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Preâmbulo ....................................................................................................................................................................................2
Sumário.........................................................................................................................................................................................3
Objectivos da Agricultura .........................................................................................................................................................3
Definição de agricultura....................................................................................................................................................3
Agricultura como matéria de estudo...............................................................................................................................4
Significado da agricultura à escala global......................................................................................................................4
Ocupação de espaço .........................................................................................................................................................4
População Agrícola...........................................................................................................................................................5
Desenho da paisagem.......................................................................................................................................................6
Desempenho da Agricultura ............................................................................................................................................6
A agricultura como um sistema ................................................................................................................................................8
Sistema ................................................................................................................................................................................9
Representação simbólica de um sistema ........................................................................................................................9
Sistemas em Agricultura .................................................................................................................................................10
Os ecossistemas agrícolas ......................................................................................................................................................11
Fluxos de energia e massa..............................................................................................................................................12
Eficiência de conversão de energia...............................................................................................................................13
Ciclos biogeoquímicos ...................................................................................................................................................13
Agricultura e ambiente.............................................................................................................................................................14
Impacte da Agricultura sobre o Ambiente...................................................................................................................14
Dependência de recursos não-renováveis ..................................................................................................................14
Alteração significativa dos ciclos biogeoquímicos .................................................................................................15
Sustentabilidade .......................................................................................................................................................................16
Algumas propriedades dos ecossistemas agrícolas ..................................................................................................16
Agricultura Sustentável..................................................................................................................................................17
Desafios futuros ..............................................................................................................................................................17
Os quatro subsistemas de agricultura ..........................................................................................................................18
Referências bibliográficas .......................................................................................................................................................19
Análise de Sistemas em Agricultura 2
Preâmbulo
1. A Ecologia, nascida há 130 anos, evoluiu como ciência, a partir da construção de uma
história natural, isto é, de uma descrição das espécies animais e vegetais e das circunstâncias
ambientais em que ocorrem mais ou menos abundantemente. Esta perspectiva, que no domí-
nio das espécies vegetais, coincide em grande parte com a Fitogeografia, foi evoluindo para
uma aproximação centrada nas múltiplas relações entre seres vivos e entre estes e o ambiente
que os rodeia, particularmente após o artigo de Tansley (1936) que representa, de facto, um
marco numa mudança muito gradual. A Ecologia adopta definitivamente a concepção sistemáti-
ca e a perspectiva integradora que hoje a caracteriza a partir do célebre livro de texto de
Odum, Fundamentos de Ecologia, publicado em 1953.
2. Foi instrumental nesta evolução a concepção organísmica da natureza. O conceito, pri-
mariamente enunciado por Bertalanffy nos anos 20 (Bertalanffy, 1968), pressupõe que a reali-
dade é organizada, isto é, tem um propósito para o qual concorrem todas as suas partes cons-
tituintes. O trabalho teórico de Bertalanffy teve desenvolvimentos em inúmeras áreas científicas
e tecnológicas, sendo particularmente reconhecido na gestão, na psicologia e na cibernética,
embora tivesse inicialmente partido da observação dos sistemas biológicos. Numa primeira
pesquisa é possível traçar um caminho de evolução quer teórica quer de aplicação em trabalhos
científicosde diversas áreas, cujos marcos mais relevantes foram a concepção organísmica 1, a-
plicações na demografia 2, o conceito de ecossistema 3, a cibernética 4, a Teoria Geral dos Siste-
mas5, aplicações na Engenharia de Controlo 6, a Ecologia de Sistemas7, aplicações na Econo-
mia 8, na teoria das Organizações 9, na Indústria 10, na Gestão 11, na Organização de Empresas 12,
na Fisologia Vegetal Aplicada13, na Agricultura 14 e no Planeamento e Gestão da Empresa Agrí-
15
cola . Muitos outros trabalhos que aqui não são referidos contribuíram também para o cresci-
mento de uma nova aproximação ao conhecimento da realidade, elaborando o conceito de sis-
tema, as suas propriedades gerais e a sua aplicabilidade.
3. Vimos anteriormente que o objectivo do estudo da Ecologia visa, por um lado a aquis i-
ção de um conjunto de conhecimentos organizados sobre a natureza - fenomenologia, e por
outro, aplicações práticas dirigidas para a gestão de sistemas ecológicos em benefício da hu-
manidade.
1
1924. L. von Bertalanffy. Einführung in Spengler's Werk
2
1925. A. J. Lotka. Elements of Physical Biology
1931. V. Volterra. Leçons sur la Théorie Mathématique de la Lutte pour la Vie
3
1935. A. G. Tansley. The use and abuse of vegetational concepts
4
1948. N. Wiener. Cybernetics
5
1950. L. von Bertalanffy. An Outline of General Systems Theory
6
1950. R. H. McMillan. An Introduction to the Theory of Control in Mechanical Engineering
7
1953. E. P. Odum. Fundamentals of Ecology
8
1953. A. Tustin. The Mecanism of Economic Systems
9
1953. K. E. Boulding. The Organizational Revolution
10
1958. J. W. Forrester. Industrial Dynamics - A Major Breakthrough for Decision Makers
11
1959. P. F. Drucker. Thinking Ahead:Potentials of Management Science
12
1960. K. L. Cohen. Simulation of the Firm
13
1967. W. G. Duncan, R. S. Loomis, W. A. Williams and R. Hanau. A Model for Simulating Photosynthesis in Plant Communities
14
1971. C. W. Spedding. Agricultural ecosystems
15
1971. J. B. Dent and J. R. Anderson. Systems Analysis in Agricultural Management
1972. A. L.Azevedo, C. A. M. Portas, F. C. C. Cary. O planeamento das operações em sistemas de exploração da terra.
Análise de Sistemas em Agricultura 3
Nesta lição procura-se fazer a síntese de aplicação do método sistemático à análise de uma
actividade humana particularmente importante, que é a Agricultura.
Sumário
4. Num primeiro passo, explicita-se o que se entende por Agricultura de que se trata eaqual o seu
domínio. Apresenta-se uma definição operacional, chamando-se a atenção para as limitações ou redu-
ções que daí decorrem e que são óbvia consequência da procura de operacionalidade. O que se entende
por Agricultura, não fica esgotado numa definição, por natureza, curta. Por isso, ilustra-se a dimensão
da actividade, medida pelo território que preenche, pela população que ocupa e pela riqueza que gera.
Como consequência da dimensão do espaço ocupado, a agricultura moldou a paisagem de áreas signifi-
cativas do território e como consequência da quantidade de trabalho historicamente requerido, da sua
natureza e dos seus ritmos, moldou costumes, tradições e modos de vida. A medida e a eficiência com
que a Agricultura cumpre os objectivos que persegue é avaliada pela evolução do território ocupado (no
Mundo, na UE e em Portugal) e pela produção de alimentos contrastada com as necessidades energéti-
cas e proteicas da população actual e com a evolução da quantidade de trabalho que emprega.
Num segundo passo, discute-se a observação do domínio da Agricultura como um sistema comple-
xo, isto é, em que intervêm múltiplos factores, procurando justificar a propriedade do uso da análise de
sistemas na observação desta realidade.
O terceiro passo compara a unidade elementar deste tipo de abordagem - o ecossistema agrícola -
com o seu análogo natural - o ecossistema silvestre.
O penúltimo passo foca as relações do ecossistema agrícola com o ambiente que o rodeia, procu-
rando identificar pontos conflituais e complementaridades, tendo sempre presente os objectivos enun-
ciados primeiramente.
Finalmente, o último passo, discute a sustentabilidade dos ecossistemas agrícolas, isto é, o neces-
sário compromisso entre a satisfação dos objectivos presentes e a perpetuação do seu desempenho co-
mo sistemas de suporte de vida do homem na terra.
Objectivos da Agricultura
Definição de agricultura
5. Agricultura - é uma actividade humana, levada a cabo com o objectivo principal de pro-
duzir alimentos e fibra (e combustível, tal como muitos outros materiais) pelo uso deliberado e
controlado de plantas e animais (Spedding, 1988).
Esta é uma definição que exclui a jardinagem e o paisagismo (por ausência de produtos
materiais), mas inclui a silvicultura, aquacultura e um grande número de processos industriais.
É necessário usar o adjectivo principal porque há muitos outros produtos que não se po-
dem incluir nas categorias alimentos e fibra. Por outro lado, muitos dos alimentos produzidos
não são destinados à alimentação humana directa, pelo que os alimentos para animais também
estão aqui incluídos. Na maior parte dos casos, os alimentos para animais podem também ser
considerados como produtos intermédios, integrados num processo de produção de alimentos
que ocorre num sistema de agricultura.
6. Spedding (1996) acentua a dificuldade de definições como esta, particularmente numa
altura em que a actividade agrícola se integra cada vez mais com actividades não agrícolas.
As actividades recreativas/turísticas em ambiente rural podem usar culturas e animais
(habitualmente usados nos processos característicos da actividade agrícola) com propósitos
Análise de Sistemas em Agricultura 4
diferentes dos que são enunciados na definição. Por estas razões, o domínio de plantas e ani-
mais "agrícolas" não pára de aumentar.
Assim, um animal (espécie, raça ou indivíduo) ou planta (espécie, variedade ou indivíduo)
será, ou não, considerado agrícola, conforme esteja, ou não, inserido num sistema agrícola (ou
processo).
Ocupação de espaço
9. À escala mundial a Agricultura ocupa 4,9x109 ha, ou seja, cerca de 38% da superfície
emersa.
Quadro 1 e Figura 1 - Repartição da área de terra pelos diferentes tipos de utilização (FAO, 2000)
Área
(Mha)
Terra arável 1375
Culturas permanentes 128 4936 38% Florestas
32%
Florestas 4157
Outros usos 3955
Total 13048
Culturas permanentes
1%
Terra arável
10. Contudo, esta distribuição não é idêntica em todos os países, dependendo de inúme-
ros factores, entre os quais, o potencial de uso do solo, a população nacional e a orientação e
Análise de Sistemas em Agricultura 5
5000000 50%
Agricultura
4750000 Floresta
Outros usos
4250000
40%
4000000
3750000
35%
3500000
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
4500
Figura 2. Evolução da ocupação do solo à escala mundial Figura 3. Evolução da fracção de área agrícola
Agricultura (FAO,
2000)
Floresta
Área (kha)
resposta à variação demográfica e ao desenvo l-
vimento económico 3000
pulação mundial, na Europa e nos Estados Uni- Figura 4. Evolução do uso do solo em Portugal
(FAO, 2000)
dos, tem-se verificado uma constante diminuição
da área agrícola e um acréscimo da área florestal e da área dedicada a outros usos (Fig. 2 e 3).
Em Portugal, esta redução foi particularmente brusca nos ú ltimos anos (Fig. 4).
População Agrícola 16
70%
60%
50%
y = -0,0038x + 8,0621
R2 = 0,999
40%
30%
20%
y = -0,0079x + 15,902
R2 = 0,9899
10% y = -0,0039x + 7,9143
R2 = 0,9618
y = -0,0011x + 2,264
0%
R2 = 0,9425
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
16
População agrícola é entendida aqui com o significado que lhe é atribuído pela FAO (2000), de cujas bases de dados estatísticos foi obtida a informação de
base. População agrícola - todas as pessoas que dependem, como modo de vida, da agricultura, caça, pesca e florestas. Nesta estimativa incluem-se todas as
pessoas activas, bem como os seus dependentes não activos.
Análise de Sistemas em Agricultura 6
12. Embora ainda cerca de 45% da população mundial dependa da Agricultura como modo
de vida, a tendência observável na Figura 5 é de decréscimo relativamente acelerado, à medida
que a produtividade do trabalho aumenta generalizadamente. Em Portugal, o decréscimo de
população agrícola tem sido particularmente rápido (-0,8% ao ano, ou seja, - 4000 pessoas por
ano).
Desenho da paisagem
13. Uma utilização tão vasta do território e, simultaneamente, uma ocupação de uma fra c-
ção tão significativa da população não pode deixar de moldar uma paisagem característica do
tipo de agricultura praticado e dos usos e costumes ligados à actividade agrícola. Simultanea-
mente esta acção tem repercussões estéticas e na reorganização do te rritório (Fig. 6 e 7)
Figura 6. Paisagem rural (van Gogh). Figura 7. Estrutura fundiária em Lagoa, Trás-os-Montes.
Desempenho da Agricultura
14. Em que medida é que uma actividade que tem por objectivo satisfazer as necessid a-
des alimentares da humanidade satisfaz este propósito?
Esta questão implica também uma apreciação daquilo que em Ecologia se designa por ca-
pacidade de carga ou de sustentação (carrying capacity). A população mundial cresceu expo-
nencialmente neste século, sendo hoje cerca de três vezes a população estimada em 1920 (Fig.
8).
O ritmo de crescimento é muito menor hoje do que o que se verificou nos últimos 100
anos. Nos últimos 40 anos a evolução tem sido linear e não exponencial (Fig. 9).
População mundial
Expon. (População mundial)
Linear (População mundial)
6000000
5000000
y = 77361x - 1E+08
R 2 = 0,999
y = 3E-09e 0,0176x
R 2 = 0,9967
4000000
3000000
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995
Figura 8. Evolução histórica da população mundial. Figura 9. Evolução da população mundial entre
1961 e 1999.( FAO, 2000).
Ajustamento linear e exponencial.
Análise de Sistemas em Agricultura 7
5000
3000
México necessidades mundiais de alimentos
não é só devido ao aumento de área
Ceilão Itália
Tailância Indonésia Tailândia, 99
2000 USA
Índia
Figura 10 Evolução da produtividade do trigo (no Reino Unido) e optimistas (Fig. 10).
do arroz (no Japão), comparadas comas produtividades de vários
países em 1968. (L. T. Evans, 1975). Actualização das previsões
com alguns casos seleccionados referentes a 1999 (FAO, 2000)
Quadro 2. Área, Produção, Energia Bruta e Capacidade de carga das 10 maiores culturas. FAO (2000).
Análise de Sistemas em Agricultura 8
CO 2, H2 O
Sistema
17. O que se quer dizer quando se
H2 O, O 2
emprega o termo sistema? Como enco n-
tramos sistemas nos vários níveis de ob-
Calor servação do mundo?
Variável
conjunto que não são explicadas pelas características
exterior
das partes isoladas.
As características do todo complexo, comparadas
Q - grandeza constante com as dos seus elementos são aparentemente, no-
mensurável
vas ou "emergentes" - Princípio da propriedade eme r-
fluxo
material gente.
∂Q 1
= f 1 Q1, Q 2, Q3,...Qn
∂t
∂Q 2 Qt- 1
f
= f 1 Q1, Q2 , Q3,...Qn ∆Q
∂t Qt
=f
...... ∆t
∂Q n
= f 1 Q1, Q 2, Q3,...Qn
1: Q t
∂t
1: 1.00
elementos p i (i = 1, 2, …,n) ∆t ∆Q
1
Uma mudança em qualquer elemento Q i
1: 0.50
mérica que pressupõe que cada Q no tempo Graph 1 Time 15:19 94/04/19
t pode ser conhecido adicionando ao valor Figura 13. Ilustração da resolução numérica de uma
de Q no tempo t-1 o valor da função f calcu- equação diferencial.
lada no tempo t-1 (Fig. 13). O rigor da aproximação depende em grande parte da adequação
do intervalo de tempo ∆ t, também chamado tempo de integração.
Algumas propriedades gerais dos sistemas podem ser inferidas deste sistema de equa-
ções diferenciais:
- Competição entre partes - equações alométricas
- Finalidade - o sistema tende para um estado final no futuro (dependência do futuro)
Destas propriedades gerais dos sistemas pode-se chegar a uma definição de sistema mais
completa e apropriada a uma realidade física:
- Um sistema é um grupo de componentes interactuantes que operam em conjunto para
um propósito comum; é capaz de reagir como um todo aos estímulos externos; não é direct a-
mente afectado pelo resultado da sua acção; e tem uma fronteira que contem todos os meca-
nismos de retroacção significativos (Spedding, 1996).
Sistemas em Agricultura
moléculas
19. Daqui decorre a possibilidade de aplicar o
células
conceito de sistema à realidade agrícola. Enquanto
tecidos a componente biológica pode ser hierarquizada no
órgãos folha de cultura esquema clássico da ecologia correspondendo à
organismos
ola
concepção organísmica, do mesmo modo, e partin-
ríc
o ag
açã
populações
exp
lor do do campo de cultura como unidade elementar da
comunidades
Região
agricultura e crescendo em tamanho e complexid a-
A Agricultura
actua
predominantemente
a estes níveis de, uma quinta ou exploração agrícola é constituída
por várias folhas de cultura (ou campos) e numa
região agrícola encontramos um grande número de
explorações agrícolas.
Figura 14. Organização hierárquica com
diferentes níveis de complexidade nos Assim, o conceito de sistema em Agricultura
sistemas de agricultura. Analogia com os
pode tornar-se operacional a diferentes níveis de
sistemas biológicos
organização:
Análise de Sistemas em Agricultura 11
Os ecossistemas agrícolas
20. Um ecossistema agrícola difere fundamentalmente de um ecossistema natural pela in-
tensidade de exportação da produtividade a que é submetido. De facto, sendo o propósito da
Agricultura a obtenção de alimentos, estes são obtidos recolhendo a produtividade primária e
ou secundária do ecossistema agrícola. Ao longo do
Radiação
solar Espaço físico
tempo, a evolução da Agricultura separou vincada-
mente o ecossistema agrícola do "habitat" humano
Reserva pelo que, hoje, um ecossistema agrícola é muito mais
de
nutrientes
aberto do que já foi no passado.
21. Como qualquer outro ecossistema, o ecossis-
Produtores
Figura 17. Modelo geral de um ecossis- te muito significativa destas transferências. O equilí-
tema
Análise de Sistemas em Agricultura 12
Produtos
Pesticidas animais te, uma parte substancial da ener-
Dejecções
Exportação gia radiante transformada em
Irrigação
energia química é exportada. De
Senescência, doenças e pragas
Subsídio de energia
de produção de alimentos, há in -
Figura 19. Fluxos de energia num ecossistema agrícola. corporação de energia quer directa
quer indirectamente. São exemplos
de incorporações directas de ener-
gia os consumos de combustível e
Fotossíntese
de energia eléctrica usados para
Energia radiante líquida
Figura 20 descreve o
caminho percorrido des-
de a radiação incidente
Animal Animal Animal
disponível até à acumula-
ção líquida de biomassa
resultante da fotossínte-
Homem Homem Homem Homem se. O processo tem uma
eficiência reduzida que,
18 4 7
(trigo) (milho-porco) (leite) geralmente se situa en-
Capacidade de sustentação (pessoas/ha) tre 2 e 5%, dependendo
Figura 21. Os quatro tipos principais de sistemas de agricultura, de acordo
das condições ambie n-
com a cadeia trófica envolvida. Adaptado de Loomis e Connor (1992).
tais, época do ano, es-
pécie utilizada e eficiência cultural.
25. A eficiência da produtividade primária não retrata adequadamente a eficiência de todos
os sistemas de agricultura. Dependendo do número de passos intermédios até à produção de
alimento utilizável pelo homem, bem como das espécies vegetais e ou animais utilizadas, um
hectare de área agrícola apresenta uma capacidade de sustentação muito variável (Fig. 21).
Ciclos biogeoquímicos
26. Os fluxos de massa nos ecossistemas agrícolas quando comparados com os ecossis-
temas naturais são também diferentes, não em natureza, mas sobretudo em dimensão e,
quando é caso disso, no controlo que o
homem sobre eles exerce. Assim, en-
Produção
quanto um ecossistema natural é quase Estrume
N
completamente fechado no que diz re s-
2
Agricultura e ambiente
Quadro 3. Balanço de energia para a produção de milho nos Estados Uni- de produção suficiente
dos entre 1945 e 1970 (MJ/ha). Adaptado de Pimentel et al. (1975) de alimentos, foi possib i-
Consumo de energia 1945 1959 1970 litado parcialmente à cus-
sidiada via utilização de mão de obra (- 61%) e os acréscimos no uso de adubos (+1530%) e
de electricidade para secagem do milho colhido (+630%). Enquanto a produtividade aumentou
138%, o consumo energético total aumentou 212%, o que se traduziu numa redução de efi-
ciência energética de 3.7 para 2.8 (-25%).
29. Contudo, o consumo energético não é só, nem principalmente, uma tendência exclusi-
va das actividades agrícolas. A restante fileira alimentar consome em média, 80% da energia
subsidiada no processo de produção de alimentos até ao consumo doméstico. É de salientar,
particularmente, a significativa fracção de 30% do total de energia consumida na operação final
de preparação doméstica de alimentos. É de salientar ainda a capitação energética estimada
em 34 GJ/capita/ano, valor que mais do que triplica o requerimento diário básico calculado ante-
riormente (Fig. 25).
30. A fracção agrícola da energia consumida na totalidade da fileira alimentar americana
manteve-se mais ao menos estável entre 1947 e 1970 - cerca de 16% - (F igura 25).
1.46
17.9%
Agricultura
(0.30)
181
2 Entradas-saídas
234
67 Perdas
72
19 Produção animal
126
50 Feno
Saídas
169
49 Desnitrificação
39
11 Lixiviação
26
7 Volatilização
450
158 Absorção de N
Extracção de N do solo
400
Adubo N
327
46 Estrume e chorume
0
120 Fixação de N
1972 180
1937 26 Resíduos vegetais
Fornecimento de N ao solo
500 400 300 200 100 0 100 200 300 400 500
kg N / ha /ano
Figura 26. Comparação das principais componentes do balanço de azoto nu-
ma pastagem utilizada por vacas leiteiras entre 1937 e 1972, na Holanda.
Adaptado de Loomis e Connor (1992).
Análise de Sistemas em Agricultura 16
Sustentabilidade
32. Uma das características dos sistemas, que resulta da sua propriedade de finalidade é
a sua perpetuação. Num ecossistema natural a hipótese de autoregulação é condição necessá-
ria e suficiente para assegurar aquela.
Num ecossistema agrícola, em que a regulação do sistema é assegurado pelo homem, é lí-
cito colocar a questão:
-É possível assegurar a manutenção em funcionamento adequado dos ecossistemas agrí-
colas?
É esta a questão que encerra as preocupações subjacentes ao problema da sustentabili-
dade.
Contudo, é preciso explicitar melhor o conceito.
SUSTENTÁVEL INSUSTENTÁVEL
ESTÁVEL
produtividade
produtividade
tempo
tempo tempo
tempo
produtividade
INSTÁVEL
produtividade
tempo
tempo tempo
tempo
Agricultura Sustentável
34. O conceito de Agricultura Sustentável é objecto de inúmeras definições, com minucio-
sas difere nças entre si.
Para este propósito, a definição proposta por Ikerd (1990) é suficientemente clara:
- Uma Agricultura Sustentável deve ser capaz de manter a sua produtividade e utilidade
indefinidamente.
Ora, sendo a utilidade da Agricultura definida como o principal objectivo a que se propõe,
i.e., ser capaz de sustentar o crescente requerimento alimentar da população mundial, a sus-
tentabilidade da Agricultura tem que obedecer, também, ao requisito de ser suficiente (Loomis
e Connor, 1992).
Uma Agricultura Sustentável tem perante uma tarefa de dimensões múltiplas e gigante s-
cas, já que se espera que seja capaz de dar resposta a uma lista variada de preocupações ac-
tuais:
• Eficiência de produção
• Qualidade percebida dos produtos
• Conservação de Recursos
• Protecção ambiental
• Competitividade comercial
• Segurança alimentar
• Qualidade de vida do agricultor
Desafios futuros
35. Enquanto há uma relativa unanimidade nesta lista de "objectivos" exigidos a uma Agri-
cultura que se pretenda sustentável, já há enormes divergências na hierarquização de priorid a-
des e, também, nos métodos de resolução de cada uma das preocupações referidas. A comple-
xidade do problema exige uma abordagem que, debruçando-se sobre um determinado aspecto
por mais específico que seja, não ignore a complexa teia de relações que podem ser modifica-
das com a alteração do componente aparentemente mais insignificante.
Análise de Sistemas em Agricultura 18
Sub-sistema Sub-sistema
biológico empresa
Referências bibliográficas