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MUSEOLOGIA

AULA 1: MUSEOLOGIA E SEU CAMPO DE ESTUDO

A palavra Museologia é formada por duas expressões gregas: museion, que significa lugar das
musas, e logos, que significa estudo ou reflexão baseado na sensibilidade e na razão.

Nesse contexto, a palavra musa assume o significado da "coisa" eleita como sendo a melhor
representante da sua espécie, seja por sua beleza, riqueza, técnica, raridade ou outra
qualidade a ela atribuída que a faz ser melhor que as outras.

Do mesmo modo é a origem da palavra museu: o "lugar das musas", ou seja, é onde os objetos
eleitos como sendo os melhores representantes da sua espécie ficam guardados para serem
apresentados para as pessoas apreciarem as suas qualidades e refletir sobre o seu significado.

Objetivo maior da Museologia

De acordo com o que vimos anteriormente, podemos chegar ao objetivo maior da Museologia:
o estudo do "fato museológico", isso é, o estudo das relações sensíveis que se estabelecem
entre as pessoas e os objetos (acervos) apresentados em um cenário expositivo. O conceito de
fato museológico e outras noções que dele decorrem – musealidade, musealização,

patrimônio e outras – serão apresentados nas próximas aulas.

Entretanto, a Museologia foi considerada, durante muito tempo, apenas como "a ciência dos
museus". Como a disciplina que estudava exclusivamente as práticas desenvolvidas no interior
dessas instituições – conservação, pesquisa, exposição – e pouco articuladas com os problemas
que a sociedade precisava e queria debater.Mas a partir da década de 1970, com a ampliação
do conceito de museu e de patrimônio, esse modelo passou a ser questionado, passando a
defini-la como uma ciência social que estuda os objetos de museu como fontes de
conhecimento.

Ampliação do conceito de Museologia

O conceito de Museologia foi novamente ampliado, redefinindo-a como uma ciência social que
"percebe" o objeto museológico como fonte de conhecimento e também de questionamento.

Essa percepção do objeto como fonte de saber e de reflexão produz uma importante diferença
no momento de selecioná-lo para integrar um acervo de museu, pois existem vários tipos de
conhecimento conforme o valor que lhes é atribuído, e também por "quem" lhes atribui esse
valor. Para uns, um objeto pode significar muito, e para outros pode ser pouco importante ou
até não significar nada em termos de conhecimento e reflexão.

Veja esse exemplo: imagine um conjunto de objetos de suplício usados na época da Inquisição,
na Europa, ou no período da escravidão, nas Américas, ou durante o regime militar no Brasil.

Para "quem" esses objetos podem ter significado enquanto instrumentos de produção de
conhecimento e de questionamento?

Que tipo de conhecimento o estudo desses objetos pode produzir? E que tipo de reflexão
podemos fazer quando nos deparamos com esses objetos?

Certamente, somos levados a pensar em quem os usava


e em quem eram usados, isso é, que tipo de sociedade permitiu – e por que permitiu – o uso
desses objetos para torturar outras pessoas.

E também podemos pensar – e decidir – se queremos viver em uma sociedade que faz uso
desses objetos.

Atualmente, quando a ciência museológica seleciona objetos para integrar um acervo, o faz
pelo seu valor enquanto fontes de conhecimento e questionamento, isso é, "percebendo" a
sua capacidade de fazer as pessoas refletirem sobre as suas realidades anteriores e atuais
quando elas se deparam com eles.

Assim, a Museologia é, essencialmente, uma ciência da informação, na medida em que


seleciona, conserva, ordena e investiga as informações contidas nos objetos e acervos
museológicos. E também é uma ciência social aplicada, porque realiza pesquisas sobre essas
informações e as divulga para o público na forma de conhecimento através de exposições,
eventos e programas educativos em museus, centros culturais, centros de memória e centros
de referência.Portanto, você pode perceber que a Museologia é uma disciplina aplicada para o
exercício livre e crítico da cidadania e a promoção do desenvolvimento humano, e a sua
cientificidade está em permanente construção.

Museu, patrimônio e identidade

Os museus só passam a existir quando o homem adquire a consciência de seus patrimônios


natural e cultural, isto é, quando se apropria das práticas que caracterizam o grupo social do
qual ele faz parte e o faz ser diferente de outros grupos.

Por exemplo: pelo idioma, pelo sotaque, pelas festas típicas, pela alimentação, pela religião,
entre outras práticas que lhes dão uma identidade própria.

Assim que a consciência dessas práticas tem início, começa a se definir a identidade dos
grupos humanos em todos os tempos e lugares. É a partir daí que a humanidade passa a
construir esses espaços chamados de museus e os utiliza para preservar esse patrimônio, isto
é, para preservar o seu legado histórico, ecológico, artístico e cultural.

É daí que decorre a função primordial dos museus: selecionar, guardar, conservar, pesquisar e
divulgar tudo aquilo que seja eleito como patrimônio – como "musa" – para um determinado
grupo social, isto é, pelas qualidades que dão àquele grupo uma identidade.

PATRIMONIO

O patrimônio natural se constitui no espaço físico onde um grupo humano se instala e vive.

O patrimônio cultural nos objetos materiais (tangíveis) que produz para viver e também nas
suas criações imateriais (intangíveis). Desse modo, você pode deduzir que o patrimônio
integral é o conjunto constituído pelo lugar onde um grupo vive, pelos objetos materiais que
esse grupo constrói para viver e pelas práticas imateriais que ele cria para que seus membros
se reconheçam como pertencentes a esse grupo.

Campo de estudo

O campo de estudo da Museologia é a investigação da instituição "museu", dos acervos nela


contidos e das interações desses acervos com as realidades dos vários grupos humanos. Desse
modo, o estudo museológico aborda as relações entre os seres humanos e as suas diversas
formas de compreender, valorizar, expressar e reproduzir a sua cultura no seu dia a dia.

No amplo universo das manifestações culturais estudados pela Museologia podemos destacar:
a pintura, a escultura, a arquitetura, a numismática (moedas), os meios de transporte, a
armaria, a indumentária (vestuário e joalheria), a heráldica (brasões), o mobiliário, as
condecorações, a tapeçaria, os utensílios domésticos (cerâmicas, porcelanas), prataria e
ourivesaria, os acervos religiosos, as danças, a literatura, o teatro, o folclore, a culinária típica e
várias outras formas de expressão que os grupos humanos criam para identificar-se e
organizar-se em sociedade.

Todos esses conhecimentos são investigados em uma perspectiva sócio-histórica e aplicados


pela ciência museológica através da museografia, da expografia, das técnicas de conservação e
restauro, dos estudos de público e da pedagogia museal.

Como você pode perceber, esses conhecimentos têm uma relação muito próxima com a
História e também com outros campos do saber.

Portanto, a disciplina Museologia estuda tudo o que se relaciona com esse lugar chamado
museu e seus acervos, e prepara profissionais para administrá-lo e fazê-lo cumprir sua função
social. E a ciência museológica – o seu campo de investigação aplicada – seleciona e pesquisa
os objetos e os acervos, produz conhecimentos a partir deles e divulga esses saberes através
de exposições, eventos e programas educativos.

Relações da Museologia com outros campos do saber

Existem vários tipos de museus, conforme os acervos que possuem, a sua especialidade e as
áreas do conhecimento em que desenvolvem as suas pesquisas. Para isso, a Museologia
interage com várias outras disciplinas e campos do saber.

Está intimamente ligada com as disciplinas históricas – da arte, da cultura e da civilização – e,


constantemente, relacionada com as ciências humanas e naturais, com a Filosofia e com as
ciências exatas.

A pesquisa museológica abrange o amplo universo das expressões artísticas, desde as artes
plásticas e visuais – pintura, escultura – além de outras linguagens como a música, o cinema, a
fotografia, o teatro, a dança, o folclore, a cenografia e a Literatura.Também se relaciona
intimamente com o campo das ciências humanas, como a Antropologia, a Arqueologia, a
Ciência Política, a Educação, a Filosofia, a Geografia, a História, a Psicologia, a Teologia e a
Sociologia.

Na área das ciências sociais aplicadas, articula-se com a Ciência da Informação, com a
Comunicação, a Economia, a Administração, e muito com a Arquitetura e com o Turismo. A
Museologia é, ela própria, uma ciência social aplicada. Há ainda uma relação próxima com as
ciências exatas – a Física e a Matemática – e com as ciências biológicas e da terra, como a
Medicina, a Astronomia e a Química.

Como você pode ver, a Museologia coloca em ação várias áreas do conhecimento e as torna
um campo aberto para criar relações e interpretações que os museus fazem nas suas mostras.
Englobando vários campos do saber, a Museologia cria elos para produzir conhecimento a
partir de uma diversidade de informações contidas nos seus acervos.
Quando examinamos detalhadamente uma pintura, podemos perceber os vários
conhecimentos que nela estão contidos. O próprio tema já indica que o artista realizou um
trabalho de observação e percepção para representá-lo. Depois, os estudos de perspectiva, de
luz e sombra, dos elementos químicos usados nas misturas para formar as cores nos seus
diversos tons e texturas. Se for uma pintura de cena em que haja a presença de pessoas ou
animais, os conhecimentos de anatomia, de movimento, das expressões, da fauna, flora e da
estética. Há ainda os detalhes do vestuário, do cenário e do próprio estilo narrativo do artista,
que é a sua marca pessoal. Como você pode notar, são conhecimentos que envolvem diversas
áreas do saber.

Museologia e sociedade

Como você já sabe, a ciência museológica está em permanente evolução. Atualmente, as


reflexões nessa área lançam seu olhar sobre a realidade circundante, ou seja, sobre a
sociedade. E daí tem surgido uma nova corrente museológica, criando outros tipos de museus
e renovando as suas ações. Nós já vimos que houve uma época em que a Museologia era
considerada a “ciência dos museus", e suas ações pouco discutiam os problemas com a
sociedade. Vimos também que os objetos incorporados aos acervos – objetos musealizados –
deixaram de ser selecionados apenas como raridades – ou como fontes de informação isolada
– e passaram a ser percebidos como fontes de conhecimento.

E, depois, como provocadores de questionamentos.

Então, já podemos concluir que essa nova vertente da ciência museológica rompeu com uma
tradição que tratava o objeto em si mesmo, guardado em um edifício chamado de museu para
ser apreciado por um público restrito através de uma pedagogia formal.

E também podemos concluir que os acervos só podem provocar reflexões se forem percebidos
em um contexto sócio-histórico.

E mais ainda: que as ações realizadas pelos museus – seus eventos, seus programas educativos
e exposições – sejam desenvolvidas com a participação da comunidade.

AULA 2 HISTORICO DA MUSEOLOGIA DO MUNDO E NO BRASIL

Introdução

Nesta aula, você vai conhecer a evolução da Museologia, no mundo e no Brasil, através
das primeiras coleções. Vai ver que a ideia de museu originalmente esteve ligada à
Filosofia, às artes e às ciências, e que com o tempo assumiu diversos significados até se
consolidar como instituição educativa. Esta aula vai mostrar como os museus foram se
transformando ao longo do tempo, e a cada momento serviram aos propósitos
afirmativos de poder e nacionalidade, de acordo com os períodos históricos. Vai mostrar
também que o Brasil esteve entre os primeiros países que constituíram acervos
científicos, e o importante papel dos museus nacionais nas pesquisas da História Natural
e da Antropologia. E, finalmente, vai conhecer as instituições museológicas
contemporâneas – os centros culturais – e o novo formato do fazer museológico
desenvolvido nesses espaços. O uso das tecnologias de informação e comunicação e os
estudos de recepção de público deram uma nova feição aos museus, repercutindo
diretamente na qualidade de suas ações educativas. Para quem gosta de História, um
belo passeio.
Você viu que a palavra museu teve origem na antiga Grécia. Museion era o nome dado
aos templos das musas, que representavam os ramos das artes e das ciências. Mas esses
templos não tinham a finalidade de reunir coleções.

Eram locais reservados para debates filosóficos e estudos artísticos, científicos e


literários. E essa noção de museu continuou associada às artes, às ciências e à memória,
da mesma maneira que era na antiguidade.

Mas, com o passar do tempo, a ideia de museu foi adquirindo novos significados, até
que, no século XV, colecionar objetos virou uma mania em toda a Europa.

Nesse período, vivia-se o espírito científico e humanista do Renascimento, e as coleções


– cada vez maiores e variadas – eram armazenadas em locais chamados de "gabinetes
de curiosidades". As pessoas importantes gostavam de ter esses “gabinetes” em suas
casas, para exibir objetos raros e exóticos como prova de sua riqueza e seu poder.

Com a expansão das navegações para o oriente e para o novo mundo, essas coleções
passaram a ser enriquecidas com obras de arte, artefatos científicos e outros objetos
provenientes das Américas e da Ásia, adquiridos pela nobreza e pela burguesia
ascendente. Também eram colecionados trabalhos de artistas locais.

Símbolos do poder político e econômico, essas coleções proliferavam por toda a


Europa. Além de objetos e obras de arte, essas coleções também passaram a
abrigarespécimes da natureza, formando as primeiras coleções científicas criadas por
estudiosos que buscavam reproduzir o ambiente natural de espécies vindas de terras
distantes.

Entretanto, os gabinetes de curiosidades reuniam objetos que atraíam mais por sua
beleza, raridade, técnica ou pelo seu valor simbólico. Eram adquiridos mais pelo prazer
de colecionar para mostrar riqueza e poder do que para servir como elementos de
pesquisa. Não havia um critério científico na formação dessas coleções, e os objetos no
seu conjunto não constituíam um conhecimento organizado.

Museus e suas funcionalidades

Em 1753, surgiu o Museu Britânico em Londres (Inglaterra). Entre 1750 e 1773 o


Museu do Louvre, em Paris (França) e, em 1783, o Museu Belvedere em Viena
(Áustria).

Mas somente no final do século XVIII, na França, foi permitido ao público ter acesso a
essas instituições, marcando o surgimento dos primeiros museus nacionais.

em 1808, em Amsterdã (Holanda), surgia o Museu Real dos Países Baixos;

em 1810, o AltesMuseum em Berlim (Alemanha);

em 1819, o Museu do Prado em Madri (Espanha), e

em 1852, o Museu Hermitage em São Petersburgo (Rússia).


Criados dentro do espírito nacionalista da época, esses museus tinham como função
formar cidadãos através do conhecimento do seu passado, e participaram de maneira
decisiva na construção dos Estados nacionais emergentes e das nacionalidades. Também
assumiam a função de exaltar o poder desses países através de coleções trazidas das
suas colônias.
Durante todo o século XIX, várias expedições percorriam os territórios colonizados
recolhendo espécimes da flora e da fauna, com o objetivo de conhecer os recursos
naturais e os costumes locais.
Assim foram se formando as coleções de Mineralogia, Botânica, Zoologia, Etnografia e
Arqueologia que passaram a integrar os acervos dos principais museus da Europa.

Desde então, naturalistas e artistas europeus realizavam viagens exploratórias ao


chamado "Novo Mundo", descrevendo e retratando minuciosamente as características
do meio físico e os costumes dos habitantes.

No Brasil, Debret, Rugendas, Saint-Hilaire, Spix e Martius, entre outros, publicaram um


vasto material etnográfico sobre o nosso país.

Ainda em 1870, surge o Museu Metropolitano de Nova Iorque (Estados Unidos). Com
um perfil mais pedagógico, serviu de modelo para outros museus norte-americanos e
mais tarde influenciou a ação de museus latino-americanos, como o MASP (Museu de
Arte de São Paulo) e o Museu de Antropologia da Cidade do México.

A museologia no Brasil

A primeira instituição museológica brasileira surgiu no início do século XIX.

O Museu Real, criado por D. João VI, no Rio de Janeiro, em 1818, veio a ser o atual
Museu Nacional. Inicialmente, seu acervo era composto por uma coleção de história
natural doada pelo próprio príncipe. Pouco depois passou a ser aberto ao público, e seu
acervo foi enriquecido por uma importante coleção de Egiptologia adquirida por D.
Pedro I. Contudo, o Museu Real manteve um perfil puramente colecionista e, somente
no final do século XIX, adquiriu um caráter científico.

Em 1864, foi criado o Museu do Exército e, em 1868, o Museu da Marinha. Em


seguida, foram criados o Museu Paranaense, em 1876, e o Instituto Histórico e
Geográfico da Bahia em 1894. Ainda nesse cenário, surgiram dois importantes museus
etnográficos: o Paraense Emílio Goeldi, em 1866 e o Museu Paulista – atualmente
Museu do Ipiranga –, em 1894.
Junto com o Museu Nacional, o Museu Paraense Emílio Goeldi e o Museu Paulista
assumiram o perfil de museus etnográficos, seguindo o modelo que se difundiu em todo
o mundo entre os anos de 1870 e 1930.
As pesquisas desenvolvidas por esse museus apoiavam-se na Teoria Evolucionista de
Charles Darwin, naturalista inglês, a partir da qual eram interpretadas as origens e a
evolução das espécies e da sociedade, que mais tarde foi a base da Antropologia.
Portanto podemos dizer que tanto no brasil como no resto do mundo os museus se
constituíram sobre dois modelos: um baseado na história e na cultura do seu país , e
orientado para celebrar sua nacionalidade , e outro, voltado pra o estudo da pré-história
, da arqueologia e da etnologia, como resultado dos movimentos científicos da época .

A museologia no Brasil – continuação

No Brasil, assim como nos demais países, os museus de modelo enciclopédico


predominaram até 1930, quando entraram em declínio junto com as também superadas
teorias evolucionistas. Entretanto, os museus brasileiros mantiveram suas ações a
serviço do nacionalismo, celebrando, em suas exposições, a exuberância da nossa
natureza e a cultura do nosso povo. Essa temática nacionalista ganhou mais relevância a
partir da criação do Museu Histórico Nacional (MHN), no Rio de Janeiro, em 1922,
junto com o Movimento Modernista.

O objetivo das ações realizadas pelo MHN era educar o nosso povo através dos valores
nacionais. As exposições apresentavam fatos e personagens da nossa história,
incentivando o culto à tradição e à formação cívica como fatores de união e progresso.
Os acervos documentavam a evolução da nação brasileira, com destaque especial para
os períodos do Império e da República.

Seguindo o modelo implantado pelo Museu Histórico Nacional, vários museus surgidos
entre as décadas de 1930 e 1940 trouxeram as marcas de uma Museologia
comprometida com a ideia de uma memória nacional, como fator de integração social e
reflexão crítica.

A partir de então, o Museu Histórico Nacional se tornou referência para outros museus
brasileiros, e contribuiu para a criação do curso de graduação em Museologia, em 1932,
que funcionou no próprio museu até 1979, formando e aperfeiçoando profissionais de
várias áreas do conhecimento que desejassem trabalhar em museus de todo o país.

As novas instituições museológicas

A partir do final da década de 1980, outros tipos de instituições passaram a ser criadas
principalmente nas capitais e grandes cidades do Brasil e do mundo, realizando ações
educativas de excelente qualidade: os centros culturais. Com uma estrutura receptiva
mais flexível, esses espaços foram inicialmente concebidos para funcionarem como
instrumentos de visibilidade institucional de empresas.Além de reunirem acervos de
diversos tipos – próprios e de outras instituições – para realizarem suas exposições,
alguns centros culturais se especializaram em adquirir e conservar acervos específicos,
tornando-se referência no tratamento desses acervos.

Museus, centros culturais e centros de memória

Conceito

Os museus são instituições sócio-históricas de pesquisa. Existem diversos tipos de


museus: históricos, de ciências, comunitários, de artes, universitários ou específicos de
uma expressão cultural considerada importante para um determinado grupo social, que
deseja preservá-la para que seja conhecida pelas futuras gerações.
Em geral, os museus se diferenciam pelos tipos acervo que possuem, pelo estudo que
fazem desses acervos e pelas atividades que realizam com base nesses acervos. As
exposições, os eventos, os programas educativos e outras atrações que acontecem nos
museus também podem diferenciá-los.

Tipos de museus

Os museus podem ser públicos ou privados, isto é, podem ser mantidos pelo município,
pelo estado ou pelo governo federal.

Também podem ser mantidos por uma comunidade, uma escola, um clube, por uma
associação de bairro, uma empresa ou por qualquer grupo de pessoas que têm interesse
em um determinado assunto e decidem instituir um espaço para reunir e organizar um
acervo específico para pesquisa e exposição.

Os museus também podem possuir diversos tipos de acervos, desde objetos materiais
até práticas imateriais ou simbólicas que caracterizam uma comunidade, tais como:
danças, músicas, festas religiosas, entre outras que fazem com que seus membros se
reconheçam como pertencentes àquele determinado grupo social.

Os ecomuseus – ou museus comunitários – englobam todo o patrimônio cultural e


natural de uma comunidade. Eles se constituem a partir da delimitação de um território
e de seus habitantes, e nascem do desejo de preservarem suas histórias e tradições.

Suas tradições podem ser preservadas através de comemorações de datas importantes ou


reverenciadas em personagens da própria comunidade. Podem ainda ser manifestadas
nas festas religiosas, na gastronomia, nas artes que eles mesmos produzem, e também
como forma de reivindicarem direitos e atendimento às suas necessidades.

Centros culturais

Além de coletar, guardar e conservar diversos tipos de acervos, realizar pesquisas,


exposições e atividades educativas, muitos museus também possuem bibliotecas e
espaços interativos com cinemas, teatros, restaurantes, salas multimídia e áreas de lazer.
Nesses espaços acontecem, ao mesmo tempo, diferentes eventos e programações
desenvolvidas para vários tipos de público. Atualmente, muitos desses espaços
deixaram de ser apenas museus na sua forma tradicional e tornaram-se referências de
lazer e cultura em suas cidades, passando a ser chamados de centros culturais, ainda que
muitos mantenham o nome de museu.

Em diversas cidades do Brasil e do mundo, existem e continuam a ser criados museus


no formato de centros culturais, muitas vezes próximos uns dos outros, formando o que
se chama de "corredores culturais". Para alguns pesquisadores da museologia, os
centros culturais são a evolução do museu tradicional. Mantendo os princípios e
objetivos que orientam a prática museológica, os centros culturais geralmente são
criados por empresas, para utilizá-los como instrumentos de visibilidade institucional.

Com recursos próprios e infraestrutura mais flexível, os centros culturais produzem


exposições, eventos e programas educativos diferenciados daqueles que normalmente
são oferecidos pelos museus tradicionais.
Atualmente, os museus têm deixado sua forma tradicional de apresentar seus acervos ao
público para produzir mostras, eventos e programas educativos interativos, com
formatos semelhantes aos adotados pelos centros culturais. Através deles, é possível
envolver-se com estímulos variados e simultâneos a partir de acervos múltiplos, onde
cada espaço assume um sentido próprio, e onde tudo é informação.

Este é um modelo diferente de extrair a informação dos acervos, sem as limitações


geralmente comuns dos museus tradicionais.

Nos centros culturais, não há passividade em atender a demanda dos visitantes.


Também não existe a simples oferta dos produtos da inteligência humana identificados
como cultura. Ali há liberdade de acesso à informação e convites abertos às
experiências.A informação não está disposta de maneira convencional, mas de modo
que o visitante não tenha dificuldades para encontrá-la. É ela que encontra o público,
pois está em seu caminho, no ângulo do seu olhar e à altura das suas mãos.

Centros de memória
Outra evolução dos museus tradicionais são os chamados "centros de memória".
Mantendo ainda os critérios da prática museológica, essas instituições também coletam,
conservam, pesquisam e divulgam acervos que podem se referir a determinados
períodos históricos, ou a expressões culturais de uma comunidade, ou ainda às
lembranças de personagens importantes para um grupo social ou um povo.
Em geral, esses espaços realizam exposições permanentes sobre um tema específico
com diversos formatos, sempre articulados com outros temas relacionados ao tema
principal. Também produzem periodicamente eventos para comemorar datas e
acontecimentos importantes, e manter vivas essas lembranças na memória das suas
comunidades ou de um país.
Aula 4 : a comunicação museológica
Exposições
A principal ferramenta de comunicação museológica é a exposição. Esta é a parte que
visualmente se manifesta para o público e que possibilita a experiência de adquirir
conhecimento por meio do contato direto com o patrimônio cultural. A apresentação de
um acervo articulado com o tema de uma exposição é também o modo que os museus
têm de se mostrarem para a sociedade e afirmarem a sua missão.
Comunicação museológica é a denominação genérica dada às diversas formas que os
museus usam para transmitir conhecimentos.
É no cenário expositivo que se potencializa a relação entre o homem e o objeto, e é
nessa relação que o público tem acesso à poesia das coisas, das pessoas, dos fatos
históricos e dos lugares de memória.
Aos profissionais de museus, cabe a tarefa de construir esse encontro, pesquisandoos
acervos, abordando temas socialmente relevantes, elaborando mostras e estudando as
formas como os diversos tipos de público se relacionam com os objetos organizados em
um cenário expositivo.
É nesse feixe de informação, conhecimento e aprendizagem que a comunicação
museológica atinge o seu objetivo maior: produzir emoções e reflexões que possam
transformar a atitude das pessoas quando elas são confrontadas com suas realidades.
Concepção e montagem de exposições
Nos primórdios da Museologia, as exposições tinham um caráter puramente
contemplativo, e eram concebidas por uma só pessoa ou por um pequeno grupo de
pessoas.
Eram organizadas de modo enciclopédico, a partir das estruturas classificatórias das
coleções, e somente pesquisadores eram capazes de perceber e entender essas estruturas
e seus significados. Para o visitante comum, eram apreciadas passivamente, apenas para
satisfazer curiosidades.
Com o tempo, as exposições passaram a ser concebidas por equipes de especialistas,
para serem compreendidas e provocarem uma atitude ativa e crítica no público.
Essas equipes de especialistas eram orientadas para responder às seguintes questões:
O que que as aprendem?
O que estamos ensinando?
Como estamos ensinando ?
Que tipo de assunto de interessam as pessoas?

Quais as melhoras estrageriasexpográficas que podemos usar para comunicar as pessoas


o que queremos que elas entendam e aprendam?

Assim surgiram as equipes interdisciplinares formadas por pesquisadores, educadores,


historiadores, designers, museólogos e outros especialistas da área da expografia.

Concepção e montagem de exposições

A reflexão sobre como as pessoas aprendem através de uma exposição e como os


museus podem ensinar fez com que os profissionais que atuam nessa área preparassem
as exposições a partir do olhar do público. Atualmente se oferece ao público a
oportunidade de aprender através de um comportamento ativo-cognitivo (intelectual,
emotivo e crítico), interagindo com a exposição.

É na interação ativa e crítica entre a mensagem apresentada e o visitante que a


exposição permite que as pessoas vivenciem uma experiência de apropriação do
conhecimento. No entanto, é preciso saber como construir essa experiência e verificar o
seu efeito.

A pesquisa de recepção de público estuda os modos e consequências do encontro entre a


mensagem que se quer transmitir e o seu destinatário. É o resultado da interpretação que
o público faz dos vários objetos que estão sendo exibidos em conjunto com o cenário
expositivo e o tema em questão.

Estudos de transmissão de mensagens

Os estudos de transmissão de mensagens através de exposições estão intimamente


relacionados com a área da Comunicação Social.

De acordo com esses estudos, a mensagem transmitida por uma exposição não é a única
via – existem outras, às vezes até mesmo concorrentes –, nem a mais importante para
determinar o tipo de experiência vivenciada pelo público que, como você viu, faz a sua
própria síntese.

Entretanto, pensar que existe um predomínio do emissor sobre o receptor sugere uma
relação de poder, como se houvesse uma relação sempre direta, linear, de um polo
(emissor) sobre o outro polo (receptor). Por isso, o processo comunicacional
museológico não está na mensagem, e sim na interação. É no espaço de encontro entre o
emissor (museu-exposição) e o receptor (público) que se estabelece a relação do homem
com a sua realidade.

Museu é diálogo

Não é correto dizer que a exposição é uma simples transmissão de uma mensagem para
um determinado público por meio de objetos em um cenário. Isso pode passar a ideia de
que a instituição (museu) já tem estruturado todo o significado da mensagem, e que o
público-alvo é somente aquele que está apto a recebê-la, passivamente. É um equívoco
considerar que a interação ocorre desta forma. Pelo contrário, a avaliação dos resultados
de uma exposição realimenta todos os procedimentos de concepção e montagem, e aí
são feitas as correções e as adequações.

Museu é diálogo. É espaço de discussão, e não um monólogo. Por isso, a avaliação de


uma exposição se dá sobre os efeitos da interação com o público, e não sobre um
processo linear entre emissor e receptor.

Estudos de público e avaliação

A exposição é o local de encontro entre o que o museu quer apresentar – e o modo como
ele apresenta –, buscando provocar um comportamento ativo e crítico do público e à sua
síntese subjetiva.

Entendendo a exposição como espaço de aquisição de conhecimento e reconstrução de


valores, elas são concebidas para oferecer uma experiência de qualidade aos visitantes.
Contudo, conceber e montar uma exposição a partir das realidades das pessoas significa:

Primeiro, escolher um tema de relevância social e também científica.

Depois, é preciso organizá-la material e visualmente em um espaço físico apropriado,


para estabelecer uma relação de diálogo – uma experiência – entre o conhecimento que
o público já tem sobre o tema e o novo conhecimento que está sendo apresentado.
Fatores que determinam a qualidade de uma experiência

Quais são os fatores que determinam a qualidade de uma experiência, para que ela seja
bem-sucedida?

Bem, uma experiência de qualidade é aquela que permanece por um longo tempo na
mente da pessoa que a vivenciou.

Por exemplo: uma viagem, ou um encontro com alguém que se gosta.

A experiência bem-sucedida é aquela que é completa. Nela, todos os elementos que a


constituem estão presentes e interagem bem entre si.

Interação com a exposição

Uma exposição interativa é aquela que permite ao visitante caminhar livremente pelo
seu espaço, observar os objetos, relacioná-los ao tema abordado, aprender o seu
conteúdo temático, apreciar os seus efeitos expográficos e sensoriais de sons, cores,
luzes, movimentos.

Nela é possível observar, comentar, analisar, julgar, criticar, comparar, relacionar,


lembrar, rejeitar, concordar, discordar, emocionar-se. É nessa interação que o público
recria o discurso expositivo e dá a ele um novo sentido. E é na relação entre todos os
elementos que a constituem e formam um grande conjunto de informações, significados
e conhecimentos importantes que fazem com que a visita a exposições seja uma
experiência única e de qualidade.

Entretanto, pode-se ir a um museu ou a um centro cultural pelo simples prazer de estar


num lugar onde sempre tem alguma coisa interessante acontecendo.

Museus: territórios existenciais, bens patrimoniais e lugares de encontros e de saberes

Mesmo que não se busque um evento específico da programação, ir a esses lugares é


sempre um bom programa e uma oportunidade de vivenciar uma experiência marcante.
Às vezes acontecem ao mesmo tempo eventos sobre assuntos totalmente diferentes:
uma exposição sobre um tema, uma mostra de cinema, um lançamento de um livro, um
concerto acontecendo nos jardins, um espetáculo teatral, uma oficina e daí por diante.

Essa também é uma estratégia de formação de público: criar um circuito interativo de


diversidades nas variedades das ações e dos temas abordados. Nessa perspectiva, os
museus se transformam em territórios existenciais, em bens patrimoniais e lugares de
encontros e de saberes. São as chamadas “estruturas de acolhimento” – dimensões
abertas ao sensível e ao indeterminado –, onde pode acontecer algo surpreendente. Isto
também faz parte de uma experiência de qualidade.

Aula 5 : acervos museológicos

O que são acervos museológicos


Como vimos nas aulas anteriores, a construção de uma exposição que produza uma
experiência de qualidade leva em consideração diversos recursos.

A seleção dos objetos é um critério fundamental, porque tem a ver diretamente com a
proposta do museu de confrontar o homem com a sua realidade. Isto é, colocar o
público diante do seu patrimônio cultural para questionar seu papel na sociedade.

Veja bem: Imagine uma caneta simples, como tantas outras canetas. Agora pense na
caneta que a Princesa Isabel usou para assinar a Lei Áurea, que formalizou o fim da
escravidão no Brasil. Essa não é uma caneta qualquer, certo? É um objeto ligado a um
fato histórico, e é isso que a torna diferente de todos os outros objetos, isto é, de todas as
outras canetas. Isso porque esse objeto possui um significado, um sentido. Quando você
o vê em uma exposição, imediatamente pensa naquele episódio da História brasileira e
no processo histórico que envolveu o fim da escravidão.

Geralmente esses objetos não são apresentados isoladamente. São contextualizados em


um tema e apresentados junto com outros objetos também significativos, para
potencializar as reflexões sobre o tema que o museu quer abordar. Por isso é importante
conservá-los. Portanto, o elemento estruturador de uma exposição é o objeto
museológico, e o cenário expositivo deve ser pensado para dar destaque a esse objeto e
ao seu significado.

Objeto institucionalizado

O objeto é a "musa" da exposição, seu elemento-chave. E o acervo museológico é o


conjunto desses objetos institucionalizados em um museu.

Portanto, um objeto institucionalizado é aquele que passa a fazer parte do acervo de um


museu. Significa que o objeto é registrado, catalogado e daí passa a fazer parte do
acervo daquela instituição.

Passa a ser um objeto musealizado, ou seja: primeiramente, ele é selecionado pelo seu
valor intrínseco para integrar um acervo e depois é formalmente integrado a esse acervo
pela institucionalização, isso é, pelo seu registro e catalogação como parte daquele
acervo.

Patrimônios culturais

Não apenas os objetos podem ser musealizados. Pode-se também musealizar


monumentos, praças, prédios, cidades ou outras expressões da cultura consideradas
significativas para um grupo social. Nesses casos, a institucionalização vai além dos museus
e atingem outras instâncias institucionais, como, por exemplo, um município, um país ou até
mesmo toda a humanidade. É assim que são constituídos os patrimônios culturais da
humanidade.

você também já deve ter ouvido a expressão "tombamento".


Isso significa que ele foi "registrado" por uma instância governamental pela sua
importância e, portanto, é protegido. Tombamento significa registro.
O objeto musealizado é aquele que é selecionado para ser conservado em um museu, e o
objeto tombado é aquele que não pode ser guardado em um museu, e por isso é tombado
(registrado) como patrimônio cultural e conservado no seu próprio local.
Assim também são os bens culturais imateriais ou naturais. Não é possível guardá-los
em um museu, mas eles devem ser conservados, e por isso são registrados como
patrimônio cultural, isto é, tombados. Mas o conceito de musealização, além de outros,
serão tratados mais adiante.
Valor intrínseco de um objeto
Como você já sabe, os objetos musealizados são as unidades que, no seu conjunto,
formam um acervo. E os acervos são formados de acordo com os seus tipos.
Como você já sabe, os objetos musealizados são as unidades que, no seu conjunto,
formam um acervo. E os acervos são formados de acordo com os seus tipos.
Mas os objetos por si sós, não possuem valor intrínseco, isto é, não estão ligados a
alguma coisa, como no exemplo da caneta.
O valor intrínseco de um objeto conservado em um museu, ou de um acervo
museológico, só existe quando lhe é atribuído um sentido, isto é, quando ele possui um
significado sócio-histórico.
Valor intrínseco de um objeto
Para que isso aconteça, é preciso que sejam – tanto os objetos como os acervos – usados
para transmitir o conteúdo desse significado ou dessa cultura. Ou seja, os sentidos e os
conhecimentos acumulados pelas gerações anteriores que são considerados importantes
e devem permanecer na memória das futuras gerações. Assim, o museu se torna o
repositório desses sentidos e conhecimentos contidos nos objetos e acervos, e as
exposições são os meios usados para transmitir esses saberes e significados.
Recursos expográficos
Os recursos expográficos usados para contextualizar os objetos e acervos em um cenário
expositivo podem ser diversos e simultâneos.
Ambientes, trajetos, textos,legendas, desenhos, fotografias, móveis, sons, aromas,
temperaturas, luzes, máquinas etc. formam um grande conjunto de efeitos especiais
usados para explicar um conteúdo e enriquecer a experiência dos visitantes.
Esses recursos também organizam e potencializam o discurso museológico, que é
estruturado na combinação deles com todo o espaço expositivo, formando uma narrativa
lógica e interativa.
É na interação do público com os objetos, acervos e com os recursos expográficos que
os museus dialogam com as pessoas a respeito do tema em questão.
Dois outros elementos são também fundamentais para a construção de uma experiência
expositiva de qualidade: o espaço físico e o desenho da exposição – sua visualidade –,
associados aos recursos sensoriais.
A maneira como são dispostos os objetos no espaço também é fundamental na
interação.
Na próxima aula, vamos ver que todos os museus, independentemente de suas
tipologias, são construções socioculturais e históricas.
Portanto, são espaços propícios à pesquisa histórica.
Essa característica ressalta a importância dos historiadores nessas instituições, pois
esses profissionais estão mais aptos a associar os objetos aos fatos históricos e
contextualizá-los por suas importâncias e significados no processo sócio-histórico.
Do mesmo modo, as pesquisas que se realizam sobre os objetos musealizados
obedecem a critérios semelhantes à pesquisa histórica acadêmica.
E o conhecimento produzido é o resultado da análise histórica de fontes documentais,
onde o objeto é o próprio documento.
Tipos de acervos

Apesar de seguirem métodos acadêmicos próximos, a investigação de um conjunto de


objetos – um acervo – é uma particularidade da pesquisa museológica.
Em um museu, os objetos são documentos, fontes de informação. Por isso, requerem
condições especiais para serem selecionados, guardados, pesquisados e seus conteúdos
apresentados em um contexto temático para serem questionados pelo público.
Como já vimos, existem vários tipos de acervos, e a cada um é dado um tratamento
conforme a sua origem e o material com que são constituídos.
Madeira, couro, metal e outros materiais têm tratamentos diferentes para que durem
mais tempo e preservem suas características físicas.
Os acervos também podem ser vivos. Por exemplo: em um jardim botânico ou
zoológico, as plantas e animais são conservados vivos, e assim são expostos. Mas neste
caso, também podem ser conservados e expostos já não estando vivos, pela taxidermia
(empalhamento).
Acervos de origem animal, vegetal ou mineral – couro, plantas, pedras – são
conservados conforme as suas naturezas, e recebem um tratamento especial para
aumentar sua durabilidade. Assim, as condições de temperatura, higiene, luz e outras
variáveis climáticas são permanentemente controladas, além da própria segurança física
dos objetos, principalmente quando estão sendo apresentados em uma exposição.
Conforme os acervos que têm sob sua guarda, os museus, em sua maioria, possuem
laboratórios de conservação e restauração. Ali os objetos recebem tratamento adequado
e são restaurados, caso sofram danos.
Seja no transporte, no acondicionamento ou na própria exposição, os objetos estão
sempre sujeitos à ação do homem e do tempo. Portanto, é através dos objetos e acervos
que o público tem acesso ao conhecimento guardado e produzido pelos museus.
Pesquisa museológica
É através das pesquisas, das exposições, dos eventos culturais, dos programas
educativos, das publicações e das informações disponibilizadas em bancos de dados que
o público tem acesso ao conhecimento que os museus transmitem.
Mas não somente ao conhecimento puro e simples. Também das fontes usadas na
produção desse conhecimento – isto é, pela pesquisa sobre os próprios objetos e acervos
– que fazem com que os museus desempenhem o seu papel educativo, cultural e
científico.
É esse o objetivo da pesquisa museológica: promover o uso social dos seus acervos,
aproximando a sociedade dos significados que eles exprimem e os conhecimentos que
neles existem. E como os museus fazem isso? Pesquisando-os e apresentando-os
principalmente nas exposições, pois é ali que essas fontes de informação – esses
documentos –
são mostradas em um contexto temático para provocar reflexões, tomadas de
consciência e mudanças de atitude.
Aula 6: como museus centros culturais, centros culturais e de memória podem ajudar na
pesquisa histórica
Os museus como espaços de cultura
No final da década de 1980, iniciou-se em várias cidades brasileiras e de outros países a
criação de centros culturais que, como você já viu, deram uma nova feição aos museus
tradicionais.Junto com os centros culturais, também foram criados novos tipos de
museus: os comunitários, os centros de memória, os ecomuseus e os centros de
referência. Você também já sabe que todos esses espaços podem se relacionar
intimamente com o estudo da História e de outras disciplinas. Você também já sabe que
os conhecimentos se relacionam entre si, formando um grande complexo de saberes, e
os museus estão inseridos nesse contexto.
Essas são instituições museológicas tradicionais que se especializaram no tratamento e
pesquisa de acervos e temas específicos. São centros científicos de referência em suas
especialidades. Assim, ao longo do tempo, esses novos tipos de museus – os centros
culturais, além dos próprios museus tradicionais, ajustaram suas programações a partir
das demandas recebidas dos diversos públicos, adaptando-as aos seus acervos, recursos
e aproveitando suas características físicas, espaciais e simbólicas.
Por exemplo: estar localizado junto a uma natureza exuberante ou em uma área
histórica da cidade, possuir uma bela arquitetura, estar instalado em um prédio histórico,
especializar-se na pesquisa de acervos importantes, ter uma programação contínua e
variada, entre outros aspectos.
Agências informais de educação
Mantendo-se fiéis aos propósitos de promover o encontro do ser humano com a sua
realidade, esses espaços passaram também a assumir um perfil de agências informais de
educação.
Além das linguagens artísticas tradicionais, introduzem também outras, mais próximas
do público, mais articuladas com as disciplinas estudadas nas escolas, com a tecnologia
e com o pensamento histórico contemporâneo.
Assim, programas educativos multidisciplinares passaram a ser criados para o
aprendizado da História, usando novas linguagens e tecnologias para desvendar novas
áreas do conhecimento histórico e abordar assuntos até então pouco explorados pela
escola tradicional. Esses programas também passaram a ser oferecidos de uma forma
mais lúdica e interativa, sem compromisso com avaliação, divisão em séries e outros
fatores considerados importantes na escola.
Alguns museus e centros culturais se especializaram no tratamento de acervos históricos
específicos, tornando-se responsáveis pela manutenção desse patrimônio e também por
sua transmissão através de programas educativos diretamente orientados para o ensino
dessa disciplina. Nesses programas, períodos e fatos históricos são revistos e analisados
por vários ângulos da pesquisa histórica contemporânea, tornando-os atraentes para os
diversos tipos de público.
Assim, programas educativos multidisciplinares passaram a ser criados para o
aprendizado da História, usando novas linguagens e tecnologias para desvendar novas
áreas do conhecimento histórico e abordar assuntos até então pouco explorados pela
escola tradicional. Esses programas também passaram a ser oferecidos de uma forma
mais lúdica e interativa, sem compromisso com avaliação, divisão em séries e outros
fatores considerados importantes na escola.
Para inserir e contextualizar a temática histórica nas suas programações, usam todo tipo
de recursos: em festivais de cinema, de teatro, exposições e também colônias de férias
com jogos e brincadeiras envolvendo fatos e personagens.
O objetivo é promover o encontro entre o público e a sua realidade através da releitura
e reinterpretação da História.
Como centros de pesquisa

Além de espaços expositivos e de lazer, muitos museus e centros culturais possuem


ricas bibliotecas e núcleos de pesquisa histórica e de outras disciplinas.
Essas pesquisas são geralmente recentes e atualizadas a cada evento para serem
divulgadas em sites, livros, revistas e outros veículos publicados pela própria
instituição, e muitas vezes em parceria com universidades e empresas.
Como você já sabe, a maioria dos museus e centros culturais possui núcleos que criam
programas educativos orientados ao estudo da História, e que acontecem junto com a
sua programação, formando grandes eventos.
Assim, apresentações musicais, de poesia, de contadores de estórias, visitas guiadas e
outras atividades são direcionadas para um tema histórico escolhido e apresentadas em
diferentes linguagens. Aproveite isso nos seus estudos!
Por exemplo: quando se comemora a Independência do Brasil, ou outra data importante
da nossa História, geralmente a programação é orientada para explorar esse assunto de
diversas maneiras, sempre fazendo ligações com as questões da atualidade.Geralmente a
instituição também disponibiliza as suas bibliotecas sobre o assunto – tanto presenciais
como virtuais –, contrata professores para ministrar aulas sobre o tema, publica
catálogos, CDs, livros e sites com resumos de todos os eventos e também de como as
pesquisas foram feitas para realizá-los.
Existem também museus diretamente ligados a instituições de pesquisa. Muitas
universidades possuem coleções nos seus centros acadêmicos para usá-las nas aulas
práticas. Por exemplo: as faculdades de Medicina, Biologia, Odontologia, Geologia e
outras áreas ligadas às ciências da terra possuem acervos que vão desde esqueletos
humanos até espécimes de animais, plantas e minerais.
O Museu da Energia Nuclear, em Recife, é mantido pela Universidade Federal de
Pernambuco. A Estação Ciência é ligada à Universidade de São Paulo. Geralmente as
grandes universidades e faculdades brasileiras e também estrangeiras possuem museus e
mantêm neles acervos importantes para suas pesquisas.
Também existem os centros de referência, que são instituições especializadas na
pesquisa de assuntos ou áreas específicas do conhecimento que, do mesmo modo,
mantêm coleções importantes, como já falamos.

Por exemplo: o Museu da Vida é ligado ao Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro,
que é um centro de referência na pesquisa biomédica.
Existem ainda os centros culturais privados que se especializaram em reunir, conservar
e disponibilizar coleções específicas, geralmente ligadas às artes plásticas e outras
expressões da cultura.
Por exemplo: o Instituto Moreira Salles (RJ, MG e SP) especializou-se em conservar e
pesquisar acervos ligados à fotografia e à música popular brasileira.
Todas essas instituições possuem sites, bibliotecas e laboratórios que podem ser
visitados e usados para pesquisa, além dos próprios eventos que realiza.
Também possuem departamentos especializados em desenvolver programas educativos
formatados para escolas e estudantes que querem pesquisar um assunto ligado aos seus
acervos e às suas programações.
Desse modo, as visitas aos museus são de grande proveito tanto para quem ensina
como para quem aprende a História, pois permitem unir o conteúdo teórico ao contato
direto com o ambiente onde os fatos se deram.
Muitos museus são localizados nos próprios prédios e lugares onde os acontecimentos
ocorreram. Por isso, oferecem um ambiente espacial e simbólico de excelente qualidade
para a construção de conhecimento através da combinação de atividades culturais e de
lazer.
Portanto, os museus, centros culturais e institutos de pesquisa são espaços que podem –
e devem – ser constantemente visitados, principalmente por professores e alunos de
História. Você sabe o motivo?
É que os temas apresentados são sempre articulados com questões da atualidade,
abordadas em uma perspectiva histórica. E o público visitante é geralmente de pessoas
que buscam cultura e lazer, conhecimento histórico e divertimento, com qualidade.
Como espaços ecoculturais
As cidades históricas – às vezes chamadas de museus a céu aberto – e os ambientes
naturais também são uma boa forma de se ter contato com o espaço real e com as
realidades. Vamos então exemplificar com uma cidade histórica famosa e que se ainda
não conhece uma visita vale muito a pena.
Visitar esses espaços ecoculturais e suas comunidades permite trocar experiências e
adquirir conhecimentos para a formação de pessoas capazes de interferir no presente.
Além de promover a interação social, ampliam a observação, a percepção e a crítica,
enriquecendo todo o processo de aprendizado.
Consequentemente, as aulas ministradas em espaços que possuem acervos históricos
possíveis de serem articulados com os conteúdos programáticos permitem ao professor
criar conflitos cognitivos de diversos tipos para que novos conhecimentos sejam
produzidos.
E aos alunos, a oportunidade de aprofundar suas reflexões sobre os momentos
econômicos, políticos e sociais da nossa História e estabelecer relações com o momento
atual e com as suas próprias realidades.
Portanto, visitar cidades históricas é uma forma de estabelecer contato direto com os
ambientes onde os fatos ocorreram, favorecendo a observação, a percepção, a reflexão e
a crítica.
É uma forma de ensino e aprendizado que traz para o presente os sentidos acumulados
nos espaços físicos e simbólicos dos objetos e dos acervos.
Eles têm a capacidade de conduzir esses significados através do tempo para que sejam
revistos, criticados e produzam novos conhecimentos, onde todos – alunos e professores
– podem compartilhar esses saberes
Explique este conceito no universo de nossa disciplina.
Além das linguagens artísticas tradicionais, introduzem também outras, mais próximas
do público, mais articuladas
com as disciplinas estudadas nas escolas, com a tecnologia e com o pensamento
histórico contemporâneo.

Assim, programas educativos multidisciplinares passaram a ser criados para o


aprendizado da História, usando novas linguagens e tecnologias para desvendar novas
áreas do conhecimento histórico e abordar assuntos até então pouco explorados pela
escola tradicional.
Esses programas também passaram a ser oferecidos de uma forma mais lúdica e
interativa, sem compromisso com avaliação, divisão em séries e outros fatores
considerados importantes na escola.
Para inserir e contextualizar a temática histórica nas suas programações, usam todo tipo
de recursos: em festivais de cinema, de teatro, exposições e também colônias de férias
com jogos e brincadeiras envolvendo fatos e personagens.
O objetivo é promover o encontro entre o público e a sua realidade através da releitura
e reinterpretação da História.
Aula 7 equipe técnica de museus
Os profissionais de museus
Como você viu nas aulas anteriores, a Museologia interage com diversas áreas do saber,
desde as ciências humanas, sociais e naturais até as exatas, além de novos campos do
conhecimento que são constantemente desvendados.
Por suas características, a ciência museológica – tanto teórica como aplicada – atua
sobre os métodos de seleção, conservação e pesquisa de objetos que possuam
significados considerados importantes para os grupos sociais, além da própria gestão
administrativa e institucional dos museus.
As informações contidas no conjunto desses objetos – os acervos museológicos – são
investigadas, organizadas e transmitidas através de diversas ações que os museus
realizam para divulgar e manter vivo o nosso patrimônio ecocultural.
Portanto, pode-se dizer que a museologia é um campo para profissionais que desejam
trabalhar com a comunicação através dos objetos e acervos.
Isso significa trabalhar na seleção, restauração e conservação de objetos, pesquisa de
acervos, elaboração de publicações – catálogos, livros, sites – concepção, organização e
montagem de exposições, eventos e programas educativos baseados no patrimônio
ecocultural.
O profissional de museu – seja ele de qualquer área de formação, mas que atue no
campo museológico – é legalmente regulamentado desde 1984.
Seus direitos são preservados por intermédio dos Conselhos Regionais (COREM) e do
Conselho Federal de Museologia (COFEM).
Atualmente, as equipes que trabalham em museus são constituídas por profissionais de
diversas formações, que atuam em áreas e funções distintas. Além dos profissionais
ligados às áreas da administração e documentação, trabalham os historiadores,
museólogos, educadores, arqueólogos, antropólogos, restauradores, designers,
comunicadores e arquitetos.
Também há profissionais de outras áreas, conforme o tipo de projeto a ser realizado,
formando uma equipe multidisciplinar que atua em conjunto.
Antes do evento
Inicialmente, para se conceber uma exposição ou um evento e decidir sobre o seu tema e
como abordá-lo, a direção do museu se reúne com um grupo de especialistas "da casa"
para analisar a sua viabilidade.
Nessa fase, são verificadas as pré-condições que possibilitam a realização do projeto,
tais como:
. Os recursos disponíveis – financeiros, materiais, humanos, de acervo;
. A oportunidade e a importância de debater o tema naquele momento;
. A melhor maneira de abordá-lo em relação aos públicos que se quer atingir;
. Se aquela ação está de acordo com a ética;
. Os objetivos da instituição e os resultados que se quer alcançar.

Também são avaliados os riscos e as condições de segurança, os parceiros –


financiadores, apoiadores, fornecedores, especialistas externos – e outras instituições
interessadas em participar do projeto.
Após essa etapa, é feito um planejamento dos trabalhos a serem realizados por cada
área envolvida e pelos profissionais que atuam nelas.
Aí são definidas as responsabilidades, os prazos e os recursos a serem aplicados. Em
seguida, vêm as pesquisas.
Produzir um evento – ou uma exposição como parte de um evento maior – exige o
envolvimento de toda a equipe do museu e, conforme o projeto, também de
profissionais externos.
As pesquisas iniciais normalmente são realizadas por museólogos, arqueólogos,
etnólogos, biólogos, geógrafos, historiadores.
Participam também profissionais especializados em determinados segmentos como, por
exemplo, na leitura e interpretação de textos em linguagens antigas ou que possuam
conhecimento profundo sobre um determinado acervo, ou sobre o tema, ou o uso de
técnicas e equipamentos específicos.
Em seguida, vêm os educadores, museólogos, conservadores, programadores visuais,
comunicadores, arquitetos, designers,cenógrafos, cenotécnicos, aderecistas, artistas e
outros, dependendo do tema a ser abordado e da sua forma de abordagem, do tipo de
acervo a ser usado e do próprio projeto.
Durante a mostra ou o evento, ainda atuam os seguranças, os monitores e assessores de
imprensa. No final, é feita uma avaliação da atuação de cada uma das áreas envolvidas,
além dos resultados produzidos sobre o público.
Como você pode ver, é um trabalho de equipe que exige a participação de profissionais
de diversas áreas atuando em conjunto de forma distinta e coordenada.
No entanto, o nosso foco agora se dirige para o trabalho do museólogo comunicador.
O comunicador
Diferentemente dos outros profissionais, as atenções do museólogo estão voltadas para
a comunicação museológica.
Por isso, ele se torna uma figura central como coordenador dessa grande equipe,
equilibrando os trabalhos de criação, produção e comunicação, isto é, os interesses de
todos esses profissionais em relação às expectativas do público e da própria instituição e
seus parceiros.
Desse modo, o museólogo atua simultaneamente como coordenador e comunicador.
Utilizando várias linguagens expositivas, ele coordena o processo de transmissão de
uma ideia
para um determinado público, tendo como meio de comunicação os objetos inseridos
em um cenário museográfico.
É ele quem seleciona os objetos do acervo do museu – e de outras instituições, se for o
caso – conforme as suas relações com o tema e traça as estratégias para questionar os
seus significados junto com o público. Atua em equipe, coordenando o trabalho de
todos os demais profissionais.
É dessa forma que a preservação do patrimônio ecocultural adquire o seu sentido
maior: focada em uma ação (a exposição ou o evento), onde a sociedade é convidada a
questionar a sua realidade atual e os modos como ela se insere nesse debate.
A relação que o público estabelece com os objetos, com os acervos e com a forma
como eles são apresentados estimula a reflexão sobre o seu papel na sociedade e pode
determinar suas formas de agir em sociedade, exercitando sua cidadania e seu poder
político.
O museu torna-se, assim, um canal de comunicação e espaço de debate de temas
importantes, selecionados por diversos profissionais a partir de pesquisas realizadas
sobre as demandas da sociedade e suas articulações com os objetos e as coleções.
Museógrafo
A museografia de uma exposição – a expografia – lida com o espaço físico e a forma
como os objetos são distribuídos, para melhor permitir a transmissão de um conteúdo.
Nessas funções, o designer, o arquiteto e o próprio museólogo são os profissionais que
dão destaque aos objetos e os inserem na cena expositiva, associando-os ao enunciado
central até o seu desenvolvimento conceitual.
São eles que dão valor cenográfico aos objetos, e fazem com que a mostra se torne uma
experiência sensorial, interativa e criativa.
Esses profissionais devem saber explorar criativamente o lado sensorial do visitante.
Isto é, a "percepção do público" para o qual a exposição está se dirigindo.
Para isso, usam diversos recursos: cores, sons, luzes, temperaturas, aromas etc.,
construindo um ambiente ao mesmo tempo agradável e harmonioso entre a forma e o
conteúdo. Devem respeitar o "outro cultural", para que a exposição instigue o público e
o convide a dialogar com ela.
O educador
O papel do educador é também fundamental. É ele quem define os objetivos
educacionais de uma mostra e as estratégias didático-pedagógicas a serem aplicadas.
Para isso, deve pesquisar as reações dos visitantes diante de determinadas situações
expográficas.
Por trabalhar com estudantes, o educador entende o espaço expositivo como uma grande
sala de aulas interativa, e trabalha justamente para potencializar a interação do grupo
com a mostra.
Atualmente, os programas educativos de museus, centros culturais e de memória são
desenvolvidos por empresas especializadas, contratadas periodicamente através de
editais.
Definindo o público
Geralmente a instituição define quais tipos de público quer atingir. Pode ser uma
comunidade carente, um grupo de especialistas, um público infantil ou de terceira idade,
estudantes, turistas, deficientes ou visitantes de todos os tipos. É um trabalho de
inclusão social que requer uma pesquisa prévia de público.
Assim, os temas e as condições expográficas são pensadas para acolher, ao mesmo
tempo, diversos tipos de público.
Por exemplo: uma mostra que quer receber deficientes visuais, crianças ou pessoas da
terceira idade que necessitam de recursos especiais. Assim, esses públicos terão
condições de assimilar seus conteúdos e os aproveitarão da melhor forma possível.
Desse modo, os objetos devem ser escolhidos e dispostos de maneira conveniente, e o
tema explicado de modo a favorecer os sentidos que faltam nesses públicos, para que a
experiência seja a mais interativa possível.
No caso de deficientes visuais, devem explorar o tato, a textura, os aromas e os sons. Os
textos devem estar em braile, ou devem ser narrados por um monitor ou através de uma
gravação.
O trânsito pelo espaço expositivo também deve estar de acordo, seja na textura do piso
ou no uso de corrimões para indicar o trajeto a ser percorrido.
Para receber deficientes auditivos, o museu deve ter monitores que se comuniquem em
libras.
Para as crianças, um tema deve ser escolhido para ser apresentado de maneira lúdica,
através de jogos e brincadeiras.
Para o público de terceira idade, os textos devem ter letras maiores, mais visíveis. Os
temas devem ser atraentes e devem explorar as suas memórias, contrastando-as com o
tempo atual.
Centros culturais
O cenário expositivo deve formar um ambiente propício para colocá-los em contato com
os acontecimentos dos tempos por eles vividos.
O ideal é que a exposição possua os recursos para acolher o maior número de pessoas
de todos os tipos e necessidades.
Os recursos expográficos devem compensar e complementar as possíveis diferenças e
favorecer o acesso à experiência.
A qualidade de uma mostra também é medida pela sua capacidade de acolhimento. Por
isso, é importante uma criteriosa pesquisa prévia de recepção de público.
O educador, o designer e o museólogo são profissionais fundamentais na construção
da experiência criativa do público, seja ele um grupo organizado de estudantes ou
de visitantes espontâneos.
É a estratégia definida em conjunto por esses profissionais com os de outras áreas
que pode garantir a qualidade técnica e pedagógica de um evento cultural.
Portanto, os profissionais que atuam em museus devem possuir conhecimento
multidisciplinar.
O conservador-restaurador
Ao conservador cabe a tarefa de verificar as características do meio físico e as
condições em que os objetos ficarão expostos, e realizar as ações de controle ambiental.
Seu objetivo é expor os objetos nas condições mais ideais possíveis, garantindo que
perdurem. Geralmente, o conservador é também restaurador, e dele depende a
integridade física dos objetos.
A segurança é um aspecto fundamental para os museus e os acervos, seja pela
responsabilidade de guardar e conservar objetos valiosos e frágeis, seja pelo risco de
manipular, transportar e expor esses objetos em locais para públicos diferenciados.
Esse item requer equipe especializada e uso de tecnologias de monitoramento em
tempo integral.
Estejam guardados, em trânsito ou expostos, os objetos exigem condições especiais de
controle climático, de luz, de ruídos, de higiene, de embalagem e de segurança física
contra quedas e até vandalismos.
Geralmente, para transportar e expor objetos raros e de valor é exigido um seguro
contra danos de diversas naturezas, desde incêndio e furto até catástrofes naturais. Os
valores desses seguros são expressivos.
O historiador
Nas aulas anteriores você já aprendeu que os museus são instituições sócio-históricas, e
por isso mesmo o historiador é um profissional-chave e que atua em diversas situações.
Pelas características da sua formação acadêmica, esse profissional atua desde a
concepção até as pesquisas de vários tipos que são necessárias para se realizar uma ação
museológica.
Mas lembre-se: ele não atua sozinho. Como os demais, ele faz parte de uma equipe.
Vamos entender?
Imagine uma exposição ou um evento maior em que estarão em ação várias expressões
culturais: cinema, teatro, música, visitas guiadas, programas educativos, oficinas de
criação, rodas de leitura, etc., em que se decidiu trabalhar sobre um tema – geralmente
histórico, em se tratando de museus –, abordado das formas mais diferentes e criativas
usando as tecnologias de informação e comunicação. Em todas essas expressões haverá
uma pesquisa histórica.
Agora imagine os públicos e suas diversidades. Imagine os ambientes. Os lugares da
cidade, os prédios e seus espaços, os monumentos e a própria história que serão
revisitados e questionados nessa grande ação educativa.
Em todos esses segmentos – todos! – o historiador estará presente desde o início. E
ainda ao final irá documentar todas as fases do projeto e comentar os seus resultados na
perspectiva sócio-histórica daquele momento, ou seja, vai criticar a importância daquela
ação sobre a sociedade na atualidade e as transformações que produziu momento
histórico presente. Quer saber mais?
Provavelmente o historiador ainda irá transmitir para a comunidade científica os
resultados das pesquisas que realizou através dos catálogos, sites, livros, revistas
especializadas, palestras e aulas. Para o historiador, o museu é um mundo.
Aula 8 :principais conceitos usados na museologia
O objeto museológico
Objeto museológico é o objeto institucionalizado, isto é, musealizado. É aquele que é
selecionado para integrar o acervo de um museu. A partir daí, passa a ser atenção de um
contínuo processo técnico, científico e administrativo que garanta a sua conservação,
documentalidade e comunicação.
Esses objetos são selecionados por sua musealidade, ou seja, são valorizados como
documentos. A eles é atribuído um significado. Portanto, esses objetos não são neutros.
Possuem um sentido simbólico, afetivo e informacional.
Essa definição de objeto museológico remete ao conceito de musealização, ou seja, a
atribuição de valores a objetos que, por suas qualidades documentais, afetivas e
representativas, são selecionados para provocar o confronto do homem com a sua
realidade. Realidade construída pelo próprio homem.
E esse confronto é "fabricado" no cenário museológico para ser pensado, discutido e
entendido pelas pessoas. Assim, o museu permite que o público questione a sua própria
realidade da forma como ela está sendo apresentada.
Para isso acontecer, é preciso que os museus não sejam usados como instrumentos de
dominação ou de manipulação da informação, pois o exercício da cidadania e do livre
pensamento crítico é a finalidade almejada pela disciplina museológica.
Os profissionais de museus trabalham na ótica da preservação do patrimônio cultural
para construir e reconstruir a memória e a identidade – que não estão prontas em algum
lugar do passado, esperando para serem resgatadas.
Elas devem ser preservadas e usadas pela sociedade como referências para refletir e agir
sobre a realidade.
Portanto, a (re)construção da identidade cultural de um povo é baseada nas reflexões
que esse povo faz sobre as suas realidades – passada e presente –, a partir do contato
com o seu patrimônio cultural.
A musealização é o processo de escolha dos objetos, das práticas, dos símbolos e dos
locais que representam esse patrimônio.
O fato museológico
Entende-se por fato museológico – ou fato museal – a relação estabelecida entre o
homem e o objeto em um cenário expositivo ou natural.
A exposição, como forma particular de comunicação museológica, também procede de
uma seleção prévia de determinados objetos, tanto pelos valores que eles representam
como pelo que se quer questionar sobre esses valores. E também para qual tipo de
público esse questionamento deve se dirigir.
É importante entender o significado da expressão “objeto” nesse contexto. Objeto aqui
significa não apenas o objeto físico, mas o conjunto das expressões que formam o
patrimônio cultural, ou seja, as danças, a gastronomia, a música, a literatura, a natureza,
o trabalho e as artes em geral.
São todas essas linguagens faladas, escritas, representadas que amplificam o sentido da
palavra objeto, e que no seu conjunto constituem um acervo patrimonial.
Patrimônio cultural e fato museológico
Assim, os objetos selecionados para uma exposição são escolhidos pela sua capacidade
de criar vínculos com determinados valores sociais.
Esses valores são os que criam os fatos museológicos, isto é, fazem com que as pessoas
se aproximem deles para questioná-los.
Musealização
Musealização é um dos conceitos-chave da ciência museológica, e é através dessa noção
que se entende o valor dado aos objetos, isso é, pela sua capacidade de exprimir,
significar, dar sentido.Essa valorização ocorre com a transferência do objeto do seu
contexto original para o contexto dos museus, ou ainda, a sua valorização in situ (no seu
próprio local de origem), como ocorre nos ecomuseus.
A musealização é um processo que se inicia com a seleção de um objeto pelo "olhar
museológico" sobre as coisas materiais, naturais ou simbólicas, e a capacidade de
perceber os sentidos que esse objeto pode possuir para a sociedade como um todo.
É uma atitude crítica, questionadora, que exige um distanciamento reflexivo diante de
um conjunto de bens culturais e naturais (Chagas, 1999, p. 59).
Ao longo do tempo, essa noção foi ampliada, tanto pela capacidade documental dos
objetos – seu conteúdo informacional – como pelo seu poder de gerar o fato
museológico – o conflito.
Assim, a musealização passou a significar mais do que selecionar e transferir objetos
para o museu.
O ato de musealizar considera a importância da informação trazida por eles em termos
de documentalidade, testemunhalidade e fidelidade, além do seu poder de “questionar”
para incitar as pessoas a refletirem
e agirem sobre as suas realidades atuais.
A partir dessa concepção, podemos dizer que a musealização (e o ato
demusealizar) é um processo que integra a seleção, a preservação e
a comunicação.
Isso porque a documentalidade refere-se ao potencial informacional do objeto
museológico para ensinar algo a alguém.

Em última análise, é por isso que eles devem ser preservados para comunicar e ensinar.
Ao longo do tempo, essa noção foi ampliada, tanto pela capacidade documental dos
objetos – seu conteúdo informacional – como pelo seu poder de gerar o fato
museológico – o conflito.
Assim, a musealização passou a significar mais do que selecionar e transferir objetos
para o museu.
O ato de musealizar considera a importância da informação trazida por eles em termos
de documentalidade, testemunhalidade e fidelidade, além do seu poder de “questionar”
para incitar as pessoas a refletirem
e agirem sobre as suas realidades atuais.

A partir dessa concepção, podemos dizer que a musealização (e o atodemusealizar) é


um processo que integra a seleção, a preservação e a comunicação.
Transformação do objeto em documento
A musealização, então, se inicia com a valorização seletiva do objeto e continua no
conjunto de ações que visa transformá-lo em um documento que contém informações
para serem transmitidas.
Portanto, a transformação do objeto em documento é o eixo da musealização, pois o
documento é o suporte da informação.
Entretanto, o ato de musealizar um determinado objeto também pode conter
uma intenção ideológica, pois é um processo seletivo impregnado de informações
vinculadas a valores socioculturais que se quer transmitir para perpetuá-los.
Assim, tudo pode ser incorporado a um museu, desde que possua um sentido e haja um
propósito emancipador nesse sentido.
Isso significa que se deve musealizar coisas às quais se atribuem qualidades que
possam servir para a realização de ações questionadoras e emancipadoras.
Em síntese, pode-se entender o conceito de musealização como um processo que
realiza uma série de ações sobre os objetos: aquisição, conservação, catalogação,
pesquisa e comunicação.
Esse processo se inicia na seleção do objeto e se completa ao apresentá-lo publicamente
nas exposições, atividades educativas e de outras formas.
Atualmente, a Museologia defende a participação da sociedade nos processos de
musealização do patrimônio cultural, como exercício de democracia e de cidadania.
Significa que a musealização deixou de ocorrer apenas por critérios determinados por
especialistas.
Desse modo, pode-se musealizar os objetos por suas qualidades históricas,
antropológicas, sociológicas, técnicas, artísticas, econômicas etc.
Pode-se fazer isso pela sua seleção e retirada do seu contexto original, que pode ser de
uma casa, de uma oficina de trabalho etc., para integrá-lo a um acervo já existente ou
para formar um novo acervo.
Desde que o objeto selecionado possua uma qualidade importante para quem o escolhe
e lhe atribui um valor documental, é possível musealizá-lo e integrá-lo a outros objetos,
para formar um conjunto significativo de informação e conhecimento.
É daí que o conceito de musealização se imbrica com a noção de acervo e surgem
novos conceitos, como os de "patrimônio comunitário", "patrimônio integral" e
"referência patrimonial".
Esses conceitos levaram à criação de vários tipos de museus: ecomuseus, museus de
cidade, museus comunitários, museus de bairro etc. Cada um com seus objetivos e
desafios metodológicos de construir a relação entre o homem e o objeto.
Você agora pode perceber que todos esses conceitos estão interligados. Por isso, sejam
quais forem os tipos de museus e os tipos de objetos e acervos, podemos afirmar
queexiste uma única Museologia com diferentes abordagens, e um único objeto de
estudo: o fato museológico.
Aula 9 museologia: principais marcos teóricos
Revisão introdutória
No século XV, objetos raros e exóticos eram selecionados por critérios puramente
pessoais e guardados em locais – geralmente localizados nas próprias casas dos
colecionadores – chamados de "gabinetes de curiosidades".
A partir do Renascimento – século XVI –, foram agregados aos objetos, além dos
valores estéticos e monetários, também o valor histórico. Era o período da Revolução
Comercial.
Você também viu que com o advento da Revolução Científica, a partir do século XVII –
e ao longo do século XVIII –, os objetos passaram a ser selecionados também pelo seu
caráter científico, em geral ligados à História natural e cultural do Novo Mundo.
Porém, foi durante a expansão imperialista europeia que os primeiros museus criados
no século XVIII integraram às suas coleções objetos que interessavam mais
à pesquisa científica.
Daí em diante, os museus passaram a ser abertos ao público e tornaram-se centros de
produção de conhecimento, principalmente para a História Natural e para a
Antropologia.
Você aprendeu que nessa época os museus também passaram a ser usados como
aparatos ideológicos de estado, celebrando o nacionalismo, a cultura do país e o
prestígio de personagens da classe dominante.
Viu que, daí em diante, as exposições se caracterizaram pela grandiosidade; pela
monumentalidade.
Desde então, os objetos deixaram de ser coletados somente pelo seu caráter científico e
passaram a ser também selecionados e exibidos para ilustrar aquele período histórico,
como símbolos de riqueza e domínio europeu sobre o mundo.
Seguindo nossa rápida revisão, vimos que durante o século XIX as exposições foram
marcadas por uma forma enciclopédica de apresentar as coleções.
Podemos lembrar que nessa fase, ainda que os museus passassem a estar abertos ao
público e voltados para a divulgação de conhecimento, somente no início do século XX
esse propósito foi ampliado e organizado como uma ação efetiva, especialmente na
França, para depois ser copiado por outros países.
Podemos então concluir que o resultado prático desse primeiro “pensar museológico”
foi a criação de uma “pedagogia museal”.
Isto é, a construção de ações educativas efetivas, organizadas pelos museus para
serem realizadas nos museus e direcionadas para o público em geral.
Os primeiros passos
É dessa época em diante que a Museologia passa a ser epistemologicamente pensada,
isto é, pensada de uma forma organizada, ordenada.
Esse é o seu primeiro marco teórico.
Portanto, podemos concluir que a partir desse momento a Museologia passa a existir de
fato como ciência.
O resultado prático desse primeiro “pensar teoricamente o conhecimento museológico”
foi a criação dos serviços de difusão educativa
para jovens e adultos através de oficinas de pintura, escultura, teatro e cenografia dentro
do próprio museu, com aulas regulares
ministradas por profissionais.
Mas ainda nessa fase persistia um problema: como exibir e o que exibir nas exposições
ainda era decidido por um pequeno número de especialistas que
não consideravam o olhar do público.
Não havia diálogo na comunicação museológica. As coleções continuavam a
ser apresentadas no nível abstrato, sem convidar o visitante ao diálogo.
Eram exibidas para serem contempladas.
O público não interagia com a mostra. E os museus brasileiros seguiram esse
mesmo modelo.
No brasil:
Os museus de ciência brasileiros foram os primeiros a receber regularmente grupos de
estudantes e escolas.
Por isso, foram os pioneiros na criação de serviços de difusão educativa para a
divulgação dos resultados das suas pesquisas para os jovens e os leigos através de
linguagens mais acessíveis.
O Museu Nacional, no Rio de Janeiro, foi o primeiro a criar uma área de difusão
educativa para transmitir seus estudos de Antropologia e História Natural.
Logo foi seguido pelo Museu Paraense Emilio Goeldi – que pesquisava a natureza
amazônica – e o Museu Paulista, que também estudava a História Natural do Brasil e de
outros países da América do Sul.
Outros institutos de pesquisa – como o Butantã em São Paulo e o Oswaldo Cruz no Rio
de Janeiro – seguiram esses mesmos passos.
Assim, podemos concluir que, tanto no Brasil como nos demais países, o primeiro
marco teórico da Museologia se deu quando as coleções e as pesquisas dos museus
passaram a ser organizadas para permitir seu acesso ao público leigo através dos
serviços de difusão educativa.
Assim as primeiras questões pensadas pela ciência museológica foram a recepção de
público e a transmissão de conhecimento para públicos constituídos por não
especialistas.
Importante: você pode notar que até esse momento o conceito de "fato museológico" –
que chama a atenção do público para fazê-lo deparar-se com a sua realidade e incitar
reflexões e ações – ainda não existia.
Portanto, você pode ver que a recepção de público sempre foi um problema a ser
resolvido. Clique aqui e saiba mais sobre este assunto.
Interatividade
Foi somente na década de 1970 que começaram a surgir os chamados "museus vivos"
ou "interativos".
No início, eram grandes aquários e zoológicos onde os animais ficavam soltos e
podiam ser observados mais próximos do
seu habitat natural. As visitas eram guiadas por biólogos e oceanógrafos que explicavam
ao público – geralmente jovem – os conhecimentos sobre a fauna e a flora, atraindo
grande número de visitantes.
Em São Paulo, o Simba Safári foi uma experiência de sucesso. Outros museus seguiram
esses exemplos, como a Estação Ciência, em São Paulo, o Museu da Vida no Rio de
Janeiro, e depois o Projeto Tamar, na Bahia.
Atualmente existem museus vivos em várias cidades do mundo trabalhando com
diversos tipos de acervos e realizando experiências em parceria com empresas e escolas.
Essas iniciativas deram aos museus o que faltava para aproximá-los do público: a
interação (ou interatividade). E também mudaram o conceito de musealização.
Como já vimos, o ato de musealizar consistia em selecionar os objetos conforme a
importância a eles atribuída, para integrá-los a um acervo museológico. Ou seja: os
objetos eram retirados do seu contexto original e guardados para serem pesquisados e
exibidos em determinadas ocasiões.
Importante: o conceito de musealização ainda considera essa prática, mas os objetos e
monumentos podem ser musealizados
in situ. Isto é, podem permanecer no seu lugar de origem e passam a integrar um acervo
a céu aberto, como patrimônio cultural.
Pedagogia do Patrimônio

Esse conceito abrange todas as ações pedagógicas fundamentadas sobre o patrimônio


cultural. São ações que incluem métodos, programas ou disciplinas que estabeleçam
uma relação entre ensino e cultura.

A Pedagogia do Patrimônio foi uma noção pensada para ser aplicada nas escolas de
todos os níveis como uma área interdisciplinar.
Ou seja, o patrimônio cultural pode ser ensinado através de qualquer método, programa
ou disciplina, e esse ensino pode ser destinado a alunos de qualquer nível escolar ou
social.
A base da Pedagogia do Patrimônio é a democratização do conhecimento sobre o
patrimônio cultural, ou seja, a construção de uma posse coletiva da expressão cultural
dentro de um território comum.
Isso significa abrir campo para investigar novos temas que transformem o
estranhamento em pertencimento.
Tesouros Humanos Vivos ou Patrimônio Cultural Vivo
O alargamento da noção de patrimônio fez com que se chegasse à noção de patrimônio
intangível – imaterial – como fonte essencial de identidade. Esse tipo de patrimônio
mantém fortes ligações com o passado, ou seja, com a memória coletiva e com as
comunidades.
O debate em torno desse conceito também reconheceu a fragilidade de várias
expressões culturais, que em muitos casos se encontravam até em vias de extinção,
tendo sido urgente a tomada de medidas para a sua preservação.
Por isso foram consideradas importantes as ações para proteger as expressões culturais
intangíveis , principalmente aquelas manifestações conhecidas apenas por poucas
pessoas da comunidade .
Havia o risco de essas expressões serem perdidas para sempre ou ameaçadas por
referências globalizadas divulgadas pela mídia, que destrói as culturas locais.
Assim, para proteger essas referências culturais locais, a Declaração de Caracas propôs
o reconhecimento dos Tesouros Humanos Vivos.
Isso significava identificar as pessoas portadoras desse patrimônio e garantir que elas
pudessem continuar a exercer as suas habilidades, seus conhecimentos, suas destrezas,
por meio de um reconhecimento oficial.
Portanto, os Tesouros Humanos Vivos são pessoas que possuem os conhecimentos e as
técnicas necessárias para manifestar os aspectos da vida cultural de um povo.
O objetivo é preservar as expressões da cultura que a comunidade – ou mesmo o Estado
– atribui um elevado valor histórico ou artístico, e que as pessoas que possuem esses
conhecimentos possam prosseguir com seus trabalhos e ensinar outras pessoas para que
essas manifestações não se percam.
Imagine uma pessoa que ainda em vida seja considerada uma importante referência
cultural para uma determinada comunidade. Por exemplo: alguém que conheça uma
prática que se tornou característica daquele grupo.
Pode ser uma iguaria, ou uma artesania, um estilo literário, uma dança ou outra
expressão que o grupo se aproprie dela e passe a ser reconhecido ou identificado por
essa prática.
Assim, para aquele grupo social que atribuiu a essa pessoa esse valor, ela é um
Patrimônio Cultural Vivo.
Quer um exemplo mais concreto?
Então veja bem: os dois amigos Dodô e
Osmar criaram na cidade de Salvador (BA) o primeiro trio elétrico no final da década de
1950.
Enquanto eles viveram, ensinaram a sua arte para outras pessoas, que a reproduziram
até que se tornasse uma expressão da cultura baiana. Por isso a dupla é considerada
patrimônio cultural pelo povo da Bahia.
Mas essa noção pode ser também aplicada para grupos sociais menores, como por
exemplo, de um bairro.
Qualquer pessoa detentora de uma expressão cultural característica daquela
comunidade pode ser considerada um patrimônio cultural – esteja ela viva ou não –, se o
grupo atribuir a ela esse valor.

Política Nacional de Museus


A Política Nacional de Museus – PNM – é um documento emitido pelo Ministério da
Cultura em 2003, e o seu objetivo é democratizar os museus, sobretudo através de ações
relacionadas a questões políticas, sociais e de memória coletiva.
Para isso, esses locais devem estar a serviço da sociedade e comprometidos com uma
gestão democrática e participativa.
Essa postura defrontou os museus brasileiros com os seguintes desafios:
Promover e incentivar a criação de disciplinas – em todos os níveis e áreas de ensino –
para debater o patrimônio cultural, como forma de proteger a memória coletiva e suas
manifestações;
Criar e implantar sistemas para identificar e classificar os Tesouros Humanos Vivos,
como forma de preservar a intangibilidade das nossas culturas e frear o processo de
globalização das referências culturais;
Participar ativamente do processo de transformação da política museológica brasileira.
Isso significa estudar, refletir, discutir e apresentar modos e estratégias para que os
museus possam se aproximar das comunidades e suas expressões culturais.
Nesse sentido, há uma proposta de renovação de mentalidades, tanto no que se refere
às ações que se realizam nos museus como na postura dos seus profissionais.

Trata-se de uma renovação das técnicas aplicadas na prática museológica, isto é, uma
readequação da teoria orientada para a prática, com a capacitação dos corpos técnicos
e administrativos dos museus nas novas tecnologias.
O PNM é um documento inovador, e que está atento à inovação. Propõe o
aprimoramento das políticas culturais e o uso das tecnologias de informação e
comunicação para aproximar os museus das comunidades e a capacitação do seu corpo
técnico
Aula 10: curadoria em museus

ntrodução

Esta nossa última aula aprofunda os temas abordados nas aulas 4 a 7. Nela, você vai expandir
seus conhecimentos sobre a comunicação museológica. Vai aprender como são criadas as
estratégias de comunicação para que uma experiência expositiva seja prazerosa e sua
mensagem bem compreendida pelo público. E para isso, é imprescindível que você conheça o
trabalho da curadoria em museus. É isso que veremos nesta aula.

Esta aula aprofunda os temas abordados nas aulas 4, 5, 6 e 7. Nela, você vai expandir
seus conhecimentos sobre a comunicação museológica.

Vai aprender como são criadas as estratégias de comunicação para que uma experiência
expositiva seja prazerosa e sua mensagem bem compreendida pelo público. E para isso,
é imprescindível que você conheça o trabalho da curadoria em museus.
A partir desses conhecimentos, você poderá criar roteiros ecoculturais que combinam
os estudos
de História com caminhadas, passeios e viagens.
Você vai poder inventar experiências lúdicas para aprender e ensinar a História,
utilizando os ambientes onde os fatos aconteceram. Vai aprender como fazer as pessoas
“viajarem" no tempo histórico.
A palavra “curador" vem da expressão latina tutor, e significa "aquele que cuida". Nos
museus, os curadores são os responsáveis pela administração de uma exposição em
todas as suas fases e níveis – desde a concepção, montagem, supervisão e elaboração
dos seus conteúdos didáticos.

Geralmente são profundos conhecedores do tema abordado ou, conforme o tipo da


mostra, especialistas em História, Filosofia ou estética.

A curadoria diz respeito ao estudo e à interpretação dos objetos – ou coleções de um


museu –, seus significados e capacidades de expressão.

Você deve lembrar que os objetos musealizados são aqueles que possuem sentido, e por
isso mesmo são escolhidos para serem exibidos num cenário expositivo.
Essas escolhas são feitas pelo curador, ou por uma equipe de curadores, a partir
do estudo dos seus significados e capacidades expressivas. Por isso o seu trabalho, na
fase de seleção, tende a ser mais interpretativo.
As demais responsabilidades e tarefas administrativas são distribuídas – às vezes pelo
próprio curador – para os demais integrantes da equipe que, como você também já viu, é
constituída de profissionais de diversas áreas e formações.

Esse foco na interpretação explica por que a curadoria é sempre considerada o coração
de uma exposição museológica.

Seja quando o museu expõe suas próprias coleções ou quando recebe acervos
de outras instituições, é preciso que haja uma curadoria.
Curador é o profissional que se responsabiliza pela administração desse material, isso é,
pela recepção, conservação, segurança, transporte e pelo estudo desse acervo, para usá-
lo como transmissor da mensagem expositiva.

Mesmo naquelas exposições em que não existe uma coleção a ser mostrada – como as
dos centros de ciências ou de museus para crianças –, é necessário interpretar a pesquisa
feita pela curadoria, pois é através dela que será elaborada a narrativa do conteúdo que a
exposição irá apresentar ao público.

Quando não há um curador indicado, normalmente são os museólogos ligados à própria


instituição que se incumbem dessa responsabilidade, ou à própria equipe do museu.

Mas esse papel pode também ser compartilhado com outros profissionais escolhidos
para atuar como “curadores convidados” – artistas, educadores, especialistas,
colecionadores, representantes do público para o qual a exposição é dirigida ou
membros da comunidade da qual a coleção se origina.

Isso não altera o caráter fundamental da curadoria, que se mantém como parte integrante
da missão do museu. Seja individualmente ou em equipe, é uma função estratégica que
exige esforço de pesquisa e deve ser bem executada.
A curadoria no planejamento de uma exposição
No planejamento de uma exposição museológica, cabem à curadoria as seguintes
responsabilidades:
. Idealizar e formular o conceito da exposição;

. Pesquisar o tema;
. Analisar e selecionar os objetos da coleção a serem expostos;

. Documentar esses objetos (justificar as suas escolhas e traçar


uma estratégia de comunicação para transmitir os seus significados);

. Preparar e ordenar as legendas, os textos, os gráficos e demais instrumentos a serem


usados para explicar o conceito da exposição;

. Avaliar o resultado da mostra em relação ao público-alvo.


O estágio inicial no desenvolvimento de uma exposição é escolha de uma ideia central,
isto é, um conceito que define o seu objetivo. Isto pode ser facilmente demonstrável
quando a ideia é explícita; por exemplo: uma mostra cujo tema é diretamente anunciado
eo
seu objetivo é evidente.

Os eventos de grandes proporções e as exposições comemorativas têm, em geral, esse


perfil. Imagine a comemoração da Independência do Brasil no dia 7 de setembro, com
seus desfiles por todo o país.
As autoridades presentes, os veículos militares, os uniformes, os armamentos, as bandas
de música marcando o passo e o ritmo dos hinos, as bandeiras, as evoluções das tropas,
das esquadrilhas e das cavalarias formam um grande conjunto simbólico, cuja ideia é
reafirmar o sentimento de unidade, nacionalidade e patriotismo.

Esse objetivo é evidentemente demonstrado; é explícito.


De outro modo, pode-se conceber uma mostra cuja intenção esteja subjacente e seja
gradualmente apresentada ao longo da narrativa. Imagine uma exposição sobre as
expressões do estilo barroco – na arquitetura, na pintura, na escultura – onde nos objetos
exibidos aparecem cenas das crueldades praticadas na época da Inquisição.

Certamente, essa mostra irá impactar o público não apenas pelas belas cara
Nesse caso, as obras são usadas como "janelas" através das quais são transmitidas
informações não anunciadas de antemão, mas o público
as percebe e as assimila por meio dos "outros" significados daqueles objetos.

Portanto, a ideia central de uma exposição é a estratégia criada


pela curadoria para abordar uma questão e propor uma reflexão.
Assim, atinge seu objetivo, estando ele explícito ou implícito.

Para isso, é necessário ter claro esse objetivo e tudo fazer para alcançá-lo, isto é, prever
os resultados de toda a ação, desde a
escolha do momento propício, do lugar e dos objetos pelos seus significados até à forma
de apresentá-los e para quem.

A ideia central de uma mostra define a estratégia de comum


A ideia central de uma mostra define a estratégia de comunicação.
É a tese criada pela curadoria para reunir e associar assuntos em
torno de um tema e apresentá-los e explicá-los intencionalmente através de "janelas". E
essas janelas são os objetos inseridos em um cenário-narrativa.

O objeto museológico
Você já sabe que os objetos são o principal ingrediente de uma exposição. Portanto, o
modo de distribuí-los no espaço físico é a primeira preocupação dos organizadores de
uma mostra.

Ainda que o objetivo seja organizar o acervo de modo a facilitar a assimilação do


conteúdo, este deve ser disposto de forma a causar impacto e enfatizar sua importância.

Lembre-se que os objetos são as “musas” de uma mostra, e a sua posição em relação ao
observador, ao ambiente como um todo e aos demais objetos "concorrentes" irá
determinar
se ele será mais ou menos atraente.

Imagine um ambiente superlotado; além de prejudicar a experiência do visitante, pode


até comprometer a integridade do acervo.
Quando você visitar uma mostra, assuma uma postura crítica em relação ao tema
proposto e a forma como ele está sendo apresentado. Analise a escolha dos objetos.
Julgue seus significados e suas capacidades de exprimi-los.
Lembre-se: os objetos não competem entre si; complementam-se. São partes de um
todo. Um todo-significado, um todo-expressão, um todo-mensagem, um todo-ideia, um
todo-reflexão, um todo-ação.

Aprecie minuciosamente a mostra e faça-lhe um julgamento – severo – de acordo com o


que você aprendeu. Debata com seus colegas. Como você apresentaria esse tema?
Proponha uma forma diferente – mais do seu jeito – para convidar o público à reflexão-
ação.

Lembre que a qualidade de uma mostra pode ser medida pela soma qualitativa dos seus
elementos. Uma boa mostra deve propor uma reflexão que leve a uma ação sobre a
realidade; para modificá-la para melhor, claro!

O público pode ter diferentes reações quando convidado a refletir sobre uma realidade –
e mais ainda quando consegue se projetar dentro dessa realidade.

Exposições de tipo estético


Em uma mostra que apela para o sentido estético, a reação mais comum é a simples
contemplação. Diante de uma obra de arte, ou quando se está imerso em um cenário que
convida à fruição estética, geralmente a experiência convida à observação dos efeitos
plásticos da criação artística.

Assim, esse tipo de mostra propõe uma experiência mais orientada às emoções e
sentimentos, com menor nível de informação.
Esse tipo de exposição se concentra mais na percepção de cada objeto como uma
entidade em si mesma, única, tal como as pinturas, gravuras, esculturas, montagens e
instalações.

Também podem ser incluídas nesse tipo de mostra as artes decorativas – objetos
interessantes e belos de diferentes culturas que não foram concebidos originalmente
como obras de arte, embora sejam exibidos como tais.

Esse tipo de exposição pode, contudo, exibir também objetos tridimensionais -


mobiliário, veículos, joalheria, indumentária etc.
– que geralmente são percebidos como partes de um cenário estético.
Seja como for, o convite apela à contemplação, à fruição da beleza plástica.

Exposições de tipo histórico

Nas exposições de tipo histórico – ou temático –, os objetos são organizados dentro de


vitrines ou inseridos em dioramas , ou ainda dispostos em galerias, geralmente junto a
outros meios de informação - gráficos, mapas e outros acessórios –, usados para auxiliar
a compreensão do tema ou relacioná-los entre si dentro de um contexto.
Para serem mais compreendidas, essas exposições demandam um conhecimento prévio
sobre o tema, e por isso apresentam um nível mais elevado de informação.

Em geral, as informações são dispostas associando textos e imagens, convidando o


público à assimilação.

Os objetos são expostos em pequenos grupos formando um conjunto lógico, podendo


também incorporar outros elementos – espécimes, maquetes – e outros recursos
audiovisuais, interativos ou gráficos em grande escala.

Exposições do tipo exploração


Exposições do tipo exploração ou descoberta tradicionalmente apresentam temas
arqueológicos ou de história natural. Geralmente exibem coleções de mineralogia,
artefatos de povos primitivos e espécimes taxidermizados, seguindo esquemas de
classificação científica nos moldes dos antigos “gabinetes de curiosidades”.

A disposição do acervo segue uma ordem cronológica, onde toda a superfície do piso e
da parede é utilizada para exibi-lo.
Para serem mais compreendidas, essas mostras exigem que o visitante possua um maior
nível de informação. Daí a postura do público ser uma busca contínua pela informação,
normalmente apresentada em sequência através de textos e imagens associadas.

As peças menores e em maior quantidade – geralmente espécimes de invertebrados –


são organizadas por espécie e exibidas em gavetas envidraçadas, e as peças maiores em
pequenos nichos simulando seus ambientes naturais.

Os objetos de maior tamanho – esqueletos de grandes animais e painéis que simulam


seus ambientes naturais – são exibidos em galerias à parte, em destaque.
Podem ser explicados por outros recursos audiovisuais – filmes, desenhos, dioramas -,
que permitem uma melhor assimilação do conteúdo pela boa visualização e circulação
no espaço expositivo.

Exposições interativas
Já as exposições interativas incluem experimentos, simulações e demonstrações ao vivo.
Em geral são apresentadas em museus de ciência
e tecnologia, salas multimídia, aquários, planetários e parques temáticos. São mais
direcionadas para o público jovem de estudantes e
também crianças.
As interações podem ocorrer de diversas formas: quiosques de computadores,
apresentações audiovisuais e oficinas de criação, onde a informação é obtida durante o
próprio fazer interativo.

Essas exposições convidam ao experimento e à descoberta, tanto individuais como em


grupos. Por isso podem permitir que várias pessoas participem ativamente de um
experimento ao mesmo tempo.

Para melhor obter a informação disponibilizada, é preciso um razoável grau de


conhecimento para manipular equipamentos multimídia. Geralmente esse tipo de mostra
é acompanhada por monitores, e o número de visitantes-participantes é limitado
conforme a atividade.

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