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-UUAS. IsaM Maria Sabino de; ct.aL Didática c docência: aprendendo n profijrti JO
l. Brasília: líber Livro. 2 0 U .
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U N I D- I J - I

Capítulo 4
O planejamento da prática docente
A organização do
processo didático
A prática educativa, como intencional e sistemática, precisa
Não posso ser professor sem me pôr diante dos alunos, sem ser organizada previamente, o que se concretiza por meio do pla-
revelar com facilidade ou relutância minha maneira de ser, nejamento das açoes didáticas e pedagógicas da escola. Algumas
de pensar politicamenre. Não jiosso escapar ã apreciação indagações podem ser formuladas como pretexto para o debate
dos alunos. E a maneira como eles me percebem tem impor- sobre o ato de planejar, foco clcste capítulo. O que entendemos
tância capital para o meu desempenho. Dal. então, que uma por planejamento? Dc que maneira essa prática é vivenciada
das minhas preocupações centrais deva ser a de procurar a
cm nassas escolas? Que experiências c impressões temos dessa
aproximação cada vez maior entre o que digo e o que faço,
entre o que pareço ser e o que realmente estou sendo. prática? Como costumamos planejar nossas disciplinas e aulas?
Existe relação entre o planejamento didático e o Prqjeto Politi-
co-Pedagógico (PPP) escolar? Qual o papel do PPP das institui-
Precisamos aprender a compreender a significação de ções onde atuamos nos momentos dc estudo, avaliação e tomada
um silêncio, ou de um sorriso ou de uma retirada da sala.
de decisões? É possível transformarmos o planejamento formal
O tomo menos cortes com que foi feita uma pergunta.
e burocrático, de hoje, em uma prática coietiva e participativa?
Afinal, o espaço pedagógico e um texto para ser constan-
temente "lido", interpretado, "escrito e rcescrito". Neste Ao voltarmos a atenção para o planejamento da açào do-
sentido, quanto mais solidariedade exista entre o educa- cente não desconsideramos, de modo algum, a necessidade de
dor c educandos no "trato" deste espaço, tanto mais pos- 0 professor conhecer e articular seu trabalho ao planejamento
sibilidades dc aprendizagem se abrem na escola. escolar c educacional, outros dois níveis de organização da
(Ensinar exige comprometimento - prática educativa.
PAULO FREIRE, 1999, p. 108)

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nejamento burocrático, delineando-se um movimento de denún- politica para o enfrentamento das condições desfavoráveis de
cia do cará ter alienado c alienador dos processos de organização trabalho presentes no magistério.
da escola e do ensino, pondo em questão as ações educativas, em Compreender o planejamento como instrumento de or-
particular, a prática do planejamento (CANDAL', 1 9 8 3 ) . ganização da lida docente apresenta-se como passo necessário
Esta retomada, entretanto, náo teve tempo suficiente para para ressignincar esse fazer junto ao eoletivo dos professores.
consolidar uma renovação no modo de organizar a prática do É nessa direção que caminhamos ao tratar do ato de planejar
professor, pois a década de 1990 foi o cenário da reconfiguração numa perspectiva pedagógica transformadora.
do tecnicismo, marcado, desta vez, pela globalização e pelo nco-
liberalismo. Este ordenamento político, social e económico con- 4.2 A prática do planejamento - dos sentidos aos seus princípios
tribui para a desmobilização dos grupos e categorias profissio-
nais, precarizando as situações de trabalho. Tal fato repercute O planejamento é ato; é uma atividadc que projeta. orga-
de formas diferentes no planejamento de ensino, como revelam niza e sistematiza o fazer docente no que diz respeito aos seus
os depoimentos selccionadosr. fins, meios, forma e conteúdo. Pensando sobre o nosso trabalho
ajustajnos não só os conteúdos programáticos ao calendário
Como participar da semana pedagógica se tenho que estar
escolar (conforme registra o Relato 1), mas definimos também
presente em outra escola, neste mesmo horâno, e entregar,
outras questões dc fundamental importância. Vejamos algumas:
ainda hoje, 0 resultado das provas de recuperação? (Relato 6).
o que queremos que nossos alunos venham a fazer, a conhecer?
Não fui ao planejamento de minha escola porque estava no
Por que este conteúdo e não aquele? Quais atividades? Com qual
meu curso de pós-graduação c este me custa muito caro
(Relato 7). tempo e recursos contamos?

Planejar pra que se nem sei se vou estar lá no próximo ano? Desse modo, o planejamento é uma ação reflexiva, viva,
Você vem acompanhando a novela dos contratos temporá- contínua. Uma atívidade coastante, permeada por um processo
rios? (Relato 8). de avaliação e revisão sobre o que somos, fazemos e precisamos
realizar para atingir nossos objetivos. É um ato decisório, por-
Os relatos, além de emblemáticos de fatores contextuais tanto, politico, pois nos exige escolhas, opções metodológicas e
restritivos ao desenvolvimento efetivo do planejamento escolar, teóricas. Também é ético, urna vez que põe em questão ideias,
sinalizam que são variados os elementos que afastam os docen- valores, crenças e projetos que alimentam nossas práticas.
tes da tarefa de projetar sua prática pedagógica. As resistências Com o planejamento, esperamos prever acôcs c condições;
existentes não são, na sua maioria, fortuitas. Sua reversão de- racionalizar tempo e meios; fugir do improviso e da rotina; assegu-
manda clareza de propósitos, tempo c, sobretudo, organização rar unidade, coerência, continuidade e sentido ao nosso trabalho.

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0 texto inicia interrogando sobre o significado do planeja- Conversando com os professores, percebemos que eles,
mento para os professores, no que se apoia cm relatos colhidos apesar da aversão manifesta em relação a este momento na es
pelas autoras em suas itincrâncias pelo espaço da escola pública. cola, não negam a importância do planejamento. Pelo contrário,
Advogando em favor de uma' perspectiva transformadora de edu- reconhecem sua necessidade c atestam sua presença no dia a dia
cação, discutimos o sentido do ato dc planejar, seus princípios, ní- de suas vidas pessoal e profissional.
veis c etapas de elaboração. Ao examinarmos os elementos consti-
tuintes dos planos ile ensino (objetivos, conteúdos, metodologia, Tudo que fazemos exige uma certa preparação. Pensar an-
recursos c avaliação), lembramos que os desafios da organização tes de fazer. Decidir como vamos íazer. Viajar, comprar, dar
aula, também (Relato 3).
do trabalho docente devem ser enfrentados nos espaços coletivos
da escola. Este é o fio condutor de nossa argumentação, funda- A agenda ê uma forma de planejamento da nossa vida, assim
como as leituras, as anotações de aula (Relato 4).
mentada nas produções de Fusad (1998), Martins (1989), Libâneo
(1994), Veiga (1993,1998), Lopes (1993) e Damis (1996). Planejar é preciso e eu o faço. 0 planejamento na escola,
organizado por ela é que é chato, improdutivo (Relato 5).

4.1 A hora de planejar - da necessidade de superar o "muro Uma explicação possível para a resistência dc parte dos
de lamentações" professores brasileiros ao planejamento encontra se nos resquí-
cios de uma prática pedagógica adotada, sobretudo, nos anos da
Via de regra, em todo início de um período letivo - seja ano, ditadura (1964/1985), sob as auspícios do tecnicismo educacio-
semestre, bimestre ou qualquer out ra fração dc tempo - os pro- nal. Nesse período prevaleceu o planejamento como mecanismo
fessores são convocados para o planejamento de suas atividades. de padronização e controle do trabalho dos professores, privilc
Às semanas pedagógicas, como 6 chamado o período de planeja- giando, sobremaneira, a forma, a redação técnica e os formulá-
mento nas escolas, se multiplicam, assim como cresce o número rios, cm detrimento do conteúdo e dos fins da prática docente,
de professores resistentes a esta tarefa. Ilustram esse comporta- lista abordagem do planejamento favoreceu o descnvolvimcnro
mento depoimentos como: de práticas docentes individualistas, fragmentadas e promo-
toras da cópia, da reprodução, do silêncio e do ativismo.
Tudo de novo? Hu já sei o que tenho que dar Falu-tnc ape- Com o processo de reabertura política nos anos subsequen
nas o calendário letivo para distribuir no tempo o conteúdo tes, quando esta tendência se arrefeceu, voltamos a exercitar as
que ministrarei (Relato 1).
reuniões, as experiências coletivas na escola, nas ruas. nas enti-
Não irei. Parei o meu em casa. Afinal... ê fazer, entregar e
dades politicas c classistas. Prevaleceu uma forte crítica ao pia-
velo arquivado na gaveta (Relato 2).

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gógico que será desenvolvido em cada série, ciclo, área ou dis- Apresentamos estas questões para reafirmar a seguinte
ciplina. Uma vez divididos em grupos, os professores listam e tese: o planejamento não se inicia nem se esgota na tarefa de ela-
distribuem os conteúdos no tempo curricular de que dispõem. boração de planos. Por não possuir um f i m em si mesmo, toma
Esta parece ser a regra geral do planejamento na escola, com a avaliação de experiências e o Projeto Político-Pedagógico da
pouca variação na sucessão dos fatos aqui descritos. escola como elementos essenciais à edificação coletiva do novo.
O que os professores têm em mãos para dar início a este tra- A avaliação, portanto, permeia todos os momentos do planeja-
balho? Alguns livros didáticos (que em sua maioria contêm suges- mento - na fase anterior à sistematização dos planos (avaliação
tões de planos de trabalho), cópias de planos anteriores, bem como diagnostica), durante sua execução (avaliação formativa ou de
formulários c planilhas para serem preenchidos durante a sessão de processo) e ao ténnino do trabalho realizado (avaliação do re^
trabalho. Com quem os docentes contam para a realização da tarefa sultado). Somente ela apresentará as informações necessárias ao
que lhes foi solicitada? É possível que com o diretor ou o coordena- planejamento e replanejamento da nossa prática, sem precisar-
dor pedagógico que, mesmo não podendo estar presentes durante mos começar da estaca zero.
todo o período de planejamento, porque outras urgências os aguar- Desta forma, o planejamento se inicia com o diagnóstico da
dam, declaram aberta a semana pedagógica, expõem avisos c solici- realidade sobre a qual iremos agir, intervir, alterar. De posse des-
tações, organizam os grupos de trabalho, e retomam ao final do dia tes dados iniciais, passamos ã fase da estruturação da ação pre-
para o recebimento c arquivo dos planos produzidos. tendida, definindo cada um dos elementos do processo de ensi-
Estamos sendo severas e injustas na descrição dos fatos? no, a saber: os objerivos que almejamos alcançar com o trabalho
f! provável que as duas coisas. Sabemos que as exceçôes exis- empreendido; os conteúdos ou temáticas a serem exploradas; os
tem, mas este ainda é o quadro que predomina. Cabe-nos en- procedimentos didáticos a serem vivenciados; os recursos didá-
tender seus determinantes e buscar possíveis saídas, com vistas a ticos necessários às ações pretendidas; e a sistemática de avalia-
uma prática do planejamento na qual o professor se reconheça au- ção da aprendizagem.
tor de seu fazer profissional. Nessa perspectiva, seu conteúdo c sua Uma vez realizados o diagnóstico da realidade e a siste-
forma precisam considerar as necessidades e os desafios coridianos, matização do plano, é chegada a hora de executá-lo. Nessa fase,
bem como as expectativas e sugestões daqueles que o fazem. novas informações chegam e situações não previstas poderão
Outras indagações também se impõem: o Projeto Político- acontecer. O que fazer? Ignorar o planejado e assumir a posição
Pedagôgico da escola é do conhecimento e aprovação de todos? corrente do "não adianta planejar" ou recorrer ao princípio da
Ele está presente nos momentos de planejamento? Os profes- flexibilidade e fazer as necessárias correçôes do percurso? É nes-
sores avaliaram o trabalho realizado no período letivo ante- se momento que o planejamento se revela como processo, movi-
rior? Refletiram sobre possíveis acertos c erros? mento, atividade contínua e contingente.

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Cabe esclarecer que a ideia de assegurar unidade ao trabalho pe tos, assegura, nào só a memória, como também a possibilidade
dagógico corno uma das razões de ser do planejamento nào remete de socializar o trabalho realizado. Nesse sentido, a formalização
à padronização c uniformidade pretendidas pelo tecnicismo. apresenta se como mais um princípio inerenre à organização do
Nosso argumento está voltado para a defesa de um senti- trabalho escolar.
mento de corpo, de conjunto, dc coesão, de compartilhamento A coerência, outra marca do planejamento, é entendida como
de uma base teórica, dc comunhão dos mesmos projetos de so- uma relação de concordância que envolve a reciprocidade entre os
ciedade, de educação, de escola c de homem. Afinal, se estiver- diferentes elementos que compõem um mesmo plano (objetivos,
mos juntos e firmes com relação aos marcos teóricos do Projeto conteúdos, metodologia, recursos e avaliação); os vários planos
Político-Pcdagógico da escola (GANPIN, 1 9 9 7 ) , poderemos esco- de ensino entre si (de curso, de unidade e de aula); os planos de
lher os caminhos a seguir. Como lembra Almeida ( 2 0 0 2 ) , sem o ensino e o Projeto Político Pedagógico. Este último é um dos "ele-
planejamento somos "navegadores sem sua carta náutica, ã deri- mentos constitutivos da identidade da escola" (SILVA, 2 0 0 2 , p. 6 2 ) .
va, sem saber para onde ir e em qual porto ancorar"(p. 5 9 ) . A objetividade e a ousadia, princípios típicos de um bom
Explicitado o sentido - as razões de ser do ato dc planejar planejamento, fazem referência a pensar com os pés no chão,
para o trabalho docente - cabe interrogar sobre os princípios com possibilidades reais de sair do papel e da gaveta c, ao mes-
que devem orientar esta prática, tais como: a flexibilidade, a par mo tempo, de desencadear mudanças. Assinala, pois, a neces-
ticipação, a formalização, a coerência, a objetividade c a ousadia. sidade c a possibilidade dc projetar ações claras voltadas para
Um dos traços delineadores do planejamento é a flexibili- a superação do real, mediante o delineamento de alternativas e
dade, que diz respeito a uma postura aberta às eorreções, à ava- condições materiais de trabalho e de funcionamento da escola.
liação e ao rcplanejamento do percurso. É importante frisar que, Em síntese, a objetividade c a ousadia apontam para o ser e o
dc forma alguma, podemos entendê-la como acaso ou improviso. vir-a-ser como eixos fundamentais de uma prática planejada
Trata-se de um principio que reconhece os planos e as decisões que se pretende transformadora.
previamente estabelecidas como guias, referenciais, faróis, nun-
ca camisa dc força que imobilize a revisão de valores e práticas. 4 . 3 Momentos do planejamento - um continuum permeado
O caráter participativo, articulador, mobilizador de toda de interseções
a comunidade escolar c outro princípio necessário ã prática do
planejamento. Fstc ato apresenta-se como um processo coletivo Quase sempre o momento de planejamento na escola co-
de "construção de ideias c práticas" (IBIDEM, p. 56). meça pela apresentação do calendário lctivo. pela exposição de
O registro das fonnulaçõcs decorrentes desse compartilha- alguns informes do ínLcrcssc de todos c pela composição dc pe-
mento dc intenções c ações, sob a forma dc planos e ou proje quenos grupos de professores para organizar o Trabalho petla-

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ção dos conselhos escolares - é direito e dever instituidos. Outra conteúdos, metodologia, recursos didáticos e sistemática de
iniciativa em curso que concorre nessa perspectiva encontra-se avaliação. Todos estes componentes estão presentes nos planos
na realização, de um numero cada vez maior, de fóruns, confe- de ensino, seja de curso ou disciplina, de unidade ou de aula,
rências e congressos de educação nas escolas c nos municípios, conforme destacamos a seguir.

mobilizando pais, alunos e professores para discutir o projeto da
escola c da educação que queremos. " • Os objetivos
Na superação de práticas individuais e formais de planeja-
mento e na constituição de experiências colctivas c interdisci- Os objetivos dizem respeito ao destino, aos resultados e
plinares consiste o desafio da educação que se pretende crítica f
f ' propósitos da nossa ação. Expressam valores, ideias, crenças,
e transformadora. Argumentamos, então, em favor de um pla- W* projetos sobre o que é e o que deve ser, não só o aluno, mas o
nejamento participativo e contextualizado com as demandas da % homem e a sociedade. Nesse sentido, cabc-nos indagar: em al-
escola, dos professores e dos alunos como prática a ser consoli- Kp gum momento paramos para pensar sobre o que esperamos do
dada. Uma ação desse tipo exige tempo, condições objetivas de W nosso aluno? O que ele precisa saber, fazer ou ser? O que que-
estudo e de trabalho; orientação, apoio e coordenação pedagó- remos quando definimos o objetivo de tomar o aluno um ser
gica efetívos. Pressupõe que os professores e os demais sujeitos P participativo, critico, criativo, autónomo, cidadão? Este propó-
da comunidade escolar se achem aceitos, reconhecidos, perten- • sito - incluso em um grande número de planos e documentos
centes ao grupo. Estamos falando do sentimento de segurança e f do professor e da escola - denota sinais de que os fins últimos
estabilidade como condição de permanência e continuidade do do nosso trabalho estão extrapolando os limites das disciplinas
trabalho iniciado. Reclama a necessidade do conhecimento téc- curriculares e da sala de aula?
nico que facilita a elaboração e o registro de planos, apontando Esperamos que sim, pois se faz necessária a superação das
como imprescindível à clareza teórica sobre o destino que que- marcas de uma prática pedagógica tradicional, pautada por obje-
remos dar à nossa ação docente. tivos sem referência de tempo e espaço, que privilegia os aspectos
cognitivos em detrimento da formação de valores; restritos a ações
4.5 Planejando as situações de ensino - elementos a considerar observáveis, mensuráveis, que reforça comportamentos como a
adaptação c a acomodação; meramente formais, sem pretensões de
A tarefa de planejar a ação docente envolve refietir sobre o sair do papel; que traduz muito mais a preocupação burocrática de
"para que", "o que", "como" ensinar e acerca dos resultados das fazer cumprir o programa da disciplina e o calendário escolar.
ações empreendidas. As respostas a esses questionamentos tra- Se estes são objetivos que reforçam um modelo de socie-
duzem os elementos constituintes dos planos, a saber; objetivos. dade e educação reformista, quais fins precisam orientar uma

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Executado o trabalho, retomamos o próprio plano, anali- do Projeto Político-Pedagõgíco e de outros instrumentos, a exem-
sando sua concretização, as condições de exequibilidade, os plo do Plano de Desenvolvimento da Escola. Os técnicos e espe-
resultados da aprendizagem dos alunos c o nosso desempenho cialistas a serviço do Poder Público (local, estadual e federal), por
como docentes.'Tudo isso-com vistas ao aperfeiçoamento de sua vez, respondem pela elaboração de programas e projetos que
nossas práticas, o que exige um replanejamento. irão materializar a política e o planejamento educacional.
A descrição das etapas do ato de organizar a ação dídã- A caracterização dos sujeitos e dos diferentes níveis dc pla-
tica do prolessor - diagnóstico, planejamento, execução, ava- nejamento nos remete a imagem de uma pirâmide, por conseguin-
liação e replanejamento - mostra que cias não se constituem te, de uma prática hierarquizada. Tal fato, ao evidenciar a divisão
de modo estanque, mas momentos vividos num continuam per- social do trabalho, expressa na dicotomia entre quem pensa e
meado de interacções. decide e quem acata e executa, revela a mtrincada rede de rela-
ções entre sociedade e educação. Ao mesmo tempo, nos incita a
4.4 Os sujeitos do planejamento assumir uma atitude vigilante e critica ante os paradoxos das
diretrizes educacionais em curso. Esta, de um lado, exalta a es-
Planejar não é um ato neutro. Esta atividade, histori- cola como espaço de definição de rumos (Ai.miQUERQUt, 2005) c
camente situada, serve tanto para a manutenção do status o professor como profissional reflexivo, autónomo e formador de
quo quanto para a mudança, coliforme adverte Albuquerque sujeitos participativos; de outro, tende a reduzir o papel dessa
(2005). Esta compreensão é fundamental para pensarmos o ato instância no processo decisório ao nível gerencial e operacional
de planejar em educação. c a atribuir aos docentes uma ação meramente executora.
O professor é uma das pessoas responsáveis pela organiza- Ultrapassar o discurso do reconliecimcnto das mútuas re-
ção do rrabalho educativo no âmbito da escola e da sala de aula. lações entre planejamento educacional, institucional e. de ensino
Com efeito, o planejamento se apresenta como espaço em que ele nos parece fundamental para a constituição de uma prática que
exerce seu poder de intervenção sobre os contornos e rumos do possibil ite a escola e aos seus professores atuarem com autotiomia
fazer pedagógico e diclático. Tal atuação se concretiza por meio no delineamento de seu trabalho. Ultrapassando uma obrigação,
de sua participação no delineamento, atualização e revisão do faz-se necessário entender e participar do planejamento em seus
Projeto Polático-Pedagógico (PPP), bem como no planejamento diferences níveis como um direito que deve ser conquistado.
de ensino, isto c, de sua ação didática propriamente dita. Alguns avanços nessa direção podem ser contabilizados.
Do planejamento institucional ou escolar têm se ocupado, Silva (2002), recorrendo à Lei N° 9.394/96 (arrigos 14 e 15). nos
principalmente os responsáveis pela direção e coordenação peda- lembra que a presença docente na gestão da educação - efetiva-
gógica da unidade dc ensino, mediante a elaboração do regimento. da na construção do projeto pedagógico da escola e na constitui"

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Sacristán ( 1 9 9 8 ) , numa semelhante perspectiva, entende que os estaríamos falando de uma atividade vazia ou com significado à
conteúdos devera abranger todas as aprendizagens que os alu- margem do para que serve" (IBIDEM).
nos devem alcançar numa etapa de escolarização, em qualquer Ainda hoje, os conteúdos permanecem impostos c tra-
área. Assim, defende que "é necessário estimular comportamen- tados como verdades absolutas, neutros e isentos de preten-
tos, adquirir valores, atitudes e habilidades de pensamento, além sões políticas, apesar da contribuição de Bourdieu c Passeron,
de conhecimento" (p. 150). Althusscr, Baudelot e Establet ao sistematizarem a teoria da
Ambos entendem que a recorrência de um ou de outro tipo Violência Simbólica da Escola, apontando-a como Aparelho
de conteúdo nos currículos de um sistema de ensino evidenciam Ideológico do Estado. Os conteúdos aparecem na prática es-
o que se trabalha ou o que se pretende trabalhar como conheci- colar reduzidos à natureza conceituai e deixam à margem do
mento a ser ensinado. Para Zabala, cada uma das unidades pre- processo de ensino e de aprendizagem os conteúdos atitudi-
cisa abranger as diversas formas de conhecer alguma coisa, pois nais e procedimentais.
"é conveniente nos prevenir do perigo de compartimentar o que Visando à superação dessa atitude acrítica, é preciso por
nunca se encontra de modo separado nas estruturas do conheci- em xeque os critérios de seleção, organização e trabalho com
mento" (ZABALA, 1998, p. 3 9 ) . os saberes escolares. Alguns livros de Didática apontam a signi-
ficação, a utilidade e a adequação â realidade do aluno como crité-
A tipologia de conteúdos pode nos servir de instrumentos rios para selecionar estes conteúdos.
para definir as diferentes posições sobre o papel que deve A respeito dos salieres académicos, científicos, universais,
ter o ensino. Portanto, num ensino que propõe a forma- verdadeiros cabe interrogar: os conteúdos retratam qual ver-
ção integral a presença dos diferentes tipos de conteú-
dade? Sabemos que tornar o conteúdo significativo para o alu-
dos estará equilibrada; por outro lado, um ensino que
defende a função propedêutica universitária priorizará no requer respostas às necessidades e interesses deste. A qual
os conceituais (ZABACA, 1998, p. 32). aluno (homem) estamos nos referindo? O que supomos como
sendo seus interesses e necessidades individuais e de classe? Se
o conhecimento útil requer possibilidade de uso/aplicação em
Sacristán ( 1 9 9 8 ) , por sua vez, chama a atenção para o peri-
novas situações, quais seriam elas? Estamos focalizando situa-
go da banalização dos conteúdos, pois "o discurso pedagógico
ções imediatas, militaristas, instrumentais, pragmáticas ou as de
moderno produziu um certo complexo de culpa ao tratar o tema
natureza abrangente e coletíva? Se o conteúdo precisa estar ade-
dos conteúdos" (SACRISI AN & GOMEZ., 1998, p. 1 2 0 ) descaracteri-
quado às estruturas mentais c à realidade social do aluno, como
zando o próprio ato de ensino, pois "sem conteúdo, não há ensi-
tratar a adaptação curricular? Como superar as dicotomias saber
no, (...) sem formalizar os problemas relativos aos conteúdos não
local-universal, quantidade-qualidade?
existe discurso rigoroso nem científico sobre o ensino, porque

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Fíelas. I.M S. Sales. J.OC.B: Brana M M.S.C e França. M.S.L.M

dos objetivos gerais, recebendo a denominação de objetivo es


prática que sc pretende transformadora? Ohjetivos que revelem
pedfico. Na disciplina Pesquisa Educacional, por exemplo, um
o intuito de levar o aluno a tomar posse do conhecimento cien-
dos objetivos gerais cm torno da aprendizagem do aluno é que
tifico e universal para uso nas suas lutas sociais cotidianas; que
ele seja capaz de demonstrar postura investigativa. Neste caso,
contribuam com o seu processo de desalicnaçâo. propiciando o
cabe como objerivos específicos: a) elaborar questões acerca da
exercício de práticas cidadãs e democráticas, de autoconheci-
temática em estudo; b) formular hipóteses sobre os problemas
mento e realização pessoal; que o ajude a se libertar do precon-
formulados; c) colher dados que possam responder aos proble-
ceito, do medo, da ignorância, da sensação de incapacidade e de
mas levantadas; c d) sistematizar, analisar e socializar os resul-
impossibilidade de reverter as mais variadas situações de opres-
tados do estudo.
são e marginalidade às quais possa estar submetido.
Uma vez definido aonde queremos chegar, encontraremos
Como converter os ohjetivos de uma disciplina ou área do
com maior facilidade o caminho. Essa descoberta implica, por
conhecimento nesses fins? Qual poderá ser o papel da Matemá-
sua vez, mudança da forma como concebemos e trabalhamos o
tica, da História, da Química, da Geografia c da Educação Física,
saber escolar, as conteúdos de ensino.
por exemplo? Nós, professores, descobriremos o "para que" da
nossa matéria de ensino na medida em que a percebermos não
• Os conteúdas
como um fim em si mesma, mas como um meio para consecução
de projetas maiores. Estaremos mais próximos destes propósi-
No geral, os conteúdos escolares continuam dissociados do
tos quando formos capazes de transformar a prática pedagógica
contexto social e da capacidade cognitiva dos alunos, mesmo de-
pela compreensão dos postulados e princípios que a orientam, e
pois das alertas de Dewey, Piaget e de tantos outros expoentes
não pelas normas e regras que a determinam.
escol a novistas para a atenção aos interesses, ritmos e fases do
Os objetivos são horizonte e alicerce, fundamento e guia da
desenvolvimento cognitivo do educando. Continuam definidos
nossa prática. São expressos nos planas por meio de verbos no
e organizados a priori nos livras didáticos c currículos escolares,
infinitivo que traduzem comportamentos, habilidades, atitudes
mesmo após os reclamos de Paulo Freire acerca dos riscos de
c competência esperadas do aluno. Indicam propósitos amplos
uma invasão cultural e do relato de sua experiência acerca do
e específicos. C) primeiro, também denominado de objetivo geral
levantamento do universo vocabular dos alunos.
ou formativo (LiBANto, 1994), referc-se à formação de atitudes,
Zabala (1998) assegura que os conteúdos de aprendizagem
convicções c valores; não são alcançáveis de imediato e nem de
envolvem tanto as contribuições das disciplinas como também
fácil constatação. O segundo, sinaliza propósitos atingíveis c ob-
todos os que possibilitam o desenvolvimento das capacidades
serváveis pelo professor, a serem alcançados no tempo e nas con-
motoras, afetivas, de relação interpessoal e de inserção social.
dições em que se realiza o ensino; constitui um desdobramento

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Faz-sc oportuno registrar outras questões; quais recursos Segundo Luckesi (1996), é corrente o emprego da avaliação
favorecem a descoberta, a reflexão, a intcraçào sujeito-sujeito como mero instrumento de verificação do conhecimento acumu-
e sujeitos-conhecimento? Os recursos são condizentes com os lado pelo aluno visando a sua classificação em apto ou não apto.
objetivos, com a natureza do conteúdo que trabalha mas, com c, assim, promove-lo ou rctê-lo em uma sequencia de estudos.
o perfil cognitivo dos alunos, com as atividades propostas e o Neste caso, como adverte o autor, estamos adotando a prática
tempo disponível? Adequado, também, seria considerarmos o da verificação c não da avaliação, que assume o caráter de fim
uso dos recursos não como meios para assegurar simpatias ou em si mesma e não de meio para a consecução do objetivo maior
seguir modismos, mas para fazermos chegar às aulas a realidade da escola - a efetiva aprendizagem. Esta função da avaliação é
com todas as suas contradições. Para tanto, precisamos ponde- denominada de função somativa ou classificatória.
rar sobre a utilização de equipamentos e meios para além dos Estabelecer critérios avaliativos nos exige clareza quanto
ditos pedagógicos e educativos produzidos pela indústria do aos objetivos visados para, com base neles, apontarmas o que
material didático. É fundamental discernir o moderno do ver- será avaliado. Os critérios dizem respeito aos conceitos, atitudes
dadeiramente novo em educação. e habilidades a serem demonstrados pelos alunos quando sub-
metidos à avaliação. Imaginemos uma situação de ensino cujo
• A avaliação da aprendizagem objetivo seja conhecer o ciclo da água. Neste caso, a avaliação
da aprendizagem deve considerar como critérios a capacidade
A sistemática de avaliação da aprendizagem é outro ele- do aluno de identificação dos diferentes momentos deste ciclo, a
mento constitutivo dos planos de ensino. Defini-la é, no primei- caracterização e a representação gráfica deste com suas respec-
ro momento, explicitar o seu papel nas processos formativas. tivas conexões. Quando, por exemplo, a intenção do professor c
É posicionar-se sobre pressupostos, critérios, instrumentos e avaliar a fluência leitora do aluno, os critérios a serem observa-
periodicidade em que deve acontecer. É definir, ainda, a forma dos devem fazer referência à tradução correta do código escrito,
e o tempo para recuperar a aprendizagem. à pontuação e à entonação de voz. Enfim, a avaliação não se faz
Pensar sobre o papel que a avaliação cumpre na educação subjetivamente, pois, independentemente do instrumento em-
escolar é tentar responder a um antigo (mas sempre atual) de- pregado, ela é balizada por detenninados parâmetros, os quais
safio proposto por Luckesí (1996): "verificação ou avaliação: o norteiam a apreciação docente.
que pratica a escola?"(p. 85). A avaliação que adulamos é do tipo
A avaliação, portanto, precisa ser abrangente, tomar o u v
diagnostica, formativa ou somaliva? .Sua I unção é de acompa-
dividuo como um todo. Seus critérios devem privilegiar não só a
nhar e corrigir o processo? Medir os resultados finais ou ambas
habilidade de reter conhecimento, mas de processá-lo, construí-
as funções? Afinal, a avaliação contínua c processual dispensa a
lo, utilizá-lo em situações reais de vida. Nesse sentido, vem se
avaliação de resultados?

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Freitas. I.M.S; Sales, J.O.C.B; Braga. M.M.S.C e França, M . S . L M Didática a Docência: aprendendo a profissão

Devemos atentar, ainda, para uma organização curricu- os casos, é necessário que o professor conheça bem os seus alu nos,
lar que considere a gradação das dificuldades conceituais, a saiba o nível de conhecimento desses sujeitos c, ainda, preveja o
necessária continuidade dos estudos para o aprofundamento tempo de que dispõe para o desenvolvimento da atividade.
das questões trabalhadas è a integração dos conteúdos como As considerações feitas até aqui mostram que não pode-
garantia de conquista de um saber articulado, interdisciplinar. mos ignorar a relação entre as estratégias de ensino, os objetivos,
Preconizamos, pois, a adoção da dimensão crítico-social dos os conteúdos e os pressupostos dc aprendizagem. Para melhor
conteúdos que os toma como uma estratégia de luta social tão perceber essas articulações, pensemos no seguinte exemplo:
importante quanto a consciência e a prática política, mas que, compreender o planejamento como atividade de organização do
diferente da tendência pedagógica tradicional, os quer apro- trabalho docente, identificando seus níveis, etapas e elementos
priados de forma crítica pelos alunos. apresenlam-se como objetivos deste capítulo. Desse modo, a
abordagem do tema central - o planejamento da ação docente
• A metodologia - contemplou os seguintes subtemas: a importância do plane-
jamento na prática educativa, sua fases, níveis c elementos. Em
Entendemos ser necessário romper com a concepção tecni- uma situação de aula que toma como referencia esses objetivos e
cista de aprendizagem que ainda sustenta nossas práticas de en- conteúdos programáticos, as estratégias poderiam se configurar
sino, f: preciso pautar nassa atividade docente na compreensão no estudo do texto-base e na análise e elaboração coletiva dc
da aprendizagem como ato coletivo e contínuo, ir além da ação planos c projetos de ensino.
metodológica restrita à exposição verbal e aos exercícios de fixa- Ainda sobre a necessária coerência entre objetivos, conteú-
ção. Práticas orientadas para a atividade intelectual dos alunos dos e procedimentos metodológicos, cabe indagar sobre o papel
por meio da problematização, análise c confronto da experiência e o espaço reservado aos recursos didáticos. Podemos dizer que
social desses sujeitos com os conteúdos escolares podem trans- estes funcionam como atorcs coadjuvantes, ou seja, meios, ma-
formar a rotina pedagógica cm ação didática geradora de desa- teriais, instrumentos, suportes à ação docente. Como tal, o seu
fios à aprendizagem, em espaços de interação c livre expressão. papel será o de, não só, ilustrar, reforçar ou tornar concretos os
A decisão pelo uso de uma ou de outra metodologia de en- dizeres do professor, mas, sobretudo, o dc provocar desafios e
sino é fator que depende tanto do conu-údo a ser ensinado como oportunidades dc aprofundamento e contraposição aos saberes
do nível de entendimento da turma cm que ele será trabalhado. professados como incontestáveis. No caso do exemplo anterior,
Depende, ainda, do entendimento que o professor tem sobre o que o texto-base, os planos e os projetos de ensino apresentam-se
seja ensinar e aprender, bem como do que o espaço onde trabalha como recursos didáticos a que recorremos para materializar as
afirma e difunde em seu Projeto Político-Pedagógico. Em ambos estrarégias de ensino.

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Freitas. I M.S: Sales. J.O.C.O. Braga. M.M.SC e Fiança M S L M Didática o Oononnia: aprendendo a prohssâo

Outra possibilidade de democratizarmos os espaços dc ava- Não esqueça também de reflei ir sobre:
liação da aprendizagem se apresenta na autoavaiiaçào, caracteri-
zada como um olhar sobre nòs mesmos, uma situação ax-aliativa • Os avanços, conquistas e aprendizagens que foram signifi-
liberta da prática convencional em que um atribui nota ou conceito cativas para você; e,
a outros pela via da quantificação dos conhecimentos aprendidos. • As dificuldades, inquietações ou duvidas que ainda persistem.
Não se trata dc um exercício simples, reduzido a mera mensura-
ção do nosso desempenho. Como qualquer outro procedimento, Agora, depois desse autoexamc, atribua a você mesmo uma
ele se sustenta em critérios prévios e coleti vãmente estabelecidos; nota (de 0 a 10). Tomando como referência os questionamentos
reclama, sobretudo, uma reflexão ética sobre nossas realizações, aqui sugeridos, apresente considerações a respeito de seu cresci-
conquistas, dificuldades c inquietações; implica uma revisão dos mento durante o processo formativo vivenciado.
compromissos anteriormente assumidos, efetivados ou não.
Nota:
A atribuição de um conceito ou nota, posterior a este auto-
Considerações:
exaine critico, é secundária, embora seja necessário dimensiona
lo. No quadro a seguir, destacamos alguns aspectos que podem
ser considerados em uma situação de autoavaiiaçào.

Roteiro dc Autoavaiiaçào

A autoavaiiaçào é uma boa oportunidade para relletirmosso


bre nosso desempenho e crescimento pessoal. Ela exige transpa-
rência e honestidade. Afinal, o nosso objetivo é crescer e fazer as
correções necessárias ao percurso do nosso aprendizado. Apro-
veite este momento para ponderar sobre estas e outras questões
que lhe possam ocorrer

• Fui assíduo e pontual? Como vimos, a avaliação é um composto do planejamento sob


• Realizei as leituras e atividades solicitadas? o qual recai a tarefa de definir e redeíin ir o processo de ensino, por
• Participei dos debates c discussões promovidas? conseguinte, o fazer pedagógico do professor em contexto. Para
• Colaborei com os colegas nos trabalhos dc grupo? tanto, um cuidado necessário diz respeito às formas de regist ro
• Consegui compreender c sistematizar as temáticas e ques- das resultados da avaliação por parte dos professores, sobretudo
tões trabalhadas? quando esta pratica sc dcscm^olw numa perspectiva processual.

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Froilas. I.M.S: Sales, J.O.C.B; Braga. M .M.S.C e França. M.S.L.M Oidática e Docência: aprendendo a profissão

destacando a avaliação com foco na capacidade do aluno de con- mais acreditamos no poder deste instrumento para avaliar opera-
viver, colaborar e de se posicionar diante de ideias e situações. ções mentais mais complexas?
Concebendo o aluno como um ser integral, pontuando a A interpretação e a ordenação dc ideias, a argumentação,
participação, o interesse, o seu comprometimento como con- a capacidade de tecer relações, fazer análise, compor sínte-
dutas relevantes, constatamos a insuficiência da prova escrita ses são algumas das muitas operações de pensamento neces-
como o único meio legítimo de avaliação. Tal fato nos situa ante sitadas dc exercício e avaliação. Entendemos que as provas
o desafio de definir instrumentos de avaliação coerentes com escritas, sejam elas com questões abertas (dissertativas o u
essa compreensão. E quais outros meios ou procedimentos po- discursivas) ou fechadas (objetivas), permitem observar o de-
demos utilizar? O rol de possibilidades é extenso. Os exercícios senvolvimento de tais competências. Ademais, não podemos
diários, os trabalhos individuais e de equipe, os portfólios, a esquecer que as situações avaliativas a que ños submetemos
autoavaliação, a avaliação grupai e a observação planejada e fora do ambiente escolar privilegiam este instrumento e os
sistemática do desempenho do aluno são algumas das opções. critérios de avaliação aqui discutidos.
Estes novos instrumentos de avaliação, ao mesmo tempo em Para as situações de impasse acerca do desempenho dis-
que renovam a prática pedagógica, também são objeto de equívo- cente no contexto escolar a experiência dos conselhos de classe
cos c desafios. O primeiro deles diz respeito à substituição de toda apresenta-se como uma via dc coletivizar a análise dos resulta-
e qualquer modalidade de avaliação ao final de uma sequência ou dos e a proposição de medidas de recuperação. Este espaço exige
período de estudo por exercícios e aávidades no decorrer do pro- cuidados, pois, embora pensado originalmente para possibilitar
cesso, justificada como uma avaliação contínua e processual. Ao ao professor outro olhar sobre o aluno e sua aprendizagem, ele se
nosso ver, as avaliações parciais não dispensam, necessariamen- configura como instância dc um veredicto final: ora usurpando
te, as avaliações finais. Os objetivos desta última são, sobretudo, do professor a tarefa de emitir parecer de desempenho dos seus
identificar o que foi e o que não foi aprendido, as dificuldades cios alunos, ora referendando sentenças arbitrárias e unilaterais des-
alunos ou os porquês da nào-aprcndizagem, as ações do professor te. Unilaterais porque quase sempre o Conselho de Classe repre-
que não acarretaram o resultado esperado e as que valem a pena senta o olhar do corpo docente já que suas portas estão cerradas
realizar novamente. O segundo equivoco, desdobramento do pri- à participação da representação discente e da família em foco.
meiro, referc-se à aversão às provas escritas. É certo que hoje em- O que estamos falando sobre este locus de avaliação soa
pregamos um elenco mais amplo de meios e situações de avaliação como demagógico ou encontra alguma ressonância com sua v i -
da aprendizagem, mas são perceptíveis também a recusa e a nega- vência em seu contexto de trabalho? Picar atento, pois, à formu-
ção do valor da prova escrita por um grande número de professores. lação de experiências c espaços avaliativos democráticos é f u n -
Seria o teceio dc parecermos tradicionais, conteudísticns? O u não damental e tarefa de todos!

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Freitas, I.M.S; Sales, J.O.C.8: Braga. M.M.S.C o França. M.S.L.M Didática e Docência: aprendendo a profissão

Plano de Aula - Roteiro de Análise • Atividades previstas e a duração da aula


• Atividades e os recursos didáticos utilizados
Um plano de aula traduz uma sequência dídática organi-
• Objetivos, critérios e instrumentos de avaliação
zada. Sua análise deve considerar tres aspectos fundamentais: a
presença dos elementos constitutivos desse instrumento de pla- d) A redação d o plano
nejamento; a coerência interna entre estes diferentes elementos, • Objetividade (texto sucinto e preciso)
bem como sua redação. Considerando esses aspectos, observe os • Clareza das ideias (de fácil entendimento)
pontos delineados a seguir: • Correçào do texto
a) Os dados de identificação do plano

• Instituição de ensino Sugestões de leitura


• Disciplina
• Professor
ARAÚJO, Ulisses F. Temas transversais e a estratégia de
• Série/ano/ciclo
projetos. São Paulo: Moderna, 2003 (Colcção Cotidiano e es-
• Tempo de duração da aula
colar). Com o argumento de que a estratégia de projetos cons-
b) Os elementos constitutivos do plano titui forma essencial para o ensino dos temas transversais em
• Objetivos geral e específicos educação, o autor discute o princípio da transversalidade como
• Conteúdo programático e seu detalhamento em tema cen- caminho de superação de uma forma de organização curricular
tral e subtemas disciplinar. O texto é de fácil compreensão, relata uma experi-
• Desenvolvimento metodológico da aula com explicitação ência de projeto desenvolvido em sala de aula da 4 série do en-
a

das estratégias de ensino adequadas aos momentos de i n i - sino lundamental, acrescida de uma entrevista com as duvidas
ciação, aprofundamento e síntese/culminância mais frequentes dos professores sobre o tema.
• Recursos didáticos LACERDA, Cecília Rosa. Projeto Político-Pedagógico: cons-
• Critérios e instrumentos de avaliação da aprendizagem trução, pesquisa e avaliação. Fortaleza, CE: LCR, 2004. O livro
• Referências bibliográficas registra as reflexões feitas pelos educadores de uma escola pu-
blica estadual de ensino fundamental e médio, localizada em
c) A coerência interna entre os elementos do plano
um município cearense, no decorrer do processo de construção
• Objetivos e conteúdo coletiva do seu Projeto Político-Pedagógico, revelando as con-
• Conteúdo e série/ano/ciclo de ensino a que se destina cepções, significados, características e desafios a ele atribuídas.
• Conteúdo e prática social e cotidiana dos alunos

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Fteilas. I.M.S: Sales. J.O.C.B; Braga. M.M.S.C e França. M S L M Didática e Docência aprendendo a prolissão

O velho e conhecido boletim não c a única possibilidade, nem


suficiente para traduzir a trajetória da aprendizagem discente, Atividades
bem como pára alimentar possíveis revisões na prática de ensino
do professor. Explorar outras formas de registros e comunicação 1. Como ressaltamos no texto, o planejamento ocorre em três
dos resultados da avaliação impõe-se como um desafio. O uso de níveis; macro, referindo-se à definição das políticas educacio-
diários, de relatórios individuais e coletivos, constitui opção de nais federais, estaduais e municipais; intermediário, abran-
grande potencial, embora solicite condições de trabalho e apoio gendo a elaboração da proposta pedagógica c dos planos de
instírucional hem sempre presentes no contexto escolar. ação das instituições; e micro, quando planejamos as situa-
Pensar sobre os objetivos, conteúdos escolares, procedi- ções de ensino. São níveis diferentes, carregados de especifici-
mentos e recursos metodológicos e a avaliação da aprendizagem ! dades, mas profundamente interligados. Nesse sentido, colete
.. é condição para refletir sobre a direção do nosso trabalho. Do artigos e documentos que expressem a política educacional
contrário, ficaremos entregues aos rumos e condições estabele- do País. do Estado e do município, construindo, com este ma-
cidas por outros: terial, um grande painel. Exponha o material e analise com a
turma as implicações destas políticas na forma de organiza-
ção e funcionamento das escolas, e, mais especificamente, no
Síntese do Capítulo fazer pedagógico dos professores.

2. O projeto didático ou de ensino é uma modalidade de planeja-


O texto parte de algumas indagações utilizadas como pre-
mento vivenciada por muitas unidades escolares. Considerando
- texto para o debate sobre o planejamento, tomando por base
este fato, convide alguém para socializar com a turma a experiên-
alguns relatos colhidos pelas autoras em suas itinerâncias pelo
cia de uma ínsrituiçào escolar quanto ao processo de elaboração
espaço da escola publica Advogando a favor de uma perspectiva
e vivência de prqjetos. Durante a atividacle. explore seus referen-
transformadora de educação, discute sobre o sentido do ato de
ciais teóricos, estrutura e processo de planejamento.
planejar, tece considerações acerca dos princípios que orientam
o planejamento, identificando seus níveis, etapas e os sujeitos X Traga para a sala planos de aula elaborados por você ou por
responsáveis por sua elaboração. O exame dos elementos cons- qualquer outro professor para que sejam analisados coletiva-
tituintes dos planos de ensino - objetivos, conteúdos, metodo- mente. Apresentamos a seguir alguns aspectos que devem ser
logia, recursos e avaliação - explicita alguns das desafios da or- alvo de atenção. De início, discuta o roteiro com seus colegas
ganização do trabalho docente, os quais devem ser enfrentados de equipe para conhecer a proposta e, se necessário, acrescen-
pelo coletivo da escola. tar ourros requisitos. Vejamos:

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