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PLANTAS DANINHAS
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Professor Adjunto do Departamento de Agronomia, Universidade Estadual de Maringá.
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Introdução
A seletividade de herbicidas é a base para o sucesso do controle químico de
plantas daninhas na produção agrícola, sendo considerada como uma medida da resposta
diferencial de diversas espécies de plantas a um determinado herbicida. Uma vez que a
base da seletividade aos herbicidas é o nível diferencial de tolerância das culturas e das
plantas daninhas a um tratamento específico, a seletividade trata-se, portanto, de um fator
relativo, e não absoluto. Quanto maior a diferença de tolerância entre a cultura e a planta
daninha, maior a segurança de aplicação.
Alguns herbicidas, como os fenoxicarboxílicos, controlam preferencialmente
plantas daninhas de folhas largas e não gramíneas, enquanto outros herbicidas, como as
dinitroanilinas, controlam principalmente gramíneas. Outros herbicidas, como o paraquat,
controlam gramíneas e folhas largas anuais, mas não controlam plantas daninhas perenes.
O efeito seletivo do herbicida é, portanto, uma manifestação das complexas interações
entre uma planta, o herbicida e o ambiente no qual a planta se desenvolve.
Um herbicida seletivo é aquele que é muito mais tóxico para algumas plantas do
que para outras dentro dos limites de a) uma faixa específica de doses; b) método de
aplicação e c) condições ambientais que precedem e sucedem a aplicação. Erros
cometidos pelo usuário, tais como escolha imprópria do produto, época de aplicação,
dose ou equipamento podem anular a diferença entre espécies tolerantes e susceptíveis e
ambas podem ser injuriadas, ocasionando a perda da seletividade. A maneira por meio da
qual a seletividade se expressa varia para cada combinação específica cultura-planta
daninha e é normalmente bastante especifico. Portanto, talvez o mais correto fosse julgar
se determinado tratamento, e não um herbicida especificamente, é seletivo para
determinada cultura. Por tratamento seletivo entende-se aquele que controla plantas
indesejáveis (plantas daninhas) sem afetar seriamente aquelas que são de interesse (as
culturas). A espécie que não sofre injúrias é considerada tolerante e a injuriada
susceptível.
Dose
A dose de um herbicida é expressa como a quantidade (peso ou volume) da
substância a ser aplicada por unidade de área. A dose de aplicação de um herbicida deve
ser tal que as plantas daninhas sejam efetivamente controladas com pouco ou nenhum
dano para as plantas cultivadas. Por exemplo, as triazinas foram inicialmente introduzidas
como esterilizantes de solo não seletivos, usados em doses de 20 a 40 kg/ha. Mais tarde,
descobriu-se que elas poderiam ser usadas seletivamente em certas culturas como alfafa e
algodão, quando aplicadas em doses entre 1 e 2 kg/ha.
Além disso, uma determinada dose pode ser seletiva para uma espécie e letal para
outra. No caso do imazethapyr, por exemplo, a soja apresenta uma tolerância cerca de 20
vezes superior à do milho (Tabela 1).
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Formulação
A formulação de um herbicida é muito importante para determinar se este é ou
não seletivo para uma determinada espécie. Talvez o exemplo mais claro disso seja a
utilização de formulações sólidas (granuladas ou peletizadas), as quais permitem que,
após a distribuição no campo, o herbicida não fique retido pelas folhas das culturas e caia
no solo. Outra aplicação para estas formulações são as aplicações localizadas em
pastagens, as quais objetivam o controle de espécies arbustivas ou de infestações
localizadas em reboleiras, minimizando a área de pastagem pulverizada.
Substâncias conhecidas como adjuvantes são geralmente adicionadas para
melhorar as propriedades de formulações líquidas; estes aditivos podem aumentar ou
diminuir a fitotoxicidade do herbicida em questão. A adição de antídotos às formulações
também pode ser usada para aumentar a tolerância da cultura a um herbicida específico.
movimento dos herbicidas ou alterem a resposta fisiológica das plantas podem reduzir a
seletividade.
A seletividade de posição é um dos fatores mais importantes para os herbicidas do
grupo das dinitroanilinas. Estes herbicidas são absorvidos principalmente pelas plântulas
das gramíneas antes da emergência. Como a maioria das sementes das plantas daninhas
encontra-se nos primeiros centímetros de profundidade do solo e tais herbicidas são
muito pouco móveis no perfil, acabam por afetar apenas as plantas daninhas e não a
cultura.
Diquat e paraquat, mesmo sendo herbicidas não seletivos, podem ser usados de
uma forma seletiva, fazendo-se, por exemplo, a aplicação em jato dirigido localizado nas
entrelinhas da cultura do milho.
Cultivar
Cultivares de cebola implantadas por meio de semeadura direta diferem entre si
na tolerância a herbicidas. A cultivar Baia Periforme é mais tolerante do que as cultivares
Granex e Texas Grano, em função da maior cerosidade foliar que apresenta (Tabela 2). A
cerosidade diminui a retenção da calda pulverizada nas folhas, reduzindo a quantidade
absorvida e o efeito fitotóxico de herbicidas aplicados em pós-emergência.
Tabela 2. Matéria seca da parte aérea de plantas de cebola (g/0,5 m) obtida 62 dias após a
semeadura, após a aplicação de oxyfluorfen 30 dias após a semeadura. Fonte:
Oliveira Jr. et al. (1997).
70
Número total médio 60
de espigas (mil/ha) 50
40 Sem herbicida
30 Com herbicida
20
10
0
2X
PM
04
3
06
05
01
06
06
47
-6
-1
-2
-2
-2
-1
T
1Q
S-
XL
H
BR
BR
BR
BR
AG
M
D
H
C
92 Híbridos
análoga, herbicidas não iônicos que se movem livremente através da membrana celular
podem sofrer transformações no apoplasto (Hess, 1985; Devine & Vanden Born, 1991).
A intensidade e a quantidade total translocada às vezes desempenham um papel
determinante na seletividade entre plantas.
A translocação apoplástica diferencial após absorção radicular é um importante
fator na determinação da seletividade de diversos herbicidas, como o simazine (Shone &
Wood, 1972) e o linuron (Walker & Featherstone, 1973). Em alguns casos, os herbicidas
sofrem uma compartimentalização após a absorção e são imobilizados em radículas ou
vasos capilares de espécies tolerantes, onde seu potencial de dano é minimizado.
No simplasto, a translocação de herbicidas pode ocorrer de forma bidirecional, e a
direção do movimento final depende da localização das áreas de maior demanda de
assimilados dentro da planta. A demanda e a oferta de assimilados é determinada pelo
relacionamento entre locais de produção líquida de assimilados (“fontes”) e locais de
utilização dos assimilados (“drenos”). A relação fonte-dreno determina a direção, taxa, e
extensão do transporte de herbicidas que são móveis no floema e varia entre plantas
daninhas, bem como para diferentes fases do ciclo de vida de uma mesma planta daninha.
A translocação diferencial tem um papel importante na determinação da
seletividade de alguns herbicidas móveis no floema, como o dicamba (Quimby &
Nalewaja, 1971), glyphosate (Gottrup et al., 1976), chlorsulfuron (Devine et al., 1990) e
imazamethabenz (Shaner & Mallipudi, 1991). Assim como na translocação diferencial
apoplástica de herbicidas, os mecanismos através dos quais espécies tolerantes
compartimentalizam herbicidas móveis pelo floema não estão completamente
esclarecidos. Em geral plantas que exibem tolerância a herbicidas móveis pelo floema por
não transportá-los também possuem a habilidade de metabolizar o herbicida absorvido
para uma forma inativa, evitando a fitotoxicidade (Hess, 1985; Shimabukuro, 1985).
desativação metabólica rápida antes que quantidades letais de 2,4-D possam se acumular
(Smith, 1979).
As reações mais importantes que participam do processo de destoxificação de
herbicidas nas plantas são relacionadas na Tabela 4.
Antídotos
A seletividade para alguns herbicidas pode ser alcançada através do uso de
substâncias químicas (antídotos) que protegem as plantas contra a ação tóxica dos
herbicidas.
A denominação “antídoto” foi primeiramente usada por Hoffman (1962), em
analogia à palavra utilizada em farmacologia, onde o uso de antídotos no tratamento de
envenenamentos é largamente utilizado. Embora largamente utilizado, o termo tem sido
questionado. Estas substâncias podem também ser chamadas de protetores químicos,
antagonistas, protetores (“safeners”), modificadores ou contra-toxicantes. Os antídotos
permitem o uso de certos herbicidas para o controle seletivo de plantas daninhas em
culturas que normalmente seriam susceptíveis àqueles herbicidas. Através do uso de um
protetor químico, uma espécie outrora susceptível pode se tornar tolerante a um
determinado herbicida, sem que a ação tóxica do produto em relação às plantas daninhas
seja prejudicada. Os antídotos químicos podem ser aplicados nas culturas na forma de
tratamento de sementes ou, mais comumente, podem ser incluídos como componentes da
formulação comercial do herbicida.
Os antídotos previnem, mas não revertem, eventuais danos que o herbicida possa
causar à cultura. O desenvolvimento da tecnologia dos antídotos de herbicidas é
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