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O papel do psicopedagogo
em relação ao bullying
Adalgisa Conceição Ferreira da Silva; Alice Maria Figueira Reis da Costa
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O papel do psicopedagogo em relação ao bullying
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Silva ACF & Costa AMFR
Segundo Fante1, no Brasil, de acordo com registro das práticas no caderno de ocorrências
pesquisas, o bullying ocorre, com mais frequên da turma e das falas da professora-pesquisadora
cia dentro da sala de aula, diferentemente, de que vivenciou esse problema em suas turmas de
pesquisas internacionais que apontam que o 5o ano do Ensino Fundamental. Esses documen-
bullying ocorre com mais frequência nos interva- tos forneceram dados de como o bullying se ma-
los e horários de entrada e saída da escola. Outro nifestava em sala de aula e de como as interven-
dado importante é que a maioria dos autores de ções dos professores frente a essa prática (esses
bullying relata que nunca foram repreendidos ou comportamentos dos alunos) resultaram de uma
advertidos por conta disso. Assim sendo, as formas maneira positiva ou negativa na prevenção e no
de violência sofridas por crianças e adolescentes combate ao bullying na sala de aula, viabilizando
continuam desconhecidas ou subestimadas. uma estratégia de intervenção do psicopedagogo
institucional frente a essa problemática.
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA A metodologia da pesquisa-formação2 con-
A Psicopedagogia visa, justamente, ao desen templou o objetivo desta pesquisa qualitativa,
volvimento de um trabalho com a criança, a proporcionando uma reflexão da professora-pes-
família e a escola, sensibilizando-os sobre a im quisadora sobre sua prática no cotidiano escolar
portância de sua conduta. Institucionalmente, o do ensino fundamental. O apontamento inicial
trabalho psicopedagógico contribui para a pre- para a metodologia do estudo de caso, seu foco
venção ou diminuição de dificuldades de apren- principal, teve como objetivo analisar as ações
dizagem, objetivando favorecer um ambiente do psicopedagogo prevenção do bullying. Em
educacional saudável que não estimule bloqueio Santos2, encontramos os fundamentos necessários
ou limitação da aprendizagem, por meio da apli- para o desenvolvimento desta pesquisa-formação:
cação de métodos preventivos com os alunos, a “pesquisador não é aquele quem consta-
equipe de profissionais e a família. Ademais, visa ta o que ocorre, mas também aquele que
à detecção de problemas já instalados e, caso ne- intervém como sujeito de ocorrências.
cessário, propor mudanças na estrutura geral da Ser sujeito de ocorrências no contexto de
escola, na conduta de profissionais específicos pesquisa e prática pedagógica implica
e/ou encaminhar o discente a um clínico. em conceber a pesquisa-formação como
A Psicopedagogia vem atuando com muito processo de produção de conhecimentos
sucesso nas diversas instituições. Seu papel é sobre problemas vividos pelo sujeito em
analisar e assinalar os fatores que intervêm ou sua ação docente. (...) A pesquisa-forma-
prejudicam uma boa aprendizagem em uma ção não dicotomiza a ação de conhecer
instituição. Propõe e ajuda o desenvolvimento dos da ação de atuar. (...) O pesquisador é
projetos favoráveis a mudanças. coletivo, não se limita a aplicar saberes
A aprendizagem deve ser olhada como a existentes, as estratégias de aprendiza-
atividade de indivíduos ou grupos humanos, gem e os saberes emergem da troca e da
que mediante a incorporação de informações partilha de sentidos de todos envolvidos”.
e o desenvolvimento de experiências, promove Tendo em mente a discussão teórica sobre o
modificações estáveis na personalidade e na tema em questão, buscamos pesquisar uma de-
dinâmica grupal, as quais revertem no manejo terminada escola localizada na região norte do
instrumental da realidade. Rio de Janeiro, na área da Leopoldina, visando
a responder a seguinte questão: “Qual é o papel
O CONFRONTO DA TEORIA COM A PRÁ- do psicopedagogo em relação ao bullying?”. A
TICA pesquisa foi realizada em sala de aula do 5o
Neste trabalho, os instrumentos metodológi- ano do ensino fundamental. Foi escolhida essa
cos utilizados foram a observação participante, sala devido ao fato de que eu como professora
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Figura 2 – Trecho de história em quadrinhos feita pelos próprios alunos sobre bullying.
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Figura 3 – Trecho de história em quadrinhos feita pelos próprios alunos sobre bullying.
violência, à dor, aos sofrimentos, aos valores éticos bros do contexto educacional, deve promover
de conduta, de conviver e, em muitos casos, in- campanhas de conscientização antibullying,
sensíveis até mesmo às orientações educativas. As para que as pessoas próximas possam identi-
instituições escolares permanecem com o desafio ficar os sintomas por meio da observação das
de colaborar na construção e no desenvolvimento crianças, ver se ela tem eventuais mudanças de
de políticas de prevenção ao bullying e de disse- humor, irritação, acessos de choro, insônia, falta
minação de uma cultura de paz e de tolerância de atenção ou dores que o obriguem a faltar aula.
midiatizada pela prática do diálogo. Esses podem ser sinais de que algo de errado
No caso de bullying, o diagnóstico deve ser está acontecendo nas relações interpessoais
feito o mais precocemente possível, cabendo a dessa criança.
ele orientar professores, pais e alunos naquilo O psicopedagogo, uma vez que tem o do-
que devemos fazer em cada momento para que mínio das técnicas especializadas para agir
as mudanças possam ocorrer de fato e que sejam como um solucionador de problemas de apren-
positivas. Diante do exposto, é necessário que dizagem e conduta, deve promover as mudan-
haja uma parceria da instituição escolar, das fa- ças necessárias para ajustar as necessidades
mílias e demais setores da sociedade que lutam múltiplas e diversas de seus usuários, atuando
pela redução da violência em nosso dia-a-dia. numa equipe interdisciplinar envolvendo profis-
O serviço de Psicopedagogia na escola, com o sionais de saúde, de educação e de assistência
apoio e o envolvimento dos pais e demais mem- social.
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SUMMARY
The role of psychopedagogists relative to bullying
Our interest in the bullying started initially highlight this issue in the
media, and how this problem can affect our school. The study of this subject
as a starting point had conversations with teachers, experts, officials and
then with parents and community. For these discussions that occurred
in various social networks from different socioeconomic levels, a case
diagnosed within a classroom, this study was necessary to the educational
process directed to members of the school community are aware of this
villain that permeates education XXI century and develop action plans
in which ethical and political values as forgotten in modern times where
individualism reigns, that contribute to bullying will decrease and even
become extinct in our schools.
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