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Lucas Nogueira Garcia - O Fetichismo na Música e a Regressão da Audição -

Theodor W. Adorno

Atualmente, no Brasil, vivemos um momento em que na mídia não há espaço para


muitos tipos de música. Cada vez menos variado, o mercado musical condiciona os
seus ouvintes criando tendências e ditando gostos. Na “Indústria Cultural” a música
nada mais é do que um produto, um fetiche. O consumidor, que não está
preocupado com seu processo de produção, e apenas pensa em seu resultado, só
enxerga o que está na superfície e exige pouco de seu conteúdo.
Assim, nesse contexto, a música foi se tornando cada vez menos criativa e mais
preguiçosa. Tudo em nome do sucesso, da moda e da aceitação social. Hoje vale
muito mais uma frase de efeito que renda cliques e compartilhamentos do que o
desempenho artístico. A arte musical foi jogada pra escanteio.
A música se tornou um meio de enriquecimento e de reconhecimento. E o público,
por outro lado, cobra cada vez menos do artista. Hoje em dia a música apenas
precisa ser engraçada. Mesmo que ela fale de amor, o que importa é que ela
reproduza expressões comuns ao imaginário dos ouvintes. Eis os títulos das
músicas mais escutadas no Brasil em 2017: “Amante não tem lar”, “Sorte que cê
beija bem”, “Abre o portão que eu cheguei”, “Te assumi pro Brasil”, “Ninguém é de
ferro”, “Enquanto eu brindo cê chora”, “Fé no pai”, “A mala é falsa”, “O nosso santo
bateu”, “Coração embriagado”, “Chorou na escadaria” e etc… A impressão que fica
é que o Brasil vive hoje um eterno luto pela morte dos Mamonas Assassinas.
Como sugere Adorno, há na sociedade uma regressão da audição. A música se
tornou um mero ruído de fundo. Ela não é mais uma prioridade. Seu espaço na vida
das pessoas foi reduzido. O tempo que ela dispõe é de apenas 3 minutos. Não mais
que isso. Seu produto final está cada vez mais processado e genérico. Uma música
não pode tomar muito o tempo das pessoas e nem fazê-las pensar demais. Sua
função é apenas divertir e satisfazer um desejo momentâneo. Depois ela é
descartada, pois tem pouco tempo de validade. A música se tornou uma postagem
de Facebook que se perde na ​timeline da vida. Tão fugaz, tão efêmera, tão
passageira.

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