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Transformadores

A) Princípio de funcionamento de transformadores

O objetivo desta prática é identificar os parâmetros do modelo de um transformador utilizando


dois ensaios: o ensaio em vazio e o ensaio em curto circuito.

1 V2

Figura 1: Esquema da montagem do trafo em vazio e em curto

O trafo a ser utilizado possui 4 enrolamentos no primário (P1,P2,P3,P4) e 4 no secundário


(S1,S2,S3,S4). Cada enrolamento possui N espiras. A forma de conectar os enrolamentos define a
tensão e a potência do trafo . A tabela abaixo indica algumas conexões possíveis (Justifique os
valores da tensão e potência da tabela).

# Tipo de conexão* N1 (total em N2 (total em V1 V2 potência


série) série)
1 P1//P2//P3//P4 N N 110 110 Pnom
S1//S2//S3//S4
2 (P1+P2)//(P3+P4) 2N 2N 220 220 Pnom
(S1+S2)//(S3+S4)
3 P1+P2+P3+P4 4N 4N 440 440 Pnom
S1+S2+S3+S4
4 (P1+P2)//(P3+P4) 2N N 220 110 Pnom
S1//S2//S3//S4
5 (P1+P2) 2N N 220 110 Pnom/2
(S1//S2)
6 P1 N N 110 110 Pnom/4
S1
* P indica primário, S secundário; “+” indica ligação série, “//” indica ligação paralelo.

da lei de indução de Faraday, sabe-se que:

d d
e N
dt dt
Assim, se diversas bobinas estiverem submetidas ao mesmo fluxo, a tensão induzida total
será proporcional a N, número de espiras da bobina na qual se mede a tensão.

Supondo que a variação do fluxo seja senoidal

∅ = ∅𝑝𝑖𝑐𝑜 . 𝑠𝑒𝑛(𝜔. 𝑡)
𝑑𝜆
𝑒= = 𝜔. 𝑁. ∅𝑝𝑖𝑐𝑜 . 𝑐𝑜𝑠(𝜔. 𝑡)
𝑑𝑡
𝐸𝑝𝑖𝑐𝑜 = 𝜔. 𝑁. ∅̂.
2. 𝜋. 𝑓. 𝑁. ∅𝑝𝑖𝑐𝑜
𝐸𝑒𝑓 = = 4,44 𝑓. 𝑁. ∅𝑝𝑖𝑐𝑜
√2
A tensão (V) que será medida nos terminais depende da corrente da bobina, pois

d
V  r.I 
dt

Tanto o primário do transformador como o seu secundário possuem resistência. Outro fenômeno
que ocorre é que nem todo o fluxo que passa no primário chega o secundário ( e vice-versa).
Nestas condições um modelo clássico para correlacionar tensões e correntes do primário e
secundário, é baseado nas equações
dI1 dI dI
V1  r1.I1  Ld 1.  Lm . 1  r1.I1  Ld 1. 1  E1
dt dt dt
dI
V2  r2 .I 2  Ld 2 . 2  E2
dt

V1  r1.I1  jX d 1.I1  E1
V2  r2 .I 2  jX d 1.I 2  E2

N1
E2  E1
N2
Com Ld, sendo as indutâncias de dispersão, Lm a mútua entre os enrolamentos, E as f.e.m.
produzidas pelo fluxo mútuo, r as resistências dos enrolamentos. “1” e “2” representam o
primário e secundário, respectivamente.

Estas equações podem ser representadas de forma gráfica no circuito abaixo. Na região verde está
o modelo estudado em cursos básicos de eletromagnetismo.
Deste circuito, pode-se calcular as correntes, potências etc. tanto no primário como no
secundário.
Para fins de modelagem de sistemas elétricos de potência em regime permanente de
trabalho, normalmente busca-se um modelo ainda mais simplificado, no qual as grandezas são
todas referenciadas a um dos lados da máquina e as indutâncias definem as reatâncias do circuito
na frequência de trabalho. O modelo resulta em um circuito como abaixo,

X l1 R1 R2' X l' 2

I a  N1 / N 2
I1 I2
Ic Im I 2' E2'  aE2 ; I 2' 
' a
V1 Rc Xm
E
2 E2
R2  a R2 ; X l 2  a 2 X l 2
' 2 '

Considerando o fato que o transformador é construído com material ferromagnético, não


há linearidade entre a corrente de magnetização e o seu fluxo. Desta forma, não há linearidade
entre as tensões e corrente em vazio. Se aplicarmos uma tensão senoidal no primário, a tensão do
secundário será senoidal, pois o fluxo será senoidal ( o fluxo é a integral da tensão E ~ V). Se o
fluxo é senoidal, a densidade de fluxo “B” (fluxo por área de seção transversal do Trafo) é também
senoidal. Neste caso, podemos estimar a forma da corrente usando uma curva de histerese típica
de material ferromagnético.

E como seria a relação entre a tensão e corrente em carga, por exemplo, resistiva?
1. Relação de transformação e magnetização

Material
 1 osciloscópio de canais isolados e ponta de prova de corrente
 1 variac
 1 transformador
 4 multímetros
 1 wattimetro alicate.
 1 fonte cc (para medir as resistências do trafo usando a lei de ohm).

Identifique os valores nominais do transformador (trafo) e anote-os abaixo

A partir dos valores anotados preencha a tabela abaixo


Tensão nominal por bobina V
Corrente nominal por bobina A
Potência nominal por par de bobinas VA
Relação de espiras por par de bobinas Adimensional
N1/N2

“Construa” um transformador montando as bobinas de forma a obter 110 V no primário e 220


V no secundário, utilizando apenas duas das bobinas do primário e duas do secundário. Considere
o primário os terminais que estão no lado próximo ao disjuntor do equipamento, e o secundário, o
outro lado.

Meça o valor das resistências do primário e do secundário, usando a lei de ohm.

V1 (Vcc)
I1 (Acc)
R1
V2 (Vcc)
I2 (Acc)
R2
Utilize o osciloscópio de canais isolados e observe a corrente em vazio (I0)com a ponta de prova
de corrente em duas condições: baixa tensão (baixo fluxo) e alta tensão.
Anote as tensões eficazes aplicadas (V1) e as medidas (V2) e esquematize, no gráfico da terceira
coluna, a corrente observada. No gráfico, anote o valor de pico da corrente.
V1 V2
Corrente de primário
(V) (V)
Baixa
~55% de Vnom

Alta
~110% de Vnom

Qual a relação entre as tensões experimental V1/V2 nos dois casos. Compare a relação entre V1 e
Io nos dois casos: qual é maior? Justifique os resultados.
R:

Aplique tensão variável à entrada do transformador utilizando um variac conectado à rede de


tensão de 220 V e preencha a tabela abaixo. Um dos pontos da tabela deve possuir um ponto
próximo da tensão nominal do transformador (Vnom). Inicie as medições com tensões inferiores a
20% a Vnom. Meça valores até cerca de 20% superiores ao valor nominal.
V1 (V) V2 (V) I1 (eficaz)* Potência (W)
(A)

*meça com um multímetro


Qual o valor mais provável para a relação N2/N1 a partir dos resultados obtidos? Justifique.

Trace a curva V2x I1ef.


200

150
E2 (V)

100

50

0
0 0.1 0.2
Imagnetização (A) 0.3 0.4
5. Trace a curva E1 x Potência (E1=V2.N1/N2). Interpole os pontos obtidos por um modelo que
represente as perdas no Ferro por uma resistência (P=E12/Rfe). Comente os resultados.
200

150
Perdas no Ferro (W)

100

50

0
0 0.1 0.2
E1(V) 0.3 0.4
B) Determinando os parâmetros do transformador

O modelo proposto (figura abaixo) possui 6 parâmetros. Assim sendo seriam necessárias 6
equações linearmente independentes para encontrar todos os parâmetros. Como mediremos
tensões e correntes, COM SUAS FASES, teremos, para cada equação que relaciona tensão com
corrente, a parte real e a parte imaginária. Assim sendo só precisaríamos de 3 equações
complexas para identificar os 6 parâmetros.
Nas figuras abaixo são apresentados os modelos típicos para análise da relação entre a
corrente e tensão do transformador. O modelo da direita é ainda mais simples que o da esquerda.
Nele se supõe que as resistências e indutâncias de dispersão do primário são suficientemente
pequenas para não afetar o valor do fluxo mútuo.

´ ´ ´ ´

Há várias formas de se obter o conjunto de equações necessário. Por exemplo,


experimentalmente, bastaria colocar 3 cargas diferentes e teríamos as 6 equações. Mostra-se que,
considerando os valores típicos desses parâmetros a matriz resultante1 para solucionar o
problema ficaria mal condicionada, tornando a obtenção dos parâmetros sujeita a muitas
incertezas experimentais. Após quase uma centena de anos de desenvolvimento de métodos
experimentais, há normas técnicas aceitas internacionalmente2 que propõem métodos de ensaio.

Neste curso, vamos separar X1 de X2 (muitas normas não o fazem). Para tanto, optamos por
adotar algumas hipóteses construtivas: uma associada ao projeto do transformador e outra por
uma medição direta de um dos parâmetros.

a) Algumas hipóteses construtivas


a1) supondo que o fluxo disperso tanto do primário como do secundário passam por
caminhos semelhantes é possível dizer que

Xl1 = X’l2 = 0,5.(Xeq)

1
Na verdade, conforme as escolhas, o sistema de equações seria não linear.
2
ABNT NBR NBR 5380
a2) Outras equações são obtidas simplesmente medindo a resistência estatórica em
corrente contínua3, entre duas fases.

R1 = R1medido ; R’2 = (N1/N2)2R2medido

Além destas equações teremos mais quatro, resultante de mais dois ensaios:

b) Transformador em vazio (vz)


Um ensaio em vazio, sem carga no secundário, é relativamente fácil de ser executado. Como
não há quase nenhuma potência convertida, pode-se dizer que I2 é zero. Podemos dizer que o
modelo da máquina fica aproximadamente igual a

Xm = Vvz2/Qvz

Rc = Vvz2/Pvz

com Svz2= Pvz2 + Qvz2 e Svz= Vvz. Ivz

Para encontrar estes dois parâmetros, bastam as potências medidas: a parte reativa em
vazio (Qvz), a parte ativa (Pvz) ou a total ou aparente Svz e o fator de potência em vazio).

c) Transformador em curto circuito (cc)


O ensaio de curto também é simples de ser realizado. Nesta situação, as correntes possuem
alto valor desmagnetizante (correntes de baixo fator de potência). Assim o fluxo, para correntes
próximas à nominal, é relativamente pequeno. Por esta razão as perdas associadas ao fluxo
podem ser desprezadas. Assim, uma boa aproximação para o modelo que estamos trabalhando
passa a ser o da figura a seguir.

e, portanto4,

Xeq ~ Qcc / Icc2

Req ~ Pcc2/ Icc2

com Scc2= Pcc2 + Qcc2 e Scc= Vcc. Icc

3
Esta equação supõe, de forma simplificada, que esta resistência normalmente é pouco dependente da
frequência de excitação e que os fluxos dispersos no estator produzem pouca variação das perdas associadas
ao parâmetro (veja a discussão de perdas suplementares, por exemplo, no capítulo de máquinas síncronas no
livro texto)
4
Observe que temos uma equação a mais. Já temos R1 e R2! Vamos usá-la para verificação.
2. Determinação dos parâmetros para as condições nominais

2.1. Ensaio em vazio

Recupere (ou calcule) as informações para a tensão nominal do ensaio já realizado outros dados.
Vvz (~a tensão nominal) V
Ivz A
Pvz W
Qvz var
N1/N2
R1medido 
R2medido 

Calcule as reatâncias e resistências equivalentes (Xeq e Req) a partir das potências medidas

Verifique se o valor da resistência equivalente é compatível com os valores das resistências


medidas diretamente e a relação de transformação (N1/N2).
1.1. Ensaio em curto-circuito

Mantenha a montagem como no item anterior (220V/110V). Ponha o secundário em curto.


Para fins de segurança, alimente o transformador no primário através de um variac alimentado
pela rede de “110V”.

Aplique tensão variável (reduzida! Inicie de zero e suba lentamente) à entrada do transformador e
preencha a tabela abaixo. Um dos pontos da tabela deve possuir um ponto próximo da corrente
nominal do transformador (Inom). Inicie as medições com correntes inferiores a 20% a Inom.
Meça valores até cerca de 30% superiores ao valor nominal.
V1 (eficaz)* I1 (eficaz)* I2

*meça com um multímetro


Determine a relação N1/N2 a partir da relação das correntes eficazes nos dois enrolamentos. A
relação N1/N2 obtida experimentalmente é dependente da corrente do enrolamento primário?
Justifique

Comente: qual a relação N1/N2 mais provável (já medimos V1/V2 e I2/I1)?
Calcule os parâmetros e desenhe o circuito equivalente do transformador, com seus valores.

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