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Língua Portuguesa I

2ª edição

Língua Portuguesa I

Telma Ardoim

TROL
Língua Portuguesa I

DIREÇÃO SUPERIOR
Chanceler Joaquim de Oliveira
Reitora Marlene Salgado de Oliveira
Presidente da Mantenedora Wellington Salgado de Oliveira
Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira
Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira
Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira
Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira
Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves

DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA


Diretor Charleston Jose de Sousa Assis
Assessora Andrea Jardim

FICHA TÉCNICA
Texto: Telma Ardoim
Revisão Ortográfica: Tatiane Rodrigues de Souza
Projeto Gráfico e Editoração: Andreza Nacif, Antonia Machado, Eduardo Bordoni, Fabrício Ramos, Marcos
Antonio Lima da Silva e Ruan Carlos Vieira Fausto
Supervisão de Materiais Instrucionais: Janaina Gonçalves de Jesus
Ilustração: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos
Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos

COORDENAÇÃO GERAL:
Departamento de Ensino a Distância
Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universo – Campus Niterói

A6771m Ardoim, Telma.


Língua Portuguesa / Telma Ardoim. 2.ed – Niterói, RJ:
Universo. 2010.

167 p.

1. Língua Portuguesa – Estudo ensino. 2. Linguística. 3.


Linguagem e línguas. Comunicação não-verbal. 5.
Semântica. I. – Título.

CDD 469

Bibliotecária: Ana Marta Toledo Piza Viana CRB 7/2224

© Departamento de Ensi no a Dist ância - Universidade Salgado de Oliveira


Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma
ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedora
da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO).
Língua Portuguesa I

Palavra da Reitora

Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo,


exigente e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de
Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO Virtual, que reúne os diferentes
segmentos do ensino a distância na universidade. Nosso programa foi
desenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experiências do gênero
bem-sucedidas mundialmente.

São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio


dessa modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço
presentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio
tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se
responsável pela própria aprendizagem.

O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que


permite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo
momento ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de
nossa plataforma.

Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores


especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são
fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos.

A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a


distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bem-
sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo
de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização,
graduação ou pós-graduação.

Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando


as novas tendências em educação, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o
programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona.

Seja bem-vindo à UNIVERSO Virtual!

Professora Marlene Salgado de Oliveira

Reitora
Língua Portuguesa I
Língua Portuguesa I

Sumário

1. Apresentação da disciplina ....................................................................................... 07

2. Plano da disciplina ..................................................................................................... 09

3. Unidade 1 – A Linguagem Verbal e a Linguagem não-verbal ............................ 13

4. Unidade 2 – Os Signos Linguísticos ........................................................................ 25

5. Unidade 3 – Os Elementos da Comunicação Humana ......................................... 35

6. Unidade 4 – As Funções da Linguagem ................................................................. 49

7. Unidade 5 – As Diversidades do uso da Língua: Os Níveis da Linguagem......... 65

8 Unidade 6 – Os Mecanismos de Combinação e Seleção: A Coerência

- A Articulação de Sentidos .................................................................................... 87

9. Unidade 7 – A coesão textual – Os “nós” linguísticos do texto.......................... 105

10 Unidade 8 - A Semântica: o sentido das palavras: conotação e denotação .... 119

11 Unidade 9 - A construção do texto: os gêneros textuais .................................... 135

12. Considerações finais .................................................................................................. 155

13. Conhecendo a autora ............................................................................................... 157

14. Referências .................................................................................................................. 159

15. Anexos ......................................................................................................................... 161


Língua Portuguesa I

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Língua Portuguesa I

Apresentação da Disciplina

Encontramos em Bechara (1991:15-6)1, a seguinte explicação: “Cada falante é


um poliglota na sua própria língua, à medida que dispõe da sua modalidade
linguística e está à altura de decodificar algumas outras modalidades linguísticas
com as quais entra em contato (....)”.

Em termos estruturais, uma língua pode ser concebida como um sistema que,
associando os dois planos – falado e escrito – transforma o seu usuário em um
falante / ouvinte e/ou um leitor / escritor, capaz de integrar-se no meio em que
vive, como um cidadão que, além de ter o domínio de seu idioma, consegue
interagir com a língua, cujo código linguístico se insere em algo muito maior – A
LINGUAGEM – sistema de signos que permite a comunicação.

Para melhor entendermos essa noção, citamos o linguista dinamarquês Louis


Hjelmslev2 ( In. Terra, 2002:12 ) que reitera;

A linguagem é inseparável do homem,


segue-o em todos os seus atos. A linguagem
é o instrumento graças ao qual o homem
modela seu pensamento, seus sentimentos,
suas emoções, seus esforços, sua vontade,
seus atos, o instrumento graças ao qual ele
influencia e é influenciado, a base mais
profunda da sociedade humana.

Em função daquilo que foi dito acima, o nosso objetivo é levá-lo a


compreender os mecanismos linguísticos que garantem a coesão e a coerência do
texto oral e escrito, não nos desviando nunca de que o contato com a língua é um
processo natural, isto é, deriva do que chamamos de processo internalizado,
próprio da natureza humana.

1
Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.
2
Linguagem, língua e fala. São Paulo: Scipione, 1997.
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Língua Portuguesa I

Ao optar por fazer a disciplina Língua Portuguesa no método de Ensino a


Distância, você terá uma grande flexibilidade em efetuar o seu trabalho. O tempo,
por exemplo, será definido por você. Prevemos um prazo para que você termine as
atividades propostas, portanto, não deixe para o último momento a realização
delas. Siga sempre as instruções de como proceder.

No mais... Bom trabalho.

Esperamos que você tenha um ótimo desempenho e um excelente


aproveitamento.

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Língua Portuguesa I

Plano da Disciplina

Dividimos a disciplina em nove unidades, sendo que algumas se subdividem,


por sua vez, em alguns tópicos para melhor compreensão.

Todas as unidades têm como base objetivos claros, baseados nas


competências e habilidades necessárias para o seu enriquecimento enquanto
usuário da língua materna. São eles:

— Aplicar correta e fluentemente a língua, tanto escrita como falada,


produzindo textos claros e coerentes;

— Construir meios de expressão oral e escrita através das várias


modalidades do uso da língua materna atendendo, sempre que necessário, à
norma culta da língua;

— Inferir as diversas representações das palavras e das imagens no discurso


do cotidiano;

— Aplicar a língua em sua relação com o contexto real da fala, propiciando a


inter-relação idiomática da sociedade;

— Consolidar uma reflexão analítica e crítica sobre a linguagem como


fenômeno psicológico, social, educacional, histórico, cultural, político e ideológico.

Faremos, então, um pequeno resumo acerca de cada unidade para que


você possa ter uma visão global daquilo que irá estudar.

UNIDADE 1 – A LINGUAGEM VERBAL E A LINGUAGEM NÃO-VERBAL

Sendo a linguagem um sistema de signos utilizados para a sua produção,


podemos fazer uso da palavra (escrita ou falada) ou de outras formas de
comunicação (sons, gestos, desenhos, cores, etc.). Quando utilizamos a palavra,
estamos diante da LINGUAGEM VERBAL. No outro caso, temos a LINGUAGEM NÃO-
VERBAL.

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Língua Portuguesa I

UNIDADE 2 – OS SIGNOS LINGUÍSTICOS

A Linguística – ciência que estuda as mútuas relações e princípios da


língua – nos apresenta o signo linguístico como o código verbal necessário para a
comunicação. É a língua a mais concreta manifestação de identidade de um povo.

UNIDADE 3 – OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO HUMANA

Para que, realmente, a comunicação aconteça se fazem necessários


alguns elementos que estabeleçam vínculos fundamentais, visando o envio e a
recepção da mensagem.

UNIDADE 4 – AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM

Sempre que nos comunicamos, temos uma razão para fazê-lo. Assim, para
cada tipo de mensagem que enviamos (ou recebemos) há uma função específica
que está intrinsecamente ligada aos elementos da comunicação (conteúdo da
Unidade III).

UNIDADE 5 - AS DIVERSIDADES DO USO DA LÍNGUA – OS NÍVEIS DA


LINGUAGEM

Do mesmo modo que temos funções diferentes para cada de tipo de


comunicação, também temos o uso diversificado da língua em diferentes
situações, ambientes, faixas etárias, culturas, etc. É sob esses aspectos que
podemos caracterizar o dinamismo da língua.

UNIDADE 6 - OS MECANISMOS DE COMBINAÇÃO E SELEÇÂO: A COERÊNCIA – A


ARTICULAÇÂO DE SENTIDOS

A Coerência – a articulação de sentido. Todo texto – independente do seu


tamanho – necessita de uma estruturação lógica que faz com que palavras e frases
componham um todo significativo para seus interlocutores. Não só o texto em si
deve ser coerente, mas também as ideias terão que estar articuladas entre si.

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Língua Portuguesa I

UNIDADE 7 – ELEMENTOS COESIVOS – O CONTROLE DO ‘NÓS’ LINGUÍSTICOS


ATRAVÉS DOS MECANISMOS COESIVOS

Se em um texto deve haver coerência de ideias; há de haver também uma


conexão gramatical capaz de fazer as articulações entre as palavras, orações,
períodos e parágrafos.

UNIDADE 8 – A SEMÂNTICA: O SENTIDO DAS PALAVRAS

Parte da gramática que se dedica ao estudo dos aspectos relacionados


aos sentidos de palavras e enunciados. A Semântica se detém ao contexto em que
essas palavras estão empregadas.

UNIDADE 9 – A CONSTRUÇÃO DO TEXTO – OS GÊNEROS TEXTUAIS –


RECONHECIMENTO

Ao construirmos um texto, teremos que atentar para o tipo de texto que


queremos redigir. Sendo assim, reconhecer os gêneros textuais e suas
características específicas é fundamental para a sua elaboração.

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Língua Portuguesa I

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Língua Portuguesa I

1 A Linguagem Verbal e a
Linguagem não-verbal

Linguagem e Sociedade.

A Linguagem e o processo de comunicação.

Conceitos de Linguagem, Língua, Fala e Discurso.

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Língua Portuguesa I

Caro aluno é importante que você atente para o fato de que, como ser social
que é, “usa e abusa” da linguagem para se comunicar. Imagine-se num mundo sem
as diversas formas de comunicação encontradas. Seria possível algo assim? Já dizia
o comunicador Chacrinha: ‘quem não se comunica, se trumbica’. Portanto, vamos
começar a nossa primeira comunicação, digo, a nossa primeira unidade.

Objetivo(s) da Unidade:

Fazer com que o aluno reconheça o caráter social da língua e o seu papel no
processo comunicativo, permitindo a construção de enunciados portadores de
sentido, quer utilizando a linguagem verbal, quer a não-verbal.

Plano da Unidade:

 Linguagem e Sociedade.

 A Linguagem e o processo de comunicação.

 Conceitos de Linguagem, Língua, Fala e Discurso.

Bem-vindo à primeira Unidade de Estudo.


Sucesso!

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Língua Portuguesa I

A Linguagem Verbal e a Linguagem Não-Verbal.

TEXTO 1: LÍNGUA E SOCIEDADE

O caráter social de uma língua já parece ter sido fartamente demonstrado.


Entendida como um sistema de signos convencionais que faculta aos membros de
uma comunidade a possibilidade de comunicação acredita-se, hoje, que seu papel
seja cada vez mais importante nas relações humanas, razão pela qual seu estudo já
envolve modernos processos científicos de pesquisa, interligados às mais novas
ciências e técnicas, como, por exemplo, a própria Cibernética.

Entre sociedade e língua, de fato, não há uma relação de mera casualidade.


Desde que nascemos, um mundo de signos linguísticos nos cerca e suas inúmeras
possibilidades comunicativas começam a tornar-se reais a partir do momento em
que, pela imitação e associação , começamos a formular nossas mensagens . E toda
a nossa vida em sociedade supõe um problema de intercâmbio e comunicação que
se realiza fundamentalmente pela língua, o meio mais comum de que dispomos
para tal.

Sons, gestos, imagens, diversos e imprevistos, cercam a vida do homem


moderno, compondo mensagens de toda ordem (Henri Lefèbre diria poeticamente
que “ niágaras de mensagens caem sobre pessoas mais ou menos interessadas e
contagiadas ”), transmitidas pelos mais diferentes canais , como a televisão, o
cinema, a imprensa, o rádio, o telefone, o telégrafo, os cartazes de propaganda, os
desenhos, a música e tantos outros. Em todos, a língua desempenha um papel
preponderante, seja em sua forma oral, seja através de seu código substitutivo
escrito. E, através dela, o contato com um mundo que nos cerca é
permanentemente atualizado.

Nas grandes civilizações, a língua é o suporte de uma dinâmica social, que


compromete não só as relações diárias entre os membros da comunidade, como
também uma atividade intelectual, que vai desde o fluxo informativo dos meios de
comunicação de massa até a vida cultural, científica ou literária.

PRETI, Dino. Sociolinguística: os níveis da fala. São Paulo, Editora Nacional, 1974. P. 7

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Língua Portuguesa I

A Linguagem e o Processo de Comunicação

Muitas vezes não damos a devida atenção ao que é tão normal para nós: a
nossa volta, a linguagem está presente em todas as suas manifestações o tempo
todo, fazendo parte do nosso cotidiano. Para isso, faz-se necessário conceituarmos
o que é LINGUAGEM, LÍNGUA, FALA e DISCURSO – vocábulos que iremos usar
com bastante constância em nosso conteúdo:

 LINGUAGEM:

É a representação do pensamento humano através de sinais que


garantem a comunicação e a interação entre as pessoas.

 LÍNGUA:

É um código formado por palavras e combinações de leis por meio


do qual as pessoas se comunicam entre si.

 FALA:

É a ação ou a faculdade de utilização da língua. A oposição língua X


fala separa o social do individual.

 DISCURSO:

É a utilização individual da língua. Assim sendo, como a cada um é


dado um modo próprio de se expressar, essa marca própria, recebe o
nome de estilo.

Inúmeras linguagens aparecem nos atos de comunicação. Entre elas fazemos


uso da linguagem verbal (que utiliza a língua oral ou escrita) e a linguagem não-
verbal (faz uso de qualquer código que não seja a palavra – sinais, símbolos, cores,
gestos, expressões fisionômicas, sons, etc.).

Podemos citar como exemplo do uso da linguagem verbal uma carta, um out-
door anunciando grandes promoções de uma loja, um pedido de socorro, um
grupo de alunos cantando o Hino Nacional.

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Língua Portuguesa I

Já o semáforo, o apito de um guarda, o som da sirena de uma ambulância


pedindo passagem e um cartaz com a foto de uma mulher vestida de enfermeira
pedindo silêncio apenas com gesto, ao colocar o dedo indicador sobre a boca, são
exemplos da linguagem não-verbal.

Comece a perceber o ambiente que o cerca e a “ouvir” os múltiplos sons que


existem a sua volta e você terá numerosos exemplos dessa fantástica “máquina” de
sinais convencionais que se chama LINGUAGEM.

Tentamos mostrar-lhe o quanto a comunicação em sociedade é necessária e


como acontece esse mecanismo. Continuaremos falando nisso nas próximas
unidades.

Leitura Complementar

Aprofunde seus conhecimentos lendo:

TERRA, Ernani. Linguagem, Língua e Fala. São Paulo: Scipione, 1997.

FERRARA, Lucrécia D’Aléssio. Leitura sem palavras. 4 ed. São Paulo: Ática, 2000

É HORA DE SE AVALIAR

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão


ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de
ensino-aprendizagem.

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Língua Portuguesa I

Exercício da Unidade 1

1 – Considerando uma partida de futebol, podemos dizer que só não é linguagem


não-verbal:
a) os cartões amarelos e vermelhos do juiz.
b) as listras pretas das camisas dos bandeirinhas.
c) as cores quadriculadas das bandeiras dos times.
d) o som do apito do juiz.
e) os gritos de gol da torcida.

2 – Assinale a opção que melhor corresponde à frase atribuída a Aristóteles:

Somente o homem é um animal político, isto é, social e cívico, porque


somente ele é dotado de linguagem.
a) O homem tem consciência da importância da política.
b) A linguagem torna o homem um ser social e, portanto, político.
c) Somente o homem é capaz de fazer política.
d) É impossível viver em uma sociedade sem fazer política.
e) A política é o único objetivo da linguagem.

3 – São exemplos de linguagem não-verbal:


a) sinais de trânsito e uma conversa informal entre alunos e professores.
b) cores das bandeiras e dos semáforos.
c) cantigas infantis.
d) discursos políticos.
e) apitos e discursos políticos.

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Língua Portuguesa I

4 – Observe as indicações abaixo e assinale a alternativa correta:


1 – números estampados nas camisas dos jogadores de futebol.
2 – gesto de “Pare” da mão estendida do Guarda de Trânsito.
3 – conversa animada numa roda de amigos.

a) Linguagem Não-verbal – Linguagem Não-verbal – Linguagem Verbal.


b) Linguagem Não-Verbal – Linguagem Verbal – Linguagem Verbal.
c) Linguagem Verbal – Linguagem Não-Verbal – Linguagem Verbal.
d) Linguagem Não-Verbal – Linguagem Não-verbal – Linguagem Não-verbal.
e) Linguagem Verbal – Linguagem Verbal – Linguagem Não-verbal.

5 – Aponte a alternativa que completa corretamente a lacuna da frase seguinte:

Todo sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de


comunicação denomina-se ___________.

a) Língua.
b) Linguagem.
c) Fala.
d) Linguagem Verbal.
e) Discurso.

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Língua Portuguesa I

6 – Leia o texto para responder à questão seguinte:

Língua e fala

Na linguagem, pois, distinguem-se dois fatores – a língua e a fala. Foi Saussure


o primeiro a separar e conceituar estes dois aspectos. Compara ele a língua a um
dicionário cujos exemplares idênticos são distribuídos entre os indivíduos. Cada
falante escolhe na língua os meios de expressão de que necessita para comunicar-
se, confere-lhe natureza material, produzindo-se assim a fala.

A fala, de aplicação momentânea, é fruto da necessidade psicológica de


comunicação e expressão. Porque é a realização individual da língua, torna-se
flutuante e varia, pois muda de indivíduo para indivíduo, de situação para situação.
Altera-se facilmente pela influência de fatores diversos – estados psíquicos,
ascensão social, migração, mudança de atividade etc. Não é, porém, um fator de
criação e sim de modificação. O indivíduo, pelo ato da fala, não cria a língua, pois
recebe e usa aquilo que a sociedade lhe ministrou e, de certa forma, lhe impôs.

A língua tem sempre a possibilidade de fixação e sistematização em


dicionários e gramáticas. É um patrimônio extenso e ninguém a possui na sua
totalidade. Cada falante retém uma parte (embora grande) do sistema, que não
existe perfeito em nenhum indivíduo.

(Francisco da Silva Borba. Introdução aos estudos linguísticos)

Indique as afirmações corretas, tendo por base o texto apresentado.


1. Língua e fala são fenômenos exatamente idênticos.
2. A língua é comparada a um dicionário, pois é impessoal, porém
comum a todos os integrantes de uma comunidade.
3. A fala é pessoal, cada falante a produz conforme a sua vontade.
4. A fala é invariável, mantendo-se independente da situação.
5. Uma mudança de atividade implica uma alteração da fala.
6. A gramática sistematiza a língua; o dicionário a fixa.
7. Há indivíduos que conhecem e usam uma língua em sua totalidade.

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Língua Portuguesa I

a) 2 – 3 – 5 – 6
b) 1 – 2 – 3 – 4
c) 3 – 4 – 5 – 6
d) 2 – 3 – 4 – 5
e) 4 – 5 – 6 – 7

7 – Baseado na leitura do trecho, assinale a alternativa correta quanto à sua


principal temática:

Na era da informação tudo é texto. Um slogan político ou publicitário, um


anúncio visual sem nenhuma palavra, uma canção, um filme, um gráfico, um
discurso oral que nunca foi escrito, enfim, os mais variados arranjos organizados
para informar, comunicar, veicular sentidos são texto. O texto não é, pois,
exclusividade da palavra. Para a consagrada bailarina e coreógrafa Martha Graham,
a dança é uma forma de comunicação, logo, é texto – ainda que o código do
emissor e do receptor-expectador não sejam os mesmos.
(MACHADO, Irene A. Texto & Gêneros: fronteiras, publicado em Espaços
da Linguagem na Educação).
a) Variações Linguísticas.
b) Coesão e Coerência.
c) Linguagem Verbal e Linguagem Não-Verbal.
d) Acentuação.
e) Pontuação.

8 – Das opções abaixo, marque aquela que representa exemplos de linguagem


não-verbal:
a) cornetas e uma conversa informal entre amigos.
b) céu estrelado e danças folclóricas.
c) canções folclóricas do boi-da-cara-preta.
d) pregações religiosas.
e) semáforos e discursos políticos.

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Língua Portuguesa I

Leia os textos para responder às questões 9 e 10:

Texto 1:

O caráter público da língua

Dizemos que são considerados bens públicos aqueles de uso comum do povo.
Nesse sentido, não há como deixar de considerar a língua como um bem público, já
que ela é de uso comum dos que dela se utilizam para atos de comunicação.

A língua é exterior aos indivíduos e, por isso, estes não podem criá-la ou
modificá-la individualmente. Ela só existe em decorrência de uma espécie de
contrato coletivo que se estabeleceu entre as pessoas e ao qual todos aderiram. A
língua portuguesa, por exemplo, pertence a todos aqueles que dela se utilizam.

No caso de línguas como o português, o inglês e o espanhol, só para citar


alguns exemplos, esse bem público é veículo de comunicação de pessoas de vários
países; são, portanto, línguas multinacionais.

A língua portuguesa é utilizada não somente por brasileiros. ( ... )

O português hoje é falado por cerca de 200 milhões de pessoas, ocupando o


quinto lugar entre as línguas mais faladas do mundo.

(TERRA, Ernani. Linguagem, Língua e Fala. São Paulo: Editiora Scipione, 1997)

Texto 2:

O caráter privado da fala

A língua, como vimos, é um bem público, ou seja, pertence a toda a


comunidade de falantes, que podem utilizá-la como meio de comunicação. A
utilização que cada indivíduo faz da língua, a fala, por outro lado, possui um caráter
privado, ou seja, pertence exclusivamente a cada indivíduo que a utiliza. É o
aspecto individual da linguagem humana.

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Língua Portuguesa I

Cada um dos quase duzentos milhões de falantes da língua portuguesa


apropria-se da língua que fala com animus domini, isto é, com o ânimo de quem se
sente dono dela, utilizando-a com todas as prerrogativas que lhe confere o
domínio sobre esse bem, dentro de alguns princípios preestabelecidos pela
comunidade de falantes.

A dicotomia entre língua e fala permite verificar que a linguagem humana, ao


contrário dos demais bens (que são públicos ou privados), possui, ao mesmo
tempo, as características de bem público e privado, de individual e coletivo.

A língua é o lado público e coletivo da linguagem humana, ao passo que a fala


é o seu lado privado e individual.

Encarada como um bem público, a língua é uma instituição social de caráter


abstrato. É instituição porque é uma estrutura decorrente da necessidade de
comunicação, com um conjunto de convenções necessárias para permitir o
exercício da faculdade da linguagem aos indivíduos. É social porque, sendo
exterior aos falantes, pertence à comunidade linguística como um todo. É abstrata
porque só se realiza através da fala.

(TERRA, Ernani. Linguagem, Língua e Fala. São Paulo: Editora Scipione, 1997)

9 – Disserte sobre o caráter social e abstrato da língua.

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Língua Portuguesa I

10 – Trace um paralelo, de acordo com o conteúdo da Unidade, utilizando-se de


três diferenças entre língua e fala.

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Língua Portuguesa I

2 Os Signos Linguísticos

Conceito de signo.

O significante e o significado - conceituação.

A relação significante x significado.

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Língua Portuguesa I

Como vimos na unidade anterior, a comunicação se dá pela linguagem verbal


e pela linguagem não-verbal.

Agora, vamos tratar da linguagem verbal e de todos os mecanismos que a


envolvem. Você terá contato com o signo linguístico, isto é, com todo o processo
que envolve a língua.

Vamos lá, então?

Objetivo(s) da Unidade:

Reconhecer, dentro da linguagem verbal, a estrutura do signo linguístico, bem


como os procedimentos básicos a que essa estrutura está relacionada: o papel do
significante e do significado.

Plano da Unidade:

 Conceito de signo.

 O significante e o significado - conceituação.

 A relação significante x significado.

Bons estudos!
Sucesso!

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Língua Portuguesa I

Os Signos Linguísticos

Ao introduzirmos essa unidade com a definição de signo, queremos ressaltar


que signo é, antes de mais nada, sinal, símbolo e, portanto, refere-se a alguma
coisa.

Sempre que tentamos representar a realidade por meio da palavra, estamos


falando de signo linguístico.

Veja o verbete tirado do dicionário eletrônico Michaelis – UOL, 2002

sig.no s. m. 1. Astr. Cada uma das doze partes em que se divide o zodíaco e
cada uma das constelações respectivas. 2. Linguíst. Tudo aquilo que, sob certos
aspectos e em alguma medida, substitui alguma coisa, representando-a para
alguém. — S. linguístico: o que designa a combinação de conceito com a
imagem acústica, ou seja, a combinação de um significado com um
significante. Em bola, por exemplo, a sequência de sons b-o-l-a é o
significante, e a ideia do objeto é o significado. S.-de-salomão: emblema
místico, símbolo da união do corpo e da alma, que consiste em dois triângulos
entrelaçados formando uma estrela de seis pontas; signo salomão. Era usado,
outrora, como amuleto contra a febre e outras doenças. S.-salomão: signo-de-
salomão.

Conceituamos signo linguístico como a menor unidade dotada de sentido.


Compõe-se de um elemento material, de caráter linear, denominado significante e
de conceito, de uma ideia, da imagem psíquica que temos, que é o significado.

A relação significante X significado é convencional, ou seja, há um acordo


implícito e explícito entre os usuários da língua.

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Língua Portuguesa I

Convencionou-se chamar de gato o animal mamífero, doméstico, da classe


dos felídeos, por exemplo.. essa relação presente no signo linguístico é também
arbitrária, visto que não há qualquer propósito entre a representação gráfica “ g – a
– t – o ” e a ideia que temos representada em nossas mentes desse animal.

Também temos o significante “g – a – t – o” com outros significados, como:


Ladrão, gatuno, larápio ou em expressões do tipo gato-pingado: cada um dos
poucos assistentes de uma reunião ou espetáculo, ou de algum agrupamento e
ainda gato e sapato: coisa desprezível.

Sendo assim, signo é a associação de um significante (sons da fala, imagens


gráficas, desenhos, etc.) e um significado (conceito, ideia ou imagem mental).

O signo LIVRO se compõe, portanto de:

Devemos ressaltar, ainda, que quando falamos em signo linguístico, referimo-


nos a uma representação da realidade através da palavra. Acentuamos que palavra
é criação humana, usada para representar algo que temos em mente. A palavra
maçã não é a maçã (você não come a palavra maçã); mas ao dizermos ou lermos
essa palavra, é claro que nos vem à mente a ideia da maçã (fruto da macieira).
Mesmo que o objeto mencionado não esteja na nossa frente, ao evocá-lo, usamos
a palavra que o nomeia, a sua imagem surge em nossa mente de maneira
instantânea.

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Língua Portuguesa I

LEITURA COMPLEMENTAR:

Aprofunde seus conhecimentos lendo:

TERRA, Ernani. Linguagem, língua e fala. São Paulo: Scipione, 1997.

______, Ernani. Cavallete, Floriana Toscano & NICOLA, José. Português para o
Ensino Médio: Língua, Literatura e Produção de Textos. volume único. São Paulo,
Scipione, 2002.

É HORA DE SE AVALIAR

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão


ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de
ensino-aprendizagem.

29
Língua Portuguesa I

Exercício da unidade 2

1 – Com relação ao conceito de signo linguístico, NÃO é correto afirmar que:

a) É um conceito binário já que se compõe de dois elementos: o significante e o


significado.

b) A imagem acústica é o significado da palavra.

c) A imagem psíquica corresponde ao significado da palavra.

d) /m/e/z/a/ corresponde ao significante fônico da palavra mesa.

e) A palavra “mesa” corresponde ao significado da palavra.

2 – Com relação ao conceito de signo linguístico, é correto afirmar que:

a) A imagem acústica corresponde ao significado da palavra.

b) A forma gráfica corresponde ao significado da palavra.

c) O conceito de signo se constitui de uma relação arbitrária ou convencionalizada


entre significante e significado.

d) A imagem psíquica corresponde ao significante da palavra.

e) O elemento material corresponde ao significado da palavra.

3 – Escreva V (Verdadeiro) ou F (Falso) para as afirmativas abaixo. Depois, marque a


alternativa correta:

I–( ) O significado é o conceito, a ideia, a imagem psíquica que temos dos


elementos verbalizados.

II – ( ) O signo linguístico é a fusão do elemento material e da imagem psíquica.

III – ( ) O signo linguístico tem duas faces: o significante e o significado.

30
Língua Portuguesa I
a) F – V – F
b) V – V – F
c) F – F – V
d) V – F – F
e) V – V – V

4 – O elemento composto pelos sons da fala e pelas representações gráficas desses


sons é:

a) o signo linguístico.

b) o significado.

c) a fala.

d) o significante.

e) a arbitrariedade.

5 – Com relação ao conceito de signo linguístico, identifique a sequência correta:

I – O signo linguístico corresponde a uma relação simbólica e arbitrária entre dois


elementos: o significante e o significado.

II – O significante corresponde à representação material da palavra, seja por


recursos gráficos ou sonoros.

III – O significante corresponde à representação conceitual da palavra.

IV – O signo linguístico se constitui em uma relação binária entre elementos de


natureza concreta e abstrata, respectivamente.

a) V – V – F – F
b) F – V – F – V
c) V – F – V – F
d) F – F – V – V
e) V – V – F – V

31
Língua Portuguesa I

6 – Complete os espaços abaixo.

Um _____________ compõe-se de um elemento material de caráter linear,


denominado __________ e do conceito, da ideia, a imagem psíquica que temos, ou
seja: ___________.

A alternativa que preenche adequadamente o enunciado é:


a) signo – significante – significado.
b) signo – significado – significante.
c) signo – significante – signo.
d) significante – signo – significado.
e) significado – significante – signo.

7 – Um signo linguístico é a combinação de um elemento concreto com um


elemento inteligível. Qual a denominação dada, respectivamente, a cada um
desses elementos?
a) Língua e Linguagem.
b) Linguagem e Língua.
c) Significante e Significado.
d) Fala e Discurso.
e) Língua e Fala.

8 – Signo = representação material (Significante) + conceito mental (Significado). É


claro que um mesmo significante pode nos remeter a vários significados. Esse fato
linguístico chama-se:
a) sinônimo.
b) antônimo.
c) semântica.
d) denotação.
e) polissemia.

32
Língua Portuguesa I

TEXTO PARA A QUESTÃO 9:

Marina, linda e loira, tinha quatro aninhos, as melenas já estavam nos ombros,
quando a mãe resolveu dar um trato na cabeça da criança. Pegou uma tesoura
grande e disse:

– Mamãe só vai cortar dois dedinhos.

Marina aos prantos, mostrando a mão para a mãezinha, pergunta:

– Qual deles, mamãe?

(ILARI, Rodolfo. Introdução à Semântica – brincando com a gramática)

O humor desta piada surge da confusão entre os signos e significados de


algumas palavras. Qual a palavra que gera confusão no texto lido? Quais os
significados que esta palavra pode ter?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

10 – Observe o anúncio publicitário e explique as relações de significado


exploradas pelo contexto no que diz respeito às palavras destacadas:
SE SEU AMIGO USA DROGAS
E VOCÊ NÃO FALA NADA,
QUE DROGA DE AMIGO É VOCÊ?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

33
Língua Portuguesa I

34
Língua Portuguesa I

3 Os Elementos da
Comunicação Humana

Esquematizando o processo comunicativo

Conceituando emissor, receptor, mensagem, canal, código e referente.

O referente situacional e o referente textual.

A comunicação unilateral e a comunicação bilateral.

O ruído

A intencionalidade discursiva

35
Língua Portuguesa I

Agora, ainda falaremos dos processos da comunicação humana, mas desta vez
vamos tratar dos componentes que formam todo esse processo. São o que
chamamos de ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO.

Falaremos, também, da intencionalidade discursiva, ou seja, dos mecanismos


utilizados por quem fala / escreve. Mãos à obra!

Objetivo(S) da Unidade:

Compreender as relações estabelecidas entre os componentes que formam o


processo de comunicação humana, bem como os mecanismos de quem
fala/escreve, isto é, a intencionalidade do discurso.

Plano da Unidade:

 Esquematizando o processo comunicativo

 Conceituando emissor, receptor, mensagem, canal, código e


referente.

 O referente situacional e o referente textual.

 A comunicação unilateral e a comunicação bilateral.

 O ruído

 A intencionalidade discursiva

Bons estudos!

36
Língua Portuguesa I

Os elementos da comunicação humana

Para Francis Vanoye1 “toda comunicação tem por objetivo a transmissão de


uma mensagem”.

Assim, para que a comunicação aconteça, temos de ter alguém construindo


um texto (verbal ou não-verbal) e enviando-o a alguém. Esse material enviado se
utilizará de um sistema de sinais e de um meio ou contato para fazer chegar àquilo
que se pretenda comunicar.

O ato comunicativo, portanto, sendo um ato social, concretiza várias


manifestações, tanto do ponto de vista cultural como no nosso cotidiano. Vale
dizer: sempre estamos nos comunicando com alguém através de uma mensagem.

Assim, podemos esquematizar esse processo comunicativo do seguinte modo:

1
VANOYE , Francis. Usos da Linguagem – problemas e técnicas na produção oral e escrita. 11 ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.

37
Língua Portuguesa I

1) O emissor – ou destinador ou ainda remetente – é o que emite (envia) a


mensagem. Essa mensagem pode ser transmitida de forma individual ou
em grupo.

2) O receptor ou destinatário é o que recebe a mensagem.

3) A mensagem é o que se denomina, ainda segundo Vanoye, “objeto da


comunicação”. Constitui-se no conteúdo daquilo que é transmitido.

4) O canal comunicativo é definido como os meios utilizados pelo emissor a


fim de enviar a mensagem ao receptor.

Uma mensagem, por exemplo, que é transmitida por um órgão de controle de


tráfego – uma placa do tipo “PERMITIDO ESTACIONAR” – se dá através dos meios
visuais de que o receptor é portador. O som do apito de um guarda, sinalizando
algo, acontece através do meio sonoro (ondas sonoras, ouvido...).

É através do canal de comunicação que utilizamos que podemos empreender


a classificação das mensagens. Assim, teremos:

a) As mensagens visuais: as imagens (desenhos, fotos) e os símbolos (a


escrita ortográfica).

b) As mensagens tácteis: um aperto de mão, uma carícia...

c) As mensagens sonoras: os diversos sons significativos, as palavras


faladas, as músicas etc.

d) As mensagens gustativas: uma comida, por exemplo, apimentada


ou salgada demais...

e) As mensagens olfativas: um perfume, um escapamento de gás de


cozinha etc.

38
Língua Portuguesa I

5) O código é um conjunto de signos


combinados entre si, do qual o emissor se
utiliza para elaborar a mensagem. Ao montá-
la, o remetente estará operando a
codificação; ao recebê-la, o destinatário –
identificando o código utilizado – estará
procedendo à decodificação.

Os processos de codificação / decodificação se realizam de algumas maneiras,


tais como:

a) O emissor envia uma mensagem. O destinatário a recebe, mas não a


compreende, porque não possuem signos em comum.

Como exemplo, poderíamos apontar uma tentativa de diálogo entre uma


pessoa que só sabe falar português e uma que só sabe falar inglês.

b) O emissor “tenta” manter um diálogo com um receptor que domina pouco


o código utilizado. Neste caso, a comunicação é restrita, pois são poucos os signos
em comum.

Um americano, recém-chegado ao Brasil, tentando se comunicar com um


estudante que estuda inglês há apenas um ano.

39
Língua Portuguesa I

c) A comunicação é mais abrangente; embora ainda não total – quando, por


exemplo, um professor explica um determinado conteúdo, mas alguns alunos não
dominaram ainda o anterior, que, por sua vez, seria pré-requisito do atual.

d) Finalmente, temos a comunicação total. Todos os signos emitidos pelo


emissor são do conhecimento do receptor e a figura assim representará esse caso:

40
Língua Portuguesa I

6) O referente é constituído pelo conteúdo ao qual a mensagem nos


remete. Temos o referente situacional e o referente textual. O 1º diz
respeito aos elementos da situação e das circunstâncias da transmissão
da mensagem. Assim, quando uma professora pede aos alunos que
abram o livro na página 80, supõe-se que ela esteja dentro de uma sala de
aula e os alunos, além de possuírem o referido livro, saibam sobre o que
ela está falando.

Já, o referente textual é constituído pelos elementos do contexto linguístico.


Num conto ou em um romance, por exemplo, todos os referentes são textuais, ou
seja, têm como base o texto.

Temos, ainda, dois tipos de comunicação: a comunicação unilateral e a


comunicação bilateral. Quando se estabelece de um emissor para o receptor, sem
qualquer reciprocidade, chama-se comunicação unilateral. Uma palestra, um
anúncio em outdoor ou uma placa de sinalização de trânsito transmitem
mensagens sem precisar receber resposta, são bons exemplos.

Já em uma conversa, em um debate em sala de aula, temos a comunicação


bilateral, pois o emissor e o receptor “trocam” de papéis.

Muitas vezes, a transmissão da mensagem é prejudicada por algo que


denominamos ruído. Não podemos entendê-lo apenas como um problema de
ordem sonora. Na verdade, para o processo de comunicação, ruído é tudo aquilo
que pode atrapalhar o receptor em receber a mensagem enviada pelo emissor.
Podemos estabelecer, por exemplo, que ruído pode ser, entre outros: uma voz

41
Língua Portuguesa I

muito baixa; o barulho de uma britadeira funcionando perto de um “orelhão”; um


defeito no sistema eletrônico de uma televisão; uma linha cruzada durante uma
ligação telefônica; uma notícia cujo jornal apresenta uma das pontas rasgadas, não
permitindo a leitura em seu todo; uma mancha borrada no papel de uma carta etc.

Como vimos, a comunicação humana está muito além de um simples ato


mecânico de estímulo e resposta. Não haverá comunicação de fato se não houver
interação entre emissor e receptor; isto é, sempre estamos nos relacionando com o
outro ou outros, através da linguagem (verbal ou não-verbal), num processo
contínuo.

A intencionalidade discursiva

A piadinha que se segue constitui uma situação comunicativa entre duas


pessoas:

Um amigo encontra o outro na rua:

- Onde você está morando, rapaz?

- Em Copacabana.

- Em que altura?

- No 7º andar.

Nesse caso, a comunicação entre o emissor e o receptor não tem muito


sucesso e é aí que o humor se faz presente; exatamente pelo fato de que os
interlocutores não atendem a um princípio básico da comunicação: a
intencionalidade discursiva – intenções (explícitas ou implícitas) existentes na
linguagem dos membros que participam de uma determinada situação
comunicativa.

Ao interagir com outra pessoa através da linguagem, temos a “intenção” de


modificar o pensamento ou o comportamento de nosso(s) interlocutor(es). O
sucesso da comunicação está, portanto, em saber lidar com a intencionalidade. É

42
Língua Portuguesa I

através dela que o emissor impressiona, persuade, informa, pede, solicita etc. (a)o
receptor.

Como vimos nessa unidade, sem comunicação e sem os seus elementos


constitutivos, não há como uma pessoa se comunicar com outra. Na unidade IV,
veremos como as mensagens funcionam, tendo como foco cada um desses
elementos.

Leitura complementar

Aprofunde seus conhecimentos lendo:

- TERRA, Ernani. Linguagem Língua e Fala. São Paulo: Scipione, 1997.

- VANOYE, Francis. Usos da Linguagem - problemas e técnicas na produção


oral e escrita. 11 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

É HORA DE SE AVALIAR

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão


ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de
ensino-aprendizagem.

43
Língua Portuguesa I

Exercício da unidade 3

1 – O texto publicitário está centrado no (a):

a) emissor.

b) receptor.

c) canal.

d) código.

e) mensagem.

2 – Escreva V (Verdadeiro) ou F (Falso) para as afirmativas abaixo. Depois, marque a


alternativa correta:

I–( ) A Mensagem é o meio físico que interliga Emissor e Receptor.

II – ( ) O Código representa o assunto de uma interlocução.

III – ( ) Para se obter uma comunicação efetiva nenhum dos seis elementos pode
falhar.

a) V – V – F

b) F – V – F

c) V – V – V

d) V – F – V

e) F – F – V

44
Língua Portuguesa I

3 – A opção que melhor define a ideia de MENSAGEM é:

a) O ato daquele que envia a mensagem.

b) O conjunto de signos e de regras de combinação desses signos utilizados para


elaborar a mensagem.

c) O conteúdo das informações transmitidas.

d) O meio pelo qual a mensagem é transmitida.

e) O ato daquele que recebe a mensagem.

4 – Dentre as alternativas abaixo, marque aquela que está de acordo com o


conceito de Comunicação.

a) Processo de troca de significados entre indivíduos por meio de códigos diversos.

b) Processo que envolve parcialmente a troca de significados entre indivíduos por


meio de um código comum.

c) Processo de troca de significados entre indivíduos por meio de um código


comum.

d) Processo em que não há necessidade de troca de significados entre indivíduos.

e) Processo que envolve signos, sinais, símbolos, linguagem falada ou escrita e


onde não há necessidade de troca de significados entre indivíduos.

5 – Português é fácil de aprender porque é uma língua que se escreve exatamente


como se fala.

Pois é. U purtuguêis é muito fáciu di aprender, purqui é uma língua qui a genti
iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri quandu
a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im purtuguêis não. É só
prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum
nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muito diferenti. Qui bom qui a
minha língua é u purtuguêis. Quem soube falá sabi iscrevê.

(Jô Soares)

45
Língua Portuguesa I

No texto acima, podemos observar que o humorista tentou uma aproximação


entre:

a) os elementos da comunicação e a variação linguística.

b) a língua falada e a escrita.

c) os níveis da fala.

d) os elementos da comunicação e a ortografia.

e) os elementos da comunicação e as funções da linguagem.

6 – Se o receptor não conseguir entender a mensagem do emissor, podemos


afirmar que:

a) o emissor não tinha interesse em ser compreendido pelo receptor.

b) o receptor mostrou-se desinteressado do assunto em questão.

c) o emissor subvalorizou a capacidade do receptor.

d) o receptor decodificou a fala do emissor.

e) o emissor usou um código diferente do código do receptor.

7 – Os seis fatores que integram o ato de comunicação verbal são:

a) Linguagem verbal – Linguagem não-verbal – Contexto – Canal – Código – Signo.

b) Signo – Contexto – Canal – Significante – Significado – Código.

c) Contexto – Canal – Emissor – Mensagem – Linguagem verbal – Signo

d) Emissor – Receptor – Mensagem – Canal – Signo – Código.

e) Contexto – Canal de comunicação – Emissor – Mensagem – Receptor – Código.

46
Língua Portuguesa I

8 – Leia atentamente a mensagem e indique que elemento da comunicação


humana prevalece no texto abaixo.

Eu nunca sonhei com você

Nunca fui ao cinema

Não gosto de samba

Não vou a Ipanema

Não gosto de chuva

Nem gosto de sol.

(Tom Jobim)

a) Mensagem.

b) Emissor.

c) Código.

d) Contexto.

e) Canal.

9 – Quando emitimos a frase “– Está quente aqui!” podemos pensar em três


situações diferentes. Comente de que maneira cada uma dessas situações pode ser
entendida.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

47
Língua Portuguesa I

10 – Leia a piada extraída do livro “Introdução à Semântica – brincando com a


gramática“ de Rodolfo Ilari, p. 81 – e explique de onde se extrai o humor na
situação comunicativa (emissor → receptor).

Certa mulher aguardava com seu marido o diagnóstico da doença deste. O


médico se aproxima dos dois com expressão austera e diz:

– Não estou gostando nada da cara dele.

– Eu também não, mas ele é muito bom para as crianças.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

48
Língua Portuguesa I

4 As Funções da Linguagem

A função referencial.

A função expressiva ou emotiva.

A função conativa ou apelativa: a intenção do emissor e a organização


da mensagem.

A função poética.

A função fática.

A função metalinguística.

49
Língua Portuguesa I

Vamos falar agora sobre a finalidade predominante que toda mensagem tem:
quer seja transmitir uma informação, uma emoção, quer seja um pedido. Você
perceberá, no decorrer da leitura, que nenhuma mensagem existe sem que haja
uma intenção do emissor. A nossa, nesse momento, é lhe ensinar mais um
conteúdo necessário para a sua formação acadêmica. Bom estudo!

Objetivo(s) da Unidade:

Compreender os princípios que regem as relações estabelecidas entre os


elementos da comunicação e a finalidade ou função que predomina em cada
mensagem intencionalmente criada.

Plano da Unidade:

 A função referencial.

 A função expressiva ou emotiva.

 A função conativa ou apelativa: a intenção do emissor e a


organização da mensagem.

 A função poética.

 A função fática.

 A função metalinguística.

Bons estudos!

50
Língua Portuguesa I

Quando realizamos um ato de comunicação verbal, devemos selecionar as


palavras e depois de organizá-las e combiná-las entre si, temos que adequá-las de
acordo com a intenção, com o sentido que queremos dar à mensagem que
enviaremos ao receptor.

Por ser o ato de falar algo bastante automático, raramente percebemos que
essa organização e adequação das palavras usadas estão ligadas a uma ou mais
funções. Sendo assim, ao darmos ênfase a um dos elementos de comunicação, já
estudados anteriormente, estaremos priorizando uma das seis funções que a
linguagem possui..

Foi o linguista russo Roman Jakobson quem elaborou, em 1969, estudos


acerca das funções da linguagem. Para cada um dos elementos da comunicação
humana, existe uma função estritamente ligada a cada elemento, como veremos a
seguir:

51
Língua Portuguesa I

Função Referencial

Também chamada de função informativa é centrada no referente, isto é,


naquilo que se fala. Cabe ao emissor a intenção de transmitir ao seu interlocutor,
de modo direto e objetivo, dados estruturados, geralmente, na ordem direta. Essa
função está presente em grande parte dos textos dissertativos, técnicos,
jornalísticos, em receitas médicas, bulas de remédio, manuais de instrução, avisos
institucionais, mapas, gráficos etc. A função referencial é tratada por alguns autores
como função denotativa, visto que no texto não há ambiguidades ou duplo
sentido.

Alimentação balanceada é aquela que contém nutrientes em quantidade e


qualidade adequadas às necessidades de cada um. Estas demandas variam, não
apenas de acordo com a idade, mas também em relação ao estilo de vida. Assim
como as exigências nutricionais dos filhos pequenos são distintas daquelas de seus
pais e avós, uma boa dieta para quem tem hábito de caminhar um pouco, todos os
dias, está longe de ser adequada para um jogador de futebol ou um corredor de
maratona. Ainda assim, existe um princípio válido para todos: quando se trata de
fazer uma refeição balanceada é indispensável a ingestão de quantidade suficiente
de alimentos construtores, energéticos e reguladores.

Suplemento “Nestlé faz bem” - parte integrante da revista Galileu nº 156/julho-04

Centrada no emissor da mensagem, exprime a sua atitude em relação ao


conteúdo da mensagem e da situação. Nesse caso, o emissor expressa seus
sentimentos e emoções, resultando num texto subjetivo (diferente da objetividade
da função referencial).

A mensagem é estruturada com algumas marcas gramaticais que merecem


registro: verbos e pronomes em 1ª pessoa, interjeições, adjetivos de valores, sinais
de pontuação como as reticências, ponto de exclamação.

52
Língua Portuguesa I

O exemplo que daremos é o famoso “Soneto da Fidelidade”, escrito por


Vinícius de Moraes. Repare como o uso da 1ª pessoa é uma marca significativa para
acentuar a subjetividade do eu-poético.

SONETO DA FIDELIDADE
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento


E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure


Quem sabe a morte, angústia de que vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor ( que tive ):


Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

MORAES, Vinicius de. Obra Completa e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1998.

53
Língua Portuguesa I

Função Conativa ou Apelativa

O destaque está no receptor que, por sua vez, é estimulado pela mensagem.
Os textos em que essa função predomina são marcados por verbos no imperativo,
por vocativos, por pronomes de tratamento. Outro recurso utilizado pela imprensa
para prender o receptor e que caracteriza muito bem a função CONATIVA é a
argumentação, em que o emissor procura a adesão do receptor ao seu ponto de
vista. Podemos traçar um paralelo entre a intenção do emissor da mensagem e a
organização da mesma na função conativa.

Perceba:

INTENÇÃO DO EMISSOR → influenciar, envolver, persuadir.

ORGANIZAÇÃO DA MENSAGEM→ apelo, súplica, ordem, chamamento,


argumento.

Numa mensagem publicitária, por exemplo, de um produto para limpeza, o


texto parece falar com a mulher – dona-de-casa – a quem interessa vender o
produto.

Já, quando o objetivo é influenciar um jovem a comprar uma mochila, por


exemplo, a intenção discursiva é outra e, consequentemente, o texto vai privilegiar
palavras do universo dos adolescentes, usando gírias do momento, termos
centrados em seu linguajar.

54
Língua Portuguesa I

Assim, a função conativa ou apelativa da linguagem é predominantemente


encontrada nos anúncios publicitários, nos discursos políticos, nos horóscopos, nos
livros de autoajuda, nas preces religiosas etc.

Função Poética

Acontece quando a comunicação dá ênfase à própria mensagem.

Uma das características dessa função é o uso de recursos literários na


construção da linguagem. Ao selecionar as palavras para compor um texto, o poeta
escolhe as que realçam o sentido que ele quer dar ao seu texto e também a sua
sonoridade e o ritmo; privilegiar as figuras de linguagem, os recursos fonológicos, a
falta ou o excesso de sinais de pontuação.

Nos textos em que predomina a função poética da linguagem, podemos


encontrar, com muita frequência, o sentido conotativo das palavras.

Tem tudo a ver


A poesia
tem tudo a ver
com o sorriso da criança,
o diálogo dos namorados,
as lágrimas diante da morte,
os olhos pedindo pão.

A poesia
– é só abrir os olhos e ver –
tem tudo a ver
com tudo.

Elias José. Segredinhos de amor. São Paulo, Moderna, 1991.

55
Língua Portuguesa I

Função Fática

Esta função se manifesta quando se percebe a


preocupação do emissor em manter contato com o
receptor, sem deixar com que a comunicação se
perca. Centrada no canal, ou contato, como alguns
autores preferem, a função fática acontece tanto na
comunicação oral, através de sons do tipo “Hum...
Hum...”, “Hein?”, “Tá... Tá...”, “Sim... Sei...”; de frases
como “Está me ouvindo?”, “Estão me entendendo?”
e de marcas sonoras como o famoso “Plim! Plim!” da Rede Globo que chama o
telespectador “distraído” para a retomada de comunicação.

Como na comunicação escrita, encontramos a função fática da linguagem ao


empregarmos marcadores linguísticos que se repetem.

Função Metalinguística

Acontece quando a ênfase está no código, isto é, quando o código é o tema da


mensagem ou é usado para explicar o próprio código. Sabemos que, na linguagem
verbal, o código é a língua; portanto, quando utilizamos a língua para explicar a
própria língua, temos a metalinguagem ou seja, a função metalinguística.

Um exemplo bem claro são os dicionários e as gramáticas, pois utilizam


palavras para explicar as próprias palavras.
fren.te
s. f. 1. Parte superior do rosto, desde os cabelos até as sobrancelhas.
2. Parte anterior de qualquer coisa.
3. Fachada de edifício.
4. Mil. Vanguarda.
5. Meteor. Superfície que marca o contato de duas massas de ar convergentes e
de temperaturas diferentes.

56
Língua Portuguesa I

Como vimos, para cada um dos elementos do processo de comunicação


humana temos uma função da linguagem predominante. Podemos ter essas
funções em qualquer tipo de manifestação comunicativa. Por exemplo, em uma
obra de arte, em um filme...Mais tarde voltaremos a falar sobre elas.. Na próxima
unidade discutiremos sobre as diversidades do uso da língua. Vamos lá?

Leitura complementar:

Aprofunde seus conhecimentos lendo:

CHALHUB, Samira. Funções da Linguagem. Coleção Princípios. São Paulo:


Ática, 2000.

VALENTE, André Crim. A linguagem nossa de cada dia. Petrópolis: Vozes, 1997.

É HORA DE SE AVALIAR

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão


ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de
ensino-aprendizagem.

57
Língua Portuguesa I

Exercício da unidade 4

1 – Identifique no texto a seguir qual é a função da linguagem predominante.

Olá, como vai?

Eu vou indo e você, tudo bem?

Tudo bem, eu vou indo, correndo

Pegar meu lugar no futuro, e você?

(Sinal Fechado – Paulinho da Viola)

a) Função Metalinguística.

b) Função Emotiva ou Expressiva.

c) Função Conativa ou Apelativa.

d) Função Fática.

e) Função Referencial ou Informativa.

2 – Assinale a alternativa em que a correspondência entre as funções da linguagem


e os elementos da comunicação está errada:

a) a função metalinguística está centrada no canal.

b) a função emotiva está centrada no emissor.

c) a função conativa está centrada no receptor.

d) a função poética está centrada na mensagem.

e) a função referencial está centrada no referente.

58
Língua Portuguesa I

Leia o poema para as questões 3 e 4

Você
Precisa saber da piscina,
Da margarina,
Da Carolina,
Da gasolina,
Você precisa saber de mim
Baby, Baby
Eu sei que é assim...
Você precisa tomar um sorvete
Na lanchonete
Andar com a gente
Me ver de perto
Ouvir aquela canção do Roberto
Baby, Baby
Ah, quanto tempo...
Você precisa aprender inglês
Precisa aprender o que eu sei
E o que eu não sei mais
E o que eu não sei mais
Eu sei, comigo vai tudo azul
Contigo vai tudo em paz
Vivemos na melhor cidade
Da América do Sul
Da América do Sul
Você precisa...
Não sei...
Leia na minha camisa:
BABY, I LOVE YOU...
(Caetano Velloso)

59
Língua Portuguesa I

3 – Após a leitura do poema, considerando o que aprendeu sobre Funções da


Linguagem, marque a única alternativa incorreta:

a) Num mesmo texto é possível encontrar mais de uma função da linguagem.

b) Nos versos “Você precisa aprender inglês / Precisa aprender o que eu sei” temos o
predomínio da função conativa.

c) Podemos dizer que a repetição de palavras e expressões é um recurso da função


poética.

d) Nos versos “Da margarina, / Da Carolina, / Da gasolina,” observamos que a


função predominante é a poética.

e) Podemos dizer que o texto é predominantemente fático.

4 – Retirado do poema anterior, o verso “Leia na minha camisa:” tem como função
da linguagem predominante a:

a) emotiva.

b) fática.

c) conativa.

d) metalinguística.

e) poética.

Leia os textos das questões 5 e 6 e diga que função da linguagem cada um deles
apresenta.

5 – “Comunicação – Uma das principais funções da linguagem humana pela qual


os homens entram em contato entre si para mútua compreensão. Há vários
códigos de comunicação, pois tudo a que se pode atribuir significações (cores,
desenhos, gestos, etc.) pode ser usado para comunicação. A linguagem é apenas
um desses códigos.” (Francisco da Silva Borba)

60
Língua Portuguesa I

a) função emotiva.

b) função conativa.

c) função metalinguística.

d) função fática.

e) função poética.

6 – “Algumas pesquisas de sociólogos americanos, realizadas desde a década de 50


do século XX, confirmam que, mesmo nos Estados Unidos, o filho do operário
estuda para ser o operário que acaba sendo, e o filho do médico para ser médico
ou engenheiro.” (Revista Veja, 2004)

a) função metalinguística.

b) função fática.

c) função apelativa.

d) função poética.

e) função referencial.

7 – Leia o texto:

POÉTICA
(Cassiano Ricardo)

1
Que é a poesia?
Uma ilha
Cercada
De palavras
Por todos
Os lados

61
Língua Portuguesa I

2
Que é o poeta?
Um homem
Que trabalha o poema
Com o suor do seu
Rosto.
Que tem fome
Como qualquer outro
Homem.

A alternativa que indica as duas funções da linguagem predominantes no


texto é:

a) fática e metalinguística.

b) metalinguística e poética.

c) referencial e informativa.

d) poética e referencial.

e) conativa e apelativa.

8 – Preencha os parênteses com a letra conveniente, conforme abaixo, e assinale a


alternativa correta:

A – Função Emotiva

B – Função Conativa

C – Função Referencial

D – Função Fática

E – Função Metalinguística

F – Função Poética

62
Língua Portuguesa I

– Olá, como vai?


( )
– Bem, obrigado, e você?
( ) As funções da linguagem são objeto de estudo da unidade quatro.

( ) Acabe de ler as últimas unidades de estudo de LP I.

a) A – C – F

b) D – C – E

c) B – A – D

d) C – F – B

e) D – C – B

TEXTO PARA AS QUESTÕES 9 e 10:

LIGANDO E DESLIGANDO O TELEFONE

LIGANDO – pressione a tecla power até acender a luz verde. Se o telefone


estiver desligado, pressione a tecla power durante, aproximadamente 3 segundos.
Se o telefone estiver ligado, pressione a tecla power durante 1 segundo. Espere
cerca de 3 segundos até que a luz verde comece a piscar.

DESLIGANDO – pressione a tecla power durante cerca de 3 segundos, até que


a luz verde comece a piscar. Solte a tecla. Espere cerca de 3 segundos até que o
telefone desligue.

(adaptado de um Guia do usuário de telefone celular)

63
Língua Portuguesa I

9 – Veja o texto que instrui o uso de um celular. A linguagem se organiza em torno


de uma informação. Sendo assim, qual a função da linguagem predominante?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

10 – Sabendo, ainda, que o texto fala de um objeto a um destinatário, como


comprovam os verbos no imperativo – “pressione, espere, solte etc.” – podemos
dizer que há uma outra função da linguagem presente. Que função é essa?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

64
Língua Portuguesa I

5 As Diversidades do uso da
Língua: Os Níveis da
Linguagem

A modalidade escrita e falada

As variantes socioculturais - a norma culta e a norma coloquial; a


gíria; a linguagem da Internet

As variantes regionais

As variantes de época

As variantes de estilo

65
Língua Portuguesa I

Nesta unidade, trataremos dos níveis da linguagem, ou seja, da diversidade


linguística, fato que ocorre, muitas vezes com bastante evidência; em outras, de
forma pouco perceptível. Mas, de qualquer maneira, o estudo dessas variedades de
uma língua implica em fatores de vital importância para o bom uso dela. Bom
estudo!

Objetivo(s) da unidade:

Compreender a diversidade linguística e os níveis da linguagem,


diferenciando-os e reconhecendo as características da modalidade culta da língua,
assim como a condição de apropriar-se dessas normas para a construção de textos.

Plano da Unidade:

 A modalidade escrita e falada

 As variantes socioculturais - a norma culta e a norma coloquial; a


gíria; a linguagem da Internet

 As variantes regionais

 As variantes de época

 As variantes de estilo

Bons estudos!

66
Língua Portuguesa I

As Diversidades do uso da Língua - Os Níveis da Linguagem

TEXTO 1:

“Uma das características mais evidentes das línguas é sua variedade. Entende-se
por isso, fundamentalmente, que as línguas apresentam formas variáveis em
determinada época, o que significa que não são faladas uniformemente por todos os
falantes de uma sociedade. (....) Esta característica não é exclusiva das língua
modernas. O latim e o grego antigo também tinham formas variáveis. O português,
por exemplo, descende do chamado latim vulgar (popular), diferente em vários
aspectos do latim dos escritores que chegou até nós. (...).

Uma outra característica das línguas é que as diferenças que apresentam


decorrem do fato de que os falantes de uma comunidade linguística não são
considerados iguais pela própria sociedade. As diferenças de linguagem são uma
espécie de distintivo ou emblema dos grupos, e, nesse sentido, colaboram para
construir sua identidade. (...) As variedades (ou os dialetos) correspondem em grande
parte a grupos sociais relativamente definidos: os que residem numa região ou em
outra; os que pertencem a uma classe social ou a outra; os que são mais jovens ou mais
velhos; os que são homens ou são mulheres; os que têm uma profissão ou outra etc.“

ABAURRE, M. B. M. e POSSENTI, S. Vestibular Unicamp: Língua Portuguesa.

Apenas prestando atenção, percebemos intuitivamente que uma língua não é


falada do mesmo modo por todos os seus falantes. Em particular, veremos o caso
da língua portuguesa, falada em Portugal, no Brasil, em Angola, Moçambique,
Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe; em regiões asiáticas como Macau,
Goa, Damão e Dio e em Timor Leste, na Oceania.

Além do fator geográfico, temos também a variação de ordem social do


falante, a situação em que ele deve falar ou escrever, etc.

67
Língua Portuguesa I

Sendo assim, podemos dizer que uma língua sofre variações de acordo com
cinco eixos, criados pelo linguista romeno Eugenio Coseriu, que são:

1º EIXO: a modalidade escrita e falada

2º EIXO: as variantes socioculturais – a norma culta e a norma coloquial

3º EIXO: as variantes regionais.

4º EIXO: as variantes de época.

5º EIXO: as variantes de estilo.

Não podemos esquecer de que, enquanto a linguagem em si mesma é um


fenômeno universalmente igual para todos, a língua se manifesta de maneira
diferente entre os falantes de uma mesma comunidade linguística, quer por fatores
de ordem interna como externa.

As línguas, portanto, manifestam a mesma capacidade humana de expressão,


mas há, por exemplo, maneiras típicas de falar relacionadas às regiões de um país –
principalmente o nosso, com essa dimensão continental –, às faixas etárias, aos
grupos e classes sociais, às situações em que nos encontramos, ao estilo individual
e até mesmo ao sexo, visto que, em algumas situações, há palavras que
contemplam mais o sexo masculino que o feminino.

Para tanto, existem as normas linguísticas. Algumas são mais livres e


espontâneas; outras mais rígidas, com “sanções” formais àqueles que infringem a
norma culta ou formal.

O gramático Adriano da Gama Kury (In: Novas lições de análise sintática. 2ª ed.
São Paulo: Ática, 1985.) tem uma frase que sintetiza todas essas variações de uma
língua dinâmica e potencialmente rica: “O bom falante é um poliglota em sua própria
língua”.

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Língua Portuguesa I

Vamos, então, analisar um a um os cinco eixos dessas variantes linguísticas:

1º Eixo: a modalidade escrita e falada


As diferenças entre o código escrito e o falado não podem ser ignoradas, visto
que, ao contrário da modalidade escrita, a falada tem uma característica marcante
que se fundamenta na profunda vinculação às situações em que é usada.
Normalmente, o contato entre os interlocutores é direto e, ao conversarem sobre
um determinado assunto, esses interlocutores elaboram mensagens marcadas por
fatos da língua falada. O vocabulário utilizado é fortemente alusivo, pois usamos
pronomes como eu, você, isso e advérbios como aqui, agora, cá, lá etc.

O código oral também conta com elementos expressivos que o código escrito
não contempla. Nesse caso, aparece a entonação, capaz de modificar totalmente o
significado de certas frases.

Sabemos que nem todas as sociedades do mundo têm domínio sobre a


modalidade escrita, mas todas as sociedades humanas fazem uso da modalidade
oral. A essas sociedades – como muitas das comunidades indígenas do Brasil –
damos o nome de sociedades ágrafas.

Já nas sociedades ditas letradas, podemos classificar a linguagem em três


categorias, que veremos mais adiante: temos a linguagem coloquial, a norma
culta ou padrão e a linguagem literária.

Mas, antes da classificação citada, vamos analisar, no quadro que se segue –


tirado de MESQUITA, Melo Roberto. Gramática da língua portuguesa. 8ª ed. rev.
atual. São Paulo: Saraiva, 1999 – as diferenças entre a língua falada e a língua
escrita:

69
Língua Portuguesa I

1
BORBA, Francisco da Silva. Introdução aos Estudos Linguísticos. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1975.p.262.

2º Eixo: as variantes socioculturais – a norma culta e a


norma coloquial
Quanto à variação da linguagem (quer falada, quer escrita), deparamo-nos
com alguns registros que merecem a nossa atenção:

1-LINGUAGEM COLOQUIAL OU NORMA POPULAR:

É a linguagem que empregamos em nosso cotidiano, em determinadas


situações que não exigem formalidade, com interlocutores que consideramos
“iguais” a nós no que diz respeito ao domínio da língua. Nesse tipo de linguagem,
não temos preocupação em falar “certo” ou “errado”, já que não somos obrigados a

70
Língua Portuguesa I

usar regras e o nosso objetivo é a transmissão da informação, dando prioridade à


expressividade.

2. NORMA CULTA OU NORMA PADRÃO:

Leia o que nos fala Magda Soares, em Linguagem e escola: uma perspectiva
social. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1986.

“Dialeto padrão: também chamado norma padrão culta, ou simplesmente norma


culta, é o dialeto a que se atribui, em determinado contexto social, maior prestígio; é
considerado o modelo – daí a designação de padrão, de norma – segundo o qual se
avaliam os demais dialetos. É o dialeto falado pelas classes sociais privilegiadas,
particularmente em situações de maior formalidade, usado nos meios de comunicação
de massa (jornais, revistas, noticiários de televisão etc.), ensinado na escola, e
codificado nas gramáticas escolares (por isso, é corrente a falsa ideia de que só o
dialeto padrão pode ter uma gramática, quando qualquer variedade linguística pode
ter a sua). É ainda, fundamentalmente, o dialeto usado quando se escreve (há,
naturalmente, diferenças formais que decorrem das condições específicas de produção
da língua escrita, por exemplo, de sua descontextualização). Efetuadas diferenças de
pronúncia e pequenas diferenças de vocabulário, o dialeto padrão sobrepõe-se aos
dialetos regionais, e é o mesmo, em toda a extensão do país”.

71
Língua Portuguesa I

3- A GÍRIA:

Segundo William Cereja (In: Gramática reflexiva: texto, semântica e interação.


São Paulo: Atual, 1999. p. 11), “a gíria é um dos dialetos de uma língua. Quase
sempre criada por um grupo social, como o dos fãs de ‘rap’, de ‘heavy metal’, o dos
que praticam certas lutas, como capoeira, jiu-jitsu etc.
Quando ligada a profissões, a gíria é chamada de jargão.
É o caso do jargão dos jornalistas, dos médicos, dos
dentistas e de outras profissões”.

Temos a gíria como uma contribuição da definição


da identidade de um grupo que a utiliza, às vezes, com
caráter contestador, como a dos jovens de uma
determinada geração funcionando como uma espécie
de meio de exclusão dos indivíduos externos ao grupo.
Algumas funcionam como transgressoras dos padrões
sociais vigentes e, por consequência da própria língua. Para ilustrar, leia o texto que
se segue:

TRUS MOSTRAM VITALIDADE DA GÍRIA EM SP

Termo derivado de truta (amigo, companheiro), é usual nas rodinhas de


estudantes.

Ficar na porta de uma escola paulistana na hora da saída de aula pode ser uma
experiência única. Para quem não faz parte da turma, compreender o que se diz é
tarefa pra lá de difícil. Meninos e meninas, com idade entre 13 e 17 anos, não
economizam em gírias das mais variadas e engraçadas, num código indecifrável:
E aí, tru?! Belê?
Sussu
-Vô na minha goma. Ta na fita?
- Se pá eu vou lá
- Cola lá. Falou?

72
Língua Portuguesa I

Trata-se do diálogo entre amigos. Um convida o outro para ir à sua casa. O que
foi convidado diz que talvez vá, mas não tem certeza. O outro reafirma o convite e
despede-se.

As gírias paulistanas, que nem sempre pegam ou viram mania nacional como
as do Rio, onde recentemente nasceram sangue bom, sarado e o ah! Eu tô maluco! ,
originam-se, segundo os jovens da capital, nos bailes funk e escolas e entre
praticantes de skate e de surfe.

Depois de criadas, elas podem ser ouvidas nas conversas de jovens de todas as
regiões da cidade. Além das já imortalizadas mina e ô, meu , são incontáveis as
expressões inventadas pela moçada. “Não sei explicar, mas minha goma é o mesmo
que minha casa”, diz Jonas Spindell, de 16 anos, estudante do Colégio Equipe, em
Pinheiros, zona oeste.

Só para falar – Escrever o que se diz é uma dificuldade. “Acho que sussu se
escreve assim, com dois esses”, arrisca Pedro Fiorino Barros, de 15 anos. “A gíria é
para ser dita e não escrita”, define Spindell.

Muitas vezes, elas têm dois ou mais significados ou são criadas a partir de
outras. Tru, por exemplo, vem de truta, que significa companheiro, amigo. Nos
últimos meses, os garotos têm pontuado suas frases com o tá ligado? Usam a
expressão no fim das frases para reafirmar uma ideia. “Tipo assim é outra coisa que
a gente fala muito”, diz Gabriela Gehrke, de 15 anos.

Colega de classe de Gabriela, Soraia Barbosa Cardoso, de 15 anos, é nova na


escola, mas já ganhou um novo repertório de palavras. “No outro colégio não se
falava tanta gíria”, diz. “É uma coisa que, quando a gente vê, já está falando.”

Há divergências na hora de empregar as palavras. Os meninos não saem mais


para azarar, mas para catar umas minas.

“Acho muito feio dizer isso”, diz Luísa Werneck, de 17 anos. Sua colega Renata
Lins Alves, de 15 anos, não se intimida em adaptar a expressão: “As meninas
podem dizer que vão catar uns manos.”

73
Língua Portuguesa I

“Procedê ” – Na escola Estadual Padre Manuel da Nóbrega, na Casa Verde,


zona norte, são as meninas que mais usam termos esquisitos, “Quando um cara
está interessado, mas não quero nada, digo: Ih! Parei com as drogas ”, diz Gabriela
Novaes do Amaral, de 15 anos.

“Surfar é o mesmo que transar , trocar um procedê é quando o cara quer ficar
com uma menina”, ensina Jaqueline de Oliveira Santos, de 14 anos. “Pá e tal,
derrepentemente também serve para dizer que a pessoa está a fim de ficar”,
completa Diana Chaves da Silva de 15.

FONTOURA, Cláudia. O Estado de S. Paulo, 5 out. 1997.

4- A LINGUAGEM DA INTERNET: a natureza interativa da internet, ao


contrário da televisão, tenta estimular o intercâmbio entre as pessoas, como
interlocutores das famosas “salas de bate-papos”. É bom ressaltar, entretanto, que
a língua escrita, na rede, assume uma forma peculiar, para a qual foi criado um
código misto, que faz uso de sinais capazes de expressar alegria, tristeza, choro,
dúvida, decepção etc.

Também lançam mão de abreviaturas, de início de palavras, de apenas uma


letra para significar muitas palavras e até frases. É bom lembrar, porém, que essa
linguagem serve apenas para incrementar a agilidade da conversação, mas nunca
para responder a questionário, enviar currículo, mandar mensagens de caráter
formal etc.

3º Eixo: variantes regionais

Também chamadas de variação geográfica ou dialetos, esse tipo de variante,


no Brasil, é bastante grande e facilmente notada. Caracteriza-se pela diferenciação
do acento linguístico – conjunto das qualidades fisiológicas do som no que tange
à altura, ao timbre, à intensidade – e por isso é um tipo de variante cujas marcas se
notam basicamente na pronúncia.

74
Língua Portuguesa I

Também percebemos essa variação geográfica no vocabulário, em certas


frases estruturadas de modo diferente e no sentido que algumas palavras
assumem em diversas regiões do país.

Também chamadas de dialetos, essas variantes regionais podem ser bem


distintas, quer no falar nordestino, pela abertura das vogais pré-tônicas; quer na
pronúncia dos gaúchos, que se caracteriza por uma entonação particular; quer na
maneira peculiar do carioca pronunciar o fonema “s” final das palavras
(normalmente, de modo chiado).

Ainda, chamamos atenção para as variações geográficas encontradas no


vocabulário. Basta percebermos o uso de expressões encontradas nas diferentes
regiões geográficas brasileiras, com toda a sua peculiaridade e distinção.

Da mesma maneira, as regiões urbanas e rurais possuem vocabulário e


pronúncias diferentes, além das expressões típicas que encontramos em cada uma
dessas localidades.

4º Eixo: as variantes de época

Sabemos que as línguas não são fixas, estáticas. Esse caráter dinâmico,
mutável é que nos apresenta palavras cujo uso está defasado, perderam o seu
sentido original, deram lugar a outras palavras; enfim, houve uma mudança
significativa que é registrada pelos livros escritos no início do século XVIII, em
contrapartida com os de hoje, por exemplo.

Para ilustrar esse tipo de variante, leia os trechos de dois textos de Carlos
Drummond de Andrade, que mostram como a língua vai mudando com o tempo:

75
Língua Portuguesa I

TEXTO 1: ANTIGAMENTE

Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e


prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os
janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa,
mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era
tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. (...) Os mais idosos, depois da
janta, faziam o quilo, saindo para tomar a fresca; e também tomavam cautela de
não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao
cinematógrafo, chupando balas de alteia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os
quais, de pouco siso, se metiam em camisas de onze varas, e até em calças pardas;
não admira que dessem com os burros n’água.

ANDRADE, Carlos Drummmond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988.

TEXTO 2: ENTRE-PALAVRAS

Entre coisas e palavras – principalmente entre palavras – circulamos. A maioria


delas não figura nos dicionários de há trinta anos, ou figura com outras acepções. A
todo momento impõe-se tomar conhecimento de novas palavras e combinações.

O malote, o cassete, o spray, o fuscão, o copião, a Vemaguet, a chacrete, o


linóleo, o nylon, o nycron, o ditafone, a informática, a dublagem, o sinteco, o telex
.... existiam em 1940?

Estão reclamando, porque não citei a conotação, o conglomerado, a


diagramação, o ideograma, o idioleto, o ICM, a IBM, o falou, as operações
triangulares, o zoom e a guitarra elétrica.

Não havia nada disso no jornal do tempo de Venceslau Brás, ou mesmo, de


Washington Luís. Algumas dessas coisas começam a aparecer sob Getúlio Vargas.
Hoje estão ali na esquina, para consumo geral. A enumeração caótica não é uma
invenção crítica de Leo Spitzer. Está aí, na vida de todos os dias. Entre palavras
circulamos, vivemos, morremos, e palavras somos, finalmente, mas com que
significado?

ANDRADE, Carlos Drummmond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988.

76
Língua Portuguesa I

5º Eixo: as variantes de estilo


Entendemos, aqui, as variações nos enunciados linguísticos que se relacionam
aos diferentes graus de formalidade do contexto de interlocução. Podemos
explicá-las, partindo do princípio de maior ou menor conhecimento e proximidade
entre os falantes. Em um dos pólos, tomando-o como eixo contínuo de
formalidade, temos as situações informais em que se manifesta a linguagem. No
outro extremo desse mesmo eixo temático, encontramos as situações formais de
uso da linguagem (por exemplo, as escolhas linguísticas caracterizando um
discurso feito em um Congresso).

Também podemos lembrar que as variações de estilo podem ocorrer em


relação aos escritores e poetas da nossa literatura. Mesmo sendo representantes de
um mesmo momento literário, encontramos autores com estilos bastante
diferentes. Como exemplo, podemos citar Manuel Bandeira e Mário de Andrade.

Podemos perceber, no decorrer dessa unidade, que, como todo bom falanteda
língua, devemos saber adequá-las às situações. Na unidade que se segue,
falaremos dos mecanismos de combinação e seleção da língua. Vamos lá?

Leitura complementar:
Aprofunde seus conhecimentos lendo:
BAGNO, Marcos. Português ou Brasileiro? - um convite à pesquisa. São Paulo:
Parábola Editorial, 2001.
BECHARA, Evanildo. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade? 8 ed. São
Paulo: Ática, 1995.
LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua
materna. 8 ed. São Paulo: Ática, 2002.

É HORA DE SE AVALIAR

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão


ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no
processo de ensino-aprendizagem.

77
Língua Portuguesa I

Exercício da unidade 5

1 – Leia o texto a seguir e assinale a alternativa incorreta em relação aos níveis da


linguagem:

O poeta da roça
(Patativa do Assaré)
Sou fio das mata, canto da mão grossa,
Trabaio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de paia de mio.

Sou poeta das brenha , não faço o papé


De argum menestré, ou errante canto
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando pachola, à percura de amô.

Não tenho sabença, pois nunca estudei,


Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.

Só canto o buliço da vida apertada,


Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora no peito.

78
Língua Portuguesa I

Eu canto o mindingo de sujo farrapo,


Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.

E assim, sem cobiça dos cofre luzente,


Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade.
Canto as verdade das coisa do Norte.

a) O texto apresenta uma linguagem coloquial que é a forma linguística que todo
povo civilizado possui, é a que assegura a unidade da língua nacional.

b) A questão em relação ao nível de linguagem é de adequação. Numa situação em


que se espera uma linguagem formal, é inadequado usar palavras ou expressões
que pertencem a outro nível de linguagem, como a gíria.

c) O texto é uma poesia, ou seja, é um texto que expõe as propostas criativas de um


poeta. A forma de língua pela qual o artista optou e a temática de sua poesia se
harmonizam.

d) As formas "fio", "mio", "paioça" (correspondem na língua culta a "filho", "milho" e


"palhoça" respectivamente) ou os plurais "das mata", "das brenha", "das roça e dos
eito", "dos home" e outros. As diferenças entre essas formas e aquelas da língua
culta têm sua lógica própria e os "erros" encontrados não são aleatórios.

e) A norma culta, forma literária que todo povo civilizado possui, é a que assegura a
unidade da língua nacional. Sendo mais espontânea e criativa, a língua popular se
afigura mais expressiva e dinâmica.

79
Língua Portuguesa I

2 – Leia o trecho e a seguir assinale a alternativa correta em relação aos níveis de


linguagem:

A uma pergunta ou comentário de um amigo, a futura mãe responde: "Quando


você tem apoio do marido durante a gravidez, você pode...". Todos entenderam.
Isolada, porém do contexto, e fora da situação em que foi proferida, a frase fica
estranha. O amigo tem marido? Pode engravidar? Tudo por causa daquele VOCÊ.

A questão é de adequação. Numa situação em que se espera uma linguagem


formal, é inadequado usar palavras ou expressões que pertencem a outro nível de
linguagem, como a gíria. Espera-se que cada pessoa, além do domínio da norma
culta, tenha capacidade e sensibilidade para apreciar a beleza e a expressividade
de outras modalidades da língua.

a) Aquela ali é uma perua. (nível formal ou coloquial)

b) Aquela senhora está muito enfeitada. (nível formal)

c) Houve uma grande confusão no colégio e muitos alunos entraram em atrito.


(nível formal)

d) Aconteceu um rebu na escola e o pau quebrou. (nível formal culto)

e) O diretor da escola advertiu todos os alunos que quebraram o pau na hora do


recreio lá na quadra. (nível coloquial formal)

3 – Leia o texto para responder o que se pede:

O matuto foi fazer uma consulta médica:


O médico pede:
– Tire a calça. E começa em seguida a examiná-lo.
– Mas o senhor está totalmente descalcificado!
– Claro! Foi o senhor que mandou.
(Ziraldo)

80
Língua Portuguesa I

Segundo o linguista Ferdinand de Saussure, a língua não existe senão em virtude


de uma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade. O
contexto criado por Ziraldo contraria esse conceito porque apresenta:

a) identificação da mensagem

b) decodificação da mensagem

c) diversificação no emprego do código.

d) sistematização do emprego do código.

e) estabelece o entendimento da mensagem.

4 – Leia as informações abaixo e marque a alternativa correta:

I – A gíria nasce em determinado meio social e se estende para a linguagem


familiar.

II – O registro vulgar da modalidade escrita carrega formas pertencentes ao registro


vulgar da modalidade oral.

III – O registro formal culto não se preocupa em seguir as normas gramaticais.

a) I e II estão corretas.

b) Somente a I está correta.

c) I, II e III estão corretas.

d) Somente a III está correta.

e) I e III estão corretas.

81
Língua Portuguesa I

5 – Qual o nível de fala predominante no texto seguinte?

Se o Congresso quiser ir a fundo deve aprovar, com urgência, medidas para acabar
com a corrupção estrutural da política brasileira. Deve tornar realista e transparente
a contribuição de empresários aos partidos.

(Folha de São Paulo)

a) nível técnico ou profissional

b) nível regional

c) nível coloquial-popular

d) nível formal-culto

e) gíria

6 – Leia o texto:

– Qual é o galho?

– Sei lá, meu! Só tava a fim de tirar um barato com a cara dela.

– Tá legal, já saquei qual é a sua.

a) nível regional

b) nível coloquial- popular

c) nível coloquial – popular (gíria)

d) nível regional

e) nível técnico

82
Língua Portuguesa I

Leia o texto:

Que boa ideia: empresa americana usa jatos que só têm primeira classe

Uma pequena companhia aérea americana abriu as portas no mês passado


com uma novidade que está despertando a curiosidade dos passageiros e
intrigando as empresas concorrentes. Na nova empresa, Legend Airlines, com sede
em Dallas, os aviões só têm primeira classe. Todos os passageiros que embarcam
em seus vôos viajam em poltronas de couro com 75 centímetros de largura, tomam
champanhe francês a bordo e assistem à TV por assinatura em monitores
individuais. Tudo pela tarifa econômica. (...)

Num mercado em que as companhias estão na pindaíba no mundo todo, a


experiência da Legend Airlines vem sendo acompanhada com lupa, pois pode
apontar um caminho de sobrevivência para o setor (...).
(Revista Veja, 10 de maio de 2000)

7 – Considerando o texto, é correto afirmar que a expressão que melhor identifica a


presença de linguagem coloquial é:

a) “a bordo”

b) “champanhe francês”

c) “assistem à TV”

d) “estão na pindaíba”

e) “Tudo pela tarifa econômica”.

83
Língua Portuguesa I

Leia o texto:

Cada vez que viam a mamãe andando com as mãos nos quadris e os pés abertos,
pisando para fora, os irmãos se entreolhavam e cantarolavam: ‘lá vem o pato, pato
aqui, pato acolá!’. A mamãe fingia que ia dar um pega neles, os dois saíam correndo
em disparada e ela sorria, contente. O barrigão estava demais, devia ser muito
pesado.

(WIDER, Maria Célia. Alguém viu passar uma imaginação? Ed. Brasiliense, 1ª edição, 2007)

8 – Baseado na leitura do texto acima, marque a alternativa que indica a presença


de linguagem coloquial:

a) “devia ser muito pesado”

b) “e ela sorria, contente”

c) “ia dar um pega neles”

d) “Cada vez que viam a mamãe”

e) “os irmãos se entreolhavam”

Texto para as questões 9 e 10.

Sketchs

Dois homens tramando um assalto.

– Valeu, mermão? Tu traz o berro que nóis vamo rendê o caixa bonitinho.
Engrossou, enche o cara de chumbo. Pra arejá.

– Podes crê. Servicinho manero. É só entrá e pegá.

– Tá com o berro aí?

– Tá na mão.

84
Língua Portuguesa I

Aparece um guarda.

– Ih, sujou. Disfarça, disfarça...

O guarda passa por eles.

– Discordo terminantemente. O imperativo categórico de Hegel chega a Marx


diluído pela fenomenologia de Feurbach.

– Pelo amor de Deus! Isso é o mesmo que dizer Kierkegaard não passa de um
Kant com algumas sílabas a mais. Ou que os iluministas do século 18...

O guarda se afasta.

– O berro, tá recheado?

– Tá.

– Então vamlá!

(VERISSIMO, Luis Fernando. As aventuras da família Brasil. O Estado de S. Paulo. 8 mar. 1998.)

Nesse ‘sketch’ (flagrante), de Luis Fernando Veríssimo, foram usados dois tipos
de registro.

9 – Como se classifica o primeiro registro? Comprove com dois exemplos do texto.

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Língua Portuguesa I

10 – Quais as características do segundo registro? Apresente dois exemplos do


texto.

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Língua Portuguesa I

6
Os Mecanismos de
Combinação e Seleção: A
Coerência - A Articulação
de Sentidos

Os mecanismos de combinação e articulação dos sentidos

A coerência textual

Os tipos de coerência textual: a coerência semântica, a coerência


sintática, a coerência estilística, a coerência pragmática

A diferença entre coerência global e coerência local

87
Língua Portuguesa I

Conforme falamos na unidade V, o assunto dessa semana trata de como


podemos combinar os elementos para a formação de um texto coeso, claro,
conciso e coerente.

Objetivo(s) da Unidade:

Compreender de que maneira os mecanismos de combinação e articulação


agem na língua como suporte para uma comunicação coesa, clara e coerente.

Plano da Unidade:

 Os mecanismos de combinação e articulação dos sentidos

 A coerência textual

 Os tipos de coerência textual: a coerência semântica, a coerência


sintática, a coerência estilística, a coerência pragmática

 A diferença entre coerência global e coerência local

Bons estudos!

88
Língua Portuguesa I

Os Mecanismos de Combinação e Seleção

Como você já deve ter percebido, escrever não é só colocar ideias no papel.
Até porque essas ideias não surgem do nada. Elas fazem parte do processo de
comunicação de que participamos e de todas as informações que nos chegam,
através de troca de experiências com seus interlocutores e muita, muita leitura.

Veja a manchete de um jornal de grande circulação nacional que publicou o


seguinte:

Professoras mandam carta a deputados protestando contra o aumento de


seus salários.

Repare que, da forma como a manchete foi redigida, o leitor poderia entendê-
la de dois modos diversos: as professoras, chateadas com o aumento insignificante
de seus salários, reclamam, protestando, através de uma carta, aos senhores
deputados; ou as professoras questionam o aumento de salário que os deputados
tiveram, comparando com o salário delas e escrevem-nos protestando.

Por que essa dupla interpretação aconteceu e acontece quando menos


esperamos?

Nesse caso, é o emprego do pronome “seus” o causador desse duplo sentido.


Podemos dizer que o pronome possessivo destacado também pode se referir tanto
aos salários das professoras como aos dos deputados.

Sendo o texto uma ‘unidade de sentido’, os elementos que o compõem


(palavras, orações, períodos) precisam se relacionar harmonicamente.

A estruturação de uma simples frase pode ser comparada com a articulação de


um esqueleto com seus ossos. Do mesmo jeito que uma articulação entre dois ou
mais ossos acontece, resultando num movimento, as palavras devem combinar
umas com as outras numa articulação de pensamentos, tornando o texto coeso,
com nexo. Não se esqueça de que nexo significa “ligação, vínculo”.

89
Língua Portuguesa I

Esse modo de estruturar o texto, a combinação e seleção das palavras para


evitar a falta de nexo, recebem o nome de mecanismos de coesão.

A coesão decorre das relações de sentido que se operam entre os elementos


de um texto. Também resulta da perfeita relação de sentido que tem de haver
entre as partes de um texto. Assim, o uso de conectivos é de grande importância
para que possa haver coesão textual.

Veja o significado da palavra conectivo, tirado do dicionário Michaellis


Eletrônico – Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, 2000.

co.nec.ti.vo adj (lat connect(ere) + ivo) Que liga, ou une. sm 1 Gram. Vocábulo
que estabelece conexão entre palavras ou partes de uma frase. Em português, são
conectivos: conjunções, pronomes relativos e preposições (Matoso Câmara Jr.).

Veja o texto que se segue:

“Além de ter liberdade para receber e transmitir informações é preciso que todos
sejam livres para manifestar opiniões e críticas sobre o comportamento do governo.
Não basta, porém, dizer na Constituição que essas liberdades existem. É preciso que
existam meios concretos ao alcance de todo o povo para a obtenção e divulgação de
informações, e por esses meios o povo participe constantemente do governo, que
existe para realizar sua vontade, satisfazer suas necessidades e promover a
melhoria de suas condições de vida”.

DALLARI, Dalmo de Abreu. In: Viver em sociedade. São Paulo: Moderna, 1985. p. 41.

Atente para o fato de que as orações que formam esse trecho apresentam uma
perfeita relação de sentido criada com a ajuda dos conectivos. Vamos analisar um a
um os períodos encontrados no texto transcrito acima para entender esses
mecanismos relacionais que os conectivos nos dão.

“Além de ter liberdade para receber e transmitir informações é preciso que todos
sejam livres para manifestar opiniões e críticas sobre o comportamento do governo”.

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Língua Portuguesa I

No 1º segmento, encontramos a locução conjuntiva ‘além de’, que introduz as


orações seguintes, ambas subordinadas adverbiais finais; ‘para receber e (para)
transmitir’, que por sua vez são coordenadas aditivas entre si, ou seja, têm a
mesma função.

Na 2ª oração “Não basta, porém, dizer na Constituição que essas liberdades


existem”, a conjunção destacada indica contradição, oposição ou restrição ao que
foi dito na oração anterior.

Já, no último segmento do texto, no trecho sublinhado, encontramos o


pronome relativo que retomando o substantivo governo da oração anterior e que
aparece como oração principal de três outras orações subordinadas a ela, também
com o sentido de finalidade – para realizar sua vontade; (para) satisfazer suas
necessidades e (para) promover a melhoria de suas condições de vida.

Veja o trecho agora, por inteiro:

‘É preciso que existam meios concretos ao alcance de todo o povo para a obtenção
e divulgação de informações, e por esses meios o povo participe constantemente do
governo, que existe para realizar sua vontade, satisfazer suas necessidades e
promover a melhoria de suas condições de vida’

Repare que trabalhamos com os conectores (outro nome para os conectivos)


visando à perfeita relação de sentido que deve haver entre as partes que compõem
um texto.

Sendo os conectivos elementos que relacionam partes de um discurso,


estabelecendo relações de significado entre essas partes, possuem valores
próprios, uns exprimindo finalidade, outros, oposição; outros, escolha e assim por
diante.

A seleção vocabular é também um importante mecanismo coesivo e a


estamos empregando quando substituímos uma palavra que já foi usada por outra
que lhe retoma o sentido. Podemos usar sinônimos, pronomes (retos ou oblíquos),
pronomes relativos etc.

91
Língua Portuguesa I

Esse mecanismo seletivo, além de dar coesão ao texto, tem função estilística,
pois permite que as palavras não sejam repetidas.

De maneira geral, podemos dizer que temos um texto coerente e coeso


quando este não contém contradições, o vocabulário utilizado está adequado, as
afirmações são relevantes para o desenvolvimento do tema, os fatos estão
corretamente sequenciados; ou seja, o texto deverá estar constituído de relações
de sentido entre os vocábulos, expressões e frases e do encadeamento linear das
unidades linguísticas no texto.

O inverso é verdadeiro e podemos dizer que não haverá coesão quando, por
exemplo, empregarmos conjunções e pronomes de modo inadequado, deixarmos
palavras ou até frases inteiras desconectadas e quando a escolha vocabular foi
inadequada, levando à ambiguidade, entre outros problemas.

Aconselhamos que, para se perceber a falta de coesão no texto produzido por


você, o melhor que se tem a fazer é lê-lo atentamente, estabelecer as relações
entre as palavras que o compõem, as orações que formam os períodos e, por fim,
os períodos que formam o texto.

Como você pôde notar a coesão e a coerência textuais são elementos


facilitadores para a compreensão perfeita de um texto.

Conforme falamos anteriormente, o assunto aqui, ainda diz respeito à


coerência textual. Falaremos de como a coerência se manifesta em um texto.

Vejamos a acepção do vocábulo coerência, retirado do Dicionário Houaiss da


Língua Portuguesa – Eletrônico/2001.
CO.E.RÊN.CIA
■ substantivo feminino.
1. qualidade, condição ou estado de coerente.
2. ligação, nexo ou harmonia entre dois fatos ou duas ideias; relação harmônica,
conexão.
3. congruência, harmonia de uma coisa com o fim a que se destina.
4. uniformidade no proceder, igualdade de ânimo.

92
Língua Portuguesa I

Como você deve ter percebido, coerência diz respeito a tudo que se
harmoniza entre si, que tem ligação. O conceito da palavra se relaciona à presença
de conexão, de nexo entre as ideias. Isso porque buscamos sempre a existência de
sentido, seja ao refletirmos sobre algo; ao interpretarmos o que nos rodeia; ou ao
tentarmos compreender o conteúdo daquilo que nos é apresentado em forma de
texto escrito.

Para que possamos exemplificar as acepções do vocábulo, na prática, leia o


texto que se segue e que consiste em uma redação de um vestibulando, cujo
conteúdo, como veremos ao lê-lo, é truncado e, por vezes, há a necessidade da
retomada da leitura para a sua melhor compreensão.

“Felicidade é um viver como aprendiz. É retirar de cada fase da vida uma


experiência significativa para o alcance de nossos ideais.

É basear-se na simplicidade do caráter ao executar problemas complexos; ser


catarse permanente de doação sincera e espontânea.

A felicidade, onde não existem técnicas científicas para sua obtenção, faz-se de
pequenos fragmentos captados de sensíveis expressões vivenciais. Cada dia traz,
inserido na sua forma, um momento cujo silêncio sussurra no interior de cada vivente
chamando-o para a reflexão de um episódio feliz”.
Vestibular – Universidade Federal de Uberlândia apud KOCH, Ingedore Villaça e TRAVAGLIA,
Luiz Carlos.A coerência textual. São Paulo: Contexto, 2001. p. 36

Assim, podemos inferir que o uso de algumas expressões compromete o


entendimento do texto. Como exemplo, citamos “simplicidade do caráter ao
executar problemas complexos” e “ ser catarse permanente de doação sincera e
espontânea ”. Também, o pronome relativo ‘ onde ' – indicativo de lugar – na
oração “A felicidade, onde não existem técnicas científicas para sua obtenção... ” está
completamente inadequado. Até a construção inversa da frase, compromete-a.

93
Língua Portuguesa I

Mesmo tendo uma incoerência, causada pelo mau uso de elementos


linguísticos, conseguimos detectar o tema e o assunto do texto. Portanto, essa
incoerência não impede totalmente a sua compreensão.

Sendo assim, a coerência textual é um processo que inclui dois fatores


básicos:

1º) o conhecimento que o emissor e o receptor têm do que está sendo tratado no
texto;

2º) o conhecimento que têm da língua usada: a tipologia textual, o vocabulário, os


recursos da estilística etc.

É claro que o tipo de texto influencia no processo da construção de sentido. Os


textos literários e publicitários, por exemplo, manifestam a coerência de um modo
diferente da coerência de um texto dissertativo, em que os recursos linguísticos
devem facilitar a compreensão do assunto. Um poeta não precisa desses
mecanismos da linguagem, pois o sentido de um texto literário não tem o
compromisso de contemplar o raciocínio lógico-argumentativo de uma
dissertação.

No texto do anúncio publicitário que se segue,


retirado da Revista Set, nº 1/1998, há uma incoerência
semântica, quando se inverte o sentido dos verbos (‘ler
o filme, ver o livro, assistir (a)o disco ').

Porém, sendo um texto publicitário, esse ‘ jogo de


sentidos ' denota a criatividade, a ousadia,
características da sedutora linguagem da propaganda.

É bom observar também que há um erro de


ordem gramatical na oração ‘ assista o disco '. O verbo
assistir, no sentido de ver, presenciar, pede objeto
indireto; portanto, segundo a NGB (Norma Gramatical
Brasileira) seria ‘ assista ao disco '.

94
Língua Portuguesa I

As autoras Marina Ferreira e Tânia Pellegrini – em seu livro Redação: palavra e


arte . São Paulo: Atual, 1999 – fazem uma chamada na p. 221 que vale a pena
reproduzir:

“Quando você estiver lendo um texto qualquer; veja se é capaz de falar sobre seus
pontos mais importantes, se consegue discorrer sobre ele, ligando uma ideia à outra,
numa sequência lógica. Se não conseguir, é porque ainda não compreendeu esse texto.
Nesse caso, tente identificar se sua dificuldade reside nos termos empregados, na
organização das frases ou no próprio assunto debatido. Leia, então, de novo, uma vez,
outra, até entender.

E ao escrever sua redação, antes de passá-la a limpo, observe se há continuidade


no desenvolvimento das ideias, se uma ‘puxa' a outra, se você as percebe globalmente,
como um todo, se não há contradições, enfim, se é um texto coerente. E lembre-se de
que fazer rascunhos é muito importante para o exercício da coerência.”

A coerência textual tem basicamente a ver com as condições para se


estabelecer um sentido em um determinado contexto. Sendo assim, coerência
textual é a relação harmônica que se dá entre as partes de um texto, em um
contexto específico, sendo responsável pela percepção de uma unidade de
sentido.

Para detectarmos se um texto (ou ainda uma gravura, uma pintura, uma
escultura) é coerente ou incoerente, teremos que levar em conta o contexto em
que foi feito. Queremos deixar claro que nada é incoerente por si só. Algumas
passagens textuais (quer orais, quer escritas) apresentam incoerência por falta de
habilidade do emissor no uso da língua, em seus diversos níveis. Muitas vezes, ao
indicarmos alguma incoerência ou contradição na fala ou no texto escrito por
alguém, ouvimos: “Não foi bem isso que eu quis dizer!”, “Eu escrevi isso? ”.

No livro A coerência textual (Contexto, 1996), Ingedore V. Koch e Luiz Carlos


Travaglia tratam dos vários níveis em que esta se manifesta.

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Língua Portuguesa I

1. COERÊNCIA SEMÂNTICA: diz respeito à relação entre os significados dos


elementos das frases, em sequência, em um texto ou entre os elementos de um
texto como um todo.

A contradição de sentidos também compromete a coerência semântica, como


podemos perceber no exemplo que se segue:

“A frente da casa de vovó é voltada para o leste e tem uma enorme varanda.
Todas as tardes, ela fica na varanda em sua cadeira de balanço apreciando o pôr-do-
sol. ”

Assim, a posição da frente da casa e o fato da avó ver o pôr-do-sol são


contraditórios, visto que o sol se põe a oeste e a localização da casa está no leste.

2. COERÊNCIA SINTÁTICA: trata dos meios sintáticos para expressar a


coerência semântica, ou seja, o uso de conectivos, pronomes, sintagmas nominais.
A coerência sintática nada mais é do que um dos aspectos da coesão.

3. COERÊNCIA ESTILÍSTICA: responde pelo fato de um usuário empregar em


seu texto elementos linguísticos pertencentes ao mesmo registro linguístico. Seria,
por exemplo, incoerente, o uso de gíria em textos acadêmicos.

4. COERÊNCIA PRAGMÁTICA: tem a ver com o texto visto como uma


sequência do ato de falar. Os atos da fala devem satisfazer às condições presentes
em uma dada situação comunicativa. Isso quer dizer que, se um amigo faz um
pedido a outro, este deverá responder algo que esteja dentro do “contexto”, ou
seja, dentro de uma situação de comunicação.

Veja, como exemplo, um diálogo com incoerência pragmática, para que você
possa entender melhor esse aspecto:

 Você pode me emprestar seu livro do Guimarães Rosa?

 Hoje eu comi um chocolate que é uma delícia.

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Língua Portuguesa I

Existe, também, uma distinção importante que deve ser citada aqui. É a
diferença entre coerência global – propriedade tomada em um texto como um
todo e a coerência local , que pode ser percebida em sequências textuais menores.
Muitas vezes, o fato de ocorrer incoerência de ordem local em um texto não
significa que o mesmo foi prejudicado como um todo, pois podemos entender a
sua mensagem, mesmo com trechos incoerentes.

Sendo assim, concluímos que a coerência é resultado da não-contradição


entre os diversos segmentos textuais.

Reiteramos que enquanto a coesão existe no plano linguístico, isto é, nas


relações semânticas e gramaticais entre as partes de um texto, a coerência se
estende para o plano das ideias, dos conceitos.

Na próxima unidade falaremos dos "nós linguísticos do texto" e de que


maneira podemos controlá-los através de mecanismos coesivos.

Leitura complementar:

Aprofunde seus conhecimentos lendo:

FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 8ed. São Paulo: Ática,
2000.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. & TRAVAGLIA, Luis Carlos. A coerência


textual. 9 ed. São Paulo: Contexto, 1999. (Repensando a Língua Portuguesa).

ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. 11 ed. São Paulo: Ática, 2001.

É HORA DE SE AVALIAR

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão


ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no
processo de ensino-aprendizagem.

97
Língua Portuguesa I

Exercício da unidade 6

1 – “Ainda que tenha estudado muito, o resultado da prova foi desanimador”. A


afirmativa que mantém a mesma relação semântica do período é:
a) Apesar de estudar muito, não alcançou o objetivo.

b) Estudou muito, e alcançou o objetivo.

c) Se tivesse estudado muito, alcançaria o objetivo.

d) À medida que estudava, alcançava resultados equivalentes.

e) Não alcançou o objetivo, uma vez que não estudara bastante.

Leia o texto abaixo para responder à questão proposta:

JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
E agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
E agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia

98
Língua Portuguesa I
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

(Carlos Drummond de Andrade)

99
Língua Portuguesa I

2 – Nos períodos: “Se você gritasse/ se você gemesse/ se você tocasse a valsa
vienense/ se você dormisse/ se você cansasse/ se você morresse...” o conectivo nos
apresenta a ideia de:
a) conclusão.

b) restrição.

c) adversidade.

d) condição.

e) proporcionalidade.

3 – O domínio da linguagem escrita é um processo constante, que se inicia com a


entrada do indivíduo na escola aprendendo a entender e interpretar
coerentemente a realidade através de formas estabelecidas. Assim, observe:

Li o livro no fim de semana. Você me deu esse livro.

A seguir, propomos as opções de frases para você escolher a que melhor se


enquadra num processo coerente e aceito:
a) Li o livro no fim de semana que você me deu.

b) Li o livro no fim de semana, cujo você me deu.

c) No fim de semana, você me deu o livro que li.

d) Li o livro que você me deu, no fim de semana.

e) Li o livro, que você me deu no fim de semana.

4 – Leia o período com atenção:

E os amigos também hão de sorrir, quase enternecidos, participando um


pouco de sua glória, pois é inexplicavelmente tocante ser amigo de alguém cujo
pai se encontra longe.

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Língua Portuguesa I

A relação lógica expressa pelo conectivo “pois” é de:


a) adversidade
b) conclusão
c) explicação
d) consequência
e) adição

5 – Abaixo são apresentados cinco temas sobre o mesmo assunto. Numere-os de 1


a 5, ordenando-os do mais amplo para o mais delimitado e assinale a alternativa
que contempla a numeração correta.
( ) A televisão.
( ) Influência da televisão no comportamento social.
( ) Influência da televisão sobre as crianças.
( ) Efeito da televisão.
( ) A violência na televisão e seus efeitos no comportamento das crianças.

a) 2 – 1 – 4 – 5 – 3
b) 3 – 2 – 1 – 5 – 4
c) 1 – 3 – 4 – 2 – 5
d) 5 – 1 – 3 – 4 – 2
e) 1 – 3 – 2 – 4 – 5

6 – Na frase “O livro da moça que caiu da mesa”, ocorre:


a) pontuação incorreta.
b) ambiguidade.
c) imprecisão vocabular.
d) omissão de termos.
e) coerência sintática.

101
Língua Portuguesa I

7 – Coesão é a “amarração” entre as várias partes de um texto, isto é, a união íntima


entre as partes de um todo e os principais elementos de coesão são os conectivos
(preposições, pronomes, conjunções e advérbios).

Baseado na conceituação acima, assinale a alternativa que corresponde à melhor


redação, considerando correção, clareza e concisão.

a) Não me lembro o tempo que eu nasci, onde não me vi e não sei o que se passou.

b) Não me vi nascer, não me recordo de nada que se passou naquele tempo.

c) Eu não vi o meu nascimento, porquanto, não recordo do que passou naquele


tempo.

d) O que passou-se no momento onde nasci, não me lembro, visto que não vi-me
nascendo.

e) Não assisti eu nascer, por isso não me recordo nada do que passou-se naquele
tempo.

8 – Se juntarmos as duas orações num só período, usando um elemento de coesão,


teremos:

I – Apresento-lhe Lúcia.

II – Faço tudo por um sorriso de Lúcia.

a) Apresento-lhe Lúcia, a quem faço tudo por um sorriso dela.

b) Apresento-lhe Lúcia, que pelo sorriso dela faço tudo.

c) Apresento-lhe Lúcia, a qual faço tudo pelo seu sorriso.

d) Apresento-lhe Lúcia, cujo sorriso faço tudo por ele.

e) Apresento-lhe Lúcia, por cujo sorriso faço tudo.

102
Língua Portuguesa I

9 – Nos trechos abaixo, a ordem que foi dada às palavras, nos enunciados, provoca
efeitos semânticos (de significado) “estranhos”. Reescreva as frases de modo que as
ideias fiquem coerentes e não admitam mais de uma interpretação.

a) “Fazendo sucesso com a sua nova clínica, a psicóloga Iracema Leite Ferreira
Duarte, localizada na rua Campo Grande, 159.”

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b) “Embarcou para São Paulo Maria Helena Arruda, onde ficará hospedada no
luxuoso hotel Maksoud Plaza.”

(Notícias da coluna social do Correio do Mato Grosso, 28 ago. 1998)

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103
Língua Portuguesa I

10 – Os textos seguintes são trechos de redações de alunos citados por Maria


Thereza Fraga Rocco em seu livro Crise na linguagem; a redação no vestibular. Neles
há incoerências. Aponte-as e comente-as.

a) “Pela tarde chegou uma carta a mim endereçada, abri-a correndo sem nem
tomar fôlego. O envelope não tinha nada dentro, estava vazio. Dentro só tinha uma
folha, em branco.”

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b) “Eu não ganhei nenhum presente, só ganhei uma folha em branco, meu retrato
de pôster e um disco dos Beatles.”

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104
Língua Portuguesa I

7 A coesão textual – Os “nós”


linguísticos do texto

A coesão referencial: os processos de substituição de elementos e de


reiteração de elementos

A coesão recorrencial: recorrência de termos, paráfrase, recursos


fonológicos, elipse

A coesão sequencial: a condicionalidade, a causalidade, a implicação


lógica e a explicação ou justificativa

105
Língua Portuguesa I

Abordaremos – ainda dentro da Coesão Textual – os elementos coesivos, ou


seja, o controle dos “nós” linguísticos através dos mecanismos coesivos.

Um ótimo estudo para você!

Objetivo(s) da Unidade:

Levar os alunos a conhecer e aplicar os elementos coesivos de que dispomos


em nossa língua, a fim de produzir um texto coeso e coerente.

Plano da Unidade:

 A coesão referencial: os processos de substituição de elementos e de


reiteração de elementos

 A coesão recorrencial: recorrência de termos, paráfrase, recursos


fonológicos, elipse

 A coesão sequencial: a condicionalidade, a causalidade, a implicação


lógica e a explicação ou justificativa

Bons estudos!

106
Língua Portuguesa I

Sendo a coesão uma das marcas fundamentais da textualidade, ela pode


ocorrer através de alguns mecanismos que iremos abordar aqui.

Temos três tipos de coesão: a coesão referencial, a coesão recorrencial e a


coesão sequencial .

Coesão Referencial

Acontece quando um elemento da sequência textual se remete a outro


elemento do mesmo texto, substituindo-o.

Ex.: Encontrei o livro que tanto procurava. Ele estava guardado na estante.

Ainda dentro da coesão referencial temos:

1.1 A substituição de um elemento por outro: dá-se nas seguintes situações:

 Nas formas pronominais:

a) Pronomes pessoais de terceira pessoa.

Ex.: Os meninos saíram cedo da escola. Eles foram treinar para o torneio de futebol.

b) Pronomes indefinidos:

Ex.: O aluno e a mãe foram chamados à direção da escola, mas ninguém


compareceu.

c) Pronomes possessivos:

Ex.: Cássio levou um livro de suspense para a escola, porém quis ler o meu .

107
Língua Portuguesa I

d) Pronomes demonstrativos:

Ex.: Márcia experimentou uma saia azul escura, mas decidiu comprar aquela .

e) Pronomes Interrogativos:

Ex. Celso, Ricardo e Tânia depuseram na Delegacia, entretanto quem disse a


verdade?

f) Pronomes Relativos:

Ex. Todos os alunos que foram convocados compareceram à reunião.

 Nas formas verbais: nesse caso, encontramos os verbos fazer e ser


referindo-se a todo o predicado da frase; não somente ao verbo.

Ex.: A professora de Português corrigiu todas as provas, mas a de


Matemática não pode fazer o mesmo.

 Nas formas adverbiais: substitui a circunstância indicada pelo advérbio


presente.

Ex.: A garota saía cerca de três vezes por mês; seu irmão, nunca .

 Nas formas numerais: são usadas para substituir tudo aquilo que pode
ser mensurável.

Ex.: O pai premiou o filho com duas surpresas; a primeira delas era um
computador novo.

Já li trinta páginas desse livro, mas amanhã pretendo ler o dobro .

1.2 Reiteração de elementos do texto:

 As repetições do mesmo termo:

a) De forma idêntica:

Ex.: Comprou um lindo carro, mas o carro não era novo.

108
Língua Portuguesa I

b) Com um novo determinante:

Ex.: Comprou um lindo carro, mas esse carro estava batido.

c) De forma abreviada:

Ex. A Fundação Nacional do Índio quer combater os maus garimpeiros;


portanto a FUNAI controla as terras indígenas.

d) De forma ampliada:

Ex.: O IBGE divulgou ontem alguns gráficos sobre a nossa economia; porém, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística não falou dos índices de inflação.

e) Com palavra cognata:

Ex.: Sabemos que passear é ótimo e muitos passeios são, ao mesmo tempo,
fonte de cultura.

 Os sinônimos ou quase-sinônimos:

a) Uso de hipônimos:

Ex.: Houve um acidente envolvendo três veículos ; os carros tiveram que ser
rebocados.

b) Uso de hiperônimos:

Ex.: Recebi um buquê de rosas amarelas; as flores estavam lindas!

c) Nomes genéricos:

Ex.: Comprei legumes, verduras, frutas e muitas outras coisas .

109
Língua Portuguesa I

d) Termos-símbolos:

Ex.: Durante o filme vimos os nazistas em ação; a cruz da suástica estava


sempre presente.

Apostos:

Ex.: Pelé, rei do futebol, foi também Ministro dos Esportes.

A Coesão Recorrencial

Tem como característica a repetição de um elemento anterior como alusão a


um mesmo referente. Esse tipo de coesão se dá pela:

 Recorrência de termos:

Ex.: Ricardo tremia, tremia, tremia...

 Paralelismo: refere-se à recorrência da mesma estrutura sintática.

Ex.: Amor escondido, dinheiro no banco e sol na segunda-feira nos trazem


insatisfação.

 Paráfrase: consiste na recorrência de conteúdos semânticos marcada por


expressões chamadas de introdutórias como isto é; ou seja; quer dizer;
digo; ou melhor; em outras palavras etc.

Ex.: Ele ainda não chegou até esse momento; isto é, não deve vir mais.

 Recursos Fonológicos: faz uso de palavras que tenham sons idênticos,


ou quase, para dar ideia de rima.

110
Língua Portuguesa I

Ex.: Os problemas do Brasil são a corrupção, a inflação, a falta de feijão e a


alienação.

 A elipse: é a omissão de um termo que o contexto identifica com


facilidade.

Ex.: Tudo o que queremos não é só o seu sucesso, mas a sua felicidade. ( Seria o
mesmo que dizer: ‘Tudo o que queremos não é só o seu sucesso, como (queremos
também) a sua felicidade ).

A Coesão Sequencial

Para esse tipo de coesão, fazemos uso de termos pertencentes ao mesmo


campo semântico por meio de novos acréscimos ao texto. Estes se dão através da:

 Condicionalidade:

Ex.: Caso ele apareça , mande-o me procurar.

 Causalidade:

Ex.: Todos se interessaram pelo livro, porque falava de um assunto dado em


aula.

 Implicação Lógica:

Ex.: Existe apenas um jeito de conseguir novamente a sua confiança: falando-


lhe toda a verdade.

 Explicação ou Justificativa:

Ex.: A prova estava fácil, pois todas as questões foram comentadas em sala-
de-aula.

111
Língua Portuguesa I

Chegamos ao final desta unidade. Mas não paramos por aqui! Na próxima,
falaremos sobre os sentidos das palavras. Vamos lá?

Leitura complementar

Aprofunde seus conhecimentos lendo:

VALENTE, André Crim. A linguagem nossa de cada dia. Petrópolis: Vozes, 1997.

GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna. 18ed. Rio de Janeiro:


FGV, 2001.

É HORA DE SE AVALIAR

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão


ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de
ensino-aprendizagem.

112
Língua Portuguesa I

Exercício unidade 7

1 – Leia o período abaixo:

Procurei a caneta por todo o quarto. Ela estava dentro do caderno.

Nele, temos um tipo de coesão:

a) recorrencial

b) textual

c) referencial

d) frasal

e) sequencial

2 – A alternativa abaixo que apresenta um exemplo de coesão por paralelismo é:

a) Eu preciso soltar a minha voz, mas quem irá me ouvir?

b) Eu quero lutar. Vitória, venha até a mim!

c) Eu creio em Deus. É impossível não crer!

d) É preciso lutar. É preciso vencer.

e) Se Deus é brasileiro, quem sou eu para negar a minha Pátria?!

3 – Sabendo que reescrever um texto ou parafraseá-lo é, antes de tudo, ser capaz


de entender e preservar as ideias originais, encontre a melhor paráfrase da oração a
seguir:

Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele
que ficasse em Coimbra...

113
Língua Portuguesa I

a) malgrado os esforços de el-rei para que ficasse em Coimbra.

b) ainda que não pudesse el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra.

c) mas não pôde el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra.

d) para que el-rei não pudesse convencê-lo a ficar em Coimbra.

e) já que el-rei tentou convencê-lo a ficar em Coimbra

4 – Leia com atenção o trecho a seguir.

Texto bíblico

Pai, se queres, afasta de mim este cálice!

Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita!

(Lucas, 22) In: Bíblia de Jerusalém.

A frase “Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita!” contém dois
conectivos adversativos. O conectivo mas estabelece coesão entre a oração “a tua
[vontade] seja feita” e a oração “não [seja feita] a minha vontade”. O conectivo
contudo estabelece coesão entre:

a) a oração implícita “[se não queres]” e a oração “não [seja feita] a minha vontade.”

b) a oração “se queres” e a oração “não [seja feita] a minha vontade.”

c) a oração “afasta de mim este cálice!” e a oração “a tua [vontade] seja feita.”

d) a oração implícita “[se não queres]” e a oração “a tua [vontade] seja feita.”

e) a oração “a tua [vontade] seja feita” e a oração “não [seja feita] a minha vontade.”

114
Língua Portuguesa I

5 – No texto abaixo, a repetição do pronome “que” é uma importante marca de


coesão textual, pois implica o conteúdo de todas as alternativas seguintes,
excetuando-se:

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo

Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

Que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento.

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

Que não tinha entrado na história.

(ANDRADE, Carlos Drummond de, in: Antologia Poética, 12 ed. Rio de Janeiro. José Olympio,
1978. p. 136)

a) permite ao enunciador evitar rodeios linguísticos.

b) faz retomada de elemento linguístico anterior.

c) evita a repetição de algum termo anterior.

d) representa o desencontro entre pares dançantes.

e) projeta-se como sujeito da oração posterior.

115
Língua Portuguesa I

6 – A respeito de coesão, marque a alternativa improcedente:

a) manifesta-se por meio de pronome, verbos e elipses, dentre outros meios.

b) tem função de clarificar um texto.

c) impossibilita a formação de nexos linguísticos em um texto.

d) faz parte da superfície de um texto.

e) auxilia na construção da coerência textual.

7 – Leia:

A crise cria um suspense, a vida fica mais excitante.

A crise é um thriller.

A crise estimula a inteligência.

A crise é assunto. Todos escrevem sobre a crise, como se fosse uma musa, uma
mulher.

(JABOR, Arnaldo. “A crise é a salvação de muitos brasileiros”. Os canibais estão na sala de


jantar. São Paulo: Siciliano, 1993, p.65. – fragmento).

O trecho de Arnaldo Jabor é exemplo de:

a) coesão referencial.

b) coesão por substituição.

c) coesão sequencial.

d) coesão por reiteração.

e) coesão por oposição.

116
Língua Portuguesa I

8 – A coesão _____________ é aquela que cria, no interior do texto, um sistema de


palavras e expressões, permitindo que o leitor identifique os referentes sobre os
quais se fala no texto.

a) sequencial.

b) referencial.

c) substitutiva.

d) reiterativa.

e) opositiva.

9 – Em uma rodovia encontramos uma placa de trânsito em que aparece os


seguintes dizeres:

PEDESTRE: REDUZA A VELOCIDADE

Nesse flagrante, fica evidente que a placa apresenta problemas de redação. Corrija
o texto conforme as solicitações abaixo, realizando adaptações, se necessário:

a) dirigindo-se ao pedestre:

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

b) dirigindo-se ao motorista do veículo:

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

117
Língua Portuguesa I

10 – Em cada um dos textos que se seguem, a primeira ocorrência de um vocábulo


está destacada. Identifique os outros vocábulos que repetem esse elemento
destacado ao longo do texto:

a) “Um amigo na vida é muito. Dois é demais. Três é impossível. A amizade


necessita de certo paralelismo de vida, uma comunhão de pensamentos, uma
emulação de fins.” (Adams)

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

b) “Um livro é um cérebro que fala; fechado, um amigo que espera; esquecido, uma
alma que perdoa; destruído, um coração que chora...” (provérbio indiano)

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

118
Língua Portuguesa I

8
A Semântica: o sentido
das palavras: conotação e
denotação

O valor denotativo ou referencial

O valor conotativo ou figurado

A relação entre o sentido e o contexto no plano das significações: o


sentido literal e o sentido figurado

119
Língua Portuguesa I

Você já parou para pensar que uma mesma palavra pode apresentar diferentes
sentidos, dependendo do contexto em que está inserida? Que tal falarmos sobre
isso agora!

Então, mãos a obra!

Objetivo(s) da Unidade :

Levar os alunos a conhecer e aplicar os elementos coesivos de que dispomos


em nossa língua, a fim de produzir um texto coeso e coerente.

Plano da Unidade:

 O valor denotativo ou referencial

 O valor conotativo ou figurado

 A relação entre o sentido e o contexto no plano das significações: o


sentido literal e o sentido figurado

Bons estudos!

120
Língua Portuguesa I

A Semântica: O Sentido das Palavras

A Semântica é o estudo da significação das palavras. Aqui, é bom que


esclareçamos que as palavras e os enunciados de uma língua natural transitam por
dois eixos de significação: o eixo denotativo ou referencial e o eixo conotativo ou
afetivo.

Dizemos que uma palavra ou enunciado tem valor denotativo quando é


utilizada em seu sentido literal, isto é, aquele que aparece como a primeira (e
segunda) acepção de um vocábulo no dicionário de língua. Portanto, esse sentido
comum caracteriza os textos chamados de textos informativos , quer estejam na
modalidade oral, quer estejam na modalidade escrita.

Em contrapartida, dizemos que um


vocábulo tem valor conotativo quando o seu
sentido não é tomado literalmente, e sim
modificado ou até mesmo ampliado por quem
o estiver usando. O objetivo para esse uso é
obter um efeito particular em um contexto
específico.

Vamos exemplificar o que acabamos de relatar com o vocábulo noite. Para


tanto, reproduziremos as acepções da palavra, guiando-nos pelo Dicionário
Eletrônico de Antônio Houaiss – 2001.

noi. te (substantivo feminino)

1. tempo que transcorre entre o ocaso e o nascer do sol, em determinado lugar da


Terra, de outro planeta ou de um satélite [Nas regiões terrestres situadas no
equador, a noite vai das 18h do dia anterior até as 6h do dia seguinte, o que, nas
outras latitudes, só ocorre nos equinócios.

2. horário em que está escuro, por falta da luz solar, e em que geralmente. as
pessoas descansam ou dormem.

121
Língua Portuguesa I

3. Derivação: por extensão de sentido: ausência de claridade; escuridão, trevas.

4. Derivação por metáfora: estado de dor, desesperança; tristeza, melancolia,


abatimento.

5. Derivação: sentido figurado. falta da visão; cegueira.

6. Derivação: por metáfora: falta de estudos, de cultura, com predomínio do


preconceito e das superstições; ignorância, obscurantismo.

Poderíamos, por conseguinte, formular frases, em que o vocábulo aparecesse


com a primeira acepção e, portanto, com o valor denotativo :

As noites de inverno são mais longas que as de verão .

ou

Passei a noite toda tossindo e quase não consegui dormir.

Já, nas frases que se seguem, o mesmo vocábulo aparece com acepções cujos
valores fogem dos literais e são ampliados em estruturas diferenciadas. Estamos
diante do valor conotativo da palavra.

Sua vida tornou-se uma noite sem fim com a morte do filho.

No Renascimento, o mundo emerge da noite medieval.

Por exemplo, na 1ª frase, o vocábulo destacado aparece com a acepção


número 4: estado de dor, desesperança; tristeza, melancolia, abatimento.

Na segunda oração, noite aparece com o significado de ignorância,


obscurantismo.

Sabemos que existe uma relação entre o plano de expressão ou significante e


o plano do conteúdo ou significado . Sendo assim, toda palavra que esteja em
estado de dicionário, usada em seu sentido primitivo, informando aquilo que é
objetivo, concreto, tem a função denotativa ; enquanto que a palavra carregada de
emoções, resultado das associações que representam algo mais do que o estado
de dicionário tem o valor conotativo .

122
Língua Portuguesa I

Continuando a nossa oitava unidade, falaremos sobre Sentido e Contexto na


aplicação da Língua Portuguesa.

A Semântica: O Sentido das Palavras: Sentido e Contexto

Agora, estudaremos as relações entre sentido e contexto no plano das


significações. É o que os linguistas denominam de aspectos semânticos da
linguagem, pois por ‘semântica’ entende-se o estudo do significado.

Primeiramente, vamos entender que o sentido de palavras e expressões não é


fixo ou imutável. Muito pelo contrário, este sentido é definido pelo contexto em
que usamos a linguagem.

Sendo assim, quando dizemos, por exemplo, “ Estamos afogados de trabalho ”,


o verbo afogar não está no seu sentido literal, pois não podemos ficar submersos e
rodeados por peixes. Portanto, a expressão “ estar afogado ” tem seu sentido
figurado, baseado na semelhança que se percebe entre um afogamento real e um
afogamento por excesso de trabalho.

Comece a perceber quantas vezes você emprega e ouve expressões ou frases


inteira, em que o sentido figurado predomina. Isso se dá em função da
extraordinária capacidade que a língua e seus elementos formadores têm de
moldar-se a novas situações, construindo, eficazmente, novos sentidos.

É bom lembrar que, desde muito cedo, conseguimos estabelecer uma relação
com a linguagem que nos faz transitar de modo natural e inconsciente do sentido
literal para o sentido figurado dos enunciados. Isto porque participamos de
diversas situações de interlocução, em que o sentido das palavras se define e torna-
se preciso nos contextos em que se encontram.

Através dos tempos, as palavras e/ou expressões podem ter seu sentido
modificado ou expandido. Algumas delas podem se tornar, inclusive, habituais e
passam a constituir um sentido reconhecido por toda uma comunidade falante.

123
Língua Portuguesa I

Assim, podemos traçar a diferença entre sentido literal e sentido figurado


quando dizemos que:

 SENTIDO LITERAL diz respeito àquilo que pode ser tomado como o
sentido ‘ básico ' de uma palavra ou expressão e que pode ser
depreendido sem a ajuda do contexto.

 SENTIDO FIGURADO é aquele em que as palavras ou expressões


recebem, em situações particulares de uso, outro significado,
decorrente de uma extensão do seu sentido literal, partindo da
motivação de alguma semelhança contextual.

Reiteramos que o sentido figurado pode ser tomado como uma ampliação do
sentido literal , porque mostra alguma semelhança real ou pressuposta em relação
ao contexto literal. Na verdade, o sentido figurado é sempre resultado de uma
interpretação.

Mas é bom assinalar que é preciso fazer sempre um exercício de interpretação,


a partir do qual avaliamos e verificamos, em situações específicas, os possíveis
significados das palavras e de suas combinações.

Portanto, para falar de significação, no seu sentido restrito, faz-se necessário


falar daquilo que está fora da linguagem, mas que é representado por ela. Temos
que exercitar a nossa capacidade de interpretar e escolher entre muitos
significados aquele(s) que melhor se ajusta(m) ao contexto em que está(ão)
inserido(s).

Vamos analisar a peça publicitária abaixo –


Revista Atrevida , ano IV, nº 41.

Repare que, se colocarmos o período “ O sonho


de toda mulher: bonito, gostoso e com recheio. ”
desvinculado da foto e do contexto em si, poderemos
compreender o quanto a frase solta compromete o
sentido do texto.

Só teremos uma interpretação correta se


ligarmos o texto ao contexto, ou seja, à figura de um
picolé que, além de bonito e gostoso, possui recheio.

124
Língua Portuguesa I

Fora do contexto, poderíamos imaginar que se trata de um companheiro para


a mulher. Mas, e o “ recheio ”? Haveria uma total falta de sentido, se não houvesse
um contexto para nos apoiar.

Sendo assim, a importância do contexto para a construção do sentido dos


enunciados é de vital relevância.

Entretanto, na construção desse processo, há a necessidade do leitor ter, como


base, os pressupostos – ou seja, um conhecimento anterior ao momento da leitura
(no caso do texto escrito) – que o capacite a compreender totalmente o que foi
dito.

Resumindo, a mensagem só será efetivamente entendida se o emissor


conseguir estabelecer a associação perfeita entre texto e contexto, isto é, usar de
pressupostos já adquiridos.

A Semântica: O Sentido das Palavras

Em nosso anúncio publicitário, pressupõe-se que o leitor tenha um


conhecimento prévio a fim de compreender e construir o sentido do texto.

Para lermos um texto, é necessário decodificar os sinais que o constituem.


Sabemos, entretanto, que não podemos ler da mesma forma os inúmeros textos
que nos chegam às mãos. Para isso, contamos com alguns procedimentos que nos
ajudarão na leitura de um texto:

Primeiramente, retomemos aos pressupostos , que nada mais são do que um


conhecimento de que o emissor espera que o seu leitor/ouvinte disponha e que o
capacite a entender o que foi escrito/dito em um contexto pré-determinado. Por
exemplo, na frase:

PEDRO NÃO DIRIGE MAIS.

Temos que ter como antecedente, ou pressuposto, o fato de que Pedro já


dirigiu. Assim, se Pedro não dirige mais, partimos do pressuposto de que ele já
dirigiu.

125
Língua Portuguesa I

Em alguns casos, o pressuposto não é tão óbvio quanto no exemplo acima.


Vejamos em outro anúncio – Revista Isto É , 18-11-98 – em que a Caixa Econômica
Federal dá como bônus para quem fizer o seguro do carro uma bicicleta.

O texto diz o seguinte: NOSSO SEGURO DE CARRO COBRE COLISÃO,


INCÊNDIO, ROUBO E GORDURINHAS LOCALIZADAS. FAÇA O SEGURO DO SEU 4
RODAS E LEVE + DUAS POR APENAS R$ 49,90.

Portanto, temos a possibilidade de ganhar uma bicicleta (‘ leve + duas rodas...')


para queimar as ‘ gordurinhas localizadas '; isto é, fazer ginástica, pois o seguro da
Caixa cobre até ‘ esses inconvenientes ' por apenas ‘ R$49,90 '.

Ao lidarmos com uma informação que não foi citada, mas que podemos
assimilar pelo que foi dito, temos como subtendê-la, deparando com o que está
implícito – adjetivo que caracteriza aquilo que está envolvido no contexto e,
embora não revelado, é sugerido pelo texto.

126
Língua Portuguesa I

Como você já deve ter notado, as atividades e os textos humorísticos são


espaços que privilegiam a construção de textos com conteúdos – pressupostos –
implícitos.

Vamos para a unidade IX - Construção dos gêneros textuais? Até lá!

Leitura complementar

Aprofunde seus conhecimentos lendo:

VALENTE, André Crim. A linguagem nossa de cada dia. Petrópolis: Vozes, 1997.

GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna. 18ed. Rio de Janeiro:


FGV, 2001.

É HORA DE SE AVALIAR

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão


ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no
processo de ensino-aprendizagem.

127
Língua Portuguesa I

Exercício da Unidade 8

1 – Leia o texto que se segue:

QUAL A ORIGEM DA LINGUAGEM?

Não haverá uma resposta definitiva. O problema da origem da linguagem não é de


origem linguística, está fora do seu campo e se confunde com o problema do
homem e da sociedade humana. A língua é um patrimônio, um repertório coletivo,
um depósito de sinais à disposição da comunidade. A língua é um código de que
serve o homem para elaborar mensagens, para se comunicar.

As palavras sublinhadas têm, respectivamente, valor:


a) conotativo – conotativo – denotativo.
b) denotativo – denotativo – conotativo.
c) conotativo – denotativo – denotativo.
d) conotativo – denotativo – conotativo.
e) denotativo – conotativo – conotativo.

2 – Em qual das opções abaixo o uso da preposição acarreta mudança de sentido


na frase?
a) Usei toda a minha possível argumentação.
Usei de toda a minha possível argumentação
b) Ele precisou a quantia que poderia gastar no Hotel.
Ele precisou da quantia que poderia gastar no Hotel.
c) Não coma esse bolo assim depressa!
Não coma deste bolo assim depressa!
d) O rapaz tratou o menino com carinho.
O rapaz tratou do menino com carinho.
e) Preocupado, o policial pegou a arma e atirou.
Preocupado, o policial pegou da arma e atirou.

128
Língua Portuguesa I

3 – Coloque C ou D às alternativas conforme sejam Conotativa ou Denotativa.


Depois, marque a alternativa que registra a sequência resultante:

( ) “Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos
dois é burro.” Mário Quintana

( ) Lima Barreto é autor de um romance de leitura obrigatória – Triste fim de


Policarpo Quaresma.

( ) “Minha vida, nossas vidas, formam um só diamante.” Carlos Drummond de


Andrade

( ) Fim triste de Policarpo Quaresma.


a) conotativo / conotativo / denotativo / denotativo
b) conotativo / conotativo / conotativo / denotativo
c) conotativo / denotativo / conotativo / denotativo
d) denotativo / conotativo / conotativo / denotativo
e) denotativo / denotativo / conotativo / denotativo

4 – “Chega mais perto e contempla as palavras, cada uma tem mil faces secretas sob a
face neutra”. (Carlos Drummond de Andrade)

Leia os trechos a seguir e identifique o caráter Denotativo e Conotativo de cada


um. Depois, marque a alternativa correta:

 O ano de 1848, em Pernambuco, foi marcado por um processo


revolucionário, liderado por um Partido Liberal radical.

 Tantas palavras
Que eu conhecia
E já não falo mais, jamais
Quantas palavras
Que ela adorava

Saíram de cartaz.

(Chico Buarque)

129
Língua Portuguesa I

 O instante é aquele átimo de tempo em que o pneu do carro correndo


em alta velocidade toca no chão e depois não toca mais e depois toca de
novo. Etc., etc., etc. No fundo ela não passara de uma caixinha de música
meio desafinada. (Clarice Lispector)

 O que é o homem, qual a sua posição no mundo – são perguntas que


temos de fazer no momento mesmo em que nos preocupamos com
educação.

a) denotativo – conotativo – conotativo – denotativo


b) denotativo – denotativo – conotativo – denotativo
c) denotativo – conotativo – conotativo – conotativo
d) conotativo – conotativo – denotativo – denotativo
e) conotativo – denotativo – conotativo – denotativo

5 – Indique se as palavras destacadas, nas frases a seguir, estão empregadas em


sentido próprio ou figurado, escrevendo, respectivamente, (P) ou (F) nos
parênteses:
( ) A verdade é filha do tempo.
( ) A vida é uma viagem durante a noite.
( ) Viver é jogar pontes sobre os rios que passam.
( ) Todos os seres humanos nascem iguais, mas é a última vez que o são.
( ) A ingratidão é a amnésia do coração.

a) F – F – F – P – F;
b) F – F – F – F – P;
c) F – F – P – P – F;
d) F – P – F – F – F;
e) P – F – F – F – F.

130
Língua Portuguesa I

6 – Indique a palavra cujo sentido mais se aproxima da que está sublinhada no


período:

A vida é cheia de paradoxos.


a) surpresas.
b) tristezas.
c) contratempos.
d) imprevistos.
e) contradições.

7 – Leia com atenção o texto abaixo:

Botou um blog no ar e saiu por aí

No início são os verbos. De uma para outra, você se pega descrevendo ações que
ainda não estão registradas no Aurélio. “Postar”, por exemplo. O primeiro “eu já
postei hoje” a gente nunca esquece.

Outros verbos perfeitamente normais de repente ganham acepções inesperadas.


Uma frase recorrente: “Eu entro sempre, mas essa é a primeira vez que eu
comento”. Ou ainda: “Daqui a pouco eu subo as fotos”. Se você não entra nem
comenta, não posta e muito menos sobe, é sinal de que ainda não foi atingido pela
onda dos blogs. Até quando? [...]

(FREIRE, Ricardo. Época, São Paulo: Globo, nº 382, p.114, 12 set. 2005. Fragmento)

O texto discute os significados de alguns termos que adquirem novos sentidos em


um contexto específico. Assinale a alternativa onde há uma passagem que
comprova essa afirmação:
a) “eu já postei hoje”.
b) “Daqui a pouco eu subo as fotos”.
c) “Se você não entra nem comenta, não posta e muito menos sobe, é sinal de que
ainda não foi atingido pela onda dos blogs. Até quando?”
d) “No início são os verbos”.
e) “Eu entro sempre, mas essa é a primeira vez que eu comento”.

131
Língua Portuguesa I

8 – Leia com atenção o trecho abaixo:

Aqui também é bom lugar de se viver

Bom lugar será o que não sei

Mas será...

(14 Bis)

A expressão “bom lugar” certamente remete a uma ideia positiva sobre


determinado espaço. No entanto, não podemos definir, com precisão, seu sentido.
A esta mobilidade de sentidos num texto chamamos:
a) conotação.
b) denotação.
c) referencialidade.
d) funções da linguagem.
e) elementos da comunicação.

9 – Explique o sentido conotativo da expressão “ficar frio” no seguinte texto


publicitário:
FICA FRIO
NOVO FREEZER K-GELA
COM FRIO ENVOLVENTE.
MANTÉM AS BEBIDAS FRIAS,
E A SUA CABEÇA TAMBÉM.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

132
Língua Portuguesa I

10 – Observe as séries abaixo e reescreva aquelas em que a mudança de posição


entre o substantivo e o adjetivo acarreta alteração semântica:

I. O grande traficante assusta a polícia. / O traficante grande assusta a polícia.

II. O pobre viciado sofre muito! / O viciado pobre sofre muito!

III. O bom filho à casa torna. / O filho bom à casa torna.

IV. O velho amigo é que socorreu o viciado. / O amigo velho é que socorreu o
viciado.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

133
Língua Portuguesa I

134
Língua Portuguesa I

9 A construção do texto:
os gêneros textuais

Os conceitos básicos de descrição, narração e dissertação.

A narração e seus elementos.

A descrição objetiva X a descrição subjetiva.

A descrição técnica.

A dissertação: a persuasão e a argumentação.

A dissertação objetiva X a dissertação subjetiva.

O texto dissertativo-argumentativo: a tese, os argumentos, os


fatos e as hipóteses.

135
Língua Portuguesa I

Desta vez, vamos estudar os Gêneros Textuais em que as produções se


classificam. Primeiramente, falaremos da NARRAÇÃO, em um segundo estágio, da
DESCRIÇÃO e por fim, da DISSERTAÇÃO.

Objetivo(s) da Unidade:

Levar o aluno a perceber as nuanças que existem nos textos literários e não-
literários e, a partir delas, o reconhecimento das estruturas textuais da narração, da
descrição e dos textos dissertativos.

Plano da Unidade:

 Os conceitos básicos de descrição, narração e dissertação.

 A narração e seus elementos.

 A descrição objetiva X a descrição subjetiva.

 A descrição técnica.

 A dissertação: a persuasão e a argumentação.

 A dissertação objetiva X a dissertação subjetiva.

 O texto dissertativo-argumentativo: a tese, os argumentos, os fatos e


as hipóteses.

Bons estudos!

136
Língua Portuguesa I

A Construção do Texto

Para podemos entender bem a tipologia textual, é necessário, antes de tudo,


reconhecermos o seu modo de organização discursiva e as características
peculiares a cada um deles. De imediato, podemos dizer que existem, basicamente,
três tipos de textos: a descrição, a narração e a dissertação.

Primeiramente, leia o trecho abaixo:

“Descrever, narrar e dissertar são, na verdade, as três formas básicas com que, em
nossa vida cotidiana, desvendamos as situações reais, as situações imaginárias, o
entrelaçamento daquilo que chamamos dia a dia e daquilo que chamamos fantasia,
na e pela linguagem. Trata-se das várias linguagens da linguagem, da diversidade de
procedimentos através dos quais vamos encorpando e solidificando a nossa
capacidade de expressão. [ ..... } Do descrever ao narrar percorremos muitos caminhos
dentro de nós. Todos eles, de uma forma ou de outra, convergem para o dissertar.”

AMARAL, Emília & ANTÔNIO, Severino. Novíssimo curso vestibular – redação I. São Paulo:
Nova Cultural, 1990. p. 2.

Resumindo, temos na descrição o registro de características de pessoas,


objetos, lugares; na narração, o relato de um fato contado por um narrador e, na
dissertação, a expressão de opinião a respeito de um assunto.

É bom ressaltar que esses tipos de textos se misturam e é fácil encontrar


elementos descritivos, narrativos e dissertativos num mesmo texto, com a
predominância de um ou de outro. A narração de um passeio, por exemplo, poderá
ser predominantemente narrativa, mas também pode apresentar descrições de
lugares e pessoas e, por fim, trazer um comentário sobre o descuido em que a
prefeitura deixou determinado lugar. Nesse caso, teremos, sem dúvida,
características dissertativas.

A seguir, colocaremos um quadro-resumo das principais características de


cada formatação textual:

137
Língua Portuguesa I

NARRAÇÃO:

 relato de fatos;

 presença de narrador, personagens, enredo, cenário, tempo;

 apresentação de um conflito;

 uso de verbos de ação;

 geralmente, é mesclada de descrições;

 o diálogo direto e o indireto são frequentes.

DESCRIÇÃO:

 retrato de pessoas, ambientes, objetos;

 predomínio de atributos; uso de verbos de ligação;

 frequente emprego de metáforas, comparações e outras figuras de


linguagem;

 tem como resultado a imagem física ou psicológica.

DISSERTAÇÃO:

 defesa de um argumento: a) apresentação de uma tese que será


defendida; b) desenvolvimento ou argumentação; c) fechamento.

 predomínio da linguagem objetiva;

 prevalece a denotação.

CAMPEDELLI, Samira Yousseff & SOUZA, Jésus Barbosa. Produção de textos & usos da
linguagem – curso de redação. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 89.

138
Língua Portuguesa I

A Narração e seus Elementos

Começaremos o nosso estudo de tipologia textual pela NARRAÇÃO – relato


centrado em um fato ou acontecimento. É um tipo de texto marcado por uma
progressão temporal, em que atuam personagens e um narrador, cujo papel é
relatar a ação.

As ações narradas direcionam-se para um conflito, desenvolvidas sempre


numa linha de tempo e num determinado espaço.

Vamos agora discorrer acerca dos elementos da narrativa:

1. ENREDO = caracteriza-se pelo desenrolar dos acontecimentos na


trama da narrativa. É o fato em si.

2. NARRADOR = é aquele que narra, relata os fatos. Quando o narrador


participa dos acontecimentos narrados, temos a ação em 1ª pessoa,
portanto, ele é um narrador-personagem. Já, quando o narrador
não participa, mas fica observando tudo o que ocorre, temos a ação
em 3ª pessoa e o denominamos onisciente ou narrador-
observador.

3. PERSONAGENS = são aqueles que vivenciam os acontecimentos.


Ao(s) personagem(ns) principal(is), chamamos protagonista (s) e
àquele(s) que se opõe(m) ao primeiro, antagonista (s).

4. AMBIENTE = caracteriza o espaço, o cenário pelo qual os


personagens transitam e onde se desenrolam os acontecimentos.

5. TEMPO = diz respeito à época, ao momento em que acontecem os


fatos. Podemos classificar o tempo em duas modalidades: o tempo
cronológico – aquele em que os fatos são narrados no momento em
que estão acontecendo ou em que presente e passado se
entremeiam, em forma de ‘ flash-back ' – e o tempo psicológico, em
que o tempo não mantém nenhuma relação com o tempo
propriamente dito.

139
Língua Portuguesa I

As propostas de redação, normalmente, deixam claro o tipo de texto desejado.


É basicamente impossível fazer uma boa redação sem entender o que está sendo
proposto.

Assim, entraremos no nosso próximo conteúdo no quesito DESCRIÇÃO.

A Descrição

Conforme falamos anteriormente, estamos entrando no estudo dos tipos de


textos. Aqui, falaremos da DESCRIÇÃO – uma das tipologias muito conhecidas de
quem fotografa, através da palavra, algo ou alguém.

Tenha um bom aproveitamento do conteúdo!

É através dos sentidos que construímos as imagens das pessoas, coisas ou


lugares. Quando utilizamos a linguagem para expressar essa imagem que
construímos, elaboramos um texto descritivo.

Consultando o Dicionário Eletrônico Houaiss – 2001, encontramos o vocábulo ‘


descrição ' assim definido:

A descrição tem como característica básica o fato de ser o que os manuais de


redação chamam de ‘retrato verbal’ de objetos, cenas, pessoas ou ambientes. O texto
procura trabalhar com as imagens, permitindo quase que uma visualização daquilo
que está sendo descrito

Nos textos descritivos, predominam os adjetivos e as locuções adjetivas.


Normalmente, os períodos são curtos, prevalecendo as comparações.

Existem alguns tipos de descrição que devemos ressaltar. Temos a descrição


objetiva, que procura transmitir uma imagem concreta e precisa, bem próxima da
realidade, com os detalhes que caracterizam o cenário bem nítidos. Já na descrição
subjetiva, o narrador descreve a personagem, partindo de um ponto de vista
pessoal.

140
Língua Portuguesa I

REVISANDO:

A descrição pode ir além de um simples retrato. Muitas vezes, transmite ao


leitor uma visão pessoal ou a interpretação do autor acerca do que está descrito.

Quando o narrador não emite juízos de valor, nem estabelece comparações de


caráter subjetivo, transmitindo uma imagem concreta e precisa, bem próxima da
realidade, falamos que estamos diante de uma descrição objetiva .

Já a descrição subjetiva marca uma visão muito pessoal do narrador. Na


verdade, são impressões que transmitem um retrato bem íntimo daquilo que os
personagens são. Há, na descrição subjetiva, um juízo de valor a respeito dos
hábitos, costumes e até do perfil psicológico dos personagens.

Há, também, um tipo especial de descrição que é a descrição técnica, uma


espécie de descrição objetiva que transmite a imagem do objeto com vocabulário
preciso, ligado ao um ramo da ciência ou tecnologia. Como exemplo, podemos
citar a descrição de determinados órgãos do corpo humano, peças de automóvel e
ainda manuais de instrução e artigos científicos.

Raramente você verá um texto de ficção exclusivamente descritivo. É comum


encontrar trechos descritivos inseridos em textos narrativos e dissertativos.

141
Língua Portuguesa I

Finalmente, é bom ressaltar que, numa descrição, utilizamos os cinco sentidos


(visão, audição, olfato, gosto, tato e audição). Isso porque a realidade que nos cerca
pode ser apresentada através dos sentidos e depois interpretada por imagens
linguísticas (ou seja, pelas palavras)

Sendo assim, essas descrições fazem uso de adjetivos com valor sensorial.

Em seguida iniciaremos o estudo dos tipos de textos - a DISSERTAÇÃO – a


última das tipologias textuais, que trata dos argumentos usados em textos
opinativos ou argumentativos.

A Dissertação – Persuasão e Argumentação

Aqui, estudaremos o mecanismo e as características de um texto dissertativo.


Veremos o quanto usamos a DISSERTAÇÃO no nosso dia a dia, mesmo sem darmos
conta disso. Um excelente estudo para você!

Começaremos respondendo à pergunta: O que é dissertar?


Dissertar é expor uma ideia, argumentando, comparando e defendendo um ponto
de vista.

As características de um texto dissertativo podem ser resumidas em:

 é um texto temático – toda a sua evolução parte de um raciocínio;

 é um texto que analisa e interpreta;

 é um texto que aponta para relações lógicas de ideias, fazendo


comparações, mostrando correspondências, analisando
consequências;

 é um texto que usa, preferencialmente, os verbos no presente.

142
Língua Portuguesa I

A dissertação apresenta a seguinte estrutura:

 INTRODUÇÃO: Consiste na apresentação da ideia ou do ponto de vista


que será defendido. É importante que uma introdução:
 defina a questão, situando o problema;
 indica o caminho que será seguido.

 DESENVOLVIMENTO: consiste em se desenvolver o ponto de vista,


tentando convencer o leitor. Devemos usar, para isso, uma argumentação
sólida, exemplificar, citar opiniões de pessoas ou órgãos especializados,
fornecer dados que promovam a fundamentação do(s) argumento(s)
empregado(s) por você.

 CONCLUSÃO: é o desfecho do texto até aqui escrito. Ela deve ser


coerente com o desenvolvimento, com o(s) argumento(s) apresentado(s).

No que diz respeito à linguagem, deve prevalecer o sentido denotativo das


palavras e as orações deverão apresentar-se na ordem direta. É de vital
importância, em um texto dissertativo, que as ideias estejam coerentes umas com
as outras e os elementos coesivos – estudados na Unidade VII – explicitem e liguem
as relações entre as ideias expostas.

É fundamental, para que possamos elaborar um texto dissertativo-


argumentativo, que preparemos um plano ou um roteiro, para que não fiquemos
perdidos, dando voltas em torno do tema. Num texto dissertativo, devemos ser
objetivos, impessoais e imparciais. Para tanto, devemos optar pela 3ª pessoa.

Podemos caracterizar a dissertação, levando-se em conta a pessoa do discurso


em que foi elaborada em dissertação objetiva e dissertação subjetiva.

A Construção do Texto

Na primeira, o autor expõe os argumentos de forma impessoal e objetiva,


procurando não se incluir na explanação, conferindo ao texto um caráter imparcial.
Embora saibamos que o autor está nos transmitindo a sua visão pessoal a respeito
de um determinado tema, ele não aparece para o leitor de maneira a que
possamos defini-lo.

143
Língua Portuguesa I

Já na dissertação subjetiva, o autor perde o caráter impessoal e assume, de


forma explícita, um caráter subjetivo, pessoal. O verbo aparece em 1ª pessoa do
singular ou do plural, sendo esse último mais comumente encontrado.

Na dissertação, temos que definir um importante aspecto que é a


argumentação. É muito comum ouvirmos falar de um texto dissertativo-
argumentativo – aquele em que o enunciador busca convencer o leitor sobre um
determinado ponto de vista. Ao fazê-lo, ele se utiliza de elementos básicos para a
construção desse tipo de texto: a tese e os argumentos. Na primeira, o enunciador
expõe um ponto de vista sobre determinado assunto polêmico e procura
convencer o leitor de que essa opinião é a mais adequada. E, para defender essa
opinião, o autor deverá se valer dos argumentos persuasivos, que procurarão
confirmar a tese apresentada. A mais eficiente forma de se argumentar é aquela
que busca demonstrar a tese se baseando em fatos e não em hipóteses –
proposições que se admitem independentemente do fato de serem verdadeiras ou
falsa.

Ao redigirmos uma dissertação, é bom atentarmos para alguns tópicos de vital


importância. De modo geral, os assuntos são muito amplos e abrangentes. Para
isso, é preciso delimitarmos previamente o tema e, depois, faz-se necessária a
elaboração de um encadeamento lógico das ideias, para que não nos
atrapalhemos. Sugerimos fazer um esquema por parágrafos e ir colocando, em
forma de tópicos, as ideias que surgirem. Essas ideias, normalmente, vêm sem
qualquer ordem. É preciso, portanto, selecionar as melhores e colocá-las em ordem
de importância.

Chegamos ao final do conteúdo da nossa disciplina. Esperamos que você


tenha feito um ótimo proveito das informações aqui dispostas e que faça bom uso
das mesmas.

Muito sucesso!

144
Língua Portuguesa I

Leitura complementar

Aprofunde seus conhecimentos lendo:

SOUZA, Luiz Marques, de & CARVALHO, Sérgio Waldeck. Compreensão e


produção de textos. Petrópolis: Vozes, 1995.

PLATÃO, Francisco Savioli; FIORIN, José Luiz. Para entender o texto: leitura e
redação. Ática: São Paulo, 2000.

É HORA DE SE AVALIAR

Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão


ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no
processo de ensino-aprendizagem.

145
Língua Portuguesa I

Exercício da unidade 9

1 – Leia o texto abaixo para responder o que se pede:

Ao descrever um determinado ser, tendemos sempre a acentuar alguns aspectos,


de acordo com a impressão que esse ser nos causa. Ao enfatizar tais aspectos,
corremos o risco de acentuar qualidades negativas ou positivas. Mesmo usando a
linguagem científica, que é imparcial, a tarefa de descrever objetivamente é
basicamente difícil. Apesar dessa dificuldade, poderemos atingir um grau
satisfatório de imparcialidade se nos tornarmos conscientes dos sentimentos
favoráveis ou desfavoráveis que as coisas podem provocar em nós. A consciência
disso nos habilitará a confrontar e equilibrar os julgamentos favoráveis ou
desfavoráveis.

De acordo com o texto:


a) a impressão que um indivíduo nos transmite é a causa que nos move a descrevê-
lo.
b) quando empregamos a linguagem científica, nossas descrições são objetivas.
c) para sermos bons, temos de equilibrar julgamentos ou favoráveis ou
desfavoráveis ao próximo.
d) a enfatização de determinados pontos observados no indivíduo é condicionada
pela reação que ele provoca em nós.
e) qualquer ser se caracteriza por qualidades positivas e negativas.

2 – Leia o texto e responda à questão abaixo:

A luta contra a poluição e em favor da preservação do meio ambiente é


mundial. Em todo o planeta, multiplicam-se as associações e grupos de pessoas
conscientes de que, se não houver uma interrupção do processo poluidor e uma
recuperação das zonas, tanto na terra, quanto no ar e no ambiente aquático, já
devastados, o mundo se tornará irrealizável dentro de muito pouco tempo.

146
Língua Portuguesa I

O tema vem crescentemente ganhando adeptos e motivando a formação de


uma consciência crítica em relação ao fenômeno, embora esteja ainda longe de
poder produzir resultados compatíveis com as necessidades.

(Revista INTERIOR, Ano VII, nº 38, pág. 11 – com adaptações)

No texto, há o predomínio de argumentos de forma impessoal e objetiva.


Considerando a afirmação, assinale a alternativa correta que determina o texto em
uma:

a) Dissertação subjetiva

b) Narrativa

c) Dissertação objetiva

d) Descrição objetiva

e) Descrição subjetiva

3 – Leia o texto abaixo e responda o que se pede:

O sociólogo inglês Michael Willmott tem como objeto de estudo uma


sociedade ainda inexistente, a do próximo século. Trata-se de um trabalho com
bases científicas, que leva em conta as tendências atuais e a experiência do
passado. O que nos reserva o futuro, na opinião do sociólogo, são mudanças mais
rápidas e radicais do que as que aconteceram nos últimos cinquenta anos.

Veja – Não se corre o risco de a era da informação aprofundar o fosso entre


países ricos e pobres, entre quem tem e quem não tem tecnologia de ponta?

Willmott – é uma possibilidade. Em 1960, os 20% mais ricos do mundo tinham


uma renda trinta vezes superior à dos 20% mais pobres. Em 1997, os 205 mais ricos
tinham uma renda 74 vezes maior. As novas tecnologias podem aprofundar esse
abismo.

147
Língua Portuguesa I

Veja – As novas tecnologias vão acabar com a privacidade?

Willmott – É verdade que cada vez deixamos mais rastros. Quando


compramos com cartão de crédito, enviamos e-mail, falamos ao telefone, estamos
dando oportunidade para que alguém aprenda sobre nossos hábitos. Podem
ocorrer duas coisas. Uma revolta contra a invasão da privacidade ou vamos
aprender a relaxar e não dar bola. Mas somos seis bilhões de pessoas. Não é
possível ficar de olho em tanta gente.

(Entrevista: Michael Willmott. Veja. 1/9/1999, com adaptações.)

Com respeito à tipologia e à organização textual, julgue os itens a seguir.

I. O primeiro parágrafo, usado como introdução da entrevista, apresenta


características de resenha porque relaciona propriedades fundamentais do
trabalho de Willmott.

II. Na primeira resposta de Willmott, a primeira frase pode ser tomada como
resumo de sua opinião, e o que vem a seguir ilustra essa ideia.

III. A segunda resposta de Willmott descreve situações em que se perde a


privacidade; por isso, esse fragmento do texto é predominantemente descritivo.

IV. O texto, na sua totalidade, apresenta natureza argumentativa.

A quantidade de itens certos é igual a


a) 0
b) 1
c) 2
d) 3
e) 4

148
Língua Portuguesa I

4 – Certas marcas linguísticas permitem identificar o gênero do texto usado. Com


base na afirmação, faça a correspondência da primeira coluna com a segunda.
(1) “Era uma vez...”
(2) “Prezado amigo...”
(3) “Conhece aquela do português...”
(4) “Tome três xícaras de açúcar e adicione...”
(5) “O tema de hoje vai ser...”

( ) É um texto instrucional (ensino), com finalidade específica.


( ) Introduz um texto de caráter lúdico.
( ) É característica dos Vocativos ( termo de interpelação) em texto epistolar
(carta).
( ) É próprio para iniciar informação científica ou didática.
( ) É recurso linguístico para marcar temporalidade em textos narrativos.

A sequência correta é:
a) 1, 5, 2, 4, 3
b) 5, 2, 1, 4, 3
c) 4, 3, 2, 5, 1
d) 4, 3, 5, 2, 1
e) 1, 5, 4, 2, 3

5 – A principal função de um texto argumentativo é:


a) apresentar riqueza de detalhes de objetos, pessoas e/ou coisas.
b) relatar fatos ocorridos, particularizando as ações das personagens.
c) afirmar e defender uma determinada ideia.
d) constituir-se em uma linguagem metafórica.
e) descrever as ocorrências, preferencialmente, em primeira pessoa do singular.

149
Língua Portuguesa I

6 – Os dois trechos expostos abaixo podem, respectivamente, ser classificados


como:

I) Era meia-noite, naquela mata em que o frio fazia tremer os lábios, as duas
crianças perdidas já estavam sem esperanças de voltar para casa, mas
repentinamente, um apito forte disparou próximo a elas: tratava-se dos guardas-
florestais que, após receber a denúncia do desaparecimento das crianças,
percorreu a trilha cheia de pedaços de biscoitos deixados por elas. Em poucos
minutos, pois, todos comemoravam a volta para casa.

II) tenho todas as qualificações desejadas pelas modelos: sou magra, alta, pele
lisa, cintura fina, tranquila, persistente, inteligente, maior de idade e falante de
várias línguas.

a) narrativo e dissertativo.

b) descritivo e narrativo.

c) narrativo e argumentativo.

d) descritivo e argumentativo.

e) narrativo e descritivo.

7 – Leia com atenção o trecho abaixo:


Abacateiro,
Acataremos teu ato,
Nós também somos do mato,
Como o pato e o leão.
Aguardaremos,
Brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos,
Teu amor, teu coração.
Abacateiro,

150
Língua Portuguesa I

Teu recolhimento é
Justamente o significado
Da palavra temporão
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate
E anoitecerá mamão...
(Gilberto Gil – Refazenda)

O trecho da música de Gilberto Gil é exemplo de um gênero textual que se


caracteriza pela liberdade formal. É ele:
a) Dissertação.
b) Argumentação.
c) Poesia.
d) Narração.
e) Descrição.

8 – Assinale a alternativa que completa corretamente a afirmação:

O gênero __________ tem o propósito de “contar” ao leitor uma ou mais


situações vividas por determinado (s) personagen(s), numa dada circunstância e
num dado tempo, sem a obrigatoriedade de diálogos.

a) lírico.

b) dramático.

c) teatral.

d) narrativo.

e) descritivo.

151
Língua Portuguesa I

9 – Leia o texto abaixo para realizar as questões que se seguem:

O fogo, bem defronte do rancho festivo, alumiava o terreiro. Lúcio pôs-se a


observar a agonia da lenha verde que se estorcia, estalava de dor, estoirava em
protestos secos e se finava, chiando, espumando de raiva vegetal.

Voavam faíscas como lágrimas de fogaréu. Divisavam-se os troncos queimados


boiando no cinzeiro, como negros em farinhada. Flamejava o painel do aceiro – as
árvores ígneas e, esplêndidas, a macaíba com o leque em chamas.

O incêndio esfumava-se escurecendo a noite. E, de quando em quando, a


fumaça deitava para a casa fronteira, envolvendo-a num presságio de luto.

(ALMEIDA, José Américo, de. A Bagaceira.)

a) Podemos classificar o texto em descritivo, narrativo ou dissertativo?


Justifique a sua resposta com fragmentos do texto.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

b) Retire do texto uma passagem em que apareça uma expressão que se


oponha ao significado de “rancho festivo” (1º parágrafo).

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

152
Língua Portuguesa I

10 – Leia o fragmento abaixo para responder às questões que se seguem:

Zezé Matheus era um verdadeiro imbecil. Não ligava duas ideias; não guardava
coisa alguma dos acontecimentos que assistia. A sua única mania era beber e dizer-
se valente. Topava todos os ofícios; capinava, vendia peixe e verdura, com cesto à
cabeça; servente de pedreiro, apanhava e vendia passarinhos, como criança; e
tinha outras habilidades desse jaez.

Era branco, com uma fisionomia empastada, cheia de rugas precoces, sem
dentes, todo ele mole, bambo. A sua testa era deprimida, e era longo e estreito o
seu crânio, do feitio daqueles a que o povo chama ‘cabeça de mamão-macho’.

Totalmente inofensivo, quase inválido pela sua imbecilidade nativa e pela


bebida, uma família a quem ele prestava pequenos serviços – ir às compras, ao
açougue, lavar a casa – dava-lhe um barracão na chácara, onde dormia, e comida,
se estivesse presente às refeições.

Encontrava-se nessa ruína humana o melhor da turma e o único que não tinha
maldade no coração.

Era um ex-homem e nada mais.

(BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Scipione, 1994. p.17)

a) Cite três características físicas do personagem.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

b) Cite três características psicológicas do personagem.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

153
Língua Portuguesa I

154
Língua Portuguesa I

Considerações finais

Ao chegarmos ao fim do nosso estudo, queremos parabenizá-lo pela aquisição


de novos conteúdos na disciplina Língua Portuguesa.

Durante todo o semestre você tomou conhecimento de muitos mecanismos e


conceitos a respeito da linguagem, da língua e da fala – ferramentas indispensáveis
no seu dia a dia, tanto no uso da língua formal-culta como na língua coloquial,
aquela que você usa para as conversas com amigos, tentando “desamarrar os nós
linguísticos” do texto.

Agora, você pode articular o sentido do texto e também do contexto, quer nos
textos narrativos, descritivos ou dissertativos.

É de vital importância que você pratique aquilo que foi aprendido, pois o seu
bom desempenho em usar a nossa língua-mãe lhe trará bons frutos.

Por fim, reflita sobre as palavras do escritor francês Victor Hugo (1773 – 1828):

“A palavra, como se sabe, é um ser vivo.”

Sucesso!

155
Língua Portuguesa I

156
Língua Portuguesa I

Conhecendo a autora

A professora Telma Ardoim é Mestre em Língua Portuguesa pela Universidade


do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, é professora da Universidade Salgado de
Oliveira – UNIVERSO, atua na Coordenação de Projetos dos cursos de Capacitação
em Serviço e participa como Coordenadora Setorial do Programa de Alfabetização
Solidária.

157
Língua Portuguesa I

158
Língua Portuguesa I

Referências

ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. 11 ed. São Paulo: Ática, 2001.

CARNEIRO, Agostinho Dias. Texto em construção: interpretação de texto. 2 ed.


São Paulo: Moderna, 1996.

FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e Coerência Textuais. 8 ed. São Paulo: Editora
Ática, 2000.

GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula. 3 ed. 5 imp. São Paulo: Editora
Ática, 2002.

SOUZA, Luiz Marques, de & Carvalho, Sérgio Waldeck. Compreensão e Produção


de Textos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

TERRA. Ernani. Linguagem, língua e fala. São Paulo: Scipione, 1997.

VALENTE, André Crim. A linguagem nossa de cada dia. Petrópolis: Vozes, 1997.

VANOYE, Francis. Usos da Linguagem – problemas e técnicas na produção oral


e escrita. 11 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

159
Língua Portuguesa I

160
Língua Portuguesa I

A
nexos

161
Língua Portuguesa I

Gabaritos

Unidade 1
1- e
2-b
3-b
4-c
5-b
6-a
7-c
8-b
9- Encarada como um bem público, a língua é uma instituição social de caráter
abstrato. É instituição porque é uma estrutura decorrente da necessidade de
comunicação, com um conjunto de convenções necessárias para permitir o
exercício da faculdade da linguagem aos indivíduos. É social porque, sendo
exterior aos falantes, pertence à comunidade linguística como um todo. É abstrata
porque só se realiza através da fala.

10-
LÍNGUA FALA
A língua é o lado público e coletivo da A fala é o seu lado privado e individual.
linguagem humana.
A língua pertence a toda a comunidade de A fala pertence exclusivamente a cada
falantes. indivíduo que a utiliza.
A língua é exterior aos indivíduos e, por A fala pode ser criada ou modificada pelo
isso, estes não podem criá-la ou modificá- indivíduo.
la individualmente.

Unidade 2
1-b
2-c
3-e
4-d
5-e
6-a
7-c
8-e

162
Língua Portuguesa I

9- A palavra que gera confusão é “dedinhos”. Para a menina, a mãe quer lhe cortar
dois dedos, enquanto para a mãe é uma medida (similar a dois centímetros) para
cortar o cabelo.

10- A palavra droga, no primeiro momento, significa narcótico (por exemplo,


maconha, cocaína, etc.), no segundo, droga quer dizer “um amigo ruim”.

Unidade 3
1-b
2-e
3-c
4-c
5-b
6-e
7-e
8-b

9- 1ª) Está muito calor.


2ª) Uma discussão acalorada entre duas ou mais pessoas.
3ª) Um namoro um pouco mais “apimentado”.

10- O humor está exatamente naquilo que o médico (emissor) quis dizer com o fato
de não estar gostando muito da cara do paciente, referindo-se a sua saúde. Já, a
sua esposa (receptor) se refere à feiúra do marido, que é compensada pelo carinho
que tem pelos filhos.

Unidade 4
1-d
2-a
3-e
4-c
5-c
6-e
7-b
8-e

163
Língua Portuguesa I

9- A função predominante é a FUNÇÃO REFERENCIAL OU INFORMATIVA, pois,


calcada no referente, transmite, de modo direto e objetivo, com palavras
denotativas.

10- Função CONATIVA OU APELATIVA, calcada no receptor (aquele que vai usar o
manual) e a organização da mensagem está no uso dos verbos que ordenam:
verbos no imperativo.

Unidade 5
1-a
2-c
3-c
4-a
5-d
6-c
7-d
8-c

9- O primeiro registro é totalmente informal, coloquial, repleto de vícios de


linguagem (falta concordância; usam-se neologismos, gírias). Trata-se de um
registro típico de um grupo (no caso, de bandidos).
Exemplos:
– Podes crê. Servicinho manero. É só entrá e pegá.
– Tá com o berro aí?

10- O segundo registro guarda características do registro formal, arbitrário (isto é,


de pessoas conhecedoras do assunto).
Exemplos:
– Discordo terminantemente. O imperativo categórico de Hegel chega a Marx
diluído pela fenomenologia de Feurbach.
– Pelo amor de Deus! Isso é o mesmo que dizer Kierkegaard não passa de um Kant
com algumas sílabas a mais. Ou que os iluministas do século 18...

164
Língua Portuguesa I

Unidade 6
1-a
2-d
3-d
4-c
5-c
6-b
7-b
8-e

9- a) A expressão estranha (no primeiro texto) é “localizada na rua Campo Grande,


159”. Questionaremos o que se localiza nesta rua: a clínica ou a psicóloga?
Podemos reescrevê-la “A psicóloga Iracema Leite Ferreira Duarte está fazendo
sucesso com a sua nova clínica, localizada na rua Campo Grande, 159 ”.
b) No segundo texto, podemos corrigir “Maria Helena Arruda embarcou para São
Paulo, onde ficará hospedada...” tirando a incoerência criada pelo pronome relativo
“onde” que está se referindo à psicóloga Maria Helena Arruda e não ao local onde
ela se hospedará.

10- a) Se o envelope estava vazio, a afirmação subsequente de que dentro dele


havia uma folha em branco torna o texto incoerente.
b) A incoerência consiste na contradição existente entre as afirmações “Eu não
ganhei nenhum presente” e “só ganhei uma folha em branco, meu retrato de
pôster e um disco dos Beatles.”

Unidade 7
1-c
2-d
3-a
4-a
5-a
6-c
7-d
8-b

165
Língua Portuguesa I

9- a) sugerimos algo como: Pedestre, atenção: passagem de veículos.


b) sugerimos algo como: Atenção: via de pedestre – reduza a velocidade.

10-a) dois, três.


b) fechado, esquecido, destruído.

Unidade 8
1-d
2-b
3-b
4-a
5-a
6-e
7-c
8-a

9- “Ficar frio” tem sentido conotativo e significa ficar calmo, relaxar, não se
preocupar com nada, não se estressar.

10- I. O grande traficante assusta a polícia. / O traficante grande assusta a polícia.


II. O pobre viciado sofre muito! / O viciado pobre sofre muito!
IV. O velho amigo é que socorreu o viciado. / O amigo velho é que socorreu o
viciado.

Unidade 9
1-d
2-c
3-d
4-c
5-c
6-e
7-c
8-d

166
Língua Portuguesa I

9- a) O texto, como um todo, é narrativo, mas os fragmentos aqui apresentados


retratam uma queimada e os adjetivos e os verbos usados pelo autor nos dão,
nitidamente, a ideia de como ficou tudo depois do incêndio.
Ex.: a agonia da lenha verde que se estorcia, estalava de dor, estoirava em protestos
secos e se finava, chiando, espumando de raiva vegetal.
Voavam faíscas como lágrimas de fogaréu. Divisavam-se os troncos queimados
boiando no cinzeiro, como negros em farinhada.
b) E, de quando em quando, a fumaça deitava para a casa fronteira, envolvendo-a
num presságio de luto.

10-a) Era branco, com uma fisionomia empastada, cheia de rugas precoces, sem
dentes, todo ele mole, bambo. A sua testa era deprimida, e era longo e estreito o
seu crânio, do feitio daqueles a que o povo chama ‘cabeça de mamão-macho’.
b) Zezé Matheus era um verdadeiro imbecil. “Totalmente inofensivo, quase
inválido pela sua imbecilidade nativa” e “e o único que não tinha maldade no
coração”.

167

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