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DE OLHO NO VINHO!

por Breno de Faria

Se o cérebro é o nosso processador, o que são os nossos sentidos? Talvez, mal


comparando, eles sejam nossos mouses e teclados, nossas formas de captarmos
a informação vinda do mundo externo e darmos início ao seu envio para o órgão
que dará significado ao que antes eram apenas significantes, meras combinações
de estímulos sem nenhuma razão de ser. Na vida, ambos, sentidos e cérebro,
significantes e significados, trabalham em conjunto com o mesmo fim e nenhum
é mais importante que o outro. Não dizem que o pior cego é aquele que não quer
ver? Pois é, mesmo querendo, se não consigo captar a imagem com os olhos, ela
nunca existirá, como também nunca será imagem aquilo que não seja submetido
a minha hábil interpretação. Aos que vão dizer que é obsoleto falar em “mouse”,
admite-se a crítica. Mas o que fez Jobs e seus comparsas e rivais se não tornar
a máquina mais humana, dando-lhe também o tato (touch pad, touch screen) e a
audição (comandos-de-voz)?

Degustar um vinho tecnicamente nada mais é do que submetê-lo, com rigor


e atenção aos nossos órgãos dos sentidos. Utilizamo-nos deles como quem o
faz com um arsenal para ir à guerra. E não dispensamos nenhum dos 5! (os
espertinhos que pensaram na audição se esqueceram do sussurrar / pipocar
das rolhas e do fervilhar dos espumantes, não é?). Como somos seres distintos
dos outros vivos, conseguimos transmitir conhecimento e - que bom! – alguns
de nossos colegas enófilos do passado foram deixando, geração após geração,
registros de algumas táticas que possibilitam uma melhor apreciação da bebida.
Assim, não existem “regras” para melhor se apreciar um vinho, mas sugestões
sabidamente reconhecidas e sacramentadas pelo maior dos juízes: o tempo.
Então, não negligencie nossos antepassados, separe uma taça adequada e abra a
sua vítima preferida. Mas não se esqueça: a missão é se divertir!
OLHOS – A PRIMEIRA IMPRESSÃO...
No exército que montamos para a prazerosa e divertida batalha da degustação,
nossos olhos são nossos batedores, as tropas que primeiro entram em contato
com o alvo e iniciam o reconhecimento do campo onde se trava a luta. Constituem
a primeira parte da análise descritiva de um vinho e sua relevância nesse escopo
não pode ser negligenciada. O valor do aspecto visual na degustação pode ser
bem comparado com a da montagem de um prato da haute cuisine – não se apre-
cia um vinho sem primeiro dissecá-lo com os olhos, assim como não se aprecia
apenas aromas e sabores de um prato bem montado, como um pêche Melba ou
um foie-gras, não é mesmo?

Os olhos vão promover o nosso primeiro encontro com o vinho.


Vamos lá?

COMO

Com vinho em
aproximadamente 1/3 da
taça e com uma fonte de luz
branca ou natural incidindo
verticalmente, por cima, e
um pano ou papel branco por
baixo, incline a taça fazendo
um ângulo de cerca de 45˚
com a mesa e observe o
vinho na taça. Depois, faça-o
girar molhando as paredes
(internas, claro!) da taça.

Inclinar a taça a
aproximadamente 45º,
diretamente sob um foco
de luz branca e contra uma
superfície, abaixo, igualmente
branca, permite melhor
observar a tonalidade de
cor do vinho, especialmente
próximo ao seu halo periférico
(fundamental para classificar,
quanto à cor, o vinho tinto)
O QUÊ
Verifique se o vinho está
límpido, pois turvação é sinal de
refermentação indesejada por
contaminação microbiológica.
Atenção: admite-se borras
em vinhos não-filtrados e/ou
antigos (como os Porto Vintage
e Crust), que podem/devem ser
decantados, e os cristaizinhos
de tartarato nos mais ácidos
(como em alguns Prädkatswein
alemães)

Girando o vinho na taça, observe


as lágrimas que escorrem pelas
paredes (quanto mais lentas e
finas, mais alcoólico se supõe).

As lágrimas (ou pernas) de um vinho são rajas espessas translúcidas


e viscosas de glicerol que começam a escorrer pelas paredes
da taça segundos após fazermos o vinho “rodar” em seu interior.

A seguir repare em sua tonalidade. De um modo geral, os


vinhos vão se classificar em uma dessas categorias de cor:

Tintos: púrpura – rubi – granada – acastanhado (tawny) – marrom


Brancos: verdeal – palha – dourado – âmbar – marrom

Como dissemos, inclinar o vinho a 45º é fundamental para determinar a tonalidade


de um vinho, especialmente dos tintos. É que, no vinho tinto, a classificação de
sua cor é determinada pela tonalidade que ele apresenta em seu halo periférico.
Se, ali, ele mostrar reflexos violeta/azuis ele será púrpura; se vermelhos/rosas,
rubi; se alaranjados/tijolo, granada; se acastanhados, tawny/acastanhado; e se
for todo ele marrom, com essa tonalidade será classificado.
Já os vinhos brancos têm sua tonalidade classificada de acordo com os reflexos
presentes no centro da forma ovoide (“unha do vinho”) que apresentam com a
inclinação a 45º. Se tons, esverdeados, verdeal; se amarelados, palha; se tons de
ouro, dourados; se laranjas, alaranjados; se âmbar ou marrom, uma dessas duas
tonalidades respectivamente.

É importante destacar que os vinhos brancos tendem a escurecer com a sua


evolução / idade (pense em como uma folha de papel branca vai se amarelando
e escurecendo à medida que o tempo passa); já os vinhos tintos se “desbotam”
(como as nossas roupas) e vão perdendo cor com a idade.

Ao inclinar a taça a 45º, o líquido, aos olhos do observador que se posiciona


acimada taça, assume a forma ovoide (a chamada “unha” do vinho). Observe que a
tonalidade do vinho tinto é dada pela cor que ele apresenta em sua periferia e a do
branco, pela que apresenta em seu centro. A figura também mostra a evolução de
2 vinhos com o tempo (idade): observe como o vinho tinto vai de púrpura a marrom
(se clareando/desbotando) e o vinho branco, de verdeal a âmbar (se escurecendo)
Se tratar-se de um espumante,
observe sua espumatização
(capacidade de formar
espuma consistente) e o seu
pérlage, isto é, a capacidade
de gerar bolhas: os melhores
apresentam muitas bolhas
(maior número), bem
pequeninas (menor dimensão)
e que se mantém formando por
muito tempo depois de servido
(maior persistência).

Um espumante servido
em uma flute: note a sua
boa espumatização e o seu
excelente pérlage, com bolhas
finas e numerosas

Em conclusão, a nossa Ficha Técnica seria assim formulada, valiando,


de forma objetiva, os principais aspectos visuais dos vinhos:

Aspecto visual
Limpidez sim( ) não( )

Tonalidade:
Tinto: púrpura – rubi – granada – acastanhado (tawny) – marrom
Branco: verdeal – palha – dourado – âmbar - marrom
Intensidade: pálida - média - profunda
Lágrimas: Espessura
Número
Velocidade
Espumantes
(bolhas): Dimensão
Número
Duração
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