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sorte!

I. BEM VINDO AO PAÍS DO SOL NASCENTE!

O Japão é um país insular da Ásia Oriental. Localizado no Oceano Pacífico, a leste do Mar do
Japão, da República Popular da China, da Coreia do Norte, da Coreia do Sul e da Rússia, se
estendendo do Mar de Okhotsk, no norte, ao Mar da China Oriental e Taiwan, ao sul. Os
caracteres chineses (日本) (lição 4) que compõem seu nome significam "Origem do Sol", razão
pela qual o Japão é às vezes identificado como a "Terra do Sol Nascente". Essa designação para
o Japão vem da China devido à posição geográfica relativa entre os dois países. Já o nome
“Japão” trata-se de uma aproximação da pronúncia chinesa para esses caracteres (“rìběn”).
Ouça a pronúnicia neste link.

O país é um arquipélago de 6.852 ilhas, cujas quatro maiores são Honshu, Hokkaido, Kyushu e
Shikoku, representando em conjunto 97% da área terrestre nacional. A maior parte das ilhas é
montanhosa, com muitos vulcões como, por exemplo, os Alpes japoneses e o Monte Fuji. O
Japão possui a décima maior população do mundo, com cerca de 128 milhões de habitantes. A
Região Metropolitana de Tóquio, que inclui a capital de fato de Tóquio e várias prefeituras
adjacentes, é a maior área metropolitana do mundo, com mais de 30 milhões de habitantes.

Para melhor compreender a História do Japão, é comum dividi-la por Períodos (ou Eras), e a
mudança entre eles, em geral, é ditada pela ascensão de um novo imperador. Entretanto, já
houve mudanças de Períodos ditadas por eventos históricos ou desastres. Desde 1867 na
ascensão do imperador Mutsuhito foi adotado o sistema que muda a era apenas a cada
mudança de reinado, sendo iniciada uma nova era em 1868 denominada era Meiji. A
contagem das eras foi iniciada pelo imperador Kotoku (597-654), sendo que este primeiro
Período chamava-se “Taika”. A tradição não foi mantida, mas foi retomada pelo imperador
Mommu (683-707) e, desde então, tem sido contada até os dias atuais. Vejamos:

•Até 8000 a.C. - Período "Pré-Cerâmico" ou "Período Paleolítico"

É difícil determinar as origens da civilização japonesa. Há quem pense que a origem do povo
japonês é chinesa. No entanto, graças a vestígios arqueológicos, é possível afirmar que já
existiria vida no arquipélago há pelo menos 100 mil anos atrás, numa época em que o Japão
estava "colado" ao continente asiático.

•8000 a.C. a 300 a.C. - Período Jomon


É nesta época que o territóro se torna um arquipélago, devido ao aumento da temperatura e à
consequente elevação do nível do mar. Nesta altura, a população vivia em pequenas
comunidades, dedicando-se à caça (uso do arco e flecha) e à colheita, à olaria e desenvolvendo
técnicas agrícolas (primeiras tentativas de plantio) para a sobrevivência.

•300 a.C. a 300 d.C. - Período Yayoi

Foi um dos períodos onde ocorreram mais mudanças, graças ao contato com outros povos e
culturas. Dos coreanos, os japoneses receberam algumas técnicas de plantio do arroz e o
trabalho com o metal (bronze e ferro). Já dos chineses receberam outras artes e técnicas e um
regime alimentar baseado em certo tipo de legumes (soja, azuki e trigo) e de carne de animais
(cavalos e gado).

•300 d.C. a 593 d.C. - Período Yamato ou Kofun

O Japão dividiu-se em várias áreas com características geográficas e culturas próprias. Novas
artes e tecnologias (ferramentas agrícolas, armas,...) entram no arquipélago, a arte de
cerâmica desenvolveu-se e até a escritura chinesa entrou no país para fins comerciais. Neste
período houve uma invasão mongol, deu-se a unificação do Japão como nação e do budismo
que foi introduzido no país (538 d.C).

•593 d.C a 710 d.C- Período Asuka

Foi um período conturbado, mas que trouxe muitas mudanças (Política, Filosofia, Arquitetura)
que se deveram, principalmente, ao budismo e ao confucionismo. Em 604 d.C, Shotoku cria a
primeira Constituição do país. Neste período houve diversos atentados à família imperial e
muitas contendas entre famílias poderosas.

•710 d.C a 794 d.C - Período Nara


Este período inicia-se com a transferência da capital para Nara. O crescimento cultural e
artístico foi enorme. A escrita chinesa (Kanji) foi adaptada para o japonês. A sociedade em sua
maioria era agrícola e dividida em aldeias. Houve um crescimento do poder centralizado no
país. O regime uji-kabane (grandes proprietários) entra em decadência e floresce o regime
Ritsurio (administrativo).

•794 d.C a 1192 d.C - Período Heian

Com o Imperador Kammu, a capital muda para Heian (atual Quioto). No século X, graças ao
comando do clã Fujiwara, o Japão avançou muito na área cultural. Apesar disso, as guerras
pelo poder que opuseram alguns clãs nipónicos trouxeram instabilidade política e o
aparecimento dos samurais.

•1192 d.C – 1333 d.C- Período Kamakura

A capital imperial passa a ser em Kamamura. Nesta era, destaca-se Minamoto Yoritomo, o
Xogum, que inicia uma época dominada pelos samurais cujo código de honra é a base do
governo. É nesta altura que se cria o regime militar conhecido como Xogunato (ou bakufu).
Com a família Hojo no poder, o país evolui novamente e as relações com a China melhoram.
Em 1274, o Povo Mongol tenta conquistar o Japão, mas é derrotado pelos samurais.

•1333 d.C a 1573 d.C - Período Muromachi

Ashikaga Takauji estabelece o Xogunato Muromachi, em Quioto. Apesar de violento, este


período foi marcado por grande evolução econômica e cultural (arquitetura, pintura, poesia,
canções, a cerimônia do chá (Chanoyu), o Ikebana (arte de arranjar flores) e o teatro (Nô e
Kyogen). O primeiro contato com o Ocidente dá-se com a chegada dos portugueses ao Japão
que trazem as primeiras armas de fogo e o Cristianismo (graças ao jesuíta Francisco Xavier). O
poder econômico passa para as mãos dos daymios (senhores feudais da época) e ocorrem
grandes batalhas pela posse de territórios.

•1573 d.C a 1603 d.C - Período Azuchi-Momoyama


Graças ao armamento fornecido pelos portugueses, o general Oda Nobunaga conquista o
poder, mas morre assassinado, antes de unificar o Japão num único governo – ação que só o
seu general, Toyotomi Hideyoshi, conseguiu levar a cabo. O Japão conhece então uma grande
evolução econômica e social e até faz duas tentativas (falhadas) para conquistar a Coreia.

•1603 d.C a 1868 d.C - Período Edo

Pela batalha de Sekigahara (1600), Tokugawa Ieyasu conquista o poder e o controle total do
país, estabelecendo-se na cidade de Edo (Tóquio). Emergem quatro classes socias distintas
(samurais, camponeses, artesãos e comerciantes) e os feudos são distribuídos a pessoas de
confiança do Xogum. Em 1633, o Cristianismo é proibido e perseguido. O país fecha-se, apenas
comunicando-se com o exterior através do porto comercial de Nagasaki. Apesar disso, o Japão
conhece um florescimento comercial. Em finais do século XVIII, o Xogunato enfrenta
contestações políticas internas. Devido à Revolução Industrial do Ocidente, o Japão muda a
sua política e reabre as portas a outras culturas.

•1868 d.C a 1912 d.C -Período Meiji

Com o Imperador Meiji deram-se grandes mudanças que trouxeram liberdade religiosa,
igualdade social, a abolição do feudalismo e um grande nacionalismo. Em 1880, devido ao
investimento na industrialização do país, o Japão entra numa crise que só será extinta com a
criação do Banco do Japão. Foi nesta época que foi criada a primeira Constituição. O Japão
venceu duas guerras territoriais contra a China (1895) e contra a Rússia (1905). Em 1910, o
Japão ocupa o território coreano.

•1912 d.C a 1926 d.C - Período Taisho

Neste período, o governo democrático ganhou grande força, o que permitiu que as mulheres
fossem socialmente mais participativas. Estando à mercê de tratados anteriormente firmados,
o Japão entrou na Primeira Guerra Mundial, ao lado dos aliados. O fim da Guerra e o
terremoto de 1923 agravaram a situação econômica do país.

•1926 d.C a 1988 d.C - Período Showa


A crise econômica mundial de 1929 impeliu os militares de tomar grande parte do poder e a
conquistar novos territórios, o que implicou a sua retirada da Liga das Nações (1933). Na
Segunda Guerra Mundial, o Japão alia-se à Alemanha e à Itália e ataca a base americana Pearl
Harbor no Havai (1941). Esta ação levou os EUA a lançar bombas atômicas sobre Hiroshima e
Nagasaki, pondo fim à guerra. Cerca de 2 milhões de japoneses morreram, parte do país ficou
destruído e a economia ficou em ruínas. O Japão foi ocupado pelas forças vitoriosas e foi
criada uma nova Constituição (1947). O imperador Hirohito perdeu o poder e surgiu uma nova
forma de governo – a monarquia constitucional, controlada por um parlamento. As relações
exteriores são reatadas em 1951. O Japão tornou-se rapidamente uma das principais potências
econômicas do mundo. Em 1973, a crise de petróleo leva o Japão a investir nas indústrias de
alta tecnologia.

•1989 d.C aos dias atuais - Período Heisei

Akihito sucedeu ao seu pai, iniciando uma nova era marcada pela prosperidade e
tranquilidade. Apesar da catástrofe provocada pelo tsunami de 2011, o país soube ultrapassar
a tragédia com estoicismo e dedicação, continuando a apresentar uma das mais altas taxas de
crescimento do mundo.

II. O NIHONGO, A LÍNGUA FALADA NO JAPÃO

A língua japonesa (nihongo) é falada atualmente por cerca de 125 milhões de pessoas. É oficial
no Japão e é regional em Palau, uma república do Pacífico a leste das Filipinas e administrada
pelo Japão até a Segunda Guerra Mundial. Até pouco tempo atrás, os linguistas classificavam o
japonês como língua isolada, mas atualmente esta faz parte da família japônica, da qual é a
principal língua.

As línguas japônicas são uma família de línguas, supostamente proveniente de um idioma


comum chamado proto-japônico. Não há uma prova definitiva universalmente aceita da
relação entre as línguas japônicas e outras línguas, mas há várias teorias apoiadas em uma
série de evidências. A teoria mais aceita relaciona as línguas japônicas com a antiga língua de
Goguryeo. Outros vão mais além e incluem uma família que inclui também os idiomas Fuyu e
Baekje. Outra teoria, também bastante aceita (embora durante muito tempo rechaçada por
questões políticas) é a correlação com o coreano, uma vez que a gramática é praticamente
igual, embora o léxico seja bastante diferente. Há uma teoria, aceita, mas ainda controversa,
de que as línguas japônicas integram as línguas altaicas. Por último, há uma teoria
relacionando as línguas japônicas às línguas do centro e sul do Pacífico, ou seja, às línguas
malaio-polinésias. Esta hipótese é considerada improvável pela maioria dos linguistas.
Estudos lexico-estatísticos revelaram que o idioma moderno com o léxico mais parecido com
as línguas japônicas é o uigur, idioma aparentado ao turco.

Em vista da ausência de provas incontestáveis, alguns vêem nessas semelhanças um simples


"sprachbund" (do alemão Sprachbund, "união de idiomas") e que essas semelhanças são
apenas resultados da convivência entre esses povos da Ásia Central ao longo de milênios.

Existem apenas sete línguas japônicas faladas atualmente, e estão divididas em dois grupos: o
japonês, que inclui o japonês oriental e o japonês ocidental (este, a língua japonesa
propriamente dita, falada em Tóquio), e o ryukyu, ao qual pertencem o oquinauano (segunda
língua japônica mais falada, depois do japonês), o miyako, o amami, o yaeyama e o yonaguni.

Um grande número de dialetos locais ainda é utilizado. Enquanto o japonês padrão, baseado
na fala dos habitantes de Tóquio, foi se expandindo gradativamente pelo país devido a
influência das mídias como o rádio, a televisão e o cinema, os dialetos falados em Quioto e
Osaka, em particular, continuam se desenvolvendo e mantêm o seu prestígio. O povo Ainu,
baseado na ilha norte de Hokkaido, possui sua própria linguagem, que constitui um grupo a
parte, sem relação com o japonês.

É comum dividir a língua japonesa quanto a sua evolução em cinco períodos:

- Japonês Antigo (até o século 8): é a etapa mais antiga atestada do idioma japonês. Através da
propagação do budismo, o sistema de escrita chinesa (Kanji) foi importado para o Japão. O fim
do japonês antigo coincide com o fim do período de Nara em 794;

- Japonês Antigo Tardio ou Japonês Médio Precoce (século 9 a 11): é o japonês do Período
Heian (794-1185). Durante esse período dois novos silabários foram inventados: Hiragana e
Katakana, que eram muito mais simples que os Kanjis e descreviam os sons existentes na
língua japonesa. Livros famosos foram escritos durante este período, como “O Conto de
Genji”, “O Conto do Cortador de Bambu”, “Os Contos de Ise” e muitos outros. Vê-se também
vê uma quantidade significativa de influência chinesa sobre a fonologia da língua. O
termo"Japonês Médio Precoce " é preferível, haja vista que aqui estamos situados mais perto
Japonês Médio Tardio (depois de 1185) do que do Japonês Antigo (antes 794);

- Japonês Médio Tardio (século 12 a 16): é normalmente dividido em duas fases, mais ou
menos equivalentes ao Período Kamakura e ao Período Muromachi, respectivamente. As
formas posteriores são as primeiras a serem descritas por fontes não-nativas, neste caso, os
jesuíta e missionários franciscanos (por exemplo, na obra “A Arte da Lingoa de Iapam”) .
Algumas formas vez mais familiares aos falantes japoneses modernos começam a aparecer;
- Japonês Moderno Precoce (século 17 a 19): é um período de transição em que a língua deixa
para trás muitas das suas características medievais e se aproxima de sua forma moderna. O
período durou cerca de 250 anos, estendendo-se do século 17 até a metade do século 19. No
início do século 17, o centro do governo saiu de Kamigata e foi transferida para Edo sob o
controle do shogunato Tokugawa. Até o período Edo, o dialeto Kamigata, o ancestral do
dialeto Kansai moderno, foi o dialeto mais influente. No entanto, mais tarde, o dialeto Edo – o
ancestral do dialeto de Tóquio moderno – tornou-se o dialeto mais influente. Importante frisar
que, como Tokugawa visava a reconstrução do país, após mais de cem anos em guerra, toma
medidas duras entre 1633-1639, expulsando os estrangeiros, no caso portugueses e espanhóis.
O cristianismo é proscrito e os cristãos perseguidos pelo governo. Por fim, o governo resolve
fechar os portos a todos os navios estrangeiros, exceto dos chineses e dos holandeses. Os
holandeses só podiam ficar na ilha de Dejima em Nagasaki. Essa postura trouxe muita
estabilidade e ficou conhecida mais tarde como “Sankoku” (país acorrentado);

- Japonês moderno (século 19 até o presente): pode-se dizer que o Sankoku permaneceu em
vigor até 1853, com a chegada dos navios negros do comodoro Matthew Perry e a abertura
forçada do Japão ao comércio ocidental. Contudo, ainda era ilegal deixar o Japão, mas com a
Restauração Meiji (1868) essa restrição acabou. Na época, o almirante Perry tinha a intenção
de compartilhar tecnologia e estimular a concorrência econômica saudável com os países
asiáticos. Sua influência teria um impacto muito mais significativo, pois elementos do inglês e
outras línguas ocidentais, como palavras e características linguísticas, começaram a ser
introduzidos na língua japonesa.

Bem, feita essa abordagem histórica, durante o nosso curso, faremos várias referências ao
“Japonês Clássico”, isto é, a forma literária da língua japonesa que era o padrão até os
primórdios do Período Showa (1926-1989).

O Japonês Clássico é baseado na língua como era falada durante o Período Heian (794-1185),
mas apresenta algumas influências posteriores. Seu uso começou a declinar durante o fim do
Período Meiji (1868-1912), quando os romancistas começaram a escrever suas obras seguindo
o padrão da língua falada. Eventualmente, este estilo entrou começou a se generalizar,
inclusive nos principais jornais, mas muitos documentos oficiais ainda eram escritos no estilo
antigo. Após a Segunda Guerra Mundial, a maioria dos documentos mudou para o estilo
falado, embora o estilo clássico continua a ser usado em gêneros tradicionais, como Haiku (ou
Haicai). Leis antigas também são escritas no estilo clássico, a menos que totalmente revistas.

III. O ERRO DOS MÉTODOS CONVENCIONAIS

O erro dos métodos convencionais é que geralmente seus autores têm os seguintes objetivos:
1.Que os leitores sejam capazes de usar um japonês funcional e polido o mais rápido possível;

2.Não desencorajar os leitores no estudo do idioma nipônico. Para tanto, muitas vezes evitam
usar os “assustadores” fonemas japoneses (Kana) e os ideogramas chineses (Kanji);

3.Ensinar aos leitores como dizer frases buscando uma “relação de equivalência” entre o
português e o japonês.

Tradicionalmente, se tratarmos de línguas românicas como o espanhol, por exemplo, tais


objetivos não apresentam problemas ou são inexistentes devido a sua similaridade com a
língua portuguesa. No entanto, como o japonês é diferente em quase todos os sentidos – até
mesmo nas formas fundamentais do pensar – esses objetivos acabam por criar muitos dos
livros confusos que vemos atualmente. Eles geralmente são preenchidos com regras
complicadas e incontável número de gramática para frases específicas em português. Também
não contêm quase nenhum Kanji; e então quando finalmente se chega ao Japão, eis que se
descobre que não é possível ler os menus, mapas ou praticamente nada, porque o autor do
livro estudado pensou que o leitor não fosse inteligente o suficiente para memorizar os
ideogramas chineses.

Como exposto, a raiz deste problema está no fato de que estes livros tentam ensinar japonês
com o português; ensina-se logo na primeira página como dizer: "Oi, meu nome é Paulo", mas
não se expõe todas as decisões arbitrárias que foram feitas por detrás de tudo isso. Muitas
vezes, os autores utilizam-se da forma polida mesmo que aprender a forma polida antes da
forma do dicionário não faça sentido. Eles também costumam abordar assuntos que muitas
vezes não são necessários para o aprendizado como um todo.

Na verdade, a maneira mais comum de dizer algo como "Meu nome é Paulo" em japonês é
dizer tão somente "Paulo". Isto porque a maior parte da informação é entendida a partir do
contexto e é, portanto, excluída. Mas será que os autores explicam a maneira como as coisas
funcionam na língua japonesa, essencialmente? Não, pois estão muito ocupados tentando
encher o leitor de frases "úteis". O resultado disto é desastroso: o leitor cairá no “use isto se
você quiser dizer aquilo”, fazendo-o ficar com uma sensação de que nada aprendeu quando
necessitar ir além destes padrões. Tudo isso porque não aprendeu como as coisas realmente
funcionam.

A solução para este problema é explicar a língua japonesa a partir de um ponto de vista
japonês; abordar a gramática e explicar como funciona a dinâmica do idioma sem tentar
buscar forçosamente uma tradução equivalente, isto é, que seja “exatamente igual” àquilo que
se diz em português. E, para que o estudo seja proveitoso, também é importante explicar as
coisas em uma ordem que faz sentido em japonês. Se você precisa saber [A] para entender [B],
não abordaremos [B] primeiro só porque você talvez precise aprender uma determinada frase.

IV. UM MÉTODO PARA SE APRENDER A GRAMÁTICA DO IDIOMA NIPÔNICO

Este método é uma tentativa de se construir sistematicamente estruturas gramaticais que irão
aos poucos tecendo a língua japonesa de um modo que faça sentido em japonês. Pode não ser
um instrumento prático para um aprendizado imediato, como na maioria dos métodos
convencionais que visam expressões úteis em japonês, como por exemplo, frases comuns para
as viagens. No entanto, este método tentará, de uma maneira lógica, criar blocos de
construções gramaticais que resultará em uma sólida base de gramática. Para aqueles que
aprenderam o idioma japonês seguindo livros didáticos convencionais, poderá notar-se
algumas grandes diferenças na forma como o material é ordenado e apresentado. Isto porque
este método não procura criar forçosamente vínculos artificiais entre o português e o japonês
através da apresentação de um material que faça sentido em português. Pelo contrário,
exemplos com traduções demonstrarão como as ideias são expressas em japonês resultando
em simples explicações que são mais fáceis de entender.

No início, as traduções para o português dos exemplos apresentados será o mais próximo
possível do sentido destes em japonês. Por esta razão, o você poderá se deparar com
traduções “gramaticalmente incorretas” em português. Nós esperamos que a explicação dos
exemplos desperte em você um apurado senso de “o que as sentenças significam realmente
do ponto de vista japonês”. Gradativamente, uma vez que você se tornar familiarizado e, e
com isso, começar a pensar confortavelmente em japonês, as traduções serão menos
próximas do sentido em japonês para que a leitura seja mais agradável e centrada nos tópicos
mais avançados.

Esteja ciente de que existem vantagens e desvantagens para a construção sistemática de uma
sólida base gramatical a partir do zero. Em japonês, os conceitos gramaticais fundamentais são
os mais difíceis de assimilar e as palavras mais comuns possuem muitas exceções. Isto significa
que a parte mais difícil do idioma é o que deve ser aprendido primeiro. Os livros didáticos não
costumam ter esta abordagem, temendo talvez que isto assustará ou frustrará os interessados
em aprender a língua. Em vez disso, tentam atrasar o aprofundamento nas regras de
conjugação mais difíceis usando remendos para que possam começar a ensinar expressões
úteis imediatamente. Este é o tipo de abordagem que agrada a alguns, no entanto, pode criar
confusão e problemas ao longo do caminho; seria como construir uma casa sobre a areia. Os
conceitos mais difíceis devem ser abordados, não importa quais sejam. Se você conseguir
assimilar os tópicos gramaticais mais difíceis logo no início, então, os menos complicados que
serão abordados adiante serão muito mais fáceis porque eles se encaixam perfeitamente
sobre a base que o você construiu. O idioma japonês é sintaticamente muito mais consistente
do que o português. Se você aprender as regras de conjugação mais difíceis, grande parte da
gramatica restante baseia-se em regras semelhantes ou idênticas. A única parte difícil a partir
daí será ordenar e lembrar todas as várias expressões e combinações possíveis, a fim de usá-
las em situações corretas.

V. COMO REALMENTE APRENDER ALGO?

Iniciar o aprendizado de algo não é tão simples assim. Por melhor que seja o método
escolhido, se você não se utilizar daquilo que chamaremos “ferramentas de aprendizado”, o
seu aproveitamento será quase nulo. Portanto, tenha em mente que sem elas é como querer
fazer limonada sem limões, ou seja, sem o ESSENCIAL para a limonada. Vamos a elas:

1) INTERESSE: isso parece óbvio, mas um dos maiores bloqueios para o aprendizado é a falta
de interesse naquilo que se estuda. Pessoas podem passar horas e horas tentando decorar
fórmulas matemáticas, mas se houver falta de interesse e/ou maus pensamentos, a sua mente
encarará a situação como algo danoso para você e passará a criar mecanismos de autodefesa
para afastá-lo disso, tais como distração ou sonolência. Portanto, lembre-se: “quanto maior o
interesse, maior é o poder da memória para guardar determinada informação”. “Encontre algo
que você ame tanto fazer que você espere o sol nascer só para poder fazer de novo” (Chris
Gardner)

Vamos fazer uma analogia: imaginemos que um rapaz tenha iniciado um emprego novo e logo
no primeiro dia se depara com uma menina que lhe desperta interesse à primeira vista. Vão se
passando os dias, o rapaz fica só a observando e o interesse vai aumentando, mas ainda não
tiveram a oportunidade de conversar. São convidados então para uma dinâmica em duplas na
qual um terá que expor certas informações pessoais ao outro.

Agora, responda com sinceridade: se você estivesse no lugar do rapaz fazendo dupla com a
menina que outrora despertara seu interesse, as chances de você guardar as informações
pessoais que ela expor não são muito maiores do que se você estivesse fazendo dupla com
qualquer outra menina na qual você não estivesse interessado?

2) REPETIÇÃO: outro fator que potencializa o poder da memória é a repetição. Analogamente,


se você consegue digitar rapidamente agora, deve se lembrar de como era um “catador de
milho” no começo. Entretanto, conforme foi repetindo o ato de digitar – e com o desejo,
interesse em dominar a digitação –, gradativamente foi ganhando velocidade, não é mesmo?
Ou ainda, já parou para pensar por que não nos esquecemos da nossa língua materna?
Lembre-se: “quanto mais você revisa, se expõe a algo, mais o cérebro se acostuma com aquela
informação e a fixa na memória”.
3) ASSOCIAÇÃO: nossa memória usa a associação de modo espontâneo, inconsciente. Não nos
apercebemos disto. Associar é vincular uma informação a outra já armazenada. Lembre-se: “a
associação facilita a lembrança”.

4) ORGANIZAÇÃO: quanto mais organizada a mensagem, maior será a retenção. A memória


não acumula dados de qualquer maneira. Ela efetua, sem percebermos, um trabalho de
organização. O cérebro opera uma organização inconsciente. Podemos ajudar a memória
organizando a informação de modo consciente fazendo esquemas o que implica em comparar,
selecionar, classificar, ordenar, associar, esquematizar.

5) HUMILDADE: muitos estudantes pecam ao deixar de estudar determinado assunto por


causa do “Ah, isso eu já sei”. Evite isso, usando a ferramenta da “humildade”. Nunca se feche à
oportunidade de conhecer um pouco mais sobre determinado assunto e valorize TODAS as
informações que encontrar. Acredite, você só tem a ganhar: pode ser que você apenas achava
que sabia e na realidade não sabia, mas agora sabe de fato, ou se realmente já sabia, teve a
oportunidade de rever o assunto e fixa-lo mais – muitas vezes com informações novas a
agregar. Ou ainda, se a fonte não lhe inspirar confiança, terá a oportunidade de buscar
informações em outras fontes e confrontá-las. Com isso seu conhecimento tende a aumentar.
Lembre-se do que disse Santo Tomás de Aquino: "Temo o homem de um só livro"

6) CONCENTRAÇÃO: possuir interesse não significa necessariamente que você estará focado
sempre quando necessário. Afinal, situações “mais atraentes”, como uma partida de futebol,
ou ainda, questões de ambiente como barulho, pouca ou muita luz, podem surgir durante o
seu tempo de estudo, minando completamente a sua concentração. Outro fator prejudicial é o
desvio de foco por imaginações que podem surgir ao vermos uma palavra ou figura durante a
leitura; acabamos focando mais nessa palavra ou figura e damos as costas para o tema
estudado. Atente-se a estes fatos e evite-os. Lembre-se: “O homem que quiser conduzir a
orquestra tem de dar as costas ao público”. (Max Lucado)

7) BEM-ESTAR: estar física e psicologicamente bem só há de potencializar as demais


ferramentas de aprendizado. Portanto, evite estudar se você não estiver bem, pois poderá ser
tempo perdido.

VI. COMO REALMENTE APRENDER UM IDIOMA?

1) AS QUATRO HABILIDADES: Ler, escrever, falar e ouvir. Estas são as habilidades a serem
desenvolvidas no aprendizado de qualquer idioma. E como desenvolvê-las? Vemos muitos
métodos que prometem milagres, mas sinceramente não cremos que exista uma fórmula
mágica para isto. Ou melhor, a fórmula é simples, porém "trabalhosa":
- para aprender a ler, leia bastante;

- para aprender a escrever, escreva bastante;

- para aprender a falar, fale bastante;

- para aprender a ouvir, ouça bastante.

Fazendo dessas atividades uma rotina, sistematicamente, você irá notar que seu cérebro se
acostumará com tudo isso;

2) VOCABULÁRIO: Quais palavras aprender?

Para responder a essa pergunta, vamos considerar como se dá a nossa comunicação no nosso
cotidiano. Ora, com base nele, percebemos facilmente que há palavras que usamos com mais
freqüência, sendo que elas não compreendem TODAS as palavras que conhecemos em nosso
idioma materno. Em outras palavras, na nossa vida prática, usamos apenas um número
restrito de palavras.

Já que não usamos todas as palavras existentes ou que conhecemos para nos comunicarmos,
costuma-se dividi-las em dois grupos: as palavras que você conhece, e utiliza, constituem o seu
vocabulário ativo. As palavras que você conhece, mas não utiliza, no dia a dia, constituem o
seu vocabulário passivo. É de se imaginar, portanto, que o vocabulário passivo é muito maior
que o nosso vocabulário ativo, pois na nossa vida rotineira tendemos a usar as palavras “mais
simples” e comumente usadas.

E isso é realmente verdade se levarmos em conta o modo como aprendemos a falar a nossa
língua materna: primeiro, aprendemos palavras simples e que, de certo modo, são suficientes
para nos comunicarmos e sermos entendidos pelos adultos (aproximadamente 500 palavras
ativas representam o vocabulário de uma criança pronta para aprender a ler e escrever – 5
anos de idade). A partir daí, com os estudos e conforme as circunstâncias exigem, vamos
aprimorando nosso vocabulário, aprendendo palavras novas e mais complexas, bem como
novos sentidos das que já conhecemos (aproximadamente 2.000 palavras são o vocabulário
ativo de um adolescente em seu idioma materno, no fim do ensino médio). E continuaremos
sempre aprendendo vocabulário até que a nossa vida termine...
Ainda assim, as palavras que usamos no nosso dia a dia, mesmo na vida adulta e
desconsiderando termos específicos dos mundos corporativo e acadêmico, continuam a ser as
“mais simples” e comumente usadas. Não vamos muito além disso. Mesmo que conheçamos
um grande número de palavras, ficamos restritos a este grupo quando falamos com amigos,
familiares, ou estamos em lojas, restaurantes, etc. Ou você já ouviu alguém usar em
português, palavras como litossolo, coarctar, novedio, nubícogo, olente ou divulsão?

Bem, e vem à mente outra pergunta: afinal, quantas palavras devo aprender?

Costuma-se dizer que em qualquer idioma as palavras que compõem o vocabulário ativo giram
em torno de 3.000. Ou seja, essas são as palavras mais importantes e mais comuns; aquelas
que de fato serão necessárias no seu dia a dia. Isso deve equivaler ao seu vocabulário ativo em
português. Então, você deve se concentrar primeiramente nelas.

E quanto ao vocabulário passivo? Bem, isso é algo que vamos aprender constantemente
durante nossa vida... mas em termos de números, é bom que você tenha em seu vocabulário
passivo em torno de 3.500 palavras (ou mais), a fim de obter uma boa compreensão do
idioma;

Além disso, evite aprender palavras de modo isolado. Ou seja, quando você aprender, por
exemplo, a palavra “porta”, tente encontrar exemplos de orações. Assim, além de enriquecer o
seu vocabulário, você entenderá melhor o sentido de palavras que, isolodamente, podem
parecer meio sombrias.

3) PENSE COMO UM NATIVO: Evite pensar uma língua estrangeira em seu idioma nativo. Sim,
isso é fundamental. Se você está tentando descobrir como dizer algo, mas pensando
primeiramente em português, não conseguirá se expressar de imediato em quase 100% das
vezes. Você deverá ter sempre em mente que “se você já não sabe como dizer algo em outra
língua, então não sabe mesmo”. Portanto, se você puder, pergunte imediatamente a alguém
como dizer a expressão desejada, incluindo uma explicação detalhada do seu uso. Então
comece você a praticar e a pensar do ponto de vista de um falante nativo. Idiomas não são
como problemas matemáticos; você não tem que descobrir a resposta; mas se você praticar a
partir da resposta correta, desenvolverá bons hábitos que lhe ajudarão a formular natura e
corretamente sentenças;

4) ESTUDE A CULTURA: indubitavelmente, o modo de agir de um povo tem reflexos em seu


modo de falar. Conhecer tais aspectos facilita o modo de expressar-se, faz com que muitas
expressões tenham sentido e evita que você fale um idioma com “cara de português”;
5) EXEMPLOS E A EXPERIÊNCIA: mesmo que você não consiga entender algum fundamento
gramatical completamente ou mesmo dizer algo corretamente logo na primeira vez, continue
retomando a matéria não assimilada procurando mais exemplos referentes a ela. Isto
permitirá que você adquira uma melhor aptidão em como saber usar tais
expressões/construções gramaticais em contextos diferentes. Nenhum método é capaz de
abordar todas as situações possíveis. Entretanto, para a nossa sorte existem meios como a
internet. Lá você encontrará uma grande variedade de material, incluindo sites, salas de bate-
papo e artigos específicos. Comprar livros no idioma que ser quer aprender ou quadrinhos é
também um excelente (e divertido) meio de aumentar o vocabulário e exercitar as habilidades
de leitura;

Conhecer a origem e evolução de algo que você queira aprender é um grande passo para o seu
domínio, pois ao se deparar com o sentido e a lógica que há por trás, você deixa de ser um
robô e passa a pensar. Se você gosta de Matemática, entenderá onde queremos chegar: não
adianta você decorar fórmulas prontas se você não sabe a razão de ser dela. Claro que a
gramática não é uma ciência exata, mas ela busca padronizar uma língua e, embora haja
exceções, ela tem sua lógica de ser.

VII. APRENDER GRAMÁTICA É REALMENTE NECESSÁRIO?

Há quem defenda a ideia de que, em termos práticos, aprender gramática é perda de tempo,
afinal o intuito da comunicação é entender e ser entendido, não importando se
gramaticalmente o que é dito está correto ou não. Por exemplo, se alguém dissesse “a gente
vamo embora”, apesar de a oração estar errada GRAMATICALMENTE, o que importaria é o
ouvinte entender a mensagem como “nós vamos embora”.

Sendo assim, você deveria ouvir as coisas até que consiga, naturalmente, dizer o que parece
certo e o que é errado. Segue um dos argumentos “contra a gramática” (usando o inglês como
base):

“Você sabe falar português, seu idioma nativo no Brasil, né? Agora será que você sabe todas as
regras gramaticais?

NÃO!

A menos que seja um entusiasta do idioma ou profissional da área, você não sabe nem precisa
conhecer todas as regras. É assim que um idioma deve ser compreendido.
Aprender pelas regras, sem saber falar e ouvir, vai te tornar uma espécie de “analista da
língua”. Só na teoria. Na prática, não funciona! Pode ver com qualquer pessoa que fez cursos
tradicionais: mais de 99% delas não se sentem seguras ao falar, e não compreendem todos os
áudios em inglês, mesmo depois de vários e vários anos estudando – e pagando caro!

Quando alguém te faz uma pergunta, você responde sem pensar em regras. Sem pensar se é
no passado, no futuro, em qual palavra você deve colocar aqui ou ali… Simplesmente
RESPONDE!

Num novo idioma qualquer, deveria ser assim também, pois é o processo natural.

Ao ver um filme, você não tem tempo de ficar traduzindo o que dizem para entender. Se
tentar, perderá muitas falas!

Ao conversar com alguém também. Não há tempo para pesquisar na cabeça as regras, muito
menos na internet ou em livros.” (FONTE: Curso de Inglês na Web)

A tese acima parece mesmo convincente, mas no fundo é um mau conselho, a menos que você
viva no Japão ou fale / ouça japonês com alguém disposto a corrigir tudo que você diz.

Pode haver pessoas que digam “Ok , já conheci pessoas que estudaram gramática e ainda não
conseguem falar a língua” (pessoa que acha a gramática desnecessária);

Esse argumento não prova nada...

Fato é que a gramática é uma das ferramentas dentre muitas em seu arsenal e não seria bom
ignorá-la completamente. Você pode não pensar na gramática quando está falando, mas ela é
um trampolim, uma orientação que você pode usar para chegar ao ponto no qual você não
precisará mais dela. Se você aprende somente com frases, você precisa estar exposto a todo
tipo de gramática, conjugação de verbos, e uso de vocabulário para internalizá-la
naturalmente. Isso é bom para aprender a sua língua materna como uma criança, mas vai
demorar muito tempo para os adultos que procuram a proficiência em uma segunda língua,
especialmente em um ambiente não-imersivo.

Aliás, você já se perguntou para que serve a gramática, vista por muitos como uma vilã?
Como um idioma é algo comum a todos dentro de uma determinada sociedade, é fácil
enxergar a necessidade de um padrão de linguagem que seja seguido por todos. Visto que o
ser humano é um ser social, que interage com o meio em que vive, imagine a bagunça que
seria se cada habitante ou grupo de habitantes resolvesse adotar o seu próprio padrão de
linguagem. Isso não representaria um grande problema enquanto o indivíduo estivesse dentro
de seu grupo, mas ao interagir com outros, haveria grande confusão.

O site Só Português define bem o que é a gramática:

A Gramática tem como finalidade orientar e regular o uso da língua, estabelecendo um padrão
de escrita e de fala baseado em diversos critérios, tais como:

- Exemplo de bons escritores;

- Lógica;

- Tradição;

- Bom senso.

(…) Por ser um organismo vivo, a língua está sempre evoluindo, o que muitas vezes resulta
num distanciamento entre o que se usa efetivamente e o que fixam as normas. Isso não
justifica, porém, o descaso com a Gramática. Imprecisa ou não, existe uma norma culta, a qual
deve ser conhecida e aplicada por todos.

A gramática pode ajudá-lo a organizar sistematicamente o idioma de tal forma que você possa
aprender novas palavras, expressões e sentenças e rapidamente incorporá-los usando as
mesmas regras que se aplicam a todas as palavras sem ter que encontrá-las uma e outra vez.
As regras são simplesmente um meio para um fim. A gramática também pode ajudá-lo a
quebrar construções que você não entende e fornecer orientações sobre como estruturar suas
próprias sentenças. Não há como negar que há pessoas que conhecem todo o vocabulário que
elas precisam para dizer alguma coisa, mas não conseguem organizá-las, montar uma frase
para expressar o que querem dizer.

É claro que você precisa praticar muito a fala e a audição, mas não há motivos para se impedir
o aprendizado da gramática e aplicá-lo conforme necessário. Eventualmente, com bastante
prática, você chegará a um ponto que não precisará mais pensar na gramática, ela ficará
internalizada em você, mas até então, ela pode ajudá-lo a descobrir como dizer o que quiser.
Claro, pode ser lento, mas é melhor do que não ser capaz de dizer coisa alguma.

Realmente, muitas vezes se gasta muito tempo com gramática nos cursos convencionais,
abordando-se pouquíssimo a conversação como ela é no “mundo real” (mais detalhes na lição
8). Isso é obviamente um problema, mas isso não significa que você não deve aprender nada
de gramática.

Além disso, banir a gramática ou dar pouca importância a ela e considerar somente o
aprendizado de um idioma pela assimilação natural pode acarretar em vícios de linguagem e
erros graves como nós mesmos fazemos em português como, por exemplo, “Para mim fazer” e
“A gente vamos”. São infinitos erros que adquirimos na linguagem falada e mesmo passando
anos na escola, muitas pessoas não conseguem readequar a linguagem. Isso pode ser um
ponto negativo em situações mais formais, como quando a pessoa participa de uma entrevista
de emprego ou faz algum teste escrito. Para ilustrar, leia esta matéria e perceba o que a falta
de contato com o idioma formal pode ocasionar: 529 mil candidatos tiraram zero na redação
do Enem 2014.

Veja como não aprender gramática limita nosso poder de comunicação e também nosso
intelecto, pois estaremos “enclausurados” no linguajar do cotidiano. Em outras palavras, quem
desconhece a norma culta acaba tendo acesso limitado às obras literárias, artigos de jornal,
discursos políticos, obras teóricas e científicas, enfim, a todo um patrimônio cultural
acumulado durante séculos pela humanidade.

Tal como acontece com a maioria das coisas na vida real, a solução correta é usar uma
abordagem equilibrada e prática, isto é, gramática e o processo de ouvir e falar se
complementam e devem ser considerados desde o

básico.

1.1. POR QUE COMEÇAR PELA ESCRITA?

A fim de aprender japonês, o melhor caminho é começar a partir dos caracteres. Talvez
algumas pessoas não concordem com isso, porque se pensarmos na maneira como os bebês
começam a aprender a sua língua materna, eles primeiramente pronunciam palavras, então só
depois começam a aprender a escrita. Mas para os que aprendem japonês como língua
estrangeira, este método é um pouco difícil.
Em primeiro lugar, por que para um não-nativo é muito difícil encontrar toneladas de
vocábulos em seu cotidiano como acontece com os bebês japoneses, a menos que viva no
Japão ou tenha muitos amigos japoneses "conversadores".

Em segundo lugar, por que uma vez que aprendemos a nossa língua materna, torna-se quase
impossível memorizar palavras estrangeiras com sons apenas. Por esta razão, usar todos os
cinco sentidos tanto quanto possível é a forma mais eficaz de obter o que se deseja. Então, por
favor, não use apenas seus ouvidos. Use seus olhos para ver os caracteres. Treine sua boca
para pronunciá-los. Estimule o seu cérebro para imaginá-los mesmo quando você não estiver
estudando. Na rua, no trabalho, enfim, onde quer que seja. Mova sua mão para sentir os
caracteres.

Em terceiro lugar, por que saber os caracteres japoneses (especialmente o Kana), é a mesma
coisa que aprender a pronunciação da língua japonesa.

1.2. A HISTÓRIA DA ESCRITA NA LÍNGUA JAPONESA

Para compreendermos a origem do Hiragana e do Katakana (conhecidos conjuntamente como


“Kana”), precisamos voltar no tempo e entendermos o que são Kanjis. Os Kanjis são um meio
de representar diferentes conceitos materiais e abstratos através de figuras. Tal método de
escrita não é incomum na história humana; basta olhar para os hieróglifos egípcios e você
perceberá que o chinês não é um caso isolado.

Existem várias teorias sobre a forma como os Kanjis foram desenvolvidos, mas nenhuma é
dada como certa. Uma dessas teorias nos diz que há cerca de 5000 a 6000 anos, um
historiador chinês chamado Ts'ang Chieh teve a ideia de criar um modo de expressar
graficamente as coisas, inspirado pelas pegadas de aves em um campo de neve. Outra teoria
diz que os Kanjis foram criados quando Fu Hsi, um dos três imperadores da época, substituiu o
até então existente “método das cordas” pelo “método de caracteres”. Ambas as teorias,
entretanto, podem ser consideradas mais mitos do que fatos históricos confiáveis. O fato
confiável é que os caracteres mais antigos são os que foram introduzidos durante os dias do
vigésimo segundo imperador da Dinastia Shang (Yin) (1700 a.C.- 1100 a.C.) e tratavam-se de
inscrições em ossos de animais e carapaças de tartaruga.

Obviamente, a forma dos ideogramas sofreu alterações ao longo do tempo. No início eram
figuras mais ou menos realistas e com seu uso foram sendo simplificadas. Foi então durante a
Dinastia Han (206 a.C – 211 d.C) que ocorreu a “padronização" dos ideogramas, fato que deu
ao conjunto de caracteres o nome da dinastia vigente. A escrita chinesa passou então a ser
conhecida como a “letra da Dinastia Han” (“Han zi” em chinês). Observe o quadro abaixo que
demonstra a evolução dos ideogramas:
image

Obviamente, os Kanjis não se limitavam a representar conceitos graficamente, mas também a


eles eram atribuídas a pronúncia da respectiva palavra que representava o significado
proposto pelo caractere. Então, podemos dizer que o sistema de Kanjis une representação
gráfica e som de um conceito. Veja a figura abaixo:

image

Até o século IV, o japonês era um idioma apenas falado e não possuía qualquer forma de
expressão escrita. Então, aquele sistema de ideogramas que fora padronizado pouco antes na
China, foi introduzido no Japão por meio de escritos trazidos por monges budistas através da
península coreana, ficando conhecido como “Kanji”. No começo, somente algumas pessoas
cultas eram capazes de ler aqueles ideogramas e tudo o que liam se restringia a tratados do
budismo e da filosofia. Pouco depois, devido à forte relação comercial existente entre os dois
países, um conselho chamado “Fuhito” foi criado pela monarquia japonesa com a tarefa de
aprender a língua chinesa para que pudessem ler os documentos chineses. Somente no século
VI, com o incentivo à difusão do budismo pelo príncipe Shotoku, filho da Imperatriz Suiko, o
conhecimento do Kanji se espalhou pelo país. O sábio coreano Wang I ensinou o Kanji pelo
Japão.

NOTA: alguns pesquisadores defendem a ideia de que já existia um "proto-alfabeto", antes da


adoção dos caracteres chineses, como por exemplo, o “Kamiyo-Moji” (Escrita herdada dos
deuses).

Pode-se dizer que o primeiro sistema de escrita japonesa foi o “kanbun”, que consistia na
realidade em técnicas para adaptar as sentenças chinesas à gramática japonesa através do uso
de sinais diacríticos juntamente com os Kanjis. Isso permitia que os falantes japoneses
interpretassem essas sentenças. Tomemos como exemplo a oração em chinês “Um homem de
Chu estava vendendo escudos e lanças.”:

image

Já que tanto no chinês como no português tem-se o padrão gramatical [sujeito-verbo-objeto],


mesmo com uma tradução literal, a frase é compreensível, com exceção da partícula final “zhe
者” (aquele que, o que), que é um nominalizador que marca uma pausa após um sintagma
nominal.
NOTA: se você ficou em dúvida quanto à definição de “sintagrama”, acesse este link:
http://www.mundoeducacao.com/gramatica/classificacoes-sintagma.htm.

Em japonês, entretanto, seria necessário alterar a disposição dos termos para que a sentença
se encaixe dentro dos padrões da gramática japonesa. Vejamos um exemplo apenas para que
você tenha uma noção básica:

image

Ou, se usássemos números, teríamos:

image

O uso de sinais em escritos chineses foi bom já que a sintaxe chinesa é extremamente
diferente da japonesa. Posteriormente, o Kanji passou a ser usado para escrever palavras
japonesas, dando origem ao sistema que mais tarde será chamado de “Man’yougana” e data
provavelmente do início do século V. O nome Man'yougana vem de “Man'youshuu” (万葉集),
a mais antiga coleção de poemas japoneses, compilada durante o Período Nara (710-794).
Acredita-se que os caracteres que compunham o Man'yougana foram colhidos nesses poemas.

A principal característica do Man'yougana é que ele utilizava um Kanji por seu valor fonético,
em vez de por seu significado, isto é, Kanjis eram escolhidos de acordo apenas com sua
pronúncia para representar determinado som da língua japonesa. Sendo assim, praticamente
formava-se um silabário (Kana) com os Kanjis. Um mesmo som podia ser representado por
numerosos Kanjis, e, na prática, os escritores elegiam aquele com significado mais adequado.
O exemplo mais antigo de Man’yougana é a “espada Inariyama”, que é uma espada de aço
escavada em 1968 no Inariayama Kofun, um túmulo antigo localizado em Gyouda, Saitama.
Acredita-se que esta espada foi confeccionada por volta do ano 471.

Com o decorrer do tempo, o Man'yougana foi evoluindo e dando origem aos dois silabários,
Katakana e o Hiragana. As formas do Hiragana originam-se do estilo cursivo da caligrafia
chinesa (daí o nome “Hiragana”, isto é, “silabário da palma da mão”). A figura abaixo mostra a
origem do Hiragana a partir do estilo cursivo do Man’yougana. Observe:

image
A parte de cima mostra o caractere em seu formato regular, a do meio (em vermelho) mostra
a forma cursiva e a parte de baixo mostra o respectivo Hiragana. Note também que as formas
de escrita cursiva não são estritamente limitadas àquelas da ilustração.

Dado que, como mencionamos, vários Kanjis podiam ter o mesmo som, houve casos em que
um caractere Man'yougana originou um fonema do Hiragana, mas o seu equivalente Katakana
evoluiu de um Kanji Man'yougana diferente. Por exemplo, o Hiragana 「る」 (ru) se
desenvolveu a partir do Man'yougana 「留」, a medida que o Katakana 「ル」 (ru) procede
do Man'yougana 「流」.

Algumas teorias apontam que o Kana foi inventado por um monge budista chamado Kuukai no
século IX. Kuukai certamente introduziu a escrita Siddham em seu retorno da China em 806, e
o seu interesse nos aspectos sagrados da fala e da escrita levou-o a concluir que a língua
japonesa seria melhor representada através de um alfabeto fonético em vez dos Kanji
utilizados até então. O atual Kanamoji (conjunto de Kanas) foi codificado em 1900 e as regras
para o uso, em 1946.

NOTA: Na atualidade, o Man'yougana continua sendo empregado em certos nomes regionais,


especialmente em Kyushu.

Quando o Hiragana foi desenvolvido, em um primeiro momento, não foi aceito por todos, pois
muitos consideravam que a língua culta ainda se restringia ao chinês. Historicamente, no
Japão, a forma regular de escrita dos caracteres (kaisho) era usada pelos homens e chamada
de otokode (男手), literalmente “mãos masculinas”, enquanto que o estilo cursivo (sousho)
era usado pelas mulheres. Por esta razão, o Hiragana se popularizou primeiro entre as
mulheres, haja vista que a elas geralmente não era permitido ter acesso aos mesmos níveis de
educação que os homens. Disso veio a alternativa que ficou conhecida como “onnade” (女手),
literalmente “mãos femininas”. Por exemplo, em “O Conto de Genji” e outros romances mais
recentes à época cujos autores eram do sexo feminino, o Hiragana foi usado extensivamente
ou exclusivamente.

Autores do sexo masculino chegaram a escrever literatura com Hiragana, que por algum
tempo foi usado para a escrita não-oficial, tais como cartas pessoais, enquanto o Katakana e
chinês foram usados para documentos oficiais. Nos tempos modernos, o uso do Hiragana se
misturou com a escrita Katakana, que agora está restrito a usos especiais, tais como palavras
recentemente emprestadas (ou seja, desde o século XIX), nomes de transliteração, os nomes
dos animais, em telegramas, e para dar ênfase (mais detalhes na lição 2).
Originalmente, todas as sílabas eram escritas com mais de um fonema do Hiragana. Em 1900,
o sistema foi simplificado de modo que cada sílaba só tivesse um. O “outro” sistema Hiragana
é conhecido como Hentaigana (変体仮名).

1.3. CONHECENDO OS FONEMAS

O Hiragana é o alfabeto básico da língua japonesa e representa todos os seus sons. Portanto,
teoricamente, você pode escrever tudo em Hiragana. No entanto, como a escrita japonesa é
feita sem nenhum espaço entre as palavras, isto irá criar praticamente um texto indecifrável.
Abaixo, segue uma ilustração com os fonemas e os respectivos sons transcritos em Roomaji.
Note que diferentemente da língua portuguesa, a ordem das vogais em japonês se dá no
padrão -A, -I,- U, -E, - O.

image

A tabela deve ser lida de cima para baixo e da direita para a esquerda, já que a escrita
tradicional japonesa segue esse padrão. Por isso, consideram-se linhas 「ぎょう」 as colunas
verticais, e colunas 「だん」 as linhas horizontais. Tenha em mente também que cada linha e
coluna são nomeadas de acordo com o primeiro fonema nela disposto. Assim, por exemplo:

- a linha na qual estão dispostos os fonemas あ, い, う, え e お é chamada あぎょう (linha


A), pois o fonema que a inicia é あ;

- a coluna na qual estão dispostos os fonemas い, き, し, ち, に, ひ, み e り é chamada いだ


ん (coluna I), pois o fonema que a inicia é い;

- os fonemas que compõem かぎょう são: か, き, く, け e こ;

- os fonemas que compõem えだん são: え, け, せ, て, ね, へ, め e れ.

Guarde estes conceitos, pois serão amplamente utilizados quando tratarmos de verbos (lição
12).
A fim de facilitar o entendimento da pronúncia, dispusemos a tabela de modo que, exceto pelo
「し」、「ち」、「つ」、e 「ん」、o som de cada fonema pode ser compreendido
combinando-se a consoante da linha de cima com a vogal na lateral direita. Por exemplo, 「き
」 será (K) + (I) = / ki /, e 「ゆ」 será (Y) + (U) = / yu /, e assim por diante. Entretanto, não são
todos os sons que funcionam com o sistema de combinação das consoantes. Como escrito na
tabela, 「ち」 é pronunciado "chi" (semelhante a “tia”) e 「つ」 é pronunciado "tsu". Para
ficar mais claro, assista ao vídeo abaixo:

FONTE: programa “Let’s Learn Japanese”

Agora, vamos fazer algumas considerações:

I. Preste atenção na diferença dos sons / tsu / e / su /;

II. O som “H” do japonês tem um som aspirado como nas palavras em Inglês “house” e “help”.
O som “R” do japonês tem som do “R” do português parecido ao das palavras “ouro” e “aura”;

III. O caractere 「ん」 é um caractere especial porque é raramente usado sozinho e não tem
um som vogal. Ele é anexado com outro caractere para adicionar um som nasal / n /. Por
exemplo, 「かん」 seria 'kan' em vez de 'ka'; 「まん」 seria 'man' em vez de 'ma', e assim
por diante;

IV. Por razões históricas que serão expostas na lição 3, o fonema 「を」não é pronunciado
“wo”, mas sim “o” e é usado somente como partícula.

A disposição moderna do Kana reflete aquela da escrita Siddham, e é também usada para fins
de ordem alfabética, isto é, 「あ、い、う、え、お、か、き、く...」 e assim por diante.
Entretanto, nem sempre foi assim: até as reformas da era Meiji no século 19, a disposição dos
fonemas seguia a ordem do “Iroha”, poema japonês escrito durante a era Heian (794–1179) e
famoso por ser um pangrama perfeito, contendo cada caractere do silabário japonês sem
repetições (com exceção do 「ん」, que foi adicionado ao silabário mais tarde). Por isso, era
também usado como ordem alfabética do silabário. Vejamos:
image

O iroha é encontrado ainda ocasionalmente no Japão moderno. Por exemplo, é usado para
numerar assentos em teatros. Na música, o termo “iroha” é usado para nomear as notas
musicais, sendo escrito em Katakana:

image

Apesar de ser o estilo de escrita tradicional, a escrita vertical (たてがき) aos poucos vem
caindo em desuso no dia-a-dia do mundo japonês. Esse fato se deve à influência ocidental e o
advento da tecnologia, com computadores, celulares e etc. Hoje em dia, é mais comum ver
este estilo de escrita em alguns poucos livros, poesias, pensamentos e trabalhos mais
literários. Devido à tecnologia e a influência ocidental, o ministério da educação japonês
adotou o estilo de escrita horizontal (おうぶん) como padrão em livros técnicos ou livros mais
voltados para o ramo educacional.

O Hiragana não é tão difícil de dominar ou de ensinar e, como resultado, há uma variedade de
web sites e programas grátis que já estão disponíveis na rede. Recomendamos que você
procure por esses websites a fim de ouvir a pronúncia de cada caractere e fazer uma
comparação entre a sua pronúncia e os sons para ter certeza que você está aprendendo
corretamente.

1.4. A ENTONAÇÃO

Pode-se afirmar que cada som no Hiragana (e o equivalente em Katakana) corresponde a uma
[vogal] ou [consoante + vogal], com exceção dos fonemas 「ん」 e 「ン」 (no Katakana) e é
pronunciado com igual duração em relação aos outros. Este sistema de som faz com que a
pronúncia dos fonemas seja clara e sem nenhuma ambiguidade. No entanto, a simplicidade
dos sons individualmente não significa que a pronúncia de palavras seja simples. Isso por que
na língua japonesa há o que é conhecido como “acento tonal” (kootei akusento), ou seja, cada
silaba de uma palavra pode ser pronunciada com um tom alto ou baixo.

Apesar de variar muito dependendo do contexto ou do dialeto, existem quatro padrões


básicos de entonação no japonês padrão:
I. ATAMADAKA-GATA (\_): o som começa alto, cai de repente, e então continua descendo.
Como exemplo, vejamos a entonação das palavras 「うみ」 e 「いのち」 que significam
“mar” e “vida” respectivamente:

image

II. NAKADAKA-GATA (/\): o som agudo não está nem na primeira nem na última sílaba. Ele
sobe, atinge o máximo, então cai de repente. Se for uma palavra com duas sílabas, ele cairá na
próxima. Como exemplo, vejamos a entonação das palavras 「あつい」 e 「くだもの」 que
significam “quente” e “fruta” respectivamente:

image

III. ODAKA-GATA (/ ̄ -\-): o som agudo não está na primeira sílaba, mas está nas seguintes.
É alto até atingir um elemento fixo, tal como uma partícula e desce. Como exemplo, vejamos a
entonação das palavras 「はな」 e 「おとこ」 que significam “flor” e “homem”
respectivamente, juntamente com as partículas 「は」 e 「が」:

image

IV. HEIBAN-GATA (/ ̄ ̄): literalmente plano. Se a palavra não tem um acento tônico, a
tonicidade sobe do começo ao fim. Como exemplo, vejamos a entonação das palavras 「むず
かしい」 e 「あらう」 que significam “difícil” e “lavar” respectivamente:

image

----

Estudantes estrangeiros de japonês muitas vezes não são ensinados a pronunciar o acento
tonal, embora isso seja certamente um aspecto crucial na fala japonesa, porque palavras com
o mesmo Kana podem ser distinguidas pelos acentos tonais diferentes. Vejamos o quadro
abaixo que ilustra tal situação:

image

No japonês padrão, substantivos nativos não-compostos são acentuados cerca de 30% das
vezes. Em sua maioria, o acento tônico cai sobre a antepenúltima sílaba, ou sobre a primeira,
em palavras mais curtas. Um número menor de substantivos é acentuado em outras sílabas.
Os Keiyoushi (lição 18) são normalmente acentuados, e sempre na penúltima sílaba.

Seguir um padrão de entonação, especialmente o do japonês padrão, é considerado essencial


em trabalhos como o de radiodifusão. O padrão atual de entonação está presente em
dicionários especiais para falantes nativos, tais como o “Shin Meikai Nihongo Akusento Jiten” e
o “NHK Nihongo Hatsuon Akusento Jiten”, e âncoras de telejornais e outros profissionais que
usam a oratória devem segui-lo.

1.5. O TRAÇADO

Agora que conhecemos os 46 fonemas que compreendem o Hiragana, é essencial que


saibamos como escrevê-los, pois há uma ordem e direção no traçado que devem ser seguidos.
Atentar-se a isso é importante, especialmente para os Kanjis (que veremos na lição 4). Você
entenderá isso quando se deparar com recados apressados de outras pessoas, que com
certeza não parecerão outra coisa, se não um monte de rabiscos. A única coisa que irá ajudá-lo
é que todos escrevem na mesma ordem, e o “fluxo” dos caracteres é consideravelmente
consistente. Portanto, recomendamos que você preste bastante atenção na ordem e direção
dos traços desde o começo para não adquirir maus hábitos.

Primeiramente, é importante memorizar a ordem correta de traçado, isto é, a sequência


correta para se escrever os traços individuais de cada caractere. A regra geral é: deve-se traçar
da esquerda para a direita [→] e de cima para baixo [↓]

image

Outro ponto importante é saber que existem três maneiras de se finalizar um traço:
I. Tome (significa “parada”): você deve trazer o lápis para um fim completo e erguê-lo do papel
no final do traço. Nos exemplos a seguir, o tome é indicado por um ponto colocado perto do
último traço:

image

II. Hane (significa “pulo”): o traço é finalizado com algo parecido com uma cauda curvada. Nos
exemplos abaixo, o hane está indicado por um √:

image

III. Harai (significa “varredura”): é feito levantando-se o lápis gradualmente no final do traço
enquanto sua mão ainda está em movimento. Nos exemplos a seguir, o harai está indicado por
uma seta pontilhada:

image

NOTA: perceba que alguns traços não têm indicadores de finalização. Nestes casos, tanto tome
ou hane podem ser usados.

A tabela seguinte mostra o método para a escrita de cada caracter hiragana. Os números e as
setas indicam a ordem dos traços e o sentido respectivamente:

image

Se preferir, assista ao vídeo abaixo:

Já que estamos falando de traçado, há vários estilos de caligrafia no Japão, mas vamos abordar
aqui os três estilos básicos. Vejamos:
1. Kaisho: literalmente significa "escrita correta". Em outras palavras, este é o estilo em que
cada um dos traços é feito de um modo deliberado e claro, sendo muito semelhante à versão
impressa do caractere que se pode ver num jornal. Esta é a forma que os estudantes de
caligrafia aprendem primeiro, uma vez que está perto dos caracteres cotidianos escritos com
os quais já estão familiarizados;

2. Gyousho: literalmente significa "escrita de viagem" e se refere ao estilo semi-cursivo da


caligrafia japonesa. Como a escrita cursiva em português, este é o estilo que a maioria das
pessoas costuma usar para escrever quando tomam notas, por exemplo. Além disso, as
pessoas de mais idade costumam usar este estilo em seu dia a dia. Tem menos formalidade e
os caracteres possuem uma aparência mais suave, mais arredondada, com os traços
individuais fluindo juntos. Um texto escrito neste estilo geralmente pode ser lido pela maioria
dos japoneses que estudaram;

3. Sousho: é o menos formal dos estilos e significa "escrita da grama", nome que, de acordo
com o mestre calígrafo Eri Takase, refere-se ao domínio de fortes traços verticais que se
assemelham à grama. O objetivo deste estilo é totalmente artístico e altamente abstrato,
permitindo que o calígrafo alcance uma expressão artística completa. Devido a isso, os
japoneses não usam esse estilo para escrever no dia a dia. Na verdade, é tão abstrato que só
pode ser lido geralmente por pessoas treinadas em caligrafia. Aqui, quem escreve raramente
permite que o pincel saia do papel, resultando em uma forma graciosa e arrebatadora.

Agora vejamos um quadro comparativo:

image

Há ainda os estilos Mincho e Ming, que são os estilos normais de imprensa, o Kaku-gótico, que
é utilizado em sinais, publicidade, títulos, etc., o Reisho, que era usado principalmente por
escravos e as pessoas com educação limitada e hoje continua em títulos de jornais e como
uma forma de escultura em pedra, o estilo Koin, que é usado na escrita religiosa e o Tensho,
usado nos carimbos pessoais, de organizações, de empresas, etc. Vejamos:

image

1.6. OS SONS MODIFICADOS


Uma vez que você memorizou todos os caracteres do Hiragana, você acabou de aprender o
alfabeto, mas não todos os sons. Há mais cinco sons consonantais que são possíveis de se
obter de dois modos:

I. Colocando-se duas linhas pequenas parecidas com as aspas no canto superior direito de
alguns fonemas. Tais linhas são chamadas de 「だくてん」;

II. Colocando-se um pequeno circulo no canto superior direito de alguns fonemas. Tal sinal é
chamado de 「はんだくてん」.

Isto essencialmente cria um som modificado da consoante – tecnicamente chamada uma


consoante sonora ou 「にごり」, que literalmente significa “tornar-se lamacento”.

Todas as possíveis combinações dos sons modificados são dadas na tabela abaixo:

image

NOTAS:

1. Os caracteres 「ぢ」 e 「づ」 têm a mesma pronúncia que 「じ」 e 「ず」,


respectivamente. Porém, 「じ」 e 「ず」 são usados com maior frequência;

2. Na transcrição para o Roomaji, 「づ」 é escrito /dzu/ e não /zu/. Com relação aos
caracteres 「ぢ」 e 「じ」, a escrita permanece a mesma, ou seja, /ji/.

1.7. OS 「や」、「ゆ」 E 「よ」 PEQUENOS

É possível também combinar alguns fonemas de いだん com um som / ya / yu / yo /


colocando do seu lado direito um pequeno 「や」、「ゆ」、ou 「よ」. Tal fenômeno é
chamado 「ようおん」:

image
NOTAS:

1. A tabela acima é a mesma que as anteriores. Combine as consoantes de cima com o som da
vogal da direita. Ex: きゃ = kya;

2. Em alguns métodos é possível que se encontre combinações como 「ぢゃ」、「ぢゅ」 e


「ぢょ」. Porém, não são nunca usadas; no lugar é sempre usado 「じゃ」、「じゅ」、e
「じょ」;

3. Note que como 「じ」 é pronunciado / ji /, todos os pequenos sons 「や」、「ゆ」、「


よ」 são também baseados nisso; em outras palavras ficarão / jya / jyu / jyo /;

4. O mesmo se aplica para o 「ち」 que se torna / cha / chu / cho / e 「し」 que se torna /
sha / shu / sho /.

1.8. O 「つ」 PEQUENO

O fonema 「つ」 nem sempre deve ser lido como /tsu/; em certas palavras ele aparece entre
dois caracteres e menor do que eles. Nestes casos, é chamado de 「そくおん」, literalmente
“som oclusivo”.

Mas qual a sua finalidade? Observe o exemplo abaixo:

さっか = escritor

Note que 「つ」 aparece entre os fonemas 「さ」 e 「か」, mas em tamanho menor.
Quando isso ocorrer, ele não deve ser pronunciado. O 「つ」 pequeno tem como principal
finalidade representar uma pausa antes da pronuncia do fonema que o sucede. Na pratica, é
basicamente a pausa que se faz “já com a língua no céu da boca” antes de seguir para uma
nova sílaba.
Dividiremos pronúncia de 「さっか」 em tempos para que você entenda melhor como
funciona essa pequena pausa:

「さ」– 1º tempo;

「っ」– 2º tempo: “comece” a pronunciar o próximo fonema e então faça uma pequena
pausa “já com a língua no céu da boca”;

「か」– 3º tempo: “termine” de pronunciar o fonema que segue o 「つ」 pequeno.

Na transcrição para o Roomaji, o 「そくおん」 é representado pela duplicação da consoante


da sílaba que o precede – por isso também é conhecido como “consoante germinada”.
Observe alguns exemplos:

「さっか」– deve ser romanizado “SAKKA” e não “satsuka” ou “saka”, pois o fonema que
precede o 「そくおん」 é “KA”, logo, a consoante “K” será duplicada;

「はっぱ」– deve ser romanizado “HAPPA” e não “hatsupa” ou “hapa”, pois o fonema que
precede o 「そくおん」 é “PA”, logo, a consoante “P” será duplicada;

NOTAS

1. Preste atenção na pronúncia de palavras nas quais o 「そくおん」 está presente, pois isto
pode alterar o significado de palavras aparentemente iguais. Por exemplo,「もと」 e 「もっ
と」 possuem significados diferentes;

2. Certifique-se que você está fazendo esta parada com a consoante certa (a consoante do
segundo caractere);

3. O 「そくおん」 indica também que uma sentença termina abruptamente, funcionando


como um ponto de exclamação. Por exemplo, 「だまれっ」 (cale a boca!).
1.9. O SOM PROLONGADO

Ufa! Estamos quase terminando. Nesta última parte, veremos o “som prolongado”, que
consiste no prolongamento da duração do som de um caractere. Para tanto, basta colocar 「
あ」、「い」 ou 「う」 dependendo da coluna 「だん」 a que o caractere pertença.
Observe a tabela a seguir:

Como exemplo, vamos criar o som prolongado de 「か」. Para tanto, primeiramente devemos
saber a qual coluna 「か」 pertence:

Agora, sabemos que 「か」 pertence à あだん, portanto, de acordo com a regra, o fonema
que usaremos para estender seu som é 「あ」.

A razão disto é bem simples: tente dizer 「か」 e 「あ」 separadamente. Então fale
sucessivamente e o mais rápido possível. Você logo perceberá que estará estendendo o / ka /
por uma duração mais longa que dizer somente / ka /. Você pode tentar este exercício com as
outras vogais. Tente lembrar, que na verdade, você está pronunciando dois caracteres com
seus limites embaçados. Na verdade, você pode nem estar pensando conscientemente sobre
vogais longas e simplesmente pronunciar as letras juntas rapidamente para conseguir o som
correto. Em particular, enquanto que / ei / pode ser considerado som vogal prolongado, eu
acho que a pronúncia sai bem melhor simplesmente pronunciando / e / e / i /.

NOTAS:

1. Há um número pequeno de palavras em que o prolongamento de fonemas de えだん se dá


através da adição de 「え」 e não 「い」→ おねえさん (irmã mais velha);

2. Por razões históricas, há também um pequeno número de palavras em que o


prolongamento de fonemas de おだん se dá pela adição de 「お」 e não 「う」→ とお
(dez).
É importante você se certificar que a vogal é prolongada o suficiente porque você pode estar
dizendo coisas como “aqui” (ここ) em vez de “Ensino Médio” (こうこう) ou “mulher
de meia-idade” (おばさん) em vez de “avó” (おばあさん) se você não esticar

corretamente!

2.1. O QUE É O KATAKANA?

Como vimos na lição anterior, o Kana originou-se a partir de Kanjis que eram usados
foneticamente, apenas. Entretanto, diferentemente do Hiragana que foi desenvolvido a partir
do estilo cursivo do man'yougana, o Katakana, originou-se de partes dos ideogramas – daí o
nome “Katakana”, isto é, algo como “um pedaço de escrita silábica”. A tabela a seguir mostra o
Kanji que deu origem a cada Katakana:

image

A criação do Katakana foi um resultado da necessidade de se ter um sistema simples com o


qual os monges aprendizes pudessem transcrever e memorizar as sílabas de suas sutras. De
fato, este conjunto altamente modificado de caracteres fez com que o processo de transcrição
de sutras se tornasse menos tedioso. Não somente a transcrição fora simplificada, mas o
conhecimento amplo necessário para a escrita precisa dos Kanjis – que em um primeiro
momento não era ideal para a língua japonesa – foi também evitado. Leia o significado do
vocábulo “estenografia” e você entenderá melhor a origem do Katakana:

ESTENOGRAFIA: técnica de escrita que utiliza caracteres abreviados especiais, permitindo que
se anotem as palavras com a mesma rapidez com que são pronunciadas; taquigrafia,
logografia, pasistenografia. (Dicionário Houaiss)

2.2. CONHECENDO OS FONEMAS

O Katakana representa o mesmo conjunto fonético do Hiragana, porém, é claro, todos os


caracteres são diferentes. Vejamos:

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Ao observar o Katakana Moji, atente-se aos seguintes fatos:

I. Todos os sons são respectivamente idênticos aos do Hiragana;

II. Como você verá mais adiante, já que 「を」 é usado somente como partícula e todas as
partículas estão em Hiragana, você nunca precisará usar 「ヲ」 e, por isso, você poderá ignorá-lo
sem problemas;

III. Preste muita atenção nos quatro caracteres 「シ」、「ン」、「ツ」、e 「ソ」 , pois são
extremamente similares uns aos outros e facilmente confundidos. Basicamente, a diferença é
que os dois primeiros são mais "horizontais" que os outros dois. As pequenas linhas tendem a
ser mais horizontais e a linha longa é desenhada com uma curva de baixo para cima. Os dois
últimos possuem as pequenas linhas quase verticais e a longa não é curvada tanto já que é
desenhada de cima para baixo. É quase uma barra diagonal enquanto o anterior parece mais
com um arco. Estes caracteres são difíceis de distinguir e requerem um pouco de paciência e
prática;

IV. Os caracteres 「ノ」、「メ」、e 「ヌ」 também merecem um pouco de atenção, assim como, 「フ」
、「ワ」、 e 「ウ」. Sim, todos eles são parecidos.

---

O Katakana é expressivamente mais difícil de dominar se comparado ao Hiragana, porque é


usado somente para certas palavras e com isso você acaba por não praticá-lo tanto como o
Hiragana. Também, considerando-se que o japonês não possui nenhum espaço entre palavras,
algumas vezes o símbolo 「・」 é usado para mostrar esses espaços como em 「ロック・アンド・ロー
ル」 para "rock and roll". Usar este símbolo é completamente opcional e, por isso, algumas
vezes, nada será usado.

2.3. O TRAÇADO

Com relação à parte teórica do traçado, o que foi visto no tópico de mesmo assunto na lição 1,
se aplica ao Katakana.
A tabela seguinte mostra o método para a escrita de cada caractere Katakana. Os números e as
setas indicam a ordem dos traços e o sentido respectivamente:

image

Se preferir, assista ao vídeo abaixo:

2.4. O SOM PROLONGADO

Praticamente tudo no silabário Katakana funciona da mesma maneira que no Hiragana, ou


seja, você deverá apenas substituir caracteres Hiragana pelo equivalente Katakana. Porém,
algo que é diferente é o fato que os sons prolongados são radicalmente simplificados aqui. Em
vez de ter que pensar sobre os sons das vogais, todos os sons de vogais longas são indicados
por um traço chamado 「ちょうおんぷ」. Ele é escrito na horizontal (ー) em texto horizontal (おうぶ
ん) e vertical (|) em texto vertical (たてがき).

A tabela seguinte mostra os sons prolongados equivalentes em Hiragana e Katakana usando 「


ハぎょう」 como exemplo:

image

O 「ちょうおんぷ」 é usado algumas vezes com o Hiragana, como por exemplo, em placas de
restaurantes de ramen, nas quais 「らあめん」é escrito 「らーめん」. Entretanto, como você sabe, o
Hiragana normalmente usa outra vogal para o prolongamento de sons em vez do chouonpu.

2.5. OS 「ア、イ、ウ、エ、オ」 PEQUENOS

Por causa das limitações no conjunto de sons do Kana, algumas combinações novas foram
sendo criadas com o passar dos anos para representar os sons que originalmente não faziam
parte da língua japonesa. As mais notáveis limitações são a falta dos sons “ti / di” e “tu / du” –
por causa dos sons “chi” e “tsu” – e a falta do som da consoante“F”, exceto o 「ふ」. Para as
consoantes / sh / j / ch / também falta a vogal / e /.

A decisão para resolver estas deficiências foi adicionar versões pequenas dos sons das cinco
vogais. Isto também foi feito para o som da consoante / w / para substituir caracteres
obsoletos. Foi também estabelecido o uso de pequenas barras duplas no fonema 「ウ」 (ヴ)
juntamente com 「ア、イ、エ、オ」 pequenos para indicar a consoante / v /, mas tal método não é
muito usado, provavelmente devido ao fato de que os japoneses continuam com dificuldades
em pronunciar o / v /. Por exemplo, enquanto você pode achar que "volume" seja pronunciado
com um som de / v /, os japoneses optaram pela simples pronuncia "bolume" (ボリューム).
Da mesma forma, vodka é escrito "wokka" (ウォッカ) e não 「ヴォッカ」. Você pode escrever
“violino” 「バイオリン」 ou 「ヴァイオリン」 (do inglês “violin”). Isso realmente não importa, já que
quase todos os japoneses irão pronunciá-lo com o som de / b / de qualquer forma.

A tabela seguinte mostra em destaque os sons que faltavam e que foram adicionados. Outros
sons que já existiam são utilizados apropriadamente:

image

2.6. O USO DO KATAKANA

Agora que conhecemos o Katakana e suas particulariedades, neste tópico abordaremos o seu
uso concretamente. No japonês moderno, ele é usado basicamente para a transcrição de
palavras de línguas estrangeiras, chamadas “Gairaigo” (mais detalhes na lição 9). Por exemplo,
“televisão” em japonês vem do inglês “television” e é escrito (テレビ). De modo similar, o
Katakana é utilizado geralmente para nomes de países, lugares estrangeiros e nomes não-
japoneses de pessoas. Por exemplo, “Estados Unidos da América” é comumente escrito (アメリ
カ), em vez do uso de ateji (亜米利加) (mais detalhes na lição 4). Outros usos do Katakana
incluem:

I. Onomatopéias: palavras usadas para representar sons. Por exemplo, (ピンポン), o "ding-
dong", som de uma campanhia;

II. Termos técnicos e científicos: palavras como nomes de espécies de animais, plantas e
minerais são também comumente escritas em Katakana. Por exemplo, Homo sapiens (ホモ・サ
ピエンス), como espécie, é escrito (ヒト), em vez de seu Kanji 「人」;
III. Transcrição de nomes de corporações japonesas: este é um uso frequente, mas não
“dogmático”. Por exemplo, “Suzuki” é escrito (スズキ), e Toyota, (トヨタ);

IV. Ênfase: o Katakana é também usado para ênfase, especiamente em sinalizações, anúncios
publicitários e outdoors. Por exemplo, é comum encontrarmos grafias como 「ココ」 (aqui), 「ゴミ
」 (lixo), ou 「メガネ」 (óculos). Palavras que o escritor deseja enfatizar em uma sentença
também são escritas em Katakana, semelhante ao uso de itálico;

V. Documentos formais e funções gramaticais: em documentos oficiais anteriores à Segunda


Grande Guerra, o Katakana e o Kanji eram usados conjuntamente da mesma forma que
Hiragana e Kanji o são no japonês moderno, ou seja, era usado para o okurigana (lição 4) e
partículas, tais como “wa” e “wo”;

VI. Telegramas e Computação: o Katakana também foi utilizado para telegramas no Japão
antes de 1988, e para sistemas de computador – antes da introdução de caracteres multibyte –
na década de 1980. Nesta época, a maioria dos computadores usavam Katakana em vez de
Kanji ou Hiragana;

VII. Palavras chinesas-japonesas: embora as palavras emprestadas do chinês antigo sejam


geralmente escritas em Kanji, palavras oriundas de dialetos chineses modernos que são
emprestadas diretamente, são escritas em Katakana em vez de se usar as leituras On’yomi
(lição 4). Observe o quadro abaixo:

image

A palavra “ramen”, proveniente de empréstimo do chinês e muito comum é escrita em


Katakana como 「ラーメン」 em japonês e raramente é escrita em Kanji (拉麺).

VIII. Indicação de leitura on’yomi: o Katakana é usado para indicar a leitura on’yomi (derivada
do chinês) de um Kanji em um dicionário de caracteres chineses. Por exemplo, o Kanji 「人」
tem uma pronúncia japonesa, escrita em Hiragana como 「ひと」, assim como uma pronúncia
derivada do chinês que é escrita em Katakana como 「ジン」;

IX. Indicação de pronúncia: o Katakana é usado às vezes no lugar do Hiragana como furigana
(lição 4) para mostrar a pronúncia de uma palavra escrita em caracteres romanos, ou de uma
palavra estrangeira, que é escrita em Kanji com base somente em seu significado, mas
destinada a ser pronunciada como a original (Gikun);

X. Modos de fala: algumas vezes, o Katakana também é usado para indicar palavras faladas
com um sotaque estrangeiro ou de forma incomum, por personagens estrangeiros, robôs, etc.
Por exemplo, em um mangá, a fala de um personagem estrangeiro ou um robô pode ser
representada por 「コンニチワ」 (Olá) em vez do mais típico Hiragana 「こんにちは」;

XI. Nomes pessoais: alguns nomes japoneses pessoais são escritos em Katakana. Isto era mais
comum no passado, portanto, as mulheres idosas muitas vezes têm nomes em Katakana;

XII. Atenuação de escrita: é muito comum se escrever em Katakana palavras difíceis de serem
lidas em Kanji. Este fenômeno é visto frequentemente na terminologia médica. Por exemplo,
na palavra 「ひふか」(皮膚科) (dermatologia), o segundo kanji, 「膚」, é considerado difícil de ler
e, assim, este termo é comumente escrito 「皮フ科」 ou 「ヒフ科」, mesclando-se Kanji e
Katakana. Da mesma forma, o Kanji difícil 「癌」 gan ("câncer") muitas vezes é escrito em
Katakana ou Hiragana;

XIII. Notação musical: o Katakana é também utilizado para notações musicais tradicionais,
como no Tozan-ryuu de shakuhachi, e em conjuntos sankyoku com koto, shamisen e
shakuhachi.

2.7. A TRANSCRIÇÃO PARA O KATAKANA

A transcrição para o Katakana de uma palavra estrangeira é baseada em seu som original.
Porém, uma vez que a maioria dessas palavras é ajustada ao conjunto de combinações de
[consonante+vogal], ao serem transcritas, elas sofrem várias transformações radicais,
resultando em casos em que, por exemplo, falantes de inglês não conseguem entender
palavras que supostamente foram derivadas de seu idioma. Observe alguns exemplos:

THANK YOU = サンキュー (sankyuu)

MILK = ミルク (miruku)

TOILET = トイレ (toire)


Como resultado, o uso do Katakana é extremamente difícil para um nativo de outra língua,
porque é natural que ele espera que as “versões” japonesas de palavras possuam sons
parecidos com seu idioma. Portanto, esqueça completamente a palavra estrangeira original e
passe a tratá-la como uma palavra japonesa totalmente separada, senão você pode cair no
hábito de usar palavras estrangeiras com a pronúncia original (consequentemente uma pessoa
japonesa poderá ou não entender o que você está dizendo).

LIÇÃO 3: O USO HISTÓRICO DO KANA

Agora que você conhece os silabários básicos da língua japonesa, vamos tratar de um assunto
que comumente é deixado de lado pelos livros didáticos convencionais, mas que em nossa
opinião é muito importante para entendermos a evolução do idioma.

3.1. A QUESTÃO PRONÚNCIA X ESCRITA

Algo que devemos ter sempre em mente é que com o passar do tempo, a pronúncia muda as
palavras, sendo ela, portanto, uma das maiores influências nas mudanças que ocorrem na
escrita. Dificilmente se escreve como se fala, pois cronologicamente a linguagem caminhou (e
ainda caminha) da fala, para escrita, não o inverso.

No início, o Kana e a pronúncia da língua eram bastante sincronizados, mas inevitavelmente


essa sincronia foi diminuindo ao longo do tempo. Nós discutiremos os motivos que levam à
mudança de pronúncia das palavras na lição 9, mas não se assuste, porque isso é um processo
natural de qualquer idioma, haja vista que uma língua é algo orgânico e não estático.
Pronúncia e escrita sofrem alterações no decorrer das gerações, embora a fala evolua muito
mais rapidamente que a escrita – afinal, mais falamos do que escrevemos, não é mesmo?

Apenas para ilustrar, observe a evolução da palavra “você” em português:

image

Por volta do século XIX o uso do Kana se tornou confuso devido às mudanças na pronúncia e
houve então, uma tentativa de restauração do uso original dos tempos antigos, chamada de
“uso histórico do Kana” (れきしてきかなづかい), também chamada de “uso adequado do Kana” (
せいかなづかい), durante o tempo em que foi empregado. O uso histórico do Kana em sua
grande parte, representava com precisão os sons da língua como era falada no Período Heian
(794 a 1185).

Embora a medida de restaurar a ortografia clássica possa ter sido correta em termos
históricos, vale ressaltar que tal sistema já não condizia com a pronúncia moderna. Vejamos as
características do uso histórico do Kana:

A) KANAS OBSOLETOS OU DE USO RESTRITO: aqui nos referimos a fonemas que antes da
reforma ortográfica eram comuns e que atualmente são obsoletos ou tiveram seu uso
restringido.

I. Os fonemas 「ゐ」 e 「ゑ」, que são obsoletos no uso moderno do Kana, eram comuns no uso
histórico, sendo pronunciados como 「い」 e 「え」 respectivamente:

ゐる → いる (居る)

こゑ → こえ (声)

II. O fonema 「を」 é pronunciado como 「お」 e podia ser usado não apenas como partícula, mas
também em outros tipos de palavras:

をばさん → おばさん

III. Os fonemas 「ぢ」 e 「づ」, pronunciados como 「じ」 e 「ず」respectivamente, eram usados com
mais frequência:

おぢいさん → おじいさん

まづ → まず (先ず)
B) TENKO: fenômeno no qual alguns Kanas, dada uma determinada condição, tinham sons
diferentes de seus originais.

I. Se os fonemas 「は」, 「ひ」, 「ふ」, 「へ」 e 「ほ」 estivessem localizados em qualquer parte de
uma palavra que não fosse o seu início, eram lidos 「わ」, 「い」, 「う」, 「え」, 「お」
respectivamente:

かは → かわ(川)

あひます → あいます

つかふ → つかう

まへ → まえ (前)

おほい → おおい(多い)

II. Sequências de Kana, tais como 「あう」, 「あふ」, 「かう」, 「かふ」, 「さう」, 「さふ」・・・ eram lidas 「
おう」, 「こう」, 「そう」・・・:

あふぎ → おうぎ (扇)

いかう → いこう

さうです → そうです

ありがたう → ありがとう

たふとい → とうとい (尊い)


しなう → しのう

まうす → もうす (申す)

だらう → だろう

ちらう → ちろう

かうかう → こうこう

ざふきん → ぞうきん

III. Sequências de Kana, tais como 「きう」, 「きふ」, 「しう」, 「しふ」, 「ちう」, 「ちふ」・・・ eram lidas 「き
ゅう」, 「しゅう」, 「ちゅう」・・・:

きうり → きゅうり

うつくしう → うつくしゅう

えいきう → えいきゅう

じふじ → じゅう

IV. Sequências de Kana, tais como 「けう」, 「けふ」, 「せう」, 「せふ」, 「てう」, 「てふ」・・・ eram lidas 「
きょう」, 「しょう」, 「ちょう」・・・:

けふ → きょう (今日)
でせう → でしょう

けうしつ → きょうしつ

てふ → ちょう

V. Além dos casos expostos acima, outros tipos de tenko são 「きやう」, 「しやう」, 「ちやう」・・・,
lidos 「きょう」, 「しょう」, 「ちょう」・・・, e 「くわ」, 「ぐわ」 que eram lidos 「か」, 「が」:

きやうだい → きょうだい (兄弟)

たいしやう → たいしょう (大将)

ちやうちやう → ちょうちょう (町長)

くわし → かし (菓子)

マングワ → まんが (漫画)

ゆくわい → ゆかい (愉快)

C) SOKUON E YOUON: letras pequenas geralmente não são utilizadas no uso histórico do Kana.
Portanto, os fonemas grandes 「つ」, 「や」, 「ゆ」, 「よ」nos casos de sokuon e yoon são lidos da
mesma maneira como 「っ」, 「ゃ」, 「ゅ」, 「ょ」:

あつた → あった
ちやんと → ちゃんと

D) OUTROS CASOS: aqui incluímos o caso em que, em escritos antigos, o fonema 「む」
pertencente a um verbo auxiliar é lido 「ん」:

逢はむ → あわん

~せむ → ~せん

ありけむ → ありけん

取りてむ → とりてん

給ひなむ → たまいなん

吹かむとす → ふかんとす

まかりなむずる → まかりなんずる

NOTA: A grafia histórica não deve ser confundida com o hentaigana, kana alternativo que foi
declarado obsoleto com as reformas ortográficas de 1900.

3.2. O ALINHAMENTO DA ESCRITA COM A PRONÚNCIA MODERNA

A imposição do sistema ortográfico clássico naturalmente gerou um fardo sobre os alunos,


resultando em pedidos de reforma. Afinal, imagine a confusão que era pronunciar uma palavra
de um jeito, mas escrevê-la de outro. Baseados no que vimos no tópico anterior, por exemplo,
a leitura (きょう) do Kanji (京) era escrita (きゃう), e a leitura (きょう) do Kanji (轎) era escrita (けう
). Verbos que agora terminam em (う), como (かなう), eram escritos com (ふ), ou seja, (かなふ).
A mudança para o sistema moderno de grafia, ocorrida em 1946, foi feita depois de sessenta
anos de muitos debates que visavam alinhar a escrita com a pronúncia moderna.
Apenas para traçar um paralelo, aqui notamos algo que não ocorreu na língua inglesa, por
exemplo. Nela há uma grande irregularidade no quesito “pronúncia x escrita”, fato que é
atribuído por muitos à ausência de uma autoridade central que pusesse ordem no caos
reinante na língua inglesa após a Conquista Normanda. Durante mais de três séculos, os
dialetos correram soltos, se reproduziram e multiplicaram. O francês dos normandos acabou
sendo substituido pelo inglês, mas a anarquia continuou com o abandono de sempre,
refletindo a total indiferença dos ingleses quanto a questões de coerência na ortografia. Às
vezes as pessoas usavam a grafia de uma região e a pronúncia de outra. É por isso que as
palavras busy (ocupado) e bury (enterrar) são escritas de acordo com o dialeto da região
ocidental da Inglaterra, enquanto a pronúncia da primeira é /bêzi/, típica da região de Londres,
e a da segunda é /berry/, proveniente de Kent.

Houve um processo de padronização da língua inglesa que se iniciou em princípios do século


dezesseis com o advento da litografia, e acabou fixando-se nas presentes formas ao longo do
século dezoito, com a publicação dos dicionários de Samuel Johnson (1755), Thomas Sheridan
(1780) e John Walker (1791). Desde então, a ortografia do inglês mudou em apenas pequenos
detalhes, enquanto que a sua pronúncia sofreu grandes transformações. O resultado disto é
que hoje em dia temos um sistema ortográfico baseado na língua como ela era falada no
século 18, sendo usado para representar a pronúncia da língua no século 20. Acredita-se que
isso se deu devido ao conservadorismo da imprensa que continuava a grafar as palavras no
sistema antigo, não se abrindo às “inovações” da pronúncia do inglês cotidiano. Perceba como
no Japão a corrente conservadora perdeu força neste quesito. Vamos representar este
comparativo através de um gráfico:

01

LIÇÃO 4: KANJI I – CONHECIMENTOS BÁSICOS

Chegou a hora de abordarmos de maneira mais detalhada o Kanji, que é uma das coisas mais
difíceis da língua japonesa. Mas não se desespere, pois dividiremos o assunto em duas lições,
tentando fazer uma abordagem sistemática, a fim de que você passe a encarar o seu
aprendizado não como um fardo, mas sim como um passatempo. Então, prepare-se para esta
aventura que busca desmistificar os temidos Kanji.

4.1. O KANJI NA LÍNGUA JAPONESA ATUALMENTE

Você já sabe que os Kanjis representam conceitos materiais e abstratos e que foram
introduzidos na língua japonesa por meio de escritos trazidos por monges budistas quando
ainda não havia expressão escrita nela. No sistema moderno de escrita japonesa, o Kanji é
usado em conjunto com os silabários Hiragana e Katakana e cerca de 5.000 a 10.000 caracteres
são utilizados.

Na era Meiji durante o século XIX, as reformas significativas inicialmente não tiveram impacto
sobre o sistema de escrita japonesa, no entanto a própria língua foi mudando devido a um
afluxo maciço de novas palavras, tanto emprestadas de outras línguas ou recém-cunhadas, e
também como um resultado de movimentos, tais como o influente「げんぶんいっち」que
resultou que o japonês fosse escrito na forma coloquial da língua em vez da ampla gama de
estilos históricos e clássicos usados até então. A dificuldade da escrita japonesa foi tema de
debate, com várias propostas para que o número de Kanjis em uso fosse limitado. Além disso,
a exposição a textos estrangeiros levou a propostas sem sucesso para que o japonês fosse
totalmente escrito em Kana ou Roomaji. Este período se deparou com as marcas de pontuação
de estilo ocidental sendo introduzidas na escrita japonesa.

Em 1900, o Ministério da Educação sugeriu três reformas destinadas a melhorar o ensino da


escrita japonesa:

I. Padronização do silabário Hiragana, eliminando assim o sistema Hentaigana, até então em


uso;

II. Restrição do número de Kanjis ensinados no ensino fundamental (aproximadamente 1200


caracteres);

III. Reforma da irregular representação por meio do Kana das leituras ON dos Kanjis, para
estarem em conformidade com a pronúncia.

As duas primeiras reformas foram bem aceitas, mas a terceira foi muito contestada,
principalmente pelos conservadores, sendo deixada de lado em 1908. O fracasso parcial das
reformas de 1900, combinado com o aumento do nacionalismo no Japão, impediu de fato uma
reforma significativa do sistema de escrita. Entretanto, devido às inúmeras propostas para a
restrição do número de Kanjis em uso, vários jornais começaram a restringir voluntariamente o
uso de Kanjis e a utilização de furigana aumentou. Porém, sem endosso oficial à tal prática,
houve muita oposição.

No período que sucedeu a Segunda Grande Guerra, houve uma rápida e significativa reforma
do sistema de escrita. Isso foi em parte devido à influência das autoridades de ocupação, mas,
principalmente por causa da remoção dos conservadores do controle do sistema educacional,
o que significava que as revisões anteriormente paralisadas poderiam prosseguir. As principais
reformas foram:

I. O alinhamento do uso do Kana com a pronúncia moderna (げんだいかなづかい), substituindo


o até então uso histórico do Kana;

II. A promulgação da “Touyou Kanji” (当用漢字), lista de Kanjis limitada a 1850 caracteres para
o uso que deveriam ser aprendidos durante os 6 anos do ensino fundamental;

III. A simplificação de alguns Kanjis (しんじたい), fato que deu ao antigo conjunto de caracteres
o nome de “Kyuujitai” (きゅうじたい), isto é, formas obsoletas de Kanjis que eram utilizados
antes da Segunda Grande Guerra. Logicamente, você não deve confundir a simplificação
japonesa com a chinesa, feita em 1949, embora possa haver alguns caracteres semelhantes.
Observe a figura comparativa com alguns exemplos:

image

IV. A promulgação da “Jinmeiyou Kanji” (人名用漢字), lista composta por Kanjis que em
conjunto com o Touyou Kanji podiam ser usados para nomes. Compreende cerca de 2000
caracteres, mas vem sendo atualizada ao longo dos anos pelo Ministério da Justiça.

Além disso, as placas, a prática da escrita, etc, passaram a ser em yokogaki migi (escrita da
esquerda para a direita). Por exemplo, a placa da estação de Tóquio era (駅京東), mas passou
a ser (京東駅). Entretanto, a direção tradicional de escrita ainda é vista do lado direito (ou
estibordo) de veículos, barcos, etc, de modo que o texto é executado a partir da parte
dianteira do veículo para a parte de trás (ou da proa à popa).
Após a criação do Touyou Kanji, ainda existiam muitas palavras que continham caracteres que
não tinham sido colocados na lista. Quando isso acontecia, havia dois procedimentos para
resolver o problema:

1. Mazegaki: procedimento com o qual o Kanji era substituído por seu som equivalente em
Kana:

image

2. Kakikae: procedimento com qual o Kanji era substituído por outro de mesmo som:

image

No ano de 1981, o governo japonês expandiu o Touyou Kanji, dando origem ao “Joyou Kanji
Hyo” (lista dos caracteres chineses para uso diário), que incluía 1945 caracteres regulares e
166 caracteres especiais usados apenas para nomes de pessoas. Essa lista foi revisada no ano
de 2010 e passou a ter 2136 regulares (foram retirados 5 caracteres e incluídos 196).
Documentos do governo, jornais, livros e outras publicações para uso de não especialistas
usam apenas esses Kanjis. Escritores de outros materiais são livres para usar qualquer
ideograma.

Normalmente a grande maioria dos japoneses já sabe Hiragana e Katakana antes de entrar na
escola de ensino fundamental, pois eles acabam aprendendo na escolinha. Entretanto, os
japoneses aprendem Hiragana e Katakana oficialmente no primeiro ano da escola de ensino
fundamental. Logo depois que os alunos aprendem o Kana, eles começam a aprender Kanji.
Para cada série escolar, há um número estabelecido de caracteres que os alunos devem
aprender. Observe a tabela abaixo:

image

Os caracteres aprendidos durante os seis anos da escola primária compreendem o número


mínimo de Kanjis que um japonês deve conhecer, sendo suficientes para ler aproximadamente
90% dos utilizados em um jornal (cerca de 60% com 500 caracteres). Os outros 1130
caracteres, eles aprendem sozinhos e espera-se que ao terminar o colegial, saibam os 2136
Kanjis.

NOTA: os 1006 Kanjis básicos formam a sub-lista do jouyou Kanji chamada “Kyouiku Kanji”.
Os substantivos e radicais de adjetivos e verbos são quase todos escritos com caracteres
chineses. Também os advérbios são escritos em Kanji com bastante frequência. Isso significa
que você precisará aprender os caracteres chineses para ser capaz de ler praticamente quase
todas as palavras do idioma. Porém, nem todas as palavras são escritas em Kanji. Por exemplo,
mesmo que o verbo “fazer” tecnicamente possua um Kanji associado a si, é sempre escrito em
Hiragana. Critérios individuais e um senso de como as coisas são normalmente escritas são
necessários para decidir quando as palavras devem ser escritas em Hiragana ou Kanji. De
qualquer modo, a maioria das palavras em japonês será escrita em Kanji quase sempre (livros
infantis ou qualquer outro material direcionado a um público que não saiba muitos Kanjis são
uma exceção a isso).

A maioria dos Kanjis foi inventada pelos chineses, mas há alguns ideogramas que são de
origem japonesa. Estes são conhecidos no Japão como 「こくじ」 (国字), literalmente "caracteres
nacionais". O termo 「わせいかんじ」 (和制汉字), isto é, "Kanji feitos no Japão" também é usado
para se referir aos kokujis. Por exemplo, o ideograma usado para escrever 「はたらく」 (働く) é de
origem japonesa. Estes ideogramas são formados da maneira usual dos caracteres chineses, ou
seja, através da combinação de componentes existentes, embora utilizando uma combinação
que não é usada na China.

E para finalizar este tópico, há ainda o 「あてじ」 (当て字) que, numa primeira definição, são
composições de ideogramas usadas apenas para valor fonético, não tendo relação com o
significado individual em si dos caracteres. São usadas para representar palavras nativas e
principalmente estrangeiras, sendo análogo ao man'yougana (万葉仮名), que como já vimos,
era o sistema silabário usado na sociedade japonesa pré-moderna. Observe o exemplo abaixo:

- “Sushi” é frequentemente escrito com o ateji 「寿司」. Mas o ideograma 「寿」 significa
"longevidade" e 「司」 significa "administrar", ou seja, nenhum dos caracteres tem algo
relacionado a este prato. Entretanto, são usados para fins fonéticos, haja vista que são
pronunciados “SU” e “SHI” respectivamente.

Numa segunda definição, o termo ateji é também usado para o processo oposto, ou seja,
escrever palavras usando Kanjis em caráter de significado apenas, desconsiderando as leituras
individuais (mais detalhes nos próximos tópicos).

Embora no japonês moderno alguns atejis ainda sejam utilizados, este método de se
representar palavras tornou-se ultrapassado, sendo substituído pelo Kana ou novos
ideogramas.
4.2. AS LEITURAS ON E KUN

Um ideograma chinês pode ter várias pronúncias possíveis (em casos raros, dez ou mais),
dependendo do seu contexto, significado pretendido, uso em compostos, e localização na
frase. Estas pronúncias, ou leituras, são normalmente categorizadas em on'yomi ou kun'yomi
(frequentemente abreviado On e Kun).

1. On’Yomi (音読み): é a leitura original chinesa do caractere na época em que este foi
introduzido no Japão. Note que ela se trata apenas de uma aproximação feita pelos japoneses
devido à limitação da fonética de seu idioma.

Devido à limitação da fonética japonesa, as leituras On eram apenas aproximações do som


original chinês, e com isso também muitas vezes sons chineses parecidos, mas diferentes eram
introduzidos no Japão como sendo um único som. Vamos usar o português, apenas para que
você entenda como se deu mais ou menos esse processo: imagine as palavras “só” e “sol”. São
parecidas no som, mas diferentes. O que os japoneses da época fariam se tivessem que
introduzi-las em sua língua? Eles pensariam: “Ah, como não temos o “l”, “sol” passará a ser
pronunciado “só”’. Então “só” e “sol” que originalmente são palavras distintas e possuem
pronúncias diferentes, no japonês, passam a compartilhar a mesma pronúncia.

Para fins didáticos a leitura ON, é escrita em Katakana.

image

NOTA: obviamente, pelo fato de a leitura On se tratar de uma aproximação da pronúncia


chinesa original, você não deve achar que aprenderá palavras em chinês ao memorizar Kanjis
em algum curso de japonês.

Muitos ideogramas possuem mais de uma leitura On. A quantidade de leituras On para o
mesmo Kanji indica o número de vezes que ele foi reintroduzido no Japão. Em outras palavras,
cada leitura On para o mesmo ideograma veio de diferentes épocas e/ou regiões da China. Isto
aconteceu porque diferentes dinastias assumiram o poder e, como a China era muito grande,
cada dinastia tinha sua própria pronúncia para os vários ideogramas e fazia dela a leitura
oficial durante seu governo. Como naquela época a China era grande e maravilhosa aos olhos
dos japoneses, quando os chineses traziam uma “nova” pronúncia para os Kanjis que todos já
conheciam, os nipônicos tratavam de acrescentá-la ao monte.
Dado o que foi exposto, a leitura On é classificada em quatro tipos:

a) Go'on (呉音): são leituras provenientes da região de Wu, que está nas proximidades da
moderna Shangai, durante os séculos V-VI;

b) Kan'on (漢音): são leituras provenientes da Dinastia Tang nos séculos VII-IX, principalmente
da fala padrão da capital, Chang'an;

c) Tou'on (唐音): são leituras provenientes da pronúncia de dinastias posteriores, como as


dinastias Song e Ming; abrangem todas as leituras adotadas a partir da era Heian ao período
Edo. Também é conhecido como “Tou’sou’on;

d) Kan'you-on (慣用音): são leituras equivocadas dos Kanjis que se tornaram aceitas no
idioma. Em alguns casos, são as leituras reais que acompanharam a introdução do ideograma
no Japão, mas não coincidem com a maneira que ele "deve" ser lido considerando-se as regras
de sua construção e pronúncia.

Por exemplo, os Kanjis seguintes têm uma variedade de leituras nestes sistemas:

image

A forma mais comum de leitura é a “kan’on”. Já a leitura “go’on” é comum especialmente na


terminologia budista como 「ごくらく」 (極楽) que significa "paraíso". A leitura tou’on ocorre em
algumas palavras como 「いす」 (椅子) = “cadeira”.

NOTA: uma vez que os “Kokuji” são direcionados para as palavras nativas, geralmente
possuem apenas leitura Kun.

Naturalmente, as leituras ON são agora bastante distintas da pronúncia do chinês moderno.


Isto é devido a várias razões – empréstimos de diferentes dialetos, adaptação da pronúncia
para ajustar o idioma japonês, e as mudanças em ambos os lados ao longo dos séculos. Mas as
semelhanças são bastante evidentes, uma vez que empréstimos são feitos, e linguistas têm
usado até mesmo a pronúncia japonesa como uma ajuda na reconstrução da antiga pronúncia
chinesa.
2. Kun’Yomi (訓読み): é a leitura da palavra japonesa nativa existente antes da introdução de
caracteres chineses no Japão, que foi anexada ao Kanji com base no significado original do
ideograma. É escrita em Hiragana.

image

Entretanto, há Kanjis cujas leituras Kun a eles atribuídas não refletem o significado original
chinês. Estes não são considerados kokujis, mas são chamados 「こっくん」 (国訓). Observe
alguns exemplos:

image

A leitura Kun é usada para palavras nativas, principalmente em adjetivos e verbos. Nesse caso,
geralmente há uma sequência de Kana (chamada okurigana) que vem anexada aos ideogramas
complementando a pronúncia da palavra e será a parte que sofrerá flexões. Observe o
exemplo:

Como você leria o Kanji em 「食べる」?

Vamos observar as leituras do ideograma em questão:

image

Primeiramente, como 「食べる」 se trata de um verbo, deve-se considerar a leitura Kun. Mas
qual é a correta, haja vista que temos quatro leituras Kun possíveis?

Basta observar o okurigana que acompanha o Kanji. Neste caso é 「べる」, logo, segundo a
tabela acima, a pronúncia correta para o ideograma em questão é 「た」. Esquematizando,
temos:

image
E a leitura dos caracteres chineses permanece mesmo que o verbo esteja conjugado em
diferentes formas:

「食べる」 >>> 「食べた」= 「たべる」 >>> 「たべた」(a leitura para 「食」 continua inalterada)

NOTA: O okurigana também serve para distinguir entre os verbos transitivos e intransitivos
(mais sobre este assunto depois).

4.3. COMO LER OS KANJIS: REGRA BÁSICA (E BEM BÁSICA MESMO)

Como regra geral (mas não dogmática), a leitura Kun é usada para palavras nativas,
principalmente em adjetivos e verbos. Nesse caso, geralmente há uma sequência de Kana
(chamada okurigana) que vem anexada aos ideogramas complementando a pronúncia da
palavra e será a parte que sofrerá flexões. Quando se trata de outras classes de palavras,
geralmente quando um Kanji aparece isoladamente, é usado kun'yomi, enquanto quando dois
ou mais aparecem juntos formado uma composição de Kanjis (じゅくご), para expressar uma
única palavra, é usado on'yomi.

Como exemplo, repare nos Kanji abaixo:

image

Agora, observe-os no exemplo a seguir:

image

Na primeira ocorrência, 「新」 aparece isolado (sem outro Kanji o acompanhando), então, a
pronúncia é “Atara.shii”, lido com o Hiragana que o segue e significa “novo” .

Na segunda ocorrência, 「新」 aparece acompanhado pelo Kanji「聞」, portanto, será usada a
on’yomi de ambos. Desta forma, juntos formam 「しん.ぶん」, que significa “jornal”.

4.4. LEITURAS ESPECIAIS


Ler Kanji requer conhecimento de vocabulário e assimilação. Isso porque, embora seja possível
estabelecer regras gerais para quando usar on'yomi e quando usar kun'yomi, há várias
exceções e nem sempre é possível, mesmo para um falante nativo, saber como ler um
ideograma (ou composição) sem o conhecimento prévio. Nestes casos, as leituras precisam ser
memorizadas individualmente. Para fins meramente didáticos, dividiremos essas leituras
especiais em quatro grupos. Vejamos a seguir.

I. Leituras mescladas: são baseadas nas leituras individuais de cada Kanji, mas não seguem o
padrão descrito no tópico anterior. A seguir, alguns exemplos:

王様 = おう.さま (rei) – on’yomi do primeiro ideograma + kun’yomi do segundo ideograma. Esse


padrão é chamado de 「じゅうばこよみ」 (重箱読み).

手本 = て.ほん (modelo, exemplo) – kun’yomi do primeiro ideograma + on’yomi do segundo


ideograma. Esse padrão é chamado de 「ゆとうよみ」 (湯桶読み).

朝日 = あさ.ひ (manhã) – kun’yomi do primeiro ideograma + kun’yomi do segundo ideograma.

II. Leituras extras: chamada de 「なのり」 (名乗り), é a leitura presente em alguns ideogramas,
geralmente intimamente relacionada com o kun'yomi. É usada principalmente para nomes de
pessoas e, às vezes, para nomes de lugares (quando não se usam leituras únicas não
encontradas em outro lugar). Observe o exemplo abaixo:

image

III. Leituras atribuídas: são leituras que não têm correlação com as pronúncias reais de um
caractere. Porém, leva-se em consideração o seu significado individual e se estabelece uma
nova pronúncia. Dividem-se em dois tipos:

A) Jukujikun (熟字訓): como vimos, ao importar um Kanji, a ele era atribuída a palavra nativa
que correspondia ao seu significado original. Tomando carona neste conceito, Jukujikun é a
leitura nativa aplicada, não a um único Kanji, mas a uma composição fixa de Kanjis adotada
oficialmente para representar uma palavra japonesa. Observe o exemplo abaixo:
Como você leria a composição 「明日」?

Esta composição é usada para representar o conceito “amanhã” na língua chinesa (lembre-se
que os Kanjis expressam conceitos). A palavra japonesa com o mesmo significado é 「あした」 ou
「あす」, e foi aplicada a estes caracteres, já que a leitura Kun individual não resultaria na
palavra com o significado proposto pelos caracteres.

Um ponto muito importante que deve ser considerado é que uma Jukujikun é aplicada
considerando-se a composição como um todo. Portanto, não é possível uma separação do
tipo: 「明」= 「あ」, 「日」= 「す」.

Normalmente as composições em que uma Jukujikun é aplicada, ainda assim podem ser lidas
em suas leituras padrão. Observe:

Como você leria a composição 「今日」?

Pode ser de três maneiras:

1ª. 「こんじつ」 (On’yomi)

2ª. 「こんにち」 (On’yomi)

3ª. 「きょう」 (Jukujikun)

B) Gikun (義訓): é a leitura de um Kanji (ou composição) quando este é usado de maneira
improvisada – e somente dentro de contextos muito específicos – para substituir a grafia
original de uma palavra. Evidentemente, nestes casos, ao Kanji (ou composição) em questão é
atribuída a leitura da palavra que se destina a substituir. Observe os exemplos abaixo:

1) Como você leria a composição 「小宇宙」?


Normalmente lê-se 「しょううちゅう」. Entretanto, se estiver subentendido o animê “Os Cavaleiros
do Zodíaco”, deve-se levar em consideração que esta composição é usada para substituir a
grafia 「コスモ」 que significa, “cosmo”. Portanto, neste caso específico, deve ser lida 「コスモ」 e
não 「しょううちゅう」. Esquematizando, temos:

image

2) Como você leria o ideograma 「寒」?

Normalmente é lido 「かん」 ou 「さむ」, mas dependendo do contexto em que está inserido, é
usado no lugar do ideograma padrão para “inverno” 「冬」. Portanto, deve ser lido 「ふゆ」.

NOTAS:

1. Gikun também aparece em alguns nomes de família japonesa, e como vimos, é amplamente
utilizada em filmes, mangás, jogos e animês para nomes de personagens, golpes, cidades
fictícias, etc...;

2. Acredita-se que muitas das composições lidas em Jukujikun foram inicialmente Gikun;

2. Composições criadas também podem ter Gikun. É o caso do nome original de “Os Cavaleiros
do Zodíaco” (聖闘士星矢), onde 「聖闘士」 é uma combinação de 「聖」 e 「闘士」 e é lido
“Saint” 「セイント」 em vez de 「せいとうし」.

IV. Leituras simplificadas: é a leitura baseada nas leituras individuais dos caracteres, porém
sutilmente alteradas para tornar a pronúncia mais fácil ou fluída. Ocorre basicamente de três
maneiras:

A) Rendaku (連濁): é o fenômeno em que a sílaba inicial do último elemento de uma palavra
composta é vozeada. Ocorre normalmente em substantivos japoneses, mas também é visto
em partículas, tais como 「だけ」,「ばかり」 e 「ぐらい」ou em Kango (lição 9). Observe:
Como você leria a composição 「手紙」?

A leitura Kun de cada caracter é 「手」=「て」 e 「紙」= 「かみ」. Entretanto, não é lida 「てかみ」,
mas sim 「てがみ」.

Mas o que causa o rendaku?

Bem, seria mais fácil reformular a pergunta para: “o que NÃO causa o rendaku?”. E para
respondê-la, vamos recorrer, em um primeiro momento, à Lei de Lyman, que é chamada assim
por que Lyman foi a pessoa que encontrou um padrão de exceções para o fenômeno de
rendaku. Existem casos estranhos em que essa lei é quebrada, mas como essas exceções são
muito poucas, normalmente não há necessidade de um estudo profundo acerca delas. O que a
Lei de Lyman afirma? Vejamos:

“O rendaku não ocorre quando o segundo elemento do composto contém uma obstruinte
vozeada em qualquer posição.”

Primeiramente, devemos definir o que é uma obstruinte vozeada. De uma forma simples, é um
som consonantal (por isso, não uma vogal), que é formado ao se obstruir o fluxo de ar na
garganta. Talvez leve um tempo para você entender isso, mas se você pronunciar vários destes
sons lentamente perceberá que sua garganta tem que fechar um pouco (e obstruir o fluxo de
ar), a fim de que som seja emitido (também fazem uma vibração em sua garganta). Então,
“obstruinte vozeadas” no japonês são sons que possuem o dakuten. Observe os exemplos:

1. 「恋人」= 「こいびと」= amado(a), namorado(a)

A composição acima deveria ser lida 「こいひと」, mas como NÃO possui obstruinte vozeada no
segundo elemento 「ひと」, o rendaku ocorre, ficando 「こいびと」.

2. 「山火事」= 「やまかじ」= incêndio florestal

O segundo elemento da composição acima 「かじ」 POSSUI uma obstruinte vozeada 「じ」.
Portanto, o rendaku não ocorre, devendo ser pronunciada 「やまかじ」 e não 「やまがじ」.
Há algumas exceções, especialmente com a consoante nasal 「ん」 e certos sufixos. O quadro
abaixo mostra exemplos de Lei de Lyman em ação. Observe as exceções que são dadas
também (a coluna “causa” ilustra por que o rendaku é cancelado ou não):

image

Saindo da Lei de Lyman, seguem outros pontos importantes acerca do Rendaku:

I. Quando há um “dvandva”, isto é, objetos que são conectados dando um sentido de [A e B], o
rendaku não ocorre:

image

II. Há palavras que o rendaku ocorre dependendo da restrição de ramificação.

- Se uma palavra tem o seu significado principal presente no segundo elemento (ramificada à
esquerda), o rendaku pode ocorrer:

image

Note que em ambos os casos, o significado principal está no segundo elemento, mas é
restringido pelo primeiro, ou seja, não é de qualquer relógio ou rio que estamos falando, mas
de um relógio relacionado a “despertar” e de um rio relacionado à “montanha”
respectivamente.

- Se uma palavra tem o seu significado principal presente no primeiro elemento (ramificada à
direita), o rendaku não ocorre:

image

Entretanto, há exceções:

image
Nos quatro exemplos, note que o significado principal está no primeiro elemento e o segundo
é que o restringe.

III. Com nomes, a ocorrência do rendaku é bastante aleatória:

image

Embora 「ず」 ou 「じ」sejam mais frequentes, quando o rendaku ocorrer em palavras que
comecem com 「つ」 ou 「ち」, use o hiragana original. Por exemplo, “sangue” é escrito 「ち」,
então, 「鼻血」 deve ser grafado 「はなぢ」 e não 「はなじ」. Entretanto, isto não se aplica quando
o segundo elemento não é considerado um elemento separável que agregue significado.
Nesses casos, deve-se substituir 「づ」 ou 「ぢ」 por 「ず」 ou 「じ」. Por exemplo, na composição 「
稲妻」 o segundo elemento 「妻」 (esposa) não é considerado como um sufixo separável. Por
esta razão, em Kana 「稲妻」 é escrito 「いなずま」 e não 「いなづま」. Outro ponto, é que 「づ」 e 「
ぢ」 não são usados dentro de palavras de uma única parte, a menos que os sons 「ち」 ou 「つ」
estejam dobrados e vozeados. Considere as palavras a seguir:

image

B) Onbin (音便): para entendermos o seu conceito, observe a definição de “eufonia”:

“Eufonia é a sucessão harmoniosa de fonemas pelo encadeamento feliz de sons (vogais) e


articulações (consoantes). No domínio fônico, a eufonia procura evitar sons estranhos,
contrastantes, discordantes ou repetições desagradáveis.”

Em japonês, as mudanças eufônicas (音便) dividem-se em quatro grupos:

I. U-Onbin = é a mudança eufônica em que fonemas são substituídos por 「う」. Ocorre
principalmente com fonemas de いだん e うだん. É raro com fonemas de あだん, えだん e お
だん;
II. I-Onbin = é a mudança eufônica em que fonemas são substituídos por 「い」. Ocorre
principalmente com fonemas de いだん;

III. Hatsu-Onbin = é a mudança eufônica em que fonemas são substituídos pelo fonema nasal 「
ん」. Assim como o U-Onbin, ocorre principalmente com fonemas de いだん e うだん e é raro
com fonemas de あだん, えだん e おだん;

IV. Soku-Onbin = é a mudança eufônica em que fonemas são substituídos pelo sokuon 「っ」.
Assim como o I-Onbin, ocorre principalmente com fonemas de いだん;

Com o termo “Onbin” definido, obeserve o exemplo:

1) Como você leria a composição 「玄人」?

Neste exemplo, deve-se usar a leitura nanori de 「玄」=「くろ」 juntamente com a Kun’yomi de 「
人」=「ひと」. Entretanto, a leitura correta da composição é 「くろうと」. Não se trata, porém, de
um Jukujikun ou Gikun, pois é possível decompor o conjunto, o que resulta nas leituras
individuais dos Kanjis. O que ocorre neste caso é apenas uma “mudança eufônica para u” (U-
Onbin) do que seria 「くろひと」.

---

Em muitos casos as alterações eufônicas envolvem outras mudanças sonoras que fazem parte
do fenômeno em si. Porém, para fins meramente didáticos, chamaremos estas de “alteração
derivada”. Vamos pegar como exemplo a palavra 「なこうど」 e observar a sua origem e evolução
(as partes em negrito destacam as alterações feitas):

「中-人」: なかびと→ なかうど= なこうど「仲人」 (pronúncia e Kanji atuais)

Agora, vamos identificar alterações sofridas:


1) Rendaku: なかひと→ なかびと;

2) Mudança eufônica para u: なかびと→ なかうと;

3) Alteração derivada (como uma consoante vozeada foi retirada, vozea-se a consoante
seguinte): なかうと→ なかうど;

4) Tenko: なかうど→ なこうど

Na língua japonesa as alterações sonoras são muito comuns, mas não existem regras quanto a
isso. Com o tempo, você perceberá que elas costumam ocorrer de acordo com o agrupamento
de fonemas, sendo determinada alteração mais comum (não regra) para um agrupamento
específico. Por exemplo, é comum que o conjunto 「つひ」 seja alterado para 「っぴ」:

Como você leria a composição 「月日」?

Nesta composição deve se empregar a leitura On, ou seja, 「がつひ」. Entretanto, neste caso, o
conjunto de fonemas 「つひ」 é modificado para 「っぴ」, o que resulta em 「がっぴ」.

C) Apofonia: existe outro fenômeno que na linguística é chamado de “apofonia” (também


conhecido como "ablaut", sendo este termo o mais comum na literatura linguística de grande
prestígio). Sem entrar em explicações detalhadas (que serão dadas na lição 9), por enquanto,
importa saber que esse fenômeno diz respeito à mudança de vogal da pronúncia de um Kanji
dentro de uma composição. Por exemplo, a palavra 「まぶた」 que, significa “pálpebra”,
originou-se da composição 「目蓋」, onde 「目」 (め) = olho e 「蓋」(ふた) = cobertura, tampa .
Veja como aqui dois fenômenos ocorreram:

1) Apofonia, onde 「目」 (め) passa a ser pronunciado 「ま」;

2) Rendaku, onde 「蓋」 (ふた) passa a ser pronunciado 「ぶた」.


Sendo assim, o que seria 「めふた」 tornou-se 「まぶた」.

Infelizmente, parece não haver regras claras com relação a quando deve haver apofonia ou
mesmo quais as alterações que devem ser feitas, mas as ocorrências mais comuns são a
alternância de 「えだん」 para 「あだん」 e 「いだん」 para 「うだん」 ou 「おだん」.

NOTA: é importante destacar que as mudanças sonoras apresentadas não se restrigem a um


grupo de palavras, sendo muito comum em verbos, advérbios, adjetivos, etc.

4.5. FURIGANA E KUMIMOJI

Baseados no tópico anterior, podemos dizer que a leitura dos Kanjis é muito ambígua. Apenas
para ilustrar essa dificuldade que até mesmo os nativos podem encontrar na leitura de Kanjis,
em novembro de 2008, a imprensa japonesa noticiou que o Primeiro-Ministro Taro Aso
frequentemente errava as leituras de alguns Kanjis, muitos considerados de uso comum em
seus discursos, questionando assim, sua qualidade como pessoa que ocupa o cargo mais alto
do Japão (leia a matéria aqui).

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Devido aos seus erros, Aso passou a ser comparado com George W. Bush, e rotulado de "Tarō"
uma provocação usada nas escolas para as crianças pouco inteligentes.

Por causa dessa ambiguidade na leitura dos Kanjis, é comum encontrarmos pequenos Kanas,
conhecidos como Furigana (também conhecido como 「ルビ」 ou 「ルビー」 = rubi), escritos acima
dos ideogramas, ou ao seu lado, chamados de Kumimoji, que mostram como devemos
pronunciá-los.

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Tal recurso é usado especialmente em textos para crianças ou alunos estrangeiros e mangá,
como também em jornais para leituras raras ou incomuns e para ideogramas não incluídos no
conjunto de reconhecidos oficialmente.

4.6. O TRAÇADO
Os Kanjis são constituídos de traços, escritos em uma determinada ordem, como o Hiragana e
o Katakana. Antes de aprender as regrinhas de ordem dos traços é uma boa ideia aprender
quais são os traços possíveis de um Kanji:

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Não se preocupe em decorar o nome de cada tipo de traço. Esta seção é apenas para que você
veja que existem tipos diferentes de traços. O que você precisará mesmo saber vem a seguir:

1. Kanjis são escritos da esquerda para a direita:

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2. Kanjis são escritos de cima para baixo:

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3. Traços horizontais normalmente são escritos antes de verticais:

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4. Em caracteres simétricos, comece pelo traço do meio, depois esquerda e então direita:

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5. Traços que envolvem outros traços são escritos primeiro, com exceção da base, que vem
por último:

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6. Um traço diagonal para a esquerda é escrito antes que um traço diagonal para a direita:
image

7. Se uma linha vertical atravessar todo o caractere ela é escrita por último:

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8. Se uma linha horizontal cruzar todo o caractere ela é escrita por último:

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9. Um traço diagonal vem antes do horizontal se for pequeno e depois do horizontal se for
grande:

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Uma coisa que você precisa saber é que essas regras não são absolutas, elas irão funcionar
para a maior parte dos casos, mas não todos. Então fique avisado, se encontrar um Kanji que
não obedeça alguma dessas ordens, não é um erro na regra e sim uma exceção.

LIÇÃO 5: KANJI II – ASPECTOS SOBRE SUA FORMAÇÃO E APRENDIZADO

Na lição anterior você aprendeu sobre a História do Kanji e o que concerne a seu uso, leitura e
traçado. Vamos agora estender esse conhecimento básico adquirido abordando tópicos sobre
sua formação e aprendizado.

5.1. AS CATEGORIAS DE KANJI


Tenha em mente que um ideograma é algo lógico e não um monte de rabiscos aleatórios como
muitos podem pensar. Porém, para que você possa compreendê-lo, esqueça completamente o
nosso tempo atual e considere os elementos da época em que ele foi criado, tais como a vida
cotidiana, cultura, objetos etc., ainda que para nós seja praticamente impossível conhecer tais
elementos a fundo, o que nos possibilitaria entender melhor a sua lógica.

O estudo da etimologia do Kanji já é bem antigo. De fato, o primeiro “dicionário” chinês e o


mais primitivo texto a estudar a origem pictórica dos caracteres chineses é o 「せつもんかいじ」 (
説文解字), e foi escrito no século II d.C. Este "dicionário" estudou a origem pictográfica dos
Kanjis, classificando-os em 6 categorias, conhecidas como 「りきしょ」 (六書). A seguir, vamos
abordá-las:

1. Shoukei Moji (象形文字): também chamados de Kanjis pictográficos, têm sua forma
semelhante àquilo que representam e são os mais primitivos, tendo origem nas figuras de
objetos ou fenômenos. Consequentemente, muitos desses caracteres são substantivos e
frequentemente são usados como componentes para ideogramas mais complexos.
Aproximadamente 3% de todos Kanjis já desenvolvidos na China pertencem a esta categoria.
Observe alguns exemplos:

01

2. Shiji Moji (指事文字): também chamados de Kanjis indicativos, são derivados da primeira
categoria e usam pontos e linhas para expressar conceitos abstratos que não possuem forma
em especial, incluindo a noção de “dentro”, “acima”, “abaixo”, etc...:

02

3. Kaii Moji (会意文字): também chamados de Kanjis ideográficos compostos, são formados
através da combinação de Kanjis pictográficos ou indicativos, a fim de apresentar uma nova e
simples ideia. Os caracteres que são combinados contribuem para a “montagem” de seu
significado final. Daremos exemplos de formações com dois Kanjis, mas é claro que o número
pode variar. Observe:

03

Ao observar esta categoria de Kanjis, podemos ter uma ideia de como os chineses antigos viam
o mundo e de como era a vida cotidiana. No primeiro exemplo, como o trabalho naquela
época era feito no campo, provavelmente era comum que os trabalhadores descansassem
debaixo de árvores. No segundo, podemos deduzir que homem era praticamente sinônimo de
camponês, uma vez que as mulheres ficavam mais em casa cuidando da família, enquanto seus
maridos trabalhavam. No terceiro, consideremos que era muito comum se criar porcos em
casa – assim como se cria cachorros hoje em dia.

4. Keisei Moji (形声文字): também conhecidos como Kanjis fonético-ideográficos, são também
combinações de dois ou mais caracteres simples que apresentam um novo significado. Mas
diferentemente da categoria anterior, um componente é relacionado ao significado do novo
caractere formado, e o outro dá a pronúncia (original chinesa). Os ideogramas desta categoria
são os mais complexos, envolvendo desde os caracteres mais primitivos (relacionados ao
significado apenas) até os que são organizados tanto por sua fonética como por seu
significado. Acredita-se que 90% de todos os Kanjis pertençam a esta categoria. Observe os
Kanjis a seguir para melhor entender o seu conceito:

04

Note que em cada um dos três caracteres, há o radical 「氵」 (mais detalhes acerca dos radicais
no próximo tópico), localizado à esquerda indicando que o significado está relacionado com
“água”, enquanto o componente da direita “empresta” sua pronúncia ao conjunto.

05

Em cada um dos caracteres acima, o componente do lado esquerdo é diferente, por isso, os
significados variam. Mas, perceba que, como todos têm o mesmo componente à direita, todos
possuem a mesma leitura On 「セイ」.

Com estes exemplos, vemos que aprendendo os componentes básicos, torna-se possível
desvendar muitos Kanjis desconhecidos, seja no significado e/ou na leitura On. É claro que
nem sempre é tão simples assim, mas o importante é ter sempre esta linha de raciocínio.

5. Tenchuu Moji (転注文字): também conhecidos como “caracteres derivados”, são Kanjis cuja
pronúncia ou significado foi alterado por empréstimo de um Kanji que representa outro som
ou ideia, dando origem a outro caractere – ou seja, modifica-se um Kanji para originar outro –
para expressar coisas semelhantes ou de mesma natureza. Observe a figura abaixo:

06
Essa mudança se deu pelo fato de que antigamente algumas palavras que não tinham o
mesmo significado passaram a ser grafadas da mesma maneira. Um exemplo disso é 「楽」, que
originalmente significa “música”, mas que passou a significar também seu efeito, o “gozo”, o
“deleite”. Como o sentido não era o mesmo, algumas dessas palavras tiveram a sua escrita
diferenciada. Mas não se preocupe, pois os caracteres que formam esta categoria são raros.

6. Kashaku Moji (仮借文字): também conhecidos como “caracteres tomados emprestados”


são Kanjis que foram usados para representar outra palavra, sem relação alguma com a que
originalmente ele designava, somente por causa de pronúncia igual ou um sentido antigo que
se perdeu completamente. Por exemplo, o caractere 「自」 (zì) originalmente era usado para
“nariz” e passou a ser empregado também para a expressão “si próprio”, pois esta tem a
mesma pronúncia (zì). Atualmente, este é o único significado que ele possui. Outros exemplos
incluem 「四」, 「北」, 「要」, 「少」 e 「永」, que originalmente representavam "muco", "costas",
"cintura", "areia", e "nadar”, respectivamente, mas passaram a ser usados para expressar
"quatro", "norte", "querer", "pouco” e "eternidade".

Nesta categoria percebe-se o uso de uma técnica incomum, pois sempre existiu resistência em
mudar o sentido de um caractere existente. Porém, devido à fragmentação de dialetos na
China (o mandarim é o oficial, mas há outros como o cantonês e dialetos próprios de Taiwan),
havia ocasiões em que um dialeto possuía palavras próprias sem escrita ainda. Então, “pegava-
se emprestado” um caractere de outra palavra que tivesse o som igual. Normalmente, quando
isso ocorria, uma versão levemente alterada do Kanji era criada para o seu lugar. Por exemplo,
atualmente as palavras “nariz”, “muco”, “costas”, “cintura”, “areia” e “nadar” são
representadas com os caracteres levemente alterados, isto é, 「鼻」, 「泗」, 「背」, 「腰」, 「砂」 e 「
泳」.

5.2. OS RADICAIS

Dos primeiros pictogramas foram selecionados 214 para que fossem usados como radicais
para outros caracteres. Radical (Bushu) é um sub-elemento de um Kanji. Todo Kanji possui
radical ou é um radical em si mesmo, no caso dos mais simples. Sua finalidade é expressar a
natureza geral do caractere, isto é, é o componente que dá uma pista sobre a origem, grupo,
significado ou pronúncia. Por isso, em muitos dicionários de Kanji os ideogramas são
organizados por radical.

Os radicais são divididos em sete grupos, de acordo com a sua posição no conjunto. Vejamos
esses grupos e alguns exemplos:
1. Hen: radical que se localiza ao lado esquerdo do conjunto:

07

2. Tsukuri: radical que se localiza ao lado direito do conjunto:

08

3. Kanmuri: radical que se localiza acima do conjunto:

09

4. Ashi: radical que se localiza abaixo do conjunto:

10

5. Tare: radical que cobre os lados esquerdo e superior do conjunto:

11

6. Nyou: radical que cobre os lados esquerdo e baixo do conjunto:

13

7. Kamae: radical que se localiza ao redor do conjunto:

14

-------
Observe novamente os exemplos acima. Percebeu como normalmente a forma de um
caractere é alterada sutilmente quando este funciona como radical para outro caractere? Veja
alguns exemplos:

15

Ao dizer "ki hen", referimo-nos ao "radical árvore", que fica do lado esquerdo. Já "ame
kanmuri" ao radical da chuva, que fica em cima.

Enfim, se você conseguir memorizar todos (ou pelo menos) alguns dos radicais mais
importantes, será capaz de dominar muitos Kanjis.

5.3. COMO APRENDER KANJI?

De fato, dominar os Kanjis não é tarefa fácil, mas isso não significa de forma alguma que seja
impossível. Usaremos Kanjis desde o começo para ajuda-lo a ler japonês "real" o mais rápido
possível. Nestas duas lições, abordamos algumas das propriedades dos ideogramas numa
tentativa de tornar seu aprendizado menos penoso e mais divertido e, dado o que foi exposto,
vamos responder a duas perguntas que devem estar pairando na sua cabeça agora:

1. Se mesmo um nativo pode ter dificuldades em saber como ler determinada composição de
Kanjis, dada a quantidade de possiblidades de leitura e as mudanças sonoras, qual a melhor
maneira de aprender a lê-los?

Realmente, a quantidade de leituras que um único Kanji pode ter e, ainda mais, as possíveis
mudanças sonoras que podem ocorrer em alguns casos, de início, o faria concluir que
aprender as leituras individuais se torna totalmente inútil, porque na prática, ao se deparar
com uma composição desconhecida, você só teria um “poder de suposição” no quesito qual
leitura usar. Para clarificar, suponhamos que você não conheça a composição 「行楽」, mas
conhece as leituras individuais dos Kanjis 「行」e 「楽」. Com isso, a primeira imagem que viria a
sua mente certamente seria esta:

image

Ok, perfeito! Você sabe todas as leituras ON individuais de cada Kanji. Entretanto,
especificamente para esta composição, qual é a combinação de leituras correta? Aí começa o
grande problema! Inevitavelmente, você acaba se vendo diante de um quebra-cabeça no qual
você tem as peças, mas não sabe como encaixá-las...

image

Isso só considerando as leituras ON. Imagine então se esta composição tem uma leitura
mesclada, extra, atribuída, ou ainda tem a pronúncia simplificada? Veja como há muitas, mas
muitas possibilidades...

Como bem aponta Luiz Rafael em seu livro “Desvendando a Língua Japonesa”, “o que faz o
japonês realmente aprender KANJI não é o ensino deles na escola, e sim a convivência em
tempo integral, o uso massivo em praticamente todas as situações do dia-a-dia. Na escola, o
japonês aprende os KANJIS mais pela necessidade de ler textos, copiar conteúdo da lousa
referente a todas as matérias, escrever redações e resolver exercícios, do que pelo ensino
formal do KANJI.”

Esse é o lado ruim da história. Mas há o lado bom: se você memorizar leituras individuais em
grande quantidade vai, inevitavelmente, adquirir um senso de como se dá é a formação das
palavras na língua japonesa. Por exemplo, “por que há uma Sokuon aqui?”. Perguntas assim
podem ser respondidas de uma forma sistemática – lembra-se do que dissemos quando
tratamos de mudanças sonoras?

Também, não aprender as leituras individuais é desvantajoso, porque com o tempo você
perceberá que geralmente uma leitura ON de cada Kanji é usada com mais frequência (estima-
se que em 80-90% das vezes, usa-se apenas uma única leitura On dentre as possíveis para cada
Kanji). Tal afirmativa ganha força ainda mais quando vemos que livros convencionais e
métodos de memorização costumam listar 2 ou no máximo 3 leituras On para cada Kanji!
Sendo assim, geralmente a leitura On # 1, entraria nessa faixa de 80-90% e a leitura # 2
somente seria usada em casos específicos.

Com relação às leituras KUN, aprendê-las individualmente é bom se o Kanji representar uma
palavra por si só. Por exemplo, o Kanji 「力」 tem a leitura KUN 「ちから」, que por si mesmo (sem
necessidade de se completar com o Okurigana) é a palavra para “força”. Veja como o
significado do Kanji, se traduz diretamente em uma palavra inteira que você pode realmente
usar.

Falando em significado, saber o significado individual de um Kanji é certamente muito útil para
palavras e conceitos mais simples. Kanjis, tais como 「続」 ou 「連」 definitivamente vão ajuda-lo
a lembrar de palavras como 「接続」、「連続」、e 「連中」. Em conclusão, não há nada de errado
em aprender o significado de um Kanji e isso é algo que recomendamos.

Bem, agora você deve estar pensando “OK, eu vejo que há os prós e contras em se aprender as
leituras individuais. Mas, ainda assim, não seria muito mais fácil simplesmente assimilar Kanjis
e composições conforme formos nos deparando com eles?

Isso faz muito sentido e talvez seja a opção defendida por muitos, isto é, aprendr Kanji por
meio das PALAVRAS que você for encontrando por aí, e não através de caracteres isolados, a
menos que este seja por si só uma palavra “utilizável”. Afinal, a fim de aprender uma palavra,
você obviamente precisa aprender o significado, a leitura, o traçado dos Kanjis e qualquer
Okurigana, se for o caso. E isso com as ferramentas disponíveis atualmente na internet, torna-
se muito mais prático.

Voltemos à composição 「行楽」. Por enquanto, somente fomos capazes de supor sua leitura e
não chegamos a uma conclusão. Entretanto, se acessarmos o Denshi Jisho, por exemplo, tudo
se resolverá em poucos segundos, sem estresse. Vejamos:

image

E ainda, em “Kanji Details” poderá aprender o significado de cada Kanji, bem como o traçado:

image

image

Bem prático, não é mesmo?

Concluindo, nossa sugestão é que você siga pelo caminho híbrido:

PRIMEIRO: aprenda PALAVRAS e, por meio delas, tudo o que for relacionado aos Kanjis que as
compõem (significado, leituras KUN - se representarem por si mesmo palavras -, e o traçado);
SEGUNDO: com mais tempo e calma, para um estudo mais etimológico e mais avançado,
atente-se às leituras e veja como as palavras foram formadas, bem como as particularidades
de sua pronúncia, se houver.

2. Como memorizar o traçado dos Kanjis, já que existem muitos ideogramas para se aprender?

Lembra-se que no tópico de introdução “Como aprender algo realmente” uma das
ferramentas necessárias para o aprendizado é a “ASSOCIAÇÃO”? Por esta razão, cremos que
algo que lhe será útil para memorizar o traçado dos Kanjis é fazendo uso de uma técnica muito
conhecida e difundida em livros como “Kanjis Mnemonics” e “Remember the Kanji”. Consiste
em dividir os ideogramas em partes e tentar associá-las a figuras do nosso cotidiano. Feito isto,
invente uma história com essas figuras e visualize as imagens em sua mente. Com o tempo
você vai ver que ao observar o caractere oriental, vai logo se lembrar dele. Veja os dois
exemplos abaixo:

口【くち】 (significado: boca): este Kanji é uma figura que lembra uma boca aberta, porém um
pouco quadriculada;

本【ほん】 (significado: raiz, livro): este Kanji é uma árvore e o traço no meio é a terra onde ela
está plantada. Então, abaixo da terra está sua raiz. A raiz de onde brota o conhecimento são os
livros.

Reveja como escrever os Kanjis ao menos uma vez todos os meses até que você tenha certeza
de que tenha aprendido bem. Esta é outra razão pela qual começaremos usando Kanjis. Não
há razão para deixar o imenso trabalho de aprendê-los em um nível avançado. Ao estudar
Kanjis junto com novos vocábulos desde o começo, o imenso trabalho será dividido em
pedaços pequenos e controláveis e o tempo extra ajudará a fixar na memória permanente os
ideogramas aprendidos. Além disso, isto irá ajudá-lo a ampliar seu vocabulário, o qual
geralmente terá combinações de Kanjis que você já conhece. Se você começar a aprender
Kanjis depois, este benefício será desperdiçado ou limitado.

Há também uma grande quantidade de websites e softwares para auxiliá-lo no aprendizado


dos Kanjis. Infelizmente, a maioria dessas fontes está em inglês, ou seja, seria bom que você
soubesse o básico dessa língua para que possa tirar proveito. Vamos citar duas fontes de
estudos de Kanjis – um software gratuito e um website: o JWPce e o Denshi Jisho.

O “JWPce” (http://www.physics.ucla.edu/~grosenth/c_download.html) é um editor de texto e


dicionário no qual você encontra o significado de qualquer Kanji rapidamente entre os
milhares do banco de dados, se souber como procurar. A busca pode ser feita através do
número de traços ou do radical. Observe:

18

O número de traços (strokes) e qual é o radical de um ideograma são as duas informações mais
úteis que você pode ter. Se tiver seu computador do lado, nenhum Kanji desconhecido irá
atrapalhar seus estudos.

Você já aprendeu anteriormente que durante os seis anos da escola primária, os alunos
aprendem os 1006 Kanjis básicos e os outros 1130 nos três anos posteriores. Obviamente, os
Kanjis apresentados na primeira série são mais simples que os Kanjis da sexta série. Esse
método irá seguir exatamente a ordem de aprendizado de um aluno numa escola japonesa.
Podemos concluir, portanto, que os Kanjis são ensinados de acordo com sua simplicidade,
facilidade e importância.

Então, não seria interessante que os Kanjis fossem organizados pelo uso, pelo seu
aparecimento no dia a dia?

No JWPce uma das informações que podem ser obtidas de um Kanji é a sua frequência, ou
seja, o número de vezes que este aparece no dia a dia, em jornais, livros e qualquer fonte
escrita. Observe as figuras abaixo:

19

Podemos notar que o Kanji "dia" 「日」é o mais frequente, ou seja, aparece toda hora, em
todos os lugares. Já o Kanji "explosão" 「爆」, não aparece tantas vezes; existem 734 Kanjis mais
frequentes que ele.

Essa classificação é útil para organizar Kanjis pela sua utilidade. Se você aprender antes os
Kanjis que aparecem mais frequentemente, maior a probabilidade de entender um texto em
japonês.

NOTA: se você deseja filtrar os Kanjis de acordo com a frequência, série de ensino, etc. acesse
o site “KanjiCards” (http://kanjicards.org/). Vá até a opção “Kanji Lists” e você encontrará
filtros muito úteis.
O “Denshi Jisho” (http://jisho.org/) é um dicionário online de japonês com diversas funções.
Na aba “Kanji” é possível efetuar uma busca por Kanjis através de um filtro:

20

Na aba “Kanji by Radicals” é possível fazer a pesquisa por radicais:

21

E ao clicar em algum Kanji, é possível visualizar diversas informações, tais como frequência e
número de traços:

22

E se você gostaria de ter acesso a algo que lhe mostrasse o traçado de forma animada, o Draw
Me a Kanji é o lugar certo. Basta inserir uma palavra ou mesmo uma sentença para ter o
traçado de cada Kana e/ou Kanji feito na sua frente!

clip_image002

Basicamente é isso. Essas informações têm como objetivo facilitar seus estudos,
principalmente se estiver programas de flashcards e dicionários de Kanjis, o que é
extremamente recomendado!

5.4. PORQUE OS JAPONESES AINDA USAM O KANJI?

Algumas pessoas podem achar que utilizar um sistema baseado em símbolos, em vez de um
alfabeto sensível, é ultrapassado e muito complicado. Outros podem achar que se deveria
alterar o sistema de escrita japonesa para o Roomaji (lição 6) a fim de exterminar todos os
caracteres complicados que muitas vezes desorientam os estrangeiros. De fato, durante a Era
Meiji (1868-1912), houve um movimento entre alguns estudiosos que defendiam a abolição do
sistema tradicional de escrita e a utilização do Roomaji. Mas, por que isso não deu certo, se os
coreanos, por exemplo, adotaram com grande sucesso seu próprio alfabeto (o Hangul) para
simplificar eficazmente sua linguagem escrita?
Qualquer um que tenha vasta experiência na escrita japonesa é capaz de explicar o porquê
disso não ter dado certo: em qualquer momento, ao efetuarmos a transcrição de uma palavra
escrita em Kanji para o Hiragana (ou mesmo Roomaji), muitas vezes deparamo-nos com pelo
menos duas palavras homófonas e, às vezes, até mais de dez. Para ilustrar, procure no
dicionário o significado da palavra “kikan” e você se deparará com pelo menos 50 vocábulos
com significados diferentes!

No Kana existem poucos caracteres e entre eles não há praticamente nenhuma interação, isto
é, não é possível combinar dois ou mais para formar um novo som, como as letras combinadas
que formam sílabas diferentes em português, tornando possível a diferenciação de palavras
homofonas. Observe:

CESTA / SEXTA, SEÇÃO / SESSÃO, CONCERTO / CONSERTO...

Como resultado, o número de sons possíveis de serem reproduzidos graficamente com o Kana
é muito limitado. Se escrevêssemos “kikan” em Hiragana, a única coisa que teríamos é きかん,
きかん, きかん, きかん, きかん...

Como seria possível diferenciar as palavras dentro de um texto, já que seus sons são idênticos?
Fica claro, portanto, que tanto os 46 fonemas do sistema Kana como o sistema Roomaji, não
são capazes de diferenciar as palavras homófonas, mesmo graficamente.

Agora, façamos uma comparação com o Hangul: ele possui 14 consoantes e 10 vogais.
Qualquer uma das consoantes pode ser combinada com as vogais dando um total de 140 sons.
Além disso, uma terceira e algumas vezes até mesmo uma quarta consoante pode ser anexada
para se criar uma única letra. Teoricamente isto nos dá cerca de 1960 sons que podem ser
criados (os sons que são usados na realidade são muito menos que isto).

Você percebe a diferença entre quantidade de sons possíveis do sistema coreano de escrita e o
número limitado de sons que tanto o Kana e o Romaji são capazes de produzir graficamente? A
partir daí, é que começamos a perceber a grande importância que os ideogramas chineses têm
na escrita japonesa.

Considerando-se que a velocidade de leitura costuma ser maior do que a de fala, são
necessárias algumas pistas visuais para que seja possível identificar instantaneamente cada
palavra – tal como ela é – dentro de um texto. Em português, somos capazes de distinguir as
palavras porque a maioria delas possui formas diferentes quanto à grafia. Na língua coreana
ocorre a mesma coisa, pois há caracteres o suficiente para criar palavras distintas e de formas
diferentes. Voltemos ao exemplo da palavra “Kikan”, usando três significados possíveis, agora
escritas com Kanji:

23

Perceba como, apesar de as três palavras serem homófonas, com o uso dos Kanjis somos
capazes de diferenciá-las, pois são grafadas de forma distinta. Sem os ideogramas chineses,
mesmo que separássemos as palavras, as ambiguidades e a falta de pistas visuais forçariam o
leitor a parar freqüentemente sua leitura para tentar adivinhar, pelo contexto, qual palavra
está sendo usada, tornando assim, o texto muito mais difícil e incômodo de ler.

Enfim, pode não ter sido uma boa ideia ter adotado o chinês no idioma japonês, haja vista que
ambas as línguas são fundamentalmente diferentes na estrutura. O nosso propósito, por
enquanto, não é debater sobre as decisões tomadas há milhares de anos ou quais podem (ou
poderiam) ser as alternativas possíveis, e sim explicar o motivo pelo qual você precisa
aprender Kanji, a fim de aprender japonês. Em outras palavras, queremos dizer que “se assim
foi feito, vamos nos esforçar para aprender deste jeito”.

LIÇÃO 6: ROOMAJI

Ufa! Depois de duas lições seguidas a respeito dos Kanji, vamos abordar agora o último meio
de expressão escrita da língua japonesa: o Roomaji, que com certeza será bem mais fácil de
aprender.

6.1. O QUE É O ROOMAJI?

Como você viu nas cinco primeiras lições, o método usual de escrever o idioma japonês, usado
pelos nativos em si, é uma mistura de Kanji, os caracteres chineses, e o Kana, os caracteres
nativos que representam os sons da língua japonesa. Viu também que é possível escrever
japonês completamente em Kana, embora isso raramente aconteça na prática.

O Roomaji (ローマ字), literalmente “letra romana”, é a aplicação do alfabeto latino para


escrever o idioma japonês. Este método foi inventado por Yajiro (ou Anjiro) no século XVI e foi
baseado na ortografia da língua portuguesa vigente da época.
Yajiro nasceu em Satsuma e pertencia às classes mais baixas dos samurais. Depois de cometer
um assassinato, ele foge para a província de Goa na Índia, onde conhece São Francisco Xavier
(1506-1552) e converte-se ao cristianismo. Retorna, então, ao Japão como um intérprete junto
aos missionários jesuítas portugueses, já que sua visão única sobre os caminhos do Japão, fez
com que despertasse o interesse dos missionários em Goa. Mais tarde, passa a ser conhecido
como “Paulo de Santa Fé”.

O emprego do Roomaji por parte dos jesuítas em uma série de livros católicos impressos
possibilitou que os missionários pudessem pregar e ensinar seus convertidos sem aprender a
ler a escrita japonesa, já que isso era considerada uma grande barreira. Após a expulsão de
cristãos do Japão no início do século XVII, o Roomaji caiu em desuso, e era apenas usado
esporadicamente em textos estrangeiros até meados do século XIX, quando o Japão se abriu
novamente.

Os sistemas utilizados atualmente foram todos desenvolvidos na segunda metade do século


XIX. Há três métodos principais de romanização: Sistema Hepburn, Sistema Nippon e Sistema
Kunrei.

No cotidiano, o Roomaji pode ser usado para escrever números e abreviaturas. Ele também é
usado em dicionários e livros para estudantes estrangeiros de japonês. Para digitar em japonês
nos computadores, a maioria das pessoas, sejam nativos ou não, usam Roomaji, que é
convertido em Kanji, Hiragana, ou Katakana pelo software de entrada. Também é possível
digitar em Hiragana ou Katakana se você tiver um teclado em japonês, mas poucas pessoas
estão familiarizadas com este método.

6.2. O SISTEMA HEPBURN

Em 1885, o Roomajikai (ローマ字会), grupo de japoneses e estrangeiros que estavam


interessados em desenvolver e promover a romanização da língua japonesa no lugar da
combinação de Kanji e Kana, foi instituido. Um de seus membros, o Dr. James Hepburn (1815-
1911), um médico e missionário americano da Filadélfia, utilizou o sistema do Roomajikai em
seu dicionário japonês-inglês. Apesar de ser seu co-criador, o sistema de romanização levou
seu nome: “Sistema Hepburn” (ヘボン式/). A principal característica deste sistema é que a sua
ortografia baseia-se na fonologia da língua inglesa. Há muitas variantes do sistema Hepburn,
mas há três estilos padrão:

I. Hepburn Tradicional: assim definido em várias edições do dicionário de Hepburn, cuja


terceira edição (1886) é frequentemente considerada de sua autoria;
II. Hepburn Revisado: é uma versão revisada do Hepburn Tradicional e foi adotada pela
Biblioteca do Congresso americano como um de seus ALA-LC, conjunto de padrões de
romanização. É atualmente a versão mais comum desse sistema;

III. Hepburn Modificado: este estilo foi introduzido na terceira edição do “Kenkyusha's New
Japanese-English Dictionary” (1954) e ainda é predominantemente conservado pelos
linguísticos.

NOTA: o termo “Hepburn modificado” pode ser utilizado para se referir ao “Hepburn
revisado”.

Agora, vamos comparar as três versões:

A) VOGAIS: nestes três estilos, algumas combinações de vogais merecem atenção. Vejamos:

I. Vogal Dupla A:

- No sistema Ttradicional, a vogal dupla “A”, é sempre escrita “AA”:

まあたらしい = MAATARASHII

おばあさん = OBAA-SAN

- Nos outros dois estilos, entretanto, é escrita “AA” somente se o segundo “A” pertencer à
outra palavra em um termo composto:

真新しい = 真 + 新しい → ま + あたらしい = MAATARASHII

- Em outros casos, é escrita com um macro:

おばあさん = OBĀSAN
II. Vogal Dupla I:

- A vogal dupla “I”, é sempre escrita “II” nos três estilos:

おにいさん = ONIISAN

III. Vogal Dupla U:

- A vogal dupla “U” é escrita “UU” se o segundo “U” pertencer à outra palavra em um termo
composto ou for a terminação de um verbo:

ぬう = NUU

- em outros casos, é escrita com um macro:

すうがく = SŪGAKU

IV. Vogal Dupla E:

- Nos três estilos, a vogal dupla “E” é escrita “EE” se o segundo “E” pertencer à outra palavra
em um termo composto:

濡れ縁 = 濡れ + 縁 → ぬれ + えん = NUREEN

- Em outros casos, no estilo tradicional é escrito “E” ou “EE”, e no revisado, com o macro:

おねえさん = ONEESAN (Tradicional)

おねえさん = ONĒSAN (Revisado)


V. Vogal Dupla O:

- Nos estilos Tradicional e Revisado, a vogal dupla “O” é escrita “OO” se o segundo “O”
pertencer à outra palavra em um termo composto:

小躍り= 小 + 躍り→ こお + どり= KOODORI

- Em outros casos é escrita com o macro:

おおさか = ŌSAKA

VI. Combinação O + U:

- Nos estilos Tradicional e Revisado, a combinação “O + U” é escrita “OU” se o “U” pertencer à


outra palavra em um termo composto ou terminação verbal:

子馬 = 子 + 馬 →こ + うま= KOUMA

おう = OU

- Em outros casos é escrita com o macro acima do “O”:

とうきょう = TŌKYŌ

VII. Combinação E + I:

- Nos estilos Tradicional e Revisado, a combinação “E + I” é escrita “EI”:

がくせい = GAKUSEI
NOTAS:

1. Todos os demais agrupamentos com som de vogal são escritos com cada som
individualmente. Por exemplo, かるい = KARUI;

2. No Hepburn Modificado, todas as vogais longas são indicadas duplicando-se a vogal. Por
exemplo, “O” longo é "OO". "EI" só é usado quando as duas vogais têm sons distintos;

3. Para palavras emprestadas todas as vogais são alongadas com macros. Além disso, variações
comuns existem para O + U. Essas variantes incluem "oh", "o", "ou", "oo" e "ô".

B) PARTÍCULAS:

01

C) SOM NASAL: no Sistema Hepburn tradicional, 「ン・ん」 são transcritos como [M] antes de
sons de B, P ou M. Quando aparecem antes de uma vogal ou som de Y não contraído, são
separados por um hífen:

しんばし = SHIMBASHI

ぐんま = GUMMA

じゅんいちろう = JUN-ICHIROU

しんよう = SHIN-YOU

きにゅう = KINYUU
No Sistema Hepburn Revisado, o [M] é substituído por [N] , e um apóstrofo é usado com ele
em vez do hífen para separá-lo de um som de vogal ou som de Y não contraído:

しんばし = SHINBASHI

ぐんま = GUNMA

じゅんいちろう = JUN’ICHIRŌ

しんよう = SHIN’YŌ

きにゅう = KINY Ū

No Sistema Hepburn Modificado, sempre é usado “n” com um macro (n̄ ), da mesma forma que
é usado para indicar vogais longas no Hepburn Revisado:

ぐんま = GU NN̄̄̄̄ MA

しんばし = SHINN̄̄̄̄ BASHI

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No Japão, apesar de o Sistema Hepburn não ser o padrão por lei, permanece como o padrão
de fato. Considerando-se algumas variantes dominantes para cada caso, podemos dizer que
praticamente todas as indicações oficiais (placas de ruas, avisos, informações, etc.) são
romanizadas pelo sistema Hepburn. A Japan Railways e todos os outros sistemas de transporte
(ônibus, metrô, outras companhias férreas, companhias aéreas, etc.) utilizam o sistema
Hepburn. Ainda, placas e informações em prefeituras, delegacias de polícia, templos, pontos
turísticos, jornais, canais de televisão, publicações do Ministério das Relações Exteriores e
guias também utilizam o sistema Hepburn. Por fim, estudantes estrangeiros da língua japonesa
quase sempre aprendem o sistema Hepburn.

6.3. O SISTEMA NIPPON


O Sistema Nippon foi inventado pelo professor de física da Universidade de Tóquio Aikitsu
Tanakadate em 1885, sendo posterior ao Sistema Hepburn. A intenção de Tanakadate era
substituir completamente o sistema tradicional de escrita japonesa baseado no Kanji e Kana
por um sistema romanizado, pois ele acreditava que isso poderia tornar mais fácil a
competição do povo japonês com os países ocidentais. Na época, vários textos japoneses
foram publicados totalmente em roomaji, entretanto, não se conseguiu implementar a ideia,
talvez devido ao grande número de homófonas que existem no japonês.

Já que o Sistema Nippon foi criado para que os japoneses escrevessem sua própria língua,
segue a fonética japonesa e a ordem silábica rigidamente e é, portanto, o único grande
sistema de romanização que permite a transcrição literal (sem perdas) de e para Kana. É
provavelmente o menos usado dos três sistemas principais.

Comparemos a seguir as diferenças entre os sistemas Hepburn Revisado e Nippon:

02

Note como o Sistema Nippon é mais consistente foneticamente do que o Sistema Hepburn,
que é mais intuitivo para os falantes da língua portuguesa, no que diz respeito à pronúncia
real.

Outras particularidades são:

1. Quando 「へ」é usado como partícula, é escrito “he” e não “e”;

2. Quando 「は」é usado como partícula, é escrito “ha” e não “wa”;

3. Quando 「を」é usado como partícula, é escrito “wo” e não “o”;

4. Vogais longas são indicadas por um sinal de circunflexo, em vez do macro. Por exemplo, “O”
longo é escrito “ô”, ao contrário de Hepburn, que utiliza um macro – “ō”;

5. O som nasal 「ん」é escrito como [n] antes de sons de consoantes, mas como [n'] antes de
sons de vogais e Y.
6. Em consoantes geminadas, dobra-se a consoante seguinte ao sokuon, sem exceção.

6.4. O SISTEMA KUNREI

No período anterior à Segunda Grande Guerra, houve um conflito político entre partidários de
romanização Hepburn e simpatizantes do Sistema Nippon. Em 1930, uma banca examinadora,
sob assistência do Ministério da Educação, foi criada para determinar qual seria o sistema de
romanização adequado. O governo japonês, por ordem do gabinete [「くんれい」(訓令)]
anunciou em 21 de setembro de 1937 que uma forma modificada do sistema Nippon seria
adotada oficialmente. A forma daquela época um pouco diferente a forma moderna.
Originalmente, este sistema foi chamado de “Estilo Kokutei” (国定式), isto é, "oficialmente
autorizado" pelo gabinete japonês.

Durante o período pós-guerra, vários educadores e estudiosos tentaram introduzir o Roomaji


como um dispositivo de ensino e como uma possibilidade de ser uma substituição para o Kanji.
No entanto, o Sistema Kokutei tinha associações com o militarismo japonês e as forças de
ocupação dos Estados Unidos estavam relutantes em promovê-lo. Em 9 de dezembro de 1954,
a partir de um pronunciamento do governo japonês, tal sistema de romanização foi
reafirmado como sendo o oficial do Japão para todas as situações e teve seu nome alterado
para “Sistema Kunrei” (訓令式).

Às vezes o Sistema Kunrei é citado como “Sistema Monbushō”. Tal nomenclatura veio à tona
depois que o Monbukagakushō (Ministério da Educação, Cultura, Esporte e Tecnologia),
acrescentou o seu aprendizado no currículo escolar, sendo ensinado às crianças japonesas no
4º ano.

Tecnicamente falando, o Sistema Kunrei é uma versão do Sistema Nippon ligeiramente


alterada que elimina as diferenças entre a silábica do Kana e a pronúncia moderna. Vejamos as
diferenças entre o Sistema Nippon e o Sistema Kunrei:

03

Outras particularidades são:

1. Quando「へ」é usado como partícula, é escrito “e” e não “he”;


2. Quando 「は」é usado como partícula, é escrito “wa” e não “ha”;

3. Quando 「を」é usado como partícula, é escrito “o” e não “wo”;

Atualmente, os principais usuários do Sistema Kunrei são falantes nativos de japonês


(especialmente no Japão) e linguísticos que estudam japonês. Isso por que, apesar de seu
reconhecimento oficial, o Sistema Kunrei não ganhou ampla aceitação dentro ou fora do
Japão. Como mencionado anteriormente, o governo japonês geralmente usa o Sistema
Hepburn, incluindo a romanização dos nomes japoneses nos passaportes, sinalização
rodoviária e sinalização ferroviária. A grande maioria das publicações ocidentais e de todos os
jornais de língua portuguesa também continua a usar o Sistema Hepburn.

Observe a seguir, o quadro no qual comparamos os três métodos principais de romanização:

04

6.5. OUTROS SISTEMAS DE ROMANIZAÇÃO

Além dos três sistemas de romanização mais conhecidos, existem outros menos conhecidos.
Vejamos:

I. Nippo Jisho: o Nippo Jisho (日葡辞書) ou "Vocabvlario da lingoa de Iapam" foi um dicionário
japonês-português publicado em 1603. O Kanji 「葡」aqui representa Portugal. Três ou quatro
cópias do dicionário original ainda existem. A tabela a seguir mostra a romanização do japonês
utilizado nele:

05

II. JSL: o JSL é o sistema de romanização usado na série de livros didáticos "Japanese: the
Spoken Language", de Eleanor Harz Jorden. Ele é baseado no formato do Sistema Kunrei, com
a diferença que as vogais longas são escritas pela sua duplicação, como "oo" ou "uu", ao invés
do uso de macros ou sinais circunflexos, e a adição de informações sobre o acento tonal,
usando acentos agudos, graves e circunflexos. A romanização JSL é destinada para ensino da
língua e de seu estudo;
III. Sistema 99 (99 式): foi criado pela “Sociedade para a Romanização do Alfabeto Japonês” (
社団法人日本ローマ字会) e é uma forma de romanização desenvolvida a partir de uma visão
de que o roomaji é uma forma de transliteração em vez de uma ortografia estrita. Como tal,
permite a romanização de formas variantes do Kana que atualmente não têm uma forma
romanizada. Ele não usa nem circunflexos nem macros;

IV. Romanização Easy-to-read: na prática, a romanização mais usada no Japão é uma variante
sem nome do Sistema Hepburn, por vezes descrita como romanização “Easy-to-read” (fácil de
ler). Nesta forma de romanização, vogais longas e a consoante nasal (ん) simplesmente não são
indicadas. Este tipo de romanização é usado em estações de trem para indicar os nomes das
estações, e é a forma de romanização que nos dá, por exemplo, “Tokyo” e “Kyoto” para as
cidades japonesas.

LIÇÃO 7: OS SINAIS DE PONTUAÇÃO

Já aprendemos sobre os quatro meios que existem para escrever na língua japonesa. Mas
ainda não sairemos da escrita. Falta ainda aprender os sinais de pontuação. Bons estudos!

7.1. INTRODUÇÃO

Um texto (文章) é constituído de sentenças (文), que formam paragráfos (文章). Como você já
deve saber, em japonês as palavras não são separadas por espaços, entretanto, a pontuação (
やくもの) é variada e muito parecida com o português. Isso porque a maior parte dos sinais de
pontuação foi adotada a partir da cultura ocidental.

7.2. SINAIS BÁSICOS USADOS NA ESCRITA

Ø Supeesu (スペース): o espaço pode ser utilizado somente em textos em Kana para separar
frases a fim de evitar confusão. É visto antes do início de um novo parágrafo, semelhante a
uma tabulação. Os espaços são colocados depois dos sinais de pontuação não-japoneses,
como um ponto de exclamação. Espaços também podem estar entre nomes e coisas em um
endereço ou título:

何? [Continuação da sentença] 。= O quê? [Continuação da sentença].

大和銀行 大阪支店 = Banco Yamato, filial de Osaka

藤原 恵子 = Keiko Fujiwara

Ø Kuten/Maru (句点・円) (。): mostra o final de uma frase. Também pode ser usado
coloquialmente no final de um título;

Ø Nakaguro (中黒) (・): pode justapor itens semelhantes, agir como um decimal e separar
palavras conjuntas estrangeiras, títulos, nomes e posições. É chamado também de nakaten (中
点), nakapochi (中ぽち), nakapotsu (中ぽつ) e kuromaru (黒丸).

3・78 = 3,78 (três ponto setenta e oito)

ヒラリー・クリントン = Hillary Clinton

全銀協会長・永易克典 = Chefe da Associação dos Banqueiros do Japão, Katsunori Nagayasu

東京・大阪 = Tóquio-Osaka

Ø Touten (読点) (、): é usada a critério do autor para uma série de coisas. Seu uso principal é
mostrar uma pausa. Pode também mostrar a separação de números. Quando horizontal, a
vírgula pode ser vista como (,);
Ø Koron (コロン) (:): são usados para mostrar a hora em números arábicos. Por exemplo 3:
46;

Ø Semikoron (セミコロン) (;): um ponto e vírgula é normalmente usado somente para separar
definições;

Ø Kantanfu (感嘆符) (!): também chamado de エスカレーションマーク, é usado para mostrar


grande exclamação;

Ø Gimonfu (疑問符) (?): também chamado de クエスチョンマーク, é usado para marcar uma
pergunta enfaticamente. Uma questão é normalmente criada por um aumento na entoação,
em vez da partícula final「か」;

7.3. SINAIS DE REPETIÇÃO

São muito importantes na ortografia do Kanji e Kana. Os mais comuns são:

Ø Dounojiten (どうのじてん) (々・仝): dobra um Kanji ou composição;

Ø Ichinojiten (いちのじてん) (ヽ): dobra o Katakana anterior;

Ø Katakanagaeshi (かたかながえし) (ヾ): dobra o Katakana anterior acrescido do dakuten;

Ø Hiraganagaeshi (ひらがながえし) (ゝ): dobra o Hiragana anterior;


Ø Hiraganagaeshi (ひらがながえし) (ゞ): dobra o Hiragana anterior acrescido do dakuten;

7.4. COLCHETES E ASPAS

Ø In'youfu (引用符) (” “): é normalmente usado como aspas em frases curtas, como em ‘Esta é
a“Torre de Tóquio”’;

Ø Kagikakko (鉤括弧) (「」): são as “verdadeiras” aspas japonesas. São vistas 「」 em textos
horizontais e em textos verticais são giradas em 90º;

Ø Futae Kagikakko (二重括弧) (『』): são as aspas duplas, que você deve usar quando uma
citação está dentro de outra;

Ø Maru Kakko/Paaren/Shoukakko (丸括弧・パーレン・小括弧) (( )): é o equivalente aos


parênteses. Podem ser usados para mostrar leituras, informações adicionais, uma coordenada
em geometria, mostrar o argumento de uma função em programação, mostrar uma matriz
matemática, e outras funções relacionadas à matemática. Pode também ser dobrada quando
parênteses são dentro de parênteses, como (());

Ø Kakukakko e Daikakko (角括弧・大括弧) ([ ]) : é usado para incluir alguma coisa. Eles podem
ser usados para pontuar qualquer dado perímetro em nota parentética, mostrar uma
informação escondida, fechar um intervalo matemático. Também é utilizado em fórmulas
químicas e para escrever um som em fonologia, e em outros tipos de codificação. Esta marca
pode ser dobrada;

Ø Nami Kakko/Bureesu/Kaari Buraketto/Kaaru/Chuukakko (波括弧・ブレース・カーリブラケット・カー


ル・中括弧) ({ }) : são usados para delimitar palavras ou linhas consideradas para estarem
juntas;

Ø Kikkou Kakko/Kame no Kokakko (亀甲括弧・亀の子括弧) (〔 〕): É usado para envolver


abreviaturas de algum tipo e também pode ser duplicado;
Ø Yamakakko (山括弧) (〈 〉): são usados em física quântica para suportes. Também é comum
ver esta marca duplicada para mostrar caracteres rubii;

Ø Sumitsuki Kakko (隅付き括弧) (【 】): existe nas versões branco ou preto. A versão branca é
usada em dicionários para marcar os Jouyou Kanji que não fazem parte dos 1006 básicos.
Quando preto, envolve marcações e pode dar grande ênfase, e pode ser utilizado nos
dicionários para marcar os Kyouiku Kanji. Outros nomes usados para este sinal são: 隅付きパー
レン sumitsuki paaren, 太亀甲 futokikkou, and 黒亀甲 kurokikkou. Finalmente, podem ser
escritos 【】e 〖〗.

7.5. OUTROS SINAIS

Ø Ioriten (庵点)01 : nos textos do japonês moderno indica que as palavras seguintes são
tomadas a partir de uma música ou que a pessoa que está dizendo as palavras está cantando.
Em textos mais antigos, foi usado para destacar os nomes de pessoas ou outros elementos em
poemas e canções.

02

É mais conhecido por mostrar o início da linha de uma pessoa no teatro Noh, forma clássica de
teatro profissional japonês, que combina canto, pantomima, música e poesia. Executado desde
o século XIV é uma das formas mais importantes do drama musical clássico japonês.

Ø Nakasen (中線) (―): é essencialmente a versão japonesa de um traço. Pode colocar coisas
ao lado para dar ênfase explicativa, dando um sentido de “de... à...” e colocar números ou
nomes à parte em endereços japoneses. Ele deve ser escrito verticalmente em texto vertical;

Ø Wakisen (脇線): é uma linha vertical que direciona a atenção do leitor a certa parte de uma
expressão ou palavra ou a totalidade de tais;
Ø Wakiten (脇点): são pontos adicionados perto dos caracteres para enfatizá-los. É o
equivalente japonês da utilização de itálico para dar ênfase em português. Também é
chamado de bouten (傍点).

03

Ø Piriodo (ピリオド): é usado na escrita horizontal para separar as partes de uma data.

99.4.5 = 5 de abril de 1999

Ø Tensen (点線): é uma elipse de dois ou três pontos que mostram a fuga do discurso ou o
silêncio. Alguns grupos de tensen podem ser usados para conectar os títulos dos capítulos e
números de página em tabelas de conteúdos.

えっと・・・何? = Hum... o quê?

第百章......................................567 ページ = Capítulo 100........................Página 567

Ø Nami dasshu/Namigata/Namisen/Nyoro (波ダッシュ・波形・波線・にょろ) (~): é usado em


construções do tipo (de... para), para separar título e subtítulo na mesma linha, substituir o
traço, indicar a origem, mostrar enfaticamente vogais longas em quadrinhos ou ainda indicar
música tocando. Veja os exemplos:

あ~~~ = Ahhhhhh

♬ ~ = Sugere música

フランス~ = Proveniente da frança

5 時~7時 = das cinco até as sete horas


~がいよう~ = -Esboço-

とうきょう~おおさか = De Tokyo até Osaka

Ø Daburu Haifun/Geta kigou (ダブルハイフン・下駄記号) (〓): às vezes é usado em vez de um


Nakaguro para justapor expressões estrangeiras. Normalmente é usado para simbolizar a não
existência de um símbolo para um Kanji que de outra forma seria visível;

Ø Komejirushi/Hoshi (米印・星) (※): é a versão japonesa do asterisco e é utilizado para


mostrar uma anotação;

Ø Asuterisuku (アステリスク) (*): é a versão ocidental do asterisco na pontuação japonesa;

Ø Shime (〆): encerra uma carta;

Ø Onpu (音符) (♪♫♬♩): são notas musicais que sugerem melodia;

Ø Yajirushi (矢印) (→←↑↓): mostram que a emoção, nota ou algo semelhante está
acontecendo ou aparecendo na direção da seta;

Ø Haato Maaku (ハートマーク) (♡ ♥): indica amor ou algum tipo de atração sexual e é comum em
conversas em geral e internet;

7.6. O KAOMOJI

Kaomoji (顔文字), que basicamente se traduz como "letras rosto" consiste em usar textos para
desenhar rostos que demonstrem algum tipo de emoção. Enquanto o Kaomoji provavelmente
nunca será oficialmente considerado pontuação, é visto como tal, e não se sabe o motivo.

Quando colocados juntos, são caracteres que representam emoção, como, por exemplo, o
ponto de exclamação. Eles também podem representar confusão, ou um tom de
questionamento, como um ponto de interrogação. Em cima de tudo isso, há provavelmente de
20 a 30 "sentimentos" diferentes que podem ser representados, contribuindo assim para as
suas frases ou parágrafos. Já que não se trata de um único caractere, representam algo que
acrescenta algum sentido à frase. Bem, isso parece, basicamente, o que faz os sinais de
pontuação, então porque não considerar o Kaomoji como tal? Vejamos alguns exemplos:

m(*T▽T*)m = este Kaomoji mostra que você está triste. Ou, digamos que você está realmente
feliz com alguma coisa, você pode adicionar este Kaomoji;

ヾ(@⌒▽⌒@)ノ = demonstra muita felicidade. Há centenas, talvez milhares de outros


exemplos, mas você pode procurá-los sozinho.

Em termos de utilização, o Kaomoji costuma ser colocado no fim das frases ou orações, assim
como costumamos fazer com os emotions =)

LIÇÃO 8: O IDIOMA DO MUNDO REAL

Acabamos de abordar a escrita japonesa, mas antes de iniciarmos o aprendizado da gramática


em si, há algo que você precisa ter em mente para não adquirir maus hábitos e se frustrar: “o
idioma do mundo real”. O que significa isso? É o que abordaremos nesta lição. São pequenos
tópicos, mas que com certeza, ajudarão muito na compreensão da língua japonesa.

8.1. COMPREENDENDO UM NATIVO

Certamente, você já se deparou com situações em que não conseguiu compreender uma
palavra ou expressão dita por um nativo, e ao vê-la no papel você se frustou ao saber que você
já a conhecia. Realmente, adquirir habilidades auditivas talvez seja a tarefa mais difícil e
desmotivante quando se está aprendendo algum idioma, porque neste quesito não há regras,
como no ensino de gramática.

Afinal, por que ouvir em outro idioma é assim tão complicado? O que torna essa habilidade
algo tão difícil de ser dominada?
Uma das primeiras coisas que você deve ter em mente ao iniciar o estudo de um idioma, é que
existem dois tipos de linguagem: a formal e a informal (ou casual):

I. Linguagem formal: é aquela gramaticalmente correta que é usada em documentos, situações


formais, etc. Também é o padrão do idioma que se aprende em cursos convencionais;

II. Linguagem informal: é aquela que usamos no nosso dia-a-dia. Nela, padrões corretos de
pronúncia ou mesmo gramaticais muitas vezes são quebrados.

Pense que aprender uma língua estrangeira é como pegar um carro pela primeira vez: como é
algo novo, existe aquele medo natural do desconhecido e você começa a guiá-lo numa
velocidade reduzida, toma mais cuidado ao fazer as curvas, atenta-se em demasia às placas de
sinalização, etc. Entretanto, conforme o ato de dirigir vai se tornando um hábito, a sua
confiança vai aumentando e o receio diminui. Consequentemente, você começa a pisar mais
no acelerador e os cuidados diminuem, fazendo com que aquilo que outrora era feito com
receio, torne-se algo natural, espontâneo.

Ora, todos nós sabemos que no Japão – ou em qualquer país – as crianças começam a ter um
bom nível de seu idioma materno logo cedo. Por que será? Simples e óbvio! Lá eles vivem em
contato diário com o idioma; assim como nós assistimos nossos desenhos de criança em
português, as crianças em seus respectivos países assistem todos os desenhos deles. Além
disso, eles também escutam/ouvem pessoas se comunicando sempre em seu idioma. Enfim,
eles estão em contato com sua língua materna o tempo todo. Portanto, tenha em mente que
os falantes nativos estão tão acostumados com sua língua que eles falam muito mais rápido,
usam expressões idiomáticas, pronunciam palavras de um modo “mais confortável” (que nem
sempre é correto), ao passo que os estudantes têm aquele receio de motorista iniciante e
falam mais devagar, atentando-se demais às regras gramaticais e à pronúncia clara e correta
das palavras.

Agora pensemos: OK, um nativo fala rápido. Mas, em português nós também falamos rápido e
nos entendemos bem. Então, qual o problema da velocidade da fala de um nativo de outro
idioma? Será que eles falam tão rápido assim ou é o modo como aprendemos uma língua
estrangeira nos cursos convencionais que nos deixa mais preguiçosos?

O problema está em o que acontece dentro de nossa cabeça (cérebro) ao ouvirmos uma língua
diferente. Como assim?

Você provavelmente já ouviu falar em neurônios. No cérebro há milhares e milhares de


neurônios. Eles são responsáveis por um monte de coisas! Uma dessas coisas em especial é a
formação de memórias. Ou seja, são os neurônios que registram tudo o que ocorre em nossa
vida. Tudo o que ouvimos, lemos, vivenciamos, etc. As informações registradas por cada
neurônio são passadas de um para o outro por meio de “sinapses”: os pontos onde os
neurônios se “comunicam”. Veja a imagem abaixo:

01

Você talvez esteja se perguntando “o que é que neurônios têm a ver com a habilidade de ouvir
outro idioma?” Continue lendo e você vai entender!

Seus neurônios guardam informações relevantes sobre tudo o que você aprende (memórias).
Tudo o que você vivencia e aprende é registrado na memória por causa dos neurônios.
Quando você escuta uma música e canta a música os seus neurônios estão fazendo sinapses
(trocando informações entre si). Em resumo, inúmeros neurônios estão naquele momento
trocando informações importantes para que você consiga lembrar a letra da música e cantá-la
sem dificuldades. Isto tudo ocorre muito rápido! Se alguém fala com você, seus neurônios vão
entender o que está sendo falado, porque eles buscam as informações da língua portuguesa
registrada em vários neurônios! Mas, se alguém fala uma expressão ou palavra que seus
neurônios não reconhecem, eles tentarão encontrar a informação. Como a informação não
existe, eles ficarão perdidos, sem saber o que está acontecendo. Ocorre aí aquele momento de
confusão no cérebro no qual deixamos de entender o que a outra pessoa disse. Perdemos o
rumo da conversa. Com qualquer idioma acontece justamente isso! A maioria dos estudantes
quer ouvir tudo palavra por palavra e de modo bem vagaroso. Acostumam-se a ouvir uma
pronúncia mais lenta e perfeita. Aí, ao tentarem ouvir um filme, uma conversa, etc., no ritmo
natural acabam se perdendo. Fica aquela sensação de não saber o que está acontecendo.

Percebe-se que a raiz do problema está no fato de que os neurônios estão acostumados ao
modo preguiçoso de ouvir a língua. Eles estão acostumados a ouvir palavras e expressões
simples. Estão acostumados a montar tudo palavra por palavra e seguindo uma lógica
gramatical (as regras gramaticais). Assim, quando caem no mundo real, a coisa se complica. O
modo como as informações foram registradas e como elas estão surgindo são muito
diferentes. Os neurônios não conseguem trabalhar rapidamente e se perdem. Para ilustrar,
vamos fazer mais uma analogia. Para tanto, observe um pequeno trecho de “Tempos
Modernos”, filme de 1936 do cineasta Charles Chaplin:

jppr

Imagine que o operário nessa imagem seja o nosso cérebro e cada uma das peças passando na
esteira, as palavras. Ora, devido à velocidade com que as peças passam, um operário que não
foi treinado sendo exposto à velocidade real da esteira, não conseguiria rosquear todas,
deixando passar batido várias por causa de seu despreparo, não é mesmo? Da mesma forma,
um “cérebro despreparado” para um idioma não conseguirá reconhecer todas as palavras com
que se deparar na “esteira de palavras” do mundo real. Com isso, o estudante ficará frustrado
por não ser capaz de acompanhar uma conversa normal. A essa confusão mental somam-se o
nervosismo, a ansiedade, a preocupação e o medo. Tudo isso faz com que seu nível de estresse
aumente e sua habilidade de ouvir e entender seja prejudicada.

Para resolver isso, você deve aprender o idioma como ele realmente é desde o início de seu
aprendizado. Ouvir a língua japonesa de modo natural, estar ciente que o modo como eles
pronunciam é geralmente diferente do modo como aprendemos nos livros ajudará seus
neurônios a se acostumarem com o japonês de verdade. Registrar as informações da forma
como ela será produzida na vida real é muito mais eficiente do que aprender regras e
palavrinhas soltas ao longo do seu aprendizado.

Não encare como um bicho de sete cabeças o fato de você não ter compreendido uma palavra
ou expressão conhecida, afinal quantas vezes até mesmo nós que falamos fluentemente o
português precisamos que nos repitam o que foi dito ou mesmo ver por escrito a letra de uma
música para que possamos entender todas as palavras dela? Ora, com os nativos de outros
países não é diferente. O importante é não desanimar e treinar seus ouvidos! Materiais
didáticos, tais como fitas ou CDs podem ser úteis, na medida que ensinam de forma clara e
correta a pronúncia das palavras. Entretanto, aprender a falar naturalmente com todas as
peculiaridades corretas e inconsistências existentes em um idioma é algo que requer prática e
exposição a pessoas reais em situações do mundo real. Sendo assim, exponha-se o máximo
possível ao japonês “real”. Você precisa ouvir mais e mais e mais e, assim, chegará um
momento em que de tanto se envolver com a língua, não terá problemas com isso. Portanto,
como dizem os americanos, "practice makes perfect" (a prática leva à perfeição).

Se você não tiver como viajar ao Japão, nem tudo está perdido, pois temos a internet como
grande aliada. Nela, você tem a possibilidade de fazer amizades com nativos, ouvir toneladas
de músicas quantas vezes quiser, ou mesmo assistir aos noticiários. Outra aliada é a TV a cabo,
na qual podemos encontrar seriados nos quais se usam muito a linguagem informal. E se você
gosta de animês, há o site “AnimeQ”, no qual você poderá encontrar uma grande quantidade
de animês legendados.

Passe horas e horas do seu dia expondo-se ao idioma do mundo real mesmo que não consiga
entender tudo, e com o tempo e paciência, seus ouvidos serão capazes de identificar
individualmente as plavras e as particularidades da língua japonesa.

Por fim, para reflexão, deixamos um trecho do artigo “Por que brasileiro não aprende inglês?”
do professor Denilso de Lima. Ele trata do inglês, mas o que é exposto por ele aqui pode ser
aplicado a qualquer idioma:
“Para encerrar, pergunto: Você já viu um italiano falando inglês? Um coreano falando inglês?
Que tal um chinês? Um grego? Um boliviano? Um venezuelano? Um francês? Um alemão? Um
argentino?

As pessoas de outros países que falam (aprendem) inglês estão pouco se lixando com o fato de
falarem igualzinho a um britânico ou a um americano. Os falantes de outros países podem
falar errado, mas se comunicam. A pronúncia deles não é perfeita, mas ainda assim dizem o
que querem.

O TH deles sai esquisito e nem por isso se acham incapazes de falar inglês. Com o passar do
tempo, eles vão aprendendo e melhorando. Já no Brasil, a maioria só se sente à vontade se a
pronúncia for perfeita (som do th, por exemplo), a gramática for impecável e o jeito de falar
for como o de um nativo.

O resto do mundo aprende a falar inglês porque não é tão exigente consigo mesmo. A
cobrança pela perfeição lá fora não é doentia e exagerada como é aqui. O resto do mundo
sabe que fala inglês “errado“, mas fala assim mesmo. Se a mensagem não é entendida, o resto
do mundo tenta de novo. Já o brasileiro espera aprender tudo de modo perfeito para só então
se soltar. E acaba desistindo no meio do caminho por achar inglês uma língua difícil.

Essa exigência exagerada causa frustração, tristeza, angústia, estresse, senso de incapacidade
e outros sentimentos que atrapalham a capacidade de aprender inglês. Se você é muito
exigente, cuidado!”

8.2. PRINCÍPIOS DA LINGUAGUEM INFORMAL

De fato, dominar o idioma falado no dia-a-dia exige muito mais do que apenas aprender as
diversas formas casuais das palavras ou construções gramaticais. Falando especificamente da
língua japonesa, há um número incontável de formas nas quais formulações e pronúncias
mudam, e ainda existem as diferenças entre o discurso masculino e feminino. Entender a
língua cotidiana também exige conhecimento de vocabulário, algo que cresce a cada nova
geração. Em qualquer idioma, facilmente somos capazes de notar a dificuldade que muitos
adultos têm para entender os coloquialismos usados pelas crianças ou jovens de hoje.

Já que abordar minuciosamente a linguagem cotidiana e o vocabulário relevante exigiria um


livro em si (um livro que logo se tornaria desatualizado), citaremos, em vez disso, alguns
padrões gerais e fenômenos comuns que, pelo menos, irão auxiliá-lo a começar a
compreender mais os aspectos comuns da linguagem codiana japonesa. Nela, vale tudo e as
regras que se aplicam ao japonês escrito são muitas vezes quebradas. A parte mais difícil é que
você não pode simplesmente dizer o que quiser, é claro. Quando você quebra as regras, você
tem que quebrá-las de maneira correta. Tomar o que você aprendeu com os livros ou aulas de
japonês e aplicar isso no mundo real não é tão fácil, porque é impossível ensinar todas as
formas possíveis de se “misturar” as coisas na língua falada.

Uma coisa que você vai logo perceber quando começar a falar com os japoneses na vida real é
que muitos sons acabam sendo unidos. Isto é especialmente verdadeiro para os homens.

Há um fator importante por trás da linguagem casual em japonês. O principal objetivo é fazer
com que as coisas fiquem mais fáceis de serem ditas. Em outras palavras, o objetivo é reduzir
ou simplificar o movimento de sua boca. Existem dois métodos para isso que chamaremos de
“encurtamento” e “substituição”. Vejamos:

I. Encurtamento: consiste em retirar partes de palavras ou expressões. Por exemplo, 「かもしれ


ない」 pode ser pronunciado apenas 「かも」;

II. Substituição: consiste geralmente na substituição de parte de uma palavra ou expressão por
sons que se encaixem melhor com os outros a sua volta, ou ainda, na fusão de sons. Por
exemplo, 「かもしれない」 pode ser pronunciado 「かもしんない」 já que 「しん」 requer menos
movimento do que 「しれ」.

Você vai ver que uma grande quantidade das palavras dentro da linguagem casual em japonês
decorre deste único princípio de tornar as coisas mais fáceis de serem ditas (lembra-se que
citamos que nativos pronunciam palavras de um modo “mais confortável”?). Isso é muito
natural, porque é guiado pela forma como a sua boca se move. Podemos exemplificar a
aplicação desse princípio usando a língua portuguesa. Basta considerar o fato que costumamos
pronunciar “está”, apenas “tá”, “não” como “num” e “você” como “cê”, afinal é bem mais
fácil, não é mesmo?

Você não está com sono? = Cê num tá com sono?

Embora a oração acima esteja com as palavras encurtadas, para nós que temos o português
como língua materna, é de fácil compreensão. Mas com certeza, ela seria um terror para um
estudante estrangeiro que frequentou um curso convencional de língua portuguesa, pois ele
espera ouvir as palavras pronunciadas corretamente : “você”, “não”, “está”, “com”, “sono”.

Outro fator que dificulta a compreensão é o que chamaremos de “fator individual”, ou seja,
pessoas se expressam de modos diferentes, seja com relação à velocidade com que falam ou
até mesmo no modo de pronunciar as palavras. Por exemplo, você que mora no Sudeste do
Brasil percebe facilmente o quão diferente é a maneira de falar das pessoas da região Sul.

Enfim, com base no que discutimos aqui, esperamos que você pratique e se exponha o quanto
antes ao idioma do mundo real. Acostume já o seu cérebro! Escute e fale sem medo de errar. E
se errar, tente de novo. Você terá excelentes resultados!

8.3. USANDO AS PALAVRAS CORRETAS PARA SE EXPRESSAR

Você se lembra que na introdução ao curso, no tópico “como aprender um idioma”


mencionamos que você deve evitar pensar um idioma estrangeiro em sua língua nativa?

Vamos explicar o motivo: você já se perguntou para que servem as palavras? Bem, de forma
bem simples, nós as usamos para simbolizar aquilo que se refere ao homem e ao mundo em
que ele vive, isto é, cada palavra corresponde a um conjunto de características comuns a uma
classe de seres, objetos ou entidades abstratas, determinando como as coisas são. Por
exemplo, quando usamos a palavra “gato” estamos nos referirmos ao “pequeno mamífero
carnívoro, doméstico, da fam. dos felídeos (Felis catus), criado como animal de estimação”
(Dicionário Aulete).

E da mesma forma que os portugueses nomearam as coisas que estavam ao seu redor, assim
também o fizeram os italianos, espanhóis, ingleses, japoneses e assim por diante. Entretanto, é
claro que a palavra usada para nomear algo nem sempre (quase nunca) era a mesma. Os
portugueses usaram a palavra “gato” para nomear o pequeno mamífero carnívoro, doméstico,
da fam. dos felídeos (Felis catus), criado como animal de estimação. Já os ingleses usaram a
palavra “cat”; os franceses, “chat”, os italianos “gatto”, os alemães “katze”. Veja que, embora
as palavras sejam diferentes, o conceito, a ideia que elas trasmitem é a mesma.

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Ok, então podemos dizer que é possível estabelecer uma relação de equivalência entre
palavras de nossa língua materna e uma de língua estrangeira (gato = cat, em inglês). Até aqui,
tudo parece muito simples e óbvio, mas infelizmente não é. Isso por que, para nos
comunicarmos, seja para expressar ações, estados ou mesmo alguns conceitos, precisamos
relacionar as palavras umas com as outras. E é aqui que começa a complicação, pois a maneira
como elas são relacionadas para expressar uma mesma ideia (e quais palavras são usadas)
pode variar de idioma para idioma.
Como não começamos a abordagem da gramática japonesa nos seus aspectos básicos, vamos
tomar o inglês como exemplo, tendo em mente que o princípio vale para qualquer idioma.
Imagine um estudante iniciante de inglês; se perguntássemos a ele como se diz “batata frita”
ele provavelmente diria “fried potato”, afinal “fried” significa “frito” e “potato”, batata. Na
realidade, o que ele fez aqui foi considerar a maneira como o conceito “batata frita” foi
pensando em português (juntando-se o adjetivo “frito” com “batata”) e procurar termos
equivalentes em inglês. Entretanto, ele está errado, por que “batata frita” em inglês é “french
fries”, que literalmente significa “fritas francesas”. Veja como, a maneira que os ingleses
pensaram “batata frita” foi diferente da nossa (provavelmente consideraram sua origem), mas
o conceito é o mesmo.

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E como mencionamos, isso não se restringe a conceitos, mas também na maneira de


relacionar as palavras entre si (e quais palavras usar) para expressar ações ou estados. Por
exemplo, esse mesmo estudante iniciante de inglês provavelmente querendo dizer “Eu uso
perfume todos os dias.”, diria “I use perfume everyday”, quando o correto é “I wear perfume
everyday” (Eu visto perfume todos os dias). Novamente, palavras diferentes para a mesma
ideia.

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É aqui que queremos chegar e falar sobre algo que em linguistica é chamado de “colocação”,
que é a combinação de duas ou mais palavras que são geralmente usadas juntas; é uma
combinação que soa natural para o falante nativo e que não tem exatamente uma explicação
lógica para quem não é nativo. Por exemplo, em português falamos “tomar água” e “tomar
banho”. Dizemos também “beber água”, e porque então não dizemos “beber banho”? Não
faria sentido, certo?

Para se tornar fluente em qualquer idioma, você precisa saber quais palavras devem ser
usadas juntas com as outras. Aprender a combinação correta das palavras vai ajuda-lo a
parecer mais natural na hora de falar. Como mencionamos, é muito comum aos estudantes
tentar traduzir diretamente da sua língua mãe para a língua estrangeira, e o resultado muitas
vezes soa estranho, pois não combinam as palavras corretamente. Logicamente algumas
combinações de palavras podem até não estarem erradas e serão entendidas pelos falantes
nativos, porém não são as mais frequentemente usadas.

E como se pode aprender colocações? Isso é algo que só se aprende “vivendo o idioma”. Por
isso, leia, leia, leia e depois leia um pouco mais! Ouça, ouça, ouça e depois ouça um pouco
mais! Ao aprender uma nova palavra, procure pela internet orações de exemplo e observe as
palavras que aparecem juntas. Use um dicionário monolíngue e sempre leia além da definição,
pois bons dicionários sempre trazem as colocações das palavras.

LIÇÃO 9: ETIMOLOGIA

Como nossa intenção não é apenas que você saiba japonês, mas também desenvolva um
modo de pensar japonês, nada mais útil do que fazermos uma abordagem da origem das
palavras do léxico japonês.

9.1. A ORIGEM DAS PALAVRAS

As palavras, assim como as línguas, sofrem ciclos semelhantes ao dos seres vivos: nascem,
quando uma pessoa ou comunidade cria uma nova palavra, crescem, quando esta palavra é
difundida e passa a ser dicionarizada, se reproduzem, quando começam a dar origem a outras
palavras, e muitas vezes morrem, quando se tornam tão ultrapassadas que as pessoas
abandonam o seu uso.

A etimologia é a parte da gramática que estuda a história ou origem das palavras e da


explicação do significado das palavras através de seus elementos (morfemas). Estuda a
composição dos vocábulos e a sua evolução. Além de ser muito interessante, a etimologia
pode demonstrar origens comuns das palavras, semelhanças entre línguas diferentes, além de
facilitar a nossa compreensão de palavras novas para nós, caso conheçamos a sua raiz.

Basicamente, toda palavra em japonês origina-se de uma (ou mais) das três fontes
etimológicas, que são 「やまとことば」 (大和言葉), também chamada de「わご」 (和語), 「かんご」 (
漢語) e 「がいらいご」 (外来語). Observe a figura abaixo:

01

9.2. YAMATO-KOTOBA
“Yamato Kotoba” (大和言葉) refere-se às palavras nativas japonesas, isto é, palavras que
foram herdadas do japonês antigo, em vez de serem emprestadas de outras línguas.

No Período Yamato (300-710 d.C.), um número razoável de pessoas cruzou ao longo da Coréia
e da China para o Japão e começou a colonização, trazendo novas tecnologias, como a
plantação de arroz (um grande negócio para manter todos os nômades em um lugar), metal, e
muito mais. As pessoas que viviam no Japão antes disso eram conhecidos como os Jomons,
que viveram no Japão de 8000 aC a 300 aC aproximadamente. Os Jomons são tecnicamente o
povo japonês “original”, mas as coisas mudaram e as pessoas da China e Coréia migraram.

02

A “tribo” Yamato foi apenas uma das muitas que fizeram o seu caminho para o Japão e o
colonizaram. De alguma forma, porém, eles conseguiram se tornar muito mais poderosos do
que as outras tribos. De fato, não se sabe o porquê disso ter acontecido, mas talvez parte disso
seja por causa do seu governo estabelecido no século VI, que foi baseado nas Dinastias
chinesas Sui e Tang, o centro de influência política asiática na época. De qualquer maneira,
eles se tornaram muito lustres no círculo das tribos do Japão e acabaram por reger grande
parte do território japonês. Como a influência Yamato se expandiu, sua língua, isto é, o Yamato
Kotoba, tornou-se a língua comum – e ainda está sendo usada hoje, apesar de consistir apenas
parte do léxico japonês.

A maioria das palavras nativas japonesas é polissílaba e segue uma sequência


aproximadamente do que é para nós [consoante + vogal). Na maioria das vezes, pelos padrões
gramaticais japoneses não mistura palavras de etimologia diferente, no entanto, existem
algumas exceções. Por exemplo, 「する」 é adicionado a algunas palavras Kango para
transformá-los em verbos. 「な」 é adicionado aos substantivos Kango abstratos para torná-los
adjetivos, e 「る」 é frequentemente adicionado a uma contração de uma expressão estrangeira
para criar um verbo coloquial, muitas vezes, para descrever um fenômeno. A maior parte dos
sobrenomes é de origem nativa, mas os nomes dados são outra história. As palavras nativas
são geralmente escritas em Kanji ou Hiragana. Agora, é claro, inflexões gramaticais e
elementos não representados por meio de Kanji são escritos em Hiragana.

Devido à sua importância histórica como o berço da civilização japonesa, Yamato tornou-se
sinônimo de Japão em muitos usos poéticos e idiomáticos. Durante a Segunda Grande Guerra,
a propaganda oficial apelou para o poder do "espírito japonês", ou 「やまとだましい」 (大和魂) =
o espírito de Yamato. Ao longo da história japonesa, referências patrióticas para "o povo
japonês" têm utilizado o rótulo 「やまとみんぞく」 (大和民族) = o povo de Yamato.
9.3. KANGO

Com a entrada de textos chineses e a adoção de Kanjis para se escrever japonês, é natural que
palavras chinesas também fossem adotadas pelos japoneses. Este grupo de palavras forma o
Kango (漢語), e são palavras que derivam das leituras On provenientes do chinês médio (séc. V
– XII). Contudo, lembre-se que, devido à limitada fonética japonesa, as leituras On são
adaptações das pronúncias originais, e, portanto, embora os ideogramas sejam os mesmos,
não soam como a palavra chinesa. Por exemplo, a composição chinesa 「先生」, que significa
“professor”, foi adotada pelos japoneses para expressar o mesmo conceito. Entretanto, a
pronúncia japonesa é 「せんせい」 (leituras On), ao passo que a original chinesa é “xiān sheng”
(ouça a pronúncia neste link).

Aproximadamente 70% do léxico japonês são compostos por Kango, mas apenas 20% dessas
palavras correspondem às mais usadas na língua falada.

Através das leituras On, temos uma grande visão de como as versões mais antigas do chinês
podem ter soado, como por exemplo, estudando as mudanças sonoras que tiveram que
ocorrer nelas durante a transferência e a evolução subsequente desde então. As mudanças
linguísticas que as leituras On sofreram no japonês médio (séc. XIX – XVII) foram significativas.
Pela primeira vez sílabas fechadas foram permitidas, todavia por um curto período de tempo.
Estas leituras introduziram fonemas novos, como “kw” e “gw”, que desapareceram antes do
início do japonês moderno. Elas também trouxeram o conceito de vogais longas e curtas e
consoantes e o “n” uvular, que continuaram a ser muito importantes.

A leitura On é a base para determinar se uma palavra é de origem chinesa. No entanto, há


caracteres nativos (Kokuji) que ocasionalmente têm uma leitura On derivada de algum outro
Kanji ou componente, como em 「働」 (dou), leitura proveniente de 「動」, e em casos raros
somente uma leitura On, como em 「腺」(sen), proveniente de 「泉」, que é utilizado em
composições técnicas (「腺」 significa “glândula”, por isso, é usado na terminologia médica).
Existem também raras exceções em que uma leitura Kun é, na realidade, de origem chinesa.
Por exemplo, 「馬」 (うま) e 「梅」 (うめ). Às vezes o ateji faz a distinção entre palavras Kango e o
vocabulário nativo japonês mais difícil de compreender.

Há ainda o conjunto 「わせいかんご」 (和製漢語) que literalmente significa "chinês feito por
japoneses", isto é, palavras japonesas criadas a partir de elementos chineses (ao modo chinês).
Tal fato ocorreu no fim do século XIX e início do século XX, quando os japoneses usaram as
leituras On a fim de descrever novos termos. Vejamos alguns:
03

Muitas dessas palavras criadas pelos japoneses a partir da leitura On foram agregadas ao
léxico chinês. O que é estranho é que para esses termos, na maioria das vezes, não há um
nativo equivalente.

Algumas palavras Kango criadas no Japão ainda correspondem a itens exclusivos japoneses.
Vejamos alguns exemplos:

04

Há outras maneiras com as quais os japoneses criaram palavras Kango. Por exemplo, muitas
derivam de expressões nativas que foram modificadas para que pudessem ser lidas como se
fossem Kango, criando assim, um termo mais técnico. Observe o quadro abaixo:

05

Note como os elementos japoneses eram retirados e os Kanjis juntados. Deste modo,
poderiam ser lidos como se fossem Kango (leituras On). Se o termo já estivesse no padrão
chinês, as leituras eram apenas alteradas. Claro, há ainda as palavras que são metades nativas
e metade Kango.

Finalmente, observe a composição 「学校」 (がっこう), que significa “escola”. Se o Kanji 「校」 por
si mesmo significa “escola”, por que está acompanhado do Kanji 「学」, que significa
“aprender”? Isso não seria redundância, como dizer “subir para cima”?

A resposta é SIM, trata-se de uma redundância, mas tem uma razão de ser. Vamos entender:
no geral, palavras chinesas (consequentemente as leituras On) são curtas, o que
consequentemente acarreta em um grande número de palavras homófonas. Sendo assim, em
muitos casos, um único Kanji não possuía uma pronúncia longa o suficiente que fizesse com
que ele pudesse ser distinguido de outros de mesmo som. Então, a solução encontrada pelos
chineses foi criar uma composição de Kanjis 「じゅくご」, cujos significados fossem semelhantes,
para que assim, a pronúncia se tornasse mais longa e, consequentemente, distinguível na fala.
Muitas composições foram criadas devido a esse problema. Vejamos alguns exemplos:

06
9.4. KANGO, O VERDADEIRO VILÃO DA HISTÓRIA?

Agora, que conhecemos o Kango, vamos propor uma reflexão. Você deve se lembrar que no
tópico “5.4. Por que os japoneses ainda usam o Kanji?”, mencionamos que qualquer um que
tenha vasta experiência na escrita japonesa é capaz de explicar o porquê do desejo de se
abandonar o Kanji no pós Segunda Grande Guerra não ter dado certo: em qualquer momento,
ao efetuarmos a transcrição de uma palavra escrita em Kanji para o Hiragana (ou mesmo
Roomaji), muitas vezes deparamo-nos com pelo menos duas palavras homófonas e, às vezes,
até mais de dez. Para ilustrar, procure no dicionário o significado da palavra “kikan” e você se
deparará com pelo menos 50 vocábulos com significados diferentes!

Como seria possível diferenciar as palavras dentro de um texto, já que seus sons são idênticos?
Fica claro, portanto, que tanto os 46 fonemas do sistema Kana como o sistema Roomaji, não
são capazes de diferenciar as palavras homófonas, mesmo graficamente. Daí a necessidade do
Kanji. Ponto.

Entretanto, você já se questionou qual o motivo para a língua japonesa ter tantas palavras
homófonas a ponto de se fazer necessário o uso do Kanji?

Bem, se analisarmos friamente, veremos que a grande maioria das palavras homófonas usadas
na língua japonesa, provém de uma fonte: o KANGO.

Vamos voltar na História: como você já sabe, o povo Yamato tornou-se muito influente no
Japão e eles tinham sua própria língua (Yamato Kotoba). No período em que a língua de
Yamato estava começando a se espalhar, a influência chinesa era grande. A China era
considerada a grande potência, possuindo, aos olhos de outros povos, todos os mais incríveis
atributos. Sendo assim, por exemplo, saber ler caracteres chineses, era sinônimo de
inteligência; agir como os chineses era sinônimo de ser culto; se o seu governo era incrível,
você o estabeleceu nos moldes chineses, e assim por diante.

A China era a referência de nação perfeita, e os governantes Yamato queriam ser tão bons
quanto ela. Qual foi a solução encontrada? Basicamente, “vamos copiar a China”. Daí
“pedaços” da China começaram a ser introduzidos no Japão, tanto no âmbito cultural, como na
língua.

Em outras palavras, pode-se dizer que o desejo dos governantes de Yamato era fazer com que
sua língua soasse “à moda chinesa”. Cremos que o fato de começarem a importar / criar
palavras seguindo o padrão chinês, de onde nasceu o Kango, foi o que causou a dependência
do uso de Kanjis, pois no geral, palavras chinesas (assim como as leituras On) são mais curtas,
o que consequentemente acarreta em um grande número de palavras homófonas. E para
piorar ainda mais esse cenário, considere o fato de que a fonética japonesa é muito limitada e
as leituras On eram apenas aproximações do som original chinês, ou seja, muitas vezes sons
chineses parecidos, mas diferentes eram introduzidos no Japão como sendo um único som.

Apenas para que você entenda como se deu basicamente esse processo: imagine as palavras
em português “só” e “sol”. São parecidas no som, mas diferentes. O que os japoneses da
época fariam se tivessem que introduzi-las em sua língua? “Ah, como não temos o “l”, “sol”
passará a ser pronunciado “só”’. Então “só” e “sol” que originalmente são palavras distintas e
possuem pronúncias diferentes, no japonês, passam a compartilhar da mesma pronúncia,
passam a ser homófonas.

Como já sabemos, o Kango corresponde a 70% do léxico japonês, o que torna claro que ele
praticamente dominou a língua nativa dos Yamato. Entretanto, apenas 20% aproximadamente
é usada na fala (provavelmente devido a dificuldade de se diferenciar palavras homófonas na
fala).

Enfim, o Kango é o verdadeiro vilão da história? Será que não teria sido melhor que os
governantes de Yamato prezassem mais pela sua língua e a conservassem em vez de querer
copiar outro idioma, por mais que a China fosse uma superpotência na época?

Você pode concordar com o que expusemos ou discordar, mas fica a reflexão.

9.5. GAIRAIGO

Os primeiros ocidentais a fazer negócios com os japoneses foram os portugueses e holandeses,


a partir do século XVI. Por isso, muitas palavras de seus respectivos idiomas foram adotadas na
língua japonesa. No final do século XIX e início do século XX, muitas palavras do inglês e de e
outros idiomas europeus também foram incorporadas. Essas palavras emprestadas de línguas
modernas são chamadas 「がいらいご」 (外来語).

A preferência por usar estas palavras é um tanto discutível; algumas pessoas preferem usá-las
simplesmente por praticidade ou por que soa moderno. Por exemplo, a palavra japonesa para
“negócios” é 「しょうばい」 (商売), mas a palavra emprestada 「ビジネス」 (do inglês ‘business’) é
também usada. Outro exemplo é 「ぎゅうにゅう」 (牛乳) – palavra japonesa – e 「ミルク」 (palavra
emprestada – do inglês ‘milk’) para leite.
A maior parte das palavras que compõem o conjunto gairaigo são substantivos, mas com o
auxílio de 「する」, 「な」, e 「る」, podem ser usados como verbos ou adjetivos. Observe alguns
exemplos:

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Muitas palavras emprestadas são frequentemente abreviadas de modos que não podem ser
em suas línguas originais, pois a limitada base de sons da língua japonesa faz com que essas
palavras se tornem extremamente longas. Isso é tão comum com termos em inglês que há o
termo 「わせいえいご」 (和製英語), ou seja, “inglês feito por japoneses”. Estas palavras têm
divergido de sua aparência original, significado ou ambos. Seguem alguns exemplos:

Maiku (マイク) → microfone (origem: “microphone”)

Suupaa (スーパー) → supermercado (origem: “supermarket”)

Depaato (デパート) → loja de departamentos (origem: “department store”)

Biru (ビル) → prédio (origem: “building”)

Irasuto (イラスト) → ilustração (origem: “illustration”)

Meeku (メーク) → maquiagem (origem: “make-up”)

Daiya (ダイヤ) → diamante (origem: “Diamond”)

Palavras múltiplas também são abreviadas, geralmente em quatro sílabas:

Pasokon (パソコン) → computador pessoal (PC) (origem: “personal computer”)

Waapuro (ワープロ) → processador de textos (origem: “word processor”)

Amefuto (アメフト)→ futebol americano (origem: “American football”)

Puroresu (プロレス)→ lutador de luta-livre profissional (origem: “professional wrestling”)

Konbini (コンビニ)→ loja de conveniências (origem: “convenience store”)

Eakon (エアコン)→ ar condicionado (origem: “air conditioning”)

Masukomi (マスコミ)→ mídia de massa (origem: “mass communication”)


Uma palavra emprestada pode ainda ser combinada com palavras japonesas ou outras
palavras emprestadas. Aqui estão alguns exemplos:

Shouene (省エネ) → economia de energia

Shokupan (食パン) → fatia de pão

Keitora (軽トラ) → caminhão leve

Natsumero (なつメロ) → melodia nostálgica

Nem todas as palavras que compõem o Gairaigo são derivadas do inglês. Há até palavras
emprestadas de dialetos modernos do chinês, e nas fontes do Gairaigo incluem-se também o
francês, espanhol, português, alemão, holandês e algumas línguas indo-europeias primárias.
Observe o quadro a seguir com alguns exemplos:

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No japonês moderno, as palavras Gairaigo são escritas em Katakana e as palavras nativas,


geralmente escritas em Hiragana. No entanto, tal estilo de escrita é relativamente recente. Por
um longo tempo, as palavras deveriam ser escritas o máximo possível em Kanji. Em épocas
anteriores, estes Kanjis eram muitas vezes acompanhados de Furigana. Sendo assim, as novas
palavras tiradas do holandês e do português receberam Kanjis. Abaixo estão alguns exemplos
de palavras de línguas estrangeiras que também têm uma forma com Kanji:

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Aproximações mais tradicionais são comuns, por isso, muitos falantes ainda chamarão um
smart phone de 「スマートホン」 em vez de 「スマートフォン」. Porém, há um movimento referente à
terminologia eletrônica que dá preferência às novas combinações.

Finalmente, existem as “palavras emprestadas” que na verdade foram criadas no Japão. Por
exemplo, 「サラリーマン」 (do inglês ‘salary’ + ‘man’) refere-se a alguém cuja renda é a base
salarial, geralmente as pessoas que trabalham em corporações. Outro exemplo é 「ナイター」 (do
inglês ‘night’ + sufixo ‘er’), que significa partida de baseball que ocorre à noite.
9.6. MORFOLOGIA DA LÍNGUA JAPONESA

Em linguística, “morfologia” é o estudo da estrutura, da formação e da classificação das


palavras. Os idiomas diferem nos processos pelos quais se formam novas palavras. A língua
japonesa é aglutinante, ou seja, palavras são formadas pela união de elementos básicos,
chamados “morfemas”, que mantêm suas formas originais e significados, com poucas
alterações durante o processo de combinação. Um morfema é a menor unidade linguística que
possui significado e que não pode ser dividida em partes significativas menores. Como regra,
cada caractere chinês representa um morfema.

Composição e derivação estão entre os mais importantes processos de formação de palavras


em japonês: Vejamos:

I. Composição: consiste na combinação de duas ou mais palavras ou elementos de palavras


que tenham o seu próprio significado lexical (um significado substancial por si mesmo) para
produzir um novo termo que funciona como uma só palavra. Uma vez que os caracteres
chineses são extremamente produtivos em sua capacidade de gerar novas palavras, a
composição desempenha um papel importante na formação de palavras em japonês. Ao
combinar alguns milhares de caracteres, centenas de milhares de palavras compostas são
criadas. Tradicionalmente, uma palavra composta é considerada como uma combinação de
duas ou mais palavras independentes, tais como “guarda-chuva”, que consiste em “guarda” e
“chuva”. Em japonês, um composto pode ser resultado de qualquer combinação de palavras
que, juntamente com formas e afixos, funcionam como uma única palavra. O composto
resultante é distinto, mas seus componentes constituintes estão a ele relacionados. Por
exemplo, o composto 「造船所」 (ぞうせんしょ), que significa “estaleiro”, consiste na palavra
independente 「造船」 (construção naval) seguida do sufixo “lugar” 「所」;

II. Derivação: é a criação de novas palavras pela adição de um elemento, tal como um sufixo
que expresse um significado gramatical e não lexical, ao radical. Por exemplo, o substantivo 「く
ろ」 (黒) = cor negra é combinado com o sufixo formador de adjetivo 「し」, que devido a
mudanças eufônicas que serão estudas mais adiante, atualmente temos 「い」, para formar o
adjetivo 「くろい」 (黒い) = negro.

9.7. OS AFIXOS

Antes de prosseguirmos, leia a definição de dois vocábulos:


1) RADICAL: parte da estrutura de uma palavra que contém seu significado básico (morfema
básico);

2) AFIXO: é um morfema que pode ser ligado ao radical da palavra, formando assim uma nova
palavra, chamada no português de palavra derivada. Dependendo do local onde se encontra, o
morfemas pode ser chamado de prefixo, sufixo ou infixo (que não usaremos no japonês).

Feitas essas definições, um PREFIXO é quando o afixo é adicionado no início da palavra. Já o


SUFIXO é quando o afixo é adicionado no final da palavra. Assim, numa palavra podemos ter:

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NOTA: não esqueça de considerar possíveis mudanças sonoras que podem ocorrer ao se juntar
os elementos citados.

Os prefixos [「せっとうご」 (接頭語)] são a chave para entender as muitas palavras em japonês.
Se você não conseguir encontrar uma palavra em um dicionário, é provavelmente por que a
palavra que você está procurando tem um prefixo ou um sufixo.

Diferentemente dos sufixos, um prefixo nunca vai mudar a classe de uma palavra. Em termos
de etimologia, há três tipos de substantivos em japonês: palavra nativa, Kango e Gairaigo, e
isso também se reflete nos prefixos. No entanto, substantivos e prefixos não estão limitados
ao outro com base na etimologia.

Os prefixos podem ser usados com substantivos, verbos, adjetivos e palavras emprestadas. No
entanto, focaremos em alguns prefixos usados com os substantivos e Gairaigo, apenas para
que você tenha uma noção de como funcionam:

901

Com o afluxo de expressões estrangeiras, há também os prefixos estrangeiros. Abaixo, segue


uma lista com alguns exemplos:

902
Os sufixos [「ごまつ」 (語末)] são elementos que, acrescentados a uma palavra, podem mudar
sua classe. Na língua japonesa são muito numerosos, mas por hora, seguem alguns exemplos:

903

Com tudo o que foi exposto neste tópico até aqui, agora temos uma noção geral de como se
dá a formação de palavras na língua japonesa. Acontece que as coisas não são tão simples
assim. Isso porque quando afixos são anexados aos radicais, em algumas ocasiões, podem
ocorrer alterações sonoras em algum desses elementos.

Além dos já conhecidos Onbin e Rendaku, apresentaremos outro fenômeno que na linguística
é chamado de “apofonia” (também conhecido como "ablaut", sendo este termo o mais
comum na literatura linguística de grande prestígio). Em linhas gerais, trata-se da variação de
vogal da raiz ou do afixo. Por exemplo, em português temos a palavra “difícil”, que se origina
de “Di+fácil”, onde o "a" variou para "i" em função do afixo.

Em japonês também existe este fenômeno e ele é chamado de 「母音交替」(ぼいんこうたい),


que numa tradução literal significa “mudança de vogal”. Por exemplo, a palavra 「まぶた」 que,
significa “pálpebra”, originou-se da junção das palavras 「目」 (め) = olho e 「蓋」(ふた) =
cobertura, tampa. Veja como aqui dois fenômenos ocorreram:

1) Apofonia, onde 「目」 (め) passa a ser pronunciado 「ま」;

2) Rendaku, onde 「蓋」 (ふた) passa a ser pronunciado 「ぶた」.

Sendo assim, o que seria 「めふた」 tornou-se 「まぶた」.

Infelizmente, parece não haver regras claras com relação a quando deve haver apofonia ou
mesmo quais as alterações que devem ser feitas, mas as ocorrências mais comuns são a
alternância de 「えだん」 para 「あだん」 e 「いだん」 para 「うだん」 ou 「おだん」.

9.8. ABREVIAÇÕES
Abreviações [「りゃくご」 (略語)] são muito importantes na língua japonesa. Expressões e
palavras tendem a ser abreviadas quando se tornam muito longas. Na verdade, o próprio
termo japonês para “abreviação” é uma abreviação de 「せいりゃくご」 (省略語). Algumas
abreviações datam de centenas de anos atrás. Por exemplo, o som 「ぼん」em “Festival Obon” é
na realidade uma contração de 「うらぼんえ」 (盂蘭盆会). Como vimos você já sabe, novas
expressões eram (ou são) muitas vezes abreviadas. Outros exemplos incluem 「ハンカチ」,
proveniente de “handkerchief” = “lenço” em inglês, e 「ごりん」 (五輪), que se referia às
Olimpíadas de Berlim, mas significa apenas “Olimpíadas”. As palavras abreviadas mais comuns
são Gairaigo e Jukugo (composições de Kanjis), mas contrações em conjugações verbais e
outras palavras nativas existem.

Legendas em reportagens e artigos são conhecidos pelo uso excessivo de abreviações. Na


verdade, muitas palavras abreviadas tornaram-se populares devido a esta prática. Há também
um bom número de palavras que foram abreviadas de forma diferente dependendo do
dialeto. Também, expressões e palavras em japonês são abreviadas de forma ligeiramente
diferente uma das outras. Os quadros abaixo ilustram os métodos relacionados com a
abreviação, com as partes das expressões ou palavras que são usadas em cada um:

14

No próximo quadro, seguem alguns exemplos (os caracteres vermelhos na coluna “ORIGEM”
são os que foram retirados):

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9.9. A EVOLUÇÃO DA PRONÚNCIA

Pronúncia

Depois de conhecer os fenômenos Onbin, Rendaku, Tenko e apofonia, bem como as


abreviações, você deve estar se perguntando “por que há tantas mudanças sonoras nas
palavras”? Bem, isso se trata de um processo natural e gradual de qualquer idioma ao longo
dos séculos. Para tentar sintetizar a causa dessas mudanças de pronúncia, reproduziremos
abaixo um interessante artigo do professor Paulo Hernandes (link aqui):
Você sabia... que há duas forças poderosas que impulsionam as mudanças na forma das
palavras? São elas a lei do menor esforço (ou lei da economia fisiológica) e a analogia. Essas
forças sempre atuaram e continuam atuando nas línguas em geral e na portuguesa, em
particular.

Os usuários da língua - os falantes - tendem a pronunciar as palavras da forma mais fácil e para
isso retiram ou acrescentam sons com o passar do tempo. Foi assim que o latim legenda
transformou-se no português "lenda" e spiritu passou a "espírito".

Esse fenômeno continua a acontecer, como podemos observar em para, que se está
transformando em "pra" (na língua falada, há muito tempo e já se começa a ver aqui ou ali na
escrita). Da mesma forma, pneu já é "peneu" na fala e sua oficialização na escrita é questão de
tempo.

A analogia opera com base em formas regulares, que servem de modelo para outras se
modificarem. "Os fatos mais comuns e gerais são os que servem de modelo para os outros;
raramente se dá o contrário" e "A princípio, as formas analógicas são tachadas de errôneas
pelas pessoas instruídas" (COUTINHO, 1958), mas depois muitas acabam por prevalecer.
Assim, verbos como impedir e despedir - que ainda no século XVII eram conjugados no
presente do indicativo como "eu impido", "eu despido" -, por analogia com pedir, com o qual
nada têm a ver, passaram a "impeço", "despeço", etc. Da mesma forma, o latim stella deveria
ter originado a forma portuguesa "estela" (existe uma "estela" - coluna de pedra -, mas que
tem outra origem), mas deu "estrela". Esse "r" apareceu por analogia com "astro".

A analogia continua agindo, mais bem observada na linguagem inculta e na das crianças.
Quando um pequenino diz fazi em vez de "fiz", está se baseando em outro verbo da mesma
conjugação, por exemplo, "correr". Dessa maneira, correr está para corri assim como fazer
está para...fazi, claro.

O falante inculto usa "ponhar", em vez de "pôr", por analogia com verbos de sonoridade
parecida da primeira conjugação, terminados em "ar" (que são a maioria), como "sonhar".
Portanto, sonho está para sonhar assim como ponho está para...ponhar.

Essas evoluções distinguem a oralidade da escrita sem, contudo, terem real impacto na
"gramática" dessa mesma língua. Essa evolução diária nem sempre é duradoura, e
normalmente os processos que ocorrem variam ao longo do tempo. Assim, vamos considerar a
lei do menor esforço e analogia e enumerar os fenômenos que podem acontecer.
Esqueça por enquanto as nomenclaturas japonesas para as alterações sonoras, pois vamos
usar a língua portuguesa como exemplo, mas é claro, isso vale para qualquer idioma e
certamente as alterações sonoras japonesas poderão ser encaixadas em um ou mais grupos.

Decorrentes da lei do menor esforço e analogia, as mudanças de pronúncia podem ser


divididas em três grupos, cada um tendo suas subdivisões. Vejamos:

I. ADIÇÃO DE SOM

Prótese: quando se acrescenta um som no início da palavra. → mostrar > amostrar;

Epêntese: quando se acrescenta um som no interior da palavra. → pneu > peneu;

Paragoge: quando se acrescenta um som no final da palavra. → amor > amore.

II. SUPRESSÃO DE SOM

Aférese: quando um som é suprimido no início da palavra. → estou > tou;

Síncope: quando um som é suprimido no interior da palavra. → poer (português arcaico) > pôr
(português atual);

Apócope: quando um som é suprimido no final da palavra. → disse à Ana > diss'à Ana.

III. ALTERAÇÃO DE SOM

Assimilação: quando sons próximos influenciam outros. → mentir > mintir;

Dissimilação: quando um som desaparece ou modifica-se para evitar que surjam sons iguais ou
semelhantes (próximos ou não) numa palavra. → ministro > ministro;

Nasalização: quando uma vogal se torna nasal devido a outro som nasal. → mesa > mensa;
Vocalização: quando uma consoante se torna uma vogal. → animal > animau;

Ditongação: quando uma vogal dá origem a um ditongo. → coelho > coeilho;

Metátese: quando um som muda de posição numa palavra ou numa sílaba. → hás-de > há-des;

Sinérese (contração): quando duas vogais se transformam num ditongo. → compreender >
compriender.

9.10. O FENÔMENO “PALAVRA INVERTIDA”

Neste tópico, vamos tratar de um assunto que provavelmente você nunca ouviu falar. De
forma simples, esse fenômeno trata-se de palavras invertidas e é chamado 「ぎゃくよみ」 (逆読
み), “leitura às avessas” ou ainda 「とうご」 (倒語), “palavra invertida”. Esse fenômeno é análogo
ao “verlan”, que existe na língua francesa, caracterizado pela inversão da posição das sílabas
ou das letras da palavra. O nome vem de l'envers (pronunciado lanver, em francês), que
significa "o inverso".

É utilizado principalmente por jovens, como um conjunto de gírias, ou um método de criação


de novas gírias. Servem para serem usados como nomes artísticos, para fazer humor e outras
coisas do gênero.

Voltando para a língua japonesa, esse tipo de palavra se popularizou ainda mais durante o
Período Edo (1603 – 1868). Um exemplo que é usado até hoje é「キセル」, que significa
“cachimbo” e invertido torna-se 「セルキ」. É claro que o modo como a palavra é invertida pode
variar e também devemos considerar que essas inversões existiram no japonês por algum
tempo, apesar que esse tipo de mudança pode acontecer em qualquer língua,
independentemente da geração.

O objetivo dessas inversões é trazer algum tipo de ênfase e, embora a utilização dessas
inversões seja bastante variada, são geralmente tratadas como linguagem restrita a um grupo.
Em japonês, isso normalmente gera uma visão negativa, e quase que certamente irão ser
conhecidas e utilizadas apenas por um pequeno grupo de pessoas. Vejamos alguns exemplos:

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Também é importante notar que a “leitura às avessas” é frequentemente utilizada em nomes
de marca. Vejamos alguns exemplos:

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9.11. O SENTIDO DAS PALAVRAS

Já sabemos de onde se originaram os elementos que compõem o conjunto de palavras da


língua japonesa, quais são os principais processos de interação entre eles para a formação de
novas palavras e também aspectos da pronúncia e suas alterações ao longo dos séculos. Agora,
vamos abordar mais profundamente o assunto “sentido das palavras”.

Uma língua é um elemento vivo que também evolui e que se transforma a cada minuto.
Palavras e expressões que marcam uma geração podem facilmente ser esquecidas na década
seguinte. Algumas pessoas se espantam com a velocidade com que o idioma assimila alguns
vocábulos e com sua tendência a descartar elementos linguísticos que, à primeira vista,
pareciam eternos e imunes às mudanças.

Mesmo que cause estranheza, essa evolução da língua é parte da eterna necessidade de
renovação a que todos estão irremediavelmente atados. Não se trata, portanto, de dizer que
uma língua está sendo destruída por seus falantes atuais ou que as "pessoas de antigamente"
tinham mais cuidado com o vernáculo, ou, pior ainda, de preconizar que "os jovens estão
matando o idioma" cada vez que falam. O que há, na verdade, é uma adequação da linguagem
a uma época é às situações impostas pelo próprio cotidiano. Pode-se dizer que essa adequação
do idioma às necessidades de cada época se dá através de um de três processos:

(1) a importação de uma palavra estrangeira que já expresse o conceito desejado;

(2) a “construção” de uma nova palavra através da junção de elementos significativos já


existentes no idioma (ou mesmo derivado de outros);

(3) a mudança semântica, isto é, a mudança de significado de uma palavra através dos tempos.
Em alguns casos, o significado da palavra mutante em nada lembra a essência do estágio
anterior da língua.

Vamos neste tópico nos focar na mudança semântica. Vejamos as “causas” mais comuns para
esse fenômeno (usaremos a língua portuguesa como exemplo, mas as causas aqui apontadas
acontecem em qualquer idioma):
A) METONÍMIA E METÁFORA: os processos mais comuns que levam à mudança no significado
de uma palavra são as metonímias e as metáforas. Metonímia consiste em empregar um
termo no lugar de outro, havendo entre ambos estreita afinidade ou relação de sentido. Por
exemplo, "Palácio do Planalto" é usado como um metônimo (uma instância de metonímia)
para representar a presidência do Brasil, por ser localizado lá o gabinete presidencial. Já a
metáfora é a comparação de palavras em que um termo substitui outro. É uma comparação
abreviada em que o verbo não está expresso, mas subentendido. Por exemplo, ao dizer que
um amigo "está forte como um touro", obviamente não significa que ele se parece fisicamente
com o animal, mas está tão forte que faz lembrar um touro, comparando a força entre o
animal e o indivíduo.

A metonímia é bem mais produtiva do que a metáfora como processo modificador do


significado das palavras. Uma das suas ocorrências mais freqüentes é na criação de nomes
para novos objetos, conceitos ou ramos do conhecimento, e é interessante notar que muitas
vezes, embora estas novas denominações sejam extremamente transparentes, raros são
aqueles que percebem sua origem como veremos nos exemplos abaixo:

- A palavra “músculo” designava um pequeno rato, sendo o diminutivo do latim “mus” (que
deu origem ao “mouse” do inglês); como os médicos da Idade Média, ao olharem para o
músculo exposto de um paciente, o acharam parecido com um filhote de rato, sem pêlo,
deram-lhe o nome de “musculu(m)”, que se mantém em várias línguas até os dias de hoje.

Já as metáforas são bem menos produtivas, talvez por serem mais profundas e poéticas, na
evolução de novos significados das palavras. Também nesse caso, a maioria dos falantes
muitas vezes não faz ideia da origem da palavra, embora seja bastante óbvio, como veremos
nos exemplos seguintes:

- A palavra “porco” indicava originalmente uma espécie de animal e passou a indicar, por um
processo metafórico, as pessoas que são sujas como um porco.

B) MUDANÇAS PEJORATIVAS: muitas mudanças de significados são pejorativas, ou seja,


palavras de sentido positivo ou neutro adquirem um matiz pejorativo. Essas palavras são
importantes por retratarem os hábitos, os pensamentos e os preconceitos de uma
determinada época:

- A palavra “vilão” tinha o significado original de “habitante de uma vila”; devido ao


preconceito que as pessoas da época tinham contra os pobres, que moravam nas vilas, a
palavra vilão foi desenvolvendo, pouco a pouco, o sentido de “grosseirão”, “malvado”;
- A palavra “rapariga” tinha (e, em Portugal, ainda tem) o sentido de “moça”, “mulher jovem”;
como muitos homens abastados de outrora tinham raparigas como concubinas, o português
do Brasil passa a diferenciar “moça” (necessariamente virgem) de “rapariga” (que podia ou
não ser virgem), ficando o termo “rapariga”, principalmente no Nordeste, quase como
sinônimo de prostituta.

Às vezes, as mudanças pejorativas têm por origem um eufemismo (palavra usada em lugar de
outra, para atenuar seu sentido negativo ou ofensivo), que perde sua razão de ser, como é o
caso dos exemplos seguintes:

- A palavra “cretino”, usada hoje em dia para indicar uma pessoa de pouca inteligência ou
estúpida, provém de uma palavra francesa que significava “cristão”; como era costume usar-se
o eufemismo pobre cristão ou cristão para designar os loucos, a palavra adquiriu aos poucos o
sentido de “louco” e finalmente seu sentido atual;

- A palavra “idiota” significava simplesmente “diferente”; como era usada para indicar os
deficientes, principalmente os deficientes mentais (à maneira da palavra “especial” hoje em
dia), aos poucos adquiriu esse sentido, de deficiente mental, de estúpido.

C) MUDANÇAS AMELIORATIVAS: outro tipo de mudança de significado é aquela que podemos


chamar de ameliorativa, em que uma palavra de sentido negativo (ou neutro) adquire um
sentido positivo. Normalmente, tratam-se de termos grosseiros ou jocosos que são atenuados
com o passar dos anos, como podemos constatar abaixo:

- A palavra “perna” indicava originalmente “perna de animal” (equivalente aos termos atuais
“pernil” ou “pata”); devido ao seu constante uso em relação às pernas dos seres humanos, ela
adquire o sentido de perna humana ou animal, que mantém até hoje;

- A palavra “barriga” era pejorativa, significando inicialmente “barrica (pequeno barril)”; com o
tempo ela passa a indicar o ventre, seja magro ou gordo.

D) MUDANÇAS DEVIDAS AO TABU: muitas vezes, uma palavra deixa de ser usada devido a ter-
se tornado um tabu, uma palavra proibida, seja por medo, por delicadeza ou por decência.
Nesses casos, outra palavra, geralmente um eufemismo, vem substituir a palavra que não
pode ser dita, fazendo com que esta nova palavra desenvolva um novo significado. Seguem
alguns exemplos que ilustram bem esse processo:

- A palavra “diabo”, do grego “diabolon”, possuía originalmente o sentido de “opositor”, sendo


usada em decorrência do tabu de medo para evitar que fosse dito o nome do ente diabólico
(da mesma forma que, hoje em dia, as igrejas cristãs fundamentalistas usam o eufemismo o
Inimigo); com o tempo esse eufemismo adquire o sentido de ente diabólico;

- A palavra “miserável”, por seu caráter pejorativo muito forte, passa a ser substituída, devido
ao tabu de delicadeza, pela palavra “excluído”, que pouco a pouco vai adquirindo o significado
de miserável.

E) ESPECIALIZAÇÃO DO SIGNIFICADO: certas palavras desenvolvem um novo sentido quando


são postas num contexto diferente daquele em que costumavam ser empregadas, naquilo que
se chama de “especialização de significado”, como podemos constatar nos exemplos abaixo:

- A palavra “companhia” significava simplesmente o oposto de solidão; quando utilizada no


âmbito do comércio, passa ater o significado de empresa que têm vários donos;

- A palavra “ação” indicava um movimento para realizar algo; no âmbito jurídico, passa a
indicar um tipo de processo, enquanto que no âmbito financeiro passa a indicar um
documento de uma operação de risco;

- A palavra “foca” indica um mamífero aquático; empregado no âmbito jornalístico, significa


repórter inexperiente.

F) AMPLIAÇÃO DE SIGNIFICADO: certas palavras passam de um significado original mais


restrito para um significado mais geral, como podemos constatar pelos exemplos abaixo:

- A palavra “armário” indicava na Idade Média um lugar específico para se guardar as armas;
por um processo de ampliação de significado, ela passa a designar qualquer móvel destinado a
guardar coisas;

- A palavra “paquerar” designava especificamente observar pacas com intuito de caçar; num
processo de ampliação de significado, passa a indicar observar pessoas com interesse;

- A palavra “clássico” indicava apenas os autores e obras que eram lidos em classe (sala de
aula); por um processo de ampliação de significado passa a indicar qualquer autor ou obra
aclamado ou famoso.
G) RESTRIÇÃO DE SIGNIFICADO: num processo inverso ao descrito no item anterior, algumas
vezes palavras de significado geral passam a ter um significado mais restrito, como podemos
verificar pelos exemplos abaixo:

- A palavra “ministério” significava originalmente o ofício de alguém, aquilo que uma pessoa
devia fazer; com o tempo, há uma restrição de significado e a palavra ministério passa a indicar
somente o ofício de um sacerdote ou o lugar dos ministros;

- A palavra “paixão” indicava qualquer emoção profunda, positiva ou negativa (daí a Paixão de
Cristo); atualmente, houve uma restrição de significado e o termo paixão passou a indicar
apenas emoção profunda positiva;

- A palavra “cachorro”, proveniente do basco, indicava qualquer tipo de filhote; por um


processo de restrição de significado, passa a indicar filhote de cão e o próprio cão.

H) EQUÍVOCOS DE INTERPRETAÇÃO: uma das causas mais estranhas e fascinantes da mudança


de significado é aquela que ocorre devido a um equívoco na interpretação da palavra. Como
neste tipo de situação cada caso é um caso, vejamos alguns bem interessantes:

- A palavra “missa” não tinha nada a ver com a cerimônia religiosa, constituindo o particípio
passado do verbo mittere ("enviar, mandar, dispensar"). Nas igrejas primitivas, nos primórdios
do Cristianismo, o culto era dividido em duas partes: a primeira, composta de orações, leituras
bíblicas e de um sermão, que era aberta a todos; a segunda (a eucaristia) era reservada
somente aos já batizados e a portas fechadas. Por isso, no final da 1ª parte, dizia-se aos não
batizados a fórmula "Ite, missa est", que significa, aproximadamente, "Podem ir, [vocês] estão
dispensados". Entretanto, o povo entendeu erroneamente que a palavra missa era o nome da
cerimônia, significado que se mantém até hoje;

- A palavra “acusativo” para designar o objeto direto deriva de um erro de leitura da palavra
causativo que perdura até hoje;

- A palavra “floresta” tinha o significado original de área do lado de fora da cidade e era escrita
“foresta” (conferir o inglês “forest” e o francês “forêt”); como a parte de fora da cidade
normalmente era arborizada, o povo entendeu que ela era derivada de flora e significava
mata, daí sua forma e significado atuais.

I) PALAVRAS QUE CONTAM HISTÓRIAS: certas palavras têm uma história tão interessante que
vale a pena contá-las; elas são parte da própria história e nos ajudam a entender melhor o
mundo em que vivemos e o mundo do qual viemos. Deleitemo-nos, pois, com essas palavras
que contam histórias:

- A palavra “escravo” serve para que tenhamos uma visão mais ampla do problema da
escravidão, muitas vezes situada apenas em termos da escravidão negra. Faz-se necessário
entender que a escravidão era uma prática plenamente aceita, assim como a guerra e o saque,
em tempos bem mais cruéis que os atuais. A escravidão primordial, que se estendeu por toda
a Antiguidade, era basicamente uma escravidão de homens brancos, o que é cabalmente
demonstrado pelo fato de a palavra escravo ser oriunda de “sclavu(m)”, que por sua vez
provém de “slavu(m)”, que significava “eslavo”, um povo que vivia nas fronteiras do Império
Romanoe era frequentemente capturado para servir de escravo, daí a evolução do significado
da palavra para o significado que permanece até hoje;

- A palavra “rastaquera”, do francês “rastra coeur”, indicava originalmente o novo rico, o


afetado, que “arrastava o coração” (rastra coeur) pela Europa e desprezava as coisas e
costumes do Brasil; o fato de ela ter evoluído para indicar indivíduo sem valor, sem qualidade,
mostra bem o estofo de que eram feitos esses “emergentes” de outrora.

9.12. AS PARTES DO DISCURSO

Aprendemos quais são as três fontes lexicais da língua japonesa, os principais aspectos da
formação de palavras e seus sentidos. Por fim, vamos ver como elas são agrupadas, isto é,
quais são as classes de palavras, ou como são comumente chamadas em japonês, “partes do
discurso” [「ひんし」 (品詞)]. Devido à fonética limitada da língua japonesa, é muito importante
que você as conheça, a fim de interpretar as coisas. Saber quais são as partes do discurso,
como usá-las e identificá-las irá ajuda-lo muito em seus estudos.

Existem 11 partes do discurso no japonês. Vejamos:

1. Substantivos [「めいし」 (名詞)]: palavras que são uma pessoa, lugar ou coisa;

2. Pronomes [「だいめいし」 (代名詞)]: palavras que se referem a eu, você, ele, etc;

3. Verbos [「 どうし」 (動詞)]: palavras que descrevem uma ação ou processo;

4. Adjetivos [「けいようし」 (形容詞)]: palavras que descrevem uma condição;


5. Verbos-Adjetivos [「けいようどうし」 (形容動詞)]: palavras que também descrevem uma
condição;

6. Partículas [「じょし」 (助詞)]: palavras que mostram certo tipo de relação gramatical;

7. Verbos Auxiliares [「じょどうし」 (助動詞)]: alteram o sentido de partes do discurso


flexionáveis;

8. Interjeições [「かんどうし」 (感動詞)]: palavras que descrevem uma emoção;

9. Conjunções [「せつぞくし」 (接続詞)]: palavras ou frases que conectam uma oração a outra;

10. Atributivos [「れんたいし」 (連体詞)]: palavras que modificam substantivos;

11. Advérbios [「ふくし」 (副詞)]: palavras que modificam verbos, adjetivos e verbos-adjetivos;

As palavras podem ser independentes [「じりつご」 (自立語)] ou dependentes [「ふぞくご」 (付属


語)], e flexionáveis ou inflexionáveis. As palavras independentes podem ser entendidas por si
mesmas, ao passo que as dependentes necessitam de um contexto para serem
compreendidas.

As únicas partes do discurso que são dependentes são as partículas e os verbos auxiliares, e as
únicas que são flexionáveis (podem ser conjugadas) são os verbos, adjetivos, verbos-adjetivos
e verbos auxiliares.

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