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Letras de Sangue

Um Círculo DeSal Sal


Um Círculo De

Edson Tomaz da Silva


Letras de Sangue

Um Círculo De Sal

“Meu Deus, como eu vou sair dessa agora?”

Sentada no chão, tendo à sua volta apenas um círculo feito de sal grosso,
Thammires forçava o rosto contra as palmas das mãos, em desespero. E,
diga-se de passagem, seu desespero era plenamente justificado pelos
acontecimentos daquela noite.

Olhou a sua volta pela milésima vez: o pequeno porão, que os donos da casa
haviam convertido em despensa, iluminado pela luz de uma velha lâmpada
de sessenta watts, não apresentava mais nenhuma saída além da porta que a
levaria de volta para o andar térreo da casa. E, naquela casa, ela nunca mais
iria pôr os pés. Aliás, se tivesse seguido seu pressentimento inicial, não
estaria ali agora. Não estaria naquela situação, agora. E Jared ainda estaria
vivo.

A lembrança de Jared trouxe lágrimas novamente aos seus olhos, mas ela
forçou-se a não chorar. Haveria tempo para isso mais tarde. Chorar agora
seria um luxo que ela não podia sustentar. Precisava estar focada em sua
sobrevivência.

Continuou observando o porão. Não havia janelas. Isso era bom. Não podiam
entrar. Mas isso também era péssimo. Ela não podia sair. Mas também, sair
iria resolver alguma coisa? Sua última tentativa de deixar a casa havia sido
desastrosa. Ela estava encharcada. Enrolou-se em alguns panos de chão que
encontrou no porão. Tinha que evitar a hipotermia a todo custo. Fosse devido
ao frio ou ao cansaço, não podia dormir, tinha que estar atenta.

Sem ter muito mais a fazer, começou a rememorar os fatos, buscando algum
detalhe que a ajudasse a sair daquela enrascada.

Oh, Jared, meu amado Jared, por que os homens sempre têm de bancar os
imbecis?

----xxxx----

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Thammires nasceu no Rio de Janeiro, Jared era americano. A família dele


mudou para cá por motivos religiosos, vieram trabalhar em obras da igreja
nas comunidades do Rio de Janeiro. Os dois se conheceram e começaram a
namorar na época do cursinho e agora estavam fazendo letras na UFRJ. Ela
queria ser escritora e tinha um baita talento pra isso. Ele queria dominar a
língua portuguesa pra ajudar nas aulas de alfabetização promovidas pela
igreja.

Naquele ano, Thammires estava determinada a fazer algo diferente nas férias
de julho. Estava maluca para conhecer a Serra Gaúcha. Ouvia Jared falar da
neve caindo em sua cidade natal e ficava morrendo de curiosidade de saber
como era. As previsões meteorológicas indicavam que ia ser o inverno mais
frio nos últimos vinte anos. Isso significava neve. Talvez não tanto quanto na
cidade natal do Jared, mas o suficiente para ela matar a sua curiosidade. E
neve lembrava frio, que lembrava lareira, que lembrava romance e lembrava
que finalmente ela e Jared iam ter um pouco de privacidade e poderiam
namorar à vontade.

Através da internet, encontraram a família Gunther, um casal de velinhos


muito simpáticos que possuía uma casa muito bonita e confortável numa
região bem isolada da Serra Gaúcha. Apesar de terem achado a casa muito
grande apenas para eles, adoraram o isolamento que ela proporcionava.
Providenciaram a reserva, as passagens e estavam se divertindo muito em
fazer todos os preparativos.

No dia da partida, as duas famílias os acompanharam até o aeroporto Santos


Dumont, onde iam pegar um vôo até Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. De
lá, tomariam um ônibus até Bento Gonçalves, onde pretendiam alugar um
carro para o resto do passeio.

Ao despedir-se da mãe antes de fazer o check-in, Thammires sentiu uma


estranha pontada de tristeza no coração. Uma tristeza tão grande que, por um
momento, ela chegou a perder o equilíbrio e só não caiu porque a mãe a
segurou. Uma vontade enorme de desistir da viagem passou por sua cabeça
nessa hora.

- Thammi, você está bem?

- Estou ... estou... foi só uma tontura passageira. Acho que eu devia ter
caprichado mais no café da manhã. – Thammires bem que tentou disfarçar
com um sorrisinho amarelo, mas a mãe não engoliu aquela conversa. Se não

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fosse pela proximidade da hora da partida do vôo, com certeza a mãe ia
pressioná-la até que ela explicasse o que era aquele mal estar súbito, assim
do nada. Ih, será que a mãe achava que ela podia estar grávida? Era bom
aproveitar bem a viagem, - pensou Thammires - porque na volta o
interrogatório ia ser impiedoso.

Com exceção deste incidente, todo o resto da viagem foi absolutamente


perfeito. Na chegada à casa que haviam alugado, o casal que fazia as vezes
de caseiros deu todas as orientações para que eles pudessem aproveitar bem
os quinze dias que passariam ali.

A única recomendação digna de nota, porém, foi a de não mexerem no último


quarto do segundo andar, que era onde ficavam as coisas do casal de
velhinhos donos daquela casa. Já muito idosos, haviam se mudado para
Porto Alegre para ficarem mais perto da assistência médica de que
precisavam com tanta freqüência, assim a casa ficara para ser alugada, como
uma fonte auxiliar de renda.

Para Thammires, nem precisava falar nada, porque ela estava pouco ligando
para quartos fechados e velhos pertences. Ela queria lareira, chocolate
quente, fazer amor bem gostoso e dormir de colherinha.

Mas Jared era um fã incondicional de Indiana Jones. E, no terceiro dia em


que estavam na casa, Thammires acordou e viu que estava sozinha na cama
de casal. Onde Jared se metera?

O mistério não demorou a se resolver. Ao abrir a porta do quarto, foi só olhar


para a esquerda e pegar Jared no flagra, tentando abrir a velha fechadura
com um clipe desentortado.

- Jared Winston! – o uso do nome completo indicava o tamanho da irritação


dela - O que está fazendo?

- Bom dia, amor! – ele fez a inevitável cara de idiota, tão adequada à
situação.

- Bom dia? Como meu dia pode ser bom, se o homem que diz que me ama
está aqui, tentando arrombar uma porta, ao invés de estar acordando ao meu
lado?

- Curiosidade, Thammi, curiosidade. Você sabe que eu não resisto à uma


porta que me disseram para não abrir.

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- Você devia se ocupar em aprender a abrir o fecho do meu sutiã, onde você
sempre se atrapalha, ao invés de abrir portas que não lhe pertencem.

O convite velado naquele comentário foi mais forte que a curiosidade. Ele se
levantou e foi em direção a ela.

- Bom, então vamos começar meu treinamento agora. O que você acha?

- Agora você vai ter de se contentar em abrir meu roupão, porque eu não
estou usando nada embaixo dele...

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Mas Jared era persistente. E, mal caíra aquela noite, o clipe retorcido venceu
a resistência da velha fechadura. Com um estalo, a porta abriu.

- Bingo! – exclamou Jared, feliz.

Enquanto Thammires estava tomando banho, e ela ia demorar pelo menos


uma hora nesse processo, Jared tinha total liberdade para bancar o
arqueólogo no quarto do casal de Herr e Frau Gunther.

O quarto se apresentava impecavelmente arrumado, apenas bastante


empoeirado, o que era compreensível, já que ninguém entrava ali. Os
caseiros arrumavam todo o resto da casa, mas sequer tinham a chave
daquele quarto.

Numa agradável escrivaninha de estilo muito antigo, provavelmente da época


da Segunda Guerra Mundial, encontravam-se alguns livros e um tipo de
caderno com fecho, que Jared presumiu ser um diário.

Ao abrir, Jared percebeu que tinha em mãos uma pequena relíquia, de valor
inestimável. Era o diário de Herr Gunther onde, em uma letra caprichada e em
uma escrita muito meticulosa, ele desvendava interessantes segredos.
Sentindo-se agora finalmente justificado por ter escolhido alemão como
segunda língua de seu curso de letras, Jared começou a ler o diário.

Na verdade, a família não se chamava Gunther e sim Grover. E o motivo para


troca de nomes era que o pai de Herr Gunther (ou Herr Grover, como
queiram), Herr Joachim Grover, fora tenente da SS e durante dois anos

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trabalhou no campo de concentração de Dachau. Nesse período, ele havia
trabalhado em interessantes experimentos no campo. Experimentos
científicos, ligados não à ciência tradicional, mas às ciências ocultas. Jared já
havia ouvido falar que os nazistas gostavam muito de ocultismo, mas sempre
achara que isto era mais para fazer graça nos filmes do Indiana Jones do que
uma verdade histórica.

Pelos relatos que fazia em seu diário, as pesquisas de Herr Grover haviam
sido um sucesso fantástico, por um lado – e um retumbante fracasso, de
outro.

Numa noite, Herr Joachim Grover, mais quinze funcionários do campo e um


grupo de aproximadamente vinte prisioneiros foram até uma área desolada no
meio da floresta próxima ao campo e executaram um ritual de magia negra. O
objetivo era invocar demônios e tentar mantê-los sob controle. Os prisioneiros
destinavam-se a servir de sacrifícios para os demônios invocados.

O ritual realmente atraiu os demônios, que destroçaram cruelmente os


prisioneiros. O problema foi que, depois dos prisioneiros, os demônios
avançaram sobre os funcionários do campo e também os destroçaram sem
piedade. Herr Joachim Grover só sobreviveu por ter se precavido e ficado
dentro de um círculo de sal grosso durante a execução do ritual.

Durante muitos anos, moradores da região comentavam de que haviam


espíritos malignos naquelas florestas. Muitas foram as suas vítimas, dizia-se
que até hoje ainda pessoas desapareciam por ali, vítimas dos demônios
invocados pelos nazistas.

Independente do resultado do ritual, a Guerra acabou e Herr Joachim Grover


teve de fugir com a família da Alemanha derrotada. Vagou pelas Américas
Central e do Sul, até fixar residência entre as colônias alemãs na região da
Serra Gaúcha. Abandonou as experiências com ciências ocultas, mas
guardou seus apontamentos cuidadosamente, seguindo a tradicional
disciplina alemã.

Jared ficou intrigado. Será que as notas do velho Grover ainda estavam por
ali? Deviam estar...

- Eu não acredito que você está aqui dentro! Jared! Francamente!

O grito de censura de Thammi quase fez Jared cuspir o coração pela boca.
Droga! Ficara lendo o diário do velho e esquecera a passagem do tempo.

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Só escapou do sermão porque a curiosidade feminina falou mais alto:

- O que foi que você encontrou aí?

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Na verdade, as notas sobre o ritual estavam muito fáceis de se encontrar.


Enquanto contava para Thammires o que havia descoberto, Jared notou um
papel dobrado, guardado num bolso na capa do diário.

Ao abrir o papel, viu que nele haviam vários símbolos desconhecidos e cinco
palavras.

- O que está escrito aí, Jared?

-Não sei. Isto aqui não é alemão.

- E o que é?

- Não sei que língua é esta, mas tem uma nota de rodapé, aqui. Parece que é
um guia de pronúncia das tais palavras.

Um enorme sentimento de tristeza invadiu o coração de Thammires, do


mesmo jeito que sentira no aeroporto ao se despedir da mãe.

- Jared, não pronuncia essas coisas, não. Por favor, amor! Vamos trancar de
volta este quarto e deixar essa história prá lá, por favor! – Ao chegar ao final
da frase, Thammires já estava em prantos.

- Ei, ei! Calma! Tá bom, meu amor! Vamos deixar isso prá lá, a história acaba
aqui.

Jared abraçou Thammires e foram em direção a porta, quando ouviram uma


voz fantasmagórica, vinda do nada:

- Não é necessário pronunciar. A simples mentalização destas palavras já nos


trouxe aqui.

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Antes que o jovem casal pudesse esboçar alguma reação, o ar dentro do
quarto explodiu num violento vendaval. Atirados para fora, Jared bateu
violentamente contra a parede e Thammires rolou pela escada abaixo.

Apesar da violência do choque, Jared ainda tentava levantar-se e gritou para


a namorada:

- Thammi, foge! Eu vou segurá-los aqui!

- Os anjos do Paraíso não foram capazes de nos segurar. Quem és tu para


acreditar que podes fazê-lo?

O som daquela voz parecia vir de todos os lugares e de lugar nenhum, ao


mesmo tempo. O ar dentro da casa continuava movendo-se com alta
velocidade, jogando objetos para todos os lados.

Sem nenhuma origem identificável, uma força irresistível levantou Jared do


chão. Sem que Thammires pudesse fazer nada, foi obrigada a assistir,
imóvel, enquanto o namorado era violentamente estripado e desmembrado.
Ouviu seus gritos de dor, ouviu-o gritar seu nome. Mas ela nada pôde fazer
para salvá-lo.

Quando terminou de destroçar Jared, a voz voltou a pronunciar-se:

- É chegada a tua hora, criança humana...

A ameaça fez Thammires recuperar o raciocínio e fugir em desabalada


carreira até alcançar o porão. Fechou a porta com muito custo atrás de si,
pois o vento a fustigava com fúria. Sabia porém que uma barreira física não
teria efeitos contra o que quer que fosse aquilo que estava atrás dela.
Lembrando-se do que Jared lhe contara dos diários do tal nazista, a resposta
veio num lampejo:

- Sal, eu preciso de sal!

Ao olhar em volta, Thammires deu graças a Deus por estar no Rio Grande do
Sul, um estado tão afeiçoado ao churrasco. Nas prateleiras, entre vários
outros itens que se encontram em uma despensa, uma grande quantidade de
sacos de sal grosso aguardavam pelo próximo churrasco.

Rapidamente, a garota desceu a pequena escada do porão e apanhou um


saco de sal. Correu de volta até a porta, que parecia estar sendo atacada por

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um touro violento. Rasgou a ponta de um saco de sal com os dentes e


espalhou o sal formando uma linha rente à porta.

O efeito foi imediato. Pararam de avançar contra a porta.

Thammires rapidamente desceu outra vez as escadas e, bem no centro do


aposento, espalhou o resto do sal, formando um círculo ao seu redor.

Ainda ofegante pelo esforço, apanhou o celular no bolso, apesar de saber que
estava fora da área de cobertura. Queria saber as horas. Eram apenas nove
da noite. O nascer do sol ainda estava distante. Mortalmente distante.

O passar das horas foi aumentando seu desespero. Não poderia ficar ali para
sempre. Tinha de tentar fugir. Por volta das duas horas da manhã, o silêncio
do outro lado da porta e o medo de ficar encurralada ali para sempre a
fizeram arriscar uma tentativa de fuga.

Munindo-se de todos os sacos de sal que pode carregar, Thammires decidiu


usar a proteção como munição. Encheu os bolsos de sua calça jeans e
também os de sua jaqueta com o sal protetor.

Ao abrir a porta do porão, a primeira coisa que fez foi atirar um punhado de
sal antes de sair. Não houve reação nenhuma.

Estranhamente, a casa voltara a seu estado normal. A sala, que deveria estar
revirada pela força do vendaval, estava novamente arrumada, como se nada
tivesse acontecido.

Ao chegar a escada, Thammires viu que o corpo de Jared não estava mais
onde havia sido abandonado. Não havia sequer sinais de sangue nas
paredes ou no piso. Aquilo ficava cada vez mais estranho...

Mas Thammires confiava em si mesma e sabia o que havia visto. Sabia que
não estava louca e não ia se deixar enganar.Iria tratar de alcançar o carro que
haviam alugado. Estava estacionado perto da porta de entrada, não seria
difícil. A chave estava no para-sol. Era chegar até ele e deixar o pesadelo
para trás.

Lá fora, a noite fria mas estrelada fora substituída por uma chuva torrencial.
Até alcançar o carro, Thammires já estava encharcada. Tiritando de frio,
entrou no carro e abaixou o para-sol, procurando pelas chaves.

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- É isto que você está procurando, meu amor? - pelo retrovisor, ela viu Jared
segurando as chaves.

Não havia tempo sequer para gritar. Por puro reflexo, ela abriu a porta e se
jogou para fora do carro, correndo em louca disparada. Jared, ou o que quer
que fosse aquilo atrás dela, também começou a correr.

Próxima a porta de entrada da casa, Thammires percebeu que estava sendo


alcançada. Quando sentiu que uma mão tocava seu ombro, apanhou um
punhado de sal e voltou-se rapidamente, atirando o sal no rosto de seu
perseguidor.

O efeito foi fascinante e aterrorizante ao mesmo tempo. A pele do rosto de


Jared descolou-se completamente, revelando não os músculos e ossos que
se esperariam encontrar ali, mas um imenso e profundo vazio. Vazio de onde
brotou um grito de agonia:

- Ahhhhhhhh, maldita vadia humana! Ousas me causar dor? Vais sentir a dor
que te causarei! Rasgarei tua alma em pedaços!

Pouco se importando com as ameaças que lhe faziam, Thammires aproveitou


a dianteira que conquistara e correu. Jogou-se para dentro do porão,
fechando a porta atrás de si com um estrondo.

Sentando-se novamente no centro do círculo de sal, voltou a concentrar-se


em ficar acordada, aguardando a vinda da manhã.

Durante toda a noite, ouviu a voz de Jared implorando socorro, pedindo para
que ela abrisse a porta do porão. Ignorá-lo durante tanto tempo foi o maior
suplício que sofreu em toda a sua vida.

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Quando finalmente o relógio do celular despertou, avisando que eram sete


horas da manhã, Thammires voltou a municiar-se com todo o sal que pôde
juntar e dirigiu-se novamente para o carro.

Ao contrário da tentativa de fuga anterior, nada a atrapalhou desta vez. A


casa voltara ao seu estado de natural arrumação, não havia nenhum sinal de
Jared ou de sua morte, absolutamente nada.

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Ao chegar em Bento Gonçalves, Thammires deu continuidade ao seu plano.


Apesar do medo, livrou-se do sal que estava carregando. Mais tarde daria um
jeito de conseguir mais, mas naquele momento não podia aparecer diante do
mundo com aquela absurda quantidade de sal. Não teria como explicar
aquilo, e sua vida agora dependia das explicações que daria dali para frente.

Ao chegar a delegacia, Thammires deu queixa de que um grupo de ladrões


havia invadido a casa. Disse que Jared havia gritado para que ela trancasse a
porta do porão, onde havia descido para apanhar ingredientes para um bolo.
Trancada no porão, ouviu várias vozes perguntando por dinheiro e objetos de
valor. Mas não havia nada realmente valioso na casa, então ela ouviu que os
homens iam levar Jared e pedir resgate. Disse que os ladrões haviam tentado
arrombar a porta do porão para pegá-la, mas não haviam tido sucesso.

A mentira convenceu os policiais. Jared foi considerado vítima de seqüestro.


Um grupo de policiais foi até a casa e não encontrou nada que indicasse o
paradeiro do rapaz. No dia seguinte, o corpo de Jared foi encontrado,
completamente destroçado, em um matagal próximo à casa.

O crime causou comoção e chamou a atenção da imprensa. Mas, passado o


tempo, o caso acabou sendo fechado e esquecido, pois não foram
encontradas pistas que levassem aos assassinos de Jared.

Thammires fechou-se em seu silêncio. Não podia contar o que houvera


realmente. Foi melhor daquela forma. Embora agora pesasse sobre seus
ombros a mentira que fora obrigada a inventar, pelo menos ela lhe permitiria
passar o resto da vida fora de uma prisão ou de uma instituição para doentes
mentais. Tinha certeza que era para onde seria mandada se tentasse contar a
verdade. Passaria de vítima a assassina.

Thammires não tem a menor idéia de porque os demônios libertados naquela


noite a deixaram partir. Também não entendia como a porta do porão tinha
resistido por tanto tempo ao ataque de criaturas tão poderosas. Não sabe
também se algum dia pretendem voltar a atormentá-la. Mas agora, todas as
noites, antes de dormir, ela desenha um círculo de sal ao redor de sua cama.

----FIM----

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Sobre o Autor

Edson Tomaz da Silva nasceu em São Paulo, capital, em 26 de abril de 1971.


A paixão pelos gêneros de terror e suspense é antiga, mas o autor só
começou a publicar seus textos em 2009 no site Recanto das Letras”

Em 2010, criou o site Letras de Sangue, onde publica seus textos, na


companhia de outros escritores amadores, também apaixonados por terror e
suspense.

Para ajudar na divulgação do site, passou a publicar seus textos também no


Scribd, criando a Coleção Letras de Sangue.

Licenciamento da Obra

A presente obra encontra-se licenciada sob a licença Creative Commons


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