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O que é psicologia forense?

A psicologia forense é a área que reúne tanto a psicologia como o direito.


A área tem crescido muito nos últimos anos, à medida que mais e mais
estudantes se interessam neste campo aplicado da psicologia. Filmes populares,
programas de televisão e livros ajudaram na popularização, frequentemente
mostrando heróis brilhantes que resolvem crimes ou encontram assassinos
usando a psicologia.

Embora tais retratos do psicólogo forense sejam populares na mídia, eles


são certamente exagerados, não mostrando um perfil realmente acurado do
trabalho realizado. Entretanto, os psicólogos forenses desempenham um papel
importante no sistema de justiça, e esta pode ser uma carreira estimulante para
aqueles que são interessados de aplicar os princípios psicológicos no sistema
legal.

Tipicamente, a psicologia forense é definida como a intersecção de


psicologia e direito, mas os psicólogos forenses podem desempenhar muitos
papéis, então esta definição pode variar. Em muitos casos, as pessoas que
trabalham na área não são necessariamente “psicólogos forenses”. Podem ser
também psicólogos clínicos, psicólogos educacionais, neurologistas ou
terapeutas que utilizam seu conhecimento psicológico para dar testemunho,
análise ou recomendações em casos criminais ou legais.

Por exemplo, um psicólogo clinico pode prestar serviços de saúde mental


tais como assistência, diagnóstico e tratamento para indivíduos que estão em
contato com o sistema criminal de justiça. Eles podem ser questionados a
responder se um determinado suspeito sofre de alguma doença mental, ou ainda

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oferecer tratamento para indivíduos que sofrem de transtornos mentais tais como
o uso e o abuso de substâncias.

Outro exemplo é do psicólogo educacional. Enquanto a maior parte destes


profissionais trabalham em escolas, um psicólogo educacional que trabalhe na
psicologia forense pode avaliar crianças que podem ter sofrido algum tipo de
abuso, preparar crianças para dar testemunho ou participar em casos em que há
disputa dos pais pela guarda dos filhos.

Outras funções típicas do psicólogo forense incluem:


 Avaliação de competência;
 Recomendações de sentenças;
 Avaliações do risco de reincidência em crimes;
 Testemunha em virtude de seu conhecimento;
 Avaliação de custódia.

De que forma a psicologia forense difere de outras áreas?

Tipicamente, as atividades do psicólogo forense são limitadas em seu


escopo e no tempo de atuação. Um psicólogo forense pode desempenhar um
papel específico em um caso individual, determinando se um suspeito é passível
de sofrer as penas da lei, ou seja, se a sua pena deve ou não ser atenuada devido
a transtornos mentais.

Diferentemente da clínica psicológica, em que o cliente procura de forma


voluntária assistência ou avaliação, um psicólogo forense tipicamente lida com
clientes que não estão em liberdade. Isto pode tornar o trabalho cotidiano muito
mais difícil, já que a pessoa geralmente se recusa ao contato, ao diagnóstico ou
tratamento.

Texto original em inglês de Kendra Kerry


Tradução – Felipe de Souza

Você sabe qual é o papel de um psicólogo formado em


psicologia forense? Sabe essa imagem de um psicólogo no tribunal, depondo
sobre as condições psíquicas de um réu? Por mais que possa ser real, não retrata
toda a realidade de um profissional especializado em psicologia forense.

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Os Principais Objetivos e Aplicações

Com que trabalha a psicologia forense?


Também conhecida como psicologia criminal ou judiciária, o objetivo
central desta abordagem é proteger e defender o cidadão em bases às
perspectivas psicológicas. Através de métodos e recursos científicos
específicos, ajuda aos profissionais envolvidos nos processos jurídicos
(promotores, advogados, defensores, etc.) a fazer valer a justiça.

Tudo o que passa nos tribunais e o que se refere ao comportamento


criminoso é objeto de estudo da psicologia forense. Neste sentido, são
importantes o histórico de vida do sujeito, que processos foram decisivos para
que ele entrasse na criminalidade, possíveis raízes do problema e soluções.

O trabalho do psicólogo jurídico é decisivo na hora de descobrir


transtornos mentais que desencadeiam os atos criminosos, ajudando a definir
os limites da culpa e a conseguir uma pena justa para os réus.

Onde trabalha o psicólogo forense?


Além da relação direta com os tribunais, o psicólogo forense pode atuar
em diversos contextos, como programas de reeducação e reinserção para
jovens infratores, centros de apoio a vítimas ou crianças, centros de saúde
mental ou prisional, instituições de ensino superior, entre vários outros.

O especialista atua no processo de testemunho, de obtenção de evidências,


na compreensão dos motivos do crime e também nas tentativas de reformas
morais do sujeito e na planificação de estratégias para evitar que se cometam
crimes, partindo das leis vigentes.

Como é a formação na psicologia forense?


Além de dominar os conhecimentos básicos da psicologia, quem quer
atuar nesta abordagem precisa dominar os fundamentos das leis civis e

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criminais. Na parte psíquica, deve dedicar especial atenção à psicopatologia,
podendo inclusive atuar como perito nas áreas psiquiátricas e hospitalares.

Definição de psicologia forense


Psicologia Forense vem sendo entendida com uma ciência que busca
colaborar para que as pessoas tenham garantidos os seus direitos em questões
que estejam envoltas com o mundo jurídico.

Com o uso dos seus métodos e técnicas científicas, a Psicologia Forense


auxilia os demais profissionais do mundo do Direito (ex.: magistrados,
advogados, promotores, defensores) a fim de que a justiça seja feita.

O uso do termo “forense” sugere uma relação equivocada e direta com o


tribunal, mas deve ficar claro que o trabalho do psicólogo forense vai muito
além desse espaço e é produzido numa grande variedade de contextos,
instituições ou locais, como, por exemplo, em serviços específicos do sistema
judicial, centros de tratamento ou reeducação para infratores, unidades de
pesquisa do Ministério da Justiça, serviço de apoio às crianças ou às vítimas,
universidades, estabelecimentos de saúde mental ou prisional, entre outros.
(FONSECA, 2006).

Psicologia Forense é o estudo do comportamento desenvolvido dentro de


ambientes regulados juridicamente, assim como da evolução dessas
regulamentações jurídicas e de como os grupos sociais desenvolvem-se nesse
processo. (CLEMENTE, 1998). Essa é uma área da Psicologia aplicada que
busca promover um melhor exercício do Direito. As áreas de atuação do
psicólogo forense (MIRA Y LÓPEZ, 2005):

1. Psicologia do testemunho;
2. Obtenção de evidência delituosa (confissão com provas);
3. Compreensão do delito (motivação psicológica);
4. Informação forense a seu respeito;
5. Reforma moral do delinquente;
6. Higiene mental (como evitar que ocorram conflitos com as leis?).

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O tema da “higiene mental” é muito abordado e pesquisado pelos
psicólogos jurídicos dos Estados Unidos, Alemanha, Áustria e Inglaterra. Esse
ramo da Psicologia é a ciência que trata da aplicação de todos os ramos e
saberes da Psicologia para responder as perguntas da Justiça e colaborar com a
sua administração, promovendo a melhora do exercício do Direito (URRA,
1993).

Com isso, o psicólogo forense busca compreender o humano a partir dos


princípios da:

1. Ênfase na análise individual relacionada com o seu contexto social,


político, econômico;
2. Ideia de que os comportamentos devem ser analisados em todos os
âmbitos, não só no aspecto criminal, mas também no ambiental e emocional;
3. Crença na ideia de que o ser humano orienta-se por sua “escala de
necessidades”, que vão desde a subsistência à dimensão moral, religiosa, etc.;
4. Avaliação da motivação psicológica e de como os estímulos do
ambiente são processados e interpretados e de como adquirem significado
pessoal.

A Psicologia Forense é uma das atividades do psicólogo, que é relativa à


descrição dos processos mentais e comportamentais, conforme o uso de técnicas
psicológicas reconhecidas, respondendo estritamente à demanda judicial, sem
emitir juízo de valor. (SILVA, E. L., 2009).

Nesse sentido, vale a lembrança de que o psicólogo responde


judicialmente pelos efeitos e resultados da medida judicial pautada pelo seu
trabalho. (SHINE, 2008).

Essa área da Psicologia nasce em um espaço no qual o psicólogo coloca


os seus conhecimentos a serviço do juiz (o julgador), trazendo a este âmbito a
dimensão da realidade psicológica dos agentes envolvidos. (SILVA, D. M. P.,
2009).

A Psicologia Forense situa-se na confluência de vários saberes.


(FONSECA, 2006). Há inúmeras conexões, como, por exemplo, com o Direito,
a Psiquiatria, a Medicina, o Serviço Social, a Sociologia, a Antropologia, várias

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áreas da própria Psicologia (ex.: desenvolvimento, experimental, cognitiva,
clínica, avaliação, psicometria), entre outras. Assim, a multiplicidade de saberes
e de competências é uma das marcas da Psicologia Forense.

Conheça as possibilidades de atuação do psicólogo na área de


Psicologia Forense

A IV Jornada de Análise do Comportamento da USP convidou a


pesquisadora e professora adjunta da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP)
Giovana Veloso Munhoz da Rocha para apresentar a palestra Um olhar da
Análise do Comportamento sobre a Psicologia Forense.

Rocha contou que a inspiração para a criação da área teve como base a
Psiquiatria Forense, e que esta, por sua vez, surgiu da Medicina Legal. No
Brasil, a pesquisadora revelou que a sistematização da Psicologia Forense
aconteceu somente em 2001, quando uma resolução relacionada à especialização
em Psicologia Jurídica - termo hispânico para designar a Psicologia Forense - foi
aprovada no Conselho Federal de Psicologia.

A palestrante disse que a maioria dos psicólogos forenses é analista do


comportamento, porque os profissionais que atuam nessa área consideram os
fatores do contexto social no qual as pessoas envolvidas estão inseridas. Além
disso, ela explicou que a Psicologia Forense faz intersecção com qualquer área
do sistema legal, e não apenas com o direito penal, como costuma-se acreditar.

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A pesquisadora também elucidou que a Psicologia Forense tem
sustentação na pesquisa e na ciência. Por isso, a linguagem científica se faz
necessária, para que os operadores do direito possam compreender o que os
psicólogos têm a dizer.

A professora defendeu que os psicólogos forenses utilizem também a


linguagem do senso comum, e não só termos behavioristas, porque é preciso se
aproximar do grande público. “Junto ao Direito, nós temos que matar a cobra e
mostrar o pau, por meio da descrição esclarecida das contingências”, acrescenta
Rocha.

Para fins didáticos, a palestrante apresentou as possibilidades de atuação


de um psicólogo forense citando as seguintes áreas:

Psicologia do Crime
Trata-se da ciência dos processos comportamentais do adulto e jovem
infrator, e tem o objetivo de descrever como um comportamento é adquirido,
aprendido, evocado, mantido e modificado pelas consequências. Para tanto, o
método científico é utilizado. São também examinadas e avaliadas a prevenção,
a intervenção e suas estratégias direcionadas a reduzir o comportamento
criminoso e o transtorno da personalidade antissocial. Ou seja, tenta-se
compreender nos adolescentes a reiteração de comportamentos agressivos e nos
adultos a reincidência de crimes cometidos.

Avaliação Forense
Esta é o cerne da Psicologia Forense, porque é calcada nos maiores
instrumentos da psicologia: a entrevista e a observação. Portanto, é
imprescindível que sejam identificados e descritos os padrões comportamentais,
e determinada a responsabilidade do indivíduo sobre seus atos, de forma que a
objetividade seja promovida e os operadores da lei sejam instrumentalizados
para que a melhor decisão em um julgamento seja tomada.

Psicologia aplicada ao Sistema Correcional e Programas de Prevenção


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Conforme alertava Skinner, os programas de prevenção serviriam como a
solução “dos problemas da delinquência e do crime se pudéssemos modificar o
ambiente primário dos agressores” através da identificação precoce e da
prevenção de comportamentos antissociais.

Se isso fosse aplicado, de fato, à Educação Básica e se os psicólogos


conseguissem atuar nas variáveis que estão relacionadas à criminalidade, a
prevenção seria efetiva. Contudo, é somente pela pesquisa nas áreas de
Psicologia Comunitária e Psicologia Forense que o conhecimento existente
sobre programas de prevenção acaba sendo timidamente semeado – o que já é
um início, embora ainda não seja a solução.

Psicologia Aplicada à Polícia


Recentemente, a Psicologia Forense ganhou este novo desdobramento, no
qual é possível trabalhar com identificação de estresse, resiliência, perfil de
grupos de elite etc. “Com ela, conseguimos compreender que a maioria dos
policiais é honesta, diferentemente do que é veiculado na mídia. Em geral, só
temos notícia dos maus-exemplos, porque nos salta aos olhos suas ações
negativas, já que eles deveriam cuidar e proteger a sociedade”, afirma Rocha. A
exemplo disso, o número de policiais com transtorno de estresse pós-traumático
vem sendo investigado por meio de um teste de protocolo elaborado por uma de
suas orientandas.

A pesquisadora também chamou a atenção para o grande número de


policiais que desenvolvem esse distúrbio da ansiedade, provavelmente por
atenderem diariamente casos cruéis – como crianças e mulheres estupradas,
idosos espancados, entre tantos outros – e por receberem baixos salários – em
média, R$ 1.800,00.

O psicólogo forense atende quem, quando e onde?


Alguns dos lugares atendidos pelos psicólogos forenses são:
presídios/centros de sócioeducação, delegacias, comunidades terapêuticas,
clínicas-escolas e clínicas particulares, laboratórios, programas de liberdade
assistida, abrigos, Ongs etc.; e alguns dos casos comumente avaliados pela
Clínica Forense são: disputa de guarda, alienação parental, responsabilidade

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criminal, (des)internamento de jovens, avaliação de risco, abuso sexual, físico e
psicológico, assédio moral no trabalho etc.

No caso de crianças em abrigos ou instituições de acolhimento, por


exemplo, o Estado é o responsável por elas. Por isso, Rocha conta que essa é
uma das primeiras coisas ensinadas pelo psicólogo forense às crianças, que
explica que “o responsável por elas não é o pai ou a mãe social, ou mesmo o
cuidador do abrigo, mas, sim, o juiz”.

Portanto, a pesquisadora declara que quando um trabalho terapêutico é


feito com essas crianças, e o assistente social responsável pela instituição
informa que o Ministério Público solicitou um relatório, o psicólogo forense
precisa acatar o pedido da Justiça. Também é possível que o psicólogo seja
chamado para testemunho, para falar sobre o andamento da terapia da criança ou
sobre a possibilidade de alta, e ele não pode se negar a dar essas informações,
porque o verdadeiro cliente do psicólogo forense é a Justiça.

Isso significa que se um juiz ou o Ministério Público enviar um


encaminhamento ao terapeuta, via de regra, é solicitado a ele que emita uma
declaração de comparecimento para se reportar à Justiça e revelar informações
que seriam sigilosas – por exemplo, se o paciente está tendo um bom
aproveitamento do processo. Essa solicitação é fora do comum em um
atendimento padrão, porque o sigilo profissional existe para proteger o paciente
atendido.

E Rocha reconhece que “são muitos os psicólogos que fazem parte da


Psicologia Forense mas não o sabem, o que se torna muito perigoso, já que eles
devem sempre prestar contas à Justiça”.

Psicologia Forense: o que é, afinal?


A palestrante reitera que a Psicologia Forense é uma ciência, que a
Análise do Comportamento satisfaz às suas necessidades e que as
particularidades que relacionam a Psicologia ao sistema legal criam o
comprometimento de que os psicólogos saibam ao menos as leis básicas que
envolvem a sua atuação: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para
quem trabalha com crianças e adolescentes; o Sistema Nacional de Atendimento

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Socioeducativo (Sinase) para quem lida com adolescentes infratores; o Direito
Penal para tratar adultos infratores etc. Por isso às vezes existe a necessidade de
se procurar a consultoria de advogados.

Porém, como os pacientes não procuram voluntariamente um psicólogo, já


que, via de regra, eles não estão em liberdade, uma questão frequentemente
emerge: como fazer psicoterapia com uma pessoa com quem não se tem um
vínculo de confiança, que se vê obrigada a ir às sessões e que que costuma
recusar o contato, o diagnóstico ou mesmo tratamento oferecido? Quanto a isso,
a palestrante alega que “o estabelecimento de uma boa relação terapêutica
consegue ser alcançado por um profissional que tenha recebido formação para
isso. Não é fácil nem rápido, mas é possível”.

Assim, tomando todos esses cuidados, “as implicações de uma prática


atualizada e correta poderá promover mudanças positivas tanto no atendimento a
agressores como a vítimas e suas famílias, nas mais variadas áreas”, finaliza
Rocha.

Por Anátale Garcia


Edição de Islaine Maciel

A Psicologia Forense trata da aplicação dos conhecimentos da Psicologia


no âmbito da justiça e da aplicação das leis. É uma área em constante
desenvolvimento e com elevada relevância no contexto jurídico, tanto ao nível
da solicitação profissional por parte dos Tribunais como pelo papel do psicólogo
nos diversos contextos jurídicos, nomeadamente na avaliação e intervenção
psicológica a agressores ou vítimas. O Psicólogo Forense pode estar envolvido
na avaliação psicológica de indivíduos para determinar fatores como
inimputabilidade, verificar a relação entre perturbação psicológica e crime e
avaliar o risco de comportamentos futuros potencialmente perigosos. Além de
estar associado à condução de entrevistas e à administração de testes
psicológicos, os psicólogos forenses estão também envolvidos na recolha de
informação com relevância jurídica, nomeadamente historiais hospitalares e
criminais, testemunhos judiciais, investigações policiais, comissões de proteção,
entre outros. Este curso pretende fornecer uma visão global do âmbito e da
aplicabilidade desta especialidade, debruçando-se nas principais áreas de
intervenção do psicólogo forense.

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Objetivos Gerais
Adquirir competências de aplicação prática no âmbito da avaliação
psicológica, investigação e intervenção em contexto forense e criminal.
Objetivos Específicos
- Adquirir conhecimento global das especificidades da Psicologia Forense
e Criminal
- Identificar os contextos de intervenção e as áreas de atuação do
psicólogo forense e criminal
- Adquirir conhecimentos de legislação na área da psicologia forense e
criminal
- Adquirir competências de avaliação psicológica no âmbito da perícia
judicial e forense
- Redigir relatórios forenses
- Promover competências no planejamento, execução e avaliação de
planos de intervenção
- Identificar os aspetos éticos e deontológicos associados a esta área
científica
- Desenvolver competências relativas à investigação em contexto forense
e criminal

A psicologia forense ou judiciária é um campo da psicologia que consiste


na aplicação dos conhecimentos psicológicos aos propósitos do direito. Dedica-
se à proteção da sociedade e à defesa dos direitos do cidadão, da perspectiva
psicológica. Enquanto que a psicologia é o estudo do comportamento humano e
animal, o termo forense refere-se, num sentido restrito, às situações que
se apresentam nos tribunais. Deste modo, a psicologia forense são todosos casos
psicológicos, que são levados a tribunal.

Por outras palavras, esta ciência (tal como a psiquiatria forense) nasceu da
necessidade de legislação apropriada para os casos dos indivíduos considerados
doentes mentais, apesar de terem cometido atos criminosos ou pequenos e
grandes delitos. Um crime é uma grave infração que envolve um atentado à vida
humana ou uma séria ação antissocial, por sua vez, um delito é uma infração que
resulta da violação às leis que vigoram.

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A doença mental para além de ser tratada de uma perspectiva clínica, deve
ser encarada de um ponto de vista jurídico. A jurisprudência é uma ciência que
pretende proteger a sociedade, castigando o indivíduo que mente em
causa a sua vida e/ou a dos outros.

O psicólogo que exerce atividade nesta área deve ser um perito na sua
própria especialidade, isto é, antes de mais deve possuir e dominar os
conhecimentos necessários da psicologia em si, para depois dominar os
conhecimentos referentes às leis civis (que dizem respeito aos direitos e deveres
de um cidadão para com os outros) e às leis criminais (que dizem respeito às
ofensas que um indivíduo possa cometer para com os outros ou para com o
Estado). Deve ser um bom clínico e possuir um conhecimento pormenorizado da
psicopatologia. O seu exercício é, normalmente, praticado nas instituições
hospitalares, especialmente, do tipo psiquiátrico.

A psicologia criminal é o ramo da psicologia que se dedica ao estudo do


comportamento criminoso. Ela tenta descobrir a história pessoal do indivíduo
criminoso e todo o conjunto de processos psicológicos que o conduziram à
criminalidade.

Os primeiros trabalhos dentro deste âmbito têm o inconveniente de


exagerarem no caso em si, ou seja, encaram a matéria criminal e dos criminosos
individuais de uma forma demasiado espetacular, esquecendo os casos comuns
do quotidiano e dos que não chegam ao tribunal. Nos fins do século XIX,
apareceram alguns trabalhos que tentavam determinar as relações entre a
criminalidade e determinadas variáveis psicológicas como, por exemplo, o
temperamento ou a tendência para o suicídio, bem como alguns livros com os
títulos "Psicologia Criminal".

Como esta ciência se dedica ao estudo do comportamento criminoso,


necessita de realizar uma análise sistemática dos principais tipos de
personalidade humana ("estrutura mais ou menos estável e duradoura duma
pessoa") que têm maior propensão para o crime, bem como dos motivos que a
estimulam à ação. É necessário descobrir o motivo que orientou o criminoso e
compreender o sentido desse ato para, posteriormente, decidirem a pena a
aplicar.

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Entre a personalidade e os motivos que levam ao crime, é dado mais valor
aos motivos porque estes podem ser descritos mais facilmente. Contudo, eles
apenas assumem importância, para efeitos de sentença e de compreensão da
conduta criminal.

A psicologia criminal realiza estudos psicológicos de alguns dos tipos


mais comuns de delinqüentes e dos criminosos em geral como, por exemplo, dos
psicopatas que ficaram na história. de fato, a investigação psicológica desta
vertente apresenta, sobretudo, talvez devido à sua gravidade e fascínio, trabalhos
sobre homicídios e crimes sexuais.

O movimento destas duas vertentes da psicologia deu os seus primeiros


passos com o aparecimento dos conceitos de liberdade, introduzidos pelo
médico francês Philippe Pinel (1745-1826), nomeado responsável pelo sistema
hospitalar parisiense, em 1793, e com a criação do conceito de hospital
psiquiátrico, ou seja, do hospital que tratava o doente que transgredia
as normas e as leis e que prevenia a repetição das transgressões.

Psicologia Forense: Onde, como, quando e porquê?

As perícias psicológicas produzidas e apresentadas em sede de inquérito


judicial ou de processo cível são cada vez mais solicitadas e consideradas pelo
sistema de justiça.

A Psicologia tem vindo a afirmar-se como uma mais-valia ao serviço das


sociedades, enquanto disciplina autônoma, mas também conjugada com outras
áreas científicas.

A implantação e a relevância da contribuição da Psicologia no Sistema de


Justiça têm surgido em linha com essa especialização dos seus profissionais. A
conjugação entre as ciências do comportamento e o Direito fizeram ressurgir
novos potenciais de resposta a perguntas apenas alcançáveis com recurso ao
estreitar da relação entre ambas as áreas de conhecimento.

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Cada vez mais a Psicologia Forense tem vindo a ganhar expressão entre
os domínios da Psicologia Aplicada e do Direito, apresentando-se com o
potencial necessário para auxiliar nos processos de avaliação associados a
vítimas e agressores, assim como na tomada de decisão dos diferentes atores
judiciais. Objetivamente, as perícias psicológicas produzidas e apresentadas em
sede de inquérito judicial ou de processo cível são cada vez mais solicitadas e
consideradas pelo sistema de justiça, pesando na balança do decisor como um
elemento indispensável à melhor compreensão dos fatos.

No caso concreto da Psicologia Forense, embora muito associada a


entidades públicas, deve ter-se presente que não apenas o aparelho judicial pode
requerer este tipo de serviços. Estes relatórios técnicos são acessíveis a qualquer
cidadão que, num qualquer momento da sua vida, considere que eles possam
auxiliar e apoiar a sua causa. Para tal, o recurso a entidades privadas idôneas e
independentes que disponibilizam serviços na área da Psicologia Forense é uma
opção para o apoio objetivo, pautado por um sentido profissional qualificado e
uma celeridade adequada às circunstâncias.

Diariamente somos confrontados com notícias que dão conta de diferentes


tipos de crime, perpetrados em diferentes circunstâncias e com desfechos e
consequências inarráveis, com impactos diretos e indiretos nas pessoas e
comunidades onde ocorreram, deixando marcas que perduram no coletivo destas
gentes.
Urge compreender quais os mecanismos psicológicos e sociais que
estiveram na origem destes fatos. Neste campo, a Psicologia Forense tem vindo
a munir-se de conhecimentos e técnicas que permitem dar respostas mais
adequadas e que o olho humano não alcança. Tecnicamente, os relatórios
psicológicos periciais/forenses, configuram um meio de prova cada vez mais
utilizado como elemento adicional dos relatórios médico-legais ou como recurso
único, no momento de apresentar elementos probatórios de um determinado
acontecimento.
Ora veja-se o impacto traumático decorrente da exposição de uma vítima
a uma situação de crime pode variar consoante o nível de violência impelido
pelo agressor, pelas características individuais desta e por fatores adicionais que
poderiam estar presentes. Em linha com o referido, uma avaliação desta vítima,
poderia permitir uma leitura mais objetiva do sistema de justiça acerca da
medida da pena a atribuir ao sujeito responsável pelo crime. Por outro lado,

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também as características do agressor poderão ser avaliadas. Não sendo da
competência do psicólogo atribuir responsabilidade criminal pelos atos
cometidos, é passível de ser compreendido e trazido a sede própria, qual o
discernimento do agressor acerca da ação perpetrada contra a vítima e qual o
impacto que isso gerou em si.
São diversos os contextos criminais onde os Psicólogos forenses já
possuem conhecimentos e técnicas de abordagem à vítima e agressor,
procurando minimizar riscos e impactos de afetação de prova e de potencial de
revitimação/reincidência. Ao longo dos anos, profissionais desta área têm vindo
a integrar equipes multidisciplinares, por forma a responder a necessidades de
avaliação que vão desde a agressão sexual, até ao acompanhamento de uma
vítima a tribunal (procurando minimizar o impacto traumático inerente à sua
exposição a um processo crime).
Várias décadas após o surgimento das primeiras escolas de Psicologia em
Portugal, esta área científica tem vindo a ganhar expressão e a ocupar o seu
lugar na sociedade, ultrapassando as barreiras da desconfiança, por via de
estereótipos e até de associação com crendices populares. A regulamentação da
profissão com o surgimento da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) veio
consolidar uma maior credibilidade e projeção do potencial dos conhecimentos
promovidos por esta área.

Psicologia Forense - o que é?


O termo Psicologia Forense designa a aplicação da Psicologia, seus
quadros teóricos e metodológicos, às questões judiciais. Isto é, a utilização de
todas as linhas explicativas existentes em Psicologia de modo a atingirmos a
compreensão do binômio Lei-Sujeito. O objeto da Psicologia Forense será,
portanto, todas as circunstâncias que ligam o Sujeito e a Lei (Viaux, 2003).
Convém explicar a minha escolha pela designação “Forense”, e não outra, para
designar a relação entre a Psicologia e a Justiça. Termos tais como “Psicologia
Criminal”, “Psicologia Judiciária”, “Psicologia Legal”, coexistem e devido à sua
proximidade causam confusão sobre quando se deve utilizá-los. A palavra
“forense” tem a sua origem na palavra latina “fórum”, que designa o sítio da
geografia da cidade romana onde se situariam os tribunais. Sendo assim, a
palavra “forense” seria atribuída a aquilo que se relacionasse com o
funcionamento dos tribunais. Esta designação, quando falamos da sua utilização
na Psicologia, tem sido adotada pelos países anglo-saxônicos, sobretudo nos

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Estados Unidos. A abrangência do termo “forense” permite que toda a atividade
psicológica que funcione numa interrelação contínua com a Lei se possa incluir
sob esta designação: psicólogos que trabalhem em instituições de reinserção
social, em estabelecimentos prisionais, instituições de proteção e educação de
menores em risco, instituições de apoio a vítimas, peritos judiciais. No meu
entender, todos estes profissionais, apesar das especificidades que possui o seu
trabalho, partilham uma mesma linguagem, melhor ainda, têm a tarefa de
tradutores: da linguagem do Sujeito para a Lei, e a linguagem da Lei para o
Sujeito.

Contudo, a utilização deste termo não é unânime em todos os países,


chegando mesmo a haver discordância dentro do mesmo país. Por exemplo, em
França não foi possível conseguir um consenso entre os psicólogos que
trabalham no meio judicial sobre a designação “Psicologia Forense”, que os
incluiria a todos. Deste modo foi decidido por aqueles que realizam perícias para
os tribunais atribuir a designação de “Psicologia Legal” à condição de perito,
sendo, assim, o equivalente psicológico da Medicina Legal (Viaux, 2003).
Já agora podemos especificar o campo de intervenção da Psicologia Criminal e
da Psicologia Judiciária. Por Psicologia Criminal entende-se o estudo daquilo
que é crime, e só do crime, utilizando a grelha de análise psicológica. No que diz
respeito à Psicologia Judiciária, esta estuda os procedimentos legais, como por
exemplo as características psicológicas das personagens do processo judicial
(juiz, advogado, perito, testemunha).

Perspectiva Histórica
Desde cedo que a Psicologia se interessou pela a execução da Justiça,
nomeadamente pelas variáveis psicológicas que interferiam nesse processo.
Seriam os estudos sobre a relação entre a memória e a capacidade de testemunho
que inauguraram a relação entre Psicologia e Justiça. Neste campo destacam-se
os estudos de experimentalistas tais como Cattell e Jastrow nos EUA, e Stern e
Binet na Europa. De fato, será na Europa que o desenvolvimento destes estudos
se torna mais visível devido à hegemonia alemã no campo da Psicologia. Na
viragem do século XX era habitual a utilização de psicólogos como testemunhas
perito. Albert von Shranck-Notzing, primeiro psicólogo nesta condição, em
1896 tenta convencer um juiz que a influência da cobertura realizada pelos
media sobre o caso de assassinato que estava a ser julgado, estaria a provocar
falsas recordações nas testemunhas do caso, sendo que estas já não distinguiriam

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o que sabiam daquilo que os jornais diziam (Bartol & Bartol, 1999).
Se na Europa a Psicologia foi rapidamente aceite, nos EUA a sua aceitação foi
um pouco mais tardia. Será Hugo Munsterberg, discípulo de Wunt, que irá
salientar a importância dos contributos que a Psicologia poderá fornecer à
administração da Justiça, o que ele demonstra na sua obra “On the Witness
Stand: Essays on Psychology and Crime” (1925). Aliás, Munsterberg foi um dos
grandes pilares do Funcionalismo americano. Defendia que a Psicologia se
poderia aplicar a qualquer área da experiência humana, desde a Educação à
Justiça, como da Saúde ao Trabalho. É por causa disto que muitas vezes é
chamado de “pai da Psicologia Aplicada”. Apesar de defender ideias inovadoras,
Munsterberg, gera muita desconfiança e polêmica entre os seus pares, contudo,
não deixa de suscitar o interesse nos psicólogos por campos algo diferentes dos
que eram considerados os da Psicologia, nomeadamente a Justiça.
Desde que Munsterberg chama a atenção para a relação entre Psicologia e
Justiça, a intervenção dos psicólogos americanos nos procedimentos judiciais
intensifica-se. Na década de 40, apesar das dificuldades impostas pelos
psiquiatras forenses, os psicólogos começam a ser aceites como peritos sobre o
estado mental.
O desenvolvimento da Psicologia Forense culmina com o aparecimento de
organizações de profissionais consagradas a este ramo da Psicologia: 1977 na
Grã-Bretanha, 1981 nos EUA, 1984 na Espanha e 1992 na França. Em 1997 a
European Federation of Professional Psychologists Associations (EFPPA)
elabora um documento que contém a lista de funções do psicólogo forense
(Viaux, 2003):

“1) Práticas diretamente utilizadas pelos tribunais:


exames psicológicos de autores de fatos delituosos ou criminais a pedido
do Ministério Público, do Juiz de Instrução ou do Tribunal
exames psicológicos de vítimas (consequências) a pedido do Ministério
Público, do Juiz de Instrução ou do Tribunal
avaliação de períodos de detenção (orientação penal, preparação à
orientação profissional) e pós-detenção
execução de perfis
avaliação da credibilidade de testemunho (adultos e crianças vítimas)
avaliação dos danos psicológicos e neuropsicológicos
exame das famílias em conflito (divórcio, regulação do poder paternal)
exame de menores ou adultos no quadro da proteção de menores em risco

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2) As práticas indiretamente utilizadas pelos tribunais:
assistência às vítimas (intervenção no quadro da ajuda pluridisciplinar às
vítimas, em urgência ou no decorrer de processos)
aconselhamento ou perícia de mútuo acordo em situações de perícia que
envolvam indenizações
realização de contra-perícias (a pedido de advogados)
avaliação das consequências da vitimização
tratamento dos delinquentes em serviços médicos e psiquiátricos das
prisões e centros de detenção
despistagem e orientação de tóxico dependentes nas prisões
intervenção em colaboração com as polícias, comitês de liberdade
condicional

3) Psicologia Forense universitária:


participação na formação inicial dos atores e parceiros do sistema judicial
formação de psicólogos em criminologia e peritagem
formação contínua investigação “ (ibd. pp. 50-51)

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