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MÁRCIO RODRIGUES SILVA

DESVELANDO A CIDADE:
SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM JATAÍ-GO

Goiânia-GO
2009
2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


INSTITUTO DE ESTUDOS SÓCIO-AMBIENTAIS
PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

MÁRCIO RODRIGUES SILVA

DESVELANDO A CIDADE:
SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM JATAÍ-GO

Tese apresentada ao Programa de Pesquisa e


Pós-Graduação em Geografia do Instituto de
Estudos Sócio-Ambientais da Universidade
Federal de Goiás, como requisito à obtenção do
título de Doutor em Geografia.

Área de concentração: Natureza e Produção do


Espaço.

Linha de pesquisa: Dinâmica sócio-espacial:


urbana, agrária, regional e ambiental.

Orientador: Prof. Dr. João Batista de Deus (UFG)

Goiânia-GO
2009
3

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

Bibliotecário responsável: Enderson Medeiros CRB 2.276

Silva, Márcio Rodrigues.


S586d Desvelando a cidade: segregação socioespacial em Jataí-
GO. / Márcio Rodrigues Silva. – Goiânia : [S.n], 2009.
205 f. : il.; graf.; tabs.
Orientador: Prof. Dr. João Batista de Deus.
Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal de
Goiás, Instituto de Estudos Sócio-ambientais, 2009.
1. Jataí/Go. 2. Geografia Regional. 3. Segregação urbana. 4.
Estrutura Urbana. 5. Distribuição socioespacial. I. Deus, João Batista
de. II. Universidade Federal de Goiás, Instituto de Estudos Sócio-
ambientais. III. Título.

CDU: 911.375.5(817.3)
4

MÁRCIO RODRIGUES SILVA

DESVELANDO A CIDADE:
SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM JATAÍ-GO

_________________________________________________

Prof. Dr. João Batista de Deus (Orientador) – IESA/UFG

_________________________________________________

Prof. Dr. Dimas Moraes Peixinho (Membro) - UFG/Campus Jataí

_________________________________________________

Prof. Dr. Eguimar Felício Chaveiro (Membro) - IESA/UFG

_________________________________________________

Prof. Dr. Ivanilton José de Oliveira(Membro) - IESA/UFG

_________________________________________________

Prof. Dr. Manuel Eduardo Ferreira(Membro) - IESA/UFG

GOIÂNIA – GO ____/____/__________

Resultado________________________
5

Para Sinara, minha querida esposa e


melhor amiga. Para a pequena Julia.
Para os pequenos, ou pequenas, que
ainda virão.
6

AGRADECIMENTOS

A Deus.

A minha querida esposa Sinara, companheira em todos os momentos.

Aos meus pais e minhas irmãs, pela sólida base familiar. Exemplos de
amor, luta e perseverança.

Aos colegas do curso de Geografia do Campus Jataí - UFG.

Ao mestre, Prof. Dr. Iraci Scopel, pelo incentivo sempre presente.

Ao Prof. Dr. João Batista de Deus, por acreditar em meu trabalho e pela
seriedade na orientação.
7

Sola Gratia

Sola Fide

Sola Scriptura

Solus Christus

Soli Deo Gloria


viii
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RESUMO

Uma vez que a análise dos problemas urbanos, com o objetivo de traçar
novos rumos para o desenvolvimento local, é fundamental para melhoria da
qualidade de vida da população propõe-se, como foco desta pesquisa, o estudo da
estrutura urbana de Jataí-GO. Para tanto, é analisada sua estruturação interna, no
que tange à distribuição socioespacial no arranjo urbano, buscando respostas à
indagação: existe segregação socioespacial em Jataí? Pretende-se, desvelar a
cidade e propor novos parâmetros que colaborem com o desenvolvimento local, bem
como, produzir material científico consistente sobre esta temática analisada segundo
a Ciência Geográfica. Jataí localiza-se no Sudoeste Goiano, a aproximadamente
320km da capital, Goiânia. Com área urbana aproximada de 26km², dentro de um
município com superfície de 7.174,10km², a cidade se expandiu marcada por
contrastes que revelam a lógica da sociedade capitalista. Posições como as de
Santos (1993), Castells (1983), Lojkine (1997) e Villaça (2001), levantando a lógica
da formação e a estruturação do espaço urbano, suscitam questionamentos sobre
objeto de estudo em questão. O caminho seguido neste trabalho não é rígido, pronto
e acabado, trata-se de uma análise que parte da paisagem urbana, uma vez que
esta apresenta um vasto horizonte a ser explorado, chegando ao lugar e analisando
como este foi produzido. A pesquisa transita por análises políticas e sociais,
contextualizadas numa sociedade dita “pós-moderna”, indagando e refletindo sobre
o real apresentado diante de nossos olhares, considerando a ação do capital e de
suas relações na construção dos lugares. Dessa forma, a perspectiva dialética se
apresenta como um caminho direcionador dos trabalhos. Ao final, define-se,
classifica-se, espacializa-se e cruza-se planos de informações referentes aos níveis
de renda em Jataí, e suas implicações, na malha urbana, o que demonstra a
segregação urbana identificada. Os resultados são apresentados sob a forma de
texto e mapas que desvelam a real situação da distribuição socioespacial em
questão. Como resultado, identifica-se que as classes de menor renda estão
concentradas, predominantemente, nas bordas da área urbana. Tal análise vai ao
encontro da tese de que trata-se de um espaço segregado.

Palavras Chave: Segregação Urbana; Estrutura Urbana; Cidade; Jataí-GO.


ix
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ABSTRACT

DISCLOSING THE CITY:

SOCIOSPATIAL SEGREGATION IN JATAÍ-GO (BRAZIL)

Considering that, with the purpose of suggesting new paths for local
development, the analysis of urban problems is essential to improve the quality of life
of the population, the aim of this research is to study the urban structure of Jataí city.
In order to do so, its urban internal structure is analyzed, regarding the sociospatial
distribution in the urban arrangement, searching answers to the question: is there
any sociospatial segregation in Jataí? We intend to remove the veil that covers the
city and suggest new parameters that collaborate with the local development, as well
as to produce consistent scientific material about this theme, analyzed according to
the Geographic Science. Jataí city is located in the Southwest of Goiás State, in
Brazil, approximately 320 km of Goiânia city, the capital of the State. With an urban
area of about 24 km², inside a county area of 7.174, 1 km², the city grew marked by
contrasts which reveal the logics of the capitalist society. Positions like the ones held
by Santos (1993), Castells (1983), Lojkine (1997) and Villaça (2001), surveying the
logic of the formation and composition of the urban space, raise questions about the
object of this research. The course followed in this work is neither rigid, nor ready or
final. It is an analysis that begins with urban landscape, as it presents a vast horizon
to be explored, arriving at the place and analyzing the way it was produced. This
research transits between social and political analyses, in the context of a so-called
post-modern society, inquiring and reflecting about the reality displayed in front of our
eyes, considering the action of the capital and its relations in the construction of
places. Therefore, the dialectic perspective is a guideline that orients our works.
Finally, we define, classify, map and cross information plans concerning the levels of
income in Jataí and their implications in the urban mesh network, which
demonstrates the urban segregation identified. The results are presented in the form
of text and maps which disclose the real situation of the sociospatial distribution at
stake. As a result, it is identified that the social classes of less income are
concentrated, predominantly, in the edges of the urban area. Such analysis supports
the thesis that this city is a segregated space.

Key-words: Urban Segregation; Urban Structure, City; Jataí-GO (Brazil).


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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: JATAÍ-GO: ÁREA URBANA – VISTA PARCIAL......................................33

FIGURA 2: JATAÍ-GO: ÁREA URBANA – 2008.........................................................34

FIGURA 3: LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO................................................40

FIGURA 4: ESTADO DE GOIÁS: EXPANSÃO DAS FRENTES PIONEIRAS NO

SÉCULO XX................................................................................................................45

FIGURA 5: JATAÍ-GO: POLO TURÍSTICO VALE DO PARAÍSO – LAGO

BONSUCESSO...........................................................................................................53

FIGURA 6: DADOS DO “SHAPEFILE” BAIRROS.....................................................69

FIGURA 7: DADOS DO “SHAPEFILE” BAIRROS APÓS JUNÇÃO COM OUTRAS

TABELAS.....................................................................................................................70

FIGURA 8: CONFECÇÃO DO MAPA DE EXPANSÃO URBANA..............................71

FIGURA 9: JATAÍ-GO – EXPANSÃO URBANA: IMPLANTAÇÃO DE

LOTEAMENTOS.........................................................................................................72

FIGURA 10: CONFECÇÃO DO MAPA DE VAZIOS URBANOS................................73

FIGURA 11: JATAÍ-GO – VAZIOS URBANOS: PORCENTAGEM DE LOTES VAGOS

- 1995...........................................................................................................................74

FIGURA 12: JATAÍ-GO – VAZIOS URBANOS: PORCENTAGEM DE LOTES VAGOS

– 2004..........................................................................................................................75

FIGURA 13: CONFECÇÃO DO MAPA DE ATIVIDADES ECONÔMICAS.................76

FIGURA 14: ESCOLHA DA VARIAÇÃO DOS SÍMBOLOS.......................................77


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FIGURA 15: JATAÍ-GO: ATIVIDADES ECONÔMICAS INSTALADAS ATÉ A

DÉCADA DE 1959.......................................................................................................78

FIGURA 16: JATAÍ-GO: ATIVIDADES ECONÔMICAS INSTALADAS NA DÉCADA

DE 1960.......................................................................................................................79

FIGURA 17: JATAÍ-GO: ATIVIDADES ECONÔMICAS INSTALADAS NA DÉCADA

DE 1970.......................................................................................................................80

FIGURA 18: JATAÍ-GO: ATIVIDADES ECONÔMICAS INSTALADAS NA DÉCADA

DE 1980.......................................................................................................................81

FIGURA 19: JATAÍ-GO: ATIVIDADES ECONÔMICAS INSTALADAS NA DÉCADA

DE 1990.......................................................................................................................82

FIGURA 20: JATAÍ-GO: ATIVIDADES ECONÔMICAS INSTALADAS NA DÉCADA

DE 2000.......................................................................................................................83

FIGURA 21: CONFECÇÃO DO MAPA DE ATIVIDADES ECONÔMICAS.................84

FIGURA 22: JATAÍ-GO: ÁREAS DINÂMICAS: CONCENTRAÇÃO DAS

ATIVIDADES ECONÔMICAS.....................................................................................85

FIGURA 23: JATAÍ-GO: IMPLANTAÇÃO DE LOTEAMENTOS – EVOLUÇÃO DA

ÁREA OCUPADA........................................................................................................87

FIGURA 24: JATAÍ-GO: ÁREA EFETIVAMENTE OCUPADA EM 1965...................88

FIGURA 25: JATAÍ-GO: ÁREA URBANA – VISTA PARCIAL – SETOR CENTRAL101

FIGURA 26: JATAÍ-GO: ÁREA URBANA – VISTA PARCIAL – SETOR COLMÉIA

PARK.........................................................................................................................102
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FIGURA 27: JATAÍ-GO: ÁREA URBANA – VISTA PARCIAL DO SETOR

PLANALTO. ..............................................................................................................103

FIGURA 28: JATAÍ-GO: ÁREA URBANA – VISTA PARCIAL – SETOR

JACUTINGA. ............................................................................................................104

FIGURA 29: JATAÍ-GO: ÁREA URBANA – VISTA PARCIAL – REGIÃO

NORTE......................................................................................................................106

FIGURA 30: JATAÍ-GO: ÁREA URBANA – VISTA PARCIAL – PARQUE

ECOLÓGICO DIACUY..............................................................................................106

FIGURA 31: JATAÍ-GO: ÁREA URBANA – VISTA PARCIAL – REGIÃO

SUDOESTE...............................................................................................................107

FIGURA 32: NÚCLEO ORIGINAL DE JATAÍ-GO - 1908.........................................109

FIGURA 33: MUSEU HISTÓRICO DE JATAÍ – ANTIGO CASARÃO NO CENTRO

DA CIDADE...............................................................................................................110

FIGURA 34: JATAÍ-GO: ÁREA URBANA – VISTA PARCIAL – REGIÃO OESTE –

CONDOMÍNIO RESIDENCIAL BARCELONA. ........................................................111

FIGURA 35: JATAÍ-GO: LOCALIZAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS DE

ENSINO.....................................................................................................................119

FIGURA 36: JATAÍ-GO: PRINCIPAIS ESTABELECIMENTOS DE UTILIDADE

PÚBLICA...................................................................................................................121

FIGURA 37: JATAÍ-GO: PRINCIPAIS OPÇÕES DE CULTURA E LAZER..............123

FIGURA 38: JATAÍ-GO: PRINCIPAIS ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE............124

FIGURA 39: JATAÍ: ZONEAMENTO URBANO - 2008.............................................126

FIGURA 40: JATAÍ: ÁREA URBANA – 2004............................................................134


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FIGURA 41: CONFECÇÃO DO MAPA DE SEGREGAÇÃO URBANA....................135

FIGURA 42: SEGREGAÇÃO URBANA EM JATAÍ – 2000......................................136

FIGURA 43: SEGREGAÇÃO URBANA EM JATAÍ – 2000: ÁREAS

DESTACADAS..........................................................................................................137

FIGURA 44: PESSOAS BENEFICIADAS PELO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA –

2005 - 2008 ..............................................................................................................142

FIGURA 45: PESSOAS BENEFICIADAS PELO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA –

2005 - 2008 – ÁREAS DESTACADAS.....................................................................143

FIGURA 46: JATAÍ – PADRÃO CONSTRUTIVO - 2007..........................................144

FIGURA 47: JATAÍ – ROTEIRO DO TRABALHO DE CAMPO - MAIO/2008..........147

FIGURA 48: VISTA DA CIDADE A PARTIR DO PONTO 1, SENTIDO NOROESTE-

CENTRO....................................................................................................................149

FIGURA 49: VISTA A PARTIR DO PONTO 2, BR-158 - PERÍMETRO URBANO...150

FIGURA 50: VISTA DA CIDADE A PARTIR DO PONTO 3, SENTIDO NORTE-

CENTRO....................................................................................................................151

FIGURA 51: PONTO 4 – O RURAL DENTRO DO URBANO – SETOR BRASÍLIA.152

FIGURA 52: VISTA DA CIDADE A PARTIR DO PONTO 4, SENTIDO NORDESTE-

CENTRO....................................................................................................................153

FIGURA 53: VISTA DA CIDADE A PARTIR DO PONTO 5, SENTIDO LESTE-

CENTRO....................................................................................................................154

FIGURA 54: PONTO 6 – SETOR COHACOL 5.......................................................154

FIGURA 55: VISTA DA CIDADE A PARTIR DO PONTO 7, SENTIDO SUDOESTE-

CENTRO....................................................................................................................155
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FIGURA 56: JATAÍ: VALOR VENAL MÉDIO DOS LOTES - 2004...........................165

FIGURA 57: JATAÍ: VALOR VENAL MÉDIO DOS LOTES - 2009...........................166

FIGURA 58: JATAÍ: VALOR VENAL MÉDIO DAS EDIFICAÇÕES - 2004..............167

FIGURA 59: JATAÍ: VALOR VENAL MÉDIO DAS EDIFICAÇÕES - 2009..............168


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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 –GOIÁS: MUNICÍPIOS COM PREDOMINÂNCIA DE POPULAÇÕES

URBANAS - 2000........................................................................................................50

TABELA 2 – BRASIL : PARTICIPAÇÃO DAS REGIÕES NO CRÉDITO

RURAL DE 1966 A 1999/00 ....................................................................................51

TABELA 3 – JATAÍ-GO: DESENVOLVIMENTO HUMANO........................................54

TABELA 4 – JATAÍ-GO: PRODUÇÃO AGRÍCOLA E ÁREA PLANTADA – 2000-

2001.............................................................................................................................54

TABELA 5 – JATAÍ-GO: PRODUÇÃO PECUÁRIA 1998-2000..................................54

TABELA 6 – JATAÍ-GO: ATIVIDADES ECONÔMICAS CADASTRADAS NA

SECRETARIA DE GESTÃO FISCAL NO PERÍODO DE “ATÉ 1959” A 2000...........55

TABELA 7 – JATAÍ-GO: INDICADORES DE LONGEVIDADE, MORTALIDADE .....56

E FECUNDIDADE, 1991 E 2000.................................................................................56

TABELA 8 – RANKING DOS MUNICÍPIOS POR SETORES DE ATIVIDADE –

2000.............................................................................................................................60

TABELA 9 – CENTROS URBANOS SELECIONADOS: NÍVEIS DE CENTRALIDADE

SEGUNDO REGIC-2007 ............................................................................................61

TABELA 10 – PERFIL MUNICIPAL E ESTADUAL – 1991/2000..............................63

TABELA 11 – JATAÍ-GO: IMPLANTAÇÃO DE LOTEAMENTOS POR TIPOLOGIA. 89


xvi
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TABELA 12 – JATAÍ-GO: PERCENTAGEM DE LOTES VAGOS EM RELAÇÃO A

ÁREA TOTAL LOTEADA - 1995 E 2004...................................................................90

TABELA 13 – JATAÍ-GO: IMPLANTAÇÃO DE LOTEAMENTOS..............................93


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17

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – JATAÍ-GO: EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO - 1910 A 2007.................49


xviii
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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS.....................................................................................21

1 – COMPREENDENDO A CIDADE DE JATAÍ E SEU CONTEXTO ......................26

1.1 – DIRECIONANDO A PESQUISA: BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE OS

ESTUDOS URBANOS............................................................................................26

1.2 – A TEMPORALIDADE DA PESQUISA: PERÍODOS IMPORTANTES NA

CONSTRUÇÃO DE JATAÍ......................................................................................35

1.3 – O CONTEXTO DA PESQUISA......................................................................37

1.4 – O PROCESSO DE FORMAÇÃO DE JATAÍ.................................................38

1.4.1 - A CONSTRUÇÃO DA FRONTEIRA........................................................43

1.4.2 - A RESPOSTA URBANA..........................................................................47

1.4.3 – ALTERAÇÕES NAS BASES FORMADORAS DO ESPAÇO

URBANO ............................................................................................................52

2 – CONSTRUINDO UMA BASE NECESSÁRIA PARA A ANÁLISE DO ESPAÇO

URBANO JATAIENSE................................................................................................58

2.1 – A INSERÇÃO DE JATAÍ NA REDE URBANA BRASILEIRA........................59

2.2 – CARACTERIZAÇÃO DO TECIDO URBANO: IDENTIFICANDO A FORMA

PARA ANALISAR SEU CONTEÚDO.....................................................................68

2.2.1 – MAPA DE EXPANSÃO URBANA...........................................................71


xix
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2.2.2 – MAPA DE VAZIOS URBANOS..............................................................73

2.2.3 – MAPAS DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS .........................................76

2.2.4 – MAPA DE CONCENTRAÇÃO DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS -

ÁREAS DINÂMICAS ..........................................................................................84

2.2.5 – REFLEXÕES SOBRE A CARACTERIZAÇÃO DO TECIDO URBANO. 86

2.3 – CONFIGURAÇÃO SOCIOESPACIAL DE JATAÍ-GO: A SOCIEDADE NO

ESPAÇO URBANO.................................................................................................95

2.3.1 – A SOCIEDADE ESPACIALIZADA .........................................................99

3 – IDENTIFICANDO A SEGREGAÇÃO URBANA EM JATAÍ...............................114

3.1 – AS INFRA-ESTRUTURAS DO ESPAÇO URBANO....................................116

3.1.1 – INFRA-ESTRUTURA DE FORMAÇÃO...............................................118

3.1.2 – SERVIÇOS PÚBLICOS, SAÚDE E LAZER........................................120

3.1.3 – ZONAS URBANAS: A DIVISÃO OFICIAL............................................125

3.2 – ESPAÇOS SEGREGADOS IDENTIFICADOS............................................133

3.2.1 – MAPEANDO OS ESPAÇOS SEGREGADOS......................................133

3.2.2 – ASSISTENCIALISMO GOVERNAMENTAL E SEGREGAÇÃO...........140

3.3 – OLHAR PERIFÉRICO: UMA VISÃO DIFERENCIADA DA CIDADE...........145

4 - ACESSO AO SOLO URBANO: A CONSOLIDAÇÃO DAS ÁREAS

SEGREGADAS.........................................................................................................157

4.1 – DOS PROBLEMAS URBANOS À IMPLEMENTAÇÃO DAS SOLUÇÕES. 171


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CONSIDERAÇÕES FINAIS: ANALISANDO O PERCURSO DA PESQUISA........174

REFERÊNCIAS.........................................................................................................182

ANEXOS....................................................................................................................191

ANEXO – A - MAPA TURÍSTICO DE JATAÍ........................................................192

ANEXO – B - MATERIAL DE DIVULGAÇÃO DO LOTEAMENTO PORTAL

DO SOL.................................................................................................................194

ANEXO – C - MATERIAL DE DIVULGAÇÃO DO LOTEAMENTO RESIDENCIAL

DAS BRISAS.........................................................................................................199

ANEXO – D – MATERIAL DE DIVULGAÇÃO DO LOTEAMENTO MORADA

DO SOL.................................................................................................................203
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente trabalho dá continuidade às indagações originadas no


decorrer do aprendizado geográfico, ainda no processo de graduação acadêmica.
Posições como as de Santos (1993), Castells (1983), Lojkine (1997) e Villaça (2001)
levantando a lógica da formação e a estruturação do espaço urbano, suscitam
questionamentos sobre o objeto de estudo do presente trabalho: a cidade de Jataí-
GO. Situada no Sudoeste do Estado de Goiás, Jataí origina-se na primeira metade
do século XIX, sendo fruto da busca por novas áreas para desenvolvimento da
agropecuária e, atualmente, ocupa lugar relevante na economia do estado, sendo
destaque na produção de grãos, o que passa a ocorrer principalmente a partir da
década de 1970, com a chegada e posterior consolidação da moderna agricultura no
município.

Espaço estruturado, que não se levanta ao acaso, detentor de uma gama


de variáveis que o torna único. Essas são características pertinentes aos centros
urbanos, sejam estes grandes ou pequenos, que despertaram um olhar de
investigador frente à cidade de Jataí.

Com área urbana aproximada de 26km², dentro de um município com


superfície de 7.174,10km², Jataí se expandiu marcada por contrastes que revelam a
lógica da sociedade capitalista. Espaço contraditório, reflexo de uma sociedade
pautada em princípios que se distanciam da valorização do indivíduo, enquanto
cidadão, considerando-o apenas como um número em dados estatísticos. Espaço
contraditório onde o “novo” é produzido em detrimento do tradicional que se torna
obsoleto no processo de reprodução do espaço urbano. Espaço fragmentado,
detentor de lugares, antes não imaginados, onde as relações sociais se restringem
ao mínimo possível e as experiências sociais são reduzidas ao âmbito privado;
talvez pela falta de tempo na moderna sociedade, talvez pela não identidade com o
“novo” numa cidade que guarda muito das relações rurais em suas tradições.
22

Neste sentido, conforme salienta Seabra (2001), o papel do Geógrafo é o


de entender como a vida está sendo representada, como as relações socioespaciais
se dão dentro de uma visão dialética.

Assim, na medida em que a distribuição socioespacial da população na


área urbana expressa contradições que não são percebidas num primeiro olhar,
objetivou-se analisar a estruturação interna de Jataí, no que tange à distribuição
socioespacial no arranjo urbano, buscando respostas à indagação: existe
segregação socioespacial em Jataí?

O trabalho centra-se sobretudo no cenário pós 1970, no intuito de


desvelar a cidade e propor novos parâmetros que colaborem com o
desenvolvimento local. Para tanto, são analisados dados econômicos, sociais e
políticos que, espacializados, desvelam o processo de produção da cidade. Sempre
considerando que o objeto de estudo está inserido num contexto maior e envolve-se
na realidade do estado, do país e do mundo, sofrendo influências e influenciando
tais esferas.

Como forma de alcançar os objetivos iniciou-se os estudos a partir do


caminho traçado anteriormente na pesquisa de mestrado intitulada “Encontros e
Desencontros: Estudo do Espaço Urbano de Jataí-GO” (SILVA, 2005). Levando em
consideração a escassa bibliografia específica sobre o estudo urbano de Jataí,
sendo este o segundo trabalho específico para a área urbana, buscou-se construir
uma base consistente, e bem fundamentada sobre o tema, como forma de dar
sustentação a futuros trabalhos sobre esta importante cidade do Sudoeste Goiano.

Como parte do trabalhos coube a tarefa de construir toda a base


cartográfica, e os mapas de análise referentes ao espaço urbano de Jataí, utilizados
nesta pesquisa, sendo esta uma tarefa que inicia a análise proposta num momento
de reflexão sobre a cidade através das construções cartográficas.

A maior parte dos dados, específicos sobre a cidade, exigiu levantamento


nos órgãos competentes, sendo basicamente encontrados na prefeitura local e no
IBGE.
23

Nesse contexto, os resultados obtidos com a pesquisa consolidam o


lastro necessário para as discussões sobre o cenário urbano de Jataí.

As seguintes fontes de pesquisa foram fundamentais para o entendimento


do espaço urbano jataiense: Cadastro de Imóveis da Secretaria da Fazenda
Municipal referente ao ano de 2003 - onde foram levantados os dados referentes
aos vazios urbanos e valores venais dos imóveis; Programa de cadastramento de
atividades econômicas da Secretaria de Gestão Fiscal de 2004 - que contribuiu com
os dados econômicos; Relatório das atividades econômicas cadastradas até o ano
de 2004, também Secretaria de Gestão Fiscal - permitindo fazer uma evolução das
atividades econômicas instaladas na cidade; Plano Diretor Urbano de 2001, 2003,
2005, 2007 e 2008 – permitindo verificar as políticas urbanas do município,
levantamento preliminar sobre lotes vagos em 1995 – que serviu de parâmetro para
uma análise comparativa dos vazios urbanos, mapas cadastrais de 2003 e 2004 –
fornecidos em mídia digital, o que em muito facilitou a confecção do material
cartográfico, todos fornecidos pela Divisão de Planejamento Urbano da Secretaria
de Obras e Urbanismo; Base de Informações por Setores Censitários do IBGE para
ano 2000 – material fundamental, com as informações do censo de 2000 para a área
urbana da cidade, que forneceu os dados de renda essenciais para as discussões
sobre segregação; Dados do programa Bolsa Família de 2005 a 2008 – fornecidos
pela Secretaria Municipal de Promoção e Assistência Social. Mapa do Padrão
Construtivo Urbano – também fornecido pela prefeitura; e, finalmente, Dossiê de
Jataí 2004 – no qual encontramos um panorama do município, fornecido pela
Superintendência de Indústria, Comércio e Turismo.

As reflexões epistemológicas e específicas sobre geografia urbana foram


embasadas pelas obras de Abreu (1994); Benko (1996); Carlos (1994); Castells
(1983); Gottdiener (1997); Cavalcanti (2001); Deus (2002 e 2002a); Soares (2007);
Gomes (1996); Lefebvre (1991 e 1999); Lojkine (1997); Marx & Engels (1989);
Monteiro (1995); Santos (1993 e 1999); Santos e Silveira (2001); Seabra (2001);
Silva (2003); Souza (2003 e 2003a) e ainda Souza (1994). A compreensão sobre a
região Centro-Oeste e sua transformação – o que envolve o processo de chegada
da fronteira nesta área – passou pelas obras de Estevam (1998); Graziano Neto
(1985); Machado (1996); Martins (1975 e 1997); Steinberger (2003) e Teixeira Neto
24

(2002). Ainda neste sentido, contribuíram para o processo de compreensão regional,


especificamente sobre o Sudoeste Goiano, os seguintes trabalhos: Agência
Ambiental de Goiás (2003); Palacín & Moraes (1989); Palacín (1972); Palacín,
Garcia & Amado (1995) e Teixeira Neto (1995). Embora existam em pequena
quantidade, as obras específicas sobre Jataí foram fundamentais para a
compreensão do objeto de estudo, são estas: Campos Filho (2004); Melo (2003);
Scopel (2002); Silva (2002) e o trabalho que deu origem a este, a dissertação de
mestrado (SILVA, 2005). DATASUS (2004), GOVERNO DE GOIÁS (2004), IBGE
(2000, 2002, 2003, 2004 e 2007) e PNUD/IPEA/Fundação João Pinheiro (2003)
completaram os dados estatísticos necessários aos debates e reflexões
desenvolvidos.

A partir do material base o trabalho foi estruturado em quatro capítulos, a


saber: Capítulo 1 - Compreendendo a cidade de Jataí e seu contexto; Capítulo 2 -
Construindo uma base necessária para a análise do espaço urbano jataiense;
Capítulo 3 – Identificando a segregação urbana em Jataí e Capítulo 4 - Acesso
ao solo urbano: a consolidação das áreas segregadas.

No primeiro capítulo apresenta-se o objeto de estudo, discorrendo sobre a


pesquisa proposta, a delimitação dos trabalhos desenvolvidos, importância e
justificativa da mesma. Promove-se a caracterização e contextualização de Jataí
dentro do tema tratado, retomando seu processo de ocupação, e chegando ao
período contemporâneo. É apresentada uma divisão temporal, baseada em períodos
marcantes para a cidade, facilitando o entendimento do todo através de suas partes.
Neste momento faz-se, também, o embasamento teórico-metodológico como forma
de direcionar a pesquisa.

O segundo capítulo é composto do debate sobre a construção das bases


necessárias ao desenvolvimento da pesquisa. É feita a caracterização do tecido
urbano, discorrendo também sobre a inserção de Jataí na rede urbana brasileira.
Debate-se a dinâmica urbana encontrada em Jataí, considerando os diversos
agentes presentes na formação deste espaço. Como forma de proporcionar o
entendimento do processo construtivo da base cartográfica é apresentado o
processo de construção dos mapas, que constituem-se no substrato para discussão
25

dos dados. Ao final, são feitas reflexões sobre a caracterização do tecido urbano
apresentado.

A discussão sobre a segregação urbana em Jataí é o centro do terceiro


capítulo. Apresenta-se a “divisão oficial”, feita pela lei de zoneamento. São
identificados os espaços segregados, trabalhando também a questão do
assistencialismo Governamental. Fecha-se a discussão com uma proposta de olhar
a cidade de forma diferenciada, da borda para o centro através de um “olhar
periférico”.

Por fim, no último capítulo, propõe-se mais um elemento para responder à


questão inicial. Neste ponto discute-se o acesso ao solo urbano, correlacionando o
preço do solo e a presença dos vazios urbanos com os elementos dos capítulos
anteriores.

As respostas refletem nosso olhar frente ao desafio traçado. Não são


conclusivas, mas emergem na expectativa de que o presente trabalho contribua no
processo de construção de uma sociedade mais justa, contemplando todos os
indivíduos envolvidos neste processo.
26

1 – COMPREENDENDO A CIDADE DE JATAÍ E SEU CONTEXTO


“Acharam-se as tuas palavras, e eu as comi; e as tuas
palavras eram para mim o gozo e alegria do meu
coração...”
Jeremias 15:16

1.1 – DIRECIONANDO A PESQUISA: BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE OS


ESTUDOS URBANOS

A Geografia urbana inicialmente foi um estudo meramente descritivo. “A


descrição das paisagens, dos edifícios, das obras de arte, da população e das
atividades exercidas na cidade constituíram a base dos nascentes estudos urbanos”
(ABREU, 1994, p.130). Segundo a mesma autora, os estudos aos poucos foram
evoluindo, passando de simples descrições para tentativas de interpretações do
cenário das cidades. No entanto, ainda desconsiderava-se o contexto e as inter-
relações entre as cidades, aspecto que hoje não pode ser deixado de lado quando
se almeja uma análise real, que objetiva transformações reais, positivas, na
sociedade. Posteriormente os estudos constituíram-se da análise das relações entre
espaços urbanos, extrapolando os limites internos da cidade. A Geografia urbana se
desenvolve e volta-se para o planejamento urbano, bem como para o uso do solo
urbano, se direcionando novamente para o uso interno das cidades.

Já na década de cinquenta, comenta Abreu, (1994, p.132), ocorre o


rompimento teórico-metodológico na Geografia urbana. Esta procura desligar-se do
neopositivismo na busca de variados métodos de interpretação para seus estudos.
O primeiro momento da produção da Geografia urbana, caracterizado pela descrição
do real, marcado pelo positivismo clássico, deu lugar aos métodos do neopositivismo
abrindo o caminho para novos enfoques nos estudos. Nessa terceira etapa a
multiplicidade de referenciais teórico-metodológicos é uma das características da
Geografia que “tenta dar conta da explicação para a complexidade e amplitude do
fenômeno urbano” Abreu (1994, p.133).
27

A cidade moderna abre suas portas para que os geógrafos se apresentem


e realizem seus estudos utilizando uma variedade de linhas teórico-metodológicas.
Com complexidade a cidade se apresenta atualmente diante de nossos olhos,
portanto, devemos buscar responder suas indagações fazendo uso, conforme Abreu
(1994, p.133), de “diversas e múltiplas visões que o pesquisador tem da cidade”.
Dessa forma, serão obtidas respostas mais consistentes, analisando a cidade sob
diversos enfoques e, buscando, nos processos de transformação da sociedade, que
têm a cidade como lugar de realização, a compreensão do cenário urbano.

Todavia, o uso das variadas “visões” disponíveis para a análise do espaço


não deve acontecer de forma vazia, num ecletismo sem fundamento. Santos (1999,
p.51) lembra que “o espaço é hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais,
povoado por sistemas de ações igualmente imbuídos de artificialidade, e cada vez
mais tendentes a fins estranhos ao lugar e a seus habitantes (grifos nossos)”. O
cenário urbano se apresenta de forma tão complexa que perdemos a identidade dos
lugares. A história da urbanização mostra uma metamorfose da cidade histórica, em
prol da modernidade, com as formas antigas tomando novas funções para atender a
sociedade contemporânea. Com isso, o lugar perde sua essência, torna-se estranho
à comunidade que não mais se sente parte deste espaço. Aqui, nessa realidade,
insere-se o geógrafo que, em meio a tantas variáveis, tem a difícil missão de
contribuir na compreensão do espaço.

Seabra (2001, p.81) diz que o capital, após ser gerado,


ganha autonomia, e na procura de desfrutar de rentabilidade maior, vai
decretando, de um lado a obsolescência, e de outro, produzindo o ‘novo’ no
processo de reprodução do espaço urbano.
A urbanização que fragmenta o espaço, construindo lugares antes não
imaginados, faz com que a experiência deste espaço seja reduzida ao âmbito
privado. Partindo dessa problemática a posição adotada, quanto ao papel do
geógrafo, é a mesma de Seabra (2001): este deve discernir a representação da vida,
entender como a vida é representada, compreender as representações do espaço e
as interligações com os indivíduos dentro de uma visão materialista e dialética.
28

Será que os habitantes de Jataí, na década de 1960, imaginariam um


espaço com as dimensões atuais? Como os atuais habitantes, vivendo na era da
informação, enxergam esse espaço?

A expansão do espaço urbano jataiense não expressa simplesmente o


crescimento espacial da sociedade. Por trás deste aspecto visível estão atores
desconhecidos que ao atuarem deixam suas marcas para serem percebidas, ou
meramente desconsideradas pela sociedade: o antigo casarão em moldes coloniais
que transforma-se em museu, ou algum outro que foi simplesmente demolido; as
ruas calçadas com paralelepípedo, que expressam a “velocidade” do tempo distante,
ignoradas pela necessária fluidez da moderna sociedade. Quantos outros
exemplos? Muitos não foram oficialmente registrados.

O papel da Geografia, dentro dessa análise dialética, deve ser o de


perceber os encontros e desencontros1. Enxergar além do que é posto no primeiro
plano. Desvelar o espaço. O que se concebe e o que se realiza. As representações
deste espaço, materializadas em produtos, levando a uma materialidade pensada.

A visão da espacialidade, possibilitada pela geografia, indica os caminhos


seguidos na pesquisa. Visão da dimensão espacial da realidade social, do papel do
espaço na produção e reprodução da vida humana (CARLOS, 1994). A análise do
espaço urbano da cidade de Jataí é executada buscando a contemplação dos
diversos agentes que o compõe, buscando, sobretudo, desvelar para o “homem” o
espaço produzido pelo “homem”, o que constitui tarefa complicada, já que pressupõe
um olhar para dentro de si.

Diante do exposto, propõe-se para o estudo desse espaço urbano não um


caminho rígido, pronto e acabado, mas uma análise que parta da paisagem urbana2,
uma vez que esta mostra um vasto horizonte a ser explorado, chegando ao lugar3 e
analisando como este foi produzido. Um caminho que leve a análises políticas e

1
Para uma visão mais ampla dessa análise, em Jataí, ver SILVA (2005)
2
Aqui compreendemos paisagem urbana de acordo com Cavalcanti (2001, p. 14): “Paisagem urbana
é o aspecto visível do espaço, é sua expressão formal, aparente. Enquanto dimensão formal,
expressa o conteúdo, as relações sociais que a forma. Assim, ela é histórica, social e concreta [...]”
3
Lugar aqui é compreendido “como expressão, materialmente espacial [...] como elemento de uma
totalidade concreta, no nível da formação econômica e social capitalista. [...] como produto de
determinações gerais [se reproduzindo] a partir de determinações históricas específicas, que
diferenciam os lugares” (CARLOS, 1994, p. 39-40).
29

sociais, contextualizadas numa sociedade dita “pós-moderna”, indagando e


refletindo sobre o real apresentado diante dos “olhares geográficos”, considerando a
ação do capital e de suas relações na construção dos lugares. A perspectiva
dialética se apresenta como um caminho direcionador dos trabalhos. A paisagem
urbana, o ponto de partida, é resultado de processos políticos e sociais que lhe
conferiram sua forma atual.

O espaço urbano é o âmbito das contradições, e é nele que os diversos


lugares são representados e transmitem sua mensagem que constrói esse espaço.
Assim, são pertinentes algumas ideias da Geografia radical, referentes ao seu
fundamento, que está no conhecimento da essência dos fatos – e não das suas
aparências – ligando-se com o materialismo histórico e dialético no que se refere à
utilização de suas características e ao discurso político engajado na ciência. Desta
forma, a análise do urbano deve considerar, sobretudo, as questões políticas
inseridas nesse contexto. A perspectiva de produzir saberes racionais e objetivos
pela observação do real/histórico assimilada pela Geografia crítica é perfeitamente
aplicável nesta análise. É a “razão histórica, materialmente determinada, em
oposição à concepção do idealismo definidor do real como um produto da razão
absoluta” (GOMES, 1996, p. 282). Aqui o real apresenta-se como um produto
fundamentalmente social.

Santos (1999) fala sobre duas possibilidades para se trabalhar a


Geografia. A primeira seria considerar os fixos e os fluxos, e a segunda configuração
territorial e relações sociais. Considera que a configuração territorial é resultado da
produção humana ao longo dos tempos, sendo que esta tende a uma negação da
natureza natural na medida que a substitui por uma “natureza inteiramente
humanizada”. A dialética está presente na formação do espaço. Existe uma
indissociação de um conjunto que ao mesmo tempo é solidário e contraditório. São
sistemas de objetos e de ações que devem ser analisados, sempre, conjuntamente
uma vez que estão dentro do quadro único em que a história se realiza (SANTOS,
1999, p.51). O espaço urbano também sofre uma desnaturalização, à medida que o
lugar perde seu significado original para atender novos interesses.
30

Considera-se que, é na práxis que o homem deve demonstrar “a verdade”


(MARX & ENGELS, 1989). Esta afirmação, aqui tendo a compreensão de práxis
como a ação transformadora e consciente do homem, revela a importância de
objetos palpáveis para se analisar o espaço geográfico e, dessa forma, não
compreender a produção da vida real como “[...] algo separado da vida comum,
como algo extra e supra-terrestre” (MARX & ENGELS, 1989, p.57).

Nas cidades “a verdade”, tomando como parâmetro a afirmação anterior,


pode ser observada, também, na paisagem urbana. Essa paisagem, cristalizada no
lugar, é o ponto de partida para análises diversas, dentre elas a da formação do
espaço urbano. Espaço este que é um produto técnico – produto das forças
produtivas – materializadas num lugar e inseridas num tecido pré-existente que lhes
conferirá características específicas (SANTOS, 1999).

Segundo Seabra (2001, p.75) houve uma mudança da qualidade no


fenômeno urbano. Em certo momento a cidade como forma não comportou mais os
seus conteúdos, dando espaço para a metropolização. Assim “[...] a metrópole é a
síntese contraditória das cidades, e enquanto tal, guarda fragmentos do que
envolve: da cidade e dos bairros”. O processo de espacialização da reprodução
social é a metropolização. É a adequação da cidade ao ritmo imposto pela realidade.
O desenvolvimento implica em transformações urbanas: pontes, viadutos,
transportes, etc., e, segundo o mesmo autor, também direciona o surgimento de
bairros, o que implica na criação das condições para a estruturação dos mercados
de trabalho, de produtos e fundamentalmente do mercado imobiliário.

As bases históricas são dilaceradas. “...a cidade é um fenômeno


complexo... pensar a cidade exige a superação de qualquer linearidade de
raciocínio” (SEABRA, 2001, p.78). Historicamente a cidade produz um sentimento de
pertencimento a uma comunidade, porém nem todos têm esta possibilidade gerando
uma luta no urbano em busca do direito de “ser cidadão ou não ser nada”. Uma luta
em busca do co-direito de ser cidadão.

Analisando o decorrer do tempo Seabra (2001) destaca dois movimento


no espaço urbano que levariam a uma síntese:
31

a) o primeiro

foi o da propriedade como equivalente de valor que, por mecanismos da


renda fundiária, fez formação de capital e foi edificando e reedificando a
cidade histórica no que implicou os produtos e obras da cidade. A
segregação espacial implícita neste processo acomodava, nos bairros da
cidade, os contigentes de trabalhadores urbanos e chegou a distinguir
cabalmente o centro, a cidade e o entorno” (SEABRA, 2001, p.80).

b) o segundo

é do capital mesmo, que assim gerado ganha autonomia, e na procura de


onde desfrutar de rentabilidade maior, vai decretando, de um lado a
obsolescência, e de outro, produzindo o ‘novo’ no processo de reprodução
do espaço urbano (SEABRA, 2001, p.81).

Partindo de tais pontos percebemos que o refazer da cidade se tornou um


grande negócio, marcado pela formação de um forte setor imobiliário urbano que
tem na cidade seu campo de investimentos e lucros.

A história da urbanização se apresenta com uma metamorfose da cidade


histórica em prol da modernidade. As formas antigas tomam novas funções para
atender a sociedade contemporânea. Com isso o lugar perde sua essência, torna-se
estranho à comunidade que não mais se sente parte deste espaço.

A análise das partes, componentes do espaço analisado, constitui-se


numa tarefa necessária para a compreensão do todo. As partes não se restringem à
cidade estudada, mas dizem respeito, também, à sua inserção no estado, no Brasil e
no mundo; nos âmbitos sociais, econômicos e/ou políticos.

O mundo, como resultado das transformações humanas, transforma o


próprio homem. O sistema de objetos condicionam as ações, sugerem novas ações
que criam novos objetos. Isso gera uma transformação dinâmica do espaço
(SANTOS, 1999). Nessa relação dialética criam-se necessidades que devem ser
atendidas para o bom funcionamento da sociedade, para sua (re)produção. O
espaço urbano de Jataí é uma parte num conjunto mais amplo, uma vez que insere-
se numa região que é produto do inter-regionalismo (BENKO, 1996). O espaço
urbano de Jataí é resultado das transformações humanas e gera transformações no
próprio homem. O espaço é, assim, uma materialização das experiências, das
percepções e do pensar do homem (DEUS, 2002).
32

Ele revela a sociedade que o produziu, pois compreende a materialidade


mais a vida que o anima, é “um conjunto indissociável de sistemas de objetos e
sistemas de ação” (SANTOS, 1999, p.51). Para compreender a essência desse
espaço deve-se desvelar suas formas. Há de se extrair os significados do objeto,
ultrapassando uma simples descrição deste (CASTELLS, 1983, p.78).

A paisagem urbana - o fenômeno, a aparência - guarda em si elementos


de um contexto social e histórico que a produziu. As mudanças ocorridas no espaço
urbano jataiense resultaram de necessidades da sociedade local, num reflexo de
necessidades criadas não necessariamente no lugar em questão. Os objetos
implantados em Jataí com a modernização da agricultura implicaram em novas
relações sociais. O espaço anteriormente identificado com o morador local tendeu a
“fins estranhos ao lugar e aos seus habitantes” (SANTOS, 1999, p.51). A cidade
passa a ser o lugar do morador do campo. Este não mais colhe seu alimento, mas
um salário que nem sempre o permite tê-lo. Marx & Engels, ao criticarem a ideologia
alemã em meados de 1845, dizem que
[...] o primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de toda
a história, é que os homens devem estar em condições de viver para “fazer
história”. Mas, para viver, é preciso antes de tudo comer, beber, ter
habitação, vestir-se e algumas coisas mais. O primeiro ato histórico é,
portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas
necessidades [...]. (MARX & ENGELS, 1989, p. 39). (Grifos nossos).
Partindo de tais pressupostos percebe-se que a produção destes meios
marca a configuração espacial de Jataí. E, por consequência, estes meios permitem
que os homens façam história. História esta que é escrita por indivíduos que
desejam, em muitos casos, apenas estar em condições de viver dignamente.

Por sua vez a história da formação de Jataí é escrita, em grande parte,


pelo “mover da fronteira”. O espaço torna-se um “lugar de desencontro” no momento
da descoberta do “outro” (MARTINS, 1997). O “outro”, neste caso, é o migrante, em
contraste com o indivíduo desprovido de uma situação financeira que lhe permita
“fazer sua história” de uma forma menos árdua. Aqui cristaliza-se a paisagem
urbana de Jataí (Figuras 1 e 2).
33

Figura 1: Jataí-GO: Área urbana – vista parcial


Fonte: JATAI-GO (2004a): Dossiê de Jataí – Foto: Gênio Eurípedes
34

Figura 2: Jataí-GO: Área urbana – 2008.


35

1.2 – A TEMPORALIDADE DA PESQUISA: PERÍODOS IMPORTANTES NA


CONSTRUÇÃO DE JATAÍ

Santos (2001, p.23), ao tratar sobre os problemas da periodização, alerta


que o importante é “[...] escolher as variáveis-chave que, em cada pedaço do tempo,
irão comandar o sistema de variáveis, esse sistema de eventos que denominamos
período” (grifo no original).

Embora a tarefa de periodizar não seja tão simples, ela é fundamental.


Separar períodos com características semelhantes que conduzem o processo de
transformação, nesse caso socioespacial, é crucial para entender o contexto geral
do objeto de estudo e, a partir daí, desvelá-lo.

Assim, delimitou-se “pedaços de tempo”, definidos por características que


se interagem, assegurando o movimento do todo, a fim de definir alguns períodos
(SANTOS, 2001, p.24). Períodos marcados por instantes do tempo dando-se em um
ponto do espaço, ou simplesmente por eventos (SANTOS, 1999, p.115).

A escolha das variáveis-chave parte de algumas delimitações temporais


clássicas em termos de Centro-Oeste, como a de Steinberger (2003, p.613) que
destaca três períodos, levando em consideração o processo de transformação
produtiva dessa região:

- Os anos 70, marcados pelo início da adaptação do cerrado à cultura da


soja quando chegaram os pioneiros dessa cultura no Mato Grosso do
Sul e foram implantadas as primeiras unidades de beneficiamento de
grãos em Goiás;

- Os anos 80, emblemáticos da expansão da soja e do milho, dominadas


pelas tradings do mercado de commodities; e

- Os anos 90, quando se assistiu à consolidação do complexo grãos-


carne com a participação de capitais internacionais e nacionais de
grandes conglomerados do Sudeste e Sul do país. (Grifos no original).

Pelas observações de Estevam (1998, p.168), são levantados períodos


semelhantes: o primeiro diz respeito às décadas de 1970 e 1980, sobretudo no
período 1975-1983, quando “os recursos do governo federal destinados a custeio,
comercialização e investimentos na agropecuária foram volumosos [...]”; o segundo
36

refere-se ao período posterior, 1983-1990, quando tais recursos sofrem um


decréscimo gradativo; e o terceiro é determinado por uma queda ainda maior em
termos de crédito rural, uma vez que “[...] no início da década de 1990, o crédito
rural sofreu – a preços constantes de 1991 – violenta contração atingindo níveis
próximos aos da década de 1970”.

Dessa forma, temos quatro períodos marcantes para o município de Jataí-


GO, e consequentemente para a formação4 de seu espaço urbano, que são:

- O primeiro, iniciado com a ocupação das terras em 1836, que marca-se


pelas primeiras atividades agropecuárias desenvolvidas nessa região.
Esse estende-se até as décadas de 1950 a 1970, momento em que a
pecuária extensiva veio a declinar (MACHADO, 1996);

- O segundo refere-se à chegada da fronteira agrícola e ao início


modernização da agricultura, compreendendo a década de 1970;

- O terceiro diz respeito às décadas de 1980 e 1990, período marcado


pela consolidação da modernização da agricultura, com a produção de
monoculturas para exportação. Período de grande dinamismo no espaço
urbano;

- O quarto período compreende a atual década de 2000 quando,


esgotada a dinâmica econômica tradicional, produzida pela expansão da
fronteira agrícola, sobressai a busca por alternativas econômicas como a
agroindústria (aves, suínos, etc), a produção sucroalcooleira e o turismo.

Tal divisão não tem a pretensão de estabelecer períodos rígidos para


esse estudo, ou ainda definir uma divisão temporal fixa e acabada que dê conta dos
diversos olhares da análise geográfica. O que se pretende é ter claro algumas
variáveis, que são marcantes para a configuração socioespacial de Jataí (Figuras 1
e 2).

4
A formação do espaço urbano é entendida como formação do aspecto visível, o tecido urbano em si,
e dos aspectos que nem sempre são percebidos num primeiro olhar, quais sejam, as relações sociais
dos moradores da cidade, relações oficiais e não-oficiais.
37

1.3 – O CONTEXTO DA PESQUISA

Atualmente, é comum ver um cenário urbano marcado por problemas


como a falta de emprego, a precariedade do transporte, do saneamento, da saúde,
etc. Essa situação não é desconhecida e torna-se cada vez mais perceptível à
medida que cresce a urbanização. Como corrobora Santos (1993, p.95), “com
diferença de grau e intensidade, todas as cidades brasileiras exibem problemáticas
parecidas”. A ocupação do solo urbano exige atualmente um sério controle através
de órgãos reguladores, como as prefeituras em escala local, sendo fundamental o
papel do poder público na busca de soluções para o cenário urbano.

Sabemos, então, que instrumentos que possam direcionar um processo


de crescimento que atenda todas as esferas sociais são imprescindíveis na busca
pelo desenvolvimento das cidades. Em um destes instrumentos, o Plano Diretor
Urbano implantado em Jataí, observamos metas que, ao serem alcançadas,
resultarão num espaço urbano mais justo e numa melhoria da qualidade de vida da
população local, uma vez que nele se prevê

[...] garantir o equilíbrio entre o crescimento demográfico/econômico e a


qualidade de vida e bem-estar da população na área urbana [...] bem como
[...] assegurar as condições gerais para o desenvolvimento da produção, do
comércio e dos serviços e, particularmente para a plena realização dos
direitos dos cidadãos como o direito à saúde, à educação, ao saneamento
básico, ao trabalho e à moradia, ao transporte coletivo, à segurança, à
informação, ao lazer e à qualidade ambiental e à participação no
planejamento. (JATAÍ-PLANO DIRETOR URBANO, 2001, p.1)

A situação de Jataí não é uma exceção às observações de Santos


(1993), problemas urbanos estão presentes em sua realidade. É aqui que o
Geógrafo deve atuar, de forma a auxiliar na busca de soluções para os problemas
que, frequentemente, caminham ao lado do processo de expansão urbana.

Como forma de embasar as decisões públicas referentes ao planejamento


urbano e ainda dar suporte a novos estudos que visem contribuir para o
desenvolvimento, e não somente crescimento, da cidade, este trabalho analisa a
estruturação interna de Jataí, sobretudo através da distribuição populacional por
níveis de renda, no cenário, predominantemente, pós 1970.
38

Para tanto, utilizou-se estudos bibliográficos e trabalhos de campo,


levantando dados referentes à estruturação desse espaço. Montando uma base
teórica, necessária à tomada de decisões, através do cruzamento de informações,
que ao serem interligadas revelam que o visível nem sempre é o real, este trabalho
agrega novos elementos para a discussão do espaço urbano jataiense, dentro da
ciência geográfica.
Considera-se que trabalhos como este são de fundamental importância
para fornecer dados e informações ao poder público municipal, bem como à
sociedade em geral, objetivando a promoção do debate, do questionamento e,
acima de tudo, de ações que promovam “[...] um desenvolvimento urbano autêntico,
sem aspas, [que] não se confunde com uma simples expansão do tecido urbano”
(SOUZA, 2003, p.101).

1.4 – O PROCESSO DE FORMAÇÃO DE JATAÍ

O processo de urbanização brasileira, iniciado a partir do século XVIII


com as primeiras articulações entre as chamadas “feiras” (comércio entre fazendas),
presencia mudanças e adaptações em sua forma de ação. A necessidade de se
buscar novos horizontes que supram as aspirações nacionais proporcionam a
corrida do ouro que, por sua vez, abre espaço para a pecuária. Da mesma forma, as
lavouras de produtos tropicais (sobretudo a produção cafeeira no Sudeste) criam
subsídios para a implantação de indústrias. Assim são diversos os aspectos que
levam a uma crescente urbanização, o que seria uma consequência de todo
processo vivido pela sociedade no decorrer dos tempos, levando a uma ocupação
do interior do nosso território.

O primeiro estímulo comercial que motivou bandeirantes e jesuítas a


penetrarem o extenso território goiano foi a captura de índios para o trabalho
escravo e para fins de catequização. Durante essas atividades, foi encontrado ouro
de aluviões, tendo a notícia se espalhado em Portugal. Com isso, em 1722, chegava
em Goiás o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, que localizou vários córregos
39

auríferos na região. A partir de então, Goiás foi incorporado oficialmente ao território


brasileiro (PALACÍN, 1972).

O período aurífero goiano foi breve e por volta de 1822 a produção já era
quase inexistente (PALACÍN et al., 1995). A decadência do ouro dificultou muito a
vida econômica da população mineradora. Os mineiros, que permaneceram em
Goiás, passaram a dedicar-se à pecuária extensiva e à agricultura de subsistência.
Essa nova atividade econômica trouxe, como consequência, a expansão da
ocupação do território goiano e um aumento populacional devido às correntes
migratórias vindas de outros estados. O Sudoeste de Goiás, nessa época, foi palco
do surgimento de novos centros urbanos como a cidade de Jataí (PALACÍN &
MORAES, 1989).

Após as modificações históricas, verificadas no processo de urbanização


nacional, presenciamos, hoje, um espaço caracterizado pelas ações decorrentes de
uma dinâmica diretamente ligada aos princípios capitalistas de lucro e
competitividade. Esse espaço é, assim, um produto da estrutura social vigente, é a
expressão concreta da sociedade que o produz.

A forma, e até mesmo a estrutura, dos centros urbanos é determinada


sempre de acordo com o que é favorável a este ou àquele grupo, salvo honrosas
exceções. O espaço urbano não é organizado ao acaso, ele é estruturado e os
processos sociais que se ligam a ele exprimem, ao especificá-los, os condicionantes
de cada tipo e de cada período da organização social (CASTELLS, 1983, p.181-
182).

As primeiras famílias que se instalaram no Sudoeste Goiano viram


atrativos como a “[...] abundância de terras boas para pastagens e a facilidade de
acesso à propriedade”. Seguindo o “caminho das águas” e desbravando o território
goiano tais ocupações constituíam-se em verdadeiras “[...] propriedades
latifundiárias que deram origem a cidades como Rio Verde, Jataí, Caiapônia,
Quirinópolis, Mineiros, dentre outras” (TEIXEIRA NETO, 2002, p.30).
40

O município de Jataí (Figura 3), localizado no Sudoeste Goiano, a


aproximadamente 320km da capital, emancipado em 1895, tem suas origens
datadas de 1836, ano de descoberta dessas terras. Seu surgimento insere-se no
movimento de ocupação do Sudoeste Goiano, uma vez que o nascimento das
cidades dessa microrregião, em sua maioria, é marcado pela agropecuária
tradicional (TEIXEIRA NETO & GOMES, 1995). Como a maior parte do interior
brasileiro, Jataí nasce alvo da coragem e determinação de homens, que sem

Figura 3: Localização da área de estudo


41

nenhuma referência real, partem à procura de novas terras, seja para agricultura,
pecuária ou à procura de outras riquezas naturais.

Sua história marca-se pela chegada de Francisco Joaquim Vilela e de seu


filho, José Manoel Vilela, em setembro de 1836. Depois de longa e cansativa
jornada fixaram-se às margens do Rio Claro, onde plantaram lavouras e criaram
gado. As primeiras construções se deram à margem do Córrego Jataí e um posterior
encontro com José Carvalho Bastos resultou na divisão das terras, originando as
primeiras posses do futuro município.

A beleza da região impressionava seus novos habitantes e a


hospitalidade da natureza implicou em novas migrações para o sítio-fazenda. O
nome Jataí resulta, da grande quantidade de mel encontrado, produzido pela abelha
de mesmo nome.
O Distrito de Jataí é criado em 1864, registrando-se antes a chegada de
mais um pioneiro: Serafim José de Barros. Outro marco seria, como na maioria das
localidades brasileiras, a construção da Matriz da Igreja Católica, em 1867.
Segundo Machado (1996) a principal atividade econômica praticada pelos
migrantes era a pecuária extensiva que perdurou por mais de um século, vindo a
declinar nas décadas de 1950 a 1970.

A partir de então abre-se um novo período, bastante significativo para a


estruturação urbana de Jataí. As alterações ocorridas suscitam questionamentos
que se inserem numa realidade ampla e complexa. Uma das faces desta realidade
diz respeito ao desenvolvimento do Centro-Oeste influenciado, no início do século
XX, pela expansão cafeeira de São Paulo em direção ao Mato Grosso e pela
implantação do transporte ferroviário (Galindo e Santos, 1995).

Mais especificamente, relacionado à nossa área de estudo, nos


remetemos às décadas de 1960/1970 quando se constituíram as bases para a
introdução das frentes modernas, que impactaram vigorosamente a economia do
Centro-Oeste e sua estrutura urbana; período em que reside a compreensão da
estrutura produtiva e da urbanização do Centro-Oeste (Guimarães & Leme, 1998,
p.26).
42

Neste sentido, Galindo e Santos (1995) consideram o Centro-Oeste como


“região de fronteira” em âmbito nacional, passando a se caracterizar por uma forte
expansão da agropecuária. O cenário nacional, que possibilita grandes alterações
no Centro-Oeste, inclusive as ocorridas no Sudoeste Goiano, sobretudo nas
décadas de 1970/1980, passa por um período em que a agricultura adquire
importância crucial na expansão e na diversificação das exportações. Era necessário
“produzir excedentes de alimentos a custos razoáveis e fornecer recursos para
financiar o desenvolvimento urbano-industrial do centro dinâmico da economia
nacional” (Mueller, 1992, apud Galindo e Santos, 1995, p.157).

As ações do Estado foram fundamentais para que o Centro-Oeste fosse


ocupado e se desenvolvesse com índices expressivos, verificados a partir da década
de 1970 (Galindo e Santos, 1995). Neste sentido, Miziara (2000, p.284) comenta a
participação do Estado para a chegada da fronteira agrícola no Centro-Oeste: “Foi
necessário que o Estado fornecesse outros atrativos, principalmente em termos de
créditos e de acesso à terra a custo baixo, para que se modificasse o cálculo dos
investimentos privados”. Isso explica o fato de que a modernização da agricultura
nesta região se desenvolvesse a partir de meados da década de 70, período
marcado pelas “[...] políticas específicas para a região com oferecimento de crédito
fortemente subsidiado”. Segundo Miziara (2000) na década seguinte, embora tenha
ocorrido uma retração do crédito, a garantia de preços mínimos para a região foi
outra forma de subsídio.

Após 1950 ocorrem transformações significativas para a base econômica


da região. A agropecuária passa a ter caráter mais comercial, ocorrendo uma maior
modernização e diversificação no campo; a mineração experimenta novas frentes de
desenvolvimento. Essas mudanças implicam em alterações no setor secundário
incrementado a partir desta base, aproveitando as matérias-primas ali originadas.
Consolidam-se, assim, “[...] os ramos de produtos alimentares, madeireiro e de
minerais não-metálicos” (Galindo e Santos, 1995). Neste conjunto de
transformações Goiás conquista uma centralidade que não é apenas geográfica,
definida por suas coordenadas – latitude e longitude, mas é, sobretudo, definida pelo
papel que o seu território desempenha com relação ao conjunto do país (TEIXEIRA
NETO, 2002, p.12).
43

1.4.1 - A CONSTRUÇÃO DA FRONTEIRA

O surgimento de Jataí insere-se, inicialmente, no avanço da “frente de


expansão” e posteriormente da “frente pioneira”; marcando-se em termos mais
recentes pelo avanço da fronteira agrícola na década de 1970.

Podemos entender o primeiro momento, da “frente de expansão”, como “o


movimento no qual a vida econômica não está estruturada primordialmente a partir
de relações com o mercado, mas fornece produtos para a comercialização, não
podendo, pois, ser classificada de economia natural” (FERREIRA, 1988, p.41).

A “‘frente pioneira’ se instala como empreendimento econômico [...]”.


Seria “[...] uma modalidade de estender a fronteira, incorporando novas áreas ao
sistema produtivo, onde vão reproduzir as relações sociais que estão na base do
mesmo” (Ferreira, 1988, p.41), constituindo aqui o segundo momento da ocupação.
Esta “[...] exprime um movimento social cujo resultado imediato é a incorporação de
novas regiões pela economia de mercado. Ela se apresenta como fronteira
econômica” (Martins, 1975, p.45).

Aqui nos referimos à fronteira como

[...] o processo de ocupação de um espaço reputado vazio. O vazio pode


ser tanto demográfico como econômico ou jurídico, e o espaço se encontra
tanto na floresta amazônica, como nos cerrados ou em qualquer lugar do
Brasil (FERREIRA, 1988, p.38).

O espaço em pauta é o da cidade de Jataí que se insere na realidade


centroestina pós 1964, e, por consequência, na realidade goiana no âmbito das
políticas de integração nacional. Esta realidade reserva para Goiás o papel de
“fronteira agrícola, produtor de alimentos e matérias-primas [...]” (Barreira, 2002,
p.178).

De acordo com Teixeira Neto & Gomes (1995, p.7)

o novo modelo de ocupação e povoamento já não era tão espontâneo como


de início, com a chegada dos primeiros moradores, mas sim comandado e
organizado pelo capital e obedecendo a metas e prioridades da burguesia
capitalista nacional e internacional. A propriedade da terra não mais era
pública, mas sim já devidamente apropriada, privatizada e individualizada.
44

Segundo Barreira (2002, p.177), “nas áreas já ocupadas [do território


goiano], houve uma redefinição e um aprofundamento dos processos econômicos
mais articulados”. Essas áreas sofreram “[...] uma intensificação das atividades, de
uma forma mais capitalista”. Este espaço foi encarado, pelo capitalista individual,
como “zona de fronteira agrícola”, oferecendo “[...] a possibilidade de alterar uma
das variáveis – social, geográfica ou econômica – de acordo com seus interesses
[...]” (Miziara, 2000, p.283). É neste espaço que se percebe a influência da chegada
da fronteira, sobretudo da fronteira agrícola, que altera a economia local:

O Sudoeste de Goiás, bem como, o município de Jataí, desde o início de


seu povoamento, teve a pecuária tradicional como principal atividade
econômica. A partir dos anos de 1970, foi gradativamente incorporando
formas de produção agrícola e pecuária “modernas” (MELO, 2003, p.78)

Barreira (2002), analisa a evolução da ocupação de Goiás através da


incorporação regional pelas frentes pioneiras. Segundo a autora, tal análise objetiva
demonstrar a redefinição do território atual com o desenvolvimento das frentes.
Redefinição esta que já salientava Borges (1990), analisando a chegada da estrada
de ferro em Goiás; um forte elemento que impulsionou o desenvolvimento regional:
“as inúmeras estradas de rodagem construídas no início da década de 1920 [...]
fizeram com que o raio de expansão do processo modernizante extrapolasse os
limites da região da Estrada de Ferro” (Borges, 1990, p.108).

A Figura 4 reproduz o mapa de expansão das frentes pioneiras no século


XX elaborado por Barreira (2002). Nele percebemos a incorporação do Sudoeste
Goiano ao mercado nacional, na década de 1920. Verifica-se, ainda, o sentido da
ocupação originária de Minas Gerais, a qual sofre posteriormente influência da
capital estadual. Pela observação do referido mapa constrói-se uma visão geral da
descrição do Sudoeste Goiano, no início do século XX, feita por Melo (2003, p 42).

O Sudoeste, em relação ao Sudeste de Goiás, nos primeiros anos do século


XX, vivia um “tempo lento”. A vida sócio-econômica caminhava no mesmo
ritmo dos meios de transportes, em sintonia com o trotar da cavalgadura e
com o “cantar” do carro de bois. Mas, mesmo na sua lentidão particular, não
se colocava resistente ao novo, ao moderno. Estes eram, porém, os sonhos
de uma expressiva parte da sociedade que se formava em Rio Verde, Jataí,
Mineiros, Rio Bonito (Caiapônia) e Santa Rita do Paranaíba (Itumbiara), que
lança nos mercados mineiro e paulista os bovinos sudoestinos, a duras e
penosas viagens.
45

Figura 4: Estado de Goiás: Expansão das Frentes Pioneiras no Século XX

Estevam (1998, p.189), falando sobre a estrutura produtiva e a


urbanização em Goiás, salienta a importância de se compreender as transformações
sócio-econômicas ocorridas no estado no âmbito espacial do Centro-Oeste
brasileiro. As alterações ocorridas em sua estrutura sócio-produtiva,

[...] sobretudo no contexto pós 1970, e redução do tempo de trabalho


necessário/período de produção modificou as relações sócio-econômicas
regionais eminentemente no centro-sul do estado (ESTEVAM,1998, p.170).

Esta região “articulou-se, na condição de ‘fronteira do capital’, ao espaço


hegemônico do capitalismo nacional tendo São Paulo como polo dinâmico”. Neste
sentido, Borges (1990, p.12) fala sobre a expansão da fronteira econômica a partir
da região Sudeste do Brasil que “[...] estabeleceu ou redefiniu a divisão regional do
trabalho, a qual servirá como base de crescimento de todo o processo de
urbanização e industrialização que se implantou no País [...]”.
46

Na visão de Barreira, (2002, p.171), temos uma análise das mudanças


estruturais ocorridas na região Sudoeste do estado após meados da década de
1940:

[...] a estrutura regional mudou, com a introdução de uma agricultura


comercial (arroz e algodão) em municípios como Jataí, Rio Verde, Santa
Helena, Quirinópolis, Paraúna, Mineiros e Santa Rita do Araguaia. Com a
chegada da soja, na década de 70, e a consequente modernização da
agricultura, desencadearam-se transformações sem precedentes. Esta
região hoje concentra a maior produção agrícola, com importantes
agroindústrias e uma agricultura altamente comercial.

O conjunto das alterações espaciais descritas é a base para verificarmos


os reflexos significativos da “expansão da fronteira” ocorridos em Jataí. Cabe aqui
destacarmos as palavras de Graziano Neto (1985) quando trata da modernização da
agricultura no Brasil, pois, é esta a realidade do Sudoeste Goiano e de Jataí.
Percebe-se no município de Jataí a presença marcante da modernização da
agricultura, porém

[...] não se pode confundir modernização com desenvolvimento, pois este


significa um processo de transformação socioeconômico que provoca a
melhoria do bem-estar geral da população, uma elevação do padrão de vida
como um todo” (GRAZIANO NETO, 1985, p.78).

Brumer (s. d., p.184) ao comentar sobre os efeitos da modernização da


agricultura diz que “a transferência [populacional] do campo para a cidade não
significa [...] maior bem estar dos trabalhadores, praticamente ‘abandonados’”,
traduzindo-se no crescimento do desemprego e/ou do subemprego nas áreas
urbanas, causando graves problemas sociais. Eis a presença da modernização, não
implicando necessariamente num desenvolvimento que a acompanhe.

As cidades, segundo Lefebvre (1991, p.4), são “[...] centros de vida social
e política [...]” e, assim sendo, cristalizam no espaço urbano as mudanças ocorridas
nestas esferas. Essas mudanças, ocorridas fundamentalmente pela modernização
da agricultura, foram cristalizadas em Jataí e compõe o espaço ora analisado.
47

1.4.2 - A RESPOSTA URBANA

O cenário das grandes alterações regionais ocorridas no Centro-Oeste é


marcado por uma elevada taxa de urbanização no período de 1970 a 1991,
conforme verificam Galindo e Santos (1995) analisando dados do Censo de 1991.
Em 1970, 48% do total da população habitava em áreas urbanas. Em 1991 esta
percentagem sobe para 81,3%. Essas mudanças resultaram

[...] tanto das transformações das relações de produção, quanto do


processo tecnológico adotado pela agricultura, fundamentalmente voltada
para a produção de culturas de exportação, cuja mecanização reduziu a
capacidade de absorção do contingente que trabalha no campo, obrigando
a população rural a buscar emprego nas áreas urbanas (Galindo e Santos,
1995, p.179).

Em 1980 o estado de Goiás apresentava um índice de urbanização na


ordem de 62%, alterando-se para a faixa de 76% na década seguinte num
crescimento nítido de caráter urbano (MARTINE, 1994).

Deus (2002), discorre sobre os efeitos da chegada da fronteira agrícola


em Goiás. Segundo o autor esse modelo de produção agrícola, que utiliza mão-de-
obra especializada, ou não, mas temporária, em grandes propriedades (latifúndios),
provocou o êxodo rural e, consequentemente, o intenso processo de urbanização.
Por conseguinte, a mesorregião Sul de Goiás, composta pelas microrregiões
Sudoeste de Goiás, Vale dos Bois, Quirinópolis, Meia Ponte, Pires do Rio e Catalão,
comporta “[...] os maiores polos não metropolitanos do território goiano, à exceção
de Anápolis. Destacam-se Rio Verde, Itumbiara, Jataí e Catalão, impulsionados pela
agricultura mecanizada, produzindo grãos como soja e milho [...]”.

Neste sentido, Martine (1994) corrobora conosco ao observar que uma


das características deste tipo de expansão – fundamentado numa agricultura
intensiva em capital, onde a soja tem papel preponderante – é justamente ocupar
pouca gente na área rural, embora, possa gerar empregos nos setores formais e
informais das áreas urbanas.
48

No que se refere ao espaço urbano de Jataí a compreensão da fronteira


passa pelas afirmações de Martins (1997):

[...] a fronteira é essencialmente o lugar da alteridade. É isso que faz


dela uma realidade singular. À primeira vista é o lugar do encontro dos que
por diferentes razões são diferentes entre si [...]. Mas o conflito faz com que
a fronteira seja essencialmente, a um só tempo, um lugar de descoberta do
outro e de desencontro. (MARTINS, 1997, p.150). (Grifos no original).

Jataí torna-se palco de mudanças. O que era palpável se transforma num


ritmo antes desconhecido. Novas necessidades são criadas. Novos personagens
surgem no espaço e exigem seu lugar na sociedade e na cidade. Para alguns seu
novo lugar é o bairro nobre, com edificações imponentes. Para outros, a maioria, é
um lugar que não foi sonhado, é a periferia, é o trabalho mal remunerado.

O mesmo espaço de mudanças é o lugar da “descoberta do outro” e do


reconhecimento dos benefícios por ele trazidos, o que verificamos pelo avanço
econômico: “O período de maior destaque na fundação das empresas de comércio e
serviços agrícolas [em Jataí] ocorreu, sobretudo, nos anos de 1980, momento
histórico da expansão da cultura da soja no município [...]” (Melo, 2003, p.115).

A ocupação do Centro-Oeste, marcada fundamentalmente pela presença


da agropecuária, reflete no processo de urbanização deste espaço, tanto em termos
de serviços quanto de consumo, transformando várias cidades caracteristicamente
agrícolas, até os anos de 1960, “[...] em núcleos urbanos com dinâmicas
relativamente autônomas de expansão da renda e do emprego” (Galindo e Santos,
1995, p.166).

Analisando o Gráfico 1 percebemos o crescimento populacional na cidade


de Jataí. Em 1970 encontramos em torno de 40.000 habitantes; valor que chega a
mais de 75.000, no ano 2000, e a quase 82.000 em 2007. Isso nos permite
questionar o quadro urbano que se mostra dinâmico no período em questão. O
crescimento da população urbana, segundo Melo (2003), entre 1970 e 2000
continuou aumentando, uma vez que na década de 1970 as pessoas residentes na
cidade já eram maioria.
49

Gráfico 1 – Jataí-GO: Evolução da população - 1910 a 2007

90.000

81.972
79.398
80.000
75.451

72.421
70.000 68.821

61.556
60.000

52.989
50.000 49.520
População

41.374 40.933
40.000

31.229
30.000 Pop. Total
26.706 Pop. Urbana
27.985
Pop. Rural
20.000 17.421
18.579
14.022
13.963 14.668
10.000
8.587 8.567
4.037 6.630 6.977

-
1910 1936 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2003* 2007**
Ano

* Estimativa. **Contagem da população 2007 (disponível apenas a população total)


Fonte: IBGE: Censo demográfico, 2000/Estimativa das populações, 2003/Estatísticas do século XX,
2004/Contagem da população 2007; MELO, N. A. (2003).

Verifica-se um crescimento de aproximadamente 157%, em detrimento da


população rural que apresentou decréscimo nas três décadas consideradas,
principalmente entre 1970 e 1980 (decréscimo de 55%). Situação que coloca Jataí
entre as duas cidades, no Sudoeste Goiano, com população urbana superior a 90%
(Tabela 1).
50

Tabela 1 –Goiás: Municípios com predominância de


populações urbanas - 2000
Municípios com População Urbana > 90% do total
Águas Lindas de Goiás
Anápolis
Aparecida de Goiânia
Caldas Novas
Goianésia
Goiânia
Inhumas
Itumbiara
Jataí
Luziânia
Santa Helena de Goiás
Novo Gama
Planaltina
Santo Antônio do Descoberto
Senador Canedo
Trindade
Fonte: Adaptado de AGÊNCIA AMBIENTAL DE GOIÁS,
2003 (GeoGoiás 2002)

Desde o início da ocupação de Jataí sua dinâmica populacional é


significativa, motivada pelas razões já expostas. A partir de 1940 o ritmo de
crescimento se mantém com índices semelhantes aos iniciais. No entanto, no
período de 1950 em diante, a motivação não é mais a mesma das primeiras
ocupações, uma vez que “[...] os grandes fluxos migratórios rurais se direcionaram
para a fronteira agrícola em expansão, consolidando núcleos já existentes na porção
sul do Estado” (AGÊNCIA AMBIENTAL DE GOIÁS, 2003, p.1).

Nesse quadro têm destaque os intervalos de 1960-1970 e 1991-2000.

No primeiro está presente a modernização da agricultura como fato


motivador do crescimento, sendo estes os anos que registram maior crescimento
percentual num âmbito mais recente (48%). No segundo está presente a
consolidação das monoculturas para exportação, marcadas por novas dinâmicas no
espaço urbano, dentre elas o grande número de estabelecimentos comerciais,
industriais e prestacionais instalados em Jataí. Na década de 1960 a população
urbana começa a superar a rural, porém ainda de forma tímida. É na década
seguinte que tal ação se consolida.
51

O crescimento populacional segue em ritmo constante, permitindo


estimativas semelhantes para a década atual. Vale salientar que a população do
município não sofre, em nenhum período, queda nos seus valores. A diferença, para
menos, registrada no intervalo 1950-1960 se deve à emancipação do distrito de
Serranópolis, ocorrida em 1958.

Hoje a cidade se apresenta alterada em função, principalmente, do


processo de reprodução do capital imposto com a chegada da fronteira agrícola.

A produção agrícola desenvolveu-se concomitante à mecanização do


processo de produção, ao avanço do trabalho assalariado, à incorporação
do trabalho especializado, ao êxodo rural, à “tecnificação” do espaço, ao
crescimento da cidade, bem como a uma série de mudanças sócio-culturais
e econômicas. (MELO, 2003, p. 85).

De acordo com Martine (1994, p.5) a década de 80 pode ser considerada


uma das mais marcantes do século XX: “As transformações mais notáveis,
evidentemente, ocorreram no domínio político econômico. Mas a área populacional
também se caracterizou por mudanças extremamente importantes”. Essa mesma
década têm um papel singular em nossa análise. É nela que consolida-se a chegada

Tabela 2 –Brasil: participação das Regiões no crédito rural


de 1966 a 1999/00 (anos selecionados).
Regiões Brasileiras (%)
Sudeste Sul Centro- Norte/
Oeste Nordeste
1966 47 30 - 23 100
1970 45,6 31,8 6,5 16,1 100
1975 35,7 38,2 10,1 15 100
1980 34,1 35,8 10,5 19,6 100
1985 26,2 41,6 16,3 15,9 100
1985/86 28,2 37,6 18,1 16,1 100
1986/87 26 39,1 18,4 16,4 100
1987/88 24,3 42,5 22,4 10,3 100
1988/89 21,1 34,5 32,9 11,3 100
1989/90 31,5 41,1 17,1 9,6 100
1990/91 26,7 43,3 19,3 10,7 100
1991/92 21,5 47,3 21,5 9,6 100
1992/93 21,7 48,9 21,6 8,4 100
1993/94 18,3 41,5 28 11,1 100
1994/95 26,6 38,9 21,1 13,3 100
1995/96 24,3 38,5 19,2 17,9 100
1996/97 30,7 37,7 20,1 11,4 100
1997/98 30,6 37,1 18,5 12,9 100
1998/99 29,6 39,8 17,7 11,9 100
1999/001 28,7 42,1 18,4 10,8 100

Fonte: MELO, 2003, p. 69.1Dados preliminares


52

da fronteira agrícola no município (é também o período de maior volume em


recursos provenientes do crédito rural para a região Centro-Oeste – Tabela 2)
trazendo consigo uma nova dinâmica para o urbano em decorrência das novas
demandas do rural, ocorrendo também um incremento a nível populacional, marcado
especificamente pela diminuição da população rural em relação à década anterior.

1.4.3 – ALTERAÇÕES NAS BASES FORMADORAS DO ESPAÇO URBANO

A partir da década de 1970 começa a haver mudanças na estrutura do


uso da terra de Jataí, e demais municípios vizinhos, com a introdução da agricultura
moderna para a produção de culturas anuais mecanizadas e de exportação,
sobretudo a soja, constituindo-se numa ação de repercussão não somente no
cenário rural, mas também, e de forma significativa, nas áreas urbanas.

Essa reorganização do espaço rural e urbano faz parte do processo de


reprodução e expansão do capitalismo no interior do território brasileiro (MACHADO,
1996), imprimindo a marca de um sistema econômico que

[...] tende a se expandir territorialmente e setorialmente, movido por


inovações técnicas que aumentam a produtividade do trabalho, permitindo a
geração crescente de um excedente de produção que libera trabalhadores
do serviço no campo ao mesmo tempo em que consegue abastecer uma
população crescentemente urbanizada (SANTOS 1998, p.10).

Consequentemente, as taxas de crescimento populacional da região


Sudoeste Goiana aumentaram, chegando a superar as taxas de crescimento do
estado em mais de 10% na década de 1980. Um grande número de agricultores,
principalmente sulistas, motivados pela diversidade das linhas de crédito
disponíveis, bem como pelas taxas de juros subsidiadas (ESTEVAM, 1998), chegam
à região trazendo a mecanização intensiva do solo e a expansão das monoculturas,
sendo as de maior expressão as culturas de soja e milho. Nesse período e, fruto do
processo de migração atrelado ao processo de ocupação, a população urbana
ultrapassou a rural (MACHADO, 1996).
53

O resultado destes acontecimentos não poderia ser diferente: as


localidades urbanas passam a receber contingentes de trabalhadores “liberados”
pela modernização da agricultura. Tal aspecto reflete significativamente nas cidades,
sobretudo em Jataí, que apresenta significativa taxa de urbanização.

Atualmente, Jataí se destaca como produtor de grãos, iniciando-se no


setor sucroalcooleiro. Sua população é de 86.447 habitantes (IBGE- Estimativa da
População, 2009), representando, em 2000, 1,51% da população do Estado Goiás,
com uma taxa de urbanização de 91,21% (PNUD/IPEA/FUNDAÇÃO JOÃO
PINHEIRO, 2003). Seu crescimento anual, no período 1991-2000, apresentou uma
taxa média de 2,17%, verificando-se na taxa de urbanização um crescimento de
6,86% no mesmo período.

Com um índice de longevidade de 71,5 anos a cidade apresentava índice


de desenvolvimento humano (Tabela 3) de 0,793 em 2000, com destaque para a
educação que contribuiu com 42,9% para o crescimento em 10,75% (de 1991 a
2000) no IDH do município. Embora os índices mostrem uma pequena melhoria no
intervalo tratado os valores ainda são preocupantes: o índice de pobreza em 1991
era de 31,16%, passando para 20,25% em 2000; segundo tais dados 9,41% da

Figura 5: Jataí-GO: Polo turístico Vale do Paraíso – Lago Bonsucesso


Fonte: JATAI-GO (2009) – Foto: Amarildo Gonçalves
54

população vive de transferências governamentais (pensões, aposentadorias,


programas de assistência etc.), contra um índice de 6,57% em 1991. No período
tratado a desigualdade continua praticamente a mesma, ocorrendo uma queda no
índice de Gini de 0,60, em 1991, para 0,59, em 2000(PNUD/IPEA/FUNDAÇÃO
JOÃO PINHEIRO, 2003).

Tabela 3 – Jataí-GO: Desenvolvimento Humano


1991 2000
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal 0,716 0,793
Educação 0,775 0,874
Longevidade 0,687 0,776
Renda 0,685 0,728
Fonte: (PNUD/IPEA/FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2003)

Verificamos grandes mudanças no município de Jataí, se o compararmos


com seu período de origem. Com o decorrer dos anos a agricultura (Tabela 4), a
pecuária (Tabela 5), a indústria e o comércio (Tabela 6) do município tiveram um
grande desenvolvimento, tornando-o um destaque no estado. Com uma economia
dinâmica Jataí responde por 55,05% da produção de milho safrinha no Estado de
Goiás e por mais de 1/5 da produção total de sorgo (JATAÍ-GO, 2004a).

Tabela 4 – Jataí-GO: Produção Agrícola e Área Plantada – 2000-2001


2000 2001
Produtos Ton. ha Ton. ha
Arroz 9.450 4.500 10.800 4.500
Feijão 2.263 1.886 3.382 2.355
Girassol 2.329 1.941 4.020 2.680
Milho 357.486 100.529 400.585 90.021
Soja 462.462 157.300 483.542 164.470
Sorgo 35.847 23.898 53.801 20.693
Fonte: SEPIN/SEPLAN apud JATAÍ-GO (2004a).

Tabela 5 – Jataí-GO: Produção Pecuária 1998-2000


Produtos 1998 1999 2000
Aves (cabeças) 1.865.100 2.366.600 2.372.000
Ovos (1.000 dúzias) 352 359 375
Bovinos (cabeças) 392.338 411.752 377.343
Leite (1.000 litros) 41.174 43.198 45.448
Vacas Ordenhadas (cabeças) 30.900 32.419 34.120
Suínos (cabeças) 23.350 26.400 29.920
Fonte: SEPIN/SEPLAN apud JATAÍ-GO (2004a).
55

Tabela 6 – Jataí-GO: Atividades Econômicas Cadastradas na Secretaria de Gestão fiscal no


período de “Até 1959” a 2000
Prestação de
Década Comércio* Indústria* Serviços* Total* Diferença
Até 1959 1 0 3 4 0
1960 4 2 7 13 9
1970 19 16 54 89 76
1980 189 52 200 441 352
1990 842 70 967 1879 1438
2000** 958 120 1430 2508 629
Total Geral 2013 260 2661 4934  
*valores acumulados ** até 2004

Fonte: Secretaria de Gestão Fiscal. Relatório das atividades econômicas cadastradas 2004.

Destacam-se indústrias como: Coinbra – multinacional que industrializa a


soja; Nestlé, com pré-condensação do leite; Perdigão, que industrializa aves e seus
derivados; bem como indústrias de confecções e outras. Tais indústrias encontram
suporte para instalação, como o Distrito Agroindustrial II5, que fica no entroncamento
das BR’s 364 e 060 e que, segundo informações da administração local (JATAÍ-GO,
2004a), está apto a receber indústrias de todo o país, tendo se mostrado forte
atrativo para o setor empresarial.

Ocupando uma posição geográfica estratégica, Jataí (Figura 3) é um


ponto de ligação entre as regiões Sul-Norte e Leste-Oeste, sendo cortada pela BR-
364. É um forte ponto para o desenvolvimento industrial, comercial e prestacional,
conforme observam Teixeira Neto & Gomes (1995, p.5):

O Sudoeste Goiano, tendo a cidade de Jataí como polo industrial, financeiro


e cultural, em função da sua privilegiada situação e posição geográfica,
centraliza de forma equidistante grande parte da produção da vasta
superfície do Centro-Oeste do Brasil. [...] a fertilidade potencial de suas
terras, aliada à secular tradição agropastoril da região, e os grandes eixos
rodoviários, constituem outros valiosos fatores de integração regional.

O município conta com quatro centros de formação superior, sendo dois


federais: UFG (Campus da Universidade Federal de Goiás), com dezoito cursos, e

5
ZI-II - ver item 3.1.3 – ZONAS URBANAS: A DIVISÃO OFICIAL
56

IFET (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia); um estadual: unidade


da UEG (Universidade Estadual de Goiás); e um privado: CESUT (Centro de Ensino
Superior de Jataí) . Possui unidades de ensino, tais como: EMPPA (Escola Municipal
Profissionalizante - PROJETO ABELHA); com mais de 14 cursos; SENAC (Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial) e SEBRAE.

Na saúde o município conta com três hospitais num total de 253 leitos em
2004 (JATAÍ-GO, 2004a), 238 em 2005 (SEPLAN, 2005) e 201 em 2008, sendo
destes 176 do SUS (DATASUS 2008). A taxa de mortalidade infantil do município
(Tabela 7) diminuiu 30,53% no período de 1991-2000, chegando ao valor de 17,77
(por mil nascidos vivos), em 2000, contra 25,58 em 1991.
Tabela 7 – Jataí-GO: Indicadores de longevidade, mortalidade
e fecundidade, 1991 e 2000
1991 2000
Mortalidade até 1 ano de idade (por 1000 nascidos vivos) 25,6 17,8
Esperança de vida ao nascer (anos) 66,2 71,5
Taxa de fecundidade (filhos por mulher) 2,7 2,6
Fonte: (PNUD/IPEA/FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2003)

Como forma de diversificar a atividade econômica municipal, Jataí investe


também no turismo (Figura 5 e Anexo A). Os meios de comunicação divulgam:

A Prefeitura Municipal construiu três parques ecológicos que tiveram


importância fundamental para que Jataí saísse da condição de cidade
basicamente agropecuária em que sempre se manteve para assumir um
papel de maior destaque (CAMPOS FILHO, 2004, p.2).

Cabe aqui, uma referência às palavras de Lefebvre (1999, p.33). Em Jataí


é nítida a “metamorfose produzida pela máquina capitalista”, na qual a cidade é, ao
mesmo tempo, “o lugar, o instrumento, o teatro dramático” dessa transformação .

Nesse sentido, as ações no espaço urbano buscam novos caminhos.


“Depois da construção dos parques ecológicos, começa agora um novo esforço
conjunto, em busca de alternativas para gerar empregos e renda para a população”
(CAMPOS FILHO, 2004, p.4).

A luta pelo desenvolvimento, inserida numa espécie de “guerra dos


lugares” (SANTOS, 2001), faz publicidade da tranquilidade interiorana (embora essa
não seja tanta) para atrair investimentos e divisas: “Sem violência e os problemas
das grandes cidades [...] Jataí é uma festa de atrações para milhares de pessoas
57

que procuram um paraíso, longe das preocupações do dia-a-dia” (CAMPOS FILHO,


2004, p.7).

Retomando as afirmações de Lefebvre (1999, p.33), espera-se que o


“teatro” não seja demasiadamente dramático, e que essa seja uma forma de trazer
desenvolvimento ao Sudoeste Goiano. O que convêm destacar é o dinamismo
presente numa cidade que, durante um longo período, se manteve na agropecuária
tradicional, mas que atualmente, inserida num mundo globalizado, tende a fins
estranhos ao lugar e a seus habitantes (SANTOS,1999, p.51).

O presente estudo, é um dos elementos necessários para promover,


auxiliar, corrigir e/ou reformular o planejamento local, influenciando, assim,
diretamente a melhoria da qualidade de vida da sociedade, proporcionando uma
nova urbanização, bem como uma “re-urbanização” quando se tornar necessário,
procurando atender as necessidades mais básicas da população.
É através da parceria entre pesquisadores e poder público que as
transformações, tão aspiradas e esperadas, principalmente em relação à “nossa
casa” - a cidade, serão impulsionadas a sair de um âmbito teórico e concretizar-se
numa prática que atenda os interesses da maioria da população (hoje tão
esquecida).
As ações unilaterais não têm a mesma força de uma luta conjunta, que
envolvem ações interligadas, dos diferentes setores da sociedade. É crucial o
aproveitamento do potencial existente nas diversas esferas da sociedade para que,
através de um debate firme e coerente, o desenvolvimento urbano flua da melhor
forma possível. Convém pensar, refletir e tentar compreender o fenômeno urbano
local, com vistas a buscar as soluções que não temos (CARLOS, 1994).
58

2 – CONSTRUINDO UMA BASE NECESSÁRIA PARA A ANÁLISE DO


ESPAÇO URBANO JATAIENSE

“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os


que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em
vão vigia a sentinela.”
Salmo 127:1

É necessário, dentro de uma análise urbana mais completa, considerar,


de um lado, o urbano como condição geral para a realização do processo de
reprodução do capital. Do outro lado, considerar como produto do processo,
resultado das contradições, dos conflitos entre o que é exigido pelo capital, suas
necessidades, e as necessidades da sociedade. (CARLOS, 1994). Isso aponta para
uma cidade construída com elementos contraditórios. Riqueza e pobreza. Alegria e
tristeza. Proximidade e distanciamento. Elementos originários do homem que a
constrói, que projeta sobre um local a sociedade da qual faz parte (LEFEBVRE,
1991).

Analisar esses elementos, e as relações decorrentes de suas interações,


constitui tarefa complexa, devido à complexidade do contexto trabalhado.
Concordando com Carlos (1994, p.13), “o caminho do conhecimento é fascinante,
mas árduo e penoso, um processo que não se pode prever no todo”. Processos
diversos influem na cidade: processos econômicos, sociais, políticos, culturais.
Modelando o espaço urbano modelaram a cidade. O homem, os grupos humanos
construíram, e constroem, o espaço empregando-lhe seus ritmos próprios
(LEFEBVRE, 1991).

O fascínio, por vezes, foi percebido com resultados já alcançados, quando


esses abriram novas indagações, novos caminhos, exigindo novas pesquisas, às
vezes árduas e penosas.

Parte da dificuldade ocorreu pela diversidade temporal dos dados


trabalhados na pesquisa. Foram utilizados dados de diversas datas, exigindo
aproximações e projeções com vistas à uma análise mais fiel à realidade. Tal
59

dificuldade se deu pela falta de disposição dos órgãos oficiais em disponibilizar os


dados. Houve obstáculos sobretudo nos órgãos locais; quer pela inexistência de
registro nesses órgãos; quer pela falta de acompanhamento temporal; mudança da
forma de armazenamento e até mesmo perda de informações (fato ocorrido na
prefeitura devido à troca de softwares administrativos). Contudo, esforços não foram
poupados no sentido de minimizar essa deficiência, entendendo que os resultados
refletem, com grande proximidade, a realidade encontrada em Jataí.
A compreensão de alguns elementos, componentes da dinâmica de Jataí,
constitui-se na base necessária para uma análise mais sólida. Os elementos que se
seguem trazem fatores que, direta ou indiretamente, exercem influência na estrutura
urbana em questão.

2.1 – A INSERÇÃO DE JATAÍ NA REDE URBANA BRASILEIRA

No caminhar do compreensão da cidade de Jataí é pertinente uma breve


discussão sobre sua rede, considerando a dinâmica atual que transforma
velozmente a realidade urbana e regional, e entendendo que

a centralidade do fato urbano, referido duplamente à organização do


território imediato, e à articulação do espaço econômico em territórios
ampliados, gera e amplia permanentemente novas regiões e redes de
localidades em seus espaços de influência, redefinindo também novos
centros urbanos que comandam cada vez mais amplos espaços de
produção e consumo (MONTE-MÓR, 2004, p.3).

Dentro da perspectiva de análise proposta a inserção de Jataí na rede


urbana de Goiás se dá conforme suas atividades principais. Cidade com base
agropecuária Jataí hoje se destaca na produção de grãos, sendo que

O agronegócio na região é um dos mais expressivos em nível nacional,


devido ao uso de tecnologia de ponta, principalmente no que tange ao
complexo carne e grãos, sendo Jataí um de seus principais expoentes. Essa
modernização, principalmente na agricultura, leva o município a se
consolidar como o maior produtor de grãos do Estado de Goiás e a figurar
entre os maiores produtores de grãos do país" [...]. Seu potencial é
ampliado a cada ano, sendo detentor da maior produtividade de grãos por
hectare/ano plantado, da maior produção de milho e o nono produtor de soja
do país. A bovinocultura de corte e leiteira tem no aprimoramento genético a
sua maior expressão, sem nada a dever a outros estados nessa área.
(SEPLAN, 2005, p.61).
60

Segundo dados da SEPLAN (Tabela 8) Jataí ocupa o segundo lugar na


Agricultura do Estado. Na indústria fica com o nono, nos serviços com o oitavo e no
PIB com o sétimo lugar.

Tabela 8 – Ranking dos municípios por setores de atividade – 2000


Agricultura Indústria Serviços PIB
Rio Verde Goiânia Goiânia Goiânia
Jataí Anápolis Anápolis Anápolis
Cristalina Catalão Aparecida de Goiânia Rio Verde
Mineiros Itumbiara Rio Verde Aparecida de Goiânia
Chapadão do Céu Aparecida de Goiânia Senador Canedo Catalão
Luziânia Rio Verde Itumbiara Itumbiara
Montividiu Minaçu Luziânia Jataí
Caiapônia Luziânia Jataí Luziânia
Quirinópolis Jataí Catalão Senador Canedo
Santa Helena de Goiás Trindade Valparaíso de Goiás Minaçu

Fonte: SEPLAN, 2004

Constituindo-se numa região dinâmica, no Sudoeste Goiano, Jataí


polariza os municípios de Caiapônia, Perolândia e Serranópolis, sendo classificado
como “Centro de Zona A6”, Tabela 9 (IBGE, 2007b). Jataí, Rio Verde e Mineiros, são
as principais cidades dessa microrregião, numa tendência já observado por Monte-
Mór (2004), quando destaca a

proliferação de centros urbanos pequenos e médios articulados em novos


arranjos sócio-espaciais, buscando inovações institucionais para a oferta e
gestão de serviços municipais e/ou micro-regionais. A este nível, surgem
sistemas urbanos locais onde os diversos centros desempenham papéis
complementares e desenvolvem ações articuladas entre si. Assim, um ou
mais centros podem ser espaços privilegiados dos serviços de saúde e
educação enquanto outros congregam os serviços de apoio às bases
produtivas da micro-região (MONTE-MÓR, 2004, p.12).

6
Nível formado por cidades de menor porte e com atuação restrita à sua área imediata; exercem
funções de gestão elementares. Predominam os níveis 5 e 6 da gestão territorial. (IBGE, 2007b).
61

Tabela 9 – Centros urbanos selecionados: níveis de centralidade segundo REGIC-2007


Centro urbano
Mineiros Jataí Rio Verde Goiânia
Centro de Centro de Centro
Denominação de centralidade Zona A Zona A Subregional A Metrópole Variação
Nível de centralidade 9º 9º 7º 3º De 1 a 11
Nível de centralidade de Gestão
Federal 6º 6º 6º 4º De 1 a 6
Nível de centralidade de Gestão
Empresarial 7º 5º 6º 3º De 1 a 8
Nível de diversidade nas atividades
de comércio 4º 3º 3º 1º De 1 a 5
Nível de diversidade nas atividades
de serviço 5º 4º 4º 2º De 1 a 5
Nível de centralidade nas
atividades financeiras 6º 6º 5º 5º De 1 a 8
Nível de centralidade em redes de
televisão * 4º 4º 2º De 1 a 5
Nível de centralidade como centros
de gestão do território 5º 4º 5º 3º De 1 a 6
Nível de centralidade em ensino de
graduação 6º 5º 5º 2º De 1 a 6
Nível de centralidade em serviços
de saúde 6º 5º 5º 2º De 1 a 6
*Não classificado

Fonte: IBGE, 2007b

Com cursos na área de Agronomia e Veterinária, passando pela


Geografia e Ciências Biológicas, a base agropecuária do município tem mão-de-obra
qualificada que se forma a cada ano. Seja nas atividades direta ou indiretamente
ligadas à manutenção e desenvolvimento da economia local, Jataí se destaca como
pólo de formação no Sudoeste Goiano, gerando fluxos de estudantes do entorno
para a cidade em busca de qualificação profissional. Os principais fluxos originam-se
de Mineiros, Caiapônia, Serranópolis, Caçu, Cachoeira Alta, Aparecida do Rio Doce,
Santa Rita do Araguaia, Iporá e Alto Araguaia-MT (SEPLAN, 2005)

Destaca-se, também, outro importante elemento dentro da rede urbana


de Goiás, as vias de circulação. As vias presentes no município são cruciais para os
fluxos deste ponto, com destaque para as rodovias.

O acesso rodoviário à Região se dá através das várias rodovias: BR-060,


BR-364, BR-158 e GO-184. A BR-364, vital para o município, é responsável
pelo escoamento de sua produção de grãos aos principais portos
brasileiros, pois interliga Jataí ao Porto Seco de Anápolis e à Hidrovia Tietê-
Paraná no Porto de São Simão. A cidade conta ainda com um aeroporto
moderno com pista asfaltada medindo 1.494 metros de extensão e embora
não exista linha regular de voo, apresenta um movimento considerável de
aeronaves particulares e táxis aéreos (SEPLAN, 2005, p.62).
62

A economia baseada na agricultura, pecuária e agroindústria, possibilitou


o “segundo maior valor adicionado do setor agropecuário goiano, atrás apenas de
Rio Verde, e o sexto PIB entre os municípios goianos, correspondente a R$ 824,10
milhões” (SEPLAN, 2005, p. 62).
O pólo de confecções presente na cidade é mais um elemento que
incrementa a economia jataiense, absorvendo significativa mão-de-obra. Segundo a
SEPLAN (2005), uma das principais empresas deste ramo emprega cerca de 300
pessoas, produzindo aproximadamente 100.000 peças/mês. Com 33 empresas do
segmento vestuário, a produção, conforme informações presentes no site de um dos
fabricantes, atende grande parte do território nacional, estando presente em
dezessete estados da federação.

Em Jataí, percebe-se também uma ligação direta com pontos de


uma rede superior. Tal fato pode ser verificado pela presença de multinacionais
como Louis Dreyfus Commodities e NESTLÉ, e ainda pela recente presença da
Perdigão que adquiriu um frigorífico de aves do município7. Pelo texto, presente no
site da Louis Dreyfus Commodities, percebe-se a importância estratégica de Jataí na
rede ora mencionada:

Present in most of Brazil’s soybean-producing regions, LDCommodities


owns and operates 48 warehouses, a network of port and storage facilities
and three crushing plants, strategically located in Ponta Grossa, in the State
of Paraná; Jataí in the State of Goiás and Alto Araguaia in the State of
Mato Grosso.[...] (www.ldcommodities.com, grifo nosso).

Cabe ainda mencionar o turismo, que se apresenta como nova vertente


de investimentos:

Foram catalogados e mapeados localidades e atrativos que contêm


potencial turístico. São museus, lagos, águas termais, cachoeiras, rios,
corredeiras, fazendas antigas, formações geológicas enfim, uma variada
gama de recursos naturais e históricos que ampliam o potencial de
investimentos na área de turismo (SEPLAN, 2005, p.64).

7
Trata-se da Frango Gale – “A Empresa, fundada em 1993, inicialmente com o nome de Frango Gale
Frigorífico de Aves Ltda, teve como sócios-fundadores sete empresários jataienses, em sua maioria,
produtores rurais” (SEPLAN, 2005, p.63).
63

Estes aspectos demonstram um “Centro de Zona A” (IBGE, 2007b), que


muitas vezes extrapola os níveis de influência esperados, o que é refletido na
economia local, gerando uma dinâmica cada vez maior para o núcleo urbano.
A variáveis expostas colocam Jataí entre os mais competitivos municípios
do estado.

Tabela 10 – Perfil Municipal e Estadual – 1991/2000


Tema Jataí Goiás
1991 2000 1991 2000
Taxa de Urbanização (%) 85,36 91,21 80,81 87,88
Mortalidade até 1 ano de idade (por
1000 nascidos vivos) 25,6 17,8 29,5 22,5
Taxa de Analfabetismo (%)
7-14 anos 15,8 5,5 18 6,1
15-17 anos 5,4 1,3 5,9 1,7
18-24 anos 7,6 2,6 7,2 2,9
Renda per capita Média (R$ de
2000) 236,3 304,9 211,9 286
Proporção de Pobres (%) 31,2 20,3 35,1 26,6
Índice de Gini 0,6 0,59 0,58 0,61
Porcentagem da Renda Apropriada
por Extratos da População (%)
20% mais pobres 3,3 3,2 3 2,5
40% mais pobres 9,6 9,9 9,4 8,6
60% mais pobres 19,1 20 19,6 18,3
80% mais pobres 34,6 36 36,8 34,4
20% mais ricos 65,4 64 63,2 65,6
Acesso a Serviços Básicos (%)
Água encanada 73,8 90,4 70,6 88,7
Energia Elétrica 88,4 98,9 87,2 97,2
Coleta de Lixo 61,8 83,8 64,7 91,3
Acesso a Bens de Consumo (%)
Geladeira 67,4 88,9 64,6 86,9
Televisão 73,3 91,5 69,7 89,1
Telefone 13,7 37,9 13,7 38,5
Computador * 6,6 * 6,4
Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal 0,716 0,793 0,700 0,776
Educação 0,775 0,874 0,765 0,866
Longevidade 0,687 0,776 0,668 0,745
Renda 0,685 0,728 0,667 0,717
*Não disponível
Fonte: PNUD/IPEA/FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2003; AGÊNCIA AMBIENTAL DE GOIÁS,
2003. Organização dos Dados: Márcio Rodrigues Silva.
64

O Ranking da Competitividade indica os municípios com melhores


condições para a atração de investimentos, constituindo-se, portanto, em
importante documento para administradores municipais, empreendedores
privados, planejadores, acadêmicos e pesquisadores, ao apontar a dinâmica
das economias locais, evidenciando as potencialidades e oportunidades,
contribuindo ainda para a formulação de políticas públicas de
desenvolvimento (SEPLAN, 2005, p.45).

Tais aspectos também conferem certo brilho a este ponto da rede goiana.
Nos aspectos utilizados para a classificação8 Jataí obteve o seguinte resultado:
Dinamismo - 6º lugar; Riqueza Econômica - 7º; Infra-estrutura Econômica - 8º;
Qualidade de Vida - 9º; Mão-de-obra - 7º; Infra-estrutura Tecnológica - 6º; Políticas
de Incentivos Financeiros e Tributários - 10º. Desta forma, obteve o 8º lugar no
ranking.

Em termos comparativos Jataí fica atrás de Rio Verde, em todos os itens,


e a frente de Mineiros na maioria, com exceção da qualidade de vida. Constitui-se
assim, em importante centro urbano na região, exercendo influência sobre outros
municípios conforme relatado.

Nessa perspectiva, Jataí revela transformações em seu cenário urbano, o


que remete à vertente analisada por Soares (2007), que destaca as interações e
articulações que redesenham parte do território brasileiro, resultado da instalação de
grandes empreendimentos industriais ou comerciais em pequenos e médios centros.

Apesar de Jataí possuir menos de 100 mil habitantes, estando assim,


segundo o IBGE, classificada como cidade pequena, considera-se que sua
influência na região permite inseri-la como uma cidade de porte médio no contexto
do estado de Goiás.

Isto porque [concordando com Deus (2002)] o que define uma cidade média
é sua função, seu grau de polarização, seus equipamentos de serviços e de
lazer e o papel que sua estrutura urbana exerce na região recebendo e
emitindo externalidades, ou seja, a cidade média nada mais é que uma
cidade com uma população acima da média regional, que exerce uma
influência em uma determinada sub-região, com funções que a fazem
assumir o papel de polo regional na hierarquia urbana, provendo o consumo
produtivo e coletivo da sub-região onde está inserida (DEUS, 2002a, p.244).

8
Para mais detalhes sobre a classificação ver SEPLAN, 2005.
65

Uma vez que as cidades médias servem como pontos de prestação de


serviços em escala regional, com variação de tamanho e área de atuação conforme
as características regionais (BRANCO, 2007), torna-se fundamental incorporar as
funções regionais ao conceito de cidade, amenizando as distorções produzidas pela
classificação baseada no quantitativo populacional num país de dimensões
continentais como o Brasil (DEUS, 2002a).
Soares (2007), com base em dados da UNESCO(1999) levanta algumas
características presentes nas cidades médias:
1. são centros servidos de bens e serviços mais ou menos especializados
para o atendimento da população do próprio município e de outros, mais
ou menos próximos, sobre os quais exerce influência;
2. são centros de interação social, econômica e cultural;
3. são assentamentos interligados por redes de infra-estrutura que
conectam com redes locais, regionais e nacionais e inclusive, em alguns
casos, com acesso facilitado às redes internacionais;
4. são centros que sediam órgãos da administração do governo local,
regional e subnacionais;
5. são centros mais facilmente governáveis e controláveis e que permitem
a princípio uma maior participação popular no governo e gestão da
cidade;
6. são centros que permitem maiores sociabilidades humanas. Locais
onde é relativamente mais fácil o cidadão criar uma identidade com o
lugar e da própria cidade;
7. não tem os mesmos problemas ambientais apresentados pelas
megacidades;
8. devido ao seu tamanho tem uma menor diversidade social e cultural;
9. tem também menor capacidade de competitividade econômica em
relação às metrópoles ou grandes cidades, que tendem a concentrar as
funções superiores do sistema. Assim, as cidades médias tem maior
dificuldade de acesso aos principais fluxos de informação e de capital.
(SOARES, 2007, p.464)
Percebe-se em Jataí as características levantadas por Soares (2007), e,
de forma mais específica, as funções descritas por Deus (2002a), para o Estado de
Goiás, e por Melo (2003), destacando as mudanças econômicas produzidas pela
produção agrícola moderna, que se expressam espacialmente na cidade:

Como concentração das atividades econômicas, o espaço urbano tem em si


as potencialidades das atividades regionais. No Estado de Goiás, devido à
força da produção agropecuária, as cidades têm a função de assegurar a
produção no campo, fornecendo víveres, mercadorias, assistência técnica,
etc. à essa produção, sem distinção do número de habitantes […] Na
medida em que avançavam a modernização da agricultura e o êxodo rural,
a estrutura sócio-econômica destes centros foi diversificando-se.
Transformaram-se em centros administrativos regionais, com servidores
públicos das três esferas de poder. O comércio e o serviços diversificaram-
se para atender a uma demanda crescente, fomentada pelas inovações
técnicas. Essa nova organização econômica propicia o surgimento de
pequenas e médias indústrias, o que exigiu aumento da infra-estrutura e
66

formação de mão-de-obra, abrindo caminho para que, nos anos 90, esses
lugares pudessem abrigar indústrias de médio e grande porte, para
transformar a matéria-prima produzida pela agropecuária em produtos a
serem consumidos em todo país e no exterior (DEUS, 2002a, p.235-239).

Corrêa (2007), num debate sobre uma possível tipologia para as cidades
médias brasileiras, propõe três tipos de cidade média: um lugar central,
caracterizado por poderosa concentração da oferta dos bens e serviços para uma
hinterlândia regional; um centro de atividades especializadas; e, um terceiro, que
mais se aproxima da realidade jataiense:

[Um] centro de drenagem e consumo da renda fundiária. Trata-se de cidade


localizada em tradicional área pastoril, caracterizada pela grande
propriedade rural e pelo absenteísmo de seus proprietários, que residem na
cidade. Também em áreas onde foi implantado um complexo agro-industrial
esse tipo de cidade média emerge. Em ambos os casos a cidade apresenta
significativa concentração de atividades varejistas e de prestação de
serviços que, contudo têm como clientela principal essa elite fundiária, para
quem as lojas de luxo, restaurantes, clubes e serviços sofisticados têm a
sua razão fundamental de existência. Essas atividades são precipuamente
atividades não-básicas e, secundariamente, funções centrais. Por
intermédio da propriedade fundiária, esse tipo de cidade média controla
econômica e politicamente importante espaço regional, o espaço de atuação
de sua elite fundiária. (CORRÊA, 2007, p.31)

Considera-se, assim, a cidade de Jataí como uma cidade de porte médio


em sua região, concordando com Branco (2007), que buscando identificar centros
que desempenham, ou têm possibilidade de desempenhar, o papel de
intermediação entre as diferentes escalas de centros da rede urbana, apresenta três
grupos9 de cidades médias/intermediárias no Brasil. Em goiás estão incluídas as
cidades de Anápolis, no segundo grupo, e Itumbiara, Jataí, Rio Verde e Catalão, no
terceiro grupo.

Mais que simplesmente entender o porte da cidade de Jataí, essa


compreensão é fundamental para as análises propostas, no contexto de uma
urbanização, cujo crescimento urbano, tem reproduzido nas cidades médias
contradições de difícil solução (CARVALHO, 2003). Os dados expostos permitem
algumas considerações sobre as implicações no espaço urbano, resultantes da
função que este núcleo urbano exerce na região (DEUS, 2002a). Eles revelam a
princípio a consolidação de um município basicamente urbano. Marcado pela
9
A definição dos grupos considerou, entre outros aspectos, o tamanho populacional e econômico, a
qualidade de vida, a centralidade administrativa e a vida de relações. Para maiores detalhes ver
Branco (2007).
67

pequena percentagem da população vivendo na zona rural Jataí apresenta uma


variação de 5,85%, entre os anos de 1991 e 2000, em sua taxa de urbanização. Os
valores se alteram de 85,36% para 91,21% respectivamente, contra os 87,88% de
urbanização do Estado de Goiás (Tabela 10).

Apesar de se destacar, por seu dinamismo econômico na região, 9,41%


dos habitantes dependem de transferências governamentais para se manter. Com
renda per capita média de R$ 304,90, valor que está acima da média estadual, a
injustiça presente em sua distribuição é mascarada: apenas 20% da população
detêm 64% da renda do município. Embora esse índice tenha diminuído entre os
anos de 1991 e 2000, o mesmo ainda preocupa. Enquanto a variação da população,
no mesmo período, é de 22,57%, a queda na concentração de renda é mínima:
apenas 1,4%. Em termos de acesso aos serviços básicos mais de 90% da
população é servida por água tratada e energia elétrica. Percentagem que cai para
pouco mais de 80%, quando se trata de coleta de lixo.

A população urbana cresce e os problemas se concentram na cidade,


uma vez que a população tende a migrar para esta. Como exemplo temos a situação
da proporção de pobres no município. O índice decresce em 10,9 pontos
percentuais no período tratado, caindo de 31,20% para 20,30%. No entanto, o
número absoluto de indivíduos nesta situação cresce de aproximadamente 13.900,
em 1991, para 15.300, em 2000, valores superiores à população acrescentada ao
município.

Em relação aos vazios urbanos no ano de 2004, conforme dados da


prefeitura local (JATAI-GO, 2004b), a cidade de Jataí contava com um total
aproximado de 37.000 lotes urbanos, sendo que cerca de 13.000 estavam
desocupados, ou seja, 35% do total.

Seriam esses problemas o preço a se pagar pela crescente influência da


cidade em sua região? Considera-se que não! O desafio é desenvolver, no seu
sentido autêntico, e não apenas crescer.
68

2.2 – CARACTERIZAÇÃO DO TECIDO URBANO: IDENTIFICANDO A FORMA


PARA ANALISAR SEU CONTEÚDO

O olhar de pesquisador requer, após a descrição anterior, uma maior


aproximação do objeto de estudo. Aumentar a escala de trabalho, passando de um
ponto na rede urbana para uma colcha de retalhos bem detalhada, significa também
ampliar o espaço de indagações e discussões, no intuito de se construir uma
compreensão cientificamente embasada sobre a área urbana de Jataí.

Este exercício se deu com base nas seguintes fontes de dados:

• Cadastro de Imóveis da Secretaria da Fazenda Municipal referente ao


ano de 2003 (JATAÍ-GO, 2003), servindo para compilação dos dados
referentes aos vazios urbanos;

• Programa de cadastramento de atividades econômicas da Secretaria


de Gestão Fiscal de 2004 (JATAÍ-GO, 2004c) que contribuiu com os
dados econômicos;

• Relatório das atividades econômicas cadastradas até o ano de 2004


(JATAÍ-GO, 2004d), oriundo da Secretaria de Gestão Fiscal,
permitindo fazer uma evolução das atividades econômicas instaladas
na cidade;

• Plano Diretor Urbano dos anos de 2001 e 2003 (JATAÍ-GO, 2001 e


2003), permitindo verificar as políticas urbanas do município;

• Levantamento preliminar sobre lotes vagos em 1995 (JATAÍ-GO,


1995) servindo de parâmetro para uma análise comparativa dos
vazios urbanos; e

• Mapas cadastrais dos anos de 2003 e 2004 (JATAÍ-GO, 2003a e


2004), fornecidos em mídia digital no formato DWG.
69

De posse dos referidos dados, procedeu-se a confecção da base


cartográfica10, necessária para as análises propostas, com a conversão dos dados
em formato DWG para o formato SHP (Shapefile). Como o arquivo original
encontrava-se desorganizado, apresentando os polígonos referentes aos bairros da
cidade num mesmo “layer” e de forma agrupada, optou-se por redesenhar os
bairros, tomando como base o arquivo original que já se encontrava
georreferenciado.

Para tanto, adicionou-se os dados dos mapas cadastrais e criou-se um


Shapefile denominado “bairros” no módulo ArcCatalog. Em seguida, com a
ferramenta “Editor”, digitalizou-se os polígonos de cada bairro e adicionou-se os
seguintes dados (Figura 6): Id – número atribuído para identificação dos bairros;
Nome – Nome do bairro e Dt_impl – Data de implantação do bairro.

Figura 6: Dados do “Shapefile” bairros

10
Utilizou-se o software ArcGis®
70

Figura 7: Dados do “Shapefile” bairros após junção com outras tabelas

Efetuou-se a junção da tabela básica com dados de tabelas


existentes no formato de planilha eletrônica, os quais foram convertidos para o
formato de banco de dados (DBF), cujos mesmos referem-se a porcentagem de
lotes vagos (anos de 1995 e 2004) e quantidade de estabelecimentos cadastrados
por década, nas categorias comércio, indústria e prestação de serviços. Após a
operação “join”, resultou a seguinte tela (Figura 7).
71

2.2.1 – MAPA DE EXPANSÃO URBANA

O mapa de expansão urbana (Figura 9) foi gerado utilizando-se o campo


“Data de implantação do bairro” através da ferramenta
“symbology>quantities>graduated colors” (Figura 8). Optou-se pela classificação por
década para facilitar a análise e cruzamento dos dados com outras variáveis
disponíveis apenas a cada dez anos. A utilização de cores ordenadas permitiu uma
avaliação visual da evolução urbana através da implantação dos bairros.

Figura 8: Confecção do mapa de expansão urbana


72

Figura 9: Jataí-GO – Expansão Urbana: Implantação de Loteamentos


73

2.2.2 – MAPA DE VAZIOS URBANOS

Para a confecção do mapa de vazios urbanos (Figuras 11 e 12), utilizou-


se o campo “% de lotes vagos” nos anos de 1995 e 2004, aplicando-se o módulo
“symbology>quantities>graduated colors” (Figura 10). As variáveis foram
classificadas em quatro intervalos correspondentes a “25% de lotes vagos” cada, de
forma a simplificar a análise e padronizar os dados de 2004 com os de 1995,
estando o último disponível apenas nestas faixas. A utilização de cores ordenadas
objetivou a leitura visual da grande porcentagem de lotes vagos na cidade.

Figura 10: Confecção do mapa de vazios urbanos


74

Figura 11: Jataí-GO – Vazios Urbanos: Porcentagem de Lotes Vagos - 1995


75

Figura 12: Jataí-GO – Vazios Urbanos: Porcentagem de Lotes Vagos – 2004


76

2.2.3 – MAPAS DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS

Os mapas referentes às atividades econômicas instaladas na cidade de


Jataí (Figuras 15 a 20) foram confeccionados com a ferramenta
“symbology>quantities>pie” (Figura 13). Os campos utilizados foram “comércio,
indústria e prestação de serviços por década”. Como resultado obteve-se uma
coleção de mapas de forma a possibilitar uma leitura da evolução das atividades
econômicas implantadas em cada década selecionada. Para tanto selecionou-se
para cada mapa as variáveis correspondentes à década analisada e procedeu-se a
classificação do tamanho do símbolo de acordo com a soma dos valores utilizados
(Figura 14). O tamanho mínimo foi padronizado em “20 unidades” para atender a
variação dos valores de todas as décadas e possibilitar uma comparação visual
entre os mapas.

Figura 13: Confecção do mapa de atividades econômicas


77

Figura 14: Escolha da variação dos símbolos

A utilização de cores seletivas, sendo uma cor para cada atividade


econômica, objetivou demonstrar a proporção de cada atividade instalada dentro do
bairro. O diâmetro do círculo reflete a somatória das atividades instaladas em cada
bairro na década selecionada.

Os mapas refletem a aglomeração das atividades mencionadas em cada


bairro, no recorte temporal de “até 1959” a “década de 2000”. A grande amplitude
entre os menores valores (“até 1959”) e maiores (“décadas de 2000”) resultou,
consequentemente, em mapas bem distintos nos quais o foco principal foi
possibilitar a identificação da aglomeração das variáveis trabalhadas.
78

Figura 15: Jataí-GO: Atividades econômicas instaladas até a década de 1959


79

Figura 16: Jataí-GO: Atividades econômicas instaladas na década de 1960


80

Figura 17: Jataí-GO: Atividades econômicas instaladas na década de 1970


81

Figura 18: Jataí-GO: Atividades econômicas instaladas na década de 1980


82

Figura 19: Jataí-GO: Atividades econômicas instaladas na década de 1990


83

Figura 20: Jataí-GO: Atividades econômicas instaladas na década de 2000


84

2.2.4 – MAPA DE CONCENTRAÇÃO DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS - ÁREAS


DINÂMICAS

O mapa de concentração das atividades econômicas (Figura 22), busca


fazer uma síntese dos mapas anteriores através da concentração das atividades
econômicas, por década, reunidas em uma mesma representação. Foi utilizada a
soma dos dados de “comércio, indústria e prestação de serviços por década”, sendo
representados pela ferramenta “symbology>quantities>dot density” (Figura 21). A
utilização de pontos correspondentes a cinco unidades cada, numa escala de cores
ordenadas, permitiu a análise da quantidade e concentração dos estabelecimentos
instalados por década em cada bairro e na área urbana como um todo. Dessa forma,
definiu-se as áreas dinâmicas da cidade conforme análise que se segue.

Figura 21: Confecção do mapa de atividades econômicas


85

Figura 22: Jataí-GO: Áreas dinâmicas: Concentração das Atividades econômicas


86

2.2.5 – REFLEXÕES SOBRE A CARACTERIZAÇÃO DO TECIDO URBANO

O espaço urbano encontrado atualmente em Jataí é resultado de uma


construção iniciada na segunda metade do século XIX, quando se instalaram neste
local seus primeiros ocupantes. Estes viriam a ser os moradores dos primeiros
bairros jataienses. O núcleo original da cidade, instalado inicialmente às margens do
Córrego Jataí, se expandiria dentro de aproximadamente 120 anos, se considerado
o ano de 1836, quando tem início tal ocupação, alcançando uma área de 1,73 km²
(Figura 23). Nas décadas posteriores a expansão urbana se dá em um novo ritmo.

A área ocupada por loteamentos na década de 1960 é de 10,46 km²,


significando um crescimento superior a 500% em relação aos dados de 1959.
Todavia, a área loteada não é efetivamente ocupada. Analisando uma fotografia
aérea do ano de 1965 verificamos que a área ocupada de forma real, implicando em
edificações construídas e não apenas em lotes abertos, é de 6,13 km² (Figura 24).
Tal valor corresponde a 59% da área loteada. Desta forma, é perceptível, mesmo
no início do incremento urbano, a visão de valorização do solo urbano pela
implantação de loteamentos na periferia da cidade com vistas a uma valorização das
áreas intermediárias.

Na década de 1970 a área urbana de Jataí cresce 28%, em relação a


anterior, alcançado um valor de 13,41 km². De 1970 para 1980 a variação é de 40%,
sendo a área ocupada de 18,88 km². Na década de 1990 a área urbana corresponde
a 22,14 km² com uma variação de 17% em relação a anterior. Atualmente a área
ocupada é de 25,60 km², reflexo do crescimento de 15% considerando a década de
1990.
87

Figura 23: Jataí-GO: Implantação de loteamentos – Evolução da área ocupada


88

Figura 24: Jataí-GO: Área efetivamente ocupada em 1965


89

O processo de reprodução capitalista impõe suas ações sem considerar


que a cidade abriga também o indivíduo, e que este tem necessidades básicas,
como comer e morar. Lefebvre (1999, p.25), comentando a visão de Engels sobre a
situação da classe operária na Inglaterra, relata com base nas palavras de Engels
que é muito mais fácil incriminar a cidade, ou a imoralidade geral, ou as forças do
mal, que atacar o problema em seu verdadeiro plano: a política. A política aqui não
se refere apenas àquela local, pretérita ou atual, mas, sobretudo à ação opressora
capitalista que exclui uma grande parcela da população do acesso aos bens mais
básicos ao ser humano.

A imposição capitalista, que submete os indivíduos às suas regras, é um


dos fatores que gera alterações na configuração espacial. Percebe-se na cidade de
Jataí, analisando a Tabela 11, a presença significativa, nas décadas de 1980 e
1990, de conjuntos habitacionais de baixa renda, aspecto este que se estende, pelo
menos a princípio, à década atual.

Tabela 11 – Jataí-GO: Implantação de loteamentos por tipologia

Década Até 1959 1960 1970 1980 1990 2000 Total

Total Geral de
Loteamentos 5 19 11 22 18 12 87
Implantados

Conj. Habit.
1 3 3 3 10
Financiados

Conj. Habit./Loteam.
2 7 2 11
Baixa Renda

Fonte: Prefeitura Municipal de Jataí; MELO, N. A. (2003). Organização dos Dados: Márcio Rodrigues
Silva. Os dados da década de 2000 referem-se ao período de 2000-2008.

O surgimento de tais loteamentos é uma “resposta urbana” às alterações


impostas em Jataí.

A implantação de conjuntos habitacionais financiados inicia-se na década


de 1970. Os loteamentos/conjuntos habitacionais de baixa renda têm seu início na
década seguinte. Um fato importante a ser considerado é que a década de 1980
marca-se pela expansão da fronteira agrícola no município, e é nesta década que
surge a demanda por habitações acessíveis à população de baixa renda.
90

O incremento da economia local implicou também na dinamização do


mercado imobiliário para a classe média. Na década de 1980 tínhamos o maior
número de loteamentos implantados, com destaque para três conjuntos
habitacionais financiados.

Na mesma década surgem, também, dois loteamentos/conjuntos


habitacionais de baixa renda, refletindo a demanda por habitação que não pode ser
suprida via aquisição financeira, necessitando do “assistencialismo” do Estado.

Na década de 1990 ocorre a continuação do período anterior com um


total de dezoito loteamentos implantados, sendo três financiados e sete para a
população de baixa renda. O elevado número deste último tipo de loteamento
suscita vários debates, dentre eles o da desigualdade social que leva à uma
demanda três vezes maior, em relação à década anterior, no que tange a habitação
popular.

A década atual sugere um crescimento no mesmo ritmo das duas


anteriores, uma vez que até 2008 já foram registrados um total de doze loteamentos,
sendo três financiados e dois de baixa renda.

Outro fato a ser considerado na análise do espaço urbano jataiense é a


taxa de ocupação dos loteamentos implantados. Numa comparação de dados
fornecidos pela prefeitura local, referentes aos anos de 1995 e 2004, percebe-se
que, embora a taxa de ocupação tenha aumentado em termos gerais, o índice de
vazios na cidade ainda é significante (Tabela 12).

Tabela 12 – Jataí-GO: Percentagem de lotes vagos em relação a


área total loteada - 1995 e 2004
% de vazios por faixa

Faixa de vazios (%) 1995 2004 Variação


0 a 25 35% 35% 0%
25,01 a 50 23% 20% -3%
50,01 a 75 17% 23% 6%
75,01 a 100 25% 22% -3%
Total 100% 100%
Fonte: Fonte: Prefeitura Municipal de Jataí; Organização dos Dados:
Márcio Rodrigues Silva.
91

Pela observação da Tabela 12 (veja também figuras 11 e 12) verifica-se


que em 1995 25% dos loteamentos apresentavam de 75,01% a 100% de seus lotes
desocupados, em 2004 22% dos loteamentos apresentavam tal índice. Nesta faixa,
considerada a mais preocupante, uma vez que existem loteamentos totalmente
desocupados, ocorreu uma redução de 3%, percentagem esta que poderia ser
aumentada caso não se implantasse novos loteamentos antes de se ocupar as
áreas vagas.

Na faixa de 50,01% a 75% notamos um aumento da ordem de 6% de


1995 para 2004, o que se deve à redução da faixa crítica e à implantação de novos
loteamentos.

Na faixa de 25,01 a 50% de lotes vagos há uma queda de 3%,


demonstrando a ocupação de algumas áreas intermediarias (entre o centro e a
periferia).

Já na faixa ideal para os loteamentos, com ocupação total, ou índice de


vazios de no máximo 25% dos lotes, a variação é nula, devido ao aumento do
número de bairros. Há nesta faixa uma significativa evolução mascarada por novos
bairros implantados. A tendência é que à medida que surgem novos bairros as áreas
intermediárias sejam ocupadas. Embora os valores para aquisição destas áreas
sejam elevados há uma demanda pelas mesmas, promovendo maior ocupação
destas.

Nas Figuras 11 e 12 é apresentada uma visão espacializada dos referidos


dados. Há uma maior ocupação das áreas periféricas da cidade e de áreas que
foram valorizadas entre 1995 e 2004. A grande ocupação de alguns pontos
periféricos se deve à presença de conjuntos habitacionais que exercem também o
papel de valorizadores das áreas mais centrais, uma vez que alguma infra-estrutura,
que não chega a ser a ideal, é disponibilizada para abastecer tais localidades.
Apresenta-se, assim, o estado como direcionador da ocupação urbana.

Após a exposição do processo de expansão urbana de Jataí uma


pergunta fica no ar: Haveria a necessidade de uma expansão urbana em termos de
acréscimo de novas áreas?
92

A ocupação das áreas existentes, antes da abertura de outras, traria


alguns benefícios ao conjunto urbano em questão:

– Os bairros implantados nos períodos mais recentes situam-se na periferia da


malha urbana. Dos 30 loteamentos implantados, no período de 1990 a 2008, 15 são
locais de grande adensamento populacional, sendo estes conjuntos habitacionais e
loteamentos populares de baixa renda (Tabela 13);

- Levando em consideração que grande parcela dos moradores destas localidades


trabalham nas áreas mais centrais, onde se localizam as principais atividades
econômicas da cidade (Figuras 15 a 20), o transporte estaria facilitado, uma vez que
a distância casa-trabalho seria menor;

- Em termos de infra-estrutura urbana, como a do transporte, comentada


anteriormente, o poder público poderia concentrar suas ações de forma mais eficaz.
A área atendida seria menor e o alcance populacional maior. Da mesma forma,
aspectos importantes para a qualidade de vida da população perceberiam uma
significativa melhoria em suas condições. Saúde, educação, lazer, entre outros,
seriam incrementados num desenvolvimento concentrado com prioridade para a
qualidade dos serviços.

Para que tal situação seja implementada torna-se necessário que ações
sejam tomadas por parte do poder público com instrumentos que promovam a
ocupação das áreas urbanas vazias, como, por exemplo, políticas sociais que
tenham como alvo uma melhor distribuição de renda, dando ao cidadão condições
de adquirir e ocupar as áreas em questão.

É necessário, fundamentalmente, que a legislação existente seja


cumprida. De acordo com o estabelecido no Plano Diretor Urbano (JATAI-GO, 2007)
em seu artigo 1º, parágrafo 6º, itens 4 e 4.5, deve ocorrer a “ordenação e controle do
solo urbano de maneira a evitar a retenção especulativa do imóvel urbano, que
resulte na sua subutilização ou não utilização”.
93

Tabela 13 – Jataí-GO: Implantação de Loteamentos

Ano de
Década Setor Total
Implantação
Campo Neutro até 1959
Até 1959

Centro até 1959


Centro (Parte Baixa) até 1959 5
Santa Terezinha até 1959
Vila Palmeiras até 1959
Brasília 1.960
Fátima 1.ª Etapa 1.960
Jardim Rio Claro 1.960
Olavo 1.960
Progresso 1.960
Santa Lúcia 1.960
Santa Maria 1.961
Década de 1960

Iracema 1.962
Jardim América 1.962
Fátima 2.ª Etapa 1.963 19
Três Marias 1.963
Bela Vista 1.964
Fátima 3.ª Etapa 1.965
Sofia 1.965
Epaminondas I 1.966
Jardim Paraíso 1.966
Popular 1.966
Granjeiro 1.968
Área Colégio Bom Conselho 1.968
Carvalho 1.972
Industrial 1.975
Luiza 1.975
Década de 1970

Aeroporto 1.976
Frei Domingos 1.976
São Pedro 1.976 11
Vila Paraíso 1.976
Sofia II 1.978
Oeste 1.979
Samuel Graham 1.979
Sodré 1.979
Antena 1.980
Jardim da Liberdade 1.980
Sítio Recanto Alvorada 1.980
Fabriny 1.981
Década de 1980

Jose Estevam 1.981


Sítios de Recreio Alvorada 1.981
Div. Espírito Santo 1.982
Jardim Maximiano 1.982
Santo Antônio 1.982
Sofia III 1.982
Geda 1.983
Colinas 1.983
Fonte: Prefeitura Municipal de Jataí; MELO, N. A. (2003). Organização dos Dados: Márcio
Rodrigues Silva.
(continua...)
94

Tabela 13 – Jataí-GO: Implantação de Loteamentos (Continuação)

Ano de
Década Setor Total
Implantação
Alto das Rosas 1.985
Vila Mutirão 1.986
Conjunto Rio Claro I 1.987
Década de 1980

Dom Abel 1.987


Aimbiré (Jardim Ana Paula) 1.987
22
Serra Azul 1.987
Cordeiro 1.988
Planalto 1.988
Conjunto Estrela D'alva 1.989
Conjunto Rio Claro II 1.989
Conjunto Dorival de Carvalho 1.990
Conjunto Filostro Machado 1.990
Conjunto Rio Claro III 1.990
Conjunto Sebastião Herculano 1.990
Epaminondas II 1.990
Francisco Antônio 1.990
Hermosa 1.990
Década de 1990

Jacutinga 1.990
José Bento 1.990
18
Mansões 1.991
Conjunto Cohacol 1.994
José Ferreira (Dori) 1.994
Belmar 1.994
Santa Lúcia II 1.995
Dom Benedito 1.996
Conjunto Colméia Park 1.997
Conjunto Jardim Goiás 1.998
Residencial Barcelona 1.998
Bairro Primavera 2.000
Conjunto Colméia Park II 2.000
Conjunto Jardim Goiás II 2.000
Jardim Floresta 2.000
Conjunto Cylleneo França 2.001
2000-2008

Conjunto Colméia Park III 2.003 12


Residencial Vila do Sol 2.003
Cohacol V 2.005
Residencial das Brisas 2.008
Residencial Bandeirantes 2.008
Portal do Sol I 2.008
Portal do Sol II 2.008
Total 87

Fonte: Prefeitura Municipal de Jataí; MELO, N. A. (2003). Organização dos Dados: Márcio Rodrigues
Silva.
95

Ainda, segundo a Lei de Uso e Ocupação do Solo da cidade (JATAÍ-GO,


2008), no seu capítulo VIII, artigo de número 20, a “[...] Prefeitura Municipal poderá
determinar o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano
não edificado, subutilizado ou não utilizado [...]”. Outros instrumentos, como a
aplicação do IPTU progressivo, também estão previstos. De acordo a mesma lei, em
seu artigo 21, em caso de descumprimento das condições estabelecidas e dos
prazos previstos para a ocupação do solo “[...] o município procederá à aplicação do
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) progressivo no tempo, mediante a
majoração da alíquota pelo prazo de cinco anos consecutivos”.

Tais determinações legais seguem o estabelecido no artigo 182 da


Constituição Federal, em seu capítulo II que trata da política urbana, e no Estatuto
da Cidade que regulamentou os artigos 182 e 183.

2.3 – CONFIGURAÇÃO SOCIOESPACIAL DE JATAÍ-GO: A SOCIEDADE NO


ESPAÇO URBANO

Jataí, enquanto cidade, “[...] concentra não só a população, mas os


instrumentos de produção, o capital, as necessidades, os prazeres [e] tudo o que faz
com que uma sociedade seja uma sociedade” (LEFEBVRE, 1999, p.49)(Grifo no
original).
Conforme observa Santos (1998, p.10-11), as cidades, “[...] podem
corresponder a centros de atendimento das necessidades de circulação da produção
agrícola ou de atividades industriais de pequena escala de produção”. Neste sentido,
no momento em que a produção cresce as atividades terciárias são diversificadas
para atender as próprias necessidades internas. As atividades
especializadas desenvolvidas na cidade, bem como aquelas voltadas para
exportação, “[...] geram um dinamismo local que sustenta um conjunto amplo e
variado de atividades para o atendimento da demanda local” (SANTOS, 1998, p.13).
96

A demanda local foi ao encontro da afirmação de Lefebvre (1999, p.149):


“Enfim e sobretudo, a cidade e a aglomeração urbana concentram ‘serviços’”. Esse
dinamismo pode ser verificado pelos dados de implantação das atividades
econômicas em Jataí (Tabela 6), que percebe a instalação, prioritariamente, de
estabelecimentos prestadores de serviços, o que é espacializado nas Figuras 15 a
20.

A cidade, sendo ela mesma uma obra, reúne em si a produção de


necessidades e prazeres que concedem sentido à produção. Nela também são
produzidos, trocados e consumidos os bens (LEFEBVRE, 1999, p.51). Tudo isso
requer uma espacialização. Nessa espacialização cristaliza-se o espaço urbano.
Nela percebemos que a cidade é “[...] coisa social, na qual são evidentes (tornam-
se sensíveis) relações sociais que, tomadas em si não são evidentes
[...]”(LEFEBVRE, 1999, p.140) (Grifo no original).

Este conjunto, formado por encontros e desencontros, reflete bem o que


Santos (1998, p.23) relata em relação à constituição de “regiões agrícolas”. A
formação destas “[...] envolve a necessidade de estabelecimento de cidades de
porte compatível com as atividades terciária, relativas à circulação [da produção],
bem como a prestação de serviços que viabilizem tal produção”.

A estrutura da sociedade local, que nada mais é do que o reflexo de uma


conjuntura ampla com vistas à reprodução do capital, mostra-se articulada com o
fenômeno urbano (Castells, 1983, p.43). A urbanização reflete a relação entre
sociedade e espaço. Ela é função da organização específica dos modos de
produção, bem como da estrutura interna daquele que prevalece (Castells, 1983,
p.111).

O contexto dessa análise considera que desenvolvimento econômico e


crescimento urbano estão intimamente ligados, conforme pode se observar no mapa
de expansão urbana (Figura 9) e de instalação de atividades econômicas (Figuras
15 a 20). Nas décadas de 1980 e 1990 encontra-se o maior número de loteamentos
implantados no recorte temporal proposto, o que coincide com o período mais
expressivo na ascensão da instalação de atividades econômicas (Tabela 6).
97

Partindo do núcleo original, as áreas a oeste, com relevo adequado e sem


barreiras ao crescimento urbano, sempre tiveram prioridade no que se refere à
implantação de novos loteamentos. Salienta-se que, em relação à porção leste da
cidade, as condições não são favoráveis à expansão, uma vez que nela situa-se o
41º Batalhão de Infantaria Motorizada do Exército Brasileiro, ocupando significativa
área e constituindo-se, juntamente com condições topográficas11, em barreira ao
crescimento na porção oriental.

A expansão urbana, com destaque para o período de ascensão da


agricultura mecanizada, ofereceu o espaço necessário para a implantação de
atividades econômicas que vieram atender a demanda impulsionada pela dinâmica
da moderna agricultura.

As décadas de maior crescimento econômico local correspondem à fase


de modernização da agricultura, fundamentalmente a partir da década de 1970, e
sua consolidação nas décadas posteriores (1980 e 1990). O intervalo ora tratado
representa um salto na economia jataiense, com destaque para as atividades
prestacionais e comerciais, respectivamente. Melo (2003, p.121) destaca tal
alteração no espaço urbano, uma vez que

a produção agrícola moderna produziu mudanças econômicas que se


expressam espacialmente na cidade. Esta, ao mesmo tempo, se modificou
para atender ao desenvolvimento da produção realizada no campo e pelas
suas demandas internas de serviços e equipamentos.

Pela análise da aglomeração das atividades econômicas (Figura 22) na


cidade de Jataí, chegou-se à definição de algumas áreas que se destacam no
cenário urbano. A definição dessas áreas, conforme exposto anteriormente,
considerou a concentração das atividades instaladas em cada bairro nas décadas
analisadas. Desta forma, a dinâmica de uma área é medida pela concentração de
pontos correspondentes aos dados analisados (Figura 22). Quanto maior a
concentração de pontos maior será a dinâmica de uma área. Estas apresentam um
incremento maior em relação às demais que ora foram loteadas e não ocupadas, ora
foram ocupadas, mas não apresentam dinâmica própria, permanecendo opacas e
dependentes de outras partes do tecido urbano.

11
Esta área apresenta relevo mais íngreme que o padrão da cidade.
98

O processo de expansão urbana não foi necessariamente acompanhado


num primeiro momento de um desenvolvimento nas regiões então ocupadas. O
conjunto de fatores necessários à consolidação de um determinado setor da cidade
se distribuiu espacialmente delimitando as áreas dinâmicas (Figura 22). Partindo da
região central da cidade, a mesma de seu núcleo original, verificam-se movimentos
de destaque nas direções Sul-Sudoeste e Oeste-Noroeste.

O núcleo original é o centro das atividades econômicas, é o coração da


cidade, aproximadamente, até o final da década de 1950. Essa área expande-se
posteriormente na direção Sul-Sudoeste, consolidando, na década de 1960, a
principal área de concentração de comércio e serviços, que se destaca até os dias
atuais.

No período de 1970-1980, o espaço urbano mostra um deslocamento de


algumas atividades, antes localizadas somente nas áreas centrais, em direção às
novas áreas ocupadas.

O processo de desconcentração das atividades centrais segue com mais


força na década de 1990. Em tal período, as áreas localizadas a Oeste-Noroeste
receberam um maior destaque no cenário urbano. A referida década foi marcada
pela presença de vários loteamentos/conjuntos habitacionais populares e destaca-se
também pelo deslocamento das atividades econômicas, com vistas a atender o
adensamento populacional característico desses locais.

Na década atual, percebe-se um movimento em direção às áreas


periféricas da cidade com a implantação de novos loteamentos e conjuntos
habitacionais. As áreas intermediárias se encontram loteadas, não significando
necessariamente sua ocupação.

Embora a região central se apresente como indispensável ao dinamismo


da cidade, é nítida a presença de movimentos que tendem a deslocar o centro das
decisões para áreas que ofereçam melhores condições de acesso (rede viária,
principalmente) e maiores perspectivas de desenvolvimento. Esse movimento
remete às palavras de Castells (1983), quando destaca o papel do automóvel na
contribuição da dispersão urbana. Não significa a decadência da primeira em
99

relação à segunda; seria, isto sim, um movimento de gestação de uma nova área
dinâmica.

Através dessa análise é possível ter uma visão real da “cidade viva”, onde
há movimento, presença, ocupação, que se distingue da cidade legal, determinada
pelo perímetro oficial. Essa cidade reflete sua sociedade, as influências sofridas em
seu processo construtivo e mostra um tecido urbano marcado por áreas dinâmicas
(Figura 22), e por vazios (Figuras 11 e 12), que expressam a dinâmica urbana local
no momento em que deslocam os olhares para os pontos luminosos da cidade.

A distribuição da população no espaço urbano jataiense é fruto de um


conjunto de fatores intimamente ligados às características da sociedade local. O
processo de ocupação da cidade trouxe consigo reflexos de ações diversas que se
concretizam no arranjo urbano. O juntar das peças desse quebra-cabeça revela,
espacialmente, realidades distintas: bairros nobres e loteamentos populares;
condomínio fechado e conjuntos residenciais; o verde das praças e o tom
avermelhado das ruas nuas. Enfim, encontros e desencontros num desenvolvimento
que se contradiz ao não ocorrer de forma igualitária.

2.3.1 – A SOCIEDADE ESPACIALIZADA

A injustiça, que parte dos cidadãos em direção à cidade, lembrada por


Silva (2003) quando observa a exclusão, apartação e segregação socioespacial,
também está presente no espaço ora analisado. Segundo o referido autor, os
exemplos de maltrato das cidades são clássicos:

[...] destruição paulatina de equipamentos, infra-estrutura e mobiliário


urbanos, a migração e canibalismo desenfreados que elegem novas “áreas
nobres” ou “áreas de expansão”, em detrimento de outras até então
equipadas e adequadas à satisfação de múltiplas necessidades urbanas.
Associado a essa expansão desenfreada observa-se o crescimento
acelerado da pobreza, a emergência de novos sujeitos sociais e novas
modalidades de serviços [...] (SILVA, 2003, p.30-31)
100

A eleição de novas áreas, conforme a citação anterior, é fato comprovado


em Jataí quando se observa o processo de expansão urbana. A abertura dessas
áreas, frente ao grande vazio encontrado em vários loteamentos, expressa uma
ação excludente. A “elite” necessita de um espaço criado especificamente para ela.
A parcela da população desprovida de recursos que lhes forneçam uma condição de
vida nos padrões ideais continua dependendo do assistencialismo do Estado em
suas diversas formas.

Esse processo, ao incorporar novas parcelas do solo ao tecido urbano,


mostra ainda outro lado: o da falta de planejamento adequado à ocupação do solo.
Conforme constatado em estudo anterior (SILVA, 2002), ao analisar o uso da terra
em uma microbacia dentro do perímetro urbano, áreas que não oferecem condições
ideais ao parcelamento também foram agregadas ao perímetro da cidade. É o caso
da “Microbacia do Córrego do Sapo12”. Em 1965, 20% de sua área era urbana. Com
o processo de expansão, as percentagens sobem para 45% em 1993 e 65% em
2000, gerando situações de inundação de residências, como a ocorrida em 2002,
quando uma casa, construída às margens do referido córrego, é invadida pelas
águas após chuva torrencial. Na mesma microbacia existem casas situadas a menos
de dez metros da margem do córrego (SCOPEL et al., 2002).

O processo de espacialização da população pode ser analisado também


pela observação das Figuras 25 a 34, nas quais encontram-se exemplos que
caracterizam a ocupação urbana de Jataí.

A região central da cidade, vista parcialmente na Figura 25, primeira área


urbana a ser ocupada, apresenta-se hoje como uma área consolidada em termos de
comércio e serviços. Essa área, devido à sua data de ocupação, que remete ao
início do século XX, foi o local de estabelecimento das primeiras residências
imponentes na cidade. O atual centro financeiro/comercial abrigou durante décadas
a velha elite, descendentes dos primeiros ocupantes da região.

Na Figura 25 percebemos dois pontos marcantes. O primeiro: a matriz da


Igreja Católica (canto superior esquerdo); o segundo: um edifício residencial (à
direita). Símbolos de poder e “status” deixados por um tempo pretérito, mas que não

12
A referida análise encontra-se em SILVA (2002).
101

se foi totalmente, uma vez que deixou um espaço urbano consolidado. Símbolos
marcantes de uma região da cidade que mantêm sua importância mais por seu
processo histórico de ocupação e pelos equipamentos nela instalados, do que pelas
condições urbanas satisfatórias a um centro urbano contemporâneo.

Figura 25: Jataí-GO: Área urbana – Vista Parcial – Setor Central


Imagem Ikonos, maio/2004 - JATAI-GO (2004): Mapas Cadastrais.

As ruas estreitas teimam em frear o ritmo da sociedade informacional.


Ruas estas que apresentam um tom acinzentado, que não é característica de toda
malha urbana. O cinza do asfalto ainda é sonho para moradores de bairros distantes
do poder, mas participantes do processo de reprodução de um espaço urbano
desigual.

Não se percebe nesta área muitos vazios. A demanda por uma posição
geográfica privilegiada, que ofereça boas condições às atividades capitalistas,
transformaram um setor residencial, por origem, em lócus de serviços para a
sociedade. Algumas casas simplesmente mudaram sua função, como por exemplo o
prédio que abriga o museu histórico da cidade (Figura 33).
102

Caminhando na direção norte da cidade, o cenário é completamente


alterado (Figura 26). O tom acinzentado das ruas do centro cede lugar para o
avermelhado das ruas nuas. Essa área abriga um conjunto residencial doado à
população pelo Governo do Estado e Prefeitura local. Para muitos, representa a
realização do sonho da casa própria, por mais simples que essa possa ser. Para
outros, é um “lugar de desencontro”, pois seus habitantes não se encaixaram na
realidade capitalista que expropria o indivíduo dos seus direitos básicos e valoriza o
ser humano de acordo com seus bens.

O bairro em questão, denominado de “Colméia Park”, implantado a partir


de 1997, traz consigo algumas contradições. A primeira está no próprio termo “Park”
que se distancia dos padrões de qualidade vida esperados num “parque residencial”,
uma vez que seus homônimos geralmente oferecem uma boa urbanização,
apresentando, no mínimo, o tom esverdeado da arborização. Todavia, o verde que
se encontra é o da cultura da soja (Figura 26 - canto superior direito) ou mesmo o da
mata vizinha (localizada na microbacia comentada anteriormente) (Figura 26 - canto
inferior esquerdo), que a cada dia torna-se mais suscetível a sofrer as
consequências do “desenvolvimento” urbano, o que já ocorreu em sua porção sul.

Figura 26: Jataí-GO: Área urbana – Vista Parcial – Setor Colméia Park
Imagem Ikonos, maio/2004 - JATAI-GO (2004): Mapas Cadastrais.
103

Uma das riquezas que sustentam o município, a produção agrícola, está


ao mesmo tempo tão próxima e tão distante dessa área da cidade. Próxima, porque
se limita com o bairro. Distante, porque seu produto não gera benefícios àquele. As
casas construídas por essa riqueza não são dignas de um solo que foi colocado à
margem da sociedade: a periferia pobre. Elas se encontram em bairros mais nobres,
onde as pequenas habitações, construídas em série, cedem lugar às mansões
imponentes.

Para enxergá-las basta se deslocar para a porção centro-oeste da cidade,


área dinâmica que traz de volta o tom acinzentado das ruas acrescentando alguns
pontos azuis, as piscinas, que não refletem somente o céu, mas, sobretudo a
desigualdade presente neste conjunto urbano (Figura 27).

Figura 27: Jataí-GO: Área urbana – vista parcial do Setor


Planalto. Imagem Ikonos, maio/2004 - JATAI-GO (2004):
Mapas Cadastrais.

Mais uma vez, percebem-se vazios, diferentemente do bairro analisado


anteriormente. Nesta área os lotes vagos estão à espera de valorização, esta já
verificada em outros pontos da cidade. Aos que podem pagar o preço do
desenvolvimento desigual resta desfrutar da imponência de edificações que
104

expressam o alto poder aquisitivo de seus proprietários. É a nova elite, cristalizando


um espaço considerado “nobre”, distante dos problemas presentes em grande parte
da cidade.

Não têm, por exemplo, suas casas invadidas pela enxurrada de uma
chuva torrencial, como as ocorridas no final de 2004. A distância entre os extremos,
entre a riqueza e a pobreza, não é tão grande. Limita-se à uma cerca, separando a
lavoura da área urbana (Figura 28), ou a um intervalo comercial no noticiário da TV
informando à sociedade que a produção vai bem; a chuva é parceira do produtor.
Infelizmente o mesmo não ocorre para todos. O escurecer do céu numa tarde
chuvosa traz também aflição ao indivíduo que não possui uma residência resistente
às intempéries (quando possui algum local de moradia). Indivíduo que,
provavelmente, faz parte dos números apresentados na Tabela 3: o componente do
IDH do município com menor expressão é a renda, renda mal distribuída.

Figura 28: Jataí-GO: Área urbana – vista parcial – Setor Jacutinga.


Imagem Ikonos, maio/2004 - JATAI-GO (2004): Mapas Cadastrais.
105

A cidade que se vende não é a real. O interessante ao “marketing urbano”


é o que deu certo, independente do preço que foi pago e muito menos de quem o
pagou. Loteamentos como o apresentado na Figura 28, que originalmente
objetivaram solucionar o problema da moradia, trouxeram consigo outros problemas.

Implantados na década de 1990 (no terceiro período delimitado no início


deste trabalho), em resposta à uma nova necessidade, criada fundamentalmente
pela expansão agrícola no município, tais bairros expressam uma ação basicamente
de cunho político, uma vez que o número do lotes doados foi significativo, mas sem
qualidade. Com área inferior à exigida legalmente, estabelecida na lei de
parcelamento do solo, esses bairros adensaram um alto número de indivíduos sem
condições financeiras e legais de construírem sua moradia. Financeiras, porque a
própria característica do loteamento é a baixa renda. Legais, porque as normas de
construção, estabelecidas para que as mínimas condições de salubridade e
comodidade sejam atendidas, são difíceis de serem seguidas, devido à pequena
dimensão do lote13.

Outro loteamento caracterizado pelas condições precárias, sobretudo no


que se refere à infra-estrutura urbana, situa-se na porção oeste da cidade, em área
destinada justamente para a expansão urbana. Trata-se do Setor José Bento.
Todavia, a expansão se deu de forma análoga ao Setor Jacutinga (Figura 28). Sem
oferecer boas condições de vida aos seus habitantes tais setores constituem-se num
exemplo de falta de planejamento nas ações de expansão urbana, num movimento
que expulsa o habitante para a periferia uma vez que

como uma habitação engloba, em seu preço, os benefícios em infra-


estrutura e meios de consumo coletivos que a encarecem para além dos
rendimentos dos mais pobres, resta-lhes a solução de alojar-se em
loteamentos distantes, cortiços ou favelas (PELUSO, 1997, p.237).

Em Jataí esses dois loteamentos populares fazem parte dos sete


loteamentos dessa categoria, implantados na década de 1990, refletindo a alta
demanda por moradia, bem como a desigualdade social presente, uma vez que a
percentagem de lotes vagos na cidade é muito alta, porém, não podem ser
adquiridos pelos indivíduos com menor renda.

13
Os lotes em questão têm área de 168m² em média, enquanto o mínimo seria de 250m² com testada
mínima de 10m, segundo a lei de parcelamento do solo (JATAÍ-GO, 2007).
106

Figura 29: Jataí-GO: Área urbana – vista parcial – região norte.


Imagem Ikonos, maio/2004 - JATAI-GO (2004): Mapas Cadastrais.

Figura 30: Jataí-GO: Área urbana – vista parcial – Parque Ecológico Diacuy.
Imagem Ikonos, maio/2004 - JATAI-GO (2004): Mapas Cadastrais.

Seguindo na rota da espacialização da sociedade nos deparamos com os


setores Cohacol (Figura 29 – à direita), implantado em 1994, e Jardim Goiás (Figura
26 – à esquerda), implantado em 1998 (1ª etapa) e 2000 (2ª etapa), compreendendo
o terceiro e quarto períodos delimitados anteriormente. Constituindo-se de conjuntos
habitacionais financiados, os setores, localizados na região norte da cidade, abrigam
107

moradores tipicamente da classe média, detentores de uma renda suficiente para


assumir um financiamento habitacional. São dois dos nove conjuntos habitacionais
financiados, implantados nas décadas de 1990 e 2000.

Mudando de sítio, encontramos na porção centro-sul do conjunto urbano


o verde do Parque Ecológico Diacuy (Figura 30), contrastando com o avermelhado
de alguns lotes vagos ainda presentes neste setor da cidade. Fruto de ações de
reurbanização, o parque em questão valorizou o Jardim Rio Claro, onde se encontra,
e todo o seu entorno. Situado entre uma zona residencial e outra de características
mais comerciais, constitui-se em área de especial interesse para a administração
pública e, desta forma, encontra-se em uma zona de interesse urbano e paisagístico
(ZIUP14), estabelecida pelo Plano Diretor da cidade (JATAÍ-GO, 2003).

Na região Sudoeste (Figura 31) encontramos novamente uma camada da


população que não convive num ambiente urbanisticamente correto, como o

Figura 31: Jataí-GO: Área urbana – vista parcial – Região Sudoeste


Imagem Ikonos, maio/2004 - JATAI-GO (2004): Mapas Cadastrais.

14
Ver item 3.1.3 – Zonas urbanas: a divisão oficial.
108

anterior. São pessoas que mesmo, com direitos iguais aos habitantes das áreas
mais nobres (ao menos na teoria), não vivem nas mesmas condições.

Poucas casas, ruas de terra, muitos lotes desocupados, são


características dessa área da cidade que, mesmo implantada em tempos remotos,
nas décadas de 1960 e 1970, ainda hoje, no século XXI, guarda traços de sua
implantação original. Situada na área de menor dinamismo da cidade, está
praticamente desprovida de equipamentos públicos. A escola mais próxima,
localizada em um bairro vizinho, oferece apenas o ensino fundamental, exigindo dos
habitantes um maior deslocamento para suprir necessidades como educação e
saúde.

A região sudoeste da cidade exige atenção especial, sobretudo em


termos de ocupação. Esta é caracterizada como área de baixa densidade, o que
simplesmente reflete os vazios visivelmente perceptíveis. Sua ocupação, assim
como a das demais áreas da cidade, torna-se necessária para uma melhor
estruturação do conjunto urbano, evitando um crescimento desnecessário da área
urbana e, consequentemente, o aumento das áreas vazias.

Tais aspectos mostram o panorama de uma cidade completamente


diferente daquela encontrada em 1908 (Figura 32). Os mais de 90% da população
do município que moram na zona urbana (Tabela 1), seja pelos encontros ou pelos
desencontros, transformaram o solo originalmente produtor de produtos básicos da
agropecuária numa base importante para a economia do Sudoeste Goiano. As
Tabelas 4, 5 e 6 ilustram o dinamismo presente em Jataí. É na área urbana, fruto da
moderna agropecuária e do dinamismo por ela implementado, que hoje ganha
autonomia pela diversificação das atividades econômicas (indústrias de confecções
e turismo entre outras), que se dá a concretização das desigualdades, do choque de
contrários, de contrastes que podem parecer simples quando o olhar é superficial,
mas que refletem a estrutura social vigente, quando se lê as entrelinhas dos
acontecimentos.
109

Figura 32: Núcleo Original de Jataí-GO -


1908Fonte: Museu Histórico de Jataí (2003)
apud MELO, N. A. (2003)

Os habitantes do início do século XX não poderiam imaginar pessoas


vivendo sob a “proteção” de cercas elétricas e de altos muros. As grandes janelas
dos casarões coloniais, como o da Figura 33, mostravam um ambiente mais calmo e
seguro para a população. As casas conversavam com a cidade, através de portas e
janelas abertas. Hoje, a insegurança do século XXI, fruto de um “desenvolvimento”
que revela vários “efeitos colaterais”, concretiza no solo urbano a busca por
segurança, encontrada (ao menos em teoria) nos condomínios fechados.
110

Figura 33 Museu Histórico de Jataí – Antigo Casarão no centro da Cidade.


Fonte: JATAI-GO (2004a) – Dossiê de Jataí - Foto: Gênio Eurípedes

Na Figura 34, temos o Condomínio Residencial Barcelona, implantado em


1998, que nos remete à realidade vivida nos centros urbanos atuais. Não somente
nos grandes centros, pois a insegurança não tem fronteiras ou classes sociais. Este
outro extremo da desigualdade social, o da elite, é cristalizado num “objeto” que se
desencontra do conjunto urbano. Desencontro que chega ao nível da pesquisa
acadêmica, num espaço que se fecha, em contradição com a cidade aberta à
pesquisa, como podemos observar na tentativa de Silva (2009), de estudar este tipo
de espaço da cidade.

[…] quando a pesquisa pretendeu “invadir” o espaço privado do Condomínio


[...], não obteve êxito. Apesar de inicialmente os responsáveis colocarem-se
à disposição e concordarem em fornecer dados para o mapeamento dos
moradores, os mesmos nunca foram disponibilizados de fato. Após meses
de contatos com o síndico e com a administração para a obtenção das
informações, esses declararam receio com relação à invasão que uma
pesquisa poderia representar na rotina dos condôminos. Segundo eles, o
condomínio é um espaço com suas próprias regras e leis. Em suas
palavras, “uma cidade dentro da cidade, a diferença é que temos uma renda
per capta superior aos que estão de fora”. Sendo assim, afirmaram que “os
moradores podem não abrir suas vidas para entrevistas de uma pesquisa”.
Tal afirmação (re)vela este espaço como de apartação, ou antes, de auto-
apartação. Nele, os moradores pretendem ausentar-se da vida que se
passa fora dos seus muros. Mas, na realidade isso não é possível, pois o
111

referido condomínio é um espaço exclusivamente residencial. Os moradores


necessitam cruzar as suas fronteiras para frequentar outros espaços da
cidade como escolas, comércios, igrejas, clubes, dentre outros. Não é
possível a ausência total de contato com aqueles cuja renda per capta é
menor, mesmo porque estes adentram o espaço do condomínio como
trabalhadores. São os que lhes servem como jardineiros, faxineiros,
porteiros, etc (SILVA, 2009, p.15-16).

Figura 34: Jataí-GO: Área urbana – vista parcial – Região Oeste –


Condomínio Residencial Barcelona. Imagem Ikonos, maio/2004 -
JATAI-GO (2004): Mapas Cadastrais.

Em seu entorno são perceptíveis várias ruas sem pavimentação –


característica comum às áreas excluídas; e áreas desocupadas - refletindo bem o
processo de especulação imobiliária. Entre essas paisagens encontra-se um objeto
produzido pela elite e para a elite que, fechada entre altos muros, usufrui uma
qualidade de vida almejada por tantos, mas ao alcance de poucos.

Essas diversas faces do tecido urbano analisado são peças que, ao se


juntarem, não formam um quadro homogêneo, uma vez que a cidade não é assim.
Refletem suas características. Suas desigualdades. O que há de melhor e pior
nesse espaço contraditório.
112

Mas com tantas contradições, desigualdades e injustiças, será que houve


realmente uma evolução do tecido urbano?

Ao levantar este questionamento é pertinente esclarecer qual deve ser a


real evolução.

A referência é um deslocamento progressivo, um desenvolvimento real,


em seu sentido autêntico, não se confundindo com uma simples expansão do tecido
urbano (SOUZA, 2003). Desenvolvimento que traga consigo uma transformação
socioeconômica, provocando um bem-estar geral da população, elevando o padrão
de vida de forma geral (GRAZIANO NETO, 1985) e que envolva uma mudança
social positiva, constatando, assim, uma melhoria da qualidade de vida e um
crescimento da justiça social (SOUZA, 2003a).

As afirmações possíveis passam pelas considerações de Lojkine (1997),


quando trata dos efeitos da aglomeração urbana. Segundo Lojkine, percebe-se que:
- por um lado, os efeitos úteis produzidos pelos meios de circulação e de
consumo concentrados na cidade;
- por outro, efeitos de aglomeração que são apenas o produto indireto da
justaposição de meios de produção ou de reprodução e não estão ligados,
como os efeitos anteriores, a um objeto material particular. Pode-se dizer
que sua produção é, de certa forma, coletiva: é uma combinação social –
consciente ou não, deliberada ou não – de agentes urbanos individuais
(construtores de prédios de moradia, de comércio, de escritórios, de
fábricas, etc.). (LOJKINE, 1997, p. 176). (Grifos no original).
É fato que a cidade de Jataí experimentou, principalmente no período
posterior a 1970, um crescimento significativo. Os “efeitos úteis” do crescimento
urbano melhoraram a qualidade de vida local, transformando a pequena vila do
século XIX num referencial para o Sudoeste Goiano. Porém, o desenvolvimento não
acompanhou o crescimento, surgindo os “efeitos de aglomeração” que se
desencontram da riqueza do município.

A combinação dos agentes construtores da cidade gerou um


desenvolvimento desigual, que não atende à maior parcela da esfera social. A
população de baixa renda passou a depender do assistencialismo do estado, no que
se refere a direitos básicos do ser humano. Para morar, necessita-se esperar a
doação por parte do poder público de uma fatia do valioso solo urbano. Se isso
ocorre, faltam condições para construir a moradia. Mas, em tempo oportuno ganha-
se o material de construção. Quando a edificação é erguida, abriga uma família, ou
113

até mais, que não consegue se sustentar. Mas, isso também não é problema, o
alimento faz parte do “pacote governamental”, que trata o homem como um simples
número nas contas públicas.

Há de se promover condições concretas para que a cidade tenha o


mesmo tom em suas cores. O conjunto urbano não terá desenvolvimento se,
simplesmente, for um amontoado de casas e pessoas.
114

3 – IDENTIFICANDO A SEGREGAÇÃO URBANA EM JATAÍ

“Todas estas cidades eram fortificadas com altos


muros, portas e ferrolhos...”
Deuteronômio 3:5a

Em menos de quatro horas de percurso, dentro de um automóvel,


observando o espaço urbano foco deste trabalho, e no intuito de enxergar além do
visível, percebe-se, sem grandes dificuldades, as separações existentes no tecido
urbano de Jataí. Entendendo que a distinção visual das áreas urbanas é apenas
reflexo de uma estrutura mais densa, que segrega pessoas e grupos sociais,
propõe-se uma reflexão sobre o tema.

Ao se fixar no solo urbano, o indivíduo está praticando um ato, consciente


ou não, de construção da cidade. Seja por opção ou por imposição (social,
econômica o outra), a fixação dos indivíduos nos bairros da cidade dá forma e
cristaliza as relações sociais existentes. Dentro da visão de que o funcionamento da
sociedade urbana transforma seletivamente os lugares (VILLAÇA, 2001), cada lugar
na cidade expressa a sociedade que o constitui.

O termo segregação pode ser compreendido, segundo o Dicionário


Houaiss da Língua Portuguesa, como “afastamento, separação, ato de se isolar ou
ser isolado de outros”. Ou, ainda, em termos mais próximos da geografia, como
um “processo pelo qual as pessoas se estabelecem ou se localizam dentro de uma
comunidade de áreas já ocupadas por pessoas de características ou atividades
sociais semelhantes às suas” (INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS, 2002) (Grifos
nossos). Uma correta compreensão do termo dá a direção para o entendimento
dessa prática socioespacial. Sua etimologia remete diretamente ao termo
separação e indiretamente a afastamento e privação.

Partindo desse ponto, percebe-se no espaço da cidade as implicações da


segregação urbana. Na cidade ocorre a separação. Na cidade as pessoas se isolam
ou são isoladas. Os semelhantes se agrupam. Nessas ações ocorre também o
115

afastamento dos que são diferentes e a privação, essa última mais dramática para
aqueles que são privados de viver a cidade de forma plena.

Dos diversos tipos de segregação existente nas cidades, será abordada a


segregação das classes sociais. Segundo Villaça (2001, p.142), essa segregação
pode ser entendida como “um processo segundo o qual diferentes classes ou
camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões
gerais ou conjuntos de bairros da metrópole” (Grifos no original). Embora, no
presente estudo, não se faça uma análise direta da separação da sociedade
jataiense em classes, entende-se que os conceitos utilizados são pertinentes. Neste
caso específico, as classes são “classes de renda”, o que dá um perfil bem próximo
das classes sociais dentro do que observa Santos (2008), focalizando a noção de
classe no entendimento dos sistemas de desigualdade econômica, num contexto de
“conflito social baseado nas assimetrias entre o que as pessoas têm e o que fazem
com o que têm” (SANTOS, 2008, p.355) (Grifos no original).

Analisando o espaço urbano de Jataí, percebe-se a semelhança, em


alguns pontos, com o padrão de segregação descrito por Villaça (2001), no caso da
metrópole brasileira: Centro e periferia.
O primeiro, dotado da maioria dos serviços urbanos, públicos e privados, é
ocupado pelas classes de mais alta renda. A segunda, subequipada e
longínqua, é ocupada predominantemente pelos excluídos. O espaço atua
como um mecanismo de exclusão (VILLAÇA, 2001, p. 143).
No caso de Jataí existem diferentes locais, igualmente distantes do centro
da cidade, que comportam moradores com rendas diferenciadas, mas predominando
rendas menores. Jataí diferencia-se na escala, é uma cidade classificada como
“Centro de Zona A” (IBGE, 2007b), cidade de porte médio em sua região; mas,
apresenta a problemática da segregação socioespacial. A segregação é dinâmica,
envolve elementos do espaço e do tempo, apresenta velocidades diferenciadas
(CORRÊA, 1995). Essa dinâmica é própria do capitalismo, os ritmos e direções são
por ele impostos. A malha urbana apresenta o espaço, os períodos de ocupação das
áreas da cidade, revelam o tempo e as velocidades que se dão de acordo com a
demandas de cada período (econômicas, sociais e políticas).

As atividades econômicas com maior dinâmica privilegiaram os locais


com melhor infra-estrutura para sua instalação. Dentro dessa mesma lógica, a
116

capitalista, as pessoas com maior poder aquisitivo residirão em lugares que atendam
suas “necessidades”. Locais “perdem” e “ganham” valor. As áreas, tanto residenciais
como comerciais, são produzidas para atender os interesses da classe dominante,
tanto local quanto globalmente.

O valor do bem imóvel

é criado por uma matriz socioespacial de localizações e atividades


associadas à produção de riqueza, a qual então dá aos sítios urbanos
particulares valor de uso que é função mais daquele padrão espacial
determinado socialmente do que de uma qualidade intrínseca do próprio
recurso. (GOTTDIENER, 1997, p.179)

Essa realidade é percebida claramente no centro da cidade, onde o


adensamento de comércio e serviços elevou o preço do solo urbano, consolidando a
área central como localidade restrita àqueles que pagam seu elevado valor. Nessa
área somaram-se a localização privilegiada, como centro original da cidade, e a
produção da riqueza, numa ligação direta com a dinâmica dessa região. Assim,
permanecem os altos valores do bem imóvel: “valores de uso produzidos pela matriz
espacial das atividades de acumulação de capital [traduzidos] em valores de troca
de mercadoria refletidos no preço do bem imóvel” (GOTTDIENER, 1997, p.179).
Por que a segregação ocorre dessa forma? Por que ocorre em
determinados locais e não em outros? Quais são as causas que levam a eleição das
áreas nobres ou depreciadas? Qual a causa da segregação? Morar perto dos
iguais? Ter status social? Tais perguntas, levantadas por Villaça (2001), são
pertinentes a esta discussão. Pensemos sobre elas.

3.1 – AS INFRA-ESTRUTURAS DO ESPAÇO URBANO

Lojkine (1997), levanta outros aspectos da segregação socioespacial:


uma segregação no nível de habitação; outra no nível de equipamentos coletivos
(escolas, creches, equipamentos esportivos, sociais...); e, ainda, uma terceira no
nível do transporte domicílio-trabalho. Assim, a renda dos indivíduos constitui-se no
componente mais forte de acesso à cidade, num cenário em que os “[…] interesses
117

socioespaciais dividem em frações não só a classe capitalista como também a


classe trabalhadora” (GOTTDIENER, 1997, p.167).
A análise do presente conjunto urbano pauta-se na confrontação de
variáveis diversas. Nesse sentido, há de se considerar como aspecto importante, à
consolidação do espaço urbano jataiense, as infra-estruturas nele disponíveis.
Segundo Lojkine (1997, p.180)

a cidade, a região e os diversos tipos de aglomeração espacial seriam a


combinação de infra-estruturas em parte indissociáveis, estreitamente
complementares, que forneceriam uma base indispensável às diferentes
atividades.

Nesta passagem Lojkine, ao tratar dos limites capitalistas da urbanização,


levanta alguns fatores que estariam diretamente ligados à evolução econômica das
cidades. Dentre eles destacam-se:

• a infra-estrutura de formação (o conjunto dos meios de ensino geral e


de formação profissional, em todos os graus de que depende a
qualidade do potencial humano da região);

• as infra-estruturas sócio-culturais (habitação, equipamentos sanitários,


culturais e de lazer);

• as infra-estruturas econômicas propriamente ditas que compreendem


sobretudo: as zonas industriais, as vias de comunicação, as redes de
energia e de telecomunicação (LOJKINE, 1997, p.180). (Grifos no
original).

Esses três itens estariam integrados nos diferentes níveis do espaço


regional:

• infra-estrutura da empresa (zonas industriais) compreendendo a


compra dos terrenos, os equipamentos comuns e eventualmente a pré-
construção;

• infra-estruturas urbanas compreendendo os equipamentos


“estruturantes” (centros públicos), os equipamentos “de
acompanhamento” (zonas residenciais e ligações com as redes) e os
equipamentos intermediários (centros sociais);

• infra-estruturas locais para uso industrial: equipamentos escolares,


sanitários, equipamento local de transporte;

• infra-estruturas regionais: universidade, institutos e organismos de


pesquisa, rede regional de transporte e de telecomunicação (LOJKINE,
1997, p.180-181). (Grifos no original).
118

Tais considerações nos remetem ao espaço urbano jataiense a fim de


verificarmos o papel de alguns destes aspectos em nossa área de estudo. Dessa
forma, é possível ter uma visão mais ampla do conjunto urbano existente. Torna-se,
portanto, relevante a consideração de alguns desses fatores na presente análise.

3.1.1 – INFRA-ESTRUTURA DE FORMAÇÃO

Em termos de infra-estrutura de formação (Figura 35) a cidade oferece,


conforme já descrito no item 2.1 (A inserção de Jataí na rede urbana brasileira),
estabelecimentos de ensino, públicos e particulares, que vão desde o ensino
fundamental até o superior.

No que tange ao ensino fundamental e médio as unidades públicas de


distribuem de forma mais abrangente na área urbana. A maioria dos bairros é
servida por unidades de ensino, sendo que essas se concentram na área centro-
oeste deste espaço urbano, destacando-se a região sudoeste da cidade com menor
número de unidades implantadas, fato diretamente ligado ao menor dinamismo
encontrado nesta região (Figura 22). As unidades privadas, deste tipo de ensino,
localizam-se prioritariamente na região central com uma tendência ao deslocamento
no sentido oeste da cidade.

Os estabelecimentos de ensino superior, tanto privados quanto públicos,


concentram-se na região oeste da cidade, atendendo alunos vindos tanto de Jataí
quanto de outros municípios vizinhos. A exceção refere-se à uma unidade do
Campus da UFG, situada no extremo sudeste da cidade.
119

Figura 35: Jataí-GO: Localização dos Estabelecimentos de Ensino


120

3.1.2 – SERVIÇOS PÚBLICOS, SAÚDE E LAZER

O movimento analisado nas área dinâmicas da cidade expressa a


tendência atual da expansão urbana local. É possível, então, complementar essa
análise pela observação da distribuição de alguns equipamentos socioculturais.

Nesse contexto, merece atenção especial a localização dos principais


estabelecimentos de utilidade pública (Figura 36). De forma análoga às atividades
econômicas estes equipamentos surgem no núcleo original da cidade e deslocam-se
prioritariamente para oeste. Dessa forma, as áreas que já mostram uma dinâmica
maior, sobretudo pela presença comercial e prestacional, são fortalecidas pelo
movimento gerado por órgãos de utilidade pública que atraem, periodicamente, a
população que deles necessita.

As necessidades socioculturais da população são, assim, um dos


motores que impulsionam o crescimento da cidade. Se há uma produção da cidade,
e das relações sociais na cidade, é uma produção e reprodução de seres humanos,
mais do que uma produção de objetos (LEFEBVRE, 1991, p.47).

Uma vez que a sociedade jataiense está inserida no processo de


reprodução capitalista, as áreas que recebem a expansão urbana nascem dentro da
lógica desse processo. Novos loteamentos são implantados, pois há uma demanda
por habitação. Os novos habitantes necessitam comer, se divertir, estudar,
necessitam de atendimento na área da saúde etc. Para atendê-los, novos
equipamentos são instalados: um mercado local, um outro de porte maior que atrai
outras atividades correlacionadas. Enfim, nesse movimento incessante, consolida-se
a região que melhor responder às solicitações que lhe são direcionadas.

O poder público instala uma escola, um posto de saúde; implantam-se


benefícios. Independente da forma que estes são conseguidos, ou do tempo que
levam para serem implementados, o certo é que valorizam uma região e geram, até
mesmo, um “orgulho” por parte dos moradores locais que se comunicam numa
proximidade urbana não identificada com a metrópole ou tampouco com vila de
traços tipicamente rurais.
121

Figura 36: Jataí-GO: Principais Estabelecimentos de Utilidade Pública


122

Nesse sentido, o urbano revela que

A cidade sempre teve relações com a sociedade no seu conjunto, com sua
composição e seu funcionamento, com seus elementos constituintes […]
com sua história. Portanto, ela muda quando muda a sociedade no seu
conjunto. […] a cidade depende também e não menos essencialmente das
relações de imediatice, das relações diretas ente as pessoas e grupos que
compõem a sociedade […]. (LEFEBVRE, 1991, p.46).

O urbano se apresenta exigindo espaço, impondo regras, gerando


encontros e desencontros, alegrias e tristezas, sonhos e pesadelos. Encontrando-se,
ou não, o indivíduo quer se divertir, ou simplesmente esquecer dos problemas do
dia-a-dia. A Figura 37 apresenta as principais opções de cultura e lazer que a cidade
oferece. Excetuando-se o Pólo Turístico, localizado a aproximadamente, 10km do da
cidade, demandando um deslocamento maior, a maioria da população conta com as
praças públicas, que são poucas, com os parques ecológicos e com os clubes e
outros equipamentos privados de lazer, sendo que o acesso aos dois últimos
depende do poder aquisitivo da população, fazendo dos parques públicos (lagos
artificiais urbanizados) locais de grande visitação.

Na área da saúde (Figura 38) existem unidades básicas distribuídas de


forma a atender a população local sem muito deslocamento. Todavia, os hospitais
situam-se nas áreas central e oeste da cidade, requerendo um maior deslocamento,
de acordo com a necessidade do usuário. Os estabelecimentos privados de saúde
concentram-se na região central da cidade, ocupando as primeiras regiões
dinâmicas delimitadas anteriormente. A tendência observada é que, como as outras
atividades, estas devem se deslocar no sentido oeste, prioritariamente nas
proximidades do centro de saúde municipal instalado nesta área.

Dos hospitais, apenas um é público. Nele concentra-se todo atendimento


fora do alcance das unidades locais (Unidades de Saúde da Família), não somente
do município de Jataí, mas também das cidades vizinhas por ele polarizadas.
123

Figura 37: Jataí-GO: Principais Opções de Cultura e Lazer


124

Figura 38: Jataí-GO: Principais Estabelecimentos de Saúde


125

3.1.3 – ZONAS URBANAS: A DIVISÃO OFICIAL

A ocupação do solo urbano, na cidade de Jataí, teve seus parâmetros


estabelecidos com a implantação do Plano Diretor Municipal, no ano de 2001. Este
passou por revisões nos anos de 2003, 2005, 2007 e 2008. Atualmente, as zonas
urbanas (JATAÍ, 2008) são delimitadas de acordo com a lei municipal nº 2.861/08,
de 18 de abril de 2008, espacializando-se conforme a Figura 39. São elas:

§ 1 ao § 8 - Zona Residencial I - ZR I

- Área onde se concentram predominantemente as residências unifamiliares


e onde os demais usos são considerados complementares e acessórios a
este espaço urbano. Caracteriza-se como Zona de baixa densidade
demográfica de até 100 hab./ha.

§ 9 ao § 14 - Zona Residencial II – ZR II

- Área onde se concentram predominantemente as residências e edificações


de uso residencial unifamiliar ou coletiva, e onde os demais usos são
considerados complementares e acessórios a este espaço urbano.
Caracteriza-se como Zona de média densidade demográfica de 100 a 500
hab./ha.

§ 15 - Zona Residencial III – ZR III

- Área onde se concentram predominantemente as residências e edificações


de uso residencial unifamiliar destinados à população de baixa renda ou a
programas habitacionais com terrenos inferiores a 360,00 m² (trezentos e
sessenta metros quadrados), e onde os demais usos são considerados
complementares e acessórios a este espaço urbano. Caracteriza-se como
Zona de média densidade demográfica de 100 a 500 hab./ha.

§ 16 - Zona Residencial IV– ZR IV

- Área onde se concentram predominantemente as residências e


edificações de uso residencial unifamiliar ou coletiva, e onde os demais
usos são considerados complementares e acessórios a este espaço
urbano. Caracteriza-se como Zona de média/baixa densidade demográfica
de 100 a 400 hab./ha.

§ 17 ao § 19 - Zona Estrutural – ZE

– Área onde se concentram predominantemente as atividades destinadas


ao comércio e à prestação de serviços, e onde os demais usos são
considerados complementares e acessórios a este espaço urbano.
Caracteriza-se como Zona de média densidade demográfica de 100 a 500
hab./ha.
126

Figura 39: Jataí: Zoneamento Urbano - 2008


127

§ 20 - Zona Industrial I – ZI I

- Áreas onde se concentram indústrias de baixo grau de degradação


ambiental e onde os demais usos são considerados complementares e
acessórios a este espaço urbano.

§ 21 - Zona Industrial II – ZI II

- Áreas onde se concentram indústrias de até médio e alto grau de


degradação ambiental e onde os demais usos são considerados
complementares e acessórios a este espaço urbano.

§ 22 - Zona de Interesse Ambiental – ZIA

- Áreas de proteção, que por suas características deverão ser preservadas


e/ou revitalizadas através de medidas adequadas para cada caso, sendo
que a ocupação de seu entorno deverá ser estritamente controlada pelo
poder público.

§ 23 - Zona Especial I – ZES I

– São áreas que devido às suas particularidades de vizinhança e


características de ocupação deverão ter sua ocupação controlada de
maneira a garantir sua viabilidade de implantação sem danificar o meio
ambiente, caracteriza-se por áreas destinadas à implantação de chácaras
ou sítios de recreio já implantado, não sendo permitidos desmembramentos
destinados a habitações individuais ou implantações de natureza industrial.

§ 24 - Zona Especial II – ZES II

– São áreas que devido às suas particularidades de vizinhança e


características de ocupação deverão ter sua ocupação controlada de
maneira a garantir sua viabilidade de implantação sem danificar o meio
ambiente, caracteriza-se por áreas destinadas à implantação de clubes
recreativos e/ ou sociais, industrias já implantadas e equipamentos ou
edifícios públicos existentes; não sendo permitidos desmembramentos
destinados a habitações individuais ou novas implantações de natureza
industrial.

§ 25 e § 26 – Zona de Interesse Urbano e Paisagístico - ZIUP

– São áreas que devido às suas particularidades de vizinhança,


características de ocupação e presença de determinados equipamentos
públicos, deverão ter sua ocupação controlada de maneira a garantir sua
viabilidade de implantação sem prejuízo da qualidade do entorno, da infra-
estrutura urbana e do meio ambiente urbano, bem como a execução de
operações urbanas consorciadas.
128

§ 27 ao § 29- Zona de Expansão Urbana

– Área urbana vazia preferencialmente destinada ao parcelamento de


solo urbano ou a implantação de equipamentos públicos e operações
urbanas consorciadas.

§ 30 e § 31 – Zona de Interesse Turístico – ZIT - I

- São áreas que pelas suas particularidades estão sujeitas à implantação de


equipamentos públicos ou privados, urbanização de áreas destinadas ao
lazer, bem como de operações urbanas consorciadas destinadas à
implantação de elementos destinado ao turismo e lazer. (JATAÍ, 2008)

Conforme tais determinações, a ocupação do solo está sujeita às


especificações legais. Em sua maioria, as zonas urbanas são compostas por áreas
residenciais mistas, envolvendo estabelecimentos comerciais de bairro, com vistas a
atender a demanda local.

No contexto desta análise destacam-se as áreas incluídas na ZR III, que,


devido às suas características de adensamento populacional, possuem uma
dinâmica econômica/social própria, necessitando assim, de políticas específicas
para atender tais localidades. A ZR-III gera um grande fluxo para áreas que atendam
suas demandas, seja de trabalho/emprego, compras, lazer e/ou serviços públicos.
Movimento que ocorre, sobretudo, em direção às áreas mais centrais.

A divisão em zonas demonstra não apenas os limites estipulados para o


solo urbano e seu uso. A sociedade também fica dividida oficialmente. O indivíduo
de menor poder aquisitivo é deslocado para a periferia da cidade, onde já se
concentra a maior densidade populacional, e que tende a aumentar com as
determinações legais. Essa divisão ultrapassa o limite do espaço urbano, revela a
divisão social existente.

Revela, porque a divisão em zonas reflete a cidade existente antes da lei


de zoneamento. A maioria das zonas foi definida de acordo com a realidade
encontrada no momento da construção da lei. Além de revelar, consolida a divisão;
a lei de zoneamento especifica que essas áreas são destinadas à população de
baixa renda (JATAÍ, 2008). Esse é o lugar dos pobres.
129

Nas disposições gerais dessa lei temos, ainda, uma contradição com as
diretrizes do plano diretor, o que deixa brechas para ações de má fé. O que se lê
atualmente é:

Art. 1º - O uso e a ocupação do solo urbano em toda a área urbana da


cidade de Jataí será regido por esta lei.

Art. 2º - Esta Lei tem como objetivos:

1 – Estabelecer critérios de ocupação e utilização do solo urbano;

2 – Controlar as densidades demográficas de maneira a estabelecer um


crescimento ordenado;

3 – Compatibilizar usos e atividades diferenciadas dentro de determinadas


frações do espaço urbano de maneira a observar a proximidade de usos
incompatíveis ou inconvenientes;

4 - O parcelamento de solo, a edificação ou o uso excessivo ou


inadequado em relação à via urbana e à infra-estrutura;

5 – A instalação de equipamentos ou atividades que possam funcionar


como polos geradores de tráfego, sem a previsão de infra-estrutura
correspondente;

6– Retenção especulativa do imóvel urbano que resulte na sua


subtilização ou não utilização;

7– A deteriorização de áreas urbanizadas;

8– A poluição ou a degradação ambiental. (JATAÍ, 2008). (Grifos nossos).

A interpretação que se tem é que os objetivos da lei são, também, gerar


situações problemáticas para a cidade. A leitura, da parte grifada seria: Esta lei tem
como objetivos ...o uso excessivo ou inadequado em relação à via urbana e à
infra-estrutura; a instalação de equipamentos ou atividades que possam funcionar
como polos geradores de tráfego, sem a previsão de infra-estrutura
correspondente; a retenção especulativa do imóvel urbano que resulte na sua
subtilização ou não utilização; a deteriorização de áreas urbanizadas; a
poluição ou a degradação ambiental
130

Nas diretrizes do plano diretor temos:

§ 3º - O Plano Diretor Urbano de Jataí tem como objetivo garantir o equilíbrio


entre o crescimento demográfico/econômico e a qualidade de vida e bem-
estar da população na área urbana definida nos seus limites de perímetro
por lei específica e dividida em zonas de usos característicos, tendo como
referência, além da Constituição Federal, a Lei n. 10.257 – de 10 de Julho
de 2001, que estabelece o Estatuto da Cidade.

§ 4º - Entende-se como função social da cidade a função correspondente a


assegurar as condições gerais para o desenvolvimento da produção, do
comércio e dos serviços e, particularmente para a plena realização dos
direitos dos cidadãos como o direito à saúde, à educação, ao saneamento
básico, ao trabalho e à moradia, ao transporte coletivo, à segurança, à
informação, ao lazer e à qualidade ambiental e à participação no
planejamento.

§ 5º - Entende-se como função social da propriedade urbana a função


correspondente às atividades desenvolvidas em cada propriedade quando o
uso e a ocupação de cada propriedade, seja de domínio público ou privado,
respondem às exigências que cumprem a função social da cidade,
consolidadas nas diretrizes do Plano Diretor Urbano e em conformidade
com os dispositivos legais dele decorrentes.

§ 6º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às


exigências fundamentais de ordenação da área urbana, assegurando o
atendimento das necessidades dos cidadãos em relação à qualidade de
vida, justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas,
mediante as seguintes diretrizes gerais:

1 – garantia do direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental,


à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e
ao lazer;

2 – gestão democrática por meio da participação da população e de


associações representativas dos vários agentes da comunidade e
segmentos organizados da comunidade na formulação, execução e
acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento
urbano;

3 – Cooperação entre os níveis de governo, a sociedade privada e os


demais setores da sociedade organizada no processo de urbanização, em
atendimento ao interesse social;

4 – Planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial


da população de maneira a evitar e corrigir as distorções do crescimento
urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente;

5 – Garantir a adequada oferta de equipamentos urbanos e comunitários,


transporte e serviços públicos adequados ao interesse da comunidade e às
características locais;

6 – Ordenação e controle do solo urbano de maneira a evitar:


131

6.1 – A utilização inadequada dos imóveis urbanos;

6.2 – A proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;

6.3 – O parcelamento de solo, a edificação ou o uso excessivo ou


inadequado em relação à infra-estrutura urbana;

6.4 – A instalação de empreendimentos ou atividades que possam


funcionar como polos geradores de tráfego, sem a devida infra-
estrutura necessária;

6.5 – A retenção especulativa do imóvel urbano, que resulte na sua


sub-utilização ou não utilização;

6.6 – A deteriorização, a poluição e a degradação de áreas


urbanizadas ou do meio ambiente natural.

7 – Adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e


financeira, bem como dos gastos públicos de maneira a garantir os objetivos
do desenvolvimento urbano, privilegiando os investimentos geradores de
bem-estar geral e seu usufruto pelos diferentes segmentos da sociedade.

8 – Regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por


populações de baixa renda mediante o estabelecimento de normas
específicas de urbanização levando em conta a situação socioeconômica da
população e as normas ambientais.

9 – Justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de


urbanização.(LEI Nº 2.804, DE 22 DE JUNHO DE 2007). (JATAÍ, 2007).
(Grifos nossos).

O cuidado com a redação legal é algo básico, para dar subsídios às


ações do poder público. Espera-se que a função social da cidade seja cumprida, que
a lei esteja correta e que, corretamente, seja aplicada. Mas, o que se vê, ainda não é
isso.

Mais uma vez a ocupação das áreas vagas da cidade torna-se distante.
As regiões mais centrais, que concentram um número maior de equipamentos
públicos, produzem uma valorização nos imóveis nelas localizados. É o caso dos
imóveis situados no entorno das ZIUP's, zonas onde foram construídos parques
ecológicos

As áreas com maiores índices de vazios (Figuras 11 e 12) situam-se, em


sua maioria, nas zonas ZR-I, ZR-II e ZR-IV, caracterizadas pelo uso residencial
unifamiliar e por uma baixa densidade demográfica. Essas áreas revelam em si um
132

custo ainda elevado do solo urbano, uma vez que foram deixadas de lado em
termos de ocupação urbana, tornando-se áreas intermediárias entre localidades de
maior densidade populacional, centrais e periféricas. Contrariam, assim, o que
determina o Plano Diretor: Ordenação e controle do solo urbano de maneira a evitar:
[…] A retenção especulativa do imóvel urbano, que resulte na sua sub-utilização ou
não utilização (JATAÍ, 2007).

As novas atividades econômicas tendem a acompanhar a delimitação da


Zona Estrutural devido às determinações legais, bem como, à infra-estrutura nela
presente, sobretudo vias de deslocamento (principais ruas e avenidas).

As áreas de expansão urbana prioritárias seguem a tendência descrita, no


plano diretor:

Direcionar o crescimento da cidade, a médio e longo prazo para a região


oeste do perímetro urbano, que oferece boas condições topográficas para
a urbanização e com a correspondente expansão da rede viária e de infra-
estrutura básica.(LEI Nº 2.804, DE 22 DE JUNHO DE 2007, Capítulo II,
Artigo 3, Alínea 8). (JATAÍ, 2007). (Grifos nossos).

Resguardando-se as áreas de preservação que constituem, juntamente


com a área militar presente na cidade (maior parte da zona de expansão urbana
leste), em perímetro limitante de novas ocupações urbanas, a cidade cresce para
oeste. Assim, separam-se da área urbana já consolidada as atividades industriais de
maior porte, localizadas na ZI-II; sendo fator favorável à ocupação da ZI-II as vias de
acesso presentes em seu entorno: BR´s 060 e 364.
133

3.2 – ESPAÇOS SEGREGADOS IDENTIFICADOS

Embora encontre-se habitações de alto padrão localizadas em bairros que


oferecem lotes mais baratos, o processo de segregação e auto-segregação, em
Jataí, está diretamente ligado ao preço do solo urbano. Dentro de uma lógica
capitalista perversa, a segregação influencia o preço do solo, uma vez que valoriza
as áreas intermediárias, e reproduz o processo, expulsando novamente as menores
rendas para áreas mais baratas.

Observando as Figuras 42 e 46, é nítida a concentração da classe alta


nas áreas mais caras da cidade. Na periferia predominam os indivíduos de menor
renda. No mapa, os pontos que contrastam com a regra dos bairros periféricos
mostram a presença de “estranhos” ao bairro, num movimento em que a agregação
de uns provoca a segregação de outros Villaça (2001).
Para se ter essa visão foi crucial espacializar algumas informações
sociais de Jataí. Na sequência, são apresentados os procedimentos necessários
para a confecção dessa base.

3.2.1 – MAPEANDO OS ESPAÇOS SEGREGADOS

Os dados trabalhados referem-se à Base de Informações por Setores


Censitários do IBGE para ano 2000, disponíveis em formato “Shapefile”. Estes foram
importados para o software ArcGIS® e conjugados com o mapa urbano de Jataí
(Figura 40), a fim de se obter resultados segundo o traçado real dos bairros, uma
vez que os limites dos setores censitários não coincidem com a malha urbana
municipal.
134

Figura 40: Jataí: Área urbana – 2004


135

Para a confecção do mapa de “Segregação Urbana” (Figura 42), utilizou-


se a ferramenta “symbology>quantities>dot density” (Figura 41). As informações,
que alimentaram o sistema, referem-se aos valores de “Pessoas responsáveis pelos
domicílios particulares permanentes - rendimento nominal mensal”, com a variação
de renda de “0” (pessoas sem rendimento) a “mais de 20 SM” (mais de vinte salários
mínimos).

Cada ponto no mapa correspondeu a um indivíduo, numa escala de cores


ordenadas, permitindo a análise da quantidade e concentração da população em
cada bairro, e na área urbana como um todo, segundo sua renda.

Figura 41: Confecção do Mapa de Segregação Urbana

O estudo proposto passa necessariamente pela compreensão de como a


população se distribui no arranjo urbano de Jataí. A análise do mapa de
“Segregação Urbana” (Figura 42), permite agregar mais informações necessárias à
discussão desse espaço.
136

Figura 42: Segregação Urbana em Jataí – 2000


137

Figura 43: Segregação Urbana em Jataí – 2000: Áreas destacadas


138

Seguindo a hierarquia definida na legenda, percebe-se, num primeiro


momento, que os tons de vermelho indicam as maiores rendas e os tons de verde as
menores. É possível verificar, então, uma concentração de renda, nas áreas mais
centrais, e nos bairros mais afastados os menores valores.

Algumas áreas destacam-se neste mapa (Figura 43):

■ Área 1: Núcleo original da cidade

É nítida a concentração das população com maior renda no centro da


cidade. Esse local, onde originalmente se fixaram as primeiras famílias
jataienses, ainda comporta grande parcela das rendas mais altas. Além
dos laços históricos e de identidade com o lugar, o centro apresenta
grande facilidade no acesso a serviços, possuindo um alto custo no preço
do solo urbano, o que explicaria predominância dos valores altos.

■ Área 2: porção centro-oeste da cidade - bairros nobres

Nesta área, considera-se que está ocorrendo a gestação de um novo


centro, e

Embora a região central apresente-se como indispensável ao dinamismo da


cidade, torna-se nítida a presença de movimentos que tendem a deslocar o
centro de decisão para áreas que ofereçam melhores condições de acesso
(rede viária principalmente) e maiores perspectivas de desenvolvimento[...]
(SILVA, 2005, p.71).

De igual forma, o solo urbano nessa área é inacessível às rendas mais


baixas, gerando a concentração de uma elite que adquire lotes não
somente para a moradia, mas também para a especulação imobiliária, o
que pode ser verificado pelos vazios presentes na ordem de 25 a 50%
(SILVA, 2005)
139

■ Área 3: Conjunto habitacional – renda média

Esta área corresponde a um conjunto habitacional financiado,


concentrando basicamente uma população de renda média, segundo os
dados utilizados.

■ Área 4: Conjuntos habitacionais de baixa renda

As três áreas em destaque correspondem a conjuntos habitacionais de


baixa renda, sendo que duas foram doadas aos moradores. Refletindo
sua característica inicial, elas comportam a população de menor renda,
adensada em pequenos espaços, como pode ser observado na Figura 43.

■ Área 5: Área que apresenta grandes vazios urbanos – acima de 50%

A área destacada chama a atenção não pela concentração de famílias de


baixa renda, mas pelo grande vazio urbano. Os bairros nessa região
apresentam no mínimo 50% de seus lotes desocupados, chegando a
mais de 90% em algumas áreas (Figuras 11 e 12).

Na década atual, percebe-se um movimento em direção às áreas


periféricas da cidade com a implantação de novos loteamentos e conjuntos
habitacionais (Figura 9). Uma vez que as áreas intermediárias encontram-se
loteadas, não significando necessariamente sua ocupação, o alvo dos loteamentos
são as áreas mais distantes do núcleo central.

Somente no ano de 2007, três grandes loteamentos foram abertos em


Jataí. Fato que aumenta, e muito, o número de lotes vagos e contribui para uma
valorização ainda maior das áreas intermediárias, já tão distantes da população de
baixa renda.

Não são perceptíveis, no entanto, políticas públicas eficazes, no sentido


de inserção da população segregada no que tange ao acesso de bens e serviços,
140

necessários a uma boa qualidade de vida, e em atenção ao que estabelece o plano


diretor urbano.

É necessário insistir: as ações para uma melhor utilização do espaço


urbano concretizariam em Jataí o desenvolvimento em seu sentido mais amplo, “[...]
desenvolvimento entendido como mudança social positiva [...]” (SOUZA, 2003a,
p.60). Enquanto não se atender as necessidades prioritárias da população a função
social da cidade não será cumprida.

3.2.2 – ASSISTENCIALISMO GOVERNAMENTAL E SEGREGAÇÃO

As informações sobre o assistencialismo governamental cooperam na


presente análise, evidenciando mais um elemento que revela a segregação presente
na cidade. Analisando a segregação socioespacial, especificamente, através dos
dados do programa Bolsa Família, percebe-se uma semelhança no padrão de
distribuição da renda na cidade. Os dados utilizados referem-se ao período de 2005
a 2008.

A partir de 2005 vários programas assistenciais foram concentrados no


Bolsa Família. Desta forma, tais dados inserem no mapeamento parcelas da
população que, além de não ter rendimentos declarados na pesquisa do IBGE,
dependem de transferências governamentais.

A Figura 44 apresenta esses dados através de concentrações


semelhantes ao mapa de renda do IBGE, o que confirma a presença de indivíduos
com menores rendas na periferia da cidade, sobretudo nos espaços já mencionados.

As áreas numeradas na Figura 45 se aproximam daquelas destacadas no


item anterior. Os bairros situados nas áreas 1, 3, 4 e 6 são loteamentos ou conjuntos
habitacionais de baixa renda. Todas as áreas coincidem com baixos níveis de
rendimento, conforme Figura 44. A área 2 é um conjunto de bairros mais antigos,
141

implantados até a década de 1980, e que também apresenta uma baixa renda,
apesar de não ter sido concebida como “loteamentos de baixa renda”.

Neste sentido, fica claro que a população com rendas inferiores reside,
predominantemente, na periferia da cidade. Fato que pode ser ratificado pela análise
do padrão construtivo dessas localidades.

Quanto menor a renda, pior é o padrão das edificações, o que reflete um


distanciamento de uma boa qualidade de vida. A Figura 46 apresenta o padrão
construtivo de Jataí, e mais uma vez a periferia é sinônimo de exclusão.
Contrastando com as edificações de padrões “médio” e “alto”, o padrão “precário”
contorna o tecido urbano.

Assim, esse espaço, que na sua maioria é residencial, é por um lado,


historicamente constituído, e por outro, articulado ao conjunto da estrutura social
(CASTELLS, 1983). A constituição histórica remete ao contexto da moderna
agricultura, sobretudo a partir da década de 1980. A articulação à estrutura social
torna visível na cidade uma separação entre “iguais”, que reflete o contexto opressor
da maioria das áreas periféricas de Jataí. Seus habitantes não participam da cidade
oficial. Têm a sua própria cidade. Na visão de Kaztman (2005) estariam seduzidos
por uma sociedade moderna; só podem participar simbolicamente, não podendo
superar por meios próprios os obstáculos para alcançar uma participação material
equivalente na cidade que se divulga nos intervalos comerciais da TV.
142

Figura 44: Pessoas Beneficiadas Pelo Programa Bolsa Família – 2005 - 2008
143

Figura 45: Pessoas Beneficiadas Pelo Programa Bolsa Família – 2005 - 2008 – Áreas Destacadas
144

Figura 46: Jataí – Padrão Construtivo - 2007


145

3.3 – OLHAR PERIFÉRICO: UMA VISÃO DIFERENCIADA DA CIDADE

A análise da paisagem é fundamental no processo de compreensão do


espaço urbano. Entender a paisagem como uma das formas de manifestação do
espaço geográfico, o que vai além da ideia de paisagem considerada como
elemento estático, significa enxergar a cidade através de sua manifestação formal
(CARLOS, 1994).

Compreender a produção do aspecto visível do espaço, que expressa o


conteúdo e as relações sociais que o constituíram, inserido num contexto histórico,
social e concreto15, demanda diversos olhares. Tal análise deve, nas palavras de
Sauer (1998, p.17), descobrir a conexão e a ordem dos fenômenos que compõe
determinada área. Para tanto, devemos considerar que estes fenômenos
apresentam uma associação ou interdependência, pois, o “[...] o espaço é um misto,
um híbrido, um composto de formas-conteúdo” (Santos, 1999, p.35).

A cidade, complexa por natureza, exige investigações ousadas que


almejem atingi-la. Assim é a cidade:

cobiçada, almejada, ultrajada e rejeitada ao mesmo tempo, a cidade é, na


verdade, um enorme objeto de desejo. A cidade espetaculariza a vida
cotidiana, dá sentido visual ao mundo das pessoas, das coisas, das trocas.
Cidade dos encontros e dos desencontros. Olhares diferenciados constroem
imagens e representações em infinitas composições. Permite também em
escalas e níveis distintos concentrar em pontos espacialmente localizados,
atividades díspares que revelam mundos próximos e distantes. Ela
aproxima e difunde cultura e conhecimento, desnuda e permite segredos. A
cidade firma-se como espaço privilegiado (SILVA, 1997, p.85).

O desafio de entender a cidade de Jataí leva ao exercício de ver e


enxergar e, assim, construir uma representação que dê conta da análise em curso.

15
Sobre este conceito de paisagem urbana conferir Cavalcanti (2001, p. 14).
146

O exercício começa no início da década de 1980, quando havia nesse


sítio um cerrado repleto de seus frutos característicos, como o pequi e a gabiroba.
Com as transformações sofridas, no final da mesma década encontra-se um
conjunto habitacional para atender o crescimento populacional produzido pela nova
dinâmica econômica. Em uma de suas praças destaca-se uma lanchonete
comercializando refrigerantes produzidos por uma empresa multinacional. Situação
esta que vai ao encontro das palavras de Martine (1994, p.8), ao falar da
redistribuição espacial da população na década de 80. Este autor esclarece que “[...]
as alterações na distribuição espacial da população refletem as próprias
transformações na estrutura da sociedade”.

Em Jataí, como em tantos outros lugares, o cerrado perde seu espaço


para atender uma demanda produzida pela sociedade “moderna” (que se “apropria”
até mesmo da natureza) e por suas dinâmicas próprias, dentre elas a populacional.
Dinâmica esta, que deixa de ser predominantemente no sentido rural-urbano, como
o foi ao longo das décadas de 1940 a 1970, para se constituir de fluxos urbano-
urbano (Santos, 1998).

Revelando uma dimensão do espaço produzido percebe-se, através da


paisagem urbana de Jataí, a sobreposição de tempos diversos. Elementos
pretéritos, que resistem à velocidade da sociedade atual, trazem informações
importantes para a compreensão da cidade e das relações nela produzidas.

A sociedade urbana, a vida urbana, percebidas primeiramente na


paisagem, não dispensam uma morfologia. O urbano assenta-se e realiza-se na
cidade, entidade concreta (LEFEBVRE, 1991). Na cidade, em sua estrutura,
revelada na paisagem, o urbano passa de uma mera possibilidade ao real, embutido
nas formas, latente, cheio de respostas, aguardando questionamentos.

O exercício que se fez foi o de buscar uma visão diferenciada,


enxergando as partes e entendendo-as dentro do todo. Desconstruindo a imagem
imediata e buscando entender seu processo de composição. Ver, através da
paisagem, e enxergar muito além dela. Ver a reprodução da história, as diversas
concepções sobre o morar, o habitar, o trabalhar, o comer e o beber. As mais
variadas concepções sobre o viver na cidade (CARLOS, 1994).
147

Figura 47: Jataí – Roteiro do Trabalho de Campo - Maio/2008


148

A paisagem guarda histórias como, por exemplo, a que foi registrada por
Binicheski (2001, p.103), em entrevista a um caminhoneiro, migrante gaúcho,
residente em Jataí. Esse revela seu sonho, o de possuir a sua tão sonhada
“casinha”: “Há oito anos atrás eu ganhei um bom dinheiro, no primeiro ano já
comprei minha casinha, aqui na Vila Paraíso [...]”. O bairro, onde se localiza esse
imóvel, é o primeiro conjunto habitacional financiado que foi implantado em Jataí, na
década de 1980, marcando uma alteração na paisagem urbana.

Essa, e tantas outras informações, estão registradas na paisagem urbana.


O local de realização do sonho desse migrante é a Vila Paraíso, primeiro conjunto
habitacional da cidade. Implantado na década de 1970, esse bairro altera a
paisagem da cidade num contexto de alterações econômicas, ligadas, sobretudo, à
estrutura produtiva do município.
O ato de observar e analisar a paisagem permite uma melhor, e mais
ampla, compreensão das necessidades da sociedade através do que foi cristalizado.
Permite também imaginar o que poderia ter sido construído pelo homem que não
teve condições para este ato. Talvez não existissem tantos vazios na cidade, e
outros nos indivíduos que não tiveram o direito pleno à cidade em que vivem. Nesse
sentido, a paisagem é também humana. Desumana, talvez. É expressão da
sociedade, mostrando também suas contradições. É espaço construído, mas guarda
em si, também, o movimento da vida (CARLOS, 1994).
Caminhando rumo à uma interpretação mais sólida do espaço urbano de
Jataí, o exercício que se propõe é o de (re)ver a cidade. Esta ação consistiu em
percorrê-la pelas vias que permitissem uma visão mais ampla e diferenciada. Cada
ângulo permitiu imagens diferenciadas, extrapolando o limite da forma (SILVA,
1997). Segundo essa proposta, foi traçado o roteiro da Figura 47 e determinados
sete pontos decisivos para a análise.

Olhar a cidade “de fora para dentro” leva o observador à uma posição de
externalidade. O indivíduo que habita a periferia, nos espaços segregados
discutidos, têm uma visão diferenciada da cidade. A visão periférica ofereceu, assim,
ângulos diversos para a interpretação.
149

O trajeto, de aproximadamente 40 km, teve início no Campus da


Universidade Federal de Goiás (Unidade Riachuelo). Iniciou-se o percurso rumo ao
noroeste da cidade (Ponto 1), saindo de uma área parcelada na década de 1970,
passando por outras das décadas de 1980, 1990 e chegando à década atual. Na
mesma sequência, o trajeto até o Ponto 1 passa por setores de renda alta, média,
baixa, e chega a um setor que provavelmente comportará uma população de
rendimentos maiores, considerando o preço do solo praticado na recente venda dos
lotes. Por se tratar de loteamento recente, não há dados concretos disponíveis .

Olhando para o centro da cidade no sentido Noroeste-Centro, a visão


obtida é a da Figura 48. Nela percebe-se o núcleo mais central a aproximadamente
5km. Distância significativa para os habitantes dos bairros vizinhos, que não contam
com transporte urbano adequado, mas mínima para quem têm acesso via
automóvel, pela avenida que faz a ligação dessa região da cidade. Todavia, o
acesso torna-se mais lento em períodos de programações no parque agropecuário
da cidade, localizado próximo ao Ponto 2.

Figura 48: Vista da cidade a partir do Ponto 1, sentido Noroeste-Centro


Foto do autor – Maio/2008
150

O padrão construtivo (Figura 46) predominante, sai de médio/alto, no


ponto de partida, passa por simples e chega a precário no setor vizinho ao Ponto 1.
Os vazios urbanos (Figuras 11 e12) aumentam no sentido do descolocamento, a
dinâmica da cidade (Figura 22) diminui e o assistencialismo (Figura 44) também
sofre acréscimos.

Na mesma região da cidade, olhando a partir do Ponto 2 (Figura 49),


observa-se, ao centro, a BR-158, à esquerda, o setor Portal do Sol (Ponto 1),
rodeado por uma lavoura de milho, e à direita, uma mata que a cada dia fica mais
ilhada pelas ocupações urbanas.

Na divulgação de vendas do loteamento Portal do Sol (Anexo B) destaca-


se a presença de infra-estruturas obrigatórias na implantação de qualquer tipo de
loteamento. “Loteamento com ruas asfaltadas, meio fio, energia elétrica iluminação
pública, água potável”(Anexo B - Material de divulgação do loteamento). Uma vez
que a cidade ainda conta com várias áreas sem tais equipamentos públicos, o
básico torna-se acessório.

Figura 49: Vista a partir do Ponto 2, BR-158 - perímetro urbano


Foto do autor - Maio/2008
151

É claro que os slogans são discutíveis, bem como o parâmetro para


utilizá-los. O que não se discute é o simples “crescimento” da cidade por expansão
de área ocupada, que não vem acompanhado do esperado desenvolvimento.

Deslocando-se para o Ponto 3, pelo extremo norte da cidade, temos o


Setor Colméia Park. O setor conta com apenas dois acessos, um pelo centro da
cidade por vias asfaltadas e outro por via de terra, que é a opção mais rápida para
deslocamentos das regiões Oeste e Noroeste da cidade. Pelo acesso mais curto ao
centro da cidade percorre-se uma distância aproximada de 4,5km, saindo de um
bairro que comporta camadas mais baixas, com renda média de dois salários
mínimos. O percurso até o centro passa por setores que mantêm características
parecidas.

A Figura 50 mostra a vista que se tem na saída do setor Colméia Park,


no sentido Ponto 3 - Centro. Temporalmente, no mesmo sentido, ocorre um
deslocamento da década de 2000 para a primeira metade do século XX (Figura 9),
nos bairros mais centrais. O trajeto revela, concomitantemente, a redução do

Figura 50: Vista da cidade a partir do Ponto 3, sentido Norte-Centro.


Foto do autor – Maio/2008
152

assistencialismo (Figura 44), o aumento do nível de renda (Figura 42), da dinâmica


urbana (Figura 22), da ocupação do solo (Figuras 11 e12) e do padrão construtivo
(Figura 46).

Um contraste interessante na paisagem urbana foi identificado na próxima


parada. No deslocamento até o Ponto 4 são percorridos setores implantados até a
década de 1980, chegando ao setor Brasília, que mantêm, no século XXI, traços do
contexto rural da gestação de Jataí, como pode ser observado na Figura 51. A

Figura 51: Ponto 4 – O rural dentro do urbano – Setor Brasília.


Foto do autor – Maio/2008

cristalização do rural dentro do cenário urbano suscita discussões sobre o tênue


limite entre esses espaços. A segregação urbana, nesse ponto, remete o indivíduo
ao rural, que insiste permanecer não apenas de forma concreta, mas sobretudo
através dos hábitos locais. Embora distante dos locais de lazer, a periferia guarda

uma certa proximidade entre seus moradores. A conversa com os vizinhos e a


contemplação da rua e do próximo são formas de aproximação entre iguais no
mesmo bairro, mas diferentes daqueles fixados na distante paisagem que se vê na
Figura 52.
153

Figura 52: Vista da cidade a partir do Ponto 4, sentido Nordeste-Centro


Foto do autor – Maio/2008

Distando aproximadamente 3 km do centro, a região nordeste, a exemplo


da maior parte da periferia de Jataí, concentra rendas inferiores (Figura 42) que
podem ser percebidas pelo padrão construtivo (Figura 46) predominante. O
assistencialismo (Figura 44) também é marcante, sobretudo no setor Jacutinga que
apresenta grande adensamento populacional. Pela relativa proximidade com o
centro há uma dinâmica urbana (Figura 22) maior, crescendo a partir da década de
1980.

De forma análoga apresenta-se a região leste (Ponto 5), da qual


visualiza-se a cidade, conforme a Figura 53, no sentido leste-centro. Sua
peculiaridade se dá pelo limite, ao leste, com a área militar do Exército Brasileiro,
que não permitiu sua expansão para o oriente.
154

Figura 53: Vista da cidade a partir do Ponto 5, sentido Leste-Centro.


Foto do autor - Maio/2008

Figura 54: Ponto 6 – Setor Cohacol 5.


Foto do autor – Maio/2008
155

O deslocamento do Ponto 5 para o Ponto 6 se deu no limite de áreas


bem distintas. À esquerda situa-se a região com maior índice de vazios, que
diminuem em direção ao centro. No Ponto 6 (Setor Cohacol 5) está um dos mais
novos conjuntos habitacionais da cidade, que consolida a tendência de valorização
das áreas intermediárias. Situando-se na borda sul do conjunto urbano, a vista que
se tem olhando para fora da cidade é caracterizada por traços rurais (Figura 54). À
semelhança de outros setores da borda existe a presença da agricultura, a oeste
dessa área.

A aproximadamente 5 km está o centro da cidade, predominando, nos


primeiros 2 km, a baixa taxa de ocupação em áreas implantadas sobretudo entre as
décadas de 1960 e 1980. Predominam, nesta região, indicadores médios no que
tange a renda (Figura 42), assistencialismo (Figura 44) e dinâmica urbana (Figura
22) minimizados pela grande extensão da área. Com índices mais críticos
encontram-se o baixo padrão construtivo (Figura 46) e os vazios urbanos (Figuras
11 e12) agravando-se na direção centro-sul.

Figura 55: Vista da cidade a partir do Ponto 7, sentido Sudoeste-Centro.


Foto do autor - Maio/2008
156

O deslocamento para o Ponto 7 passa pela Vila Fátima (implantada na


década de 1960), em um trecho que destoa das características da região sudoeste.
Torna-se nítido, pela Figura 42, a presença de níveis de renda alta, percebida
claramente pelo padrão construtivo da vizinhança. No Ponto 7 há mais um
loteamento aberto na década atual, encontrando-se em fase de divulgação e venda.
Na Figura 55 a vista, em primeiro plano, é a do setor Residencial da Brisas (mais
recente) e logo após mais áreas vagas abertas nas décadas de 1990 e 2000.

O setor Residencial das Brisas (Anexo C) e seu vizinho, setor Morada do


Sol (Anexo D), utilizam para sua divulgação a proximidade com o Condomínio
Residencial Barcelona, talvez para passar a ilusão aos possíveis moradores de que
ao morar perto de uma área com níveis de renda mais alto se aproximarão deste
padrão. Todavia, o muro faz a segregação, não apenas física, mas social,
principalmente. O “sonho” de morar perto da “elite” pode ser adquirido “em suaves
parcelas”, o que já destoa dos vizinhos do outro lado do muro. A região, ora descrita,
caracteriza-se pelo alto índice de vazios (Figuras 11 e12), baixa dinâmica urbana
(Figura 22), rendas médias (Figura 42) e altos índices de assistencialismo (Figura
44) concentrados em setores específicos. O padrão construtivo (Figura 46) é simples
e precário, tendendo a aumentar nas áreas recém abertas devido ao preço da terra.

No trajeto de retorno ao ponto de partida está, ainda na região sudoeste,


o Condomínio Residencial Barcelona demonstrando uma auto-segregação.
Implantado no final da década de 1990 apresenta a peculiaridade de muitos lotes
vagos (aproximadamente 30% dos lotes estão ocupados) demonstrando que a
aquisição destes não significou um exercício de morar perto dos “iguais”, em
primeira instância, sendo necessária uma maior investigação neste sentido.

Ao final do percurso a visão da cidade foi trabalhada. Está posto mais um


elemento para o debate.
157

4 - ACESSO AO SOLO URBANO: A CONSOLIDAÇÃO DAS ÁREAS


SEGREGADAS

“Correm como valentes; como homens de guerra,


sobem muros; e cada um vai no seu caminho e não se
desvia da sua fileira. Não empurram uns aos outros;
cada um segue o seu rumo; arremetem contra lanças e
não se detêm no seu caminho. Assaltam a cidade,
correm pelos muros, sobem às casas; pelas janelas
entram como ladrão.
Joel 2:7-9

O último elemento que se propõe, para a compreensão do processo de


segregação socioespacial presente em Jataí, é o valor do solo urbano. Elemento
este que é significativo, porque sua essência está na lógica do sistema capitalista.
Sistema que dita as regras, através de seus agentes individuais ou coletivos, para a
construção do espaço urbano.

Antes da apresentação dos dados, específicos dessa discussão, convém


destacar o cenário em que os mesmos são analisados.

No ano de 2004, a cidade de Jataí contava com um total aproximado de


37.000 lotes urbanos (JATAI-GO, 2004b). Destes, cerca de 13.000 estavam
desocupados, ou seja 35% do total. Levando em consideração que os loteamentos
implantados, no período de 1990 a 2004, somam um total de aproximadamente
5.700 lotes, conclui-se que a implantação destes foi desnecessária para atender a
demanda por lotes urbanos. Descontando do total de lotes vagos exposto, o número
de lotes implantados posteriores a 1990, temos um valor de 7.300 lotes. Ou seja, no
início da década de 1990 havia aproximadamente 7.300 lotes vagos em Jataí,
número muito superior aos lotes que foram implantados.

Caso não ocorresse a implantação de novos loteamentos, o número de


lotes vagos em 2004, provavelmente, seria em torno de 1.600. Assim, o espaço
urbano estaria mais adensando e com menor índice de vazios, caminhando para
uma ocupação total das áreas já loteadas.

Infelizmente, os dados atualizados, sobre os vazios urbanos, não foram


disponibilizados pela prefeitura. Dentro do contexto da expansão urbana da cidade,
158

considera-se que tais dados revelariam uma situação ainda mais drástica, ratificando
a segregação urbana e a especulação imobiliária identificadas.

É importante salientar que medidas que garantam a acessibilidade ao


solo urbano, para toda população, não podem ser deixadas de lado. Considerando a
hipótese de não abertura de novos loteamentos, torna-se necessário que sejam
tomadas medidas que garantam um preço justo para os lotes existentes que, sem
novas áreas para competir no mercado imobiliário, tenderiam a uma elevação do
preço.

Uma situação como essa ocorre nos moldes capitalistas. A implantação


de novos loteamentos está inserida numa realidade que vai além da necessidade de
novos lotes para atender a demanda existente. A terra urbana não está ao alcance
de todos; os indivíduos de menor renda só conseguem adquirir um imóvel em locais
mais distantes do centro da cidade e, consequentemente, dos equipamentos
urbanos.

É considerável a força da propriedade da terra no processo de


urbanização. O caráter formal da propriedade, do direito de propriedade, permite ao
proprietário extrair da terra, mesmo sem explorá-la, sem tocá-la, mesmo de forma
ausente, uma renda que, dentre outros fatores, está ligada à localização e à infra-
estrutura (LEFEBVRE, 1999).

Conforme Kowarick, apud Souza (1994, p.172), ao tratar sobre o


processo especulativo na cidade de São Paulo: “um loteamento nunca é feito logo
em seguida ao último, deixando-se sempre uma área intermediária que incorpora
toda a infra-estrutura urbana que foi obrigada a passar por ela, valorizando-a”.
Fazendo uma analogia a esta análise, resguardando-se as diferenças de uma
metrópole como São Paulo e uma cidade do interior goiano, a realidade para Jataí é
muito semelhante.

A especulação imobiliária constitui-se numa forma de realização da mais-


valia. O circuito dinheiro, mercadoria, dinheiro é completado na medida em que a
terra “engordada” retorna mais dinheiro ao seu detentor. Assim, a terra torna-se um
“'bem' comercializável, dependente do valor de troca e da especulação, não do uso
e do valor de uso” (LEFEBVRE, 1999, p.161). “O valor de uso corresponde à
159

necessidade, à expectativa, à desejabilidade. O valor de troca corresponde à relação


dessa coisa com as outras coisas, com todos os objetos e com todas as coisas, no
'mundo da mercadoria'” (LEFEBVRE, 1999, p.135).

Esse contexto delineia a situação socioespacial de cada habitante da


cidade. A visão que se tem dela decorre da própria situação vivida pelo indivíduo. De
um lado a “cidade bela”, para quem pode pagar, de outro a “cidade feia”, para quem
foi deslocado pela sociedade para os lugares “feios” da cidade. A cidade possui,
então, várias faces. Tantas quanto os olhares diversos de seus moradores frente à
moradia, não apenas à casa, mas ao espaço por ele ocupado na casa, no
apartamento, no bairro, na cidade e na sociedade.

Neste aspecto,

a produção espacial expressa as contradições da sociedade atual na


justaposição de riqueza e pobreza, esplendor e fealdade; em última análise,
na segregação estampada na paisagem, e que tem sua natureza no modo
de exploração do trabalho pelo capital fundado na propriedade, em que os
homens se distinguem pelo ter, isto é, pela sua condição de proprietários de
bens (CARLOS, 1994, p.15).

A cidade torna-se boa, ou ruim, de acordo com o suprimento das


necessidades de seus habitantes. Mas, quais necessidades? Existem habitantes de
rendas diferenciadas e, por consequência, com “necessidades diferenciadas”.
Atender às de todos é tarefa difícil, numa realidade que não atende às básicas.
Assim, a boa articulação do morador com os locais de moradia, trabalho, educação,
consumo e lazer é uma importante medida para se determinar a qualidade da vida
urbana.

A dinâmica urbana de Jataí é maior nas áreas centrais, e o próprio


zoneamento urbano perpetua essa situação. Não há um direcionamento, uma
ramificação, para que as zonas de comércio e serviços (Zonas Estruturais), atendam
a cidade como um todo. Resultado: não há uma boa articulação entre as áreas. Já
que o espaço é fragmentado, torna-se primordial promover sua consolidação como
cidade viva, com dinâmica própria, dinâmica da cidade.

Se a segregação, no sentido de viver separado, coloca indivíduos mais


próximos, em locais que permitem um agrupamento com boa qualidade de vida,
160

ousa-se dizer que esta não é de toda ruim. Os espaços segregados agrupam os
iguais, sobretudo pelo nível de renda.

Seria ruim morar perto dos iguais? Uma boa qualidade de vida, com
equipamentos que permitam a articulação com a cidade, num processo que supra as
necessidades do grupo, permitiria uma proximidade já perdida em muitos grandes
centros, mas que pode ser resgatada em uma cidade como Jataí. Inclusive num
processo de participação na gestão do bairro e da comunidade, aproveitando o porte
da cidade, promovendo maior qualidade de vida, na mesma linha de reflexão
proposta pela UNESCO. Identifica-se em Jataí a potencialidade de um
assentamento humano que pode oferecer melhor qualidade de vida, à população
residente, em função de sua escala urbana, e que que pode permitir maior
participação dos cidadãos no governo e gestão da cidade (UNESCO,1999).

Santos (2000), levanta ainda a questão do direito à cidade, do direito ao


entorno, numa reflexão sobre os espaços privatizados na cidade, espaços públicos
típicos da vida urbana tradicional.

Temos que comprar o que é público. O lazer na cidade é pago, numa


inserção da população no mundo do consumo. “Quem não pode pagar pelo estádio,
pela piscina, pela montanha e o ar puro, pela água, fica excluído do gozo desses
bens, que deveriam ser públicos, porque essenciais (SANTOS, 2000, p.48). Como
morar na periferia é, na maioria das cidades brasileiras, o destino dos pobres, eles
estão condenados a não dispor de serviços sociais ou a utilizá-los precariamente,
ainda que pagando por eles preços extorsivos (SANTOS, 2000, p.47)

Numa correlação entre a localização das pessoas e o seu nível social e


de renda, o espaço urbano é diferentemente ocupado, em função das classes em
que se divide a sociedade urbana (SANTOS, 2000). Assim,

cada homem vale pelo lugar onde está: o seu valor como produtor,
consumidor, cidadão, depende de sua localização no território. Seu valor vai
mudando, incessantemente, para melhor ou para pior, em função das
diferenças de acessibilidade (tempo, frequência, preço), independentes de
sua condição. Pessoas, com as mesmas virtualidades, a mesma formação,
até mesmo o mesmo salário têm valor diferente segundo o lugar em que
vivem: as oportunidades não são as mesmas. Por isso, a possibilidade de
ser mais ou menos cidadão depende, em larga proporção, do ponto do
território onde se está. Enquanto um lugar vem a ser condição de sua
pobreza, um outro lugar poderia, no mesmo momento histórico, facilitar o
161

acesso àqueles bens e serviços que lhes são teoricamente devidos, mas
que, de fato, lhe faltam (SANTOS, 2000, p.81) (Grifos no original).

A passagem a seguir exemplifica bem a situação da periferia esquecida.


O bairro, citado na reportagem de um jornal local, situa-se em uma área periférica
com baixa dinâmica urbana.

Infelizmente em Jataí ainda é uma realidade encontrarmos bairros


abandonados pela administração pública, prova a disso é a situação
precária em que vivem os moradores do Jardim Floresta [...] Os moradores
afirmam que já estão cansados de procurar a prefeitura para resolver os
problemas do bairro [...] a prefeitura afirma que esse bairro não existe no
mapa [...] o que eles acham um absurdo, os mesmos não conseguem nem
linha telefônica pra lá porque a operadora procura pelo bairro e não
encontra, quando precisam pedir algum remédio ou até mesmo um lanche,
nada conseguem, porque quando dizem o endereço ninguém quer fazer a
entrega, nem moto-taxista leva os passageiros até o bairro. Vão até Av.
Goiás [via asfaltada mais próxima] e o resto do trajeto fazem a pé.

“Nós moradores do Jardim Floresta estamos numa situação de total


abandono pelo poder público. Foi passada uma máquina aqui, mas, não
resolveu nosso problema, a meu ver piorou porque só fez aumentar a
poeira. Antes a gente sofria com a quantidade de buracos na rua, agora é
com a poeira. A minha filha tem bronquite alérgica e não está nem ficando
aqui em casa, tive que levar ela pra casa da minha mãe porque é
impossível ficar aqui. Depois que reclamamos muito começou a passar a
coleta de lixo, mas, só isso não é suficiente porque nos pagamos nossos
impostos. Foi dito pra nós, pela prefeitura, que nosso bairro praticamente
não existe, que não consta no mapa, e isso foi dito também pela atual
administração numa emissora de rádio pra todos ouvirem, se nosso bairro
não existe, como que o IPTU chega todo ano pra ser pago por nós.”
Desabafa uma moradora. (CARLÚCIO ASSIS, 2009).

Considerando que existem espaços separados, grupos separados, e que


a produção espacial da cidade cria espaços “ricos” e “pobres”, é necessário dar a
todos as condições necessárias ao desenvolvimento pleno dos indivíduos. A
realidade descrita necessita de alterações.

Então quem pagará o preço da fragmentação? A cidade fragmentada é


mais cara, dentro de uma simples visão espacial de deslocamento das infra-
estruturas. Basta relembrarmos dos vazios urbanos, das áreas propositalmente
“esquecidas” no meio do caminho e que crescem em alta velocidade.

Discutir a segregação socioespacial em Jataí é agir para a alteração de


um quadro ainda possível de ser mudado sem grandes custos. Ignorar sua
existência é assumir um futuro com realidades não muito diferentes, e possivelmente
bem piores.
162

O incremento do preço do solo urbano e sua valorização se dão, também,


através das ações do poder público.

A localização de infra-estrutura e de equipamentos de uso coletivo sob sua


responsabilidade, as leis de zoneamento, os planos de “revitalização
urbana” de certas áreas da cidade, o fornecimento de financiamento para a
compra da moradia, e a produção da moradia pelo poder público são
alguns dos exemplos de como o Estado tem um papel ativo para a formação
da renda fundiária urbana[...] (BOTELHO, 2007, p.78)(Grifos nossos)

A renda fundiária urbana marca de forma durável o desenvolvimento


urbano, sendo que sua principal manifestação espacial reside no fenômeno da
segregação, produzido pelos mecanismos de formação dos preços do solo (Lojkine,
1997). Por vezes, percebe-se uma ação similar de esferas teoricamente diferentes:
Estado e Empresa.

O Estado e a Empresa […] se esforçam por absorver a cidade, por suprimi-


la como tal. O Estado age sobretudo por cima e a empresa por baixo [...]. O
Estado e a Empresa apesar de suas diferenças e às vezes de seus
conflitos, convergem para a segregação (LEFEBVRE, 1991, p.95).

A busca por lucro através da especulação imobiliária torna cada vez mais
inacessível o imóvel urbano para as classes de menor renda. Com áreas
praticamente “fechadas” ao público e com a necessidade de se atender a demanda
decorrente do próprio crescimento populacional local, as novas áreas implantadas
trazem consigo a valorização das áreas intermediárias. Os imóveis com localização
privilegiada, mais próximo dos equipamentos urbanos e das principais atividades
econômicas, forneceram aos seus proprietários uma renda ainda maior.

Essa renda, renda da terra ou fundiária,

tem sua origem em modos de produção anteriores ao capitalista. Porém, ela


encontra seu lugar nas articulações sociais desse modo de produção,
fazendo parte, inclusive, de seu processo de reprodução de relações de
produção. A hierarquização dos diferentes lugares em função da renda que
proporcionam (ou do preço cobrado pelo solo) e a exclusão da grande
massa da população do acesso à terra, ou seja, a reprodução dos não-
proprietários, são condições e resultados do processo de reprodução
especificamente capitalista. Além disso, a propriedade fundiária e a renda (o
pagamento de seu uso por parte de um terceiro) são um fundamento
jurídico e ideológico da formação econômico-social capitalista (BOTELHO,
2007, p.67).

A renda fundiária “[…] é um elemento fundamental para a compreensão


da hierarquização dos usos do solo urbano, para a acumulação do capital e para a
163

reprodução das relações de produção capitalistas, além de ser um importante


instrumento de segregação socioespacial” (BOTELHO, 2007, p.69)

Através das análises anteriores, sobretudo as de níveis de renda, é


possível fazer uma correlação entre a distribuição dos indivíduos, segundo a renda,
e o preço do solo urbano em Jataí. Segundo Ribeiro (2005, p.89) “[…] os preços
imobiliários tornaram-se o mecanismo central de distribuição da população no
território da cidade”. Isso significa a tradução mais direta na organização do espaço
urbano das desigualdades de renda existentes na sociedade.

O preço do “morar na cidade” coopera, assim, para a consolidação da


segregação. Seja ela opcional, no caso da auto-segregação, ou forçada, a realidade
aponta para as observações de Lefebvre:

Apesar das boas intenções humanistas e das boas vontades filosóficas, a


prática caminha na direção da segregação. Por quê? Por razões teóricas e
em virtude de causas sociais e políticas. No plano teórico, o pensamento
analítico separa, decupa. Fracassa quando pretende atingir uma síntese.
Social e politicamente, as estratégias de classes (inconscientes ou
conscientes) visam a segregação (LEFEBVRE, 1991, p.94).

O preço do solo urbano, e a renda adquirida através dele, também são


obstáculos à propriedade social de um dos mais importantes meios de produção: a
terra (BOTELHO, 2007); contribuindo, assim, para a contínua reprodução da
condição social atual.

Lojkine (1997, p.189), ao tratar sobre a questão da renda fundiária


distingue três tipos principais de segregação urbana:

1) Uma oposição entre o centro, onde o preço do solo é o mais alto, e a


periferia […];

2) Uma separação crescente entre as zonas e moradias reservadas às


camadas sociais mais privilegiadas e as zonas de moradia popular;

3) Um esfacelamento generalizado das “funções urbanas”, disseminadas


em zonas geograficamente distintas e cada vez mais especializadas: zonas
de escritórios, zona industrial, zona de moradia, etc. É o que a política
urbana sistematizou e racionalizou sob o nome de zoneamento.

O terceiro fenômeno liga-se diretamente com a renda fundiária no


momento em que o mecanismo de seleção social, constituído pela diferença
crescente entre os preços do solo na periferia e os existentes no centro, coloca as
164

áreas mais “nobres” nas mãos dos indivíduos com maior renda. O zoneamento
oficializa o jogo de mercado. O jogo da renda fundiária exclui quem não paga o seu
preço. Os excluídos são identificados em suas zonas próprias.

Buscando se aproximar ao máximo da realidade da cidade trabalhou-se


com os valores venais médios, de lotes e edificações, calculados com base nas
informações da prefeitura local para o ano de 2004, para a determinação do preço
do solo urbano. Como não foram disponibilizados dados para um período mais
recente optou-se em fazer uma projeção dos valores de 2004 com base no ÍNDICE
NACIONAL DE PREÇOS AO CONSUMIDOR – INPC16, acumulado no período.
Assim, os valores apresentados para o ano de 2009 compõe-se dos valores originais
corrigidos em 25,98% (IBGE, 2009).

É possível, com base nesses dados, visualizar a realidade pretérita, e


associa-la à distribuição da população na cidade, bem como, projetar um cenário
próximo da realidade atual, com preços mais atualizados.

De forma geral, temos um desenho urbano que se encaixa naquele


delineado pela distribuição da população segundo a renda, com o preço do solo
aumentando nas áreas mais centrais. Esse comportamento pode ser observado, de
forma didática, nas cinco áreas utilizadas para a espacialização do nível de renda
na cidade.

Para evitar distorções nas análises foi excluído o setor industrial (Figura
37 – Bairro número 26) que apresenta características bem diferenciadas das outras
áreas da cidade, sobretudo no valor das edificações, uma vez que engloba grandes
áreas e construções industriais de alto valor, se comparadas com o padrão
residencial.

As Figuras 56 a 59 apresentam os valores venais médios de lotes e


edificações. Essa espacialização permite as as análises seguintes.

16
A opção pelo INPC se deu em função de este ser o índice mais utilizado no mercado para reajuste
de imóveis concluídos ou aluguéis.
165

Figura 56: Jataí: valor venal médio dos lotes - 2004


166

Figura 57: Jataí: valor venal médio dos lotes - 2009


167

Figura 58: Jataí: valor venal médio das edificações - 2004


168

Figura 59: Jataí: valor venal médio das edificações - 2009


169

■ Área 1: Núcleo original da cidade

Na área central, que contem a população com maior renda, encontram-se


os maiores valores das edificações.

Para os valores dos lotes, situados em classes mais baixas, a leitura deve
ser diferenciada, já que são poucos os lotes vagos nesta área. Os valores
mais baixos, provavelmente, referem-se a lotes com áreas menores e
com localização ruim para a característica comercial predominante neste
núcleo.

Em síntese, essa é uma área cara. Predominam os altos valores nos


imóveis padrões, imóveis edificados.

■ Área 2: porção centro-oeste da cidade - bairros nobres

Nos quatro mapas percebe-se um mesmo padrão: os altos valores do


solo urbano. Onde situam-se as rendas mais altas prevalece o padrão,
tanto para lotes como para edificações.

■ Área 3: Conjunto habitacional – renda média

A análise dessa área leva em consideração basicamente o valor das


edificações. Tratando-se de um conjunto habitacional, os lotes vagos
constituem-se de áreas públicas.

Os valores das edificações estão numa faixa média, tanto para os valores
de 2004 quanto para a projeção em 2009, no mesmo nível da renda
encontrada nesta área.

■ Área 4: Conjuntos habitacionais de baixa renda

Nos setores destacados, que correspondem a conjuntos habitacionais de


baixa renda, corrobora-se a correlação preço do solo e nível de renda:
170

rendas menores adquirindo imóveis compatíveis. Edificações e lotes


nestas áreas encontram-se nas faixas de preço mais baixas.

■ Área 5: Área que apresenta grandes vazios urbanos – acima de 50%

Os lotes dessa área estão nas menores faixas de preço, o que levaria a
um adensamento maior, considerando apenas o preço do solo. Porém, há
de se considerar que o adensamento das áreas mais periféricas foi
direcionado com a doação de casas/lotes, o que influenciou diretamente
no vazio urbano da área 5 e na “engorda” dessa terra.

Com um alto índice de vazios urbanos a falta de infra-instrutura dessas


áreas não atrai habitantes. O preço das edificações que estão numa faixa
mais alta é distorcido pela média, uma vez que existem construções de
alto padrão concentradas numa pequena parcela dessa área.

Esta correlação entre preço do solo e nível de renda, nas áreas


selecionadas, direciona uma leitura que segue no mesmo sentido para as outras
áreas da cidade.

A análise do preço do solo completa o quadro necessário às


considerações finais deste trabalho. O padrão é sempre o mesmo, girando em torno
da renda dos habitantes da cidade. Através deste padrão fica clara a segregação
socioespacial em Jataí.

Os habitantes da cidade, vítimas da segregação, moradores das “áreas


pobres”, inserem-se na ação política da segregação, que oculta desses indivíduos a
problemática da cidade e do urbano (LEFEBVRE, 1991). Sem consciência do
urbano vivem na cidade, mas não vivem a cidade. Estão nela, mas dela não fazem
parte. Mais que habitá-la é preciso vivê-la.

O direito à cidade se manifesta como forma superior dos direitos: direito à


liberdade, à individualização na socialização, ao habitat e ao habitar. O
direito à obra (à atividade participante) e o direito à apropriação (bem
distinto do direito à propriedade) estão implicados no direito à cidade
(LEFEBVRE, 1991, p.135) (Grifos no original).
171

As ações, tanto teóricas quanto práticas, devem convergir para que todos
tenham direito à cidade. Direito não apenas à cidade técnica, concreta e fria, mas à
cidade humana, com calor, cheiros e sabores. Para tanto,

as políticas de desenvolvimento urbano deveriam buscar as condições da


urbanidade, visando remir os espaços coletivos como signo da nova cidade.
Resgatar a rua não só como funcionalidade da circulação, mas também
como lugar das pessoas, do cotidiano e da troca não apenas de
mercadorias... e também, por que não, de amores? Além disso, deveriam
perseguir a busca de um tempo para os encontros que ultrapassasse o
encontro para a troca das coisas. É preciso criar tempos e espaços para a
vida em toda a sua dimensão. Isto passa pelo resgate da cidadania que na
cidade exige a concretude de uma vida decente, que pressupõe o acesso a
condições dignas de sobrevivência. Ainda que a ausência de bens e
serviços seja abominável, são igualmente abominosos a falta de tempo, de
lazer, de informação, como também de bens da natureza, ar puro, água, luz
e árvores. Assim, o resgate da cidadania contém a dimensão das condições
necessárias à reprodução da vida no seu sentido mais amplo (OLIVEIRA,
1997, p.270).

4.1 – DOS PROBLEMAS URBANOS À IMPLEMENTAÇÃO DAS SOLUÇÕES

Identificar os problemas urbanos não nos leva à uma solução para os


problemas das cidades. Na verdade é o ponto da partida para que, com base no
diagnóstico, sejam traçados novos caminhos no sentido da solução.

Agora que a cidade de Jataí é entendida, ou, no mínimo, conhecida de


forma mais íntima, através de “olhar e conversar com ela”, não há espaço para a
negligencia de não implementar as soluções. E qual é o papel do pesquisador nesse
movimento? Entendes-se que é o de promover o debate e suscitar questões que
levem à melhoria da cidade. Nesse sentindo,

[…] é mister responder a uma série de questões que atingem o dia-a-dia


das pessoas nas grandes, médias e pequenas cidades. As “respostas”
devem atender às especificidades, dimensão nas quais talvez nem sejam
tão importantes, mas sobretudo devem refletir a compreensão do processo
social urbano, o que inclui necessariamente o entendimento da totalidade
(OLIVEIRA, 1997, p.270).
172

Caminhando nesta linha, a ação que ora se propõe, é mais de debater as


questões do que de “descobrir os problemas”. Eles já não eram conhecidos? Pensa-
se que o são há muito. No mínimo a década de 2000 aponta, desde seu início, para
o conhecimento da cidade e para propostas de gestão traduzidas no plano diretor
urbano.

Entende-se que as soluções existem, mas em muitos casos não são


implementadas. “Os diagnósticos reais ou imaginários, quase sempre estão
corretos. Entretanto, a concreticidade das ações propostas está aquém das soluções
preconizadas” (OLIVEIRA, 1997, p.268). Não cabe, portanto, propor novos
caminhos. Os caminhos existentes serão suficientes à medida que forem colocados
em prática. Deixam-se novas propostas para um contexto pós-concretização do que
já foi pensado.

Que não se faça injustiça. É certo que existem ações que foram
implementadas e redundaram em melhoria para a cidade. Rapidamente pode-se
recordar: das áreas urbanizadas que trouxeram vida para regiões que antes
afastavam os citadinos; dos conjuntos habitacionais (aqueles construídos de acordo
com a legislação) que ofereceram moradia digna à população; dos museus,
blibliotecas e centros culturais, tão raros em cidades interioranas.

Destarte percebe-se que é possível a construção de um conjunto urbano


mais harmônico. Daí, ousa-se afirmar que a solução para os problemas encontrados
passa diretamente por uma questão de escala e de continuidade.

A escala deve ser ampliada. As intervenções existentes são pontuais,


atendendo apenas ao entorno mais próximo. Preocupar-se com a expansão dos
serviços públicos, com a urbanização e com todas as diretrizes legais já traçadas,
numa escala que envolva toda a cidade é fundamental para que o crescimento que
não para redunde em desenvolvimento.

Isso passa diretamente pela continuidade das ações públicas. O que se


percebe é que a mudança na administração municipal reflete diretamente nas ações
urbanas, que não deveriam ser “políticas”. A cada quatro anos a cidade fica na
incerteza, e não é raro obras públicas serem deixadas de lado por divergências de
interesses deste ou daquele grupo. Geralmente, a cada novo governo o primeiro ano
173

é para se “refazer” o que já está pronto, dando à cidade a “cara da administração


atual”. O segundo ano é de planejamento. O terceiro é de implementação das ações
planejadas, que param ao final do quarto ano quando a “política” se prepara para
mais um ciclo.

A questão central é então colocar em prática o que é notório. Como


afirma Souza (2003), o foco não deve ser encontrar um bode-expiatório, e sim
discernir e enfrentar as causas dos problemas urbanos.

O que deve ser tratado? As estruturas de poder, os canais de distribuição


de riqueza e tudo o que se mostrar viciado e gera injustiça social (SOUZA, 2003).
Vimos claramente que a distribuição de renda liga-se diretamente com o acesso ao
solo urbano, limitando o direito à cidade. Então, isso deve ser tratado.

E quanto aos “grupos de interesses”. O único grupo que interessa é o que


envolve todos os cidadãos. Não deveria haver espaço para os grupos que detém o
solo urbano e regulam seu acesso. Para os que se auto-segregam, por opção, e
geram a segregação dos outros, por imposição.

Essas situações, que agravam os problemas da cidade (SOUZA, 2003),


não são os problemas fundamentais. Fundamentalmente é necessário implementar
o que já existe. Há limitações, isso é claro. Restrições orçamentárias, institucionais e
outras. Mas, entendemos que, dentro das limitações é possível melhorar a cidade.
174

CONSIDERAÇÕES FINAIS:
ANALISANDO O PERCURSO DA PESQUISA

Os sábios entesouram o conhecimento; porém


a boca do insensato é uma destruição
iminente.
Provérbios 10:14

Ao final de mais uma etapa, sobre o Estudo do Espaço Urbano de Jataí-


Go, sacia-se uma parte da “curiosidade científica” motivadora da pesquisa. Sim,
trata-se da conclusão apenas de mais uma etapa, uma vez que não se considera
que o objeto de estudo tenha se esgotado para o olhar do Geógrafo. Pelo contrário,
à medida que respostas emergem novas indagações as acompanham, num
movimento que lembra uma progressão geométrica e ao mesmo tempo dela se
afasta por não ser tão exato.

É nesta relação dialética que são colhidos alguns frutos. Frutos que
direcionam uma resposta para a indagação inicial: existe segregação socioespacial
em Jataí?

Através da análise de sua estruturação interna, no que tange à


distribuição socioespacial no arranjo urbano, pretendeu-se contribuir no
processo de “desvelar a cidade”.

O espaço urbano de Jataí não se configura isoladamente, está inserido no


contexto de sua microrregião, do estado, país e até mesmo do mundo, conforme
debates anteriores. Neste âmbito, a resposta para a questão levantada passa pelos
pontos que se seguem.

Para conhecer o espaço urbano jataiense não basta apenas observá-lo


em sua forma bruta, como é visivelmente apresentado. Entender a formação dessa
paisagem, que traz em si encontros e desencontros, é tarefa que passa pela
atividade de interpretação daquilo se mostra em primeiro plano. Dessa forma, foi
necessário desvelar este espaço. É nesta atividade que o olhar de investigador, de
cientista, deve estar atento para o fato de que o visível nem sempre é o real. A
175

presente análise revela uma cidade repleta de contrastes, determinados em sua


maioria por uma realidade social inserida no injusto contexto capitalista atual.
Diferenças sociais que ao se agruparem formam um espaço urbano desigual.

Esta desigualdade não se forma num período curto, parte dos primórdios
da história do município, parte da gestação das grandes fazendas formadas na
região para desenvolvimento da agropecuária e liga-se diretamente ao contexto
econômico atual e à moderna agropecuária. Essa última imprime de forma mais
marcante as características urbanas atuais. O aglomerado urbano apresenta uma
relação íntima com a implementação da moderna agropecuária do município e seu
entorno, o que traz desenvolvimento à região, mas, por outro lado, deixa efeitos
colaterais como o inchaço dos centros urbanos e a desigualdade na distribuição de
renda.

Nas origens do município, o que remete ao ano de 1836, quando chegam


os primeiros ocupantes da região, a realidade atual não poderia ser imaginada. A
atividade agropecuária tradicional não seria combustível suficiente para dar forças
ao motor dinâmico que atualmente move a região. Necessitava-se de uma
transformação, o que ocorre num período mais contemporâneo. É, sobretudo, a
partir da década de 1970 que se percebe mudanças significativas no uso da terra da
região.

Nessas mudanças o município experimentará crescimentos significativos,


destacando-se a produção de grãos para exportação, numa dependência do global
refletido localmente. Também, como fruto das mudanças ocorridas, emerge a
necessidade de controle da ocupação do solo urbano, para que os mais de 90% da
população do município, residente na área urbana, não se constitua em um
problema a mais para a administração pública.

É nessa dinâmica que Jataí percebe um grande crescimento de sua área


urbana com a implantação de vários loteamentos, sendo que sua maioria parte do
princípio capitalista de lucro. A ação do capital incrementa-se e faz-se presente, de
forma opressora, na vida do indivíduo de menor renda que não consegue adquirir
uma parcela do solo na cidade.
176

Tais ações trazem consequências para a cidade formando um espaço


fragmentado e caro para os contribuintes. Os vazios urbanos, na espera de uma
valorização perceptível a cada dia que passa, sobretudo pelo observado processo
de “expansão do centro da cidade”, desloca um grande contingente populacional
para a periferia pobre. Neste processo são levados equipamentos públicos que,
mesmo sendo, em muitos casos, em número e qualidade inferior às necessidades
locais, dão subsídios à valorização das áreas intermediárias (salienta-se que tais
equipamentos já deveriam estar presentes antes da chegada dos habitantes dessas
áreas).

O arranjo urbano em questão é, assim, contraditório. Espaço


contraditório, sociedade contraditória. Alguns vão para a periferia por imposição,
outros por opção. A sociedade se diferencia até mesmo pela composição das áreas
periféricas, uma vez que parte da elite optou por se cercar de altos muros em seu
condomínio fechado, “longe” dos problemas da sociedade construída pelo sistema
que lhes dá condições privilegiadas na sociedade.

São estes alguns desencontros percebidos na análise da ocupação dessa


parcela do Cerrado goiano. Com certeza a vegetação original, com seus galhos
retorcidos, encontrada em tempos remotos, era mais harmônica do que a cidade
construída após sua derrubada. As árvores do Cerrado formavam um espaço coeso
expressando uma união natural. A cidade forma um espaço fragmentado, espaço
construído sem a harmonia necessária à fluidez esperada em uma moderna
sociedade.

Se o espaço não é harmônico, é dinâmico. Isso é verificado pelo


movimento promovido com implantação das atividades econômicas principalmente a
partir da década de 1970. Numa cidade de características basicamente
agropecuárias o setor de serviços aparece em primeiro lugar, em número de
estabelecimentos implantados, num desenvolvimento que revela o movimento
promovido pelas riquezas locais e que indica novos rumos para a economia da
cidade. Este dinamismo dá-se também pela consolidação do espaço urbano que,
partindo do núcleo urbano original, expande-se na busca de mais e melhores
espaços, o que consolida a expansão do centro da cidade dando, provavelmente,
177

sustentação para o posterior surgimento de um novo centro, ou mesmo de setores


especializados em serviços específicos.

Da chegada da fronteira agrícola aos dias atuais houve grande


transformação. Hoje a ocupação é organizada e direcionada pelo capital, ou melhor
pelos agentes do capital, por indivíduos a serviço do capital. A cidade dependente
do pequeno centro original, ao redor da praça da igreja e dos casarões, não mais
existe. Não que esta cristalização tenha se dissolvido no espaço-tempo, embora
parte da memória arquitetônica tenha sido destruída. O que ocorre atualmente é
uma remodelação do “antigo” em função do “novo”. Dá-se nova função às velhas
formas: o antigo casarão hoje é museu e serve ao turista; na praça é raro encontrar
vizinhos conversando, periodicamente há uma feira que reúne principalmente a
juventude movida por uma música nada tradicional.

As mudanças não se restringem ao centro, se espalham em todo tecido


urbano principalmente pela agregação de novos espaços a este conjunto. A mata,
antes distante das habitações, hoje se encontra “ilhada” por estas, testemunhando a
transformação não apenas da cidade, mas sobretudo da sociedade que a compõem.

É este o arranjo socioespacial existente. A sociedade se espacializou. Se


espacializa a cada dia. Impõem suas marcas. Hoje este processo já tem certo
direcionamento. São as determinações do Plano Diretor Urbano que, de certa forma,
moldam as novas áreas, à medida que suas exigências são cumpridas; se não são,
o arranjo urbano é mais espontâneo, favorecendo a individualidade e prejudicando a
cidade.

Os erros pretéritos ficam consolidados como um aviso para que o


caminho a seguir seja diferente, e isso depende do aproveitamento das
potencialidades ofertadas pela sociedade, fundamentalmente a do saber científico.
Cabe aos dirigentes públicos saber fazer uso dessas potencialidades de forma a
promover o real desenvolvimento anteriormente comentado.

Com tantas alterações, movimentos e dinâmicas próprias ao crescimento


da cidade, o espaço urbano responde às ações sofridas. A elevada taxa de
urbanização não se restringe a números. São indivíduos que necessitam de um
espaço no arranjo urbano. Os migrantes chegam para dar mais pressão na
178

demanda por habitações, por espaço, por serviços públicos. A população rural não é
mais rural, aglomera-se na cidade e não se torna urbana, pois guarda consigo
características, traços, costumes próprios do campo e, talvez, o desejo de para ele
retornar. Todos estes atores fazem parte de um teatro dirigido pelo capital. Quanto
aos papéis por eles exercidos, não se sabe ao certo, dependerá da conjuntura do
momento, local e global.

A cidade responde a todos com respostas que nem sempre agradam. Ou


ainda, agradam alguns, desagradam outros tantos. A cidade responde com a
expansão urbana, com os parques ecológicos, com os serviços que crescem a cada
dia, com habitações populares gratuitas, com o assistencialismo estatal às famílias
desempregadas - um prêmio àqueles que não conseguiram, por méritos próprios,
sobreviver dignamente.

São várias respostas. Todas, porém, condicionadas a vontades


superiores e que geralmente visam atender interesses individuais num processo de
socialização dos prejuízos e privatização dos lucros. Mas, prejuízo ou lucro de quê?
Do conjunto urbano que se transformou numa empresa lucrativa.

Hoje se fabrica uma imagem da cidade para ser vendida externamente


(Anexo A). No entanto, não se divulga a desigualdade social; não se divulga a
situação dos mais de 20% da população encontrados na faixa da pobreza. Não se
divulga que os 20% mais ricos detêm cerca de 64% da renda local. A segregação é
tida como algo natural. A colcha de retalhos urbana é decorada por pedaços que se
destacam pelas cores fortes, por espaços separados da vida da cidade. Espaços
com indivíduos que, também, têm direito à cidade.

Não há espaço na guerra dos lugares para um marketing mal feito. Torna-
se claro que o município oferece grandes potencialidades. Há, todavia, de se
promover uma equalização social para que não seja necessário “maquiar” a cidade
para promover seu desenvolvimento. Com mais justiça social, e condições iguais a
todos, ocorrerá no espaço urbano a cristalização dessa aspirada sociedade. A
“cidade ideal” será, dessa forma, resultado de ações fundamentalmente sociais.
Será o reflexo da valorização da maior parte da sociedade que atualmente está tão
esquecida.
179

As melhorias nas condições urbanas locais passam pelo desenvolvimento


econômico da cidade, uma vez que ambos estão intimamente ligados. As décadas
de 1970 a 1990 apresentam significativo crescimento econômico e, por
consequência, um maior dinamismo ao conjunto urbano. Neste período,
fundamentalmente nas décadas de 1980 e 1990, o espaço urbano passa a se
estruturar de forma mais consistente, seja pela consolidação de um centro
econômico com destaque para o setor de serviços, seja pela ocupação de áreas
intermediárias entre o centro e a periferia. Fomentar a economia local, mas com
olhos bem abertos para que os efeitos retidos sejam somente os positivos, torna-se
crucial para a consolidação de Jataí nos âmbitos locais e regionais.

A cidade, concentrando serviços, atrai para si todo um conjunto de fatores


positivos ao desenvolvimento local. Através da estruturação das infra-estruturas
fundamentais ao bom andamento das atividades urbanas, Jataí poderá fortalecer
seu papel de influência na região Sudoeste de Goiás. Oferecer serviços de
qualidade no que tange à formação – com um sistema de ensino que atenda a
demanda, especialmente em nível superior; à cultura e lazer – investindo no turismo
local e nas suas potencialidades; ao transporte urbano – atendendo toda a malha
urbana; à saúde, segurança e outros é fundamental numa cidade que se mostra
interessada em “competir” na guerra dos lugares. Que a competição ocorra, se
necessário, mas que seja com uma cidade apresentada de forma real, cidade
equalizada e não segregada.

A cidade apresenta uma distribuição espacial contraditória. O tecido


urbano tem em suas tramas componentes que ao se unirem dão à cidade uma
configuração socioespacial que revela a sociedade por trás do visível. Encontra-se
desde edifícios imponentes em bairros nobres, com toda infra-estrutura necessária a
uma boa qualidade de vida, até moradias inadequadas situadas em bairros
destinados a uma parcela da população que foi excluída dos benefícios oferecidos
pelo capital.

A segregação está presente. Um olhar mais abrangente, envolvendo todo


espaço urbano, revela contrastes percebidos inicialmente pela tonalidade das ruas
que perdem seu “brilho” à medida que se afasta das áreas nobres da cidade. Quem
180

não pode pagar o preço alto do solo urbano não se afasta apenas do centro da
cidade, se distancia, cada vez mais, do acesso à cultura, lazer, educação e saúde,
entre outros benefícios, que deveriam estar ao alcance de todo indivíduo.

Quando se fala de segregação há uma tendência de se imaginar que a


população segregada situa-se somente na periferia da cidade. Todavia, o termo
periferia perdeu muito de sua característica nos últimos tempos, característica esta
muito pejorativa. Hoje a periferia não se define por si só. Infelizmente não houve
mudanças para os habitantes clássicos das “periferias”, o que ocorre é o
deslocamento na elite para tais áreas, construindo com seus condomínios
particulares uma “periferia nobre”. E isto não é percebido apenas em grandes
centros, também pôde ser observado nesse objeto de estudo. Assim como ocorreu a
eleição de novas áreas, ditas nobres, em locais distantes do centro da cidade
ocorreu a ocupação inadequada de áreas mais centrais.

Outro aspecto interessante na presente análise se refere a reurbanização


promovida em alguns pontos da cidade. Os chamados parques ecológicos vieram
dar nova vida a regiões antes esquecidas no cenário urbano. Decorrente da criação
destes parques, houve, porém, alguns efeitos colaterais como a valorização das
áreas situadas nas proximidades destes, o que deu sustentação à especulação
imobiliária e, por consequência, à manutenção de vários vazios urbanos. Sendo
parte da “maquiagem” da cidade, esses locais passaram a ser referência para a
população, principalmente em termos de lazer. Infelizmente são intervenções
pontuais, necessárias a tantos outros locais negligenciados neste processo.

Torna-se evidente que ações de reurbanização são fundamentais no


processo de estruturação, e reestruturação, do espaço urbano. Porém, fica o alerta
para que ações como estas não se constituam em “lindos problemas”. Os
instrumentos de controle do uso do solo urbano, como o Estatuto da Cidade, devem
ser colocados em prática, conduzindo, assim, um processo mais justo que
contemple todas as esferas sociais e contribua para a harmonia do conjunto urbano.

As transformações ocorridas em Jataí nos últimos anos revelam que


ações públicas bem direcionadas podem alterar positivamente a realidade urbana.
No entanto, deixam o alerta para que estas ações sejam tomadas de forma
181

consciente e com embasamento técnico-científico adequado de forma a atender a


sociedade, e não apenas uma parcela dessa, promovendo o tão sonhado
“desenvolvimento real” e uma melhoria na qualidade de vida dos jataienses.

Embora os problemas ainda sejam muitos, necessitando de atenção


constante, considera-se que houve uma evolução do tecido urbano. Fato este que
aumenta a responsabilidade dos governantes frente a realidade que em muito se
diferencia dos tempos remotos. Jataí tem hoje um espaço urbano consolidado. A
capacidade de transformação da sociedade contemporânea é alta e veloz. A gestão
urbana não pode ficar atrás.

É possível, neste momento, apresentar uma resposta à questão inicial:


sim, existe segregação socioespacial em Jataí.

As questões foram postas. Os espaços foram identificados e mapeados.


O presente trabalho chega ao fim almejando contribuir para que os problemas
levantados sejam solucionados, para que os erros identificados não sejam repetidos
e para que os acertos tornem-se regra para a cidade.

* * *

Não se pretende, com estas breves e preliminares observações, chegar a


conclusões imediatas de um tema que envolve tantas outras variáveis. O objetivo é
demonstrar alguns pontos relevantes ao estudo do espaço urbano de Jataí e de sua
dinâmica. Fornecer subsídios, promover debates e discussões por uma ocupação
mais racional e pautada em princípios que levem a uma melhor qualidade de vida da
população local constituem também o alvo do presente trabalho.

Os estudos continuam na expectativa de contribuir com análises e dados


científicos trabalhados dentro da Ciência Geográfica. Afinal, concordando com
Monteiro (1995, p. 27), “o encanto maior da ‘Geografia’ reside na complicada trama
das interações Homem com a Terra”. Portanto, cabe aos Geógrafos, investigar como
esta trama foi tecida.
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191

ANEXOS
192

ANEXO – A

MAPA TURÍSTICO DE JATAÍ


193
194

ANEXO – B

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO DO LOTEAMENTO PORTAL DO SOL


195
196
197
198
199

ANEXO – C

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO DO LOTEAMENTO RESIDENCIAL DAS BRISAS


200
201
202
203

ANEXO – D

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO DO LOTEAMENTO MORADA DO SOL


204
205

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