You are on page 1of 6

Pesquisa no Ensino de Química

A Química do Refrigerante

Ana Carla da Silva Lima e Júlio Carlos Afonso

Este trabalho aborda a produção de refrigerantes, descrevendo a função de cada um de seus componentes.
Sua fabricação exige um rigoroso controle a fim de assegurar a qualidade de um produto destinado ao consumo
humano. O refrigerante também se presta para diversas experiências em sala de aula, envolvendo a análise
sensorial, a solubilidade de gases em líquidos e as reações em meio ácido.

refrigerante, gases, análise sensorial

Recebido em 13/02/08, aceito em 03/11/08

210

R
efrigerante é uma bebida não também um aumento da participação - Sulfatos e cloretos: Auxiliam na de-
alcoólica, carbonatada, com de refrigerantes regionais (de 9% para finição do sabor, porém o excesso é
alto poder refrescante encontra- 32%). A Coca-Cola e a Companhia prejudicial, pois o gosto ficará dema-
da em diversos sabores. O vocábulo de Bebidas das Américas (AmBev) siado acentuado;
“tubaína”, empregado no interior do detinham, em 2004, 68% do mercado - Cloro e fenóis: O cloro dá um sabor
Brasil, é sinônimo de refrigerante (Rosa e cols., 2006). característico de remédio e provoca
regional e local. A indústria de refri- reações de oxidação e despigmen-
gerante surgiu em 1871 nos Esta- Composição do refrigerante tação, alterando a cor original do
dos Unidos. No Brasil, os primeiros Os ingredientes que compõem refrigerante. Os fenóis transferem
registros remontam a 1906, mas a formulação do refrigerante têm seu sabor típico, principalmente
somente na década de 1920 é que finalidades específicas e devem se quando combinado com o cloro
o refrigerante entrou definitivamente enquadrar nos padrões estabeleci- (clorofenóis);
no cotidiano dos brasileiros (ABIR, dos. São eles: - Metais: Ferro, cobre e manganês
2007). Em 1942, no Rio de Janeiro, Água: Constitui cerca de 88% aceleram reações de oxidação,
foi instalada a primeira fábrica. m/m do produto final. degradando o refri-
O Brasil é o terceiro produtor Ela precisa preen- gerante;
mundial de refrigerantes, depois dos cher certos requisitos O Brasil é o terceiro - Padrões microbioló-
Estados Unidos e México (Palha, para ser empregada produtor mundial de gicos: É necessário
2005; Rosa e cols., 2006). Contudo, o na manufatura de refrigerantes, depois dos um plano de higie-
consumo per capita é da ordem de 69 refrigerante (Palha, Estados Unidos e México. nização e controle
L por habitante por ano, o que coloca 2005): criterioso na unidade
o país em 28º lugar nesse aspecto. - Baixa alcalinidade: Carbonatos e industrial, que garantam à água todas
A Coca-Cola e a Pepsi detêm ¾ do bicarbonatos interagem com ácidos as características desejadas: límpida,
mercado mundial, avaliado em cerca orgânicos, como ascórbico e cítrico, inodora e livre de microorganismos.
de US$ 66 bilhões anuais (Rosa e presentes na formulação, alterando o Açúcar: É o segundo ingrediente
cols., 2006). sabor do refrigerante, pois reduzem em quantidade (cerca de 11% m/m).
Entre 1988 e 2004, o mercado na- sua acidez e provocam perda de Ele confere o sabor adocicado, “en-
cional cresceu 165%, verificando-se aroma; corpa” o produto, juntamente com o
acidulante, fixa e realça o paladar e
A seção “Pesquisa no ensino de Química” inclui investigações sobre problemas no ensino de Química, com explicitação fornece energia. A sacarose (dissaca-
dos fundamentos teóricos e procedimentos metodológicos adotados na análise de resultados. rídeo de fórmula C12H22O11 - glicose +

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA A Química do Refrigerante Vol. 31, N° 3, AGOSTO 2009


frutose) é o açúcar comumente usado por ser um dos seus componentes cies de microorganismos. Sua ação
(açúcar cristal). naturais. máxima é em pH = 3. É barato e
Concentrados: Conferem o sabor Antioxidante: Previne a influência bem tolerado pelo organismo. Como
característico à bebida. São compos- negativa do oxigênio na bebida. esse ácido é pouco solúvel em água,
tos por extratos, óleos essenciais e Aldeídos, ésteres e outros compo- é utilizado na forma de benzoato
destilados de frutas e vegetais (Palha, nentes do sabor são susceptíveis a de sódio. O teor máximo permitido
2005). Sabor é a experiência mista de oxidações pelo oxi- no Brasil é de 500
sensações olfativas, gustativas e tá- gênio do ar durante mg/100mL de refri-
teis percebidas durante a degustação a estocagem. Luz Os ingredientes que gerante (expresso
(Goretti, 2005). solar e calor acele- compõem a formulação em ácido benzoico).
Acidulante: Regula a doçura do ram as oxidações. do refrigerante são: água, O ácido sórbico
açúcar, realça o paladar e baixa o pH Por isso, os refrige- açúcar, concentrados, (INS 202) ocorre no
da bebida, inibindo a proliferação de rantes nunca devem acidulante, antioxidante, fruto da Tramazeira
microorganismos. Todos os refrige- ser expostos ao sol. conservante, edulcorante e (Sorbus aucuparia). É
rantes possuem pH ácido (2,7 a 3,5 Os ácidos ascórbico dióxido de carbono. usado como sorbato
de acordo com a bebida). Na escolha e isoascórbico (INS de potássio e atua
do acidulante (Tabela 1), o fator mais 300) são muito usados para essa mais especificamente sobre bolores
importante é a capacidade de realçar finalidade. Quando o primeiro é utili- e leveduras. Sua ação máxima é em
o sabor em questão (Palha, 2005). zado não é com o objetivo de conferir pH = 6. O teor máximo permitido é
O ácido cítrico (INS1 330) é obtido vitamina C ao refrigerante, e sim servir 30 mg/100mL (expresso em ácido
a partir do microorganismo Asper- unicamente como antioxidante. sórbico livre).
gillus niger, que transforma direta- Conservante: Os refrigerantes Edulcorante: É uma substância
mente a glicose em ácido cítrico. Os estão sujeitos à deterioração causa- (Tabela 3) que confere sabor doce
refrigerantes de limão já o contêm na da por leveduras, mofos e bactérias às bebidas em lugar da sacarose. As
sua composição normal. (microorganismos acidófilos ou bebidas de baixa caloria (diet) seguem
O ácido fosfórico (INS 338) apre- ácido-tolerantes), provocando turva- os padrões de identidade e qualidade 211
senta a maior acidez dentre todos ções e alterações no sabor e odor. das bebidas correspondentes, com
aqueles utilizados em bebidas. É utili- O conservante (Tabela 2) visa inibir o exceção do teor calórico.
zado principalmente nos refrigerantes desenvolvimento desses microorga- Dióxido de carbono: A carbona-
do tipo cola. nismos (Palha, 2005). tação dá “vida” ao produto, realça o
O ácido tartárico (INS 334) é usa- O ácido benzoico (INS 211) atua paladar e a aparência da bebida. Sua
do nos refrigerantes de sabor uva praticamente contra todas as espé- ação refrescante está associada à so-
lubilidade dos gases em líquidos, que
diminui com o aumento da tempera-
Tabela 1: Acidulantes empregados na manufatura de refrigerantes.
tura. Como o refrigerante é tomado
gelado, sua temperatura aumenta
Acidulante Estrutura pKa do trajeto que vai da boca ao estô-
pKa1 = 3,09 mago. O aumento da temperatura e
Ácido cítrico (Ácido 2-hidroxi-1,2,3- o meio ácido estomacal favorecem a
pKa2 = 4,74
propanotricarboxílico) (C6H8O7)
pKa3 = 5,41 eliminação do CO2, e a sensação de
frescor resulta da expansão desse
pKa1 = 2,15
gás, que é um processo endotérmico
Ácido fosfórico (H3PO4) pKa2 = 7,20
pK =12,36 (Palha, 2005).
a3

Processo de fabricação
Ácido tartárico (Ácido 2,3-diidroxi- pKa1 = 2,98
butanodioico) (C4H6O6) pKa2 = 4,34 O processo de fabricação é feito
sem qualquer contato manual e sob
rigoroso controle de qualidade duran-
Tabela 2: Conservantes encontrados em refrigerantes. te todas as etapas.
Elaboração do xarope simples: É o
Conservante Estrutura pKa produto da dissolução do açúcar em
água. A concentração varia entre 55 e
pK = 4,19 64% m/m (Rodrigues e cols., 2000). A
Benzoato de sódio (C7H5O2Na) dissolução do açúcar cristal em água
(ácido benzoico)
quente reduz o risco de contamina-
ção microbiana. O xarope é tratado
pKa = 4,75
Sorbato de potássio (C6H7O2K) com carvão ativado, que por adsor-
(ácido sórbico)
ção remove compostos responsáveis

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA A Química do Refrigerante Vol. 31, N° 3, AGOSTO 2009


Tabela 3: Edulcorantes utilizados no processamento de refrigerantes diet e suas principais características.

Poder adoçante Ingestão máxima diária


Nome Estrutura
(sacarose = 1) (mg/kg peso corporal)

Sacarina 300-400 5,0

(C7H5NSO3)

Ciclamato de sódio 50 11,0

(C6H12NSO3Na)

Aspartame* 200 40,0

(C14H18N2O5)

Acesulfame-K 200 15,0

212 (C4H4NSO4K)
* Não resiste ao calor (alimentos com aspartame não devem ser aquecidos)

por paladares e odores estranhos e o xarope pode ser liberado para o composto até a linha de envasamento
reduz a cor desse xarope. Ele é ar- envasamento (Palha, 2005). (enchedora), na qual são adicionados
mazenado em tanques esterilizados a A preparação do xarope compos- água e CO2 em proporções adequa-
vapor, e um filtro microbiológico evita to para bebidas do tipo diet ocorre das a cada produto. O refrigerante é
a entrada de ar. em tanques específicos para tal. Elas envasado em baixa temperatura (3 a
Elaboração do xarope composto: possuem baixa susceptibilidade à 12 ºC) e sob pressão para assegurar
É o xarope simples acrescido dos contaminação por microorganismos uma elevada concentração de CO2
outros componentes do refrigerante. por não conter açúcares. no produto (Palha, 2005). As linhas
Essa etapa é feita em tanques de Envasamento: Para as garrafas de CO2 têm um filtro microbiológico
aço inoxidável, equipados com agi- retornáveis, há uma inspeção prévia e são esterilizadas a vapor. Após o
tador, de forma a garantir a perfeita para que sejam re- enchimento, a garra-
homogeneização dos componentes e tiradas aquelas que fa é imediatamente
O processo de fabricação
evitar a admissão de ar. A adição dos estejam trincadas, arrolhada e codifi-
dos refrigerantes é feito
ingredientes deve ocorrer de forma bicadas, lascadas, cada com data de
sem qualquer contato
lenta e cuidadosa e de acordo com lixadas, quebradas validade, hora e linha
manual e sob rigoroso
a se­quência estabelecida na formula- ou com material de de envasamento. O
controle de qualidade
ção. O conservante é o primeiro com- difícil remoção como lacre e o nível de en-
durante todas as etapas.
ponente a ser adicionado. Em caso de tintas ou cimento. chimento das garra-
adição após o acidulante, forma-se Após essa seleção, fas são inspeciona-
uma floculação irreversível (o benzo- as garrafas são pré-lavadas com dos. O ar é uma contaminação nas
ato de sódio precipita). A adição do água. Elas depois são imersas em bebidas carbonatadas. Ele deve ser
antioxidante ocorre minutos antes da soda cáustica quente para retirada de eliminado ou mantido ao mínimo. Isso
adição do concentrado (Palha, 2005). impurezas e esterilização. Em segui- se consegue trabalhando com água
Concluídas as adições, mantém- da, passam pelo enxágue final com desaerada e desclorada e mantendo
se o agitador ligado por 15 minutos. água. Uma nova inspeção e seleção o nível do líquido em níveis corretos
Ao final, retira-se uma amostra para são feitas nessa fase. No caso das na embalagem. Piso, paredes, su-
as análises microbiológicas e físico- embalagens descartáveis, não há perfícies externas dos equipamentos
químicas (como turbidez, acidez e necessidade da pré-lavagem. e esteiras devem ser periodicamente
dosagem de açúcar ou edulcoran- A etapa final consiste no envio, por tratados com desinfetante ou água
te). Somente após essas análises, tubulações de aço inox, do xarope quente (Palha, 2005).

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA A Química do Refrigerante Vol. 31, N° 3, AGOSTO 2009


A Tabela 4 mostra as embalagens dos alimentos e como são percebidas aumenta a doçura da sacarose. No
usadas para refrigerantes. No pas- pelos sentidos humanos: entanto, à medida que aumenta a
sado, a embalagem universal para Visão: Por meio dela, obtemos a quantidade do ácido, a intensidade
bebidas, de um modo geral, era o primeira impressão do produto quan- do gosto doce diminui.
vidro. Basta recordar o conceito da to à aparência geral: cor, tamanho, Tato e audição: Eles permitem a
embalagem (casco) retornável, que formato, brilho e turbidez; percepção da textura do produto.
era devolvida na aquisição de um Olfato: Permite a percepção do Textura é o conjunto de proprieda-
novo refrigerante. Hoje predomina a aroma e odor; des (volume, espessura, formato,
embalagem plástica descartável, pois Paladar: É a sensação percebida densidade etc.) perceptíveis pelos
o plástico passou a ter competitivida- pelos órgãos gustativos (especial- sentidos. Como exemplo, tem-se a
de frente ao vidro em termos de custo, mente a língua) quando estimulados crocância de um biscoito; a firmeza
além de ser mais leve, reduzindo o por determinadas substâncias solú- de uma maçã; o som do morder, do
risco de acidentes em caso de queda. veis: doce, salgado, amargo e ácido. quebrar e do borbulhar de vários
Prazos de valida- A sensibilidade ao produtos (incluindo bebidas).
de: Eles se diferen- As embalagens PET tendem paladar varia entre as
Experimento 1. Análise sensorial: efeito
ciam entre produtos a ter menor validade pessoas, e os fatores
do CO2
e entre embalagens devido à sua maior que influem na per-
do mesmo produ- porosidade frente ao vidro cepção do gosto são: Material
to (Tabela 5). Estes e ao alumínio, levando à - Temperatura: O má-
são determinados perda de CO2 em menos ximo de sensibilidade - Refrigerantes de diversos sabores
por meio de teste tempo. e habilidade sensorial e marcas diferentes, devidamente
de estabilidade do ocorre entre 10 e 35 numerados, em duplicata: um,
produto quanto às análises físico- ºC. Com o aumento da temperatura, fechado, em baixa temperatura
químicas, microbiológicas e sensoriais há um aumento na sensibilidade para (geladeira), e outro, aberto, em tem-
(Puglia, 2005). As embalagens PET o doce e diminuição para o salgado peratura ambiente para escape do
tendem a ter menor validade devido à e o amargo. Por isso, testa-se um CO2 e posteriormente resfriado em 213
sua maior porosidade frente ao vidro e produto na temperatura em que ele geladeira, em mesma temperatura
ao alumínio, levando à perda de CO2 é consumido; da embalagem fechada;
em menos tempo (a propriedade de - Meio de dispersão: O grau de - Copos identificados de acordo com
os gases escaparem por pequenos diluição de uma substância com a a numeração dos refrigerantes.
orifícios se chama efusão). saliva determina a sua velocidade de
Procedimento
percepção. Uma solução de sacaro-
Experimentos com refrigerante se a 50% m/m pode ser percebida - Remover os rótulos originais dos
A análise sensorial é um fator- extremamente doce, mas balas com produtos para não comprometer a
chave na indústria de alimentos para aproximadamente 100% m/m de análise sensorial;
seleção, pesquisa e desenvolvimen- açúcar não o são; - Vendar os olhos dos degustadores;
to de novos produtos, controle de - Interação de gostos: Pode haver - Proceder à degustação. Anotar as
qualidade e testes de mercado com influência na percepção de um gosto observações em tabela previamente
consumidores (Goretti, 2005). Ela in- devido a outro. Por exemplo, o áci- organizada;
terpreta as reações às características do cítrico em pequena quantidade - Retirar a venda dos degustadores e
proceder à análise visual (cor, trans-
parência etc.).
Tabela 4: Tipos de embalagem utilizadas no envase de refrigerantes em 2006 (valores
expressos em %). Discussão
- Discutir o efeito do CO2 em relação
Vidro Lata PET [poli(tereftalato de etileno)] Barris de aço/alumínio aos órgãos dos sentidos.
12,2 7,8 79,9 0,1
Experimento 2. Análise sensorial: sacarose
ou edulcorante? Natural ou artificial?
Tabela 5: Prazos de validade (em meses) de refrigerantes segundo as embalagens.
Material
Sabor Vidro 290 mL Lata 350 mL Pet 600 mL Pet 2 L
- Refrigerantes de sabores de frutas
Cola 9 9 3 4
(normais e diet) e sucos de frutas,
Cola light 6 4 3 4
de diversas marcas, devidamente
Guaraná 9 9 6 6
numerados, mantidos fechados, em
Guaraná diet 6 6 6 6
baixa temperatura (geladeira);
Laranja 6 6 3 4 - Copos identificados de acordo com
Limão 6 6 6 6 a numeração das bebidas.

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA A Química do Refrigerante Vol. 31, N° 3, AGOSTO 2009


Procedimento importante notar que, uma vez aberta cessar o desprendimento de gás
Executar conforme mostrado no a embalagem, a bebida perderá parte antes da nova adição;
Experimento 1. do gás, mesmo quando em tempe- - Quando a adição do bicarbonato
ratura igual àquela do envase, pelo não produzir mais gás, medir o pH
Discussão
fato de a pressão interna ser superior do líquido.
- Observar se os alunos conseguem à atmosférica.
Discussão
distinguir o sabor dos refrigerantes Medida de acidez dos refrige-
contendo sacarose ou edulcorante; rantes e reações em meio ácido: A dissolução de carbonatos e bi-
- Descrever como os alunos per- Os refrigerantes têm caráter áci- carbonatos reduz a acidez do líquido
cebem a diferença do. O valor do pH, (como acontece quando se toma
entre o sabor de um medido com ins- um antiácido para combater a azia
refrigerante e o do O refrigerante é uma trumento ou papel estomacal):
suco de fruta corres- ferramenta versátil e de indicador, pode ser
pondente. baixo custo para aulas comparável ao do CO32-(aq) + 2 H+(aq) → CO2(g) + H2O(l)
Efeito da tempe- práticas ou demonstrativas, pH do suco gástrico HCO3-(aq) + H+(aq) → CO2(g) + H2O(l)
ratura e da pressão facilitando o aprendizado (pH ~ 2,0) e de ou-
na solubilidade dos de diversos conceitos. tros sucos naturais. Os alunos devem entender porque
gases em líquidos: Podem-se mostrar em pH = 7 não ocorre mais liberação
De acordo com o princípio de Le aos alunos reações químicas que de CO2.
Châtelier, a elevação na temperatura ocorrem em meio ácido. O emprego
Experimento 5. Reação do ferro metálico
favorece uma transformação endo- de refrigerantes sem corante facilita a
com o ácido do refrigerante (Figura 2)
térmica que, para um gás, ocorre visualização dos experimentos.
quando ele deixa a solução. Por isso, Material
Experimento 4. Dissolução de bicarbonato
os gases se tornam menos solúveis à
de sódio no refrigerante (Figura 1)
medida que a temperatura do líquido - Béquer de 250 mL;
214 no qual estão dissolvidos se eleva Material - Refrigerante de sabor limão ou outro
(Macedo, 1981; Canto e Peruzzo, que não contenha corante;
2006). A uma temperatura fixa, a so- - Béquer de 250 mL; - Palha de aço;
lubilidade dos gases aumenta com a - Refrigerante de sabor limão ou outro - Solução de H2O2 a 3% m/m (10
elevação da pressão (Macedo, 1981; que não contenha corante; volumes);
Canto e Peruzzo, 2006). - Bicarbonato de sódio sólido; - Pipeta.
- Espátula;
Experimento 3. Efeito da temperatura e da Procedimento
- Tiras de papel indicador universal
pressão na solubilidade dos gases
de pH. - Medir o pH inicial do refrigerante por
Material meio do papel indicador de pH;
Procedimento
- Adicionar a palha de aço no refri-
- Refrigerantes de diversos sabores - Medir o pH inicial do refrigerante por gerante; a partir daí, acompanhar
e de uma mesma marca, fechados, meio do papel indicador de pH; a evolução visual do experimento,
em triplicata: o primeiro, em baixa - Adicionar, aos poucos, com a espá- conforme descrição na Figura 2;
temperatura (geladeira); o segundo, tula, o bicarbonato de sódio. Esperar - Após 20 minutos, adicionar o peróxi-
exposto ao sol; o terceiro, inicialmente
exposto ao sol e depois colocado por
10 minutos na geladeira.
Procedimento
- Abrir as tampas. Anotar o comporta-
mento do produto em cada uma das
condições acima listadas.
Discussão
- Avaliar o efeito combinado da
temperatura e da pressão sobre a
solubilidade de um gás em um lí-
quido. O resultado dessa discussão
deve explicar todos os fenômenos
visuais (modo de liberação do gás) Figura 1: Dissolução de bicarbonato de sódio em refrigerante de limão: (a) Início do
e auditivos (barulho decorrente da processo (pH = 3,0); (b) Após 3 minutos (desprendimento de CO2); (c) Após 10 minutos
despressurização) observados. É (pH = 7,0). Nesse pH, não há mais liberação de CO2.

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA A Química do Refrigerante Vol. 31, N° 3, AGOSTO 2009


de qualidade necessário para que
seja consumido sem risco à saúde.
A Química tem um papel essencial
na análise de quaisquer produtos
consumidos pelas pessoas.
O refrigerante é uma ferramenta
versátil e de baixo custo para aulas
práticas ou demonstrativas, facilitan-
do o aprendizado de diversos concei-
tos, tais como solubilidade dos gases
em água, interações químicas (dipolo
Figura 2: Reação da palha de aço com o ácido do refrigerante de limão. (a) Início do permanente – dipolo induzido), pKa,
processo; após 3 minutos, observam-se bolhas de gás na malha de ferro; (b) A palha pH e efeito da pressão e da tempera-
de aço é levantada pelas bolhas que se acumulam na malha de seus fios; (c) A palha de tura no comportamento dos gases.
aço afunda depois que o gás se desprende da solução; (d) Após 10 minutos (pH = 4,0),
nota-se a cor verde que indica a formação do íon Fe2+; (e) Após 20 minutos (pH = 7,0), Nota
o ferro precipita como hidróxido de ferro(II), Fe(OH)2; a adição de peróxido de hidrogênio 1. INS - International Numbering
(H2O2), um agente oxidante, oxida o Fe2+ a Fe3+, formando o hidróxido Fe(OH)3.
System ou Sistema Internacional de
Numeração de Aditivos Alimentares,
do de hidrogênio, por meio da pipeta, agente redutor frente ao peróxido elaborado pelo Comitê do Codex
no fundo do béquer. de hidrogênio, de acordo com a sobre Aditivos Alimentares e Contami-
equação: nantes de Alimentos (CCFAC) como
Discussão
um sistema numérico de identificação
O ferro reage com ácidos, libe- 2 Fe(OH)2(s) + H2O2(aq) → 2 Fe(OH)3(s) desses aditivos em alternativa à de-
rando gás hidrogênio. Essa reação claração de seus nomes.
ocorre em “câmera lenta”, mas à A mudança de cor na Figura 2(e) é o 215
medida que ela avança, a concen- resultado visual dessa reação redox. Ana Carla da Silva Lima, graduada em Licenciatura
em Química pelo Instituto de Química da Universi-
tração de H+ diminui no meio e, por
consequência, o pH aumenta. Conclusão dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), trabalha em
laboratório de controle de qualidade de refrigeran-
O refrigerante é um exemplo de tes de uma unidade industrial. Júlio Carlos Afonso
Fe(s) + 2 H+(aq) → Fe2+(aq) + H2(g) como a química está inserida em (julio@iq.ufrj.br), graduado em Química e Engen-
haria Química e doutor em Engenharia Química
nosso cotidiano, não apenas no que pelo IRC/CNRS (França); é professor associado do
Esse fato leva à precipitação do diz respeito à preparação desse Departamento de Química Analítica do Instituto de
Fe2+ como hidróxido. O Fe(II) é um produto, mas também no controle Química da UFRJ.

Referências PUGLIA, J.E. Padrão de codificação BAUR, J.E. e BAUR, M.B. The ultrasonic
da data de validade. São Paulo: AmBev, soda fountain: a dramatic demonstration
ABIR - Associação Brasileira das Indús-
2005. of gas solubility in aqueous solutions.
trias de Refrigerantes e de Bebidas Não
ROSA, S.E.S.; COSENZA, J.P. e LEÃO, Journal of Chemical Education, v. 83, p.
Alcoólicas. Histórico do setor. Disponível L.T.S. Panorama do setor de bebidas no
em: <http://www.abir.org.br/rubrique. 577-582, 2006.
Brasil. BNDES Setorial, v. 23, p. 101-149, SNYDER, C.A. e SNYDER, D.C. Simple
php3?id_rubrique=178>. Acesso em 2006.
dez. 2007. soda bottle solubility and equilibria (TD).
RODRIGUES, M.V.N.; RODRIGUES,
CANTO, E.L. e PERUZZO, T.M. Química Journal of Chemical Education, v. 69, p.
R.A.F. e SERRA, G.E. Produção de xarope
na abordagem do cotidiano, vol. 2 – Físico- 577-581, 1992.
de açúcar invertido obtido por hidrólise
Química. 4. ed. São Paulo: Moderna, FERREIRA, E.C. e MONTES, R. A quí-
heterogênea, através de planejamento
2006. experimental. Ciência e Tecnologia de mica da produção de bebidas alcoólicas.
GORETTI, M. Manual de treinamento Alimentos, v. 20, p. 103-109, 2000. Química Nova na Escola, v. 10, p. 50-51,
– análise sensorial. São Paulo: AmBev, 1999.
2005. Para saber mais FERREIRA, L.H.; HARTWIG, D.H. e RO-
MACEDO, H. Físico-Química I. Rio de ANVISA – Agência Nacional de Vigilância CHA FILHO, R.C. Algumas experiências
Janeiro: Guanabara Dois, 1981. Sanitária. Aditivos alimentares. Disponível simples envolvendo o princípio de Le
PALHA, P.G. Tecnologia de refrigerantes. em: <http://www.anvisa.gov.br/alimentos/ Chatelier. Química Nova na Escola, v. 5,
Rio de Janeiro: AmBev, 2005. legis/especifica/aditivos.htm>. p. 28-31, 1997.

Abstract: The chemistry of soft drink. This work presents an overview on the production of soft drink, describing the function of each of its components. The manufacture of a soft drink requires
a rigid quality control since it is a product for human consumption. Soft drink is also useful as a tool for some classroom experiments, such as sensorial analysis, the study of solubility of gases in
liquids and the reactions in acid medium.
Keywords: soft drink; gases; sensorial analysis.

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA A Química do Refrigerante Vol. 31, N° 3, AGOSTO 2009

You might also like