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MA13 - Unidade 1

Con eitos Geométri os Bási os I

Semana 08/08/2011 a 14/08/2011

1 Introdução
O leitor ertamente tem uma boa ideia, a partir da experiên ia diária, do que
vem a ser um ponto, uma reta ou um plano. Portanto, vamos assumir essas
noções omo onhe idas.

r s
B

Figura 1: pontos e retas no plano.

Na gura 1 temos os pontos A e B e as retas r e s (em geral, denotare-


mos pontos por letras latinas maiús ulas e retas por letras latinas minús ulas).
Grosso modo, podemos dizer que a geometria Eu lidiana plana estuda proprie-
dades relativas aos pontos e retas de um plano.
Dados no plano um ponto P e uma reta r, só há duas possibilidades: ou o

1
2 MA13 - Unidade 1

ponto P perten e à reta r ou não; no primeiro aso es revemos P ∈ r (lê-se P


perten e a r) e no segundo es revemos P ∈/ r (lê-se P não perten e a r). Na
gura 2 temos A ∈ r e B ∈/ r.

B
A

Figura 2: posições relativas de ponto e reta.

Neste momento, é natural nos perguntarmos sobre quantas retas podem ser
traçadas por dois pontos dados. Assumiremos que podemos traçar exatamente
uma tal reta. Em resumo, por dois pontos distintos A e B do plano podemos
traçar uma úni a reta (veja a gura 3). Nesse aso, sendo r a reta determinada
←→
por tais pontos, denotamos alternativamente r = AB .

r
B
A

Figura 3: dois pontos determinam uma úni a reta.

Um ponto A, situado sobre uma reta r, a divide em dois pedaços, quais


sejam, as semirretas de origem A. Es olhendo pontos B e C sobre r, um em
−→
ada um de tais pedaços, podemos denotar as semirretas de origem A por AB
−→
e AC . Na gura 4 mostramos a porção da reta r orrespondente à semirreta
−→ −→
AB (a porção orrespondente à semirreta AC foi apagada).
Dados pontos A e B sobre uma reta r, o segmento AB é a porção da reta
r situada de A a B . Es revemos AB para denotar o omprimento do segmento
AB (que, a menos que se diga o ontrário, será medido em entímetros). Para
de idir se dois segmentos dados no plano são iguais (i.e., se têm omprimentos
iguais) ou, aso ontrário, qual deles é o maior, podemos usar um ompasso,
transportando um dos segmentos para a reta determinada pelo outro:
Con eitos Geométri os Bási os 3

B
r
A

−→
Figura 4: semirreta AB de origem A.

Exemplo 1. Com o uso de um ompasso, transporte o segmento AB para a


←→
reta CD e de ida se AB > CD ou vi e-versa.

Solução.

Também podemos usar um ompasso para adi ionar segmentos, ou para


multipli ar um segmento por um natural, onforme o seguinte

Exemplo 2. Dados no plano os segmentos


AB e CD omo abaixo, onstrua
om régua e ompasso segmentos EF e GH tais que EF = AB + CD e
GH = 3 AB .

Solução.

C
B

A D
4 MA13 - Unidade 1

Uma última observação sobre segmentos: dados pontos A e B no plano,


denimos a distân ia d(A, B) entre os mesmos omo o omprimento AB do
segmento AB :
d(A, B) = AB.

Além de pontos, retas, semirretas e segmentos, ír ulos serão objetos de


grande importân ia em nosso estudo de geometria Eu lidiana plana. Pre isa-
mente, dados um ponto O e um real r > 0 (que deve ser pensado omo o
omprimento de um segmento), o ír ulo de entro O e raio r é o onjunto
dos pontos P do plano que estão à distân ia r de O, i.e., tais que OP = r:

r
P

Figura 5: o ír ulo de entro O e raio r.

De uma maneira mais on reta, o ír ulo de entro O e raio r é a urva plana


obtida quando posi ionamos a ponta de um ompasso no ponto O e xamos sua
abertura omo igual ao omprimento r. O omplemento de um ír ulo no plano
onsiste de duas regiões, uma limitada, que denominamos seu interior e a outra
ilimitada, denominada o exterior do ír ulo. Alternativamente, o interior do
ír ulo de entro O e raio r é o onjunto dos pontos P do plano uja distân ia
ao entro O é menor que r, i.e., tais que OP < r (gura 6); analogamente, o
exterior do ír ulo é o onjunto dos pontos P do plano uja distân ia ao entro
O é maior que r, i.e., tais que OP > r.

P
r

Figura 6: interior do ír ulo de entro O e raio r.


Con eitos Geométri os Bási os 5

Via de regra, denotaremos ír ulos por letras gregas maiús ulas. Por exem-
plo, denotamos o ír ulo da gura 7 a seguir por Γ (lê-se gama), e podemos
mesmo es rever Γ(O; r), aso queiramos enfatizar que o entro de Γ é O e o raio
é r.
Dado um ír ulo Γ de entro O e raio r (gura 7), também denominamos
raio do mesmo a todo segmento que une o entro O a um de seus pontos;
por exemplo, OA, OB e OP são raios do ír ulo Γ. Uma orda de Γ é um
segmento que une dois pontos quaisquer do ír ulo; um diâmetro de Γ é uma
orda que passa por seu entro. Nas notações da gura 7, AB e CD são ordas
de Γ, sendo AB um diâmetro. Todo diâmetro de um ír ulo o divide em duas
partes iguais, denominadas semi ír ulos; re ipro amente, se uma orda de um
ír ulo o divide em duas partes iguais, então tal orda deve ne essariamente ser
um diâmetro do ír ulo.

C
D Γ
O
B A
r
P

Figura 7: elementos de um ír ulo.

Ainda em relação à gura 7, o leitor deve ter notado que uma porção do
ír ulo Γ apare e em negrito. Tal porção orresponde a um ar o de ír ulo,
i.e., a uma porção de um ír ulo delimitada por dois de seus pontos. Note que
há uma erta ambiguidade nessa denição, devida ao fato de que dois pontos
sobre um ír ulo determinam dois ar os. Em geral, resolveremos essa situação
nos referindo ao ar o menor ou ao ar o maior CD. Desse modo,


diremos
que a porção do ír ulo Γ em negrito na gura 7 é o ar o menor CD. Outra
possibilidade é es olhermos mais um ponto sobre o ar o a que desejamos nos
referir, denotando o ar o om o auxílio desse ponto extra; na gura 7, por
⌢ ⌢
exemplo, poderíamos es rever CP D para denotar o ar o maior CD.
Exemplo 3. Construa om um ompasso o ír ulo de entro O e passando pelo
ponto A. Em seguida, marque sobre o mesmo todos os possíveis pontos B para
os quais a orda AB tenha o omprimento l dado.
6 MA13 - Unidade 1

Solução.

O
l

Problemas  Seção 1

1. Sejam A, B , C e D pontos sobre uma reta r. Quantas são as semirretas


ontidas na reta r e tendo por origem um de tais pontos?
2. Os pontos A, B e C estão todos situados sobre uma mesma reta r, om
C ∈ AB . Se AB = 10 m e AC = 4 BC , al ule AC .

3. Sejam A, B , C e D pontos de uma reta r. Se AC = BD, prove que


AB = CD .

4. Sobre uma reta r estão mar ados três pontos A, B e C , tais que B está
entre A e C , AB = 3 m e AC = 5, 5 m. Usando somente um ompasso,
marque sobre r um ponto D entre A e B , tal que AD = BC .
5. Marque no plano, om o auxílio de uma régua e ompasso, três pontos A,
B e C tais que AB = 5 m, AC = 6 m e BC = 4 m.

2 Ângulos
Come emos esta seção om nossa primeira denição formal, que en ontrará
utilidade em outras situações.
Denição 4. Uma região R do plano é onvexa quando, para todos os pontos
A, B ∈ R, tivermos AB ⊂ R. Caso ontrário, diremos que R é uma região
não- onvexa.
Con eitos Geométri os Bási os 7

B
A B

Figura 8: regiões onvexa (esq.) e não- onvexa (dir.).

De a ordo om a denição a ima, para uma região R ser não- onvexa basta
que existam pontos A, B ∈ R tais que pelo menos um ponto do segmento AB
não pertença a R.
Uma reta r de um plano o divide em duas regiões onvexas, os semiplanos
delimitados por r. Dados pontos A e B , um em ada um dos semiplanos em
que r divide o plano, tem-se sempre AB ∩ r 6= ∅ (gura 9).

A B

Figura 9: semiplanos determinados por uma reta.

−→ −→
Denição 5. Dadas no plano duas semirretas OA e OB , um ângulo (ou
−→ −→
região angular) de vérti e O e lados OA e OB é uma das duas regiões do
−→ −→
plano limitadas pelas semirretas OA e OB .
Um ângulo pode ser n avo ou onvexo; na gura a ima, o ângulo da es-
querda é onvexo, ao passo que o da direita é n avo. Denotamos um ângulo
−→ −→
de lados OA e OB es revendo ∠AOB ; o ontexto deixará laro se estamos nos
referindo ao ângulo onvexo ou ao n avo.
Nosso objetivo agora é asso iar a todo ângulo uma medida da região do
plano que ele o upa. Para tanto (gura 11), divida um ír ulo Γ de entro O
8 MA13 - Unidade 1

O
O A

Figura 10: regiões angulares no plano

em 360 ar os iguais, e tome pontos X e Y , extremos de um desses 360 ar os


iguais. Dizemos que a medida do ângulo ∠XOY é de 1 grau, denotado 1◦ , e
es revemos
b = 1◦ .
X OY

Y
X

Figura 11: grau omo unidade de medida de ângulos.

Há um pequeno problema om a denição de grau dada a ima. Como po-


demos saber que ela não depende do ír ulo es olhido? De outro modo, omo
podemos saber se, dividindo outro ír ulo Σ (lê-se sigma) em 360 partes iguais,
obteremos um ângulo ∠X ′ OY ′ o qual podemos dizer também medir 1◦ ? Para
responder essa pergunta onsidere a gura 12. Nela temos dois ír ulos Γ e Σ,
de mesmo entro O, e dois pontos A, B ∈ Γ. Sejam A′ e B ′ os pontos de inter-
−→ −→
seção das semirretas OA e OB om Σ. É intuitivamente óbvio que a fração de
⌢ ⌢
Γ que o ar o menor AB representa é igual à fração de Σ que o ar o menor A′ B ′
Con eitos Geométri os Bási os 9

A′
B′ A
B
O
Γ
Σ

Figura 12: boa denição da noção de grau.

representa (se vo ê não se onven er disso, assuma a validade dessa armação


omo um axioma). Portanto, se na denição de grau tivéssemos tomado um
ír ulo Σ, de raio diferente do raio de Γ mas om mesmo entro O, teríamos um
mesmo ângulo representando a medida de 1◦ .
A partir da denição de grau é imediato que um ír ulo ompleto orresponde
a 360◦. Por outro lado, dado um ângulo ∠AOB , permane e a pergunta de
omo podemos medi-lo. Para responder à mesma fazemos a seguinte onstrução:
traçamos um ír ulo qualquer Γ de entro O e mar amos os pontos A′ e B ′ em
−→ −→
que Γ interse ta os lados OA e OB de ∠AOB (gura 13); em seguida, vemos

que fração do omprimento total de Γ o ar o A′ B ′ representa. A medida AOBb
do ângulo ∠AOB será essa fração de 360 . Por exemplo, se o omprimento do

B′

A
O A′
Γ

Figura 13: medindo o ângulo ∠AOB .


10 MA13 - Unidade 1


ar o A′ B ′ for 1
6 do omprimento total de Γ, então a medida de ∠AOB será

b = 1
AOB · 360◦ = 60◦ .
6
Observações 6.
i. Diremos que dois ângulos são iguais se suas medidas forem iguais.

ii. A m de evitar onfusões, usaremos sistemati amente notações diferentes


para um ângulo e para sua medida em graus.

iii. Muitas vezes usamos, por e onomia de notação, letras gregas minús ulas
para denotar medidas de ângulos1; por exemplo, es revemos AOB b = θ
(lê-se téta) para signi ar que a medida do ângulo ∠AOB é θ graus.

Exemplo 7. Com o auxílio de um ompasso, onstrua um ângulo de vérti e


O′ , om um lado situado sobre a reta r e igual ao ângulo α dado.

Solução.
r

O′

Os passos a seguir serão justi ados quando estudarmos o aso LLL de on-
gruên ia de triângulos na Unidade 3.
Des rição dos passos.

1. Tra e um ar o de ír ulo de raio arbitrário R, entrado no vérti e do


ângulo dado, mar ando pontos X e Y sobre os lados do mesmo.

2. Tra e outro ar o de ír ulo de raio R, entrado em O′ , mar ando Y ′ omo


um dos pontos de interseção do mesmo om a reta r.

3. Marque o ponto X ′ de interseção do ír ulo de raio R e entro O′ om o


ír ulo de raio XY e entro Y ′ .
1 A ex eção é a letra π (lê-se ); por razões que  arão laras posteriormente, reservamos
pi

outro uso para tal letra.


Con eitos Geométri os Bási os 11

4. O ângulo ∠X ′ O′ Y ′ mede α.
Observamos anteriormente que todo diâmetro de uma ir unferên ia a divide
−→
em duas partes iguais. Assim, se tivermos um ângulo ∠AOB tal que OA e
−→
OB sejam semirretas opostas (i.e., A, O e B estejam numa mesma reta, om
O ∈ AB ), então AOB
b = 180◦ (gura 14).

180◦

B A
O

Figura 14: ângulo de 180◦ .

Raras vezes utilizaremos ângulos maiores que 180◦ . Assim, no que segue,
quando es revermos ∠AOB estaremos nos referindo, a menos que se diga o
ontrário, ao ângulo onvexo ∠AOB , i.e., ao ângulo ∠AOB tal que 0◦ < AOB
b ≤
180◦. Diremos (gura (15) que um ângulo ∠AOB é agudo quando 0◦ < AOB b <
90 , reto quando AOB
◦ b = 90 e obtuso quando 90 < AOB
◦ ◦ b < 180 . Observe

ainda, na (gura 15), a notação espe ial utilizada para ângulos retos.

B
B
B

θ = 90◦
θ < 90 ◦ θ > 90◦

O A A A
O O

Figura 15: ângulos agudo (esq.), reto ( entro) e obtuso (dir.).

É por vezes útil ter um nome espe ial asso iado a dois ângulos uja soma
das medidas seja igual a 90◦ ; diremos doravante que dois ângulos om tal pro-
priedade são omplementares. Assim, se α e β são as medidas de dois ângulos
omplementares, então α + β = 90◦ . Ainda nesse aso, dizemos que α é o om-
plemento de β , e vi e-versa. Por exemplo, dois ângulos medindo 25◦ e 65◦ são
omplementares, uma vez que 25◦ + 65◦ = 90◦ ; por outro lado, o omplemento
de um ângulo de 30◦ é um ângulo de medida igual a 90◦ − 30◦ = 60◦ .
A primeira proposição de geometria Eu lidiana que vamos provar forne e
uma ondição su iente para a igualdade de dois ângulos. Contudo, antes de
enun iá-la pre isamos da seguinte
12 MA13 - Unidade 1

Denição 8. Dois ângulos ∠AOB e ∠COD (de mesmo vérti e O) são opostos
pelo vérti e (abreviamos OPV) se seus lados forem semirretas opostas.

D A
γ

β α
O

C B

Figura 16: ângulos opostos pelo vérti e.

Os ângulos ∠AOB e ∠COD da gura 16 são OPV, uma vez que as semirretas
−→ −→ −→ −→
OA e OC , bem omo as semirretas OB e OD , são respe tivamente opostas.

Proposição 9. Dois ângulos OPV são iguais.


−→ −→
Prova. Vamos nos referir à gura (16). Como OB e OD são semirretas opostas,
segue que α + γ = 180◦ . Analogamente, β + γ = 180◦ . Portanto,

α = 180◦ − γ = β.

Problemas  Seção 2

1. Se a interseção de duas regiões onvexas de um plano não for o onjunto


vazio, prove que ela também é uma região onvexa.
2. Cal ule a medida do ângulo que somado ao triplo de seu omplemento dá
210◦ omo resultado.

3. Cal ule as medidas de dois ângulos omplementares, sabendo que o om-


plemento do dobro de um deles é igual à terça parte do outro.
4. Os ângulos α e β são OPV, e suas medidas em graus são expressas por
9x − 2 e 4x + 8, respe tivamente. Cal ule, também em graus, a medida
de α + β .
MA13 - Unidade 2

Con eitos Geométri os Bási os II

Semana 08/08/2011 a 14/08/2011

Polígonos
←→
Considere três pontos A, B e C no plano. Se C estiver sobre a reta AB ,
diremos que A, B e C são olineares; aso ontrário, diremos que A, B e C
são não- olineares (gura 1).

A B r

Figura 1: três pontos não- olineares.

Denominamos triângulo à região limitada do plano, delimitada por três


pontos não- olineares. Sendo A, B e C tais pontos, diremos que A, B e C são

1
2 MA13 - Unidade 2

os vérti es do triângulo ABC . Mostramos, na gura 2, o triângulo ABC


que tem por vérti es os pontos A, B e C da gura 1.

C
b
a
A
c B

Figura 2: o triângulo ABC de vérti es A, B e C.

Ainda em relação a um triângulo genéri o ABC , dizemos que os seg-


mentos AB , AC e BC (ou seus omprimentos) são os lados do triângulo;
es reveremos em geral AB = c, AC = b e BC = a para denotar os ompri-
mentos dos lados de um triângulo ABC (gura 2). A soma dos omprimentos
dos lados do triângulo é seu perímetro, o qual será, doravante, denotado
por 2p; assim, p é o semiperímetro do triângulo. Nas notações da gura 2,
temos
a+b+c
p= . (1)
2
Os ângulos ∠A = ∠BAC , ∠B = ∠ABC e ∠C = ∠ACB (ou suas medidas
b ,B
b = B AC
A b eC
b = ABC b ) são os ângulos internos do triângulo.
b = ACB
Podemos lassi ar triângulos de duas maneiras bási as: em relação aos
omprimentos de seus lados ou em relação às medidas de seus ângulos; veja-
mos, por enquanto, omo lassi á-los em relação a seus lados. Como todo
triângulo tem três lados, as úni as possibilidades para os omprimentos dos
mesmos são que haja pelo menos dois lados iguais ou que os três lados sejam
diferentes dois a dois. Assim, temos a seguinte

Denição 1. Um triângulo ABC é denominado:

(a) Equilátero, se AB = AC = BC .
(b) Isós eles, se ao menos dois dentre AB, AC, BC forem iguais.
Con eitos Geométri os Bási os 3
A A
A

B C B C B C

Figura 3: triângulos equilátero (esq.), isós eles ( entro), es aleno (dir.).

(c) Es aleno, se AB 6= AC 6= BC 6= AB .
Pela denição a ima todo triângulo equilátero é isós eles; no entanto a
re ípro a não é verdadeira (veja, por exemplo, o triângulo ABC do entro
na gura 3, para o qual temos laramente AB = AC 6= BC ).
Quando ABC for um triângulo isós eles, tal que AB = AC , dizemos
que o lado BC é a base do triângulo. Para triângulos equiláteros, podemos
hamar um qualquer de seus lados de base, mas nesse aso raramente usamos
essa palavra, i.e., em geral reservamos a palavra base para triângulos isós eles
não equiláteros.
Um triângulo é um tipo parti ular de polígono onvexo, onforme a se-
guinte

Denição 2. Sejam n ≥ 3 um natural e A1 , A2 , . . . , An pontos distintos

do plano. Dizemos que A1 A2 . . . An é um polígono ( onvexo) se, para


←→
1 ≤ i ≤ n, a reta Ai Ai+1 não ontém nenhum outro ponto Aj , mas deixa

todos eles em um mesmo semiplano, dentre os que ela determina (aqui e no

que segue, A0 = An , An+1 = A1 e An+2 = A2 ).

Os pontos A1 , A2 , . . . , An são os vérti es do polígono; os segmentos A1 A2 ,


A2 A3 , . . . , An−1 An , An A1 (ou por vezes seus omprimentos) são os lados do
polígono. Assim omo om triângulos, a soma dos omprimentos dos lados
do polígono é o perímetro do mesmo.
Uma diagonal de um polígono é qualquer um dos segmentos Ai Aj que
não seja um lado do mesmo; por exemplo, o polígono A1 A2 . . . A5 da -
gura 4 possui exatamente in o diagonais: A1 A3 , A1 A4 , A2 A4 , A2 A5 e A3 A5 .
4 MA13 - Unidade 2

A4
A5

A3

A1 A2

Figura 4: um polígono onvexo de in o vérti es (e lados).

Provaremos na proposição 3 que todo polígono onvexo om n lados possui


exatamente n(n−3)2
diagonais (veja também o problema 1, página 6).
Os ângulos onvexos ∠Ai−1 Ai Ai+1 (ou simplesmente ∠Ai , 1 ≤ i ≤ n)
são os ângulos internos do polígono. Assim, todo polígono de n vérti es
possui exatamente n ângulos internos. Na gura 4 mar amos os ângulos
internos do polígono A1 A2 . . . A5 . Um polígono onvexo A1 A2 . . . An possui
exatamente dois ângulos externos em ada um de seus vérti es; no vérti e
A1 , por exemplo, tais ângulos são aquele formado pelo lado A1 A2 e pelo
prolongamento do lado An A1 , no sentido de An para A1 , bem omo o ângulo
oposto pelo vérti e a esse. Analogamente, denimos os ângulos externos de
A1 A2 . . . An em ada um dos outros n − 1 vérti es restantes. Na gura 5,
mar amos os ângulos externos do polígono A1 A2 . . . A5 no vérti e A1 .
Em geral, dizemos que um polígono A1 A2 . . . An é um n−ágono, uma
lara referên ia a seu número n de lados (e de vérti es). Contudo, são onsa-
grados pelo uso os nomes quadrilátero para n = 4, pentágono para n = 5,
hexágono para n = 6, heptágono para n = 7, o tógono para n = 8 e de-
ágono para n = 10. Ainda para quantidades espe í as de lados, é ostume
nomear os vérti es de um polígono om letras latinas maiús ulas distintas.
Por exemplo, um quadrilátero será em geral denotado por ABCD, e nesse
aso sempre suporemos, salvo menção explí ita em ontrário, que os lados
do mesmo são AB , BC , CD e DA. Observações análogas são válidas para
pentágonos, hexágonos, et .
Con eitos Geométri os Bási os 5

A4
A5

A3

A1 A2

Figura 5: ângulos externos de um polígono no vérti e A1 .

A proposição a seguir estabele e o número de diagonais de um n−ágono


onvexo.

Proposição 3. Todo n−ágono onvexo possui exatamente


n(n−3)
2
diagonais.

Prova. Se n = 3 não há nada a provar, uma vez que triângulos não têm
diagonais e n(n−3)
2
= 0 para n = 3. Suponha, pois, n ≥ 4. Unindo o vérti e
A1 aos n − 1 vérti es restantes A2 , . . . , An obtemos n − 1 segmentos; destes,
dois são lados (A1 A2 e A1 An ) e os n − 3 restantes (A1 A3 , . . . , A1 An−1 ) são
diagonais (gura 6). Como um ra io ínio análogo é válido para qualquer ou-
An−1

An A3

A1 A2

Figura 6: diagonais de um n−ágono onvexo partindo de A1 .

tro vérti e, segue que de ada vérti e do polígono partem exatamente n − 3


diagonais. Isso nos daria um total de n(n − 3) diagonais (i.e., n − 3 diagonais
6 MA13 - Unidade 2

para ada um dos n vérti es). Daria, porque ada diagonal Ai Aj foi on-
tada, da maneira a ima, duas vezes: uma quando ontamos as diagonais que
partem do vérti e Ai e outra quando ontamos as que partem do vérti e Aj .
Portanto, para obter o número orreto de diagonais do polígono, devemos
dividir por 2 o total n(n − 3), obtendo então n(n−3)
2
diagonais.

Problemas

1. Prove a fórmula para o número de diagonais de um polígono onvexo


(proposição 3) por indução sobre o número de lados do mesmo.

2. A partir de um dos vérti es de um polígono onvexo podemos traçar


tantas diagonais quantas são as diagonais de um hexágono. En ontre
o número de lados do polígono.

3. Três polígonos onvexos têm números de lados iguais a três naturais


onse utivos. Sabendo que a soma dos números de diagonais dos polí-
gonos é 28, al ule o número de lados do polígono om maior número
de diagonais.
MA13 - Unidade 3

Congruên ia de Triângulos I

Semana 15/08/2011 a 21/08/2011

1 Os asos LAL, ALA e LLL

Consideremos ini ialmente o seguinte


Exemplo 1. Construa om régua e ompasso um triângulo equilátero ABC
de lados iguais a l.
Solução.

Des rição dos passos.

1. Marque um ponto arbitrário A no plano.

1
2 MA13 - Unidade 3

2. Com a abertura do ompasso igual a l, entre-o em A e onstrua o


ír ulo de entro A e raio l.

3. Marque um ponto arbitrário B sobre tal ír ulo, om B 6= A.

4. Com a abertura do ompasso igual a l, entre-o em B e onstrua o


ír ulo de entro B e raio l.

5. Denotando por C uma qualquer das interseções dos dois ír ulos traça-
dos, onstruímos um triângulo ABC , equilátero e de lado l.

No exemplo a ima, onstruímos um triângulo tendo ertas propriedades


pré-estabele idas (ser equilátero, om omprimento dos lados onhe ido). Ao
resolvê-lo, a eitamos impli itamente o fato de que só havia, essen ialmente,
um triângulo satisfazendo as propriedades pedidas; de outro modo, qualquer

outro triângulo que tivéssemos onstruído mere eria ser quali ado omo
igual ao triângulo onstruído, uma vez que só diferiria desse por sua posição

no plano.
A dis ussão a ima motiva a noção de igualdade para triângulos, a qual
re ebe o nome espe ial de ongruên ia: dizemos que dois triângulos são
ongruentes se for possível mover um deles no espaço, sem deformá-lo, até
fazê-lo oin idir om o outro.
Assim, se dois triângulos ABC e A′ B ′ C ′ forem ongruentes, deve existir
uma orrespondên ia entre os vérti es de um e do outro, de modo que os
ângulos internos em vérti es orrespondentes sejam iguais, bem omo o sejam
os lados opostos a vérti es orrespondentes. A gura 1 mostra dois triângulos
ongruentes ABC , A′ B ′ C ′ , om a orrespondên ia de vérti es
A ←→ A′ ; B ←→ B ′ ; C ←→ C ′ .

Para tais triângulos, temos então


(
b=A
A b′ ; B
b=B b′ ; C
b=C
b′
.
AB = A′ B ′ ; AC = A′ C ′ ; BC = B ′ C ′
Congruên ia de Triângulos 3

A C′

B C A′
B′

Figura 1: dois triângulos ongruentes.

É imediato que a ongruên ia de triângulos possui as duas propriedades


interessantes a seguir:

1. Simetria: tanto faz dizermos que um triângulo ABC é ongruente


a um triângulo DEF quanto dizer que DEF é ongruente a ABC ,
ou mesmo que ABC e DEF são ongruentes. Isso porque se puder-
mos mover ABC , sem deformá-lo, até fazê-lo oin idir om DEF , en-
tão ertamente poderemos fazer o movimento ontrário om DEF até
superp-lo a ABC .

2. Transitividade: se ABC for ongruente a DEF e DEF for ongru-


ente a GHI , então ABC será ongruente a GHI . Isso porque podemos
mover ABC até fazê-lo oin idir om GHI por partes; primeiro move-
mos ABC até que ele oin ida om DEF , e então movemos DEF até
que este oin ida om GHI .

Doravante, es reveremos
ABC ≡ A′ B ′ C ′

para denotar que os dois triângulos ABC e A′ B ′ C ′ são ongruentes, om a


orrespondên ia de vérti es

A ←→ A′ ; B ←→ B ′ ; C ←→ C ′ .

Seria interessante dispormos de ritérios para de idir se dois triângulos


dados são ou não ongruentes. Tais ritérios deveriam ser os mais simples
4 MA13 - Unidade 3

possíveis, a m de fa ilitar a veri ação da ongruên ia. Esses ritérios exis-


tem e são hamados asos de ongruên ia de triângulos.
No que segue, vamos estudar os vários asos de ongruên ia de triângulos
sob um ponto de vista informal. Cada aso é pre edido de um problema de
onstrução om régua e ompasso, uja solução motiva sua formalização.
Exemplo 2. Construa om régua e ompasso o triângulo ABC , onhe idos
BC = a, AC = b e C
b = γ.

Solução.

a b γ

Des rição dos passos.


−→
1. Marque um ponto C no plano e, em seguida, tra e uma semirreta CX
de origem C .
b = γ , de vérti e C ,
2. Transporte o ângulo dado para um ângulo X CY
−→
determinando a semirreta CY de origem C .
−→ −→
3. Sobre as semirretas CX e CY marque respe tivamente os pontos A e
B tais que AC = b e BC = a.

Analisando os passos da onstrução a ima notamos que, es olhendo outra


posição para o vérti e C e outra direção para os lados do ângulo ∠XCY , a
onstrução do triângulo ABC ontinuaria determinada pelos dados do exem-
plo, e obteríamos um triângulo ertamente ongruente ao triângulo ini ial.
Essa dis ussão motiva nosso primeiro aso de ongruên ia, onhe ido omo
o aso LAL:
Congruên ia de Triângulos 5

Axioma 3. Se dois lados de um triângulo e o ângulo formado por esses dois

lados forem respe tivamente iguais a dois lados de outro triângulo e ao ângulo

formado por esses dois lados, então os dois triângulos são ongruentes.

A C′

B C A′
B′

Figura 2: o aso de ongruên ia LAL.

Em símbolos, o aso de ongruên ia a ima garante que, dados triângulos


ABC e A′ B ′ C ′ ,

AB = A′ B ′ 

LAL
AC = A′ C ′ =⇒ ABC ≡ A′ B ′ C ′ ,


Ab=Ab′

om a orrespondên ia de vérti es A ↔ A′ , B ↔ B ′ , C ↔ C ′ . Em parti ular,


segue daí que
b=B
B b′, C b=C b′ e BC = B ′ C ′ .

Considere agora o seguinte


Exemplo 4. Construa om régua e ompasso o triângulo ABC , onhe idos
BC = a e que B
b=β eC
b = γ.

Solução.

a
β γ
6 MA13 - Unidade 3

Des rição dos passos.

1. Tra e uma reta r e, sobre a mesma, marque pontos B e C tais que


BC = a.
−→
2. Construa uma semirreta BX tal que C BX
b = β.

−→
3. No semiplano determinado por r e X onstrua a semirreta CY tal que
b = γ.
B CY
−→ −→
4. Marque o ponto A omo interseção das semirretas BX e CY .

Aqui novamente, analisando os passos da onstrução a ima notamos que,


es olhendo outra posição para o lado BC e mantendo BC = a, a onstrução
do triângulo ABC ontinuaria determinada pelas medidas impostas aos ângu-
los ∠B e ∠C , de modo que obteríamos um triângulo ongruente ao triângulo
ini ial. Temos então mais um aso de ongruên ia, o aso ALA:

Axioma 5. Se dois ângulos de um triângulo e o lado ompreendido entre

esses dois ângulos forem respe tivamente iguais a dois ângulos de outro triân-

gulo e ao lado ompreendido entre esses dois ângulos, então os dois triângulos

são ongruentes.

A C′

B C A′
B′

Figura 3: o aso de ongruên ia ALA.


Congruên ia de Triângulos 7

Em símbolos, dados dois triângulos ABC e A′ B ′ C ′ , temos:



Ab=Ab′ 

b b ALA
B=B ′ =⇒ ABC ≡ A′ B ′ C ′ ,


AB = A′ B ′

om a orrespondên ia de vérti es A ↔ A′ , B ↔ B ′ , C ↔ C ′ . Em parti ular,


também devemos ter
b=C
C b′ , AC = A′ C ′ e BC = B ′ C ′ .

Exemplo 6. Construa om régua e ompasso o triângulo ABC , onhe idos


AB = c, AC = b e BC = a.

Solução.

c
a b

Des rição dos passos.

1. Tra e uma reta r e, sobre a mesma, marque pontos B e C tais que


BC = a.

2. Tra e os ír ulos de entro B e raio c, e de entro C e raio b.

3. Marque o ponto A omo um dos pontos de interseção dos ír ulos traça-


dos no item anterior.

Uma vez mais os passos da onstrução eviden iam que, om outro posi-
ionamento ini ial para o lado BC (mantida, é laro, a ondição BC = a),
obteríamos um triângulo ongruente ao triângulo ini ial. Podemos então
enun iar nosso ter eiro aso de ongruên ia, o aso LLL:
8 MA13 - Unidade 3

Axioma 7. Se os três lados de um triângulo são, em alguma ordem, res-

pe tivamente ongruentes aos três lados de outro triângulo, então os dois

triângulos são ongruentes.

A C′

B C A′
B′

Figura 4: o aso de ongruên ia LLL.

Em símbolos, dados dois triângulos ABC e A′ B ′ C ′ , temos:



AB = A′ B ′ 

LLL
BC = B C
′ ′ =⇒ ABC ≡ A′ B ′ C ′ ,


CA = C ′ A′

om a orrespondên ia de vérti es A ↔ A′ , B ↔ B ′ , C ↔ C ′ . Em parti ular,


também temos
b=A
A b′ , B
b=B
b′ e C
b=C
b′ .

Vale observar que os asos de ongruên ia ALA e LLL de orrem do aso


LAL no seguinte sentido: dados no plano dois triângulos quaisquer, pode ser
mostrado que a validade de um qualquer dos onjuntos de ondições ALA
ou LLL para os mesmos a arreta a validade de uma ondição do tipo LAL.
No entanto, omo tais deduções não impli ariam em ganho substan ial para
o propósito destas notas, não as apresentaremos aqui (para uma exposição,
referimos o leitor a [1℄ ou [2℄. Por m, apresentaremos os dois últimos asos
de ongruên ia de triângulos no Corolário 8 e no Problema 1 da Unidade 4,
mostrando omo tais asos podem ser deduzidos a partir dos asos ALA e
LLL estudados a ima.
Congruên ia de Triângulos 9

Problemas  Seção 1

1. (a) Dê um exemplo mostrando dois triângulos ongruentes para os


quais não seja possível mover rigidamente um deles no plano até
fazê-lo oin idir om o outro.
(b) Em que diferem os dois triângulos ongruentes do item (a) que
justique não podermos fazer tal movimento no plano?
( ) Para o exemplo do item (a), mostre omo mover rigidamente um
dos triângulos no espaço até fazê-lo oin idir om o outro.

2 Apli ações

Cole ionamos nesta seção algumas apli ações úteis dos asos de ongruên ia
de triângulos estudados a ima. Tais apli ações apare erão doravante om
tanta frequên ia que vo ê deve se esforçar por memorizá-las o quanto antes.

Denição
−→
8. Dado um ângulo ∠AOB , a bissetriz de ∠AOB é a semirreta
−→
OC que o divide em dois ângulos iguais. Neste aso, dizemos ainda que OC
bisse ta ∠AOB . Assim,

−→
OC bisse ta b = B OC.
∠AOB ⇐⇒ AOC b

Claramente, a bissetriz interna de um ângulo, aso exista, é úni a. O


próximo exemplo ensina omo onstrui-la.

Exemplo 9. Construa om régua e ompasso a bissetriz do ângulo ∠AOB


dado abaixo.

Solução.
10 MA13 - Unidade 3

O A

Des rição dos passos.

1. Centre o ompasso em O e, om uma mesma abertura, marque pontos


−→ −→
X ∈ OA e Y ∈ OB .

2. Fixe uma abertura r e tra e, dos ír ulos de raio r e entros X e Y ,


−→
ar os que se interse tem num ponto C . A semirreta OC é a bissetriz
de ∠AOB .

De fato, em relação aos triângulos XOC e Y OC onstruídos a ima, temos


OX = OY e XC = Y C ; omo o lado OC é omum aos mesmos, segue do
aso de ongruên ia LLL que XOC ≡ Y OC . Logo, X OC
b = Y OC b , ou ainda
b = B OC
AOC b .

Em um triângulo ABC , a bissetriz interna relativa a BC (ou ao vérti e


A) é a porção AP da bissetriz do ângulo interno ∠A do triângulo, desde A
até o lado BC ; o ponto P ∈ BC é o pé da bissetriz interna relativa a BC .
Analogamente, temos em ABC as bissetrizes internas relativas aos lados AC
e AB (ou aos vérti es B e C , respe tivamente), de modo que todo triângulo
possui exatamente três bissetrizes internas.
Combinando os asos LLL e LAL podemos ontruir também o ponto
médio de um segmento, i.e., o ponto que o divide em duas partes iguais. É
laro que todo segmento possui no máximo um ponto médio.

Exemplo 10. Construa om régua e ompasso o ponto médio do segmento


AB .

Solução.
Congruên ia de Triângulos 11

Des rição dos passos.

• Fixe uma abertura r > 21 AB e tra e, dos ír ulos de raio r e entros A


e B , ar os que se interse tem nos pontos X e Y .
←→
• O ponto M de interseção da reta XY om o segmento AB é o ponto
médio de AB .
De fato, em relação aos triângulos AXY e BXY , temos AX = BX e AY =
BY ; omo o lado XY é omum aos mesmos, segue do aso de ongruên ia
LLL que AXY ≡ BXY . Portanto, AXY b = B XY b , ou ainda AXM
b =
b . Agora, temos nos triângulos AXM e BXM que AX = BX e
B XM
b = B XM
AXM b ; mas omo o lado XM é omum aos mesmos, segue do aso
LAL que AXM ≡ BXM . Logo, AM = BM .
Em um triângulo ABC , a mediana relativa ao lado BC (ou ao vérti e A)
é o segmento que une o vérti e A ao ponto médio do lado BC . Analogamente,
temos em ABC medianas relativas aos lados AC e AB (ou aos vérti es B
e C , respe tivamente), de modo que todo triângulo possui exatamente três
medianas.
Dadas no plano duas retas r e s, dizemos que r é perpendi ular a s, que
s é perpendi ular a r ou ainda que r e s são perpendi ulares quando r
e s tiverem um ponto em omum e formarem ângulos de 90◦ nesse ponto.
Es revemos r⊥s para denotar que duas retas r e s são perpendi ulares. O
próximo exemplo mostra omo usar os asos de ongruên ia estudados ante-
riormente para onstruir a reta perpendi ular a uma reta dada e passando
por um ponto dado.
12 MA13 - Unidade 3

Exemplo 11. Dados no plano uma reta r e um ponto A, onstrua om régua


e ompasso uma reta s tal que r⊥s e A ∈ s.

Solução. Há dois asos a onsiderar:


(a)
A

Des rição dos passos.

1. Com o ompasso entrado em A, des reva um ar o de ír ulo que in-


terse te a reta r em dois pontos distintos B e C .
←→
2. Construa o ponto médio M de BC e faça s = AM .

De fato, em relação aos triângulos ABM e ACM , temos AB = AC e


BM = CM ; omo AM é lado de ambos os triângulos, segue do aso LLL
que ABM ≡ ACM , e daí AM cB = AM cC . Mas omo AM cB + AM cC = 180◦ ,
←→
devemos ter então que AM
cB = AM cC = 90◦ , ou ainda AM ⊥r .

(b)

A
r

Des rição dos passos.

1. Com o ompasso entrado em A, des reva um semi ír ulo que interse te


a reta r nos pontos B e C .
Congruên ia de Triângulos 13

2. Tra e agora ír ulos de mesmo raio e entros respe tivamente em B e


em C ; sendo A′ um dos pontos de interseção de tais ír ulos, temos
←→
A′ A⊥r .

De fato, temos ABA′ ≡ ACA′ por LLL, e daí A′ AB b . Mas omo


b = A′ AC
b = 180◦, segue que A′ AB
b + A′ AC
A′ AB b = 90◦ .
b = A′ AC

Nas notações do exemplo a ima, se A ∈ / r , então o ponto de interseção


da reta s, perpendi ular a r por A, é o pé da perpendi ular baixada de A
a r.

Observação 12. Dados no plano um ponto A e uma reta r, é possível


mostrar que existe uma úni a reta s, perpendi ular a r e passando por A.

Dados no plano um ponto A e uma reta r, om A ∈ / r , a distân ia do


ponto A à reta r é denida omo o omprimento do segmento AP , onde P
é o pé da perpendi ular baixada de A a r (gura 5). Denotando por d a
distân ia de A a r, temos então d = AP . Provaremos no Corolário 24 da

P P′ r

Figura 5: distân ia do ponto A à reta r.

Unidade 5 que o omprimento do segmento AP é menor que o omprimento


de qualquer outro segmento unindo A a um ponto P ′ ∈ r, om P ′ 6= P ; nas
notações da gura 5, d < AP ′.
Em um triângulo ABC , a altura relativa ao lado BC (ou ao vérti e A) é
o segmento que une o vérti e A ao pé da perpendi ular baixada de A à reta
←→
BC . Nesse aso, denominamos o pé da perpendi ular em questão de pé da
altura relativa a BC . Analogamente, temos em ABC alturas relativas aos
14 MA13 - Unidade 3

lados AC e AB (ou aos vérti es B e C , respe tivamente), de modo que todo


triângulo possui exatamente três alturas.
Finalizamos essa seção estudando algumas propriedades dos triângulos
isós eles:

Proposição 13. Se ABC é um triângulo isós eles de base BC , então Bb = Cb.


Prova. A prova dessa proposição está embutida na justi ativa que demos
para a onstrução do ponto médio de um segmento. Em todo aso, vamos
repeti-la.
A

B M C

Figura 6: ABC isós eles b=C


⇒B b.

Seja M o ponto médio do lado BC (gura 6). Como BM = CM , AB =


AC e AM é lado omum de AMB e AMC , segue do aso de ongruên ia
b = ACM
LLL que tais triângulos são ongruentes. Logo, ABM b .

Corolário 14. Os ângulos internos de um triângulo equilátero são todos

iguais.

Prova. Basta observar que todos os lados de um triângulo equilátero podem


ser vistos omo bases do mesmo, onsiderado omo triângulo isós eles.
Congruên ia de Triângulos 15

Problemas  Seção 2

1. Construa om régua e ompasso as bissetrizes internas do triângulo


ABC da gura 7.

A B

Figura 7: bissetrizes internas de um triângulo.

2. Construa om régua e ompasso as medianas do triângulo ABC da


gura 8.

A B

Figura 8: medianas de um triângulo.

3. Construa om régua e ompasso as alturas do triângulo ABC da gura 9.

Após os três problemas a ima, vale a pena te ermos alguns omen-


tários. Em primeiro lugar, é imediato, a partir das denições dadas,
que as bissetrizes internas e as medianas de um triângulo estão sempre
16 MA13 - Unidade 3

A B

Figura 9: alturas de um triângulo.

ontidas no mesmo; isso não é ne essariamente verdadeiro para as al-


turas, onforme vo ê pde notar no último problema a ima. Por outro
lado, vo ê deve ter notado que, nas onstruções efetuadas nos três pro-
blemas referidos, as bissetrizes internas do triângulo ABC passaram
todas por um mesmo ponto, o mesmo tendo o orrido para as medianas
e as alturas. Tais on orrên ias não são devidas aos triângulos ABC
es olhidos; de fato, provar que bissetrizes internas, medianas e alturas
de um triângulo qualquer sempre passam por um mesmo ponto será
objeto da Unidade 7.

4. * Sejam dados no plano um ponto A e uma reta r, om A ∈ / r. O


←→
ponto A′ é dito o simétri o de A em relação à reta r quando AA′ ⊥r
e r passar pelo ponto médio do segmento AA′ . Mostre omo onstruir
om régua e ompasso o ponto A′ .
BF = CE .

5. Construa om régua e ompasso o triângulo ABC , onhe idos os om-


primentos AB = c, BC = a e ma da mediana relativa a A.

6. Construa om régua e ompasso o triângulo ABC , onhe endo os om-


primentos AB = c, AC = b e ma da mediana relativa a BC .

7. Construa o triângulo ABC onhe endo as retas r e s, suportes dos


lados AB e AC , respe tivamente, e os omprimentos hb e hc das alturas
Congruên ia de Triângulos 17

respe tivamente relativas aos vérti es B e C .

8. Construa om régua e ompasso o triângulo ABC , onhe idos os om-


primentos AB = c e βa da bissetriz interna relativa ao lado BC , bem
omo a medida ∠BAC = α.

9. * Se ABC é um triângulo isós eles de base BC , prove que a bissetriz,


a mediana e a altura relativas a BC oin idem.

10. * Sejam ABC um triângulo e P , M e H respe tivamente os pés da


bissetriz interna, mediana e altura relativas ao lado BC . Se P e H ou
M e H oin idirem, prove que ABC é isós eles de base BC .

11. * Seja Γ um ír ulo de entro O e AB uma orda de Γ. Se M é um


ponto sobre AB , prove que

OM⊥AB ⇔ AM = BM .

Bibliograa
[1℄ J. L. M. Barbosa. Geometria Eu lidiana Plana . SBM, Rio de Janeiro,
2004.
[2℄ G. Iezzi. Os Fundamentos da Matemáti a Elementar, Vol. 9. Atual
Editora, São Paulo, 1991.
MA13 - Unidade 4

Congruên ia de Triângulos II

Semana 15/08/2011 a 21/08/2011

Paralelismo
Dadas duas retas no plano, temos somente duas possibilidades para as mes-
mas: ou elas têm um ponto em omum ou não têm nenhum ponto em omum;
no primeiro aso, as retas são ditas on orrentes; no segundo, as retas são
paralelas (gura 1).

Figura 1: retas on orrentes (esq.) e paralelas (dir.).

Dados uma reta r e um ponto A não perten ente a r, gostaríamos de


estudar o problema de traçar, pelo ponto A, uma reta paralela à reta r. Para

1
2 MA13 - Unidade 4

tanto, pre isamos do seguinte


Lema 1. Em todo triângulo, a medida de ada ângulo externo é maior que
as medidas dos ângulos internos não adja entes a ele.
Prova. Seja ABC um triângulo qualquer
−→
e M o ponto médio do lado AC
(gura 2). Prolongue a semirreta BM até o ponto B ′ tal que BM = MB ′ ,
e onsidere os triângulos ABM e CB ′ M : temos AM = CM , BM = B ′ M
e AMcB = C M cB ′ (ângulos OPV). Portanto, pelo aso LAL temos AMB ≡
CMB ′ , e daí B ′ CM
b = B AMb . Logo,

b > B ′ CA
X CA b = B ′ CM
b = B AM
b = B AC.
b

Analogamente, prova-se que X CA b .


b > ABC

A B′
M

B X
C

Figura 2: a desigualdade do ângulo externo.

O exemplo abaixo mostra omo fazer uma das onstruções om régua e


ompasso mais importantes da geometria plana: a de uma reta paralela a
uma reta dada, passando por um ponto também dado:
Exemplo 2. Construa om régua e ompasso uma reta s, paralela à reta r
e passando pelo ponto A.
Solução.
A
Congruên ia de Triângulos 3

Des rição dos passos.

1. Tome pontos C e X sobre a reta r e una A a C .

2. Construa um ângulo ∠CAY tal que C AY b = ACX b e X e Y estejam


←→ ←→
situados em semiplanos opostos em relação à reta AC . A reta s = AY
é paralela à reta r.

A m de justi ar a onstrução a ima suponha, por ontradição, que a


←→
reta AY (gura 3) interse te a reta r em um ponto B . Analisemos o aso
em que C ∈ BX (o outro aso é análogo):

A
Y
B X
C

Figura 3: onstrução de uma paralela a uma reta por um ponto.

Por onstrução, teríamos

b = Y AC
B AC b = ACX;
b

por outro lado (gura 3), omo ∠ACX é ângulo externo do triângulo ABC ,
seguiria do lema a ima que

b < ACX,
B AC b
←→
o que é uma ontradição. Logo, AY e r são paralelas.

Se duas retas r e s forem paralelas, es reveremos r k s. Em geometria


Eu lidiana, não é possível deduzir, a partir de fatos mais bási os assumidos
omo verdadeiros, que por um ponto não perten ente a uma reta dada passa
uma úni a reta paralela à mesma. Em seu livro Elementos, Eu lides imps a
uni idade da reta paralela omo um postulado, onhe ido na literatura omo
o quinto postulado, ou postulado das paralelas. Porém, para a grande
4 MA13 - Unidade 4

maioria dos matemáti os que estudaram a obra de Eu lides, tal postulado pa-
re ia muito mais omplexo que os quatro anteriores, o que os fez pensar, por
vários sé ulos, que fosse possível deduzi-lo a partir dos postulados anteriores
omo um teorema. Porém, todas as tentativas de se des obrir tal demonstra-
ção foram vãs. O orreu então que, no iní io do sé ulo XIX, o húngaro János
Bolyai e o russo Nikolai Lobat hevsky mostraram independentemente que
era de fato ne essário assumir a uni idade da paralela omo um postulado.
O que eles zeram foi onstruir outro tipo de geometria, denominada geo-
metria hiperbóli a, na qual ainda são válidos os quatro primeiros postulados
de Eu lides mas tal que por um ponto fora de uma reta qualquer é possível
traçar innitas retas paralelas à reta dada1 .

Figura 4: Lobat hevsky

Assim é que, dados no plano uma reta r e um ponto A ∈


/ r , assumimos a
uni idade da paralela omo um postulado:

Postulado 3. Dados no plano uma reta r e um ponto A ∈/ r, existe uma


úni a reta s, paralela a r e passando por A.

Uma onstrução simples da paralela a uma reta dada por um ponto fora
da mesma será vista no Exemplo 4 da Unidade 6.
1 Para uma introdução elementar à geometria hiperbóli a, bem omo para uma dis ussão

sobre as inúmeras tentativas frustradas de se demonstrar o quinto postulado de Eu lides,

re omendamos ao leitor a referên ia [1℄.


Congruên ia de Triângulos 5

De posse do quinto postulado, podemos enun iar e provar alguns dos


mais importantes resultados da geometria Eu lidiana. Para o primeiro deles,
suponha dadas no plano retas r, s e t, om t interse tando r e s respe tiva-
mente nos pontos A e B (gura 5). Nas notações da gura 5, os ângulos α e

s
γ β
α

r
t

Figura 5: ângulos alternos internos e olaterais internos.

β são ditosalternos internos, ao passo que os ângulos α e γ são hamados


olaterais internos.
De posse da nomen latura a ima, temos o seguinte ritério para o para-
lelismo de duas retas.
Corolário 4. Nas notações da gura 5, temos
r k s ⇔ α = β ⇔ α + γ = 180◦ .

Prova. Ini ialmente, note que, omo β + γ = 180◦ , temos α = β ⇔ α + γ =


180◦ . Portanto, basta provarmos que r k s ⇔ α = β .
Já provamos, no exemplo 2, que α = β ⇒ r k s, de modo que basta
provar a impli ação ontrária. Suponha, pois, que r k s. Então, pelo quinto
postulado, s é a úni a reta paralela a r e passando por A, donde pode ser
onstruída onforme pres rito no exemplo 2. Logo, segue da onstrução des-
rita naquele exemplo que α = β .
Outra onsequên ia da dis ussão a ima, ademais extremamente relevante,
é a seguinte
6 MA13 - Unidade 4

Proposição 5. A soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a 180◦ .


←→ ←→
Prova. Seja ABC um triângulo qualquer, e XY a reta paralela a BC e
passando por A (gura 6). Pelo orolário 4, temos que B
b = B AX
b b=
e C

A
X Y

B C

Figura 6: soma dos ângulos internos de um triângulo.

b , e daí
C AY
b+B
A b+C
b=A
b + B AX
b + C AY
b = 180◦.

Corolário 6. Os ângulos de um triângulo equilátero são todos iguais a 60◦ .

Prova. Já sabemos (Corolário 14 da Unidade 3) que todo triângulo equilá-


tero tem três ângulos iguais. Como a soma de tais ângulos é 180◦ , ada um
deles deve medir 60◦ .

O resultado do orolário a seguir é onhe ido na literatura omo o teo-


rema do ângulo externo.
Corolário 7. Em todo triângulo, a medida de um ângulo externo é igual à
soma das medidas dos dois ângulos internos não adja entes a ele.

Prova. Basta ver (gura 7) que ACX


b = 180◦ − C
b=A
b+ B
b , onde na última
igualdade usamos a proposição 5.

Vejamos agora omo lassi ar triângulos quanto às medidas de seus ân-


gulos internos. Para tanto, note primeiro que a proposição 5 garante que
Congruên ia de Triângulos 7

B X
C

Figura 7: o teorema do angulo externo.

todo triângulo tem no máximo um ângulo interno maior ou igual que 90◦ .
De fato, se em um triângulo ABC tivéssemos Ab ≥ 90◦ e B
b ≥ 90◦ , seria

b+B
A b+C
b>A
b+B
b ≥ 90◦ + 90◦ = 180◦ ,

o que é um absurdo. Assim, um triângulo é a utângulo se todos os seus


ângulos internos forem agudos, retângulo se tiver um ângulo reto e obtu-
sângulo se tiver um ângulo obtuso (gura 8).
B C

A C B A

Figura 8: triângulos retângulo (esq.) e obtusângulo (dir.) em A.

A hipotenusa de um triângulo retângulo é o lado oposto ao ângulo reto;


os outros dois lados do triângulo são seus atetos. Nas notações da gura 8),
BC é a hipotenusa e AB e AC são seus atetos. Teremos mais a dizer sobre
triângulos retângulos na Unidade 10.
Terminamos esta seção estudando mais um onjunto de ondições su i-
entes para a ongruên ia de triângulos, onhe ido omo o aso de ongruên ia
LAAo. O último tal onjunto será visto no problema 1.
8 MA13 - Unidade 4

Corolário 8. Se dois ângulos de um triângulo e o lado oposto a um desses


ângulos forem respe tivamente iguais a dois ângulos de outro triângulo e ao
lado oposto ao ângulo orrespondente nesse outro triângulo, então os dois
triângulos são ongruentes. Em símbolos, dados triângulos ABC e A′ B ′ C ′ ,
temos: 
BC = B ′ C ′ 

b=Ab′ LAAo
A =⇒ ABC ≡ A′ B ′ C ′ ,


b=B
B b′

om a orrespondên ia de vérti es A ↔ A′ , B ↔ B ′ e C ↔ C ′ . Em parti u-


lar, também temos

b=C
C b′ , AC = A′ C ′ e AB = A′ B ′ .

B C

Figura 9: o aso de ongruen ia LAAo

Prova. Basta observar que Ab = Ab′ e Bb = Bb′ nos dão


b = 180◦ − A
C b−B
b = 180◦ − A
b′ − B
b′ = C
b′ .

Portanto, temos para os triângulos ABC e A′ B ′ C ′ que

b=B
BC = B ′ C ′ ; B b′ ; C
b=C
b′ .

Pelo aso ALA, tais triângulos são ongruentes.


Congruên ia de Triângulos 9

O problema de onstruir um triângulo dados um lado e dois ângulos in-


ternos, um deles oposto ao lado dado, será tratado no Exemplo 6 da Unidade
6.

Problemas

1. * Se dois triângulos retângulos são tais que a hipotenusa e um dos


atetos do primeiro são respe tivamente ongruentes à hipotenusa e a
um dos atetos do outro, prove que os triângulos são ongruentes (su-
gestão: ome e analisando o triângulo isós eles onstruído justapondo
os atetos iguais dos dois triângulos retângulos sob onsideração; em
seguida aplique o resultado do Problema 10 da Seção 2, Unidade 3.

2. Construa om régua e ompasso o triângulo ABC , onhe idos os om-


primentos AB = c, BC = a e ha da altura baixada a partir de A.

3. Em um triângulo ABC temos Ab = 90◦ . Sendo P ∈ AC o pé da bissetriz


interna relativa a B , e sabendo que a distân ia de P ao lado BC é igual
a 2 m, al ule o omprimento do segmento AP .
←→ ←→
4. Na gura abaixo, as retas AB e CD são paralelas. Sabendo que as
medidas dos ângulos ∠ABC e ∠BCD são respe tivamente iguais a
3x − 20◦ e x + 40◦ , al ule o valor de x em graus.

C
D

A
B

5. Na gura abaixo, se r k s, prove que α + β = γ (sugestão: ome e


traçando, pelo vérti e do ângulo de medida γ , a reta paralela às retas
r e s).
10 MA13 - Unidade 4

s
β

α
r

6. Na gura abaixo, temos ABC


b = 20◦ , B CD
b = 60◦ e D EF b = 25◦ .
←→ ←→
Sabendo que as retas AB e EF são paralelas, al ule a medida do
ângulo C DE
b .

E F
D

C
A B

7. Na gura abaixo, prove que α = DAB


b + ABC b .
b + B CD

D
α
A C

8. Cal ule a soma dos ângulos nos vérti es A, B , C , D e E da estrela


de in o pontas da gura abaixo (sugestão: use primeiro o teorema do
ângulo externo duas vezes; em seguida, use a proposição 5):
Congruên ia de Triângulos 11

C E

B
A

9. * Dado um n−ágono onvexo, faça os seguintes itens:

(a) Prove que o polígono pode ser parti ionado em n − 2 triângulos,


utilizando-se para tanto n − 3 diagonais que só se interse tam em
vérti es do mesmo.
(b) Con lua que a soma dos ângulos internos do polígono é 180◦ (n−2).
( ) Con lua que a soma de seus ângulos externos (um por verti e) do
polígono é 360◦ .

(sugestão: use (a) e a proposição 5 para provar (b) e, em seguida, (b)


para provar ( )).

10. * Em um triângulo ABC , seja M o ponto médio do lado BC . Se


AM = 21 BC , mostre que B AC
b = 90◦ (sugestão: use o fato de que os
triângulos ABM e ACM são ambos isós eles para on luir que ABMb =
b = α e ACM
B AM b = C AM b = β ; em seguida, some os ângulos de ABC
para obter α + β = 90◦ ).

11. * Se I é o ponto de interseção das bissetrizes internas traçadas a partir


dos vérti es B e C de um triângulo ABC , prove que B IC b = 90◦ +
1 b .
B AC
2

12. Em um triângulo ABC , sabemos que Ab é igual à oitava parte da medida


do ângulo obtuso formado pelas bissetrizes internas dos vérti es B e C .
12 MA13 - Unidade 4

Cal ule a medida do ângulo ∠A (sugestão: use o resultado do problema


anterior).

13. * Em um triângulo ABC seja Ia o ponto de interseção das bissetrizes


externas relativas aos vérti es B e C . Prove que B Iba C = 90◦ − 12 B AC
b .

14. Um triângulo ABC é isós eles de base BC . Os pontos D sobre BC e


E sobre AC são tais que AD = AE e B ADb = 48◦ . Cal ule C DE
b .

Bibliograa
[1℄ J. L. M. Barbosa. Geometria Hiperbóli a. IMPA, Rio de Janeiro, 1995.
MA13 - Unidade 5

Congruên ia de Triângulos III

Semana 22/08/2011 a 28/08/2011

A desigualdade triangular
O objetivo prin ipal desta seção é provar que, em todo triângulo, os ompri-
mentos dos lados guardam uma erta relação ( f. Proposição 3). Come e-
mos, ontudo, estabele endo uma relação entre os omprimentos dos lados e
as medidas dos ângulos a eles opostos, a qual tem interesse independente.

Proposição 1. Se ABC é um triângulo tal que b>C


B b, então AC > AB .
−→
Prova. Como Bb > C b, podemos traçar a semirreta BX , interse tando o
interior de ABC e tal que C BX
b = 1 (B
2
b . Sendo P o ponto de interseção
b − C)
−→
de BX om o lado AC , segue do teorema do ângulo externo que

APbB = C BP b = 1 (B
b + B CP b − C) b = 1 (B
b +C b + C).
b
2 2

Mas omo ABP


b =B
b − 1 (B
2
b − C)
b = 1 (B
2
b , segue que o triângulo ABP
b + C)

1
2 MA13 - Unidade 5

P X

B C

Figura 1: ordem dos lados e ângulos de um triângulo.

é isós eles de base BP . Portanto,

AB = AP < AC.

Corolário 2. Se ABC é um triângulo tal que b ≥ 90,


A então BC é seu

maior lado. Em parti ular, num triângulo retângulo a hipotenusa é o maior

lado.

Prova. Basta observar que, se Ab ≥ 90, então Ab é o maior ângulo de ABC ,


de modo que BC é, pela proposição anterior, o maior lado.

A proposição a seguir é onhe ida omo a desigualdade triangular .

Proposição 3. Em todo triângulo, ada lado tem omprimento menor que

a soma dos omprimentos dos outros dois lados.

Prova. Seja ABC um triângulo tal que AB = c, AC = b e BC = a.


Mostremos que a < b+ c, sendo a prova das demais desigualdades totalmente
−→
análoga. Marque o ponto D sobre a semirreta CA tal que A ∈ CD e AD =
AB (gura 2).
Uma vez que

CD = AC + AD = AC + AB = b + c,
Congruên ia de Triângulos 3

B C

Figura 2: a desigualdade triangular.

pela proposição 1 é su iente mostrarmos que B DC b . Mas desde


b < D BC
que B DA
b = D BA b , basta observarmos que

b = B DA
B DC b = D BA
b < D BA
b + ABC
b = D BC.
b

Segue da desigualdade triangular que, sendo a, b e c os omprimentos dos


lados de um triângulo, devemos ter

a < b + c, b < a + c, c < a + b.

Re ipro amente, dados segmentos ujos omprimentos a, b e c satisfazem as


desigualdades a ima, não é difí il provar que é sempre possível onstruirmos
um triângulo tendo tais segmentos omo lados.
Terminamos esta seção ole ionando duas onsequên ias interessantes da
desigualdade triangular.

Exemplo 4. Se P é um ponto no interior de um triângulo ABC , então:

(a) P B + P C < AB + AC .

(b) P A + P B + P C < AB + AC + BC .
4 MA13 - Unidade 5

Prova.
−→
(a) Prolongue a semirreta BP até que a mesma en ontre o lado AC no
ponto Q (gura 3). Apli ando a desigualdade triangular su essivamente aos
triângulos CP Q e ABQ, obtemos

PB + PC < P B + ( P Q + CQ) = BQ + CQ
< ( AB + AQ) + CQ = AB + AC.

Q
P

B C

Figura 3: onsequên ias da desigualdade triangular.

(b) Argumentando de modo analogo à prova do item (a), temos P A + P B <


AC + BC e P A + P C < AB + BC . Somando ordenadamente essas três
desigualdades, obtemos

2( P A + P B + P C) < 2( AB + AC + BC).

Exemplo 5. Na gura 4, onstrua om régua e ompasso o ponto P ∈ r


para o qual a soma P A + P B seja a menor possível.

Solução. Se A′ é o simétri o de A em relação a r (Problema 4, Seção 2,


Unidade 3), armamos que o ponto P desejado é o ponto de interseção de
A′ B om r . Para provar este fato, seja Q outro ponto qualquer de r . O
fato de A′ ser o simétri o de A em relação a r garante que AQ = A′ Q e,
analogamente, AP = A′ P (prove isto!). Tais igualdades, juntamente om a
Congruên ia de Triângulos 5

Figura 4: menor per urso que to a uma reta.

desigualdade triangular, nos dão su essivamente

AP + BP = A′ P + BP = A′ B
< A′ Q + BQ = AQ + BQ.

Problemas

1. Se dois lados de um triângulo isós eles medem 38 m e 14 m, al ule


seu perímetro.

2. En ontre o intervalo de variação de x no onjunto dos reais, sabendo


que os lados de um triângulo são expressos em entímetros por x + 10,
2x + 4 e 20 − 2x.

3. Em um triângulo ABC , o lado AB tem por omprimento um número


inteiro de entímetros. Cal ule o maior valor possível para AB , sa-
bendo que AC = 27 m, BC = 16 m e que Cb < Ab < B b.

4. Em um triângulo ABC es olhemos aleatoriamente pontos P ∈ BC ,


Q ∈ AC e R ∈ AB , todos diferentes dos vérti es de ABC . Prove que
o perímetro do triângulo P QR é menor que o perímetro do triângulo
ABC .
6 MA13 - Unidade 5

5. Em todo n−ágono onvexo, prove que o omprimento de ada lado é


menor que a soma dos omprimentos de n − 1 lados restantes.

6. Se a, b e c são os omprimentos dos lados de um triângulo, prove que


|b − c| < a.

7. (Torneio das Cidades). Se a, b, c são os omprimentos dos lados de um


triângulo, prove que a3 + b3 + 3abc > c3 (sugestão: fatore a3 + b3 e use
a desigualdade triangular).

8. Dado um quadrilátero onvexo ABCD, prove que o ponto P do plano


para o qual a soma P A + P B + P C + P D é mínima é o ponto de
on urso das diagonais de ABCD (sugestão: aplique a desigualdade
triangular aos triângulos P AC e P BD).

9. Na gura abaixo, as semirretas r e s são perpendi ulares. Construa om


régua e ompasso os pontos B ∈ r e C ∈ s para os quais AB+ BC+ CD
seja o menor possível (sugestão: se A′ e D′ denotam respe tivamente
os simétri os dos pontos A e D om respeito às retas r e s, onsidere
as interseções de A′ B ′ om r e s).

D
s
MA13 - Unidade 6

Congruên ia de Triângulos IV

Semana 22/08/2011 a 28/08/2011

Quadriláteros notáveis
Dentre os vários tipos parti ulares de quadriláteros que vamos onsiderar
aqui, os prin ipais são ertamente os paralelogramos.

Denição 1. Um quadrilátero onvexo é dito um paralelogramo se possuir


lados opostos paralelos.

D C

A B

←→ ←→ ←→ ←→
Figura 1: ABCD paralelogramo ⇔ AB k CD e AD k BC .

1
2 MA13 - Unidade 6

No que segue vamos enun iar várias maneiras equivalentes de denir um


paralelogramo. Vo ê deve guardar tais resultados omo propriedades notáveis
dos paralelogramos, a serem usadas oportunamente.
Proposição 2. Um quadrilátero onvexo é um paralelogramo se e só se seus
ângulos opostos forem iguais.
Prova. Suponha primeiro que
←→
o quadrilátero onvexo ABCD é um parale-
←→
logramo (gura 1). Então AD k BC e, omo os ângulos ∠A e ∠B do para-
←→
lelogramo são olaterais internos em relação à reta AB , temos Ab + B
b = 180◦ .
Analogamente, B b+C b = 180◦ , e daí A
b = 180◦ − B b=C b. Do mesmo modo,
Bb=D b.
Re ipro amente, seja ABCD um quadrilátero onvexo tal que Ab = Cb e
Bb=D b (gura 2). Então A b+B b=C b+D b e, omo Ab+B b+C b+D b = 360◦
(problema 9, Unidade 4), temos Ab + B b = Cb+D b = 180◦ . Analogamente,
Ab+D b = Bb+C b = 180◦ . Agora, omo A b+B b = 180◦, o orolário 4, da
←→ ←→
Unidade 4, garante que AD k BC . Da mesma forma, B b+C b = 180◦ nos dá
←→ ←→
AB k CD, de maneira que ABCD tem lados opostos paralelos, i.e., é um
paralelogramo.

D C

A B

Figura 2: Ab = Cb e Bb = D
b ⇒ ABCD paralelogramo.

Proposição 3. Um quadrilátero onvexo é um paralelogramo se e só se seus


pares de lados opostos forem iguais.
Prova. Suponha primeiro que o quadrilátero onvexo ABCD é um parale-
logramo (gura 3). Então já sabemos que Ab = Cb. Por outro lado, omo
Congruên ia de Triângulos 3
←→ ←→
AD k BC , temos ADB
b = C BD b . Portanto, os triângulos ABD e CDB são
ongruentes por LAAo, e segue daí que AB = CD e AD = BC .

D C

A B

Figura 3: ABCD paralelogramo ⇒ AB = CD e AD = BC .

Re ipro amente, seja ABCD um quadrilátero onvexo tal que AB = CD


e AD = BC (gura 4). Então os triângulos ABD e CDB são ongruentes
por LLL, donde segue que ADB
b = C BD b e ABD
b = C DB b . Mas tais igualda-
←→ ←→
des, juntamente om o orolário 4 da Unidade 4, a arretam em AD k BC e
←→ ←→
AB k CD .

D C

A B

Figura 4: AB = CD e AD = BC ⇒ ABCD paralelogramo.

A proposição anterior nos permite apresentar uma onstrução simples da


paralela a uma reta dada por um ponto fora da mesma, onforme ensina o
seguinte
Exemplo 4. Dados no plano uma reta r e um ponto A ∈/ r, onstrua om
régua e ompasso a reta paralela a r e passando por A.
Solução.
4 MA13 - Unidade 6

Os dois exemplos a seguir trazem apli ações úteis da onstrução delineada


no exemplo a ima.

Exemplo 5. Construa om régua e ompasso um paralelogramo, onhe endo


os omprimentos a e b de seus lados e o ângulo α entre dois de seus lados.

Solução.

a b α

Exemplo 6. Construa o triângulo ABC , dados o omprimento a do lado


BC e as medidas α e β , respe tivamente dos ângulos internos A
beB
b.

Solução.
Proposição 7. Um quadrilátero onvexo é um paralelogramo se e só se suas
diagonais se interse tam ao meio.

Prova. Primeiramente, seja ABCD um←→


paralelogramo e M o ponto de inter-
←→
b = D CM
seção de suas diagonais (gura 5). De AB k CD segue que B AM b
e ABM
b = C DM b . Como já sabemos que AB = CD, segue que os triângulos
ABM e CDM são ongruentes por ALA. Logo, AM = CM e BM = DM .
Re ipro amente (veja ainda a gura 5), seja ABCD um quadrilátero
onvexo tal que suas diagonais AC e BD se interse tam em M , o ponto
médio de ambas. Então MA = MC , MB = MD e AM cB = C M
cD
(ângulos OPV), de modo que os triângulos ABM e CDM são ongruentes
por LAL. Analogamente, BCM e DAM também são ongruentes por LAL.
Tais ongruên ias nos dão respe tivamente AB = CD e BC = AD, o que
já sabemos ser equivalente ao fato de ABCD ser paralelogramo.
Congruên ia de Triângulos 5

D C
M

A B

Figura 5: ABCD paralelogramo ⇒ AM = CM e BM = DM .

Para o que segue, denimos uma base média de um triângulo omo um


segmento que une os pontos médios de dois de seus lados (segmentos MN ,
NP e MP da gura 6). Assim, todo triângulo possui exatamente três bases
médias. Nas notações da gura 6, dizemos que MNP (i.e., o triângulo que
A

M N

B P C

Figura 6: bases médias de um triângulo.

tem por lados as bases médias do triângulo ABC ) é o triângulo medial de


ABC .
As propriedades obtidas a ima sobre paralelogramos nos permitem provar
um importante resultado sobre as bases médias de um triângulo, onhe ido
omo o teorema da base média.
Proposição 8. Seja ABC um triângulo
←→
qualquer. Se M e N são os pontos
←→
médios dos lados AB e AC , então MN k BC . Re ipro amente, se traçar-
mos por M uma paralela ao lado BC , então a mesma interse ta AC em N .
Ademais, em um qualquer dos asos a ima, temos
1
MN = BC.
2
6 MA13 - Unidade 6

−→
Prova. Para a primeira parte, nas notações da gura 7, tome M ′ sobre MN
tal que MN = NM ′ . Como N é o ponto médio de AC e ANb M = C Nb M ′
(ângulos OPV), os triângulos AMN e CM ′ N são ongruentes por LAL.
Portanto, M ′ C = MA e M ′ CN b , donde segue (via orolário 4 da
b = M AN
←→ ←→
Unidade 4) que M ′ C k AM . Assim,
←→ ←→ ←→ ←→ ←→ ←→
BM = AM = M ′ C e BM = AM k M ′ C;

tendo dois lados opostos iguais e paralelos, o problema 1, página 16 garante


que o quadrilátero MBCM ′ é um paralelogramo. Mas omo em todo para-
lelogramo os lados opostos são iguais e paralelos, temos
←→ ←→ ←→
BC k MM ′ = MN e BC = MM ′ = 2 MN .

M N M′

B C

Figura 7: medida da base média de um triângulo.

Re ipro amente, seja r uma reta passando por M e paralela ao lado BC .


←→
Como MN passa por M e é paralela a BC , segue do quinto postulado
←→
(Postulado 3 da Unidade 4) que r oin ide om MN ; em parti ular, N ∈
r.

Exemplo 9. Construa o triângulo ABC onhe endo as posições dos pontos


médios M , N , P dos lados BC , CA, AB , respe tivamente.

Solução.
Congruên ia de Triângulos 7

P N

Para o que segue, lembre que uma mediana de um triângulo é um seg-


mento que une um vérti e ao ponto médio do lado oposto a esse vérti e.
Como apli ação do teorema da base média e das propriedades de paralelo-
gramos, mostraremos que as medianas de um triângulo interse tam-se em
um úni o ponto, o bari entro do mesmo.
Proposição 10. Em todo triângulo as três medianas passam por um úni o
ponto, o bari entro do triângulo. Ademais, o bari entro divide ada medi-
ana, a partir do vérti e orrespondente, na razão 2 : 1.
Prova. Sejam N e P respe tivamente os pontos médios dos lados AC e
AB , e seja BN ∩ CP = {G1 } (gura 8). Sejam ainda S e T os pontos
médios dos segmentos BG1 e CG1 , respe tivamente. Pelo teorema da base
média, tanto NP quanto ST são paralelos a BC e têm omprimento igual
←→ ←→
à metade de BC . Portanto, NP = ST e NP k ST , de modo que NP ST é
um paralelogramo. Assim, P G1 = G1 T e NG1 = G1 S . Como BS = SG1
e CT = T G1 , segue que BS = SG1 = G1 N e CT = T G1 = G1 P , o que
garante ser BG1 = 2 G1 N e CG1 = 2 G1 P .
Agora, se M for o ponto médio de BC e G2 for o ponto de interseção das
medianas AM e BN , on luímos analogamente que G2 divide divide AM e
BN na razão 2 : 1 a partir de ada vérti e. Mas daí segue que os pontos G1
e G2 são tais que BG1 = 2 G1 N e BG2 = 2 G2N . Isso impli a laramente
em G1 ≡ G2 . Chamando de G o ponto G1 ≡ G2 , segue que AM, BN e CP
on orrem em G e que G divide ada uma das medianas na razão 2 : 1 a
partir do vérti e.
8 MA13 - Unidade 6

P N

G1
S T
B C

Figura 8: as medianas e o bari entro.

Doravante, salvo menção em ontrário, denotaremos o bari entro de um


triângulo ABC por G. O bari entro de um triângulo é um de seus pontos
notáveis; os demais ( ir un entro, in entro e orto entro) serão estudados na
Unidade 7.
Se um quadrilátero onvexo tiver dois lados opostos paralelos e iguais,
já sabemos que se trata de um paralelogramo. Pode o orrer, entretanto,
sabermos somente que dois lados opostos de um quadrilátero onvexo são
paralelos (podendo ou não ser iguais). Neste aso o quadrilátero obtido
é denominado um trapézio (gura 9). Assim, todo paralelogramo é em
parti ular um trapézio, mas é fá il nos onven ermos de que a re ípro a não
é verdadeira.
D C

A B
←→ ←→
Figura 9: um trapézio ABCD , om AB k CD .

Em todo trapézio, os dois lados sabidamente paralelos são suas bases,


sendo o maior (resp. menor) deles a base maior (resp. base menor); os
outros dois lados (sobre os quais em prin ípio nada sabemos, mas que podem
Congruên ia de Triângulos 9

também ser paralelos, aso o trapézio seja em parti ular um paralelogramo)


são os lados não-paralelos do trapézio. Nas notações da gura 9, AB e
CD são as bases e BC e AD os lados não paralelos do trapézio ABCD .
Ao lidarmos om problemas envolvendo onstruções geométri as em um
trapézio ABCD omo na gura 9, é frequentemente útil observarmos ( f.
←→
gura 10) que se E e F são os pontos sobre a reta AB tais que ADCE e
BDCF são paralelogramos, então:

i. O triângulo BCE é tal que BE = AB− CD, CE = AD e B CE


b =ângulo
entre os lados não-paralelos AD e BC .

ii. O triângulo ACF é tal que AF = AB+ CD, CF = BD e ACF


b =ângulo
entre as diagonais AC e BD.

D C

A E B F

Figura 10: paralelogramos asso iados ao trapézio ABCD .

Utilizamos a dis ussão a ima no seguinte

Exemplo 11. Construa um trapézio ABCD de bases AB e CD, sabendo


que as diagonais AC e BD formam um ângulo de 135◦ uma om a outra e
onhe endo os omprimentos AB = a, AC = d1 e BD = d2 .

Solução.
10 MA13 - Unidade 6

a
d1
d2

Pre isamos de mais algumas onvenções: o segmento que une os pontos


médios dos lados não paralelos de um trapézio é a base média do mesmo, ao
passo que o segmento que une os pontos médios das diagonais de um trapézio
é a mediana de Euler1 do mesmo. A proposição a seguir nos ensina omo
al ular os omprimentos de tais segmentos em termos dos omprimentos das
bases do trapézio.
Proposição 12. Seja ABCD um trapézio de bases AB e CD e lados não
paralelos AD e BC . Sejam ainda M e N os pontos médios dos lados não
paralelos AD e BC , e P e Q os pontos médios das diagonais AC e BD ( f.
gura 11). Então:
←→ ←→ ←→
(a) M , N , P e Q são olineares e MN k AB, CD .

(b) MN = 12 ( AB + CD) e P Q = 12 | AB − CD|.

Prova. Nas notações da gura 11,


←→
omo MP é base média do triângulo
←→
DAC , segue da proposição 8 que MP k AB e MP = 2b . Por outro lado, MQ
é base média do triângulo ADB , de modo que a proposição 8 também nos
←→ ←→ ←→ ←→
diz que MQ k AB e MQ = a2 . Segue do quinto postulado que MP = MQ,
i.e., M , P e Q são olineares. Ademais,
a b a−b
P Q = MQ − MP = − = .
2 2 2
1 Para saber mais sobre Leonhard Euler, remetemos o leitor à Unidade 11.
Congruên ia de Triângulos 11
D b C

M N
P Q

A a B

Figura 11: base média de um trapézio.

Argumentando agora om as bases médias NQ e NP dos triângulos CBD


e ABC , respe tivamente, on luímos de modo análogo que P , Q e N são
olineares e NQ = 2b . Portanto, segue o item (a) e
a b a+b
MN = MQ + NQ = + = .
2 2 2

A m de ompletar nosso estudo dos tipos parti ulares mais elementares


de quadriláteros, vamos estudar agora retângulos e losangos. Um quadrilátero
onvexo é um retângulo se todos os seus ângulos internos forem iguais.
Como, pelo problema 9 da Unidade 4, a soma dos ângulos internos de um
quadrilátero onvexo é sempre igual a 360◦ , segue então que um quadrilátero
onvexo é um retângulo se e só se todos os seus ângulos internos forem iguais
a 90◦ . Um quadrilátero onvexo é um losango se todos os seus lados forem
iguais. A gura 12 mostra exemplos de um retângulo e de um losango.
Como os lados opostos de um retângulo são sempre paralelos (uma vez
que são ambos perpendi ulares a um qualquer dos outros dois lados), todo
retângulo é um paralelogramo. Por outro lado, a proposição 3 garante que
todo losango também é um paralelogramo.
A dis ussão a ima permite denir a distân ia entre duas retas paralelas.
Para tanto, observe ini ialmente que se r e s são retas paralelas, então ( f.
orolário 4 da Unidade 4) uma reta t é perpendi ular a r se e só se for
perpendi ular a s.
12 MA13 - Unidade 6

H
D C
E G
A B
F

Figura 12: o retângulo ABCD e o losango EF GH .

Denição 13. Se r e s são retas paralelas, a distân ia entre←→r e s é o


omprimento de qualquer segmento P Q tal que P ∈ r, Q ∈ s e P Q⊥r, s.

Para ver que a denição a ima tem sentido, tome P, P ′ ∈ r e sejam


←→ ←→
Q, Q′ ∈ s tais que P Q, P ′Q′ ⊥r ( f. gura 13). Então P QQ′ P ′ é um qua-
drilátero om quatro ângulos iguais a 90◦ , logo um retângulo. Portanto,
P Q = P ′ Q′ .

s Q Q′

r P P′

Figura 13: distân ia entre duas paralelas.

Voltando à dis ussão geral de retângulos e losangos, ole ionamos nas


proposições 14 e 17 a seguir ara terizações úteis de tais quadriláteros.

Proposição 14. Um paralelogramo é um retângulo se e só suas diagonais


tiverem omprimentos iguais.

Prova. Se ABCD é um retângulo de diagonais AC e BD (gura 12), então


b = 90◦ e (por ABCD também ser paralelogramo) AB = DC .
b = ADC
D AB
Congruên ia de Triângulos 13

Mas omo os triângulos DAB e ADC partilham o lado AD, os mesmos são
ongruentes por LAL. Em parti ular, AC = BD.
Re ipro amente, suponha que ABCD é um paralelogramo tal que AC =
BD (gura 14). Como também temos AB = DC , os triângulos DAB e

D C

A B

Figura 14: ABCD paralelogramo tal que AC = BD.

ADC (que partilham o lado AD ) são novamente ongruentes, agora por


LLL. Logo, DAB
b = ADC b . Mas desde que ABCD é um paralelogramo,
temos DAB
b + ADCb = 180◦ , e daí D AB
b = ADCb = 90◦ . Analogamente,
b = 90◦ e ABCD é um retângulo.
b = D CB
ABC

Corolário 15. A mediana relativa à hipotenusa de um triângulo retângulo é


igual à metade da mesma.

Prova. Seja ABC um triângulo retângulo em A (gura 15). Tra e por


B uma paralela a AC , por C uma paralela a AB , e seja D o ponto de
interseção de tais retas. Como B AC b + ABDb = 180◦ e B ACb = 90◦ , segue
que ABDb = 90◦ . Analogamente, ACD b = 90◦ e, omo a soma dos ângulos de
b = 90◦ . Portanto, o quadrilátero
todo quadrilátero é 360◦, segue daí que B DC
ABDC é um retângulo, donde AD = BC e o ponto M de interseção de AD
e BC é médio de ambos tais segmentos. Logo, BC = AD = 2 AM .

Exemplo 16. Construa um triângulo retângulo ABC , onhe endo os om-


primentos m e h, respe tivamente da mediana e da altura relativas à hipote-
nusa BC .

Solução.
14 MA13 - Unidade 6

C D

A B

Figura 15: a mediana relativa à hipotenusa de um triângulo retângulo.

m h

Voltemo-nos agora à ara terização prometida dos losangos.


Proposição 17. Um paralelogramo é um losango se e só se tiver diagonais
perpendi ulares.
Prova. Suponha primeiro que EF GH é um losango de diagonais EG e F H
(gura 12). Como EF = EH e GF = GH , os triângulos EF G e EHG são
ongruentes por LLL. Portanto, sendo M o ponto de interseção das diagonais
EG e F H , temos
b = F EG
F EM b = H EG
b = H EM.
b

Portanto, EM é bissetriz do ângulo ∠F EH do triângulo EF H , o qual é


isós eles de base F H , e o problema 10, Seção 2, Unidade 3, garante que EM
←→ ←→ ←→
também é altura relativa a F H . Logo, F H⊥ EM = EG.
Congruên ia de Triângulos 15

Re ipro amente, seja EF GH um paralelogramo de diagonais perpendi u-


lares EG e F H (gura 16). Como EG e F H se interse tam no ponto médio
M de ambas (pois EF GH é paralelogramo), segue que no triângulo EHG
o segmento HM é mediana e altura relativamente ao lado EG. Portanto,
pelo problema 11, Seção 2, Unidade 3, temos que EH = GH . Mas omo
EH = F G e EF = GH , nada mais há a fazer.

E G
M

F
Figura 16: EG⊥F H ⇒ EF GH losango.

Há um último tipo de quadrilátero que desejamos estudar: o quadrado.


Um quadrilátero onvexo é um quadrado quando for simultaneamente um
retângulo e um losango (gura 17). Assim, quadrados são quadriláteros de
D C

A B

Figura 17: o quadrado ABCD .

ângulos e lados iguais; ademais, suas diagonais são também iguais e perpen-
di ulares, se interse tam ao meio e formam ângulos de 45◦ om os lados do
quadrilátero (prove esta última armação!).

Observação 18. Segue do que vimos aqui que, sendo T o onjunto dos
trapézios, P o onjunto dos paralelogramos, R o onjunto dos retângulos, L
16 MA13 - Unidade 6

o onjunto dos losangos e Q o onjunto dos quadrados, temos


(
R∪L⊂P ⊂T
,
R∩L= Q
todas as in lusões sendo estritas.
Problemas

1. * Se dois segmentos são iguais e paralelos, prove que suas extremidades


são os vérti es de um paralelogramo.

2. Seja ABCD um quadrilátero onvexo qualquer. Mostre que os pontos


médios de seus lados são os vérti es de um paralelogramo (sugestão: use
o teorema da base média quatro vezes, para on luir que o quadrilátero
que tem por vérti es os pontos médios dos lados tem pares de lados
opostos iguais).

3. Uma reta r passa pelo bari entro G de um triângulo ABC e deixa o


vérti e A de um lado e os vérti es B e C do outro. Prove que a soma
das distân ias de B e C à reta r é igual à distân ia de A a r.

4. Construa om régua e ompasso o triângulo ABC , onhe endo os om-


primentos a do lado BC , ma da mediana relativa a BC e mb da mediana
relativa a AC .

5. Prove que, em todo triângulo, a soma dos omprimentos das medianas


é menor que o perímetro e maior que 34 do perímetro do triângulo.

6. Construa om régua e ompasso o triângulo ABC , onhe endo os om-


primentos ma , mb , mc das medianas de ABC .

7. (Inglaterra). Considere um ír ulo de entro O e diâmetro AB . Pro-


longue uma orda qualquer AP até um ponto Q, tal que P seja o ponto
médio de AQ. Se OQ ∩ BP = {R}, al ule a razão entre os ompri-
mentos dos segmentos RQ e RO.
Congruên ia de Triângulos 17

8. Seja ABCD um trapézio de bases AB = 7 m e CD = 3 m e lados


não paralelos AD e BC . Se Ab = 43◦ e B b = 47◦ , al ule a distân ia
entre os pontos médios das bases do trapézio (sugestão: sendo M e
N os pontos médios de CD e AB , respe tivamente, tra e por M as
paralelas aos lados não paralelos, e suponha que tais retas interse tam
a base maior AB em P e Q. Cal ule P Q e mostre que MN é a mediana
relativa à hipotenusa do triângulo P MQ).

9. São dados no plano uma reta r e um paralelogramo ABCD, tais que


r não interse ta ABCD . Sabendo que as distân ias dos pontos A, B
e C à reta r são respe tivamente iguais a 2, 3 e 6 entímetros, al ule
a distân ia de D a r (sugestão: sendo M o ponto de interseção das
diagonais de ABCD, use o teorema da base média de trapézios para
omparar a distân ia de M a r om a soma das distân ias de A e C a
r ; faça o mesmo om os vérti es B e D ).

10. As bases AB e CD de um trapézio têm omprimentos a e b, respe ti-


vamente, om a > b. Se ∠BCD = 2∠DAB , prove que BC = a − b
(sugestão: tra e CE k AD, om E ∈ AB , e mostre que o triângulo
BCE é isós eles).

11. Seja ABCD um trapézio no qual o omprimento da base maior AB é


igual ao omprimento da base menor CD somado ao omprimento do
lado não paralelo BC . Se o ângulo em A medir 70◦ , al ule o ângulo
C (sugestão: esse problema é análogo ao anterior).

12. Construa om régua e ompasso um trapézio, onhe idos os ompri-


mentos a, b, c, d de seus lados (sugestão: sendo ABCD um trapézio de
bases AB e CD e lados não paralelos BC e AD, tra e por C a para-
lela ao lado AD, e suponha que tal reta interse te a base AB em E .
Construa ini ialmente o triângulo EBC ).

13. * (OCM). Um triângulo ABC é retângulo em A e tal que BC = 2 AB .


18 MA13 - Unidade 6

Cal ule as medidas em graus de seus ângulos (sugestão: use o orolá-


rio 15).

14. Em um triângulo ABC , sejam M o ponto médio do lado BC e Hb , Hc


respe tivamente os pés das alturas relativas a AC e AB . Prove que o
triângulo MHb Hc é isós eles (sugestão: idem ao problema anterior).

15. Seja ABCD um quadrado de lado 1 e E um ponto sobre o lado CD,


tal que AE = AB + CE . Sendo F o ponto médio do lado CD, prove
b = 2 · F AD
que E AB b (sugestão: marque os pontos G e H , sendo G o
−→ −→
médio de BC e H a interseção de EG e AB . Con lua que o triângulo
AEH é isós eles de base EH ).
MA13 - Unidade 7

Lugares Geométri os

Semana 29/08/2011 a 04/09/2011

1 Lugares geométri os bási os


Começamos esta seção estudando o importante on eito de lugar geométri o :

Denição 1. Dada uma propriedade P relativa a pontos do plano, o lugar


geométri o (abreviamos LG) dos pontos que possuem a propriedade P é o
sub onjunto L do plano que satisfaz as duas ondições a seguir:

(a) Todo ponto de L possui a propriedade P.

(b) Todo ponto do plano que possui a propriedade P perten e a L.

Em outras palavras, L é o LG da propriedade P se L for onstituído


exatamente pelos pontos do plano que têm a propriedade P , nem mais nem

menos. No que segue vamos estudar alguns lugares geométri os elementares,


assim omo algumas apli ações dos mesmos.

1
2 MA13 - Unidade 7

Exemplo 2. Dados um real positivo r e um ponto O do plano, o LG dos


pontos do plano que distam r do ponto O é o ír ulo de entro O e raio r :

AO = r ⇐⇒ A ∈ Γ(O; r).

A
r

Figura 1: ír ulo omo LG.

Para o próximo exemplo, dados pontos A e B no plano, a mediatriz do


segmento AB é a reta perpendi ular a AB e que passa por seu ponto médio.

Exemplo 3. Construa om régua e ompasso a mediatriz do segmento AB


dado a seguir.

Solução.

Des rição dos passos.

1. Com uma mesma abertura r > 21 AB , tra e os ír ulos de raio r e


entros A e B ; se X e Y são os pontos de interseção de tais ír ulos,
←→
então XY é a mediatriz de AB .
Lugares Geométri os 3

De fato, sendo M o ponto de interseção dos segmentos XY e AB , vimos no


exemplo 10, Seção 2, Unidade 3, que M é o ponto médio de AB . Por outro
lado, omo o triângulo XAB é isós eles de base AB e XM é mediana relativa
à base, o problema 10, da Unidade 3, garante que XM também é altura de
←→
XAB . Portanto, XY passa pelo ponto médio de AB e é perpendi ular a
AB , logo oin ide om a mediatriz de AB .

A proposição a seguir ara teriza a mediatriz de um segmento omo um


lugar geométri o.

Proposição 4. Dados pontos A e B no plano, a mediatriz de AB é o LG

dos pontos do plano que equidistam de A e de B.

Prova. Sejam M o ponto médio e m a mediatriz de AB (gura 2). Se P ∈ m,


então, no triângulo P AB , P M é mediana e altura, e daí o problema 11, da
Unidade 3, garante que o triângulo P AB é isós eles de base AB . Logo,
P A = P B.

B
M
A

Figura 2: P ∈ (mediatriz de AB) ⇒ P A = P B .

Re ipro amente, seja P um ponto no plano tal que P A = P B (gura 3).


Então o triângulo P AB é isós eles de base AB , donde segue que a mediana
e a altura relativas a AB oin idem. Como a mediana de P AB relativa a
AB é o segmento P M , segue que P M⊥AB , o que é o mesmo que dizer que
←→
P M é a mediatriz de AB .
4 MA13 - Unidade 7

B
M
A

Figura 3: P A = P B ⇒ P ∈ (mediatriz de AB ).

O papel da bissetriz de um ângulo omo LG está essen ialmente ontido


na proposição a seguir:

Proposição 5. Seja ∠AOB um ângulo dado. Se P um ponto do mesmo,

então
←→ ←→
d(P, AO) = d(P, BO) ⇐⇒ P ∈ (bissetriz de ∠AOB).

Prova. Suponha primeiro que P pertençe à bissetriz de ∠AOB (gura 4),


e sejam M e N respe tivamente os pés das perpendi ulares baixadas de P
←→ ←→
às retas AO e BO. Como M OP b = N OP
b , OM cP = O NP b = 90◦ e OP é
omum, segue que os triângulos OMP e ONP são ongruentes por LAAo.
←→ ←→
Daí, P M = P N , ou seja, d(P, AO) = d(P, BO).

M A

O P

N B

←→ ←→
Figura 4: P ∈ (bissetriz de ∠AOB) ⇒ d(P, AO) = d(P, BO).

Re ipro amente, seja P um ponto no interior do ângulo ∠AOB , tal que


P M = P N , onde M e N são os pés das perpendi ulares baixadas de P
←→ ←→
respe tivamente às retas AO e BO . Então os triângulos MOP e NOP são
Lugares Geométri os 5

novamente ongruentes, agora pelo aso CH ( P M = P N e OP omum 


b = N OP
veja o problema 1, Unidade 4. Mas aí M OP b , donde P está sobre a
bissetriz de ∠AOB .

Exemplo 6. Dadas no plano retas r e s, on orrentes em O , vimos na


proposição a ima que um ponto P do plano equidista de r e s se e só se P
estiver sobre uma das retas que bisse tam os ângulos formados por r e s.
Assim, o LG dos pontos do plano que equidistam de duas retas on orrentes
é a união das bissetrizes dos ângulos formados por tais retas.

Figura 5: as bissetrizes de duas retas on orrentes omo LG.

Após termos estudado a ima os LG's mais bási os, vale a pena dis orrer-
mos um pou o sobre o problema geral da onstrução om régua e ompasso
de uma gura geométri a satisfazendo ertas ondições. O tratamento pa-
drão para um tal problema onsiste basi amente na exe ução dos dois passos
seguintes:

1. Supor o problema resolvido: onstruímos um esboço da gura possui-


dora das propriedades desejadas, identi ando na mesma os dados do
problema e os elementos que possam nos levar à solução.

2. Construir os pontos- have para a solução : um ponto- have é todo


ponto que, uma vez onstruído, torna imediatas as onstruções sub-
sequentes e, em última análise, a solução do problema em questão.
6 MA13 - Unidade 7

Para onstruir o(s) ponto(s)- have de um determinado problema, um-


pre examinarmos as propriedades geométri as da situação em estudo
om bastante uidado, tentando identi ar dois LGs aos quais o ponto
pertença. Devendo estar simultaneamente em dois LGs, o ponto  a
individualizado pelas interseções dos mesmos.

Vejamos, em um exemplo simples, omo fun iona a exe ução do programa


a ima.

Exemplo 7. Construa om régua e ompasso um ír ulo passando pelos


pontos A e B e tendo seu entro sobre a reta r .

Prova.
A
B

1. Supondo o problema resolvido, queremos um ír ulo omo o da gura


a seguir:

A
B

r
O

2. Nosso ponto- have será o entro O do ír ulo, uma vez que, en ontrada
sua posição, basta nele entrar o ompasso, om abertura OA, a m
Lugares Geométri os 7

de onstruir o ír ulo pedido. A m de onstruir O , pre isamos de dois


LG's: um é a própria reta r , pois sabemos que O deve perten er a r .
Por outro lado, omo OA e OB são raios, temos OA = OB , e assim O
deve perten er à mediatriz do segmento AB ; tal mediatriz é, portanto,
nosso segundo LG.

Feita a análise a ima, resta onstruir a mediatriz do segmento AB , obter


sua interseção O om a reta r e, em seguida, traçar o ír ulo-solução, que é
aquele de entro O e raio OA = OB .

Problemas  Seção 1

1. Construa um ír ulo de raio dado r que passe por dois pontos dados A
e B . Sob que ondições há solução?

2. Identique e onstrua om régua e ompasso o LG do vérti e A do


triângulo ABC , onhe ida a posição do vérti e B e o omprimento c
do lado AB .

3. Construa om régua e ompasso um triângulo ABC , onhe idos os


omprimentos c do lado AB , a do lado BC e a medida α do ângulo
∠BAC .

4. Identique o LG do vérti e A do triângulo ABC , onhe idas as posições


dos vérti es B e C e o omprimento ma da mediana relativa ao lado
BC .

5. Identique e onstrua om régua e ompasso o LG dos pontos do plano


equidistantes de duas retas paralelas dadas r e s.

6. São dados no plano um segmento de omprimento l e uma reta r .


Identique e onstrua om régua e ompasso o LG dos pontos do plano
uja distân ia à reta r é igual a l.
8 MA13 - Unidade 7

7. De um triângulo ABC onhe emos as posições dos vérti es B e C e


o omprimento ha da altura relativa a A. Identique e onstrua om
régua e ompasso o LG do vérti e A.

8. Construa om régua e ompasso um triângulo ABC , onhe idos os


omprimentos a do lado BC , ha da altura relativa a A e hb da altura
relativa a B .

9. Construa o triângulo ABC onhe endo o semiperímetro p do mesmo


e as medidas β e γ dos ângulos ∠B e ∠C , respe tivamente (sugestão:
←→
marque, sobre a reta BC e exteriormente ao lado BC , pontos B ′ e C ′
tais que B ∈ B ′ C , C ∈ BC ′ e BB ′ = c, CC ′ = b. Então B ′ C ′ = 2p e,
pelo teorema do ângulo externo, AB b ′ C = β ).
2

2 Pontos notáveis de um triângulo


Nesta seção, apli amos o on eito de LG para estudar mais alguns pontos no-
táveis de um triângulo (lembre que já denimos e estudamos as propriedades

do bari entro na proposição 10 da Unidade 6).

Proposição 8. Em todo triângulo as mediatrizes dos lados passam todas por

um mesmo ponto, o ir un entro do mesmo.


Prova. Sejam ABC um triângulo qualquer, r , s e t respe tivamente as me-
diatrizes dos lados BC , CA e AB , e O o ponto de interseção das retas r e s
(gura 6).
Pela ara terização da mediatriz de um segmento omo LG, temos OB =
OC (pois O ∈ r ) e OC = OA (pois O ∈ s). Portanto, OB = OA, e segue
novamente da ara terização da mediatriz omo LG que O ∈ t.

Exemplo 9. Construa om régua e ompasso o ir un entro do triângulo


ABC dado na gura abaixo.

Solução.
Lugares Geométri os 9

t s

B C
r

Figura 6: o ir un entro de um triângulo.

A C

Como orolário da dis ussão a ima, podemos estudar o problema da on-


orrên ia das alturas de um triângulo. Note primeiro que, aso o triângulo
seja obtusângulo (gura 7), as alturas que não partem do vérti e do ângulo
obtuso são exteriores ao mesmo.

Proposição 10. Em todo triângulo, as três alturas se interse tam em um só


ponto, o orto entro do triângulo.

Prova. Seja ABC um triângulo qualquer. Há três asos a onsiderar:

(a) ABC é retângulo ( f. gura 8): suponhamos, sem perda de generalidade,


b = 90◦ . Então A é o pé das alturas relativas aos lados AB e AC .
que B AC
Como a altura relativa ao lado BC passa (por denição) por A, segue que
as alturas de ABC on orrem em A.
10 MA13 - Unidade 7

Ha C
Hb

Figura 7: alturas de um triângulo obtusângulo.

C
Ha

A B

Figura 8: orto entro de um triângulo retângulo.

(b) ABC é a utângulo ( f. gura 9): tra e por A, B, C , respe tivamente,


retas r, s, t paralelas a BC, CA, AB , também respe tivamente, e sejam r∩s =
{P }, s ∩ t = {M}, t ∩ r = {N}. Como os quadriláteros ABCN e ABMC
são paralelogramos, segue que CN = AB = CM , e daí C é o ponto médio
de MN . Analogamente, B é o ponto médio de MP e A o ponto médio de
P N.
Por outro lado, a altura relativa a BC também é perpendi ular a P N , já
que BC e P N são paralelos. Do mesmo modo, as alturas relativas a AC e
AB são perpendi ulares respe tivamente a MP e MN . Segue que as alturas
do triângulo ABC são as mediatrizes dos lados do triângulo MNP . Mas já
provamos que as mediatrizes dos lados de um triângulo são on orrentes, de
modo que as alturas de ABC devem ser on orrentes.

( ) ABC é obtusângulo: a prova é totalmente análoga à do aso (b).


Lugares Geométri os 11

C t
N M
r
B
A
s

P
Figura 9: orto entro de um triângulo a utângulo.

Coletamos uma onsequên ia interessante da demonstração a ima no se-


guinte

Corolário 11. O ir un entro de um triângulo é o orto entro de seu triân-

gulo medial.

Prova. Nas notações do item (b) da prova a ima, ABC é o triângulo medial
do triângulo MNP , e as mediatrizes dos lados de MNP são as alturas de
ABC .

Exemplo 12. Construa om régua e ompasso o orto entro do triângulo


ABC dado a seguir.

Solução.
A

Examinemos por m as bissetrizes internas.


12 MA13 - Unidade 7

Proposição 13. As bissetrizes internas de todo triângulo on orrem em um


úni o ponto, o in entro do triângulo.

Prova. Sejam r , s e t respe tivamente as bissetrizes internas dos ângulos


∠A, ∠B e ∠C do triângulo ABC (gura 10), e I o ponto de interseção das
retas r e s. Como I ∈ r , segue da ara terização das bissetrizes omo LG
que I equidista dos lados AB e AC de ABC . Analogamente, I ∈ s garante
que I equidista dos lados AB e BC . Portanto, I equidista de AC e BC e,
usando novamente a referida ara terização das bissetrizes, on luímos que I
perten e à bissetriz do ângulo ∠C , ou seja, à reta t. Assim, r , s e t on orrem
em I .
A

I t
s
B C

Figura 10: in entro de um triângulo.

Exemplo 14. Construa om régua e ompasso o in entro do triângulo ABC


dado a seguir.

Solução.
A

B
Lugares Geométri os 13

Problemas  Seção 2

1. Numa folha de papel estão desenhadas duas retas on orrentes r e s.


O orre que, devido ao tamanho da folha, o ponto de interseção de r e
s não apare e no papel. Seja P um ponto no papel, tal que os pés das
perpendi ulares baixadas de P às retas r e s estejam situados dentro
da folha do desenho. Mostre omo onstruir om régua e ompasso
uma reta t, passando por P e on orrente simultaneamente om r e s
(sugestão: sendo A o ponto de interseção de r e s, veja o ponto P omo
orto entro de um triângulo que tem A omo um de seus vérti es).
MA13 - Unidade 8

Lugares Geométri os II

Semana 29/08/2011 a 04/09/2011

1 Tangên ia e ângulos no ír ulo


Come emos esta seção estudando a noção de reta e ír ulos tangentes.
Dizemos que um ír ulo Γ e uma reta r são tangentes, ou ainda que
a reta é tangente ao ír ulo, se r e Γ tiverem exatamente um ponto P em
omum. Nesse aso, P é o ponto de tangên ia de r e Γ.
Proposição 1. Seja Γ um ír ulo de entro O , e P um ponto de Γ. Se t é
←→
a reta que passa por P e é perpendi ular à OP , então t é tangente a Γ.
Prova. Seja R o raio de Γ. Se Q 6= P é outro ponto de t (gura 1), então
temos QO > P O = R, uma vez que QPbO = 90◦ é o maior ângulo do
triângulo OP Q. Portanto, Q ∈ / Γ, e assim P é o úni o ponto em omum a t
e Γ.
O exemplo a seguir exer ita a onstrução expli itada na demonstração
a ima.

1
2 MA13 - Unidade 8

Figura 1: ír ulo e reta tangentes.

Exemplo 2. Construa om régua e ompasso uma reta r, tangente a Γ em


P.

Solução.

Não é difí il provar que a reta tangente a um ír ulo Γ por um ponto P


do mesmo é úni a (problema 1, página 12). Por outro lado, se P for exterior
ao ír ulo, provaremos mais adiante (proposição 9) que há exatamente duas
retas tangentes a Γ e passando por P .
Voltemo-nos agora ao estudo de ertos ângulos em um ír ulo. Dados no
plano um ír ulo Γ de entro O , um ângulo entral em Γ é um ângulo de
vérti e O e tendo dois raios OA e OB por lados. Em geral, tal ângulo entral
será denotado por ∠AOB e o ontexto tornará laro a qual dos dois ângulos
Lugares Geométri os 3

∠AOB estamos nos referimos. Por denição, a medida do ângulo entral



∠AOB é igual à medida do ar o AB . Mostraremos no exemplo a seguir que
ângulos entrais iguais subentendem ordas também iguais

Exemplo 3. Se A, B , C e D são pontos sobre um ír ulo Γ, tais que os


ângulos entrais ∠AOB e ∠COD são iguais, então AB = CD.

Prova. Suponha que AOB


b = C ODb < 180◦ (o aso AOB b = C ODb > 180◦
pode ser tratado de modo análogo). Basta observar ( f. gura 2) que os

A O
D
C

Figura 2: ordas de ângulos entrais iguais.

triângulos AOB e COD são ongruentes por LAL (uma vez que AO =
BO = CO = DO), de sorte que AB = CD .

Um ângulo ins rito num ír ulo é um ângulo ujo vérti e é um ponto do


ír ulo e ujos lados são ordas do mesmo. A proposição a seguir nos ensina
a al ular sua medida.

Proposição 4. Se AB e AC são ordas de um ír ulo de entro O , então


a medida do ângulo ins rito ∠BAC é igual a metade da medida do ângulo
entral orrespondente ∠BOC .
Prova. Consideremos três asos separadamente:
4 MA13 - Unidade 8

(a) O ângulo ∠BAC ontém o entro O em seu interior (gura 3): omo os
triângulos OAC e OAB são isós eles de bases respe tivamente AC e AB ,
temos O AC
b = O CA b = α e O AB
b = O BA b = β , digamos. Segue então
b ′ = 2α e
do teorema do ângulo externo ( orolário 7, Unidade 4) que C OA
b ′ = 2β , e daí
B OA

b = B OA
B OC b ′ + C OA
b ′ = 2(α + β) = 2B AC.
b

O
A A′

Figura 3: ângulo ins rito quando o entro perten e ao mesmo.

(b) O ângulo ∠BAC não ontém o entro O (gura 4): temos novamente
OAC e OAB isós eles de bases AC e AB . Ademais, sendo O AC
b = O CA
b =
α e O AB
b = O BA b = β temos, também pelo teorema do ângulo externo,
b ′ = 2α e B OA
C OA b ′ = 2β . Logo,

b = B OA
B OC b ′ − C OA
b ′ = 2(β − α) = 2B AC.
b

( ) O entro O está sobre um dos lados de ∠BAC : este aso é análogo aos
dois asos anteriores e será deixado omo exer í io para o leitor.

O aso limite de um ângulo ins rito é um ângulo de segmento: seu


vérti e é um ponto do ír ulo e seus lados são um uma orda e o outro a
Lugares Geométri os 5

A A′
O

Figura 4: ângulo ins rito quando o entro não perten e ao mesmo

tangente ao ír ulo no vérti e do ângulo (gura 5). A proposição a seguir


mostra que podemos al ular a medida de ângulos de segmento de maneira
análoga aos ângulos ins ritos.

Proposição 5. Nas notações da gura 5, a medida do ângulo de segmento


∠BAC é igual à metade do ângulo entral orrespondente ∠AOB .
←→ ←→
Prova. b = α. Como AC⊥ AO , temos ABO
Seja C AB b = 90◦ − α, e
b = B AO
daí
b = 180◦ − 2(90◦ − α) = 2α.
B OA

C B

A
O

Figura 5: medida de um ângulo de segmento.


6 MA13 - Unidade 8

Outra maneira útil de generalizarmos ângulos ins ritos é onsiderar ân-


gulos ex- êntri os. Um ângulo ex- êntri o interior (gura 6) é um ângulo
formado por duas ordas de um ír ulo que se interse tam no interior do
mesmo; um ângulo ex- êntri o exterior é um ângulo formado por duas
ordas de um ír ulo que se interse tam no exterior do mesmo.
A proposição a seguir ensina omo al ular medidas de ângulos ex- êntri os.

Proposição 6. Sejam AB e CD duas ordas de um ír ulo, ujas retas


suportes se interse tam em um ponto E .

(a) Se E for interior ao ír ulo, então a medida do ângulo ex- êntri o



interior ∠AEC é igual à média aritméti a das medidas dos ar os AC

e BD subentendidos.

(b) Se E for exterior ao ír ulo, então a medida do ângulo ex- êntri o



exterior ∠AEC é igual à semidiferença das medidas dos ar os BD e

AC subentendidos.

Prova.
(a) Basta apli ar su essivamente o teorema do ângulo externo ( orolário 7,
Unidade 4 e o resultado da proposição 4:

b = 1 AC + 1 BD.
⌢ ⌢
b = ADC
AEC b + B AD
2 2

(b) Exer í io.

A proposição a seguir estabele e a existên ia e expli a omo onstruir um


importante lugar geométri o, o ar o apaz de um ângulo dado.

Proposição 7. Dados um segmento AB e um ângulo α, om 0◦ < α < 180◦ ,


o LG dos pontos P do plano tais que APbB = α é a reunião de dois ar os
←→
de ir unferên ia, simétri os em relação à reta AB e tendo os pontos A e B
em omum. Tais ar os são os ar os apazes de α em relação a AB .
Lugares Geométri os 7

B
C

O
D
A

Figura 6: medida de um ângulo ex- êntri o interior.

Prova. Analisemos o aso 0◦ < α ≤ 90◦ (o aso 90◦ < α < 180◦ pode ser
tratado de modo análogo.
←→ ←→
/ AB e P ′ o simétri o de P em relação à reta AB , é laro que
Sendo P ∈
APbB = APb′ B (gura 7). Portanto, para estudar o LG pedido podemos nos
P

A B

P′
Figura 7: APbB = APb′ B .

restringir somente aos pontos P situados em um dos semiplanos que a reta


←→ ←→
AB determina, digamos aquele a ima de AB na gura 8. Em tal semiplano,
seja O o ponto tal que AOB é um triângulo isós eles de base AB , om
AOBb = 2α (note que 0◦ < 2α < 180◦ no aso que estamos onsiderando).
Sendo OA = OB = r, onsidere o ar o do ír ulo Γ de entro O e raio r,
←→
situado a ima de AB .
Sendo P um ponto qualquer de Γ (gura 8), temos pelo teorema do ângulo
ins rito que
1 b
APbB = AOB = α,
2
8 MA13 - Unidade 8

de modo que P perten e ao LG pro urado. Seja agora P ′ um ponto do

P
P′

A B

Figura 8: ar o apaz de α sobre AB (superior).

semiplano superior, tal que P ′ ∈


/ Γ; mostremos que P ′ não perten e ao LG
pro urado. Há duas possibilidades: P ′ está no interior ou no exterior de Γ.
Analisemos o aso em que P ′ está no interior de Γ (o outro aso é análogo).
Nas notações da gura 8, segue do teorema do ângulo externo que

APb ′B = APbB + P AP
b ′ > APbB = α,

e P ′ não perten e ao LG pro urado.

A prova da proposição a ima também mostra omo onstruir os ar os


apazes de α sobre AB quando 0◦ < α ≤ 90◦ . De fato, nas notações da
prova a ima, omo O AB b , temos
b = O BA

b = O BA
O AB b = 1 (180◦ − 2α) = 90◦ − α.
b = 1 (180◦ − AOB)
2 2
Assim, obtemos o entro O do ar o apaz superior omo sendo a interseção
das semirretas situadas em tal semiplano, partindo de A e de B e fazendo um
ângulo de 90◦ − α graus om o segmento AB (o aso 90◦ < α < 180◦ pode
ser tratado de modo análogo. O aso parti ular α = 90◦ é parti ularmente
b = 0◦ , e daí o entro O do ar o
fá il. Basta observar que nesse aso O AB
apaz é o ponto médio do segmento AB .
Lugares Geométri os 9

Exemplo 8. Construa om régua e ompasso os ar os apazes de α sobre


AB .

Prova.

A B

Podemos usar ar os apazes para examinar o problema de traçar as tan-


gentes a um ír ulo por um ponto exterior, onforme ensina a seguinte

Proposição 9. Dados no plano um ír ulo e um ponto P exterior ao mesmo,


há exatamente duas retas tangentes ao ír ulo e passando por P .

Prova. Seja O o entro do ír ulo dado, e A e B os pontos de interseção do


mesmo om aquele de diâmetro OP (gura 9). Pelas observações anteriores,
os semi ír ulos superior e inferior do ír ulo traçado podem ser vistos omo
os ar os apazes de 90◦ sobre P O . Portanto, O APb = O BPb = 90◦ ; de outra
←→ ←→
forma, OA⊥AP e OB⊥BP , e a proposição 2 garante que as retas AP e BP
são tangentes ao ír ulo dado.
Re ipro amente, se r é uma reta passando por P e tangente ao ír ulo
←→
dado, em X digamos, então OX⊥ XP , ou, o que é o mesmo, O XP b = 90◦ .
Logo, X perten e a um dos ar os apazes de 90◦ sobre OP , i.e., X perten e
ao ír ulo de diâmetro OP . Mas aí, X está sobre a interseção do ír ulo dado
om aquele de diâmetro OP , e portanto X = A ou X = B .

A demonstração da proposição a ima pode ser fa ilmente adaptada em


passos para a seguinte onstrução geométri a importante.
10 MA13 - Unidade 8

P
O

Figura 9: tangentes a um ír ulo por um ponto exterior.

Exemplo 10. Construa om régua e ompasso as retas tangentes a Γ e


passando por P .

Prova.

P
O

A proposição a seguir estabele e duas propriedades bastante úteis das


tangentes traçadas a um ír ulo a partir de um ponto exterior ao mesmo.

Proposição 11. Seja Γ um ír ulo de entro O e P um ponto exterior ao


←→ ←→
mesmo. Se A, B ∈ Γ são tais que P A e P B são tangentes a Γ (gura 10),
então
←→
P A = P B e P O é a mediatriz de AB.
←→ ←→
Em parti ular, P O⊥ AB .

Prova. Como OA = OB e P AO b = P BO b = 90◦ , os triângulos P OA e


P OB são ongruentes pelo aso espe ial CH de ongruên ia de triângulos
Lugares Geométri os 11

retângulos (problema 1, Unidade 4); em parti ular, P A = P B . Agora, omo


←→
P e O equidistam de A e de B , segue que P O é a mediatriz do segmento
AB . O resto é imediato.

P
O

Figura 10: propriedades das tangentes por um ponto exterior.

Exemplo 12. São dados no plano pontos B e C e um dos ar os apazes do


ângulo α sobre BC . Construa om régua e ompasso o LG dos pontos A do
plano tais que B AC
b = 1 α.
2

Prova.

B C
12 MA13 - Unidade 8

Problemas  Seção 1

1. * Dados no plano um ír ulo Γ e um ponto P sobre o mesmo, mostre


que a reta tangente a Γ em P é úni a (sugestão: suponha que há outra,
que não a onstruída na proposição 1, e hegue a uma ontradição).

2. São dados no plano uma reta r e um ponto A ∈ r. Identique e onstrua


om régua e ompasso o LG dos pontos do plano que são entros dos
ír ulos tangentes à reta r no ponto A.

3. São dados no plano retas on orrentes r e s e um ponto P de r. Cons-


trua os ír ulos tangentes a r e s, sendo P o ponto de tangên ia om a
reta r.

4. São dados no plano um segmento de omprimento R e uma reta r.


Identique e onstrua om régua e ompasso o LG dos pontos do plano
que são entros dos ír ulos de raio R tangentes à reta r.

5. Temos no plano duas retas on orrentes r e s. Dado um real R > 0,


onstrua todos os ír ulos de raio R tangentes simultaneamente a r e
a s.

6. Sejam a, b e c três retas do plano, om a k b, e c on orrente om a e


b. Construa om régua e ompasso os ír ulos tangentes a a, b e c.

Para os problemas 7 a 9 a seguir, dizemos que dois ír ulos são:

• exteriores se não tiverem pontos omuns e tiverem interiores dis-


juntos;
• interiores se não tiverem pontos omuns mas o interior de um
deles ontiver o outro;
• se antes se tiverem dois pontos em omum;
Lugares Geométri os 13

• tangentes se tiverem um úni o ponto omum; nesse último aso,


os ír ulos são tangentes exteriormente se tiverem interiores
disjuntos e tangentes interiormente aso ontrário.

7. Dados ír ulos Γ1 (O1 ; R1 ) e Γ2 (O2 ; R2 ), prove que Γ1 e Γ2 são:

(a) exteriores se e só se O1 O2 = R1 + R2 .
(b) tangentes exteriormente se e só se O1 O2 = R1 + R2 .
( ) se antes se e só se |R1 − R − 2| < O1 O2 < R1 + R2 .
(d) tangentes interiormente se e só se O1 O2 = |R1 − R2 |.
(e) interiores se e só se O1 O2 < |R1 − R2 |.

8. São dados no plano um ír ulo Γ de entro O e um ponto A de Γ.


Identique e onstrua om régua e ompasso o LG dos entros dos
ír ulos tangentes a Γ em A.

9. São dados no plano um ír ulo Γ, de entro O e raio R, e um segmento


de omprimento r. Identique e onstrua om régua e ompasso o LG
dos entros dos ír ulos de raio r e tangentes a Γ. Em que medida o
LG em questão depende dos valores R e r?

10. Os segmentos AP e AQ tangen iam um ír ulo Γ e medem 5 m ada.


Es olhemos pontos B ∈ AP e C ∈ AQ tais que BC também tangen ia
Γ. Cal ule os possíveis valores do perímetro do triângulo ABC .

11. (Torneio das Cidades). Seja ABCD um quadrado de lado a, e Γ o


ír ulo de entro A e raio a. Mar amos pontos M e N sobre BC e CD
tais que MN tangen ia Γ. Quais os possíveis valores do ângulo M AN
b ?

12. As retas r e s são on orrentes em A e tangentes a um ír ulo Γ de


←→
entro O . Pontos P ∈ r, Q ∈ s são tais que P Q tangen ia Γ e deixa A
e O em semiplanos opostos. Se P AQb = 28◦ , al ule P OQ
b .
14 MA13 - Unidade 8

13. Dois ír ulos Γ e Σ se interse tam em dois pontos distintos A e B .


Es olhemos X ∈ Γ e Y ∈ Σ tais que A ∈ XY . Prove que a medida do
←→
ângulo ∠XBY independe da direção da reta XY .

14. As ordas AB e CD de um ír ulo Γ são perpendi ulares em E , um


ponto situado no interior do ír ulo. A reta perpendi ular a AC por E
interse ta o segmento BD em F . Prove que F é o ponto médio de BD.

2 Cír ulos asso iados a um triângulo


De posse dos on eitos de ar os apazes e tangên ia de retas e ír ulos, re-
tomamos aqui nosso estudo dos pontos notáveis de um triângulo.

Proposição 13. Todo triângulo admite uma úni o ír ulo passando por seus
vérti es. Tal ír ulo é dito ir uns rito ao triângulo, e seu entro é o ir-
un entro do mesmo.

Prova. Seja ABC um triângulo de ir un entro O (gura 11). Como O é

C s

A B

Figura 11: ir un entro e ír ulo ir uns rito a um triângulo.

o ponto de interseção das mediatrizes dos lados do triângulo, temos OA =


OB = OC . Denotando por R tal distân ia omum, segue que o ír ulo de
Lugares Geométri os 15

entro O e raio R passa por A, B, C . Existe, portanto, um ír ulo passando


pelos vérti es de ABC .
Re ipro amente, o entro de um ír ulo que passe pelos vérti es de ABC
deve equidistar dos mesmos. Portanto, o entro perten e às mediatrizes dos
lados de ABC , donde oin ide om o ponto de interseção das mesmas, que
é o ir un entro O . Por m, o raio do ír ulo, sendo a distân ia de O aos
vérti es, é igual a R.
Proposição 14. Se ABC é um triângulo de ir un entro O , então O está
no interior (resp. sobre um lado, no exterior) de ABC se e só se ABC for
a utângulo (resp. retângulo, obtusângulo).
Prova. Sejam Γ o ír ulo ir uns rito a ABC , M o ponto médio de BC . Há
três asos a onsiderar:

(a) O está no interior de ABC (gura 12): no triângulo OAB temos AOBb =
2ACBb . Por outro lado, 0◦ < AOB
b < 180◦ , donde 2ACB b < 180◦ , ou ainda
b < 90◦. Analogamente, ABC
ACB b < 90◦ e B AC b < 90◦ , donde ABC é
a utângulo.

A M B

Figura 12: O está no interior de ABC .

(b) O está sobre um lado de ABC (gura 13): suponha, sem perda de gene-
ralidade, que O ∈ BC . Nesse aso, BC é diâmetro de Γ e O é o ponto médio
16 MA13 - Unidade 8

de BC , de maneira que

b = 90◦ = 1 ⌢ 1
B AC BXC = 180◦ = 90◦ .
2 2

B O C

Figura 13: O está sobre um lado de ABC .

( ) O está no exterior de ABC (gura 14): suponha, sem perda de generali-


←→
dade, que O e A estão em semiplanos opostos em relação à reta BC . Como

a medida do ar o BC que não ontém A é laramente maior que 180◦, temos

b = 1 ⌢ 1
B AC BXC > 180◦ = 90◦ ,
2 2
e ABC é obtusângulo em A.

Corolário 15. Seja ABC um triângulo a utângulo de ir un entro O . Se


M é o ponto médio do lado AB , então AOM
b = B OM
b = ACB b .

Prova. Imediata a partir da prova do item (a) da proposição anterior, tendo-


se em onta que
AOM b = 1 AOB
b = B OM b = ACB.
b
2
Lugares Geométri os 17

M
B C

Γ
X

Figura 14: O está no exterior de ABC .

Proposição 16. Todo triângulo admite uma úni o ír ulo ontido no mesmo
e tangente a seus lados. Tal ír ulo é dito ins rito no triângulo, e seu entro
é o in entro do mesmo.

Prova. Seja I o in entro de um triângulo ABC (gura 15). Como I é o


ponto de interseção das bissetrizes internas de ABC , temos que I equidista
dos lados de ABC . Sendo r tal distân ia omum aos lados, segue que o
ír ulo de entro I e raio r está ontido em ABC e tangen ia seus lados. A
A

I
B C

Figura 15: ír ulo ins rito em um triângulo.

uni idade do ír ulo ins rito pode ser estabele ida mediante um argumento
análogo ao da uni idade do ír ulo ir uns rito, sendo portanto deixada ao
leitor.
18 MA13 - Unidade 8

Exemplo 17. Construa om régua e ompasso os ír ulos ins rito e ir uns-


rito ao triângulo ABC dado a seguir:

Solução.

Asso iados a todo triângulo há ainda três outros ír ulos notáveis, os


ír ulos ex-ins ritos aos lados do triângulo.

Proposição 18. Em todo triângulo ABC , existe um úni o ír ulo tangente


ao lado BC e aos prolongamentos dos lados AB e AC . Tal ír ulo é o ír ulo
ex-ins rito ao lado BC , e seu entro é o ex-in entro de ABC relativo a
BC (ou ao vérti e A).

Prova. Sejam r e s as bissetrizes externas dos vérti es B e C do triângulo


ABC , e Ia seu ponto de interseção. Como Ia ∈ r e r é bissetriz, segue que
←→ ←→
d(Ia , BC) = d(Ia , AB).
←→ ←→
Do mesmo modo, uma vez que Ia ∈ s, on luímos que d(Ia , BC) = d(Ia , AC).
Denotando por ra a distân ia omum de Ia às retas suportes dos lados, segue
que o ír ulo de entro Ia e raio ra tangen ia BC e os prolongamentos de
AB e AC (a uni idade do mesmo é deixada ao leitor).

Observações 19.
Lugares Geométri os 19

B
r Ia

A C

Figura 16: a ir unferên ia ex-ins rita ao lado BC do triângulo ABC .

i. Em geral, dado um triângulo ABC , denotamos o entro e o raio do


ír ulo ir uns rito respe tivamente por O e R, do ír ulo ins rito res-
pe tivamente por I e r, e do ír ulo ex-ins rito a BC respe tivamente
por Ia e ra .

ii. Todo triângulo ABC admite exatamente três ír ulos ex-ins ritos; on-
soante as notações estabele idas no item i., denotamos os entros e
raios dos ír ulos ex-ins ritos a AC e AB respe tivamente por Ib , Ic e
rb , rc .

Uma onsequên ia imediata da prova da proposição a ima é o seguinte


Corolário 20. Em todo triângulo, a bissetriz interna relativa a um vérti e
on orre om as bissetrizes externas relativas aos outros dois vérti es no ex-
in entro.
Proposição 21. Seja ABC um triângulo de lados AB = c, BC = a, CA =
b e semiperímetro p (gura 17). Sejam D , E e F os pontos onde o ír ulo
ins rito em ABC tangen ia os lados BC , CA e AB , respe tivamente, e
suponha ainda que o ír ulo ex-in rito a BC tangen ia tal lado em M e os
prolongamentos de AC e AB respe tivamente em N e P . Então:
(a) BD = BF = p − b, CD = CE = p − c, AF = AE = p − a.
20 MA13 - Unidade 8

(b) AN = AP = p.

(c) BM = BP = p − c, CM = CN = p − b.

(d) EN = F P = a.

(e) O ponto médio de BC também é o ponto médio de DM .

Prova.

(a) Denotando AE = AF = x, BD = BF = y e CD = CE = z , obtemos


o sistema 

 x+y =c
y+z =a .


z+x=b

Somando ordenadamente essas igualdades, obtemos x + y + z = 2p, e daí

x = (x + y + z) − (y + z) = p − a.

Analogamente, y = p − b e z = p − c.

B
F D Ia

M
I

A E C N

Figura 17: alguns segmentos notáveis do triângulo ABC .


Lugares Geométri os 21

(b) Sendo AN = AP = u, temos

2u = AN + AP = ( AC + CN ) + ( AB + BP )
= ( AC + AB) + ( CN + BP )
= (b + c) + ( CM + BM )
= b + c + BC = a + b + c = 2p,

de modo que u = p.

( ) É laro que BM = BP e que CM = CN . Por outro lado,

BP = AP − AB = p − c e CN = AN − AC = p − b.

(d) Façamos a prova de que EN = a (provar que F P = a é análogo):

EN = AN − AE = p − (p − a) = a.

(e) Basta provar que CM = BD, o que já zemos a ima.

Os ál ulos da proposição a ima são úteis em muitos problemas, valendo


mesmo a pena memorizar pelo menos os resultados dos itens (a), (b), (d) e
(e). Observe ainda que os itens ( ), (d) e (e) são de orrên ias prati amente
imediatas dos itens (a) e (b).
Terminemos esta seção om um resultado que forne e outra relação entre
o in entro e os ex-in entros de um triângulo.

Proposição 22. Seja ABC um triângulo qualquer, I seu in entro, Ia seu


ex-in entro relativo a BC e M o ponto onde o ír ulo ir uns rito a ABC
interse ta o segmento IIa ( f. gura 18). Então M é o ponto médio do ar o
BC que não ontém A e

MB = MC = MI = MIa .
22 MA13 - Unidade 8

Ia
M
A I

Figura 18: in entro, ex-in entro e ponto médio do ar o orrespondente

Prova. Como M AB
b = M AC
b = 1A
2
b, segue do teorema do ângulo ins rito
⌢ ⌢
que os ar os MB e MC que não ontêm A são iguais e, portanto, M é seu
ponto médio. Como ar os iguais subentendem ordas iguais, temos MB =
MC . Veja agora que B M
cI = B M
cA = B CAb =C be

b
I BM = I BC b = 1B
b + C BM b + C AM
b
2
1b 1b
= B + A.
2 2
Portanto,

b
B IM b − BM
= 180◦ − I BM cI
1 b− A 1 b− Cb
= 180◦ − B
2 2
b+B
= A b+C b − 1B b − 1Ab−C
b
2 2
1b 1b b
= B + A = I BM,
2 2
de modo que o triângulo IBM é isós eles de base BM . Assim, IM = BM =
CM .
Deixamos omo exer í io para o leitor provar a igualdade BM = MIa ;
o argumento é análogo ao a ima.
Lugares Geométri os 23

Problemas  Seção 2

1. Construa o triângulo ABC onhe endo os omprimentos do raio R do


ír ulo ir uns rito e a e b dos lados BC e AC , respe tivamente.

2. Sejam ABC um triângulo qualquer, e M e N respe tivamente os pontos


onde as bissetrizes interna e externa relativas ao vérti e A interse tam
o ír ulo ir uns rito a ABC . Prove que MN é um diâmetro desse
ír ulo.

3. Seja ABC um triângulo qualquer e sejam M , N e P os pontos onde as


bissetrizes internas de ABC , relativas respe tivamente aos vérti es A,
B e C , interse tam o ír ulo ir uns rito ao triângulo (M 6= A, N 6= B ,
P 6= C ). Prove que o in entro de ABC é o orto entro de MNP .

4. Sejam a, b e c três retas do plano, duas a duas on orrentes mas não


passando as três por um mesmo ponto. Construa om régua e ompasso
os pontos do plano equidistantes de a, b e c.

5. * Prove que, em todo triângulo, os pontos simétri os do orto entro em


relação às retas suportes de seus lados estão situados sobre o ír ulo
ir uns rito.
MA13 - Unidade 9

Atividade Espe ial

Semana 05/09/2011 a 11/09/2011

Nesta unidade apresentaremos um tópi o de grande interesse intrínse o, mas


do qual utilizaremos apenas a proposição 1 na Unidade 11.

1 Quadriláteros ins ritíveis e ir uns ritíveis


Contrariamente aos triângulos, nem todo quadrilátero ( onvexo) admite um
ír ulo passando por seus vérti es. Para ver isso, basta tomar um triângulo
ABD e um ponto C não perten ente ao ír ulo ir uns rito a ABD (gura 1).
Por outro lado, dizemos que um quadrilátero é ins ritível se existir um
ír ulo passando por seus vérti es.
É imediato a partir da uni idade do ír ulo ir uns rito a um triângulo
que, se um quadrilátero for ins ritível, então o ír ulo que passa por seus
vérti es é úni o, e será doravante denominado o ír ulo ir uns rito ao
quadrilátero.
Podemos mostrar ( f. problema 7, página 9) que um quadrilátero é ins-

1
2 MA13 - Unidade 9

C
A

Figura 1: um quadrilátero não-ins ritível.

ritível se e só se as mediatrizes de seus lados se interse tarem em um úni o


ponto, o ir un entro do quadrilátero. Porém, nas apli ações que temos em
mente, a ara terização dos quadriláteros ins ritíveis dada a seguir mostra-se
em geral mais útil:

Proposição 1. Um quadrilátero onvexo ABCD , de lados AB , BC , CD e

DA, é ins ritível se e só uma qualquer das ondições a seguir for satisfeita:

b + B CD
(a) D AB b = 180◦.

b = B DC
(b) B AC b .

Prova. Suponhamos ini ialmente que ABCD seja ins ritível (gura 2). En-
tão, pelo teorema do ângulo ins rito, temos B AC b e
b = B DC

b + B CD
b = 1 ⌢ 1 ⌢
D AB BCD + BAD = 180◦.
2 2

Re ipro amente (gura 3), suponhamos primeiro que B AC b = B DC b .


Como ABCD é onvexo e os vérti es de ABCD estão nomeados onse uti-
←→
vamente, segue que A e D estejam situados de um mesmo lado da reta BC .
Sendo θ o valor omum dos ângulos B ACb e B DCb , temos que A e D estão
ambos sobre o ar o apaz de θ sobre BC . Logo, o ír ulo desse ar o apaz é
ir uns rito a ABCD.
Áreas de Figuras Planas 3

C
A

Figura 2: ABCD ins ritível ⇒ DAB


b + B CD
b = 180◦ e B AC
b = B DC
b .

C
A

Figura 3: B AC
b = B DC
b ⇒ ABCD ins ritível.

Suponhamos agora que DAB b + B CD b = 180◦ (gura 4), e onsidere o


←→
ír ulo ir uns rito a BAD. Se C estiver no interior do mesmo, seja BC∩α =
{E}. Pelo item (a), temos

b + B ED
D AB b = 180◦ = D AB
b + B CD,
b

e daí B ED
b = B CD b , uma ontradição ao teorema do ângulo externo. Se C
for exterior ao ír ulo hegamos a uma ontradição análoga.
No que segue, apresentamos duas apli ações importantes da proposição
a ima. Para a primeira delas, pre isamos da seguinte nomen latura: o tri-
ângulo órti o (gura 5) de um triângulo não-retângulo ABC é o triângulo
formado pelos pés das alturas de ABC .

Proposição 2. Em todo triângulo a utângulo, o orto entro oin ide om o


in entro do triângulo órti o.
4 MA13 - Unidade 9

E
C
A

Figura 4: B AC
b + B DC
b = 180◦ ⇒ ABCD ins ritível.

Hc
Hb
H

C Ha B

Figura 5: o triângulo órti o Ha Hb Hc de ABC .

Prova. Vamos nos referir à gura 5. Como H Hb aB + H H


b c B = 90◦ + 90◦ =
180◦, segue da proposição 1 que o quadrilátero HHa BHc é ins ritível. Por-
tanto, novamente por aquela proposição, temos
b a Hc = H BH
HH b c = Hb BA
b = 90◦ − A.
b

Por outro lado, desde que H H b bC = 180◦ temos HHa CHb também
baC + H H
ins ritível. Portanto, temos também
b a Hb = H CH
HH b b = Hc CA
b = 90◦ − A.
b

Provamos então que H H b a Hb , i.e., o segmento HHa é bissetriz


b a Hc = H H
do ângulo ∠Hc Ha Hb do triângulo órti o. Analogamente, HHb e HHc são
bissetrizes dos outros dois ângulos do triângulo órti o, de maneira que seu
ponto de interseção H (o orto entro de ABC ) é o in entro de Ha Hb Hc .
Áreas de Figuras Planas 5

Nossa segunda apli ação diz respeito à seguinte situação: dados no plano
um triângulo ABC e um ponto P não situado sobre qualquer das retas supor-
tes dos lados de ABC , mar amos os pontos D, E e F , pés das perpendi ulares
baixadas de P respe tivamente aos lados BC , CA e AB . O triângulo DEF
assim obtido é o triângulo pedal de P em relação a ABC . Por exemplo, o
triângulo órti o de um triângulo (gura 5) é o triângulo pedal do orto entro
do triângulo.
O resultado a seguir, onhe ido omo o teorema de Simson-Walla e,
expli a quando o triângulo pedal de um ponto é degenerado (i.e., tal que D,
E e F são olineares).

Proposição 3 (Simson-Walla e). Dados um triângulo ABC e um ponto P


não situado sobre as retas suportes de seus lados, o triângulo pedal de P em

relação a ABC é degenerado se e só se P estiver sobre o ír ulo ir uns rito

a ABC .

Prova. A m de que P esteja situado sobre o ír ulo ir uns rito a ABC ,


a úni a possibilidade é que P esteja situado em uma das regiões angulares
∠BAC , ∠ABC ou ∠BCA mas seja exterior ao triângulo ABC . Analoga-
mente, a m de que o triângulo pedal de P em relação a ABC possa ser
degenerado, P deve ser exterior ao triângulo ABC e estar situado em uma
de tais regiões angulares. Portanto podemos, sem perda de generalidade,
supor que P é exterior ao triângulo ABC e está situado na região angular
∠ABC (gura 6).
Sejam respe tivamente D, E e F os pés das perpendi ulares baixadas
de P às retas suportes dos lados BC , AC e AB . Podemos também supor,
sem perda de generalidade, que D e E estão sobre os lados BC e AC , res-
pe tivamente, mas que F está sobre o prolongamento do lado AB . Como
b = 90◦ , o quadrilátero P F AE é ins ritível. Analogamente, o
P FbA = P EA
quadrilátero P EDC também é ins ritível. Segue daí que

APbC − D PbF = D PbC − F PbA = D EC


b − F EA,
b
6 MA13 - Unidade 9

F
P
A

B D C

Figura 6: a reta de Simson-Walla e.

i.e.,
APbC = D PbF ⇔ D EC b ⇔ D, E e F são olineares.
b = F EA

Por m, note que DPbF = 180◦ − ABC


b , de modo que

b = 180◦ ⇔ ABCP é ins ritível.


APbC = D PbF ⇔ APbC + ABC

Nas notações da dis ussão a ima, quando P estiver sobre o ír ulo ir-
uns rito a ABC diremos que a reta que passa pelos pontos D, E e F é a
reta de Simson-Walla e de P relativa a ABC .
Voltando à dis ussão do parágrafo ini ial desta seção, observamos agora
que nem todo quadrilátero onvexo possui um ír ulo tangente a todos os seus
lados (o leitor pode onstruir um exemplo fa ilmente). Quando tal o orrer,
diremos que o quadrilátero é ir uns ritível e que o ír ulo tangente a seus
lados é o ír ulo ins rito no quadrilátero. O teorema a seguir, onhe ido
omo o teorema de Pitot1, dá uma ara terização útil dos quadriláteros
1 Após Henri Pitot, engenheiro fran ês do sé ulo XVII.
Áreas de Figuras Planas 7

ins ritíveis.

Teorema 4 (Pitot). Um quadrilátero onvexo ABCD , de lados AB , BC ,


CD e DA, é ir uns ritível se e só se

AB + CD = AD + BC.

Prova. Suponha primeiro que ABCD seja ir uns ritível e sejam M, N, P, Q


respe tivamente os pontos de tangên ia de AB , BC , CD e DA om o ír ulo
ins rito em ABCD.
A
Q
D
M

P
B N C

Figura 7: somas iguais dos lados opostos ⇒ ABCD ir uns ritível.

AB + CD = ( AM + MB) + ( CP + P D)
= AQ + BN + CN + DQ
= ( AQ + DQ) + ( BN + CN) = AD + BC.

Re ipro amente, suponhamos que AB + CD = AD + BC . Se ABCD


não for ir uns ritível, o ír ulo Γ tangente aos lados AD, AB e BC de
ABCD não tangen ia o lado CD .
−→
Seja E o ponto sobre a semirreta AD tal que CE tangen ia o ír ulo
ins rito Γ (na gura 8 estamos onsiderando o aso em que E está situado
entre A e D; o outro aso é totalmente análogo). Pelo que zemos a ima,
segue que AB + CE = AE + BC . Como AB + CD = AD + BC , segue
que
CD − CE = AD − AE = DE,
8 MA13 - Unidade 9

A
E D

B C

Figura 8: ABCD ir uns ritível ⇒ somas iguais dos lados opostos.

ou ainda que CD = CE + ED, ontradizendo a desigualdade triangular no


triângulo CDE .

Problemas

1. Seja ABCD um quadrilátero ins ritível e E o ponto de en ontro de


suas diagonais. Sejam ainda M, N, P, Q respe tivamente os pés das
perpendi ulares baixadas de E aos lados AB, BC, CD, DA. Prove que
o quadrilátero MNP Q é ir uns ritível (sugestão: use o fato de os
quadriláteros EP CN , ABCD e P EQD serem ins ritíveis para mostrar
que N PbE = QPbE ; argumente analogamente para os demais vérti es
de MNP Q, e use em seguida o resultado do problema anterior).

2. Sobre ada lado do triângulo a utângulo ABC onstruímos um ír ulo


tendo o lado por diâmetro. Prove que esses três ír ulos têm um ponto
em omum.

3. * Seja ABC um triângulo a utângulo de ir un entro O e sejam Hb e


Hc os pés das alturas respe tivamente relativas aos lados BC , CA e
AB . Prove que:

(a) AH b e AH
b b Hc = ABC b .
b c Hb = ACB
←→ ←→
(b) OA⊥ Hb Hc .
Áreas de Figuras Planas 9

4. Considere no plano quatro retas que se interse tam duas a duas, e tais
que não há três passando por um mesmo ponto. Prove que os ír ulos
ir uns ritos aos quatro triângulos que tais retas determinam passam
todos por um mesmo ponto.

5. Dado um triângulo ABC om ír ulo ir uns rito Γ, sejam P um ponto



situado sobre o ar o AC de Γ que não ontém o vérti e B e D o pé
da perpendi ular baixada de P à reta suporte do lado BC . Se Q 6= P
←→
é o outro ponto de interseção da reta DP om o ír ulo Γ, e r denota
←→
a reta de Simson-Walla e de P em relação a ABC , prove que r k AQ
(sugestão: ome e observando que P QA b ).
b = P CA

6. Sejam ABC um triângulo om ír ulo ir uns rito Γ, e P e P ′ pontos



situados sobre o ar o AC de Γ que não ontém o ponto B . Se r e
r ′ denotam respe tivamente as retas de Simson-Walla e de P e P ′ em
relação a ABC , prove que o ângulo entre r e r′ é igual à metade da

medida do ar o P P ′ de Γ que não ontém o vérti e A (sugestão: use o
resultado do problema anterior).

7. * Um polígono onvexo é ins ritível se existir um ír ulo passando


por seus vérti es, dito o ír ulo ir uns rito ao polígono. Prove que
um polígono onvexo é ins ritível se e só se as mediatrizes de seus lados
on orrem em um úni o ponto.
MA13 - Unidade 10

Propor ionalidade e Semelhança I

Semana 12/09/2011 a 18/09/2011

1 O teorema de Thales
Consideremos a seguinte situação: temos no plano retas paralelas r , s e t
(gura 1). Traçamos em seguida retas u e u′ , a primeira interse tando r , s
e t respe tivamente nos pontos A, B e C , e a segunda interse tando r , s e t
respe tivamente em A′ , B ′ e C ′ .
Se fosse AB = BC (o que pare e não ser o aso na gura a ima), teríamos
pelo teorema da base média de um trapézio (proposição 12, Unidade 6) que
A′ B ′ = B ′ C ′ . De outra forma, já sabemos que

AB A′ B ′
= 1 ⇒ ′ ′ = 1.
BC BC

Suponha agora que BC


AB
seja um número ra ional, digamos 23 , para exempli-
 ar. Dividamos então os segmentos AB e BC respe tivamente em duas e

1
2 MA13 - Unidade 10

C C′
t
Z′
Z
Y′
Y
B B′
s
X′
X
A A′
r
u u′

Figura 1: paralelas ortadas por transversais.

três partes iguais, obtendo pontos X , Y e Z em u, tais que

AX = XB = BY = Y Z = ZC

(gura 1). Se traçarmos por X , Y e Z paralelas às retas r , s e t, as quais


interse tam u′ respe tivamente em X ′ , Y ′ e Z ′ , então mais três apli ações do
teorema da base média de um trapézio garantem que

A′ X ′ = X ′ B ′ = B ′ Y ′ = Y ′ Z ′ = Z ′ C ′ ,

e daí
AB 2 A′ B ′ 2
= ⇒ ′ ′ = .
BC 3 BC 3
Prosseguindo om nosso ra io ínio, suponha agora que fosse BC
AB
=mn
, om
m, n ∈ N. Então uma pequena modi ação do argumento a ima (dividindo
ini ialmente AB e BC em m e em n partes iguais, respe tivamente) garantiria
que
AB m A′ B ′ m
= ⇒ ′ ′ = .
BC n BC n
Propor ionalidade e Semelhança 3

De outra forma, a relação


AB A′ B ′
= ′ ′
BC BC
é válida sempre que o primeiro (ou o segundo) membro for um ra ional.
A pergunta natural nesse momento é a seguinte: a igualdade das razões
a ima se mantém quando um dos membros da mesma for um número irra-
ional? A resposta é sim, e, para entender o porquê disso, utilizaremos o
problema 1.5.2 do volume I. Suponha que

AB
= x,
BC
om x irra ional. Es olha (pelo problema a que nos referimos) uma sequên ia
(an )n≥1 de ra ionais positivos, tal que

1
x < an < x +
n
para todo n ∈ N. Em seguida, marque (gura 2) o ponto Cn ∈ u tal que

AB
= an .
BCn

Sejam tn a paralela às retas r , s e t traçada por Cn e Cn′ o ponto onde tn


interse ta u′ . Como an ∈ Q, um argumento análogo ao anterior garante que

A′ B ′
= an .
B ′ Cn′

De outra forma, obtivemos que

AB 1 A′ B ′ 1
x< < x+ ⇒x< ′ ′ < x+ ,
BCn n B Cn n

ou ainda

AB AB AB 1 AB A′ B ′ AB 1
< < + ⇒ < ′ ′ < + . (1)
BC BCn BC n BC B Cn BC n
4 MA13 - Unidade 10

C C′
Cn′ tn
Cn
t

B B′
s

A A′
r
u u′

Figura 2: razão AB
BC
irra ional.

Observe agora que as desigualdades do primeiro membro a ima garantem


que, à medida em que n aumenta, os pontos Cn aproximam-se mais e mais
do ponto C . Mas omo tn k t, segue então que os pontos Cn′ aproximam-se
mais e mais do ponto C ′ , de maneira que a razão BA′ CB′ aproxima-se mais e
′ ′

mais da razão A′ B ′
B′ C ′
. Abreviamos isso es revendo
A′ B ′ A′ B ′
−→ quando n → +∞.
B ′ Cn′ B′C ′
Por outro lado, utilizando notação análoga à da linha a ima, podemos la-
ramente inferir, a partir das desigualdades do segundo membro de (1), que
A′ B ′ AB
−→ quando n → +∞.
B ′ Cn′ BC
Utilizando agora o fato (intuitivamente óbvio) de que uma sequên ia de reais
não pode aproximar-se simultaneamente de dois reais distintos quando n →
+∞, somos forçados a on luir que
AB A′ B ′
= ′ ′.
BC BC
Propor ionalidade e Semelhança 5

A dis ussão a ima provou um dos resultados fundamentais da geometria


Eu lidiana plana, onhe ido omo o teorema de Thales, o qual enun iamos
formalmente a seguir:

Proposição 1. Sejam r, s, t retas paralelas. Es olhemos pontos A, A′ ∈ r ,


B, B ′ ∈ s e C, C ′ ∈ t, de modo que A, B, C e A′ , B ′ , C ′ sejam dois ternos de

pontos olineares. Então


AB A′ B ′
= ′ ′.
BC BC

Figura 3: Thales de Mileto, matemáti o e lósofo do sé-


ulo VII a.C. e o primeiro da antiguidade lássi a grega.

Cole ionamos a seguir algumas apli ações do teorema de Thales, ome-


çando pelo seguinte

Exemplo 2. Divida o segmento AB dado a seguir em in o partes iguais


om régua e ompasso.

Solução.

A B

Des rição dos passos.


6 MA13 - Unidade 10

1. Tra e pelo ponto A uma reta arbitrária r .

2. Marque sobre r pontos C0 = A, C1 , C2 , C3 , C4 e C5 tais que, para


0 ≤ i ≤ 4, os segmentos Ci Ci+1 sejam todos iguais.
←→
3. Para 1 ≤ i ≤ 4, tra e a paralela à reta C5 B passando por Ci .

4. Se Di é a interseção de tal paralela om o segmento AB , então o teorema


de Thales garante que os pontos D1 , D2 , D3 e D4 dividem AB em in o
partes iguais.

Para o próximo exemplo, dados reais positivos a, b e c, dizemos que um


real positivo x é a quarta propor ional de a, b e c (nessa ordem) se
a c
= .
b x
Caso a, b e c sejam os omprimentos de três segmentos, diremos também que
um segmento de omprimento x dado omo a ima é a quarta propor ional
dos segmentos de omprimentos a, b e c (nessa ordem).

Exemplo 3. Construa om régua e ompasso a quarta propor ional dos


segmentos dados abaixo.

Solução.

c
a b

Des rição dos passos.


Propor ionalidade e Semelhança 7

1. Tra e duas retas r e s, on orrentes no ponto A.

2. Marque sobre a reta r os segmentos AB e BC tais que AB = a e


BC = c; marque sobre a reta s o segmento AD , tal que AD = b.
←→
3. Tra e pelo ponto C a paralela à reta AD , a qual interse ta a reta s no
ponto E . Pelo teorema de Thales, temos DE = bca , onforme desejado.

Tão importante quanto o teorema de Thales, omo enun iado a ima, é a


re ípro a par ial a seguir, também a ele devida.

Corolário 4. Sejam dados no plano retas r, s e pontos A, A′ ∈ r , B, B ′ ∈ s,


←→ ←→
′ ′ AB A′ B ′
om AB ∩ A B = {C}. Se
BC
= B′ C
, então r k s.

Prova. Suponha que B ∈ AC (gura 4  os demais asos são análogos).


Tra e por B a reta s′ k r , e marque o ponto B ′′ , interseção de s′ om o
segmento A′ C . Pelo teorema de Thales, temos BC
AB
= AB′′BC , de maneira que
′ ′′

B B ′′
s′

A A′
r
u u′

Figura 4: re ípro a do teorema de Thales.


8 MA13 - Unidade 10

nossas hipóteses forne em


A′ B ′ A′ B ′′
= .
B′C B ′′ C
Segue agora do problema 2, página 10, que B ′ = B ′′ ou, o que é o mesmo,
s = s′ . Logo, s k r .

O resultado a seguir é onhe ido omo o teorema da bissetriz.

Proposição 5. Seja ABC um triângulo tal que AB 6= AC .

(a) Se P é o pé da bissetriz interna e Q é o pé da bissetriz externa relativas


ao lado BC , então
BP BQ BA
= = .
PC QC AC

(b) Sendo AB = c, AC = b e BC = a, temos


( ( ac
ac BQ =
BP = b+c |b−c|
e
ab ab
PC = b+c
. QC = |b−c|
.

Q B P C

Figura 5: o teorema da bissetriz.

Prova. O item (b) segue imediatamente de (a): sendo BP = x e P C = y ,


temos x + y = a e, pelo item (a), xy = cb . Resolvendo o sistema
(
x+y =a
x
y
= bc
Propor ionalidade e Semelhança 9

obtemos x = b+c
ac
e y = b+c
ab
. As demais fórmulas do item (b) são provadas de
modo análogo.
Quanto ao item (a), mostremos que BQ
QC
= BA
AC
, deixando a prova (análoga)
da igualdade BP
PC
= BA
AC
a argo do leitor (problema 4, página 10).
←→
Tra e, pelo ponto B , uma paralela à reta AQ, e marque seu ponto B ′ de
←→ ←→ −→
interseção om AC (gura 6). Como QA k BB ′ e AQ é bissetriz de ∠QAX ,

X
A

B′

Q B C

Figura 6: prova do teorema da bissetriz.

obtemos
b ′ = B AQ
ABB b = QAX
b = BB
b ′ A.

Portanto, o triângulo ABB ′ é isós eles de base BB ′ , de maneira que B ′ A =


←→ ←→
BA. Apli ando agora o teorema de Thales às paralelas QA e BB ′ , interse -
←→ ←→
tadas pelas retas QC e AC , obtemos

BQ AB ′ BA
= = .
QC AC AC

Problemas  Seção 1

1. As retas r, s e t são paralelas, om s entre r e t. As transversais u e v


determinam, sobre r, s, t, pontos A, B, C e A′ , B ′ , C ′ , respe tivamente,
10 MA13 - Unidade 10

tais que AB = x + 2, BC = 2y , A′ B ′ = y e B ′ C ′ = (x − 10)/2.


Sabendo que x + y = 18, determine AB .

2. * Sejam P1 e P2 pontos no interior de um segmento AB , tais que

AP1 AP2
= .
P1 B P2 B

Prove que os pontos P1 e P2 oin idem.

3. Dados segmentos de omprimentos a e b, dizemos que um segmento de


omprimento x é a ter eira propor ional de a e b (nessa ordem)) se

a b
= .
b x
Mostre omo onstruir om régua e ompasso tal segmento de ompri-
mento x (sugestão: use o teorema de Thales).

4. * Complete a prova do teorema da bissetriz.

5. Em um triângulo ABC , seja P o pé da bissetriz interna relativa a


BC . Construa om régua e ompasso o triângulo, onhe endo os om-
primentos P B , P C e AB (sugestão: use o teorema da bissetriz e a
onstrução da quarta propor ional para onstruir obter um segmento
de omprimento AC ).

2 Semelhança de triângulos
Dizemos que dois triângulos são semelhantes quando existe uma orres-
pondên ia biunívo a entre os vérti es de um e outro triângulo, de modo
que os ângulos em vérti es orrespondentes sejam iguais e a razão entre
os omprimentos de lados orrespondentes seja sempre a mesma (gura 7).
Fisi amente, dois triângulos são semelhantes se pudermos dilatar e/ou girar
e/ou reetir um deles, obtendo o outro ao nal de tais operações.
Propor ionalidade e Semelhança 11

A C′
b′
kc′ kb′
a′
A′
B C c′
ka′ B′

Figura 7: dois triângulos semelhantes.

Na gura 7, os triângulos ABC e A′ B ′ C ′ são semelhantes, om a orres-


pondên ia de vérti es A ↔ A′ , B ↔ B ′ , C ↔ C ′ . Assim, Ab=A b′ , B
b=Bb′ ,
b=C
C b′ e existe k > 0 tal que

AB BC AC
= = = k.
A′ B ′ B′C ′ A′ C ′
Tal real positivo k é denominado a razão de semelhança entre os triângulos
ABC e A′ B ′ C ′ , nessa ordem (observe que a razão de semelhança entre os
triângulos A′ B ′ C ′ e ABC , nessa ordem, é k1 ).
Es revemos ABC ∼ A′ B ′ C ′ para denotar que os triângulos ABC e
A′ B ′ C ′ são semelhantes, om a orrespondên ia de vérti es A ↔ A′ , B ↔ B ′ ,
C ↔ C ′.
Se ABC ∼ A′ B ′ C ′ na razão (de semelhança) k , então k é também a razão
entre os omprimentos de dois segmentos orrespondentes quaisquer nos dois
triângulos. Por exemplo, nas notações da gura 7, sendo M o ponto médio
de BC e M ′ o ponto médio de B ′ C ′ , temos que

MA a/2 a
= ′ = ′ =k

MA ′ a /2 a

(a esse respeito, veja também o problema 3, página 19).


As três proposições a seguir estabele em as ondições su ientes usuais
para que dois triângulos sejam semelhantes. Por tal razão, as mesmas são o-
nhe idas omo os asos de semelhança de triângulos usuais. Como suas
demonstrações são onsequên ias fá eis da re ípro a do teorema de Thales,
12 MA13 - Unidade 10

faremos a prova do primeiro deles, deixando as demonstrações dos dois de-


mais omo exer í ios para o leitor ( f. problema 1).

Proposição 6. Sejam ABC e A′ B ′ C ′ triângulos no plano, tais que

AB BC AC
= = .
A′ B ′ B′C ′ A′ C ′
EntãoABC ∼ A′ B ′ C ′ , om a orrespondên ia de vérti es A ↔ A′ , B ↔ B ′ ,
C ↔ C ′ . Em parti ular, Ab=A b′ , B
b=Bb′ e C
b=C b′ .

A C′
b′
kc ′ kb′
a′
A′
B C c′
ka′ B′

Figura 8: o aso de semelhança LLL.

Prova. Sendo k o valor omum das razões do enun iado, temos AB = k ·


A′ B ′ , BC = k · B ′ C ′ e AC = k · A′ C ′ . Suponha, sem perda de generalidade,
k > 1, e marque ( f. gura 9) o ponto B ′′ ∈ AB tal que AB ′′ = A′ B ′ .

B ′′ C ′′

B D C

Figura 9: prova do aso de semelhança LLL.


Propor ionalidade e Semelhança 13

Sendo C ′′ a interseção om o lado AC da reta que passa por B ′′ e é


paralela ao lado BC , segue do teorema de Thales que
AC ′′ AB ′′ 1
= = ,
AC AB k
de maneira que AC ′′ = k · AC = A′ C ′ .
1

Tra e agora a paralela ao lado AB passando por C ′′ , a qual interse ta o


lado BC no ponto D . Então o quadrilátero B ′′ C ′′ DB é um paralelogramos,
de sorte que, novamente pelo teorema de Thales, temos
B ′′ C ′′ BD AC ′′ 1
= = = .
BC BC AC k
Logo, B ′′ C ′′ = k1 · BC = B ′ C ′ .
A dis ussão a ima mostrou que

AB ′′ = A′ B ′ , AC ′′ = A′ C ′ e B ′′ C ′′ = B ′ C ′ ,
i.e., que os triângulos AB ′′ C ′′ e A′ B ′ C ′ são ongruentes pelo aso LLL de
ongruên ia. Portanto, temos
b = ABC
B b = AB
b ′′ C ′′ = A′ B
b′C ′ = B
b′ ,
b=A
e, analogamente, A b′ e C
b=C
b′ .

Proposição 7. Sejam ABC e A′ B ′ C ′ triângulos no plano, tais que

AB BC b=B
b′ .
′ ′
= ′ ′ =k e B
AB BC
EntãoABC ∼ A′ B ′ C ′ , om a orrespondên ia de vérti es A ↔ A′ , B ↔ B ′ ,
C ↔ C ′ . Em parti ular, Ab=A b′ , C
b=Cb′ e AC = k.
A′ C ′

Proposição 8. Sejam ABC e A′ B ′ C ′ triângulos no plano, tais que

b=A
A b′ e b=B
B b′.

EntãoABC ∼ A′ B ′ C ′ , om a orrespondên ia de vérti es A ↔ A′ , B ↔ B ′ ,


C ↔ C ′ . Em parti ular,
AB BC AC
′ ′
= ′ ′ = ′ ′.
AB BC AC
14 MA13 - Unidade 10

A C′

kc′ a′
A′
B C c′
ka′ B′

Figura 10: o aso de semelhança LAL.

A C′

A′
B C
B′

Figura 11: o aso de semelhança AA.

Como orolário dos asos de semelhança a ima, estabele emos na propo-


sição a seguir as relações métri as em triângulos retângulos.

Proposição 9. Seja ABC um triângulo retângulo em A, om atetos AB =


c, AC = b e hipotenusa BC = a. Sendo H o pé da altura relativa à hipote-
nusa, CH = x, BH = y e AH = h, temos:

(a) ah = bc.

(b) ax = b2 e ay = c2 .

(c) a2 = b2 + c2 .

(d) xy = h2 .

Prova.
b = C AB
(a) e (b). Como AHB b e ABH b = C BAb (gura 12), os triângu-
los BAH e BCA são semelhantes pelo aso AA, om a orrespondên ia de
Propor ionalidade e Semelhança 15

vérti es A ↔ C , H ↔ A, B ↔ B . Assim,

BH AB AH AC
= e = ,
AB BC AB BC
ou ainda
y c h b
= e = .
c a c a
A relação ax = b2 é provada de maneira análoga.

C
x a
H
b h y

A c B

Figura 12: relações métri as num triângulo retângulo.

( ) Somando membro a membro as relações (b) e (c), obtemos a(x + y) =


b2 + c2 . Mas desde que x + y = a, nada mais há a fazer.

(d) Multipli ando membro a membro as duas relações do item (b), obtemos
a2 · xy = (bc)2 , ou ainda
 2
bc
xy = = h2 ,
a
onde utilizamos o item (a) na última igualdade a ima.

O item ( ) da proposição a ima é o famoso teorema de Pitágoras.


Apresentamos no que segue algumas onsequên ias importantes do mesmo,
a primeira das quais já foi utilizada na seção a ima referida.

Corolário 10. As diagonais de um quadrado de lado a medem a 2.
16 MA13 - Unidade 10

Prova. Se ABCD é um quadrado de lado a e diagonais AC e BD (gura 13),


então o triângulo ABC é retângulo e isós eles. Daí,
q
2 2 √ √
AC = AB + BC = a2 + a2 = a 2.

D C

A a B

Figura 13: ál ulo da diagonal de um quadrado.


a 3
Corolário 11. As alturas de um triângulo equilátero de lado a medem
2
.

Prova.Seja ABC um triângulo equilátero de lado a, e M o ponto médio


de BC (gura 14). Como AM⊥BC (problema 10, Seção 2, Unidade 3),

B M a C
2

Figura 14: alturas de um triângulo equilátero.

apli ando o teorema de Pitágoras ao triângulo ACM , obtemos

2 2 2
 a 2 3a2
2
AM = AC − CM = a − = ,
2 4
donde segue o resultado.
Propor ionalidade e Semelhança 17

O exemplo a seguir utiliza o item (d) da proposição 9 para resolver geo-

metri amente uma equação do segundo grau de raízes positivas.

Exemplo 12. Dados segmentos de omprimentos s e p, tais que s > 2p,


onstrua om régua e ompasso as raízes da equação x2 − sx + p2 = 0.

Solução.

Des rição dos passos.

1. Tra e uma reta r e marque sobre a mesma pontos B e C tais que


BC = s. Em seguida, onstrua um semi ír ulo Γ de diâmetro BC .

2. Tra e a reta r ′ , paralela à reta r e à distân ia p de r , a qual interse ta


Γ nos pontos A e A′ (uma vez que p < 2s ).

3. Se H é o pé da perpendi ular baixada de A a BC , então BH + CH = s


e o item (d) da proposição 9 garante que BH · CH = p2 . Logo, BH
e CH são as raízes da equação do segundo grau do enun iado.

Para terminar esta seção, estabele emos a re ípro a do teorema de Pitá-


goras.

Proposição 13. Seja ABC um triângulo tal que AB = c, BC = a e


2 2 2
AC = b. Se a =b +c , então ABC é retângulo em A.
18 MA13 - Unidade 10

Prova. Seja H o pé da altura relativa a BC . Há dois asos essen ialmente


distintos:

(a) B ∈ CH : nesse aso, o teorema de Pitágoras apli ado ao triângulo AHC


nos dá (gura 15)

2 2 2 2
b2 = AH + CH > CH ≥ BC = a2 = b2 + c2 ,

e daí 0 ≥ c2 , o que é um absurdo.


A

H B C

Figura 15: re ípro a do teorema de Pitágoras - aso (a)

(b) H ∈ BC : sejam AH = h, M o ponto médio de BC e BH = x (gura 16).


Podemos supor, sem perda de generalidade, que H ∈ BM . O teorema de

B H M C

Figura 16: re ípro a do teorema de Pitágoras - aso (b)

Pitágoras apli ado aos triângulos AHC e AHB nos dá

2 2 2 2
a2 = b2 + c2 = ( AH + CH ) + ( AH + BH ) = 2h2 + (a − x)2 + x2 ,
Propor ionalidade e Semelhança 19

donde h2 = ax − x2 . Mas aí, apli ando novamente o teorema de Pitágoras


(agora ao triângulo AHM ), obtemos

2 2 2
AM = AH + HM = h2 + ( BM − BH)2
a 2 a2
2
= (ax − x ) + −x = ,
2 4

donde segue que AM = a2 = 21 BC . Portanto, M equidista dos vérti es de


ABC , e a proposição 14 da Unidade 8 garante que ABC é retângulo em
A.

Problemas  Seção 2

1. * Prove que os onjuntos de ondições elen ados em ada uma das pro-
posições 7 e 8 são realmente su ientes para garantir a semelhança dos
triângulos ABC e A′ B ′ C ′ (sugestão: imite a prova da proposição 6).

2. Na gura abaixo os três quadriláteros mostrados são quadrados e os


pontos X, Y e Z são olineares. Cal ule a medida x em entímetros do
lado do quadrado menor, sabendo que os outros dois quadrados têm
lados medindo 4 m e 6 m.

X
Y
Z

3. * Sejam ABC e A′ B ′ C ′ triângulos semelhantes, om razão de seme-


lhança k . Sejam ainda ma e m′a , ha e h′a , βa e βa′ respe tivamente os
20 MA13 - Unidade 10

omprimentos das medianas, alturas e bissetrizes internas relativas a A


e A′ . Prove que
ma ha βa

= ′ = ′ = k.
ma ha βa

4. * O triângulo ABC é retângulo em A e o ponto P ∈ BC é o pé da


bissetriz interna do ângulo ∠BAC . Cal ule a distân ia de P ao lado
AC em função de AB = c e AC = b (sugestão: se Q ∈ AB é tal que
P Q⊥AB , então AQ = P Q e P QB ∼ CAB ).

5. Seja ABC um triângulo retângulo em A e tal que AB = 1. A bissetriz


do ângulo ∠BAC interse ta o lado BC em D . Sabendo que a reta que
passa por D e é perpendi ular a AD interse ta o lado AC em seu ponto
médio, al ule o omprimento do lado AC (sugestão: use o resultado
do problema anterior).

6. Seja ABCD um paralelogramo de diagonais AC e BD , e lados AB =


10 m, AD = 24 m. Sejam ainda E e F respe tivamente os pés das
perpendi ulares baixadas desde A aos lados BC e CD . Sabendo que
AF = 20 m, al ule o omprimento de AE (sugestão: F AD ∼ EAB ).

7. Ins revemos em um ângulo de vérti e A dois ír ulos de raios r < R,


tangentes exteriormente em P . Cal ule AP em termos de r e R.

8. Seja ABC um triângulo tal que BC = a, AC = b e AB = c, e M , N


e P pontos respe tivamente sobre AB , BC e CA, tais que AMNP é
um losango.

(a) Cal ule, em termos de a, b e c, o omprimento do lado do losango.


(b) Mostre omo onstruir om régua e ompasso a posição do ponto
M.

9. Seja ABC um triângulo equilátero de lado a, e M o ponto médio de


←→
AB . Es olhemos um ponto D sobre a reta BC , om C entre B e
D , de modo que CD = a2 . Se AC ∩ DM = {E}, al ule AE em
Propor ionalidade e Semelhança 21

←→
termos de a (sugestão: tra e por C a paralela a AB , e marque seu
ponto F de interseção om DE . Use em seguida que CF D ∼ BMD e
CF E ∼ AME ).

10. Em um trapézio ABCD de bases AB = a e CD = b, os lados não


paralelos são AD e BC . Pelo ponto de on urso P das diagonais AC
e BD de ABCD traçamos o segmento MN paralelos às bases, om
M ∈ AD e N ∈ BC . Prove que MN = a+b 2ab
, a média harmni a de a
e b.

11. Em um trapézio ABCD , de bases AB e CD e lados não paralelos AD


e BC , seja M o ponto médio da base CD . O segmento AM interse ta
a diagonal BD em F . Traçamos por F a reta r , paralela às bases. Se r
interse ta os segmentos AD, AC e BC respe tivamente em E, G e H ,
prove que EF = F G = GH .

12. * Sobre o lado BC de um triângulo ABC mar amos um ponto Z . Em


seguida traçamos por B e C respe tivamente as retas r e s, ambas
←→ ←→ ←→
paralelas a AZ . Se AC ∩ r = {X} e AB ∩ s = {Y }, prove que

1 1 1
+ =
BX CY AZ
(sugestão: utilize as semelhanças BXC ∼ ZAC e CY B ∼ ZAB para
al ular BX em função de AZ , CZ , BC e AZ , BZ , BC . Em
seguida, use que BZ + CZ = BC ).
MA13 - Unidade 11

Propor ionalidade e Semelhança II

Semana 12/09/2011 a 18/09/2011

O teorema das ordas e potên ia de ponto


As duas proposições a seguir en erram outra importante onsequên ia ele-
mentar dos asos de semelhança de triângulos estudados na Unidade 10,
sendo onhe idas onjuntamente na literatura omo o teorema das or-
das.

Proposição 1.Se A, B , C , D e P são pontos distintos no plano tais que


←→ ←→
AB ∩ CD = {P }, então

P A· P B = P C· P D ⇔ o quadrilátero de vérti es A, B, C e D é ins ritível.

Prova. Suponha ini ialmente que o quadrilátero de vérti es A, B , C e D é


ins ritível, om ír ulo ir uns rito Γ. Temos de onsiderar separadamente
os asos em que P está no interior e no exterior do ír ulo delimitado por
Γ; omo o segundo aso é totalmente análogo ao primeiro, onsideraremos
somente aquele ( f. gura 1).

1
2 MA13 - Unidade 11

B
C

O
D
A

Figura 1: o teorema das ordas.

Tra e os segmentos AD e BC . Pelo teorema do ângulo ins rito, temos


b
ABC = ADC b , ou ainda P BC b = ADP b . Como B PbC = APbD (pois são
ângulos OPV), segue do aso de semelhança AA que P BC ∼ P DA. Daí,
temos PP BC = PP D
A
, e portanto, P A · P B = P C · P D.
Re ipro amente, se P A · P B = P C · P D, então PP BC = PP DA
. Mas omo
B PbC = APbD , segue do aso de semelhança LAL que P BC ∼ P DA, e daí
b = ADP
P BC b . Mas isso é o mesmo que ABC b = ADC b , e a proposição 1 da
Unidade 9 garante que ABCD é ins ritível.
O resultado a seguir pode ser visto omo um aso limite do anterior, de
maneira que deixaremos sua demonstração omo exer í io para o leitor ( f.
problema 1).
Proposição 2. Se A, B , C e P são pontos distintos no plano, om A, B
2
e P olineares, então P A · P B = P C se e só se o ír ulo ir uns rito ao
←→
triângulo ABC for tangente à reta P C em C .
Para uso futuro, ole ionamos o seguinte orolário do teorema das ordas.
Corolário 3. São dados no plano um ír ulo Γ(O; R) e um ponto P ∈
/ Γ. Se
uma reta que passa por P interse ta Γ nos pontos A e B ( om A = B , aso
a reta seja tangente a Γ em A), então
2
P A · P B = |R2 − OP |. (1)
Propor ionalidade e Semelhança 3
C B

P
O Γ

A
D

Figura 2: novamente o teorema das ordas.

Prova. Consideremos somente o aso em que P é interior ao dis o delimitado


por Γ ( f. gura 2), sendo os demais asos totalmente análogos. Tra e por P
o diâmetro CD de Γ, om P ∈ OC . Então P C = R − OP e P C = R + OP ,
de sorte que o teorema das ordas forne e
2
P A · P B = P C · P D = (R − OP )(R + OP ) = R2 − OP .

De posse dos resultados a ima, podemos apresentar mais um belo resul-


tado de L. Euler, ole ionado no seguinte

Teorema 4 (Euler). Um ír ulo γ de raio r e entro I é interior a um ír ulo


Γ de raio R e entro O . Se A ∈ Γ e AB e AC são ordas de Γ tangentes a
γ , então γ é o ír ulo ins rito no triângulo ABC se e só se
2
OI = R(R − 2r).

Prova.Se P é o ponto de interseção do prolongamento da bissetriz AI de


∠BAC om Γ (gura 3), segue do orolário anterior que
2
AI · IP = R2 − OI . (2)
4 MA13 - Unidade 11

Y
I O γ Γ

B C

X
P

Figura 3: a distân ia OI .

Agora, sendo X e Y respe tivamente os pés das perpendi ulares traçadas de


O e I a BP e AC , temos

b = 1 B OP
B OX b = B AP
b = I AY.
b
2
Como ambos os triângulos BOX e IAY têm um ângulo de 90◦ , segue então
que BOX ∼ IAY . Portanto, BX
IY
= BO
AI
, ou ainda

BX · AI = BO · IY . (3)

Mas omo BO = R, IY = r e BX = 21 BP , segue de (2) e (3) que

2 IP
R2 − OI = AI · IP = 2Rr · ,
BP
de maneira que
2
OI = R2 − 2Rr ⇔ BP = IP .
Por m, a proposição 22 da Unidade 8 garante que a última igualdade a ima
o orre se e só se I for o in entro do triângulo ABC .

Listamos a seguir dois orolários importantes do resultado a ima, o pri-


meiro dos quais é imediato.
Propor ionalidade e Semelhança 5

A B′

A′ Γ
I O
B

C
C ′

Figura 4: o teorema de Pon elet.

Corolário 5. Se r e R são respe tivamente os raios dos ír ulos ins rito e


ir uns rito a um triângulo ABC , então R ≥ 2r, om igualdade se e só se
ABC for equilátero.

Nosso segundo orolário é o aso parti ular de um famoso teorema de


Pon elet1 sobre ni as.

Corolário 6 (Pon elet). Sejam γ e Γ respe tivamente os ír ulos ins rito e


ir uns rito a um triângulo ABC . Se A′ 6= A, B, C é outro ponto de Γ, e
A′ B ′ e A′ C ′ são ordas de Γ tangentes a γ , então γ é o ír ulo ins rito no
triângulo A′ B ′ C ′ ( f. gura 4).

Prova. Se γ(I; r) e Γ(O; R), então o fato de γ ser o ír ulo ins rito em
2
ABC garante, pelo teorema de Euler, que OI = R2 − 2Rr . De posse
dessa igualdade, apli ando novamente o referido teorema ao triângulo A′ B ′ C ′ ,
on luímos que B ′ C ′ tangen ia γ , onforme desejado.

Voltando ao desenvolvimento geral da teoria, motivados pelo orolário 3,


denimos a potên ia do ponto P em relação ao ir ulo Γ(O; R) omo sendo
1 Após Jean Vi tor Pon elet, matemáti o fran ês do sé ulo XIX.
6 MA13 - Unidade 11

o número real
2
PotΓ (P ) = OP − R2 , (4)
de maneira que PotΓ (P ) = 0 se e só se P ∈ Γ, PotΓ (P ) > 0 se e só se P for
exterior ao dis o delimitado por Γ e PotΓ (P ) < 0 se e só se P for interior a
tal dis o. Observe também que PotΓ (P ) ≥ −R2 , o orrendo a igualdade se e
só se P = O .

e
P
Γ1

Γ2

O1 O2

Figura 5: o eixo radi al de dois ír ulos.

Pre isamos agora do seguinte resultado, uja prova será par ialmente
dada.
Teorema 7. Se Γ1 e Γ2 são dois ír ulos não- on êntri os, então o LG dos
pontos P do plano tais que PotΓ1 (P ) = PotΓ2 (P ) é uma reta perpendi ular à
reta que une os entros de Γ1 e Γ2 (a reta e, na gura 5).
Prova. Sejam Γ1 (O1; R1 ) e Γ2 (O2; R2 ), então
2 2
PotΓ1 (P ) = PotΓ2 (P ) ⇔ P O1 − R12 = P O2 − R22
2 2
⇔ P O1 − P O2 = R12 − R22 ,

i.e., se e só se a diferença dos quadrados das distân ias de P respe tivamente


aos entros O1 e O2 for onstante e igual a R12 − R22 .
Propor ionalidade e Semelhança 7

Nas notações do enun iado do teorema a ima, o LG des rito no mesmo


é denominado o eixo radi al de Γ1 e Γ2 , e o exemplo a seguir expli a omo
onstruí-lo quando os ír ulos têm pontos em omum.
Exemplo 8. Se P for um ponto exterior ao dis o delimitado por um ír ulo
Γ(O; R) e T for o ponto de tangên ia de uma das retas tangentes a Γ e
passando por P , segue do orolário 3 que
2 2
PotΓ (P ) = P O − R2 = P T .

Consideremos agora três asos separadamente:

Γ1 e
P
Γ2

O1 T O2

Figura 6: eixo radi al e de dois ír ulos tangentes exteriormente.

(a) Γ1 e Γ2 são dois ír ulos tangentes exteriormente: o eixo radi al de Γ1 e


Γ2 é a tangente omum e mostrada na gura 6, uma vez que para todo ponto
P ∈ e que não o ponto de tangên ia T om os ír ulos, temos
2
PotΓ1 (P ) = P T = PotΓ2 (P ).

(b) Γ1 e Γ2 são dois ír ulos tangentes interiormente: o eixo radi al de Γ1 e


Γ2 é a tangente omum e mostrada na gura 7, uma vez que para todo ponto
P ∈ e que não o ponto de tangên ia T om os ír ulos, ainda temos
2
PotΓ1 (P ) = P T = PotΓ2 (P ).
8 MA13 - Unidade 11

Γ1 e
P
Γ2

O1 O2 T

Figura 7: eixo radi al e de dois ír ulos tangentes interiormente.

( ) Γ1 e Γ2 são dois ír ulos se antes, se interse tando nos pontos A e B : o


←→
eixo radi al de Γ1 e Γ2 é a reta e = AB ( f. gura 8), uma vez que para
todo ponto P ∈ e \ AB , temos
PotΓ1 (P ) = P A · P B = PotΓ2 (P ).

e Γ2
Γ1 P
A

O1 O2

Figura 8: eixo radi al e de dois ír ulos se antes.

Para mostrar omo onstruir o eixo radi al de dois ír ulos não- on êntri os
exteriores ou interiores, pre isamos ini ialmente do seguinte
Propor ionalidade e Semelhança 9

Corolário 9. Se Γ1 , Γ2 e Γ3 são três ír ulos om entros não- olineares,


então existe um úni o ponto P no plano tal que

PotΓ1 (P ) = PotΓ2 (P ) = PotΓ3 (P ).

e13
Γ3
e23
Γ1
O3

Γ2
O1 O2
P

e12

Figura 9: o entro radi al de três ír ulos de entros não- olineares.

Prova. Para 1 ≤ i < j ≤ 3, seja eij o eixo radi al de Γi e Γj ( f. -


gura 9). Se P é o ponto de interseção de e12 e e23 , segue de P ∈ e12 que
PotΓ1 (P ) = PotΓ2 (P ) e de P ∈ e23 que PotΓ2 (P ) = PotΓ3 (P ). Portanto, por
transitividade temos PotΓ1 (P ) = PotΓ3 (P ), de sorte que P ∈ e13 .

Nas notações do orolário a ima, o ponto uja existên ia é garantida por


ele é denominado o entro radi al dos ír ulos Γ1 , Γ2 e Γ3 . Conforme
ante ipamos a ima, a noção de entro radi al nos permite onstruir o eixo
radi al de dois não- on êntri os e exteriores, onforme des rito pelo seguinte

Exemplo 10. Construa o eixo radi al dois dois ír ulos Γ1 e Γ2 da gura 10.
10 MA13 - Unidade 11

Solução. Tra e um ír ulo auxiliar Γ3 de entro O3 , se ante a ambos Γ1 e


←→
Γ2 e tal que O3 ∈ / O1 O2 . Em seguida, para i = 1, 2 tra e o eixo radi al ei3
de Γi e Γ3 , obtendo o entro radi al P de Γ1 , Γ2 e Γ3 omo a interseção das
retas e13 e e23 . Por m, o eixo radi al desejado é a reta que passa por P e é
←→
perpendi ular à reta O1 O2 .

e13
O3
Γ3 e23

Γ1 Γ2
O1 O2
P

e12

Figura 10: onstruindo o eixo radi al de dois ír ulos exteriores.

Deixamos ao leitor a tarefa de veri ar que a onstrução do eixo radi al de


dois ír ulos interiores pode ser levada a abo de maneira totalmente análoga
à onstrução des rita no exemplo a ima.
Como segunda apli ação da noção de entro radi al, dis utimos nos exem-
plos a seguir duas onstruções geométri as lássi as envolvendo tangên ia de
ír ulos. A solução do primeiro exemplo se resume, em última análise, a
uma pequena modi ação do argumento apresentado na solução do exemplo
anterior.
Exemplo 11. São dados no plano um ír ulo Γ e dois pontos A e B exteriores
ao dis o delimitado por Γ. Construa om régua e ompasso todas os ír ulos
α, tangentes a Γ e passando por A e B .
Solução. Nas notações da gura 11, tra e um ír ulo auxiliar β , passando
por A e B e se ante a Γ. Em seguida, tra e o eixo radi al e de Γ e β , e
Propor ionalidade e Semelhança 11
←→
marque o ponto de interseção P das retas e e AB . É imediato que P é o
entro radi al dos ír ulos α, β e Γ, de sorte que P está sobre o eixo radi al t
de Γ e α. Mas omo Γ e α devem ser tangentes, sabemos que t é uma tangente
omum a ambos; portanto, invo ando a onstrução delineada na proposição 9
da Unidade 8, podemos onstruir t omo uma tangente a Γ passando por P
(em geral há duas possíveis retas t, uma das quais é mostrada na gura 11).
Por m, sendo T o ponto de tangên ia entre t e Γ, só nos resta onstruir α
omo o ír ulo que passa por A, B e T .

e
P

Γ α
T
O
B

Figura 11: ír ulo tangente a Γ e passando por A e B.

Terminemos esta seção examinando o problema da onstrução dos ír ulos


tangentes a dois outros ír ulos dados e passando por um ponto também
dado.
Exemplo 12. São dados dois ír ulos exteriores Γ1 e Γ2 e um ponto A,
exterior a ambos Γ1 e Γ2 . Construa om régua e ompasso todos os ír ulos
α, passando por A e simultaneamente tangentes a Γ1 e Γ2 .
12 MA13 - Unidade 11

A
α

O
B
P
Q
R

O1 S T O2 U C

Γ2

Γ1

Figura 12: ír ulo tangente a Γ1 e Γ2 e passando por A.

Solução. Nas notações da gura 12, suponha o problema resolvido e sejam


←→ ←→ ←→
C a interseção das retas O1 O2 e P Q, e B a interseção de α om a reta AC .
Se O PbQ = α, então
b = O2 QR
O2 RQ b = O QP
b = O PbQ = α,
←→ ←→
de maneira que OP k O2 R. Em parti ular, é imediato veri ar que C
oin ide om o ponto de on urso das tangentes externas a Γ1 e Γ2 om a
←→ ←→ ←→
reta O1 O2 e, a partir daí, que RU k P S .
Armamos agora que o quadrilátero P ST Q é ins ritível. De fato, o pa-
←→ ←→
ralelismo entre as retas RU e P S , juntamente om a ins ritibilidade do
quadrilátero T QRU , forne em
S PbQ = 180◦ − P RU
b = 180◦ − QRU
b = QTbU = 180◦ − QTbS,

de sorte que S PbQ + QTbS = 180◦ .


Propor ionalidade e Semelhança 13

Portanto, apli ando o teorema das ordas aos quadriláteros ins ritíveis
P ST Q e P QBA, obtemos su essivamente

CS · CT = CP · CQ e CP · CQ = CA · CB.

Temos então que


CS · CT = CA · CB,

de modo que mais uma apli ação do teorema das ordas garante que o qua-
drilátero ST BA também é ins ritível.
Por m, uma vez que as posições dos pontos A, S e T são onhe idas e
o ponto C pode ser fa ilmente onstruído, podemos obter B omo o ponto
←→
de interseção da reta AC om o ír ulo ir uns rito ao triângulo ST A. Por
outro lado, uma vez obtido o ponto B , o problema em questão se reduz àquele
dis utido no exemplo 11.
Nesse ponto, o leitor atento deve ter observado que sua intuição sugeria
a existên ia de quatro ír ulos distintos passando pelo ponto A e tangentes
a Γ1 e Γ2 simultaneamente, mas a solução a ima só en ontrou dois deles. De
fato, após termos onstruído o ponto B omo a ima des rito, a solução do
exemplo 11 forne e dois possíveis ír ulos α, sendo Γ1 e Γ2 ambos interiores
a um deles e ambos exteriores ao outro. Os outros dois ír ulos-solução α
surgem ao onsiderarmos a possibilidade de que um dos ír ulos Γ1 e Γ2 seja
interior a α e o outro seja exterior. Nesse aso, uma pequena modi ação
do argumento apresentado a ima resolve o problema da mesma forma, i.e.,
reduzindo-o ao problema da onstrução de um ír ulo que passa por dois
pontos e tangen ia um ír ulo dado.

Problemas

1. * Prove a proposição 2 (sugestão: examine, quanto à semelhança, os


triângulos EBC e ECA).
14 MA13 - Unidade 11

2. AB é uma orda de um ír ulo Γ de entro O , medindo 8 m. Mar amos


sobre AB um ponto C , situado a 3 m de B . O raio de Γ passando por
O e C interse ta Γ em D , om CD = 1 m. Cal ule a medida do raio
de Γ.

3. Em um triângulo ABC , AB = 8 m. Sendo M o ponto médio de AB ,


al ule os possíveis valores de BC de modo que o ír ulo ir uns rito
ao triângulo AMC tangen ie o lado BC .

4. Duas ordas AB e CD de um ír ulo são perpendi ulares e se inter-


se tam no ponto E , situado no interior do ír ulo e tal que AE = 2,
EB = 6, DE = 3. Cal ule o diâmetro do ír ulo.

5. Seja ABC um triângulo isós eles de base BC = a e altura relativa à


base h. Sendo R o raio da ir unrferên ia ir uns rita a ABC , mostre
que
a2 + 4h2
R= .
8h
(sugestão: aplique o teorema das ordas ao ponto médio M de BC ).
MA13 - Unidade 12

Áreas de Figuras Planas I

Semana 03/10/2011 a 09/10/2011

Áreas de polígonos
Para que um on eito qualquer de área para polígonos tenha utilidade, pos-
tulamos que as seguintes propriedades (intuitivamente desejáveis) sejam vá-

lidas:

1. Polígonos ongruentes1 têm áreas iguais.

2. Se um polígono onvexo é parti ionado em um número nito de outros


polígonos onvexos (i.e., se o polígono é a união de um número nito
de outros polígonos onvexos, os quais não têm pontos interiores o-
muns), então a área do polígono maior é a soma das áreas dos polígonos
1 Apesar de não termos denido formalmente a noção de ongruên ia para polígonos, a
ideia é a mesma que para triângulos: um deles pode ser deslo ado no espaço, sem deformá-
lo, até oin idir om o outro. Observe que dois quadrados quaisquer de mesmo lado são
ongruentes (justique essa armação!).

1
2 MA13 - Unidade 12

menores.

3. Se um polígono (maior) ontém outro (menor) em seu interior, então a


área do polígono maior é maior que a área do polígono menor.

4. A área de um quadrado de lado 1 m é igual a 1 m2 .

Valendo as propriedades 1. a 4. a ima, parti ione um quadrado de lado


n ∈ N em n2 quadrados de lados 1 ada. Denotemos a área do quadrado
maior por An , devemos ter An igual à soma das áreas desses n2 quadrados
de lado 1, de maneira que
An = n2 .
Considere agora um quadrado de lado mn , om m, n ∈ N, e área A mn .
Arranje n2 ópias do mesmo, empilhando n quadrados de lado mn por la, em
n las, formando assim um quadrado de lado m n
· n = m. Tal quadrado maior
terá, omo já sabemos, área m2 ; por outro lado, omo ele está parti ionado
em n2 quadrados de lado mn ada, sua área é igual à soma das áreas desses
n2 quadrados, i.e.,
m2 = n2 · A mn .
Portanto,
m2  m 2
A m = 2 = .
n
n n
A dis ussão a ima sugere que a área de um quadrado de lado l deve ser
igual a l2 . Para onrmar tal suposição, argumentemos de maneira análoga
à prova do teorema de Thales: para k ∈ N, tomamos números ra ionais xk e
yk tais que
1
xk < l < yk e yk − xk < .
k
Em seguida, onstruímos quadrados de lados xk e yk , o primeiro ontido no
quadrado dado e o segundo o ontendo. Como já sabemos al ular áreas de
quadrados de lado ra ional, o postulado 3. a ima garante que a área Al do
quadrado de lado l deve satisfazer as desigualdades

x2k < Al < yk2.


Áreas de Figuras Planas 3

Mas omo x2k < l2 < yk2 , on luímos que ambos os números Al e l2 devem
perten er ao intervalo (x2k , yk2), de maneira que
|Al − l2 | < yk2 − x2k = (yk − xk )(yk + xk )
1
< (yk − xk + 2xk )
k 
1 1
< + 2l .
k k
Tendo de satisfazer a desigualdade a ima para todo k ∈ N, temos por um
argumento simples que |Al − l2 | = 0, i.e.,

Al = l2 .

Resumimos a dis ussão a ima na seguinte


Proposição 1. Um quadrado de lado l tem área l2 .

D C
D b C
l a

A B A B
A(ABCD) = l2 A(ABCD) = ab

Figura 1: áreas de um quadrado e de um retângulo.

Um argumento análogo ao a ima permite provar que um retângulo de


lados a e b tem área igual a ab (gura 1): omeçamos om um retângulo de
lados m, n ∈ N, parti ionando-o em mn quadrados de lado 1 para mostrar
que sua área é mn. Em seguida, tomamos um retângulo de lados mn11 e
m2
n2
, om m1 , m2 , n1 , n2 ∈ N, e, om n1 n2 ópias do mesmo, montamos um
retângulo maior de lados m1 e m2 . Somando áreas iguais, on luímos que a
área do retângulo dado originalmente é igual a
m1 m2 m1 m2
= · .
n1 n2 n1 n2
4 MA13 - Unidade 12

Por m, tomamos um retângulo de lados a, b > 0 reais, e, para k ∈ N,


ra ionais xk , yk , uk , vk tais que xk < a < yk , uk < b < vk e yk − xk , uk − vk <
1
k
. Sendo A a área do retângulo de lados a e b, um argumento análogo
ao feito para quadrados garante que A e ab perten em ambos ao intervalo
(uk xk , yk vk ), e daí, para todo k ∈ N,
|A − ab| < vk yk − uk xk = (vk − uk )yk + uk (yk − xk )
1 1
< (yk + uk ) = ((yk − xk ) + 2xk + (vk − uk ) + 2uk )
k k
1 2
< + 2a + 2b .
k k
Também omo antes, a validade da desigualdade a ima para todo k ∈ N
garante que A = ab, fato que resumimos na seguinte
Proposição 2. Um retângulo de lado a e b tem área ab.
Cal ulemos a área de um paralelogramo omo orolário da dis ussão
a ima. Para tanto, xado um lado de um paralelogramo, o qual hamaremos
de base diremos que a distân ia entre ele e seu lado paralelo é a altura do
paralelogramo.
Proposição 3. A área de um paralelogramo de base a e altura h é igual a

ah.
Prova. Sejam respe tivamente E e F os pés das perpendi ulares baixadas
←→
de D e C à reta AB e suponha, sem perda de generalidade, que E ∈ AB (-
gura 2). É imediato veri ar que os triângulos ADE e BCF são ongruentes
por CH, de modo que AE = BF e A(ADE) = A(BCF ). Então, temos
A(ABCD) = A(ADE) + A(BEDC)
= A(BCF ) + A(BEDC)
= A(EF CD).
Por outro lado, EF CD é um retângulo de altura h e base
EF = EB + BF = EB + AE = AB = a.
Portanto, A(ABCD) = A(EF CD) = ah.
Áreas de Figuras Planas 5

D a C

A E B F

Figura 2: área de um paralelogramo.

De posse da fórmula a ima para o ál ulo da área de paralelogramos, po-


demos fa ilmente obter uma fórmula orrespondente para a área de triângulos
mediante o artifí io dis utido na seguinte

Proposição 4. Seja ABC um triângulo de lados BC = a, AC = b, AB = c


e alturas ha , hb , hc respe tivamente relativas aos lados a, b, c. Então

aha bhb chc


A(ABC) = = = . (1)
2 2 2
Em parti ular, aha = bhb = chc .
←→
Prova. Seja S = A(ABC) e D a interseção da paralela a BC por A
←→
om a paralela a AB por C (gura 3). É imediato veri ar que ABCD

A a D
ha

B C

Figura 3: área de um triângulo.

é um paralelogramo de área 2S (uma vez que ABC ≡ BCD). Portanto,


2A(ABC) = 2S = aha , donde segue a primeira igualdade. As outras duas
igualdades podem ser obtidas de modo análogo.

Cal ular áreas de polígonos onvexos é agora, em prin ípio, uma tarefa
fá il: as diagonais do mesmo traçadas a partir de um de seus vérti es o par-
6 MA13 - Unidade 12

ti ionam em triângulos, e basta al ular a área de ada um desses triângulos


om a ajuda da proposição anterior.
Para uso futuro, se dois polígonos tiverem áreas iguais, diremos que são
equivalentes. Por exemplo, de a ordo om a proposição 3, um paralelo-

gramo de base a e altura h é equivalente a um retângulo de lados a e h.

Problemas

1. ABCD é um retângulo de lados AB = 32m e BC = 20m. Os pontos E


e F são respe tivamente os pontos médios dos lados AB e AD. Cal ule
a área do quadrilátero AECF .

2. No paralelogramo ABCD mar amos o ponto E , sobre o lado AD, tal


que BE⊥AD. Se BE = 5 m, BC = 12 m e AE = 4 m, al ule a
área do triângulo ECD.

3. Seja ABC um triângulo qualquer.

(a) Prove que o triângulo formado pelos pontos médios dos lados de
ABC tem área igual a 14 da área de ABC .
(b) Prove que om as medianas de ABC podemos formar um triângulo
DEF .
( ) Cal ule a razão entre as áreas dos triângulos ABC e DEF .

4. Seja ABCD um quadrilátero qualquer e M, N, P, Q respe tivamente os


pontos médios de AB, BC, CD, DA. Prove que
1
A(MNP Q) = A(ABCD).
2

5. São dados no plano dois quadrados, de lados 1 m e 2 m. Se o entro


do quadrado de lado menor oin ide om um dos vérti es do quadrado
maior, al ule os possíveis valores da área da porção do plano omum
aos dois polígonos.
Áreas de Figuras Planas 7

6. Sejam ABC um triângulo e ABDE e ACF G paralelogramos ons-


truídos exteriormente a ABC . Sejam ainda H o ponto de interseção
←→ ←→
das retas DE e F G e BCIJ um paralelogramo tal que CI = AH e
←→ ←→
CI k AH . Prove que

A(ABDE) + A(ACF G) = A(BCIJ).

7. Cada diagonal de um quadrilátero onvexo o divide em dois triângulos


de mesma área. Prove que o quadrilátero é um paralelogramo.

8. (OBM). Seja ABC um triângulo retângulo de área 1m2 . Cal ule a área
←→
do triângulo A′ B ′ C ′ , onde A′ é o simétri o de A em relação a BC , B ′
←→
é o simétri o de B em relação a AC e C ′ é o simétri o de C em relação
←→
a AB .

9. Seja ABCD um quadrado de lado 1, E o ponto médio de BC e F o de


CD . Sendo G o ponto de interseção de DE e AF , Cal ule a área do
triângulo DF G.

Se ABC é um triângulo equilátero de lado a, prove que A(ABC) =


10. * √
a2 3
4
(sug: ome e utilizando√o teorema de Pitágoras para mostrar que
as alturas de ABC medem a 2 3 ).

11. Seja ABCD um quadrado de lado 1 m e E um ponto no interior de


ABCD , tal que o triângulo ABE seja equilátero. Cal ule a área do
triângulo BCE .

12. ABCD é um quadrado de lado 1 m e AEF um triângulo equilátero,


om E ∈ BC e F ∈ CD. Cal ule a área de AEF .

13. O triângulo ABC tem lados a, b, c. As alturas orrespondentes a tais


lados são respe tivamente iguais a ha , hb , hc . Se a+ha = b+hb = c+hc ,
prove que ABC é equilátero.

14. Seja ABC um triângulo equilátero.


8 MA13 - Unidade 12

(a) Mostre, mediante o ál ulo de áreas, que as três alturas de ABC


têm omprimentos iguais.
(b) Prove que a soma das distân ias de um ponto es olhido no interior
de ABC a seus lados independe da posição do ponto.
MA13 - Unidade 13

Áreas de Figuras Planas II

Semana 03/10/2011 a 09/10/2011

Apli ações
Uma onsequên ia imediata da proposição 4 da Unidade 12 é o ritério a
seguir para equivalên ia de triângulos.
←→ ←→
Corolário 1. Sejam ABC e A′ BC triângulos tais que AA′ k BC . Então

A(ABC) = A(A BC).


←→ ←→
Prova. Sendo d a distân ia entre as retas BC e AA′ (gura 1), temos
1
A(ABC) = BC · d = A(A′ BC).
2

O orolário anterior pode ser usado para transformar um polígono em


outro equivalente, om menor número de lados. Vejamos omo fazer isso no
seguinte

1
2 MA13 - Unidade 13

A A′

B C

Figura 1: ritério para equivalên ia de triângulos.

Exemplo 2. Em relação à gura dada a seguir, onstrua om régua e om-


←→
passo o ponto E ∈ BC tal que A(ABE) = A(ABCD).

Solução.

D
A

B C

Des rição dos passos.

←→
1. Tra e, pelo ponto D, a reta r, paralela à reta AC .
←→
2. Marque o ponto E de interseção de r om a reta BC .

3. Pelo orolário anterior, os triângulos ACD e ACE têm áreas iguais;


logo, ABE e ABCD também têm áreas iguais.

Outra onsequên ia interessante do orolário 1 é a possibilidade de provar


o teorema de Pitágoras através do ál ulo de áreas, onforme atesta o seguinte

Exemplo 3. Seja ABC um triângulo retângulo em A, om atetos AB = c,


AC = b e hipotenusa BC = a. Sendo H o pé da altura relativa à hipotenusa,
CH = m, BH = n e AH = h, provemos, mediante o ál ulo de áreas, as
relações métri as
Áreas de Figuras Planas 3

(a) ah = bc.

(b) c2 = an e b2 = am.

( ) a2 = b2 + c2 .
(a) Basta ver que ah e bc são duas expressões distintas para o dobro da área
de ABC . De fato,
1 ah 1 bc
A(ABC) = BC · AH = e A(ABC) = AC · AB = .
2 2 2 2

G
I

F
D B

H a
c

E A C

K J

Figura 2: o teorema de Pitágoras via áreas.

(b) Construa exteriormente a ABC , os quadrados ABDE , BCF G e ACJK


−→
(gura 2) e seja I o ponto de interseção da semirreta AH om F G. De
←→ ←→
AI k BG temos
1 an
A(BGA) = A(BGH) = BG · BH = .
2 2
4 MA13 - Unidade 13

Por outro lado, omo BD = AB , BC = BG e DBC b = 90◦ + B b = ABGb ,


os triângulos BCD e BGA são ongruentes por LAL. Portanto, A(BCD) =
←→ ←→
(I). Mas AC k BD, de modo que A(BCD) = A(ABD) = c2
2
A(BGA) = an 2
(II). Segue então de (I) e (II) que c2 = an. Provar que b2 = am é análogo.

( ) Somando membro a membro as duas relações do item (b), obtemos

b2 + c2 = am + an = a(m + n) = a2 .

A fórmula para a área de um triângulo também nos dá uma maneira de


al ular áreas de trapézios. Para tanto, diremos doravante que a distân ia
entre as bases de um trapézio é sua altura.

Proposição 4. Se ABCD é um trapézio de bases AB = a, CD = b e altura

h, então
(a + b)h
A(ABCD) = .
2
Prova. Suponha, sem perda de generalidade, que a > b (gura 3). Se E ∈
D b C

A b E a−b B

Figura 3: área de um trapézio.

AB for tal que AE = b, então o quadrilátero AECD tem dois lados paralelos
e iguais, de modo que é um paralelogramo. Como BE = a − b, temos

A(ABCD) = A(AECD) + A(EBC)


(a − b)h (a + b)h
= bh + = .
2 2
Áreas de Figuras Planas 5

Corolário 5. Se ABCD é um losango de diagonais AC e BD , então

1
A(ABCD) = AC · BD.
2
Prova. Como AC⊥BD (gura 4), temos
D

A C
M

B
Figura 4: área de um losango.

A(ABCD) = A(ABC) + A(BCD)


1 1
= AC · BM + AC · DM
2 2
1
= AC · BD.
2

A proposição a seguir ensina qual a relação entre as áreas de triângulos


semelhantes e a razão de semelhança.
Proposição 6. Sejam ABC e A′ B ′ C ′ dois triângulos semelhantes. Sendo k
′ ′ ′
a razão de semelhança de ABC para A B C , temos

A(ABC)
= k2 .
A(A′ B ′ C ′ )

Prova. Sejam BC = a, B ′ C ′ = a′ e h e h′ as alturas de ABC e A′ B ′ C ′ ,


respe tivamente relativas a BC e B ′ C ′ (gura 5). Como a = ka′ e h = kh′
(problema 3, Seção 2, Unidade 10, segue que
A(ABC) ah ka′ · kh′
= = = k2.
A(A B C )
′ ′ ′ ah
′ ′ ah′ ′
6 MA13 - Unidade 13

A
A′
h
h′
B C B′ C′
a a′

Figura 5: áreas de triângulos semelhantes.

Exemplo 7. Em relação à gura abaixo, onstrua om régua e ompasso


pontos D ∈ AB e E ∈ AC tais que DE k BC e A(ADE) = A(DBCE).
Solução

B C

Supondo o problema resolvido, omo A(ADE) = 21 A(ABC) e ADE ∼


ABC , a proposição anterior garante que
s
AE A(ADE) 1
= =√ .
AC A(ABC) 2

Des rição dos passos.

1. Tra e o semi ír ulo Γ de diâmetro AC e exterior a ABC .

2. Sendo M o ponto médio de AC , marque P ∈ Γ tal que P M⊥AC . O


teorema de Pitágoras apli ado ao triângulo AP C garante que AP =
√1 AC .
2

3. Obtenha E omo a interseção de AC om o ír ulo de entro A e raio


AP . 2
Áreas de Figuras Planas 7

Terminamos esta seção apresentando três apli ações interessantes da fór-


mula geral da Proposição 4 da Unidade 12 para a área de triângulos, apli ada
em onjunção a alguns dos resultados anteriormente estudados.
Proposição 8. Seja ABC um triângulo de lados BC = a, AC = b, AB = c
e semiperímetro p. Se r e ra são respe tivamente os raios dos ír ulos ins rito

em ABC e ex-ins rito a BC , então

A(ABC) = pr = (p − a)ra . (1)

Prova. Sejam I o in entro e Ia o ex-in entro relativo a BC (gura 6). Temos:

B
Ia

A C

Figura 6: fórmulas para a área de um triângulo.

A(ABC) = A(AIB) + A(AIC) + A(BIC)


cr br ar
= + + = pr.
2 2 2
e

A(ABC) = A(AIa B) + A(AIa C) − A(BIC)


cra bra ara
= + − = (p − a)ra .
2 2 2
8 MA13 - Unidade 13

Estamos agora em ondições de provar outro orolário do teorema de


Ptolomeu, o teorema de Carnot1 , enun iado a seguir.

Teorema 9. Se ABC é um triângulo a utângulo de ir un entro O , e x, y


e z denotam respe tivamente as distân ias de O aos lados BC , AC e AB ,
então

x + y + z = R + r,
onde r eR denotam respe tivamente os raios dos ír ulos ins rito e ir uns-

rito a ABC .

Prova. Sejam M , N e P respe tivamente os pontos médios dos lados BC ,


CA e AB , de modo que OM⊥BC , ON⊥CA e OP ⊥AB (gura 7). Então os

P N
z Oy
x
B M C

Figura 7: distân ias do ir un entro aos lados.

quadriláteros BMOP , CNOM e AP ON têm, ada um, dois ângulos opostos


retos, sendo portanto ins ritíveis. Denotando, por simpli idade, BC = a,
AC = b, AB = c, OM = x, ON = y e OP = z , obtemos então, pelo
teorema de Ptolomeu, as igualdades
c a b
x· +z· =R· ,
2 2 2
b a c
x· +y· =R·
2 2 2
1 Após Lazare Carnot, matemáti o fran ês dos sé ulos XVIII e XIX, o primeiro a utilizar

sistemati amente segmentos orientados em Geometria.


Áreas de Figuras Planas 9

e
c b a
y· +z· =R· ,
2 2 2
onde R denota o raio do ír ulo ir uns rito a ABC .
Por outro lado omo os triângulos OBC , OCA e OAB parti ionam o
triângulo ABC , temos
xa yb zc
A(ABC) = + + .
2 2 2
Mas sendo respe tivamente p o semiperímetro e r o raio do ír ulo ins rito
em ABC , sabemos da proposição anterior que A(ABC) = pr, relação que
substituída na igualdade a ima nos dá
xa yb zc
+ + = pr.
2 2 2
Por m, somando ordenadamente a última relação a ima om as três
primeiras, obtemos
(x + y + z)p = (R + r)p,
donde segue o teorema de Carnot.

Problemas

1. Construa, om régua e ompasso, um triângulo de área igual à área de


um quadrado dado.

2. (Torneio das Cidades). Em um hexágono onvexo ABCDEF , temos


AB k CF , CD k BE e EF k AD . Prove que as áreas dos triângulos
ACE e BDF são iguais (sugestão: A(ABC) = A(ABF ), A(CDE) =
A(BCD) e A(AEF ) = A(DEF )).

3. O trapézio ABCD, de bases AB e CD e lados não paralelos AD e BC ,


é retângulo em A. Se BC = CD = 13 m e AB = 18 m, al ule a
altura e a área do trapézio, assim omo a distân ia do vérti e A à reta
←→
BC .
10 MA13 - Unidade 13

4. Para quais inteiros positivos n é possível parti ionar um triângulo e-


quilátero de lado n em trapézios de lados medindo 1, 1, 1 e 2?

5. ABCD é um trapézio de bases BC e AD e lados não paralelos AB


e CD. Seja E o ponto médio do lado CD e suponha que a área do
triângulo AEB seja igual a 360 m2 . Cal ule a área do trapézio.

6. Seja ABCD um trapézio de bases AB, CD e lados não paralelos AC, BD.
Se as diagonais de ABCD se interse tam em E , prove que
p p p
A(ABCD) = A(ABE) + A(CDE).

7. Por um ponto P no interior de um triângulo ABC traçamos retas


paralelas aos lados de ABC . Tais retas parti ionam ABC em três
triângulos e três paralelogramos. Se as áreas dos triângulos são iguais
a 1 m2 , 4 m2 e 9 m2 , al ule a área de ABC .
MA13 - Unidade 14

Pontos, Retas e Planos

Semana 10/10/2011 a 16/10/2011

1 Do Plano para o Espaço


O grande desao em ensinar Geometria a alunos do Ensino Médio é fazer a

transição do plano para o espaço. Embora estejamos habituados a guras

geométricas tridimensionais (convivemos todo o tempo com planos, cubos, es-

feras, cones, cilindros, etc) é no Ensino Médio que tais guras são estudadas,

pela primeira vez, de forma sistemática. Esta ampliação de horizontes nem

sempre é fácil para o aluno. O início do estudo sistemático de Geometria


o o
Plana, em geral na 7 ou 8 ano do Ensino Médio, vem depois de longos anos

nos quais o aluno se prepara, de certo modo, para estudar guras planas. Ele

não as observa simplesmente no mundo real; ele está constantemente desen-

hando tais guras, o que contribui para a criação de modelos mentais para

elas. Embora o aluno possa ter diculdades no aprendizado de Geometria,

em geral ele não tem diculdade de entender as propriedades essenciais das

guras geométricas simples. Conceitos básicos como paralelismo, perpendi-


2 MA13 - Unidade 14

cularismo e congruência são bem entendidos pelo aluno. Além disso, em caso

de diculdades, é sempre possível experimentar através de desenhos ou de

modelos das guras.

Tais facilidades não ocorrem quando se começa a estudar Geometria Es-

pacial. As relações entre as guras geométricas fundamentais são bem mais

complexas do que na Geometria Plana. O estudo de paralelismo, por exem-

plo, que na Geometria Plana se reduz a paralelismo entre retas, agora é

complicado pelo fato de existirem, no espaço, retas que não são nem pa-

ralelas nem concorrentes e pelas relações de paralelismo envolvendo planos.

Há, também, uma diculdade muito maior de se fazer este estudo com apoio

em modelos concretos. Além de os alunos do Ensino Médio já não estarem

mais, de modo geral, propensos ao uso de tais modelos, é muito mais difícil

construí-los de modo a serem úteis. Por exemplo, o uso de folhas de cartolina

para representar dois planos pode levar um aluno à conclusão de que a in-

terseção de dois planos pode ser um ponto... (gura 1).

Figura 1: Interseção de planos pode resultar em um único ponto?

O exemplo acima não deve ser entendido como uma recomendação para

que não sejam usados modelos do mundo real como exemplos de guras

espaciais, com o intuito de exemplicar relações entre elas. Mas a limitação

de tais modelos faz com que eles não bastem. É preciso algo mais: ter
Pontos, Retas e Planos 3

alguma imaginação, desenvolver alguma habilidade de fazer representações de

tais guras em papel e, principalmente, adquirir um bom conhecimento das

propriedades fundamentais entre as guras geométricas espaciais, de modo

que relações entre elas possam ser deduzidas através de uma argumentação

geométrica, já que raramente tais relações podem ser observadas diretamente

em uma gura ou um modelo. É muito importante, também, desenvolver no

aluno a habilidade de fazer bom proveito de seus conhecimentos de Geometria

Plana. Em muitos problemas, a técnica de resolução consiste em identicar

um ou mais planos onde a ação ocorre, isto é, que contêm os elementos

relevantes ao problema, e aplicar Geometria Plana para obter relações entre

esses elementos.

Para que tudo isso seja possível, é importante que os conceitos funda-

mentais da Geometria Espacial sejam apresentados com cuidado. Uma al-

ternativa é aproveitar a ocasião para apresentar uma formulação axiomática

para a Geometria. Uma formulação axiomática consiste na identicação de

um certo conjunto de noções primitivas, não denidas, e de um conjunto de

axiomas ou postulados, que são propriedades aceitas como verdadeiras. As

demais propriedades (os teoremas) são demonstrados a partir destes postu-

lados.

O conjunto de postulados escolhidos para uma teoria matemática deve

satisfazer a dois requisitos: ele deve ser consistente (isto é, não deve ser

possível chegar a contradições a partir dos postulados) e suciente (isto é,

deve ser possível determinar a veracidade de uma armativa a partir dos

postulados). Além disso, é desejável que os postulados reitam fatos que

indiscutivelmente correspondam à nossa intuição a respeito dos objetos fun-

damentais da teoria. A primeira iniciativa no sentido de criar uma teoria

axiomática para a Geometria é de Euclides, mas Hilbert, no início deste

século, foi o primeiro a propor um conjunto de axiomas para a Geometria ao

mesmo tempo consistente e suciente.

O fato de que foram necessários mais de 2000 anos para se chegar a uma

formulação axiomática correta para a Geometria mostra que tal tarefa é mais
4 MA13 - Unidade 14

delicada do que pode parecer à primeira vista. O sistema de axiomas não

deve apenas formular propriedades relativas a determinação e incidência de

pontos, retas e planos mas também dar validade a noções intuitivas como

ordem, separação e medida de ângulos e segmentos. Uma discussão mais

completa do que a apresentada aqui sobre os fundamentos da Geometria

Espacial pode ser encontrada no livro Introdução à Geometria Espacial, de

Paulo C.P. Carvalho, da Coleção do Professor de Matemática da SBM. Para

os fundamentos da Geometria Plana, recomendamos Geometria Euclidiana

Plana, de João Lucas Marques Barbosa, da mesma coleção.

2 Noções Primitivas e Axiomas


Na nossa opinião, não é apropriado apresentar, no Ensino Médio, uma teoria

axiomática formal para a Geometria Espacial. Mas é importante estabelecer

as regras básicas do jogo, introduzindo as entidades fundamentais (ponto,

reta, plano, espaço) como noções primitivas e apresentando alguns dos axio-

mas como propriedades a serem aceitas sem demonstração.

Muitas vezes o aluno recebe com certa surpresa o fato de que a Geometria

se baseia em algumas noções para as quais não é apresentada denição e em

algumas propriedades para as quais não é apresentada uma demonstração.

É importante que o professor esclareça que isto ocorre com qualquer teoria

matemática (veja a discussão no capítulo 2 do primeiro volume desta série).

O fato de ponto, reta, plano e espaço serem noções primitivas da Geome-

tria não signica que não se possa reforçar a intuição do aluno a respeito

dessas noções. De uma certa forma, isto ocorria já nos Elementos de Eu-

clides, em que, por exemplo, ponto é denido como aquilo que não possui

partes (ou seja, é indivisível), linha é o que possui comprimento mas não

largura e reta é uma linha que jaz igualmente com respeito a todos os seus

pontos (isto é, uma linha onde não existem pontos especiais).

Embora tais descrições não possam ser utilizadas como denições (por

utilizarem outros termos não denidos, como comprimento, largura, etc),


Pontos, Retas e Planos 5

ajudam a correlacionar entidades matemáticas com imagens intuitivas. Deve-

se, porém, esclarecer para o aluno que, do ponto de vista matemático, o que

importa é estabelecer uma quantidade mínima de propriedades (postulados)

que sejam capazes de caracterizar o comportamento destas entidades.

Abaixo, são dadas algumas das propriedades essenciais relacionando as

noções de ponto, reta, plano e espaço, e que podem ser utilizadas como pos-

tulados da Geometria Espacial.

Postulado 1. Dados dois pontos distintos do espaço existe uma, e somente

uma, reta que os contém.

Postulado 2. Dados três pontos não colineares do espaço, existe um, e

somente um, plano que os contém.

Postulado 3. Se uma reta possui dois de seus pontos em um plano, ela

está contida no plano.

Uma vez tendo estabelecido estas propriedades como axiomas, podemos

utilizá-las na demonstração de outras propriedades, como ilustrado abaixo.

Teorema. Existe um único plano que contém uma reta e um ponto não

pertencente a ela.

Prova. Seja P um ponto não pertencente à reta r. Tomemos, sobre r,


dois pontos distintos Q e R (gura 2). Os pontos P , Q e R não são coli-

neares (de fato, pelo Postulado 1, r é a única reta que passa por Q e R e,

por hipótese, P r). Pelo Postulado 2, sabemos que existe um


não pertence a

único plano α contendo P , Q e R. Como a reta r tem de dois de seus pontos

(Q e R) em α, o Postulado 3 estabelece que r está contida em α. Logo, de

fato existe um plano contendo r e P . Como este é o único plano que contém

P , Q e R, ele é o único que contém P e r.


6 MA13 - Unidade 14

Figura 2: Uma reta e um ponto exterior determinam um plano.

Embora o leitor possivelmente não tenha percebido, na demonstração do

teorema acima zemos uso de uma construção que, a rigor, deveria ser jus-

ticada. A reta r e o ponto P são fornecidos pelo enunciado do teorema.


No entanto, os pontos Q e R foram construídos na demonstração. Nossa
experiência nos diz que, dada uma reta, existem uma innidade de pontos

que pertencem a ela (portanto, estamos livres para escolher dois pontos ar-

bitrários sobre ela) e uma innidade de pontos que não pertencem a ela. O

mesmo vale para um plano. Se quiséssemos fazer uma construção axiomática

rigorosa seria necessário introduzir axiomas referentes a tais propriedades.

Nas seções a seguir procuraremos desenvolver, a partir dos postulados,

outras propriedades relativas a pontos, retas e planos, respondendo a questões

fundamentais como as abaixo:

• Que combinações de pontos e retas determinam um plano?

• Como pode ser a interseção de duas retas no espaço? E de dois planos?

E de uma reta e um plano?

Como veremos, nem todas estas perguntas podem ser respondidas usando

os postulados acima. Utilizaremos nossa procura de respostas a estas pergun-

tas justamente para motivar a introdução de outros postulados. A mesma

estratégia pode (e deve) ser usada com alunos do Ensino Médio: ao invés de

apresentar propriedades já prontas, é melhor descobri-las juntamente com os

alunos.
Pontos, Retas e Planos 7

3 Posição de Retas
A partir das respostas às perguntas como pode ser a interseção de duas re-

tas? e quando duas retas determinam um plano?, obtemos uma importante

classicação para um par de retas distintas do espaço.

Comecemos pela interseção. Pelo Postulado 1, duas retas distintas podem

ter no máximo um ponto comum . De fato, como existe uma única reta que

passa por dois pontos distintos, duas retas que tenham mais de um ponto

comum são obrigatoriamente coincidentes (isto é, são a mesma reta).

Quando duas retas têm exatamente um ponto comum, elas são chamadas

de concorrentes e sempre determinam um plano.

De fato, seja P r e s (gura 3). Sejam R


o ponto de interseção das retas

e S pontos de r e s, respectivamente, distintos de P . Os pontos P , R e S

são não colineares; portanto, determinam um único plano α, que certamente

contém r e s, já que essas retas têm dois de seus pontos em α.

Figura 3: Duas retas concorrentes determinam um plano.

Já quando duas retas não possuem ponto em comum, elas podem ou não

determinar um plano. Consideremos a situação da gura 4, que mostra três

pontos não colineares A, B e C , que determinam um plano α, um ponto D


exterior a α, e as retas r e s, denidas por A e B e por C e D , respectivamente.

E claro que não existe nenhum ponto comum a r e s.

Note que s só tem o ponto C em comum com α; se tivesse um outro

ponto comum, s teria que estar contida em α, o que é impossível, já que


D é exterior a α. Por outro lado, não existe nenhum plano que contenha,
simultaneamente , r e s. Basta observar que α é o único plano que passa por
8 MA13 - Unidade 14

Figura 4: Retas reversas.

A, B e C e que D não pertence a este plano. Retas como r e s são chamadas


de retas não-coplanares ou reversas.

Retas reversas sempre possuem interseção vazia. Mas duas retas do es-

paço podem não ter pontos de interseção e serem coplanares. Neste caso,

dizemos que as retas são paralelas. Sabemos, da Geometria Plana, que por

um ponto do plano exterior a uma reta passa uma única reta paralela a ela.

O mesmo ocorre no espaço. Isto é, por um ponto P exterior a uma reta r


do espaço passa uma única reta s paralela a ela . De fato, seja r uma reta

do espaço e seja P um ponto não pertencente a r (gura 5). Como vimos

acima, existe um único plano α que contém P e r; nesse plano, existe uma,

e somente uma, reta s paralela a r passando por P. Por outro lado, não

existem retas paralelas a r passando por P que não estão contidas em α, já

que todas as retas coplanares com r passando por P estão contidas em α.


Assim, a reta s é a única reta do espaço que contém P e é paralela a r .

Figura 5: Retas paralelas.

Em resumo, duas retas distintas do espaço estão em um dos casos dados

no quadro abaixo:
Pontos, Retas e Planos 9

Posição relativa Interseção r e s


de r e s de r e s são coplanares?

Concorrentes exatamente um ponto Sim

Paralelas vazia Sim

Reversas vazia Não

4 Posição Relativa de Reta e Plano


A pergunta relevante agora é: como pode ser a interseção de uma reta e

um plano? Pelo Postulado 3, se uma reta r possui dois ou mais pontos

pertencentes a um plano α, todos os seus pontos estarão em α; isto é r


estará contida em α (gura 6).

Figura 6: Uma reta contida em um plano.

Um outro caso possível é aquele em que r tem apenas um ponto em

comum com α (dizemos nesse caso que r é secante a α). A gura 7 mostra

um ponto P pertencente a um plano α e um ponto exterior Q. A reta r


denida por P e Q, é secante a α.

Figura 7: Uma reta secante a um plano.


10 MA13 - Unidade 14

Finalmente, uma reta pode não ter pontos em comum com um plano

(dizemos que a reta e o plano são paralelos ). Seja α um plano, r uma reta

contida em α e P um ponto exterior a α (gura 8). A reta s, paralela a r


passando por P, é paralela a α. De fato, seja β o plano denido por r e

s. Se s não fosse paralela a α, a interseção de r e α seria um ponto Q não

pertencente a r, já que r e s são paralelas. Mas isto faria com que os planos

distintos α e β tivessem em comum a reta r e o ponto exterior Q, o que é

impossível.

Figura 8: Uma reta paralela a um plano.


Pontos, Retas e Planos 11

Em resumo, uma reta r e um plano α podem estar em um dos casos a

seguir:

Posição relativa de r e α Interseção de r e α


r contida em α a própria reta r
r secante a α um único ponto

r paralela a α vazia

5 Posição Relativa de Dois Planos


Obtemos uma classicação para a posição relativa de dois planos procurando

responder à pergunta: como pode ser a interseção de dois planos distintos?.

A primeira observação é a seguinte:

Se dois planos distintos possuem mais de um ponto em comum, sua in-

terseção é uma reta (neste caso, dizemos que os planos são secantes ).

De fato, se os pontos P e Q são comuns a α e β, então, pelo Postulado

3, a reta r denida por P e Q está contida, simultaneamente, em α e β e,


portanto, em sua interseção. Por outro lado, se houvesse um ponto R comum
a α e β que não pertencesse a r, os planos α e β seriam coincidentes, já que

r e R determinam um único plano. Logo, r é a interseção de α e β .


A gura 9 mostra uma situação em que temos dois planos secantes. O

plano a é denido pela reta r e pelo ponto exterior A. O ponto B é exterior


a α e dene com r um outro plano β. Os planos α e β têm por interseção a
reta r; são, portanto, secantes.

A próxima possibilidade a ser considerada é a de dois planos terem exa-

tamente um ponto em comum. Uma consulta a nosso modelo mental para

planos no espaço tridimensional nos convencerá de que essa possibilidade não

existe. Tal impossibilidade, no entanto, não decorre dos postulados anteri-

ores (na verdade, na Geometria Euclidiana do espaço de dimensão superior

a 3, é perfeitamente possível dois planos terem exatamente um ponto em

comum) e deve ser estabelecida através de mais um postulado.


12 MA13 - Unidade 14

Figura 9: Planos secantes.

Postulado 4. Se dois planos possuem um ponto em comum, então eles

possuem pelo menos uma reta em comum.

Resta-nos apenas mais uma possibilidade: a de que os planos sejam para-

lelos (isto é, não possuam pontos comuns). Mas existem realmente planos que

não tenham ponto em comum? Nossa intuição diz que sim, e o argumento a

seguir fornece uma conrmação, mostrando como construir um plano para-

lelo a um outro.

Construção de um plano paralelo a um plano dado. Seja P um ponto


exterior ao plano α (gura 10). Tomemos duas retas concorrentes r e s em α.
0 0
Sejam r e s as paralelas a r e s conduzidas por P . Estas retas determinam

um plano β , que é, como vamos provar, paralelo a α.

Figura 10: Planos paralelos.

Suponhamos que β não seja paralelo a α. Então α e β possuem uma


0 0
reta de interseção t. As retas r, s e t são coplanares. Por outro lado, as
Pontos, Retas e Planos 13

retas r0s0 não podem ser ambas paralelas a t. Logo, pelo menos uma delas
e
0 0
(digamos r ) é concorrente com t e, portanto, secante a α. Mas como r é
0
paralela a uma reta de α, resulta que r é paralela a α. Temos, portanto,

uma contradição, o que demonstra que α e β são paralelos.

A construção acima mostra como construir um plano paralelo a a pas-

sando pelo ponto exterior P.


O quadro abaixo resume as situações possíveis para a posição relativa de

dois planos distintos α e β:

Posição relativa de α e β Interseção de α e β


secantes uma reta r
paralelos vazia

Exercícios
1. A gura 11 abaixo representa uma ponte sobre uma estrada de ferro.

Sejam α e β, respectivamente, os planos da pista da ponte e o do leito da

estrada de ferro e sejam r e s as retas que representam o eixo da pista e um

dos trilhos. Quais são as posições relativas de α, β , r e s?

Figura 11:

2. Quantos são os planos determinados por 4 pontos não coplanares?

3. Quantos planos distintos são determinados por um subconjunto dos vér-

tices do paralelepípedo ABCDEF GH ?

4. Qual a seção determinada em um paralelepípedo ABCDEF GH pelo


14 MA13 - Unidade 14

plano ABG?

5. Duas retas r e s são concorrentes em um ponto O. Fora do plano deter-

minado por r e s tomamos um ponto P qualquer. Qual é a interseção do

plano denido por r e P com o plano denido por s e P?

6. Sejam r e s duas retas reversas, A um ponto em r e B um ponto em

s. Qual é a interseção do plano α denido por r e B com o plano β denido

por s e A?

7. Sejam r e s duas retas reversas. Sejam A e B pontos distintos de r e


C e D pontos distintos de s. Qual é a posição relativa das retas AC e BD?

8. Sejam r e s duas retas reversas e P um ponto qualquer do espaço. Diga

como obter:

a) um plano contendo r e paralelo a s;


b) um par de planos paralelos contendo r e s, respectivamente;

c) uma reta passando por P e se apoiando em r e s.

9. Seja r uma reta secante a um plano α e P um ponto exterior a α. É

sempre possível traçar uma reta que passa por P, encontra r e é paralela a

α?

10. Se dois planos são paralelos a uma reta então eles são paralelos en-

tre si. Certo ou errado?

11. Sejam A, B , C
D pontos quaisquer do espaço (não necessariamente
e

coplanares). Sejam M , N , P e Q os pontos médios de AB , BC , CD e

DA, respectivamente. Mostre que M N P Q é um paralelogramo. Use este


fato para demonstrar que os três segmentos que unem os pontos médios

das arestas opostas de um tetraedro qualquer ABCD se encontram em um


Pontos, Retas e Planos 15

mesmo ponto.

12. Suponha que os planos α, β e γ têm exatamente um ponto em comum.

Existe uma reta que seja simultaneamente paralela a α, β e γ?


MA13 - Unidade 15

Pontos, Retas e Planos II

Semana 10/10/2011 a 16/10/2011

1 Construindo Sólidos
Com as propriedades já estabelecidas, podemos, já nesse ponto, construir
nossos primeiros sólidos. A maior parte dos livros didáticos para o 2 o grau
adia a apresentação dos sólidos clássicos (prismas, pirâmides, esfera, etc)
para mais tarde, quando se ensina a calcular áreas e volumes desses sólidos.
Nada impede, no entanto, que eles sejam apresentados mais cedo, de modo a
colaborar na xação dos conceitos fundamentais, já que exemplos muito mais
ricos de situações envolvendo pontos, retas e planos podem ser elaborados
com seu auxílio.

Construção de Pirâmides e Cones. Considere um polígono A1 A2 . . . An


em um plano e um ponto V exterior ao plano do polígono (gura 1). Traçamos
os segmentos V A1 , V A2 , . . . , V An . Cada dois vértices consecutivos de A1 A2 . . .
An determinam com V um triângulo. Estes triângulos, juntamente com o

1
2 MA13 - Unidade 15

polígono
A1 A2 . . . An ,
delimitam uma região do espaço, que é a pirâmide de base

A1 A2 . . . An

e vértice V . A região do espaço limitada pela pirâmide é formada pelos pon-


tos dos segmentos de reta que ligam o vértice V aos pontos do polígono-base.
Os segmentos V A1 , V A2 , . . . , V An são chamados arestas laterais e os triân-
gulos V A1 A2 , V A2 A3 , . . . , V An A1 de faces laterais da pirâmide. Pirâmides
triangulares − ou tetraedros − apresentam a particularidade de que qualquer
de suas faces pode ser considerada a base da pirâmide.

Figura 1: Uma pirâmide pentagonal, um tetraedro e um cone.

Pirâmides são casos particulares de cones. Em um cone, a base não pre-


cisa ser um polígono, mas qualquer região plana delimitada por uma curva
fechada e simples (isto é, que não corta a si própria). Os cones mais impor-
tantes são os cones circulares, em que a base é um círculo. Em um cone,
cada um dos segmentos que ligam o vértice aos pontos situados sobre a curva
que delimita a base da geratriz do cone. A união de todos esses segmentos é
uma superfície, chamada de superfície lateral do cone.

Construção de Prismas e Cilindros. Seja A1 A2 . . . An um polígono con-


tido em um plano α (gura 2). Escolhemos um ponto B1 qualquer, não
pertencente a α. Por B1 traçamos o plano β paralelo a α. Pelos demais vér-
tices A2 , . . . , An traçamos retas paralelas a A1 B1 que cortam β nos pontos
B2 , . . . , Bn (isto implica em que todas estas retas sejam paralelas entre si;
Pontos, Retas e Planos II 3

veja o exercício 18). Tomemos dois segmentos consecutivos assim determi-


nados: A1 B1 e A2 B2 , por exemplo. O quadrilátero A1 B1 B2 A2 é plano, já
que os lados A1 B1 e A2 B2 são paralelos. Mas isto implica em que os outros
dois lados também sejam paralelos, pois estão contidos em retas coplanares
que não se intersectam, por estarem contidas em planos paralelos. Portanto,
o quadrilátero é um paralelogramo. Os paralelogramos assim determina-
dos, juntamente com os polígonos A1 A2 . . . An e B1 B2 . . . Bn determinam um
poliedro chamado de prisma de bases A1 A2 . . . An e B1 B2 . . . Bn . A região
do espaço delimitada por um prisma é formada pelos pontos dos segmen-
tos nos quais cada extremo está em um dos polígonos-base. As arestas
A1 B1 , A2 B2 , . . . , An Bn são chamadas de arestas laterais. Todas as arestas
laterais são paralelas e de mesmo comprimento; arestas laterais consecutivas
formam paralelogramos, que são chamados de faces laterais do prisma. As
bases A1 A2 . . . An e B1 B2 . . . Bn são congruentes. De fato, estes polígonos
possuem lados respectivamente iguais e paralelos (já que as faces laterais
são paralelogramos) e, em consequência, possuem ângulos respectivamente
iguais (como na Geometria Plana, ângulos determinados por retas paralelas
do espaço são iguais : veja o exercício 20).
Um caso particular ocorre quando a base é um paralelogramo. Neste
caso, o prisma é chamado de paralelepípedo. Paralelepípedos são prismas
que têm a particularidade de que qualquer de suas faces pode ser tomada
como base (duas faces opostas quaisquer estão situadas em planos paralelos
e são ligadas por arestas paralelas entre si).
A generalização natural de prisma é a noção de cilindro, em que a base
pode ser qualquer região plana delimitada por uma curva simples e fechada.
Cada um dos segmentos paralelos que passam pelos pontos da curva e são
delimitados pelos planos paralelos é uma geratriz do cilindro.
Aplicações. Vejamos alguns exemplos em que usamos os sólidos denidos
acima para ilustrar situações envolvendo interseções de retas e planos.

Exemplo. Consideremos uma pirâmide quadrangular de base ABCD e


4 MA13 - Unidade 15

Figura 2: Um prisma pentagonal, um paralelepípedo e um cilindro.

vértice V (gura 3). As arestas laterais opostas V A e V C determinam um


plano α, enquanto V B e V D determinam um plano β . Qual é a interseção
de α e β ?
Os planos α e β são distintos (A, por exemplo, está em α mas não em β )
e têm um ponto comum V . Logo, sua interseção é uma reta r que passa por
V . Para localizarmos um segundo ponto de r, considermos as interseções de
α e β com o plano da base, que são as diagonais AC e BD, respectivamente,
do quadrilátero ABCD. Logo, o ponto de interseção de AC e BD é comum
aos três planos α, β e ABCD; portanto, está na reta de interseção de α e
β . Assim, α e β se cortam segundo a reta que passa por V e pelo ponto de
interseção de AC e BD.

Figura 3:

Exemplo. Consideremos um prisma triangular ABCDEF (gura 4). Quan-


tos planos distintos são determinados por um subconjunto dos 6 vértices do
Pontos, Retas e Planos II 5

paralelepípedo?

Figura 4: Planos determinados pelos vértices de um prisma trian-


gular.

Se os 6 vértices do prisma estivessem em posição geral seja, dispostos


de forma tal que quatro quaisquer deles não fossem coplanares), cada sub-
conjunto de 3 pontos determinaria um plano. Teríamos, assim, um total de
C63 = 20 planos. No caso do prisma triangular, no entanto, a situação não
é esta. Podemos começar a listar os planos denidos pelos vértices a partir
das faces: temos 3 faces laterais e 2 bases. Outros planos formados a partir
dos vértices terão necessariamente que ser determinados por 2 vértices de
uma base e pelo vértice da outra base que seja extremo da aresta lateral que
não passa por nenhum dos dois primeiros. Há 6 planos nestas condições, já
que este último vértice pode ser qualquer um dos vértices do prisma. Temos,
então, um total de 11 planos.

2 Descobrindo Relações de Paralelismo


Apresentamos abaixo uma lista de situações nas quais o paralelismo de certas
entidades (planos ou retas) pode ser deduzida a partir do paralelismo de
outras retas e planos.
6 MA13 - Unidade 15

1) Uma reta é paralela a um plano se e somente se ela é paralela a uma


reta do plano.
2) Dados dois planos secantes, uma reta de um deles é paralela ao outro
se e somente se ela é paralela à reta de interseção dos dois planos.
3) Se um plano α corta o plano β segundo a reta r, então ele corta
qualquer plano paralelo a β segundo uma reta paralela a r.
4) Dois planos são paralelos se e somente se um deles é paralelo a duas re-
tas concorrentes do outro (alternativamente, dois planos distintos são parale-
los se e somente se um deles contém duas retas concorrentes respectivamente
paralelas a duas retas do outro).
Algumas dessas propriedades já foram apresentadas ou aplicadas anteri-
ormente, e sua demonstração ca por conta do leitor. A seguir mostramos
situações em que podemos utilizar as propriedades acima para identicar re-
lações de paralelismo em um sólido simples.

Exemplo. Vamos tomar um paralelepípedo ABCDEF GH e observar al-


gumas relações de paralelismo entre as retas e planos lá presentes (gura 5)

Figura 5:

a) A aresta AE é paralela à face BCGF .

Justicativa. Basta notar que AE é paralela à reta BF de BCGF .


Pontos, Retas e Planos II 7

b) A diagonal AH da face ADHE também é paralela à face BCGF .

Justicativa. Os planos das faces opostas de um paralelepípedo são parale-


los (note que as retas AD e AE de ADHE são respectivamente paralelas às
retas BC e BF de BCGF ). Como AH está contida em um plano paralelo à
face BCGF , AH é necessariamente paralela a BCGF .

c) A interseção dos planos α e β determinados pelos pares de arestas laterais


opostas (AE, CG) e (BF, DH) é uma reta que passa pelos pontos Q e R de
interseção das diagonais das bases e que é paralela a aquelas arestas (gura
6).

Figura 6:

Justicativa. Primeiro, observamos que as diagonais AC e BD da base


inferior estão contidas, respectivamente, em α e β . Logo seu ponto Q de
interseção está na reta de interseção. O mesmo argumento se aplica a R.
Por outro lado, AE é paralela a β , já que é paralela à reta BF de β .
Portanto, AE é necessariamente paralela à reta r de interseção de α e β .

d) O plano α determinado pelos pontos A, C e H é paralelo ao plano β


determinado pelos pontos B , E e G (gura 7).
Justicativa. Tomemos as diagonais faciais AC e EG. As retas AC e EG
são as interseções do plano denido pelas arestas laterais AE e CG com os
planos (paralelos) das bases do paralelepípedo. Logo AC e EG são paralelas.
O mesmo argumento se aplica, por exemplo, a BG e AH . Logo α possui um
8 MA13 - Unidade 15

Figura 7:

par de retas concorrentes que são paralelas a retas de β e, em consequência,


α e β são paralelos.

3 Planos Paralelos e Proporcionalidade


Da Geometria Plana trazemos o (bom) hábito de associar retas paralelas
com proporcionalidade, através do Teorema de Tales (que estabelece a pro-
porcionalidade dos segmentos determinados em duas secantes por um feixe
de retas paralelas) e de semelhança de triângulos (ao se cortar um triângulo
por uma reta paralela a uma dos lados se obtém um triângulo semelhante a
ele). Existem propriedades perfeitamente análogas para planos paralelos.

Teorema de Tales para Planos Paralelos. Um feixe de planos paralelos


determina segmentos proporcionais sobre duas retas secantes quaisquer.
Demonstração. A demonstração consiste em reduzir o teorema ao seu cor-
respondente no plano, que é o teorema de Tales sobre feixe de retas paralelas.
Sejam α, β e γ três planos paralelos e sejam r1 e r2 duas retas secantes quais-
quer (gura 8).
A reta r1 corta os planos nos pontos A1 , B1 e C1 e r2 corta os mesmos
planos nos pontos A1 , B2 e C2 . Pelo ponto A1 de r1 traçamos uma reta r20
paralela a r2 , que corta os três planos nos pontos A1 , B20 e C20 . As retas r1
e r20 determinam um plano, que corta β e γ segundo as retas paralelas B1 B20
Pontos, Retas e Planos II 9

Figura 8: Teorema de Tales para planos paralelos.

A1 B1
e C1 C20 . Logo, pelo Teorema de Tales para retas paralelas, temos =
A1 B20
B1 C1 A1 C1
0 0
= . Mas A1 B20 = A2 B2 , B20 C20 = B2 C2 , e A1 C20 = A2 C2 , por
B2 C2 A1 C20
serem segmentos retas paralelas compreendidos entre retas paralelas. Logo,
A1 B1 B1 C1 A1 C1
temos = = .
A2 B2 B2 C2 A2 C2

Construção de Pirâmides Semelhantes. Consideremos agora uma pirâ-


mide de base A1 A2 . . . An e vértice V (gura 9). Tracemos um plano paralelo à
base, que corta as arestas laterais segundo o polígono B1 B2 . . . Bn e que divide
a pirâmide em dois poliedros: um deles é a pirâmide de base B1 B2 . . . Bn e o
outro é chamado de tronco de pirâmide de bases A1 A2 . . . An e B1 B2 . . . Bn .
Consideremos as duas pirâmides e examinemos suas faces laterais. Na face
lateral V A1 A2 , por exemplo, o segmento B1 B2 é paralelo à base. Em conse-
quência, o triângulo V B1 B2 é semelhante ao triângulo V A1 A2 . Logo, temos
V B1 V B2 B1 B2
= = = k. Aplicando o mesmo raciocínio para as demais
V A1 V A2 A1 A2
faces laterais, concluímos que a razão entre duas arestas correspondentes das
duas pirâmides é sempre igual a k .
10 MA13 - Unidade 15

Figura 9: Seccionando uma pirâmide por um plano paralelo à base.

Na verdade, as duas pirâmides do exemplo são semelhantes na razão k , ou


seja, é possível estabelecer uma correspondência entre seus pontos de modo
que a razão entre os comprimentos de segmentos correspondentes nas duas
guras seja constante.
Esta correspondência é estabelecida da seguinte forma: dado um ponto
P da pirâmide V A1 A2 · · · An , seu correspondente na pirâmide V B1 B2 . . . Bn
V P0
é o ponto P 0 sobre V P tal que = k . O ponto P 0 certamente pertence à
VP
segunda pirâmide. Além disso, tomando um segundo par de pontos corres-
pondentes Q e Q0 , os triângulos V P 0 Q0 e V P Q são semelhantes na razão k ,
P 0 Q0
o que implica em = k . Logo, a razão entre segmentos correspondentes
PQ
nas duas pirâmides é sempre igual a k , o que demonstra a sua semelhança.
O que zemos acima pode ser visto de maneira mais geral e transformado
em um método para obter uma gura espacial semelhante a uma gura dada.
Dado um ponto V do espaço e um número real k , a homotetia de centro V e
razão k é a função o que associa a cada ponto P do espaço o ponto P 0 sobre
V P tal que V P 0 = kV P (gura 10).
Duas guras F e F 0 são homotéticas quando existe uma homotetia σ
tal que σ(F ) = F 0 . Assim, as duas pirâmides do exemplo anterior são ho-
motéticas. Duas guras homotéticas são sempre semelhantes , pelo mesmo
argumento utilizado acima: dados dois pontos P e Q em F , seus correspon-
dentes P 0 e Q0 em F 0 são tais que os triângulos V P 0 Q0 e V P Q são semelhantes
Pontos, Retas e Planos II 11

Figura 10: Figuras homotéticas.

na razão k .

4 Atividades em Sala de Aula


Muitas vezes o professor tem diculdades em motivar o aluno para os con-
ceitos iniciais de Geometria no Espaço. Sugerimos a seguir algumas estraté-
gias para despertar um maior interesse por parte dos alunos.
Uma primeira recomendação é evitar apresentar o assunto já de forma
completamente arrumada para o aluno. É importante construir a classi-
cação da posição relativa de retas e planos com a participação dos alunos,
apresentando exemplos provocativos como o da gura 1.
Deve-se procurar, também, buscar exemplos de planos e retas em diversas
posições no espaço que cerca o aluno. Pode-se, por exemplo, convidar os
alunos a obter exemplos de retas reversas dentro da sala de aula.
A apresentação precoce de guras de interesse é uma outra forma de
motivar o aluno e demonstrar a relevância dos conceitos. O aluno deve ser
convidado a explorar as guras, identicando retas e planos e determinando
sua posição relativa.
É importante ilustrar casos de paralelismo em guras bem conhecidas,
como prismas e pirâmides.
Deve-se explorar bastante o conceito de semelhança, aproveitando para
fazer uma revisão de semelhança de guras planas. Atividades usando ho-
motetia para reduzir ou ampliar guras são também recomendadas.
12 MA13 - Unidade 15

Exercícios
1. Seja ABCD um paralelogramo. Pelos vértices A, B , C e D são traçadas
retas não contidas no plano ABCD e paralelas entre si. Um plano α corta
estas retas em pontos A0 , B 0 , C 0 e D0 , situados no mesmo semi-espaço relativo
ao plano de ABCD, de modo que AA0 = a, BB 0 = b, CC 0 = c e DD0 = d.
Mostre que a + c = b + d.

2. Por um ponto qualquer da aresta AB de um tetraedro qualquer ABCD


é traçado um plano paralelo às arestas AC e BD. Mostre que a seção deter-
minada por este plano no tetraedro é um paralelogramo.

3. Considere um paralelepípedo ABCDEF GH . Quais são as diversas for-


mas possíveis para uma seção determinada no sólido por um plano contendo
a aresta AB ?

4. Seja ABCDEF GH um paralelepípedo tal que AB = AD = AE = 6.


Estude as seções determinadas neste paralelepípedo pelos planos denidos
pelos ternos de pontos (M, N, P ) abaixo:
a) M = A, N = ponto médio de CG e P = ponto médio de DH
b) M = A, N = C , P = ponto médio de F G
c) M = A, N = ponto médio de CG e P = ponto médio de F G
d) M = ponto médio de AE , N = ponto médio de BC , P = ponto médio
de GH

5. Mostre que duas retas distintas paralelas a uma mesma reta são para-
lelas entre si.

6. Mostre que, por um ponto dado, passa um único plano paralelo a um


plano dado.
Pontos, Retas e Planos II 13

7. Sejam r e s retas do espaço concorrentes em P . Sejam r0 e s0 para-


lelas a r e s, respectivamente, traçadas por um ponto Q. Mostre que os
ângulos formados por r e s são iguais aos ângulos formados por r0 e s0 .

8. Considere dois planos α e β . Qual é o lugar geométrico dos pontos médios


dos segmentos cujos extremos estão em α e β , respectivamente? Examine
todas as possíveis posições relativas de α e β .

9. Dada uma reta r secante ao plano α e um ponto P exterior a r e a


α, diga como construir um segmento cujos extremos estão em r e α cujo
ponto médio seja P .

10. Dadas as retas reversas duas a duas r, s e t, encontrar uma reta que as
encontre nos pontos R, S e T , respectivamente, de modo que S seja ponto
médio de RT .

11. Uma câmera fotográca rudimentar pode ser construída fazendo um


pequeno furo em uma caixa, de modo que imagens de objetos sejam for-
madas na parede oposta e registradas em um lme, como ilustrado na gura
11.
Suponha que a câmara da gura tenha 10 cm de profundidade
a) Que dimensões terá a fotograa de uma janela de 3 m de comprimento
e 1,5 m de largura, paralela ao plano do lme e situada a 6 m da câmera?
b) Se uma pessoa tem 1,75 m de altura e o lme usado é de 35 mm × 25
mm, a que distância mínima da câmera a pessoa deverá car para que possa
ser fotografada de corpo inteiro?
14 MA13 - Unidade 15

Figura 11:
MA13 - Unidade 16

Perpendicularismo

Semana 17/10/2011 a 23/10/2011

1 Retas Perpendiculares

O conceito de perpendicularismo entre retas vem da Geometria Plana. Duas


retas concorrentes são perpendiculares quando se encontram formando quatro
ângulos iguais; cada um deles é chamado de ângulo reto. Naturalmente, esta
denição continua valendo para retas concorrentes do espaço.
Para estender o conceito para um par de retas quaisquer, consideramos
duas retas paralelas a elas conduzidas por um ponto arbitrário (gura 1).

Quando essas retas são perpendiculares, dizemos que as retas dadas inicial-
mente são ortogonais. Note que, de acordo com esta denição, retas perpen-
diculares são um caso particular de retas ortogonais.
2 MA13 - Unidade 16

Figura 1: Retas ortogonais.

2 Retas e Planos Perpendiculares


A gura 2 ilustra o conceito de perpendicularismo entre reta e plano. Dizemos
que uma reta é perpendicular a um plano quando ela é ortogonal a todas as
retas desse plano. Isto equivale a dizer que ela é perpendicular a todas as
retas do plano que passam pelo seu ponto de interseção com ele.

Figura 2: Retas perpendiculares a plano.

Baseados em nossa experiência, sabemos que por qualquer ponto de um


plano pode-se traçar uma única reta perpendicular a esse plano. Mas será que
Perpendicularismo 3

é possível mostrar tal fato a partir das propriedades básicas desenvolvidas


nos capítulos anteriores?
A resposta é armativa. O ponto crucial é estabelecer as condições míni-
mas a serem obedecidas para que uma reta seja perpendicular a um plano.
É interessante deixar que os alunos as descubram por si próprios, através da
seguinte situação. Como conduzir uma reta perpendicular ao plano de uma
mesa utilizando um pedaço de papel que tem pelo menos um bordo reto,
conforme ilustrado na gura 3a?
A solução consiste em dobrar o papel ao longo deste bordo reto, desdobrá-
lo parcialmente e repousar os lados do ângulo formado pelo bordo sobre a
mesa, conforme mostra a gura 3b. A reta que contém o vinco do papel é
perpendicular ao plano da mesa. Vejamos como interpretar esta construção.
Quando dobramos o papel ao longo do bordo, fazemos com que os ângulos
formados pelo vinco e por cada semi-reta determinada no bordo sejam con-
gruentes. Como os dois ângulos somam 180 o , cada um deles é reto. Logo,
a reta que contém o vinco é perpendicular ao bordo do papel. Quando re-
pousamos o papel sobre a mesa, a reta do vinco torna-se então perpendicular
a duas retas concorrentes do plano da mesa.

Figura 3: Como achar uma reta perpendicular a um plano.

O que a construção acima sugere é o seguinte teorema:

Teorema. Se uma reta é ortogonal a duas retas concorrentes de um plano


ela é perpendicular ao plano (ou seja, ela forma ângulo reto com cada reta
do plano).
4 MA13 - Unidade 16

Demonstração. Sejam s e t duas retas de α que se encontram em A, ambas


ortogonais a r. Sem perda de generalidade, podemos supor que r passa por
A (senão tomamos uma paralela a r passando por A) (gura 8.4). Vamos
mostrar que toda reta u de α passando por A é perpendicular a r. Se u co-
incide com s ou t, então u é certamente perpendicular a r. Senão, tomemos
uma reta v de α tal que seu ponto de interseção U com u esteja entre os
pontos de interseção S e T com s e t. Em cada semiplano determinado por
α tomemos pontos A1 e A2 tais que AA1 = AA2 .
Os triângulos retângulos A1 AS e A2 AS são certamente iguais, já que
A1 A = A2 A e o cateto AS é comum. Logo, A1 S = A2 S . Analogamente, os
triângulos A1 AT e A2 AT são iguais, daí resultando A1 T = A2 T . Examinan-
do, então, os triângulos A1 ST e A2 ST , observamos que o lado ST é comum
e os demais lados são respectivamente iguais. Portanto, estes triângulos são
iguais. Mas da igualdade de A1 ST e A2 ST resulta também a igualdade de
A1 SU e A2 SU (SU é comum, A1 S = A2 S e os ângulos A1 SU e A2 SU são
iguais). Logo, A1 U = A2 U e, daí, os triângulos A1 AU e A2 AU são iguais, por
possuírem lados respectivamente iguais. Mas isto acarreta a igualdade dos
ângulos A1 AU e A2 AU . Como A1 , A e A2 são colineares, cada um daqueles
ângulos é necessariamente reto. Ou seja, u é perpendicular a r.

Figura 4: Condição para perpendicularismo.


Perpendicularismo 5

Assim, provamos que toda reta de α passando por A é perpendicular a r e


portanto, que r e α são perpendiculares. À primeira vista, a estratégia usada
na demonstração do teorema acima pode parecer articial (como saber que
deveríamos começar tomando pontos sobre r simétricos com relação a A?).
Ela reete, no entanto, a íntima relação entre perpendicularismo, congruência
e simetria. O uso de pontos simétricos em relação a A permitiu o uso de
congruência de triângulos para mostrar que r forma ângulos iguais com uma
reta arbitrária do plano, ou seja, que r é perpendicular a essa reta.
Com o auxílio do teorema acima, podemos, então, fazer duas construções
fundamentais:

Construção do plano perpendicular a uma reta por um de seus


pontos. Seja r uma reta e A um de seus pontos (gura 5). Tomemos dois
planos distintos contendo r e, em cada um, tracemos a perpendicular a r
passando por A. Estas duas retas determinam um plano, que certamente é
perpendicular a r, já que r é perpendicular a duas retas concorrentes deste
plano.

Construção da reta perpendicular a um plano por um de seus pon-


tos. Consideremos um plano α e um ponto A em α. Tomemos duas retas
concorrentes s e t, ambas passando por A e contidas em α. Utilizando a
construção anterior, existem planos β e γ , contendo A e respectivamente
perpendiculares a s e t. A reta r de interseção de β e γ é perpendicular a
s e a t, por estar contida em planos respectivamente perpendiculares a cada
uma delas. Logo, r é perpendicular a α.

Acima, mostramos como construir um plano perpendicular a uma reta


passando por um de seus pontos. Na verdade, aquele é o único plano per-
pendicular à reta passando pelo ponto dado. Da mesma forma, a reta perpen-
dicular a um plano dado passando por um de seus pontos também é única.
Outra observação é que não é preciso, nos teoremas acima, exigir que o ponto
6 MA13 - Unidade 16

Figura 5: Construção de plano perpendicular a uma reta.

Figura 6: Contrução de reta perpendicular a um plano.

dado pertença à reta dada ou ao plano dado. Ou seja, por qualquer ponto
do espaço passa um único plano perpendicular a uma reta dada e uma única
reta perpendicular a um plano dado. Tudo isso é consequência dos seguintes
fatos a respeito de retas e planos perpendiculares (veja o exercício 2).

• Se uma reta é perpendicular a um plano, toda reta paralela a ela é


também perpendicular ao mesmo plano.

• Se um plano é perpendicular a uma reta, todo plano paralelo a ele é


Perpendicularismo 7

também perpendicular à mesma reta.

• Se duas retas distintas são perpendiculares ao mesmo plano, elas são


paralelas entre si.

• Se dois planos distintos são perpendiculares à mesma reta, eles são


paralelos entre si.

Exercícios
1. É verdade que duas retas distintas ortogonais a uma terceira são sempre
paralelas entre si?

2.Demonstre as seguintes propriedades:

a) Seja r uma reta perpendicular ao plano α. Toda reta paralela a r é


perpendicular a α; todo plano paralelo a α é perpendicular a r.

b) Duas retas distintas perpendiculares ao mesmo plano são paralelas entre


si. Dois planos distintos perpendiculares à mesma reta são paralelos
entre si.

3. O triângulo ABC , retângulo em A, está contido em um plano α. Sobre a


perpendicular a α traçada por C tomamos um ponto D. Por C traçamos, por
sua vez, as perpendiculares CE e CF a AD e BD, respectivamente. Mostre
que:
a) AB é perpendicular a AD
b) CE é perpendicular a EF
c) DF é perpendicular a EF

4. Seja r uma reta do espaço e P um ponto exterior a r. Qual é o lu-


gar geométrico dos pés das perpendiculares traçadas de P aos planos que
contém r?
8 MA13 - Unidade 16

5. Que poliedro tem por vértices os centros das faces de um tetraedro regu-
lar? de um cubo? de um octaedro regular?

6. Sejam V A, V B e V C três segmentos mutuamente perpendiculares. Mostre


que a projeção de V sobre o plano ABC é o ortocentro do triângulo ABC .

7. Mostre que dois planos são perpendiculares se e só se duas retas res-


pectivamente perpendiculares a cada um deles são ortogonais.

8. Se um plano α contém uma reta perpendicular a um plano β , então


o plano β contém uma reta perpendicular ao plano α. Certo ou errado?

9. Dada uma reta r e um plano α, diga se é sempre possivel construir


um plano perpendicular a α contendo r.
MA13 - Unidade 17

Perpendicularismo II

Semana 17/10/2011 a 23/10/2011

1 Construções Baseadas em Perpendicularismo


de Reta e Plano
A noção de reta perpendicular a plano permite-nos acrescentar diversas -

guras importantes à nossa coleção de guras espaciais.

Como vimos na demonstração do teorema a respeito das condições sucientes

para perpendicularismo de reta e plano, a ideia de perpendicularismo está

estreitamente relacionada às ideias de simetria e congruência. Por essa razão,

guras construídas com auxílio de retas e planos perpendiculares são ricas

em propriedades a serem exploradas.

Construção de prismas retos. Prismas retos são prismas obtidos toman-

do, para as arestas laterais, retas perpendiculares ao plano da base (gura

1). Em consequência, as faces laterais são retângulos. Há diversos casos

1
2 MA13 - Unidade 17

particulares importantes. Quando a base é um polígono regular obtemos um

prisma regular. Quando a base é um retângulo obtemos um paralelepípedo


retângulo (ou bloco retangular ), no qual cada face é um retângulo (assim, um
paralelepípedo retângulo é um prisma reto onde qualquer face serve como

base). Ainda mais especial é o caso do cubo − ou hexaedro regular −, para-


lelepípedo retângulo no qual cada face é um quadrado.

Figura 1:Um prisma hexagonal reto, um paralelepípedo, um cubo


e um cilindro de revolução.

De modo análogo, denimos cilindro reto como um cilindro no qual as ge-

ratrizes são perpendiculares ao plano da base. Um caso particular importante

é o cilindro circular reto, no qual a base é um círculo. A reta perpendicular

aos planos das bases passando pelo centro do círculo é chamada de eixo do
cilindro. Um cilindro circular reto também é chamado de cilindro de revo-
lução, pois é o sólido gerado quando um retângulo faz um giro completo em
torno do eixo dado por um de seus lados.

Construção de pirâmides regulares. São construídas tomando um polí-

gono regular A1 A2 . . . An como base e escolhendo como vértice um ponto

V situado sobre a perpendicular ao plano do polígono conduzida pelo seu

centro O (gura 2). Os triângulos retângulos V OA1 , V OA2 , . . . , V OAn são

triângulos retângulos iguais, por possuírem catetos respectivamente iguais

(V O é comum a todos e OA1 = OA2 = · · · = OAn , já que O é o centro do


Perpendicularismo II 3

polígono). Em consequência V A1 = V A2 = · · · = V An , o que faz com que

as faces laterais sejam triângulos isósceles iguais.

Podemos fazer uma construção análoga tomando como base um círculo e

como vértice um ponto situado sobre a perpendicular ao plano da base. A

gura assim obtida é chamada de cone circular reto. A reta que contém o

vértice e o centro da base é chamada de eixo do cilindro. Um cone circular

reto também é chamado de cone de revolução, por ser gerado pela rotação

de um triângulo retângulo em torno do eixo dado por um dos catetos.

Figura 2: Uma pirâmide quadrangular regular e um cone de revolu-


ção.

Construção de um tetraedro regular. Consideremos uma pirâmide tri-

angular regular de base ABC e vértice V. Um tetraedro regular é obtido

escolhendo o vértice V (sobre a perpendicular ao plano da base traçada por

seu centro O) de modo que as arestas laterais V A, V B e V C sejam iguais às


arestas AB , AC e BC da base (gura 3). As faces da pirâmide assim obtida

são triângulos equiláteros iguais. Além disso, se por A tomamos a perpendi-

cular ao plano de V BC , que corta este plano em P , os triângulos retângulos

AP B , AP V e AP C são iguais, já que suas hipotenusas são iguais e o cateto


AP é comum a todos os três. Assim, temos P B = P C = P V. Logo, P é
o centro do triângulo equilátero V BC , o que faz com que a pirâmide seja

regular qualquer que seja a face tomada como base.


4 MA13 - Unidade 17

Figura 3: Um tetraedro regular.

A gura sugere que as retas VO e AP (isto é, as retas perpendiculares a

duas faces do tetraedro regular traçadas pelo vértice oposto a cada uma

destas faces) sejam coplanares. De fato isto ocorre. Consideremos o plano

α determinado pela reta V O e pelo vértice A. Este plano corta o plano da


base ABC segundo a reta AO . Mas como ABC é um triângulo equilátero

de centro O , AO corta o lado BC em seu ponto médio M . Logo, a altura

V M da face V BC está contida no plano α; em particular, o ponto P , que


é o centro de V BC , está neste plano. Logo, a reta V P está contida em α,

o que mostra que V P e AO são concorrentes. Como os pontos de V O são

equidistantes de A, B e C e os pontos de AP são equidistantes de V , B e

C , o ponto de interseção de V O e AP é um ponto equidistante dos quatro


vértices do tetraedro, chamado de centro do tetraedro. O argumento acima

mostra, na realidade, que as quatro perpendiculares traçadas de cada vértice

à face oposta passam todas pelo ponto O.

Construção de um octaedro regular. Um octaedro regular pode ser

construído a partir de três segmentos iguais e mutuamente perpendiculares

AB , CD e EF que se cortam no ponto médio O de cada um deles (gura 4).

Os segmentos denidos por estes pares de pontos (exceto os que denem os

segmentos originais) são todos iguais. Traçando todos estes segmentos obte-

mos um poliedro com oito faces triangulares regulares, chamado de octaedro


regular. Um octaedro regular pode ser também obtido tomando duas pirâ-
Perpendicularismo II 5

mides quadrangulares regulares iguais em que as faces laterais são triângulos

equiláteros e justapondo estas pirâmides através de suas bases.

Figura 4: Um octaedro regular.

O tetraedro regular, o hexaedro regular e o octaedro regular são exemplos de

poliedros regulares. Um poliedro regular é um poliedro em que todas as faces

são polígonos regulares iguais e todos os vértices são incidentes ao mesmo

número de arestas. Como veremos posteriormente, é possível demonstrar

que, além dos três poliedros regulares apresentados acima, existem apenas

dois outros: o dodecaedro regular, com 12 faces pentagonais, e o icosaedro


regular, com 20 faces triangulares.

Projeções ortogonais. A projeção ortogonal de um ponto P do espaço


0
sobre um plano α é o ponto P em que a perpendicular a α traçada por P
corta α. A projeção ortogonal de uma gura qualquer F é obtida projetando-

se cada um de seus pontos.

Uma ou mais projeções ortogonais são frequentemente utilizadas como forma

de representar guras espaciais no plano. Em Desenho Técnico, por exemplo,

é comum representar sólidos (que podem ser, por exemplo, peças mecânicas)

através de três vistas ortográcas : frontal, topo e perl, que são o resultado

de projetar as guras em três planos denidos dois a dois por três eixos
6 MA13 - Unidade 17

Figura 5: Projeção ortogonal.

mutuamente perpendiculares. A vista frontal, por exemplo, mostra como

um observador situado à frente do objeto e innitamente distante do objeto,

o veria. As demais vistas têm interpretações análogas.

A gura 6 mostra um sólido e suas vistas. Nestas vistas são desenhadas

as projeções ortogonais das arestas do sólido. Observe que alguns segmentos

são representados em tracejado. Isto signica que eles são obscurecidos por

alguma face do sólido (isto é, existe algum ponto do objeto, situado mais

próximo do observador, cuja projeção está sobre o segmento).

Figura 6: Um sólido e suas vistas.

Pedir que o aluno desenhe vistas de sólidos é uma excelente forma de

desenvolver sua visão especial. Um exercício ainda mais interessante é o de

resgatar um sólido a partir de suas vistas.


Perpendicularismo II 7

Simetria e reexão. O simétrico de um ponto P em relação a um plano α


é o ponto P0 obtido através da seguinte construção (gura 7). Conduzimos

por P a reta perpendicular a α, α em Q. O ponto P 0 é o ponto


que corta
0 0
sobre o prolongamento de P Q tal que QP = P Q (isto é, P é o simétrico de

P em relação a Q). O ponto resultante P 0 pode ser interpretado como sendo


a imagem do ponto P reetida em um espelho plano coincidente com α.

Este é um bom momento para observar que também na Geometria (como

em toda a Matemática), podemos fazer bom uso do conceito de função. Se

designamos por E o conjunto dos pontos do espaço, a função R : E → E


0
que associa a cada ponto P do espaço o seu simétrico P em relação a α é

chamada de simetria ou reexão em torno de α. Funções que associam pontos

do espaço a pontos do espaço são muitas vezes chamadas de transformações

do espaço. Reexões são exemplos de isometrias, isto é, de transformações

do espaço que têm a propriedade de que a distância entre as imagens de

dois pontos quaisquer é igual à distância entre os dois pontos (dizemos, por

esse motivo, que isometrias preservam distâncias). O livro Isometrias, de

Elon Lages Lima, da Coleção do Professor de Matemática da SBM, é uma

ótima referência para um estudo da Geometria sob o ponto de vista das

transformações do espaço.

Figura 7: Simetria em relação a um plano.

Sistema de coordenadas tridimensionais. Um sistema de coordenadas


8 MA13 - Unidade 17

para o espaço é construído a partir de três eixos mutuamente perpendicu-

lares e com uma origem comum. Para construir um tal sistema, basta tomar

duas retas perpendiculares contidas em um certo plano e conduzir a reta

perpendicular a este plano passando pelo ponto de interseção das retas. As

coordenadas de um ponto P qualquer do espaço são obtidas através da inter-

seção com cada eixo do plano que passa por P e é perpendicular ao eixo. Isto

também equivale a obter a projeção ortogonal de P sobre os planos denidos

por cada par de eixos e, a seguir, projetar os pontos obtidos sobre cada eixo.

Figura 8: Sistema de coordenadas tridimensionais.

2 Planos Perpendiculares
Tomemos dois planos secantes α
β e tracemos um plano γ perpendicular à
e

sua reta r de interseção, que corta α e β segundo as retas s e t. O ângulo

entre s e t não depende da posição escolhida para γ (todos os planos perpen-

diculares a r são paralelos entre si e, portanto, cortam α e β segundo retas

respectivamente paralelas). Quando s e t formam um ângulo reto, dizemos

que os planos α e β são perpendiculares (gura 9).

Note que se α e β são perpendiculares então a reta r de α é perpendicular


às retas s e t de β . Logo, r é uma reta de α que é perpendicular a β . Na
Perpendicularismo II 9

Figura 9: Planos perpendiculares.

verdade, a existência em um plano de uma reta perpendicular a um outro é

condição necessária e suciente para que os planos sejam perpendiculares.

Teorema. Dois planos α e β são perpendiculares se e somente se um deles

contém uma reta perpendicular ao outro.

Demonstração. Se α β são perpendiculares então certamente existe uma


e

reta de α perpendicular a β , conforme explicamos no parágrafo anterior. Por

outro lado, suponhamos que uma reta r de α seja perpendicular a β (gura

10). O plano α corta β segundo uma reta t, que é perpendicular a r . Pelo

ponto de interseção de r e t traçamos a reta s, contida em β e perpendicular

a t. O plano denido por r e s é perpendicular a t, já que contém duas

retas que lhe são perpendiculares. Logo, o ângulo formado por α e β é, por

denição, o ângulo formado por r e s. Mas r e s são perpendiculares, já que

r é perpendicular a β . Portanto, α e β são de fato perpendiculares.


Nos exemplos vistos no nal da seção anterior aparecem vários pares

de planos perpendiculares. Em cada caso, o argumento para justicar o

perpendicularismo entre os planos consiste em identicar uma reta em um

dos planos que seja perpendicular ao outro e aplicar o teorema anterior.

Assim, as faces laterais de um prisma reto são perpendiculares ao plano

da base, já que cada face lateral contém uma aresta lateral perpendicular à
10 MA13 - Unidade 17

base. O plano contendo as alturas V O e AP do tetraedro regular V ABC é


perpendicular às faces ABC e V BC , já que as alturas são perpendiculares às
respectivas bases. Os planos denidos por cada par de eixos em um sistema

de eixos ortogonais tridimensional são mutuamente perpendiculares, já que

cada um desses planos contém um eixo que é perpendicular a cada um dos

outros dois e, em consequência, ao plano formado por eles.

Figura 10: Critério de perpendicularismo de planos.

3 Atividades em Sala de Aula


O professor pode explorar o perpendicularismo de retas e planos no mundo

que cerca o aluno: paredes, encontro de paredes, etc.

Devem ser feitos exercícios com vistas de objetos tridimensionais, quer

pedindo aos alunos que desenhem as vistas de um objeto, quer pedindo que

eles reconheçam objetos a partir de suas vistas.

Exercícios
1. Mostre que um plano é perpendicular a dois planos secantes se e somente

se ele é perpendicular à reta de interseção dos dois planos.


Perpendicularismo II 11

2. Em um cubo ABCDEF GH mostre que os planos diagonais ABHG e

EF DC são perpendiculares.

3. Desenhe as vistas frontal, superior e de perl dos sólidos abaixo.

Figura 11:

4. Desenhe um sólido cujas vistas frontal, superior e de perl sejam as dadas

na gura 12, abaixo.

Figura 12:

5. A gura 13, abaixo, representa as vistas frontal e superior de um sólido.

Que sólidos você consegue imaginar que tenham essas vistas? Para cada caso,
12 MA13 - Unidade 17

forneça a vista de perl.

Figura 13:

6. Dizemos que um plano α é um plano de simetria de uma gura F quando


a imagem de F pela reexão em torno de α é igual a F . Encontre os planos

de simetria (se existirem) das seguintes guras

a) cubo

b) tetraedro regular

c) pirâmide quadrangular regular

d) cilindro de revolução

e) cone de revolução

7. Dado um ponto P = (x, y, z) em um sistema de coordenadas ortogo-

nais, encontre as coordenadas:

a) da projeção de P no plano xy
b) da projeção de P no eixo Oz

c) do simétrico de P em relação ao plano xz

8. A gura 14, abaixo, mostra a planta de um quarto, com pé direito igual a

3m. Deseja-se instalar um o conectando uma lâmpada, localizada no centro

do teto, ao interruptor, situado a 80 cm de altura, junto à porta indicada na

planta (cuja altura é 1,95 m).


Perpendicularismo II 13

Figura 14:

Determine o comprimento de o necessário nos seguintes casos:

a) O o deve se manter, tanto no teto como na parede, paralelo a uma

das três direções principais.

b) O o, na parede, deve car colocado segundo a vertical.

c) O o pode car em qualquer posição na parede e no teto.


MA13 - Unidade 18

Medindo Distâncias e Ângulos

Semana 24/10/2011 a 30/10/2011

1 Distância Entre Dois Pontos


A distância entre dois pontos A e B é simplesmente a medida do segmento

AB . No plano, a distância entre dois pontos é frequentemente obtida uti-

lizando o Teorema de Pitágoras. Isto ocorre porque muitas vezes dispomos

das medidas das projeções de um segmento segundo duas direções perpendi-

culares. Esta situação frequentemente ocorre também no espaço. Novamente,

a ferramenta a utilizar é o Teorema de Pitágoras.

Diagonal de um paralelepípedo . Consideremos o problema de calcu-

lar a diagonal BH = d de um paralelepípedo retângulo ABCDEF GH de

arestas AB = a, AD = b e AE = c (gura 1). Resolvemos o problema

utilizando o Teorema de Pitágoras nos triângulos retângulos ABD e BDH


(este segundo triângulo é retângulo porque BH é perpendicular ao plano da

base e, assim, perpendicular à reta BD que está contida nesta base).


2 MA13 - Unidade 18

BD2 = a2 + b2 (no triângulo ABD) e d2 = BD2 + c2 (no triângulo


Temos:

BDH ). Logo, d2 = a2 + b2 + c2 .

Em particular, a diagonal de um cubo de aresta a mede d = a 3.

Figura 1: Diagonal de um paralelepípedo.

Plano mediador. Qual é o lugar geométrico dos pontos do espaço que são

equidistantes de dois pontos dados A e B?

Figura 2: O plano mediador.

Sabemos que, no plano, o conjunto dos pontos equidistantes de AeB é a

reta mediatriz de AB ; isto é, a perpendicular a AB passando pelo seu ponto


Medindo Distâncias e Ângulos 3

médio M. A situação é análoga no espaço.

Um ponto P do espaço é equidistante de A e B se e somente se PM é


perpendicular a AB (gura 2). De fato, se P M é perpendicular a AB , os
triângulos retângulos P MA P M B são iguais, por possuírem um cateto
e

comum P M e catetos iguais M A e M B ; assim, P A = P B . Por outro lado,

se P A = P B , então os triângulos P AM e P BM são iguais, por possuírem

lados respectivamente iguais; logo, os ângulos P M A e P M B são iguais e,

portanto, retos. Provamos, então, que os pontos do espaço equidistantes de

A e B são todos aqueles pontos P tais que a reta P M é perpendicular a

AB . Mas estes são exatamente os pontos do plano que passa por M e é

perpendicular a AB ; este é o chamado plano mediador de AB .

2 Distância de Ponto a Plano


A distância de um ponto P a um plano α é denida como o comprimento do

segmento de perpendicular traçada de P a α. R é um outro ponto


Note que se

qualquer do plano, o triângulo P QR é retângulo e tem P Q como cateto e

P R como hipotenusa. Assim, o comprimento da perpendicular P Q é menor


que o comprimento de qualquer oblíqua P R.

Figura 3: Distância de ponto a plano.

Se uma reta r é paralela a um plano (gura 4a), todos os seus pontos

estão a igual distância do plano. De fato, se de dois pontos P1 e P2 da reta


4 MA13 - Unidade 18

r α traçamos as perpendiculares P1 Q1 e P2 Q2 a α, obtemos um


paralela a

retângulo P1 P2 Q2 Q1 . Logo, P1 Q1 = P2 Q2 .

Analogamente, se β é um plano paralelo a α, todos os seus pontos estão à

mesma distância d de α (gura 4b). O número d é a distância entre os planos

α e β . Note que d é igual ao comprimento do segmento determinado pelos


planos em qualquer reta perpendicular a ambos. Note também que qualquer

segmento de extremos em α e β tem comprimento maior do que ou igual a

d.

Figura 4: Paralelismo e distância.

Exemplo. Em um tetraedro regular ABCD de aresta a, qual é a distância

do vértice A ao plano BCD ? (Isto é, qual é altura do tetraedro?)

Empregamos, mais uma vez o teorema de Pitágoras. Seja H a projeção


de A sobre o plano BCD (gura 5). Já vimos antes que o ponto H é o centro

do triângulo equilátero BCD . Examinemos o triângulo retângulo AHB . O

lado AB é a aresta do tetraedro; logo, AB = a. O lado HB é o raio do

círculo circunscrito no triângulo equilátero de lado a; logo


a 3
HB = .
3
Temos, então:

 √ 2 √
2 a 3 a 6
AH + = a2 e, daí, AH = .
4 3
Medindo Distâncias e Ângulos 5

Figura 5: Altura de tetraedro regular.

Na gura representamos não somente o triângulo AHB mas a seção com-

pleta (o triânguloABM ) determinada no tetraedro regular pelo plano que


o contém. O ponto M é o ponto médio da aresta CD . No triângulo ABM

aparecem quase todos os elementos métricos importantes do tetraedro regu-

lar. Além da altura do tetraedro (que é a altura relativa a A do triângulo

ABM ), nele aparecem o ângulo entre duas faces, o ângulo entre uma aresta

e uma face, a distância entre arestas opostas e os raios das esferas inscrita,

circunscrita e tangente às arestas do tetraedro.

3 Distância de Ponto a Reta


Dado um ponto P e uma reta r do espaço, o ponto Q r corta
em que a reta

o plano perpendicular a r passando por P é chamado de projeção ortogonal

de P sobre r (gura 6). O comprimento do segmento P Q é a distância de P

a r . Quando P não pertence à reta r , os pontos P e Q são distintos e P Q é

a única reta perpendicular a r traçada por P (P e r denem um único plano

e, neste plano, P Q é a única perpendicular a r passando por P ). Se R é um

outro ponto qualquer de r , o triângulo P QR tem hipotenusa P R e cateto

P Q; logo P Q < P R (isto é, o comprimento da perpendicular é menor que o


comprimento de qualquer oblíqua).

Assim, o cálculo da distância de um ponto a uma reta envolve o traçado


6 MA13 - Unidade 18

da perpendicular à reta passando pelo ponto. Uma situação muito comum

é aquela onde a reta r esteja situada sobre um plano de referência (por

exemplo, o plano do chão). Nestas situações, é muitas vezes desejável que

a construção da reta perpendicular se apoie em elementos deste plano de

referência. Isto se torna simples com o auxílio do chamado Teorema das Três

Perpendiculares.

Figura 6: Distância de ponto a reta.

Teorema. Se por um ponto P traçamos a perpendicular P P 0 ao plano α e


0
por um ponto qualquer Q de α traçamos a reta r perpendicular a P Q, então

a reta P Q é perpendicular a r .

Demonstração. Basta observar que as retas PP0 e P 0Q são ambas or-

togonais a r, já que PP0 é perpendicular a um plano contendo r e P 0Q é

perpendicular a r. Logo, o plano denido por essas retas é perpendicular a

r e, portanto, a reta PQ desse plano é perpendicular a r.


Observe que a distância de P a r (isto é, o comprimento do segmento

P Q) pode ser calculada com o auxílio do Teorema de Pitágoras, uma vez

conhecidos os comprimentos dos segmentos PP0 (distância de P a α) e P 0Q


(distância de P0 à reta r). Em muitos problemas práticos, estas duas últimas
Medindo Distâncias e Ângulos 7

distâncias são fáceis de calcular, bastando escolher sabiamente o plano de

referência contendo r.

Figura 7: Teorema das Três Perpendiculares.

Exemplo. Considere um paralelepípedo retângulo ABCDEF GH em que

AB = 15, AD = 20 e AE = 16 (gura 8). Qual a medida do menor segmento


que liga o vértice E a um ponto da reta BD ?

A perpendicular baixada de E ao plano ABCD corta esse plano em A;


daí, traçamos a perpendicular AM a BD . Pelo teorema das três perpendi-

culares, EM é perpendicular a BD e é, portanto, o menor segmento que liga

E a BD. Para calcular seu comprimento, trabalhamos em dois triângulos


retângulos. No triângulo ABD , conhecemos os catetos AB = 15 e AD = 20;

daí, obtemos a hipotenusa BD = 25 e a altura

15 × 20
AM = = 12.
25

No triângulo EAM são conhecidos os catetos EA = 16 e AM = 12. Daí,

obtemos a hipotenusa EM = 20.


8 MA13 - Unidade 18

Figura 8:

4 Distância Entre Retas Reversas


Vimos acima diversos casos em que denimos a distância entre duas guras −
isto é, dois conjuntos de pontos − do espaço. Todos estes casos são situações

particulares abrangidas pela seguinte denição: dadas duas guras F1 e F2 ,


denimos a distância entre F1 e F2 como o comprimento do menor segmento
que tem extremos em F1 e F2 . Por exemplo, a distância de um ponto a um
plano foi denida de modo a ser, de fato, o comprimento do menor segmento

com um extremo no ponto dado e outro no plano.

Vamos empregar esta denição para um par de retas do espaço. Segundo

esta denição, a distância entre duas retas concorrentes (ou coincidentes) é

igual a zero. Se as retas são paralelas (logo coplanares), ocorre uma situação

já estudada na Geometria Plana: cada ponto da primeira reta está a uma

distância constante da segunda. Esta distância constante (que é o compri-

mento do segmento determinado por qualquer perpendicular a ambas) é a

distância entre as retas.

O caso mais interessante ocorre quando as duas retas são reversas. Tam-

bém neste caso o segmento de comprimento mínimo é dado por uma reta

perpendicular a ambas; mas agora existe uma só perpendicular comum às

duas retas. Veremos, a seguir, como construir esta perpendicular comum.

Construção da perpendicular comum a duas retas reversas. Come-


Medindo Distâncias e Ângulos 9

çamos por traçar o par de planos paralelos α e β (gura 9) contendo cada

uma das retas (para obter tais planos basta construir, por um ponto de cada

uma das retas, uma paralela à outra). A seguir, por um ponto A1 qualquer

de r traçamos uma reta t, perpendicular ao plano β, que o corta em B1 .


Por B1 , traçamos a paralela r0 a r. A reta r0 está contida em β e corta s no
0
ponto B2 . Finalmente, por B2 traçamos a reta t paralela a A1 B1 . Note que
0 0 0
as retas t , t, r e r estão todas em um mesmo plano. Logo, t corta r em um
0
ponto A2 . A reta t forma ângulo reto com r e s (por ser perpendicular aos

planos α e β ) e é concorrente com ambas. E, portanto, uma perpendicular

comum a r e s.

Figura 9: Perpendicular comum a duas retas reversas.

A perpendicular comum A2 B2 entre as reversas r e s construída acima é

única; basta observar que se existisse outra perpendicular comum CD, ela

seria necessariamente paralela a A2 B2 , por serem ambas perpendiculares

aos planos α e β. Mas assim os pontos C , D, A2 e B2 estariam todos no


mesmo plano. Desta forma, as retas r e s seriam coplanares, o que é uma
contradição.

Como a perpendicular comum a r e s é também a perpendicular comum

aos planos α e β , o comprimento do segmento por ela determinado é o menor


comprimento possível de um segmento cujos extremos sejam quaisquer pon-
10 MA13 - Unidade 18

tos de α e β. Em particular, como r e s estão respectivamente contidas em

α e β, qualquer segmento com extremos nesta reta terá comprimento maior

que o segmento da perpendicular comum. Logo, o comprimento do segmento

da perpendicular comum exprime a distância entre as duas retas.

Exemplo. A gura 10 mostra uma ilustração de uma sala. A reta AB


(determinada pelo encontro de duas paredes) é a perpendicular comum às

retas reversas AC e BD.

Figura 10:

Exercícios
1. Mostre que as arestas opostas de um tetraedro regular são ortogonais.

2. Considere os pontos médios das arestas BC , CD, BF , DH , EF e EH


de um cubo. Mostre que esses seis pontos estão no mesmo plano.

3. Qual é o lugar geométrico dos pontos equidistantes de três pontos não

colineares?
Medindo Distâncias e Ângulos 11

4. Qual é o lugar geométrico dos pontos equidistantes de dois planos se-

cantes dados? E se os planos forem paralelos?

5. As moléculas de metano (CH4 ) têm o formato de um tetraedro regu-

lar, com um átomo de hidrogénio em cada vértice, cada um deles ligado ao

átomo de carbono no centro do tetraedro. Calcule o ângulo formado por

duas dessas ligações.

6. Sejam r e s M N o segmento da per-


duas retas reversas ortogonais e

pendicular comum. Tomam-se um ponto A sobre r e um ponto B sobre s.

Calcular o comprimento do segmento AB em função de M A = a, N B = b e

M N = c.

7. Mostre que a reta que une os pontos médios de duas arestas opostas

de um tetraedro regular é a perpendicular comum a elas.

8. Qual é a seção determinada em um tetraedro regular ABCD por um

plano paralelo às arestas AB e CD e passando pelo ponto médio da aresta

AC ?

9. Em um tetraedro regular de aresta a, calcule os raios das esferas cir-

cunscrita, inscrita e tangente às arestas.

10. Em um octaedro regular de aresta a, calcule os raios das esferas cir-

cunscrita, inscrita e tangente às arestas.

11. Quatro esferas de raio 1 são tangentes entre si exteriormente três a

três e tangenciam internamente uma esfera de raio R. Determine R.


MA13 - Unidade 19

Medindo Distâncias e Ângulos II

Semana 24/10/2011 a 30/10/2011

1 Ângulo Entre Retas


Já vimos como podemos medir ângulo entre retas quaisquer no espaço: basta

tomar duas retas paralelas a elas passando por um ponto arbitrário. O ângulo

formado por essas retas concorrentes é o ângulo formado pelas retas dadas

inicialmente. Convém lembrar, da Geometria Plana, que o ângulo formado

por duas retas concorrentes é denido como o menor dos quatro ângulos que
o
elas formam; está, portanto, compreendido entre 0 (quando as retas são
o
paralelas ou coincidentes) e 90 (quando as retas são ortogonais).

2 Ângulo Entre Planos


Ao denir planos perpendiculares já introduzimos a forma pela qual o ângulo

entre dois planos α e β é medido. Quando α e β são secantes, traçamos um

plano γ perpendicular à reta de interseção de α e β , que corta α e β segundo

1
2 MA13 - Unidade 19

as retas r e s, respectivamente (gura 1). A medida do ângulo entre os

planos é, por denição, igual à medida do ângulo entre as retas r e s (é,


o o
assim, um valor entre 0 e 90 ). Note que este ângulo é o mesmo qualquer

que seja o plano γ: todos os planos perpendiculares à reta de interseção de

α e β são paralelos entre si, determinando com α e β retas de interseção

respectivamente paralelas.

Figura 1: Ângulo entre planos.

Tomemos agora um ponto A qualquer sobre o plano γ e dele traçamos


0 0
as retas r e s perpendiculares a α e β. Estas retas estão contidas em γ e

são perpendiculares a r e s, respectivamente. Portanto, o ângulo formado


0 0
por r e s é igual ao ângulo formado por r e s, que por sua vez é igual ao

ângulo formado pelos planos. Ou seja, demonstramos que o ângulo formado


por dois planos é igual ao ângulo formado por duas retas respectivamente
perpendiculares a estes planos .
Convém aproveitar a ocasião para falar em medida de um diedro. Um

diedro (ou ângulo diedro) é a gura formada por dois semiplanos − chamados
de faces do diedro − limitados pela mesma reta, chamada de aresta do diedro

(gura 2). Para medir um diedro, conduzimos um plano perpendicular à

aresta e medimos o ângulo entre as semiretas determinadas em cada face.


o o
Observe que a medida de um ângulo diedro pode variar entre 0 e 180 . Note
Medindo Distâncias e Ângulos II 3

também que o ângulo entre dois planos secantes é igual à medida do menor

diedro formado por eles.

Figura 2: Medida de um diedro.

3 Ângulo Entre Reta e Plano


Vejamos agora como denir o ângulo entre uma reta e um plano. Natural-
o
mente, este ângulo deverá ser igual a 90 quando a reta é perpendicular ao

plano e deverá ser igual a zero quando a reta está contida no plano ou é

paralela a ele. Se uma reta r é oblíqua a um plano α, denimos o ângulo

entre r e α como o ângulo que r forma com sua projeção ortogonal sobre α
(gura 3).

Consideremos agora uma reta qualquer s contida no plano α e vamos

comparar o ângulo θ0 formado por r e s com o ângulo θ formado por r e α.


Podemos supor que s passa pelo ponto O em que r corta α. Por um ponto P

de s exterior a α tracemos a perpendicular P Q ao plano α e a perpendicular

P R à reta s. Os triângulos retângulos OQP e ORP têm a hipotenusa comum


OP , enquanto os catetos opostos aos ângulos θ e θ0 são tais que P R > P Q.
0 0
Em consequência, sen θ > sen θ e, assim, θ > θ . Além disso, a igualdade

só ocorre quando a reta s é a projeção ortogonal de r sobre α. Portanto, o

ângulo entre uma reta r e um plano é igual ao menor ângulo formado por r
4 MA13 - Unidade 19

Figura 3: Ângulo entre retas e plano.

e uma reta qualquer do plano .

Exemplo. A gura 4 abaixo mostra a planta do telhado de uma casa.

Cada plano contendo uma porção do telhado é chamado de água; o telhado

da gura, portanto, possui 4 águas. Ao longo da reta de interseção de duas


o
águas corre uma calha. Sabendo que cada água é inclinada de 30 em re-

lação à horizontal, qual é a inclinação em relação à horizontal da calha AM


assinalada na gura?

Figura 4:

A gura 5 mostra uma vista em perspectiva do telhado, no qual estão


Medindo Distâncias e Ângulos II 5

representados os pontos P , Q e R, obtidos, respectivamente, projetando o


ponto M sobre as beiradas AB e AD do telhado e sobre o plano ABCD . Os

ângulos que as águas ABM e ADM N formam com a horizontal são iguais,

respectivamente, aos ângulos M P R e M QR. Como estes ângulos são ambos


o
iguais a 30 , os triângulo retângulos M QR e M P R são iguais, já que possuem

um cateto comum M R. Assim, designando a menor dimensão do retângulo

ABCD, por 2a temos:



3
RP = RQ = a e M R = RQ tg 30o = a .
3

O ângulo α que a reta AM forma com o plano horizontal é igual ao ângulo

RAM do triângulo retângulo M AR, do qual conhecemos os catetos MR


(calculado acima) e AR (diagonal do quadrado AP RQ). Assim:


a 3

MR 6
tg α= = √3
= e = 22o
α∼
AR a 2 6

Figura 5:
6 MA13 - Unidade 19

4 A Esfera
A superfície esférica (ou simplesmente esfera) de centro O e raio R é o con-

junto dos pontos do espaço cuja distância a O é igual a R. A esfera é o

análogo tridimensional do círculo, inclusive na ambiguidade de terminologia:

a palavra esfera tanto pode ser usada para se referir à superfície esférica

quanto ao sólido por ela determinado.

A posição de um ponto em relação a uma esfera é determinada pela

sua distância ao centro da esfera. Assim, pontos cuja distância ao centro

seja menor que, maior que, ou igual ao raio são, respectivamente, interiores,

exteriores ou estão sobre a superfície da esfera.

Da mesma forma, a posição de uma reta ou plano em relação a uma

esfera é determinada pela distância do centro a esta reta ou plano. Quando

a distância é maior que o raio, temos uma reta ou plano exterior à esfera

(ou seja, sem pontos de interseção com a esfera). Uma reta ou plano cuja

distância ao centro seja exatamente igual ao raio é tangente à esfera; isto

é, tem apenas um ponto em comum com a esfera (gura 6). Este ponto é

justamente o pé da perpendicular conduzida do centro da esfera a esta reta

ou plano. Finalmente, se a distância ao centro é menor que o raio, a reta ou

plano é secante à esfera.

Figura 6: Uma esfera, um plano tangente e duas retas tangente.


Medindo Distâncias e Ângulos II 7

A interseção de uma reta secante com a esfera é um par de pontos, en-

quanto um plano secante corta a esfera segundo um círculo . De fato, os

pontos de interseção de um plano com uma esfera são os pontos P do plano


cuja distância PO ao centro O da esfera é igual a seu raio R. Seja Q o pé da
perpendicular baixada de O ao plano α (gura 7). Qualquer que seja o ponto
P em α, o triângulo P OQ é retângulo em Q. Logo, P O2 = P Q2 + OQ2 e,
2 2 2
assim, P O = R se e somente se P Q = R − d , onde d = OQ é a distância

de O a α. Portanto, quando d < R, os pontos de α que estão na esfera se



encontram em um círculo de centro Q e raio R2 − d2 . Observe que esse raio
é máximo quando d = 0 (isto é, quando o plano contém o centro da esfera).

Círculos assim obtidos são chamados de círculos máximos da esfera e têm o

mesmo centro e o mesmo raio que a esfera.

Figura 7: Plano secante a uma esfera.

Exemplo. Calcule o raio das esferas circunscrita, inscrita e tangente às

arestas a um cubo de aresta a.


Em qualquer paralelepípedo, todas as diagonais (isto é, os segmentos que

ligam vértices opostos) têm um ponto comum, que é o ponto médio de cada

uma delas (basta observar que as diagonais de um paralelepípedo são, duas

a duas, diagonais de paralelogramos. O ponto de interseção das diagonais

é, na verdade, o centro de simetria do paralelepípedo. Se o paralelepípedo é

retângulo, todas as diagonais têm o mesmo comprimento; logo, existe uma


8 MA13 - Unidade 19

esfera centrada nesse ponto e que passa por todos os vértices. Essa esfera

é chamada de esfera circunscrita ao paralelepípedo. No caso do cubo, o

centro é também equidistante das 6 faces e equidistante das 12 arestas. Logo,

com o mesmo centro, existe também uma esfera tangente às faces (que é

a esfera inscrita no cubo) e uma esfera tangente às arestas. É fácil ver

que os raios das esferas circunscrita, inscrita e tangente às arestas do cubo

têm raios respectivamente iguais à metade de uma diagonal, à metade da

aresta e à metade da diagonal de uma face (gura 18). Logo, esses raios são

respectivamente:

√ √
a 3 a 0 a 2
R= , r= e r = .
2 2 2

Figura 8: As esferas associadas a um cubo.

5 Atividades em Sala de Aula


Problemas envolvendo cálculo de ângulos e distâncias são uma ótima forma

de xar as noções fundamentais de Geometria no Espaço. É especialmente

interessante formular problemas em que as guras representem objetos do

mundo real ou modelos que os alunos possam construir (veja os exercícios 5

e 6).
Medindo Distâncias e Ângulos II 9

Assim como na Geometria Plana o aluno toma contato com as circun-

ferências inscrita e circunscrita a certos polígonos, é natural estender esse

conceito para buscar esferas inscrita e/ou circunscrita aos poliedros estuda-

dos. A denição de esfera pode ser introduzida a qualquer momento. Ela

é a mesma denição de circunferência no plano. Relacionar esferas com os

sólidos em estudo é uma excelente forma de desenvolver o raciocínio e a visão

espacial dos alunos, porque, não podendo representá-la de forma conveniente

em um desenho, serão forçados a utilizar sua denição em situações que não

poderão desenhar. Vejamos as principais situações.

1. No cubo, os alunos devem identicar as 4 diagonais, calcular o com-

primento e concluir que elas se cortam no centro do cubo, como zemos no

exemplo acima. Esta é uma primeira e natural situação para introduzir a

esfera circunscrita, porque ca claro que esse ponto equidista de todos os

vértices. É também fácil concluir que o centro do cubo equidista de todas as

faces, introduzindo aí a esfera inscrita.

2. No paralelepípedo retângulo, os alunos devem calcular o comprimento

de uma diagonal, concluir que as 4 diagonais têm um ponto comum (o centro

do paralelepípedo) e que esse ponto é médio de cada uma delas. Ficará então

claro que o paralelepípedo retângulo possui uma esfera circunscrita cujo raio

é a metade de uma diagonal. A existência de uma esfera inscrita deve ser

questionada e os alunos deverão concluir que essa esfera existe se, e somente

se, o paralelepípedo retângulo for um cubo.

3. Ainda falando sobre o paralelepípedo retângulo o professor deve explorar

ângulos: o ângulo de uma diagonal com uma aresta, o ângulo de uma diagonal

com uma face e o ângulo entre duas diagonais. São exercícios interessantes e

que vão requerer uma revisão dos conceitos anteriores. Os co-senos desses ân-

gulos podem ser facilmente calculados em triângulos retângulos convenientes

e, no caso do ângulo entre duas diagonais, tem-se uma aplicação da lei dos
10 MA13 - Unidade 19

co-senos.

4. Nos prismas regulares, o professor poderá investigar com seus alunos

os mesmos temas: diagonais, ângulos e existência das esferas inscrita e cir-

cunscrita.

5. As pirâmides regulares (em particular as de bases triangular, quadrangu-

lar e hexagonal) possuem relações métricas interessantes e o professor poderá

mostrar que todas possuem sempre as esferas inscrita e circunscrita.

6. As áreas também devem ser exploradas. Denindo a área de um poliedro

como a soma das áreas de todas as suas faces, os alunos poderão calcular

também as áreas dos poliedros estudados.

7. Todo cilindro reto de base circular possui uma esfera circunscrita. Dado

o cilindro, não é difícil calcular o raio dessa esfera. Para isso, recomendamos

que o aluno imagine o cilindro e a esfera e desenhe uma seção meridiana,

ou seja, uma seção que contém o eixo do cone. Com isso, ele vai perceber

que calcular o raio de uma esfera circunscrita a um cilindro é o mesmo que

calcular o raio de uma circunferência circunscrita a um retângulo.

8. O cilindro reto de base circular só possui uma esfera inscrita se sua altura

for igual ao diâmetro da base. O cilindro que possui uma esfera inscrita é

chamado de cilindro equilátero.

9. O cone reto da base circular sempre possui esferas inscritas e circuns-

critas. Fazendo uma seção meridiana, o problema de calcular os raios dessas

esferas se reduz ao problema de calcular os raios das circunferências inscrita

e circunscrita a um triângulo isósceles. É um bom momento para recordar

elementos de geometria plana.


Medindo Distâncias e Ângulos II 11

10. Existem partes da superfície da esfera que os alunos devem conhecer

e associar aos termos usados na Geograa. Um plano que corta a esfera,

divide sua superfície em duas regiões. Cada uma delas se chama uma calota.

Se dois planos paralelos cortam a esfera, a parte da superfície da esfera com-

preendida entre eles é uma zona esférica. A geograa usa esses termos quando

se refere às calotas polares, zona equatorial e zona temperada. Essas regiões

são limitadas por circunferências contidas em planos paralelos ao plano do

equador da Terra, chamadas de Trópico de Câncer, Trópico de Capricórnio

e Círculos polares e o professor poderá buscar nos livros de Geograa a lo-

calização dessas circunferências.

Em um outro capítulo, quando estivermos estudando as superfícies de

revolução, calcularemos as áreas da zona e das calotas esféricas. As fórmulas

são simples e mesmo que não puderem ser demonstradas, fornecerão elemen-

tos para interessantes problemas.

11. Termos como equador, meridiano, pólo norte, etc. devem ser utiliza-

dos nos problemas porque são conhecidos e sobretudo úteis para a localização

de pontos sobre a esfera. O professor poderá explicar que xando um equador

e um meridiano, qualquer ponto da superfície da esfera ca determinado por

duas coordenadas: a latitude e a longitude.

12. Dois meridianos delimitam uma região da superfície esférica chamada

fuso esférico. Esses meridianos estão contidos em dois semi-planos cuja in-

terseção contém um diâmetro da esfera e o ângulo entre eles é o ângulo do

fuso.

Todos conhecem a expressão fuso horário. Teoricamente, a superfície da

Terra está dividida em 24 fusos, correspondendo a cada um, uma hora do dia.

Essa situação sugere o interessante problema de determinar que horas são em

determinada cidade do nosso planeta, no momento que essa pergunta estiver

sendo feita no Rio de Janeiro. Para responder, basta saber as longitudes

das duas cidades e conhecer como os fusos horários foram construídos. Essa
12 MA13 - Unidade 19

construção se encontra no exercício 9 dessa unidade.

Imaginamos que essas atividades sejam feitas na forma de exercícios para

não tornar a teoria ainda mais extensa. Isso se justica porque, na verdade,

não há nenhum teorema novo envolvido. Tudo o que se precisa utilizar são os

teoremas iniciais da Geometria Espacial e as propriedades e relações métricas

da geometria plana.

Exercícios
1. Um pedaço de papel em forma de um quadrado ABCD é dobrado ao
longo da diagonal AC de modo que os lados AB e AD passem a formar um
o
ângulo de 60 . A seguir, ele é colocado sobre uma mesa, apoiado sobre esses

lados. Nessas condições, calcule o ângulo que a reta AC e o plano ABC


formam com o plano horizontal.

Figura 9:

2. Um tetraedro pode ser construído a partir de um envelope da forma

descrita abaixo.

a) Tome um envelope comum, feche-o e trace as diagonais do retângulo

por ele determinado.

b) A seguir, corte o envelope como indicado, removendo seu quarto supe-

rior (b).
Medindo Distâncias e Ângulos II 13

c) Agora, dobre o envelope, encaixando uma borda na outra. Pronto!

Temos um tetraedro.

Figura 10:

Que propriedades interessantes possui o tetraedro formado? Sob que condições

ele é um tetraedro regular?

3. Considere três retas mutuamente perpendiculares x, y e z , concorrentes


em O. Uma reta r passa por O e forma ângulos iguais a α, β e γ com x, y e

z. Mostre que cos2 α + cos2 β + cos2 γ = 1.

4. Sejam α e β dois planos secantes. Considere uma reta r qualquer contida

em α. Mostre que o ângulo entre r e β é máximo quando r é perpendicular

à interseção de α e β (retas de um plano α que são perpendiculares à sua

interseção com o plano β são, por esta razão, chamadas de retas de máximo

declive de α em relação a β .)

5. Considere um octaedro regular de aresta α. Determine:

a) A distância entre duas faces opostas.

b) O ângulo diedro formado por duas faces adjacentes.

6. Sejam A e B pontos do espaço. Qual é o lugar geométrico dos pon-

tos P do espaço tais que o ângulo AP B seja reto?

7. Seja P um ponto exterior a um plano α e Q um ponto de α. Qual é

o lugar geométrico dos pés das perpendiculares traçadas de P às retas de α


14 MA13 - Unidade 19

que passam por Q?

8. Considere nove esferas de raio R, interiores a um cubo de aresta a, sendo

uma com centro no centro do cubo e cada uma das demais tangentes a três

faces e à esfera central. Calcule R em função de a.

9. O nosso planeta é dividido em regiões chamadas fusos horários de modo

que, em cada uma delas, teoricamente todos os relógios devem marcar a

mesma hora no mesmo instante. Qual é o ângulo central correspondente a

um fuso horário?

10. O fuso horário de referência (chamado GMT-O) é a região compreen-

dida entre as longitudes −7, 5o e +7, 5o . Abaixo estão as longitudes de seis

cidades:

Nova York −74◦


Rio de Janeiro −43◦
Paris 2◦
Atenas 24◦
Bagdá 45◦
Calcutá 88◦

Se são 12 horas no Rio, que horas serão nas outras cinco cidades?
MA13 - Unidade 20

Poliedros

Semana 31/10/2011 a 06/11/2011

1 Introdução
No programa de Geometria Espacial, este capítulo é quase independente dos

demais. Vamos aqui estudar, de uma forma geral, os sólidos formados por

faces, os chamados poliedros. Antes de mais nada, é preciso estabelecer

uma denição adequada para o nível de estudo que se pretende. Dizer ape-

nas que poliedros são sólidos formados por faces (partes limitadas de um

plano), pode dar uma ideia do que eles sejam, mas não serve absolutamente

como denição. Aliás, uma das causas da diculdade que os matemáticos

do passado tiveram para demonstrar teoremas sobre poliedros, estava justa-

mente na falta de uma denição precisa do signicado dessa palavra. Por

isso, vamos recomendar para o estudante do Ensino Médio, uma denição,

que não permita grandes generalidades, mas seja suciente para demonstrar

os teoremas e propriedades importantes.

Uma primeira ideia para denir os poliedros é a seguinte:  Poliedro é


2 MA13 - Unidade 20

uma reunião de um número nito de polígonos planos, onde cada lado de um

desses polígonos é também lado de um, e apenas um, outro polígono.

Cada um desses polígonos chama-se uma face do poliedro, cada lado

comum a duas faces chama-se uma aresta do poliedro e cada vértice de uma
face é também chamado vértice do poliedro.

Figura 1: Um poliedro.

A proposta de denição que demos é simples e bastante compreensível,

mas permite liberdades que, a nosso ver, não deveriam ser objeto de discussão

em um primeiro estudo dos poliedros. Por exemplo, a gura abaixo mostra

um sólido que, de acordo com essa denição, é um poliedro.

Figura 2: Um poliedro estranho.

É nossa opinião que, no Ensino Médio, não devemos ainda tratar de tais

objetos. Em um primeiro estudo, acreditamos que devemos dirigir nossa

atenção aos poliedros convexos, e é o que faremos aqui. Mesmo assim, por

motivos que o leitor perceberá adiante, será necessário acrescentar na pro-

posta de denição que demos uma restrição. Adotaremos então a seguinte


Poliedros 3

denição.

Denição. Poliedro é uma reunião de um número nito de polígonos planos


chamados faces onde:

a) Cada lado de um desses polígonos é também lado de um, e apenas um,

outro polígono.

b) A interseção de duas faces quaisquer ou é um lado comum, ou é um

vértice ou é vazia.

Cada lado de um polígono, comum a exatamente duas faces, é chamado

uma aresta do poliedro e cada vértice de uma face é um vértice do poliedro.

c) É sempre possível ir de um ponto de uma face a um ponto de qual-

quer outra, sem passar por nenhum vértice (ou seja, cruzando apenas

arestas).

Todo poliedro (no sentido da denição acima), limita uma região do es-

paço chamada de interior desse poliedro. Dizemos que um poliedro é convexo


se o seu interior é convexo. Vamos recordar o que isto signica.

Um conjunto C , do plano ou do espaço, diz-se convexo, quando qualquer


segmento de reta que liga dois pontos de C está inteiramente contido em C .

No caso dos poliedros, podemos substituir essa denição por outra equi-

valente, que nos será mais útil:

Um poliedro é convexo se qualquer reta (não paralela a nenhuma de suas

faces) o corta em, no máximo, dois pontos.

2 As Primeiras Relações
Dado um poliedro, vamos agora tratar do problema de contar as suas faces,

os seus vértices, e as suas arestas. Representaremos então por A, o número

de arestas, por F, o número de faces e por V o seu número de vértices.


4 MA13 - Unidade 20

Figura 3: Um poliedro convexo e um não convexo

Ainda, como as faces podem ser de gêneros diferentes, representaremos por

Fn (n > 3), o número de faces que possuem n lados. Da mesma forma, como

os vértices também podem ser de gêneros diferentes, representaremos por Vn


o número de vértices nos quais concorrem n arestas, e observe que, pelo item
(b) da denição do poliedro, cada vértice é um ponto comum a três ou mais

arestas.

São então evidentes as relações:

F = F3 + F4 + . . .

V = V3 + V4 + . . .

Imagine agora que o poliedro foi desmontado e que todas as faces estão

em cima de sua mesa. Quantos lados todos esses polígonos possuem? Fácil.

Basta multiplicar o número de triângulos por 3, o número de quadriláteros

por 4, o número de pentágonos por 5 e assim por diante, e depois somar os

resultados. Mas, como cada aresta do poliedro é lado de exatamente duas

faces, a soma anterior é igual ao dobro do número de arestas, ou seja,

2A = 3F3 + 4F4 + 5F5 + . . .

Podemos também contar as arestas observando os vértices do poliedro.

Se em cada vértice contarmos quantas arestas nele concorrem, somando os

resultados obteremos também o dobro do número de arestas (porque cada

aresta terá sido contada duas vezes: em um extremo e no outro). Logo,

2A = 3V3 + 4V4 + 5V5 + . . .


Poliedros 5

3 Duas Desigualdades
Dessas primeiras relações entre os elementos de um poliedro podemos deduzir

duas desigualdades: a) 2A > 3F e b) 2A > 3V . Observe a justicativa da

primeira.

2A = 3F3 + 4F4 + 5F5 + . . .


2A = 3(F3 + F4 + F5 + . . .) + F4 + 2F5 + . . .
2A = 3F + F4 + 2F5 + . . .
2A > 3F

Repare que a igualdade só vale se F4 = F5 = · · · = 0 , ou seja, se o

poliedro tiver apenas faces triangulares. A segunda desigualdade se justica

de forma análoga e, neste caso, a igualdade ocorrerá apenas quando em todos

os vértices concorrerem 3 arestas.

O resultado central deste capítulo é o Teorema de Euler. Seu enunciado,

por sua beleza e simplicidade, costuma fascinar os alunos da escola secundária

quando tomam contato com ele pela primeira vez: V − A + F = 2. A

observação do resultado em desenhos de poliedros ou em objetos do cotidiano

é estimulante e, sobretudo, intrigante. Porque sempre ocorre isso?

Na verdade, a relação de Euler não é verdadeira para todos os poliedros de

acordo com nossa denição. Mas, para os poliedros convexos ela é verdadeira.

Em contextos mais gerais, onde inclusive se adota uma denição de poliedro

menos restritiva que a nossa, o valor de V −A+F é chamado de característica


do poliedro. Não vamos aqui tratar dessas coisas, mas o leitor curioso poderá

encontrar farto material para leitura no livro Meu Professor de Matemática

do professor Elon Lages Lima, editado pela SBM.

O Teorema de Euler foi descoberto em 1758. Desde então, diversas

demonstrações apareceram na literatura e algumas continham falhas (como


6 MA13 - Unidade 20

a de Cauchy), que foram descobertas muitos anos mais tarde. Essas falhas

eram devidas à falta de precisão na denição de poliedro. Mesmo Euler nunca

se preocupou em denir precisamente essa palavra.

A demonstração que mostraremos aqui para poliedros convexos segue


o
quase integralmente a que foi publicada na RPM n 3 (1983) pelo professor

Zoroastro Azambuja Filho. Pela elegência e precisão dos argumentos, essa

demonstração merece ser publicada mais uma vez.

Teorema (Euler). Em todo poliedro com A arestas, V vértices e F faces,

vale a relação V − A + F = 2.
Iniciamos a demonstração calculando a soma dos ângulos internos de

todas as faces de um poliedro convexo P . As faces são numeradas de 1 até

F e seja nk o gênero da k -ésima face (1 6 k 6 F ). Lembrando que a soma

dos ângulos internos de um polígono convexo de gênero n é igual a π(n − 2)


e observando que se um poliedro é convexo então todas as suas faces são

polígonos convexos, teremos para a soma dos ângulos internos de todas as

faces de P a expressão:

S = π(n1 − 2) + π(n2 − 2) + · · · + π(nF − 2)

ou ainda,

S = π[(n1 + n2 + · · · + nF ) − (2 + 2 + · · · + 2)].
Ora, no primeiro parêntese, a soma dos números de lados de todas as faces é

igual ao dobro do número de arestas e no segundo parêntese, a soma das F


parcelas é igual a 2F . Assim,

S = π(2A − 2F ) = 2π(A − F ). (1)

Vamos agora escolher uma reta r que não seja paralela a nenhuma das

faces de P. Tomamos também um plano H, que não intersecta P e que seja

perpendicular a r. O plano H plano horizontal e as retas


será chamado

paralelas a r (logo perpendiculares a H ) serão chamadas retas verticais . H

divide o espaço em dois semi-espaços, um dos quais contém o poliedro P.


Poliedros 7

Este será chamado o semi-espaço superior e diremos que seus pontos estão

acima de H. Para melhor ilustrar o nosso raciocínio, imaginaremos o sol

brilhando a pino sobre o semi-espaço superior de modo que seus raios sejam

retas verticais. A cada ponto X do semi-espaço superior corresponde um

ponto X0 em H, chamado sombra de X. A sombra de qualquer conjunto C,


0
contido no semi-espaço superior é, por denição, o conjunto C , contido em

H, formado pelas sombras dos pontos de C.

Figura 4: A região iluminada e a região sombria.

Consideremos então a sombra P0 P . Como P é convexo, cada


do poliedro
0
ponto de P é sombra de um ou dois pontos de P (veja a nossa denição
0
alternativa de poliedro convexo). Ora, a sombra P do poliedro P tem como
0
contorno um polígono convexo K , sombra de uma poligonal fechada K for-
0
mada por arestas de P . Cada ponto de K é sombra de um único ponto

de P . A poligonal K é chamada de contorno aparente do poliedro P. Cada


0 0
ponto interior de P (portanto não pertencente a K )é sombra de exatamente

dois pontos de P . Dados dois pontos de P que têm mesma sombra, ao mais

alto (mais distante de H ) chamaremos ponto iluminado e o mais baixo será

chamado sombrio.
Depois dessas considerações, vamos calcular novamente a soma de todos

os ângulos das faces de P, observando que a soma dos ângulos internos de


8 MA13 - Unidade 20

uma face é a mesma soma dos ângulos internos de sua sombra (ambos são

polígonos de mesmo gênero). Sejam: V1 o número de vértices iluminados, V2


o número de vértices sombrios e V0 o número de vértices do contorno aparente
K . Então, V = V0 + V1 + V2 . Notemos ainda que V0 é o número de vértices
0 0
(e de lados) da poligonal K , contorno de P .

Consideremos então a sombra das faces iluminadas.

Figura 5: A sombra das faces iluminadas.

A sombra das faces iluminadas é um polígono convexo com V0 vértices

em seu contorno e V1 pontos interiores, sombra dos vértices iluminados de

P. A soma de todos os ângulos da gura anterior é:

S1 = 2πV1 + π(V0 − 2).

Por raciocínio inteiramente análogo, obteríamos para a soma de todos os

ângulos da sombra das faces sombrias,

S2 = 2πV2 + π(V0 − 2).

Somando as duas, obtemos:

S = 2πV1 + 2πV2 + 2π(V0 − 2) (2)

S = 2π(V1 + V2 + V0 − 2)
S = 2π(V − 2)
Poliedros 9

Comparando (1.1) e (1.2) e dividindo por 2π , resulta que A − F = V − 2, ou

seja,

V −A+F =2
Como queríamos demonstrar.

Comentários.
1) É fácil encontrar exemplos de poliedros não convexos que satisfazem a

relação de Euler. Por exemplo, se um poliedro P não convexo puder ser

colocado em uma posição de modo que sua sombra seja um polígono onde

cada um de seus pontos seja sombra de no máximo dois pontos de P, a de-

monstração que demos continua válida e a relação de Euler se verica.

2) Todas as relações que encontramos são apenas condições necessárias. Isto

quer dizer que não basta que três números A, V e F satisfaçam a elas para

que se tenha certeza da existência de um poliedro com essas características.

Exemplos.
1) A bola de futebol que apareceu pela primeira vez na Copa de 70 foi

inspirada em um conhecido poliedro convexo (descoberto por Arquimedes)

formado por 12 faces pentagonais e 20 faces hexagonais, todas regulares.

Pergunta-se quantos vértices possui tal poliedro.

Solução. De acordo com nossa notação, temos F5 = 12, F6 = 20 e portanto

F = 32. Determinamos em seguida o número de arestas desse poliedro:

2A = 5F5 + 6F6 = 5 · 12 + 6 · 20 = 180


A = 90.
Como o poliedro é convexo, vale a relação de Euler V − A + F = 2, de onde

concluímos que V = 60.

2) Descreva e mostre uma possibilidade para o desenho de um poliedro

convexo que possui 13 faces e 20 arestas.


10 MA13 - Unidade 20

Figura 6: A bola de futebol.

Solução. Imediatamente antes de concluir a desigualdade 2A 6 3F (volte

atrás no texto), tínhamos encontrado a relação

2A = 3F + F4 + 2F5 + . . . ,

ou seja,

2A − 3F = F4 + 2F5 + . . . .
Como A = 20 e F = 13, temos 1 = F4 + 2F5 + . . . , o que só é possível se

F4 = 1 e F5 = F6 = · · · = 0. Isto quer dizer que este poliedro deve possuir

uma única face quadrangular e todas as outras 12 faces triangulares. Como

pela relação de Euler ele deve possuir 9 vértices, um desenho possível é o que

está abaixo.

Exercícios
1. Um poliedro convexo de 20 arestas e 10 vértices só possui faces triangu-

lares e quadrangulares. Determine os números de faces de cada gênero.

2. Diagonal de um poliedro é qualquer segmento que une dois vértices que

não estão na mesma face. Quantas diagonais possui o icosaedro regular?

3. Mostre que para todo poliedro convexo valem as desigualdades


Poliedros 11

Figura 7: Uma solução do exemplo 2.

a) A + 6 6 3F
b) A + 6 6 3V

4. Mostre que se um poliedro convexo tem 10 arestas então ele tem 6 faces.

5. Descreva todos os poliedros que possuem 10 arestas.

6. Um poliedro convexo P possui A arestas, V vértices e F faces. Com

bases em cada uma das faces constroem-se pirâmides com vértices exteriores

a P. Fica formado então um poliedro P0 que só possui faces triangulares.

Determine os números de arestas, faces e vértices de P 0.


MA13 - Unidade 21

Poliedros II

Semana 31/10/2011 a 06/11/2011

1 Poliedros Regulares
Desde a antiguidade são conhecidos os poliedros regulares, ou seja, poliedros

convexos cujas faces são polígonos regulares iguais e que em todos os vértices

concorrem o mesmo número de arestas. O livro XIII dos Elementos de

Euclides (cerca de 100 a.C.) é dedicado inteiramente aos sólidos regulares e

contém extensos cálculos que determinam, para cada um, a razão entre o

comprimento da aresta e o raio da esfera circunscrita. Na última proposição

daquele livro, prova-se que os poliedros regulares são apenas 5: o tetraedro,

o cubo, octaedro, o dodecaedro e o icosaedro. A importância desse fato

ca evidente quando se percebe que a história dos séculos seguintes é farta

em exemplos de matemáticos, lósofos e astrônomos que tentaram elaborar

teorias de explicação do universo com base na existência desses 5 sólidos

regulares. Mesmo Kepler, 19 séculos depois dos Elementos de Euclides,

tentou elaborar uma cosmologia com base nos 5 poliedros regulares.

1
2 MA13 - Unidade 21

É natural interesse do professor secundário conhecer não só os poliedros

regulares, como também saber porque existem apenas cinco.

Denição. Um poliedro convexo é regular quando todas as faces são polí-

gonos regulares iguais e em todos os vértices concorrem o mesmo número de

arestas.

Teorema. Existem apenas cinco poliedros regulares convexos.

Para demonstrar, seja n o número de lados de cada face e seja p o número


de arestas que concorrem em cada vértice. Temos então 2A = nF = pV , ou

nF nF
A= e V = .
2 p
Substituindo na relação de Euler, obtemos

nF nF
− +F =2
p 2
4p
F = .
2p + 2n − pn
Devemos ter 2p + 2n − pn > 0, ou seja

2n
> p.
n−2
Como p > 3, chegamos a n < 6. As possibilidades são então as seguintes:


4p  p = 3 → F = 4 (tetraedro)

n = 3 −→ F = −→ p = 4 → F = 8 (octaedro)
6−p 
p = 5 → F = 20 (icosaedro)

2p
n = 4 −→ F = −→ p = 3 → F = 6 (cubo)
4−p
4p
n = 5 −→ F = −→ p = 3 → F = 12 (dodecaedro)
10 − 3p
Poliedros II 3

Figura 1: Os poliedros regulares.

2 O Caso Plano do Teorema de Euler


O Teorema de Euler foi demonstrado aqui para poliedros convexos. Mas não

é difícil observar que ele vale também em outras situações. Vamos descrever

uma situação em que o Teorema de Euler se aplica em regiões de um plano.

Tomemos um poliedro convexo P e uma esfera S que o contenha. A partir de

um ponto interior ao poliedro, projetamos P sobre S como mostra a gura

a seguir.

A função f :P →S é denida da seguinte forma. Sendo O um ponto

interior a P, X ∈ P , denimos f (X) como o ponto de


para cada ponto

interseção da semi-reta OX com S . A função f é contínua (o que signica

que pontos próximos de P são levados em pontos próximos de S ) e sua inversa

f −1 : S → P é também contínua. Vemos agora a esfera dividida em regiões


limitadas por arcos de circunferência (ou simplesmente linhas ). Chamando

de nó a projeção de cada vértice temos cada região limitada por pelo menos
4 MA13 - Unidade 21

Figura 2: A projeção P sobre S.

3 linhas e também cada nó como extremidade de pelo menos 3 linhas.

Figura 3: A esfera dividida em regiões.

É claro que para as linhas, regiões e nós da esfera S vale a relação de

Euler, porque ela já era válida em P. Tomemos agora um ponto N interior

a uma região de S , um plano Π perpendicular ao diâmetro de S que contém


N e uma função p : S − {N } → Π, tal que para cada ponto Y ∈ S − {N },
p(Y ) é a interseção da semi-reta N Y com Π.

Se o poliedro original P tinha F faces, V vértices e A arestas vemos agora


o plano Π dividido em F regiões por meio de A linhas que se encontram em

V nós. Por comodidade, as linhas podem ser chamadas de arestas os nós de

vértices e as regiões de faces. E claro que das F regiões, uma é ilimitada


(chamada oceano ) porque é projeção da região de S que contém o ponto N ,
Poliedros II 5

Figura 4: A projeção das regiões da esfera no plano.

mas relação de Euler continua válida. A gura obtida em Π pode ser agora

continuamente deformada mas a relação de Euler se mantém inalterável.

Observe no desenho a seguir um exemplo onde o plano está dividido em

10 regiões (faces), através de 18 linhas (arestas) que concorrem em 10 nós

(vértices).

V − A + F = 10 − 18 + 10 = 2

Figura 5: Observando que V − A + F = 10 − 18 + 10 = 2.

As transformações que zemos são equivalentes a imaginar um poliedro

de borracha e iná-lo injetando ar até que se transforme em uma esfera. Em

seguida, a partir de um furo feito em uma das regiões, esticá-lo até que se

transforme em um plano. Isto signica que o Teorema de Euler não é um

teorema de Geometria, mas sim de Topologia. Não importa se as faces são

planas ou não, ou se as arestas são retas ou não. Tudo pode ser deformado
6 MA13 - Unidade 21

à vontade desde que essas transformações sejam funções contínuas cujas in-

versas sejam também contínuas (chamadas homeomorsmos ), ou seja, para

cada transformação que zermos por uma função contínua, deveremos poder

voltar à situação original por meio de uma outra função também contínua.

3 Uma Outra Demonstração do Teorema de


Euler no Plano
A demonstração do caso plano do Teorema de Euler pode ser feita direta-

mente, ou seja, sem recorrer ao resultado obtido no espaço. Ainda, o leitor

poderá perceber que a relação de Euler para o plano vale em situações mais

gerais do que as que mostramos antes.

Consideremos então uma região R do plano dividida em outras regiões

justapostas como mostra a gura a seguir.

Figura 6: A divisão de uma região em outras justapostas.

Cada região (seja R ou uma da decomposição) é limitada por pelo menos

duas arestas e um vértice é um ponto comum a pelo menos duas arestas.

Devemos enfatizar que aqui, o termo aresta não signica um segmento de

reta mas sim qualquer curva contínua, sem auto-interseções, que liga um
Poliedros II 7

vértice a outro vértice. Uma boa ilustração do que estamos dizendo, consiste

em observar o mapa do Brasil dividido nos seus estados. Cada estado é uma

face e cada linha de fronteira é uma aresta. Devemos ainda exigir (e isso é

muito importante) que nenhuma região que completamente dentro de outra.

Assim, decomposições como as que mostramos abaixo estão proibidas.

Figura 7: Decomposições proibidas.

É também conveniente considerar o exterior de R como uma região. Ob-

servando novamente a gura 6, temos então o plano dividido em 8 regiões.

As regiões numeradas de I a VII são limitadas e a região VIII é ilimitada,

tendo o contorno de R como sua fronteira. A região ilimitada é comumente

chamada de oceano.
Para ilustrar o que estamos dizendo e ainda observando a gura 6, o

contorno da região R é formado pelas arestas que ligam consecutivamente os

vértices consecutivos de 1 a 8 e depois voltando a 1 (sem passar por 9). A

região VIII, o oceano é formado pelos pelos pontos exteriores ao contorno de

R. A região I é formada pelas arestas que ligam consecutivamente os vértices

1-2-10-9-1 e a região V é limitada apenas pelas duas arestas que ligam os

vértices 9 e 10.

Nas condições que descrevemos, consideremos agora o plano dividido em

F regiões (sendo uma ilimitada), através de A arestas que concorrem em V


vértices. Armamos que

V − A + F = 2.

Demonstração. A fórmula V −A+F = 2 vale no caso simples em que


8 MA13 - Unidade 21

apenas um polígono de n lados está desenhado no plano. Neste caso,

A = V = n, F = 2.

Vamos usar indução para o caso geral, ou seja, vamos mostrar que se a

relação de Euler vale para uma decomposição do plano em F regiões, então

ela ainda vale para uma decomposição em F +1 regiões. Uma determinada

decomposição pode ser construída por etapas onde, em cada uma delas, uma

nova região é acrescentada no oceano das anteriores. Consideremos então

uma decomposição do plano em F regiões através de A arestas que concorrem


em V vértices (como mostra a parte em linhas cheias da gura 8), satisfazendo

a relação de Euler. Acrescentamos agora uma nova região contida no oceano

das regiões anteriores (como mostra a parte em linhas tracejadas da gura),

desenhando uma sequência de arestas ligando dois vértices do contorno da

divisão anterior. Se acrescentamos r arestas, então acrescentamos r−1


vértices e uma nova região.

Figura 8: Acrescentando uma nova região.

Mas ca claro que a relação de Euler permanece válida porque

V − A + F = (V + r − 1) − (A − r) + (F + 1)
Poliedros II 9

o que conclui a demonstração.

O caso plano do Teorema de Euler é um resultado importante na teoria

dos grafos. Um grafo é apenas um conjunto de pontos com linhas que unem

alguns pares de pontos desse conjunto. É uma coisa simples, mas propicia

uma imagem geométrica de uma relação entre elementos de um conjunto.

Para dar um exemplo elementar, suponha que em uma reunião entre pessoas,

alguns cumprimentos foram feitos. Podemos visualizar gracamente essa

situação representando as pessoas por pontos no plano onde, se a pessoa A


cumprimentou a pessoa B , desenhamos uma linha ligando o ponto A ao ponto
B. Pode ser que uma certa pessoa tenha cumprimentado muitas outras (ou

mesmo todas as outras e pode ter ocorrido que algumas pessoas não tenham

cumprimentado ninguém. A gura que mostra essa relação é um grafo.


Grafos são utilizados em inúmeras áreas do conhecimento humano, com o

objetivo de visualizar relações ou conexões entre elementos de um conjunto.

Se, por exemplo, você vê em um mapa, cidades ligadas por estradas, esse

desenho é um grafo, circuitos elétricos são grafos, desenhos de moléculas

mostrando ligação entre átomos são grafos, etc. Mas, isto é outra história.

O leitor que tiver interesse nesse assunto poderá encontrar diversos livros

dedicados à teoria dos grafos. Para citar apenas um, o livro Graphs and

their uses de Oystein Ore, publicado pela MAA (Mathematical Association

of America) é uma excelente referência para uma primeira leitura.

Exercícios
1. Um cubo de aresta a é seccionado por planos que cortam, cada um, to-

das as arestas concorrentes num vértice em pontos que distam x (x < a/2)
deste vértice. Retirando-se as pirâmides formadas, obtém-se um poliedro P .

Descreva esse poliedro e calcule seu número de diagonais.

2. Considerando o poliedro P do exercício anterior, suponha agora que P


tem todas as arestas iguais. Calcule, em função de a o comprimento de sua

aresta.
10 MA13 - Unidade 21

Os exercícios a seguir tratam de grafos. Nos dois primeiros pode-se utilizar


o caso plano da relação de Euler. Os três últimos dependem apenas do seu
raciocínio.

3. Veja mapa da América do Sul. Existem 13 países mais o oceano, que

também consideramos um país. Observa-se que não existe nenhum ponto

que pertença a mais de 3 países. Quantas linhas de fronteira existem na

América do Sul?

4. Na gura abaixo, as casas 1, 2 e 3 devem ser conectadas aos termi-

nais de água (A), luz (L) e telefone (T ). É possível fazer essas ligações sem

que duas conexões se cruzem?

1 2 3
A L T
5. A cidade de Konigsberg está situada nas margens do Mar Báltico, na foz

do rio Pregel. No rio, existem duas ilhas ligadas às margens e uma à outra

por sete pontes como se vê na gura abaixo.

Figura 9: Königsberg.

O povo, que passeava dando voltas por estas ilhas, descobriu que, partindo

da margem sul do rio, não conseguia planejar um trajeto de modo a cruzar

cada uma das pontes uma única vez. Explique porque isto não é possível.

6. Verique se o desenho na gura 10, abaixo, pode ser feito sem tirar o lápis

do papel e sem passar por cima de uma linha já traçada.


Poliedros II 11

7. Entre pessoas, suponha que a relação conhecer seja simétrica, ou seja,

se A conhece B então B conhece A. Prove que, se 6 pessoas são escolhidas

ao acaso, ou existem 3 que se conhecem, ou existem 3 que se desconhecem.

Figura 10: Um desao.


Geometria – Atividade especial

O número  é a razão entre o comprimento de uma circunferência e seu diâmetro.


Portanto, o comprimento de uma circunferência de raio R é C  2R .

1) Área do círculo 
Considere um polígono regular de n lados inscrito em uma circunferência de raio R.
Seja l comprimento do lado e a o apótema.
a) Escreva a expressão da área do polígono regular em função de n, l e a.
b) Faça n crescer indefinidamente e deduza a expressão da área do círculo.

2) Área do setor
Deduza a fórmula da área de um setor circular de raio R e ângulo
central α em radianos. Como seria a fórmula se o ângulo fosse
medido em graus?

3) Área do segmento circular


Deduza a fórmula da área de um segmento circular de uma
circunferência de raio R cujo arco tem medida α em radianos.

4) O número 
Um polígono regular de 2n lados está inscrito em uma circunferência de raio 1.
 
a) Mostre que a área desse polígono é S2n  n sin .
n 
AB  AC  sin Aˆ
Dica: A área de um triângulo ABC é
2
b) Utilize uma calculadora científica
 e calcule a área do polígono para n = 1000, 10000,
100000 e 1000000. Observe as aproximações (por falta) obtidas para o número .

Problemas
D C
5) Na figura ao lado ABCD é um quadrado e os arcos de
circunferência foram traçados com centros em A e em C.
a) Calcule a área sombreada.
b) Determine, aproximadamente, a porcentagem que essa área
representa da área do quadrado. A B
6) A figura ao lado mostra três circunferências de raio r
tangentes entre duas a duas.
Calcule a área sombreada.

C
7) No triângulo ABC da figura ao lado, Aˆ  900 e
M
Bˆ  300 . O ponto M sobre a hipotenusa é tal que
MB  4 e MC  2 . Calcule a área sombreada.

B A

8) O quadrado da figura ao lado tem área A e as quatro


circunferências no seu interior são iguais. Calcule, em
função de A o valor da área sombreada.

D
9) Na figura ao lado as três semicircunferências têm
diâmetros AB, AC e CB. O segmento CD é
perpendicular à AB.
Dado CD  a , calcule a área da região sombreada em
A C B
função de a.

A
B

10) Na figura ao lado a circunferência tem raio 1 e os


arcos AB e BC medem, respectivamente 50o e 80o.
Determine o valor da área sombreada.
C
MA13 - Unidade 23

Volumes e Áreas

Semana 14/11/2011 a 20/11/2011

1 Introdução
Vamos tratar agora dos volumes dos sólidos simples: prismas, pirâmides,

cilindros, cones e a esfera. Intuitivamente, o volume de um sólido é a quanti-

dade de espaço por ele ocupado. Para exprimir essa quantidade de espaço

através de um número, devemos compará-la com uma unidade; e o resultado

dessa comparação será chamado de volume.

Por exemplo, podemos medir o volume de uma panela tomando como

unidade uma xícara. Enchendo a xícara de água e vertendo na panela suces-

sivas vezes até que esta que completamente cheia, estamos realizando uma

medida de volume. É possível que o resultado dessa comparação seja um

número inteiro − digamos: 1 panela = 24 xícaras − mas é muito provável

que na última operação sobre ainda um pouco de água na xícara. E como

determinaremos essa fração?

O exemplo mostra que esse processo pode ter alguma utilidade em casos
2 MA13 - Unidade 23

simples onde se necessita apenas de um valor aproximado para o volume,

mas não funciona, mesmo na prática, para inúmeros objetos. Ou porque

são muito pequenos, ou porque são grandes demais, ou simplesmente porque

são completamente sólidos. Ainda, a unidade xícara, que é inclusive muito

utilizada nas receitas da boa cozinha, não é naturalmente adequada a um

estudo mais geral. Vamos então combinar que:

a unidade de volume é o cubo de aresta 1

Para cada unidade de comprimento, temos uma unidade correspondente

de volume. Se, por exemplo, a unidade de comprimento for o centímetro

(cms), então a unidade correspondente de volume será chamada de cen-

tímetro cúbico (cm3 ). Assim, o volume de um sólido S deve ser o número que

exprima quantas vezes o sólido S contém o cubo unitário. Mas, como esse

sólido pode ter uma forma bastante irregular, não ca claro o que signica

o número de vezes que um sólido contém esse cubo. Vamos então tratar de

obter métodos que nos permitam obter fórmulas para o cálculo de volumes

dos sólidos simples.

2 O Paralelepípedo Retângulo
O paralelepípedo retângulo (ou simplesmente um bloco retangular) é um

poliedro formado por 6 retângulos. Ele ca perfeitamente determinado por

três medidas: o seu comprimento (a), a sua largura (b) e a sua altura (c).

O volume desse paralelepípedo retângulo será representado por V (a, b, c)


e como o cubo unitário é um paralelepípedo retângulo cujos comprimento,

largura e altura medem 1, então V (1, 1, 1) = 1.


Para obter o volume do paralelepípedo retângulo, devemos observar que

ele é proporcional a cada uma de suas dimensões. Isto quer dizer que se

mantivermos, por exemplo, constantes a largura e a altura e se multipli-

carmos o comprimento por um número natural n, o volume cará também


Volumes e Áreas 3

Figura 1:

multiplicado por n, ou seja,

V (na, b, c) = nV (a, b, c).

Figura 2:

A gura 2 mostra 4 paralelepípedos retângulos iguais e justapostos, co-

lados em faces iguais. Naturalmente, o volume total é 4 vezes maior que o

volume de um deles.

Este fato, constatado para números naturais, também vale para qualquer

número real positivo (veja Notas 1 e 2 no m desta seção) e isto quer dizer

que, mantidas constantes duas dimensões de um paralelepípedo retângulo,

seu volume é proporcional à terceira dimensão. Logo, sendo a, b e c as


4 MA13 - Unidade 23

dimensões de um paralelepípedo retângulo, temos:

V (a, b, c) = V (a · 1, b, c)
= aV (1, b, c) = aV (1, b · 1, c)
= abV (1, 1, c) = abV (1, 1, c · 1) = abcV (1, 1, 1)
= abc · 1
= abc

Portanto, o volume de um paralelepípedo retângulo é o produto de suas di-

mensões. Em particular, se a face de dimensões a e b está contida em um

plano horizontal, chamaremos essa face de base e a dimensão c de altura.


Como o produto ab é área da base, é costume dizer que o volume de um

paralelepípedo retângulo é o produto da área da base pela altura.

Volume do paralelepípedo = (área da base) × (altura).

Nota 1. Utilizamos aqui um fato completamente intuitivo (mas que na

verdade é um axioma) que é o seguinte. Se dois sólidos são tais que possuem

em comum, no máximo pontos de suas cascas, então o volume da união de

dois é a soma dos volumes de cada um.

Para explicar melhor, dizemos que um ponto P S


é interior a um sólido

quando existe uma esfera de centro P inteiramente contida em S . Quando P

pertence a S mas não existe tal esfera, dizemos que P está na casca de S (ou

na superfície de S ). Isto é o que nos permite usar termos como justapor ou

colar dois sólidos. Ainda, permite dizer que se um sólido está dividido em

vários outros, então seu volume é a soma dos volumes de suas partes.

Nota 2. O conceito de proporcionalidade é extremamente importante na

Matemática elementar. Em particular na geometria, existem ocasiões em que

certos resultados são facilmente vericados quando as medidas são números

naturais (ou mesmo racionais), mas o que se torna um problema é estender

esses mesmos resultados para números reais. O que resolve essa constran-

gedora situação é o teorema fundamental da proporcionalidade, que diz o


Volumes e Áreas 5

seguinte:

Teorema. Sejam x e y grandezas positivas. Se x e y estão relacionadas

por uma função crescente f tal que para todo natural n, f (nx) = nf (x),
então para todo real r, tem-se que f (rx) = rf (x).
Em palavras mais simples, dizemos que duas grandezas positivas x e y são
proporcionais quando, se a primeira for multiplicada por um número natural

n, então a segunda ca também multiplicada por n. Esse teorema nos garante

que, neste caso, se a primeira grandeza for multiplicada por um número real

r, a segunda grandeza também ca multiplicada por r. A demonstração deste

belo teorema pode ser encontrada no livro Meu Professor de Matemática

de Elon Lages Lima na página 127.

Não estamos aqui estimulando o professor do Ensino Médio que faça essa

demonstração em sala de aula. Muito pelo contrário. Estamos dizendo que se

o professor der, para os estudantes do Ensino Médio, alguma justicativa de

um importante resultado utilizando números naturais, ou mesmo racionais,

esse procedimento não é um erro, deve ser feito dessa forma, e estará sendo

adequado ao nível de desenvolvimento dos seus alunos. Por outro lado, o

professor cará consciente que, mesmo não podendo fazer a demonstração

completa, estará fornecendo argumentos corretos, e deixando a generalização

para um estágio posterior.

3 O Princípio de Cavalieri
Conseguimos estabelecer a fórmula do volume de um paralelepípedo retân-

gulo, mas não é fácil ir adiante sem ferramentas adicionais. Uma forma con-

fortável de prosseguir é adotar como axioma um resultado conhecido como o

Princípio de Cavalieri.

Antes de enunciá-lo, observe uma experiência que se pode fazer para

os alunos. Ponha em cima da mesa, uma resma de papel. Estando ainda

perfeitamente bem arrumada, ela é um paralelepípedo retângulo (g. 3 a)


6 MA13 - Unidade 23

e, portanto, tem um volume que podemos calcular. Encostando uma régua

nas faces laterais, podemos transformar o paralelepípedo retângulo em um

outro oblíquo (g. 3b) ou, usando as mãos, poderemos moldar um sólido

bem diferente (g. 3c).

Figura 3:

Sabemos que esses três sólidos têm volumes iguais mas ainda nos faltam

argumentos para explicar esse fato que intuitivamente percebemos. De uma

forma mais geral, suponha que dois sólidos A e B estão apoiados em um

plano horizontal e que qualquer outro plano também horizontal corte ambos

segundo seções de mesma área. O Princípio de Cavalieri arma que o volume

de A é igual ao volume de B.

Figura 4:

Se imaginarmos os dois sólidos fatiados no mesmo número de fatias muito

nas, todas com mesma altura, duas fatias correspondentes com mesma
Volumes e Áreas 7

área terão, aproximadamente, mesmo volume. Tanto mais aproximadamente

quanto mais nas forem. Sendo o volume de cada sólido a soma dos volumes

de suas fatias, concluímos que os dois sólidos têm volumes iguais. Repare

ainda que o exemplo da resma de papel mostra um caso particular desse

argumento, onde os três sólidos possuem, cada um, 500 fatias, todas iguais.

É claro que os exemplos acima não constituem uma demonstração do

Princípio de Cavalieri mas dão uma forte indicação de que ele é verdadeiro.

Podemos então aceitar o axioma seguinte:

Axioma (Princípio de Cavalieri)

São dados dois sólidos e um plano. Se todo plano paralelo ao plano dado
secciona os dois sólidos segundo guras de mesma área, então esses sólidos
têm mesmo volume.
Esta é a ferramenta que vamos utilizar para encontrar os volumes dos

demais sólidos simples.

Nota 3. No ensino da Geometria existem alguns resultados que não podemos

demonstrar de forma satisfatória e que, naturalmente, causam incômodo ao

professor. Os principais são os seguintes: o Teorema de Tales (das paralelas),

a área do quadrado, o volume do paralelepípedo e o Princípio de Cavalieri.

Para os três primeiros temas, o professor poderá oferecer uma demonstração

parcial utilizando números naturais (ou mesmo racionais) que deve satisfazer

a maioria dos alunos. Essa atitude não é condenável, muito pelo contrário.

O professor estará justicando importantes resultados de acordo com o nível

de desenvolvimento dos seus alunos, mas saberá que o resultado geral es-

tará garantido pelo Teorema Fundamental da Proporcionalidade (veja Nota

2 deste capítulo). Existem outras opções e uma delas é adotar o Teorema

Fundamental da Proporcionalidade (como fato que poderá ser demonstrado

mais tarde) e a partir dele, demonstrar a área do retângulo, do triângulo e

daí o Teorema de Tales. Para esse caminho, o leitor poderá consultar o artigo
o
Usando Áreas na RPM n 21, pág. 19. Foi esse o caminho que utilizamos
8 MA13 - Unidade 23

aqui para obter o volume do paralelepípedo e não há dúvida que esse pro-

cedimento satisfaz a nossa necessidade imediata mas transfere a diculdade

para outro lugar. Não tem jeito. Existem obstáculos no percurso do ensino

da Geometria e o professor, consciente das diculdades, deverá optar pelo

rumo a tomar. No caso do Princípio de Cavalieri a situação é diferente. A

sua demonstração envolve conceitos avançados de Teoria da Medida e por-

tanto só podemos oferecer aos alunos alguns exemplos. Mas, cremos que

esses exemplos sejam sucientes para que possamos adotar sem traumas o

Princípio de Cavalieri como axioma.

4 O Prisma
Com o Princípio de Cavalieri, podemos obter sem diculdade o volume de

um prisma. Imaginemos um prisma de altura h, e cuja base seja um polígono


de área A, contido em um plano horizontal. Construímos ao lado um parale-
lepípedo retângulo com altura h e de forma que sua base seja um retângulo

de área A.

Suponha agora que os dois sólidos sejam cortados por um outro plano

horizontal, que produz seções de áreas A1 e A2 no prisma e no paralelepípedo,


respectivamente. Ora, o paralelepípedo e também um prisma e sabemos que

em todo prisma, uma seção paralela à base é congruente com essa base. Logo,

como guras congruentes têm mesma área, temos que A1 = A = A2 e, pelo

Princípio de Cavalieri, os dois sólidos têm mesmo volume. Como o volume

do paralelepípedo é Ah , o volume do prisma é também o produto da área

de sua base por sua altura.

Volume do prisma = (área da base) × (altura).


Volumes e Áreas 9

Figura 5:

5 A Pirâmide
Para obter o volume da pirâmide, precisamos de resultados adicionais. Em

particular, o que realmente importa é ter a certeza que se o vértice de uma

pirâmide se move em um plano paralelo à base, o volume dessa pirâmide não

se altera. Para isso, vamos examinar o que ocorre quando uma pirâmide é

seccionada por um plano paralelo à sua base.

A gura 6 a seguir mostra uma pirâmide de vértice V, base ABC (tri-

angular apenas para simplicar o desenho) e altura H. Um plano paralelo a

ABC , distando H do vértice V, produziu nessa pirâmide uma seção DEF .

Figura 6:
10 MA13 - Unidade 23

Vamos agora citar dois fatos importantes com respeito à situação acima.

1) A seção e a base da pirâmide são guras semelhantes e a razão de


h
semelhança é .
H

2) A razão entre áreas de guras semelhantes é o quadrado da razão de

semelhança.

O primeiro fato foi demonstrado na Unidade 15. A demonstração do segundo

pode ser encontrada em diversos livros de Matemática do Ensino Médio.

Para uma referência mais avançada, recomendamos o livro Medida e Forma

em Geometria do professor Elon Lages Lima editado pela SBM, que trata

também dos mesmos assuntos que estamos desenvolvendo aqui. Passamos

agora a um teorema preparatório para o que nos permitirá obter o volume

da pirâmide.

Teorema Duas pirâmides de mesma base e mesma altura têm mesmo

volume.

A gura a seguir mostra suas pirâmides de mesma base ABC (novamente


triangular apenas para simplicação do desenho), vértices V1 e V2 e com

mesma altura H . Um plano paralelo ao plano (ABC) e distando h dos

vértices das pirâmides, produziu seções S1 e S2 nas duas pirâmides.

Figura 7:
Volumes e Áreas 11

Seja A a área da base ABC e sejam A1 e A2 as áreas das seções S1 e S2 ,


respectivamente. Pelos argumentos que citamos, temos que:

 2
A1 h A2
= =
A H A
de onde se conclui que A1 = A2 . Pelo Princípio de Cavalieri, as duas pirâmi-

des têm mesmo volume, como queríamos demonstrar.

O fato que podemos mover o vértice de uma pirâmide em um plano pa-

ralelo à sua base sem alterar o seu volume é a chave para a demonstração

do volume da pirâmide de base triangular. Veremos isto no teorema seguinte.

Teorema. O volume de uma pirâmide triangular é igual a um terço do

produto da área da base pela altura.

A demonstração deste teorema é elementar mas requer atenção. Para

facilitar o entendimento, vamos convencionar uma notação especial. Tratare-

mos de diversos tetraedros e como em um tetraedro qualquer face pode ser

considerada uma base, vamos convencionar o seguinte. Se em um tetraedro

de vértices A, B , C e D, imaginamos a face ABC como base e o ponto D


como vértice dessa pirâmide, vamos representá-lo por D − ABC . Ainda, o

volume desse tetraedro será representado por

V (D − ABC) = V (B − ACD) = . . . , etc,

dependendo de qual face estamos considerando como base. Consideremos

então um prisma triangular cujas bases são os triângulos ABC e A0 B 0 C 0 ,


como mostra a gura 8.

Seja A a área de ABC e seja h a altura do prisma. Como sabemos, seu

volume é Ah. Vamos agora, dividir esse prisma em três tetraedros: A −


A B C , B 0 − ACC 0 e B 0 − ABC , como mostram as guras a seguir.
0 0 0

Sejam V1 , V2 e V3 os volumes respectivos dos três tetraedros citados e

seja V o volume do prisma. Pelo teorema anterior, sabemos que o volume

de uma pirâmide não se modica quando, mantendo a base xa, movemos


12 MA13 - Unidade 23

Figura 8:

o vértice em um plano paralelo a essa base. Tendo isto em mente podemos

concluir:

V1 = V (A − A0 B 0 C 0 ) = V (A − A0 BC 0 )
= V (A − A0 BC) = V (A0 − ABC)
V2 = V (B 0 − ACC 0 ) = V (B − ACC 0 ) = V (C 0 − ABC)
V3 = V (B 0 − ABC)

Concluímos então que o volume do prisma é igual à soma dos volumes de

três tetraedros:

A0 − ABC, B 0 − ABC e C 0 − ABC,

com a mesma base do prisma e com alturas iguais a do prisma. Logo, cada

um deles tem volume igual a um terço do volume do prisma. Demonstramos

então que o volume de uma pirâmide de base triangular é igual a um terço

do produto da área da base pela altura.

Estamos agora muito próximos do resultado geral. O teorema a seguir

estende o resultado obtido para qualquer pirâmide.


Volumes e Áreas 13

Figura 9:

Teorema. O volume de qualquer pirâmide é igual a um terço do produto

da área da base pela altura.

Para justicar, observe que qualquer pirâmide pode ser dividida em pirâ-

mides de base triangular. Essa divisão é feita dividindo-se a base em triân-

gulos justapostos por meio de diagonais e denindo cada plano de divisão da

pirâmide por uma dessas diagonais da base e pelo vértice da pirâmide.

Figura 10:

Suponha agora que a pirâmide tenha altura h e que sua base, de área A,
14 MA13 - Unidade 23

tenha sido dividida em n triângulos de áreas

A1 , A2 , . . . , An .

Como o volume da pirâmide é a soma dos volumes das pirâmides triangulares,

temos que seu volume é:

1 1 1
V = A1 h + A2 h + · · · + An h
3 3 3
1
V = (A1 + A2 + · · · + An )h
3
1
V = Ah
3
como queríamos demonstrar. Fica então estabelecido que:

1
volume da pirâmide = (área da base) × (altura).
3
A obtenção dos volumes do prisma e da pirâmide demanda considerável es-

forço. É conveniente que após esses resultados, o professor os explore em

diversos sólidos particulares, em particular, prismas e pirâmides regulares.

Para encontrar os elementos necessários para o cálculo do volume de um

desses poliedros, será frequentemente necessário encontrar triângulos conve-

nientes, aplicar relações métricas e calcular áreas, propiciando uma revisão

dos resultados importantes da geometria plana.

Quando prismas e pirâmides são apresentados ao aluno do Ensino Médio,

a motivação natural é o cálculo dos volumes. Entretanto, paralelamente a

isso, diversas outras relações métricas e propriedades desses poliedros devem

ser estudadas, como zemos na Unidade 18.

Exercícios
1. Uma piscina tem 10m de comprimento, 6m de largura e 1,6m de profun-

didade.

a) Calcule seu volume em litros.


Volumes e Áreas 15

b) Determine quantos ladrilhos quadrados com 20cm de lado são necessários

para ladrilhar essa piscina.

2. Um tablete de doce de leite medindo 12cm por 9cm por 6cm, está inteira-

mente coberto com papel laminado. Esse tablete é dividido em cubos com

1cm de aresta.

a) Quantos desses cubos não possuem nenhuma face coberta com o papel

laminado?

b) Quantos desses cubos possuem apenas uma face coberta com papel?

c) Quantos desses cubos possuem exatamente duas faces cobertas com

papel?

d) Quantos desses cubos possuem três faces cobertas com papel?

3. Determine o volume do maior tetraedro que pode ser guardado dentro de

um cubo de aresta a.

4. Considere um triângulo equilátero ABC de lado a. Pelo centro G do

triângulo, considere um segmento GD perpendicular ao plano do triângulo.

a) Calcule o comprimento de GD para que os segmentos DA, DB e DC


tenham também comprimento a.

b) Nas condições do item (a), o tetraedro ABCD é regular. Calcule então

o volume de um tetraedro regular de aresta a.

5. Um cubo de aresta a é seccionado por oito planos. Cada plano contém os

pontos médios das três arestas que concorrem em um vértice. Retirando-se

os tetraedros formados obtemos um poliedro P.

a) Descreva as faces de P.

b) Calcule o volume de P.
16 MA13 - Unidade 23

c) Calcule o raio da esfera circunscrita ao poliedro P.

6. Calcule o volume de um octaedro regular de aresta a.

7. Calcule o volume do octaedro cujos vértices são os centros das faces

de um cubo de volume V.

8. a) Mostre que a soma das distâncias de um ponto interior a um tetraedro

regular às suas faces é constante.

b) A partir do item anterior, calcule o raio da esfera inscrita a um tetraedro

regular de aresta a.

9. Uma pirâmide chama-se regular quando a sua base é um polígono regular

e a projeção do vértice sobre o plano da base é o seu centro.

Uma pirâmide regular de altura 4cm tem por base um quadrado de lado

6cm. Calcule seu volume, sua área e os raios das esferas inscrita e circunscrita.
MA13 - Unidade 24

Volumes e Áreas II

Semana 14/11/2011 a 20/11/2011

1 Cilindros e Cones
No cilindro, toda seção paralela à base, é congruente com essa base. Esse

fato, permite concluir, pelo Princípio de Cavalieri, que o volume do cilindro

é o produto da área de sua base pela sua altura.

Se o cilindro tem altura h e base de área A contida em um plano horizon-


tal, imaginamos um prisma qualquer (ou em particular um paralelepípedo

retângulo) de altura h, com base de área A contida no mesmo plano. Se um

outro plano horizontal secciona os dois sólidos segundo guras de áreas A1


e A2 , então A1 = A = A2 e por consequência, os dois têm mesmo volume.

Logo, o volume do cilindro é também o produto da área da base pela altura.

Volume do cilindro = (área da base) × (altura)

A relação entre o prisma e o cilindro é a mesma que entre a pirâmide

e o cone, ou seja, o primeiro é caso particular do segundo. Optamos por

1
2 MA13 - Unidade 24

Figura 1:

demonstrar o volume do prisma e depois estender o resultado a um caso

mais geral, o cilindro, porque esse é o caminho percorrido pela maioria dos

professores do Ensino Médio. E concordamos com eles. O aluno do Ensino

Médio, no seu primeiro contato com a geometria espacial, se sente mais seguro

quando compreende bem resultados obtidos em situações particulares, para

depois estendê-los em casos mais gerais. O matemático prossional gosta,

frequentemente, de fazer o inverso, ou seja, demonstrar um resultado geral e

depois citar os casos particulares em que o mesmo vale.

O volume do cone segue o mesmo caminho trilhado anteriormente. Se

um cone tem altura H e base de área A contida em um plano horizontal,

consideramos uma pirâmide de altura H e base de área A contida nesse

mesmo plano.

Se um outro plano horizontal, distando h do vértice desses sólidos secciona


ambos segundo guras de áreas A1 e A2 , então:
 2
A1 h A2
= =
A H A
ou seja, A1 = A2 . O Princípio de Cavalieri nos garante que os dois sólidos

têm mesmo volume e portanto concluímos que o volume do cone é igual a

um terço do produto da área da base pela altura.

1
Volume do cone = (área da base) × (altura).
3
Volumes e Áreas II 3

Figura 2:

Os casos mais interessantes para os alunos são os cilindros e cones retos de

base circular porque eles estão mais relacionados com os objetos do cotidiano.

Ainda, nesses objetos, a superfície lateral pode ser obtida de forma simples.

A superfície lateral de um cilindro reto de raio R e altura h, pode ser


desenrolada e transformada em um retângulo de base 2πr e altura h. A área

lateral do cilindro é igual à área desse retâgulo, que vale 2πRh.

Figura 3:

A superfície lateral de um cone reto de raio R e geratriz g, pode ser

desenrolada e transformada em um setor de raio g cujo arco tem comprimento


2πR. A área A desse setor é igual à área lateral do cone e para calculá-la,

usaremos apenas uma elementar regra de três. Diremos que a área A desse

setor está para a área do círculo de raio g, assim como o comprimento do


4 MA13 - Unidade 24

arco 2πR está para o comprimento total da circunferência 2πg . Com isso,

concluímos que a área lateral do cone reto vale πRg .

Figura 4:

O leitor deve reparar que, ao utilizar a regra de três, estamos usando o fato

que a área de um setor circular é diretamente proporcional ao comprimento

do arco que ele subtende (veja Nota 2 desta unidade).

2 Atividades para Sala de Aula


Cilindros e cones retos de base circular devem ser associados às suas esferas

inscrita e circunscrita. Além disso, inúmeras embalagens de produtos são

cilíndricas, o que fornece diversos problemas interessantes. Vamos listar al-

gumas atividades que podem ser desenvolvidas com os alunos.

1. O cilindro equilátero (isto é, o cilindro circular reto em que a altura é

igual ao diâmetro da base) possui uma interessante propriedade. De todos os

cilindros de mesmo volume, o cilindro equilátero é o que possui a menor área

total. Assim, se o industrial deseja comercializar seu produto em embalagens

cilíndricas que gastem um mínimo de material em sua fabricação, ele deve

preferir o cilindro equilátero. É o caso, por exemplo das latas de leite con-
Volumes e Áreas II 5

densado. Elas são cilindros equiláteros. A demonstração dessa propriedade

requer o uso de cálculo e, portanto, não está ainda acessível aos alunos do

Ensino Médio. Entretanto, o professor poderá calcular a área de um cilindro

equilátero e depois calcular a área de um outro cilindro com mesmo volume,

para que os alunos vejam que é maior.

2. Quando se desenrola a superfície lateral de um cone, obtemos um se-

tor. É interessante investigar o valor do ângulo central desse setor. Esse

ângulo dene a forma do cone. Se o cone tiver um raio pequeno comparado

com sua altura (tipo chapéu de bruxa), o ângulo do setor será pequeno. Se,

por outro lado, o raio do cone for grande quando comparado com sua altura

(tipo chapéu de chinês), o ângulo do setor será também grande. O professor

poderá demonstrar, utilizando também uma regra de três que o ângulo desse

setor é, em radianos, igual a 2πR/g e com isso mostrar que no cone equilátero
o
(cone que tem a geratriz igual ao diâmetro da base), esse ângulo é de 180 .

3 A Esfera
O volume da esfera será obtido também como aplicação do Princípio de

Cavalieri. Para isso, devemos imaginar um certo sólido, de volume conhecido

e tal que seções produzidas por planos horizontais na esfera e nesse sólido

tenham áreas iguais. Repare que em uma esfera de raio R, uma seção que
2 2
dista h do centro é um círculo de área π(R − h ). Mas esta é também a área

de uma coroa circular limitada por circunferências de raios R e h.


Consideremos então uma esfera de raio R apoiada em um plano horizontal
e, ao lado, um cilindro equilátero de raio R com base também sobre esse

plano. Do cilindro, vamos subtrair dois cones iguais, cada um deles com base

em uma base do cilindro e vértices coincidentes no centro do cilindro. Este

sólido C (chamado clépsidra ) é tal que qualquer plano horizontal distando h


do seu centro (ou do centro da esfera, o que é o mesmo), produz uma seção

que é uma coroa circular cujo raio externo é R e cujo raio interno é h. Logo,
6 MA13 - Unidade 24

Figura 5:

o volume da esfera é igual ao de C.


O volume de C é o volume do cilindro de raio R e altura 2R subtraido de
dois cones de raio R e altura R. Isso dá:

1 4
πR2 2R − 2 πR2 = πR3
3 3
que é o volume da esfera.

4 3
Volume da esfera = πR
3
Adotando o Princípio de Cavalieri, pudemos calcular o volume da esfera.

Entretanto, a área da esfera não pode ser obtida pelo método sugerido para

o cilindro e para o cone. A superfície da esfera não é desenvolvível, ou seja,

não é possível fazer cortes nela e depois aplicá-la sobre um plano sem dobrar

nem esticar.

Qualquer que seja o método que imaginarmos para obter a área da esfera,

em algum momento precisaremos de uma passagem ao limite. Entretanto,

para justicar o valor 4πR2 para a área da esfera ao aluno do Ensino Mé-

dio, existem processos que, apesar de não constituírem uma demonstração,

tornam esse resultado bastante aceitável. Um deles, está no livro Medida e

Forma em Geometria, pág. 81. O outro pode ser o seguinte. Suponha a

esfera de raio R, dividida em um número n muito grande de regiões, todas

com área e perímetro muito pequenos. Como se a esfera estivesse coberta

por uma rede de malha muito na. Cada uma dessas regiões, que é quase
Volumes e Áreas II 7

plana se n for muito grande, será base de um cone com vértice no centro da

esfera. Assim, a esfera cará dividida em n cones, todos com altura aproxi-

madamente igual a R (tanto mais aproximadamente quanto menor for a base


do cone).

Se A é a área da esfera e A1 , A2 , . . . , An , são as áreas das diversas regiões,

temos:

4 3 1 1 1
πR = A1 R + A2 R + · · · + An R
3 3 3 3
4 3 1
πR = (A1 + A2 + · · · + An )R
3 3
4 3 1
πR = AR
3 3
A = 4πR2

É preciso deixar claro que esses cálculos não demonstram nada. Anal,

usamos a palavra aproximadamente muitas vezes e com signicado pouco

preciso. No Ensino Médio, atitudes desse tipo são corretas. Se não podemos

demonstrar resultados, deveremos mostrar argumentos que, pelo menos os

façam plausíveis, aceitáveis, e dizer honestamente aos alunos, que a demons-

tração requer o uso de Cálculo ou de outras ferramentas que eles vão aprender

depois. Anal de contas, a forma de ensinar e os argumentos que podemos

utilizar, dependem do nível de desenvolvimento dos estudantes. Como dizia

o professor Zoroastro, a verdade nem sempre pode ser dita de uma vez só.

4 Atividades para Sala de Aula


Utilizamos a palavra esfera com dois signicados. Ora ela representa a su-

perfície, a casca do sólido. Ora ela representa o interior. Não há problema

nisso. Repare que na geometria plana, o mesmo já ocorria. Por exemplo,

a palavra quadrado era utilizada tanto para representar a união dos quatro

lados (o bordo) quanto para o interior. Os estudantes deverão compreender

o signicado de acordo com a situação que está sendo estudada.


8 MA13 - Unidade 24

Sugerimos algumas atividades relacionadas com áreas e volumes na esfera.

1. Para praticar as fórmulas de área e de volume, é interessante demons-

trar o seguinte fato descoberto por Arquimedes: se uma esfera está inscrita

em um cilindro (reto) então a razão entre as áreas desses sólidos é igual à

razão entre seus volumes.

2. O professor pode também pedir aos alunos para calcular a área e o vo-

lume de um fuso esférico (isto é, a região delimitada por dois meridianos). É

simples convencê-los de que tanto a área como o volume de um fuso esférico

é proporcional ao ângulo desse fuso. Portanto, se α é a medida em graus do

ângulo de um fuso em uma esfera de raio R, a área desse fuso será

α
4πR2
360

e seu volume será


α 4πR2
× .
360 3
3. É bom aproveitar as fórmulas da área e do volume da esfera (em que

aparecem, respectivamente, R2 e R3 ) para reforçar o fato de que as razões

entre áreas e volumes de guras semelhantes são iguais, respectivamente, ao

quadrado e ao cubo da razão de semelhança. O professor pode, por exemplo,

perguntar aos alunos que relação existe entre as massas de duas bolas de

gude, uma com raio igual ao dobro do da outra.

Exercícios
1. Um cilindro reto possui uma esfera inscrita. Mostre que a razão entre

as áreas desses dois sólidos é igual à razão entre seus volumes (Teorema de

Arquimedes).
Volumes e Áreas II 9

2. Um copo cônico de papel foi feito a partir de um setor de 12cm de


o
raio e ângulo central de 120 . Calcule o volume desse copo.

3. Um cone reto tem 3cm de raio e 4cm de altura. Calcule seu volume,

área e os raios das esferas inscrita e circunscrita.

4. Um copo cilíndrico tem 3cm de raio e 12cm de altura. Estando ini-

cialmente cheio d'água o copo é inclinado até que o plano de sua base faça
o
45 com o plano horizontal. Calcule o volume de água que permaneceu no

copo.

5. Teorema: Se dois sólidos são semelhantes com razão de semelhança k,


3
então a razão entre seus volumes é k .

Demonstre este teorema em casos particulares utilizando paralelepípedo

retângulo, prisma, pirâmide, cilindro, cone e esfera.

6. Uma garrafa de bebida com 30cm de altura tem uma miniatura per-

feitamente semelhante com 10cm de altura. Se a miniatura tem 50ml de

volume, qual é o volume da garrafa original?

7. Um cone tem altura h e volumeV . Este cone é seccionado por um

plano paralelo à sua base, distando h/3 dessa base. Calcule os volumes das

partes em que esse cone cou dividido.

8. Um tanque subterrâneo tem a forma de um cone invertido com 12m

de profundidade. Este tanque está completamente cheio com 27000 litros de

água e 37000 litros de petróleo. Calcule a altura da camada de petróleo.

9. Utilizando um pouco de cálculo (ou de imaginação).

Um fabricante de leite condensado deseja comercializar seu produto em

embalagens cilíndricas de volume V. Determine as dimensões dessa embala-


10 MA13 - Unidade 24

gem para que seja gasto um mínimo de material em sua fabricação (ou seja,

a superfície da lata deve ser mínima).

10. O professor perguntou ao aluno qual seria o volume gerado pela rotação

de um retângulo em torno de um eixo que contém um de seus lados. O aluno

respondeu corretamente, calculando o volume de um cilindro. Em seguida o

professor traçou a diagonal do retângulo e perguntou ao aluno quais seriam

os volumes gerados pelos dois triângulos formados. O aluno então dividiu a

resposta anterior por dois. Está certo isso?


PROFMAT – Geometria I
Problemas suplementares – Semana 08 a 14/agosto – Lista 1

Problema 1
Observe a sequência dos números de diagonais dos polígonos:
n 3 4 5 6 7 8 9
d 0 2 5 9 14 20 27

Encontre os cinco termos seguintes sem usar a fórmula que calcula o número de
diagonais.

Problema 2
Mostre que o número de diagonais de um polígono nunca termina em 8.

Problema 3
Em um decágono convexo, no máximo, quantos são os pontos de interseção entre suas
diagonais?
PROFMAT – Geometria I

Problemas suplementares – Semana 15agosto a 21/agosto

Problema 4
No triângulo ABC, retângulo em A, o cateto AC é maior que o cateto AB. Pelo ponto D,
pé da bissetriz do ângulo reto trace DE perpendicular a BC ( E AC ). Mostre que o
ângulo EBD mede 45o.

Problema 5
Em um polígono convexo, três ângulos internos são de 160o e, cada um dos outros
ângulos é maior que 166o. Determine o menor número possível de lados para esse
polígono.

Problema 6
Calcule a soma dos ângulos assinalados na figura abaixo.
PROFMAT – Geometria I

Problemas suplementares – Semana 22agosto a 28/agosto Lista 3

Problema 7
Considere o triângulo ABC onde BAC 150 e ABC 300 . Sendo M o ponto médio
de AB calcule o ângulo ACM .

Sugestão: Trace por A uma perpendicular à reta BC.

Problema 8
Na figura abaixo, AB AC , BAC 200 , CBD 600 e BCE 500 . Calcule o
ângulo BDE .

Sugestão: Assinale F sobre CD de forma que o ângulo CBF tenha 20o. Trace EF e encontre todos os
triângulos isósceles que aparecem.
PROFMAT – Geometria I

Problemas suplementares – Semana 29agosto a 04/setembro Lista 4

Problema 9
Construa sobre cada lado de um paralelogramo
ABCD um quadrado como mostra a figura ao
lado.
Mostre que os centros desses quadrados são
vértices também de um quadrado.

Problema 10
Quantos trapézios existem cujos lados medem 4cm, 6cm, 7c, e 10cm?

Problema 11
“Todo triângulo é isósceles”.

Demonstração:
Considere um triângulo qualquer ABC seja F o ponto de interseção da mediatriz de BC
com a bissetriz do ângulo BAC.
Como F está na mediatriz de BC então
FB FC e ainda FBC FCB .
Traçamos FE perpendicular a AB e FD
perpendicular a AC.
Como F está na bissetriz do ângulo BAC
então FE FD .
Assim, os triângulos retângulos EFB e
DFC são congruentes, pois possuem
hipotenusas iguais e um cateto igual.
Portanto EBF DCF e como
FBC FCB concluímos que
EBC DCB e o triângulo ABC é isósceles.

Onde está o erro?


PROFMAT – Geometria I

Problemas suplementares – Semana 05 a 11/setembro Lista 5

Aviso: Unidade 9. Desconsidere o problema 2

Problema 12
Seja ABCD um quadrado de centro O e seja ABE um triângulo eqüilátero exterior. Se M
é o ponto médio de BE mostre que o ângulo MOB mede 30o.

Problema 13
Em uma circunferência considere as cordas AB e CD que não se cortam e seja M o
ponto médio do arco CD. Os segmentos MA e MB cortam o segmento CD e P e Q,
respectivamente. Mostre que o quadrilátero ABQP é inscritível.

Problema 14
No triângulo ABC os pontos M e N pertencem aos lados AB e AC, respectivamente e o
segmento MN é tangente à circunferência inscrita em ABC. Mostre que o perímetro do
triângulo AMN é constante.

Problema 16 (Unidade 9, problema 4)


Quatro retas cortam-se duas a duas formando quatro triângulos. Prove que as
circunferências circunscritas aos quatro triângulos passam por um mesmo ponto.

Solução:
Notação: Seja (XYZ) a circunferência que
contém os pontos X, Y e Z.
Na figura ao lado as quatro retas formaram
os quatro triângulos: ADF, ABE, CBD e
CEF.
Seja P o segundo ponto comum entre as
circunferências (ADF) e (CEF).
Una P aos outros pontos do desenho.
a)
PADF é inscritível. Então PAD PFC .
PFEC é inscritível. Então PFC PEC .
Como PAD PEC então ABEP é inscritível e P (ABE ) .
b)
PADF é inscritível. Então PDF PAF PAE .
PABE é inscritível. Então PAE PBE PBC .
Como PDC PDF PBC então CBDP é inscritível e P (CBD) .
PROFMAT – Geometria I

Problemas suplementares – Semana 03 a 09/outubro Lista 6

Problema 17
31 fios de 1mm de diâmetro foram dispostos no interior do
cabo circular como mostra a figura. Calcule o diâmetro
desse cabo.

Problema 18
Em um triângulo retângulo de hipotenusa a e catetos b e c mostre que b c a 2.

Problema 19
ABCD é um paralelogramo e P é um ponto da diagonal AC. Trace PE e PF
perpendiculares às retas AB e AD, respectivamente. Prove que PE AB PF AD .

Problema 20
Um triângulo ABC tem área S. Mostre que o triângulo cujos lados são as medianas de
3S
ABC tem área .
4

Problema 21
Um trapézio isósceles de altura 4cm tem bases de 16cm e 10cm. Duas circunferências
são tangentes, cada uma a três lados do trapézio, como mostra a figura.

Calcule a distância entre os centros dessas circunferências.


AV1 - MA 13 - 2011

Questão 1.
A figura abaixo mostra uma sequência de circunferências de centros C1 , C2 , . . ., Cn com raios r1 , r2 , . . ., rn , respec-
tivamente, todas tangentes às retas s e t, e cada circunferência, a partir da segunda, tangente à anterior.

C1
C2
C3

Considere r1 = a e r2 = b.

(1,0) (a) Calcule r3 em função de a e b.

(1,0) (b) Calcule rn em função de a e b.

UMA SOLUÇÃO

C1
a
b C2
A b x C3
B

(a) Todos os centros estão a igual distância das duas retas, portanto estão na bissetriz das retas s e t. Seja A o ponto
de intersecção entre a paralela à reta t passando por C2 e a perpendicular à reta t passando por C1 , e seja B o ponto
de intersecção entre a paralela à reta t passando por C3 e a perpendicular à reta t passando por C2 . Seja x = r3 .

1
Como os triângulos-retângulos AC1 C2 e BC2 C3 são semelhantes, temos

C1 A C B
= 2 ,
C1 C2 C2 C3
isto é,
a−b b−x
= ,
a+b b+x
b2
o que implica x = a .

(b) A relação obtida


r22
r3 =
r1
pode ser reformulada como
r3 r b
= 2 = ,
r2 r1 a
o que mostra que os três raios formam uma progressão geométrica de razão ba . Como a mesma situação ocorre para
b
quaisquer três circunferências consecutivas, a sequência r1 , r2 , . . ., rn , . . . é uma progressão geométrica de razão a e
termo inicial a. Assim   n −1
b b n −1
rn = a · = n −2 ,
a a
para n = 1, 2, 3, . . ..

2
AV1 - MA 13 - 2011

Questão 2.
Na figura abaixo, a circunferência de centro I é tangente em D ao lado BC do triângulo ABC e é tangente em E e
F aos prolongamentos dos lados AB e AC, respectivamente.

F
C

I
D

A
B E

(1,0) (a) Mostre que AE é igual ao semiperímetro do triângulo ABC.

(1,0) (b) Mostre que o ângulo A b


IB é a metade do ângulo ACB.
b

UMA SOLUÇÃO

(a) Seja 2p o perímetro do triângulo ABC. Tem-se

2p = AB + BC + CA = AB + BD + DC + CA = AB + BE + CF + CA = AE + AF = 2AE .

Logo AE = p.

b =A
(b) No triângulo ABC, sejam B AC b = C.
b e ACB b =A
b O ângulo externo de vértice B é D BE b + C. IB = θ.
b Seja A b
Como AI e BI são bissetrizes dos ângulos C AB
b e D BE
b então, no triângulo ABI, o ângulo externo I BE
b é tal que

b+C
A b D BE
b A
b
= = I BE
b = I AB
b + Ab
IB = +θ.
2 2 2
Logo
C
b
θ= .
2

3
AV1 - MA 13 - 2011

Questão 3.

(2,0) Dado um paralelogramo ABCD construa no seu exterior os triângulos equiláteros BCE e CDF. Mostre que o
triângulo AEF é equilátero.

UMA SOLUÇÃO

A D

α
B
C
F

Primeiro, vemos que BA = DF = CF. A segunda igualdade é consequência de CDF ser equilátero, enquanto a
primeira segue de que AB = CD (pois ABCD é paralelogramo) e CD = DF (pois CDF é equilátero).
Depois, vemos que AD = BE = EC. A segunda desigualdade segue de BCE ser equilátero. A primeira segue de
que AD = BC (pois ABDC é paralelogramo) e BC = BE (pois BCE é equilátero).
Finalmente, vamos mostrar que os ângulos A BE, b ECF
b e A DFb são iguais. Para isso vamos mostrar que todos
são iguais a α + 60o , em que α é o ângulo A BC.
b De fato, isso é evidente para A BE,
b pois BCE equilátero implica
b = 60o . O mesmo para A DF,
C BE b = 60o
b = α (ângulos opostos do paralelogramos são iguais) e C DF
b pois A DC
(CDF é equilátero). Finalmente, em torno do ponto C tem-se

b + D CF
BCD b + F CE b = 360o ,
b + ECE

logo
(180o − α) + 60o + ECF
b + 60o = 360o

b = α + 60o , como queríamos demonstrar.


e, portanto, ECF
Portanto os triângulos ABE, FCE e FDA são congruentes, de onde concluímos que AE = EF = AF, isto é, AEF é
equilátero.

4
AV1 - MA 13 - 2011

Questão 4.

(2,0) No triângulo ABC, Bb = 68o e C


b = 40o , AD e BE são alturas, M é médio de BC e N é médio de AC. Calcule os
ângulos D N
b M e E DN.
b

UMA SOLUÇÃO

A
E

B D M C

(A figura não foi desenhada com os ângulos prescritos no enunciado)

b = 180o − 68o − 40o = 72o . Segundo, como N é o ponto médio de AC, então é equidistante de
(a) Primeiro, B AC
A e D. Logo AND é isósceles e ND = N A. Pela mesma razão N A = NC, de onde resulta que NDC é isósceles.
b = 40o e que D NC
b = ACB
Disso resulta que N DC b = 180o − 40o − 40o = 100o . Terceiro, MN é paralelo a BA, logo
MNC é semelhante a BAC e, por conseguinte, M NC b isto é, 72o . Portanto, D N
b é igual a B AC, b − M NC
b M = D NC b =
100o − 72o = 28o .

b = 180o − D NC
(b) ADN é isósceles e A ND b = 80o , logo A DN
b = 50o .
b = 90o = B EA,
Como B DA b então E e D pertencem à circunferência cujo diâmetro é AB. Logo, os ângulos A BE
b e
A DE
b inscritos nessa circunferência são iguais. Então A DE b = 90o − 72o = 18o .
b = A BE
b = A DN
Portanto E DN b = 50o − 18o = 32o .
b − A DE

5
AV1 - MA 13 - 2011

Questão 5.

(2,0) O triângulo equilátero ABC está inscrito em uma circunferência e P é um ponto qualquer do menor arco BC.
Prove que PA = PB + PC (isto é, que a distância de P ao ponto A é igual à soma das distâncias de P aos pontos
B e C).
Sugestão: Considere um ponto D sobre PA tal que PD = PB.

UMA SOLUÇÃO

B C

Seja D o ponto do segmento PA tal que PD = PB. Precisamos mostrar que AD = PC.
Como o arco AB mede 120o , então B PA
b = 60o . Então B PD
b = 60o (é o mesmo ângulo) e, como PB = PD, então
b = 60o e, por conseguinte,
PBD é equilátero, resultando que BD = PB. Também por PBD ser equilátero tem-se B DP
b = 120o .
B DA
b = 240o = 120o , logo B PC
Como o arco BAC mede 240o , então B PC b = B DA.
b Juntando essa informação com a
2
igualdade B AP = BCP, que é evidente da simetria da construção, concluímos que A BD
b b b = P BC.
b
Por LAL os triângulos ABD e CBP são congruentes, resultando que AD = PC, como queríamos demonstrar.

6
MA13 – Geometria I – Avaliação 2 – 2011
Gabarito

Questão 1
(2,0) A figura abaixo mostra um triângulo equilátero e suas circunferências inscrita e
circunscrita. A circunferência menor tem raio 1.
Calcule a área da região sombreada.

Uma solução:

X
O
Y
B M C

Seja O, o centro do triângulo equilátero ABC e seja M o ponto médio do lado BC como na
figura acima. Pela propriedade do baricentro do triângulo, OA 2 OM e como OM 1 temos
OA 2 .
A região cuja área se pede é formada por duas partes justapostas X e Y como mostra a figura.
Observando que 3 X 3Y é a área da coroa circular formada pelas duas circunferências temos
3( X Y ) 22 12 3 .
Logo, X Y .
Questão 2
O poliedro P que inspirou a bola da Copa de 70 é formado por faces
pentagonais e hexagonais, e é construído da seguinte forma:
•Considere um icosaedro regular de aresta a (Fig. 1 abaixo).
•A partir de um vértice e sobre cada uma das 5 arestas que concorrem nesse
a
vértice, assinale os pontos que estão a uma distância de desse vértice. Esses
3
5 pontos formam um pentágono regular (Fig. 2).
•Retirando a pirâmide de base pentagonal que ficou formada obtemos a Fig. 3.
•Repetindo a mesma operação para todos os vértices do icosaedro obtém-se o poliedro P.

Fig. 1 Fig. 2 Fig. 3

(0,5) (a) Determine quantas são as faces pentagonais e quantas são as faces hexagonais de P.

(0,7) (b) Determine os números de arestas, faces e vértices de P.

(0,8) (c) Sabendo que uma diagonal de um poliedro é todo segmento que une dois vértices que
não estão na mesma face, determine o número de diagonais de P.

Uma solução:

(a) Cada face pentagonal de P apareceu onde havia um vértice do icosaedro. Como o icosaedro
tem 12 vértices então P tem 12 faces pentagonais. Cada face (triangular) do icosaedro deu
origem a uma face hexagonal de P. Como o icosaedro tem 20 faces triangulares então P tem 20
faces hexagonais.

(b) Do item anterior temos F5 12 e F6 20


O número total de faces de P é F F5 F6 12 20 32 .
Contando as arestas temos: 2 A 5 F5 6 F6 5 12 6 20 180 , ou seja, A 90 .
Como P é convexo então vale a relação de Euler V A F 2 . Portanto, V 60 .

(c) Seja d n o número de diagonais de um polígono de n lados.


O número de diagonais de um pentágono é d 5 5 e o de um hexágono é d 6 9.
A soma dos números de diagonais de todas as faces é S F5 d 5 F6 d 6 12 5 20 240 .
Vamos agora construir todos os segmentos cujas extremidades são os V vértices do poliedro P.
A quantidade de diagonais de P é D CV2 A S .
60 59
Assim, D C602 90 240 90 240 1170 330 1440.
2
Questão 3

Definição: Dado um segmento AB, o plano mediador desse segmento é o plano perpendicular a
AB que contém o seu ponto médio.

1ª Parte
(2,0) Prove que um ponto P equidista de dois pontos A e B se, e somente se, pertence ao plano
mediador de AB.

Uma solução:

Seja M o ponto médio de AB e seja Π o plano mediador de AB.

A
(a) Suponha que P pertença a Π. Se P coincide com M então
Π equidista de A e B. Se não, como AB é perpendicular a Π então AB
P M é perpendicular a MP. Como M é médio de AB então os triângulos
retângulos MPA e MPB são congruentes.
Logo, PA PB , ou seja, P equidista de A e B.
B

A (b) Suponha que P não pertença a Π. Imaginemos, por exemplo e


sem perda de generalidade, os pontos P e A no mesmo semiespaço
P Π determinado por Π. Como B está no semiespaço oposto a reta PQ
corta Π em um ponto Q. Como Q então, pela parte a),
Q
QA QB .
No triângulo PAQ tem-se: PA PQ QA PQ QB PB .
B
Assim, P não equidista de A e B.
2ª Parte
A figura abaixo mostra o cubo ABCD-EFGH de aresta a. H
Sejam M, N, P, Q, R e S os pontos médios das arestas G
AB, BF, FG, GH, HD e DA. E
F
(0,5) (a) Mostre que esses seis pontos são coplanares.
Sugestão: Mostre que qualquer um deles pertence ao plano
mediador da diagonal EC do cubo (a propriedade enunciada na
primeira parte da questão pode ser utilizada mesmo que você não a D
tenha demonstrado). C

A
(0,5) (b) Mostre que o hexágono MNPQRS é regular. B

(1,0) (c) Calcule o volume da pirâmide de vértice E e base MNPQRS.

Uma solução:
(a) Tomemos o ponto M, médio da aresta AB. Os
triângulos AME e BMC são congruentes, pois AM BM ,
E AE BC e MAE MBC 900
Logo, ME MC e, portanto, M pertence ao plano
mediador da diagonal EC.
Analogamente, cada um dos outros pontos: N, P, Q, R e S
C também estão nesse mesmo plano.
A M B
(b) Cada lado do hexágono é a metade da diagonal de
H Q BG a 2
G uma face. Por exemplo, NP .
2 2
E P Seja O, o centro do cubo. Todos os vértices do
R F hexágono possuem mesma distância ao ponto O. A
O
distância do centro do cubo a qualquer aresta é a
a 2
metade da diagonal de uma face, ou seja, .
N 2
S Portanto, cada um dos triângulos MON, NOP, ...,
C
SOM é equilátero e o hexágono é regular.
A
M B
a2 3 3 3a 2
(c) A área do hexágono é 6 .
4 2
a 3
Como a altura da pirâmide é a metade da diagonal do cubo temos OE .
2
1 3 3a 2 a 3 3a 3
O volume da pirâmide é: V .
3 2 2 8
H
3ª Parte G
A figura abaixo mostra o cubo ABCD-EFGH de aresta a.
E
(1,0) (a) Mostre que as retas DB e EC são ortogonais. F

(1,0) (b) Calcule o comprimento da perpendicular


comum entre DB e EC. D
C

A
B

Uma solução:
H
G

Y
D
C
X
A
B

(a) Seja Π o plano diagonal AEGC.


Como AE é perpendicular ao plano ABCD então AE é ortogonal a BD. Mas AC é perpendicular
a BD (pois as diagonais de um quadrado são perpendiculares. Como BD é ortogonal a AE e AC
então BD é perpendicular a Π.
Como EC está contida em Π então BD é ortogonal a EC.

(b) Seja X o ponto onde BD fura o plano Π. O ponto X é o centro da face ABCD.
Sobre o plano Π tracemos XY perpendicular a EC.
Lembrando que BD é perpendicular a Π então BD é perpendicular a XY. Assim, XY é a
perpendicular comum entre BD e EC.

Os triângulos retângulos CYX e CAE são semelhantes. Logo,

XY CX XY a 2 2 a 6
→ → XY
AE CE a a 3 6
MA13 – Geometria I – Avaliação 3 – 2011

Questão 1
Considere um quadrado ABCD de lado a e seja E o ponto do lado CD tal que
AE BC CE .
(1,0) (a) Calcule o comprimento de CE.
(1,0) (b) Calcule o seno do ângulo CAˆ E .

Questão 2
Um trapézio ABCD tem altura h e bases AB a e CD b . Seja F o ponto de
interseção das diagonais.
(1,0) (a) Calcule as distâncias de F às duas bases.
(1,0) (b) Calcule as áreas dos triângulos ADF e BCF.

Questão 3
Seja ABC um triângulo qualquer. Desenhe exteriormente a ABC os triângulos
equiláteros ABD e ACE.
(1,0) (a) Mostre que DC = BE. Sugestão: use congruência de triângulos.
(0,5) (b) Sendo F o ponto de interseção de DC e BE, mostre que o quadrilátero ADBF
é inscritível.
(0,5) (c) Mostre que AFˆ B BFˆC CFˆA 1200 .

Questão 4
Seja um plano horizontal. A reta r é perpendicular a e seja A o ponto de
interseção de r e . A reta s está contida em e não passa por A. O ponto B da reta s
é tal que AB é perpendicular à reta s. Seja M um ponto de r e N um ponto de s.
Dados: AM a , BN b, AB c .
(0,5) (a) Faça um desenho da situação descrita no enunciado.
(0,5) (b) Calcule a distância entre os pontos M e N.
(0,5) (c) Calcule a tangente do ângulo que a reta MN faz com o plano .
(0,5) (d) Calcule a tangente do ângulo entre as retas AB e MN.

Questão 5
As bases de um tronco de pirâmide regular são quadrados de lados 12 e 4. Sabe-se
que a área lateral é igual à soma das áreas das bases.
(1,0) (a) Calcule a altura do tronco.
(1,0) (b) Calcule o volume do tronco.
MA13 – Geometria I – Avaliação 3 – 2011
Gabarito

Questão 1 – Solução
D E C
(a) Seja CE x . Assim AE a x .
Traçando EF perpendicular a AB temos no triângulo AEF:
a
(a x) 2 (a x) 2 a2 o que dá x . a
4

(b) Seja AEˆ C .


a a 5a
Como CE e AE a temos, pela lei dos senos, A F B
4 4 4
a4 5a 4 2
o que dá sin .
sin 2 2 10

Questão 2 – Solução
D b C
(a) Sejam x e y as distâncias de F às bases AB e y
CD, respectivamente. Como os triângulos FAB e F
FCD são semelhantes, temos: h
a b a b x
x y h
ah bh A a B
Assim, x e y .
a b a b

(b) Os triângulos ADB e ACB têm mesma área porque possuem mesma base e mesma
altura. Os triângulos ADF e BCF têm mesma área porque
[ADF] = [ADB] – [AFB] = [ACB] – [AFB] = [BCF]

ah ax a ah abh
[ ADF ] [ BCF ] h
2 2 2 a b 2(a b)
Questão 3 – Solução

(a) Temos AD AB , AC AE e DAˆ C BAˆ E Aˆ 600 . Portanto, os triângulos


ADC e ABE são congruentes e DC = BE.

ˆF
(b) Pela congruência anterior, AD ABˆ F . Portanto D está na circunferência que
passa por A, B e F.

(c) Como ADBF é inscritível, seus ângulos são suplementares. Então


AFˆB 1800 AD ˆ B 1800 600 1200 . Analogamente, AECF é inscritível e
CFˆA 1200 . Consequentemente, BFˆC 1200 .

Questão 4 – Solução

(a) r

A
c P

B
b N s

b) No triângulo ABN, retângulo em B, AN 2 b 2 c 2 .


No triângulo MAN, retângulo em A, MN 2 a 2 AN 2 a2 b2 c 2 .
Então MN a2 b2 c2 .

AM a
c) O ângulo que MN faz com é MNˆ A . Assim, tan .
AN b 2
c2

d) Construa o retângulo ABNP.


AM é ortogonal a NP e AP é perpendicular a NP. Portanto, NP é perpendicular ao
plano AMP e, consequentemente, o ângulo NPA é reto.
O ângulo entre MN e BA é o ângulo entre MN e NP, MNˆ P .
PM a2 b2
Assim, tan .
NP c
Questão 5 – Solução

(a)
V
Sejam O e O os centros
das duas bases (maior e
menor) como mostra a O' N
figura acima. 4
Na reta OO está o h x
vértice V da pirâmide que
dou origem ao tronco.
A altura do tronco é
O P M
OO h .
Cada face lateral do 12
tronco é um trapézio
isósceles, e a altura de
um dos trapézios é o segmento MN que une os pontos médios das duas bases. Seja
MN x .
A área lateral do tronco é a soma das áreas dos quatro trapézios. Então,

(12 4) x
4 122 42
2

Isto dá x 5 . Trace agora NP perpendicular à OM como na figura acima. Temos


O O NP h , ON OP 2 , OM 6 e, consequentemente, PN 4 . No triângulo
PMN retângulo em P temos h 3 .

(b) Seja VO y.
y 4 3
Utilizando a semelhança entre as duas pirâmides temos o que dá y .
y 3 12 2
3
9
A altura da pirâmide grande é OV 3 e o seu volume é
2
2
1 9
V1 122 216 .
3 2
1 2 3
O volume da pirâmide pequena é V2 4 8.
3 2
O volume do tronco é a diferença: V 216 8 208 unidades de volume.

Obs:
Pode-se também aplicar a fórmula do volume do tronco de pirâmide:
h
V ( S1 S 2 S1 S 2 ) onde S1 e S 2 são as áreas das duas bases e h é a altura do
3
tronco. Assim,
3 2
V (12 4 2 122 4 2 ) 144 16 48 208 .
3

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