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DESVELANDO A CIDADE:
SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM JATAÍ-GO
Goiânia-GO
2009
2
DESVELANDO A CIDADE:
SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM JATAÍ-GO
Goiânia-GO
2009
3
CDU: 911.375.5(817.3)
4
DESVELANDO A CIDADE:
SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM JATAÍ-GO
_________________________________________________
_________________________________________________
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GOIÂNIA – GO ____/____/__________
Resultado________________________
5
AGRADECIMENTOS
A Deus.
Aos meus pais e minhas irmãs, pela sólida base familiar. Exemplos de
amor, luta e perseverança.
Ao Prof. Dr. João Batista de Deus, por acreditar em meu trabalho e pela
seriedade na orientação.
7
Sola Gratia
Sola Fide
Sola Scriptura
Solus Christus
RESUMO
Uma vez que a análise dos problemas urbanos, com o objetivo de traçar
novos rumos para o desenvolvimento local, é fundamental para melhoria da
qualidade de vida da população propõe-se, como foco desta pesquisa, o estudo da
estrutura urbana de Jataí-GO. Para tanto, é analisada sua estruturação interna, no
que tange à distribuição socioespacial no arranjo urbano, buscando respostas à
indagação: existe segregação socioespacial em Jataí? Pretende-se, desvelar a
cidade e propor novos parâmetros que colaborem com o desenvolvimento local, bem
como, produzir material científico consistente sobre esta temática analisada segundo
a Ciência Geográfica. Jataí localiza-se no Sudoeste Goiano, a aproximadamente
320km da capital, Goiânia. Com área urbana aproximada de 26km², dentro de um
município com superfície de 7.174,10km², a cidade se expandiu marcada por
contrastes que revelam a lógica da sociedade capitalista. Posições como as de
Santos (1993), Castells (1983), Lojkine (1997) e Villaça (2001), levantando a lógica
da formação e a estruturação do espaço urbano, suscitam questionamentos sobre
objeto de estudo em questão. O caminho seguido neste trabalho não é rígido, pronto
e acabado, trata-se de uma análise que parte da paisagem urbana, uma vez que
esta apresenta um vasto horizonte a ser explorado, chegando ao lugar e analisando
como este foi produzido. A pesquisa transita por análises políticas e sociais,
contextualizadas numa sociedade dita “pós-moderna”, indagando e refletindo sobre
o real apresentado diante de nossos olhares, considerando a ação do capital e de
suas relações na construção dos lugares. Dessa forma, a perspectiva dialética se
apresenta como um caminho direcionador dos trabalhos. Ao final, define-se,
classifica-se, espacializa-se e cruza-se planos de informações referentes aos níveis
de renda em Jataí, e suas implicações, na malha urbana, o que demonstra a
segregação urbana identificada. Os resultados são apresentados sob a forma de
texto e mapas que desvelam a real situação da distribuição socioespacial em
questão. Como resultado, identifica-se que as classes de menor renda estão
concentradas, predominantemente, nas bordas da área urbana. Tal análise vai ao
encontro da tese de que trata-se de um espaço segregado.
ABSTRACT
Considering that, with the purpose of suggesting new paths for local
development, the analysis of urban problems is essential to improve the quality of life
of the population, the aim of this research is to study the urban structure of Jataí city.
In order to do so, its urban internal structure is analyzed, regarding the sociospatial
distribution in the urban arrangement, searching answers to the question: is there
any sociospatial segregation in Jataí? We intend to remove the veil that covers the
city and suggest new parameters that collaborate with the local development, as well
as to produce consistent scientific material about this theme, analyzed according to
the Geographic Science. Jataí city is located in the Southwest of Goiás State, in
Brazil, approximately 320 km of Goiânia city, the capital of the State. With an urban
area of about 24 km², inside a county area of 7.174, 1 km², the city grew marked by
contrasts which reveal the logics of the capitalist society. Positions like the ones held
by Santos (1993), Castells (1983), Lojkine (1997) and Villaça (2001), surveying the
logic of the formation and composition of the urban space, raise questions about the
object of this research. The course followed in this work is neither rigid, nor ready or
final. It is an analysis that begins with urban landscape, as it presents a vast horizon
to be explored, arriving at the place and analyzing the way it was produced. This
research transits between social and political analyses, in the context of a so-called
post-modern society, inquiring and reflecting about the reality displayed in front of our
eyes, considering the action of the capital and its relations in the construction of
places. Therefore, the dialectic perspective is a guideline that orients our works.
Finally, we define, classify, map and cross information plans concerning the levels of
income in Jataí and their implications in the urban mesh network, which
demonstrates the urban segregation identified. The results are presented in the form
of text and maps which disclose the real situation of the sociospatial distribution at
stake. As a result, it is identified that the social classes of less income are
concentrated, predominantly, in the edges of the urban area. Such analysis supports
the thesis that this city is a segregated space.
LISTA DE FIGURAS
SÉCULO XX................................................................................................................45
BONSUCESSO...........................................................................................................53
TABELAS.....................................................................................................................70
LOTEAMENTOS.........................................................................................................72
- 1995...........................................................................................................................74
– 2004..........................................................................................................................75
DÉCADA DE 1959.......................................................................................................78
DE 1960.......................................................................................................................79
DE 1970.......................................................................................................................80
DE 1980.......................................................................................................................81
DE 1990.......................................................................................................................82
DE 2000.......................................................................................................................83
ATIVIDADES ECONÔMICAS.....................................................................................85
ÁREA OCUPADA........................................................................................................87
PARK.........................................................................................................................102
xii
12
PLANALTO. ..............................................................................................................103
JACUTINGA. ............................................................................................................104
NORTE......................................................................................................................106
ECOLÓGICO DIACUY..............................................................................................106
SUDOESTE...............................................................................................................107
DA CIDADE...............................................................................................................110
ENSINO.....................................................................................................................119
PÚBLICA...................................................................................................................121
DESTACADAS..........................................................................................................137
CENTRO....................................................................................................................149
CENTRO....................................................................................................................151
CENTRO....................................................................................................................153
CENTRO....................................................................................................................154
CENTRO....................................................................................................................155
xiv
14
LISTA DE TABELAS
URBANAS - 2000........................................................................................................50
2001.............................................................................................................................54
2000.............................................................................................................................60
LISTA DE GRÁFICOS
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.....................................................................................21
ESTUDOS URBANOS............................................................................................26
CONSTRUÇÃO DE JATAÍ......................................................................................35
URBANO ............................................................................................................52
URBANO JATAIENSE................................................................................................58
ESPAÇO URBANO.................................................................................................95
SEGREGADAS.........................................................................................................157
REFERÊNCIAS.........................................................................................................182
ANEXOS....................................................................................................................191
DO SOL.................................................................................................................194
DAS BRISAS.........................................................................................................199
DO SOL.................................................................................................................203
21
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
dos dados. Ao final, são feitas reflexões sobre a caracterização do tecido urbano
apresentado.
1
Para uma visão mais ampla dessa análise, em Jataí, ver SILVA (2005)
2
Aqui compreendemos paisagem urbana de acordo com Cavalcanti (2001, p. 14): “Paisagem urbana
é o aspecto visível do espaço, é sua expressão formal, aparente. Enquanto dimensão formal,
expressa o conteúdo, as relações sociais que a forma. Assim, ela é histórica, social e concreta [...]”
3
Lugar aqui é compreendido “como expressão, materialmente espacial [...] como elemento de uma
totalidade concreta, no nível da formação econômica e social capitalista. [...] como produto de
determinações gerais [se reproduzindo] a partir de determinações históricas específicas, que
diferenciam os lugares” (CARLOS, 1994, p. 39-40).
29
a) o primeiro
b) o segundo
4
A formação do espaço urbano é entendida como formação do aspecto visível, o tecido urbano em si,
e dos aspectos que nem sempre são percebidos num primeiro olhar, quais sejam, as relações sociais
dos moradores da cidade, relações oficiais e não-oficiais.
37
O período aurífero goiano foi breve e por volta de 1822 a produção já era
quase inexistente (PALACÍN et al., 1995). A decadência do ouro dificultou muito a
vida econômica da população mineradora. Os mineiros, que permaneceram em
Goiás, passaram a dedicar-se à pecuária extensiva e à agricultura de subsistência.
Essa nova atividade econômica trouxe, como consequência, a expansão da
ocupação do território goiano e um aumento populacional devido às correntes
migratórias vindas de outros estados. O Sudoeste de Goiás, nessa época, foi palco
do surgimento de novos centros urbanos como a cidade de Jataí (PALACÍN &
MORAES, 1989).
nenhuma referência real, partem à procura de novas terras, seja para agricultura,
pecuária ou à procura de outras riquezas naturais.
As cidades, segundo Lefebvre (1991, p.4), são “[...] centros de vida social
e política [...]” e, assim sendo, cristalizam no espaço urbano as mudanças ocorridas
nestas esferas. Essas mudanças, ocorridas fundamentalmente pela modernização
da agricultura, foram cristalizadas em Jataí e compõe o espaço ora analisado.
47
90.000
81.972
79.398
80.000
75.451
72.421
70.000 68.821
61.556
60.000
52.989
50.000 49.520
População
41.374 40.933
40.000
31.229
30.000 Pop. Total
26.706 Pop. Urbana
27.985
Pop. Rural
20.000 17.421
18.579
14.022
13.963 14.668
10.000
8.587 8.567
4.037 6.630 6.977
-
1910 1936 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2003* 2007**
Ano
Fonte: Secretaria de Gestão Fiscal. Relatório das atividades econômicas cadastradas 2004.
5
ZI-II - ver item 3.1.3 – ZONAS URBANAS: A DIVISÃO OFICIAL
56
Na saúde o município conta com três hospitais num total de 253 leitos em
2004 (JATAÍ-GO, 2004a), 238 em 2005 (SEPLAN, 2005) e 201 em 2008, sendo
destes 176 do SUS (DATASUS 2008). A taxa de mortalidade infantil do município
(Tabela 7) diminuiu 30,53% no período de 1991-2000, chegando ao valor de 17,77
(por mil nascidos vivos), em 2000, contra 25,58 em 1991.
Tabela 7 – Jataí-GO: Indicadores de longevidade, mortalidade
e fecundidade, 1991 e 2000
1991 2000
Mortalidade até 1 ano de idade (por 1000 nascidos vivos) 25,6 17,8
Esperança de vida ao nascer (anos) 66,2 71,5
Taxa de fecundidade (filhos por mulher) 2,7 2,6
Fonte: (PNUD/IPEA/FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2003)
6
Nível formado por cidades de menor porte e com atuação restrita à sua área imediata; exercem
funções de gestão elementares. Predominam os níveis 5 e 6 da gestão territorial. (IBGE, 2007b).
61
7
Trata-se da Frango Gale – “A Empresa, fundada em 1993, inicialmente com o nome de Frango Gale
Frigorífico de Aves Ltda, teve como sócios-fundadores sete empresários jataienses, em sua maioria,
produtores rurais” (SEPLAN, 2005, p.63).
63
Tais aspectos também conferem certo brilho a este ponto da rede goiana.
Nos aspectos utilizados para a classificação8 Jataí obteve o seguinte resultado:
Dinamismo - 6º lugar; Riqueza Econômica - 7º; Infra-estrutura Econômica - 8º;
Qualidade de Vida - 9º; Mão-de-obra - 7º; Infra-estrutura Tecnológica - 6º; Políticas
de Incentivos Financeiros e Tributários - 10º. Desta forma, obteve o 8º lugar no
ranking.
Isto porque [concordando com Deus (2002)] o que define uma cidade média
é sua função, seu grau de polarização, seus equipamentos de serviços e de
lazer e o papel que sua estrutura urbana exerce na região recebendo e
emitindo externalidades, ou seja, a cidade média nada mais é que uma
cidade com uma população acima da média regional, que exerce uma
influência em uma determinada sub-região, com funções que a fazem
assumir o papel de polo regional na hierarquia urbana, provendo o consumo
produtivo e coletivo da sub-região onde está inserida (DEUS, 2002a, p.244).
8
Para mais detalhes sobre a classificação ver SEPLAN, 2005.
65
formação de mão-de-obra, abrindo caminho para que, nos anos 90, esses
lugares pudessem abrigar indústrias de médio e grande porte, para
transformar a matéria-prima produzida pela agropecuária em produtos a
serem consumidos em todo país e no exterior (DEUS, 2002a, p.235-239).
Corrêa (2007), num debate sobre uma possível tipologia para as cidades
médias brasileiras, propõe três tipos de cidade média: um lugar central,
caracterizado por poderosa concentração da oferta dos bens e serviços para uma
hinterlândia regional; um centro de atividades especializadas; e, um terceiro, que
mais se aproxima da realidade jataiense:
10
Utilizou-se o software ArcGis®
70
Total Geral de
Loteamentos 5 19 11 22 18 12 87
Implantados
Conj. Habit.
1 3 3 3 10
Financiados
Conj. Habit./Loteam.
2 7 2 11
Baixa Renda
Fonte: Prefeitura Municipal de Jataí; MELO, N. A. (2003). Organização dos Dados: Márcio Rodrigues
Silva. Os dados da década de 2000 referem-se ao período de 2000-2008.
Para que tal situação seja implementada torna-se necessário que ações
sejam tomadas por parte do poder público com instrumentos que promovam a
ocupação das áreas urbanas vazias, como, por exemplo, políticas sociais que
tenham como alvo uma melhor distribuição de renda, dando ao cidadão condições
de adquirir e ocupar as áreas em questão.
Ano de
Década Setor Total
Implantação
Campo Neutro até 1959
Até 1959
Iracema 1.962
Jardim América 1.962
Fátima 2.ª Etapa 1.963 19
Três Marias 1.963
Bela Vista 1.964
Fátima 3.ª Etapa 1.965
Sofia 1.965
Epaminondas I 1.966
Jardim Paraíso 1.966
Popular 1.966
Granjeiro 1.968
Área Colégio Bom Conselho 1.968
Carvalho 1.972
Industrial 1.975
Luiza 1.975
Década de 1970
Aeroporto 1.976
Frei Domingos 1.976
São Pedro 1.976 11
Vila Paraíso 1.976
Sofia II 1.978
Oeste 1.979
Samuel Graham 1.979
Sodré 1.979
Antena 1.980
Jardim da Liberdade 1.980
Sítio Recanto Alvorada 1.980
Fabriny 1.981
Década de 1980
Ano de
Década Setor Total
Implantação
Alto das Rosas 1.985
Vila Mutirão 1.986
Conjunto Rio Claro I 1.987
Década de 1980
Jacutinga 1.990
José Bento 1.990
18
Mansões 1.991
Conjunto Cohacol 1.994
José Ferreira (Dori) 1.994
Belmar 1.994
Santa Lúcia II 1.995
Dom Benedito 1.996
Conjunto Colméia Park 1.997
Conjunto Jardim Goiás 1.998
Residencial Barcelona 1.998
Bairro Primavera 2.000
Conjunto Colméia Park II 2.000
Conjunto Jardim Goiás II 2.000
Jardim Floresta 2.000
Conjunto Cylleneo França 2.001
2000-2008
Fonte: Prefeitura Municipal de Jataí; MELO, N. A. (2003). Organização dos Dados: Márcio Rodrigues
Silva.
95
11
Esta área apresenta relevo mais íngreme que o padrão da cidade.
98
relação à segunda; seria, isto sim, um movimento de gestação de uma nova área
dinâmica.
Através dessa análise é possível ter uma visão real da “cidade viva”, onde
há movimento, presença, ocupação, que se distingue da cidade legal, determinada
pelo perímetro oficial. Essa cidade reflete sua sociedade, as influências sofridas em
seu processo construtivo e mostra um tecido urbano marcado por áreas dinâmicas
(Figura 22), e por vazios (Figuras 11 e 12), que expressam a dinâmica urbana local
no momento em que deslocam os olhares para os pontos luminosos da cidade.
12
A referida análise encontra-se em SILVA (2002).
101
se foi totalmente, uma vez que deixou um espaço urbano consolidado. Símbolos
marcantes de uma região da cidade que mantêm sua importância mais por seu
processo histórico de ocupação e pelos equipamentos nela instalados, do que pelas
condições urbanas satisfatórias a um centro urbano contemporâneo.
Não se percebe nesta área muitos vazios. A demanda por uma posição
geográfica privilegiada, que ofereça boas condições às atividades capitalistas,
transformaram um setor residencial, por origem, em lócus de serviços para a
sociedade. Algumas casas simplesmente mudaram sua função, como por exemplo o
prédio que abriga o museu histórico da cidade (Figura 33).
102
Figura 26: Jataí-GO: Área urbana – Vista Parcial – Setor Colméia Park
Imagem Ikonos, maio/2004 - JATAI-GO (2004): Mapas Cadastrais.
103
Não têm, por exemplo, suas casas invadidas pela enxurrada de uma
chuva torrencial, como as ocorridas no final de 2004. A distância entre os extremos,
entre a riqueza e a pobreza, não é tão grande. Limita-se à uma cerca, separando a
lavoura da área urbana (Figura 28), ou a um intervalo comercial no noticiário da TV
informando à sociedade que a produção vai bem; a chuva é parceira do produtor.
Infelizmente o mesmo não ocorre para todos. O escurecer do céu numa tarde
chuvosa traz também aflição ao indivíduo que não possui uma residência resistente
às intempéries (quando possui algum local de moradia). Indivíduo que,
provavelmente, faz parte dos números apresentados na Tabela 3: o componente do
IDH do município com menor expressão é a renda, renda mal distribuída.
13
Os lotes em questão têm área de 168m² em média, enquanto o mínimo seria de 250m² com testada
mínima de 10m, segundo a lei de parcelamento do solo (JATAÍ-GO, 2007).
106
Figura 30: Jataí-GO: Área urbana – vista parcial – Parque Ecológico Diacuy.
Imagem Ikonos, maio/2004 - JATAI-GO (2004): Mapas Cadastrais.
14
Ver item 3.1.3 – Zonas urbanas: a divisão oficial.
108
anterior. São pessoas que mesmo, com direitos iguais aos habitantes das áreas
mais nobres (ao menos na teoria), não vivem nas mesmas condições.
até mais, que não consegue se sustentar. Mas, isso também não é problema, o
alimento faz parte do “pacote governamental”, que trata o homem como um simples
número nas contas públicas.
afastamento dos que são diferentes e a privação, essa última mais dramática para
aqueles que são privados de viver a cidade de forma plena.
capitalista, as pessoas com maior poder aquisitivo residirão em lugares que atendam
suas “necessidades”. Locais “perdem” e “ganham” valor. As áreas, tanto residenciais
como comerciais, são produzidas para atender os interesses da classe dominante,
tanto local quanto globalmente.
A cidade sempre teve relações com a sociedade no seu conjunto, com sua
composição e seu funcionamento, com seus elementos constituintes […]
com sua história. Portanto, ela muda quando muda a sociedade no seu
conjunto. […] a cidade depende também e não menos essencialmente das
relações de imediatice, das relações diretas ente as pessoas e grupos que
compõem a sociedade […]. (LEFEBVRE, 1991, p.46).
§ 1 ao § 8 - Zona Residencial I - ZR I
§ 9 ao § 14 - Zona Residencial II – ZR II
§ 17 ao § 19 - Zona Estrutural – ZE
§ 20 - Zona Industrial I – ZI I
§ 21 - Zona Industrial II – ZI II
Nas disposições gerais dessa lei temos, ainda, uma contradição com as
diretrizes do plano diretor, o que deixa brechas para ações de má fé. O que se lê
atualmente é:
Mais uma vez a ocupação das áreas vagas da cidade torna-se distante.
As regiões mais centrais, que concentram um número maior de equipamentos
públicos, produzem uma valorização nos imóveis nelas localizados. É o caso dos
imóveis situados no entorno das ZIUP's, zonas onde foram construídos parques
ecológicos
custo ainda elevado do solo urbano, uma vez que foram deixadas de lado em
termos de ocupação urbana, tornando-se áreas intermediárias entre localidades de
maior densidade populacional, centrais e periféricas. Contrariam, assim, o que
determina o Plano Diretor: Ordenação e controle do solo urbano de maneira a evitar:
[…] A retenção especulativa do imóvel urbano, que resulte na sua sub-utilização ou
não utilização (JATAÍ, 2007).
implantados até a década de 1980, e que também apresenta uma baixa renda,
apesar de não ter sido concebida como “loteamentos de baixa renda”.
Neste sentido, fica claro que a população com rendas inferiores reside,
predominantemente, na periferia da cidade. Fato que pode ser ratificado pela análise
do padrão construtivo dessas localidades.
Figura 44: Pessoas Beneficiadas Pelo Programa Bolsa Família – 2005 - 2008
143
Figura 45: Pessoas Beneficiadas Pelo Programa Bolsa Família – 2005 - 2008 – Áreas Destacadas
144
15
Sobre este conceito de paisagem urbana conferir Cavalcanti (2001, p. 14).
146
A paisagem guarda histórias como, por exemplo, a que foi registrada por
Binicheski (2001, p.103), em entrevista a um caminhoneiro, migrante gaúcho,
residente em Jataí. Esse revela seu sonho, o de possuir a sua tão sonhada
“casinha”: “Há oito anos atrás eu ganhei um bom dinheiro, no primeiro ano já
comprei minha casinha, aqui na Vila Paraíso [...]”. O bairro, onde se localiza esse
imóvel, é o primeiro conjunto habitacional financiado que foi implantado em Jataí, na
década de 1980, marcando uma alteração na paisagem urbana.
Olhar a cidade “de fora para dentro” leva o observador à uma posição de
externalidade. O indivíduo que habita a periferia, nos espaços segregados
discutidos, têm uma visão diferenciada da cidade. A visão periférica ofereceu, assim,
ângulos diversos para a interpretação.
149
considera-se que tais dados revelariam uma situação ainda mais drástica, ratificando
a segregação urbana e a especulação imobiliária identificadas.
Neste aspecto,
ousa-se dizer que esta não é de toda ruim. Os espaços segregados agrupam os
iguais, sobretudo pelo nível de renda.
Seria ruim morar perto dos iguais? Uma boa qualidade de vida, com
equipamentos que permitam a articulação com a cidade, num processo que supra as
necessidades do grupo, permitiria uma proximidade já perdida em muitos grandes
centros, mas que pode ser resgatada em uma cidade como Jataí. Inclusive num
processo de participação na gestão do bairro e da comunidade, aproveitando o porte
da cidade, promovendo maior qualidade de vida, na mesma linha de reflexão
proposta pela UNESCO. Identifica-se em Jataí a potencialidade de um
assentamento humano que pode oferecer melhor qualidade de vida, à população
residente, em função de sua escala urbana, e que que pode permitir maior
participação dos cidadãos no governo e gestão da cidade (UNESCO,1999).
cada homem vale pelo lugar onde está: o seu valor como produtor,
consumidor, cidadão, depende de sua localização no território. Seu valor vai
mudando, incessantemente, para melhor ou para pior, em função das
diferenças de acessibilidade (tempo, frequência, preço), independentes de
sua condição. Pessoas, com as mesmas virtualidades, a mesma formação,
até mesmo o mesmo salário têm valor diferente segundo o lugar em que
vivem: as oportunidades não são as mesmas. Por isso, a possibilidade de
ser mais ou menos cidadão depende, em larga proporção, do ponto do
território onde se está. Enquanto um lugar vem a ser condição de sua
pobreza, um outro lugar poderia, no mesmo momento histórico, facilitar o
161
acesso àqueles bens e serviços que lhes são teoricamente devidos, mas
que, de fato, lhe faltam (SANTOS, 2000, p.81) (Grifos no original).
A busca por lucro através da especulação imobiliária torna cada vez mais
inacessível o imóvel urbano para as classes de menor renda. Com áreas
praticamente “fechadas” ao público e com a necessidade de se atender a demanda
decorrente do próprio crescimento populacional local, as novas áreas implantadas
trazem consigo a valorização das áreas intermediárias. Os imóveis com localização
privilegiada, mais próximo dos equipamentos urbanos e das principais atividades
econômicas, forneceram aos seus proprietários uma renda ainda maior.
áreas mais “nobres” nas mãos dos indivíduos com maior renda. O zoneamento
oficializa o jogo de mercado. O jogo da renda fundiária exclui quem não paga o seu
preço. Os excluídos são identificados em suas zonas próprias.
Para evitar distorções nas análises foi excluído o setor industrial (Figura
37 – Bairro número 26) que apresenta características bem diferenciadas das outras
áreas da cidade, sobretudo no valor das edificações, uma vez que engloba grandes
áreas e construções industriais de alto valor, se comparadas com o padrão
residencial.
16
A opção pelo INPC se deu em função de este ser o índice mais utilizado no mercado para reajuste
de imóveis concluídos ou aluguéis.
165
Para os valores dos lotes, situados em classes mais baixas, a leitura deve
ser diferenciada, já que são poucos os lotes vagos nesta área. Os valores
mais baixos, provavelmente, referem-se a lotes com áreas menores e
com localização ruim para a característica comercial predominante neste
núcleo.
Os valores das edificações estão numa faixa média, tanto para os valores
de 2004 quanto para a projeção em 2009, no mesmo nível da renda
encontrada nesta área.
Os lotes dessa área estão nas menores faixas de preço, o que levaria a
um adensamento maior, considerando apenas o preço do solo. Porém, há
de se considerar que o adensamento das áreas mais periféricas foi
direcionado com a doação de casas/lotes, o que influenciou diretamente
no vazio urbano da área 5 e na “engorda” dessa terra.
As ações, tanto teóricas quanto práticas, devem convergir para que todos
tenham direito à cidade. Direito não apenas à cidade técnica, concreta e fria, mas à
cidade humana, com calor, cheiros e sabores. Para tanto,
Que não se faça injustiça. É certo que existem ações que foram
implementadas e redundaram em melhoria para a cidade. Rapidamente pode-se
recordar: das áreas urbanizadas que trouxeram vida para regiões que antes
afastavam os citadinos; dos conjuntos habitacionais (aqueles construídos de acordo
com a legislação) que ofereceram moradia digna à população; dos museus,
blibliotecas e centros culturais, tão raros em cidades interioranas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
ANALISANDO O PERCURSO DA PESQUISA
É nesta relação dialética que são colhidos alguns frutos. Frutos que
direcionam uma resposta para a indagação inicial: existe segregação socioespacial
em Jataí?
Esta desigualdade não se forma num período curto, parte dos primórdios
da história do município, parte da gestação das grandes fazendas formadas na
região para desenvolvimento da agropecuária e liga-se diretamente ao contexto
econômico atual e à moderna agropecuária. Essa última imprime de forma mais
marcante as características urbanas atuais. O aglomerado urbano apresenta uma
relação íntima com a implementação da moderna agropecuária do município e seu
entorno, o que traz desenvolvimento à região, mas, por outro lado, deixa efeitos
colaterais como o inchaço dos centros urbanos e a desigualdade na distribuição de
renda.
demanda por habitações, por espaço, por serviços públicos. A população rural não é
mais rural, aglomera-se na cidade e não se torna urbana, pois guarda consigo
características, traços, costumes próprios do campo e, talvez, o desejo de para ele
retornar. Todos estes atores fazem parte de um teatro dirigido pelo capital. Quanto
aos papéis por eles exercidos, não se sabe ao certo, dependerá da conjuntura do
momento, local e global.
Não há espaço na guerra dos lugares para um marketing mal feito. Torna-
se claro que o município oferece grandes potencialidades. Há, todavia, de se
promover uma equalização social para que não seja necessário “maquiar” a cidade
para promover seu desenvolvimento. Com mais justiça social, e condições iguais a
todos, ocorrerá no espaço urbano a cristalização dessa aspirada sociedade. A
“cidade ideal” será, dessa forma, resultado de ações fundamentalmente sociais.
Será o reflexo da valorização da maior parte da sociedade que atualmente está tão
esquecida.
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não pode pagar o preço alto do solo urbano não se afasta apenas do centro da
cidade, se distancia, cada vez mais, do acesso à cultura, lazer, educação e saúde,
entre outros benefícios, que deveriam estar ao alcance de todo indivíduo.
* * *
REFERÊNCIAS
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objeto. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (Org.). Os caminhos da reflexão sobre a
cidade e o urbano. São Paulo: Edusp, 1994. p. 129-135.
CARLÚCIO ASSIS. “Jardim Floresta” um bairro que não existe! Jornal da Cidade,
Jataí, p. 1-1. 24 set. 2008. Disponível em: <www.jornaldacidadejatai.com>. Acesso
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CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. 3 ed. São Paulo: Ática, 1995. 94p.
LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Moraes, 1991. 145 p. Tradução
de Rubens Eduardo Frias.
MARX, K., ENGELS, F. A Ideologia Alemã. 7.ed. São Paulo: Hucitec, 1989.
PELUSO, Marília Luiza. A casa própria e o sonho. In: SILVA, José Borzacchiello da;
COSTA, Maria Clélia Lustosa; DANTAS, Eustógio Wanderley C. (Orgs). A cidade e
o urbano. Fortaleza: EUFC, 1997. p.235-243.
_____________. O espaço do cidadão. 5.ed. São Paulo: Studio Nobel, 2000. 142p.
SILVA, José Borzacchiello da. Discutindo a cidade e o urbano. In: SILVA, José
Borzacchiello da; COSTA, Maria Clélia Lustosa; DANTAS, Eustógio Wanderley C.
(Orgs). A cidade e o urbano. Fortaleza: EUFC, 1997. p.265-271
VILLAÇA, Flávio. Espaço Intra-Urbano no Brasil. 2ed. São Paulo: Studio Nobel:
FAPESP: Lincoln Institute, 2001. 373p.
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ANEXOS
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ANEXO – A
ANEXO – B
ANEXO – C
ANEXO – D