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Luta na África do Norte

O 8° Exército se retira para El Alamein

Batalha de Marsa Matruh

No dia 21 de junho de 1942, as tropas de Rommel dominaram a resistência oposta pelos Aliados em Tobruk.
Nesse mesmo dia, às 10 horas da manhã, enquanto os homens do Afrika Korps avançavam pelas ruelas da
cidade, arrebanhando os prisioneiros e celebrando a espetacular vitória, o Marechal Rommel emitiu aos seus
assessores uma ordem categórica: “Reunir as unidades, reorganizá-las e prepará-las para recomeçar o
avanço”. O infatigável lutador estava decidido a não descansar sobre os lauréis. A vantagem alcançada devia
ser aproveitada. Tal como ele mesmo havia afirmado, estava “decidido a negar ao inimigo a oportunidade de
criar uma nova frente, e ocupá-la com formações de reserva, procedentes do Oriente Próximo”.

Rommel resolveu assim jogar a cartada mais difícil de toda a sua carreira. Lançando-se numa veloz marcha
atrás dos restos do 8o Exército, o marechal propunha-se a aniquilar o inimigo numa última e decisiva batalha.
Se conseguisse a vitória, então nada mais poderia deter o seu avanço até o Canal de Suez e as jazidas
petrolíferas do Oriente Médio. Além disso, havia recebido garantias de que lhe seriam enviados o
combustível e os abastecimentos necessários através do porto de Tobruk, a fim de continuar avançando até o
Cairo. Por outro lado, em Tobruk, suas tropas se haviam apoderado de gigantescos despojos de guerra, que
incluíram 10.000 m³ de combustível e centenas de caminhões e veículos de todos os tipos.

O Alto-Comando italiano, contudo, baseando-se em ordens prévias de Mussolini, se opunha a prosseguir a


ofensiva além da fronteira egípcia. A 22 de junho, no momento em que Rommel reagrupava suas forças, a
fim de retomar o avanço para o Leste, foi enviada uma mensagem aos chefes do exército italiano, na Líbia,
aconselhando-os que tratassem de impedir que Rommel ultrapassasse a linha da fronteira. A magnitude da
vitória em Tobruk, porém, levou o Duce a abandonar o seu plano anterior, e, passando por cima das ordens
emanadas pelos seus comandos militares, acedeu ao pedido de Rommel, no sentido de continuar o ataque. O
chefe alemão, com sua característica decisão, não havia esperado a autorização. Adiantando-se a ela, na
madrugada de 22 de junho reuniu-se no porto de Bardia com o General italiano Bastico, e lhe comunicou
que, na ausência de ordens contrárias, procederia imediatamente à perseguição do inimigo. Novamente,
Rommel, apesar dos riscos, optava pelo caminho mais direto e perigoso, confiando em que mais uma vez a
sorte lhe seria favorável. A audácia de seus planos fica patenteada no reduzido número de efetivos a sua
disposição. As duas divisões Panzer do Afrika Korps contavam, no total, com 50 tanques e o 20 o Corpo
Mecanizado italiano com 14! Além disso, seus efetivos de infantaria não iam além de 5.000 soldados.
Contava, porém, com o ímpeto que o caracterizava, e com a superioridade moral que lhe emprestava a sua
condição de vencedor.

Decidido o avanço, as forças do Eixo se puseram em movimento, no mesmo dia 22 de junho. Paralelamente
à costa, marcharam as colunas italianas, precedidas pela 90 a Divisão ligeira alemã, a cuja frente ia Rommel.
Mais ao sul se deslocavam as duas divisões Panzer do Afrika Korps.

No dia 23, o exército invasor cruzou a fronteira do Egito. Nesse dia, Rommel escreveu a sua esposa:
“Avançamos outra vez, e espero desfechar o próximo golpe muito breve. Tudo agora repousa na presteza”.

Auchinleck assume a comando

Depois da derrota na batalha de El Gazala, os restos do 8 o Exército britânico, sob a orientação do General
Ritchie, se haviam retirado aceleradamente para a fronteira egípcia, deixando para trás, isolada, a guarnição
de Tobruk. O chefe britânico localizou suas tropas em fortificações que haviam sido construídas, e que
consistiam em extensos campos de minas e postos resguardados por alambrados. Contudo, em virtude da
perda quase total de suas unidades blindadas, os ingleses não poderiam resistir nessa linha. Com efeito, no
lado do deserto, seu flanco esquerdo ficava completamente desguarnecido e exposto a uma manobra de
envolvimento pelas forças do Eixo. Ritchie admitiu, pois, que devia retirar-se o quanto antes para o oeste, a
fim de interpor a maior distância possível entre as suas tropas e as do inimigo. Assim comunicou ao General
Auchinleck, comandante-chefe das forças britânicas no Oriente Médio, a quem se apresentou no seu posto de
comando a 22 de junho. Ritchie propôs a seu superior deslocar todas as forças sob suas ordens até o reduto
fortificado de Marsa Matruh, onde travaria a batalha decisiva em defesa do Egito. Auchinleck o autorizou a
efetuar a manobra e ordenou que um dos corpos do 8 o Exército (o 30o, comandado pelo General Norrie)
continuasse a sua retirada para além de Marsa Matruh, até a posição de El Alamein, onde procederia à
construção de uma nova linha defensiva. O 30 o Corpo seria, por sua vez, substituído pelo 10 o, proveniente da
Síria, comandado pelo General Holmes. Depois dessas determinações, Auchinleck viajou de regresso ao
Cairo. O chefe britânico, a esta altura dos acontecimentos, punha muitas dúvidas acerca da efetividade do
plano adotado, e da capacidade de Ritchie para levá-lo a bom termo. Se o 8 o Exército fosse derrotado em
Marsa Matruh, nada mas poderia impedir o avanço de Rommel até o Canal de Suez. Tal conquista lhe
asseguraria a penetração em todo o Oriente Médio e a eventual marcha sobre a índia. Uma vez chegado ao
seu QG, tomou uma decisão extrema. Considerando que a situação era demasiada grave para confiar a
direção das operações a um subordinado, decidiu destituir Ritchie, e assumir pessoalmente, o comando das
forças. O General Corbett, chefe do Estado-Maior, permaneceria no Cairo, com a missão de organizar a
defesa do delta do Nilo. Por sua vez, escolheu o General Dorman-Smith para ocupar o cargo de chefe do seu
Estado-Maior. Em companhia deste oficial, voou, às duas da tarde de 25 de junho de 1942, rumo ao posto de
comando de Ritchie. Durante o transcurso do vôo, ambos os chefes discutiram os planos a serem adotados
para reter Rommel. Não se travaria uma batalha decisiva em Marsa Matruh. O 8 o Exército, se conseguisse, se
retiraria para a posição fortificada de El Alamein que, para Auchinleck, ofereceria maiores vantagens
defensivas. Com efeito, a posição de El Alamein era constituída por uma estreita franja de deserto, de 65 km
de extensão, situada entre a costa do Mediterrâneo e a depressão de Quattara, zona praticamente inabordável,
coberta de areias movediças que se estendia ao longo de mais de 100 km. Era um verdadeiro funil que,
adequadamente defendido, se constituiria numa posição quase inexpugnável. Nela, efetivamente, os tanques
de Rommel se veriam na impossibilidade de avançar, como haviam feito em oportunidades anteriores, pelo
flanco do deserto, visto que, neste caso, o flanco era constituído pelos imensos areais do Quattara. O ataque,
portanto, inevitavelmente, deveria ser frontal.

Quando Auchinleck chegou ao posto de comando de Ritchie, comunicou-lhe que havia resolvido substituí-lo
no comando, pois, dada a gravidade da situação, considerava que ele próprio (Auchinleck) devia assumir
toda a responsabilidade. Ritchie aceitou as determinações do seu superior e partiu, imediatamente, rumo ao
Cairo, por via aérea. Auchinleck se entregou rapidamente à tarefa de estudar a situação. Os informes eram
confusos; o único fato concreto era que Rommel havia conseguido irromper através das unidades que
defendiam a fronteira, e se encontrava, já, próximo de Marsa Matruh. O General Holmes, chefe do 10 o
Corpo, comunicou a Auchinleck que o general alemão, sem dúvida, atacaria o 8 o Exército no dia seguinte.
Ante essa sombria perspectiva, Auchinleck anunciou a seus subordinados que a ordem de Ritchie, de
combater até o fim em Marsa Matruh, estava revogada. Se a iminente batalha se desenrolasse
desfavoravelmente para as forças britânicas, estas deveriam suspender o contato com o inimigo, e retirar-se
imediatamente para El Alamein.

Vitória de Rommel em Marsa Matruh

Enquanto isso, o Afrika Korps, e as forças italianas, avançavam velozmente, através do território egípcio. A
24 de junho, contudo, as colunas dos tanques tiveram que interromper a marcha, ao se esgotar o combustível.
Porém, a casualidade veio em ajuda dos carros blindados do Eixo. Grandes depósitos de combustível
britânico, na localidade de Habata, foram capturados e utilizados no abastecimento dos tanques.
Imediatamente o avanço foi retomado e, no dia seguinte, as colunas panzer estavam já a 48 km a oeste de
Marsa Matruh. Ante a ameaça, a RAF redobrou seus ataques e bombardeou, ininterruptamente, as colunas
inimigas. A ação dos aviões britânicos foi facilitada pela proximidade de suas bases. A Luftwaffe, com seus
aeródromos muito distanciados, na retaguarda, não podia intervir, ativamente, na luta. Apesar da violenta
ação aérea inglesa, as forças de Rommel continuaram a sua penetração, sem deter a marcha nem sequer
durante a noite.

Na manhã de 26 de junho, Rommel chegava a 16 km de Marsa Matruh. O chefe alemão tomou providências
no sentido de conseguir, numa só investida, cercar a fortaleza. A disposição das forças britânicas, distribuídas
por Ritchie antes de ser substituído no comando, facilitaria seus planos. Com efeito, o chefe inglês havia
dividido suas unidades em duas massas independentes entre si; ao Norte, em Marsa Matruh, colocou o 10 o
Corpo, com a 50a Divisão britânica e a 10a hindu; 15 km mais ao sul, o 13o Corpo, com a divisão
neozelandesa, comandada pelo General Freyberg, e a 1 a Divisão Blindada; esta última unidade contava com
159 tanques (60 General Grant, armados com canhões de 75 mm). Contra eles, Rommel apenas podia opor
64 carros blindados, dos quais, 14 eram antiquados tanques italianos.
Rommel lançou suas unidades ao ataque, nas primeiras horas da madrugada de 26 de junho. Seu plano era
sumamente audacioso, e se baseava numa informação errônea; de acordo com ela, os tanques da 1 a Divisão
Blindada ocupavam o centro da linha britânica. A realidade não era essa, contudo, pois, como já se assinalou,
Ritchie havia deixado o centro livre, com apenas algumas unidades de exploração, sem valor combativo. A
investida das forças de Rommel (21a Divisão Panzer e 90a Ligeira) não ia encontrar, assim, nenhuma
oposição. Depois de iniciado o ataque, as forças alemães avançaram sem obstáculos e penetraram
profundamente na retaguarda britânica, separando os dois corpos de exército. A primeira fase do ataque era,
aparentemente, favorável para Rommel, porém, na prática, suas reduzidas forças se haviam introduzido
numa verdadeira arapuca; com efeito, os dois corpos britânicos, que as superavam numericamente, de forma
arrasadora, podiam cair sobre os flancos e aniquilá-las.

Os britânicos, porém, permaneceram totalmente inativos. Contrariando as ordens de Auchinleck, que havia
determinado que o 13o Corpo atacasse o flanco sul de Rommel, empurrando os alemães contra as linhas do
10o Corpo, entrincheirado em Marsa Matruh, o General Gott, chefe do 13 o Corpo, manteve suas forças na
maior passividade, sem executar as ordens recebidas. Este fato permitiu a Rommel completar a segunda fase
de seus planos. Na manhã de 27 de junho, a 21 a Divisão Panzer girou para o sul e, com seus escassos
efetivos, cercou fracamente a divisão neozelandesa do General Freyberg. Rommel, depois de dirigir esta
manobra, deslocou-se de automóvel para o norte e, incorporando-se à 90 a Ligeira, a conduziu diretamente
para a costa do Mediterrâneo, cercando, pelo leste a fortaleza de Marsa Matruh. Enquanto o chefe alemão
completava essa operação, no QG britânico reinava a balbúrdia. Informes contraditórios chegavam a todo
instante das unidades que participavam da batalha, contribuindo ainda mais para a confusão. Nessas
condições, Auchinleck estava impossibilitado de conduzir eficazmente as operações. Em idêntica situação
estavam os dois chefes dos corpos de exército. O General Gott, chefe do 13 o Corpo, diante do avanço das
unidades da 21a Divisão Panzer, que ocuparam posições na retaguarda da divisão neozelandesa, deu a batalha
como perdida. Determinou então ao General Freyberg, chefe da unidade cercada, que, empreendesse a
retirada, se assim julgasse necessário. Em seguida, entrevistou-se com o General Lumsden, comandante da 1 a
Divisão Blindada, e também lhe ordenou iniciar, sem tardar, a retirada para o leste. A notícia destes
movimentos chegou ao QG de Auchinleck. Este compreendeu, então, que já não havia possibilidade de evitar
a derrota. As ordens dadas por Gott destruíam o esquema defensivo das tropas aliadas. A frente britânica
perdera a coesão e ameaçava desmoronar de um momento para outro. Auchinleck ordenou imediatamente
que se enviasse uma mensagem a Holmes, chefe da fortaleza de Marsa Matruh, dizendo-lhe que abandonasse
a sua posição e se retirasse para El Alamein.

Durante a noite de 27 para 28 de junho, sob a luz do luar, as colunas do 10 o Corpo tentaram abrir passagem
através das forças alemães que rodeavam Marsa Matruh. Depararam, contudo, com o fogo mortífero das
unidades alemães e tiveram que voltar para a fortaleza. Algumas unidades dispersas, porém, conseguiram
infiltrar-se através das linhas inimigas.

Simultaneamente, ao sul, a divisão neozelandesa, com seu chefe, o General Freyberg, à frente, abriu
passagem numa furiosa arremetida e conseguiu livrar-se da armadilha. Manteve, sem descanso, encarniçados
combates com as tropas alemães. Na ação, o General Freyberg foi ferido. Rommel, por sua vez, esteve a
ponto de ser atingido pelo fogo das metralhadoras britânicas e teve que afastar-se do palco da luta.

No amanhecer do dia 28 de junho, Rommel percorreu o campo de batalha, semeado com os restos de
centenas de cadáveres e veículos calcinados. Teve assim o chefe alemão uma visão real da violência com que
fôra travado o combate.

Ataque à fortaleza

Pelo meio da tarde de 28 de junho, Rommel aprestou suas forças para atacar a fortaleza de Marsa Matruh. A
90a Divisão Ligeira, apoiada por outras unidades menores alemães e tropas dos corpos italianos 20 o e 21o que
acabavam de chegar à frente, prepararam-se para o ataque.

Os britânicos ofereceram uma encarniçada resistência, porém as unidades alemães conseguiram penetrar
através dos campos minados e dos alambrados. Ao cair da noite, Holmes ordenou a sua forças realizar uma
última e desesperada tentativa para romper o cerco. Lutando ferozmente, as tropas britânicas, transportadas
em veículos de todo tipo, arremeteram contra as posições alemães e conseguiram abrir passagem através
delas. Em meio a um caos espantoso, a luta se prolongou durante toda a noite. O caminho das forças inglesas
ficou semeado de veículos incendiados e soldados mortos. Quatro quintas partes do 10 o Corpo de Exército se
salvaram, dirigindo-se para El Alamein.

Ao amanhecer do dia 29 de junho as forças alemães penetraram em Marsa Matruh, aniquilando os últimos
focos de resistência. Assim se concluiu a luta, com a derrota dos exércitos britânicos.

Cerca de mil soldados ingleses foram feitos prisioneiros. Capturou-se, também, uma enorme quantidade de
despojos de guerra, que incluíam víveres, armamentos e equipamentos de todo tipo, em número suficiente
para equipar uma divisão completa.

No seu posto de comando, no deserto, Rommel, contente, escreveu a sua esposa: “A batalha de Marsa
Matruh foi ganha. Nossas unidades de vanguarda se encontram a apenas 200 km de Alexandria. Alguns
choques mais e teremos alcançado nossa meta. Creio que o mais difícil já passou...”. O chefe alemão, no
entanto, estava enganado. Marsa Matruh seria sua última vitória. Em El Alamein desapareceria sua opinião
otimista. Com efeito, lá já se encontravam os britânicos, reorganizando suas forças e trabalhando
incansavelmente na construção de poderosas fortificações. Contra essa muralha se estraçalhariam os planos
de Rommel.

Sem dar a sua tropas tempo de respirar, o chefe alemão prosseguiu o avanço para o Leste, apenas deu por
terminada a conquista de Marsa Matruh. Pouco depois de reiniciada a marcha, a coluna liderada por Rommel
foi atacada com fogo de metralhadoras. O chefe alemão ordenou a suas tropas que se deslocassem para
responder ao ataque. Logo, no entanto, comprovou que os disparos haviam sido feitos pelas unidades
italianas da divisão Littorio. Confundidas pelos veículos britânicos que os alemães utilizavam, acreditaram
achar-se em presença de unidades inglesas. Retomando o avanço, as forças da 90 a Divisão Ligeira
ultrapassaram o porto de Fuka, abandonado pelos ingleses. Depois de flanquear um campo minado, situaram-
se, ao cair da noite, a uns 10 km a oeste da base britânica de El Daba, onde se localizava um enorme
depósito de abastecimentos do 8o Exército. A presa, contudo, não foi alcançada. Violentas explosões
estremeceram o deserto, mostrando aos desalentados soldados do Afrika Korps, que os ingleses haviam
começado a destruir os depósitos.

Faltava pouco para atingir a meta. Na manhã de 30 de junho, Rommel entrou em El Daba, onde instalou o
seu posto de comando. Logo, porém, se viu obrigado a retirar-se para o deserto, ante os repetidos ataques
que, em vôo rasante, realizavam os aviões da RAF. Nesse momento, menos de 160 km separavam o Afrika
Korps de Alexandria. Rommel decidiu, nessa mesma tarde, lançar-se, rumo ao cobiçado objetivo. Numa
reunião com seus oficiais imediatos, traçou rapidamente os planos para o ataque à posição de El Alamein. A
ação se iniciaria às 3 horas da manhã do dia seguinte, 1 o de julho de 1942. O chefe supremo alemão confiava
cegamente no triunfo final. Acreditava, sem um mínimo de dúvida, que seus homens saberiam conquistar os
baluartes inimigos, um a um, até completar o aniquilamento do 8 o Exército britânico.

A retirada inglesa

Depois de ordenar a seus efetivos a retirada para El Alamein, na noite de 27 de junho, o General Auchinleck
abandonou seu posto de comando, frente a Marsa Matruh, num pequeno e antiquado automóvel. Esse
veículo, durante vários dias, constituiu o QG do 8 o Exército inglês. Afastando-se a toda velocidade pela
estrada costeira, escoltado por alguns veículos blindados e um caminhão equipado com uma estação
transmissora, Auchinleck se dirigiu para El Alamein. Ao despontar o dia, a reduzida caravana foi atacada por
aviões da Luftwaffe, porém escapou sem danos. A 29 de junho, Auchinleck recebeu a notícia da queda de
Marsa Matruh e da desordenada retirada dos efetivos britânicos que haviam sobrevivido à catástrofe. Tudo
parecia indicar que a derrota era já definitiva. Os alarmantes informes chegaram ao Cairo e Alexandria,
produzindo evidente estupor. Muitos funcionários e civis britânicos abandonaram a capital egípcia ante a
iminência do desastre, e se dirigiram para a Palestina e outras cidades do Oriente Médio. Nesse dramático
instante, Auchinleck se encontrava praticamente isolado dos restos de seu exército. Tal como afirmou
posteriormente, “ninguém, e muito menos eu, estava em condições de afirmar se se poderia reunir e
reorganizar o exército, a tempo de deter Rommel e salvar o Egito”.

Diante dessa sombria perspectiva, Auchinleck abandonou o QG que havia instalado provisoriamente na
localidade de Ommayid e voltou, em direção ao inimigo. Desejava por-se em contato com as tropas em
retirada e comprovar pessoalmente o estado de ânimo delas. Sabia que, se seus homens houvessem
conservado a têmpera, apesar da derrota, nem tudo estava perdido. Ainda restava um raio de esperança.
No caminho deteve a marcha e dirigiu a destruição dos depósitos de abastecimentos de El Daba, impedindo,
assim, que caíssem em mãos de Rommel. Depois, situando-se à margem da estrada, presenciou o desfile de
suas tropas. A interminável coluna de veículos de todos os tipos, carregados de armas e abastecimentos,
passou a sua frente, durante longo tempo. Sobre os caminhões, amontoados em desordem, os soldados se
afastavam do campo de batalha. Cobertos de pós e esgotados pela marcha, outros homens caminhavam junto
aos caminhões. Contudo, em meio ao trágico espetáculo, não se observavam sinais de pânico nem de
desorganização. Mais ainda, os que se retiravam eram homens dispostos à luta, aptos para o combate.
Auchinleck, serenamente, detinha alguns dos homens e os interrogava, animando-os depois, antes de mandá-
los reincorporarem-se à coluna. O chefe inglês, confortado pela têmpera de seus homens, compreendeu que
se conseguisse ganhar algum tempo ainda era possível o triunfo.

Auchinleck, depois de observar pessoalmente o estado de seus homens, retornou ao posto de comando em
Ommayid, a poucos quilômetros a leste da linha de El Alamein. Ali, secundado por seus oficiais-auxiliares,
dedicou-se ativamente à tarefa de reorganizar suas tropas, reabastecê-las, ultimando os detalhes para o
choque que se aproximava. As últimas colunas britânicas, enquanto isso, continuavam chegando à linha
defensiva. O 10o Corpo de exército, que havia conseguido evadir-se de Marsa Matruh marchando pela costa,
chegou às linhas britânicas na manhã de 30 de junho. Nesse preciso e dramático momento, em Alexandria, a
frota britânica levantou âncoras, e abandonou os ancoradouros, ante o perigo que representava para ela os
bombardeios da Luftwaffe. A certeza da vitória era tal, no campo do Eixo, que, no dia 29 de junho, Mussolini
chegou à Líbia, de avião. Era seu propósito encabeçar a entrada das forças do Eixo no Cairo. Apesar do
otimismo que reinava nas fileiras do Eixo, o comando aliado confiava ainda na vitória. A respeito,
Auchinleck, a 30 de junho, emitiu aos seus soldados uma ordem em que dizia: “O inimigo se empenhou no
limite máximo de suas possibilidades, e pensa que somos já um exército derrotado... Espera ocupar o Egito
com um blefe... Vamos mostrar-lhe que está enganado”. Com estas palavras lacônicas e desprovidas de
retórica, Auchinleck transmitiu a seus homens a confiança que o animava. Pouco depois do meio-dia, um
violento temporal de areia cobriu as linhas da frente, impedindo os trabalhos de fortificações e
abastecimentos. Os homens, entrincheirados em suas posições, viram, então, avançar, ao longe, e envoltos
pelos redemoinhos de areia, os primeiros veículos das forças alemães. Eram unidades pertencentes à 90 a
Divisão Ligeira. As tropas britânicas se aprestaram para a luta. A artilharia abriu fogo, em seguida. Contudo,
a esperada batalha não se produziu. Os veículos alemães, evitando os disparos, manobraram e se afastaram a
toda velocidade. Poucos minutos depois haviam desaparecido, internando-se no deserto. Por ordem de
Rommel, o combate se iniciaria no dia seguinte, 1 o de julho, às 3 horas da manhã.

Anexo
Auchinleck
Sir John Claude Auchinleck nasceu na Irlanda, no ano de 1884. Seguiu a carreira das armas, cursando a escola militar
de Sandhurst. A Primeira Guerra Mundial, que se iniciou quando Auchinleck tinha 30 anos, o viu atuar nas frentes de
luta do Oriente Médio. Interveio ativamente e destacou-se em operações no Egito e Aden. Recebeu, pelos seus méritos,
a DSO (Ordem de Distinção em Serviço). Posteriormente, terminada a guerra, foi destacado para a Índia, onde
participou em diversas operações entre 1933 e 1935. Transferido de volta à Inglaterra, ali o surpreendeu a eclosão da
Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1940, Auchinleck encabeçou a força expedicionária que atacou Narvik, na
Noruega. Fracassada a operação, teve que retirar-se com suas tropas.
Em janeiro de 1942, assumiu o cargo de comandante-chefe das forças britânicas no Oriente Médio. Posteriormente, em
agosto desse mesmo ano, no dia 8, o primeiro ministro Churchill enviou-lhe uma carta onde expressava:
“Cairo, 8 de agosto de 1942.
Estimado General Auchinleck:
A 23 de junho, por meio de um telegrama... o senhor fez referências a sua substituição e mencionou o nome do General
Alexander, como seu possível sucessor. Naquele momento de crise para o 8 o Exército, o governo de Sua Majestade não
quis aceitar sua generosa oferta. O gabinete decidiu... que chegou o momento da troca. Pensa-se isolar o Iraque e a
Pérsia, do atual comando do Oriente Médio. Alexander será nomeado comandante do Oriente Médio; Montgomery, do
8o Exército; ao senhor ofereço o comando do setor Iraque-Pérsia, que terá sede em Bassora ou Bagdá. Nesse setor, que
conhece perfeitamente, o senhor estará em estreito contato com a Índia... espero que aceite a proposta e minhas
instruções, com o mesmo espírito de sacrifício demonstrado em outras ocasiões...
Winston Churchill”.
Auchinleck, que tinha razões para amargar-se, aceitou, sem protestos, a nota de Churchill. Mais tarde, numa entrevista
como primeiro-ministro britânico, efetuada no Cairo e que foi “fria e cortês”, comunicou-lhe que não aceitava seu novo
destino. Recusou, conforme explicou mais tarde, “porque tenho, como muitas pessoas, um certo orgulho e não creio
que, depois de ser privado de um comando, possa exercer com autoridade um novo posto de direção”.
Bastaria, para descrever Auchinleck, em toda a sua dimensão, a opinião que dele tinham os alemães: “Se Auchinleck
não tivesse sido o homem que era, isto é, o melhor general aliado que jamais combateu na África, Rommel teria
destruído o 8o Exército”.
E o melhor perfil psicológico de Auchinleck é dado pelo General Godwin-Austen, quando diz: “Seu principal defeito
era sua incapacidade para acreditar que algum soldado podia ser menos corajoso que ele”.

“Não é um super-homem”
As repetidas vitórias alcançadas por Rommel, estenderam a sua fama às fileiras dos próprios adversários. Essa estranha
popularidade, exemplo de “jogo limpo” aplicado pelos ingleses e alemães na guerra do deserto, levou o General
Auchinleck a redigir uma insólita ordem destinada aos chefes de seu exército.
“A todos os comandantes, chefes de estado-maior e diretores de serviço das forças do Oriente Médio.
“Temo que nossos soldados tomem o amigo Rommel por uma espécie de “feiticeiro”, ou “fantasma”, pois falam muito
dele. Apesar de ser bastante enérgico e sumamente capaz, não é absolutamente um super-homem. Mesmo que fosse,
seria lamentável que nossos homens vislumbrassem nele uma força sobrenatural.
“Recomendo agir por todos os meios para apagar a impressão de que Rommel seja mais do que um simples general
alemão. Em primeiro lugar, é necessário impedir que se empregue constantemente o seu nome para designar nossos
adversários na Líbia. Diremos “os alemães”, os “as forças do Eixo”, ou simplesmente “o inimigo”, sem colocar
constantemente o seu nome na frente. Vigiai, peço, o estrito cumprimento desta ordem e fazer compreender a todos os
chefes de unidades que se trata de um assunto sumamente importante do ponto de vista psicológico.
“Assinado: C.J. Auchinleck - Comandante-chefe das forças no Oriente Médio.
“P.S. Declaro que não tenho ciúmes de Rommel”.

Ciano e a situação na África do Norte


23 de junho de 1942
... Rommel foi nomeado marechal e isso nos causa alguns problemas; isto é, o da nomeação de Bastico e Cavallero. Já
disse ao Duce o que penso. “A nomeação de Bastico faria rir e a de Cavallero causaria indignação”.
26 de junho de 1942
Mussolini está muito contente com a marcha das operações na Líbia, porém muito amargurado pelo fato de que a
batalha tem tomado o nome de Rommel e de que aparece mais como uma vitória alemã que italiana. O posto de
marechal concedido a Rommel, “que Hitler fez, evidentemente, para acentuar o caráter alemão da luta”, causa ao Duce
muita irritação. Naturalmente ataca Graziani que “sempre esteve 70 graus abaixo da terra, numa tumba romana de
Cirene, enquanto Rommel sabe impelir as tropas com o exemplo de um chefe que vive num tanque”.
28 de junho de 1942
As operações na Líbia se processam com muita rapidez. Marsa Matruh caiu: o caminho do Delta (do Nilo) está aberto.
29 de junho de 1942
Mussolini viajou para a Líbia. Estive com Riccardi que me contou da entrevista com o Duce sobre o assunto ouro
Petacci (contrabando de ouro para a Espanha, por via diplomática). Parece que o chefe estava indignado o ordenou ao
doutor Petacci que se abstenha, daqui por diante, de qualquer tráfego. Vamos ver.
30 de junho de 1942
Na Líbia continuamos muito bem e, segundo as notícias que recebemos, temos a impressão que os ingleses atravessam
uma profunda crise.
2 de julho de 1942
Mussolini telegrafa dando-me instruções para que se efetue gestão junto aos alemães, relacionada com a futura
organização política do Egito: Rommel, comandante militar e um delegado civil italiano, cujo nome pede que eu
indique.
3 de julho de 1942
Hitler responde que está de acordo com a nomeação de Rommel, porém se abstém de uma definição a respeito do
delegado italiano, aspecto que se relaciona também com o problema da representação alemã... Uma súbita e imprevista
reação inglesa nos obriga a marcar passo frente a El Alamein. No comando supremo, em Roma, estão muito otimistas...

Cartas do Marechal Rommel


23 de junho de 1942
Outra vez avançamos, e espero desfechar o próximo golpe brevemente. Tudo agora repousa na rapidez. Os
acontecimentos das semanas passadas me parecem um sonho.
26 de junho de 1942
Percorremos um longo trajeto durante os últimos dias e esperamos lançar hoje mesmo nosso ataque sobre os restos do
inimigo. Passo muito tempo acampado ao ar livre, no carro. A comida tem sido boa, porém tenho dificuldades com o
problema de higiene. Durante as últimas 24 horas, mantive meu posto de comando junto ao mar e ontem e hoje, pude
tomar banho. Porém, a água não refresca. Está quente demais. Tenho muito o que fazer. Cavallero e Rintelen virão hoje,
provavelmente para tentar frear-nos até onde puderem... Esses mendigos nunca vão mudar.
27 de junho de 1942
Continuamos em ação e espero alcançar meus objetivos. Isto exige sem dúvida um grande esforço, porém se trata de
uma oportunidade única. O inimigo bate desesperadamente em retirada, utilizando suas forças aéreas.
P.S. Quem sabe ainda possa ir à Itália no mês de julho.
29 de junho de 1942
A batalha de Marsa Matruh foi ganha e nossas unidades de vanguarda estão a apenas 200 km de Alexandria. Alguns
encontros mais e teremos alcançado a nossa meta. Creio que o mais difícil já passou. Estou bem. Algumas ações
exigiram de nós esforços incalculáveis. Porém existem momentos de calma para recuperar-nos do cansaço.
Encontramo-nos a 480 km a leste de Tobruk. O sistema inglês de estradas de ferro e rodovias é excelente.
30 de junho de 1942
Marsa Matruh caiu ontem, após o que, o exército continuou a sua marcha até a última hora da noite. Estamos a 80 km
mais a leste e a menos de 160 km de Alexandria.

Abastecimentos
Ao chegar diante de El Alamein, em fins de junho de 1942, as forças de Rommel haviam já perdido quase por completo
seu poderio ofensivo. A razão: o chefe alemão não havia recebido os reforços e abastecimentos que no início da
ofensiva lhe haviam prometido. Rommel, posteriormente, expôs as causas que, a seu ver, provocaram a situação.
“Em Roma dava-se uma desculpa atrás da outra como paliativo pelo fracasso da organização, supostamente, destinada a
abastecer o meu exército; era muito fácil dizer: “Impossível”, porque para eles não era questão de vida ou morte.
Porém, se todos os implicados tivessem posto mãos à obra para encontrar soluções, as dificuldades teriam sido
superadas.
“Aqui estão algumas das razões por que falhou o nosso sistema de abastecimento: a) Muitas das autoridades
responsáveis não realizaram esforço algum, pela simples razão de que não se sentiam diretamente ameaçados. Em
Roma reinava a paz, e não existiam indícios de desastre imediato. Além disso, muitos nem entenderam que a guerra na
África chegara ao seu ponto culminante. Alguns vislumbraram esse fato, porém, por motivos inexplicáveis, nada
fizeram para reparar o erro. Conheci bem essa classe de gente. Sempre que surgiam dificuldades diziam que o nosso
abastecimento era um problema insolúvel, e o demonstravam com uma avalanche de estatísticas. Careciam por
completo de energia e de iniciativa. Esses funcionários deviam ter sido logo dispensados e substituídos por pessoal mais
competente. b) A proteção de nossos comboios marítimos esteve a cargo da marinha italiana. Porém, boa parte de seus
comandantes, como muitos italianos, não eram partidários de Mussolini, e preferiam ver-nos derrotados e não
vitoriosos. Em virtude disso, realizaram um contínuo trabalho de sabotagem. E ninguém tirou desses fatos as
necessárias conclusões políticas. c) A maioria dos líderes fascistas eram muito corruptos e pomposos para fazer alguma
coisa boa. Além disso nada entendiam das operações de guerra na África. d) Os poucos que fizeram o possível para nos
mandar reforços, apenas puderam conseguir resultados concretos em virtude da superabundância de organismos
existentes em Roma.
“Considerando que em uma guerra moderna são os suprimentos que decidem a batalha, resulta fácil compreender até
onde o desastre ameaçava o meu exército”.

As forças de Rommel
Até o dia 8 de julho de 1942 os efetivos que atuavam sob as ordens de Rommel eram os seguintes:
Afrika Korps
15a Divisão Panzer
Regimento de fuzileiros (300 homens e 10 canhões antitanques)
Regimento de artilharia (7 baterias)
21a Divisão Panzer
Regimento de fuzileiros (300 homens e 10 canhões antitanques)
Regimento de artilharia (7 baterias)
90a Divisão Ligeira (1.500 homens de infantaria, 30 canhões antitanques e 2 baterias)
Batalhões de reconhecimento (3) (15 veículos blindados, 20 transportes blindados e 3 baterias)
Artilharia: 11 baterias pesadas e 4 leves, 26 canhões antiaéreos de 88 mm, 25 canhões antiaéreos de 20 mm.
Total de carros blindados: 50 tanques
As forças italianas estavam integradas por:
20o Corpo Motorizado: 14 tanques, 40 canhões antitanques e 6 baterias leves.
10o e 21o Corpos: 2.200 homens (11 batalhões), 30 baterias leves e 11 pesadas.

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