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Ingrid da Silva Oliveira 11057714

RESENHA- TENDÊNCIA DE MERCADO NA ÁREA DE PAPEL E CELULOSE E


MADEIRA NATIVA E SUAS RELAÇÕES COM O MERCADO DE CARBONO
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Uma vez que os três produtos aqui discutidos são recursos florestais, cabe dizer que de modo
geral, existe uma forte tendência no crescimento do setor florestal (silvicultura) para as próximas
décadas, movimento este que está essencialmente em função da busca pela descarbonização das
economias em variados setores tais como o energético, de transporte e de construção civil, no sentido
de ir ao encontro de acordos climáticos estabelecidos para um desenvolvimento sustentável e
mitigação da emissão de GEEs, sobretudo CO2. No entanto, essa grande demanda de produtos de
florestas plantadas para atender uma população crescente com um padrão de consumo em transição
para o modelo ocidental, torna necessária e merecida uma discussão sobre tal expansão dessas
florestas artificiais sobre as florestas nativas.
Primeiramente é necessário distinguir os papeis das florestas plantadas. Elas podem ter fins de
recuperação de uma área ou, como o mais comum, ter um fim comercial atendendo ao mercado de
papel,celulose e madeireiro. Por outro lado, temos as florestas nativas que, por sua vez quando
estabelecidas como ecossistemas maduros desempenham uma série de serviços ecossistêmicos de
importância prioritária para a humanidade bem como, esta sim, preserva em sua dinâmica a
biodiversidade local que por sua vez, também ajuda a manter os serviços ecossistêmicos de interesses
humanos.
Apesar das florestas plantadas possuírem uma justificativa coerente para sua existência -
como atuar no sentido de reduzir a pressão exploratória sobre os recursos das matas nativas por meio
do desmatamento; atuar como sumidouro de CO2 e ​reaproveitar terras degradadas pela agricultura -
ainda assim, o que se observa na prática é uma contínua retração das florestas nativas e expansão das
florestas plantadas. Não necessariamente a retração da primeira é diretamente causada pela expansão
da segunda, no entanto, os mecanismos regulatórios e de monitoramento sobre as florestas nativas
devem ser fortalecidos para que a indústria possa realmente utilizar-se desse argumento para se
sustentar, principalmente porque devido ao aumento populacional e o aumento do poder aquisitivo
dos países emergentes nos próximos anos haverá maior demanda nos setores energético, de
construção e mesmo no crescimento da demanda por produtos como papel de escritório e higiênico.
Além disso, com o panorama das mudanças climáticas, o mercado de carbono que por um período
havia se enfraquecido, volta a ganhar força, o que será discutido mais à frente.
● Indústria do papel e celulose no Brasil.
O Brasil é atualmente o líder mundial na tecnologia de melhoramento genético e clonagem para o
cultivo do eucalipto. Tal desenvolvimento se desdobra desde meados de 1950 quando o Plano de
Metas de Juscelino Kubitschek deu apoio à silvicultura para diferentes fins, incluindo a construção e
alimentação de usinas siderúrgicas e termelétricas. Além desses melhoramentos que permitiram a
produtividade passar de 15m³/ha para 40m³/ha, temos uma série de condições abióticas que justificam
o Brasil como segundo maior produtor de celulose a partir de eucalipto, produzindo 18.800
toneladas/ano, dentre eles: água, insolação e terras abundantes, permitindo 3 “colheitas” ao todo, 1 a
cada 7 anos com maior rendimento produtivo a menor custo no mundo.
O mercado de papel e celulose é baseado basicamente na exploração do eucalipto(72%) e da
pinus(21%)*1 isto porque enquanto a primeira fornece uma fibra mais curta (0,5mm - 2mm), mais
absorvente e menos rígida (ideal para fabricação de papel para impressão, papel higiênico,
guardanapo,dentre outros) a fibra longa (2mm-5mm) obtida, por sua vez a partir da pinus, tem
características opostas e é destinada sobretudo para a fabricação de embalagens, papelão e jornal.
Enquanto que a produção de celulose atende majoritariamente(67%) ao mercado externo, a de papel
atende ao interno e isso leva a formas de organização e distribuição desses fornecedores de forma
muito distinta no país, se concentrando em poucas empresas para a primeira, e se diluindo em
empresas de menor porte para a segunda.

Produção nacional de papel e celulose. Exportação desses mesmos produtos segue padrão semelhante.
Unidades em mil toneladas. Ibá, Bradesco.

De modo geral, a tendência para o mercado de celulose continua em expansão enquanto o de


papel, mais limitado a atender essencialmente a demanda doméstica tem reduzido seu crescimento e
se mostrado bastante estável desde 2013. Uma das causas para essa baixa taxa de crescimento é o
avanço do uso de mídias digitais ao invés de mídias impressas. Já o crescimento da produção do setor
da celulose está em função das causas conjunturais e internacionais discutidas no início do texto e
espera-se que o consumo interno em 2018 apresente aumentos em função das eleições e da copa. De
fevereiro de 2017 para fevereiro de 2018, a exportação de recursos celulósicos combinada à queda de
importações ( em suma, de celulose especial para imprensa), resultaram no fortalecimento da balança
comercial brasileira.
Quanto à inovação e dificuldades que precisam ser superadas nessas indústrias, destaca-se o
crescimento de seu mercado consumidor doméstico; sua expansão para a região Nordeste; o
crescimento dessas empresas de forma sustentável; obter a autossuficiência energética das fábricas
embora aproximadamente 67% da energia utilizada por elas seja gerada pelo processamento de
resíduo de licor negro (subproduto da lignina resultante da sua separação com celulose). Devido às
pressões para inovação e redução de emissões de GEEs, há grande tendência que fibras papeleiras
sejam vistas como substituto do plástico, o que leva a necessidade de inovar-se e expandir no mercado
internacional nos próximos anos.

1
Outras fontes não madeireiras de matéria prima para produção de papel e celulose são o bambu, sisal e bagaço
de cana, representando 7,2% dessa produção.
Área plantada com eucalipto no brasil (esquerda) e área plantada com ​Pinus ​no brasil(direita), Ibá,
Bradesco (2016)

● Matas nativas e mercado de carbono


Uma vez que o Protocolo de Kyoto aprovou a existência de um mercado de carbono dentro do
contexto do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), com o intuito de mitigar emissões de
GEEs ao mesmo tempo em que buscava atenuar as desigualdades do desenvolvimento econômico
entre países desenvolvidos e os emergentes - por meio de compensações pela venda de créditos de
carbono para fomentar a adaptação dessas economias a um novo padrão de desenvolvimento - uma
série de problemas quanto a tal regulamentação surgiram primeiramente por causa da soberania dos
Estados. Foi permitido que cada Estado definisse o limite máximo da emissão de suas indústrias e
como gerir e medir essa contribuição à não emissão de gases.
Para introduzir a problemática acima, é preciso deixar claro que o Brasil por meio ​da ​Lei nº
12.187 de 2009 e da ​Política Nacional sobre a Mudança do Clima (PNMC), oficializou sua
participação voluntária em reduzir suas emissões entre 36,1% a 38,9% até 2020, tendo como
referência o ano de 2005. Dentre diversas definições de importância para a gestão dessa meta, está que
as atividades realizadas nos setores de energia, processos industriais, agropecuária, mudança do uso
da terra e reflorestamento/florestamento e tratamento de resíduos são passíveis de creditação de
carbono.
Dessa forma, nas últimas reuniões (COP-21 e COP-22) o Brasil veio propondo atualizações
ao protocolo original para que ele exija uma regulamentação a um mercado mundial de carbono,
impedindo que certos países vendam créditos de emissões que, na verdade, não deixaram de emitir.
Reconhecido como integrante bastante ativo, o Brasil se envolveu em diversas discussões e
propostas, dentre as mais recentes está ​a não “mercantilização” das florestas. Nesse sentido, o país
apoia que outros governos e instituições estrangeiras contribuam por meio de doações à conservação
das matas, no entanto, não é favor da venda de créditos para as mesmas organizações o que, por um
lado, apesar de ser justo - pois ao ser conivente com a venda de créditos então se transfere as
responsabilidades para solucionar problemas globais para apenas um grupo restrito de países (que, por
sua vez, por ainda possuírem extensas reservas florestais teriam que abrir mão da exploração
econômica de seus recursos em nome da conservação demandada internacionalmente) - ainda assim
barra uma série de investimentos que poderiam ser benéficos à conservação e dificulta a própria
fixação de toneladas de carbono presentes na atmosfera. Essa postura brasileira deve ser olhada com
cautela, pois mesmo que se permita a venda de crédito de carbono por área não desmatada, o
reflorestamento deve ser prioritariamente feito com espécies nativas uma vez que apenas elas
sustentam comunidades biodiversas e nutrem os serviços ecológicos. Dito isto, deve-se ser levar em
consideração que o plantio de florestas nativas necessitam de muito mais tempo do que florestas de
monocultura, o que pode ser visto como um conflito de interesse com a indústria de florestas do
mercado celulósico que poderia ver nessa brecha uma chance de reflorestar e fazer uso sustentável do
solo sem priorizar a biodiversidade.
Apesar de toda a discussão, o valor da tonelada de CO2, depois de muitos anos de grande
oscilação, tem voltado a se estabilizar e enquanto as transações internacionais ainda possuem sistemas
e referências distintas para o cálculo dessa emissão, as negociações não formalizadas nos termos da
ONU tem crescido e o valor da tonelada, aumentado. O mercado formal, além de permitir que
“créditos podres” de carbono sejam validados e negociados, ele resulta numa aparente redução da
emissão líquida e, mais do que isso, apesar de parecer ser uma solução nos horizontes próximos,
diminui a discussão da emissão à mera mercadoria quando, na verdade, as mudanças que poderão
trazer resultados efetivos a longo prazo para todo o planeta são aquelas relacionadas ao padrão de
consumo e de vida de toda a população mundial, em especial dos países emergentes.
Por fim, tendo em vista as futuras demandas, devemos observar com cuidado o que os setores
de florestas plantadas consideram barreiras para o seu crescimento. A Associação Brasileira de
Produtores de Florestas Plantadas define que o potencial de consolidar a indústria do setor florestal
depende: da superação da insegurança jurídica que dificulta a aquisição de estrangeiros às terras
brasileiras, além de não lucrar captando investimento da ordem de bilhões de reais; apontam que o
licenciamento ambiental brasileiro é demorado, burocrático e que envolve atores sociais em demasia;
tributação excessiva e alto custo de financiamento para seus negócios; e vai além, critica que a
legislação trabalhista brasileira é excessiva e cara e sugerem ainda que para prosperarem, o setor
privado deve se articular para remover tais barreiras institucionais, o que, na minha opinião, é uma
postura um tanto pervertida e não preocupada com questões socioambientais no entorno de seu
negócio.

● Referências Bibliográficas
1. http://iba.org/pt/noticias/9-conteudo-pt/288-bracelpa-industria-de-celulose-e-papel-brasileira-
anuncia-investimentos
2. https://www.economiaemdia.com.br/EconomiaEmDia/pdf/infset_papel_e_celulose.pdf
3. http://iba.org/pt/produtos/celulose
4. http://www.valor.com.br/empresas/5418391/producao-de-celulose-cresce-184-em-fevereiro-n
a-comparacao-anual
5. http://www.poyry.com.br/sites/www.poyry.com.br/files/media/related_material/16out27a-abt
cp.pdf
6. https://www.ecycle.com.br/component/content/article/63-meio-ambiente/4820-reflorestament
o-por-mata-nativa-ou-floresta-plantada-controversias-beneficios-importancia.html
7. https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2015/04/florestas-plantadas-
sao-uma-agricultura-com-desempenho-ambiental-extraordinario.html
8. ​http://www.oeco.org.br/reportagens/brasil-tenta-regular-novo-mercado-de-carbono/
9. http://www.florestal.gov.br/snif/search?ordering=&searchphrase=all&searchword=floresta+n
ativ
10. http://www.ipef.br/estatisticas/relatorios/anuario-abraf13-br.pdf
11. http://wribrasil.org.br/pt/blog/2017/06/descarbonizacao-da-economia-passa-pelo-campo
12. http://www.ccst.inpe.br/brasil-tenta-regular-novo-mercado-de-carbono/
13. https://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2017/05/o-credito-de-carbono-sera-nova-c
ommodity-do-brasil.html
14. https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/meio-ambiente/o-mercado-de-carbono-precisa-ser
-detido-afirma-pesquisadora-20457220

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