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1.

Apresentação da obra

Estrutura e arquitectura do romance

A estrutura de Os Maias é desde logo definida pelo próprio autor ao sublinhar a


importância do subtítulo – Episódios da Vida Romântica.

Assim, Os Maias apresentam dois níveis narrativos relacionados directamente


com:

O título – Os Maias – que remete para a historia de uma família ao longo de


três gerações, incluindo a intriga/ acção central, que se constrói como uma
acção fechada;

O subtítulo – Episódios da Vida Romântica – que aponta para uma descrição/


pintura de um certo estilo de vida, o romântico, através da crónica de costumes
da sociedade lisboeta, particularmente da aristocracia e alta burguesia da época
de 70 do século XIX. A crónica de costumes concretiza-se através da construção
de ambientes e da actuação de personagens – tipo, revelando-se com uma
acção aberta.

A arquitectura do romance conjuga três dimensões estruturadoras:

. Os antecedentes e evolução da família Maia;

. A intriga – relação incestuosa de Carlos e Maria Eduarda;

. A visão dos costumes quotidianos da sociedade lisboeta no final do século XIX,


que serve de cenário da intriga central.

Na intriga secundária temos:

- A história de Afonso da Maia - época de reacção do Liberalismo ao


Absolutismo;

- A história de Pedro da Maia e Maria Monforte - época de instauração do


Liberalismo e consequentes contradições internas;

- A história da infância e juventude de Carlos da Maia - época de


decadência das experiências Liberais.

Na intriga principal são retratados os amores incestuosos de Carlos e Maria


Eduarda que terminam com a desagregação da família.

Carlos é o protagonista da intriga principal.


Teve uma educação à inglesa e tirou o curso de medicina em Coimbra.

A educação de Maria Eduarda foi completamente diferente, donde se conclui que


a sua paixão não foi condicionada pela educação, nem pela hereditariedade, nem
pelo meio.

A sua ligação amorosa foi comandada à distância por uma entidade que se
denomina destino.

1.1. Personagens centrais


. Afonso da Maia

. Pedro da Maia

. Maria Monforte

. Carlos da Maia

. Maria Eduarda

1.2. A estrutura trágica da intriga principal


1.3. Representatividade social
Afonso: português austero, símbolo das virtudes e da moral de outrora;

Pedro: português fruto da educação romântica sentimental e beata, propenso a


comportamentos neuróticos e trágicos;

Alencar: poeta ultra-romantismo, lírico arrebatado, de um idealismo extremo e


exacerbado, que representa os artistas das letras;
Jacob Cohen: “o respeitado director do banco nacional”, é um financeiro sem
escrúpulos, símbolo da lata finança nacional oportunista, que representa a alta
finança nacional, e simboliza a burguesia que se encontra em lugares de poder;

Conde de Gouvarinho: político incompetente, retrógrado, mas com poder;


ministro e par do reino, representa a incompetência política;

Cruges: “um diabo adoidado, maestro, pianista, com uma pontinha de génio”, é
o intelectual incompreendido e marginalizado, que representa os artistas da
música;
Steinbroken: o político neutro, que nunca se compromete e representa os
diplomatas;

Palma Cavalão e Neves: jornalistas corruptos, representantes da corrupção e


do compadrio político na formação; Palma Cavalão dirige A Corneta do Diabo,
jornal que “na impressão, no papel, na abundância dos itálicos, no tipo gasto,
todo ele revelava imundície e malandrice” e Neves A Tarde.

Sousa Neto: representante da administração pública, incompetente e inculto;


Eusebiozinho: o produto da educação portuguesa, retrógrada e deformadora;

Dâmaso Salcede: o português vulgar dum estrato social privilegiado, é símbolo


de vários defeitos calúnia, cobardia, imitação servil do estrangeiro, culto do
“chique a valer”, vaidade, egoísmo e a falta de integridade moral;

João da Ega: representa o intelectual dos grandes ideais, incoerente nas suas
posições, alheio a convenções, mas vitima do meio que irreverentemente
contesta;
Carlos: português educado superiormente, dotado de um gosto requintado que
se distancia da mediocridade do meio social que o rodeia, mas vítima de um
diletantismo e ociosidade que o impedem de concretizar os seus projectos a
vencer;

Para além da singularidade destes “tipos”, poderemos ainda detectar no


romance situações de confronto ou contraste que exemplificam determinados
comportamentos e perfis intelectuais:

. Anti-Clericalismo / Clericalismo fanático representado pelo par Afonso da Maia


e Maria Eduarda Runa;

. Romantismo / Naturalismo – confronto de estéticas literárias representadas


por Alencar e Ega, respectivamente;

. Personalidade própria / Imitação petulante, em Carlos e Dâmaso.

Comentar o episódio:

2. Apresentação do episódio – O passeio


Final
2.1. Resumo do Capitulo – XVIII
Sai na Gazeta ilustrada a notícia da partida de Carlos e Ega numa longa viagem
pelo mundo. Um ano e meio depois Ega regressa trazendo consigo a ideia de
escrever um livro, Jornadas da Ásia e conta que Carlos ficara a viver em Paris a
vida de um príncipe da Renascença, onde alugara um apartamento, pois não
desejava regressar a Portugal.

Dez anos depois, Carlos regressa a Lisboa, mas não sem antes passar por Santa
Olávia. Carlos almoça no Hotel Bragança com Ega, que lhe conta todas as
novidades.

Entretanto, aparecem Alencar e Cruges, que falam dos anos que passaram:
Alencar cuidava agora da sobrinha, pois a sua irmã morrera, e Cruges e Carlos
convida-os para um “jantarinho à portuguesa”.

Após o almoço, Ega e Carlos vão visitar o Ramalhete, quando chegam ao Chiado
verificam que nada mudou, pois continua do mesmo modo aquando a sua
partida.

Pelo caminho encontram Dâmaso, que casara com a filha mais nova de um
comerciante falido e para além de ter de sustentar toda a família, sofria a traição
da mulher.

Aos poucos, Carlos toma consciência do novo Portugal, ainda mais decadente
que à dez anos atrás. Vêem Charlie, já um homem, e encontra Eusebio, que fora
obrigado a casar com uma mulher forte, pois o pai dela apanhara-os a namorar.

No Ramalhete, a maior parte das decorações tinham ou estavam a ser


despachadas para Paris, onde Carlos planeava ficar para sempre. Carlos
relembrava Maria Eduarda e conta a Ega que recebera uma carta dela. Contava-
lhe que ía casar com um tal Mr. de Trelain, decisão tomada ao fim de muitos
anos, e que tinha comprado uma quinta em Orleães, “Les Rosières”. Carlos
encara este casamento de Maria Eduarda como o enterro definitivo daquela fase
atribulada da sua vida.

Carlos da Maia vê que o país continua num estado de estagnação, decadência,


envelhecimento e ociosidade/ vadiagem. Sendo por estes motivos que tanto a
cidade de Lisboa como o país, são o alvo crítico de Carlos.

Passam pelo escritório de Afonso, o que lhes trás tristes recordações, e


constatam que não vale a pena viver, por mais que tentemos lutar por mudar a
vida, não vale a pena o esforço, porque tudo são desilusão e poeira: “Nada
desejar e nada recea… Não se abandonar a uma esperança – nem a um
desapontamento”. Ambos concordam que falharam na vida.
Quando saem do Ramalhete constatam que estavam atrasados para o Jantar e,
ao verem o “americano” (meio de transporte), correm atrás dele, que entretanto
começam a ver ao longe.

2.2. Excerto, pág. 688 a 716


Leitura e análise de excertos do capítulo.

3. Quatro marcas do estilo queirosiano


Metáfora – “Os políticos hoje eram bonecos de engonços, que faziam gestos e
tomavam atitudes porque dois ou três financeiros por trás lhes puxavam pelos
cordéis...”

Múltipla adjectivação – “Não é a cidade, é a gente. Uma gente feiíssima,


encardida, molenga, reles, amarelada, acabrunhada!...”

Antítese – “E quem avistaram logo foi o Eusebiozinho. Parecia mais fúnebre,


mais tísico, dando o braço a uma senhora muito forte, muito corada, que
estalava num vestido de seda cor de pinhão.”

Hipálage – “tomavam naquele fim de tarde um tom mais pensativo e triste”

4. Relação entre o episódio e a intriga


principal
A acção principal d' Os Maias desenvolve-se segundo os moldes da tragédia
clássica. A peripécia verificou-se com o encontro casual de Maria Eduarda com
Guimarães e com as revelações casuais do Guimarães a Ega sobre a identidade
de Maria Eduarda que levaram a que também Carlos e Afonso da Maia
soubessem a verdade sobre a relação dos dois protagonistas.

Na intriga principal são retratados os amores incestuosos de Carlos da Maia e


Maria Eduarda que provocam a catástrofe consumada pela morte do avô, a
separação definitiva dos dois amantes e as reflexões de Carlos e Ega.

No capítulo XVIII, todos esses acontecimentos levam a que Carlos saia do seu
país e parta numa viagem com João da Ega.

O último capítulo constitui o epílogo (desenlace) da obra: dez anos depois, em


1887, Carlos visita Lisboa e encontra-se inseparável de Ega, com quem viajara
pelo mundo, antes de se instalar em Paris. Neste reencontro, e nas reflexões dos
dois amigos ao deambularem pela capital, transparece um pessimismo amargo
que resulta não só do fracasso pessoal de ambos, mas também do ambiente que
os rodeia.

5. Personagens intervenientes no episódio


A - Carlos

B - Ega

C - Dâmaso

Carlos – Personagem Principal

Caracterização Física
Carlos era um belo e magnífico rapaz. Era alto, bem constituído, de ombros
largos, olhos negros, pele branca, cabelos negros e ondulados. Tinha barba fina,
castanha escura, pequena e aguçada no queixo. O bigode era arqueado aos
cantos da boca. Como diz Eça, ele tinha uma fisionomia de "belo cavaleiro da
Renascença".

Caracterização Psicológica
Carlos era culto, bem-educado, de gostos requintados. Ao contrário do seu pai, é
fruto de uma educação à Inglesa. É corajoso e frontal. Amigo do seu amigo e
generoso. Destaca-se na sua personalidade o cosmopolitismo, a sensualidade, o
gosto pelo luxo, e diletantismo (incapacidade de se fixar num projecto sério e de
o concretizar). Todavia, apesar da educação, Carlos fracassou. Não foi devido a
esta mas falhou, em parte, por causa do meio onde se instalou – uma sociedade
parasita, ociosa, fútil e sem estímulos. Mas também devido a aspectos
hereditários – a fraqueza e a cobardia do pai, o egoísmo, a futilidade.

Personagens tipo: caracterização, comportamento,


dimensão simbólica

Ega

Caracterização Física
Ao nível físico, brinca com a sua magreza, com o seu monóculo e com o bigode
arrebitado. Usava "um vidro entalado no olho", tinha "nariz adunco, pescoço
esganiçado, punhos tísicos, pernas de cegonha". Era o autêntico retrato de Eça.

Caracterização Psicológica
Ao nível intelectual, revela a sua dualidade romântica e regeneradora.

Ega, amigo inseparável de Carlos da Maia, caracteriza-se por ser um irreverente,


excêntrico, revolucionário, boémio, exagerado, provocador, sarcástico, crítico,
anarquista e satânico.

João da Ega é a projecção literária de Eça de Queirós. É uma personagem


contraditória, por um lado, romântico e sentimental, por outro, progressista e
crítico, sarcástico do Portugal Constitucional.

Sofre também de diletantismo, concebe grandes projectos literários que nunca


chega a executar. Terminado o curso, vem viver para Lisboa e torna-se amigo
inseparável de Carlos. Ega, um falhado, corrompido pela sociedade, encarna a
figura defensora dos valores da escola realista por oposição à romântica.

Dâmaso

Caracterização Física
Era baixo, gordo, "frisado como um noivo de província". Era sobrinho de
Guimarães. A ele e ao tio se devem, respectivamente, o início e o fim dos
amores de Carlos com Maria Eduarda.

Caracterização Psicológica
Dâmaso é uma suma de defeitos. Filho de um agiota, é presumido, cobarde e
sem dignidade.

Obcecado pelo “chique a valer”, vive dividido entre a admiração bacoca por
Carlos, que considera "um tipo supremo de chique", e os ciúmes e a inveja que a
superioridade do amigo e a sua relação com Maria Eduarda lhe provocam.

É dele a carta anónima enviada a Castro Gomes, que revela o envolvimento de


Maria Eduarda com Carlos. É dele também, a notícia contra Carlos n' A Corneta
do Diabo. Mesquinho e convencido, provinciano e tacanho.

Representa o novo-riquismo e os vícios da Lisboa da segunda metade do séc.


XIX. O seu carácter é tão baixo, que se retracta, a si próprio, como um bêbado,
só para evitar bater-se em duelo com Carlos.
6. Aspectos da sociedade mais criticados
É neste ambiente monótono, amolecido e de clima rico, que Eça vai fazer a
crítica social, em que domina a ironia.

A crónica de costumes da vida lisboeta da Segunda metade do séc. XIX


desenvolve-se num certo tempo, projecta-se num determinado espaço e é
ilustrada por meio de inúmeras personagens intervenientes em diferentes
episódios.

No episódio do passeio final é criticado:

A - Sociedade da alta burguesia

Toda a acção decorre em ambientes com personagens identificáveis com a alta


burguesia, ou com a elite portuguesa. Trata-se sempre de gente que não precisa
de trabalhar para viver, e que vive sem problemas de ordem material.

B - O diletantismo

O diletantismo, ou a incapacidade de acção útil.

Explicitamente mencionado por Eça, o diletantismo atinge quase todos os


personagens que não sofrem de tacanhez (como Ega e Carlos).

O mal do diletantismo impede que se fixe a atenção num trabalho sério sem se
deixar desviar por solicitações acidentais, Carlos “tinha nas veias o veneno do
diletantismo” (Capitulo IV).

C - Apreciação do estrangeiro

O embevecimento perante tudo o que é estrangeiro atinge praticamente todos:


desde Afonso que viveu em Inglaterra e não esconde a sua admiração por ele, a
Carlos, que acaba por se fixar em Paris, a Dâmaso que pacoviamente admira
tudo o que é francês. Note-se como o vocabulário dos personagens está cheio de
termos e expressões estrangeiros.

D - Depreciação do português

O país é sistematicamente depreciado: no Capítulo IV, Ega e Carlos “com


ferocidade e à uma malharam sobre o país”. A ideia prevalecente encontra-se
resumida na expressão do Marquês (capítulo XI): “Em Portugal é tudo pieguice e
companhia”.
E - Copiar o que é estrangeiro

A mania de copiar o estrangeiro – consequência das duas anteriores: “aqui


importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências,
estilos, indústrias, modas, maneiras, tudo vem em caixotes pelo paquete”
(capítulo IV).

Esta mania de copiar vai de par com a incapacidade de adaptar capazmente o


que nos vem de fora (“tendo abandonado o seu feitio antigo… este desgraçado
Portugal decidira arranjar-se à moderna: mas sem originalidade, sem força, sem
carácter para criar um feitio seu, um feitio próprio, manda vir modelos do
estrangeiro… exagera o modelo, deforma-o, estraga-o até à caricatura” –
Capítulo XVIII)

F - A inacção da sociedade

Uma certa falta de fibra, uma certa tendência para a inacção, uma certa “moleza
no agir”. Numerosos exemplos, de que se destaca o vendedor de bilhetes com
“duas mãos brutas e moles” a arranjar troco (capítulo XI), mas principalmente
no capitulo final, onde o próprio Carlos pasma da abundância de jovens ociosos
que se passeiam: “que fazem ali, às horas de trabalho, aqueles moços tristes de
calça esguia?” (capítulo XVIII)

G - O romancismo

O mal do romancismo, concebido não como estética, mas com atitude perante a
vida: “Que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de latim?
Românticos, isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo
sentimento e não pela razão” (Capítulo XVIII)

7. Simbologia do espaço físico

7.1. Excerto, pág. 710


Leitura e análise:

“Ega sentara-se também no parapeito, ambos se esqueceram num silêncio. Em


baixo o jardim, bem areado, limpo e frio na sua nudez de Inverno, tinha a
melancolia de um retiro esquecido, que já ninguém ama: uma ferrugem verde,
de humidade, cobria os grossos membros da Vénus Citereia; o cipreste e o cedro
envelheciam juntos, como dois amigos num ermo; e mais lento corria o
prantozinho da cascata, esfiado saudosamente, gota a gota, na bacia de
mármore. Depois ao fundo, encaixilhada como uma tela marinha nas cantarias
dos dois altos prédios, a curta paisagem do Ramalhete, um pedaço de Tejo e
monte, tomavam naquele fim de tarde um tom mais pensativo e triste: na tira
de rio um paquete fechado, preparado para a vaga, ia descendo, desaparecendo
logo, como já devorado pelo mar incerto; no alto da colina o moinho parara, tran
sido na larga friagem do ar; e nas janelas das casas, à beira da água, um raio de
Sol morria, lentamente sumido, esvaído na primeira cinza do crepúsculo, como
um resto de esperança numa face que se anuvia.” (pág. 710)

Simbolismo

No último capítulo, a imagem deixada pelo Ramalhete, abandonado e tristonho,


cheio de recordações de um passado de tragédia e frustrações, está muito
relacionado com o modo como Eça via o país, em plena crise do regime. As
paredes do Ramalhete foram sempre sinal de desgraça para a família Maia.

O quintal do Ramalhete, também sofre uma evolução. No primeiro capítulo a


cascata está seca porque o tempo da acção d' Os Maias ainda não começou. No
último capítulo, o fio de água da cascata é símbolo da eterna melancolia do
tempo que passa, dos sentimentos que leva e traz, mostra-nos também que o
tempo está mesmo a esgotar-se e o final da história d' Os Maias está próximo.
Este choro simboliza também a dor pela morte de Afonso da Maia.

A estátua de Vénus que, enegrece com a fuga de Maria Monforte. Agora, (no
último capítulo) coberta de ferrugem simboliza o desaparecimento de Maria
Eduarda, os seus membros agora transformados dão-lhe uma forma monstruosa
fazendo lembrar Maria Eduarda e monstruosidade do incesto. Esta estátua
marca então, o início e o fim da acção principal. Ela é também símbolo das
mulheres fatais d' Os Maias - Maria Eduarda e Maria Monforte.

O cedro e o cipreste, são árvores que pela sua longevidade, significam a vida e
a morte, foram testemunhas das várias gerações da família. Mas também,
simbolizam a amizade inseparável de Carlos e João da Ega.

No final, a estátua de Camões é o símbolo da nostalgia do passado mais


recuado.

Não é difícil lermos o percurso da família Maia, nas alterações sofridas pelo
Ramalhete. No início o Ramalhete não tem vida, em seguida habitado, torna-se
símbolo da esperança e da vida, é como que um renascimento; finalmente, a
tragédia abate-se sobre a família e eis a cascata chorando, deitando as últimas
gotas de água, a estátua coberta de ferrugem, tudo tem um carácter sombrio.
A morte instala-se nesta família. No Ramalhete todo o mobiliário degradado e
disposto em confusão, todos os aposentos melancólicos e frios, tudo deixa
transparecer a realidade de destruição e morte. E se os Maias representam
Portugal, a morte instalou-se no país.

1. O Ramalhete, solitário e amortalhado, reiterando o fim e a ruína dos Maias;

2. A cascata com um fio de água no quintal dos Maias;

3. A estátua de Vénus coberta de ferrugem;

4. O cedro e o cipreste;

5. A estátua de Camões, cuja tristeza espelha a grandeza perdida;

6. A Avenida, cujas obras de renovação se processam morosamente, espelhado


o esforço inglório de progresso;

7. Os bairros antigos, cujo abandono e degradação oferecem a imagem da


decadência actual;

Crítica à cidade de Lisboa

8. Viagem de Carlos
O estrangeiro surge-nos como um recurso para resolver problemas.

- Afonso exila-se em Inglaterra para fugir à intolerância Miguelista.

- Pedro e Maria vivem em Itália e em Paris devido à recusa deste casamento


pelo pai de Pedro.

- Maria Eduarda segue para Paris quando descobre a sua relação incestuosa
com Carlos.

- O próprio Carlos resolve a sua vida falhada com a fixação definitiva em Paris.

8.1. Excerto, pág. 688 a 689


“Depois destas linhas afectuosas (em que o Alencar colaborara) as primeiras
notícias dos «viajantes» vieram, numa carta do Ega para o Vilaça, de Nova
Iorque. Era curta, toda de negócios. Mas ele ajuntava um pós-escrito com o
título de Informações gerais para os amigos. Contava aí a medonha travessia
desde Liverpool, a persistente tristeza de Carlos, Nova Iorque coberta de neve
sob um Sol rutilante. E acrescentava ainda: «Está-se apossando de nós a
embriaguez das viagens, decididos a trilhar este estreito Universo até que
cansem as nossas tristezas. Planeamos ir a Pequim, passar a Grande Muralha,
atravessar a Ásia Central, o oásis de Merv, Khiva, e penetrar na Rússia; daí, pela
Arménia e pela Síria, descer ao Egipto a retemperar-nos no sagrado Nilo; subir
depois a Atenas, lançar sobre a Acrópole uma saudação a Minerva; passar a
Nápoles; dar um olhar à Argélia e a Marrocos; e cair enfim ao comprido em
Santa Olávia lá para os meados de 79, a descansar os membros fatigados. Não
escrevinho mais porque é tarde, e vamos à Ópera ver a Patti no Barbeiro. Larga
distribuição de abraços a todos os amigos queridos.”

9. Realismo
O Realismo é anatomia do carácter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta
a nossos próprios olhos para condenar o que houver de mau na nossa
sociedade».

10. Naturalismo
Eça é um escritor mais realista do que naturalista. O Naturalismo é «um método
de pensar, de ver, de reflectir, de estudar, de experimentar, uma necessidade
de saber, mas não uma maneira especial de escreve. Nos seus romances - a
hereditariedade, o meio ambiente em Os Maias, Carlos, como a mãe, era apenas
instinto, desejo, produto do meio. Também naturalista nessa obra é o realce que
o autor dá ao subconsciente freudiano, sugerindo os pensamentos de Carlos
após a revelação de Ega.

11. Geração de 70
Assim se designa o grupo de jovens intelectuais portugueses que manifestaram
um descontentamento com o estado da cultura e das instituições nacionais. O
grupo fez-se notar a partir de 1865, tendo Antero de Quental como figura de
proa integrando ainda literatos como Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Teófilo
Braga, Eça de Queirós, Oliveira Martins, Jaime Batalha Reis e Guilherme de
Azevedo. Juntos ou, como sucedeu mais tarde, trilhando caminhos de certa
forma divergentes, estes homens marcaram a cultura portuguesa até ao virar do
século (se não mesmo até à República), na literatura e na crítica literária, na
historiografia, no ensaísmo e na política.

Nos anos seguintes, embora a atitude de crítica e de intervenção cultural e


política se mantivesse, os membros do grupo foram definindo caminhos pessoais
independentes, ora dedicando-se mais a umas actividades, ora a outras. Antero
suicidou-se em 1891, e dir-se-ia que esse gesto simboliza o destino destes
homens a caminho do final do século, em desilusão progressiva com o país e o
sentido das suas próprias vidas.

12. Os “Vencidos da Vida”


Este é o nome pelo qual ficou conhecido um grupo de onze intelectuais
portugueses que tiveram destaque na vida literária e política do final do século
XIX. Deste grupo faziam parte Oliveira Martins (autor da denominação Vencidos
da Vida), Ramalho Ortigão, António Cândido, Guerra Junqueiro, Carlos Mayer, o
marquês de Soveral, Carlos Lobo d'Ávila, o conde de Ficalho, Bernardo de
Pindela e o conde de Sabugosa. Eça de Queirós juntou-se-lhes em 1889.

Reuniram-se com certa regularidade entre 1888 e 1894. Encontravam-se para


convívio intelectual e diversão no Tavares, no Hotel Bragança ou na residência
de um dos participantes. Vários destes intelectuais estiveram associados a
iniciativas de renovação da vida social e cultural portuguesa de então, como as
Conferências do Casino. Como um grupo, ficaram conhecidos (embora não com
inteira justiça) pelo seu diletantismo, por um certo mundanismo desencantado.
Estes não eram, contudo, sinais de falta de profundidade intelectual, como
comprovam as abundantes realizações dos seus membros na política, na
diplomacia, na historiografia e na literatura.

13. Conclusão, capítulo XVIII


Estamos claramente no epílogo da acção onde é dado a conhecer o desfecho
para as vidas de Carlos e Maria Eduarda.

Epílogo - presente no final de uma obra literária ou dramática, que constitui a


sua conclusão ou remate.
É geralmente usada para dar a conhecer o desfecho dos acontecimentos
relatados, o destino final das personagens da história.

Neste último capítulo estão presentes:

. Os últimos retoques na imagem soturna da sociedade portuguesa, em


contraste com a beleza da terra;

. O diagnóstico dos males de Portugal: não ter criado um figurino próprio e ter
adoptado, exagerando em tudo, os figurinos estrangeiros;

. A confissão do fracasso profundo de uma geração personificada em Carlos e


Ega: “Não sabe a gente para onde se há-de voltar… E se nos voltarmos para
nós, ainda pior.”

14. Mensagem
A mensagem que o autor pretende deixar com esta obra, tem uma intenção
iminentemente crítica.

É através do paralelo entre duas personagens - Pedro e Carlos da Maia, que Eça
concretiza a sua intenção. Note-se que ambos, apesar de terem tido educações
totalmente diferentes, falharam na vida. Pedro falha com um casamento
desastroso, que o leva ao suicídio; Carlos falha com uma ligação incestuosa, da
qual sai para se deixar afundar numa vida estéril e apagada em Paris sem
qualquer projecto seriamente útil.

Por outro lado, estas duas personagens, representam também épocas históricas
e políticas diferentes. Pedro, a época do Romantismo, e seu filho, a Geração de
70 e das Conferências do Casino, geração potencialmente destinada ao sucesso.
Mas não foi isso que sucedeu e é este facto que o escritor pretende evidenciar
com o episódio final - o fracasso da Geração dos Vencidos da Vida.

Assim, estas personagens representam os males de Portugal e o fracasso sucessivo


das diferentes correntes estético-literárias. Fracasso este que parece dever-se, não
às correntes em si, mas às características do povo português - a predilecção pela
forma em detrimento do conteúdo, o diletantismo que impede a fixação num
trabalho sério e interessante, a atitude "romântica" perante a vida, que consiste em
desculpar sistematicamente, os próprios erros e falhas, e dizer "Tudo culpa da
sociedade".

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