.Taylor, A Commentary on Plato’s thimaeus (Oxford, 192.3)


2) Alexander Pruss. The Principle os Sufficiente Reason: A Reassessment. Cambridge:
Cambridge University Press, 2006;
3) C.Baeumker, Das Probleme der materie in grichischen Philosophie (1890)
4) E. Sachs, die Funf platonischen Korper, (1917)

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5) F.M. Cornford, Plato’s Cosmology. The Thimaeus of plato translated with a Running
Commentary (New York, 1937)
6) G.C. ClaChorn, Aristotles Criticism of Plato’s Thimaeus (The Hague, 1954)
7) M.F. Sciacca, la Metafísica di Platone, vol. I: II Problema Cosmológico (Nápoli,
1938)
8) O Norman Geisler. Argumento Cosmológico. In: Enciclopédia Apologética. São Paulo:
Vida, 2002;
9) Pedro M. Guimarães Ferreira S.J. Argumento Ontológico para a Existência de Deus
(Março de 2011) disponível em
http://www.fplf.org.br/pedro_varios/Meus%20textos%20teol%C3%B3gicos%20e%20
filos%C3%B3ficos/O%20Argumento%20Ontol%C3%B3gico%20para%20a%20exist
%C3%AAncia%20de%20Deus.pdf. Acessado em 30/04/2016

10) Timothy O'Connor. Theism and Ultimate Explanation: The Necessary Shape of Contingency.
Oxford: Blackwell, 2008;

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Unidade IV

O que é política? O que é poder?

O conceito de POLÍTICA

O termo “política” vem do grego pólis


(cidade-Estado) e designa, desde a antiguidade, o
campo de atividade humana que se refere à
cidade, ao Estado, à administração pública e ao
conjunto dos cidadãos. Os vínculos entre política e
filosofia remontam à própria origem do pensamento
filosófico. Integra a temática básica da filosofia
política as reflexões em torno do poder, do Estado,
dos regimes políticos e formas de governo, da participação dos cidadãos na vida pública, da
liberdade, entre outros.

Ciência Política X Filosofia Política


Analisa e descreve as instituições e - Não é uma descrição histórica sobre
relações existentes. Lida com questões política.
constitucionais e judiciárias, - Requer uma participação do sujeito.
comportamento eleitoral etc., sem - Parte de um sujeito reflexivo.
necessariamente ter como conceito central
a boa vida política.

Filosofia Política
É a análise das várias formas possíveis de organizações e de relações entre
indivíduo(s) e sociedade, a partir da qual é possível analisar as instituições e relações
existentes, buscando estabelecer como deve ser a boa vida política. É o ramo da filosofia que
estuda as relações humanas na coletividade, ou seja, na sociedade.
Investiga o sentido da vida social e das relações de poder e autoridade bem como as
ideias de lei, justiça, violência. Investiga as formas e regimes políticos e suas
fundamentações; nascimento e formas de estados; ideias autoritárias, conservadoras,
revolucionárias e libertárias. Analisa criticamente as ideologias.

Pra começo de conversa

A obra de Aristóteles intitulada “Política” é considerada um dos primeiros


tratados sistemáticos sobre a arte e a ciência de governar a pólis e, portanto, da filosofia
política. Foi devido, em grande medida, a essa obra clássica que o termo política se firmou
nas línguas ocidentais. Para Aristóteles, a política era uma continuação da ética, só que
aplicada à vida pública. Assim, depois de refletir sobre o modo de vida que conduz à
felicidade humana em Ética a Nicômaco, Aristóteles investigou em Política as
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instituições públicas e as formas de governo capazes de propiciar uma melhor maneira de
viver em sociedade. Aristóteles considerava essa investigação fundamental, pois para ele, a
cidade (pólis) é uma criação natural e o homem também é, por natureza, um animal social e
político. O conceito grego de política como esfera da realização do bem comum se tornou um
conceito clássico e permanece até nossos dias, mesmo que seja como um ideal a ser
alcançado. No entanto, conforme assinalou o filósofo italiano Noberto Bobbio, o conceito
moderno de política está estreitamente ligado ao de poder.

Política e Poder
Por que o poder existe? Como deve ser?
Para que serve?
A quem obedecer? Por que obedecer?
Ou o poder é delegado ou o poder é natural?

Nessa concepção, a política refere-se às relações de poder. Embora haja


inúmeras definições e interpretações a respeito do conceito de poder, vamos
considerá-lo aqui genericamente como a capacidade ou possibilidade de agir, de produzir
efeitos desejados sobre indivíduos ou grupos humanos. O poder supõe dois pólos: o de quem
exerce o poder e daquele sobre quem é exercido o poder. Nesse sentido, o poder é uma
relação ou um conjunto de relações pelas quais indivíduos ou
grupos interferem na atividade de outros grupos ou indivíduos. Para que alguém exerça o
poder, é preciso que tenha força, entendida como um instrumento para o exercício de poder.
Quando falamos em força, é comum pensar-se imediatamente em força física, coerção,
violência. Na verdade, esse é somente um tipo de força.

Estado e Poder
Entre tantas formas de força e poder, as que nos interessam referem-se à política e, em
especial, ao poder do Estado que, desde os tempos modernos, se configura como a instância
por excelência do exercício do poder político em várias áreas da vida pública.
Na Idade Média, certas atribuições podiam ser exercidas pelos nobres em
seus respectivos territórios, onde muitas vezes tornavam-se mais poderosos do que o
próprio rei. Além disso, era difícil, por exemplo, determinar qual a última instância de
decisão, daí os recursos serem dirigidos sem ordem hierárquica tanto a reis e
parlamentos como a papas, concílios ou imperadores.
A partir da Idade Moderna, com a formação das monarquias nacionais, o Estado
se fortalece e passa a significar a posse de um território em que o comando sobre seus
habitantes é feito a partir da centralização cada vez maior do poder. Apenas o Estado se torna
apto para fazer e aplicar as leis, recolher impostos, ter um exército. A monopolização dos
serviços essenciais para garantia da ordem interna e externa exige o desenvolvimento
do aparato administrativo fundado em uma burocracia controladora. Por isso, segundo o
filósofo e sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), o Estado moderno pode ser
reconhecido por dois elementos constitutivos: a presença do aparato administrativo
para a prestação de serviços públicos e o monopólio legítimo da força.

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Diz Gerard LeBrun: “Se, numa democracia, um partido tem peso político, é porque tem
força para mobilizar um certo número de eleitores. Se um sindicato tem peso político, é
porque tem força para de flagrar uma greve. Assim, força não significa necessariamente a
posse de meios violentos de coerção, mas de meios que me permitam influir no
comportamento de outra pessoa. A força não é sempre (ou melhor, rarissimamente) um
revólver apontado para alguém; pode ser o charme de um ser amado, quando me extorque
alguma decisão (uma relação amorosa é, antes demais nada, uma relação de forças). Em
suma, a força é a canalização da potência, é a sua determinação”.

Tipos de Poder
Embora a força física seja condição necessária e exclusiva do Estado para o
funcionamento da ordem na sociedade, não é condição suficiente para a manutenção do
poder. Em outras palavras, o poder do Estado que apenas se sustenta na força não pode durar.
Ele precisa ser legítimo, ou seja, ter o consentimento daqueles que o obedecem, já que como
vimos, o poder é uma RELAÇÃO. Ao longo da história humana foram adotados os mais
diversos princípios de legitimidade do poder:

- nos Estados teocráticos, o poder legítimo vem da vontade de Deus;

- nas monarquias hereditárias, o poder é transmitido de geração em geração e


mantido pela força da tradição;

- nos governos aristocráticos, apenas os melhores exercem funções de mando; o que


se entende por “melhores” varia conforme o tipo de aristocracia: os mais ricos, os mais
fortes, os de linhagem nobre, ou até, os da elite do saber;

- na democracia, o poder legítimo nasce do consenso, da vontade do povo. A


discussão a respeito da legitimidade do poder é importante na medida em que a obediência é
prestada apenas ao poder legítimo, situação na qual é voluntária e, portanto, livre. Caso
contrário surge o direito à resistência.

O que é o Estado?
O termo Estado deriva do latim status (estar firme), significando a permanência de
uma situação de convivência humana ligada à sociedade política. Muitos estudiosos
procuraram compreender a realidade do Estado. De acordo com Max Weber, Estado é a
instituição política que, dirigida por um governo soberano, reivindica o monopólio do uso
legítimo da força física em determinado território, subordinando os membros da sociedade
que nele vivem.

Como se formou o Estado? E por quê?

As circunstâncias específicas que deram origem à formação do Estado nas diversas


sociedades humanas é um tema de difícil verificação, embora essa questão tenha despertado
muita especulação ao longo da história da filosofia política. Para a maioria dos autores o
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Estado nem sempre existiu ao longo da história. Sabe-se que diversas sociedades, do passado
e do presente, organizaram-se sem ele. Nelas, as funções políticas não estavam claramente
definidas e formalizadas numa determinada instância de poder. No entanto, em dado
momento da história, na maioria das sociedades, com o aprofundamento da divisão social do
trabalho, certas funções político-administrativas e militares acabaram sendo assumidas por
um grupo específico de pessoas. Esse grupo passou a deter o poder de impor normas à vida
coletiva. Assim teria surgido o governo, por meio do qual foi se desenvolvendo o Estado.
E para que se desenvolveu o Estado? Qual seria a sua função em relação à sociedade?
Não existe consenso sobre essa questão. Muitas respostas já foram dadas. Mas podemos
destacar duas, que representam correntes opostas: uma é fornecida pela corrente liberal e
outra pela corrente marxista.

Liberalismo Comunitarismo Socialismo

Tipos de Governo

Ditadura Tirania

Regime político em que o poder está Governo opressor, que se caracteriza pelo
centralizado nas mãos de um órgão uso da violência, injustiça e abuso de
político e que se caracteriza pela autoridade por parte do governante.
eliminação da participação do povo nas
decisões políticas.

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Democracia Oligarquia

Regime político baseado nos princípios da


participação popular e da distribuição Governo de poucas pessoas, pertencentes
equitativa do poder. ao mesmo partido, classe ou família.

Aristocracia Monarquia

Forma de governo em que o poder é Soberania absoluta de apenas um só


exercido pelos “melhores”. príncipe.

A REFLEXÃO POLÍTICA NO DECORRER DA HISTÓRIA

O momento político da Grécia


A Grécia era constituída por cidades-estados independentes que nunca chegaram a
formar uma confederação ou um Estado único que incluísse todas as cidades e col6onias
gregas. Entre todas as cidades-estados, Atenas tornou-se o mais importante centro grego, em
termos políticos e culturais, chegando a capitanear uma liga de algumas cidades gregas. O
lugar de destaque de Atenas deve-se especialmente ao seu papel militar na contenção do
expansionismo persa, graças a sua poderosa esquadra naval.
Algumas cidades gregas, especialmente Atenas, exigiam de todos os cidadãos que se
dedicassem à atividade política. A assembleia dos cidadãos no período democrático de
Atenas decidia todos os temas políticos da cidade: decisões quanto à guerra e paz, aos
direitos e deveres dos cidadãos, forma e conceito de governo e de Estado, religião e culto aos
deuses, educação, saúde, comércio, funcionalismo público, assuntos portuários, industriais,
mineração e financeiros (moeda, juros, dívidas).
Em Atenas, havia ainda os tribunais para julgamentos dos litígios entre os cidadãos. A
luta entre o partido aristocrático e o democrático, como luta entre formas de governo e o
próprio modo de governar por meio de assembleias de cidadãos exigia um permanente debate
político. Fosse oligárquica, aristocrático ou democrático, o governo da cidade, especialmente
em Atenas, era sempre colegiado, considerando-se a forte tradição anti-tirânica da cidade.
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A educação tradicional (música, ginástica e letras) não conseguia acompanhar o
rápido desenvolvimento social e econômico. Sentia-se a necessidade de uma instrução
mais especializada sobre a vida política e para aqueles que a ela se dedicariam.
Aparece então a figura do sofista, o encarregado de instruir os filhos da aristocracia
em gramática, literatura, filosofia, religião e, especialmente, retórica. Dessa maneira, o aluno
aprenderia a administrar a casa e a cidade.

Platão (428 a.C. – 348 a.C.)


A filosofia, para Platão, é um esforço constante no sentido da contemplação da ideia. é
um exercício de visão, então seus praticantes deverão ver a realidade com mais acuidade que
os outros seres humanos, uma vez que são capazes de visualizar seu fundamento. Deste modo,
se o governante de uma polis deve ser o indivíduo dotado de maior visão, é forçoso que este
seja o filósofo. É pensando o fundamento de toda polis, bem como a origem de toda e
qualquer relação política, que Platão introduz sua concepção do rei-filósofo.
Para Platão, a educação era a base da vida social, e sua importância era tão grande, que
deveria ser assumida exclusivamente pelo Estado. Através da educação, cada um poderia
desenvolver suas aptidões, e os que chegassem a se tornar filósofos (esse seria o mais alto
grau de racionalidade atingível), seriam incumbidos do governo do Estado.

A REPÚBLICA, de Platão
Função do ser humano e estrutura da sociedade
Na cidade Na política Ciência Virtude

Cabeça (Intelecto) Rei filósofo Teologia Phronesis/Sabedoria


Política
Coração Guardas Ética Fortaleza/Coragem
(Raciocínio)

Ventre(Sensibilidade Artesãos Física Temperança

Formas de governo a partir da tripartição da ALMA


Parte da alma Virtude Forma de Governo

Racional Justiça (Rei filósofo) ARISTOCRACIA

Passional Coragem/Honra (Guerreiro) TIMOCRACIA

Apetitiva Dinheiro (proprietário) OLIGARQUIA


Anarquia (libertino) DEMOCRACIA
Arbítrio (Tirano) TIRANIA

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Aristóteles (384 a.C. — 322 a.C.)


Para Aristóteles, o grande objetivo da vida das pessoas era ser feliz; para isso,
deveriam desenvolver suas aptidões. A natureza, tal qual era, não permitia que alguém isolado
se desenvolvesse plenamente. Por essa razão, as pessoas se uniam para a realização de um
bem maior e mais importante: a constituição e manutenção da polis, ou seja, o homem seria,
por natureza, um animal político. Assim, para Aristóteles, o interesse coletivo deveria
necessariamente ser mais importante que o interesse particular.
Para Aristóteles, a Política e a Ética se encontravam de braços dados, compartilhando
a mesma esfera e aspirando por um objetivo em comum, a felicidade.
Existem dois tipos de justiça: a partilhável e a participável, por conseguinte o bem
político é um bem participável.
1. A justiça consiste em dar a cada um o que lhe é devido, de acordo com sua função.
2. A justiça política consiste em respeitar o modo pelo qual a comunidade definiu a
participação no Poder.

“Fica evidente, portanto, que a cidade participa das coisas da natureza, que
o homem é um animal político, por natureza, que deve viver em sociedade, e que
aquele que, por instinto (...) deixa de participar de uma cidade, (...) é merecedor,
segundo Homero, da cruel censura de um sem-família, sem leis, sem lar (...).”
(Aristóteles, Política)

Período Medieval: direito divino de governar


Na Idade Média, com a decadência do Império Romano e com o fortalecimento do
cristianismo, a religião se consolidou primeiramente como um poder extrapolítico. Santo
Agostinho, por exemplo, separava a cidade de Deus, a comunidade cristã, da Cidade dos
Homens, a comunidade política.
Mas depois, ao longo da Idade Média e em parte da Idade Moderna, ocorreu uma
aliança entre o poder eclesiástico e o poder político. E como a igreja cristã entendia que todo
o poder pertence a Deus, surgiu a ideia de que os governantes seriam representantes de Deus
na terra.
O rei passou, então, a ter o direito divino de governar.
Oprimidos pela estrutura do sistema feudal, os camponeses eram facilmente
manipulados pela Igreja Católica que através da cobrança do dízimo, de doações de terras e de
jogadas políticas, tornou-se o maior e mais poderoso “senhor feudal” do período. A Igreja
controlava toda a produção teórica e filosófica do período clássico, e manipulava a produção
científica daquele tempo, publicando o que convinha, e excomungando, julgando e
queimando os pensadores divergentes. A Igreja era, em verdade, quem mais lutava para
conservar o modo de produção feudal, na perspectiva de manter o seu poder político
indefinidamente.
Assim, embora a relação entre o poder temporal dos reis e o poder espiritual da Igreja
tenha sido um grande problema durante a idade média, de uma forma geral persistiu a ideia de

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que o governo era o representante de Deus aliada à ideia de monarquia como a forma política
mais natural e mais adequada à realização do “bem comum”.

Santo Agostinho (354 – 430) e a “Cidade de Deus”

Tomás de Aquino (1225-1274) e o “Do governo dos príncipes ao Rei de Chipre”

Renascimento
Concomitantemente, os artistas e pensadores começaram a resgatar os valores
estéticos da Antiguidade Clássica, fazendo com que o ser humano olhasse mais para si
mesmo, afastando-se da visão teocêntrica pregada pela Igreja Católica, em que somente de
acordo com as doutrinas católicas pode-se ter acesso ao conhecimento.
Ademais, os pensadores começaram a buscar uma nova forma de conhecimento,
que se despojasse dos dogmas escolásticos, e que fosse pautado unicamente na razão.
Começou a surgir, assim, lentamente, uma nova Ciência independente da dogmática
cristã que se desenvolveu paulatinamente, até culminar, no século XIX, com a
consolidação da Ciência Moderna.
Nicolau Maquiavel e Thomas More, os dois principais pensadores deste período, são
reconhecidos como os pensadores políticos que rompem com a visão ético-cristã. Suas
preocupações passam a ser mais técnicas do que éticas. Eles irão se perguntar pelas
condições políticas que permitem a sobrevivência dos cidadãos na sociedade. Trata-se da
conservação elementar da vida. Para Habermas, tanto Maquiavel quanto More estavam
focados, respectivamente, em evitar “a morte violenta causada pelas mãos do próximo e a
morte causada pela fome e miséria. Maquiavel pergunta: como a reprodução da vida pode ser
assegurada de um ponto de vista político? More, por sua vez, pergunta: como a reprodução
da vida pode ser assegurada de um ponto de vista socioeconômico?” (2011, p. 95-6).

Thomas More e a tarefa de organização da sociedade


Conhecido por escrever a obra intitulada de “Utopia”, Thomas More inspira-se em
Platão para descrever como seria a organização de uma sociedade política perfeita, a
“República de Utopia”. A palavra “utopia” foi criada a partir do radicais grego, significando
etimologicamente "não-lugar" ou "lugar que não existe". Alega-se que as descrições no

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livro e os temas abordados são uma crítica a realidade social
e política da Inglaterra no século XVI, a qual estava repleta
de conflitos sociais que a tornavam instável.
A obra tornou-se de tal modo célebre que o termo
“utopia” foi considerado uma espécie de gênero de escrita
caracterizado por conter como principal tema uma
organização política e/ou social, geralmente em contraponto
a uma organização política e/ou social atuais, ou seja, um
modo de crítica da realidade atual através do exercício
imaginativo de uma sociedade inexistente.
More não era um revolucionário, no sentido de que não
queria alterar substancialmente a ordem social estabelecida na Inglaterra, mas estava
preocupado com as questões referentes a distribuição da renda no país, uma vez que boa
parte da população estava assolada pela fome e desprotegidos. Seu objetivo era criticar a
situação existente, para que medidas fossem tomadas para que as classes desfavorecidas
tivessem condições de vida melhor. Mas, sem que se chegasse a uma revolução.
O livro é contato como um longo relato a More, por um viajante chamado de Raphael
Nonsenso, o qual visitou a ilha de Utopia. Discorre-se sobre o papel da religião, onde
imperava a liberdade religiosa, por exemplo. Uma das principais preocupações é com a
questão da divisão do trabalho e distribuição dos bens. Assim, em Utopia preferia-se a
divisão dos bens entre todos, pois acreditava-se que isso garantiria a abundância para todos
e não a concentração de riquezas nas mãos de um grupo pequeno. Por meio da divisão do
trabalho, todos trabalhariam apenas o necessário para garantir o bem geral, pois do mesmo
modo que ninguém trabalharia para outra pessoa, ninguém poderia se esquivar da sua
responsabilidade. Em caso de haver produção além da necessidade de consumo, as horas de
trabalho seriam reduzidas. A esse respeito, diz Morus: “Se todos trabalhassem, a carga
horária diminui para todos” (MORE, 2006, p. 507).
(SANTOS, Wigvan Junior Pereira Dos. "Utopia"; Brasil Escola. Disponível em
<http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/utopia.htm>. Acesso em 26 de maio de 2016.)

Como era UTOPIA


- Eleições indiretas: elege-se um nível de - Alternância de funções para as pessoas:
administradores que elegem entre si um ninguém seria professor a vida toda, por
governante máximo; exemplo;
- Todos trabalham, para todos - Não há divisão de classes;
trabalharem menos; - Liberdade religiosa de culto;
- Os habitantes deveriam ter vida - Famílias sob o controle paternalista;
simples, sem luxo e ostentação; - Famílias não monogâmicas (de 10 até
- Exercício da vida em comum nas 16 adultos) > Cidades com no máximo
refeições; 600 famílias;
- Não haveriam bares ou locais de - Relações sexuais antes do casamento
entretenimento; seriam punidas, bem como o adultério;
- Os prazeres devem ser aqueles que divórcio permitido em casos especiais;
provem do espírito e da ausência de - Não há propriedade privada;

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doenças; e as viagens pela ilha;

Nicolau Maquiavel e técnica de conservação e conquista do poder


É um dos mais importantes pensadores de todos os tempos, especialmente para o
campo da política, por um motivo bastante simples: ele foi o mais agudo pensador a
dissociar a política da moral.
Enquanto Platão, Santo Agostinho e Thomas Morus, por exemplo, procuraram
estabelecer as características de um Estado ideal, Maquiavel (1469 – 1527) seguiu no sentido
oposto: ao invés de se preocupar com o que o Estado deveria ser, procurou desenvolver a
partir do que o Estado era de fato.
O pensamento maquiaveliano se baseia na análise da história, uma vez que Maquiavel
procurou aprender com as ações das grandes personalidades nos grandes momentos da
história, bem como na psicologia, já que quis compreender a natureza do ser humano na
história, e como este se comportou ao longo dela.
Essa "análise retrospectiva" dos fatos históricos levou Maquiavel à constatação de que,
ao longo de toda ela, as pessoas mostraram-se sempre as mesmos: ingratas, volúveis,
simuladoras, covardes e ávidas por lucro.

Principais características do pensamento de Maquiavel


1. A cidade se organiza a partir de dois pólos, o dos grandes, no intuito de
oprimir e o dos fracos, de não serem oprimidos e comandados;
2. Não acredita na ideia da existência de uma comunidade com vistas ao bem
coletivo e a justiça. A política não é a lógica do bem comum, mas sim, a lógica da
força com vistas à conquista e à manutenção do poder;
3. Não acredita na existência de um bom governo, encarnada na figura de um
governante virtuoso. A virtuosidade do governante esta em bem administrar e comandar o
Estado;
4. A liberdade credita a um governante sua legitimidade ou não.

“O Príncipe” (1513), de Maquiavel


O Príncipe, ou o governante, deve saber usar duas maneiras de lutar, uma mediante a
lei e a outra mediante a força. Assim, o governante deve possuir algumas características,
dentre delas:

Virtude (Virtú):
“Necessitando um príncipe, pois, saber bem empregar o animal deve este tomar
como modelos a raposa e o leão, eis que este não se defende dos laços e aquela
não tem defesa contra os lobos. É preciso, portanto, ser raposa para conhecer os
laços e leão para aterrorizar os lobos. Aqueles que agem apenas como leão, não
conhecem a sua arte.”
(Maquiavel, O príncipe.)

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Fortuna:
“Não ignoro que muitos têm tido e têm a opinião de que as coisas do mundo sejam
governadas pela fortuna e por Deus, de forma que os homens, com sua prudência, não
podem modificar nem evitar de forma alguma; por isso poder se-ia pensar não convir
insistir muito nas coisas, mas deixar-se governar pela sorte.”
(IBID, p.139)

Como governar o Estado


A armação interna da doutrina é este equilíbrio: o povo não se revolta, os grandes nada
intentam contra o príncipe porque o sabem estimado pelo povo; e povo são os muitos, os
grandes são os poucos. Ao desligar o poder político dos fundamentos não políticos abre-se a
possibilidade de discutir aspectos relativos ao soberano e a soberania. Disso seguem-se dois
fatores:
1. A existência de indivíduos: os burgueses não podiam invocar sangue família,
linhagem para explicar porque haviam mudado de classe social, mas só podiam invocar a si
mesmos como indivíduos cuja ação produziria mudança social.
2. A existência de conflitos entre indivíduos e grupos de indivíduos pela posse das
riquezas, cargos, postos e poderes anulava a pratica medieval de submissão natural do inferior
ao inferior, e a imagem da comunidade política indivisa.
IMPORTANTE

Maquiavel identifica duas formas de Estado: a república e o principado; estas


são livres ou submetidos a um príncipe, porém, trata exclusivamente sobre a
governabilidade e manutenção do principado. A princípio, Maquiavel se detém
na apresentação das formas pelas quais os principados podem ser conquistados
e fundados, devotando especial atenção para os principados novos, pois neste o
príncipe necessita passar dos primeiros passos negativos da conquista e
fundação, nos quais, ele é apenas um destruidor que quer impor sua lei, para a
positividade da conservação do poder.

Um discurso contra a opressão: La Boétie


“Outra voz renascentista, menos famosa e muito menos estudada que a de Maquiavel,
foi também importante para a construção do pensamento político moderno. Trata-se de La
Boétie, que escreveu um pequeno ensaio contra a tirania e em favor da liberdade, o “Discurso
da servidão voluntária”.
La Boétie afirma que compreende a existência da servidão involuntária, quando os
indivíduos são subjugados por meio da violência, da escravidão e da guerra; mas,
retoricamente, diz que não pode entender como uma multidão submete-se a um soberano, pois
nem a covardia pode explicar tal submissão.

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Sua astúcia está em perceber que a chave dessa
servidão está justamente nas relações de poder que se
estabelecem pelo tecido social, e não como uma imposição
do tirano a uma população submissa. Em sua perspectiva, o
lugar do poder não é o corpo do tirano, mas estende-se por
uma rede de nós sociais.. A dominação só é possível com a
participação direta dos próprios dominados.
Buscando as raízes da servidão voluntária, ele
conclui que a primeira delas é o costume: os homens
nascem súditos e por toda a vida aprendem a servir; não
veem, pois, outro caminho que não seja o da perpétua
servidão. É essa tradição em servir que sempre sustentou os
impérios historicamente conhecidos, e todos os movimentos
de que temos notícia contra este ou aquele tirano em nada
se opuseram a essa tradição. A segunda raiz da servidão
voluntária é a covardia, que decorre ela mesma da tradição:
acostumadas a viver sob o jugo do tirano, as pessoas se
tornam “covardes”, perdendo a capacidade de combater
aquele que as oprime.
E a terceira raiz, para além da força dos costumes e
da covardia que a tradição incute no povo, outro é o
sustentáculo real do tirano: seu séquito, que não é nada pequeno nem desprezível. La Boétie
demostra que ao redor do tirano cria-se uma rede de poder, uma verdadeira malha que enreda
as forças sociais, comprometendo com o tirano quase todos os membros da comunidade,
direta ou indiretamente. A rede de micropoderes e interesses cresce exponencialmente, pois
cada um coloca junto de si vários outros, por meio de favores e reciprocidades”. (Gallo, 2015,
adaptado, p. 189-190)

Idade Moderna: o CONTRATUALISMO


Com a nova visão histórica e filosófica provinda das mudanças econômicas e sociais
na Europa do século XVII e XVIII, já não era mais possível sustentar aquela velha concepção
da política como resultante da Natureza, da Razão ou de Deus. Era preciso, principalmente a
partir da obra “O Príncipe” de Maquiavel, conceber uma nova explicação teórica para o
surgimento da política, da propriedade privada e até mesmo da sociedade em si.
Os teóricos precisavam, portanto, explicar o que eram os indivíduos e por que lutavam
mortalmente uns contra os outros, além de precisarem oferecer teorias capazes de solucionar
os conflitos e as guerras sociais. Em outras palavras, foram forçados a indagar qual é a
origem da sociedade e da política. Por que indivíduos isolados formam uma sociedade? Por
que indivíduos independentes aceitam submeter-se ao poder político e às leis?
A resposta a essas duas perguntas conduz às ideias de Estado de Natureza e Estado
Civil.

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Thomas Hobbes (1588 – 1679)
O “Estado de Natureza” é a condição na qual os indivíduos vivem
isolados e em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos ou
“o homem lobo do homem”. Nesse estado, reina o medo e, principalmente,
o grande medo: o da morte violenta.
Para acabar com esse clima de "guerra eterna", os homens se
reuniram e celebraram um pacto social, através do qual abdicavam de parte
de sua liberdade, em favor do soberano, que passaria a ter plenos poderes para organizar a
sociedade e dirimir os conflitos, impondo aos indivíduos a sua decisão.
Hobbes foi, dessa forma, um ferrenho defensor do absolutismo. Para ele, apenas
dispondo de plenos poderes (já que fora o único a não participar do pacto), o soberano
poderia manter a paz e a ordem na sociedade. Poderia, se julgasse necessário, matar, mentir,
não manter a palavra empenhada, etc., sem dever quaisquer satisfações a quem quer que
fosse.

Contrato Social Estado civil

John Locke (1632 – 1704)


Para Locke, o “Estado de Natureza” é a condição na qual os seres
humanos vivem em perfeita liberdade e igualdade e também não vivem
sozinhos; o convívio entre essas pessoas, ao contrário do que pensava
Hobbes, não é de constante conflito, mas é regulado pela razão (razão de
cada um que os protege do prejuízo à vida, à saúde, à liberdade, e ao
próprio bem); assim, cada um é juiz em causa própria.
Locke acreditava que cabia ao Estado proteger a propriedade
privada, a ordem e a paz e que, na medida, em que não o estivesse fazendo
a contento, seria perfeitamente possível e lícito desfazer o pacto, já que o mesmo não cumpria
sua finalidade.
Locke representou o ideal político de uma classe, naquele momento em franca
ascensão no cenário político e econômico europeu: a burguesia. Locke, avesso ao ideal
político hobbesiano, foi o defensor por excelência da manutenção do poder político do
Parlamento inglês, em contraposição ao absolutismo do rei.

Contrato Social Estado civil

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Jean Jacques Rousseau (1712-1788)


Para Rousseau, o “Estado de Natureza” é a situação onde os
indivíduos vivem isolados pelas florestas, sobrevivendo com o que a
Natureza lhes proporciona. Esse estado de felicidade original, no qual os
humanos existem sob a forma do bom selvagem inocente, termina quando
alguém cerca um terreno e diz: “É meu”. A divisão entre o meu e o teu,
isto é, a propriedade privada, dá origem ao Estado de Sociedade. Para o
iluminista suíço, o estado de natureza seria, portanto, melhor do que a sociedade civil. Não
sendo, entretanto, possível voltar ao estado de natureza, busca desenvolver um sistema
político que minore as diferenças entre os seres humanos, criadas pela sociedade civil.
Rousseau referia-se, principalmente, ao falar em “diferenças”, da propriedade privada, para
ele, a mãe e a rainha de todas as misérias humanas.
Rousseau foi um iluminista. Seu pensamento influenciou toda a geração posterior de
poetas, romancistas e contistas. Seu ideal político serviu de mote para Revolução Francesa de
1789.

Contrato Social Estado civil

CONTRATUALISTAS
- discutem uma hipotética origem/condição natural do ser humano: “Estado de Natureza”;
- demonstram vantagens e desvantagens da condição original e dos sacrifícios da vida
política;
- negam a versão aristotélica do homem como naturalmente político: contrato (pacto) é
artificial.

HOBBES ROUSSEAU LOCKE

Estado de
Natureza

Contrato
Social

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Estado Civil

Soberano

Teoria dos TRÊS PODERES

A Teoria dos Três Poderes foi consagrada pelo pensador francês Charles de
MONTESQUIEU (1689 – 1755). Baseando-se na obra Política, do filósofo Aristóteles, e na
obra Segundo Tratado do Governo Civil, publicada por John Locke, Montesquieu escreveu
a obra O Espírito das Leis (1748), traçando parâmetros fundamentais da organização
política liberal.
A teoria da tripartição dos poderes políticos visa moderar o poder do Estado,
dividindo-o
em três: EXECUTIVO, JUDICIÁRIO E LEGISLATIVO. Um dos aspectos desse modelo
político é o Sistema de Freios e Contrapesos, em que cada poder se mantém autônomo.
PODER LEGISLATIVO: elabora as leis que regulam o Estado. Geralmente é
constituído por um parlamento, assembléia, câmara ou congresso.
PODER EXECUTIVO: executa as leis. No município, o poder executivo é
representado pelo prefeito. No estado pelo governador. O Presidente da República é o
principal representante do Poder Executivo.
PODER JUDICIÁRIO: ao poder judiciário cabe julgar, aplicando as leis aos casos
concretos em que há conflito de interesses.

A REVOLUÇÃO FRANCESA

No fim do século XVIII, a sociedade francesa


estava dividida em três estados: o primeiro estado,
formado pelo clero; o segundo estado, formado pela
nobreza; e o terceiro estado, formado por burgueses,
camponeses sem terra e os "sans-culottes", uma
camada heterogênea composta por artesãos, aprendizes
e proletários. O terceiro estado era explorado pelos
dois primeiros estados, que os sustentavam através de impostos e contribuições

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Trabalho e Revolução Industrial

Antes da Revolução Industrial, as mercadorias eram manufaturadas por artesãos ou


grupos de artesãos. Esses artesãos tinham controle sobre o processo produtivo, por exemplo,
conheciam as técnicas envolvidas em todas as etapas da manufatura de um produto.
Com a Revolução Industrial, as cidades europeias tornaram-se grandes centros
industriais, abrigando milhares de trabalhadores, muitos deles provenientes de localidades
rurais, que buscavam uma vida melhor na cidade. Os operários operavam máquinas que
pertenciam aos donos das fábricas. Homens, mulheres e até mesmo crianças trabalhavam em
péssimas condições, e o lucro era integralmente do patrão. Assim, o processo de produção
acabou por tornar-se alheio a esse trabalhador: ele não tinha controle sobre sua produção,
sobre a técnica, sobre o uso ou o lucro desses produtos.

Teorias Socialistas

No século XIX, os pensadores enfrentaram um grande desafio: compreender e


explicar as mudanças pelas quais passava a sociedade européia, desde as revoluções
burguesas na Inglaterra e na França.
Anarquismo: O anarquismo é contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja
livremente aceita. Ao contrário do que se pensa normalmente, o anarquismo não é uma
bagunça desordenada (não é ausência de ordem e sim ausência de coerção). O anarquismo
foi pensado como uma outra forma de organização social. Os anarquistas acreditam na
liberdade natural e na bondade natural dos seres humanos e em sua capacidade para viver
feliz em comunidade. Assim como Rousseau, os anarquistas associavam a origem da
desigualdade humana ao surgimento da sociedade, com suas propriedades privadas,
exploração do trabalho e ao Estado opressor.
“Afirmam dois grandes valores: a liberdade e a responsabilidade, em cujo nome propõem a
descentralização social e política, a participação direta de todos nas decisões da comunidade, a
formação de organizações de bairro, de fábrica, de educação, moradia, saúde, transporte, etc. Propõem
também que essas organizações comunitárias participativas formem federações nacionais e internacionais
para a tomada de decisões globais, evitando, porém, a forma parlamentar de representação e garantindo a
democracia direta.” (CHAUI, p. 408-409)

Socialismo Científico: Karl MARX (1818 – 1883)


“A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das
lutas de classes” (Manifesto Comunista, MARX & ENGELS, 1848). Amo e escravo, patrícios
e plebeus, senhores e servos, nobreza e burguesia, burguesia e proletariado. Em cada época há
uma classe de opressores e de oprimidos. A classe de oprimidos busca o poder (através da
revolução), enquanto os opressores tentam impedir a ascensão da classe oprimida (através de
diversos meios). Em sua época, a burguesia oprimia, e o proletariado era oprimido. Na obra
Manifesto Comunista, Marx e Engels prevêem o fim da burguesia como classe opressora, e a
ascensão do proletariado ao poder, que culmina com o Socialismo. No socialismo, não há
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necessidade de Estado, pois este só serve para garantir o domínio e a disseminação da
ideologia da classe dominante.

Os conceitos chave da teoria de Marx:


IDEOLOGIA: “conjunto de representações (ideias e valores) e normas e regras (de conduta)
que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que e como pensar, o que e como
valorizar, o que e como sentir, o que e como fazer” (CHAUI, adaptado). É um instrumento
de dominação que age por convencimento. Para Marx, a ideologia alimenta uma diferença
ilusória entre as classes, a fim de defender e manter os ideais e interesses da classe
dominante. A classe que está no poder, evidentemente quer permanecer nele. Para isso,
tem basicamente duas possibilidades: pela violência, usando-a contra todos aqueles que
lhe são contrários, mas em geral violência só gera mais violência, e esta pode acabar se
voltando contra ela própria (a classe dominante) através de revoltas populares; ou, pelo
convencimento, que faz com que o convencido aceite sua dominação sem percebê-la.

ECONOMIA: Em O Capital (cujo primeiro volume é publicado em 1867), Marx analisa o


processo de produção de mercadorias. Há duas condições necessárias para a produção de
mercadorias: a existência de mercado e a divisão social do trabalho. No sistema capitalista, a
venda dessas mercadorias gera lucro, segundo Marx, através da exploração do trabalhador.

MODO DE PRODUÇÃO: conjunto de práticas que constituem o modo como a sociedade


produz, em uma determinada época, seus meios de existência. Foram modos de produção no
passado: comunidade primitiva, asiático, escravista, feudal e atualmente, o capitalista. O
modo capitalista de produção tem como base a compra e a venda da força de trabalho. O
trabalhador vende sua força de trabalho, e é pago um salário. No entanto, a força de trabalho
gera mais valor
do que custa ao empregador. Esse excedente é a MAIS-VALIA, trabalho não pago que é
apropriado pelo empregador sob a forma de lucro.

MAIS-VALIA: diferença da riqueza produzida pelo trabalhador e o valor pago a ele. Cada
mercadoria tem um valor de uso (medido por sua utilidade direta) e um valor de troca
(medido pelo tempo e esforço necessários para produzir uma mercadoria). Ao trabalhador não
é pago o valor integral da produção de uma mercadoria, a diferença entre o valor pago ao
trabalhador e o valor vendido é chamado MAIS-VALIA.

ALIENAÇÃO:

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Referências Bibliográficas:
Silva, Kariane Marques da; Santos, Susie Kovalczyk. Pré-Universitário Popular Alternativa:
Apostila II. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, Pró Reitoria de Extensão,
2015.
COELHO, T. O que é utopia?
HABERMAS, J. Teoria e práxis
GALLO, S. Filosofia – Experiência do pensamento

EXERCÍCIOS SOBRE FILOSOFIA POLÍTICA

01. Leia atentamente as sentenças abaixo e assinale a alternativa que corresponda ao conjunto
de valores correto:
( ) Platão propõe em seu livro A república um modelo de educação que possibilite a poucos o
acesso à educação, o acesso a educação era determinado pela condição social em que o
individuo se encontrava. Por conseguinte, Platão também não questionava a escravidão.
( ) A concepção de política de Platão é aristocrática, porque supõe uma massa de pessoas
incapazes de dirigir a cidade e apenas uma pequena parcela de sábios, que estariam aptos para
exercer o poder político. Isso significava que Platão não acreditava na democracia.
( ) Aristóteles afirmava que o homem é por natureza um ser social, pois, para sobreviver, não
pode ficar completamente isolado de seus semelhantes.
( ) Aristóteles entende que a cidade tem precedência sobre cada um dos indivíduos, uma vez
que cada indivíduo isoladamente não é auto-suficiente, enquanto a falta de um indivíduo não
destrói a cidade. “o todo deve necessariamente ter precedência sobre as partes”. Neste sentido
ainda, para Aristóteles, a ética é entendida como uma parte da política. A ética se dirige ao
bem individual enquanto a política se dirige ao bem comum.
a) F - V - F - V.
b) V - F - F - F.
c) F - V - V - V.
d) F - F - V- V.
e) V - V - F - F.

02. (ENEM 2014)


TEXTO I
Olhamos o homem alheio às atividades públicas não como alguém que cuida apenas de seus
próprios interesses, mas como um inútil; nós, cidadãos atenienses, decidimos as questões
públicas por nós mesmos na crença de que não é o debate o empecilho à ação, e sim o fato de
que não se estar esclarecido pelo debate antes de chegar a hora da ação.

TEXTO II
Um cidadão pode ser definido por nada mais nada menos que pelo direito de administrar a
justiça e exercer funções públicas; algumas destas, todavia, são limitadas quanto ao tempo de
exercício, de tal modo que não podem de forma alguma ser exercidas duas vezes pela mesma
pessoa, ou somente podem sê-lo depois de certos intervalos e tempo prefixados.

Comparando os textos I e II, tanto para Tucídides (no século V a.C.) quando para Aristóteles
(no século IV a.C.) a cidadania era definida pelo (a)

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a) Prestígio social
b) Acúmulo de riqueza.
c) Participação política.
d) Local de nascimento.
e) Grupo de Parentesco.

03. Na Idade Média, com o desenvolvimento do cristianismo e o esfacelamento do Império


Romano, a Igreja se consolidou. Em relação à teoria do “direito divino de governar”, é
possível afirmar que:
I. O poder é teocrático, isto é, pertence a Deus e dele vem aos homens por ele escolhidos para
representá-lo.
II. O governante não representa os governados, mas representa Deus perante os governados.
III. O bom governante seria aquele que possuísse as virtudes cristãs e que as implementasse
no exercício do poder político.
Está(ão) correta(s):
a) apenas I.
b) apenas I e II.
c) apenas II e III.
d) apenas III.
e) I, II e III.

04. (UFSM Peies – 2006) “Todavia, como é meu intento escrever coisa útil para os que se
interessam, pareceu-me mais conveniente procurar a verdade pelo efeito das coisas, do que
pelo que delas se possa imaginar. E muita gente imaginou repúblicas e principados que nunca
serviram nem jamais foram reconhecidos como verdadeiros. Vai tanta diferença entre como se
vive e o modo por que se deveria viver, que quem se preocupar com o que se deveria fazer em
vez do que faz aprende antes a ruína própria, do que o modo de se preservar.” (O Príncipe,
Maquiavel)
Nessa passagem, Maquiavel mostra que o domínio das ações humanas, no qual está
incluída a política, deve ser concebido sob uma perspectiva realista. Sobre essa maneira de
conceber a política, é possível afirmar:
I – A política deve sempre ser pensada a partir de modelos ideais e da busca de soluções
definitivas.
II – A política deve valorizar as experiências e os acontecimentos.
III – Concebe-se que a política deve se regular pelo modo como vivemos e não como
deveríamos viver.
IV – Defende-se que a política deve ser orientada por valores universais e crenças sobre como
deveria ser a vida em sociedade.
Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s):
a. I e II apenas
b. I, II e III apenas
c. II e III apenas
d. III e IV apenas
e. IV apenas

05. (UFSM) O renascentista Nicolau Maquiavel escreveu em “O Príncipe” que “em todas as
cidades de pode encontrar esses dois partidos antagônicos, que nascem do desejo popular de
evitar a opressão dos poderosos, e da tendência destes últimos para comandar e oprimir o
povo”. De acordo com a passagem citada, é correto afirmar:

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I – As cidades não são comunidades homogêneas, desprovidas de antagonismo e conflitos
cuja origem é o desejo de não ser oprimido e a tendência à opressão.
II – o governante deve decidir por uma das tendências.
III – quem governa não deve considerar antagonismos e conflitos.
IV – “evitar a opressão” e “comandar e oprimir” são desejos e tendências que fazem parte da
cidade
Estão corretas:
a. Apenas I e III
b. Apenas I e IV
c. Apenas II e III
d. Apenas II e IV
e. Apenas III e IV

06. (ENEM 2013) “Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido
que amado. Responda-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-
las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque
dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores,
covardes e ávidos de lucro, e quanto lhes fazem bem são inteiramente teus, oferecem-te o
sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas
quando ele chega, revoltam-se.” (MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand,
1991.)
A partir da analise histórica do comportamento humano em suas relações socias e
políticas, Maquiavel define o homem como um ser
a) Munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros.
b) Possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política.
c) Guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes.
d) Naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portanto seus direitos naturais.
e) Sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares.

07. “A ideia do contrato social tenta responder à questão: Por que obedecer ao Estado? Afinal
suas leis, impostos e polícia limitam a liberdade individual. Mas considere a alternativa: Sem
leis e sem Estado, você poderia fazer o que quisesse. Os outros também poderiam fazer com
você o que quisessem.” (Filosofia, Stephen Law)
A situação alternativa considerada no texto corresponde ao que os principais filósofos
políticos do período moderno chamam de:
a) Estado de anarquia
b) Estado de natureza
c) Estado liberal
d) Estado revolucionário
e) Luta de classe

08. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o Estado de natureza em Hobbes,
considere as afirmativas a seguir:
I. Todos os homens são igualmente vulneráveis à violência diante da ausência de uma
autoridade soberana que detenha o uso da força.
II. Em cada ser humano há um egoísmo na busca de seus interesses pessoais a fim de manter
a própria sobrevivência.
III. A competição e o desejo de fama passam a existir nos homens quando abandonam o
Estado de natureza e ingressam no Estado social.

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IV. O homem é naturalmente um ser social, o que lhe garante uma vida harmônica entre
seus pares.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a. I e II
b. I e IV.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.

09. Para J. J. Rousseau, “A passagem do estado de natureza para o estado civil determina no
homem uma mudança muito notável, substituindo na sua conduta o instinto da justiça e
dando às suas ações a moralidade que antes lhe faltava”. (Do contrato social, São Paulo:
Abril Cultural, 1973, p. 36, Coleção Os Pensadores)
Nessa passagem do estado de natureza para o estado civil, ocorre que o homem:
I – perde a liberdade natural e o direito ilimitado, mas ganha a liberdade civil e
a propriedade de tudo o que possui.
II – mantém a liberdade natural e o direito irrestrito e ainda ganha uma moralidade
muito particular guiada pelo seu puro apetite.
III – mantém a liberdade natural e o direito ilimitado, mas abdica da liberdade civil
em favor da liberdade moral.
Está(ao) correta(s):
a) I apenas
b)II apenas
c) III apenas
d) I e II apenas
e) I e III apenas

10. (UFSM 2012 PS3) "Sem leis e sem Estado, você poderia fazer o que quisesse. Os outros
também poderiam fazer com você o que quisessem. Esse é o "estado de natureza" descrito por
Thomas Hobbes, que, vivendo durante as guerras civis britânicas (1640-60), aprendeu em
primeira mão como esse cenário poderia ser assustador. Sem uma autoridade soberana não
pode haver nenhuma segurança, nenhuma paz. (Fonte: LAW, Stephen. Guia Ilustrado Zahar:
Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2008).
Considere as afirmações:
I. A argumentação hobbesiana em favor da autoridade soberana, instituída por um pacto,
representa inequivocadamente a defesa de um regime político monarquista.
II. Dois dos grandes teóricos sobre o estado de natureza”, Hobbes e Rousseau, partilham a
convicção de que o afeto predominante nesse “estado” é o medo.
III. Um traço comum da filosofia política moderna é a idealização de um pacto que
estabeleceria a passagem do estado de natureza para o estado de sociedade.
Está(ão) correta(s)
a) apenas I.
b) apenas II.
c) apenas III.
d) apenas I e II.
e) apenas II e III.

11. O “Contrato Social”, escrito em 1762, por Jean-Jacques Rousseau, inspirou nos
revolucionários franceses as ideias de soberania popular e de igualdade de direitos.

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“A soberania não pode ser representada pela mesma razão por que não pode ser alienada;
consiste essencialmente na vontade geral e a vontade absolutamente não se representa. É ela
mesma ou é outra, não há meio termo. Os deputados do povo não são, nem podem ser seus
representantes, não passam de comissários seus, nada podendo concluir definitivamente. É
nula toda a lei que o povo diretamente não retificar. O povo inglês pensa ser livre e muito se
engana, pois só o é durante a eleição dos membros do parlamento; uma vez estes eleitos, ele
é escravo, não é nada. Durante os breves momentos de sua liberdade, o uso que dela faz
mostra que merece perdê-la.”
Com base no texto, pode-se afirmar:
I – a soberania pode ser representada, porque é uma vontade geral
II – a vontade não pode ser representada
III – somente os deputados podem representar a vontade do povo
IV – sem a aprovação e correção do povo, as leis perdem a sua validade.
Estão corretas:
a. Apenas I e IV
b. Apenas II, III e IV
c. Apenas II e IV
d. Apenas I e III
e. Apenas II e III

12. (ENEM 2013) “Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o
poder seja contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo
dos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de
executar as resoluções públicas e o poder de julgar os crimes ou as divergências dos
indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma
independente para a efetivação da liberdade, sendo que esta não existe se uma mesma pessoa
ou grupo exercer os referidos poderes concomitantemente.” (MONTESQUIEU, B. Do espírito
das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979)
A divisão e a independência entre os poderes são condições necessárias para que possa
haver liberdade em um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo politico em que haja
a) Exercício de tutela sobre atividades jurídicas e politicas.
b) Consagração do poder politico pela autoridade religiosa.
c) Concentração do poder nas mãos de elites técnico-cientificas.
d) Estabelecimento de limites dos atores públicos e às instituições do governo.
e) Reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de um governante eleito.

13. Leia o fragmento abaixo, de Karl Marx.


Com o próprio funcionamento, o processo capitalista de produção reproduz, portanto, a
separá-lo entre a fora de trabalho e as condições de trabalho, perpetuando, assim, as condições
de exploração do trabalhador. Compele sempre o trabalhador a vender sua forca de trabalho
para viver, e capacita sempre o capitalista a comprá-la. (MARX, K. O capital, Livro I, O
processo de produção do Capital [Vol. II]. Trad. De Reginaldo Santana. 11.ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1987, p. 672. )
De acordo com o filosofo alemão, a condição do trabalhador na economia capitalista
clássica é:
I. De realização plena da sua capacidade produtiva, alcançando a autonomia financeira e a
satisfação dos valores existenciais tão almejados pela humanidade, desde os primórdios da
historia.

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II. De alienação, pois os trabalhadores possuem apenas sua capacidade de trabalhar, que e
vendida ao capitalista em troca do salário, por isso, a produção não pertence ao trabalhador,
sendo-lhe estranha.
III. De superação da sua condição de ser natural para tornar-se ser social, liberto graças
divisão do trabalho, que lhe permite o desenvolvimento completo de suas habilidades naturais
na fabrica.
IV. De coisa, isto é, o trabalhador é reificado, tornando-se mercadoria, cujo preço e salário, ao
passo que as coisas produzidas pelo trabalhador, na ética capitalista, parecem dotadas de
existência própria.
Assinale a alternativa que apresenta as assertivas corretas.
a) II e IV
b) I e II
c) II e III
d) III e IV
e) I, II e IV

14. (ENEM 2013) “Na produção social, os homens entram em determinadas relações
indispensáveis e correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças
materiais de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da
sociedade – fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e
ao qual correspondem determinadas formas de consciência social.” (MARX, K. Crítica da
Economia Política. In: MARX, K; ENGELS, F. Textos 3. São Paulo: Edições Sociais, 1977).
Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz
com que
a) O proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia.
b) O trabalho se constitua como o fundamento real da produção material.
c) A consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano.
d) A autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico.
e) A burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe.

15. (ENEM 2015) A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do
espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestadamente mais forte de
corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em
conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que
um deles possa com base nela reclamar algum benefício a que outro não possa igualmente
aspirar. (HOBBES. T. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003.)
Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando dois homens desejavam
o mesmo objeto, eles
a) entravam em conflito.
b) recorriam aos clérigos.
c) consultavam os anciãos.
d) apelavam aos governantes.
e) exerciam a solidariedade.

16. (ENEM 2015) O que implica o sistema da pólis é uma extraordinária preeminência da
palavra sobre todos os outros instrumentos do poder. A palavra constitui o debate
contraditório, a discussão, a argumentação e a polêmica. Torna-se a regra do jogo intelectual,
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assim como do jogo político. (VERNANT, J.P. As origens do pensamento grego. Rio de
Janeiro: Bertrand, 1992, adaptado).
Na configuração política da democracia grega, em especial a ateniense, a ágora tinha
por função
a) agregar os cidadãos em torno de reis que governavam em prol da cidade.
b) permitir aos homens livres o acesso às decisões do Estado expostas por seus
magistrados.
c) constituir o lugar onde o corpo de cidadãos se reunia para deliberar sobre as
questões da comunidade.
d) reunir os exércitos para decidir em assembleias fechadas os rumos a serem tomados
em caso de guerra.
e) congregar a comunidade para eleger representantes com direito a pronunciar-se em
assembleias.

17. (ENEM 2015) Ora, em todas as coisas ordenadas a algum fim, é preciso haver algum
dirigente, pelo qual se atinja diretamente o devido fim. Com efeito, um navio, que se move
para diversos lados pelo impulso dos ventos contrários, não chegaria ao fim do destino, se por
indústria do piloto não fosse dirigido ao porto; ora, tem o homem um fim, para o qual se
ordenam toda a sua vida e ação. Acontece, porém, agirem os homens de modos diversos em
vista do fim, o que a própria diversidade dos esforços e ações humanas comprova. Portanto,
precisa o homem de um dirigente para o fim. (AQUINO. T. Do reino ou do governo dos
homens: ao rei do Chipre. Escritos políticos de Santo Tomás de Aquino. Petrópolis: Vozes,
1995, adaptado).
No trecho citado, Tomás de Aquino justifica a monarquia como o regime de governo
capaz de
a) refrear os movimentos religiosos contestatórios.
b) promover a atuação da sociedade civil na vida política.
c) unir a sociedade tendo em vista a realização do bem comum.
d) reformar a religião por meio do retorno à tradição helenística.
e) dissociar a relação política entre os poderes temporal e espiritual.

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Unidade V

Por que é arte? O que é belo?

“Comova-me, surpreenda-me, dilacere-me, faça-me


tremer, chorar, vibrar; Encha-me de indignação.”
Denis Diderot, Ensaios sobre a Pintura.

Antes de tudo, iniciemos com a investigação sobre o tema deste capitulo, a saber,
filosofia da arte ou a estética. Verificando, portanto, a etimologia dessa palavra (estética).
Essa palavra vem do grego e significa “perceptível pelos sentidos”. Seu uso, no entanto, é
utilizado especificamente para referir-se ao que pode ser percebido como: belo, agradável,
bonito, harmonioso, isso claro, pelos sentidos. Costumamos dizer que algo é estético, quando
causa uma sensação agradável, aprazível de beleza. A palavra “estética” também faz
referência uma área específica de estudos filosóficos, definida principalmente pelo filósofo
alemão Kant (1724 – 1804) como o estudo das condições da percepção pelos sentidos.
Contudo, foi utilizado primeiramente pelo filósofo Alexander Baumgarten, pois foi o primeiro
a utilizar o termo referindo – se a teoria do belo e das suas manifestações através da arte.
Desse modo, sendo a estética considerada o estudo da teoria do belo, ela constitui
também um campo de investigação filosófica que almeja alcançar certo tipo específico de
conhecimento, a saber, aquele que é perceptível pelos sentidos. E assim, torna-se o oposto do
conhecimento considerado lógico-matemático, porque parte da razão para desenvolver certo
conhecimento “inteligível”, conforme o ideal de saber proposto pelo filósofo francês René
Descartes.

Sobre a ARTE e o BELO


O que é uma obra de arte? Como distinguir o que e arte do que não é arte? Por que,
por exemplo, as pinturas rupestres da pré-história são reconhecidas como obras de arte,
enquanto se dá valor menor que o de grafites a outras representações feitas pelos homens?
Para começarmos nossa discussão sobre arte, é preciso mencionar que há uma concordância
em geral em que uma obra de arte é fato ou produto do ser humano, ao passo que um objeto
uma imagem podem provocar admiração, uma reação estética, mas não são arte. Portanto,
embora uma obra de arte seja necessariamente um artefato, isso não faz dela necessariamente

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arte. Algumas pessoas, por exemplo, recusam-se a chamar determinados quadros, ou obras de
cerâmicas de arte. Estamos diante, portanto, do pressuposto de que a arte não pode satisfazer a
um propósito universal, utilitário, não pode ser criada primordialmente para uso prático. Pois,
arte indica algo que é valorizado por si mesmo, não por sua utilidade.
O ser humano pode fazer juízos de fato (dizer o que são as coisas) e juízos de valor,
isto é julgamos se as coisas são feias ou bonitas, se são boas ou ruins. Entre os juízos de valor,
podemos distinguir o juízo moral e o juízo estético. Como já foi mencionado, o que nos
importa por ora, é o juízo estético. Mas, o que é belo, afinal? De forma geral, a maioria das
pessoas acreditam que belo é algo que nos agrada, que nos satisfaz os sentidos que nos
proporciona prazer espiritual. No entanto, essas mesmas pessoas não chegariam a um
consenso sobre a beleza de determinado objeto. Tanto que já se tornou comum a seguinte
frase “gosto não se discute”. Os próprios filósofos não pensam de maneira igual do que seja a
beleza. Para alguns deles, a beleza está objetivamente nas coisas. Para outros, no entanto, é
apenas um juízo subjetivo.
A arte pode ter várias definições, entre elas destacamos três segundo, Susanne Langer
(1895-1985), filósofa estadunidense para quem a arte e entendida como:
1 - Prática de criar: a arte é produto do fazer humano. Deve combinar a habilidade
desenvolvida do trabalho com a imaginação;
2 - Formas perceptíveis: a arte concretiza-se em formas capazes de serem percebidas por
nossa mente. Essas formas podem ser estáticas, como a arquitetônica, ou dinâmica, como a
música, dança. Qualquer seja sua forma de expressão, cada obra de arte é sempre um modo
subjetivo, com identidade própria.
3 - Expressão de sentimento humano: A arte nesse contexto é sempre a manifestação do
sentimento humano. Sentimentos de alegrias, esperança, agonia, ou decepção diante da vida.
Dessa forma, a principal função da arte seria a de objetivar os sentimentos humanos de modo
que possamos contemplá-lo e entendê-lo.

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René, Magritte, Les amants (1928) – Muitas vezes a obra de arte é um enigma a ser decifrado.

Os Filósofos e a Arte
Alguns filósofos da tradição ocidental preocuparam-se com a arte. Platão via a arte
como tentativa de copiar a realidade. Todavia, Platão acreditava que os objetos que nossos
sentidos revelam são cópias de uma forma ideal ou modelo. A cadeira, por exemplo, é uma
cópia de uma forma ideal ou modelo. A cadeira foi feita por um carpinteiro e, portanto, é uma
cópia de um conceito ideal de cadeira. Dessa forma, a arte estaria afastada da realidade, e por
isso, Platão a considerava inferior e a condena por ser “mimese”. Aristóteles, no entanto,
possui uma obra que como nome “Arte poética” cujo conteúdo trata-se sobre as artes da
palavra falada e escrita, do canto e da dança: a poesia e o teatro (tragédia e comédia). O
vocábulo poética é a tradução poiesis, portanto, fabricação. A arte poética estuda as obras de
arte como fabricação de seres, ações e gestos artificiais, isto e, produzidos pelos artistas.
Em suma, Aristóteles diz que arte tem por finalidade a purificação das paixões e da
alma, ou seja, a catarse. No cinema, ao assistir uma cena, ou mesmo, no final de um filme que
provoque "descargas de sentidos e emoções”, por exemplo, pode ser verificado a catarse
ocorrer. Isso é muito comum no teatro, diante de uma obra de arte, ou de uma música.
Portanto, compreendemos desde Aristóteles por que Platão condenava a arte em alguns
aspectos, mas também por esta desencadear certos sentimentos e emoções que de certo modo
faça com que não utilizemos nossas faculdades mentais, como a racionalidade. Aristóteles,
todavia, interpreta de modo diferente, dizendo que a arte nos descarrega, não nos
prejudicando, mas recuperando-nos.
Nietzsche disse que a arte pode dar significado a existência e não lhe agrada a
tentativa Platônica de dar a arte um propósito moral. Ao invés de compreensão, ela é uma
combinação da sensação de desordem cósmica e paixão associada ao deus Dionísio com a
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beleza inspirada por Apolo. Isso, acreditava ele, é o que caracteriza as grandes tragédias
gregas e também a música. Nietzsche, portanto, influenciou a arte como expressão no século
XIX e a visão da arte, assim pode estra ligada às emoções e aos sentimentos do artista ou a
reação emocional que ele pretende provocar no observador.
“Apenas os artistas, especialmente os do teatro, dotaram os homens de olhos e
ouvidos para ver e ouvir, com algum prazer, o que cada um é, o que cada um
experimenta e o que quer; apenas eles nos ensinam a estimar o herói escondido em
todos os seres cotidianos, e também a arte de olhar a si mesmo como herói, à
distância e como que simplificado e transfigurado – a arte de se “por em cena” para
si mesmo”. NIETZSCHE, F. A gaia ciência. São Paulo: Companhia das Letras,
2001. P. 106.

Arte e indústria Cultural

Analisando a arte e cultura no século XX, os filósofos Adorno e Horkheimer criaram o


conceito de “indústria cultural”, que apareceu pela primeira vez no livro Dialética do
conhecimento, publicado em 1947. O pensamento produzido pela Escola de Frankfurt,
denominado a teoria crítica, exerceu muita influência sobre a filosofia e nas ciências sociais.
Para Walter Benjamin, a natureza da obra de arte transforma-se radicalmente com a invenção
das técnicas de reprodução mecânicas por volta d século XIX. Se antes uma pintura ou uma
escultura eram objetos únicos, com a reprodução fotográfica elas passam a poder ser
reproduzidas em massa transformando, dessa forma, a relação do público com a arte; Antes de
certas invenções como, por exemplo, a fotografia as pessoas só poderiam presenciar certas
obras indo aos museus. Com a reprodução técnica, sua imagem ganha uma circulação
universal. Com isso, a arte deixa de ser acessível a poucos. E, apesar de a pintura nunca
perder seu caráter original, sua autoridade é diminuída.
Com a música não ocorreu diferente. A partir do momento em que foi gravada tornou-
se acessível à maioria das pessoas, sem que par isso as pessoas disponibilizem um tempo para
irem em um concerto. Por outro lado, com a invenção da fotografia e do cinema, inaugurou-se
uma nova forma de arte. Benjamin, na década de 1930, nem sequer poderia imaginar aonde
chegaríamos décadas depois com as tecnologias digitais, que potencializam ainda mais a arte.
Para ele, a possiblidade de reprodução contém um aspecto positivo, a
“democratização” o acesso a arte, que deixava de ser um certo privilégio da elite. Já Adorno
e Horkheimer acentuaram o caráter problemática dessa democratização, exatamente por ela

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vir acompanhada de uma massificação das artes. Eles afirmaram, portanto, que a obra de arte
reproduzida poderia ser transformada em apenas mais uma mercadoria pela lógica do
capitalismo e da produção em massa. E, então, como mercadoria ela deixaria de ser arte. Você
em algum momento já pensou sobre tudo isso? Gostaríamos de saber sua opinião:

Arte como criação: um pouco de Deleuze

As pessoas quando entram em contato com objeto artístico (ou a maioria delas) sente-
se afetada por ela com sensações boas ou ruins. Por isso, Deleuze e Guattari, quando falam da
potência criativa da arte, dizem que aquilo que o artista cria, a obra de arte, é um arsenal de
sensações. A obra traz em si as sensações do artista, sendo por isso capaz de provocar novas
sensações nas pessoas. É de relevância mencionar que os sentimentos da pessoa que usufrui a
obra de arte não são necessariamente os mesmo do artista Cada um tem suas próprias
percepções, uma mesma obra pode provocar muitas interpretações e reações diferentes. Frente
ao contato com a obra abaixo de Kandinsky, por exemplo, que pintou jogando tinta sobre a
tela e formando composições abstratas para algumas pessoas pode desenvolver sensações
magníficas, mas para outros pode significar borrões não sincronizados.

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Fuga, Kandinsky,1914. Óleo sobre a tela.

Referências Bibliográficas:

COTRIM, Gilberto. Fundamentos de filosofia. Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.


CHAUÍ, Marilena. Iniciação à filosofia. Ed. São Paulo, 2010.
GALLO, Silvio. Filosofia experiência do pensamento, 2014.
DELEUZE, G. A filosofia crítica de Kant. Lisboa, 1994.
_________. O anti- Édipo. São Paulo, 2010.
FOULCAULT, Michel. As palavras e as coisas. Martins Fontes, 2007.
NIETZSCHE, F. Além do bem e do mal: prelúdio de uma filosofia do futuro. São Paulo,
1992.
NIETZSCHE, F. A gaia ciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2001

QUESTÕES SOBRE ARTE E INDÚSTRIA CULTURAL

01 (ENEM 2014) Sou uma pobre velha mulher,


Muito ignorante, que nem sabe ler.
Mostraram-me na igreja da minha terra
Um Paraíso com harpas pintado
E o inferno onde fervem almas danadas,
Um enche-me de júbilo, o outro me aterra.
Os versos do poeta francês François Villon fazem referência às imagens presentes nos
templos católicos medievais. Nesse contexto, as imagens eram usadas com o objetivo de:
a) Refinar o gosto dos cristãos.
b) Incorporar ideais heréticos.
c) Educar os fiéis do olhar.
d) Divulgar a genialidade dos artistas católicos.
e) Valorizar esteticamente os templos religiosos.

02 (UFSM 2014 PS2) A obra apresentada foi elaborada pelo artista brasileiro Vik
Muniz. Ele utiliza em suas obras alimentos, como açúcar, sal, geleia, chocolate, xarope,
materiais recicláveis e sucata. Tais materiais são empregados para produzir obras belas
e alcançar pessoas comuns, excluídas do circuito cultural tradicional. Considerando
essas informações, é correto afirmar que o prazer estético derivado da contemplação do
belo tem, para artistas como Vik Muniz, uma função
a) metafísica, através da neutralização do sofrimento ou apaziguamento do absurdo da vida.
b) sociopolítica, despertando inquietação e reconhecimento de problemas associados à
vida cotidiana.
c) de mimese ou imitação da realidade, visando a apreender a perfeição e harmonia das
formas naturais.
d) estético-formal, porque compete ao artista manifestar a beleza sem nenhum tipo de
comprometimento com causas externas.
e) socioeconômica, uma vez que a arte em geral tem compromisso com processos de geração
de renda e inserção social.

28 -(UFUB) Quanto ao conceito de indústria cultural, é correto afirmar que:


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I – A indústria cultural produz bens culturais como mercadorias.


II – O objetivo da indústria cultural é estimular a capacidade crítica dos indivíduos.
III – A indústria cultural cria a ilusão de felicidade no presente e elimina a dimensão crítica.
IV – A indústria cultural ocupa o espaço de lazer do trabalhador sem lhe dar tempo para
pensar sobre as condições de exploração em que vive.
Assinale a alternativa correta:
a) II, III e IV estão corretas.
b) I, II e III estão corretas.
c) I, III e IV estão corretas.
d) I, II e IV estão corretas.
e) II e III estão corretas.

30 - “A indústria cultural vende Cultura. Para vendê-la, deve seduzir e agradar o consumidor.
Para seduzi-lo e agradá-lo, não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar, fazê-lo ter
informações novas que perturbem, mas deve devolver-lhe, com nova aparência, o que ele
sabe, já viu, já fez. A ‘média’ é o senso-comum cristalizado que a indústria cultural devolve
com cara de coisa nova [...]. Dessa maneira, um conjunto de programas e publicações que
poderiam ter verdadeiro significado cultural tornam-se o contrário da Cultura e de sua
democratização, pois se dirigem a um público transformado em massa inculta, infantil,
desinformada e passiva”. (CHAUÍ, Marilena.Filosofia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000. p. 330-
333.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre meios de comunicação e indústria
cultural, considere as afirmativas a seguir.
I. Por terem massificado seu público por meio da indústria cultural, os meios de comunicação
vendem produtos homogeneizados.
II. Os meios de comunicação vendem produtos culturais destituídos de matizes ideológicos e
políticos.
III. No contexto da indústria cultural, por meio de processos de alienação de seu público, os
meios de comunicação recriam o senso comum enquanto novidade.
IV. Os produtos culturais com efetiva capacidade de democratização da cultura perdem sua
força em função do poder da indústria cultural na sociedade atual.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e II.
b) I e III.
c) II e IV.
d) I, III e IV.
e) II, III e IV.

33- (UEM) A expressão indústria cultural foi empregada pela primeira vez no livro Dialética
do Esclarecimento, escrito por Horkheimer e Adorno, filósofos de tendência marxista
pertencentes à Escola de Frankfurt. Designa-se com essa expressão uma cultura produzida em
série, para o mercado de consumo em massa, na qual a realização cultural deixa de ser um
instrumento de crítica do conhecimento para transformar-se em uma mercadoria qualquer cujo
valor é, antes de tudo, monetário. Assinale o que for correto.

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01) A origem da indústria cultural pode ser encontrada na prática dos mecenas,
particularmente italianos, que financiavam, durante o Renascimento, a produção das grandes
obras de arte.
02) Na indústria cultural, o consumidor não é rei, como ela gostaria de o fazer crer, o
consumidor não é o sujeito da produção cultural, mas seu objeto.
04) A indústria cultural eleva o nível cultural da maioria da população e aprimora a apreciação
da qualidade estética do universo das artes.
08) A indústria cultural é expressão da ideologia capitalista; sob seu poderio, as obras de arte
foram esvaziadas de seu caráter criador e crítico, alienaram-se para tornarem-se puro
entretenimento, isto é, objetos de consumo para um espectador cuja ausência de reflexão o
torna passivo.
16) A partir da segunda revolução industrial no século XIX, as artes usufruem uma fase de
produção autônoma; com o advento da indústria cultural, tornam-se dependentes das
necessidades mercadológicas do capital.
Soma: _______

34- (UEL – 2003) “Tudo indica que o termo ‘indústria cultural’ foi empregado pela primeira
vez no livro Dialética do esclarecimento, que Horkheimer [1895-1973] e eu [Adorno, 1903-
1969] publicamos em 1947, em Amsterdã. (...) Em todos os seus ramos fazem se, mais ou
menos segundo um plano, produtos adaptados ao consumo das massas e que em grande
medida determinam esse consumo”. (ADORNO, Theodor W. A indústria cultural. In: COHN,
Gabriel (Org.). Theodor W. Adorno. São Paulo: Ática, 1986. p. 92.)
Com base no texto acima e na concepção de indústria cultural expressa por Adorno e
Horkheimer, é correto afirmar:
a) Os produtos da indústria cultural caracterizam-se por ser a expressão espontânea das
massas.
b) Os produtos da indústria cultural afastam o indivíduo da rotina do trabalho alienante
realizado em seu cotidiano.
c) A quantidade, a diversidade e a facilidade de acesso aos produtos da indústria cultural
contribuem para a formação de indivíduos críticos, capazes de julgar com autonomia.
d) A indústria cultural visa à promoção das mais diferentes manifestações culturais,
preservando as características originais de cada uma delas.
e) A indústria cultural banaliza a arte ao transformar as obras artísticas em produtos voltados
para o consumo das massas.

35- (UEM – Verão 2008) Leia o texto a seguir: “A imprensa, o rádio, a televisão, o cinema
são indústrias ultra-ligeiras. Ligeiras pelo aparelhamento produtor, são ultra-ligeiras pela
mercadoria produzida: esta fica gravada sobre a folha do jornal, sobre a película
cinematográfica, voa sobre as ondas e, no momento do consumo, torna-se impalpável, uma
vez que esse consumo é psíquico. Entretanto, essa indústria ultraligeira está organizada
segundo o modelo da indústria de maior concentração técnica e econômica. No quadro
privado, alguns grandes grupos de imprensa, algumas grandes cadeias de rádio e televisão,
algumas sociedades cinematográficas concentram em seu poder o aparelhamento (rotativas,
estúdios) e dominam as comunicações de massa. No quadro público, é o Estado que assegura
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a concentração.” (MORIN, Edgard. “A indústria cultural” In: FORACCHI, Marialice


Mencarini & MARTINS, José de Souza (org.).Sociologia e Sociedade: leituras de introdução
à sociologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1977, p.300).
Tendo como referência o texto e seus conhecimentos sobre a temática da “indústria
cultural”, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).
01) A indústria cultural consegue conjugar organização burocrática, que visa à produção
padronizada e em larga escala de seus produtos, com individualização e novidade desejadas
pelos consumidores.
02) A produção cultural de massa procura transformar a cultura em mercadoria, nivelando os
valores e os padrões estéticos de boa parte dos consumidores.
04) Na indústria cultural, há um equilíbrio entre interesses econômicos, domínio da técnica,
organização burocrática e exercício da criatividade.
08) A indústria cultural, diferentemente de outros ramos da produção industrial, não visa ao
lucro. Seus produtos são comercializados a preço de custo e seu consumidor não é tratado
como “cliente” e sim como fã ou colecionador.
16) O ritmo ligeiro da indústria cultural tem como resultado a produção em série, de baixo
custo e possível de ser acessada por boa parte da população.
Soma: _______

04. (UPE) “Na Indústria Cultural, a perspectiva capitalista domina os “bens culturais”;
os espectadores são vistos cada vez mais como consumidores. Consomem as ideias e os
conceitos dominantes, veiculados pelos meios de comunicação de massa. Presa à
necessidade de ser vendável, a cultura de massa se “normaliza”, se tecnifica e tende a
apontar para um senso comum, uma “fórmula do sucesso”.
Segundo a afirmação acima, assinale a alternativa que identifica a finalidade da
Indústria Cultural.
A) Proporcionar às pessoas necessidades do sistema vigente de consumir constantemente.
B) Criar valores irrefutáveis de vida simples e de lazer familiar.
C) Utilizar só os bens necessários para se ter uma vida feliz.
D) Garantir a continuidade dos produtos tradicionais que têm valor histórico.
E) Aumentar o nível social das pessoas pela otimização do uso dos bens duráveis.

01. (Pedro II) A Escola de Frankfurt, em sua análise sobre a indústria cultural, constrói
uma postura crítica direcionada para a:
a) veiculação de uma cultura heterogênea pelos meios de comunicação de massa.
b) diversificação dos gostos produzida pelos meios de comunicação de massa.
c) alienação da realidade ocasionada pela ação dos meios de comunicação de massa.
d) capacidade de pensamento crítico e autônomo promovida pelo advento dos meios de
comunicação de massa.

02. Termo criado pelos teóricos da Escola de Frankfurt e que aponta uma inversão sobre
a ideia de cultura. Nesse ponto, a cultura passa a ser um produto industrializado, uma
mercadoria a ser vendida/ consumida e assim gerar lucro.

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Visto o enunciado, marque a alternativa que indica corretamente o conceito filosófico em


questão:
a) Indústria Cultural.
b) Mercantilização Cultural.
c) Produtos e Mercadorias Culturais.
d) Espetacularização da Cultura.
e) Cultura Popular.

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