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COSTA, M. Auxiliadora. A face masculina do planejamento familiar. Trabalhando
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palavras. São Paulo: ECOS/Editora 34, 1998.
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construído pode ser redimensionado, mas, por considerar que isto implicaria numa

mudança de nível mais profundo (Bourdieu, 1995), pela qual não podemos esperar

no momento, entendo que não será possível construir qualquer tipo de

conhecimento, tampouco favorecer mudanças de compreensão e comportamento se

nos pautarmos nos mesmos repertórios tradicionalmente utilizados para o trabalho

com as mulheres.

Experiências bem sucedidas podem ser registradas no trabalho com os homens,

utilizando-se técnicas já partilhadas por profissionais dessa área (Costa, 1997), mas

dadas as características da nossa população alvo que não se insere num grupo nem

num espaço específico, impele-nos a buscar formas diferenciadas de abordagem e

intervenção.

Mesmo não tendo ainda clareza acerca de qual a forma mais apropriada para o

desenvolvimento do trabalho, tem sido animador perceber que em meio a todas as

implicações anunciadas inicialmente, cuja dimensão mais facilmente identificável é a

falta de conhecimento e o desinteresse pelas questões que movem nosso trabalho,

enuncia-se um interesse verdadeiro ou ao menos uma curiosidade por parte dos

homens quando novos conteúdos vão sendo inseridos. Isto tem nos motivado na

crença de que falar do "sexo dos homens" pode vir cada vez mais a se distanciar dos

debates sobre os anjos.

BIBLIOGRAFIA

AYRES, José R., FRANÇA JR., Ivan, CALAZANS, Gabriela, SALETTI FILHO,
Haraldo. "Vulnerabilidade e prevenção em tempos de Aids" In BARBOSA, R. e
PARKER, R. (org.) Sexualidades pelo Avesso. São Paulo, Editora 34, 1999.
BOURDIEU, P. "A dominação masculina", In: Educação e Realidade, 20 (2): 133-84,
jul/dez, 1995.
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Nos últimos anos, a questão vem ganhando destaque devido ao índice crescente de

mulheres heterossexuais com parceiro fixo que têm sido infectadas com o HIV

(Knauth, 1999). Embora não queira em definitivo entrar no repertório de vitimização

feminina, esta tem sido uma forma traumática de se dizer que o elemento masculino

precisa ser levado em conta. Além disto, reforça a compreensão já há algum tempo

difundida, mas não completamente incorporada, da inexistência de grupos de risco.

Foi a partir dessas inquietações que passei de um pesquisador interessado em

entender o que é ser homem nesta comunidade e o que se fazia para chegar o mais

próximo possível das prescrições do modelo da masculinidade, para o interesse em

entender não só como esta compreensão os tornava vulneráveis, mas também os

caminhos para a redução dessa vulnerabilidade.

Devido à inserção na comunidade a partir de uma entrada pouco formal, tenho

conseguido participar de momentos distintos da vida da comunidade e partilhar

experiências e opiniões dos homens que creio não as conseguiria de outro modo.

Principalmente o contato com os mais pobres da comunidade a quem

tradicionalmente não se tem dado muita atenção, sendo vistos à margem, pretende

alcançar formas não ortodoxas de trabalho com os homens, reconstruindo a prática

como "encontro de sujeitos", encarando os objetivos de cada ação "mais como busca

compartilhada de meios que como alcance absoluto de fins" (Ayres et al., 1999,

p.70).

Não acredito numa diferença intransponível entre homens e mulheres, o que em

muito casos é visto quase como uma substância que os diferencia, tornando coisas

de mulher absolutamente distantes dos homens. Creio mesmo que o que foi
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hoje é que a associação continua existindo quando se fala de saúde reprodutiva e

sexual.

Sendo assim, realizar intervenção junto a homens adultos heterossexuais, em torno

da prevenção de DST/Aids, tem por pressuposto a reflexão e redefinição dos papéis

de gênero e sexuais. Implica em refletir a forma como o gênero tem configurado

estas relações marcadas por uma nítida diferença na forma como homens e

mulheres devem se relacionar com as questões voltadas à sexualidade e à saúde

reprodutiva. Isto requer o desenvolvimento de uma lógica que considere o cuidado

do homem com seu corpo e sua saúde e, por conseqüência, de sua

companheira/esposa, como sendo também uma atribuição masculina e não apenas

uma preocupação feminina como tem sido usual considerar. Além do mais,

precisamos começar a perceber que o cuidado masculino consigo e com o outro é

também um direito e não apenas uma obrigação, visto que os mesmos homens não

têm sido levados a desenvolverem esta competência em sua socialização e em seu

cotidiano.

O ponto de partida para a realização deste trabalho é o reconhecimento de que os

elementos do modelo central da masculinidade (Connell, 1997; Almeida, 1996) que

caracterizam o homem como figura de autoridade, provedor do lar, autônomo e livre;

forte, corajoso e que não expressa suas emoções, bem como heterossexual e

naturalmente insaciável sexualmente (Nascimento, 1999), acabam por demonstrar a

efetiva vulnerabilidade masculina (Ayres et al., 1999; Vilela, 1997) frente à infecção

pelo HIV/DST e evidenciam a importância de ações voltadas para esta população.


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uma expectativa culturalmente sancionada, levando muitas vezes os homens a

comportamento sexualmente "predatório".

Considero necessário insistir em que, se a propugnada liberdade masculina

significasse autonomia e conhecimento, não seria possível encontrar homens

referindo-se a práticas sexuais levadas a cabo para poderem figurar frente aos pares

como "homem de verdade", tampouco refeririam terem relações sexuais com

mulheres que sabiam ter alguma DST, com vistas a não se "passar por mole".

Seguindo este mesmo raciocínio, é a mesma "liberdade" dos homens que lhes dá os

elementos para referirem o uso de aguardente e limão para prevenir e tratar certas

DST, bem como afirmando sua total descrença na eficácia do preservativo masculino

e ainda não encontrando quaisquer razões para seu uso, por se considerarem

sempre em condição de enfrentamento dos males e, assim, imunes.

Isto reforça a idéia que sempre norteou meu interesse de trabalho junto a essa

comunidade, qual seja o de que a não preocupação dos homens com seu corpo e

saúde de uma forma geral, e com sua saúde sexual e reprodutiva de modo particular,

é um dado culturalmente cristalizado em nossa sociedade que tem contribuído ao

longo dos anos para que não apenas não sejam desenvolvidas atividades voltadas a

este segmento, como também a temática não seja devidamente discutida. Antes de

pensarmos apenas em "falta de vontade" dos homens em se envolverem nestas

questões, vale ressaltar o fato de reflexões e propostas de trabalho envolvendo a

população masculina terem estado ausentes, em grande medida, pela reificação no

feminino dos estudos e ações relativas ao gênero (Leal, 1996), fazendo com que os

homens, quando referidos, o tenham sido sempre a partir do ponto de vista feminino.

Se por muito tempo gênero foi pensado como sinônimo de mulher, o que se percebe
Breves reflexões

O SEXO DOS HOMENS: VULNERABILIDADE E PREVENÇÃO ÀS DST/AIDS

Pedro Nascimento (PAPAI)

Qualquer semelhança com as especulações medievais acerca do sexo do seres

celestiais, não terá sido mera coincidência. Devo confessar que foi fazendo esta

analogia que cheguei a este título. Ocorriam-me idéias de algo distanciado, pouco

refletido e um tanto obscuro.

Estas imagens foram reforçadas quando há três anos atrás revirando o acervo da

biblioteca comunitária "Constelação do saber", em Alberto Maia, comunidade onde

desenvolveria este projeto, encontrei um antigo e instigante folder do SOS Corpo

explicando o porque de três sereias serem usadas como símbolo daquela instituição.

Entre outras coisas, as autoras remetiam à noção do corpo e sexualidade femininos

como algo pouco conhecido e cercado por uma aura de enigma. Automaticamente,

me perguntei: "E com relação aos homens?". Considerei naquele momento - e ainda

o considero - que o fato de os homens serem marcados pela perspectiva da ação e

da exposição no que se refere a seu corpo e a sua sexualidade, diferentemente das

mulheres, marcadas pelo recato e , no máximo, pela insinuação, não os tornam mais

conhecedores e mais habilitados a lidarem com essas mesmas questões.

Obviamente, a forma diferenciada como homens e mulheres são socializados, leva

os primeiros a disporem de uma liberdade sobre a sexualidade negada às mulheres

ainda hoje. Mas o ponto em questão é que esta maior liberdade dos homens é antes

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