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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE PSICOLOGIA

ENTREVISTA IDOSO

RESENHA

Aluna:
Gisela de Oliveira Gusmão – RA 243592
Psicologia – 6º sem.
Avaliação Processual Parcial
Disciplina: Psicologia do desenvolvimento -
maturidade e envelhecimento
Docente: Profa. Dra. Christina Neder

São Paulo/SP

Abril/2014
“Eu não me lembro da última vez que você tenha me convidado para tomar café na
sua casa, mesmo minha mulher sendo a madrinha da sua única filha. Mas agora você
vem até mim e diz: ‘Don Corleone, faça justiça’. Mas não pede com respeito, não me
oferece amizade. Você nem mesmo pensa em me chamar de Padrinho.” (fala do
personagem Don Vito Corleone – filme “O poderoso chefão I”)

Tomando a frase acima como exemplo, fica evidente o pensamento do senso


comum sobre a velhice, quando a família e os amigos enquadram o idoso num papel
de menor relevância, mesmo quando o solicitam como mediador. Vê-se a imagem
do idoso carregada de estereótipos, como aquele que está desatualizado e é
inflexível a mudanças e como aquele que critica demais. Entretanto, não é raro
recorrerem ao idoso por sua experiência de vida, sabedoria e capacidade mediadora
nos conflitos familiares. Mesmo o temido “poderoso chefão”, já não era tão solicitado
e respeitado na sua velhice.

No texto Percepções da velhice e auto-imagem da pessoa idosa, publicado no portal


da fundação Abramo em 2007, os dados estatísticos mostram que o paradigma do
idoso associado à doenças, à fala de interesse e falta de virilidade é ainda muito
forte. Schirmacher (2004), em sua entrevista para a revista Veja, fala sobre o
sentimento de culpa pelo envelhecimento do ponto de vista do instinto, da natureza
que não se interessa por seres que não podem reproduzir, e entre os humanos que
além do déficit da capacidade reprodutiva, marca a aposentadoria, em tese, como o
momento em que o ser humano passa a depender da produtividade de outros.

Segundo Schirmacher, é um equívoco pensar desta maneira e não há pesquisas


que apontem diferença na qualidade do trabalho executado por um jovem ou um
velho. Entretanto, é desejável que sejam colocados em funções coerentes com suas
habilidades e, estimulados no trabalho, bem como no empreendedorismo, tanto
quanto um jovem.

A entrevista trouxe pontos importantes na questão do gênero, apontando a mulher


como aquela que ainda sacrifica a carreira em função da família e o fazem em geral
porque o salário é menor, como no caso da entrevistada, Sra. MMS. É provável que

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seu esposo não tivesse deixado a carreira para cuidar dela, caso fosse ao contrário.
Ainda que a entrevistada relate que sentiu grande alegria em cuidar do seu marido,
esta “alegria” é ensinada culturalmente às mulheres. Como consequência dessa
escolha, a Sra. MMS recebe uma pensão de apenas um salário mínimo quando
poderia ter se aposentado com um ganho melhor se tivesse seguido trabalhando até
cumprir o tempo de serviço.

Entretanto, ela afirma sentir-se feliz com o que tem e com suas ocupações.
Respondendo à questão sobre as pessoas serem preparadas para a aposentadoria,
a entrevistada responde: “Devem ser preparada com orientação em reuniões, pois
há pessoas que não querem nem sair de casa e ficam sentadas vendo televisão.
Tem que por o esqueleto para movimentar”.

Pode-se inferir que caso a entrevistada não se ocupasse tanto com as ONGs e as
atividades religiosas, bem como com os netos, ela estivesse da mesma maneira,
sentada em casa vendo televisão. A expressão “colocar o esqueleto para
movimentar”, pode significar que de fato está lutando para ser alegre e ativa, pois a
velhice tem um peso sobre ela, que se soma ao luto pelo esposo falecido, à
frustração pela carreira deixada de lado e pela pensão insuficiente que recebe.

Entretanto, o receio de ser uma idosa que confirma o estereótipo de velha


rabugenta, deprimida e reclusa, faz com que ela se envolva em tantas coisas e
busque uma vida cheia de movimento. A entrevistada relata que busca apoio no
diálogo e procurando cultivar amizades, mas para tanto, percebe-se que o recurso
utilizado por ela é estar “em cena”. Ter um papel pró ativo na família, no núcleo
religioso e na comunidade mostrando-se aberta para aprender coisas novas e atuar
entre os jovens.

É uma senhora realmente sorridente e animada, maquiada e vestindo roupas


modernas, com cabelos bem cuidados e carregada de adornos. Conversa sobre
muitos temas com bastante desenvoltura e parece focada nas atualidades. Mas, no
seu abraço há uma demanda de amor, de cuidado, de medo do abandono.

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Entrevista com idoso
Mírian Mattos Sousa, 61 anos, 27/09/1952, viúva, 1 casal de filhos

Intrumentadora cirúrgica, voluntária de uma ONG do bairro do Butantã, que atende


crianças e adolescentes usuários de drogas e voluntária na associação Budista nos
núcleos de educação e ornamentação floral.

- Trabalha atualmente? Se não trabalha, é aposentado, licença médica/afastado/


nunca trabalhou?

Não. Pensionista. Fui professora na educação infantil e depois passei a trabalhar


como instrumentador cirúrgica. Quando meu esposo adoeceu vítima de um AVC
gravíssimo, deixei de trabalhar para cuidar dele, pois com o que ganhava não
poderia pagar cuidadores. Meu marido precisava também de atenção e afeto, que só
eu poderia oferecer. Nunca me arrependi de ter feito essa escolha. Cuidar dele foi
uma grande alegria para mim.

- Após a aposentadoria voltou a trabalhar? Se sim, o que faz e que tipo de vínculo
tem com o trabalho (formal/informal, voluntaria/remunerado) Se voluntário, o que
levou a ser voluntário?

Não me aposentei. Sou pensionista e resolvi não voltar a trabalhar para me engajar
em atividades voluntárias no meu bairro e na associação budista. Gosto de ficar com
meus netos também.

- Como são os relacionamentos com família, amigos e ex- colegas de trabalho?

Ótimo. Busco apoio no diálogo, fazendo amizades com todo mundo.

- Antes da aposentadoria passou por alguma preparação (grupo, curso, palestra)?


Se sim, quem promoveu, organizou, se era ou não vinculado com a empresa que
trabalhava.

Deixei de trabalhar pela doença do marido e sou pensionista há 11 anos. Não houve
preparação nenhuma para tudo o que passei. A gente não espera certos revezes na
vida.

- Como está a vida atual (lazer, saúde, estado emocional e vida religiosa). Se tiver
religião como é o relacionamento da religião na vida, e se houve algum fato que
levou a mudar de religião ou sua concepção sobre religião.

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Vida religiosa ótima. Faço check-up anual e estou ótima. Apenas devo tomar
vitamina D e cálcio. Emocionalmente me sinto bem, sou alegre e me ocupo com
muitas coisas. O lazer é ótimo, faço aulas de dança, caminhada e ginástica.

- Acha que as pessoas devem ser preparadas para enfrentar a vida após a
aposentadoria? Se sim, como ele (ela) acha que deve ser esse preparo?

Devem ser preparada com orientação em reuniões, pois há pessoas que não
querem nem sair de casa e ficam sentadas vendo televisão. “Tem que por o
esqueleto para movimentar”. É diferente dos jovens, porque a pessoa idosa já não
tem o mesmo vigor e precisa do movimento para se manter com energia. Precisa se
relacionar para não colocar na cabeça que a vida acabou com a aposentadoria.
Fiquei admirada com uma senhora que faz judô e disse que eu tinha passado da
idade, quando ela me contou que tinha 80 anos! Que é muito bom e sente-se mais
autoconfiante com as artes marciais. Não existe idade para esse tipo de exercício ou
qualquer outro.

Referências

- Percepções da velhice e auto-imagem da pessoa idosa. Portal da Fundação


Perseu Abramo – Uma nova cultura política no país, 07/05/2007.

- A ditadura dos jovens. Entrevista com o filósofo alemão Frank Schirrmacker para a
Revista Veja, publicada em 15/08/2004.

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